PSICOLOGIA PASTORAL E ACONSELHAMENTO FAMILIAR
RESUMO
Desde os primórdios da vida da humanidade, o homem encontra dificuldade em reconhecer seus
limites, na maioria das vezes se adquire conhecimento do mundo externo, lendo e se inteirando das
notícias mais atuais ou se vasculha a história para tentar entender de onde se vem e para onde se vai
e quanto mais se avança nessa busca mais se fica confuso. Nas últimas décadas, se avançou muito
em termos de conhecimento a respeito da fé, mas ainda se tem dificuldade em lidar com as emoções,
traumas do passado, em perdoar e em pedir perdão, demonstrando que raramente o ser humano se
coloca no lugar dos outros para tentar entender suas mazelas e ajudar-se mutuamente. Nesse aspecto
a Psicologia tem importante função em orientar ao ser humano como compreender os fenômenos que
envolvem sua vida. Portanto, esse trabalho tem o objetivo geral de analisar a correlação entre a
psicologia e o aconselhamento pastoral. Como objetivos específicos são elencados: conhecer a
psicologia no trato com o acompanhamento pastoral; - Analisar os princípios que regem o trabalho do
psicólogo em relação às questões que envolvem religião e espiritualidade. Este trabalho é de natureza
bibliográfica. Como resultados, se conclui que o trabalho do Psicólogo na Pastoral deve levar em
consideração a ética e o respeito para com o ser humano, tratando a fé com positividade.
Palavras-chave: Psicólogo. Fé. Pastoral. Família.
INTRODUÇÃO
O aconselhamento em Psicologia Pastoral se caracteriza enquanto um campo
novo de estudos. Nesse contexto, se parte do princípio de compreender as causas
emocionais dos problemas enfrentados pelos indivíduos, pois estas consequências
estão imbuídas no contexto de sua alma. Assim, não se pode dissociar causas
emocionais e espiritualidade, pois o homem possui um corpo que pode ser acometido
por uma enfermidade física, orgânica, emocional e espiritual. Assim, se questiona se
é coerente discutir temas espirituais com o psicólogo? Quais os princípios que
perpassam a ação do psicólogo ao abordar a espiritualidade?
Este trabalho de conclusão de curso tem o objetivo geral de analisar a
correlação entre a psicologia e o aconselhamento pastoral. Destacam-se os objetivos
específicos: - Conhecer a psicologia no trato com o acompanhamento pastoral; -
Analisar os princípios que regem o trabalho do psicólogo em relação às questões que
envolvem religião e espiritualidade.
A hipótese que norteia a elaboração deste trabalho é que ao discutir a
espiritualidade com o paciente se deve agir com ética e cuidado, demonstrando
empatia com a situação que o oprime.
A relevância deste trabalho se encontra no sentido de contribuir para a
compreensão da psicologia no trato com a espiritualidade, buscando conhecer as
características desse tema inovador, refletindo-se acerca da importância das
contribuições da psicologia para o homem.
A metodologia contribuiu para a delimitação dos métodos e técnicas que
direcionaram a proposta desta pesquisa. A pesquisa qualitativa foi de cunho
exploratório, utilizando-se como estratégia de investigação a pesquisa bibliográfica. A
pesquisa bibliográfica é meio de formação por excelência. Como trabalho científico
original, constitui a pesquisa propriamente dita na área das Ciências Humanas. Como
resumo de assunto, constitui geralmente o primeiro passo de qualquer pesquisa
científica (CERVO E BERVIAN, 1996, p. 48).
Entendendo-se artigos científicos como objetos de produção humana,
consequentemente histórica, pode-se perceber a importância dessa análise para a
investigação. Os dados obtidos através da pesquisa bibliográfica podem fazer
"reviver" momentos históricos, confrontar posições antagônicas, revelar "segredos"
não percebidos pela dinamicidade do fluxo social.
2 PSICOLOGIA PASTORAL E RELIGIOSIDADE
A Associação Psiquiátrica Americana produziu um paradigma, orientando aos
terapeutas como abordar as crenças religiosas dos pacientes (GIGLIO, 1993),
reforçando a ideia de que esse profissional precisa ter empatia com o cliente, visando
reduzir a ocorrência da conversão de valores ou de diminuir os problemas éticos
(POST et al., 2000).
LOMAX et al. (2002) apontam as seguintes observações éticas que devem ser
levadas em consideração ao tratar a religiosidade e a espiritualidade do paciente:
habilidade de inquirir sobre a vida religiosa e espiritual dos pacientes é um
elemento importante da competência psicoterapêutica; a informação sobre as
vidas religiosas e espirituais dos pacientes revela frequentemente dados
extremamente importantes para superação de suas dificuldades; o processo
do inquérito sobre esse domínio deve ser respeitoso; e há um potencial
significativo para faltas éticas quando o terapeuta exagera suas convicções
pessoais abandonando o princípio da neutralidade (LOMAX et. al. apud
PEREZ et al. 2007, p. 139).
Baseado no exposto anteriormente, se observa que a confiança entre paciente
e terapeuta exerce papel central na efetividade do tratamento. Segundo a Associação
Psiquiátrica Americana (THE AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2006)
devem ser adotados os seguintes procedimentos ao abordar os temas espiritualidade
e religiosidade:
identificar se variáveis religiosas e espirituais são características clínicas
relevantes às queixas e aos sintomas apresentados; pesquisar o papel da
religião e da espiritualidade no sistema de crenças; identificar se idealizações
religiosas e representações de Deus são relevantes e abordar clinicamente
essa idealização; demonstrar o uso de recursos religiosos e espirituais no
tratamento psicológico; utilizar procedimento de entrevista para acessar o
histórico e envolvimento com religião e espiritualidade; treinar intervenções
apropriadas a assuntos religiosos e espirituais e atualizar a respeito da ética
sobre temas religiosos e espirituais na prática clínica (LOMAX et. al. apud
PEREZ et al. 2007, p. 139).
Tais procedimentos deixarão a terapia mais confortável e acessível ao cliente
ao explorar sua subjetividade, crenças religiosas e espirituais. Compreende-se a
cultura como as ideias abstratas, os valores e a ética que configuram a personalidade
de uma sociedade. Mas a cultura não trata somente da subjetividade do ser humano,
pois diz respeito também aos objetos materiais e serviços, os quais são produzidos
pela sociedade (SOLOMON, 2011). Cada indivíduo é determinado pela sociedade em
todas as dimensões de sua subjetividade, mas ao mesmo tempo também é livre, pois
pode interferir sobre suas decisões.
Na concepção que Vygotsky (apud Oliveira, 1998) tem do ser humano, a
inserção deste num determinado ambiente cultural é parte essencial de sua própria
constituição enquanto sujeito. É impossível pensar o ser humano privado de contato
com um grupo cultural que lhe fornecerá instrumentos e signos que possibilitarão o
desenvolvimento das atividades psicológicas mediadas
A crença na Palavra de Deus diz que a fé vem pelo ouvir pela Palavra de Deus.
Sendo assim, a Palavra de Deus é imprescindível para se ter intimidade com o Pai.
Religião, religiosidade e fé formam grupos semânticos que se relacionam. A religião
corresponde à dimensão organizada que diz respeito à identidade, ritos, simbologias,
doutrinas e tradições.
À priori, a estrutura do Cristianismo influenciou o modo de narrar a concepção
da vida de Jesus, a Igreja, as orações e sua missão, concebendo o messias como um
protetor, o qual confiamos e pedimos proteção a partir de ritos e sacrifícios. Essa
compreensão sustentou as religiões, mas quando esta se desfaz, tem-se a
secularização.
O reconhecimento da espiritualidade é componente essencial da personalidade
e da saúde. Para tanto, o psicólogo deve esclarecer os conceitos de religiosidade e
espiritualidade ao paciente, tratando-o com ética e empatia.
Nesse sentido, compreender como as práticas religiosas e espirituais afetam o
paciente contribui para oportunizar a este uma melhor qualidade no atendimento
psicológico. De maneira similar, explorar a integração da dimensão pessoal do ser
humano às dimensões espirituais e religiosas nos tratamentos requer profissionalismo
ético, conhecimento e habilidades para tratar as crenças e valores.
O termo religiosidade denota a dimensão do ser humano de abertura às
religiões. Na Antiguidade, as religiões uniam uma comunidade, pois o homem primitivo
ao se organizar em pequenos grupos, partilhava seus recursos. Mesmo antes do
surgimento das religiões, altruísmo e generosidade eram consideradas características
essenciais para um bom líder tribal.
No mesmo olhar, a genética pode ajudar a explicar a origem da fé. A esse
respeito, na contemporaneidade, cientistas anunciaram a descoberta dos genes da
fé, ou o gene de Deus, nominado de VMAT2. O gene de Deus se institui como um
conjunto de genes responsáveis por ativar as substâncias químicas que dão sentido
às experiências humanas.
Nesse sentido, atuam no cérebro regulando a ação dos neurotransmissores
dopamina, ligada ao humor, e serotonina, relacionada ao prazer. Pesquisas
demonstraram que o ato de meditar faz com que esses neurotransmissores alterem o
estado de consciência.
Em determinada pesquisa na Universidade de Washington, se aplicou um
questionário para medir o grau de espiritualidade em um grupo de 1.001 voluntários,
tendo sido avaliado suas crenças e rituais. Na pesquisa se avaliou os genes dos
voluntários, percebendo-se que as diferenças nas respostas estavam relacionadas
com as variações no gene de Deus, explicando porque existem pessoas que são mais
espiritualizadas que outras.
Por meio de exames de neuroimagem foram visualizadas atividades de crenças
espirituais no cérebro, demonstrando que Deus é parte da consciência, pois quanto
mais pensamos nele, mais nossos circuitos neurais são alterados. Por esse ângulo,
estudos a respeito da associação da fé com a neurociência avaliaram o impacto da fé
sobre o cérebro, denotando imagens cerebrais de freiras rezando e de budistas
meditando.
Por meio do estudo, foi detectado o aumento de atividade cerebral em áreas
relacionadas às emoções e ao comportamento, sendo que a diminuição de trabalho
nessa região específica, poderia representar a possibilidade de atingir com a
meditação um estado em que se perde a noção de individualidade, espaço e tempo,
como se houve a união entre o homem e Deus ou o universo. Portanto, a ciência
consegue medir os efeitos da crença no divino nas pessoas.
Pesquisas já demonstraram que pessoas com a predisposição à fé e à
espiritualidade, sentem efeitos benéficos ao praticar o bem. Da mesma forma que não
é preciso seguir uma religião para ter esses benefícios. A religião é uma maneira
institucionalizada para se praticar a fé, por meio de regras específicas e dogmas.
A fé é algo pessoal e espiritual em busca de compreender as respostas a
grandes questões sobre a vida, o Universo e tudo mais. Isso pode ou não levar a
rituais religiosos. Dentre os rituais religiosos, a música cantada nas igrejas, de
qualquer religião, pode ser considerada ativadora de prazer e sentimentos bons.
A exposição prolongada ao estilo musical considerado prazeroso aumenta a
produção de neurotrofinas, peptídeos encontrados no sistema nervoso central –SNC,
produzidas no cérebro em situações de desafio, prolongando a sobrevivência de
neurônios, além de favorecer mudanças de padrões de conectividade na chamada
plasticidade cerebral.
3 FAMÍLIA E ACONSELHAMENTO PASTORAL
Quando Deus uniu o homem e a mulher em um casal, anunciou: “frutificai e
multiplicai-vos enchei a terra e submetei-a” (GÊNESES, 1, 28). Nessa acepção, o
sentido mais profundo do casamento é crescer e se multiplicar a partir do nascimento
dos filhos, surgindo a mais importante instituição da humanidade. Inicialmente, Deus
disse ao casal: primeiro “crescei” e em seguida “ multiplicai”.
Portanto, a primeira dimensão do casamento é o crescimento mútuo do casal
realizado no seu amor fecundo.
O amor conjugal, por sua própria natureza, faz procriar filhos, que são o dom
maior da função do matrimônio. Os planos de Deus são crescei e multiplicai-vos,
demandando aos pais a tarefa de transmitir a vida e educar os filhos.
A fecundidade do matrimonio não é somente biológica, mas uma missão
humana e, ao mesmo tempo divina: “formar pessoas, irradiar a vida, criar condições
para o desenvolvimento integral de todos os seres humanos. Em relação ao
anteriormente dito, o Diretório da Pastoral Familiar”. (CONFERÊNCIA NACIONAL
DOS BISPOS DO BRASIL, 2005, p. 50).
A família sempre foi apresentada como instância formadora e socializadora da
criança. O conceito de família tem evoluído ao longo dos tempos, quer nas suas
funções enquanto sistema, ou nas funções de cada elemento que a compõe. Segundo
Szymasky (2000), a família enquanto unidade social enfrenta uma série de tarefas de
desenvolvimento, diferindo não somente em nível de parâmetros culturais, mas
possuindo as mesmas raízes universais. Há um conjunto universal de exigências que
organiza e promove uma interação entre seus membros.
Nota-se que a família adquire novas formas e modos de vivências conforme o
lugar e o momento histórico, político, cultural, social, econômico e religioso. Para Ratto
(2007), as relações familiares influenciam e são influenciadas pelos movimentos
sociais e se modificam conforme as necessidades instituídas pelo homem, que
transforma seus comportamentos, tornando-se diferente em cada época.
Os jovens estão precisando de aconselhamento pastoral, pois a família parece
estar perdendo a estrutura de orientação aos seus filhos, que estão, cada vez mais,
se sentindo sozinhos e desamparados, muitas vezes, enfrentando momentos de
depressão, que poderão levar ao suicídio.
O Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA contextualiza em seu art. 22
que “aos pais incumbe o dever de sustento, guarda e educação dos filhos menores,
cabendo-lhes ainda, no interesse destes, a obrigação de preencher as determinações
judiciais”.(BRASIL, 1990).
Para Campos; Carvalho (1983), a família é um lugar de convivência sanguínea
e afetiva onde se afeiçoa a subjetividade para o convívio em sociedade, transmitindo
aos descendentes um nome, cultura, um estilo de vida moral, ético e religioso. De
acordo com De Vries e Zan (1998), a família é uma organização viva, que se ajusta e
lida com as influências culturais, políticas, econômicas, sociais em sua estrutura e
esta se altera em suas relações e composição de papéis que influenciam na formação
da criança.
Aranha (2006), relata, também, que família perpassa por profundas
transformações em sua estrutura, modificando seu papel diante da evolução social.
Durante muito tempo, ela foi esquecida e, hoje, é objeto de estudos, pois é na
instituição familiar que se vivencia a primeira forma de afeto e que se estabelecem os
valores e as regras de convívio social.
O Documento de Medellin (DM) anunciou o novo modelo de igreja, que propôs
a participação comunitária do povo, buscando alternativas libertadoras em
consonância com as aspirações dos pobres, marginalizados e oprimidos,
posicionando-se claramente a favor da libertação integral dos pobres, pois a miséria
exige soluções concretas e justiça social para todos (AQUINO, 1997).
Outrossim, refletiu-se acerca do reconhecimento da missão da igreja em estar
a serviço do povo e não a serviço de si mesmo. Neste aspecto, alicerçou-se o
compromisso com a justiça social e a promoção humana. Nesse aspecto, se ressalta
o quanto é importante identificar a importância do aconselhamento pastoral bíblico
para com os jovens que estão sofrendo com depressão.
No que diz respeito à religião, é possível atingir artificialmente as benesses da
fé, pois conforme os cientistas, basta ter uma forte crença em algo e nem precisa ser
uma divindade ou força superior, contanto que seja importante para a pessoa. Para
os crentes, pode ser Deus.
Não se trata de banalizar a sacralização, mas exercitar a fé por meio de uma
postura de antibanalização da vida. Sendo assim, a fé pode assumir um caráter divino
em qualquer esfera da vida humana. E esse hábito de sacralizar aspectos do cotidiano
é capaz de alterar nosso comportamento.
Em tese, é possível usufruir de benefícios semelhantes aos proporcionados
pelas crenças divinas apenas focando as energias naquilo que faz bem a você. Nessa
mesma acepção, foi desenvolvido um método que consiste em cultivar momentos
sagrados.
Inicialmente, são escolhidos objetos que trazem boas lembranças (fotos de
infância, o relógio do pai, uma carta) para que sejam apreciados diariamente por pelo
menos cinco minutos. Nesse experimento, se devem deixar que pensamentos
invadam sua mente.
Após três semanas, voluntários que participaram desse experimento avaliaram
suas emoções, revelando sentimentos de gratidão, humildade e empatia, porque se
reconectaram àquilo que realmente importa para eles. Consequentemente, se
sentiram menos ansiosos e pessimistas e mais dispostos a ajudar quem precisa.
Pesquisas recentes demonstraram que pessoas ligadas a atividades espirituais
tem a ativação maior de regiões cerebrais ligadas à empatia e sociabilidade. Para
chegar a essa conclusão, foram realizados experimentos com o auxílio de um
aparelho de ressonância magnética funcional, tendo em vista observar o cérebro dos
participantes enquanto realizavam atividades de raciocínio lógico e tarefas de cunho
social.
A pesquisa comprovou que pessoas com uma religião tinham maior atividade
nas áreas que se associavam a temas relacionados à sociabilidade, podendo estar
relacionado à crença religiosa. Participantes que relataram rezar e meditar com
frequência apresentaram índices mais altos de empatia e desenvoltura social. Estudos
passados mostraram que a religião pode ajudar as pessoas a lidar melhor com
problemas emocionais, como o tratamento de doenças.
Neste aspecto, afeto e cognição estão intimamente e dialeticamente
relacionados, estando a vida emocional conectada a outros processos psicológicos,
pois o ser humano é subjetivamente constituído. Então, tanto a inteligência quanto a
afetividade são instrumentos de adaptação que permitem construir noções sobre os
objetos, indivíduos e situações, conferindo-lhes atributos.
Em pesquisa de mestrado, diagnosticou-se a existência de queixas
psicológicas entre pacientes que iriam se submeter ao transplante cardíaco,
classificando-as em oito grupos específicos. Usando como instrumento a entrevista
aos pacientes, aplicou-se a Escala Diagnóstica Adaptativa Operacionalizada – EDAO,
sendo obtidos os seguintes resultados:
Os pacientes classificados no Grupo 1, Ambivalência, demonstravam dúvidas
na realização do transplante, embora reconhecessem a necessidade do procedimento
em virtude de sua condição clínica agravante. Tais pacientes não acreditavam que
seriam bem-sucedidos após a cirurgia.
Em relação aos pacientes que pertenciam ao Grupo 2, Autocrítica, estes
relataram sentimentos de desvalia, estigma e fatalismo, culpando-se por terem
abandonado o lar ou os filhos e ter causado prejuízo material ou danos a terceiros. Se
classificavam como pessoas sem sorte, estando fadadas ao fracasso.
No Grupo 3, Onipotência, estes pacientes não aceitavam a gravidade de sua
doença, embora não se recusassem ao procedimento cirúrgico, nem tampouco a fazer
os exames de laboratório indicados pelos médicos. Sua característica principal era
tratar o transplante cardíaco como um assunto banal, apresentando histórico de
dificuldades para seguir o tratamento, além de antecedente de alcoolismo.
Os pacientes incluídos no Grupo 4, Desesperança, diziam não sobreviver até
poderem obter o órgão para ser transplantado, permanecendo preocupados em
relação ao tempo de espera. Apresentavam vulnerabilidade emocional ao tratar com
a situação, queixando-se da falta do convívio na sociedade, buscando um vínculo
significativo na religião.
Sobre o Grupo 5, Dependência, estes se queixavam de passar por dificuldades
para refletir sobre o transplante, não aceitando falar a respeito dos sentimentos que
vivenciavam. Particularmente, não emitiam opinião própria sobre o transplante, sendo
a aceitação da cirurgia dependente da decisão do cardiologista.
O Grupo 6, Recusa, se destacou por conter pacientes que se recusavam a se
submeter ao transplante cardíaco, não aceitando fazer os exames iniciais, alegando
motivos religiosos, além da idade avançada. Demonstravam constrangimento em vir
a usar o coração de outro indivíduo, desconfiando de que esse órgão seria rejeitado.
A respeito do Grupo 7, Adaptação, este era composto por pacientes que
aceitavam que o tratamento clínico convencional não obterá sucesso, tendo de se
submeter ao transplante. Relataram, em seus depoimentos, que afastavam da cabeça
pensamentos destrutivos como a morte, refletindo acerca dos benefícios que obteriam
depois do transplante. Destacaram-se pelos sentimentos de satisfação e autoestima,
não provocando conflitos.
Sobre os pacientes que se classificaram no Grupo 8, Dissociação, estes se
caracterizaram por aceitar a indicação do transplante cardíaco, reconhecendo a
gravidade de sua cardiopatia, embora não acreditassem que precisariam se submeter
a uma cirurgia.
Demonstraram preocupação em obter informações sobre as normas do
programa, querendo saber o que a equipe desejava dos mesmos.
Diante do exposto anteriormente, faz-se necessário constatar que escutar os
pacientes acerca dos sentimentos e atitudes vivenciados no período pré transplante é
essencial para diagnosticar se estes relatam mecanismos de defesa, minimizam ou
omitem dificuldades em aceitar o procedimento cirúrgico, resistem ao tratamento,
sendo urgente a definição dessas condutas para realizar a intervenção psicológica.
Nesse sentido, baseado no exposto anteriormente, a religiosidade faz com que
tenhamos pessoas mais espirituais. As chances de conquistar um objetivo na vida são
influenciadas pelo autocontrole, característica que parece ser mais alta em pessoas
religiosas.
Durante oito décadas de avaliações em voluntários, que envolveram a análise
de atividades na área de neurociência, economia, psicologia e sociologia, os
pesquisadores concluíram que comportamentos religiosos podem estimular essa
habilidade. Nesse sentido, foi constatado que rituais religiosos, como a oração e a
meditação afetam partes cerebrais importantes para a autorregulação e o
autocontrole.
Tais dados foram condizentes com as observações neurais. Nesse sentido,
quando as pessoas veem seus objetivos como algo sagrado, colocam mais energia e
esforço para persegui-los. A ciência constatou que a religiosidade parece funcionar
como uma espécie de alívio para o cérebro.
Pesquisadores americanos destacam que os seres humanos e outros primatas
são afligidos por fontes inevitáveis de estresse, procurando diferentes tipos de
espiritualidade, entre os quais, a religião. Portanto, as crenças podem influenciar a
forma como o sistema neurológico funciona.
Os insights sobre como funciona o cérebro tornaram-se muito mais
sofisticados, graças ao surgimento de novas ferramentas para cérebros que vivem de
imagem. Esta tecnologia permite que os cientistas do cérebro estudem como se
processa a fé em Deus.
Por esse ângulo, pesquisas sobre o cérebro e a fé demonstram que os crentes
têm uma rede rica e complexa criada em seus cérebros para Deus. Para estes, Deus
não é apenas uma ideia, mas denota sentimentos e experiências, afetando a forma
como nosso cérebro funciona em níveis fundamentais.
Pessoas que se dedicam regularmente a experimentar mais do amor de Deus,
passam por mudanças através da oração e meditação, tendo menos estresse,
experimentando uma redução na pressão arterial. Seu córtex pré-frontal torna-se mais
ativo ao longo do tempo, ajudando-os a evitar a distração e ser mais intencional. Eles
também têm mais atividade no córtex anterior cingulado, parte do cérebro associada
com amor, compaixão e empatia.
Não se caracteriza, então, apenas como uma experiência intelectual, mas
completa-se por meio do seu domínio, com possibilidades de transformar o sujeito,
ampliando suas formas de perceber, interagir, agir e pensar. Como consequência, sua
capacidade perceptiva do ambiente e do mundo amplia-se e transforma-se, adquirindo
novos sentidos e significados, que, num continuum, o levarão ao domínio de formas
múltiplas de expressão.
Ao longo da História o ser humano sempre buscou entender sua existência,
tentando alcançar explicações como: o que é, como é e quem é o ser humano que
vive na Terra. Uma interpretação do ser e do seu modo de estar. Uma busca que
alavancou a racionalização da existência humana, permitindo o surgimento das
doutrinas religiosas. Por sua tamanha complexidade, o ser humano tende a tal
racionalização acerca de seus diferentes aspectos, explorando seu corpo físico, sua
capacidade de viver em grupo e sua vida espiritual.
Tal singularidade de entender sua existência, incentiva a busca pelo
conhecimento religioso, levando-os a se confrontar continuamente, sendo a ética
(ethos) o termômetro para intermediar essa confrontação. (PIMENTEL, 2013).
Para Durkheim (2000a) a religião se institui como um sistema que envolve
crenças, ritos e práticas que reúne nas igrejas todos que a elas aderem. Nesse âmbito,
a religião se organiza enquanto um sistema coletivo que une indivíduos em uma
comunidade moral, mas existe uma dicotomia entre os domínios sagrado/profano.
Durkheim os concebe em uma heterogeneidade absoluta, tendo em vista que
o sagrado se define em relação ao profano. Portanto, para Durkheim, o sagrado se
diferencia do que é impuro, pois “as forças as quais o indivíduo se inclina são forças
sociais” (DURKHEIM, 2000a, p. 176).
Nesse sentido, as coisas sacras estão acima das profanas, sendo que as
crenças são representações do sagrado em distinção ao profano. Conforme
Durkheim, além da dicotomia existente entre o sagrado o profano, também é
dicotômica a relação entre a magia/religião, embora estejam sempre misturadas.
Durkheim, discutindo sobre o estado de espírito do crente, defende que isto não
significa aderir a sua crença (DURKHEIM, 2000a). Para tanto, a força religiosa é
projetada para fora das consciências que a experimentam, havendo uma forte emoção
reativada por meio dos mitos. Agamben (2010a), assevera que ao final do primeiro
tomo de Homo sacer, a “produção da vida nua” é uma forma de “rendimento
fundamental” do poder soberano.
Em sua individualidade e racionalidade, o homem, de certa forma, substitui o
cosmo sagrado, com suas organizações e normas, as quais gerem as instituições
religiosas. Nesse sentido, na modernidade, o ser humano se institui como medida de
si, de suas relações e do universo, com independência e escolha racional autônoma.
Esta nova concepção afeta a sociedade e a religião. No que diz respeito à religião,
passa a ser representada por instituições oficiais, perdendo o poder no mundo
moderno. (PIERUCCI, 1997).
No mundo Ocidental, não somente o cristianismo, mas toda religião católica ou
protestante não detém a hegemonia no campo cultural, do Estado e direito, pois hoje
as religiões debatem temas como ecologia, bioética.
Por esse ângulo, quando a religião se torna plural no sentido de que existem
várias crenças que interpretam o mundo, deixa de se relacionar ao social, emergindo
diferentes grupos que fundamentam a religiosidade, atuando tanto a nível da cultura,
quanto do conhecimento. (STEIL, 2001).
Steil (2001), assevera que, partindo de uma perspectiva estrutural, a sociedade
moderna se caracteriza como a-religiosa e politeísta no que diz respeito à sua relação
com a cultura e os significados construtores do sentido da humanidade.
CONCLUSÃO
A família perpassa por profundas transformações em sua estrutura,
modificando seu papel diante da evolução social. Durante muito tempo, ela foi
esquecida e, hoje, é objeto de estudos, pois é na instituição familiar que se vivencia a
primeira forma de afeto e que se estabelecem os valores e as regras de convívio
social.
A modernidade trouxe o pluralismo religioso, o qual se originou quando foi
rompido o monopólio de uma religião oficial a ser seguida pela sociedade. Ao se
romper a relação orgânica entre o Estado e a religião, se diversifica o campo religioso.
Nesse sentido, quando a religião se desvanece do Estado, o qual lhe possibilitava a
reprodução de sua crença à sociedade com exclusividade, se introduz e se redefine
uma transformação da estrutura da religião na era moderna.
É nesse aspecto que a Psicologia se associa à Pastoral com o objetivo de ouvir
os jovens e sua família, auxiliando a compreender-se no mundo e a reconhecer o
quanto a fé contribui para melhorar o emocional de forma positiva.
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