Desdobramentos Psicanalíticos
Não há essência humana, é sempre um tornar-se. Eu vou me tornando aquilo
que eu sou.
Quanto mais você não aceita seu lado instintivo, mais você não aceita no outro.
Aula 1
Psicanálise na Inglaterra, França e EUA.
Aspectos históricos da psicanálise pós-freudiana.
Período no qual a diferença étnica, sexual e cultural passa a ser objeto
de estratégias de domesticação e patologização cada vez mais intensas.
Até a primeira guerra, a psicanálise se centralizava em torno de Freud.
Era um movimento marginal, de contracultura, questionava a moral sexual, a
autonomia da consciência e a pureza naturalizada da criança e da mulher.
Tinha dificuldade de ser reconhecida e era associada ao judaísmo. Depois
dela, formaram-se várias comunidades de analistas. A psicanálise se
internacionaliza. Tentativa de relacionar a psicanálise com a psiquiatria,
universidade e educação.
Jung criticou o dualismo (pulsão de morte x vida) de Freud e a extensão
assumida pelo papel da sexualidade e, portanto, ocorreu uma cisão entre
Freud e Jung. Adler, no entanto, dizia que o humano tentava superar suas
próprias inferioridades, tornando-se melhor naquilo. Adler também saiu, criando
a psicologia do indivíduo (Se você tem uma certa deficiente, toda o trabalho
psíquico será direcionado a isto, na sua separação. Gago > Orador. Considera
que tem uma deficiência, todo seu esforço deverá para superar). Freud tentava
manter a coesão teórica.
Depois da guerra, houve uma expansão e o reconhecimento
internacional do movimento psicanalítico. As divergências teóricas traduziram-
se em novas escolas, aumentando sua diversidade. Ao mesmo tempo, criaram-
se critérios para a profissionalização. A IPA, que era uma entidade científica.
Nos anos 30, houve uma burocratiza-se e elitização dos processos para se
tornar psicanalista. No entanto, ao se internalizar, a psicanálise serve a
sociedade de consumo, se burocratiza e se elitiza.
Grupo Húngaro: liderad por Ferenczi, propondo alterações no formato
tradicional da análise, resgatando a importância efetiva dos afetos na
experiência analítica.
Grupo de Berlim: liderado por Abraham, quem e formou na escola suíça
de psiquiatria. Propõe relações entre quadros clínicos e sua fixação em certos
momentos do desenvolvimento da libido, teoria das relações de objeto
(ambiente, família. Como esses conflitos pulsionais se dão na relação com o
outro)
Grupo britânico: Ernst Jones, Melanie Klein, Anna Freud, Winnicott.
Segunda guerra teve efeitos devastadores sobre a comunidade psicanalítica.
Exilados, perseguidos e mortos.
Aula 2
MELANIE KLEIN
Nasceu em Viena, em 1882. Tinha 3 irmãos mais velhos, e acaba
perdendo 2 deles. Queria ser médica, mas acaba abandonando o sonho
para se casar.
Casa-se com Arthur Klein, engenheiro químico. Em seguida, ela deixa
Viena e vai para diversas cidades do Império Austro-Húngaro.
Tem dois filhos, Millita, Erich e Hans Klein, em que este último morre.
1910, se estabelece em Budapeste. Sofre de depressão, desespero e
desânimo, tirando temporadas de repouso longe da família, deixando
para sua mãe cuidar das crianças. 1914, nasce seu filho Erich.
Inicia seu contato com a psicanálise com 32 anos.
1919 apresenta seu primeiro artigo, baseado no “tratamento” que
realizou com seu filho, Erich. Ferenczi, psicanalista de Klein, permite
esse tratamento. Era próximo de Freud, mas não totalmente alinhado a
suas teorias.
Em 1920, conhece Abraham.
Em 1921, muda-se para Berlim. Sem o marido e sem levar os filhos.
Abre um consultório para análise de crianças e adultos.
1924 inicia análise com Abraham. Lê seu primeiro trabalho em um
Congresso Internacional “A técnica de análise de crianças pequenas”.
Sofre preconceito devido ao seu comportamento e sua falta de formação
acadêmica. Anna Freud: construir o ego das crianças. X Melanie Klein:
analisar o inconsciente.
Abraham morre, após 9 meses de análise. Logo, se muda para Londres
a convite de Jones.
1932: publica seu primeiro livro A psicanálise de crianças.
1939: Morre Freud, deixando a disputa entre os Kleinianos e seus
opositores ainda mais forte. Para manter a diversidade, houve vários
debates conhecidos como Controvérsias Freud-Klein.
Anna Freud tinha mais comunicação Internacional, ao contrário de Klein.
ESTILO DE PENSAMENTO E ESCRITA
Desde o início, Melanie Klein valorizou sua experiência pessoal, a
observação e contato direto com os pacientes. Sua intuição dos fenômenos
psíquicos e o contato direto com os pacientes sobrepunham-se à construção
racional e sistemática de conceitos. A mistura entre experiência clínica e
construção teórica se, por um lado determinou um certo dogmatismo, por outro
fez com que a metapsicologia não se tornasse autônoma em relação à clínica.
Sua teoria tem uma dimensão genética, evolutiva e histórica.
O infantil para Klein é atemporal, aquilo que resiste à historicização, às
formas clássicas e lineares de temporalidade e que o psiquismo tem de dar
conta.
Klein possuía o talento para dar corpo, tornar visível, nomear, os
aspectos mais arcaicos da fantasia, o excessivo e insaciável e ingovernável
das paixões, o estranho das formações do inconsciente, a alteridade.
TÉCNICA DO BRINCAR
Se Freud usou a terapia por meio da palavra, a criança vai brincar para
se expressar. Brincar corresponde à associação livre. A criança brinca com
objetos e dramatiza (muitas vezes com a analista). O brincar possibilita a
interpretação de ansiedades e defesas. A linguagem simbólica do brincar é
similar a linguagem do sonho.
O paciente tem de sentir a análise como algo separado de sua vida
familiar cotidiana para superar as resistências.
Aceitar os instintos destrutivos e integrar os objetos. A gente tende a
cindir o bem e o mal, e aos poucos juntamos isso.
Inibição no brincar
Importante interpretar transferência negativa, quando havia inibição no brincar.
– Nomear um sentimento que a criança não sabe bem qual é.
Equipamentos do consultório: caixa lúdica, um chão lavável, água corrente.
Agressividade
É essencial permitir à criança trazer à luz sua agressividade e
compreendê-la na transferência.
- Compreender também as consequências dos impulsos destrutivos;
culpa e ansiedade persecutória.
- Dar ao paciente limites de que não é permitido machucar a analista
evita um excesso de culpa e de ansiedade persecutória, mas deve se ter o
cuidado de não inibir a expressão de fantasias destrutivos.
- O analista, porém, não deve incentivar as manifestações da
agressividade. Ela deve ser expressão dos processos do paciente.
Capacidade da criança de suportar as frustrações (plenitude na barriga x
mamada) Relação boa (gratificação) com o objeto e uma de ódio (destruição)
(durante todas as fases).
Pulsão de morte e agressividade = mecanismo de defesa. Pulsão de
morte é projetada e volta como ansiedade persecutória.
- Não pôr pra fora a agressividade, não elabora.
- Entender a raiva da criança, para que ela elabore. Possibilita que a
criança tenha satisfação com outra coisa.
Mudanças na relação com um objeto
Brinquedo atacado no brincar (por exemplo, represente o irmão), pode
ficar isolado, devido a ansiedade persecutória (vai me atacar) e depois de um
tempo, depois da interpretação da ansiedade e da defesa e de sua elaboração,
pode tornar-se objeto de culpa e reparação.
Também a reparação não deve ser incentivada, ela deve aparecer como
expressão dos processos psíquicos do paciente.
Superego primitivo severo e cruel
Remota a uma fase muito anterior a que supunha Freud.
Pode ser representado no brincar, pela dramatização de uma mãe muito
severa.
Expressa-se na ambivalência como o objeto, na necessidade de
punição, no sentimento de culpa.
Ataques fantasiados ao corpo da mãe (roubar seus conteúdos) provoca
o medo de retaliação (perseguição).
Introjeção e projeção
As perseguições internas são projetadas e influenciam a relação com os
objetos externos
Seio bom e seio mau (pessoas diferentes)
Perda: Seio – coco – castração
Elaborar a perda = poder produzir.
Ansiedades psicóticas
Ansiedades psicóticas subjazem a neurose infantil e adulta.
Fazem parte do desenvolvimento infantil normal.
É característico da esquizofrenia a inibição severa da capacidade de
formar símbolos. (de representar a ansiedade psicótica, por exemplo, no
brincar, no sonhar e na linguagem). Capacidade de formar símbolo que
separa um do outro.
Essa compreensão abriu caminha para o tratamento de pacientes
psicóticos pela psicanálise.
Relações objetais
Sentimentos dirigidos ao seio da mãe surgem com a primeira
experiência de alimentação e estão intimamente ligados a todos os
aspectos da vida mental. – Mundo interno influencia no mundo externo.
Situações internas e externas são interdependentes.
Introjeção (introjeto o mundo interno) e projeção (projeto o que eu
introjetei)
Posição esquizo-paranoide: cisão, projeção, perseguição, idealização. Só essa
forma nos primeiros meses de vida.
Posição depressiva: integração crescente do ego, seio bom e seio mau vão
sendo sintetizados, resultando na ansiedade depressiva.
Tendências edipianas precoces:
- São liberadas pela frustração sentida no desmame
- São reforçadas nas frustrações anais sofridas no treinamento dos hábitos de
higiene
- São influenciadas pela diferença anatômica do sexo.
Nos meninos: troca posição oral e anal pela genital, ele muda sua
posição libidinal e o objetivo, que passa a ser a penetração, mantendo
seu objeto amoroso, a mãe. (mantém a mãe)
Nas meninas: passar da fase oral para a genital e não muda o objetivo
(receptiva). A menina desenvolve a receptividade para o pênis e se volta
ao pai como objeto amoroso. (muda da mãe para o pai). Menina
continua receptiva.
Superego:
- Identificações contraditórias: bondade excessiva e severidade desmedida.
- Fantasias de pais que devoram, cortam e mordem. O medo de ser devorada e
destruída é consequência do desejo da criança de destruir o objeto libidinal,
mordendo-o, devorando-o e cortando-o em pedaços. A criança espera a
punição, castigo que corresponda à ofensa. (superego falando pro ego que ele
é mau)
- O superego se forma quando as fases sádico-oral e sádico-anal estão em
ascendência, por isso seu rigor sádico e o sentimento de culpa.
Estágio sádico-anal:
- A mãe tira o seio e agora não pode fazer coco etc. Desejos frustrados.
- Deseja tomar posse das fezes da mãe, penetrando no seu corpo, cortando-o
em pedaços, devorando-o.
- Quanto mais cruel o superego, mais cruel é a figura do pai castrador.
Fase de feminilidade, no menino:
- Teme ser punido pela destruição do corpo da mãe. Tem medo de que seu
corpo seja mutilado e desmembrado, o que significa castração. A mãe que
toma as fazes do menino representa a mãe que desmembra e castra. Ela,
antes do pais, já é a figura castradora.
- Devido à frustração do desejo de ter um filho, o homem confere
narcisicamente valor excessivo ao pênis.
Desenvolvimento sexual das meninas:
- Também o desmame e as privações anais impeliram ao afastamento da mãe
- A noção inconsciente da vagina, assim como a sensação nesse órgão são
despertadas logo que surgem os impulsos edipianos.
- O caráter receptivo do órgão genital (o desejo intenso de uma nova forma de
gratificação) e a inveja e o ódio da mãe, que possui o pênis do pai, faz com que
a menina se volte para o pai. As carícias do pai têm o efeito de uma sedução e
são sentidas como atração pela criança.
- Conhecimento do corpo da mãe, faz ela descobrir que não tem o pênis,
fazendo a odiar mais ainda. Mas também sentir culpa e encarar como uma
punição, o que torna mais amarga e frustração.
- O desejo de ter um filho, de roubá-lo da mãe, é substituído pela inveja do
pênis e, posteriormente, essa por aquele.
- Primeiro tem inveja do pênis do pai e, depois, passa a desejar o pênis do pai.
- Pênis = como posição do homem.
- Quando a satisfação total dos impulsos amorosos é obtida, há enorme
gratidão pelo fim da privação acumulada.
Brincar:
- Ajuda a dominar os medos pulsionais e os perigos internos pela projeção
destes no mundo exterior.
- Projetando se vence o medo e se prepara contra eles.
- Possibilitada que o mundo interno angustiante seja projetado e, assim,
aliviado.
Relações objetais:
- A criança encontra uma refutação de seus temores, projetando-os no mundo
exterior e, introjetando seus bons objetos reais, também alivia sua angústia.
- É necessário a presença de um objeto real para combater o medo do
superego e seus aterrorizantes objetos introjetados.
- Há uma constante oscilação entre objetos introjetados e reais, entre fantasia e
realidade: projeção, refutação e introjeção.
Período de latência:
- Ego e superego unem-se sujeitando o id e adaptando-se aos objetos reais, do
mundo exterior.
- Aparentemente o ideal é o menino bonzinho e bem comportado que
proporciona satisfação a seus pais e professores.