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Monografia Final Corrigida

O documento apresenta uma proposta de ensino religioso na escola pública de acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. No primeiro capítulo, faz um breve histórico do ensino religioso no Brasil desde o período colonial até a atual Lei de Diretrizes e Bases. No segundo capítulo, analisa a educação brasileira no contexto do modelo neoliberal. E no terceiro capítulo, apresenta uma proposta de ensino religioso na escola pública, abordando seu novo paradigma, adequação à escola, identidade ped

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O documento apresenta uma proposta de ensino religioso na escola pública de acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. No primeiro capítulo, faz um breve histórico do ensino religioso no Brasil desde o período colonial até a atual Lei de Diretrizes e Bases. No segundo capítulo, analisa a educação brasileira no contexto do modelo neoliberal. E no terceiro capítulo, apresenta uma proposta de ensino religioso na escola pública, abordando seu novo paradigma, adequação à escola, identidade ped

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FACULDADE CONTEMPORÂNEA DO CEARÁ-FCC

CURSO DE VALIDAÇÃO EM TEOLOGIA


GRADUAÇÃO

ENSINO RELIGIOSO NA ESCOLA PÚBLICA; UMA PROPOSTA SEGUNDO A LDB.

FRANCISCO JOSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

FORTALEZA-CEARÁ, 2012
FACULDADE CONTEMPORÂNEA DO CEARÁ-FCC
CURSO DE VALIDAÇÃO EM TEOLOGIA
GRADUAÇÃO

ENSINO RELIGIOSO NA ESCOLA PÚBLICA; UMA PROPOSTA SEGUNDO A LDB.

Monografia apresentada como parte das


exigências para a obtenção do título de
graduação em Teologia-convalidação pela
Faculdade Contemporânea do Ceará, sob
orientação da professora, Alice Nayara dos
Santos.

FRANCISCO JOSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

FORTALEZA-CEARÁ, 2012
AGRADECIMENTOS

Agradeço antes de tudo a meu Deus, em quem minha fé e esperança se fundamentam.

À minha querida e amada esposa Flávia Barbosa, minha companheira e incentivadora.

As minhas filhas, Rebecca Sofia e Sara Rilde, nas quais encontro inspiração para ler e

escrever, para lhes ser exemplo.


SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...................................................................................................................... 09

CAPÍTULO I......................................................................................................................... 15

BREVE HISTÓRICO DO ENSINO RELIGIOSO NO BRASIL..................................... 15

1.1. O ensino religioso no Brasil Colônia........................................................................ 15

1.2. O ensino religioso no Brasil Império ....................................................................... 16

1.3. O ensino religioso no período republicano............................................................... 18

1.4. O ensino religioso na Constituição de 1988.............................................................. 21

1.4.1. O ensino religioso na nova LDB................................................................................ 23

CAPÍTULO II........................................................................................................................ 26

A EDUCAÇÃO BRASILEIRA NO MODELO NEOLIBERAL....................................... 26

2.1. Breve histórico da educação brasileira....................................................................... 26

2.2. O que é o ensino religioso............................................................................................. 28

2.3. O ensino religioso na Escola Pública........................................................................... 29

CAPÍTULO III....................................................................................................................... 32
ENSINO RELIGIOSO NA ESCOLA PÚBLICA; UMA PROPOSTA............................. 32

3.1. Novo paradigma para o ensino religioso...................................................................... 32

3.2. O ensino religioso e sua adequação à escola pública................................................... 34

3.3. A identidade pedagógica do ensino religioso............................................................... 35

3.3.1. O conhecimento do ensino religioso no contexto da educação................................ 36

3.4. O perfil do professor de ensino religioso..................................................................... 39

3.4.1. A formação do professor de ensino religioso............................................................. 41

3.4.2. O ensino religioso como proposta para execução na escola pública....................... 42

CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................................ 44

REFERENCIA....................................................................................................................... 48
FOLHA DE APROVAÇÃO
RESUMO

O trabalho trata o tema; Ensino Religioso na Escola Pública: uma Proposta Segundo a LDB,
objetivando propor o ER, como parte integrante da formação do cidadão sem aspectos
proselitistas com base na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB, 1996) e
Constituição de 1988. Esta pesquisa de característica teórica iniciou-se com uma minuciosa
análise bibliográfica. O Ensino Religioso apresentado pela Nova LDB, (Lei 9394/96) em seu
artigo 33, assegura ao educando um ER que respeite a sua diversidade cultural religiosa, e,
com efeito, um ensino sem proselitismo. O objetivo maior deste dispositivo é apresentar um
novo conceito de ER, superando assim o conceito antigo que se confundia com catequese e
oferecia desta forma, ao aluno apenas uma aprendizagem parcial. Como disciplina do
currículo normal das escolas públicas, de matrícula facultativa, por parte dos alunos e de
oferta obrigatória por parte das instituições de ensino e ainda de caráter não confessional,
quando a Lei veda toda forma de proselitismo. Nesta pesquisa, o trabalho é apresentado em
três capítulos; no primeiro capítulo um breve histórico do ER, ao longo da história de nosso
país desde o período colonial até a nova LDB. Em seguida no capítulo dois, uma análise
segundo especialistas no assunto, uma visão ampla da educação brasileira escolar, de modo a
situar o entorno em que o ER está sendo inserido pelos novos dispositivos legais. Por fim, no
capítulo três é apresentada a proposta baseado unicamente em pesquisa bibliográfica, ou seja,
de cunho especificamente teórico, lançando mão de escritos de autores reconhecidos no
assunto além de documentos. Onde é apresentada de forma sistemática a proposta do ER,
como disciplina regular na escola pública, bem como sua temática em sala de aula, buscando
mostrar o profissional como peça importante na prática em sala de aula.

Palavras-chave: Ensino Religioso, Lei, Escola Pública.


8

INTRODUÇÃO

Esta pesquisa tem como característica uma análise teórica do que seja o Ensino

Religioso como proposta, enquanto disciplina regular na escola pública, tendo como base

apenas referenciais bibliográficos de autores conhecidos no que se refere ao assunto estudado

e exposto neste trabalho. Cito alguns que tomei como referência; Religião em sala de aula: o

ensino religioso nas escolas públicas de César Ranquetat Júnior; Ensino religioso na escola

pública: o retorno de uma polêmica recorrente, do autor Carlos Roberto Jamil Cury, O

Ensino Religioso no Brasil - tendências, conquistas e perspectivas da autora Anísia de Paulo

Figueiredo, Parâmetros Curriculares Nacionais Ensino Religioso, elaborado pelo Fórum

Nacional Permanente do Ensino Religioso, entre outros.

O meu interesse pelo tema teve início no ano dois mil, através do curso de

Licenciatura Plena em Ciências da Religião, o que me propiciou ter contato com alunos e

professores desta área à época, naquele momento tendo em vista o pouco tempo decorrido

desde a aprovação da lei, o ensino na área passava por um período de adequação.

O que propus a apresentar como resultado de pesquisa são relatos de cunho científico

sobre o assunto, utilizei escritos de autores estudiosos da área. Procurei apresentar questões

históricas, no que percebi certa evolução em referência à prática escolar deste ensino, nos

diversos períodos da história em nosso país. Procurei ainda, me basear pelos dispositivos
9

legais que regulam o ER, no caso específico, A Lei de Diretrizes e Bases da Educação lei

9394/96, bem como da Constituição Federal (1988) vigente no país.

Apresentei uma breve visão da educação brasileira contextualizada na visão de autores

educadores, visando com isto exibir de forma clara as vias educacionais em que o Ensino

Religioso está sendo inserido de forma legal. E ainda, que esta disciplina poderá sofrer as

mesmas dificuldades que assolam a educação brasileira como um todo, tais como

desvalorização dos professores, o interesse da escola em trabalhar o aluno para a

competitividade do vestibular, não se preocupando com a formação moral, a cidadania e o

civismo. SAVIANE, D (1997)

Num primeiro momento, busquei entender a legislação que trata o assunto, desde a

imposição de Portugal como ensino da Religião, até aos amplos debates em torno do ER, que

antecederam a elaboração da Carta Magna de 1988. Para tanto, lancei mão de dispositivos

legais acerca desta disciplina. São eles: A Constituição de 1988, em seu artigo 210, parágrafo

1°; Lei de Diretrizes e Bases da educação brasileira, Lei n° 9.394/96, no artigo 33, que teve

sua redação alterada pela Lei n° 9475/97; Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino

Religioso (PCNER). Em seguida, analisei o referencial teórico que me deu suporte para o

desenvolvimento de ideias claras e sequenciais dentro deste objeto de estudo, desta forma,

neste trabalho priorizei a pesquisa bibliográfica.

Dispus as ideias em três capítulos, sendo que no primeiro capítulo são abordados

basicamente referenciais históricos, com vistas a situar o Ensino Religioso através da história

a partir do Brasil Colônia, onde segundo Ranquetat (2007), o Ensino Religioso tinha uma

perspectiva de fé cristã, o que era uma imposição de Portugal para suas colônias, o que se

observa, é que o foco está na evangelização e catequização das populações, uma espécie de
10

ensino religioso, de educação e formação religiosa de acordo com os princípios da moral e da

doutrina católicas.

No Brasil Império, com a aliança firmada entre a Igreja e o Estado, onde o

Catolicismo é declarado como religião oficial, firma-se cada vez mais o ensino catequético

com o domínio total da Igreja Católica nesta área de aprendizado escolar.

No período Republicano, vem à consolidação de um Estado laico. Contudo, é

permitida a liberdade aos cultos, abrindo assim a possibilidade de amplo debate sobre o ER,

com fim de mantê-lo, mesmo em um Estado laico, na escola pública.

Por ocasião da elaboração da Constituição de 1988, vê-se uma intensa mobilização

visando incluir o Ensino Religioso neste dispositivo de Leis do país. Pode-se destacar neste

contexto, o envolvimento de educadores e de entidades representativas de alguns estados da

federação, das quais se destacam as seguintes instituições envolvidas neste processo;

Associação Interconfessional de Educação de Curitiba (ASSINTEC), PR, o Conselho de

Igrejas para a Educação Religiosa (CIER), de Santa Catarina e o Instituto Regional de

Pastoral de Campo Grande, MS (IRPAMAT). E ainda, a Associação de Educação Católica

(AEC) e o setor de Educação da CNBB, principalmente o Grupo de Reflexão sobre Ensino

Religioso (GRERE). A emenda constitucional para o ER foi a segunda maior emenda popular

que deu entrada na Assembleia Constituinte, obtendo mais de 78.000 assinaturas. (Canon, L.

1997).

Uma vez incluído o ensino religioso na Constituição Federal em seu artigo 210

parágrafo 1° do Capitulo III, o embate passa a ser agora, em nível de elaboração da nova

LDB. O que se dar após intensa mobilização e três projetos apresentados foi aprovada em

regime de votação e em caráter de urgência constitucional, sendo votada na Câmara dos


11

Deputados. E enviada ao senado onde recebeu aprovação da maioria absoluta dos Senadores.

No dia 08 de julho de 1997, a Lei 9475/97 foi sancionada pelo Presidente da República e

publicada no Diário Oficial da União em 23 de julho de 1997, dando nova redação ao artigo

33, da Lei 9394/96, retirando os termos “sem ônus para os cofres públicos”. Dando assim

responsabilidade ao Estado de onerar o ensino nas escolas públicas.

No Capítulo dois é apresentado o contexto educacional brasileiro, suas dificuldades,

suas prioridades, como a educação é tratada pelo Estado, visando expor o contexto em que o

ER está sendo inserido como parte integrante e disciplina regulamentar na escola pública.

Apresentando o objetivo da escola em sua criação, fazendo um paralelo com a educação

brasileira atual, onde a preocupação de inicio foi prestigiar a elite com a abertura de escolas

superiores. SAVIANI, D (1997).

De acordo com Saviani, N. (1997), o trabalhador brasileiro entende a educação de boa

qualidade como sendo aquela que forma cidadãos capazes de entender o sentido da atividade

humana que está materializada no trabalho; que dá aos alunos capacidade de superar seus

interesses pessoais imediatos, tornando-se capazes de entender as relações homem-natureza e

homens entre si. Enfim, a boa educação forma a personalidade integral do sujeito histórico.

No capítulo três, baseado nos dispositivos jurídicos legais, abordei um novo

paradigma para o ER, visto agora não mais numa perspectiva catequética ou administrado por

uma Igreja, mas, no âmbito escolar, respeitando à diversidade religiosa e cultural ao mesmo

tempo em que se torna importante para a manutenção da fé e aproxima o aluno do

transcendente. Lei n° 9.475, de 22 de julho de 1997 que dar nova redação ao artigo 33 da

nova LDB. Sendo este ensino de matrícula facultativa, e parte integrante da formação do

cidadão e constitui disciplina dos horários normais das escolas públicas de ensino
12

fundamental, assegurado o respeito à diversidade cultural religiosa do Brasil, vedadas

quaisquer formas de proselitismo.

Segundo Ranquetat (2007), O “novo ensino religioso” é apresentado como macro

ecumênico e inter-religioso se insere em uma tendência de aproximação, cooperação entre as

religiões. O Concílio Vaticano II, ocorrido no começo da década de 60 afirma a necessidade

do ecumenismo.

Com base na Lei 9.457/97, o ensino religioso assume um novo modelo, passa a

vigorar como disciplina cientifica, visando contribuir com a formação de uma visão critico-

social da realidade, o que somente o ensino religioso como disciplina na escola pública pode

fazer, ou seja, referência à dimensão religiosa do ser humano e que afirme uma concepção

religiosa do mundo. Ganha assim, um caráter não de religião ou educação religiosa mais

agrega em si outros valores na formação do cidadão, pautados na moral, ética, e ainda se

propõe a abordar temas como; teologia, sociologia, filosofia, história, geografia, psicologia e

antropologia das religiões, fenomenologia próprios das religiões. Desta forma, é elemento

integrante do conjunto as disciplinas que estão a serviço do desenvolvimento harmônico de

todas as dimensões o ser humano.·.

Abordei ainda neste capítulo, baseando-me em pesquisa teórica, a proposta

do conhecimento produzido pelo Ensino Religioso no contexto da Educação, enquanto

disciplina regular na escola pública. Neste processo, a Escola desempenha um papel

fundamental, haja vista, trabalhar com conhecimentos sistematizados. O ER como disciplina

escolar, como todas as demais, produz conhecimento científico. Visto por este ângulo,

desagrega-se totalmente do âmbito confessional (PCERN página 35,36). O conhecimento


13

produzido pelo ER visa adequar às necessidades reais do ser humano, pois se propõe a

responder as perguntas da vida do homem.

Para este novo conhecimento, são necessários profissionais de formação adequada ao

novo desafio da educação brasileira, que desenvolva sua atividade educativa numa visão

voltada para a complexidade da questão religiosa. A arte do professor de Ensino Religioso

parece-nos consistir na capacidade de despertar o educando para a transcendência. (Catão,

apud, Rossa. 2004).

Discorri ainda, sobre a formação do professor que Segundo Junqueira (2010), o

profissional do Ensino Religioso deve ter formação específica, de maneira que possa atender

as exigências e desafios propostos por esta área de conhecimento.


14

CAPÍTULO I

BREVE HISTÓRICO DO ENSINO RELIGIOSO NO BRASIL

1.1- O Ensino Religioso no Brasil Colônia

No período colonial, basicamente o Ensino Religioso limitava-se a cristianização de

escravos e índios, era visto, entretanto, como formação religiosa, (Ranquetat 2007). Neste

contexto Portugal procurava submeter o ensino nas colônias numa perspectiva de fé cristã. No

entanto, não era visto como disciplina regulamentar era uma espécie de ensino, de educação e

formação religiosa de acordo com os princípios da moral e da doutrina católica.

A evangelização e catequização destas populações foram de alguma maneira uma


espécie de ensino religioso, de educação e formação religiosa de acordo com os
princípios da moral e da doutrina católica. O primeiro documento legal que dispõe
sobre a educação religiosa de forma clara foram as “Constituições Primeiras do
Arcebispado da Bahia”, propostas e aceitas no sínodo diocesano de 12 de junho de
1707. Tais constituições previam a obrigação dos senhores proprietários cuidarem
da formação religiosa dos seus escravos. Cabia aos párocos ensinar a doutrina cristã
aos escravos e aos meninos. Nesse período não se falava ainda do ensino religioso
como uma disciplina, se tratava de uma formação religiosa (Oliveira, 2004:21, apud,
RANQUETAT, 2007 p. 164).

O ensino religioso no Brasil colônia estava voltado para vincular o catolicismo à

população escolar com atribuição explícita dos párocos na realização do ensino, o que claro,
15

era estritamente catequético, uma vez que este ensino atendia aos interesses colonizadores de

Portugal e da igreja católica.

Segundo Figueiredo (1995 p.78) "o Ensino Religioso no Brasil começa, de certa

forma, a partir da chegada dos colonizadores europeus, os quais buscavam evangelizar e

catequizar os indígenas que aqui já viviam e os negros trazidos do continente africano." Ainda

segundo Figueiredo (1995 p. 78) "era ensinado por padres católicos ou pessoas designadas

com o formato de catequese (ensino da doutrina católica)".

Segundo Ranquetat (2007) nesse regime o monarca de Portugal e, posteriormente, o

imperador eram os chefes da Igreja Católica no Brasil, possuindo as prerrogativas de nomear

bispos, remunerar o clero, etc. A Igreja Católica estava subordinada ao Estado, funcionava

como um departamento deste. A esfera da educação era comandada pela Igreja Católica, que

dominava as instituições de ensino. Os padres eram os professores e catequizadores.

1.2- O Ensino Religioso no Brasil Império

Com o advento do Império, firma-se a aliança entre o Estado brasileiro e a Igreja

Católica, explicitado na Constituição Federal de 1824, declarando a Religião Católica

Romana, a religião oficial do Império em seu artigo 5º. (CUNHA, apud, Ranquetat 2007 p.

164),

O ensino da religião católica, nas escolas públicas brasileiras, no período imperial,


era uma consequência da união entre o Estado e a Igreja. Essa herança dos tempos
coloniais chegava a tal ponto que houve quem dissesse que a Igreja Católica no
Brasil nada mais era do que um apêndice da administração civil.
16

Desta forma, o ensino religioso era ministrado pela igreja Católica. Neste período a

religião confunde-se com estado, sendo visto o ensino em questão, meramente como educação

cristã de doutrina católica, esta ganha espaço e poder para impor na esc ola o Ensino da

Religião. A lei de 15 de outubro de 1827 que trata do ensino religioso tem como objetivo abrir

escolas nas cidades, vilas e locais mais populosos do império em seu artigo 6º esclarecia que:

Os professores ensinarão a ler, escrever, as quatro operações de aritmética, prática


de quebrados, decimais, proporções, as noções mais gerais de geometria prática, a
gramática da língua nacional, e os princípios de moral cristã e da doutrina da
religião católica e a apostólica romana, proporcionados à compreensão dos meninos;
preferindo para as leituras a Constituição do Império e a História do Brasil (Cury,
1993 p. 22).

Durante o Império, O Ensino Religioso era atrelado ao sistema de protecionismo do

Estado, concretizado pelo juramento do Imperador em preservar e manter a religião católica

na forma do artigo 103 da Constituição de 1824. O ensino era visto como mais privativo, pois

abrangia uma pequena parte da população que tinha acesso à educação escolar. (CNBB, 1996)

Segundo Ranquetat, (2007), este panorama só começou a mudar no final do Império

quando o ensino religioso perde totalmente seu espaço sendo substituído pela educação moral

e cívica, que tinha como ideal incutir ideologia republicana. Outro ponto que merece destaque

neste período é o fato de os alunos de outas religiões não serem obrigados a assistirem do

ensino de orientação Católica.


17

1.3- O Ensino Religioso no período Republicano

Com o fim do Império surge com os ideais republicanos, a concepção de um Estado

laico, desta forma, o ensino religioso perde seu espaço, os republicanos veem na disciplina

Moral e Cívica um meio de transmitir às novas gerações os ideais republicanos de ao mesmo

tempo em que se torna um instrumento para formar uma identidade totalmente desvinculada

da Igreja Católica.

O regime republicano inaugurado em 1889 sepulta o regime do padroado. O decreto


119-A, de 7 de janeiro de 1890, separa a Igreja1 do Estado. O Estado brasileiro se
seculariza. A laicização do Estado é consagrada na Constituição Federal de 1891.
Várias esferas da vida social até então ligadas à Igreja Católica se secularizam. A
Constituição de 1891 institui o casamento civil, a secularização dos cemitérios, o
fim da subvenção estatal a qualquer culto religioso (Mariano, apud RANQUETAT,
2007, p. 165).

Mesmo fixando um Estado laico, é admitido à liberdade aos cultos religiosos, pode-se

dizer que abre portas para debates amplos sobre o Ensino Religioso, uma vez que a

secularização do estado traz consigo a exclusão do ensino religioso da escola pública

Ranquetat, (2007).

Neste sentido, a redação do texto da Constituição 1891, traz a seguinte redação “Será

leigo o ensino ministrado nos estabelecimentos oficiais de ensino”. Com a interpretação deste

dispositivo, origina-se o mais polêmico debate sobre o Ensino Religioso no Brasil, isto por

que os bispos brasileiros e a intelectualidade católica não podiam conceber que a maior

religião do país não fizesse parte da formação escolar.

Assim, mesmo perante a proclamação da laicidade do ensino nos estabelecimentos

oficiais, o Ensino da Religião esteve presente pelo Zelo e fidelidade dos princípios

estabelecidos sob a orientação da Igreja Católica.


18

O ensino religioso será de matricula facultativa, e ministrado de acordo com os


princípios da confissão religiosa do aluno, manifestada pelos pais e responsáveis, e
constituirá matéria dos horários nas escolas públicas primárias, secundárias,
profissionalizantes e normais. (PCNER, 2009, p. 25).

O ensino religioso é novamente admitido em caráter facultativo, este

reestabelecimento como disciplina na escola se caracteriza por um ensino basicamente

catequista, embora ao aluno fosse facultada a matrícula. Vale salientar que havia à época

setores, sobretudo de protestantes, de posição contrária a inclusão na escola do ensino

religioso alegando o fato do estado laico. RANQUETAT (2007).

No período republicano os fatos marcantes que ocorreram, anteriores à

Constituição Federal de 1988, devem-se ao fato de a Igreja Católica sempre buscar certa

prioridade e insistir em um ensino catequético, e por fim a luta de protestantes e laicistas

articulados em grupos como a Associação Brasileira de Educação visando um ensino laico e

não o religioso. Com o enfraquecimento das relações Igreja e Estado como o fim do Estado

Novo e com advento do regime de 1946, que novamente deixa claro esta separação, pondo

fim ao monopólio do catolicismo brasileiro. No entanto, a Igreja Católica por sua vez,

consegue se mobilizar e garantir a inclusão do Ensino Religioso. (RANQUETAT, 2007).

Durante este período, tem-se formulado varias ideologias pros e contra a prática do ensino

religioso na escola Pública, ou na escola com um todo, o que tem que se observar é o sempre

presente “de matrícula facultativa”.

Segundo Cury (1993), Ser facultativo é não ser obrigatório na medida em que não é

um dever. O caráter facultativo caminha na direção de salvaguardas para não ofender o

princípio da laicidade. O mesmo pode-se dizer da vedação de quaisquer formas de

proselitismo e do fato de deixar a uma entidade civil multirreligiosa à definição de conteúdos.


19

O caminho encontrado para introduzir o Ensino Religioso na escola, mesmo num

estado laico, sendo ofertado e custeado pelo Estado de maneira a preservar a liberdade e

diversidade religiosa, não proselitista por não ser o estado ligado a Igreja seria certamente

incluí-lo em dispositivos legais.

Entretanto, desde a proibição do ensino religioso nas escolas oficiais em 1891, a


Igreja católica se empenhou no restabelecimento desta disciplina ora no âmbito dos
estados, ora no âmbito nacional, sobretudo por ocasião de mudanças constitucionais.
Tímidos retornos nos estados, forte na proposição da Revisão Constitucional de
1926, bem-sucedida por ocasião da reforma educacional do ministro Francisco
Campos na década de trinta, a disciplina retornou às escolas públicas através de
decreto, inicialmente fora do horário normal das outras disciplinas e depois dentro
do mesmo horário. Com efeito, o ensino religioso aparece em todas as constituições
federais desde 1934, sob a figura de matrícula facultativa (CURY, 2004 p. 189).

O que se ver é o ensino religioso em busca de uma identidade própria em que não

esteja atrelado a religião em si, e sim na formação do cidadão enquanto ser, em busca do

transcendente. Ao analisar cada texto constitucional percebe-se que o legislador se ocupou em

apenas repetir textos das constituições anteriores, no que se refere ao tema aqui exposto.

Somente a partir da década de 70, o Ensino Religioso passa por uma reformulação

completa com vista à definição de um programa, através de grupos ecumênicos, a fim de dar

ao ensino religioso um caráter interconfessional, e sua firmação enquanto disciplina regular na

escola pública. Estas mobilizações foram importantes e certamente influenciaram em futuros

textos na Carta Magna de 1988.


20

1.4-O Ensino Religioso na Constituição de 1988.

Quando da elaboração da Carta Magna de 1988, vários debates foram estabelecidos

sobre a questão, notou-se, no entanto, que os educadores contrários à inclusão do ER na

escola pública, alegavam a densidade do ano letivo brasileiro nas séries iniciais, sendo

inviável a introdução de novas disciplinas que não sejam próprias do currículo, o que

reduziria ainda mais o tempo disponível para a realização das tarefas peculiares da escola, que

seria se ocupar com as tarefas tradicionais curriculares.

Com o objetivo de garantir a inclusão do ER na Carta Magna de 1988, houve uma

intensa mobilização de setores ligados à questão o que antes era feito somente pela igreja

Católica, neste período, é assumido pelos próprios educadores. Houve atuação permanente de

setores representativos dos Estados que delegaram as entidades juridicamente legalizadas

relacionadas a seguir, inclusive com elaboração de abaixo assinado e envio a Assembleia

Constituinte, tais instituições foram: Associação Interconfessional de Educação de Curitiba

(ASSINTEC), PR, o Conselho de Igrejas para a Educação Religiosa (CIER), de Santa

Catarina e o Instituto Regional de Pastoral de Campo Grande, MS (IRPAMAT). Associação

de Educação Católica (AEC) e o setor de Educação da CNBB, principalmente o Grupo de

Reflexão sobre Ensino Religioso (GRERE). A emenda constitucional para o ER foi a segunda

maior emenda popular que deu entrada na Assembleia Constituinte, obtendo mais de 78.000

assinaturas. (Canon, L. E Equipe do Grere, 1997).


21

Segundo Fernandes, (2000), Se a educação pretende dar uma formação integral ao

aluno, como pode ser extinta a educação religiosa? Em vista a esta problemática, a igreja se

organiza e promove diferentes atividades que visam a assegurar o espaço do ensino religioso

na escola da rede oficial.

O texto final da Constituição Federal de 1988 traz em seu artigo 210 parágrafo 1º do

Capítulo III, a seguinte redação: “O ensino Religioso, de matrícula facultativa, constituirá

disciplina dos horários normais das escolas públicas de ensino fundamental”. O primeiro

embate parece ter sido vencido com esta inclusão, repete-se claramente o que já fora expresso

em constituições anteriores sendo de forma mais resumida e tratando apenas do ER, para o

ensino fundamental, o que certamente seria necessário agora um amplo debate no que se

refere à prática em si deste ensino, agora vista como disciplina regular na escola pública.

Logo após a promulgação da Constituição da República Federativa do Brasil, em

1988, foi lançado o primeiro projeto de regulamentação do Capítulo da Educação, ou seja, o

da elaboração de uma nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação. De autoria do Deputado

Otávio Elísio Alves de Brito (PMDB-MG), passando depois por muitas modificações.

Recebeu mais de 1.260 emendas incorporadas pelo relator Deputado Jorge Hage (PMDB-

BA). Este projeto, de n° 1.258C/88, obteve a maior participação da sociedade, principalmente

por parte dos profissionais de Educação. Este dispositivo tendo sido encaminhado ao senado,

tendo como relator o Senador Cid Saboia, recebendo o n° 101/93 e aprovado pela Comissão

de Constituição e Justiça, em 20 de novembro de 1994. Porém em 1995, o Senador Darcy

Ribeiro (PDT-RJ) indicado como novo relator, apresentou outro projeto, de sua autoria, que

passou a tramitar no Congresso Nacional, de forma paralela ao da câmara, tendo sido

subscrito pelos senadores Mauricio Correa (PDT-DF) e Marco Maciel (PFL-PE), foi aprovado

em fevereiro de 1996. (Canon, L. E Equipe do Grere, 1997).


22

No ano de 1996 é sancionado pelo então presidente da República Fernando Henrique

Cardoso este novo dispositivo sob o n° 9.394, publicada no Diário Oficial da União no dia

23/12/96, como Nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação, divulgada como “Lei Darcy

Ribeiro”.

1.4.1-O Ensino Religioso na Nova LDB

As discussões em torno do ensino religioso surgiram em uma dimensão maior no

período que antecedeu a elaboração da Constituição de 1988, ainda nos anos de 1986 e 1987.

Os grupos defensores dessa disciplina se mobilizaram para garantir a inclusão do ensino

religioso na Constituição de 1988, várias organizações ligadas a Igreja Católica, apresentaram

uma emenda com cerca de setenta mil assinaturas, a segunda emenda com maior número de

assinaturas na história brasileira. (FIGUEIREDO, 1993).

Vale salientar a criação do FONAPER (Fórum Nacional Permanente do Ensino

Religioso), EM 1985, com vista a acompanhar, organizar e subsidiar o esforço de professores,

associações e pesquisadores que lutam pela promoção do ensino religioso no âmbito escolar.

Segundo Junqueira (2002) o FONAPER tem sido um fórum privilegiado de debate, reflexão e

coordenação do ensino religioso no Brasil.

O objetivo de incluir o ensino religioso na nova LDB foi alcançado, após ser

sancionada pelo Presidente, a Nova LDB em seu artigo 33 em sua versão original trazia o

seguinte:

O ensino religioso, de matrícula facultativa, constitui disciplina dos horários normais


das escolas públicas de ensino fundamental, sendo oferecido, sem ônus para os
cofres públicos, de acordo com as preferências manifestadas pelos alunos ou por
seus responsáveis, em caráter: I – confessional, de acordo com a opção religiosa do
aluno ou do seu responsável, ministrado por professores ou orientadores religiosos
preparados e credenciados pelas respectivas igrejas ou entidades religiosas; ou II –
interconfessional, resultante de acordo entre as diversas entidades religiosas, que se
responsabilizarão pela elaboração do respectivo programa (CURY 2004, P. 185).
23

Devido à expressão “sem ônus para os cofres públicos” Esta redação não agradou

setores ligados ao ER, uma vez que não dar o devido valor a educação religiosa ao mesmo

tempo em que soa como sendo um favor prestado pelas instituições religiosas às escolas

publicas no que se refere à prática deste ensino. Houve mais uma vez mobilização nacional e

ao mesmo tempo a atuação de entidades como a Conferencia Nacional dos Bispos do Brasil

(CNBB), a Associação dos Professores de Ensino Religioso do Distrito Federal (ASPER),

Fórum Nacional Permanente do Ensino Religioso. Vale salientar a 34ª Assembleia Geral dos

Bispos do Brasil ocorrida em 1996, em Itaici, Indaiatuba, São Paulo que dedicou um espaço

para discutir a questão, encaminhando a seguir um documento a todos os deputados com o

objetivo de eliminar a expressão “sem ônus para os cofres públicos”.

Após as reações em todo o país chegam a Câmara dos Deputados em Brasília, três

projetos sobre o ensino religioso, propondo alteração do Artigo 33 da LDB, com vista a retirar

a expressão “sem ônus para os cofres públicos”. Sendo vencido o prazo sem que os projetos

recebessem emendas na Comissão de Educação da Câmara. O Relator, o Deputado padre

Roque Zimermann, elaborou um substitutivo ao Projeto de Lei n° 2.757, de 1997, de Nelson

Marchezan, levando em conta as propostas apresentadas nos demais projetos. Este projeto se

apresenta como substitutivo de toda redação do artigo 33 da LDB. Em regime de votação em

caráter de urgência constitucional, votada na Câmara dos Deputados, recebeu aprovação da

maioria absoluta dos Senadores, no dia 8 de julho de 1997. A Lei n° 9.475, de 22 de julho de

1997, foi sancionada pelo Presidente da República e publicada no Diário Oficial da União em

23 de julho de 1997, dando nova redação ao artigo 33 da Lei 9.394 de 20 de dezembro de

1996. Anova redação fica expressa da seguinte forma:

O ensino religioso, de matrícula facultativa, é parte integrante da formação básica do


cidadão e constitui disciplina dos horários normais das escolas públicas de ensino
fundamental, assegurado o respeito à diversidade cultural e religiosa do Brasil,
24

vedadas quaisquer formas de proselitismo. § 1º - Os sistemas de ensino


regulamentarão os procedimentos para a definição dos conteúdos do ensino religioso
e estabelecerão as normas para a habilitação e admissão dos professores. § 2º - Os
sistemas de ensino ouvirão entidade civil, constituída pelas diferentes denominações
religiosas, para a definição dos conteúdos de ensino religioso. (Canon, L. 1999 p.27)

A nova redação do artigo 33 da LDB agradou, sobretudo, aos defensores do Ensino

Religioso na escola pública, no entanto, ainda suscitou debates em torno do espaço que tal

ensino ocuparia na escola e como seriam na verdade, as ações para se colocar em prática o

que rege a Lei em vigor, já que em sentido amplo veda qualquer forma de proselitismo,

trazendo em seu conteúdo mudanças profundas no que se refere à convivência e respeito à

diversidade religiosa e cultural, e ainda, à liberdade das instituições em elaborar os conteúdos,

bem como, estabelecer normas para capacitação de professores ouvindo as entidades civis.
25

CAPÍTULO II

A ESDUCAÇÃO ESCOLAR BRASILEIRA NO MODELO NEOLIBERAL.

2.1-Breve histórico da Educação brasileira

Desde os primórdios da existência humana, a educação vem acompanhando o processo

de desenvolvimento da sociedade, porém, sempre voltada para atender aos interesses do poder

hegemônico.

Segundo Saviani, D (1997), a escola surgiu com a divisão dos homens em classes,

através da sociedade privada. Na Idade Média, a escola era lugar aonde os ociosos ocupavam

o tempo “com dignidade”. A classe trabalhadora podia estudar, mas aprendia somente o

necessário para utilizar no serviço que devia desempenhar, sem oportunidade de aprender uma

nova função. O programa escolar era de acordo com a classe social do aluno. Os alunos de

classe privilegiada aprendiam conteúdos que os menos privilegiados não precisavam

aprender, pois segundo a classe privilegiada, não havia oportunidade para estes utilizarem

esse saber tão diferenciado. Na sociedade atual, a forma escolar emerge como forma

dominante da educação.
26

No Brasil, com a vinda da Família Real (1808) e a independência (1822), o governo

Brasileiro preocupou-se em criar escolas superiores, e regulamentar as vias de acesso a seus

cursos, já que o interesse dos governantes era o de formar a elite dirigente do país, objetivo

este que fez com que seus esforços fossem concentrados no ensino secundário e superior. O

curso primário nem era exigido para o ingresso no secundário.

A desvalorização dos professores vem desde a época do império. Os proventos dos

educadores e mestres eram vitalícios e os que não tivessem capacitados deveriam instruir-se

em curto prazo. SAVIANI, D (1997).

Saviani identifica ainda em nossos dias, três grupos educadores que defendem

modelos distintos de educação:

Há o que consideram a educação apenas em termos gerais, com ou sem referências à


formação vocacional e profissional; há aqueles que propõem um sistema dualista
desvinculando a formação geral do profissional e os que pretendem articular
educação geral a formação profissional, concebendo uma escola única. (SAVIANI,
D 1997, p. 70).

Ainda para este autor, a aprendizagem na escola atual, está voltada, no Ensino

fundamental, para comemorações que incluem uma série de atividades, onde se acaba

esquecendo ou diminuindo ensino de Português, da História, da Geografia e das Ciências em

nome de uma escola participativa. A escola privada explora a propaganda, as atrações que

acontecem no decorrer do ano letivo, a disputa pelo primeiro lugar no vestibular que

transforma as escolas em verdadeiras fábricas de robôs, alunos prontos e responder qualquer

questão de Aritmética Geografia, Português e outras disciplinas exploradas nos testes. No

Ensino Médio, a escola dedica-se exclusivamente à preparação do aluno para enfrentar o

vestibular, sem se preocupar com a moral, a cidadania e o civismo. Nesta o importante não é a

formação sim, ser o primeiro.


27

De acordo com Saviani, N. (1997), o trabalhador entende educação de boa qualidade

como sendo aquela que forma cidadãos capazes de entender o sentido da atividade humana

que está materializada no trabalho; que dá aos alunos capacidade de superar seus interesses

pessoais imediatos, tornando-se capazes de entender as relações homem-natureza e homens

entre si, Enfim, a boa educação forma a personalidade integral do sujeito histórico.

Neste contexto de educação, levando em conta a importância do Ensino Fundamental e

Médio a fim de formar cidadãos democráticos, o Ensino Religioso como disciplina

regulamentar de Caráter científico, visa auxiliar o educando em suas relações interpessoais,

levando-o no contexto escolar, a pensar que pode sim em termos gerais ter uma diretriz que

responda seus questionamentos existenciais de forma legítima.

2.2-O que é o Ensino Religioso.

O Ensino Religioso ministrado nas escolas tenta dar respostas às inquietações internas

e externas do indivíduo, abrindo-lhe horizontes, despertar para a religiosidade e sensibilizar

para a dimensão do transcendente. “Parte integrante na formação básica do cidadão,

constitui disciplina nos horários normais das escolas públicas de ensino fundamental

assegurando o respeito à diversidade cultural religiosa do Brasil, vedadas quaisquer formas

de proselitismo.” (Fernandes, 2000 p.18).

Desta forma, o ER, introduzido na escola pública como disciplina visa formar o

cidadão para a sociedade através do desenvolvimento da religiosidade do educando, Quando

se fala em desenvolver, se refere a colaborar ao lado de outras disciplinas, para explicar o


28

significado da existência humana, numa perspectiva unificadora da expressão religiosa.

(PRNER, 2009).

Segundo Fernandes (2000), Não é uma proposta que se fundamenta somente na visão

religiosa, baseada somente na religião cristã, antes, trata-se de visão fundamentada na

antropologia filosófica, pois esta se volta para as questões existenciais do homem. Neste

sentido o ER, passa a ser visto como disciplina que produz conhecimento científico.

Neste contexto, o ER, preocupa-se com o sentido da existência do homem, passando a

oferecer-lhes respostas ás crises e angústias existenciais.

Ainda segundo esta autora, o ER, está garantido nas escolas não como ensino de uma

religião ou das religiões, e sim uma disciplina centrada na antropologia filosófica, ou seja, que

busque entender o homem enquanto ser social.

2.3- O Ensino Religioso na Escola Pública

O Conselho permanente na CNBB, considera o ER como processo de educação da

dimensão religiosa de educadores (pais e mestres) e educandos, no pluralismo da Escola

oficial, para ajudá-los a dar uma resposta pessoal a Deus no quadro da sua comunidade

religiosa e encontrar o sentido último de sua existência. (Ata33, n° 2-23,30-31, in:

Comunidade mensal n° 423-CNBB, agosto de 1988, apud CNBB 1996).

A proposta inicial da CNBB, ao citar pais, mestres e educando, faz um paralelo entre

Família e escola no processo de formação do homem numa perspectiva da antropologia


29

filosófica, pois, esta se volta para as questões existenciais do homem, abarcando tudo que se

refere à felicidade, à plenitude da humanidade, vista como questão prioritária do ER.

(FERNANDES, 2000)

No sentido de que há uma realização do homem como pessoa no que tange às questões

religiosas, nada melhor do que uma educação qualificada para o desenvolvimento da mesma.

Assim sendo, “O Ensino Religioso, deve assegurar o cultivo dos valores éticos que brotam

das razões íntimas e transcendentais que definem a pessoa na sua verdade mais aguda”.

(CNBB, 1996 p. 107).

O ER busca em sentido amplo oferecer ao educando, um norte em seu

desenvolvimento como individuo religioso inserido em uma sociedade pluralista, ao mesmo

tempo em que o prepara para o convívio com diferentes religiões e culturas, objetivando

ainda, prepará-lo como cidadão e não somente como ser religioso, por isto o espaço escolar

torna-se adequado a este tipo de formação.

A escola, como instituição qualificadora de educação, abre perspectivas para a


evolução diferencial do EU, e de sua determinação subjetiva na relação interativa
global do nós. O seu compromisso é abrangente; envolve a sociedade por inteiro,
oferecendo-lhe princípios, critérios, horizontes amplos compreensão de valores
mecanismos que favorecem a qualidade de vida... (FIGUEIREDO, 1995 p. 8)

Na formação escolar, o homem ganha enquanto educando a companhia do educador

com qualificação específica, desta forma, é exposto a um aprendizado diferenciado do que

recebe em sua instituição religiosa ou família, que também são importantes neste processo.

Segundo Junqueira, (1994), na escola há uma probabilidade de haver ou não a

interação entre as experiências que o educador traz consigo com a dos alunos, uma vez que

ambos têm suas convicções políticas, religiosas entre outras, isto produz consequências no
30

processo ensino aprendizagem. No que se refere ao ER, há uma interferência significativa, de

maneira que não se pode perder de vista a contextualização da pessoa humana.

Ainda segundo Figueiredo, (1996), a escola, como instituição de cultura, é articuladora

de todo e qualquer processo de educação que promova o reencontro da razão com a vida; que

faça coincidir o espaço onde reside a vida com as aspirações do ser criativo em contínuo

desenvolvimento, a adquirir e produzir cultura.

Vista desta forma, a escola, torna-se o espaço adequado para o desenvolvimento das

práticas propostas pelo ER, uma vez que em constante “... é pluralista por definição, aberta a

todos com igualdade de direitos e deveres” (Ibidem, p. 21, apud, FERNADES, 2000 p. 32).
31

CAPÍTULO III

ENSINO RELIGIOSO NA ESCOLA PUBLICA; UMA PROPOSTA.

3.1-Novo Paradigma para o Ensino Religioso

Aplicar o Ensino Religioso agora não mais numa perspectiva catequética ou

administrado por uma Igreja, mas, no âmbito escolar, seguindo o estabelecido nos dispositivos

legais, que procura buscar com este ensino, pleno respeito à diversidade religiosa e cultural ao

mesmo tempo em que se torna importante para a manutenção da fé e aproxima o aluno do

transcendente. Lei n° 9.475, de 22 de julho de 1997 que dar nova redação ao artigo 33 da

nova LDB.

Artigo 33- O ensino religioso, de matrícula facultativa, é parte integrante da


formação e constitui disciplina dos horários normais das escolas públicas de ensino
fundamental, assegurado o respeito à diversidade cultural religiosa do Brasil,
vedadas quaisquer formas de proselitismo.

§ 1°- Os sistemas de ensino regulamentarão os procedimentos para a definição dos


conteúdos do ensino religioso e estabelecerão as normas para a habilitação e
admissão dos professores.

§ 2°- Os sistemas de ensino ouvirão entidade civil, constituídas pelas diferentes


denominações religiosas, para a definição do ensino religioso.

Nesta nova ótica, a escola tem total liberdade de estabelecer tanto aos docentes como

aos discentes o que será, de fato, ensinado. Ainda de matrícula facultativa, porém com

assegurado custeio público, desta forma, o ER é colocado como campo de conhecimento e dá


32

garantias ao educando de não sofrer nenhum tipo de coação ou direcionamento que o possa

impor uma religião.

Segundo Ranquetat (2007), O “novo ensino religioso” é apresentado como macro

ecumênico e inter-religioso se insere em uma tendência de aproximação, cooperação mútua

entre as religiões. Algumas organizações religiosas, católicos e luteranos principalmente, nas

últimas décadas advogam o diálogo inter-religioso e o ecumenismo. O Concílio Vaticano II,

ocorrido no começo da década de 60 afirma a necessidade do ecumenismo. É durante as

décadas de 60 e 70 que se dá no Brasil as primeiras experiências de ensino religioso

ecumênico. A partir da Lei 9.457/97, o ensino religioso assume um novo modelo baseado no

pluralismo e no diálogo inter-religioso que reflete essa tendência de aproximação entre as

religiões.

Desta forma, o ER visto como disciplina cientifica, visa contribuir com a formação de

uma visão critico-social da realidade. Somente o ensino religioso como disciplina na escola

pública pode fazer referência à dimensão religiosa do ser humano e que venha afirmar uma

concepção religiosa do mundo. Ganha assim um caráter não de religião ou educação religiosa

mais agrega em si outros valores na formação do cidadão, uma vez que os eixos temáticos,

segundo os PCNES (Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Religioso) abordam

temas como teologia, sociologia, filosofia, história, geografia, psicologia e antropologia das

religiões, tal como a ética, a moral e a fenomenologia, próprios das religiões.

Segundo Junqueira (1994), O ER, questiona o significado da pessoa humana, em todas

suas dimensões, inclusive a sua relação com a cultura religiosa. Por isso, não pode perder de

vista a contextualização da pessoa humana enquanto ser religioso, uma vez que quase todos

estão envolvidos com algum tipo de religião.


33

Para Rossa (2004), o ensino religioso em sua nova concepção, veio para apontar nova

direção e caminhos diferentes para o fazer pedagógico, formar cidadãos que pensam,

dialogam, e acima de tudo, aprendam na escola a conviver com as diferenças, tendo como

base o transcendente. A fim de que este contribua para mudanças profundas, pessoais e

sociais exigidas pelos desafios do mundo atual.

3.2 O ensino religioso e a sua adequação à escola regular

Para se adequar ao sistema de ensino, o ER precisa ter conteúdo próprio e concepção

pedagógica definida, antes de tudo, deve-se imaginar que o ER, não tem função de converter,

porém de oferecer um ambiente favorável para a experiência do transcendente, nestes termos

tem o objetivo de uma educação integral atingindo com isto as diversas dimensões da pessoa.

É tarefa principal do educador a missão de formar educandos críticos e capazes de atuar de

modo ativo na comunidade, o que não acontecia no modelo tradicional do ER, pois não levava

em conta o contexto do ensino como um todo.

O Ensino Religioso como componente do sistema de ensino, é elemento integrante


do conjunto das disciplinas que estão a serviço do desenvolvimento harmônico de
todas as dimensões o ser humano. É elemento quantitativo no desempenho do papel
de favorecer o desabrochar a dimensão religiosa do educando a partir da
compreensão da natureza de tal ensino relacionada com a globalidade da vida.
FIGUEIREDO (1995 p. 8)

Neste sentido, pode-se ver o ER, como ferramenta de auxílio ao educando ao se propor

a tentar dar respostas às inquietações internas e externas do indivíduo, podendo assim aguçar

o interesse daqueles sem religião, fazendo-os perceber que o ensino em questão aborda os

vários aspectos do fenômeno religioso sem ter a intenção de impor qualquer religião. Uma vez
34

que o ensino religioso contribui para a vida coletiva do educando e se coloca ao lado de outras

disciplinas, que articuladas, explicam o significado da existência humana, PCNER (2009).

Segundo CNBB (1996), a dimensão religiosa do ser humano é importante para sua

realização como pessoa, então, para desenvolver a mesma, é preciso uma educação

qualificada, nesta perspectiva o ensino religioso na escola, deve assegurar o cultivo dos

valores éticos que brotam das razões íntimas e transcendentais de cada educando.

3.3- A identidade pedagógica do Ensino Religioso

A identidade do ER como disciplina regular na escola pública ganha corpo com o

advento dos PARAMETROS CURRICULARES NACIONAIS PARA O ENSINO

RELIGIOS (PCNER), trazendo uma identidade pedagógica numa nova proposta visionária a

que se propõe a nova disciplina que deixa de ser meramente catequética e tem como ponto de

partido desassociar-se da religião dogmática.

Tenta dar respostas às inquietações internas e externas do indivíduo, abrindo-lhe

horizontes, A fim de que seja capaz de assumir um compromisso de fé, ou seja, contato com o

transcendente, ou com uma religião, sem com isto, lhe impor a condição de adepto de

qualquer delas, a menos que seu caráter seja confessional, isto posto, apenas em escolas

particulares. FERNANDES, (2000).

Neste sentido, pode-se dizer que o Ensino Religioso é um aproximador do educando a

uma religião, sendo que diferente do modelo confessional, não impõe esta ou aquela, porém

facilita o contato com o transcendente possibilitando assim, sua formação de caráter


35

antropológico-social e de pensar no sentido último de sua existência enquanto ser social, de

convívio e respeito pelas convicções alheias, inclusive religiosas.

Os Parâmetros Curriculares Nacionais para Ensino Religioso é um documento que

visa apresentar este ensino com uma identidade de caráter científico, e objetivos claros, em

que o conhecimento é voltado para o valor do espírito humano, sendo, no entanto, destituído

de qualquer forma de proselitismo. Antes, debate as relações culturais, religiosas, com

parâmetros de respeito mutuo.

Segundo Junqueira, (1994), o Ensino Religioso não pode perder de vista a

contextualização da pessoa humana no tempo e no espaço, já que a visão que dela se tem

influencia profundamente a postura do homem frente à sociedade, e garante ou questiona a

relação, pessoa- humana-Deus. Assim, urge ao Ensino Religioso questionar o significado da

pessoa humana, em todas as suas dimensões, inclusive a sua relação com a cultura religiosa.

Nesta nova identidade, o Ensino Religioso não se propõe a conversões, e sim,

promover um ambiente favorável para o desenvolvimento da experiência com o

transcendente, em vista de uma educação integral, Atingindo, é claro, as diversas dimensões

da pessoa.

3.3.1-O conhecimento do Ensino Religioso no contexto da Educação

O papel maior da educação escolar seria a de preparar o educando para exercer a

cidadania, e neste sentido, inserir conceitos, que enriqueçam de forma teórico-prática, as

considerações culturais adquiridas de forma empírica.

Segundo Veloso, (2000), A educação em seu sentido amplo, visa a desenvolver todas

as potencialidades do ser humano, entre as quais está a religiosidade.


36

Entende-se, entretanto, neste sentido, que potencial seria, “poder existente” que

necessita de auxilio para ser extraído de dentro de cada um. Pois o mesmo autor declara que

“A educação desempenha a sua função, desde a raiz, fazendo brotar e crescer a disposição

natural deste ser para a busca do “transcendente”; que pode desabrochar numa religião por

uma opção livre”. (VELOSO, 2000 p. 74).

Neste processo, a Escola desempenha um papel fundamental, haja vista, trabalhar com

conhecimentos sistematizados, ao mesmo tempo em que produz novos conhecimentos. Uma

vez que todo conhecimento torna-se patrimônio da humanidade, deve estar disponível à

coletividade. O ER como disciplina escolar, como todas as demais, produz conhecimento

científico. Visto por este ângulo, desagrega-se totalmente do âmbito confessional (PCERN pp.

35,36), neste sentido, este conhecimento torna-se acessível a todos e não somente a uma

religião.

O conhecimento produzido pelo ER se adequa às necessidades reais do ser humano,

pois se propõe a responder as perguntas de sua vida: “Quem ele é, para onde vai de onde

veio” (PCNER, 2000), é claro, entretanto, que o homem encontra muitas respostas, no

entanto, dependerá de como é sua concepção e visão do mundo, uma vez que esta é gerada

por diversos fatores de convivência no cotidiano; A tradição religiosa, a política, a ideologia

se apresentam como estruturantes da concepção do mundo. Em algumas pessoas, a

concepção de mundo se apresenta com muita rigidez, enquanto em outras, mais flexível.

(PCNER, 2009 p. 38).

No entanto, estes fatores produzem respostas isoladas, não mostrando assim, coerência

lógica que possa servir como resposta num contexto geral de compreensão aos

questionamentos do indivíduo, então o papel da escola tornar-se importante nesta formação.


37

A escola deve ajudar o educando a adquirir instrumentos universais que o auxiliem


na superação das contradições nas respostas isoladas e procurar dar coerência à
concepção de mundo. Cada pergunta requer uma resposta específica e para ser aceita
são estabelecidas condições pela pessoa, que exige respostas legítimas. A
veracidade, critério para se aceitar um conhecimento, fica assim condicionamento à
legitimidade. Ora, quem pode conceder respostas? (PCNER, pp. 38 e 39.)

Segundo Fernandes (2000), Todo ser humano e por que é humano faz perguntas, ele

interroga a si mesmo e ao mundo. Ao interrogar-se procura saber quem ele é, para onde vai e

de onde veio, quando a pergunta recai sobre o mundo o ser humano procura compreender seu

mistério, sua origem e finalidade. Estas perguntas rompem o cotidiano existencial do homem,

provocando assim novas situações, fazendo emergir o desconhecido. O mundo

contemporâneo é marcado por uma descrença e materialismo ateu, a antropologia filosófica

questiona a autossuficiência do saber cientifico e mostra que a realidade humana traz

problemas que a razão per si não consegue explicar.

Ainda segundo esta autora o conhecimento científico não abarca o homem em sua

totalidade no que se refere a responder as perguntas do homem, enquanto que o filosófico

aborda o homem no sentido global do que ele seja em si mesmo e as diferenças causadas pelo

ambiente, pela idade, pela educação, pelo sexo. Neste sentido, o Ensino Religioso por se

fundamentar na antropologia filosófica, que reconhece o homem como ser profundamente

religioso, visa responder suas perguntas numa perspectiva de aproximá-lo do transcendente.

Ainda segundo os PCNER, “Estas respostas são sempre conhecimentos”. A busca do

indivíduo sempre é por respostas concretas, e com isso exige respostas legítimas, então a

indagação seria; “Quem produz conhecimento sobre o mistério?” Sabe-se que o indivíduo tem

conhecimentos baseados na experiência o que o torna mais real e o teórico que necessita de

uma autoridade que o legitime. Neste sentido o ER, enquanto conhecimento de caráter

antropológico abre caminho de respostas que correspondem com a fé, e é na escola que o
38

conhecimento é sistematizado o que a torna produtora de respostas concretas. Desta maneira,

o ER chama a atenção do homem para os valores reais da vida.

O Ensino Religioso, oferecendo o sentido transcendente da vida


e da história, coloca os fundamentos básicos para que as pessoas
se sintam motivadas e convictas sobre a validade de se viver em
comunhão e construir junto, um mundo onde todos possam ser
felizes aqui, e na certeza de que a imortalidade é algo mais do
que a simples expansão cósmica do Ego. (CNBB, 1996 p. 91).

Pode-se dizer então, que o Ensino Religioso, produz conhecimento com vista a

responder aos questionamentos interiores do homem no que diz respeito a questões

existenciais, e ao mesmo tempo desperta sua consciência crítica com o fim transformá-lo num

ser tolerante às crenças alheias e com isto promover a paz, que é almejada pelo homem

enquanto ser social.

3.4-O Perfil do Professor para o Ensino Religioso

O Ensino Religioso exige um profissional com formação adequada ao novo desafio da

educação brasileira, que desenvolva sua atividade educativa numa visão voltada para a

complexidade da questão religiosa, espera-se que este profissional valorize a pluralidade e

diversificação da cultura brasileira.

A constante busca do conhecimento das manifestações religiosas, a clareza quanto a

sua própria convicção de fé, a consciência da complexidade da questão religiosa e a

sensibilidade à pluralidade são requisitos essenciais a estes profissionais (PCNER, p. 43).


39

Seu conhecimento deve ser colocado à disposição do educando, visando com isto, dar

subsídios ao entendimento dos diversos fenômenos do universo religioso.

A arte do professor de Ensino Religioso parece-nos consistir na capacidade de


despertar o educando para a transcendência. Esse aprendizado específico não se faz
por transmissão de conhecimentos e de comportamentos, mas a partir das próprias
experiências de vida do educando. Somente então se poderá alcançar a dupla
finalidade do Ensino Religioso: conhecer a verdadeira natureza das diversas
tradições religiosas e iniciar-se, pessoal e comunitariamente, na percepção da
Transcendência, a partir não de uma religião particular, o que tornaria o ensino
proselitista, mas sim, da própria vida e dos valores que caracterizam o ambiente
humano. (CATÃO, apud, ROSS, 2004 p. 10).

Deve, sobretudo, este profissional, conhecer o fenômeno religioso, e contextualizá-lo

no espaço e no tempo, analisar o papel das tradições religiosas e seu impacto na formação

cultural do educando.

Segundo Junqueira, (2010), o profissional o Ensino Religioso, tem grande

contribuição a dar no sentido de auxiliar aos alunos a enfrentarem as questões oriundas do

cerne da vida, despertando-as de modo a desenvolver a religiosidade presente em cada um,

orientar a descoberta de critérios éticos que permitam atitudes dialógicas e de reverencia no

processo de aproximação e de relação com as diferentes expressões regionais.

Vê-se, neste contexto, o professor como peça chave no processo de apresentação do

ER na escola como conhecimento científico na formação de consciência cidadã, pois tem a

responsabilidade de fazer o educando pensar em um contexto de pluralidade e diversidade

cultural, ao mesmo tempo em que o leva a contatá-lo com o transcendente. Assim o educador

coloca seu conhecimento e experiências a serviço do aprendizado do educando, incentivando

o diálogo, cabe a ele escutar, facilitar o diálogo, ser interlocutor entre a escola e comunidade

PCNER (2009).

.
40

3.4.1- A Formação do Professor do Ensino Religioso

A formação do professor do Ensino Religioso baseia-se no contexto da legislação

vigente. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional N° 9394/96 (LDB), e o parecer

CES/CNE N° 09/2001, que trata das Diretrizes Nacionais para Formação de Professor da

Educação Básica, e as Diretrizes Curriculares Nacionais para Formação de Professores do

Ensino Religioso no Brasil, elaboradas pelo Fórum Nacional Permanente do Ensino Religioso

(FONPER). Tais leis remetem ao conjunto de princípio e procedimentos para a organização

curricular de curso de formação de professores para atuar na educação básica. HOLANDA,

(2011).

Segundo Junqueira (2010), o profissional do Ensino Religioso deve ter formação

específica, de maneira que possa atender as exigências e desafios propostos por esta área de

conhecimento.

No seguimento de aparato à formação prático-teórico do professor, os cursos de

licenciatura e Ensino Religioso ou Ciências da Religião, são de grande contribuição na

formação do profissional, por analisarem e pesquisarem o campo de atuação do ER,

entendendo sua complexidade, sendo mais abrangentes na formação do docente.

Com vista ao que requer a nova proposta do Ensino Religioso, como disciplina regular

na escola pública e, sobretudo, se apresenta como disciplina que produza um conhecimento de

cunho cientifico. É necessária formação específica.

Segundo Holanda, (2010), a formação docente exige duas vertentes: Inicial e

Continuada, A formação inicial, representa a Graduação à licenciatura plena, regulado pelo

parecer CES/CNE n. 09/2001, que trata desta formação. Segundo ainda a autora, além da
41

formação em si o professor precisa de motivação, compromisso, relações sociais, estruturais,

bem como do elemento do ambiente escolar, que dão suporte aos saberes e fazeres

pedagógicos.

Segundo Fernandes (2000), é necessário ao educador de Ensino Religioso para que a

disciplina não seja desviada de sua verdadeira identidade, observar alguns pontos, que

segundo a autora são essenciais para a prática desse Ensino em sala de aula. Os pontos

alistados abaixo constitui apenas um referencial para observação do educador:

-O educador que é contratado e que se compromete a desenvolver esta disciplina


tenha a especialização neste campo.

-O educador tem de ter clara a resposta do “Projeto Educativo” (se este existir na
escola que o professor atua), a fim de saber que tipo de homem e sociedade se quer.

-O educador tenha presente os objetivos da escola hoje: formação integral;


conhecimento qualificado do que é a dimensão religiosa da existência; formação não
apenas intelectual, mas também pessoal do aluno.

-O educador de Ensino Religioso, tenha formação crítica e socialmente


comprometida com a construção de um mundo mais humano, mais justo e mais
fraterno.

-O educador de ensino religioso deve usar linguagem, métodos e meios de


aprendizagem que estejam em consonância com a aprendizagem escolar.

-O educador de ensino religioso deve ser consciente de que o ensino religioso é


diferente de catequese.

-O educador tenha a capacidade de relacionar o político-social com o projeto de


Deus.

-O mínimo que se pode exigir de um professor do ensino religioso, é a coerência.


(Sandrini, op cit, p.25).

3.4.2- O Ensino Religioso como proposta para execução na escola pública

O professor do Ensino Religioso em sua prática deve levar à sala de aula, referenciais

teóricos que possibilitem ao educando pensar-se como ser ético-moral, enquanto ser religioso,

visando o educando como um agente de transformação pelo saber, uma vez que a proposta
42

maior do Ensino Religioso é formar para a vida. Sendo a escola local de formação e de

construção de conhecimento historicamente produzidos e acumulados, o conhecimento do

ER, é para ser transferido, num contexto de vivencia e prática. Fernandes (2000). No entanto,

deve o educador ter em mente que o homem é um (ser por fazer), e ver-se como um

colaborador neste processo.

Segundo Paulo Freire (2005), A educação não pode ser vista numa perspectiva

bancária em que o educando apenas recebe os depósitos e deve guardá-los e arquivá-los, desta

maneira a educação se torna um ato de depósitos em que os educandos são os depositários e

os educadores depositantes. Esta forma de educação em lugar de comunicar-se a educação faz

“comunicados”. Este parece ser o sistema do Ensino Religioso catequético, propagado por

anos pela Igreja Católica, em que o profissional apenas fornecia conteúdo sem a preocupação

do aprender do educando.

Ainda segundo este autor, a educação deve orientar-se no sentido da humanização de

ambos. Do pensar autêntico e não no sentido da doação, da entrega do saber. A ação do

educador deve ser infundida da profunda crença dos homens, crença no seu poder criador. Isto

tudo exige que seja companheiro do educando em sua relação com estes.

Esta parece ser a proposta do Ensino Religioso, enquanto antropológico, onde o

educador deve levar à sala de aula o desenvolver da construção de conhecimento de modo a

abrir caminho a novas descobertas por parte do educando em termos éticos, morais e

religiosos. Diante do mistério do Transcendente, e a perplexidade do educador necessita

antecipar à do educando para que juntos possam responder às questões trazidas ou estimular

outras perguntas. Sua síntese centra-se na própria experiência.


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CONSIDERAÇÕES FINAIS

O ER no decorrer da história tem assumido uma posição de catequese, o que o

caracterizou como ensino tradicionalmente religioso, não que não seja válido, no entanto, foge

aos propósitos do ensino enquanto formação do cidadão, e sim, forma para religião, um ser

religioso, o que se distancia dos parâmetros propostos pela Constituição de 1988 e pela nova

LDB.

A prática do ensino religioso no Brasil se reporta à história da colonização, quando a

preocupação fundamental do governo de Portugal era expandir a fé cristã nas colônias

conquistadas, onde um dos objetivos de Portugal era a cristianização das populações

indígenas e dos escravos. Desta forma, o cristianismo católico subjugou as outras expressões

culturais e religiosas aqui existentes em nosso país.

Vimos que durante o período imperial o ensino religioso se afirmou diante de um

contexto de união entre o estado brasileiro e a Igreja Católica, pois a carta constitucional

de1824 declarou em seu artigo 5° a Igreja Apostólica Romana como religião do Império.

Portanto em todas as escolas do império, os professores ensinavam a doutrina da religião

católica da mesma forma que ensinavam as demais disciplinas.

Abordamos o fato de que já no final do império o ensino religioso passou a ser

substituído pela disciplina de moral e cívica e que visava trabalhar os ideais republicanos nas
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novas gerações. O que levou com o regime republicano instalado em 1889, essa disciplina a

ser eliminada, pelo menos temporariamente das escolas.

Com a instalação da República, veio à separação entre igreja e Estado e isto, claro,

refletiu-se na esfera da educação, os positivistas e os liberais defendiam a separação entre a

Igreja e o Estado, no entanto, esses grupos tiveram que enfrentar a forte reação da igreja

católica. O que trouxe a conquista à liberdade aos cultos religiosos, diante de um estado laico,

abrindo portas para debates amplos sobre o Ensino Religioso, uma vez que a secularização do

estado traz consigo a exclusão do ensino religioso da escola pública.

Neste sentido, a redação do texto da Constituição 1891, traz a seguinte redação “Será

leigo o ensino ministrado nos estabelecimentos oficiais de ensino” esta redação fez com que a

igreja entendesse a ausência do ensino religioso nas escolas como um preconceito contra a

religião católica e claro, uma ameaça a sua hegemonia ideológica.

Essa instituição muito se mobilizou e viu seus interesses novamente garantidos a partir

de 1928, quando se inicia um processo de restabelecimento do ensino religioso em todas as

escolas do país. Em nosso trabalho percebemos que desde a o período republicano a questão

do ensino religioso tem gerado polêmica e muita discussão, na maioria das vezes levantando a

questão de um ensino religioso na escola pública em um estado laico. Assim compreendemos

a volta do ensino religioso, assegurada na Constituição Federal de 1988 e nas constituições

republicanas anteriores, o ensino religioso deixou de ser oficialmente centrado na religião

católica. Todas as leis referentes ao assunto defendiam que o ensino religioso seria ministrado

de acordo com a religião do aluno sendo também facultativo.

Entretanto, sabemos que na prática, o cristianismo católico tem sido o tema principal

das aulas de ensino religioso, devido à predominância dessa crença no âmbito escolar e a
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dificuldade de se contemplar em sala de aula a diversidade religiosa existente na sociedade

brasileira. O modelo de ensino religioso estabelecido na Constituição Federal de 1988 e na

Lei de Diretrizes e Bases da Educação de 1996 assumiu um caráter pluralista, não

confessional, enfatizando os aspectos antropológicos das religiões e, portanto teoricamente

desvinculado da Igreja católica.

Escrevi ainda, ao situar o ER, no contexto histórico, que ao longo do tempo, tem sido

utilizado como ferramenta ideológica por parte do Estado e Igreja, o que de certa forma,

analisando a proposta atual, vimos, houve uma troca de valores, ao ser utilizado desta forma

não houve uma preocupação com a formação do educando para conviver, e assim, não

podendo promover a paz. Procurei ainda, destacar em três capítulos uma visão geral do que

seria o ER, como proposta para a escola pública. No primeiro capítulo, abordei o ER, no

contexto histórico brasileiro no período colonial, surgindo assim como imposição de Portugal

o ensino Católico, e desta forma, permanece até a República e o advento do Estado Laico,

quando começaram a surgir de forma mais contundente debates a cerca do assunto. O que

culminando na Constituição de 1988 e sua inclusão como disciplina regular. No segundo

Capítulo, abordei o contexto da educação brasileira, sua crises, e desvalorização dos

professores, como a sociedade a ver, e qual a educação seria ideal na perspectiva do

trabalhador.

No terceiro capítulo passo a apresentar a proposta para o ER, atual lançando mão de

aparato unicamente bibliográfico, onde são abordadas, a necessidade e atuação do professor e

a visão do ER.

As instituições de ensino, por regulamentação, devem oferecer o ER, deve haver na

escola e no programa espaço para o ensino religioso. Já para o aluno é de matrícula


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facultativa, isto leva a escola, trabalhar para oferecer um ensino de qualidade, de maneira que

possa atrair o interesse do educando a fazer parte deste projeto.

Os dispositivos legais que introduziram o ensino religioso na escola pública brasileira,

a nova Lei de Diretrizes e Bases da educação e a Constituição de 1988, estabelecem uma nova

concepção para o ensino em questão ao mesmo tempo em que o apresenta como parte

integrante da formação básica do cidadão. Porém, entendemos que grupos religiosos

majoritários sempre irão procurar apresentar seus valores ao educando dentro da escola.

Acredito que esta disciplina, se trabalhada de forma dissociada das religiões e levando

em conta a diversidade em sala de aula, pode ser muito proveitosa, tanto na construção de

cidadãos que compreendem a sua própria fé, quanto levá-los a construção de um

conhecimento abrangente e crítico de assuntos que tem relação com a religião, ou o Ensino

Religioso.

Percebo ainda, que há a necessidade de manifestação de interesse da sociedade e do

estado no que se refere à abordagem do ensino religioso, no seio da escola, enquanto

disciplina regulamentar no sentido de cooperação, para que seja realmente oferecido um

ensino de qualidade que cumpra seu objetivo, que é formar o cidadão e levá-lo a conviver

com a diversidade cultural e religiosa com amplo respeito às diferenças.


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