Monografia Final Corrigida
Monografia Final Corrigida
FORTALEZA-CEARÁ, 2012
FACULDADE CONTEMPORÂNEA DO CEARÁ-FCC
CURSO DE VALIDAÇÃO EM TEOLOGIA
GRADUAÇÃO
FORTALEZA-CEARÁ, 2012
AGRADECIMENTOS
As minhas filhas, Rebecca Sofia e Sara Rilde, nas quais encontro inspiração para ler e
INTRODUÇÃO...................................................................................................................... 09
CAPÍTULO I......................................................................................................................... 15
CAPÍTULO II........................................................................................................................ 26
CAPÍTULO III....................................................................................................................... 32
ENSINO RELIGIOSO NA ESCOLA PÚBLICA; UMA PROPOSTA............................. 32
CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................................ 44
REFERENCIA....................................................................................................................... 48
FOLHA DE APROVAÇÃO
RESUMO
O trabalho trata o tema; Ensino Religioso na Escola Pública: uma Proposta Segundo a LDB,
objetivando propor o ER, como parte integrante da formação do cidadão sem aspectos
proselitistas com base na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB, 1996) e
Constituição de 1988. Esta pesquisa de característica teórica iniciou-se com uma minuciosa
análise bibliográfica. O Ensino Religioso apresentado pela Nova LDB, (Lei 9394/96) em seu
artigo 33, assegura ao educando um ER que respeite a sua diversidade cultural religiosa, e,
com efeito, um ensino sem proselitismo. O objetivo maior deste dispositivo é apresentar um
novo conceito de ER, superando assim o conceito antigo que se confundia com catequese e
oferecia desta forma, ao aluno apenas uma aprendizagem parcial. Como disciplina do
currículo normal das escolas públicas, de matrícula facultativa, por parte dos alunos e de
oferta obrigatória por parte das instituições de ensino e ainda de caráter não confessional,
quando a Lei veda toda forma de proselitismo. Nesta pesquisa, o trabalho é apresentado em
três capítulos; no primeiro capítulo um breve histórico do ER, ao longo da história de nosso
país desde o período colonial até a nova LDB. Em seguida no capítulo dois, uma análise
segundo especialistas no assunto, uma visão ampla da educação brasileira escolar, de modo a
situar o entorno em que o ER está sendo inserido pelos novos dispositivos legais. Por fim, no
capítulo três é apresentada a proposta baseado unicamente em pesquisa bibliográfica, ou seja,
de cunho especificamente teórico, lançando mão de escritos de autores reconhecidos no
assunto além de documentos. Onde é apresentada de forma sistemática a proposta do ER,
como disciplina regular na escola pública, bem como sua temática em sala de aula, buscando
mostrar o profissional como peça importante na prática em sala de aula.
INTRODUÇÃO
Esta pesquisa tem como característica uma análise teórica do que seja o Ensino
Religioso como proposta, enquanto disciplina regular na escola pública, tendo como base
e exposto neste trabalho. Cito alguns que tomei como referência; Religião em sala de aula: o
ensino religioso nas escolas públicas de César Ranquetat Júnior; Ensino religioso na escola
pública: o retorno de uma polêmica recorrente, do autor Carlos Roberto Jamil Cury, O
O meu interesse pelo tema teve início no ano dois mil, através do curso de
Licenciatura Plena em Ciências da Religião, o que me propiciou ter contato com alunos e
professores desta área à época, naquele momento tendo em vista o pouco tempo decorrido
O que propus a apresentar como resultado de pesquisa são relatos de cunho científico
sobre o assunto, utilizei escritos de autores estudiosos da área. Procurei apresentar questões
históricas, no que percebi certa evolução em referência à prática escolar deste ensino, nos
diversos períodos da história em nosso país. Procurei ainda, me basear pelos dispositivos
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legais que regulam o ER, no caso específico, A Lei de Diretrizes e Bases da Educação lei
educadores, visando com isto exibir de forma clara as vias educacionais em que o Ensino
Religioso está sendo inserido de forma legal. E ainda, que esta disciplina poderá sofrer as
mesmas dificuldades que assolam a educação brasileira como um todo, tais como
Num primeiro momento, busquei entender a legislação que trata o assunto, desde a
imposição de Portugal como ensino da Religião, até aos amplos debates em torno do ER, que
antecederam a elaboração da Carta Magna de 1988. Para tanto, lancei mão de dispositivos
legais acerca desta disciplina. São eles: A Constituição de 1988, em seu artigo 210, parágrafo
1°; Lei de Diretrizes e Bases da educação brasileira, Lei n° 9.394/96, no artigo 33, que teve
sua redação alterada pela Lei n° 9475/97; Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino
Religioso (PCNER). Em seguida, analisei o referencial teórico que me deu suporte para o
desenvolvimento de ideias claras e sequenciais dentro deste objeto de estudo, desta forma,
Dispus as ideias em três capítulos, sendo que no primeiro capítulo são abordados
basicamente referenciais históricos, com vistas a situar o Ensino Religioso através da história
a partir do Brasil Colônia, onde segundo Ranquetat (2007), o Ensino Religioso tinha uma
perspectiva de fé cristã, o que era uma imposição de Portugal para suas colônias, o que se
observa, é que o foco está na evangelização e catequização das populações, uma espécie de
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doutrina católicas.
Catolicismo é declarado como religião oficial, firma-se cada vez mais o ensino catequético
permitida a liberdade aos cultos, abrindo assim a possibilidade de amplo debate sobre o ER,
visando incluir o Ensino Religioso neste dispositivo de Leis do país. Pode-se destacar neste
Religioso (GRERE). A emenda constitucional para o ER foi a segunda maior emenda popular
que deu entrada na Assembleia Constituinte, obtendo mais de 78.000 assinaturas. (Canon, L.
1997).
Uma vez incluído o ensino religioso na Constituição Federal em seu artigo 210
parágrafo 1° do Capitulo III, o embate passa a ser agora, em nível de elaboração da nova
LDB. O que se dar após intensa mobilização e três projetos apresentados foi aprovada em
Deputados. E enviada ao senado onde recebeu aprovação da maioria absoluta dos Senadores.
No dia 08 de julho de 1997, a Lei 9475/97 foi sancionada pelo Presidente da República e
publicada no Diário Oficial da União em 23 de julho de 1997, dando nova redação ao artigo
33, da Lei 9394/96, retirando os termos “sem ônus para os cofres públicos”. Dando assim
suas prioridades, como a educação é tratada pelo Estado, visando expor o contexto em que o
ER está sendo inserido como parte integrante e disciplina regulamentar na escola pública.
brasileira atual, onde a preocupação de inicio foi prestigiar a elite com a abertura de escolas
qualidade como sendo aquela que forma cidadãos capazes de entender o sentido da atividade
humana que está materializada no trabalho; que dá aos alunos capacidade de superar seus
homens entre si. Enfim, a boa educação forma a personalidade integral do sujeito histórico.
paradigma para o ER, visto agora não mais numa perspectiva catequética ou administrado por
uma Igreja, mas, no âmbito escolar, respeitando à diversidade religiosa e cultural ao mesmo
transcendente. Lei n° 9.475, de 22 de julho de 1997 que dar nova redação ao artigo 33 da
nova LDB. Sendo este ensino de matrícula facultativa, e parte integrante da formação do
cidadão e constitui disciplina dos horários normais das escolas públicas de ensino
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do ecumenismo.
Com base na Lei 9.457/97, o ensino religioso assume um novo modelo, passa a
vigorar como disciplina cientifica, visando contribuir com a formação de uma visão critico-
social da realidade, o que somente o ensino religioso como disciplina na escola pública pode
fazer, ou seja, referência à dimensão religiosa do ser humano e que afirme uma concepção
religiosa do mundo. Ganha assim, um caráter não de religião ou educação religiosa mais
propõe a abordar temas como; teologia, sociologia, filosofia, história, geografia, psicologia e
antropologia das religiões, fenomenologia próprios das religiões. Desta forma, é elemento
escolar, como todas as demais, produz conhecimento científico. Visto por este ângulo,
produzido pelo ER visa adequar às necessidades reais do ser humano, pois se propõe a
novo desafio da educação brasileira, que desenvolva sua atividade educativa numa visão
profissional do Ensino Religioso deve ter formação específica, de maneira que possa atender
CAPÍTULO I
escravos e índios, era visto, entretanto, como formação religiosa, (Ranquetat 2007). Neste
contexto Portugal procurava submeter o ensino nas colônias numa perspectiva de fé cristã. No
entanto, não era visto como disciplina regulamentar era uma espécie de ensino, de educação e
população escolar com atribuição explícita dos párocos na realização do ensino, o que claro,
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era estritamente catequético, uma vez que este ensino atendia aos interesses colonizadores de
Segundo Figueiredo (1995 p.78) "o Ensino Religioso no Brasil começa, de certa
catequizar os indígenas que aqui já viviam e os negros trazidos do continente africano." Ainda
segundo Figueiredo (1995 p. 78) "era ensinado por padres católicos ou pessoas designadas
bispos, remunerar o clero, etc. A Igreja Católica estava subordinada ao Estado, funcionava
como um departamento deste. A esfera da educação era comandada pela Igreja Católica, que
Romana, a religião oficial do Império em seu artigo 5º. (CUNHA, apud, Ranquetat 2007 p.
164),
Desta forma, o ensino religioso era ministrado pela igreja Católica. Neste período a
religião confunde-se com estado, sendo visto o ensino em questão, meramente como educação
cristã de doutrina católica, esta ganha espaço e poder para impor na esc ola o Ensino da
Religião. A lei de 15 de outubro de 1827 que trata do ensino religioso tem como objetivo abrir
escolas nas cidades, vilas e locais mais populosos do império em seu artigo 6º esclarecia que:
na forma do artigo 103 da Constituição de 1824. O ensino era visto como mais privativo, pois
abrangia uma pequena parte da população que tinha acesso à educação escolar. (CNBB, 1996)
quando o ensino religioso perde totalmente seu espaço sendo substituído pela educação moral
e cívica, que tinha como ideal incutir ideologia republicana. Outro ponto que merece destaque
neste período é o fato de os alunos de outas religiões não serem obrigados a assistirem do
laico, desta forma, o ensino religioso perde seu espaço, os republicanos veem na disciplina
tempo em que se torna um instrumento para formar uma identidade totalmente desvinculada
da Igreja Católica.
Mesmo fixando um Estado laico, é admitido à liberdade aos cultos religiosos, pode-se
dizer que abre portas para debates amplos sobre o Ensino Religioso, uma vez que a
Ranquetat, (2007).
Neste sentido, a redação do texto da Constituição 1891, traz a seguinte redação “Será
leigo o ensino ministrado nos estabelecimentos oficiais de ensino”. Com a interpretação deste
dispositivo, origina-se o mais polêmico debate sobre o Ensino Religioso no Brasil, isto por
que os bispos brasileiros e a intelectualidade católica não podiam conceber que a maior
oficiais, o Ensino da Religião esteve presente pelo Zelo e fidelidade dos princípios
catequista, embora ao aluno fosse facultada a matrícula. Vale salientar que havia à época
Constituição Federal de 1988, devem-se ao fato de a Igreja Católica sempre buscar certa
não o religioso. Com o enfraquecimento das relações Igreja e Estado como o fim do Estado
Novo e com advento do regime de 1946, que novamente deixa claro esta separação, pondo
fim ao monopólio do catolicismo brasileiro. No entanto, a Igreja Católica por sua vez,
Durante este período, tem-se formulado varias ideologias pros e contra a prática do ensino
religioso na escola Pública, ou na escola com um todo, o que tem que se observar é o sempre
Segundo Cury (1993), Ser facultativo é não ser obrigatório na medida em que não é
estado laico, sendo ofertado e custeado pelo Estado de maneira a preservar a liberdade e
diversidade religiosa, não proselitista por não ser o estado ligado a Igreja seria certamente
O que se ver é o ensino religioso em busca de uma identidade própria em que não
esteja atrelado a religião em si, e sim na formação do cidadão enquanto ser, em busca do
apenas repetir textos das constituições anteriores, no que se refere ao tema aqui exposto.
Somente a partir da década de 70, o Ensino Religioso passa por uma reformulação
completa com vista à definição de um programa, através de grupos ecumênicos, a fim de dar
escola pública, alegavam a densidade do ano letivo brasileiro nas séries iniciais, sendo
inviável a introdução de novas disciplinas que não sejam próprias do currículo, o que
reduziria ainda mais o tempo disponível para a realização das tarefas peculiares da escola, que
intensa mobilização de setores ligados à questão o que antes era feito somente pela igreja
Católica, neste período, é assumido pelos próprios educadores. Houve atuação permanente de
Reflexão sobre Ensino Religioso (GRERE). A emenda constitucional para o ER foi a segunda
maior emenda popular que deu entrada na Assembleia Constituinte, obtendo mais de 78.000
aluno, como pode ser extinta a educação religiosa? Em vista a esta problemática, a igreja se
organiza e promove diferentes atividades que visam a assegurar o espaço do ensino religioso
O texto final da Constituição Federal de 1988 traz em seu artigo 210 parágrafo 1º do
disciplina dos horários normais das escolas públicas de ensino fundamental”. O primeiro
embate parece ter sido vencido com esta inclusão, repete-se claramente o que já fora expresso
em constituições anteriores sendo de forma mais resumida e tratando apenas do ER, para o
ensino fundamental, o que certamente seria necessário agora um amplo debate no que se
refere à prática em si deste ensino, agora vista como disciplina regular na escola pública.
Otávio Elísio Alves de Brito (PMDB-MG), passando depois por muitas modificações.
Recebeu mais de 1.260 emendas incorporadas pelo relator Deputado Jorge Hage (PMDB-
por parte dos profissionais de Educação. Este dispositivo tendo sido encaminhado ao senado,
tendo como relator o Senador Cid Saboia, recebendo o n° 101/93 e aprovado pela Comissão
Ribeiro (PDT-RJ) indicado como novo relator, apresentou outro projeto, de sua autoria, que
subscrito pelos senadores Mauricio Correa (PDT-DF) e Marco Maciel (PFL-PE), foi aprovado
Cardoso este novo dispositivo sob o n° 9.394, publicada no Diário Oficial da União no dia
23/12/96, como Nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação, divulgada como “Lei Darcy
Ribeiro”.
período que antecedeu a elaboração da Constituição de 1988, ainda nos anos de 1986 e 1987.
uma emenda com cerca de setenta mil assinaturas, a segunda emenda com maior número de
associações e pesquisadores que lutam pela promoção do ensino religioso no âmbito escolar.
Segundo Junqueira (2002) o FONAPER tem sido um fórum privilegiado de debate, reflexão e
O objetivo de incluir o ensino religioso na nova LDB foi alcançado, após ser
sancionada pelo Presidente, a Nova LDB em seu artigo 33 em sua versão original trazia o
seguinte:
Devido à expressão “sem ônus para os cofres públicos” Esta redação não agradou
setores ligados ao ER, uma vez que não dar o devido valor a educação religiosa ao mesmo
tempo em que soa como sendo um favor prestado pelas instituições religiosas às escolas
publicas no que se refere à prática deste ensino. Houve mais uma vez mobilização nacional e
ao mesmo tempo a atuação de entidades como a Conferencia Nacional dos Bispos do Brasil
Fórum Nacional Permanente do Ensino Religioso. Vale salientar a 34ª Assembleia Geral dos
Bispos do Brasil ocorrida em 1996, em Itaici, Indaiatuba, São Paulo que dedicou um espaço
Após as reações em todo o país chegam a Câmara dos Deputados em Brasília, três
projetos sobre o ensino religioso, propondo alteração do Artigo 33 da LDB, com vista a retirar
a expressão “sem ônus para os cofres públicos”. Sendo vencido o prazo sem que os projetos
Marchezan, levando em conta as propostas apresentadas nos demais projetos. Este projeto se
maioria absoluta dos Senadores, no dia 8 de julho de 1997. A Lei n° 9.475, de 22 de julho de
1997, foi sancionada pelo Presidente da República e publicada no Diário Oficial da União em
Religioso na escola pública, no entanto, ainda suscitou debates em torno do espaço que tal
ensino ocuparia na escola e como seriam na verdade, as ações para se colocar em prática o
que rege a Lei em vigor, já que em sentido amplo veda qualquer forma de proselitismo,
bem como, estabelecer normas para capacitação de professores ouvindo as entidades civis.
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CAPÍTULO II
de desenvolvimento da sociedade, porém, sempre voltada para atender aos interesses do poder
hegemônico.
Segundo Saviani, D (1997), a escola surgiu com a divisão dos homens em classes,
através da sociedade privada. Na Idade Média, a escola era lugar aonde os ociosos ocupavam
o tempo “com dignidade”. A classe trabalhadora podia estudar, mas aprendia somente o
necessário para utilizar no serviço que devia desempenhar, sem oportunidade de aprender uma
nova função. O programa escolar era de acordo com a classe social do aluno. Os alunos de
aprender, pois segundo a classe privilegiada, não havia oportunidade para estes utilizarem
esse saber tão diferenciado. Na sociedade atual, a forma escolar emerge como forma
dominante da educação.
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cursos, já que o interesse dos governantes era o de formar a elite dirigente do país, objetivo
este que fez com que seus esforços fossem concentrados no ensino secundário e superior. O
educadores e mestres eram vitalícios e os que não tivessem capacitados deveriam instruir-se
Saviani identifica ainda em nossos dias, três grupos educadores que defendem
Ainda para este autor, a aprendizagem na escola atual, está voltada, no Ensino
fundamental, para comemorações que incluem uma série de atividades, onde se acaba
nome de uma escola participativa. A escola privada explora a propaganda, as atrações que
acontecem no decorrer do ano letivo, a disputa pelo primeiro lugar no vestibular que
vestibular, sem se preocupar com a moral, a cidadania e o civismo. Nesta o importante não é a
como sendo aquela que forma cidadãos capazes de entender o sentido da atividade humana
que está materializada no trabalho; que dá aos alunos capacidade de superar seus interesses
entre si, Enfim, a boa educação forma a personalidade integral do sujeito histórico.
levando-o no contexto escolar, a pensar que pode sim em termos gerais ter uma diretriz que
O Ensino Religioso ministrado nas escolas tenta dar respostas às inquietações internas
constitui disciplina nos horários normais das escolas públicas de ensino fundamental
Desta forma, o ER, introduzido na escola pública como disciplina visa formar o
(PRNER, 2009).
Segundo Fernandes (2000), Não é uma proposta que se fundamenta somente na visão
antropologia filosófica, pois esta se volta para as questões existenciais do homem. Neste
sentido o ER, passa a ser visto como disciplina que produz conhecimento científico.
Ainda segundo esta autora, o ER, está garantido nas escolas não como ensino de uma
religião ou das religiões, e sim uma disciplina centrada na antropologia filosófica, ou seja, que
oficial, para ajudá-los a dar uma resposta pessoal a Deus no quadro da sua comunidade
A proposta inicial da CNBB, ao citar pais, mestres e educando, faz um paralelo entre
filosófica, pois, esta se volta para as questões existenciais do homem, abarcando tudo que se
(FERNANDES, 2000)
No sentido de que há uma realização do homem como pessoa no que tange às questões
religiosas, nada melhor do que uma educação qualificada para o desenvolvimento da mesma.
Assim sendo, “O Ensino Religioso, deve assegurar o cultivo dos valores éticos que brotam
das razões íntimas e transcendentais que definem a pessoa na sua verdade mais aguda”.
tempo em que o prepara para o convívio com diferentes religiões e culturas, objetivando
ainda, prepará-lo como cidadão e não somente como ser religioso, por isto o espaço escolar
recebe em sua instituição religiosa ou família, que também são importantes neste processo.
interação entre as experiências que o educador traz consigo com a dos alunos, uma vez que
ambos têm suas convicções políticas, religiosas entre outras, isto produz consequências no
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de todo e qualquer processo de educação que promova o reencontro da razão com a vida; que
faça coincidir o espaço onde reside a vida com as aspirações do ser criativo em contínuo
Vista desta forma, a escola, torna-se o espaço adequado para o desenvolvimento das
práticas propostas pelo ER, uma vez que em constante “... é pluralista por definição, aberta a
todos com igualdade de direitos e deveres” (Ibidem, p. 21, apud, FERNADES, 2000 p. 32).
31
CAPÍTULO III
administrado por uma Igreja, mas, no âmbito escolar, seguindo o estabelecido nos dispositivos
legais, que procura buscar com este ensino, pleno respeito à diversidade religiosa e cultural ao
transcendente. Lei n° 9.475, de 22 de julho de 1997 que dar nova redação ao artigo 33 da
nova LDB.
Nesta nova ótica, a escola tem total liberdade de estabelecer tanto aos docentes como
aos discentes o que será, de fato, ensinado. Ainda de matrícula facultativa, porém com
garantias ao educando de não sofrer nenhum tipo de coação ou direcionamento que o possa
ecumênico. A partir da Lei 9.457/97, o ensino religioso assume um novo modelo baseado no
religiões.
Desta forma, o ER visto como disciplina cientifica, visa contribuir com a formação de
uma visão critico-social da realidade. Somente o ensino religioso como disciplina na escola
pública pode fazer referência à dimensão religiosa do ser humano e que venha afirmar uma
concepção religiosa do mundo. Ganha assim um caráter não de religião ou educação religiosa
mais agrega em si outros valores na formação do cidadão, uma vez que os eixos temáticos,
temas como teologia, sociologia, filosofia, história, geografia, psicologia e antropologia das
suas dimensões, inclusive a sua relação com a cultura religiosa. Por isso, não pode perder de
vista a contextualização da pessoa humana enquanto ser religioso, uma vez que quase todos
Para Rossa (2004), o ensino religioso em sua nova concepção, veio para apontar nova
direção e caminhos diferentes para o fazer pedagógico, formar cidadãos que pensam,
dialogam, e acima de tudo, aprendam na escola a conviver com as diferenças, tendo como
base o transcendente. A fim de que este contribua para mudanças profundas, pessoais e
pedagógica definida, antes de tudo, deve-se imaginar que o ER, não tem função de converter,
tem o objetivo de uma educação integral atingindo com isto as diversas dimensões da pessoa.
modo ativo na comunidade, o que não acontecia no modelo tradicional do ER, pois não levava
Neste sentido, pode-se ver o ER, como ferramenta de auxílio ao educando ao se propor
a tentar dar respostas às inquietações internas e externas do indivíduo, podendo assim aguçar
o interesse daqueles sem religião, fazendo-os perceber que o ensino em questão aborda os
vários aspectos do fenômeno religioso sem ter a intenção de impor qualquer religião. Uma vez
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que o ensino religioso contribui para a vida coletiva do educando e se coloca ao lado de outras
Segundo CNBB (1996), a dimensão religiosa do ser humano é importante para sua
realização como pessoa, então, para desenvolver a mesma, é preciso uma educação
qualificada, nesta perspectiva o ensino religioso na escola, deve assegurar o cultivo dos
valores éticos que brotam das razões íntimas e transcendentais de cada educando.
RELIGIOS (PCNER), trazendo uma identidade pedagógica numa nova proposta visionária a
que se propõe a nova disciplina que deixa de ser meramente catequética e tem como ponto de
horizontes, A fim de que seja capaz de assumir um compromisso de fé, ou seja, contato com o
transcendente, ou com uma religião, sem com isto, lhe impor a condição de adepto de
qualquer delas, a menos que seu caráter seja confessional, isto posto, apenas em escolas
uma religião, sendo que diferente do modelo confessional, não impõe esta ou aquela, porém
visa apresentar este ensino com uma identidade de caráter científico, e objetivos claros, em
que o conhecimento é voltado para o valor do espírito humano, sendo, no entanto, destituído
contextualização da pessoa humana no tempo e no espaço, já que a visão que dela se tem
pessoa humana, em todas as suas dimensões, inclusive a sua relação com a cultura religiosa.
da pessoa.
Segundo Veloso, (2000), A educação em seu sentido amplo, visa a desenvolver todas
Entende-se, entretanto, neste sentido, que potencial seria, “poder existente” que
necessita de auxilio para ser extraído de dentro de cada um. Pois o mesmo autor declara que
“A educação desempenha a sua função, desde a raiz, fazendo brotar e crescer a disposição
natural deste ser para a busca do “transcendente”; que pode desabrochar numa religião por
Neste processo, a Escola desempenha um papel fundamental, haja vista, trabalhar com
vez que todo conhecimento torna-se patrimônio da humanidade, deve estar disponível à
científico. Visto por este ângulo, desagrega-se totalmente do âmbito confessional (PCERN pp.
35,36), neste sentido, este conhecimento torna-se acessível a todos e não somente a uma
religião.
pois se propõe a responder as perguntas de sua vida: “Quem ele é, para onde vai de onde
veio” (PCNER, 2000), é claro, entretanto, que o homem encontra muitas respostas, no
entanto, dependerá de como é sua concepção e visão do mundo, uma vez que esta é gerada
concepção de mundo se apresenta com muita rigidez, enquanto em outras, mais flexível.
No entanto, estes fatores produzem respostas isoladas, não mostrando assim, coerência
lógica que possa servir como resposta num contexto geral de compreensão aos
Segundo Fernandes (2000), Todo ser humano e por que é humano faz perguntas, ele
interroga a si mesmo e ao mundo. Ao interrogar-se procura saber quem ele é, para onde vai e
de onde veio, quando a pergunta recai sobre o mundo o ser humano procura compreender seu
mistério, sua origem e finalidade. Estas perguntas rompem o cotidiano existencial do homem,
Ainda segundo esta autora o conhecimento científico não abarca o homem em sua
aborda o homem no sentido global do que ele seja em si mesmo e as diferenças causadas pelo
ambiente, pela idade, pela educação, pelo sexo. Neste sentido, o Ensino Religioso por se
indivíduo sempre é por respostas concretas, e com isso exige respostas legítimas, então a
indagação seria; “Quem produz conhecimento sobre o mistério?” Sabe-se que o indivíduo tem
conhecimentos baseados na experiência o que o torna mais real e o teórico que necessita de
uma autoridade que o legitime. Neste sentido o ER, enquanto conhecimento de caráter
antropológico abre caminho de respostas que correspondem com a fé, e é na escola que o
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Pode-se dizer então, que o Ensino Religioso, produz conhecimento com vista a
existenciais, e ao mesmo tempo desperta sua consciência crítica com o fim transformá-lo num
ser tolerante às crenças alheias e com isto promover a paz, que é almejada pelo homem
educação brasileira, que desenvolva sua atividade educativa numa visão voltada para a
Seu conhecimento deve ser colocado à disposição do educando, visando com isto, dar
no espaço e no tempo, analisar o papel das tradições religiosas e seu impacto na formação
cultural do educando.
cultural, ao mesmo tempo em que o leva a contatá-lo com o transcendente. Assim o educador
o diálogo, cabe a ele escutar, facilitar o diálogo, ser interlocutor entre a escola e comunidade
PCNER (2009).
.
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CES/CNE N° 09/2001, que trata das Diretrizes Nacionais para Formação de Professor da
Ensino Religioso no Brasil, elaboradas pelo Fórum Nacional Permanente do Ensino Religioso
(2011).
específica, de maneira que possa atender as exigências e desafios propostos por esta área de
conhecimento.
Com vista ao que requer a nova proposta do Ensino Religioso, como disciplina regular
parecer CES/CNE n. 09/2001, que trata desta formação. Segundo ainda a autora, além da
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bem como do elemento do ambiente escolar, que dão suporte aos saberes e fazeres
pedagógicos.
disciplina não seja desviada de sua verdadeira identidade, observar alguns pontos, que
segundo a autora são essenciais para a prática desse Ensino em sala de aula. Os pontos
-O educador tem de ter clara a resposta do “Projeto Educativo” (se este existir na
escola que o professor atua), a fim de saber que tipo de homem e sociedade se quer.
O professor do Ensino Religioso em sua prática deve levar à sala de aula, referenciais
teóricos que possibilitem ao educando pensar-se como ser ético-moral, enquanto ser religioso,
visando o educando como um agente de transformação pelo saber, uma vez que a proposta
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maior do Ensino Religioso é formar para a vida. Sendo a escola local de formação e de
ER, é para ser transferido, num contexto de vivencia e prática. Fernandes (2000). No entanto,
deve o educador ter em mente que o homem é um (ser por fazer), e ver-se como um
Segundo Paulo Freire (2005), A educação não pode ser vista numa perspectiva
bancária em que o educando apenas recebe os depósitos e deve guardá-los e arquivá-los, desta
“comunicados”. Este parece ser o sistema do Ensino Religioso catequético, propagado por
anos pela Igreja Católica, em que o profissional apenas fornecia conteúdo sem a preocupação
do aprender do educando.
educador deve ser infundida da profunda crença dos homens, crença no seu poder criador. Isto
tudo exige que seja companheiro do educando em sua relação com estes.
abrir caminho a novas descobertas por parte do educando em termos éticos, morais e
antecipar à do educando para que juntos possam responder às questões trazidas ou estimular
CONSIDERAÇÕES FINAIS
caracterizou como ensino tradicionalmente religioso, não que não seja válido, no entanto, foge
aos propósitos do ensino enquanto formação do cidadão, e sim, forma para religião, um ser
religioso, o que se distancia dos parâmetros propostos pela Constituição de 1988 e pela nova
LDB.
indígenas e dos escravos. Desta forma, o cristianismo católico subjugou as outras expressões
contexto de união entre o estado brasileiro e a Igreja Católica, pois a carta constitucional
de1824 declarou em seu artigo 5° a Igreja Apostólica Romana como religião do Império.
substituído pela disciplina de moral e cívica e que visava trabalhar os ideais republicanos nas
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novas gerações. O que levou com o regime republicano instalado em 1889, essa disciplina a
Com a instalação da República, veio à separação entre igreja e Estado e isto, claro,
Igreja e o Estado, no entanto, esses grupos tiveram que enfrentar a forte reação da igreja
católica. O que trouxe a conquista à liberdade aos cultos religiosos, diante de um estado laico,
abrindo portas para debates amplos sobre o Ensino Religioso, uma vez que a secularização do
Neste sentido, a redação do texto da Constituição 1891, traz a seguinte redação “Será
leigo o ensino ministrado nos estabelecimentos oficiais de ensino” esta redação fez com que a
igreja entendesse a ausência do ensino religioso nas escolas como um preconceito contra a
Essa instituição muito se mobilizou e viu seus interesses novamente garantidos a partir
escolas do país. Em nosso trabalho percebemos que desde a o período republicano a questão
do ensino religioso tem gerado polêmica e muita discussão, na maioria das vezes levantando a
católica. Todas as leis referentes ao assunto defendiam que o ensino religioso seria ministrado
Entretanto, sabemos que na prática, o cristianismo católico tem sido o tema principal
das aulas de ensino religioso, devido à predominância dessa crença no âmbito escolar e a
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Escrevi ainda, ao situar o ER, no contexto histórico, que ao longo do tempo, tem sido
utilizado como ferramenta ideológica por parte do Estado e Igreja, o que de certa forma,
analisando a proposta atual, vimos, houve uma troca de valores, ao ser utilizado desta forma
não houve uma preocupação com a formação do educando para conviver, e assim, não
podendo promover a paz. Procurei ainda, destacar em três capítulos uma visão geral do que
seria o ER, como proposta para a escola pública. No primeiro capítulo, abordei o ER, no
contexto histórico brasileiro no período colonial, surgindo assim como imposição de Portugal
o ensino Católico, e desta forma, permanece até a República e o advento do Estado Laico,
quando começaram a surgir de forma mais contundente debates a cerca do assunto. O que
trabalhador.
No terceiro capítulo passo a apresentar a proposta para o ER, atual lançando mão de
a visão do ER.
facultativa, isto leva a escola, trabalhar para oferecer um ensino de qualidade, de maneira que
a nova Lei de Diretrizes e Bases da educação e a Constituição de 1988, estabelecem uma nova
concepção para o ensino em questão ao mesmo tempo em que o apresenta como parte
majoritários sempre irão procurar apresentar seus valores ao educando dentro da escola.
Acredito que esta disciplina, se trabalhada de forma dissociada das religiões e levando
em conta a diversidade em sala de aula, pode ser muito proveitosa, tanto na construção de
conhecimento abrangente e crítico de assuntos que tem relação com a religião, ou o Ensino
Religioso.
ensino de qualidade que cumpra seu objetivo, que é formar o cidadão e levá-lo a conviver
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