1
2
3
Sumário
Curso de Capacitação e Aperfeiçoamento: O Lúdico no Processo de
Alfabetização .................................................... Erro! Indicador não definido.
DICAS IMPORTANTES PARA O BOM APROVEITAMENTO ...........Erro!
Indicador não definido.
MÓDULO I – COMPREENDENDO A ALFABETIZAÇÃO .................... 5
MÓDULO II – O QUE É LUDICIDADE? ................................................. 21
1. A ETOLOGIA E O COMPORTAMENTO DE BRINCAR
HUMANO... ................................................................................................... 22
2. BREVE HISTÓRICO DO BRINCAR .................................................. 24
MÓDULO III – O PROCESSO DE APRENDIZAGEM .......................... 37
MÓDULO IV - A LUDICIDADE NA EDUCAÇÃO INFANTIL:
APRENDIZAGEM E DESENVOLVIMENTO ......................................... 40
MÓDULO V - O LÚDICO E A ALFABETIZAÇÃO: A IMPORTÂNCIA
DAS ATIVIDADES LÚDICAS NAS PRÁTICAS EDUCATIVAS DO
ENSINO INFANTIL - ESTUDO DE CASO .............................................. 59
MÓDULO VI – ATIVIDADES LÚDICAS PARA ALFABETIZAR ..... 104
3. CRACHÁ DE SÍLABAS ...................................................................... 104
4. SIGA AS INSTRUÇÕES...................................................................... 105
5. PERCURSO DO ALFABETO ............................................................ 106
6. TABELA DE LEITURA ...................................................................... 108
7. JOGO – FORME PALAVRAS ........................................................... 109
REFERÊNCIAS .......................................................................................... 110
4
MÓDULO I – COMPREENDENDO A ALFABETIZAÇÃO1
Autores: Carla Ramos de Paula/ Ivete Janice de Oliveira Brotto
Os conceitos são produzidos e produzem novas formas de pensar e
realizar o fazer docente e a própria maneira que determinado conceito é
incorporado também sugere que em algum momento ele sofre mudanças porque
as relações sociais estão constantemente se alterando, nunca são dadas e
acabadas. De acordo com Klein,
Não existe um ‘conceito acabado’ sobre as coisas, na medida em que
podemos com elas estabelecer, a qualquer momento, novas relações. No
entanto, isto não nos pode levar a afirmar que às coisas não se atribuem
conceitos determinados, definidos, exatos, pois, no interior de uma dada relação
humana, uma coisa é aquilo e somente aquilo que essa relação determina. No
interior daquela relação, o conceito é dado, acabado e imutável. A mudança do
conceito decorre da mudança na relação que o homem estabelece com o objeto;
portanto, não é o conceito, o conhecimento que muda por si mesmo: as relações
1
Módulo I – reprodução total - DOS CONCEITOS EM ALFABETIZAÇÃO À NECESSIDADE
DA COMPREENSÃO DA CONCEPÇÃO DE LINGUAGEM – Autores: Carla Ramos de Paula/ Ivete
Janice de Oliveira Brotto – Disponível em : http://cac-
php.unioeste.br/eventos/iisimposioeducacao/anais/trabalhos/46.pdf
5
do homem com as coisas mudam e, a partir dessa mudança, como expressão
mesma dessa mudança, os conceitos mudam (KLEIN, 2002, p. 69).
A abordagem sobre os conceitos de alfabetização leva-nos a identificar
que não existe uma homogeneidade conceitual e, a partir daí, perceber os
“rumos” da alfabetização como socialmente construídos. Defendemos a
importância de o professor alfabetizador compreender e interpretar esses
conceitos a fim de fundamentar seu trabalho numa perspectiva capaz de ampliar
a visão de mundo dos educandos. Assim, para fazer frente a essa compreensão,
para um início de reflexão, cabe ao professor questionar-se sobre qual conceito
de alfabetização trabalha? Esse conceito espelha qual concepção de linguagem?
Essa concepção expressa qual visão de homem e de sociedade que justificam
ensinar deste ou daquele modo, por este ou aquele referencial teórico-
metodológico?
Entendemos a alfabetização como o estudo e a apropriação de uma certa
modalidade da linguagem: a escrita, como forma de representação da realidade.
E a explicitação dessa forma, conforme a perspectiva de linguagem adotada, é
indicativa do modo como se compreende as relações dos homens em sociedade.
Retrata-se, assim, no trabalho do professor, em especial aqui, o alfabetizador, a
sua postura política frente ao ensino, ao aprendizado e à própria sociedade.
Nesse sentido, as questões que, via de regra, consomem os professores: como
ensinar tal ou qual tema? Ou, como alfabetizar? devem ser posteriores em
6
relação à questão “para que ensinamos o que ensinamos?” e sua correlata, “para
que as crianças aprendem o que aprendem?” (GERALDI, 1982, p. 42).
Concordamos com a afirmação de Geraldi (1982), porque responder a
essas questões implica em desnudar a concepção de linguagem, o uso social da
língua escrita e as funções que ela exerce em sociedade.
Para exemplificarmos, se o professor tem uma concepção de linguagem
aportada no fato de que ela é meramente um instrumento de comunicação, faria
sentido um ensino pautado na aprendizagem do código e nas regras gramaticais
que conduzem a ela. Pois, nessa concepção, há apenas uma mensagem a ser
codificada e transmitida de um emissor (professor) a um receptor (o aluno). O
professor ensina e o aluno aprende, passivamente. Assim, o ensino por meio de
historietas, para delas destacar as frases, palavras, sílabas e letras também
fariam sentido. Mesmo o ensino pelo texto (numa concepção reducionista do
sentido de texto) seria pretexto para o professor ensinar nesse viés. Logo, não
se ensina que linguagem, mais do que comunicação, é interação, interlocução.
Um jogo social que acontece na e pela linguagem. Dizendo de outro modo, as
pessoas ao interagirem nas suas relações, em qualquer nível, manifestam
intenção, direcionam-se a alguém (mesmo virtual), há um outro no horizonte.
E, a depender das respostas desse outro, o discurso, as palavras alteram-se para
se acomodar ao desejo do querer-dizer do locutor/escrevente. Assim, linguagem
é interação porque envolve sujeitos e contextos sócio históricos.
7
Fica patente, portanto, que a definição de um conceito que tem na sua
essência a explicitação de uma concepção como essa, requer um ensino que
veja o funcionamento da linguagem e da língua escrita em sociedade: os
diferentes textos gerados pelas necessidades de interlocução dessa mesma
sociedade.
Soares (1985), em seu artigo “As muitas facetas da alfabetização”,
propõe a necessidade de uma teoria coerente da alfabetização que articule os
estudos das suas diferentes “facetas”: psicológica, linguística, pedagógica,
sociológica, a partir do conceito de alfabetização, da natureza do processo de
alfabetização e dos condicionantes políticos desse processo. No que concerne
ao conceito de alfabetização, a autora define alfabetização como o “processo de
aquisição do código escrito, das habilidades de leitura e de escrita.” (SOARES,
1985, p. 20). Neste artigo, aprofundando a discussão, a autora aborda o duplo
significado dos verbos ler e escrever e o que eles representam. Para ela,
1) Pedro já sabe ler. Pedro já sabe escrever.
2) Pedro já leu Monteiro Lobato. Pedro escreveu uma redação sobre
Monteiro Lobato. Nos exemplos (1), ler e escrever significam o domínio da
‘mecânica’ da língua escrita; nesta perspectiva, alfabetizar-se significa adquirir
a habilidade de codificar a língua oral em língua escrita (escrever) e de
decodificar a língua escrita em língua oral (ler). A alfabetização seria um
processo de representação de fonemas em grafemas (escrever) e de grafemas
em fonemas (ler). Nos exemplos (2), ler e escrever significam apreensão e
8
compreensão de significados expressos em língua escrita (ler) ou expressão de
significados por meio da língua escrita (escrever); nesta perspectiva, a
alfabetização seria um processo de compreensão/expressão de
significados. (SOARES, 1985,p. 20 – grifos da autora).
Ainda que consideremos que o exemplo 2, além de
compreender/expressar significados, revela também formas de produção de
sentidos sobre o outro, fica explícito nesse excerto que o fazer docente espelha
uma concepção, mesmo que de modo inconsciente para o professor, a respeito
da língua. Assim, reiterando o dito anterior, dependentemente do modo como a
alfabetização é concebida, o direcionamento da prática docente ocorrerá de uma
ou de outra forma, ou vice-versa: o modo como o professor direciona suas
práticas pedagógicas cotidianas revela a concepção que tem de alfabetização.
Se o processo de ensino e apropriação da leitura e da escrita é realizado de forma
mecânica, é comum o trabalho docente partir inicialmente das unidades
menores, primeiro as letras (com as vogais, normalmente), depois as sílabas,
então as palavras e por último o texto, ou a partir da fonetização (métodos
fônicos), o que remete à reprodução de uma “linguagem artificial” e não a
produção real da linguagem pela criança.
Chamamos aqui de linguagem real a manifestada nas diferentes
situações cotidianas, pois nas relações humanas não se dizem palavras soltas,
ou sílabas, ou meros sons sem sentido. Antes
dizemos/escrevemos/ouvimos/lemos “verdades ou mentiras, coisas boas ou
9
más, importantes ou triviais, agradáveis ou desagradáveis, etc.” (BAKHTIN,
2004, p. 95). Enfim, produzimos e nos são produzidos sentidos por meio das
palavras, intencionalmente, considerando nossos interlocutores e o que a
situação exige. Sobre este aspecto, vejamos a posição de Brotto e Castro,
Recuperar o sentido do tema alfabetização, na leitura que nos é possível
fazer hoje, é ensinar para além das evidências sonoras e gráficas e de usos em
práticas sociais, portanto, nas características do letramento. Mas é também
explicitar os mais diferentes elementos que concorrem para a significação de
uma palavra, e apreender seu sentido, inclusive ideológico (BROTTO;
CASTRO, 2006, s/p.).
É notório no Brasil, a partir de meados de 1980, um novo direcionamento
para o processo escolarizado de alfabetização, decorrente da mudança
conceitual a respeito da aprendizagem da língua escrita, propagado a partir dos
estudos de Emília Ferreiro e Ana Teberosky. Podemos definir esse momento
como sendo um “marco” na história da alfabetização, pois, além de introduzir
as pesquisas em aprendizagem a partir da psicologia genética, possibilita
considerar o processo de aprendizagem da língua escrita materna sob outro
“viés”: o de construção da representação do sistema linguístico pela criança.
Nas palavras de Ferreiro, sobre sua compreensão de alfabetização, “é necessário
entender que a aprendizagem da linguagem escrita é muito mais que a
aprendizagem de um código de transcrição: é a construção de um sistema de
representação.” (FERREIRO, 1994, p. 102).
10
Atrelado aos benefícios de se considerar a criança como sujeito ativo
capaz de “reinventar” o sistema de representação de linguagem e a valorização
da produção espontânea do aluno, consideramos essa mudança de paradigma
como um dos fatores que contribuiu para o “caos” a que fizemos referência
anteriormente, pois como afirma Klein,
O que pretendemos, portanto, é pôr em evidência que, nessa verdadeira
cruzada pelo novo, alguns termos, usados sem uma clara definição, ou, pelo
menos, sem o grau de clareza exigido por determinadas faixas de interlocutores,
adquirem conteúdos absolutamente superficiais e negativos, prestando-se mais
a confundir que a esclarecer aqueles a quem tais discursos se destinam (KLEIN,
2002, p. 32).
Vemos concomitantemente à propagação do “novo”, reportando-nos à
ideia de linguagem escrita como construção de um sistema de representação
como defende Emília Ferreiro, alguns equívocos e consequências daí
resultantes. Entendemos que o “trajeto” (quem traz o discurso para a escola), a
forma que o “discurso novo” chega até o “chão da escola” e como este é
incorporado pelos professores e gestores (muitas vezes carentes de um
aprofundamento teórico sobre o veiculado nos discursos), permite a reprodução
de alguns chavões, originários dessas mesmas teorias. Com frases do tipo: “o
aluno vai construir o conhecimento”, “respeitar o erro do aluno”, “este aluno é
pre silábico”, entre outros, espalham-se discursos e surgem crenças de que o
professor não deva ensinar, de que o aluno tem de descobrir o conhecimento
11
sozinho e outras do gênero, resultando em algumas experiências, muitas vezes,
desastrosas para o processo ensino-aprendizagem.
Na medida em que são propostos, nos PCNs3, determinados referenciais,
como pressupostos para embasar o fazer docente no encaminhamento da
alfabetização e do ensino da Língua Portuguesa, os seus organizadores pensam
em definir e disseminar uma concepção de mundo, de homem, de sociedade, de
educação, com o intuito de orientar o trabalho dos professores. O conteúdo
dessa orientação, como tantas outras, conforme vimos afirmando, precisa ser
aprofundado pelos professores e gestores pedagógicos de modo que se
desvelem os pressupostos do que se encontra subjacente. Só assim, com estudo
e aprofundamento teórico, o professor pode ter mais autonomia para subverter
e encaminhar suas aulas a partir dos referenciais que ele acredita serem os
melhores para os seus objetivos, uma vez que os conhece com alguma
profundidade. E, para isso, fica clara a necessidade de respondermos às
questões propostas por Geraldi, já mencionadas: para que ensinamos o que
ensinamos e para que o aluno aprende o que aprende. As respostas, de alguma
maneira, mostram as nossas crenças e práticas pedagógicas e, de fato, nossa
prática política como educadores e o que esperamos da sociedade.
No que se refere aos métodos de ensino que vêm sendo utilizados no
processo de alfabetização, vemos que na medida em que surgem novos
direcionamentos para a alfabetização, os métodos espelham a “leitura” desses
12
conceitos, embora saibamos que a discussão dos métodos não seja capaz de, por
si só, resolver os problemas da alfabetização. Para Mortatti,
Se a questão dos métodos é importante, não é, porém, a única, nem a
mais importante, e não pode ser tratada com efeitos pirotécnicos, desviando a
atenção do que é essencial: o fato de que um método de ensino é apenas um dos
aspectos de uma teoria educacional relacionada com uma teoria do
conhecimento e com um projeto político social (MORTATTI, 2008, p. 111).
34 PCNs – Parâmetros Curriculares Nacionais.
Em seu artigo A “querela dos métodos” de alfabetização no Brasil:
contribuições para metodizar, Mortatti assevera que “a história da alfabetização
no Brasil caracteriza- se [...] como um movimento complexo, marcado pela
recorrência discursiva da mudança, indicativa da tensão constante entre
permanências e rupturas” (MORTATTI, 2008, p. 95). Para explicar as
permanências e rupturas no processo de alfabetização, a autora propõe a divisão
do movimento histórico em quatro momentos definidos por ela como cruciais.
Afirma ela,
Esses momentos e suas principais características são, muito
resumidamente: 1º momento (1876 a 1890) – disputa entre defensores do então
‘novo método’ da palavração e o dos ‘antigos’ métodos sintéticos (alfabético,
fônico, silábico); 2º momento (1890 a meados de década de 1920) – disputa
entre defensores do então ‘novo’ método analítico e o dos ‘antigos’ métodos
sintéticos; 3º momento (meados dos anos de 1920 a final da década de 1970) –
13
disputa entre defensores dos ‘antigos’ métodos de alfabetização (sintéticos e
analíticos) e os dos então ‘novos’ testes ABC para verificação da maturidade
necessária ao aprendizado da leitura e escrita, de que decorre a introdução dos
‘novos’ métodos mistos; 4º momento (meados da década de 1980 a 1994) –
disputa entre os defensores da então ‘nova’ perspectiva construtivista e os dos
‘antigos’ testes de maturidade e dos ‘antigos’ métodos de alfabetização
(MORTATTI, 2008, p. 95-96).
Os diferentes métodos e metodologias resultam em diferentes
implicações pedagógicas. Para Klein,
Nos métodos tradicionais, levava-se o aluno a memorizar as
combinações (relações letra/fonema, famílias silábicas etc.) mais simples e,
posteriormente, se introduziam as outras combinações. Tais combinações, no
entanto, eram tomadas nelas mesmas, sem a necessária relação com o conteúdo
(que é o que, em última análise, está determinando essas relações).
Nos encaminhamentos atuais, tem-se postulado que a criança faça
tentativas – com caráter mais ou menos aleatório, dada a complexidade das
relações da língua – até chegar às formas corretas (KLEIN, 2002, p. 129).
Os métodos existem com intuito de instrumentalizar, ser um “meio” para
que se atinja o objetivo (no caso alfabetizar). Alguns podem facilitar o
aprendizado, outros não levam a quase nada, porém, afirmamos que cabe ao
professor uma compreensão ampla e sólida do seu objeto de ensino, para então
com uma boa fundamentação teórica saber posicionar-se diante das inúmeras
14
relações que envolvem o processo ensino- aprendizagem. Faz parte da “clareza”
do objeto de ensino, a concepção de linguagem que lhe fica subsumida ao serem
abordadas a oralidade, a leitura, a produção textual e a análise linguística.
Percebemos também outro tema de muita repercussão atualmente (pelo
menos no que se refere à produção de bibliográfica e manuais didáticos: o
debate em torno do letramento; um termo incorporado desde a década de 1980,
mas que ganha corpo na década de 1990. A referência a ele, em meio à
discussão trazida neste texto, dá-se porque a partir da sua introdução, a
alfabetização busca trilhar “novos rumos” e, consequentemente, inúmeras
questões surgem daí. Uma delas é, justamente, a confusão existente para definir
uma e outro – a alfabetização e o letramento. Outra ainda é o porquê do
letramento começar a ser tema a ser perseguido no processo de ensinar a ler e a
escrever.
Magda Soares define letramento como “a participação em eventos
variados de leitura e de escrita, e o consequente desenvolvimento de habilidades
de uso da leitura nas práticas sociais que envolvem a língua escrita.” (SOARES,
2003, p. 16). Letramento entra em cena com o objetivo de ampliar e rever o
entendimento sobre alfabetização; faz-se presente o discurso da necessidade de
“alfabetizar letrando”. Mas, se algum dia pensou-se a alfabetização
isoladamente das práticas sociais (por mais mecânico que fosse o processo) é
porque a própria concepção de linguagem, orientadora do processo de ensino-
15
aprendizagem da língua escrita, era reduzida, artificial e somente destinada a
atender às atividades escolares.
Como pensar na alfabetização separada do seu real uso? Desvinculada
das relações sociais? O termo letramento vem, então, para mostrar a
necessidade da apropriação da leitura e da escrita para as práticas sociais. Com
ele, revela-se, portanto, um conceito de alfabetização que se refere somente ao
ensino e à aprendizagem das relações grafema-fonema que necessita de um
“complemento”, o letramento, para alcançar aqueles objetivos de apropriação
da linguagem escrita para o uso social. Ou seja, pensar assim remete a uma
concepção de linguagem e alfabetização (esta nos moldes de Soares) desconexa
das relações sociais. Se assim o for, há que se reavaliar para que ensinamos as
relações gráficas e sonoras do sistema, em alfabetização? Se é para o aluno
aprender a ler e a escrever, temos que perguntar: para que/quem ele escreve ou
lê? Já não estaria contido aí, intrinsicamente, o elemento social?
Soares (2003) não vê como complementar à alfabetização o processo de
letramento, mas ambos como partes indivisíveis de um mesmo processo;
embora cada qual tenha suas especificidades, interpenetram-se. A autora diz,
em relação à alfabetização e ao letramento,
Não são processos independentes, mas interdependentes, e
indissociáveis: alfabetização desenvolve-se no contexto de e por meio de
práticas sociais de leitura e de escrita, isto é, através de atividade de letramento,
e este, por sua vez, só se pode desenvolver no contexto da e por meio da
16
aprendizagem das relações fonema-grafema, isto é, em dependência da
alfabetização (SOARES, 2003, p. 14).
Contrariamente a essa direção da introdução de um novo termo para
designar práticas que podem e devem ser abarcadas quando se fala em
alfabetizar, em trabalho anterior já demonstramos acreditar que “o letramento
está contido e contém o objetivo e a consequência do ato de alfabetizar e de
estar alfabetizado, pois alfabetização encerra a participação social em práticas
de uso de escrita.” (BROTTO, 2008, p. 41).
Assim, voltamos a afirmar que a necessidade está em desvelar a
concepção que está posta quando se define linguagem e alfabetização, pois o
conceito desta tem que estar em harmonia com aquele para que as práticas de
ensino em leitura e escrita orientem-se para a atuação social de sujeitos críticos
da realidade. O que só o serão se desvelada a ideologia presente, inclusive
quando se ensina a escrever e a ler “palavras” como signos linguísticos.
Pois, se o ensino em alfabetização não partir do princípio de que a
linguagem é de natureza social, que ocorre num processo de interlocução, que
palavras só se tornam signos se seus sentidos são compartilhados socialmente,
então, seu ensino e, consequentemente, seu aprendizado serão parciais. Assim,
não há orientação social para as práticas em leitura e escrita e, para nós, isso
não é alfabetização, pois não aprendemos o ‘alfa’ e o ‘beta’ se não forem na e
para a ação social (BROTTO, 2008, p. 40).
17
Percebe-se, com a inserção do termo e do tema letramento, mais um
elemento fermentando o “caos”, quando se apresentam pesquisas e estudos
sobre o próprio conceito de alfabetização e tudo o que ele envolve. Pensamos
que a sugestão proposta por Ferreiro, em seu conhecido livro “Reflexões sobre
alfabetização”, “em alguns momentos da história faz falta uma revolução
conceitual. Acreditamos ter chegado o momento de fazê-la a respeito da
alfabetização” (FERREIRO, 1994, p. 41), nem por ela foi completamente
realizada. Dizemos isso em virtude de que, sob nossa ótica, uma revolução
conceitual ocorreria se as concepções de linguagem fossem discutidas como
direcionadoras das práticas alfabetizadoras. Assim, mais do que discutir
conceitos de alfabetização, importa discutirmos a concepção que orienta a
produção deste ou daquele conceito.
Concordamos com a autora se esta revolução ocorresse com intuito não
de provocar um “novo caos” meramente, mas que essa caoticidade contribuísse
para um entendimento amplo a respeito de alfabetização, contemplando o “para
quê” da alfabetização, no sentido de um processo interacional, interlocutivo.
Notas finais
Propusemos, neste artigo, a apresentação de alguns conceitos de
alfabetização que são recorrentes ainda na atualidade e a implicação destes nas
práticas escolarizadas de ensino da leitura e da escrita. Pretendeu-se mostrar
que cada “novo” conceito, fruto de estudos e pesquisas que pretendem difundir
novidades, como novas teorias, novos métodos/metodologias de alfabetizar,
18
provocam grande desordem, confusão, na compreensão do que seja a
alfabetização em um contexto para além do escolar.
Por mais que o “caos” possa imprimir um efeito positivo na medida em
que ele nos impulsiona a buscar alternativas, estas ainda não atingiram, em
alfabetização, uma saída vigorosa no sentido de efetivamente alcançar
resultados satisfatórios na aprendizagem do aluno.
Defendemos que no contexto do “caos” o que está em xeque é algo bem
mais amplo do que a discussão de conceitos, ou a centralidade maniqueísta dos
métodos, mas, a necessidade de problematizar a questão da concepção de
linguagem presente nas orientações que provocam o “caos”.
Entender a alfabetização como um processo intencional, sistematizado,
remete à necessidade de o professor alfabetizador compreender a complexidade
e a especificidade do fenômeno alfabetização e refletir sobre a concepção de
linguagem que permeia todo o processo ensino-aprendizagem, a fim de ter
subsídios necessários para o trabalho em sala de aula.
Mas, entendemos que não se trata apenas de uma discussão “intra-
escolar” a questão de responder onde está o “problema” quando o professor ou
a escola não atinge aos objetivos esperados. A escola como esfera indissociável
do todo social, ao mesmo tempo em que é determinada, também determina o
nela existente. Isso nada mais é do que reflexo e refração da forma da
organização de uma sociedade cindida em classes. Entretanto, também
apostamos no espaço de contradição que a escola é, cabendo assumir um
19
compromisso com a educação das classes populares, no trabalho com a
alfabetização, garantindo um ensino com a linguagem escrita a partir dos usos
e funções reais expressos nas relações sociais. Há que se considerar que a
alfabetização, ou qualquer outra denominação que possa ser dada ao ensino e à
aprendizagem da leitura e da escrita, tem que visar à emancipação humana, pois
seu objeto refere-se à vida de sujeitos reais, localizados historicamente.
20
MÓDULO II – O QUE É LUDICIDADE?2
LUDICIDADE é um substantivo feminino que se refere à qualidade do
que é lúdico, ou seja, consequência provocada pelo lúdico, um adjetivo
masculino com origem no latim ludus, que remete a jogos e brincadeiras. O
conceito de atividades lúdicas está relacionado às atividades de jogos e ao ato
de brincar, sendo um componente muito importante para a aprendizagem. A
ludicidade está em atividades que despertam prazer. Segundo Santos (2002), é
uma necessidade do ser humano em qualquer idade. Tem como sinônimo
divertimento, diversão e lazer; e como antônimos, tristeza e desânimo. No
âmbito da Pedagogia, a ludicidade se dá como a forma de desenvolver a
criatividade e os conhecimentos por meio de jogos, música e dança. O lúdico
não é apenas uma prática da Pedagogia e nem foi inventado por ela. Ao brincar,
as crianças estariam expostas a um ambiente extremamente favorável ao
desenvolvimento físico e cognitivo. O ato lúdico está presente na maioria das
manifestações do homem, bem como em outras espécies animais,
2
Módulo II – reprodução total – Ludicidade – Disponível em:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Ludicidade
21
preponderando durante a infância, como bem nos mostra a Etologia na
observação do comportamento animal em um dado contexto ecológico ou na
natureza. Em um estudo exemplar de brinquedos em animais, envolvendo a
observação de filhotes de hamsters dourados, Vieira (1985) aponta que o
comportamento de brincadeira aumenta em função da privação social de
indivíduos de mesma idade ou pela troca de parceiros.
1. A ETOLOGIA E O COMPORTAMENTO DE BRINCAR
HUMANO
Com relação à forma da brincadeira, existem dados bastante consistentes
mostrando que ocorrem diferenças de gêneros sexuais nos estilos de brincadeira
e preferência de parceiros em crianças de várias culturas (BIBEN, 1998)
Meninos e primatas na infância, se mostram mais ligados em brincadeiras
turbulentas, manifestam preferência por parceiros de mesmo sexo e brincam em
grandes grupos, são mais ativos fisicamente e mais competitivos. Brincadeiras
de perseguição com elementos de fantasia, são muito comuns entre eles
(MORAES & CARVALHO, 1994). O brincar das meninas é mais voltado para
a cooperação e comunicação com o grupo. As meninas preferem atividades
relacionadas com atividades domésticas, casamentos, festas e procuram
brincadeiras mais realísticas, que imitam a vida real, além de serem mais
voltadas para a cooperação e comunicação com o grupo. Conforme a criança
22
vai crescendo e se desenvolvendo, a estereotipia do gênero vai diminuindo
(CORDAZZO E VIEIRA, 2008).
A presença da macrocultura no grupo de brinquedo revela-se também
através de papéis e valores na estereotipia de gênero em relação a brincadeiras
na formulação de regras baseadas em conhecimento social ou na recusa de
papéis menos valorizados socialmente pelas crianças que lideram uma
brincadeira (MORAES & CARVALHO, 1994). Trazer valores e conceitos da
macrocultura para a brincadeira é uma oportunidade de questioná-los, de
reconstruí-los ou de fortalecê-los, dependendo da interação com conceitos e
valores dos parceiros. Harris (1995) sugere que o grupo de pares é o principal
responsável pelo desenvolvimento de atitudes e valores desde a infância,
possivelmente superando o papel dos adultos nesse processo. Em seres
humanos, sugere-se que diferentes formas de comportamentos envolvidos na
brincadeira podem ter consequência no desenvolvimento infantil, como por
exemplo, aprimoramento no controle de padrões motores, resistência e força
física (PELLEGRINI e SMITH, 1998). Devido as grandes mudanças que a
sociedade enfrentou e enfrenta desde a antiguidade, o conceito de brincar foi
dissipando sua essência, mesmo nessa sociedade que está cada vez mais
moderna e globalizada.
23
2. BREVE HISTÓRICO DO BRINCAR
Estudos apontam que os homens primitivos já brincavam e construíam
seus próprios brinquedos. Algumas atividades diárias que realizavam já
estavam interligadas ao lúdico. As atividades como a dança, as lutas, as pescas
e as caças são ações intrínsecas de povos primitivos em que o lúdico era
expresso na época (OLIVEIRA, 2010).
Na Idade Média, em um sentido teológico, o homem brincava por
acreditar vivamente na sentença bíblica que associa a Sabedoria Divina à obra
da Criação. Quando Deus criou o mundo [...] fez brotar as águas das fontes [...]
assentou os fundamentos da Terra e ali estava a sabedoria brincando sobre o
globo terrestre (LAUAN, 1991). Na Súmula Teológica de Tomás de Aquino
encontramos que “assim como o homem precisa de repouso corporal para
reestabelecer-se, pois sendo as suas forças física limitadas, não pode trabalhar
continuamente; assim também é preciso de repouso para a alma , o que é
proporcionado pela brincadeira” (LAUAND, 1991). A Revolução Industrial
criou na estrutura social, uma série de mudanças. O processo de
industrialização, acaba por exigir uma nova escola, capaz de garantir um
indivíduo qualificado, um sujeito competente para suprir as novas condições de
24
trabalho. Além da formação técnica do indivíduo, naquele período, as mulheres
também trabalhavam nas indústrias. As mães tinham que deixar suas
responsabilidades domésticas tais como cuidado com a casa e filhos. Diante
dessas condições, se faz necessário um novo espaço para as crianças. A
educação infantil e as crianças ganham uma atenção especial e passam a ser
notadas como objeto de estudo. A criança passa a ser vista como sujeito de
necessidades e objeto de expectativas e cuidados e a infância como um período
de preparação para o ingresso no mundo dos adultos, dando centralidade ao
papel da escola (BROUGERE, 1998). Na sociedade atual, o lúdico está presente
nas brincadeiras cotidianas da vida do homem, como piadas, nos esportes, isso
demonstra mais uma vez, que o lúdico não se restringe apenas à Pedagogia, ao
âmbito escolar, mas em todas as manifestações que o homem se apraza e goste.
Autores como Fröebel, Piaget, Vygotsky, Winnicott e Wallon, apenas para falar
dos clássicos, promoveram estudos relacionados ao comportamento de brincar
em sua relação com o desenvolvimento, favorecendo a compreensão e
aplicação do mesmo.
Fröebel (1782-1852)
Para Fröebel, pedagogo e criador do Jardim de Infância, a brincadeira é
a “fase mais alta do desenvolvimento da criança [...]; pois ela é a representação
do interno, da necessidade e do impulso interno” (FRÖEBEL,1887, p. 55 apud
25
ARCE, 2002, p. 60). A brincadeira é a mais pura, a mais espiritual atividade do
homem nesse estágio e, ao mesmo tempo típica da vida humana como um todo
– da vida natural interna escondida no homem e em todas as coisas. Por isso dá
alegria, liberdade, contentamento, descanso interno e externo, paz com o
mundo. Ela tem a fonte de tudo o que é bom. A criança que brinca muito com
determinação auto ativa, perseverantemente até que a fadiga física proíba,
certamente será um homem (mulher) determinado, capaz do alto sacrifício para
a promoção do bem-estar próprio e dos outros. Não é a expressão mais bela da
vida da criança neste momento, uma criança brincando? – Uma criança
totalmente absorvida em sua brincadeira? Como já indicado a brincadeira neste
período não é trivial, ela é altamente séria e de profunda significância.
Froebel, influenciado por um ideal político de liberdade, criou um jardim
de infância, em 1837, considerado, por ele, como um espaço onde as crianças e
os adolescentes estariam livres para aprender sobre si e sobre o mundo. Em seu
método pedagógico, utilizou-se da música para educar as sensações e as
emoções; enfatizava a participação em atividades de livre expressão através da
música, dos gestos e montagens com papéis e argila. Para Froebel, tais
atividades possibilitavam que a criança expressasse seu mundo interno, como
forma de conseguir ver-se e, assim, modificar-se, através da auto-observação[1]
Piaget (1896-1980)
26
Jean William Fritz Piaget, biólogo, psicólogo e epistemólogo, é um dos
autores cognitivistas, descreve como crianças e adolescentes se desenvolvem e
adquirem seus conhecimentos, sua gênese e a evolução dos conhecimentos,
para isso propôs a divisão do desenvolvimento psicológicos em estágios, os
quais a criança percorre, para adquirir e desenvolver seus conhecimentos, sobre
si e sobre o mundo. Cada estágio possui uma forma de organização mental
diferente, o que permite ao indivíduo se relacionar com a realidade em seu
redor, bem como considera que os estímulos em que esta criança é
condicionada, também contam muito quanto o desenvolvimento cognitivo.
Piaget considera em sua teoria que a criança é um ser ativo, que estabelece
relação de troca com o meio objeto, e por isso não pode ser considerado um ser
passivo apenas, e que é papel do professor propor possibilidades e promover
uma ação que permitam o avanço da cognição de cada aluno em sua
singularidade, promovendo o desenvolvimento do aluno em sua totalidade. Em
sua visão a criança é a própria construtora de seus conhecimentos, que são
construídas a partir de suas relações com objetos e com o mundo. Grande parte
desses conhecimentos são construídos a partir do jogo e da brincadeira, um
espaço que permite o desenvolvimento físico e mental, incluindo a noção de
regras, a socialização e exercitando o simbólico (PIAGET, 1998). De acordo
com a perspectiva de Piaget (1987), a atividade lúdica é um princípio
fundamental para o desenvolvimento das atividades intelectuais da criança,
sendo assim indispensável a prática educativa. É de suma importância que o
professor esteja preparado para propor atividades lúdicas, para assim
27
permitirem o desenvolvimento cognitivo da criança, possibilitando a
assimilação da criança, do lúdico a sua realidade concreta e suas relações com
o mundo. Ainda sobre as atividades lúdicas Piaget (1987) as considera o berço
obrigatório das atividades intelectuais da criança. Em outras palavras, o início
do desenvolvimento cognitivo se dá a partir das relações que a criança cria
através das dinâmicas lúdicas em que são condicionadas desde sua gênese, é a
partir dessas que a criança desenvolve grande parte de seu conhecimento,
desenvolvendo a noção de regras, valores, de cooperação, e desenvolvimento
motor. É válido lembrar que as atividades lúdicas não se restringem apenas ao
âmbito pedagógico, a escola em si, mas em todas as relações em que a criança
está inserida, seja ela na família, na igreja ou escola. Considerando que o jogo
é uma atividade lúdica, e que essas atividades contribuem para o
desenvolvimento intelectual da criança, e não uma mera atividade para
preencher o currículo e gastar energia, Piaget afirma que o jogo é, portanto, sob
as suas duas formas essenciais de exercício sensório motor e de simbolismo,
uma assimilação do real à realidade própria, fornecendo a este seu alimento
necessário e transformando o real em função das necessidades múltiplas do eu.
Os métodos ativos da educação das crianças exigem todos que se forneça às
crianças um material conveniente, a fim de que, jogando, elas cheguem a
assimilar as realidades intelectuais que, sem isso, permanecem exteriores à
inteligência infantil. (PIAGET, 1976). Considera que o jogo é um instrumento
fundamental para que a criança se aproprie de uma aprendizagem significante,
e não um aprendizado superficial, sem significância para sua vida. Como já
28
dito, é a partir do jogo que a criança faz assimilação de regras de convivência,
se desenvolve fisicamente e mentalmente, faz relação entre o simbólico e o real.
Vygotsky (1896 – 1934)
Segundo Lev Semenovitch Vygotsky, psicólogo proponente da
Psicologia Histórico Cultural, a criança por meio da brincadeira, reproduz o
discurso externo e o internaliza, construindo seu próprio pensamento. Ao
brincar, procura estar junto aos colegas e sempre explorando o meio a sua volta
com os objetos. Para Vygotsky, o ato de brincar é um aspecto relevante na
constituição do pensamento infantil. É brincando, jogando, que a criança revela
seu estado cognitivo, visual, auditivo, tátil, motor, seu modo de aprender e
entrar em uma relação cognitiva com o mundo de eventos, pessoais, coisas e
símbolos. A criança, por meio da brincadeira, reproduz o discurso externo e o
internaliza, construindo seu próprio pensamento. A linguagem, segundo
Vygotsky (1984), tem importante papel no desenvolvimento cognitivo da
criança á medida que sistematiza suas experiências e ainda colabora na
organização dos processos em andamento. De acordo com Vygotsky (1998): A
brincadeira cria para as crianças uma "zona de desenvolvimento proximal” que
não é outra coisa senão a distância entre o nível atual de desenvolvimento,
determinado pela capacidade de resolver independentemente um problema, e o
nível atual de desenvolvimento potencial, determinado através da resolução de
29
um problema sob a orientação de um adulto ou com a colaboração de um
companheiro mais capaz. Por meio das atividades lúdicas, a criança reproduz
muitas situações vividas em seu cotidiano, a partir da imaginação e pelo faz de
conta, essas assimilações são elaboradas. Esta representação do cotidiano se dá
por meio da combinação entre experiências passadas e novas possibilidades de
interpretações e reproduções do real, de acordo com suas afeições,
necessidades, desejos e paixões. Estas ações são fundamentais para a atividade
criadora do homem. Segundo Vygotsky (1998), o desenvolvimento não é linear,
mas evolutivo e nesse trajeto, a imaginação se desenvolve. Uma vez que a
criança brinca e desenvolve a capacidade para determinado tipo de
conhecimento, ela dificilmente perde esta capacidade, a tendência é que este
conhecimento se aprimore e não se perca. É a partir da formação de conceitos
com relação ao sentido e significado que se dá a verdadeira aprendizagem e é
no brincar que está um dos maiores espaços para a formação desses conceitos.
- O desenvolvimento cognitivo resulta da interação entre a criança e as pessoas
com quem mantém contatos regulares. Um dos conceitos angulares de sua obra,
está a Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP) - a diferença entre o
desenvolvimento atual da criança e o nível que ela atinge quando resolve
problemas com auxílio de outra pessoa - seja criança ou um adulto. O brincar
atuará como potencializador da capacidade de apreender por meio de atividades
lúdicas inseridas nos ambientes de aprendizagem, entretanto não é todo jogo de
criança que possibilita a criação de uma ZDP. A criança cria a partir do que ela
já conhece; das oportunidades do meio em que está inserida; e, em função das
30
suas necessidades e preferências. Além da ideia de transformação criadora, o
jogo proporciona alteração das estruturas cognitivas. Com uma prática
pedagógica adequada, as crianças podem além de permitir o brincar por brincar,
mas também por ensinar as crianças a brincarem. Para Vygotsky, a brincadeira
é fundamental para o desenvolvimento infantil porque oportuniza interações.
Em sua teoria socionteracionista, reforça a importância de jogos e brincadeiras
para o desenvolvimento infantil. É fundamental que a criança brinque, se
movimente, conheça, experimente, sinta, descubra, explore, crie e interaja para
que possa desenvolver suas potencialidades.
Wallon (1879 – 1962)
A teoria de Henri Paul Hyacinthe Wallon, filósofo, médico, psicólogo e
político, se desencadeia em volta do afeto, emoção e linguagem. Para ele, a
construção do aprendizado pode ser dividida nessas três características. O afeto
é responsável pelo bom funcionamento do corpo, promove a confiança, a
motivação e além de tudo, o desenvolvimento completo do ser integrado ao
meio em que está inserido, ou seja, envolve aspectos físico-motor, intelectual,
afetivo-emocional e social.
31
“Jamais pude dissociar o biológico e o social, não porque o creia
redutíveis entre si, mas porque eles, me parecem tão estreitamente
complementares, desde o nascimento, que a vida psíquica só pode ser encarada
tendo em vista suas relações recíprocas”. (WALLON, 1951, p. 08)
A afetividade está entrelaçada com a motricidade desencadeando o
desenvolvimento da criança. As relações e vínculos afetivos entre professor e
aluno facilitam a resolução de problemas e carências encontradas no ambiente
escolar. A emoção está associada a linguagem e com a motricidade, por meio
delas que a criança aprende as representações da vida real, apropriações e
construções de sua função no mundo em que está inserida. Portanto, é
fundamental que a criança tenha a liberdade e oportunidade de brincar. Para
Wallon, toda atividade realizada pela criança é lúdica, desde que, seja algo livre,
ela faz pelo simples prazer de fazê-lo, surge de forma livre. Mas, a partir do
momento que a atividade é dirigida ou imposta, se torna um trabalho e deixa de
ser brincadeira. Wallon divide os jogos infantis em quatro etapas: a) jogos
funcionais – são os que propiciam exploração do corpo por meio dos sentidos.
A consequência disso é a repetição das ações aprendidas, pois a criança
descobre que são prazerosos os efeitos causados pela ação gestual. Exemplos,
sons de gritos e movimentos do corpo; b) jogos de ficção – é o famoso faz-de-
conta, caracterizado pela presença constante e aflorada da imaginação.
Acontece quando a criança aprende a representar e interiorizar os papéis sociais
dos indivíduos. Pode ser caracterizada pela imitação de falas e ações adultas; e,
32
c) jogos de aquisição – se tratam do empenho que a criança revela em aprender
e conhecer gestos, imagens, músicas, etc. Jogos de fabricação: quando a criança
tende a realizar atividades que a impulsionam a criar, juntar e transformar
coisas. Para Henri Wallon (1981), a brincadeira independe do ambiente, basta
algo que incentive a criança e a possibilite imaginar, podendo se inspirar em
coisas do seu cotidiano e expressar seus sentimentos. Para ele, é por meio do
brincar que a criança inicia uma relação com o meio, a interação e a
socialização, formando sua identidade e promovendo a sua autonomia, além de
desenvolver a criatividade, a afetividade e a inteligência. É importante que em
cada atividade proposta seja incluído o lúdico, preferivelmente na primeira
etapa da atividade, brincar livremente, manusear, antes de dar um caráter
instrumental, usando o conteúdo de forma intencional. De acordo com sua
teoria, a criança brinca de cantar, dançar, pintar, de ouvir histórias sobre si
mesma, enfim, nesta fase, o brincar se assemelha com o fazer arte. [...] o brincar
irá contribuir para o crescimento da criança e consequentemente auxiliar no
desenvolvimento da mesma. Assim o jogo seria uma atividade voluntária livre
da criança e quando imposta por outra pessoa perde se o caráter de jogo e passa
a ser caracterizado como um trabalho ou ensino. (LUIZ, 2014) Constatamos na
abordagem walloniana uma noção de ludicidade ao afirmar que, para as
crianças, o universo de suas mentes é lúdico em tudo que fazem e imaginam.
Ele configura algumas formas de inteligência, dentre elas a inteligência prática-
direção física-práxica, a qual trabalha as ações motoras que, por meio de
recursos representativos, atuarão como um agente fundamental no processo de
33
transição para a inteligência teórica. Tanto a criança quanto o adulto, nunca
recusarão um jogo, pois ele alivia a alma, ensina, socializa pessoas e ainda lhe
dá como atributo uma aprendizagem lúdica, sem pressões, onde não há correto,
nem errado, há a construção individual e coletiva. E uma forma prazerosa de
desenvolver a criatividade a imaginação e ainda obter resultados ótimos quando
se trata de aprendizagem.
Winnicot (1896 – 1971)
Donald Woods Winnicott, pediatra e psicanalista, considera que a
brincadeira possibilita a quem a vivencia, momento de encontro consigo e com
o outro, momentos de fantasia e de realidade, de e percepção, momentos de
autoconhecimento e conhecimento do outro, de cuidar de si e olhar para o outro,
momentos de expressividade. Na atividade lúdica o que importa não é apenas o
produto da atividade, ou o que dela resulta, mas a própria ação, o momento
vivido. Com Winnicott, o conceito de psicomotricidade, jogos e brincadeiras
toma um rumo um tanto diferenciado. Ele discute sobre a psicomotricidade
relacional, uma proposta que possa proporcionar por meio de seu método não-
diretivo do brincar direcionado; um espaço para que a criança possa expor suas
simbolizações e é neste espaço que as teorias de Winnicott ganham espaço para
a formação da criança. Segundo Winnicott (1975), o brincar é universal e
facilita o crescimento, insere a criança aos relacionamentos grupais, podendo
34
se tornar uma forma de comunicação. É por meio das brincadeiras e fantasias
que a criança adquire experiências. Winnicott (1985) relata que, primeiro a
criança brinca com sua mãe ou sozinha e é por intermédio das brincadeiras, que
outras crianças são permitidas a participarem de seu mundo. O autor, em quatro
de seus trabalhos, trata da importância do espaço potencial e do objeto
transicional na formação da criança para a superação do bebê separado de sua
mãe e também como um fator de suma importância para que o mesmo se
reconheça como sujeito. Este espaço potencial e este objeto transicional podem
ser proporcionados à criança, por meio das vivências lúdicas e simbólicas,
oportunizando a exteriorização de suas frustrações, pelo afastamento ou
separação de sua mãe. A psicomotricidade relacional defendida pelo autor, tem
como proposta proporcionar por meio de seu método não-diretivo do brincar
direcionado, um espaço para que a criança possa expor suas simbolizações. É
neste espaço que as teorias de Winnicott contribuem para a formação da criança.
Ao propiciar para a criança, que ela brinque num espaço em que seu mundo
simbólico pode ser expresso livremente, usando ou não objetos disponíveis, o
mediador facilita o processo de transição da criança, entre o mundo totalmente
dependente da mãe para seu próprio mundo. Destaca ainda que
psicomotricidade relacional deixa clara também a importância das vivências
simbólicas no mundo da criança, pois só neste espaço proporcionado para a
criação lúdica é que a criança poderá se posicionar como autora da sua própria
história. Ainda ressalta sobre a psicomotricidade relacional, que por meio do
brincar, pode proporcionar para a criança, conhecimentos sobre si, sobre os
35
outros e sobre o mundo em que a criança está inserida. Com base nos
significados e conceitos acerca do lúdico e ludicidade, baseando nas teorias que
fundamentam a prática lúdica e as dão ainda maior relevância. Constatamos
que, o lúdico é mais que uma ferramenta de colaboração para a prática
pedagógica, é um dos caminhos para atingirmos uma aprendizagem
significante, sendo este um caminho prazeroso, envolvente e divertido,
colaborando então para uma prática pedagógica mais leve, suave e agradável
sem perder seu teor de importância, na vida da criança envolvida e na sociedade,
deixando um pouco de lado a taxada burocracia, a carga da prática pedagógica.
36
MÓDULO III – O PROCESSO DE APRENDIZAGEM3
Autora: DRA FERNANDA SPENGLER
A aprendizagem social juntamente com a maturação das estruturas
biológicas, formam o alicerce fundamental do desenvolvimento na infância.
Aprender, de uma forma geral é um processo que envolve diversas áreas do
desenvolvimento, tais como a psicomotora, afetiva, social, como também,
depende do envolvimento do sistema nervoso central.
No cérebro humano encontramos o córtex cerebral, onde cada região
microscópica é responsável por uma função diferente. Essas regiões se
comunicam entre si trocando mensagens e somando dados, mediadas por
substâncias chamadas neurotransmissores e formando uma rede complementar
de informações, o que permite a complexidade do seu funcionamento.
MÓDULO III – reprodução total - Como a criança aprende? – Autora: DRA FERNANDA
3
SPENGLER – Disponível em: https://www.psicoinfantil.net/como-a-crianca-aprende/
37
A aprendizagem implica modificações no sistema nervoso. Geralmente
se produz por ação de um estímulo externo (treinamento, experiência) e é um
processo adaptativo, já que o indivíduo vai modificando-se frente as alterações
do ambiente.
Com isso, vemos a importância de estímulos significativos na primeira
infância, pois, para que a aprendizagem se concretize, a criança associa
experiências pré adquiridas com funções perceptivas e motoras, na elaboração
de um novo conhecimento, permitindo assim, formar estruturas mentais
indispensáveis. Estas, por sua vez possibilitam ao indivíduo relacionar
vivências concretas com situações abstratas a cada momento.
O desenvolvimento da linguagem fala e escrita leva anos. Não se
alfabetiza a criança no seu primeiro ano escolar. O processo começa muito
antes, fora da escola. A criança vive um mundo cheio de letras e números e já
tem conceitos com relação a eles. O papel da alfabetização formal (pré-
escola/primeiros anos) é permitir que elas convivam e manejem letras e
números da mesma forma que manejam tesouras, colam, pintam e desenham.
Fica clara a necessidade de uma atenção especial ao període de alfabetização
como um dos fatores de maior importância para a estruturação do
conhecimento.
Além disso, o estado emocional e o nível de afetividade também
interferem no aprendizado. Para que um indivíduo aprenda é necessário que
haja “bem-estar bio-psico-social”.
38
Nessa perspectiva, entendemos que a aprendizagem coincide com um
momento histórico, um ambiente propício, uma etapa biológica da inteligência
e um sujeito compreendido em diferentes dimensões:
Dimensão biológica: estruturas operatórias que permitem a
aprendizagem e a organização dos conceitos concretos e abstratos em
concordância ao seu estágio de desenvolvimento fisiológico-neuronal.
Dimensão cognitiva: frente a uma situação nova, o sujeito adapta-se
depois da experiência do ensaio-erro; relacionando os elementos do ambiente à
aprendizagens anteriores, através de estímulos cotidianos reorganiza um novo
aprendizado e amplia suas estruturas do pensamento.
Dimensão social: onde o sujeito aprende as modalidades de ação que o
tornam integrantes de uma cultura. Inclui interação e socialização com crianças
da sua faixa etária e também adultos que possibilitam a mediação e a troca de
experiências.
39
MÓDULO IV - A LUDICIDADE NA EDUCAÇÃO INFANTIL:
APRENDIZAGEM E DESENVOLVIMENTO4
Autores: Carliani Portela do Carmo - UFMS Elaine Cristina Freitas
Veiga - UFMS/ Rosana Carla Gonçalves Gomes Cintra Cintra - UFMS/ Sarah
da Silvia Corrêa Lima- UFMS
O termo Ludicidade é utilizado e debatido por várias pessoas, em
especial por professores pesquisadores da Educação Infantil. Segundo o
dicionário Aurélio ludicidade significa: “qualidade do que é lúdico”.
Ludicidade são atividades de caráter livre, para que uma brincadeira seja
considerada lúdica ela deve ser de escolha da criança participar ou não dela
(HUIZINGA, 1996; BROUGÈRE 2010). A ludicidade não se delimita apenas
aos jogos, as brincadeiras e aos brinquedos, ela está relacionada a toda atividade
livre e prazerosa, podendo ser realizada em grupo ou individual.
As brincadeiras na Educação Infantil são atividades lúdicas bastante
utilizadas pelos professores (as) nas salas de aula, elas representam muito mais
4
Módulo IV – reprodução total - A LUDICIDADE NA EDUCAÇÃO INFANTIL:
APRENDIZAGEM E DESENVOLVIMENTO - Carliani Portela do Carmo - UFMS Elaine Cristina Freitas
Veiga - UFMS/ Rosana Carla Gonçalves Gomes Cintra Cintra - UFMS/ Sarah da Silvia Corrêa Lima-
UFMS – Disponível em: http://educere.bruc.com.br/arquivo/pdf2017/23662_12144.pdf
40
do que um “faz de conta”, é um momento privilegiado, que oferece as crianças
a possibilidade de experimentarem situações novas, compartilharem
experiências, bem como as preparam para superar novos desafios.
É por meio das brincadeiras que as crianças expressam seus sentimentos,
aprendem que existem regras a serem respeitadas, se colocam no lugar do outro
e expõem as relações do seu cotidiano. As brincadeiras permitem que o (a)
professor (a) trabalhe com o concreto ou abstrato, permite diversas maneiras e
formas das crianças realizarem determinada atividade proposta, prevalecendo
um aprendizado significativo e divertido.
Este estudo teve como objetivo descrever a importância da ludicidade na
Educação Infantil. A pesquisa visa apresentar uma revisão bibliográfica sobre
a relevância da ludicidade na Educação Infantil para o aprendizado e
desenvolvimento das crianças que são sujeitos históricos, sociais e culturais. A
partir das discussões e leituras acerca do tema proposto no artigo buscou-se
responder ao problema de pesquisa: qual a relevância da ludicidade para a
aprendizagem e desenvolvimento das crianças que frequentam a Educação
Infantil?
Para responder a questão que norteia nossa pesquisa elencamos três
tópicos para discussão teórica e análise documental. O primeiro tópico aborda
a Educação Infantil como direito da criança, dissertando sobre a visão da
criança como propriedade dos pais, até o presente momento com a defesa da
criança como cidadã. O segundo tópico trazemos conceitos da Psicologia
41
Histórico-Cultural relacionados à aprendizagem e desenvolvimento da criança,
processo que começa logo que a criança nasce e passa a socializar com os
sujeitos a sua volta e a cultura em que faz parte. O último tópico conceitua o
que é jogo a partir de autores como Huizinga (1996), Brougère (2010) e Moyles
(2010), e apresenta a relevância que a ludicidade tem para a aprendizagem da
criança na Educação Infantil, a defesa por uma educação pautada no interesse
da criança, tendo a ludicidade como forma prazerosa para o processo de ensino
na infância.
Educação Infantil no Brasil: direito da criança
A Educação Infantil como direito da criança gera muitos debates, há
poucos anos a matrícula na Educação Infantil era direito dos responsáveis que
trabalham e precisam de um lugar para seus filhos ficarem, mas foi modificado
quando esse direito passou a ser da criança. Atualmente, qualquer criança pode
ser matriculada, com o responsável trabalhando ou não, pois essa matricula
garante o seu direito.
Tal direito gera discussões do que é correto ou não, argumentos como: o
responsável que trabalha acaba não conseguindo a vaga, perdendo para o outro
que passa o dia em casa. O debate gira em torno do sujeito errado, a Educação
Infantil não é para a família e responsáveis e sim para a criança, o direito é dela,
42
a um ambiente que desenvolva sua autonomia, criatividade, confiança em si
próprio, autoestima, ampliando suas relações com a sociedade e o meio.
A Educação Infantil, de acordo com a Constituição Federal de 1988, está
sob responsabilidade dos Municípios, “§ 2º Os Municípios atuarão
prioritariamente no ensino fundamental e na educação infantil” (Art 211 da
Constituição Federal de 1998). A Educação Infantil está dividida entre a Creche
(0 a 3 anos de idade) e a Pré-Escola (4 a 5 anos de idade), sendo obrigatória
apenas a Pré-Escola. Pela não obrigatoriedade dessa fase da educação básica (0
a 3 anos) ela também não obriga o Estado a oferecer vaga para todos.
Cabe compreender que a Educação Infantil não é um local para o cuidar,
como muitas vezes é visto, não é um ambiente criado para a criança ser cuidada
até que seu responsável vá busca-la, e sim um ambiente para a aprendizagem e
desenvolvimento da criança, não queremos dizer que não haverá nenhum tipo
de cuidado, porque afinal ele é essencial, mas não é sua única responsabilidade.
Quando tratamos da garantia de direitos, faz-se necessário conceituar o
que é cidadania, sendo ela “garantia de que todos os seres humanos têm direitos
às produções materiais e sociais que, através do trabalho, ajudam a construir”.
(PEREIRA; CINTRA, 2008, p. 16).
Os direitos adquiridos pelo cidadão vale, também, para a criança, é
preciso que haja a compreensão delas como pessoas que devem ser respeitadas
e não maltratadas. É dever da família, Estado e sociedade garantir que a criança
tenha, prioritariamente acesso a:
43
Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à
criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à
saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à
dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além
de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração,
violência, crueldade e opressão. (Art. 227 da Constituição Federal de 1988,
grifo nosso).
Ainda sobre a criança como cidadã Kramer (2003, p. 91) ao citar Pereira
e Cintra (2008, p. 17) disserta que devemos ver a criança:
[...] não como filhotes do homem, ser em maturação biológica, que um
dia se tornará adulto, pelo contrário, a criança tem suas particularidades que são
próprias da infância. Logo é preciso ver [...] as crianças como cidadãs, pessoas
que produzem cultura e são nelas produzidas, que possuem um olhar crítico que
vira pelo avesso a ordem das coisas, subvertendo essa ordem.
Assim, a criança por si própria é detentora de seus direitos e a família,
sendo responsável por ela até a maior idade, deve assegurar sua segurança, sua
saúde e sua educação, caso não seja possível o Estado deve assumir tal papel.
Com a Lei garantindo que nenhuma criança ficará desamparada, ter crianças
moradoras de rua se torna inconstitucional, não é possível e nem permitido pela
Lei que uma barbárie como essa ocorra, o que nos faz questionar, com tantas
Leis garantindo seus direitos, por que ainda ocorre o abandono da família,
Estado e sociedade?
44
A não visibilidade da criança como cidadã e não propriedade da família
é histórica, foi apenas com a publicação da Lei n° 8.069, de 13 de Junho de
1990, conhecida como Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA, que a
criança deixou de ser vista como uma propriedade do responsável para ter seus
direitos assegurados como qualquer outra pessoa, tal Lei ajudou no combate aos
abusos e maus-tratos que as crianças sofriam com seus familiares, apesar de
estar longe de acabar.
O UNICEF reconhece que o ECA é um dos instrumentos legislativos
mais avançados sobre o tema no mundo, pois recepcionou os princípios da
Convenção Internacional sobre a Criança, bem como previu o entrelaçamento
de parcerias entre governo e sociedade civil, ou seja, delineou linhas de ações e
diretrizes políticos- administrativas para o atendimento à criança e ao
adolescente. (PEREIRA; CINTRA, 2008, p. 21).
Assim, é direito da criança a proteção, seja ela da família ou do Estado,
os cuidados com a criança são, como está na CF de 1988, prioridade. Garantir
que elas tenham onde morar, se alimentar, a saúde, a segurança e a afetividade,
são passos obrigatórios para uma educação de excelência, uma formação para
a aprendizagem e desenvolvimento, contemplando a pluralidade cultural e de
ideias que permeia nosso país e o mundo, visando o respeito às diferenças e em
busca da igualdade.
A relação desenvolvimento e aprendizagem no desenvolvimento infantil
45
Para a compreensão da aprendizagem e do desenvolvimento dos sujeitos,
partimos dos estudos de Vygotski, nos baseando nos pressuposto da Teoria
Histórico Cultural. Vygotski ao longo da sua trajetória de estudos buscou
compreender a origem e o desenvolvimento do homem, principalmente com
relação ao desenvolvimento dos processos psicológicos e da história individual.
Afirmava que o desenvolvimento e a aprendizagem caminham juntos e se
relacionam, pois a constituição do sujeito é um movimento dialético entre
ambas as concepções.
A teoria Histórica cultural parte do pressuposto que os sujeitos se
desenvolvem por meios das interações nos processos de mudanças e
transformações que ocorrem no meio em que vivem. O desenvolvimento
também está inserido nas as práticas culturais e educativas, ambas levam
consigo o processo de aprendizagem e as experiências dos sujeitos. Vygotski
buscou interpretar e ter como objeto de investigação do desenvolvimento a área
da espécie, dos grupos culturais e dos indivíduos, em seus estudos fez algumas
reflexões sobre vários aspectos da aprendizagem e do desenvolvimento.
Aprendizagem e desenvolvimento estão relacionados, pois a criança
desde o ventre da mãe carrega consigo formas de aprendizado que serão
desenvolvidas pelo social. O aprendizado é o que promove o despertar dos
processos internos do desenvolvimento, que se faz importante no contado com
os indivíduos para ocorrer esses processos, por exemplo, se um individuo vive
em um grupo social onde a língua é o inglês e ao se descolar para um outro
46
grupo social onde a língua é o português, ele estará passando pelo processo de
aprendizado dessa nova língua, despertando e alterando o seu desenvolvimento
interno, deixando claro que o aprendizado promove o desenvolvimento do
sujeito e sua relação o ambiente sociocultural. A relação entre os indivíduos e
importância das trocas sociais é muito enfatizada por Vygotski, então ele
formulou um conceito de Zona do Desenvolvimento Proximal.
Vygotski classificou o desenvolvimento dos sujeitos buscando
esclarecer melhor as relações de inter-relação. O Primeiro nível de classificação
denominou de desenvolvimento real, ou seja, são as atividades que a criança
consegue desenvolver sem nenhum tipo de ajuda, ou seja, de forma
independente. Neste processo não ocorre a intervenção do adulto. Para
Vygotski são resultados de processos de desenvolvimento consolidados.
O segundo nível é classificado por Vygotski como desenvolvimento
potencial, que são atividades onde a criança necessita da intervenção ou
colaboração de um adulto para conseguir realiza-la. Quando há uma
intervenção do outro durante a ação, afeta significativamente o resultado da
ação individual.
A distância entre o que a criança já é capaz de fazer de forma autônoma
e aquilo que ela realiza com a intervenção de um indivíduo mais experiente
caracterizou-se de zona de desenvolvimento potencial ou proximal.
"A Zona de Desenvolvimento Proximal define aquelas funções que ainda
não amadureceram, mas que estão em processo de maturação, funções que
47
amadurecerão, mas que estão, presentemente, em estado embrionário"
(VYGOTSKY. 1984, p. 97), ou seja, a Zona de Desenvolvimento Proximal é o
percurso que o sujeito terá que percorrer para desenvolver as funções que estão
em amadurecimento(desenvolvimento potencial) e que posteriormente serão
funções consolidas(desenvolvimento real).
Segundo Vygotski a interação social é importante no processo de
construção das funções psicológicas humanas. O sujeito de desenvolve
individualmente num ambiente social e nas relações com outros sujeitos. O
contato entre os indivíduos, as intervenções e as trocas de experiências
permitem que os mesmos constituam-se enquanto sujeitos que são capazes de
pensar a realidade e transformá-la, os sujeitos que possuem mais experiências
contribuem no processo de desenvolvimento daqueles que ainda são imaturos.
Durante seus estudos Vygotski desenvolveu varias ideias a respeito dos
processos de construção de funções psicológicas superiores dos sujeitos, essas
ideias envolviam a presença do jogo, da fantasia, da brincadeira e como essas
atividades lúdicas estão ligadas no processo das interações sociais na
constituição do indivíduo. Nesse sentido, a escola é um lugar onde vários
indivíduos se encontram num mesmo ambiente e tem a oportunidade de trocar
relações, tem a função da construção e de instruir os sujeitos. O aprendizado é
parte integrante da escola e ele é o grande impulsionador do desenvolvimento,
porém é necessário que a escola reconheça os alunos adequadamente para
conseguir realizar o seu trabalho de forma gratificante no intuito de auxiliar os
48
alunos nas conquistas de novas possibilidades de novos estágios do
desenvolvimento.
A escola busca estabelecer o processo de ensino aprendizagem por meio
de atividades mediadas por professores no qual faz interferências na zona de
desenvolvimento proximal para que ela consiga avançar na compreensão de
mundo.
Ludicidade: jogos, brinquedos e brincadeiras para promoção da
aprendizagem
A ludicidade está presente diariamente nas salas de Educação Infantil,
os jogos e as brincadeiras se tornaram parte fundamental e essencial para a
infância, sendo um direito adquirido, mas nem todas as crianças tem acesso. Ser
criança pressupõe-se uma fase para brincadeiras, descobertas do mundo e
aprendizagem para o desenvolvimento, alicerçada à segurança, à alimentação
de qualidade, à educação e à saúde. Tal realidade não se aplica a todas as
crianças, por diversas questões sociais e econômicas.
A presença da ludicidade na história humana é constante, desde que
existimos somos seres lúdicos. Ainda, como afirma Huizinga (1996, s/p) “seria
mais ou menos óbvio, mas também um pouco fácil, considerar ‘jogo’ toda e
49
qualquer atividade humana”, ou seja, a ludicidade faz parte da história do
homem, sendo constituinte de sua identidade, história e cultura. Os jogos e as
brincadeiras fazem parte da história do homem desde seus primórdios.
Estudar a história humana é, também, um estudo da ludicidade. Os jogos
e as brincadeiras não são inatos ao ser humano e sim desenvolvido entre eles:
A criança está inserida, desde o seu nascimento, num contexto social e
seus comportamentos estão impregnados por essa imersão inevitável. Não
existe na criança uma brincadeira natural. A brincadeira é um processo de
relações interindividuais, portanto de cultura. É preciso partir dos elementos
que ela vai encontrar em seu ambiente imediato, em parte estruturado por seu
meio, para se adaptar às suas capacidades. A brincadeira pressupõe uma
aprendizagem social. Aprende-se a brincar. A brincadeira não é inata, pelo
menos nas formas que ela adquire junto ao homem. A criança pequena é
iniciada na brincadeira por pessoas que cuidem dela, particularmente sua mãe.
(BROUGÈRE, 2010, p. 104).
Ludicidade são atividades livres com as quais a criança tem a
possibilidade de escolher o que ela quer fazer. A ludicidade surgiu muito antes
da cultura, como cita Huizinga (1996, p. 03) “o jogo é fato mais antigo que a
cultura, pois esta, mesmo em suas definições menos rigorosas, pressupõe
sempre a sociedade humana; mas, os animais não esperaram que os homens os
iniciassem na atividade lúdica”.
50
Os jogos e as brincadeiras tem por característica a liberdade de escolha
da criança, sendo voluntário e não imposto (HUIZINGA, 1996; BROUGÈRE,
2010). Os autores dissertam que:
Chegamos, assim, à primeira das características fundamentais do jogo: o
fato de ser livre, de ser ele próprio liberdade. Uma segunda característica,
intimamente ligada à primeira, é que o jogo não é vida "corrente" nem vida
"real". Pelo contrário, trata- se de uma evasão da vida "real" para uma esfera
temporária de atividade com orientação própria. Toda criança sabe
perfeitamente quando está "só fazendo de conta" ou quando está "só brincando".
(HUIZINGA, 1996, p. 11, grifos nosso).
A brincadeira é, antes de tudo, uma confrontação com a cultura. Na
brincadeira, a criança se relaciona com conteúdos culturais que ela reproduz e
transforma, dos quais ela se apropria e lhes dá uma significação. A brincadeira
é entrada na cultura, numa cultura particular, tal como ela existe num dado
momento, mas com todo seu peso histórico. [...] A apropriação do mundo
exterior passa por transformações, por modificações, por adaptações, para se
transformar numa brincadeira: é liberdade de iniciativa e de desdobramento
daquele que brinca, sem a qual não existe a verdadeira brincadeira.
(BROUGÈRE, 2010, p. 82, grifo nosso).
Ainda conceituando, Brougère (2010), diferencia o jogo da brincadeira
afirmando que o primeiro é uma atividade tanto de adultos quanto de crianças
e o segundo é estritamente da criança. Jogos como xadrez e futebol podem ser
51
jogados por qualquer faixa etária que deseja e tenha condições de participar,
mas a brincadeira denota a infância, quando chegamos à idade adulta não nos
permitimos mais brincar, é denominado “atividade de criança”.
Ainda sobre o jogo, o autor complementa:
Aquilo que é chamado de jogo (jogos de sociedade, de construção, de
habilidades, jogos eletrônicos ou de vídeo...) pressupõe a presença de uma
função como determinante no interesse do objeto e anterior a seu uso legítimo:
trata-se de regra para um jogo de sociedade ou do princípio de construção
(encaixe, montagem) para as peças de um jogo de construção. [...] É claro que
os jogos de sociedade não são puras expressões dos princípios lúdicos mas, após
o Monopólio, são cada vez mais a representação de um aspecto da vida social,
pelo menos quando não se referem a um universo imaginário. (BROUGÈRE,
2010, 13, grifo nosso).
A ludicidade é a forma da criança de aprender e se desenvolver, de se
apropriar da cultura que a cerca de forma prazerosa, para que desperte o seu
interesse. Para tanto, as atividades lúdicas não deve ser impostas, se assim for,
perde sua principal característica, a liberdade de escolha, e o propósito de uma
atividade baseada em seu interesse.
Atualmente, na Educação Infantil, a ludicidade sofre um dilema, nem
sempre é entendida, muitas vezes vista apenas como uma atividade criativa,
com cores, desenvolvida para a criança passar o tempo. O principio básico de
liberdade se perde. O planejamento que o docente deve seguir diariamente
52
limita esse momento, é, muitas vezes, cobrado deles as atividades feitas por
todas as crianças para que seja entregue para os pais, então, a criança tem pouca
escolha do que deseja ou não fazer.
Como já citado a ludicidade não se restringe apenas aos jogos e as
brincadeiras da infância, mas toda atividade livre que proporcione momentos
de prazer acompanhado de aprendizagem, para que ela tenha a oportunidade de
socializar com seus pares, uma vez que, as atividades lúdicas mexem tanto com
o físico quanto com o emocional da criança, movimento e sentimentos
caminham juntos.
O ato de brincar, nem sempre, precisa ser em conjunto com outras
crianças. O brincar sozinho, sentar em um canto da sala com um brinquedo, não
demonstra isolamento imposto e sim, a busca de um momento para si, tal qual
nós adultos, em algum momento, precisamos.
Outra característica a ser citada dos jogos e das brincadeiras é o foco no
processo e não no resultado. Em ambos os casos não se busca um resultado
final, não sendo o principal objetivo deles, e sim as vivências e experiências
adquiridas ao longo do ato de jogar e brincar, a apropriação cultural e simbólica,
imaginação e criatividade.
O circulo humano e o ambiente formado pelos objetos contribui para a
socialização da criança e isso através de múltiplas interações, dentre as quais
algumas tomam a forma de brincadeira ou, pelo menos de um comportamento
reconhecido como tal pelo adulto. Esse comportamento pode ser identificado
53
como brincadeira na medida em que não se origina de nenhuma obrigação senão
daquela que é livremente consentida, não precedendo buscar nenhum resultado
além do prazer que a atividade proporciona. A brincadeira aparece como a
atividade que permite à criança apropriação dos códigos culturais e seu papel
de socialização foi, muitas vezes, destacado. (BROUGÈRE, 2010, p. 65, grifo
nosso).
Abordar a brincadeira na Educação Infantil é mais complexo do que
aparenta, muitas vezes vista como uma atividade para o fim do dia letivo, para
passar o tempo entre uma atividade pedagógica e outra ou a saída, não sendo
devidamente valorizado na rotina. Brougère (2010) afirma que nenhum estudo
até o presente momento pode comprovar os benefícios que ela traz para a
criança e sua aprendizagem. Moyles (2010) argumenta que, mesmo não tendo
nada certo, podemos afirmar que, pelo menos, a brincadeira mantem a criança
em movimento.
O brinquedo e a brincadeira são resultados do meio social e cultural que
a criança está inserida, sendo essa outra característica sua:
Toda a sociedade pressupõe apropriação da cultura, de uma cultura
compartilhada por toda sociedade ou parte dela. A impregnação cultural, ou
seja, o mecanismo pelo qual a criança dispõe de elementos dessa cultura, passa,
entre outras coisas, pela confrontação com imagens, com representações, com
formas diversas e variadas. Essas imagens traduzem a realidade que a cerca ou
propõem universos imaginários. Cada cultura dispõe de um “banco de imagens”
54
consideradas como expressivas dentro de um espaço cultural. É com essas
imagens que a criança poderá se expressar, é com referência a elas que a criança
poderá captar novas produções. (BROUGÈRE, 2010, 41).
Assim, a brincadeira além de proporcionar momentos de socialização
entre outras crianças, adultos, também proporciona momentos de relação com
a cultura e as práticas sociais. O brinquedo possui valor simbólico para a
criança, muitas vezes remetendo a algo que ela conhece, como desenhos, jogos
e filmes, que atualmente influi diretamente na brincadeira infantil.
A brincadeira por si pode ser considerada universal, a criança vai brincar
estando em um meio social, se relacionando com outros sujeitos, o modo como
brinca, com o que brinca e do que brinca modifica-se culturalmente. A cultura
é um fator determinante na concepção do brinquedo e da brincadeira.
Consequentemente, embora a impregnação cultural passe pela
brincadeira, não se deve entender isso como uma simples impregnação dos
conteúdos simbólicos do brinquedo. Trata-se de um processo dinâmico de
inserção cultural sendo, ao mesmo tempo, imersão em conteúdos preexistentes
e apropriação ativa. (BROUGÈRE, 2010, p. 51).
A partir disso, entende-se a importância tanto dos jogos quanto das
brincadeiras para a criança, já que é nos primeiros anos que elas se apropriam
da cultura ao seu redor, é na infância que ela é introduzida socialmente,
55
desenvolvendo a linguagem e seu comunicando com outros. “A brincadeira
aparece como a atividade que permite à criança a apropriação dos códigos
culturais e seu papel na socialização foi, muitas vezes, descartado”.
(BROUGÈRE, 2010, p. 65).
Historicamente os jogos e as brincadeiras são vistos como atividades
sem valor, apenas recreativo, esse pensamento até hoje permanece,
“antigamente, a brincadeira era considerada, quase sempre, como fútil, ou
melhor, tendo como única utilidade a distração, o recreio (daí o papel delegado
à recreação) e, na pior das hipóteses, julgavam-na nefasta”. (BROUGÈRE,
2010, p. 96).
Os estudos sobre essa área temática vêm desmistificando essa ideia
baseada puramente em senso comum, de que não há valor pedagógico nenhum
nela. Ainda, Brougère (2010) disserta sobre as incertezas quando se trabalha
com as atividades lúdicas, sendo elas especificamente jogos e brincadeiras.
A defesa pela valorização da infância e seu direito de ser vivida começa
com a luta pelo brincar para as crianças. Em um país que mais de três milhões
de crianças e adolescentes trabalham5, sendo uma realidade que mostra a
desigualdade presente no Brasil, à brincadeira é vista como perda de tempo. O
trabalho infantil não prejudica apenas o direito a brincadeira, ao lazer das
crianças, mas, também, a educação e o descanso necessário, colocando-as em
perigo, trabalhando em condições insalubres. Compreender a importância da
56
ludicidade, lutar pelo direito a infância e a Educação Infantil vem como uma
forma de tentar minimizar as desigualdades que tanto prejudica a infância.
Considerações Finais
Considera-se a partir desse estudo que toda criança possui a necessidade
de descobrir o mundo por meio da brincadeira, dos jogos e das atividades de
liberdade que proporcionam prazer a elas, pois se sentem livres quando podem
usar sua imaginação simbólica, expressar suas fantasias, emoções, desejos e
experiências, é por meio destes instrumentos que elas entram em contato e
assimilam o real do imaginário, realizando um contato com o meio social.
As crianças se desenvolvem nas relações sociais, elas aprendem para
depois se desenvolverem, o tempo que ela permanece na zona de
desenvolvimento retratada por Vygotski é muito importante e deve ser
respeitado. Toda criança tem o direito de ser criança e deve ser exigido aquilo
que proporciona cuidado e bem estar social, pois nos séculos passados foram
tratadas durante muito tempo como sujeitos sem voz, como um adulto em
miniatura e não tinham direito algum. Felizmente, hoje existem leis que
reconhecem o que é infância e os verdadeiros direitos das crianças, cabe a
família e ao Estado zelar e firmar esses direitos.
57
Os professores devem valorizar o brincar na Educação Infantil, pois é
por meio dele que as crianças vão internalizar diversas situações presentes no
meio em que estão inseridas. Muitas vezes o professor (a) não tem facilidade
em desenvolver um conteúdo com as crianças, não se sente motivado, portanto
se repensar na sua forma de ensinar ele irá perceber que necessitará de
atividades que vão além do papel, do computador ou do lápis.
Assim, conclui-se que a ludicidade é relevante na educação para infância
por proporcionar momentos de socialização entre as crianças, pois se
relacionam com o meio social e cultural, a partir dos jogos e das brincadeiras
eles se apropriam das regras sociais, se relacionam com instrumentos e signos
que medeiam à aprendizagem para o seu desenvolvimento. A ludicidade
permite que a criança tenha voz na escolha das atividades que deseja fazer,
tornando-a mais prazerosa e significativa, porém na escola cabe ao professor
acompanha-las e motiva-las.
58
MÓDULO V - O LÚDICO E A ALFABETIZAÇÃO: A IMPORTÂNCIA
DAS ATIVIDADES LÚDICAS NAS PRÁTICAS EDUCATIVAS DO
ENSINO INFANTIL5 - ESTUDO DE CASO
Autora: Vanderléia Moreira Barrozo
O LÚDICO E A ALFABETIZAÇAO: A IMPORTANCIA DAS
ATIVIDADES LÚDICAS NAS PRÁTICAS EDUCATIVAS DO ENSINO
INFANTIL
O brincar é uma atividade espontânea e natural da criança e é benéfico
por estar centrado no prazer, desperta emoções e sensações de bem estar,
libertar das angustias e funciona como escape para emoções negativas ajudando
a criança a lidar com esses sentimentos que fazem parte da vida cotidiana.
5
Módulo V – reprodução total - O LÚDICO E A ALFABETIZAÇÃO: A IMPORTÂNCIA DAS
ATIVIDADES LÚDICAS NAS PRÁTICAS EDUCATIVAS DO ENSINO INFANTIL – Autor:
Vanderléia Moreira Barrozo - Trabalho de Conclusão de Curso de Pós-Graduação em Psicopedagogia,
apresentado como requisito para aprovação à Universidade Metropolitana de Santos – UNIMES, sob a
orientação da Profª Sandra Tarricone. – Disponível em: http://br.monografias.com/trabalhos3/ludico-
alfabetizacao-importancia-atividades-educativas/ludico-alfabetizacao-importancia-atividades-
educativas2.shtml
59
Brincando a criança aprende a lidar com o mundo e forma sua personalidade e
experimenta sentimentos básicos como o amor e o medo.
A brincadeira tem sido comumente apontada como espaço privilegiado
do desenvolvimento da criança. Deste modo, considera-se que ela deve ocupar
lugar de destaque na educação infantil. Porém, na realidade o que muitas vezes
acontece e que acaba cedendo espaço para outras atividades pelo educador
como sendo mais importantes do ponto de vista pedagógico.
Bem sabemos o quanto é difícil ser educador no mundo contemporâneo.
Muitos educadores estão marcados pela ansiedade, pelo medo, pela
desvalorização da profissão, pelo baixo-salario, alunos desinteressados e não
respectivos a aprendizagem, onde não se interessam pelo aprendizado de uma
forma em geral.
O aluno não se sente motivado em aprender, não considera interessante
mais o livro didático, a lousa e o caderno. Cada vez mais cedo as crianças
entram em contato com os recursos tecnológicos, passando horas sentadas a
frente do videogame, da televisão e do computador.
Sabe-se que o computador é um instrumento de aprendizagem e um
ótimo recurso pedagógico e se utilizado adequadamente passa a ser um
instrumento eficaz e auxiliador na educação. Mas é preciso enfatizar a
importância de brincar e criar para criança.
60
Atualmente as crianças possuem tanto compromisso como balé,
capoeira, natação, aula de computação, de inglês, de música, espanhol, onde
não sobra tempo para ser criança e brincar. E nesse ritmo de atribuir muitas
responsabilidades cedo demais para as crianças, vai-se imprimindo nelas uma
carga de responsabilidades que ocasionará possivelmente o stress.
Por isso que atualmente, vemos tantas crianças com dificuldades de
aprendizagem e de assimilar o conteúdo transmitido, com problemas
emocionais, não brincam, não conseguem ser criativas e apresentam "mau
comportamento" em sala de aula.
A educação por sua vez esta em constante aperfeiçoamento buscando
subsídios para tornar o ato de aprender prazeroso e significativo. E a busca por
novas metodologias para melhorar o resultado do ensino-aprendizagem inquieta
muitos educadores pelo fato de verem tantos alunos desinteressados em sala de
aula.
Muitos projetos, tantas teorias, busca por uma metodologia melhor e
mais adequada, umas que são criadas e outras que são renovadas e mesmo assim
os professores continuam insatisfeitos com os resultados e os alunos não se
sentem atraídos pela aprendizagem.
Nesse contexto entra a ludicidade, que pode contribuir de forma
significativa para o desenvolvimento do ser humano, facilitando no processo de
61
socialização, de comunicação, de expressão, na construção do pensamento,
além de auxiliar na aprendizagem.
Vygostsky atribui importante papel do ato de brincar na constituição do
pensamento infantil. Segundo ele, através da brincadeira o educando reproduz
o discurso externo e o internaliza, construindo seu pensamento. "A brincadeira
e a aprendizagem não podem ser consideradas como ações com objetivos
distintos. O jogo e a brincadeira são por si só, uma situação de aprendizagem.
As regras e a imaginação favorecem a criança comportamento alem dos
habituais. Nos jogos e brincadeiras a criança age como se fosse maior que a
realidade, é isto inegavelmente contribui de forma intensa e especial para o seu
desenvolvimento. (QUEIROS, MARTINS apud VYGOSTSKY, 2002, p.6.)
Os alunos de hoje desejam uma educação prazerosa e significativa.
Sendo muitas vezes mais interessantes para eles ficarem sentados horas a frente
da televisão, do videogame e do computador. Com isso, trazem para sala de
aula essa frustração e a desmotivação.
Como o eixo epistemológico do construtivismo defende a aprendizagem
dinâmica e prazerosa, desta forma porque não aproveitar as atividades lúdicas
como ferramenta de aprendizagem.
Winnicott (2008) enfatiza a importância de brincar e de criar para a
criança, principalmente nos primeiros anos de vida na construção da identidade
62
pessoal. Para ele a escola tem por obrigação ajudar a criança completar a
transição do modo mais agradável possível, respeitando o direito de devanear,
imaginar, brincar.
Para muitos o brincar é tidos como mero passatempo, mas são atividades
fundamentais para a construção de conhecimentos sobre o mundo.
O lúdico é uma linguagem natural da criança, por isso torna-se
importante sua presença na escola desde a educação infantil.
Através da brincadeira as crianças recriam, repensam, imitam,
experimentam os acontecimentos que lhes deram origem. Favorecendo a
autoestima, auxiliando no processo de interação com si mesmo e com o outro,
desenvolvem a imaginação, a criatividade, a capacidade motora e o raciocínio.
Segundo Chateau não é possível que se pense em infância sem pensar
em brincadeiras e o prazer que as acompanham. Uma criança que em sua
infância é privada do brincar futuramente poderá se tornar um adulto com
dificuldades para pensar (CHATEAU, 1987).
Como sentido da vida de uma criança é o brincar, as brincadeiras e os
jogos podem e devem ser utilizados como ferramenta importante na educação.
Seria um equivoco dizer que o lúdico na aprendizagem por si só irá sanar
os problemas de aprendizagem, emocionais e de mau comportamento na
educação, a intenção é mostrar que é um meio de auxiliar a aprendizagem,
63
servindo como subsidio importante para se transmitir os conteúdos conceituais,
procedimentais e atitudiais. De acordo com Martins (2002), "se a vida é um
jogo e o jogo pode se transformar em brincadeira, por que não viver brincando
e aprender com a brincadeira?""
O Lúdico na perspectiva dos teóricos
Para a realização deste trabalho constatei que expressivos teóricos
destacam à importância de se trabalhar com o lúdico. Afirmam que o lúdico
pode contribuir de forma significativa para o desenvolvimento do ser humano
não só na aprendizagem, mas também no desenvolvimento social, pessoal e
cultural, facilitando no processo de socialização, comunicação, expressão e
construção do pensamento.
Os renomados autores não indicam que o lúdico é a fórmula mágica que
irá sanar todos os problemas de aprendizagem, nem muito menos que se deve
substituir a educação tradicional pelo lúdico. Mas vêem no lúdico uma
alternativa importantíssima para a melhoria no intercambio ensino-
aprendizagem e uma ponte que certamente auxiliará na melhoria dos resultados
por partes dos educadores interessados em promover mudanças.
De acordo com Zacharias (2007), Froebel:
64
Foi o primeiro educador a enfatizar o brinquedo, a atividade lúdica, a
apreender o significado da família nas relações humanas. Idealizou recursos
sistematizados para as crianças se expressarem: blocos de construção que eram
utilizados pelas crianças em suas atividades criadoras, papel, papelão, argila e
serragem. O desenho e as atividades que envolvem o movimento e os ritmos
eram muito importantes. Para a criança se conhecer, o primeiro passo seria
chamar a atenção para os membros de seu próprio corpo, para depois chegar
aos movimentos das partes do corpo. Valorizava também a utilização de
histórias, mitos, lendas, contos de fadas e fábulas, assim como as excursões e o
contato com a natureza.
Para Froebel "o jogo é o espelho da vida e o suporte da aprendizagem",
tendo sido um dos primeiros educadores a utilizá-lo na educação de crianças,
criou materiais diversos, que conferiram ao jogo uma dimensão educativa. Para
ele é pelo meio do brinquedo que a criança adquire a primeira representação do
mundo. Sendo que a educação mais eficiente é aquela que proporciona
atividades, auto expressão e participação social às crianças. Ele afirma que a
escola deve considerar a criança como atividade criadora e despertar, mediante
estímulos, as suas faculdades próprias para a criação produtiva. Sendo assim, o
educador deve fazer do lúdico uma arte, um instrumento para promover a
facilitar a educação da criança. A melhor forma de conduzir a criança à
atividade, à auto expressão e à socialização seria através do método lúdico.
65
Brincar é uma das atividades fundamentais para o desenvolvimento da
identidade e da autonomia. O fato de a criança, desde muito cedo poder se
comunicar por meio de gestos, sons e mais tarde, representar determinado papel
na brincadeira, faz com que ela desenvolva a sua imaginação. Nas brincadeiras,
as crianças podem desenvolver algumas capacidades importantes, tais como, a
atenção, a imitação, a memória e a imaginação. Amadurecem também algumas
capacidades de socialização por meio da interação, da utilização e da
experimentação de regras e papéis sociais (Lopes, 2006, p. 110).
Segundo Rousseau (1968), as crianças têm maneira de ver, sentir e
pensar que lhe são próprias e só aprendem através da conquista ativa, ou seja,
quando elas participam de um processo que corresponde à sua alegria natural.
Já Dewey (1952), pensador norte-americano, afirma que o jogo faz o
ambiente natural da criança, ao passo que as referências abstratas e remotas não
correspondem ao interesse da criança. Em suas palavras: somente no ambiente
natural da criança é que ela poderá ter um desenvolvimento seguro.
Vygostsky atribui importante papel do ato de brincar na constituição do
pensamento infantil.
Segundo ele, através da brincadeira o educando reproduz o discurso
externo e o internaliza, construindo seu pensamento. "A brincadeira e a
aprendizagem não podem ser consideradas como ações com objetivos distintos.
O jogo e a brincadeira são, por si só, uma situação de aprendizagem. As regras
e a imaginação favorecem a criança comportamento alem dos habituais. Nos
66
jogos e brincadeiras a criança age como se fosse maior que a realidade, é isto
inegavelmente contribui de forma intensa e especial para o seu
desenvolvimento. (VYGOSTSKY apud QUEIROS, MARTINS, 2002,p.6.)
Conforme Macedo, Petty e Passos (2005, p. 13-14):
O brincar é fundamental para o nosso desenvolvimento. É a principal
atividade das crianças quando não estão dedicadas às suas necessidades de
sobrevivência (repouso, alimentação, etc.). Todas as crianças brincam se não
estão cansadas, doentes ou impedidas. Brincar é envolvente, interessante e
informativo. Envolvente porque coloca a criança em um contexto de interação
em que suas atividades físicas e fantasiosas, bem como os objetos que servem
de projeção ou suporte delas, fazem parte de um mesmo contínuo topológico.
Interessante porque canaliza, orienta, organiza as energias da criança, dando-
lhes forma de atividade ou ocupação. Informativo porque, nesse contexto, ela
pode aprender sobre as características dos objetos, os conteúdos pensados ou
imaginados.
Estes e outros autores destacados relatam à importância do lúdico
associado à aprendizagem. Desta forma, entendemos que a verdadeira
aprendizagem não se faz apenas copiando do quadro ou prestando atenção ao
professor, mas sim no brincar, muitas vezes, acrescenta ao currículo escolar
uma maior vivacidade de situações que ampliam as possibilidades de a criança
aprender e construir o conhecimento. O brincar permite que o aluno tenha mais
liberdade de pensar e de criar para desenvolver-se plenamente.
67
1.2 Direito de brincar: o lúdico na legislação brasileira
O ato de brincar é tão importante para a criança que se tornou um direito
garantido na Declaração Universal dos Diretos da Criança, onde no quarto deixa
claro que criança terá direito a alimentação, recreação e assistência médica
adequadas. Estabelecendo de forma igualitária que a recreação é tão importante
quanto à alimentação e a saúde para a criança. Sendo assim, o brincar é muito
importante no processo de desenvolvimento da criança.
No sétimo principio é estabelecido que a criança deva ter plena
oportunidade para brincar e para se dedicar a atividades recreativas, que devem
ser orientados para os mesmos objetivos da educação. Sendo a sociedade e as
autoridades públicas responsáveis para promoção destes direitos.
No Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) no seu artigo segundo
é considerado criança, para os efeitos desta Lei, a pessoa até doze anos de idade
incompletos, e adolescentes aquela entre doze e dezoito anos de idade. Sendo
assim, no artigo dezesseis a criança tem direito à liberdade, onde compreende
alguns aspectos, entre eles o inciso quarto, que é o de brincar, praticar esportes
e divertir-se. E no artigo cinqüenta e nove cabe aos municípios, juntamente com
apoio dos estados e da União, estimular e facilitar a destinação de recursos e
68
espaços para programações culturais, esportivas e de lazer voltadas para a
infância e a juventude.
O Referencial Curricular Nacional para a Educação afirma que:
Brincar é um das atividades fundamentais para o desenvolvimento da
identidade e da autonomia da criança, desde muito cedo, pode se comunicar por
meio de gestos, sons e mais tarde ter determinado papel na brincadeira faz com
que ela desenvolva sua imaginação... A fantasia e a imaginação são elementos
fundamentais para que a criança aprenda mais sobre a relação entre pessoas.
(REFERENCIAL CURRICULAR NACIONAL PARA A EDUCAÇAO
INFANTIL, vol. 2, p. 22)
Como visto o direito de brincar é uma questão legal e reconhecida por
lei. Mas infelizmente muitas crianças não brincam, outras brincam, mas pouco
e as razões desse não brincar se manifesta de diversas formas.
Algumas crianças são privadas do seu direito de brincar por
apresentarem deficiência física ou mental, por estarem hospitalizadas, por
terem que trabalhar e ajudar no sustento de seus lares.
A ausência do brinquedo, entretanto, não as impede de brincar, pois elas
usam a imaginação. Contudo, sabemos que o brinquedo é um suporte material
que facilita o ato de brincar.
Assim, conclui-se que ao falar da importância do brincar, o respaldo não
esta garantido apenas com os subsídios dos renomados autores e como
69
subsídios psicopedagógicos, mas juridicamente também. Sendo assim direito
da criança, deve ser promovido pelos educadores também.
O EDUCADOR E O LÚDICO
Sair da rotina
Buscar o novo
O caminho percorrido por outrem
Experimentar o diferente...
Esta a magia do humano
Perseguir a transformação
Permanente...
O Agora nunca é o mesmo, ainda que eterno...
Educar será sempre preparar para o amanhã
Levar o jovem a andar com as próprias pernas
Sem medo de errar...
Que significa caminhar...
Assim, inovar em educação
É estar ciente de que "nunca entramos duas vezes numa mesma escola"
Como diria Heráclito
70
Até porque a criança de hoje já não é a mesma...
(ESPÍRITO SANTO,2002,p.75-76)
Ainda hoje encontramos professores que pensam que "hora de brincar"
é hora de brincar e "hora de estudar" é hora de estudar. E relatam que após o
término das atividades disponibilizam um momento para que seus alunos
brinquem ou outros que seus alunos já brincam durante as aulas de Educação
Física.
De acordo com Brougère (2010) "sob o olhar de um educador atencioso,
as brincadeiras infantis revelam um conteúdo riquíssimo, que pode ser usado
para estimular o aprendizado. Segundo o filosofo "ninguém nasce sabendo
brincar. É preciso aprender". E o professor pode enriquecer essa experiência.
Mas esta não é a questão: o que se deseja é que a aprendizagem seja englobada
ao lúdico e vice-versa. Que esta interação entre a atividade lúdica e a prática
educativa resgate o interesse, o prazer, o entusiasmo pelo ato de aprender.
Bem sabemos que por meio do brincar livre a criança aprende,
interagem, exploram, experimentam, imitam, mas através do brincar dirigido,
elas também aprendem, mas com outra dimensão e uma nova variedade de
possibilidades, estendendo-se a um relativo domínio dentro daquela área ou
atividade.
71
Segundo Freire (2002) "ensinar não é transferir conhecimento, mas criar
as possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção." Assim o
professor pode ter um meio através do lúdico de proporcionar essa construção
e a produção do conhecimento pelas crianças.
Na escola a criança tem a possibilidade de combinar os jogos de livre
escolha com os jogos organizados. Por isso, o professor na questão do lúdico é
de suma importância, pois ele não será somente alguém que transmite
conhecimento, mas quem diretamente influenciar a personalidade da criança.
Novas tarefas passaram a ser colocadas a escola e novas tarefas
igualmente se apresentam aos professores. Hoje, mais do que nunca, os
professores precisam ser competentes ao extremo.
E isso representa rever suas metodologias e abrir espaço para novas
formas de ensinar e novas maneiras de aprender.
Ser educador em tempos de mudança educacionais é uma tarefa árdua,
pois estamos marcados pela ansiedade, medo, resistência e ao mesmo tempo
esperança. Navega-se sem bússola em caminhos desconhecidos e só tem uma
saída: a formação continuada, para que possam se atualizar constantemente de
forma a se manter na vanguarda dos processos inovadores da área educacional.
Atualmente a educação exige que os educadores sejam multifuncionais, não
apenas educadores, mas psicólogos, pedagogos, filósofos, sociólogos,
psicopedagogos, recepcionistas e muito mais para que possa desenvolver as
72
habilidades e a confiança necessária nos educandos, para que tenham sucesso
no processo de aprendizagem e na vida (MARTINS, QUEIROZ, 2002, p.5).
Cabe ao professor criar situações adequadas para provocar curiosidade
na criança e estimular a construção de seu conhecimento. O aspecto criativo do
professor em sala de aula é fundamental:
O professor deve atuar como alguém que entende essa importância e,
consequentemente, dedica tempo para a brincadeira diariamente dentro da
escola. Mas que os brinquedos não devem servir na sala de aula como um
instrumento para se preencherem os espaços vazios, mas sim "a idéia é de fazer
da brincadeira um objeto de estudo para conhecer mais o aluno e os processos
de desenvolvimento em que ele se encontra (VITÓRIA, 2005, p.32).
Lúdico e a aprendizagem: o papel do lúdico como instrumento
facilitador no ensino aprendizagem
Brincando as crianças conhecem a si própria e aos outros em relação
recíproca, para aprender as diferenças sociais e seus comportamentos, os
hábitos determinados pela a cultura, para conhecer e identificar os objetos e
seus contextos, ou seja, o uso cultural dos objetivos para desenvolver a
linguagem e a narrativa, para trabalhar com o imaginário, para conhecer os
eventos e fenômenos que ocorrem a sua volta. "A criança precisa brincar,
73
inventar, jogar, para crescer e manter o seu equilíbrio com o mundo." (RALLO,
1993, p.11.)
As funções da brincadeira e permitir a criança o do movimento se
relacionar com o outro, explorar o espaço situando-se nele, como os objetos e
o próprio corpo. As brincadeiras têm como intuito de promover uma educação
diferenciada, uma educação capaz de encarar a ludicidade como um fator
motivador, facilitador da aprendizagem cognitiva, afetiva e psicomotora dos
educando, tornando-se seres pensantes, dotados de emoções e sentimentos
interagindo todo o tempo com o social.
Para SILVA JUNIOR (2005) o brincar é a forma mais fácil e real para
se estabelecer relações afetivas com a criança. É um meio para transmitir
segurança e confiança para que a sua introdução no processo de escolarização
seja saudável e prazerosa, sem sofrimentos e culpas.
Onde a atividade lúdica revela-se como um instrumento facilitador da
aprendizagem, pois possui valor educacional intrínseco, criando condições para
que a criança explore interaja com seus companheiros e resolva situações
problemas. É visto também como um recurso no processo de ensino-
aprendizagem, tornado o mais fácil, enriquece a dinâmica das relações na sala
de aula e possibilita um fortalecimento da relação entre o ser que ensina e o ser
que aprende. "A todo o momento, o professor devera tomar consciência da
timidez, liderança, criatividade, inteligência dos alunos. "" (SILVA JUNIOR,
2005, p. 17).
74
Assim sendo, a vivência de situações concretas com jogos diversos e
múltiplas atividades que favoreçam a construção de um ambiente alfabetizado.
A verdadeira aprendizagem não se faz apenas copiando do quadro ou
prestando atenção ao professor, mas sim no brincar, muitas vezes, acrescenta
ao currículo escolar uma maior vivacidade de situações que ampliam as
possibilidades de a criança aprender e construir o conhecimento. O brincar
permite que o aprendiz tenha mais liberdade de pensar e de criar para
desenvolver-se plenamente.
Aléxis Leontiev (1988) afirma que é na atividade lúdica que o educando
desenvolve sua habilidade de subordinar-se a uma regra, mesmo quando um
estimulo direto o impede a fazer algo diferente. "Dominar as regras significa
dominar seu próprio comportamento, aprendendo a controlá-lo, aprendendo a
subordiná-lo a um propósito definitivo". (LEONTIEV apud QUEIROS;
MARTINS, 2006, p.7)
O brincar é visto como uma proposta criativa e recreativa de caráter
físico ou mental, permitindo assim ao educando criar, imaginar, fazer de conta,
funcionar como laboratório de aprendizagem.
O jogo e suas características
75
O jogo, em seu sentido integral, é o mais eficiente meio estimulador das
inteligências.
O espaço do jogo permite que a criança (e até mesmo o adulto) realize
tudo quanto deseja. Quando entretido em um jogo, o individuo é quem quer ser,
ordena o que quer ordenar, decide sem restrições. Graças a ele, pode obter a
satisfação simbólica do desejo de ser grande, do anseio em ser livre.
Socialmente o jogo impõe o controle dos impulsos, a aceitação das regras, mas
sem que se aliene a elas, posto que sejam as mesmas estabelecidas pelos jogos
e não impostas por qualquer estrutura alienante.
Brincando com sua especialidade, a criança se envolve na fantasia e
constrói um atalho entre o mundo inconsciente, onde desejava viver, e o mundo
real, onde precisa conviver. "É o brinquedo, como, todo material didático da
escola, que proporciona condições favoráveis ao desenvolvimento sócio
emocional, cognitivo e afetivo das crianças." (PEREIRA, 2002, p.108).
Ainda que separado os jogos por faixa etária, existem expressivas
diferenças entre os jogos para crianças não alfabetizadas e crianças que se
alfabetizam.
Para as crianças não alfabetizadas ainda, os jogos devem ser vistos como
leituras da realidade e como ferramenta de compreensão de relações entre
elementos significativos (palavras, fotos, desenhos, cores, etc.) e seus
significados (objetos). Nessas relações, Piaget destaca quatro etapas que, em
todos os jogos, podem ser claramente delineados: os índices, relações
76
significantes estreitamente ligados aos significados (é o caso de um animal
indicando sua passagem pelo local); os sinais, relações indicadoras de etapas e
marcações dos jogos (como é o caso do apito ou dos sinais de inicio, termino
ou etapas), os símbolos, relações já mais distantes entre o significante e o
significado (fotos, desenhos, esquemas) e, finalmente, os signos, elementos
significantes inteiramente independentes dos objetos (como as palavras e os
números).
Utilizando essas etapas, a seleção dos jogos que eventualmente se
empregará deverá evoluir de jogos estimuladores de índices aos estimuladores
de signos, e, desta forma, jogos que estimulam o tato, a audição, o paladar
(índices) devem proceder aos que estimulam ou se apóiam em sinalizações e
após estes se tornam inteiramente validos os que levam á descoberta de
símbolos (pesquisar revistas, recortar, colar, desenhar, dramatizar) e após
símbolos e que já pressupõem a compreensão de letras e desenhos de objetos
correspondentes ás palavras.
A inteligência da criança se desenvolvem basicamente por meio da sua
própria experiência e interação com as pessoas e com os objetos. É necessário,
então, entender o significado que tem nesta idade a experimentação, a
curiosidade e a brincadeira infantil: as experiências são o alimento para
desenvolvimento do seu pensamento e da sua capacidade de raciocínio.
(HAEUSSLER, RODRIGUEZ, 2OO5, p.177).
77
Pensando em crianças, desde a vida pré-natal até a adolescência,
convictos de que o desenvolvimento da inteligência humana não termina nessa
faixa etária, ao contrário, cresce por toda vida, principalmente para as pessoas
que acreditam no poder de seu cérebro e sabem construir suas próprias
motivações.
O desenvolvimento humano: um processo em construção
De acordo com Oliveira (2002) historicamente, diferentes concepções
acerca do desenvolvimento humano têm sido traçadas na psicologia. Elas
buscam responder como cada um chegou a ser aquilo que é e mostra quais os
caminhos abertos para mudanças nessas maneiras de ser, quais as possibilidades
de cada indivíduo para aprender. Onde os fatores hereditários e o papel da
maturação orgânica têm sido superestimados por correntes afins do biologismo
ou do inatismo, que enfatizam a espontaneidade das transformações nas
capacidades psicológicas do individuo, sustentando que dependeriam muito
pouco da influencia de fatores externos a ele.
Essa corrente de pensamento ainda hoje é particularmente forte na
educação infantil, subsidiando concepções de que a educação da infância
envolveria apenas regar as pequenas sementes para que estas desabrochem suas
aptidões.
78
Outras correntes explicativas, ao contrario, têm assegurado que o
ambiente é o principal elemento de determinação do desenvolvimento humano.
Segundo elas, o homem tem plastidade para adaptarem-se a diferentes situações
de existências, aprendendo novos comportamentos, desde que lhe sejam dadas
condições favoráveis. Na educação infantil tal concepção promoveu a criação
de muitos programas de intervenção sobre o cotidiano e a aprendizagem da
criança, em idades cada vez mais precoces. Todavia, essa visão minimiza a
iniciativa do próprio sujeito e também o fato de as reações dos diversos sujeitos
submetidos à pressões de um mesmo meio social não serem semelhantes.
O desenvolvimento humano não decorre da ação isolada de fatores
genéticos que buscam condições para o seu amadurecimento nem de fatores
ambientais que agem sobre o organismo vivo, o humano inscreve-se em uma
linha de desenvolvimento condicionada tanto pelo equipamento
biocomportamental da espécie quanto pela operação de mecanismos gerais de
interação com o meio (OLIVEIRA, 2002, p.126).
Por essa perspectiva, não há uma essência humana, mas uma construção
do homem em sua permanente atividade de adaptação a um ambiente. Ao
mesmo tempo em que a criança modifica seu meio, é modificado por ele. Em
outras palavras, ao construir seu meio, atribuindo-lhe a cada momento
determinado significado, a criança é por ele constituída; adota formas culturais
de ação que transformam sua maneira de expressar-se, pensar, agir e sentir, isto
é, seu desempenho, através do corpo, com suas representações.
79
Espaço para o lúdico
A fantasia do brincar caracteriza a didática a ser desenvolvida para faixa
de idade da educação infantil, o que determina focar o espaço para o lúdico.
Embasada em experiência própria e pelas observações nos estágios, os
professores que atuam em classes iniciais (creche, jardim de infância e mesmo
as primeiras séries do ensino fundamental) já passaram pela experiência de
observar os seus alunos em atitudes, no mínimo, curiosas: conversam com
brinquedos e objetos como se vida tivessem, transformam terra, pedras, papéis
em comidinha e servem para os amigos, assumem personalidades de outras
pessoas tratando de doentes como se médicos fossem, ensinados aos seus alunos
como os professores, cuidando dos filhos igual aos pais, conversando como
comadres.
Para melhor lidar com estas questões, antes de mais nada, o professor
deve procurar entender a natureza infantil.
Brincar é um ato tão espontâneo e natural para a criança quanto comer,
dormir, andar ou falar. Basta observar um bebê nas diferentes fases de seu
crescimento para confirmar tal fato: logo que descobre as próprias mãos, brinca
com elas; a descoberta dos pés é outro brinquedo fascinante; diverte-se com a
voz quando balbucia os primeiros sons, cospe a chupeta ou o alimento vezes
80
seguidas atira, incansavelmente, um objeto ao chão, desafiando a paciência de
quem o apanha: levanta-se e torna a cair entretendo-se com isto pula sem parar;
corre sem se cansar.
O brincar é o fazer em si , um fazer que requer tempo e espaço próprios;
um fazer que se constitui de experiências culturais, que é universal e próprio da
saúde, porque facilita o crescimento, conduz aos relacionamentos grupais,
podendo ser um forma de comunicação consigo mesmo (a criança) e com os
outros. (WINNICOTT apud MARTINS, QUEIROS, 2002, p.13).
É brincando que a criança conhece a si e ao mundo quando mexe com as
mãos e os pés, segura a chupeta ou um brinquedo, seja levando-os à boca,
sacudindo ou atirando-os longe, vai descobrindo suas próprias possibilidades e
conhecendo os elementos do mundo exterior através da comparação de suas
características, tais como, macio, duro, leve, pesado, grande, pequeno, áspero,
liso.
Enquanto brinca, aprende quando corre atrás de uma bola, empina uma
pipa, rola pelo chão, pula corda, está explorando o espaço à sua volta e
vivenciando a passagem do tempo.
As segundas intenções e os benefícios do brincar
O lúdico não deve ser visto meramente como um passatempo.
81
Brincando a criança não apenas enriquece o desenvolvimento social
durante as brincadeiras, mas também o pensar, o levantar hipóteses, solucionar
problemas além de construir conhecimento e enriquecer o desenvolvimento
intelectual.
Necessariamente a criança não depende de objetos para brincar, pode
criar situações de faz-de-conta assim sendo, a criança pode manifestar sua
independência, pois cabe a ela escolher a brincadeira, seu parceiro e de que
forma ela irá desenvolver.
As funções que o brincar assumem na infância é revelar sua
complexidade, sugerindo que compreenda sua importância e tem para o ser
humano em qualquer idade e de desenvolvimento cultural de um povo.
Brincando as crianças podem colocar desafios e questões a serem por
elas mesmas resolvidas, dando margem a hipóteses de soluções para os
problemas colocados.
Muitos adultos quando referem-se à criança e ao que lhe é pertinente,
referem-se de uma maneira pejorativa, desqualificada ou desconsiderada.
Muitos consideram que "brincar" é o verbo da criança. Mas o brincar é a
maneira como ela conhece, experimenta, aprende, aprende, vivência, expõe
emoções, coloca conflitos, elabora-os ou não interage consigo e com o mundo.
Felizmente Froebel (2009) ousou olhar de forma diferenciada para as
crianças e foi um dos primeiros educadores a considerar o início da infância
82
como uma fase de importância decisiva na formação das pessoas. Onde suas
técnicas são utilizadas até hoje na Educação Infantil. Para ele, as brincadeiras
são o primeiro recurso no caminho da aprendizagem. Não devendo ser
consideradas como apenas diversão, mas um modo de criar representações do
mundo concreto com a finalidade de entendê-lo.
O corpo é um brinquedo para a criança. Através dele, ela descobre sons,
descobre que pode rolar, virar cambalhota, saltar, manusear, apertar, que pode
se comunicar. O mesmo brinquedo pode servir de fonte diferente de exploração
e conhecimento. Uma bola para uma criança de dois anos pode ser fonte de
interesse com relação a tamanho, cor e para uma criança de seis anos o interesse
pode ser mais redacional: jogar e receber a bola do outro, fazer gol.
É importante que a criança possa brincar sozinha e em grupo,
preferencialmente com crianças de idade próximas. Desse modo ela tem
possibilidade, também, de ampliar sua consciência de si mesma, pois pode saber
como ela é num grupo que é mais receptivo, num outro que é mais agressivo,
num que ela é líder, num outro em que é liderada, etc. Lidando com as
diferenças, ela amplia seu conjunto de vivências.
Infelizmente as crianças hoje entendem por brincadeira os jogos
eletrônicos. Ficando as mesmas sem se movimentarem, onde se tornam
sedentárias e obesas. Esqueceram-se do prazer que proporciona as brincadeiras
tradicionais como, por exemplo, pular corda, elástico, pique alto, esconde-
esconde, passar anel, mar vermelho, etc, que fazem com que as crianças se
83
movimentem a todo tempo, gastando energia e dando liberdade para criar
proporcionando alegria e prazer.
As razões para brincar são inúmeras, pois sabemos que a brincadeira só
faz bem. Tanto faz bem que o direito de brincar é amparado por lei. O brincar
favorece a descoberta, a curiosidade, uma vez que auxilia na concentração, na
percepção, na observação, e, além disso, as crianças desenvolvem os músculos,
absorvem oxigênio, crescem, movimentam-se no espaço, descobrindo o seu
próprio corpo.
O brincar tem um papel fundamental neste processo, nas etapas de
desenvolvimento da criança. Na brincadeira, a criança representa o mundo em
que está inserida, transformando-o de acordo com as suas fantasias e vontades
e com isso solucionando problemas. Mas alguns cuidados devem ser tomados
com esta relação da criança com o brinquedo, como por exemplo: brincar deve
ser divertido, prazeroso e não tarefa e o brinquedo devem estar de acordo com
o interesse da criança.
Seguem algumas sugestões de brinquedos de acordo com a faixa etária,
que tiveram como fonte o livro O direito de brincar, Ed. Fund. Abrinq apud
OLIVEIRA, 2006.
Três meses: Chocalhos, mordedores, figuras enfiadas em cordão para
instalar no berço ou carrinho.
84
Seis meses: Quadros com peças coloridas, de formas diversificadas,
peças que correm em trilhos.
Oito meses: Bolas, cubos em tecidos, caixas de música com alça para
puxar.
Dez meses: Bonecos em tecido com roupas fixas, animais em tecido (não
pelúcia), sem detalhes que possam ser arrancados.
Um ano: Cavalinhos de pau, carrinhos de puxar e empurrar, blocos de
construção simples, cadeiras de balanço.
Dois ano: Veículos sem pedais, que se movem pelo impulso dos pés.
Três anos: Veículos com pedais, triciclos, bonecas com pés e mãos
articulados, jogos de memória.
Quatro anos: Roupas de fantasia, super-heróis, máscaras.
Cinco anos: Miniaturas de figuras simples, soldados de chumbo,
maquiagem, bolsas, bijuterias, móveis do tamanho da criança.
Seis anos: Aviões, barcos e autoramas.
Oito anos: Jogos de xadrez, damas, simulação e mistério.
O brinquedo pode conter uma série de significados para a criança,
mesmo que ela não o use, não ligue para ele, ou ele já esteja surrado e quebrado.
Ele pode ser um amigo, um conforto, uma segurança e desse modo ela pode não
85
ter condições ou vontade de se desfazer do brinquedo num determinado
momento. O que nada tem a ver com ser ou não ser egoísta.
Algumas questões polêmicas surgem quando fala-se desta relação do
brincar. São elas:
Menino pode brincar de boneca e menina de bola? Alguns pais ficam
aflitos com esta questão, pois acreditam que a sexualidade será definida a partir
desta escolha. Neste caso, é bom informar que a criança irá definir sua
sexualidade a partir do contexto que vivenciam. Da forma como pai e mãe se
relacionam, de como o papel masculino e feminino lhe são apresentados no
cotidiano, como estes pais se relacionam com a criança, de como esta criança
vai sendo criada.
Arma de brinquedo produz agressividade? Agressividade é um
sentimento que todos nós temos e culturalmente lidamos mal. Normalmente a
associamos com violência, ou a vemos apenas pelo seu aspecto destrutivo. Não
nos damos conta de que precisamos dela para procurar um emprego, para
comermos, para criarmos, para fazermos um artigo para o jornal, etc. Quando
uma criança diz que está com raiva, logo é atropelada pelo adulto que diz: "Você
não gosta de mim não?" Como se uma coisa fosse impeditiva da outra.
O uso de videogame e computador ajuda ou atrapalha no
desenvolvimento da criança? O excesso atrapalha. Uma criança que passa
várias horas na frente do computador acaba não se relacionando com outras
coisas e pessoas que são importantes para um desenvolvimento melhor. O bom
86
é que ela possa ter condições de fazer várias experiências para ter uma visão de
mundo mais ampla.
É preciso também que o adulto esteja atento ao uso dessa criança na
internet, por exemplo, onde ela tem acesso a todo tipo de informação e de
pessoas. O cuidado e avaliação constantes do adulto devem caminhar no sentido
de auxiliar a criança a desenvolver senso crítico. A realidade deve ser
apresentada à criança aos poucos na medida de suas possibilidades,
necessidades e etapa evolutiva.
LUGAR DO LÚDICO NA APRENDIZAGEM
Desde o nascimento o ser humano vai passando por fases na busca de
construção do conhecimento. A conquista do ser humano do símbolo passa por
diferentes fases, tendo origem nos processos mais primitivos da infância. Como
já dito anteriormente, a criança aprende pelo corpo, é através dele que se
relaciona com o meio circundante.
É observando, olhando, conhecendo, tocando, manipulando e
experimentando que se vai construindo conhecimento. Neste jogo o da busca
do conhecimento, onde se pode brincar, jogar e estabelecer um espaço e tempo
mágico, onde tudo é possível, um espaço confiável, onde a imaginação pode
87
desenvolver-se de forma sadia, onde se pode viver entre o real e o imaginário,
este é o lugar e tempo propício para crescer e produzir conhecimento. "O saber
se constrói fazendo próprio o conhecimento do outro, e a operação de fazer
próprio o conhecimento do outro só se pode fazer jogando."
(FERNANDEZ,1990, p. 165).
No começo, a brincadeira é bastante corporal e mais tarde tende a ser
mais objeto passando à subjetividade no final.
A mão na boca para a criança é ponto central para novas descobertas,
pois é por este movimento que se começa a delimitar a noção de objeto. Brinca
com seu polegar, com lençol com fralda e assim vai descobrindo a realidade
que a cerca. O objeto, no início deste processo, não pode ser definido como
objeto interno ou externo, ele não está dentro nem fora, não é sonho mas
também não é alucinação, é apenas a primeira descoberta do outro, do mundo
externo." Estes objetos chamados de transicionais, representam um novo estado
de evolução no processo de construção do sujeito cognoscente, é a primeira
relação estabelecida fora do campo simbiótico da criança com sua mãe." (
WINNICOTT 1971, p. 9).
Brincar é um espaço privilegiado, proporciona à criança, como sujeito,
a oportunidade de viver entre o princípio do prazer e o princípio da realidade.
Cabe ressaltar que a brincadeira não traz apenas prazer, também pode trazer dor
ou desconforto.
88
Brincando a criança vai, lentamente estabelecendo vínculos, brinca com
os objetos externos e internos num processo de trocas intensas com a realidade
e com a fantasia. O brincar proporciona ao sujeito liberar o medo do novo, do
desconhecido. A criança brinca com o desconhecido para torná-lo conhecido,
brinca com o medo para que possa dominá-lo.
Brincar é uma ação que ocorre no campo da imaginação, assim, ao
brincar estar-se-á fazendo uso de uma linguagem simbólica, o que se faz
retirando da realidade coisas para serem significadas em outro espaço. Quando
a criança com uma peça de sucata e imagina que é um caminhão está
estabelecendo uma relação de imaginação e criação está recriando a realidade.
É na exploração do mundo, do meio ambiente, na manipulação dos
objetos, nas trocas com seus pares etc., que a criança vai aprendendo, vai
buscando fora si o conhecimento, para mais tarde poder internalizá-lo.
É nesta buscas, nesta movimentação que novos esquemas podem ser
assimilados, generalizados. O brincar permite que esta troca intensa entre o que
está dentro e o que está fora ocorra, pois a brincadeira não está dentro nem fora.
Ao brincar com o objeto a criança o vai percebendo em suas diferentes
dimensões, descobre seus atributos, sua utilidade, classifica-o, podendo mais
tarde modificar suas estruturas. É através do brincar que a criança vai
descobrindo o que pode e o que não pode, "a criança à qual tudo é permitido e
à qual todos os obstáculos são removidos não se dá condições de se estruturar
89
logicamente a realidade, consequentemente, de representá-lo."( OLIVEIRA,
1998, p. 47).
A realidade impõe limites, são estes limites que cria condições para as
estruturas mentais. O processo de construção de conhecimento passa
necessariamente pela afirmação e pela negação. É através desta relação dialética
sujeito/objeto que se pode criar conhecimento. Por esta razão também
acreditamos que "sempre se aprende mais do que se pensa, do que se pode
demonstrar verbalmente ou declarar conscientemente." (BLEGER, 1991, p.
75).
A brincadeira contribui de forma espetacular para a construção da auto
imagem positiva. Pode-se superar e ressignificar diferentes objetos
internalizados assumindo novos papéis ou mesmo brincando com o já
caracterizado. Ao brincar, por exemplo, de casinha a criança precisa conhecer
como é uma casa, quem são seus personagens, interioriza modelos, desempenha
certa função social, condutas, estabelece vínculos, exercita a sua autonomia,
troca com seus pares, experimenta emoções, cria e recria, assume papéis, seu
corpo expressa a realidade externa, assume gestos e palavras da pessoa que
representa. Vive intensamente a sua realidade interna.
Para brincar, para exercer a capacidade de criar é preciso um espaço rico
e diversificado. (TAILLE 1992, p. 49 citando PIAGET), nos diz que o
desenvolvimento moral da criança se constitui de três fases. São elas: anomia,
heteronomia e autonomia.
90
Anomia se caracteriza por brincadeiras individuais. As crianças brincam
com um grupo de amigos, porém individualmente. Apesar de estarem no
mesmo espaço físico não significa que estejam brincando juntas, cada uma
dessas crianças brincam consigo mesma. A brincadeira é com seus objetos
internos e sua visão de mundo é bastante egocêntrica: somente o seu ponto de
vista é percebido.
Heteronomia na fase conhecida como heteronomia as crianças aceitam
as regras do jogo, aqui já se brinca em grupo, porém, as regras do jogo não
podem sofrer modificações propostas pelos participantes do próprio grupo, as
regras são vistas como imutáveis, a criança ainda não se concebe com um
criador de regras, percebe-se mais como um executor, aquele que segue a regra.
A regra, neste caso é percebida como algo sagrado. No decorrer desta fase, a
criança vai mudando sua posição no que diz respeito às regras. É muito comum
criar regras próprias e não comunicar ao parceiro a sua decisão, ela é uma regra
pessoal, unilateral.
Nesta fase, a criança ainda percebe o mundo apenas do seu ponto de
vista, é conhecida como a fase egocêntrica, situa-se no estágio pré-operatório
que Piaget descreveu. Para estas crianças ainda é muito difícil abandonar o seu
ponto de vista para entender o outro, aqui, quando se está jogando é muito
interessante observar que todos querem ganhar, e por isso as regras são
abandonadas para que se atinja o seu objetivo: Ganhar.
91
No final desta fase as crianças procuram seguir as regras com exatidão,
elas são cobradas uns dos outros e em situação de conflito se faz necessário a
presença de um adulto para servir de juiz.
Com o amadurecimento o sujeito já se vê como um legislador aceitando
e acatando decisões coletivas. Assim, antes do jogo começar, as regras são
discutidas e aceitas e o jogo inicia-se tendo por base as regras combinadas
anteriormente. O jogo, segundo (HUIZINGA 1996, p. 13), "... cria-se a ordem
e é ordem."
Somente jogando com dados da realidade e da imaginação que o ser
humano pode lidar com as imperfeições desta realidade e reorganizá-las. O jogo
proporciona ao sujeito ritmo, harmonia, ordem, estética, tempo, espaço, tensão
contraste, variação, solução equilíbrio e união.
As brincadeiras folclóricas de trava língua nos permitem constatar o
ritmo, a harmonia e ordem existente: Trás pratos de trigo para três tigres tristes.
O artista plástico brinca com as formas e as cores em suas telas.
Os jogos de adivinhações, ou mesmo brincadeiras do tipo "o que é, o que
e"?" sua origem é remota e ainda hoje exerce tamanha fascinação. O escritor
brinca com sua narrativa e nos envolve em um mundo fantasioso, ele brinca
com a nossa imaginação. O músico com suas melodias brinca com o som, com
o ritmo. O físico nuclear brinca e descobre a força do átomo. O jogador de
futebol brinca com a bola e de driblar o adversário.
92
A dançarina brinca com o corpo e o embala com o ritmo da música,
explora as possibilidades do espaço e do tempo, tem ritmo, alegria e harmonia.
A criança brinca com seu corpo descobrindo suas possibilidades e
descobre assim o tempo e o espaço, o bebê com os seus primeiros sons, a mãe
brinca com ele. Por que então brincar não é coisa séria?
O jogo faz parte da cultura de um povo, em achados arqueológicos,
brinquedos como pião foram encontrados. Brincar é inerente ao ser humano.
Caracteriza-se um povo pelas brincadeiras de suas crianças.
Brinca-se com jogos de cartas, com dados, com dominó, jogo da
memória, com jogos de tabuleiros, com jogos de imagem, brinca-se com jogos
de palavras de adivinhações, brinca-se com o como com a destreza fisica, a
rapidez do raciocínio, joga-se com estratégias, com sorte, com organização. O
ser humano joga durante toda a sua vida.
Ao jogar uma partida de qualquer jogo pode-se observar as operações
requeridas do sujeito. É importante observar que nos jogos e na vida, no dia a
dia, as mesmas operações são requisitadas, assim ao jogar o sujeito exercita-se
cognitivamente, socialmente e afetivamente, pois o seu desejo de jogar é
determinante para que o possa fazer.
O jogar, não implica apenas a questão de regra, da competição, da
brincadeira em si, mas envolve muito mais a forma como se vê e entende o
93
olhar psicopedagógico sobre o sujeito que brinca se liga ás modalidades de sua
atuação, levando em conta a forma de utilização de sua inteligência.
Papel do brinquedo no desenvolvimento
A tendência de uma criança muito pequena é satisfazer seus desejos
(WINNICOTT 1971, p. 9) imediatamente, o intervalo entre um desejo e a sua
satisfação é extremamente curto. Na idade pré-escolar surge uma grande
quantidade de tendências e desejos não possíveis de serem realizadas de
imediato. As necessidades não realizáveis imediatamente não se desenvolvem
durante os anos escolares também não existiriam os brinquedos, uma vez que
eles parecem ser inventados justamente quando as crianças começam a
experimentar tendências irrealizáveis.
No início da idade pré-escolar, quando surgem os desejos que não podem
ser imediatamente satisfeitos ou esquecidos, e permanece ainda a característica
do estágio precedente de uma tendência para satisfação imediata desses desejos,
o comportamento da criança muda. Para resolver essa tensão a criança em idade
pré-escolar envolve-se num mundo ilusório e imaginário onde os desejos não
realizáveis podem ser realizados, e esse mundo é o que chamamos de
brinquedo. A imaginação, nos adolescentes e nas crianças em idade pré-escolar,
é o brinquedo sem ação.
94
A partir dessa perspectiva, torna-se claro que o prazer derivado do
brinquedo na idade pré-escolar é controlado por motivações diferentes daquelas
do simples chupar chupeta. A presença de tais emoções generalizadas no
brinquedo significa que a própria criança entende as motivações que dão origem
ao jogo.
No brinquedo a criança cria uma situação imaginária. A situação
imaginária não era considerada como uma característica definidora do
brinquedo em geral mas será tratada como um atributo de subcategorias
específicas do brinquedo.
Se todo brinquedo é realmente a realização na brincadeira das tendências
que não podem ser imediatamente satisfeitas, então, os elementos das situações
imaginárias constituirão, automaticamente, uma parte da atmosfera emocional
do próprio brinquedo.
"A situação imaginária de qualquer forma de brinquedo já contém regras
de comportamento, embora possa não ser um jogo com regras formais
estabelecidas a priori. A criança imagina-se como mãe e a boneca como criança
e, dessa forma, deve obedecer às regras do comportamento
maternal."(WINNICOTT,1971,p.23).
Toda situação imaginária contém regras de uma forma oculta; também
demonstramos o contrário, que todo jogo com regras contém, de forma oculta,
uma situação imaginária. O desenvolvimento a partir de jogos em que há uma
95
situação imaginária às claras e regras ocultas para jogos com regras às claras e
uma situação imaginaria oculta delineia a evolução do brinquedo das crianças.
Ação e significado do brinquedo
Dentro da minha experiência com crianças percebo que é enorme a
influência do brinquedo no desenvolvimento da mesma. Para uma criança com
menos de três anos de idade é essencialmente impossível envolver-se numa
situação imaginária, uma vez que isso seria uma forma nova de comportamento
que liberaria a criança das restrições impostas pelo ambiente imediato. O
comportamento de uma criança muito pequena é determinado, de maneira
considerável. E o de um bebê, de maneira absoluta.
É no brinquedo que a criança aprende a agir numa esfera cognitiva ao
invés de numa esfera visual externa, dependendo das motivações e tendências
internas, e não dos incentivos fornecidos pelos objetos externos.
Os objetos têm uma tal força motivadora inerente, no que diz respeito às
ações de uma criança muito pequena, e determinam tão extensivamente o
comportamento da criança.
Ainda, segundo Vygotsky(1988), a criança vê um objeto, mas age de
maneira diferente em relação aquilo que vê. Assim, é alcançada uma condição
em que a criança começa a agir independentemente daquilo que ela vê.
96
Na idade pré-escolar ocorre, pela primeira vez, uma divergência entre os
campos do significado e da visão. No brinquedo, o pensamento está separado
dos objetos e a ação surge das ideias e não das coisas. A ação regida por regras
começa a ser determinada pelas ideias e não pelos objetos.
A criança não consegue, ainda, separar o pensamento do objeto real. A
debilidade da criança está no fato de que, para imaginar um cavalo, ela precisa
delinear a sua ação usando um cavalo-de-pau como pivô.
Para a criança, o objeto é dominante na razão objeto/significado e o
significado subordina-se a ele. No momento crucial em que, por exemplo, um
cabo de vassoura torna-se pivô da separação do significado cavalo do cavalo
real, essa razão se inverte e o significado passa a predominar, resultando na
razão significado/objeto.
Um símbolo é um signo, mas o cabo de vassoura não funciona como
signo de um cavalo para criança, a qual seu significado. No brinquedo, o
significado torna-se o ponto central e os objetos são deslocados de uma posição
dominante para uma posição subordinada.
O brinquedo cria na criança uma nova forma de desejos. Ensina desejar,
relacionando seus desejos a um eu fictício, ao seu papel no jogo e suas regras.
Dessa maneira, as maiores aquisições de uma criança são conseguidas no
brinquedo, aquisições que no futuro tornar-se-ão seu nível básico da ação-real
e moralidade (VYGOTSKY, 1988).
97
No brinquedo, a criança opera com significados desligados dos objetos
e ações observadas quais estão habitualmente vinculados; entretanto, uma
contradição muito interessante surge, uma vez que no brinquedo, ela inclui,
também, ações reais e objetos reais. Isto caracteriza a natureza de transição da
atividade do brinquedo, é um estágio entre as restrições puramente situacionais
da primeira infância e o pensamento adulto, que pode ser totalmente
desvinculado de situações reais.
A criação de uma situação imaginária é a primeira manifestação da
emancipação da criança em relação às restrições situacionais.
Brincadeira é coisa séria
A brincadeira para a criança não representa apenas divertimento,
recreação, ocupação do tempo livre, afastamento da realidade. Brincar não é
ficar sem fazer nada, como pensam alguns adultos, é uma ayividade pela qual a
criança desenvolve potencialidades, descobre papéis sociais, limites,
experimenta novas habilidades, forma um novo conceito de si mesma, aprende
a viver e avança para novas etapas de domínio do mundo que a cerca.
A criança se empenha durante as suas atividades do brincar da mesma
maneira que se esforça para aprender a andar, a falar, a comer etc. Brincar de
faz de conta, de amarelinha, de roda, de esconde-esconde, de dominó, de jogo
98
de cambio são situações que vão sendo gradativamente substituídas por outras,
à medida que o interesse é transferido para diferentes tipos de jogos, no entanto
todos eles são tratados com a seriedade respectiva, seriedade que pode ser
voluntária ou involuntária.
Essa seriedade do jogo infantil é, entretanto, diferente daquela que
consideramos, por objeção ao jogo, a vida séria. Essa seriedade do jogo implica
um afastamento do ambiente real, a criança parece esquecer o real e se torna o
personagem em questão, o médico, a polícia, o ladrão, o pai, a mãe, o filho, o
professor etc, já que se conhece como criança. O quadro real, amplo e social no
qual está inserido, desapareceu. "Tudo acontece como se o jogo operasse um
corte no mundo, destacando no ambiente o objeto lúdico para apagar todo o
resto" (CHATEAU, 1987, p21).
Nessa perspectiva a criança só tem consciência da cena que está em
primeiro plano o restante desaparece ou se esconde temporariamente. O jogo,
pois, constitui um mundo a parte, um outro mundo, distante do mundo dos
adultos, isto é o seu mundo lúdico.
Essa absorção do papel que representa, esse afastamento do ambiente
real, pode ser considerado involuntário, a criança não age com a decisão de
entrar no jogo ela se projeta no imaginário da brincadeira/brinquedo A ênfase e
dada a simulação a ilusão ou faz-de-conta por certo ela cria o seu próprio
mundo.
99
O adulto também se utiliza dessa evasão quando procura no jogo de
aposta, de bilhar, o esquecimento dos seus problemas, o alívio de suas tensões.
Mas essa fuga do real nem sempre á evasão, um arquiteto que faz uma
barragem, primeiro executa o planejamento no papel, distante das pedras, do
cimento etc, isto é, distancia-se do mundo no plano real. Idealiza, simula,
imagina, cria uma outra realidade, só assim, depois retoma ao mundo real da
construção propriamente dita da barragem. Assim, todo projeto, com efeito, é,
em primeiro lugar, distanciamento do mundo ambiente.
Mas, esse distanciamento do mundo ambiente pode ser voluntário,
quando a criança utiliza das brincadeiras de competição ou de roda, em que ela
decide fazer parte, ela cria um distanciamento a um mundo onde ela tem poder,
onde pode criar, um mundo onde as regras do jogo têm um valor que não têm
no mundo dos adultos. O distanciamento funciona como um juramento de
obediência às regras tradicionais, às regras pré-estabelecidas. Mas este é um
juramento de esquecer o mundo da vida séria, onde as regras válidas são aquelas
"combinadas pelo grupo".
Por isso o distanciamento surge voluntariamente. Portanto, brincar é o
trabalho da criança, um ato muito sério, e por meio de suas conquistas no jogo,
ela afirma seu sei, proclama seu poder e sua autonomia, explora o mundo, faz
pequenos ensaios, compreende e assimila gradativamente suas regras e padrões,
absorve esse mundo em doses pequenas e toleráveis.
100
Dessa forma, nenhuma criança brinca só para passar o tempo, sua
escolha é motivada por processos íntimos, desejos, problemas, ansiedades. O
que está acontecendo com a mente da criança determina sua atividade lúdica;
brincar é sua linguagem secreta, que se deve respeitar mesmo se não a entende,
então faz-se necessário que o professor/educador fique atento, para oferecer
possibilidades e situações de jogos/brincadeiras, é imprescindível que as suas
aulas sejam "recheadas" de atividades lúdicas, para que a criança tenha a
oportunidade de provar a sua superioridade, de expressar-se, de evadir-se do
mundo real; de ser séria no seu diminuto mundo lúdico.
Mas, apesar do jogo ser uma atividade espontânea nas crianças, isso não
significa que o professor/educador não necessite ter uma atitude ativa sobre ela,
inclusive uma atitude de observação e de intervenção quando for o caso, sua
atitude não passará apenas por deixar as crianças brincarem, mas, sobretudo
ajudar as crianças nesse ato e compartilhar com elas, ou até mesmo por ensiná-
las a brincar.
O brincar é um instrumento para o ensino de conteúdos, propiciando
novas e interessantes relações entre as crianças e destas com o conhecimentos.
"Enfim, é preciso deixar que as crianças e os adolescentes brinquem, é
preciso aprender com eles a rir, a inventar a ordem, a representar, a imitar, a
sonhar e a imaginar. E no encontro com eles, incorporando a dimensão humana
do brincar, da poesia e da arte, construir o percurso da ampliação e da afirmação
de conhecimentos sobre o mundo." (BRASIL,2006,p.44).
101
De tão importante que o brincar se tornou na vida escolar das crianças
que ganhou um lugar próprio para sua manutenção: a brinquedoteca que é um
espaço preparado para estimular a criança a brincar, possibilitando o acesso a
uma grande variedade de brinquedos dentro de um ambiente especialmente
lúdico.
Brincadeira é coisa séria! E garantido por Lei. O Estatuto da Criança e
do Adolescente diz que é dever da sociedade garantir a todas as crianças tenham
lazer, esporte e a educação. Ou seja, para que cada criança cresça feliz e com
saúde é necessária muita diversão.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Dentro deste contexto de valorização e reconhecimento do lúdico como
"veiculo" de crescimento infantil, que possibilita a auto afirmação da criança
como um ser histórico e social que procurei desenvolver a ideia deste tema. De
acordo com os dados obtidos a partir dos renomados teóricos podemos constatar
que o lúdico exerce um papel importante na aprendizagem das crianças.
Como o professor vive em busca por uma metodologia melhor e mais
adequada, entra nesse contexto a ludicidade, que pode contribuir de forma
significativa para o desenvolvimento do ser humano, facilitando no processo de
socialização, de comunicação, de expressão, na construção do pensamento,
além de auxiliar na aprendizagem.
102
O lúdico não representa uma fórmula mágica que irá sanar os problemas
de aprendizagem, emocionais e de mau comportamento na educação, mas
representa um meio de auxiliar a aprendizagem. Desta forma, entendemos que
o lúdico não é um mero passatempo e que brincar é coisa séria! Mais do que
um direito da criança, o brincar é essencial para sua vida. Sob essa perspectiva,
a atividade traz inúmeros benefícios, porque solicita a inteligência, possibilita
uma maior e melhor compreensão do mundo, favorece a simulação de situações,
antecipa soluções de problemas, sensibiliza, alivia tensões, estimula o
imaginário e, consequentemente, a criatividade. Permite, também, o
desenvolvimento do autoconhecimento, elevando a autoestima, propiciando o
desenvolvimento físico-motor, bem como do raciocínio e da inteligência,
sensibilizando, socializando e ensinando a respeitar as regras. Enfim, o brincar
diverte, traz alegria e faz sonhar. Podemos concluir que com o lúdico a criança
tem a oportunidade de organizar seu mundo seguindo seus próprios passos e
utilizando melhor seus recursos. Ao utilizar o lúdico como instrumento
facilitador no ensino- aprendizagem, percebemos que esta é uma proposta
criativa e recreativa de caráter físico ou mental, que permitirá ao educando criar,
imaginar, fazer de conta, funcionar como laboratório de aprendizagem.
103
MÓDULO VI – ATIVIDADES LÚDICAS PARA ALFABETIZAR6
Autora: Solange Moll
3. CRACHÁ DE SÍLABAS
6
Módulo VI - reprodução total - atividade lúdica para alfabetização – Autora: Solange Moll –
Disponível em : https://psicosol.com/tag/atividade-ludica-para-alfabetizacao/
104
4. SIGA AS INSTRUÇÕES
105
5. PERCURSO DO ALFABETO
106
107
6. TABELA DE LEITURA
108
7. JOGO – FORME PALAVRAS
109
REFERÊNCIAS
DOS CONCEITOS EM ALFABETIZAÇÃO À NECESSIDADE DA
COMPREENSÃO DA CONCEPÇÃO DE LINGUAGEM – Autores: Carla Ramos de
Paula/ Ivete Janice de Oliveira Brotto – Disponível em : http://cac-
php.unioeste.br/eventos/iisimposioeducacao/anais/trabalhos/46.pdf
Ludicidade – Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Ludicidade
Como a criança aprende? – Autora: DRA FERNANDA SPENGLER – Disponível
em: https://www.psicoinfantil.net/como-a-crianca-aprende/
A LUDICIDADE NA EDUCAÇÃO INFANTIL: APRENDIZAGEM E
DESENVOLVIMENTO - Carliani Portela do Carmo - UFMS Elaine Cristina Freitas
Veiga - UFMS/ Rosana Carla Gonçalves Gomes Cintra Cintra - UFMS/ Sarah da Silvia
Corrêa Lima- UFMS – Disponível em:
http://educere.bruc.com.br/arquivo/pdf2017/23662_12144.pdf
O LÚDICO E A ALFABETIZAÇÃO: A IMPORTÂNCIA DAS ATIVIDADES
LÚDICAS NAS PRÁTICAS EDUCATIVAS DO ENSINO INFANTIL – Autor:
Vanderléia Moreira Barrozo - Trabalho de Conclusão de Curso de Pós-Graduação em
Psicopedagogia, apresentado como requisito para aprovação à Universidade
Metropolitana de Santos – UNIMES, sob a orientação da Profª Sandra Tarricone. –
Disponível em: http://br.monografias.com/trabalhos3/ludico-alfabetizacao-importancia-
atividades-educativas/ludico-alfabetizacao-importancia-atividades-educativas2.shtml
atividade lúdica para alfabetização – Autora: Solange Moll – Disponível em :
https://psicosol.com/tag/atividade-ludica-para-alfabetizacao/
110
111