0% acharam este documento útil (0 voto)
184 visualizações2 páginas

Cláusula Nula em Garantia de Carro Usado

O documento descreve um caso em que um cliente leva seu carro para revisão em outra oficina ao invés da oficina do stand onde o comprou. O stand alega que isso invalida a garantia do carro. No entanto, a lei proíbe cláusulas que façam a garantia depender de não recorrer a terceiros, portanto a cláusula é nula e a garantia continua válida.

Enviado por

Lourenço Diogo
Direitos autorais
© © All Rights Reserved
Levamos muito a sério os direitos de conteúdo. Se você suspeita que este conteúdo é seu, reivindique-o aqui.
Formatos disponíveis
Baixe no formato PDF, TXT ou leia on-line no Scribd
0% acharam este documento útil (0 voto)
184 visualizações2 páginas

Cláusula Nula em Garantia de Carro Usado

O documento descreve um caso em que um cliente leva seu carro para revisão em outra oficina ao invés da oficina do stand onde o comprou. O stand alega que isso invalida a garantia do carro. No entanto, a lei proíbe cláusulas que façam a garantia depender de não recorrer a terceiros, portanto a cláusula é nula e a garantia continua válida.

Enviado por

Lourenço Diogo
Direitos autorais
© © All Rights Reserved
Levamos muito a sério os direitos de conteúdo. Se você suspeita que este conteúdo é seu, reivindique-o aqui.
Formatos disponíveis
Baixe no formato PDF, TXT ou leia on-line no Scribd
Você está na página 1/ 2

CASO PRÁTICO Nº 9 – Direito do Consumidor

Paulo, residente na cidade de Luanda, dirige-se ao stand A, propriedade de uma conhecida


marca de carros e adquire aí uma viatura usada dessa marca.

No momento da aquisição da viatura, foi apresentado a Paulo, que o assinou, um texto


previamente escrito e assinado pela administração do stand e cujo teor não resultou de
qualquer negociação com Paulo, no qual constava, entre outras, a seguinte cláusula
contratual geral:

As partes acordam que relativamente à viatura ora transacionada, a sua garantia (2 anos)
caduca se esta, durante esse tempo, for objecto de qualquer intervenção por terceiro não
autorizado pelo aqui vendedor, nomeadamente no que diz respeito à realização das revisões
periódicas a que está sujeita.

Paulo adquire a viatura e conhecendo perto de sua casa uma oficina de mecânica de
automóveis onde trabalha Carlos, um mecânico que Paulo sabia ser habilitado a fazer a
revisão do seu carro, decide levá-lo aí à revisão, onde são trocados os filtros e o óleo da
viatura.

Os filtros e óleo agora colocados eram em tudo semelhantes aos que anteriormente existiam
na viatura.

Tempos depois (e ainda dentro do prazo de garantia) Paulo descobre uma anomalia no
carro, ao nível da parte eléctrica.

Paulo leva o veículo ao stand onde o havia adquirido e denuncia o defeito, pedindo que a
viatura seja reparada sem custos, por ainda estar dentro do prazo de garantia.

É então que José, funcionário do stand, dirige-se à viatura, pega no livro de registo de
revisões desta, folheia-o e detecta que o veículo não havia efectuado no stand as revisões.

Em face disto, José diz a Paulo que a garantia do veículo havia caducado em virtude de o
veículo não ter efectuado as revisões no stand.

Quid júris?

RESOLUÇÃO:

Entre Paulo e o stand foi celebrado um contrato de compra e venda que teve por objecto a
referida viatura.

Nos termos do artº 405º CC, as partes são livres de celebrarem os contratos que lhe
aprouverem e fazer neles constar as cláusulas que quiserem, desde que não contrárias à lei.

Ora, aquando da celebração do referido contrato, Paulo assinou o supramencionado acordo do


qual consta a referida cláusula contratual geral.

Nos termos da alínea e), do artº 11º, da Lei 4/3, de 18 de fevereiro, lei das Cláusulas Gerais do
Contratos, “são proibidas, em função do quadro negocial em que se acham integrados, as
cláusulas contratuais gerais” que “façam depender a garantia das qualidades da coisa ou dos
serviços do não recurso a terceiros”.

Por outro lado, diz o artº 12º da referida Lei que “As cláusulas contratuais gerais celebradas
com violação do disposto nas secções anteriores são nulas”

No caso em estudo, apesar de Paulo não ter realizado as revisões à viatura nos termos
constantes do documento por si assinado, certo é que tal facto em nada releva para o defeito
por ele denunciado e cuja reparação reclama.

Uma coisa seria impor-se que a assistência pós-venda ou outras reparações fossem realizadas
pelo fabricante do veículo, ou por quem ele autorizasse, em virtude das intervenções a
efectuar ou dos componentes ou acessórios a colocar, exigirem conhecimentos específicos ou
terem determinadas características que, se não fossem respeitadas acarretariam ou poderiam
trazer danos para a viatura. Neste caso, uma imposição daquela natureza seria válida e eficaz,
desde que a violação daquela imposição pudesse ter alguma relação de causa e efeito
relativamente ao defeito ocorrido.

Faria todo o sentido que aquela obrigação seja imposta se a intervenção a efectuar exigisse
conhecimentos específicos, ou se os componentes ou acessórios a colocar tivessem
características concretas a ponto de que só determinadas pessoas habilitadas pelo fabricante
sejam capazes de realizarem eficaz e cabalmente uma intervenção sobre a viatura.

Por outra, exigir-se, sem qualquer fundamento válido, que não se recorra a terceiros para
realização de qualquer intervenção sobre uma viatura, quando qualquer pessoa com comuns
conhecimentos naquela área de actividade estaria habilitado a realizá-la, neste caso, é
restringir à liberdade contratual e à liberdade de escolher quem queremos contratar a
realização de um determinado serviço.

Deste modo, apesar de Paulo ter assinado o referido acordo, certo é que não há qualquer
fundamento para impedir o recurso a terceiros para realizar intervenções sobre o veículo, pelo
que, por via disto aquela cláusula é nula, nos termos da lei citada. E se caso houvesse, deveria
ser informado, conforme estabelece o nº 4 do artigo 9º da Lei 15/03, de 22 de Julho (LDC) e o
nº 3 do artigo 3º da Lei 4/03, de 18 de Fevereiro (LCGC)

Nesta ordem de ideias, Paulo, por celebrar livremente um normal contrato de empreitada com
Carlos, mecânico, com quem o Paulo tem confiança para revisão da sua viatura, deve sim
suportar os custos da manutenção, porque foi realizado um negócio jurídico que não está
vinculado com as garantias dadas pela Stand.

Todavia, se por um lado o terceiro que realizar a intervenção, a reparação, tem direito a ser
pago pelo serviço prestado, também não é correcto que esse terceiro fique obrigado a dar
garantia do serviço por si prestado pelo período de 2 anos.

Por seu lado, se a reparação por si realizada for mal executada, não pode ser exigido ao
vendedor (Stand) que naquele caso concreto, repare agora o bem ao abrigo da garantia a que
esteja obrigado, pois não foi ele que executou o serviço com defeito. Deste modo, quem tem o
dever dar garantia do serviço prestado, é quem o presta (Carlos).

Você também pode gostar