POLÍTICAS PÚBLICAS DE SAÚDE
MARCOS HISTÓRICOS
DO SUS
Profa Dra. Jandra Cibele Leite
Modelos Assistenciais
Passam pela compreensão do
processo saúde-doença em
determinada época.
Modelo e Percepção
Se há uma visão negativa de saúde,
vinculando esta à doença e à morte,
a saúde passa a ser entendida apenas
como ausência de doença.
Então, qual modelo de serviço de
saúde responde a esta percepção de
saúde?
Modelo e Percepção
Os sistemas (ou formas) de atenção à
saúde são respostas sociais deliberadas
às necessidades de saúde dos cidadãos
Modelo mágico-religioso ou
xamanístico
Predominante na Antiguidade
Doenças derivadas de elementos
naturais e espíritos sobrenaturais.
Serviço: reatar o enlace com as
divindades, processos liderados por
sacerdotes, feiticeiros ou xamãs.
Modelo empírico-racional
(hipocrático)
Filósofos: busca de explicações não
sobrenaturais para as origens do
universo, da vida, da saúde e doença.
Hipócrates (séc VI a.C.): Teoria dos
Humores (água, terra, fogo e ar)
Saúde fruto do equilíbrio dos humores
Cuidado: busca desse equilíbrio.
Modelos Assistenciais Históricos
Sanitarismo Campanhista
Médico
hegemônico/Biologicista
Médico Hegemônico/Biologicista
Individualismo
Saúde doença como mercadoria
Ênfase no biologicismo
Historicidade da prática médica
Medicalização dos problemas
Privilégio da medidina curativa
Estímulo ao consumismo médico
Participação passiva e subordinada
dos consumidores
Menendéz, 1992, apud Paim, 2008
Sanitarista
Modelo vigente no séc. XX
Lógica biologicista
Centrado em campanhas e
demandas específicas
Sanitarismo
Voltados para atender demanda
espontânea
Atender necessidades que nem
sempre se expressam em demanda
Modelos e Derivações
Médico
Sanitarista
hegemônico
Médico
Programas
assistencial
especiais
privatista
PACS/PSF-ESF
Atenção Campanhas
gerenciada sanitárias
Vigilâncias E/S
Sanitarismo Campanhista
Modelo hegemônico do final do século
XIX até metade dos anos 60
Objetivos:
saneamento dos
espaços de circulação
das mercadorias
erradicação ou controle de doenças que
poderiam prejudicar as exportações
(malária, varíola, febre amarela, peste
bubônica, cólera, tuberculose, hanseníase,
parasitoses)
Inspiração militar (estruturas verticalizadas e estilo repressivo de
intervenção e execução)
Sanitarismo Campanhista
Destaque aos sanitaristas (Oswaldo Cruz, Carlos
Chagas, etc);
1923: Saúde Pública vinculadas ao Ministério da
Justiça - responsabilidade do Estado
• controle das endemias e epidemias mais a fiscalização de
alimentos e o controle dos portos e fronteiras;
1930: unificação de Ministério da Educação e
Saúde = Departamento Nacional de Saúde
Pública;
Sanitarismo Campanhista
Década de 30:
• Inclusão do modelo
hospitalar de assistência
médica: sanatórios
(tuberculose e hanseníase; OBS: Somente em 1953
manicômios públicos) foi criado o Ministério da
Saúde, justificado pelo
• Departamentos Estaduais crescimento das ações
de Saúde (rede de postos em saúde pública.
e centros de saúde
estaduais, para controle
das doenças endêmicas e
epidêmicas);
Médico Hegemônico
Médico Assistencial Privatista
• Assistência somente aos
trabalhadores
Assistência • 1923: Lei Eloy Chaves
médica da (Previdência Social no Brasil)
Previdência • Caixas de Aposentadoria e Pensões
“CAP’s” - organizadas por empresas
Social e administradas e financiadas por
empresários e trabalhadores
• assistência médica comprada de
Obs: Até a profissionais liberais;
década de 20: • despossuídos: medicina popular
ou Santas Casas de
Misericórdias;
Médico Assistencial Privatista
Estado Novo de Getúlio Vargas:
• 1933: Institutos de Aposentadoria e Pensões (IAP’s),
estruturados por categorias profissionais e não mais
por empresas;
• fonte tripartite de recursos financeiros (Estado,
empresa e trabalhadores);
industrialização acelerada e migração da
população do campo para as cidades
• aumento da demanda por assistência médica (atuar
sobre o corpo e garantir a capacidade produtiva do
trabalhador).
O Sistema Previdenciário de
Assistência Médica
Assistência diferenciada segundo
categoria profissional (IAP’s);
Manutenção de compra de serviços
• ótica hospitalocêntrica
• incorporação de alta tecnologia
• tratamento medicamentoso e altos custos;
1966: IAP’s concentrados no Instituto
Nacional de Previdência Social (INPS)
O Sistema Previdenciário de Assistência
Médica
O INPS:
• uniformiza os benefícios entre as categorias
• privilegia a prática médica curativa individual,
assistencialista, em detrimento da saúde pública
• sistema de saúde: orientado pela lucratividade e privilégios
para os serviços de saúde privados
1974: Ministério da Previdência Social
• separa-se da área do trabalho que até então cuidava da
assistência médica do país;
• Fundo de Apoio e Desenvolvimento Social (FAS): expansão
do parque hospitalar privado (de alta complexidade e
tecnologia) com recursos da previdência e subsidiado;
O Sistema Previdenciário de
Assistência Médica
Lógica do sistema
no Estado: financiador da saúde através da
Previdência Social
no setor privado nacional: prestador dos
serviços de atenção médica
no setor privado internacional: produtor de
equipamentos biomédicos e medicamentos.
O Sistema Previdenciário de Assistência
Médica
Decadência do modelo:
Crise financeira: fraudes no sistema de pagamento e
faturamento (unidades de serviços), desvios de
verbas da previdência, aumento dos gastos com
internações, consultas, exames complementares
efetuados pelo setor privado, etc.
Exclusão de parcelas expressivas da população
Ineficiência: não altera perfil de morbimortalidade
Custos crescentes do modelo adotado
Abertura política e o reaparecimento de atores dispostos a lutar
pelo resgate da dívida social acumulada pela ditadura.
a situação de saúde brasileira é
marcada por uma transição
demográfica acelerada e expressa-se
por uma situação de tripla carga de
doenças
uma agenda não superada de doenças
infecciosas e carenciais,
uma carga importante de causas externas
uma presença hegemônica forte de
condições crônicas
Pirâmide etária 1950
necessidade demográfica de
direcionamento das políticas sociais
para a população jovem, por
exemplo, em políticas relacionadas
à educação e saúde infantil.
Atualmente:
a taxa de fecundidade encontra-se
abaixo de 2 filhos por mulher, e a
longevidade aumenta
continuamente, há uma maior
pressão demográfica para que as
políticas sociais sejam
redirecionadas para os adultos e,
principalmente, os idosos
MOVIMENTO PELA REFORMA SANITÁRIA
Experiências municipais de implantação de redes de atenção
básica à saúde (1975/76)
1978: priorização da atenção e dos cuidados primários de
saúde - Conferência Mundial de Saúde de Alma-Ata,
promovida pela OMS
1976: Programa de Interiorização das Ações de Saúde
(PIASS) - técnicos comprometidos com a proposta do
“movimento sanitário”
1979:grande extensão da rede ambulatorial pública,
principalmente no Nordeste.
MOVIMENTO DA REFORMA SANITÁRIA
Outros fatores importantes que permitiram o
estabelecimento de uma nova proposta:
• movimentos de trabalhadores de saúde (organizações
sindicais dos médicos)
• Centro Brasileiro de Estudos da Saúde - CEBES (1976)
e a Associação Brasileira de Pós-Graduação em Saúde
Coletiva – ABRASCO.
• movimento municipalista: encontros de Secretários
Municipais de Saúde (1978), entidades estaduais e
nacional de secretários (COSEMS e o CONASEMS),
MOVIMENTO DA REFORMA SANITÁRIA
Surgimento e fortalecimento do movimento popular de saúde
Fim do bipartidarismo, a democratização e ressurgimento do
debate político e de propostas partidárias;
Resultado da reforma sanitária experimentada em alguns países,
com forte influência da experiência italiana.
Surgimento de um novo movimento sindical, autônomo, a partir
das greves do ABC no final dos anos 70, e com destaque e
importância para a Central Única dos Trabalhadores (CUT)
MOVIMENTO DA REFORMA SANITÁRIA
Março/1986: VIII Conferência
Nacional de Saúde
• caráter democrático (delegados
representando usuários, trabalhadores da
saúde, partidos políticos, os diferentes
níveis de governo, universidade,
parlamentares, ONG, etc.)
• amplo processo social foi estabelecido
através do debate estabelecido pela
sociedade civil
MOVIMENTO DA REFORMA SANITÁRIA
Reforma Sanitária, caracterizada
por três aspectos principais:
• o conceito abrangente de saúde;
• saúde como direito de cidadania e
dever do Estado;
• a instituição de um Sistema Único de
Saúde.
MOVIMENTO DA REFORMA SANITÁRIA
Processos iniciados em 1987
• (RE)Formulação do Sistema de Saúde -
implantação do SUDS, pelo poder executivo
• elaboração da nova constituição brasileira,
pelo legislativo.
Modelos Assistenciais ou
Modelos de Atenção
Representam tecnologias estruturadas em
função dos problemas de saúde (danos e
riscos) de uma população, que por sua vez,
expressam necessidades sociais historicamente
definidas
Formas de articulação entre sujeitos
(profissionais e usuários) mediadas por
tecnologias (materiais e não materiais)
utilizadas no processo de trabalho em saúde
Não se reduzem a formas de organização dos
serviços de saúde
(Paim, 2008)
SUS: imutável?
A produção social da saúde [...] além de
dar conta de um estado de saúde em
permanente transformação [...] permite a
ruptura com a ideia de um setor saúde,
erigindo-a como produto social resultante
de fatos econômicos, políticos, ideológicos
e cognitivos (MENDES, 1996, p. 241).
SUS
marcado pelo paradigma da produção social da
saúde.
saúde não é vista apenas como ausência de doença,
no sentido tradicional.
possibilidade dos indivíduos atuarem, de produzirem
sua própria saúde, seja mediante cuidados
tradicionais, seja por ações que influenciem o seu
meio.
Requer ações políticas que impliquem na redução de
desigualdades, cooperação intersetorial, participação
efetiva, ou seja, no exercício da cidadania.
http://versus.otics.org/acervo/texto
s/modelos-de-atencao-a-saude-no-
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