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Reuniões de Desobsessão (Momento de Acolher de Espíritos em Desarmonia)

Reflexões sobre as reuniões de desobsessão, cujo ponto de partida é o que conta nas obras da Codificação espírita. (Versão 30)
Direitos autorais
© © All Rights Reserved
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Reuniões de Desobsessão (Momento de Acolher de Espíritos em Desarmonia)

Reflexões sobre as reuniões de desobsessão, cujo ponto de partida é o que conta nas obras da Codificação espírita. (Versão 30)
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Reuniões de

desobsessão
(Momento de acolher Espíritos em desarmonia)

(Versão 30)

“E alguns judeus, exorcistas ambulantes,


tentavam invocar o nome do Senhor
Jesus sobre os possessos de espíritos
malignos, […].” (Atos 19,13)

Paulo Neto

(mos)
Copyright 2021 by
Paulo da Silva Neto Sobrinho (Paulo Neto)
Belo Horizonte, MG.

Capa:

https://images.wsj.net/im-654774/?
width=700&size=1.5&pixel_ratio=1.5

Revisão:

Artur Felipe Ferreira


Hugo Alvarenga Novaes
Júlio César Moreira da Silva
Kátia Vilela

Diagramação:

Paulo Neto
site: https://paulosnetos.net
e-mail: [email protected]

Belo Horizonte, maio/2021.


Agradecimentos

Não podemos deixar de registrar a nossa


eterna gratidão aos amigos

Artur Felipe Ferreira


Astolfo Olegário de Oliveira Filho
Hugo Alvarenga Novaes
Júlio César Moreira da Silva
Kátia Vilela
Thiago Toscano Ferrari

pelo incentivo e sugestões ao presente ebook.


Sumário

Prefácio.............................................................................5
1. Introdução..................................................................10
2. As reuniões na época da Codificação.........................15
3. Nas obras da Codificação Espírita..............................18
4. Além do diálogo com os Espíritos obsessores, teria
algo mais a se fazer a favor do paciente?..................48
5. Alcoolismo como efeito de obsessão.........................64
6. Condições ideais de uma reunião mediúnica.............69
7. Afinal, pode-se ou não evocar os mortos?...............175
8. E quanto aos guias poder-se-ia evocá-los para os
consultar?.................................................................200
9. Alguns Espíritos seriam constrangidos a comparecer
em uma reunião?.....................................................212
10. Como se deve tratar os Espíritos manifestantes?..229
11. A função da música................................................246
12. Poder-se-ia, pois, considerar a pessoa obsidiada um
médium?...................................................................257
13. Conclusão...............................................................265
Referências bibliográficas.............................................268
Dados biográficos do autor..........................................275
Prefácio

É de conhecimento entre nós, espíritas, o


incessante intercâmbio entre encarnados e
desencarnados.

Embora habitem dimensões diferentes, “vivos”


e “mortos” continuam ligados por laços invisíveis,
mas não menos poderosos, por meio dos quais se
põem em comunicação. Tal comunicação, não
obstante na maioria das vezes imperceptível aos
sentidos mais grosseiros, sempre se deu, desde o
surgimento da raça humana no planeta.

Através da mediunidade, faculdade inerente ao


homem, os habitantes desses dois mundos se
puseram em contato de maneira mais direta,
podendo revelar, mesmo que timidamente, as
realidades do além-túmulo.

Durante milênios, contudo, a fenomenologia


mediúnica padeceu com a ideia do maravilhoso e do
sobrenatural, eivada de misticismos e superstições,

5
oriundos do profundo atraso intelecto-moral da
humanidade. Os abusos cometidos fizeram com que
legisladores locais optassem, inclusive, por proibir o
intercâmbio, embora reconhecessem a veracidade
do fenômeno.

Homens e mulheres, ao tempo de Moisés, por


exemplo, costumavam recorrer aos Espíritos por
meio das chamadas pitonisas, buscando conselhos
sobre os mais ínfimos problemas cotidianos. Desse
modo, o austero líder é forçado a proibir a
comunicação com os Espíritos em sua época. Do
mesmo modo, os gregos, assim como os romanos,
egípcios, hindus, caldeus, chineses e persas,
reconheciam a possibilidade de contato com os
desencarnados.

Mais tarde, ainda devido à ignorância e ao


apego a poderes temporais, as religiões dogmáticas
cristãs lançaram seus anátemas à comunicação com
os Espíritos, agora vistos como seres demoníacos e
voltados unicamente ao mal. Segundo eles, os ditos
“mortos” não teriam condições de se porem em
contato conosco por já habitarem o céu ou o inferno,
suas derradeiras e definitivas moradas.

6
A espiritualidade superior, contudo, aguardou o
momento propício, de maior amadurecimento
espiritual, para trazer ao mundo as luzes da Doutrina
Espírita. Através do emérito professor Rivail –
Denisard Hippolyte Léon Rivail (1804-1869) –
pesquisador arguto com uma longa romagem de
aprendizados em existências pregressas (o mundo
espiritual, assim como os Espíritos), passou a ser
melhor compreendido, afastando definitivamente de
cena as concepções errôneas e/ou extremadas.

Os desencarnados passaram a não mais serem


vistos como anjos celestiais ou seres pérfidos
eternamente devotados ao mal, mas apenas como
indivíduos que não mais trajavam a roupagem física
e que exibiam virtudes e fraquezas, geralmente as
mesmas que possuíam enquanto na esfera terrena.

Sob o lema “Fora da caridade não há


salvação”, a Doutrina Espírita nos convoca não só ao
diálogo com os nossos irmãos desencarnados, mas
também à oportunidade que temos de aprender com
os que se encontram mais adiantados. Aliás, vai
além: não excomunga nem repele os que se
encontram ainda atrasados na senda do progresso –

7
abraça-os e acolhe-os, como irmãos nossos, de modo
a oferecer-lhes o esclarecimento e o apoio de que
tanto necessitam para se desembaraçarem das
paixões que os sufocam e os fazem sofrer.

Apontando a obsessão como uma chaga que


aflige boa parte da população encarnada, tal qual
uma epidemia, como afirmou Léon Denis, o
Espiritismo vem trazer ao mundo a sua contribuição
de luz, em que o amor transpassa a barreira entre
dois mundos.

Nesse contexto, mais uma vez, o confrade


Paulo Neto nos traz sua preciosa contribuição
enquanto escritor e pesquisador espiritista, na
medida em que analisa e ressalta a importância das
reuniões mediúnicas de desobsessão, poderosas
ferramentas de acolhimento e enxugamento de
lágrimas. Por meio de um convite ao perdão e à
tolerância fraterna entre todos os envolvidos, antigos
algozes podem, nesses encontros benditos, ser
esclarecidos pelas luzes do Evangelho e da magna
Doutrina, num aceno à paz, ao entendimento e ao
amor, únicos capazes de romper as barreiras do ódio
e da vingança.

8
Finalmente, convém lembrar que a obsessão se
dá pela afinidade entre os envolvidos, em que o
elemento encarnado deva fazer, da mesma forma,
todo o esforço de aperfeiçoamento íntimo
necessário, sem o qual qualquer iniciativa, por
melhor que se apresente, não passará de mera
perda de tempo, tal qual advertiu Jesus: “Vá e não
peques mais”. (João 8:11)

A presente obra de Paulo Neto, portanto,


merece de nós toda a consideração e estudo,
consubstanciada que está nas preciosas lições do
Espiritismo, conforme nos foi legado por Allan Kardec
e a augusta plêiade de Espíritos dirigida pelo Espírito
da Verdade.

Artur Felipe Ferreira


Professor, tradutor, revisor e escritor

9
1. Introdução

Será que as atuais reuniões designadas de


desobsessão (orientação ou esclarecimento de
Espíritos) estariam recomendadas
na Codificação? É exatamente
esse ponto que propomos
pesquisar (1) em todas as obras
publicadas por Allan Kardec, o
insigne codificador do Espiritismo.

10
Na atualidade, ou seja, no início do segundo
semestre de 2023, perto de se completar os 167
anos do surgimento da Doutrina dos Espíritos,
naturalmente poderá surgir o questionamento sobre
a real utilidade das evocações de desencarnados em
reuniões mediúnicas, nas quais se estabelecem
diálogos com eles visando, de alguma forma, auxiliá-
los.

Faz um bom tempo que percebemos que


alguns companheiros são de opinião que a tarefa de
esclarecimento e/ou de moralização dos Espíritos
inferiores seria uma ação específica a ser realizada
com eficácia somente no mundo espiritual pelos
Espíritos superiores e não por nós, aqui do mundo
material.

Em Obsessão, o Passe, a Doutrinação, o


saudoso jornalista José Herculano Pires (1914-1979),
refutou essa ideia:

[…] Alguns espíritas atuais


pretendem suprimir a doutrinação,
alegando que esta é realizada com
mais eficiência pelos Espíritos bons no
plano espiritual. Essa é uma prova de

11
ignorância generalizada da Doutrina no
próprio meio espírita, pois nela tudo se
define em termos de relação e evolução. Os
Espíritos sofredores, que são os obsessores,
permanecem mais ligados à Terra e portanto
à matéria. Dessa maneira, os Espíritos
benevolentes muitas vezes se
manifestam nas sessões de
desobsessão e servem-se dos médiuns
para poderem comunicar-se com os
obsessores. Apegados à matéria e à vida
terrena, os obsessores necessitam de sentir-
se seguros no meio mediúnico, envolvidos
nos fluidos e emanações ectoplásmicas da
sessão, para poderem conversar de maneira
proveitosa com os Espíritos esclarecedores.
Basta esse fato, comum nas sessões bem
orientadas, para mostrar que a doutrinação
humana dos Espíritos desencarnados é uma
necessidade. (2) (Nas transcrições e no texto
normal todos os grifos em negrito são
nossos. Quando ocorrer de não ser,
avisaremos.)

Na condição de, segundo Emmanuel, “O metro


que melhor mediu Kardec” (3), Herculano Pires foi
cirúrgico, tocou bem na raiz do problema.

Outros confrades são contrários às reuniões de


desobsessão unicamente pelo fato delas serem
mencionadas em obras ditadas pelo Espírito André

12
Luiz, através da psicografia do médium Francisco
Cândido Xavier (1910-2002), mais popularmente
designado por Chico Xavier. Pede-se apenas bom
senso, pois o excesso, para qualquer um dos lados,
não é uma atitude nada conveniente.

Ao desenvolver uma
pesquisa no livro Curso Básico
de Espiritismo, 1º ano,
publicado pela FEESP (Federação
Espírita do Estado de São Paulo),
visando encontrar informações
que pudessem retratar a vida no
mundo espiritual, acabamos deparando com este
parágrafo, cujo conteúdo nos pareceu bem
interessante:

Em erraticidade, os Espíritos analisam


e refletem sobre o seu passado, sempre
objetivando o aperfeiçoamento e, ao
percorrerem os lugares, observam e
escutam com interesse os conselhos
dos encarnados mais esclarecidos, e
dessa forma, as ideias novas surgem em seu
íntimo, predispondo-os a aceitação dos
desígnios divinos. (4)

13
O teor dessa explicação, segundo pudemos
posteriormente apurar, vem de O Livro dos Espíritos,
como se verá no início do próximo capítulo.

Despertou a nossa atenção o trecho em que se


lê “escutam com interesse os conselhos dos
encarnados mais esclarecidos”, razão pela qual
resolvemos pesquisar nas obras da Codificação para
ver se nelas haveria mais alguma coisa a respeito
disso.

Nossa esperança é que o resultado dessa


pesquisa possa ajudar a todos que nos derem a
honra de lê-la uma compreensão mais profunda
desse instigante tema. E, sinceramente, esperamos
que produza efeitos imediatos naqueles que
perceberem a pertinência de nossas considerações.

14
2. As reuniões na época da Codificação

Em 1º de abril de 1858, Allan Kardec fundou a


Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, muitas
vezes designada apenas de Sociedade Espírita de
Paris, que teve o privilégio de ser o primeiro centro
espírita deste mundo que habitamos. O Espírito São
Luís era o seu protetor espiritual.

Nela se faziam reuniões diversas, como, por


exemplo, de estudo doutrinário, administrativas, etc.
Entre elas, haviam as reuniões espíritas, em que
ocorriam manifestações de Espíritos, seja
espontaneamente ou evocados, sobre as quais o
Codificador esclareceu que “apresentam
características muito diferentes, conforme o fim com
que se realizam; por isso mesmo, suas condições
intrínsecas devem diferir” (5).

As que nos interessam, são aquelas destinadas


especificamente ao “tratamento da obsessão”, onde
os Espíritos são evocados e esclarecidos, de forma
que possam retomar o seu caminho evolutivo e

15
assim deixar em paz o encarnado sobre o qual
exercem sua ação perniciosa, via de regra, por
motivo de vingança.

Geralmente são designadas de reuniões de


desobsessão, mas, algumas casas espíritas as
intitulam de reuniões mediúnicas, expressão
genérica. Claro que essa não deixa de ser uma
reunião mediúnica, mas como também existem as
destinadas à educação mediúnica, onde se admitem
adeptos que se candidatam ao “desenvolvimento”
da mediunidade, é melhor que tenham nomes
diferenciados, conforme os seus objetivos.

Assim como acontece com as Instituições


Espíritas, as reuniões de desobsessão também
possuem um Espírito que a dirige e coordena os
trabalhos a serem desenvolvidos.

Na Revista Espírita 1860, mês de agosto, foi


publicado o artigo “O trapaceiro da rua dos Noyers”,
que narra sua evocação na Sociedade de Paris, em
29 de junho de 1860; do diálogo destacamos:

1. Evocação do Espírito perturbador da


rua dos Noyers. – R. Que tendes para me

16
chamar? Quereis pedradas? Será então
que se verá um salve-se quem puder,
apesar de vosso ar de bravura.
2. Quando nos arremessares pedras aqui,
isso não nos amedrontará; pergunto mesmo
positivamente se tu as podes arremessar? –
R. Aqui, talvez eu não pudesse; tendes
um guardião que vela bem sobre vós. (6)

Nossa intenção, com essa transcrição, é


chamar a atenção para o fato de que devemos
confiar nos Espíritos protetores que não permitirão
que, nesse trabalho, nada de ruim, que queira nos
fazer algum Espírito manifestante, nos aconteça.

17
3. Nas obras da Codificação Espírita

Nossa principal fonte será as obras da


Codificação Espírita, pois é nelas que encontraremos
tanto as revelações dos Espíritos superiores, como as
experiências e o pensamento de Allan Kardec.

De O Livro dos Espíritos, Livro Segundo,


capítulo “VI – Vida espiritual”, tópico “Espíritos
errantes”, transcrevemos a seguinte questão:

227. De que modo se instruem os


Espíritos errantes, já que certamente não o
fazem da mesma maneira que nós?
“Estudam o seu passado e procuram
meios de elevar-se. Veem, observam o que
se passa nos lugares que percorrem; ouvem
os discursos dos homens esclarecidos e
os conselhos dos Espíritos mais
elevados que eles, e tudo isso lhes inspira
ideias que não tinham antes.” (7) (itálico do
original)

Muito interessante a informação de que alguns


Espíritos “ouvem os discursos de homens

18
esclarecidos”, pois significa que eles, ainda que
anonimamente, frequentam as reuniões mediúnicas
sérias e de elevado teor moral visando aprender.

No diálogo com o Espírito Sr. Philibert Viennois,


publicado na Revista Espírita 1863, mês de maio,
a certa altura, o vemos dizer:

Obrigado pela vossa benevolência,


senhor Kadec; não podíeis fazer melhor.
Aqueles que choram os ausentes têm
necessidade do Espírito de Deus, mas
também do apoio de outros Espíritos
benevolentes, e os Espíritos devem sê-lo.
Vossa prece emocionou muitos
Espíritos levianos e incrédulos que são
as testemunhas invisíveis de vossas
sessões (esta prece havia sido lida na
Sociedade depois da evocação); vossas boas
palavras servirão para o seu adiantamento.
Restituís, frequentemente, ao nosso mundo
o bem que dele recebeis. Não desdenhar o
conselho de um menor que seja, é
reconhecer esse laço íntimo criado por Deus
entre todas as criaturas. (8) (itálico do
original)

O Espírito Anne Belleville também comprova


isso, conforme se pode ver neste parágrafo de seu

19
relato constante de O Céu e o Inferno, Segunda
Parte, capítulo “III – Espíritos em condições
medianas”:

Quando voltar à Terra, garanto que serei


espírita. Que ciência sublime! Assisto
constantemente às vossas reuniões e
aos conselhos que vos são
transmitidos. Se os tivesse compreendido
quando estava na Terra, meus sofrimentos
teriam sido atenuados. Mas a ocasião não
havia chegado. Hoje compreendo a bondade
de Deus e sua justiça, […]. (9)

Julgamos que a responsabilidade que cada um


dos participantes deve assumir ao frequentar as
reuniões mediúnicas seja enorme. É necessário que
todos considerem a sua participação nelas como
sendo nobre tarefa de caridade.

Do capítulo XXV – “Evocações”, item 281 do


tópico “Utilidade das evocações particulares”, da
obra O Livro dos Médiuns (1861), considerada por
Allan Kardec como “Guia dos médiuns e dos
evocadores”, transcrevemos o último parágrafo:

20
A evocação dos Espíritos vulgares
tem, além disso, a vantagem de nos
pôr em contato com Espíritos
sofredores, que podemos aliviar e cujo
adiantamento podemos facilitar, por
meio de bons conselhos. Todos, pois,
podemos nos tornar úteis, ao mesmo tempo
que nos instruímos. Há egoísmo naquele
que somente a sua própria satisfação
procura nas manifestações dos
Espíritos, e dá prova de orgulho aquele
que deixa de estender a mão em
socorro dos desgraçados. De que lhe
serve obter belas comunicações de Espíritos
de escol, se isso não o faz melhor para
consigo mesmo, nem mais caridoso e
benévolo para com seus irmãos deste
mundo e do outro? Que seria dos pobres
doentes, se os médicos se recusassem a
lhes tocar as chagas? (10)

O adjetivo “vulgares” sempre foi utilizado pelo


Codificador apenas para designar os Espíritos
inferiores comuns, conforme podemos ver em suas
explicações constantes de O Livro dos Médiuns, no
item 267, no inciso 4 (11), portanto, não deve ser
entendido no sentido pejorativo.

Assim, caso os espíritas não abraçarem a


nobre tarefa de aliviar o sofrimento e contribuir para

21
o adiantamento moral dos Espíritos inferiores,
estarão agindo como egoístas, segundo os preceitos
do Cristo, e orgulhosos, segundo Allan Kardec, por
não colocarem em prática a caridade e a
benevolência para com eles.

Obviamente que isso não significa que todos os


espíritas devam fazer esse trabalho específico, uma
vez que a caridade pode ser exercida de inúmeras
outras maneiras. O que ele quer dizer, realmente, é
que as instituições espíritas não deveriam descuidar
desse tipo de atividade.

Ao se utilizar de outras palavras o Codificador


está, na verdade, está recomendando mesmo a
evocação desses Espíritos para que, por meio de
bons conselhos, possamos contribuir para aliviar o
sofrimento deles e também despertá-los para o
avanço moral, ou seja, para que tomem a decisão de
retomar o caminho da sua evolução espiritual. Essa
tarefa tem muito mais probabilidade de ocorrer em
reuniões mediúnicas criadas precipuamente para
esse objetivo.

Quanto à evocação, há situações em que, de

22
acordo com Allan Kardec, é efetivamente necessário
fazê-la, como nos casos das obsessões graves. Mas
deixaremos para tratar desse assunto mais à frente.

Voltando à obra O Livro dos Médiuns. Agora


no capítulo “XXIII – Obsessão”, no item 254, em que
lemos esclarecimentos importantes:

5. Não se pode também combater a


influência dos maus Espíritos, moralizando-
os?
“Sim, mas é o que não se faz, e é o que
não se deve deixar de fazer, porque,
muitas vezes, isso constitui uma tarefa
que vos é dada e que deveis
desempenhar caridosamente,
religiosamente. Por meio de sábios
conselhos, é possível induzi-los ao
arrependimento e apressar o progresso
deles.” (12) (itálico do original)

Uma das nossas missões, enquanto espíritas


que somos, é “combater” a influência dos Espíritos
maus, moralizando-os, obviamente que em reuniões
específicas para dialogar com eles, uma vez que, de
forma bem direta, nos foi informado que “isso
constitui uma tarefa que vos é dada e que deveis

23
desempenhar caridosamente, religiosamente”. É
claro, portanto, que isso nos é possível.

Allan Kardec insistiu na questão, querendo


saber como nós, os encarnados, podemos influenciar
de maneira positiva os Espíritos maus se eles,
teoricamente, têm os Espíritos superiores ao lado.

5-a. Como pode um homem ter, a esse


respeito, mais influência do que a têm os
próprios Espíritos?
“Os Espíritos perversos se
aproximam antes dos homens que eles
procuram atormentar, do que dos
Espíritos, dos quais se afastam o mais
possível. Nessa aproximação dos humanos,
quando encontram algum que os moralize, a
princípio não o escutam e até se riem dele;
depois, se aquele os sabe prender, acabam
por se deixarem tocar. Os Espíritos elevados
só em nome de Deus lhes podem falar e isto
os apavora. O homem, indubitavelmente,
não dispõe de mais poder do que os
Espíritos superiores, porém, sua
linguagem se identifica melhor com a
natureza daqueles outros e, ao verem o
ascendente que o homem pode exercer
sobre os Espíritos inferiores, melhor
compreendem a solidariedade que existe
entre o céu e a terra. Demais, o

24
ascendente que o homem pode exercer
sobre os Espíritos está na razão da sua
superioridade moral. Ele não domina os
Espíritos superiores, nem mesmo os que,
sem serem superiores, são bons e
benevolentes, mas pode dominar os que lhe
são inferiores em moralidade.” (13) (itálico do
original)

Conforme explicado, a razão está no seguinte


fato: nós, os encarnados, estamos mais próximos dos
Espíritos perversos do que os Espíritos superiores,
por isso, é mais fácil para nós alcançá-los do que
seria para esses fazê-lo com a mesma facilidade.

Em Depois da Morte (1890), no capítulo


“XXXVI – Os Espíritos interiores”, da “Quarta Parte –
O Além”, lê-se:

Os espíritos maus, sobre os quais caem


vigorosamente o peso de suas faltas, estão
na impossibilidade de prever o futuro. Nada
sabem das leis superiores. Os fluidos com
os quais estão envolvidos impedem
qualquer relação com os espíritos
elevados, que gostariam de arrancá-los de
seus pendores, mas não o podem, em razão
da natureza grosseira, quase material,
desses espíritos e do campo restrito de suas

25
percepções. […]. (14)

Bem dentro do que Allan Kardec pontuou.

Ainda na mesma parte de Depois da Morte,


avançando para o capítulo “XXXVIII – Ação do
homem sobre os Espíritos infelizes”, lemos:

Nossa indiferença com relação às


manifestações espíritas não nos privaria
somente do conhecimento do futuro de
além-túmulo; ao mesmo tempo nos tiraria
a possibilidade de agir sobre os
espíritos infelizes, de aliviar sua sorte,
tornando-lhes mais fácil a reparação das
faltas cometidas. Os espíritos atrasados,
tendo mais afinidade com os homens
do que com os espíritos puros, em
razão da sua constituição fluídica ainda
grosseira, são por isso mesmo mais
acessíveis à nossa influência. Entretanto,
em comunicação com eles, podemos
cumprir uma generosa missão, instruí-
los, moralizá-los e, ao mesmo tempo,
melhorar, sanear o meio fluídico no qual
todos vivemos. Os espíritos infelizes ouvem
nosso apelo e nossas evocações. Nossos
pensamentos simpáticos os envolvem como
uma corrente elétrica, os atraem até nós,
nos permitem conversar com eles por
intermédio dos médiuns. (15)

26
Interessante é perfeita sintonia entre o
discípulo Léon Denis e seu mestre Allan Kardec.

Da obra A Crise da Morte, autoria de Ernesto


Bozzano (1862-1943), tomaremos um trecho do Caso
VIII. A manifestante era uma mulher, cujo nome não
foi citado, mas que a médium Mrs. Duffey
“conhecera na intimidade, havia sido uma distinta e
cultíssima mulher, livre-pensadora a respeito de
religião, mas uma espírita convicta nos últimos anos
de sua vida” (16):

Com sincera tristeza interrompo a esta


altura a narração da entidade comunicante,
narração que se torna cada vez mais
interessante, quando a ela se manifestam os
pais, os parentes e os conhecidos, bem
como o próprio espírito-guia. Mas, não sendo
possível citar tudo, limito-me a
apresentar mais um trecho de diálogo
em que é explicado por que motivo a
personalidade da desencarnada
comunicante permaneceu durante
algum tempo em solidão no mundo
espiritual. Ela pergunta ao espírito-guia:
“– Por que fui condenada a passar de um
mundo para o outro completamente só?
“(Espírito-guia) – 'Condenada' não é a

27
palavra, minha querida. Você não estava
só. Parecia a você que estava, mas na
realidade eu, com muitos outros
espíritos de conhecidos e amigos,
estávamos ansiosamente vigiando-a, à
espera do momento em que nos fosse
possível manifestar-nos a você. Para
muitas almas de desencarnados, o
transpasse do mundo dos mortais para o
dos imortais é um período de crise moral
bastante penosa, e eles têm necessidade da
assistência imediata dos seus entes
queridos, para que os confortem e
encorajem, até que estejam familiarizados
com o novo ambiente; mas você não era
uma alma como muitas outras. Nas mais
críticas situações da vida você sempre
escolheu agir por si só; você encerrou
constantemente no fundo da alma os seus
pensamentos, as suas reflexões, o fruto da
sua experiência e até mesmo as suas
emoções. Você soube, com firmeza de
heroína, olhar a morte no rosto. Muito bem,
de um temperamento como o seu
exigia-se que permanecesse em
ambiente espiritual de aparente
isolamento, a fim de que você pudesse
apreciar melhor o valor da comunicação
espiritual. Mas assim que você sentiu
necessidade de companhia, e a desejou com
o pensamento, imediatamente ficamos em
condições de responder ao seu chamado.”

28
Essas explicações do espírito-guia são
teoricamente interessantes, porque
constituem uma variante complementar de
outro detalhe discutido anteriormente,
segundo a qual os “espíritos inferiores”
não podem perceber os superiores,
tendo em vista a diferença existente na
classificação das vibrações dos seus
respectivos “corpos etéreos”, e,
analogamente, das vibrações de seu
pensamento. (17)

Confirma-se que todos os Espíritos, mais cedo


ou mais tarde, serão ajudados. Mas o ponto que
queremos destacar é quanto ao fato das vibrações
do perispírito que por afinidade coloca os Espíritos
superiores numa esfera ou faixa vibracional mais
elevada, inacessível aos inferiores. Situação essa que
dificulta em muito a imediata ajuda que os mais
elevados prestam aos retardatários.

Da Revista Espírita 1865, mês de julho,


artigo “Perguntas e problemas – Cura moral dos
encarnados”, tem-se a seguinte pergunta:

Veem-se, frequentemente, Espíritos de


má natureza cederem, muito prontamente,
sob a influência da moralização e se

29
melhorarem. Pode-se agir do mesmo modo
sobre os encarnados, mas com muito mais
dificuldade. De onde vem que a
educação moral dos Espíritos
desencarnados é mais fácil do que a
dos encarnados? (18) (itálico do original)

Allan Kardec esclarece que seis respostas


foram obtidas, mas que citará apenas duas. Por
nossa vez, destacaremos apenas a do item II,
assinada por Erasto:

Quantos problemas e questões a resolver


antes que a transformação humanitária
tenha se cumprido segundo as ideias
espíritas! a da educação dos Espíritos e dos
encarnados, do ponto de vista moral, é
desse número.
Os desencarnados estão desembaraçados
dos laços da carne e não lhe sofrem mais as
condições inferiores, ao passo que os
homens, acorrentados a uma matéria
imperiosa do ponto de vista pessoal, se
deixam arrastar pelo estado de provas no
qual são internados. É à diferença dessas
diversas situações que é preciso
atribuir as dificuldades que os Espíritos
iniciadores e os homens que têm a sua
missão, experimentam para
melhorarem rapidamente e, por assim

30
dizer, em algumas semanas, aqueles
homens que lhes são confiados. Os
Espíritos, ao contrário, aos quais a matéria
não impõe mais suas leis e não fornecem
mais os meios de satisfazer seus apetites
maus, e que não têm mais,
consequentemente, senão desejos
inatacáveis, estão mais aptos para
receberem os conselhos que lhes são
dados. Responder-se-á, talvez, então, para
essa questão, que tem a sua importância:
Por que não escutam os conselhos de
seus guias do espaço e esperam os
ensinamentos dos homens? Porque é
necessário que os dois mundos, visível
e invisível, reajam um sobre o outro, e
que a ação dos humanos seja útil
àqueles que viveram, como a ação da
maioria destes é benfazeja àqueles que
vivem entre vós. É uma dupla corrente, uma
dupla ação igualmente satisfatória para
esses dois mundos, que estão unidos por
tantos laços.
Eis o que creio dever responder à
pergunta colocada por vosso presidente.

ERASTO (méd., Sr. D'AMBEL.) (19)

Observe, caro leitor, que a nossa participação


no processo de ajuda aos desencarnados é
necessária, assim nos ajudamos mutualmente.

31
No livro O Céu e o Inferno, Segunda Parte, ao
final do capítulo “IV – Espíritos sofredores”, encontra-
se registrada essa mesma dúvida só que dirigida a
São Luís, protetor da Sociedade Espírita de Paris, que
entendemos valer a pena a citar:

P. [A São Luís] – Qual a causa de a


educação moral dos Espíritos
desencarnados ser mais fácil que a dos
encarnados? As relações que o Espiritismo
estabelece entre homens e Espíritos levam a
crer que estes últimos se corrigem mais
rapidamente sob a influência dos conselhos
salutares do que os encarnados, como se vê
na cura das obsessões.
R. [Sociedade de Paris] – Em virtude de
sua própria natureza, o encarnado está
numa luta incessante devido aos elementos
contrários de que se compõe e que devem
conduzi-lo ao seu fim providencial, reagindo
um sobre o outro. A matéria sofre facilmente
o predomínio de um fluido exterior; se, com
todo o poder moral de que é capaz, a alma
não reagir, deixar-se-á dominar por
intermédio do seu corpo, seguindo o impulso
das influências perversas que a rodeiam, e
isso com facilidade tanto maior quanto os
invisíveis, que a subjugavam, atacam de
preferência os pontos mais vulneráveis, as
tendências para a paixão dominante.

32
Não ocorre a mesma coisa com o
Espírito desencarnado, porquanto,
embora sob a influência semimaterial, não
se compara por seu estado ao encarnado. O
respeito humano, tão preponderante
no homem, não existe para aquele, e só
este pensamento é bastante para compeli-lo
a não resistir longamente às razões que o
próprio interesse lhe aponta como boas. Ele
pode lutar, e o faz geralmente com mais
violência do que o encarnado, visto ser mais
livre. Nenhuma cogitação de interesse
material, nem de posição social, se antepõe
ao seu raciocínio. Luta por amor do mal, mas
cedo adquire a convicção da sua impotência,
em face da superioridade moral que o
domina. A perspectiva de um futuro melhor
lhe é mais acessível, por se reconhecer na
mesma vida em que se deve completar esse
futuro; e essa visão não se turva no
turbilhão dos prazeres humanos. Em uma
palavra, a independência da carne é que
facilita a conversão, principalmente quando
se tem adquirido certo desenvolvimento
pelas provações cumpridas. Um Espírito
inteiramente primitivo seria pouco acessível
ao raciocínio, o que não se dá com o que já
tem experiência da vida. Ademais, no
encarnado como no desencarnado, é sobre a
alma, é sobre o sentimento que se deve agir.
Qualquer ação material pode sustar
momentaneamente os sofrimentos do
homem vicioso, mas é incapaz de destruir o
princípio mórbido que reside na alma. Todo e

33
qualquer ato que não vise a aperfeiçoar a
alma, não poderá desviá-la do mal.

São Luís. (20) (itálico do original)

Acreditamos que esse questionamento


também pode ter surgido, em parte significativa dos
participantes de reuniões mediúnicas de
esclarecimento, razão pela qual o transcrevemos.

Avançando para o capítulo “V – Suicidas” de O


Céu e o Inferno, destacamos do caso do Espírito
Antoine Bell o seguinte trecho:

6. AO GUIA DO MÉDIUM – Um Espírito


obsessor pode, realmente, levar o
obsidiado ao suicídio? – R. Certamente,
pois a obsessão, que por si mesma já é um
gênero de provação, pode manifestar-se de
todas as formas. Mas isto não quer dizer
isenção de culpabilidade. O homem dispõe
sempre do seu livre-arbítrio e, por
conseguinte, é livre para ceder ou resistir às
sugestões a que o submetem. Quando
sucumbe, o faz sempre por assentimento da
sua vontade. […]. (21) (itálico do original)

Eis uma situação grave que pode surgir da

34
obsessão, razão pela qual devemos envidar todos os
esforços para manter, nas instituições espíritas,
reuniões sérias voltadas à desobsessão.

Será interessante mencionar o Dr. Carl August


Wickland (1861-1945), insigne psiquiatra e
pesquisador dos fenômenos psíquicos. Nascido na
cidade de Liden, Suécia, emigrou-se para os Estados
Unidos indo morar em Chicago. ( 22) De sua obra
Trinta Anos Entre os Mortos, transcrevemos:

Perguntarão porque os mesmos


espíritos que alcançaram um grau
maior de evolução não se encarregam
dos espíritos apegados à Terra,
ensinando-os sem a necessidade de utilizar
do recurso da possessão de um
intermediário psíquico. A explicação é que
muitos destes espíritos ignorantes não
podem ser ajudados pelos espíritos
avançados enquanto não entrarem em
contato com a realidade física. Então
não têm outro remédio que se conscientizar
de sua verdadeira situação, e seguem pelo
caminho do possível progresso.
Ao mesmo tempo que se consegue,
mediante a possessão do intermediário
psíquico, que o espírito abra os olhos à
realidade, o investigador recebe

35
proveitosas lições. Não terminam aí os
benefícios, pois se consegue que outros
grupos de espíritos, que permanecem na
ignorância, se beneficiem com a lição que
representa a mudança de conduta do
espírito com o qual se estabeleceu a
comunicação. (23)

Essa percepção do Dr. Carl August Wickland


que “jamais ouviu falar do Espiritismo” (24), é
fantástica, porquanto resulta de sua experiência de
trinta anos em contato com os Espíritos, através da
mediunidade de sua esposa Anna Wickland (?-1937),
esclarecendo-os de sua nova realidade.

No capítulo II – Espíritos felizes, da segunda


parte de O Céu e o Inferno, lemos a seguinte
observação do Codificador:

Pelo que vemos, os Espíritos inferiores


são assistidos por Espíritos bons com a
missão de os guiar, tarefa essa que não é
exclusivamente delegada aos
encarnados, os quais nem por isso ficam
desobrigados de auxiliá-la, visto que
também isso constitui para eles meio de
progresso. […]. (25)

36
Evidenciado fica que os Espíritos bons também
ajudam os inferiores e os malfazejos, não sendo,
portanto, tarefa de exclusiva competência nossa.
Entendemos que, especificamente, nas reuniões de
desobsessão o que existe é uma efetiva parceria de
iniciativa deles para conosco.

Completando essa fala de Allan Kardec,


transcrevemos de No Invisível, Segunda Parte – O
Espiritismo experimental: os fatos, tópico XIX –
Transe e incorporações, uma explicação de Léon
Denis (1846-1927) relativa ao fenômeno da
incorporação mediúnica:

[…] As citações que acabamos de fazer


provam que a incorporação pode ser real e
completa. É mesmo algumas vezes
inconsciente, quando, por exemplo, certos
Espíritos pouco adiantados são
conduzidos por uma vontade superior
ao corpo do médium e postos em
comunicação conosco, a fim de serem
esclarecidos sobre sua verdadeira
situação. Esses Espíritos, perturbados pela
morte, acreditam ainda, muito tempo
depois, pertencerem à vida terrestre. Não
lhes permitindo seus fluidos grosseiros
o entrarem em relação com os Espíritos

37
mais adiantados, são levados aos
grupos de estudo, para serem
instruídos acerca de sua nova condição.
É difícil às vezes fazer-lhes compreender que
abandonaram a vida carnal, e sua
estupefação atinge o cômico, quando,
convidados a comparar o organismo que
momentaneamente animam com o que
possuíam na Terra, são obrigados a
reconhecer o seu engano. Não se poderia
duvidar, em tal caso, na incorporação
completa do Espírito. (26)

Portanto, confirma-se a necessidade das


reuniões para esclarecimento dos Espíritos pouco
adiantados. Em muitas instituições espíritas isso
ocorre nas reuniões de desobsessão, não havendo
reunião específica para cada uma das situações pela
qual poderá se encontrar, ou seja, para os
obsessores e os que apenas se encontram
“perdidos” no mundo espiritual.

O fato que também nos chamou a atenção foi


que alguns deles foram conduzidos a essas reuniões
contra a sua vontade, demonstrando, que, às vezes,
é necessário restringir o livre-arbítrio dos que, num
determinado momento, não têm plena condição de

38
exercê-lo. Mais à frente, em capítulo específico,
voltaremos a esse ponto.

Na Revista Espírita 1863, mês de março, no


tópico “Conversas de além-túmulo”, é registrado o
caso de Clara Rivier. Em seu diálogo, encontramos
esta sua interessante observação:

[…] A obsessão e a subjugação são, é


verdade, provas para aqueles que delas são
objetos, mas, ao mesmo tempo, são um
caminho aberto às convicções novas.
Esses fatos forçam a falar dos Espíritos, dos
quais não se pode negar a existência, vendo
o que eles fazem. (27)

Sim, como a obsessão é fenômeno que ocorre


com qualquer pessoa, os que não adeptos do
Espiritismo que a sofrem, acabam por procurar as
instituições espíritas para auxiliá-los, e aí descobrem
uma realidade da qual não faziam a menor ideia.

Do artigo “Novos detalhes sobre os possessos


de Morzine”, publicado na Revista Espírita 1864,
no mês de agosto, transcrevemos os seguintes
parágrafos dos argumentos de Allan Kardec:

39
A Igreja crê nos demônios, quer dizer,
em uma categoria de seres de natureza
perversa e votados ao mal pela eternidade,
consequentemente, imperfectíveis. Com
essa ideia ela não procura melhorá-los. O
Espiritismo, ao contrário, reconheceu
que o mundo invisível é composto das
almas ou Espíritos dos homens que
viveram sobre a Terra, e que, depois de
sua morte, povoam o espaço; entre eles há
bons e maus, como entre os homens;
daqueles que fizeram o mal durante sua
vida, muitos nisso se comprazem ainda
depois de sua morte; mas, por isso mesmo
que pertencem à Humanidade, estão
submetidos à lei do progresso e podem se
melhorar. Não são, pois, demônios no
sentido da Igreja, mas Espíritos imperfeitos.
Sua ação sobre os homens se exerce,
ao mesmo tempo, sobre o físico e sobre
o moral; daí uma multidão de afecções que
não têm sua sede no organismo, de loucuras
aparentes que são refratárias a toda
medicação. É um novo rumo da patologia,
que se pode designar sob o nome de
patologia espiritual. A experiência ensina
distinguir os casos dessa categoria,
daqueles que pertencem à patologia
orgânica.
Não tentaremos descrever o tratamento
das afecções desse gênero, porque já foi
indicado em outra parte; limitar-nos-emos
em lembrar que consiste numa tripla

40
ação: a ação fluídica que liberta o
perispírito do doente do constrangimento
daquele do mau Espírito, o ascendente
exercido sobre este último pela autoridade
que dá sobre ele a superioridade moral, e a
influência moralizadora dos conselhos
que se lhe dá. A primeira não é senão o
acessório das duas outras; só ela é
insuficiente, porque se chega
momentaneamente a afastar o Espírito,
nada o impede de retornar à carga. É a fazê-
lo renunciar voluntariamente aos seus maus
propósitos que é preciso se prender,
moralizando-o. É uma verdadeira educação
a fazer que exige tato, paciência,
devotamento, e, acima de tudo, uma fé
sincera. A experiência prova, pelos
resultados obtidos, a força desse meio; mas
ela demonstra também que, em certos
casos, o concurso simultâneo de várias
pessoas unidas de intenção, é
28
necessário. ( ) (itálico do original)

A ação fluídica tanto pode ser o passe


magnético, com a presença do paciente, quanto à
distância pela magnetização mental. O ascendente
moral exercido pelo dialogador é ponto importante,
pois somente através dele é que se conseguirá ter
uma influência moralizadora sobre o obsessor.

41
Na Revista Espírita 1865, mês de janeiro,
artigo “Nova cura de uma jovem obsidiada de
Marmande”, temos estas duas notas de Allan Kardec
que merecem destaque:

Nota. – […] Mas os bons Espíritos não os


abandonam; eles se esforçam por lhes
inspirar bons pensamentos; espiam os
menores sinais de progresso e, desde que
vejam despontar neles o germe do
arrependimento, provocam as instruções
que, esclarecendo-os, podem conduzi-los ao
bem. Essas instruções lhes são dadas
pelos Espíritos em tempo oportuno; podem
também sê-lo pelos encarnados, a fim
de mostrar a solidariedade que existe
entre o mundo visível e o mundo
invisível. No caso de que se trata, era útil à
reabilitação de Germaine que o perdão lhe
viesse da parte daqueles que tinham a se
lamentar dela, e que era, ao mesmo tempo,
um mérito para estes últimos. Tal é a razão
pela qual a intervenção dos homens é
com frequência requerida para a
melhoria e o alívio dos Espíritos
sofredores, sobretudo nos casos de
obsessão. A dos bons Espíritos,
seguramente, basta, mas a caridade dos
homens para com seus irmãos da
erraticidade é, para eles mesmos, um
meio de adiantamento que Deus lhes

42
reservou. (29)

Nota. – Os Espíritos, como se vê, não


são nem inativos nem indiferentes com
relação aos Espíritos sofredores, que é
preciso conduzir ao bem; mas quando a
intervenção dos homens pode ser útil,
deixam-lhes a iniciativa e o mérito, sob
a condição de secundá-los com seus
conselhos e seus encorajamentos. (30)
(itálico do original)

Allan Kardec oferece-nos instruções para o


nosso trabalho de ajuda e alívio que, como
seguidores do Cristo, devemos fraternalmente
prestar aos Espíritos sofredores.

Por diversas vezes, mencionou-se uma reunião


específica para o tratamento da obsessão sem,
contudo, apresentar algo mais concreto que pudesse
servir de base para sua criação. Propositadamente,
deixamos para este momento uma consideração que
reforça essa ideia.

Da Revista Espírita 1864, mês de fevereiro,


transcrevemos este trecho da correspondência do Sr.
Dombre, presidente da Sociedade Espírita de
Marmande, França, a Allan Kardec:

43
“[…] Seguindo o conselho de nossos
guias espirituais, imediatamente nos
pusemos à obra. A 11 deste mês, às oito
horas da noite, começaram nossas
reuniões com vistas a evocar o Espírito,
moralizá-lo, orar pelo obsessor e pela
vítima e a exercer sobre esta uma
magnetização mental. As reuniões
ocorriam todas as noites e na sexta-feira,
15, a menina sofreu a última crise. […].” (31)

Portanto, é oportuno destacar que foram os


próprios guias espirituais que sugeriram a realização
de reuniões para evocar os Espíritos inferiores,
visando a moralização deles.

Um detalhe que nos chamou a atenção: no


caso específico, se realizava reunião “todas as
noites” e não só uma vez por semana, como
geralmente se faz nos dias atuais na grande maioria
das casas espíritas.

Na Revista Espírita 1865, mês de junho,


Allan Kardec registra o recebimento de uma carta
que lhe foi dirigida por “um dignitário do Império
Russo”, da qual destacamos o seguinte trecho:

44
O objetivo principal a que nos
propomos é o alívio dos Espíritos
sofredores, tanto encarnados quanto
desencarnados. Nossas reuniões têm
lugar duas vezes por semana. Tratamos
de alcançar a unidade de pensamento, e,
para a isto chegar, cada um dos assistentes,
durante toda a duração da sessão, guarda o
mais recolhido silêncio, e quanto à questão
posta aos Espíritos é lida em alta voz, cada
um de nós pede mentalmente a ajuda a seu
anjo protetor a fim de obter uma resposta
verdadeira. Tendo, o mais
frequentemente, nas evocações
relações com Espíritos de uma ordem
inferior, a dos Espíritos obsessores, e
conhecendo, por experiência, a eficácia da
prece em comum, com isso temos quase
sempre recursos para esclarecer e
aliviar esses infelizes. […]. (32)

A especialização da reunião fica algo muito


claro. Portanto, diremos sem hesitar: ela é altamente
recomendável a todas as instituições espíritas.
Quanto à questão das evocações, é um tema que
será desenvolvido, com maior profundidade, um
pouco mais à frente.

A resposta a uma dúvida que sempre surge


entre nós, os espíritas, vamos encontrá-la registrada

45
na Revista Espírita 1866, mês de fevereiro, nos
dois últimos parágrafos do artigo “Curas de
obsessões”:

Pergunta-se, às vezes, por que Deus


permite aos maus Espíritos
atormentarem os vivos. Poder-se-ia com
tanto de razão perguntar por que permite
aos vivos de se atormentarem entre si.
Perde-se muito de vista a analogia, as
relações e a conexão que existem entre o
mundo corpóreo e o mundo espiritual,
que se compõe dos mesmos seres sob
dois estados diferentes; aí está a chave
de todos esses fenômenos reputados
sobrenaturais.
Não é preciso mais se espantar com
as obsessões do que com as doenças e
outros males que afligem a
Humanidade; elas fazem parte das
provas e das misérias que se prendem
à inferioridade do meio onde nossas
imperfeições nos condenam a viver, até
que estejamos suficientemente
melhores para merecer dele sair. Os
homens sofrem neste mundo as
consequências de suas imperfeições, porque
se fossem mais perfeitos, aqui não estariam.
(33)

46
A causa, de forma bem sintética, poderemos
encontrar na frase de Erasto “os Espíritos atraem
Espíritos que lhes são similares” (34), bem como
nesta outra que os Espíritos superiores disseram ao
Codificador: “O semelhante atrai o semelhante.” (35)

47
4. Além do diálogo com os Espíritos
obsessores, teria algo mais a se fazer a
favor do paciente?

A nossa experiência em reuniões de


desobsessão nos leva a ter uma visão mais ampla
desse tipo de atividade, que, se não em todas, pelo
que nos foi possível ver, desenvolve-se na
esmagadora maioria das Casas Espíritas que
visitamos em nossas andanças.

Assim como sugestão viável poderemos


apresentar as três seguintes atividades para um bom
resultado nas atividades de desobsessão:

1ª) Presença do paciente na instituição

Se for considerado que “a obsessão decorre


sempre de uma imperfeição moral” (36) e que
também as “imperfeições morais do obsidiado
constituem, quase sempre um obstáculo à sua
libertação.” (37), então é possível compreender que
“para obter a cura, é preciso tratar, ao mesmo
tempo, o doente e o Espírito obsessor.” (38)

48
O ilustrador Wilton Pontes estava muito
inspirado quando da criação dessa imagem ( 39), que
bem representa o pensamento de muitos pacientes,
portanto, devemos instruí-los quanto à necessidade
da reforma íntima.

É na Revista Espírita 1862, mês de


dezembro, no artigo “Estudo sobre os possessos de
Morzine”, teremos um complemento desses
pensamentos do Codificador:

Acrescentamos, enfim, que certas


obsessões tenazes, sobretudo nas pessoas
merecedoras, algumas vezes, fazem

49
partes das provas às quais estão
submetidas. “Ocorre mesmo algumas
vezes que a obsessão, quando é simples,
é uma tarefa imposta ao obsidiado, que
deve trabalhar para melhorar o
obsessor, como um pai à de um filho
viciado.” (40)

Muito interessante essa informação, pois ela


nos apresenta algo inusitado em relação ao
fenômeno da obsessão: é que fica na
responsabilidade do obsidiado o encargo de ajudar a
seu obsessor.

Embora o tratamento do doente também tenha


relação aos maus fluidos, pode-se, muito bem,
aplicar de forma generalizada a todos os obsidiados
quanto à necessidade indispensável de sua melhoria
moral visando a sua libertação.

O que estamos propondo, sem a mínima


intenção de ser dono da verdade, é que os
obsidiados sejam instruídos quanto à necessidade de
se preocuparem com sua melhoria moral, para,
definitivamente, eliminar em si as causas que, por
sintonia vibracional, atraem os Espíritos maus.

50
A nossa experiência nessas reuniões, no
entanto, nos convenceu a usar um método
diferenciado. Numa das instituições que
frequentamos foi criada uma reunião específica para
o trato das obsessões, na qual o paciente também
deveria comparecer, esse é o diferencial. Usaremos
desta imagem para melhor explicar (41):

Os pacientes, cujo “tratamento” se realizava


na reunião, ficavam no auditório assistindo a
exposição de um orador, cujos temas tinham como
foco principal o aspecto moral dos ensinamentos do
Cristo, detalhados por Allan Kardec na obra O
Evangelho Segundo o Espiritismo. Enquanto isso, na
sala de reuniões, a equipe de encarnados, assistidos

51
pelos Espíritos envolvidos no trabalho, empenhava-
se na tarefa de estabelecer um diálogo fraterno com
os obsessores.

Somente não se exigia participar da reunião os


pacientes que não podiam se locomover, seja por
motivo de saúde ou por alguma outra razão que
justificasse a sua ausência.

Seria útil trazermos o seguinte trecho das


considerações de J. Herculano Pires inseridas na IV –
Parte – A prática mediúnica, item 3. Sessões
mediúnicas da obra O Espírito e o Tempo:

[…] A cura pode ser obtida em poucos


dias ou levar meses e até anos, com fases
intermitentes de melhora e recaída. Só a
insistência no trabalho desobsessivo e a
vontade ativa do paciente no sentido de
libertar-se podem apressar os resultados. A
dificuldade maior está sempre na falta
de vontade do paciente, acostumado à
ligação obsessiva, numa situação
ambivalente, em que ao mesmo tempo
quer libertar-se mas continua apegado
ao obsessor, sentindo sua falta quando
ele se afasta e invocando-o
inconscientemente. Há obsessores que se
consideram, com razão, obsedados pela sua

52
vítima. Ideias, hábitos, tendências
alimentadas pelo obsedado constituem
elementos de atração para o obsessor.
Nesses casos, o trabalho maior da
desobsessão é com a própria vítima. Os
dirigentes do trabalho precisam estar
atentos, vigilantes quanto ao
comportamento do obsedado,
ajudando-o constantemente a reagir
contra as influências do espírito e
contra as suas próprias tendências e
hábitos mentais. A mente do obsedado,
nesses casos, é o pivô do processo.
Ensinar-lhe a controlar e dominar sua
mente pela vontade, com apoio no
esclarecimento doutrinário, é o que
mais importa. Do domínio da mente
decorre naturalmente o domínio das
emoções e dos sentimentos, que são por
assim dizer os elementos de atração do
espírito obsessor. (42)

O grupo mediúnico tem que envidar todos os


esforços para auxiliar ao paciente na mudança de
comportamento, especialmente quanto aos vícios e
atitudes menos dignas alimentadas contra o
próximo, tais como: ódio, raiva, desejo vingança, etc.

2ª) Magnetização mental

Entendemos que esse ponto merece ser

53
destacado, pois, na Codificação, há referência a
utilização da magnetização mental.

No artigo “Magnetização mental”, publicado no


site da AME-JF – Aliança Municipal Espírita de Juiz de
Fora, o confrade Ricardo Baesso de Oliveira assim a
define:

Um dos recursos fluidoterápicos


disponível no arsenal terapêutico espírita é
a irradiação a distância. Um grupo de
espíritas se reúne e, através da prece e
do pensamento direcionado às forças
do bem, mentaliza um enfermo,
desejando ardentemente sua
recuperação. Resultados favoráveis têm
sido observados pelos tarefeiros espíritas.
Kardec denominou tal prática
terapêutica de magnetização mental e
referiu-se a ela, possivelmente pela primeira
vez, em um texto de janeiro de 1863 da
Revista Espírita. (43)

Vejamos o texto mencionado ao final, que será


tomado do artigo “Estudo sobre os possessos de
Morzine” publicado na Revista Espírita 1863, mês
de janeiro, em que um Espírito superior fez a
seguinte recomendação a respeito de um caso de

54
uma jovem, que atraiu para junto de si vários
Espíritos maus:

“[…] podeis curá-la, mas é preciso para


isso uma força moral capaz de vencer a
resistência, e essa força não é dada a um só.
Que cinco ou seis Espíritas sinceros se
reúnam todos os dias, durante alguns
instantes, e peçam com fervor a Deus e
aos bons Espíritos para assisti-la; que
vossa ardente prece seja, ao mesmo
tempo, uma magnetização mental; não
tendes, para isto, necessidade de estar
junto dela, ao contrário; pelo
pensamento podeis levar sobre ela uma
corrente fluídica salutar, cuja força estará
em razão de vossa intenção e aumentada
pelo número; por esse meio, podereis
neutralizar o mau fluido que a envolve. Fazei
isto; tende fé e confiança em Deus, e
esperai.” (44)

Concluindo esse artigo, disse o


Codificador:

O modo de ação está aqui claramente


indicado, e não saberíamos acrescentar
nada de mais preciso à explicação dada pelo
Espírito. A prece não tem, pois, só o efeito
de chamar, sobre o paciente, um socorro
estranho, mas o de exercer uma ação
magnética. O que não se poderia, pois,
pelo magnetismo secundado pela prece!

55
Infelizmente, certos magnetizadores fazem
muito, a exemplo de muitos médicos,
abstração do elemento espiritual; eles não
veem senão a ação mecânica, e se privam
assim de um poderoso auxiliar. Esperamos
que os verdadeiros Espíritas verão mais
tarde, nesse fato, uma prova a mais do
bem que poderão fazer em semelhante
circunstância. (45)

Não há como negar que, em certos casos,


poderá ocorrer a cura da obsessão utilizando-se
apenas desse processo de magnetização.

Será oportuno, citar novamente este trecho da


Revista Espírita 1864, mês de fevereiro,
porquanto, algo nele cabe nesse contexto:

“[…] Seguindo o conselho de nossos


guias espirituais, imediatamente nos
pusemos à obra. A 11 deste mês, às oito
horas da noite, começaram nossas
reuniões com vistas a evocar o Espírito,
moralizá-lo, orar pelo obsessor e pela
vítima e a exercer sobre esta uma
magnetização mental. As reuniões
ocorriam todas as noites e na sexta-feira,
15, a menina sofreu a última crise. […].” (46)

56
Nas orientações dos guias destacamos a
sugestão de se fazer uma magnetização mental a
favor da vítima, essa será realizada se fazendo
preces a favor do obsediado.

Destacamos do final da orientação de Erasto,


publicado na Revista Espírita 1864, mês de
janeiro, o seguinte trecho:

“[…] Não é preciso esquecer, no mais,


que a prece coletiva tem um poder
muito grande, quando é feita por certo
número de pessoas agindo em acordo, com
uma fé viva e um desejo ardente de aliviar.”
(47)

No capítulo “XXVII – Coletânea de preces


espíritas”, tópico “Pelos obsidiados”, de O Evangelho
Segundo o Espiritismo, Allan Kardec deixa bem claro
que “Em todos os casos de obsessão, a prece é o
mais poderoso auxiliar que se tem para agir contra o
Espírito obsessor”. (48)

3ª) Passes magnéticos

Do artigo “Intervenção dos parentes nas


curas”, publicado na Revista Espírita 1867, mês de

57
junho, transcrevemos trecho da carta enviada pelo
Dr. Dombre, de Marmande, ao Codificador e seus
respectivos comentários:

“já há algum tempo que não


conversamos sobre o resultado de nossos
trabalhos Espíritas que prosseguimos com
perseverança e, estou feliz em dizê-lo, com
sucessos satisfatórios. Os obsidiados e os
doentes são sempre objeto de nossos
cuidados exclusivos. A moralização e os
fluidos são os principais meios
indicados por nossos guias.
“Nossos bons Espíritos, que se devotam à
propagação do Espiritismo, tomaram
também a tarefa de vulgarizar o
magnetismo. Em quase todas as consultas,
para os diversos casos de doenças, eles
pedem o concurso dos parentes: um pai,
uma mãe, um irmão ou uma irmã, um
vizinho, um amigo são requiridos para
fazer passes. Essas bravas criaturas ficam
surpresas de deter as crises, de acalmar as
dores. Este meio é, isto me parece,
engenhoso e seguro para fazer adeptos,
também a confiança se estende cada vez
mais em nossa região. Os grupos que se
ocupam de curas talvez fariam bem em dar
os mesmos conselhos; os felizes resultados
obtidos provariam de modo evidente a
verdade do magnetismo, e dariam a certeza

58
de que a faculdade de curar ou aliviar
seu semelhante não é o privilégio
exclusivo de algumas pessoas; que não
é preciso, para isto, senão boa vontade
e confiança em Deus; não falo de uma boa
saúde que é condição indispensável, se o
compreendem. Em reconhecendo que se
tem em si mesmo esse poder, adquire-se a
certeza de que não há malabarismos, nem
sortilégio, nem pacto com o diabo. É, pois,
um meio de destruir as ideias supersticiosas.
“Eis alguns exemplos de curas obtidas.
“Uma menina de 6 a 7 anos estava
acamada, tendo uma dor de cabeça
contínua, febre, uma tosse frequente com
escarro, uma dor viva do lado esquerdo; dor
também nos olhos que se recobriam, de
tempo em tempo, de uma substância
leitosa, formando uma espécie de fronha.
Sob os cabelos, a pele do crânio estava
recoberta de películas brancas; a urina
espessa e turva. A criança fraca e abatida
não comia nem dormia. O médico tinha
acabado por suspender suas visitas. A mãe,
pobre, em presença de sua filha doente e
abandonada, veio me procurar. Nossos
guias consultados prescreveram, por
todo remédio, a imposição das mãos,
os passes fluídicos da parte da mãe,
recomendando-me ir, durante alguns dias,
fazê-la ver como a isto se prender. Comecei
por fazer levantar os vesicatórios e fazê-los
secar. Depois de três dias de passes e

59
de imposição de mãos sobre a cabeça,
os rins e o peito, efetuados a título de
lições, mas feitos com alma, a criança
pediu para se levantar; a febre estava
detida, e todos os acidentes descritos mais
acima desapareceram ao cabo de dez dias.
“Esta cura, que a mãe qualificava de
miraculosa, me fez chamar, dois dias mais
tarde, junto de uma outra menina de 3 ou 4
anos que tinha febre. Depois dos passes e
imposição das mãos, a febre cessou,
desde o primeiro dia.
“As curas de algumas obsessões não nos
deram menos satisfação e confiança. Marie
B…, jovem de 21 anos, de Samazan, perto
de Marmande, se punha nua como um
verme, corria pelos campos, e ia se deitar ao
lado de um cão num buraco de palha. A
moralização do obsessor de nossa
parte, e os passes fluídicos feitos pelo
marido, segundo nossas instruções,
logo a libertaram. Toda a comuna de
Samazan foi testemunha da impotência da
medicina em curá-la, e da eficácia do meio
simples empregado para conduzi-la ao
estado normal.
“A senhora D…, com a idade de 22 anos,
da comuna de Sainte-Marthe, não longe de
Marmande, caía em crises
extraordinárias e violentas; ela rugia,
mordia, rolava, sentia golpes terríveis no
estômago, desmaiava, e, frequentemente,

60
ficava quatro ou cinco horas sem
conhecimento; uma vez ela ficou oito dias
sem recobrar sua lucidez. O Sr. doutor T…
tinha-lhe em vão dado seus cuidados. O
marido, ao cabo de cursos junto das
pessoas da arte, dos padres de nossa
região, reputados curadores exorcistas,
adivinhos, porque confessou tê-los
consultado, se dirige a nós com o pedido
de consentirmos nos ocupar de sua mulher
se, como lhe foi reputado, estava em nosso
poder curá-la. Prometemos escrever-lhe para
lhe indicar o que deveria fazer.
“Nossos guias nos disseram: Que
cesse todo tratamento médico: os remédios
seriam inúteis; que o marido elevasse sua
alma a Deus, que impusesse as mãos
sobre a fronte de sua mulher e lhe
fizesse passes fluídicos com amor e
confiança; que observasse pontualmente
as recomendações que iríamos fazer-lhe,
embora qualquer contrariedade que disso
possa sentir (seguem essas recomendações
que são todas pessoais), e se compenetre
bem da ideia de que são necessárias ao
proveito de sua pobre aflita, ele terá logo a
sua recompensa.
“Disseram-nos também para chamar
e moralizar o Espírito obsessor, sob o
nome de Lucie Cédar. Este Espírito revela a
causa que o levava a atormentara Sra. D…
Essa causa se ligava precisamente às
recomendações feitas ao marido. Este

61
último estando conforme com tudo, teve a
satisfação de ver sua mulher
completamente livre, no espaço de dez dias.
Ele me disse: Uma vez que os Espíritos se
comunicam, não me admiro que tenham vos
dito que não era conhecido de mim, mas
estou bem mais admirado de que nenhum
remédio tenha podido curar minha mulher;
se estivesse me dirigido a vós desde o início,
teria 150 fr. em meu bolso, que ali não estão
mais, e que despendi em medicamentos.
"Eu vos aperto muito cordialmente a
mão,

“DOMBRE.”

Estes fatos de curas nada têm de mais


extraordinário do que aqueles que já
citamos, provindos do mesmo centro; mas
eles provam, pela persistência do sucesso,
há vários anos, o que se pode obter com a
perseverança e o devotamento, também a
assistência dos bons Espíritos nisso
jamais falta. Eles não abandonam
senão aqueles que deixam o bom
caminho, o que é fácil de reconhecer pelo
declínio dos sucessos, ao passo que
sustentam, até o último momento, mesmo
contra os ataques da malevolência, aqueles
cujo zelo, sinceridade, abnegação e
humanidade são à prova das vicissitudes da
vida. Eles elevam aquele que se abaixa, e
abaixam aquele que se eleva. Isto se aplica
a todos os gêneros de mediunidade.

62
[…].
O fato mais característico assinalado
nesta carta é o da intervenção dos
parentes e amigos dos doentes nas
curas. É uma ideia nova cuja importância
não escapará a ninguém, porque sua
propagação não pode deixar de ter
resultados consideráveis; é a vulgarização
anunciada da mediunidade curadora. […].
(49) (itálico do original)

Destacam-se estes quatro pontos:

1º) a necessidade de evocar e moralizar o


obsessor;

2º) a questão do uso de passes;

3º) o pedido oportuno de orientação aos


Espíritos coordenadores da reunião; e

4º) a participação dos parentes no processo de


cura dos obsediados.

Que tudo isso sirva de exemplo para todos que


aceitarem de bom grado e fraternalmente participar
dessas reuniões.

63
5. Alcoolismo como efeito de obsessão

O alcoolismo (50) é
uma dolosa situação, que,
em alguns casos, pode
surgir como origem de uma
obsessão, por isso merece,
de nossa parte, algumas
explicações dado o seu
relevante papel entre as suas várias causas.

O capítulo “1 – Álcool e Obsessão”, da obra


Diálogo dos Vivos, José Herculano Pires, assinando
como Irmão Saulo, esclarece-nos:

Os espíritos vampirescos são viciados


que morreram no vício e continuam no
mundo espiritual inferior, aqui mesmo na
Terra, buscando ansiosamente os seus
“tragos”. Satisfazem-se com as
emanações alcoólicas de suas vítimas e
continuam a sugá-las como vampiros
psíquicos. (51)

64
Como a morte não nos transforma em anjos,
retornamos ao mundo espiritual tal e qual éramos
como encarnados – incluindo, obviamente, todos os
vícios que nos proporcionavam prazer.

Mais à frente, no capítulo “31 – Remédio Fácil”,


Herculano Pires aponta a causa das obsessões, diz
ele que:

A obsessão tem suas raízes nas vidas


anteriores. E essas raízes mergulham
fundo no chão do sentimento, da
afetividade. Afetos e desafetos de ontem
determinam as obsessões de hoje.
Criaturas que prejudicamos em vidas
passadas vêm agora cobrar o que lhe
fizemos. Se estão doentes até hoje,
aproximam-se de nós e, por meio da
indução, nos transmitem os seus males.
Sofremos, então, o que fizemos os outros
sofrerem. (52)

Seguindo esse pensamento de Herculano Pires,


acreditamos que é bem provável que o móvel da
esmagadora maioria dos casos de obsessão seja por
motivo de vingança que o desencarnado exerce
sobre o encarnado.

65
Entendemos que isso é algo que se pode
confirmar nas seguintes obras da Codificação
Espírita:

1º) O Livro dos Médiuns, Segunda parte,


capítulo “XXIII – Obsessão”, no item 245:

As causas da obsessão variam de acordo


com o caráter do Espírito. Às vezes é uma
vingança que ele exerce sobre a pessoa
que o magoou nesta vida ou em
existências anteriores. […]. (53)

2º) O Evangelho Segundo o Espiritismo,


capítulo “XXVIII – Coletânea de preces
espíritas”, item 81:

A obsessão exprime quase sempre a


vingança exercida por um Espírito e que
com frequência tem sua origem nas relações
que o obsidiado manteve com ele em
precedente existência. […]. (54)

3º) A Gênese, capítulo “XIV – Os fluidos”,


item 46:

Quase sempre a obsessão exprime


vingança tomada por um Espírito e sua
origem frequentemente se encontra nas
relações que o obsidiado manteve com o
obsessor, em precedente existência. (55)

66
Boa parte das causas tem relação direta com a
“fraqueza moral de certos indivíduos” (56) que os
Espíritos inferiores, deliberadamente, podem se
aproveitar, de tal sorte que, conforme nos esclarece
o Codificador, “a pessoa sobre quem ele atua não
consegue se desembaraçar.” (57)

Por outo lado, é de conhecimento geral que os


vícios das mais variadas natureza também são
outras tantas “portas abertas” à obsessão.

Um exemplo clássico que podemos citar é


justamente o alcoolismo, muito bem exemplificado
nesta imagem (58):

67
A situação inusitada que, algumas vezes,
encontramos na prática diária, que é preciso
mencionar, é que, em determinadas situações
obsessivas, o Espírito, que em vida foi um alcoólatra,
pode induzir sua vítima ao alcoolismo, ainda que ela
não tenha o hábito de ingerir bebidas alcoólicas.

A ação tenaz e persistente do habitante do


além-túmulo, ao final de um certo tempo, acaba por
vencer toda e qualquer resistência do encarnado,
fazendo-o cair “nas águas profundas” desse vício.

68
6. Condições ideais de uma reunião
mediúnica

Dentro da nossa visão, que pode estar


equivocada, pois jamais nos colocamos como sendo
“o dono da verdade”, apresentaremos vários itens
para desenvolver sobre esse tema. Tudo terá como
base a nossa experiência adquirida tanto em reunião
de educação mediúnica quanto nas que tinham por
objetivo o esclarecimento de Espíritos, popularmente
designada de “reunião de desobsessão”.

Preferimos trabalhar dessa forma pois os seus


detalhes nos permitirão compreender melhor as
características desse tipo de reunião mediúnica bem
como a responsabilidade de cada um dos seus
participantes.

A seguir faremos considerações sobre variados


tópicos relacionados às reuniões mediúnicas,
trazendo-as para o contexto das que têm objetivo o
esclarecimento dos Espíritos.

69
6.1. A escolha do dirigente ou coordenador e
considerações a respeito dos médiuns

Recorremos ao capítulo “IV – Entrevistas:


Questões de natureza doutrinária e o movimento
espírita no Brasil e no exterior” de Quando a Vida
Responde (2010), no qual o médium José Raul
Teixeira, nos alerta:

No campo dos centros espíritas, muitos


não têm critérios doutrinários para a
escolha dos seus dirigentes das
sessões e optam, quase sempre, por
companheiros que, mesmo quando têm boa
vontade, desconhecem a profundidade e a
dinâmica daquilo que foram chamados a
fazer; não têm voz ativa, conquistada
pela autoridade moral e pela
convivência semanal com os médiuns
que, então, fazem o que querem na sessão;
não exigem dos membros das sessões
mediúnicas a participação nas reuniões
de estudos do centro, o que permite que
muitos médiuns só compareçam à
instituição nos dias e horários dessas
sessões, não conseguindo higienizar as
mentes por meio dos estudos, das análises,
das discussões felizes, das trocas afetivas,
mas mantendo cacoetes dispensáveis que
afivelam à mediunidade propriamente dita,
predispondo-se muitas vezes ao surto

70
anímico ou às investidas mistificadoras, que
proliferam nos terrenos onde vigora a
invigilância.
Poucos dirigentes espíritas sabem
que não deve ser qualquer médium
convidado para atender aos trabalhos
desobsessivos. Não é por ser psicofônico,
vidente ou psicógrafo que um médium terá
condições gerais para participar de
trabalhos tão graves, tão sérios. Pessoas
que mantêm o tabagismo, o alcoolismo
ou o uso de quaisquer outras drogas de
tropismo neurológico; indivíduos que
se mantêm nas faixas da prostituição
sexual, por mais modernas que estejam tais
práticas nas metrópoles, e quejandos,
certamente não serão os mais
recomendados para atender nessas
sessões. Pessoas de língua grande, que
não sabem guardar a discrição exigida por
esses labores, bem como as que portam
desarranjos emocionais, que gritam, que se
acabam de chorar se chove ou se faz sol,
não devem ser chamadas para tão
sérios compromissos. (59)

Em nossa percepção essas colocações de Raul


Teixeira fazem sentido, foi por essa razão que a
transcrevemos. Via de regra, não há muito critério na
escolha do dirigente e também em relação aos

71
médiuns, que somente por serem medianeiros
devem ser chamados, existem os pontos
relacionados que devem ser levados em conta.

6.2. O estudo doutrinário é a primeira e a mais


importante tarefa a ser feita

É importante que esta frase do Espírito de


Verdade seja lembrada: “Espíritas! amai-vos, este o
primeiro ensinamento; instruí-vos, este o
segundo.” (60) É uma recomendação geral, mas
acreditamos que ela deve ser observada à risca por
todos aqueles que venham a se dedicar às reuniões
de desobsessão.

Embora em O Que é o Espiritismo (1865 – 6ª


edição), Allan Kardec tenha se referido aos que se
interessassem em conhecer o Espiritismo,
acreditamos que a sua orientação poderá valer para
todos os membros de uma reunião mediúnica.

[…] o melhor meio de se esclarecerem


sobre o Espiritismo é estudarem
previamente a teoria; os fatos virão
depois, naturalmente, e serão
compreendidos facilmente, qualquer que

72
seja a ordem em que as circunstâncias os
façam vir. […].
[…].
[…] deve-se ler O Livro dos Espíritos, no
qual os princípios da Doutrina estão
completamente desenvolvidos; depois, O
Livro dos Médiuns, para a parte
experimental, destinado a servir de guia
para os que desejarem operar por si
mesmos, bem como aos que quiserem
compreender melhor os fenômenos. Vêm
depois as diversas obras em que são
desenvolvidas as aplicações e as
consequências da Doutrina, tais como: O
Evangelho Segundo o Espiritismo, O Céu e o
Inferno etc. (61)

Acreditamos que o Codificador está coberto de


razão quando nos faz entender que primeiro é
preciso conhecer para depois praticar.

Em O Livro dos Médiuns, capítulo “XXXI –


Dissertações espíritas”, no tópico “Comunicações
apócrifas”, Allan Kardec analisa uma mensagem
assinada com o nome “Bossuet, Alfred de Marignac”,
que concluiu não ser dele. Aí comenta:

Realmente, a facilidade com que

73
algumas pessoas aceitam tudo o que
vem do mundo invisível, sob o prestígio
de um grande nome, é que anima os
Espíritos embusteiros. Todos, pois, devem
consagrar a máxima atenção em lhes
frustrar os embustes; porém, ninguém pode
chegar a isso senão com o auxílio da
experiência adquirida por meio de um
estudo sério. É por isso que repetimos
incessantemente: estudai, antes de
praticardes, pois esse é o único meio
de não adquirirdes a experiência à
vossa própria custa. (62)

A lição que jamais devemos nos esquecer é


que há no mundo espiritual Espíritos embusteiros
que não têm o menor constrangimento em utilizar-se
do nome de algum personagem renomado.

Em nossa maneira de ver, o estudo prévio até


imprescindível, considerado-se o teor deste trecho
do artigo “Estudo sobre os possessos de Morzine”,
publicado na Revista Espírita 1863, mês de
janeiro:

[…] O exercício da mediunidade pode


provocar no indivíduo a invasão de maus
Espíritos e suas consequências?

74
Jamais dissimulamos os escolhos que se
encontram na mediunidade, razão por que
multiplicamos as instruções, a esse respeito,
em O Livro dos Médiuns, e não
cessamos de recomendar o estudo
preliminar antes de se entregar à
prática; também, depois da publicação
deste livro, o número de obsidiados diminuiu
sensivelmente e notoriamente, porque ele
poupa uma experiência que os novatos
não adquirem, frequentemente, senão às
suas custas. Dizemo-lo ainda, sim, sem
experiência, a mediunidade tem
inconvenientes dos quais o menor seria
ser mistificado por Espíritos
enganadores ou levianos; praticar o
Espiritismo experimental sem estudo, é
querer fazer manipulações químicas sem
saber a química.
[…].
A presunção de se crer invulnerável
contra os maus Espíritos foi mais de uma
vez punida de modo cruel, porque não são
desafiadas jamais impunemente pelo
orgulho; o orgulho é a porta que lhes dá o
acesso mais fácil, porque ninguém oferece
menos resistência do que o orgulhoso
quando tomado pelo seu lado fraco. Antes
de se dirigir aos Espíritos, convém,
pois, se armar contra o ataque dos
maus, como quando se caminha sobre um
terreno onde se teme a mordedura de
serpentes. A isto chega-se primeiro pelo

75
estudo preliminar que indica o caminho
e as precauções a tomar, depois pela
prece; mas é preciso bem se compenetrar
da verdade, que o único preservativo está
em si, em sua própria força, e jamais em
coisas exteriores, e que não há nem
talismãs, nem amuletos, nem palavras
sacramentais, nem fórmulas sagradas
ou profanas que possam ter a menor
eficácia, se não se possui em si as
qualidades necessárias; são, pois, estas
qualidades que é preciso se esforçar em
adquirir. (63)

Portanto, o passo inicial


para os que quiserem criar uma
reunião de desobsessão ou
esclarecimento é se
“concentrarem” (64) no estudo
dos livros publicados por Allan
Kardec relacionados à Codificação Espírita e, em
especial, a obra O Livro dos Médiuns, uma vez que,
segundo seu pensamento, trata-se do Espiritismo
experimental e assim ser o “guia dos médiuns e dos
evocadores”.

Como prometido, retomemos a obra O Finito


e o Infinito (1983), a fim de destacar outro aspecto

76
da fala de Herculano Pires:

[…] Kardec […] nem permitia que uma


pessoa assistisse a uma sessão sem antes
haver tomado conhecimento da doutrina. O
preparo teórico é indispensável à
compreensão dos fenômenos. As
manifestações espíritas são às vezes tão
simples, tão naturais, que a pessoa
habituada à ideia do sobrenatural não
consegue aceitá-las. É preciso mostrar-lhe,
antes de tudo, que o fenômeno é natural. Só
a explicação teórica pode preparar uma
pessoa para a compreensão do que se
passa. (65)

Com muito mais razão, o estudo teórico deve


ser prática diária de todos aqueles que manifestarem
desejo de participar da reunião, pois somente devem
ser admitidos nela os que estudaram as obras da
Codificação, especialmente, O Livro dos Espíritos e O
Livro dos Médiuns, para terem uma mínima base
teórica da qual falou Herculano Pires.

Em Chico Xavier, Mandato de Amor (1993),


publicação da UEM – União Espírita Mineira, no
capítulo “IV – Suas palavras ao longo do tempo,
destacamos” do tópico “Entrevistas do médium

77
Chico Xavier” a seguinte questão:

Pergunta – A cultura é essencial para


uma pessoa ser médium?
Resposta – A mediunidade pode
manifestar-se através da pessoa
absolutamente inculta, mas os bons
espíritos são de parecer que todos os
médiuns são chamados a estudar, a fim
de servirem com mais segurança. (66)

Eis a opinião de alguém que é considerado por


muitos o maior médium brasileiro (67), que, inspirado,
estende a nossa necessidade de estudo além das
fronteiras das obras espíritas.

Como já deixamos claro, julgamos que nas


reuniões de desobsessão o estudo sempre deve
preceder à parte prática e quando essa se iniciar, a
opção mais viável, será a de estudar O Evangelho
Segundo o Espiritismo, evitando-se, obviamente,
conflito de opiniões.

Na Revista Espírita 1859, mês de dezembro,


em “Boletim” encontra-se o registro de que na
sessão particular do dia 21.10.1859, foi lida a ata e

78
os trabalhos do dia 14. Dela destacamos o seguinte
trecho:

2º O senhor de R… propôs a evocação de


seu pai, por considerações de utilidade geral
e não pessoais, presumindo que disto possa
sair um ensinamento.
São Luís, interrogado sobre a
possibilidade desta evocação, respondeu:
Vós o podeis perfeitamente; entretanto,
eu vos faria notar, meus amigos, que esta
evocação requer uma grande
tranquilidade de espírito; esta noite,
discutistes longamente assuntos
administrativos, e creio que será bom
remetê-la a uma outra sessão, tendo em
vista que pode ser mais instrutiva. (68)

Em meio a debates acalorados, certamente,


acabamos por entrar em um estado de irritação e,
com isso, “contaminamos” o ambiente devido à
energia negativa que, nessas circunstâncias, é
gerada.

Vamos encontrar na Revista Espírita 1860,


mês de agosto, em “Boletim”, há na sessão
particular do dia 20.07, uma orientação bem curiosa
de São Luís:

79
Depois da sessão, numa comunicação
privada, perguntando-se a São Luís se ele
estava satisfeito, respondeu: “Sim e não;
errais em tolerar os cochichos
contínuos de certos membros, quando
os Espíritos são questionados. Tendes,
às vezes, comunicações que pedem réplicas
sérias de vossa parte, e respostas mais
sérias ainda da parte dos Espíritos
evocados que, com isso, crede-o bem,
sentem descontentamento; daí nada de
completo, porque o médium, que
escreve, sente ao seu redor graves
distrações nocivas ao seu ministério. Há
uma coisa séria a fazer, é ler, na próxima
sessão, estas observações, que serão
compreendidas por todos os sócios, dizei-
lhes que aqui não é um gabinete de
conversa.” (69)

Além do fato dos Espíritos manifestantes não


toleraram os cochichos, esses provocam “ruídos”, ou
seja, “graves distrações nocivas”, prejudicando a
captação de seus pensamentos pelo médium.

6.3. Homogeneidade a meta indispensável para


todos

Traremos, agora, dois pontos a respeito das


reuniões mediúnicas, talvez sejam os mais

80
importantes: a homogeneidade e o trabalho em
equipe.

1º) Homogeneidade:

Em O Livro dos Médiuns, Segunda parte,


capítulo “XXIX – Reuniões e Sociedades Espíritas”, no
item 331, o Codificador explica que:

Uma reunião é um ser coletivo, cujas


qualidades e propriedades são a resultante
das de seus membros, formando uma
espécie de feixe. Ora, quanto mais
homogêneo for esse feixe, tanto mais
força terá. […]. (70)

Para tornar mais explícita essa orientação,


vamos recorrer à “Resposta do Sr. Allan Kardec” aos
espíritas lioneses, publicada na Revista Espírita
1860, mês de outubro, em que lemos:

Está reconhecido que as melhores


comunicações são obtidas nas reuniões
pouco numerosas, naquelas sobretudo
onde reinem a harmonia e a comunhão
de sentimentos: ora, quanto mais o
número é grande, mais esta homogeneidade
é difícil de se obter. […] Os pequenos

81
grupos, ao contrário, serão sempre
mais homogêneos; nele se conhece
melhor, se está sempre em família, admite-
se melhor quem se quer; e, como, em
definitivo, todos tendem ao mesmo
objetivo, podem perfeitamente se
entender, e se entenderão tanto melhor
quanto não houver esse choque incessante,
incompatível com o recolhimento e a
concentração de espírito. […]. (71)

Embora o Codificador estivesse mais


preocupado com as divergências de opiniões, em
razão de a Doutrina Espírita ser incipiente,
acreditamos que essa sua recomendação também
vale para os dias atuais, especialmente quanto aos
quesitos harmonia e comunhão de pensamento.

Acrescentaremos, por oportuno, um trecho do


artigo “Princípio vital das sociedades espíritas”,
publicado na Revista Espírita 1862, mês de junho:

[…] ora, mantenho que não há reunião


espírita séria possível sem
homogeneidade. Por toda parte onde há
divergência de opinião, há tendência a
fazer prevalecer a sua, desejo de impor
suas ideias ou sua vontade; daí
discussões, dissenções, depois dissolução:

82
isto é inevitável, e é o que ocorre em
todas as sociedades, qualquer que seja
seu objeto, onde cada um quer caminhar
em caminhos diferentes. O que é necessário
nas outras reuniões é mais necessário
ainda nas reuniões espíritas sérias,
onde a primeira condição é a calma e o
recolhimento, que são impossíveis com
discussões que fazem perder o tempo em
coisas inúteis; é então que os bons Espíritos
dela se vão e deixam o campo livre aos
Espíritos trapalhões. Eis porque as
pequenas assembleias são preferíveis;
a homogeneidade de princípios, de
gostos, de caracteres e de hábitos,
condição essencial da boa harmonia,
nelas é mais fácil obter do que nas
grandes assembleias. (72)

Especificamente em relação às reuniões


mediúnicas, das quais estamos tratando, a questão
das “pequenas assembleias são preferíveis” será
abordada mais à frente.

Do artigo “O Espiritismo na Bélgica”, publicado


na Revista Espírita 1864, mês de outubro,
destacamos o seguinte parágrafo:

A homogeneidade, a comunhão de
pensamentos e de sentimentos são para

83
os grupos Espíritas, como para quaisquer
outras reuniões, a condição sine qua
non de estabilidade e de vitalidade. É
para esse objetivo que devem tender todos
os esforços, e compreende-se que é tanto
mais fácil atingi-lo quanto as reuniões sejam
menos numerosas. Nas grandes reuniões
é quase impossível evitar a ingerência
de elementos heterogêneos que, cedo ou
tarde, semeiam a divisão; mas pequenas
reuniões, onde todo o mundo se
conhece e se aprecia, se está como em
família, o recolhimento é maior, e a
intrusão dos mal-intencionados mais difícil.
A diversidade dos elementos dos quais se
compõem as grandes reuniões os torna, por
isso mesmo, mais vulneráveis às surdas
astúcias dos adversários. (73)

Portanto, Allan Kardec faz da homogeneidade,


que é mil vezes mais fácil de se conseguir em
reuniões com reduzido número de pessoas, uma
condição indispensável tanto para o grupo espírita
como um todo, quanto para as várias reuniões que
se realizam nele. Obviamente, que entre elas se
inclui às destinadas ao diálogo com Espíritos
promotores de obsessões.

Na Revista Espírita 1864, mês de dezembro,

84
Allan Kardec publicou o seu discurso intitulado “Da
comunhão de pensamentos”, realizado em 2 de
novembro, numa reunião destinada à comemoração
do dia dos mortos, do qual transcrevemos os
seguintes parágrafos:

O favor com o qual a ideia desta reunião


foi acolhida é uma primeira resposta a essas
diversas perguntas; é o indício da
necessidade que se sente em se
encontrar reunidos numa comunhão de
pensamentos.
Comunhão de pensamentos!
compreende-se bem toda a importância
desta palavra? É permitido disso duvidar,
pelo menos da parte da maioria. O
Espiritismo, que nos explica tantas coisas
pelas leis que revela, vem agora nos
explicar a causa, os efeitos e a força dessa
situação do espírito.
Comunhão de pensamentos, quer
dizer pensamento comum, unidade de
intenções, de vontade, de desejo, de
aspiração. Ninguém pode desconhecer que
o pensamento não seja uma força; mas é
uma força puramente moral e abstrata?
Não; de outro modo não se explicariam
certos efeitos do pensamento, e ainda
menos da comunhão de pensamentos. Para
compreendê-lo é preciso conhecer as

85
propriedades e a ação dos elementos que
constituem a nossa essência espiritual, e é o
Espiritismo que no-lo ensina.
O pensamento é o atributo característico
do ser espiritual; é ele que distingue o
espírito da matéria; sem o pensamento o
espírito não seria espírito. […] O
pensamento age sobre os fluidos
ambientes, como o som age sobre o ar;
esses fluidos nos levam o pensamento,
como o ar nos leva o som. Pode-se, pois,
dizer com toda a verdade que há, nesses
fluidos, ondas e raios de pensamentos que
se cruzam sem se confundirem, como há no
ar ondas e raios sonoros.
Uma assembleia é um foco de onde
se irradiam pensamentos diversos; é
como uma orquestra, um coro de
pensamentos onde cada um produz a sua
nota. Disso resulta uma multidão de
correntes e de eflúvios fluídicos dos
quais cada um recebe a impressão pelo
sentido espiritual, como num coro de
música, cada um recebe a impressão dos
sons pelo sentido do ouvido.
Mas, do mesmo modo que há raios
sonoros harmônicos ou discordantes, há
também pensamentos harmônicos ou
discordantes. Se o conjunto é
harmônico a impressão é agradável; se
é discordante, a impressão é penosa.
Ora, para isso, não há necessidade de que o

86
pensamento seja formulado em palavras; a
irradiação fluídica não existe menos, quer
seja ela expressada ou não; se todos são
benevolentes, todos os assistentes
deles sentem um verdadeiro bem-
estar; sentem-se comodamente; mas se
a eles se misturam alguns pensamentos
maus, produzem o efeito de uma corrente
de ar gelado num meio lépido.
Tal é a causa do sentimento de satisfação
que se sente numa reunião simpática; ali
reina como uma atmosfera moral saudável,
onde se respira comodamente; dali se sai
reconfortado, porque se está impregnado de
correntes fluídicas salutares. Assim se
explicam também a ansiedade, o mal-estar
que se sente num meio antipático, onde os
pensamentos malévolos provocam, por
assim dizer, correntes fluídicas malsãs.
A comunhão de pensamentos
produz, pois, uma espécie de efeito
físico que reage sobre o moral; é o que
só o Espiritismo poderia fazer compreender.
O homem o sente instintivamente, uma vez
que procura as reuniões onde sabe
encontrar essa comunhão; nessas
reuniões homogêneas e simpáticas, ele
haure novas forças morais; poder-se-ia
dizer que ali recupera as perdas
fluídicas que tem cada dia pela irradiação
do pensamento, como recupera pelos
alimentos as perdas do corpo material.

87
[…].
Aos efeitos que acabo de descrever, a
respeito da comunhão de pensamentos,
juntando-lhe um outro que lhe é a
consequência natural, e que importa não
perder de vista, é a força que adquire o
pensamento ou a vontade, pelo
conjunto dos pensamentos ou vontades
reunidas. Sendo a vontade uma força ativa,
essa força é multiplicada pelo número das
vontades idênticas, como a força muscular é
multiplicada pelo número dos braços.
Estabelecido este ponto, concebe-se que
nas relações que se estabelecem entre os
homens e os Espíritos, há, numa reunião
em que reina uma perfeita comunhão
de pensamentos, uma força atrativa ou
repulsiva que não possui sempre um
indivíduo isolado.
Se, até o presente, as reuniões muito
numerosas são menos favoráveis, é
pela dificuldade de se obter uma
homogeneidade perfeita de
pensamentos, o que se prende à
imperfeição da natureza humana sobre a
Terra. Quanto mais as reuniões são
numerosas, mais nelas se misturam
elementos heterogêneos que paralisam
a ação dos bons elementos, e que são
como os grãos de areia numa engrenagem.
Isso não é assim nos mundos mais
avançados, e esse estado de coisas mudará

88
sobre a Terra, à medida que os homens nela
se tornarem melhores.
Para os Espíritas, a comunhão de
pensamentos tem um resultado mais
especial ainda. Temos visto o efeito desta
comunhão de homem a homem; O
Espiritismo nos prova que não é menor dos
homens aos Espíritos, e reciprocamente.
Com efeito, se o pensamento coletivo
adquire força pelo número, um
conjunto de pensamentos idênticos,
tendo o bem como objetivo, terá mais
força para neutralizar a ação dos maus
Espíritos; também vemos que a tática
destes últimos é levar à divisão e ao
isolamento. Só, um homem pode sucumbir,
ao passo que se sua vontade for
corroborada por outras vontades, ele poderá
resistir, segundo o axioma: A união faz a
força, axioma verdadeiro tanto quanto ao
moral como ao físico.
De um outro lado, se a ação dos Espíritos
malévolos pode ser paralisada por um
pensamento comum, é evidente que a dos
bons Espíritos será secundada; sua
influência salutar não encontrará
obstáculos; seus eflúvios fluídicos não sendo
detidos por correntes contrárias, se
derramarão sobre todos os assistentes,
precisamente porque todos os terão atraído
pelo pensamento, não cada um em seu
proveito pessoal, mas em proveito de todos,
segundo a lei de caridade. Descerão sobre

89
eles em línguas de fogo, para nos servir de
uma admirável imagem do Evangelho.
Assim, pela comunhão dos
pensamentos, os homens se assistem
entre si, e ao mesmo tempo assistem
os Espíritos e são por eles assistidos. As
relações do mundo visível e do mundo
invisível não são mais individuais, são
coletivas, e, por isso mesmo, mais
poderosas para o proveito das massas,
como para os indivíduos; em uma palavra,
ela estabelece a solidariedade, que é a base
da fraternidade. Cada um não trabalha
somente para si, mas para todos, e,
trabalhando para todos, nisso cada um
encontra a sua conta; é o que não
compreende o egoísmo.
Todas as reuniões religiosas, qualquer
que seja oculto a que pertençam, são
fundadas sobre a comunhão de
pensamentos; está aí um efeito que deve e
pode exercer todo o seu poder, porque o
objetivo deve ser o desligamento do
pensamento dos constrangimentos da
matéria. Infelizmente a maioria se desviou
deste princípio, à medida que fez da religião
uma questão de forma. […].
Certamente, não era assim que o
entendia Jesus, quando disse: Quando
vários de vós estiverdes reunidos em meu
nome, estarei no meio de vós. Reunidos
em meu nome, quer dizer, com um

90
pensamento comum; mas não se pode
estar reunidos em nome de Jesus sem
assimilar os seus princípios, a sua doutrina;
ora, qual é o princípio fundamental da
doutrina de Jesus? A caridade em
pensamentos, em palavras e em ações. Os
egoístas e os orgulhosos mentem quando se
dizem reunidos em nome de Jesus, porque
Jesus os nega como seus discípulos. (74)

Acreditar ter ficado bem clara a posição do


Codificador em relação a homogeneidade ou
comunhão de pensamentos como base fundamental
para a sobrevivência do próprio Espiritismo, mais
ainda em relação às reuniões dedicadas ao
intercâmbio com os Espíritos visando ajudá-los,
dentro da nossa capacidade.

2º) O trabalho em equipe:

Em O Livro dos Médiuns (jan/1861), 2ª parte,


capítulo “XXXI – Dissertações Espíritas”, no tópico
“Sobre as Sociedades Espíritas”, mensagem XXI,
temos um importante alerta de Fénelon:

Meus amigos, quereis formar um grupo


espírita e eu o aprovo, porque os Espíritos
não podem ver com satisfação que os

91
médiuns se conservem isolados. Deus
não lhes concedeu essa sublime faculdade
somente para eles, mas para o bem de
todos. Comunicando-se com outros, eles
terão mil oportunidades de se
esclarecerem sobre o mérito das
comunicações que recebem, ao passo que,
isolados, estão muito melhor sob o
domínio dos Espíritos mentirosos, que
ficam muito contentes por não sofrerem
nenhuma fiscalização. Eis o que vos deixo e,
se o orgulho não vos subjuga,
compreendereis e aproveitareis. Aqui vai
agora para os outros.
Estais bem certos do que deve ser
uma reunião espírita? Não, visto que, no
vosso zelo, julgais que o melhor que
tendes a fazer é reunir o maior número
possível de pessoas, a fim de as
convencerdes. Desenganai-vos. Quanto
menos pessoas, mais obtereis. É
principalmente pelo ascendente moral que
exercerdes que atraireis os incrédulos, muito
mais do que pelos fenômenos que
obtiverdes. Se somente os atrairdes pelos
fenômenos, os que vos procurarem serão
movidos apenas pela curiosidade; topareis
com curiosos que não acreditarão em vós e
que zombarão de vós. Se, entre vós, só se
encontrarem pessoas dignas de apreço,
muitas, talvez, não vos acreditem, mas vos
respeitarão e o respeito inspira sempre a
confiança. Estais convencidos de que o

92
Espiritismo deve produzir uma reforma
moral. Seja, pois, o vosso grupo o
primeiro a dar exemplo das virtudes
cristãs, visto que, nesta época de egoísmo,
é nas Sociedades Espíritas que a verdadeira
caridade há de encontrar refúgio. (75) Tal
deve ser, meus amigos, um grupo de
verdadeiros espíritas. De outra vez, vos
darei novos conselhos. (76)

Certamente que o pensamento de alguns


adeptos do Espiritismo é que a presença de leigos
nas reuniões espíritas seria um fator de
convencimento deles, algo que Fénelon diz não fazer
nenhum sentido.

Do artigo “Escolhos dos médiuns”, publicado


na Revista Espírita 1859, mês de fevereiro,
encontramos informações relativas ao nosso tema.
Vejamos o seguinte trecho:

É uma regra geral que as melhores


comunicações ocorrem na intimidade, e
em um círculo reduzido e homogêneo.
Em toda comunicação, várias
influências estão em jogo; a do
médium, a do meio, e a da pessoa que
interroga. Essas influências podem
reagir umas sobre as outras, se

93
neutralizarem ou se corroborarem: isso
depende do objetivo que se propõe, e
do pensamento dominante. Vimos
excelentes comunicações obtidas em
círculos, e com médiuns que não reuniam
todas as condições desejáveis; nesse caso,
os bons Espíritos vieram por uma pessoa em
particular, porque isso era útil; vimos
comunicações más obtidas por bons
médiuns, unicamente porque o interrogador
não tinha intenções sérias e atraía os
Espíritos levianos que zombavam dele. Tudo
isso pede tato e observação, e
concebe-se, facilmente, a
preponderância que devem ter todas as
condições reunidas. (77)

Novamente, vemos a importância da


homogeneidade. Quanto ao fato de que “as
melhores comunicações ocorrem na intimidade” fica
clara a questão da não ser algo do tipo “porta
aberta”, tema que serpa tratado no próximo item.

E em relação a realizarem-se em “um círculo


reduzido” será algo que ainda veremos, pois é
sabido que a quantidade de participantes numa
reunião influirá diretamente na homogeneidade do
grupo.

94
6.4. Reuniões de “portas abertas”, como
assim?

Destacamos da Revista Espírita 1860, mês


de setembro, o seguinte trecho das instruções de
Allan Kardec, na Sociedade, em 24/08/1860:

“Cremos dever lembrar às pessoas


estranhas à Sociedade, e que não
estariam ao corrente de nossos trabalhos,
que não fazemos nenhuma experiência, e
que elas se enganariam se cressem achar
aqui assuntos de distração. Ocupamo-nos
seriamente com coisas muito sérias, mas
pouco interessantes e pouco inteligíveis
para quem é estranho à ciência espírita.
Como a presença dessas pessoas seria
inútil para elas mesmas, e poderia ser
uma causa de perturbação para nós,
nos recusamos a admitir aquelas que
dela não possuam ao menos os
primeiros elementos, e sobretudo
aquelas que não lhe seriam simpáticas.
Somos, antes de tudo, uma Sociedade
científica de estudos, e não uma Sociedade
de ensino; nós nunca convocamos o público,
porque sabemos, por experiência, que a
convicção não se forma senão por uma
longa sequência de observações, e não por
haver assistido a algumas sessões que não
apresentam nenhuma continuidade
metódica. Eis porque não fazemos

95
demonstrações que estariam a recomeçar a
cada dia, e nos deteriam em nosso trabalho.
Se, apesar disso, se encontrarem aqui
pessoas que não fossem atraídas senão pela
curiosidade, ou que não partilham a nossa
maneira de ver, nós lhes pedimos para que
se lembrem que não as convidamos, e
esperamos de sua decência o respeito às
nossas convicções, como respeitamos as
suas. Não reclamamos de sua parte
senão o silêncio e o recolhimento.
Sendo o recolhimento uma das
recomendações mais expressas da
parte dos Espíritos, que consentem em se
comunicarem conosco, convidamos com
instância as pessoas presentes a se
absterem de toda conversação particular.”
(78)

Na vida real, é bem provável que as “pessoas


estranhas” não possuem conhecimento mínimo do
que sejam as reuniões mediúnicas, e aí, segundo o
Codificador, são causadoras de perturbação. É
lembrado que os Espíritos sempre se reportam à
questão do recolhimento necessário para o bom
andamento das reuniões.

Um pouco mais à frente lemos:

96
O presidente faz observar que a
Sociedade é necessariamente limitada pelo
tempo, mas que tudo o que os seus
membros obtêm em seu particular, e
que querem a ela trazer, deve ser
considerado como um complemento de seus
trabalhos. Ela não deve, pois, considerar
como lhe fazendo parte somente o que
obtém em suas sessões, mas igualmente
tudo o que lhe vem de fora e pode servir
para a sua instrução. Ela é o centro onde
vêm chegar os estudos privados para o bem
de todos; ela os examina, os comenta, e
deles se aproveita se há lugar. Para os
médiuns, é um meio de controle, que,
esclarecendo-os sobre as comunicações que
recebem, pode preservá-los de mais de uma
decepção. Os Espíritos, aliás, preferem,
frequentemente, se comunicar na
intimidade, onde há necessariamente
mais recolhimento que nas reuniões
numerosas, pelos instrumentos de sua
escolha, nos momentos que lhes convém, e
em circunstâncias que nem sempre nos é
dado apreciar. Em concentrando essas
comunicações, cada um aproveita assim
todas as vantagens que elas podem
oferecer. (79)

Dizendo que os Espíritos preferem se


comunicar na intimidade por haver maior
recolhimento, deixa claro que isso vale tanto para os

97
bons que instruem, quanto para os maus que nos
servem de exemplo.

Vamos recorrer novamente ao artigo “Princípio


vital das sociedades espíritas”, constante da Revista
Espírita 1862, para destacar este trecho do seu
último parágrafo:

[…] O essencial é formar um núcleo de


fundadores titulares, unidos por uma
perfeita comunhão de objetivos, de
opiniões e de sentimentos, e de
estabelecer regras precisas às quais
deverão se submeter, forçosamente,
aqueles que virão, mais tarde, a ela se
reunir. Remetemos, a esse respeito, ao
regulamento da Sociedade de Paris e às
instruções que demos sobre esse assunto.
Nosso mais caro desejo é o de ver a
união e a harmonia reinarem entre os
grupos e sociedades que se formam por
todas as partes; é por isso que
consideramos sempre um dever ajudar com
os conselhos de nossa experiência àqueles
que crerem dever dela se aproveitar. Limitar-
nos-emos, no momento, a dizer-lhes: Sem
homogeneidade não há união simpática
entre os membros, não há relações
afetuosas; sem união não há
estabilidade; sem estabilidade não há
calma; sem calma não há trabalho

98
sério; de onde concluímos que a
homogeneidade é o princípio vital de
toda sociedade ou reunião espírita. […].
(80) (itálico do original)

Allan Kardec evidencia que o princípio vital de


uma reunião mediúnica séria é a homogeneidade
entre seus participantes, bem como da própria
sociedade espírita, em relação aos seus membros.

Da obra No Limiar do Etéreo ou


Sobrevivência à Morte Cientificamente
Explicada (1931), de autoria J. Arthur Findlay (1833-
1964), cujo foco são as reuniões materializações,
vamos destacar o seguinte trecho:

[…] O círculo, no entanto, tinha um


núcleo formado pelos que frequentavam
regularmente as reuniões, os quais
contribuíam para os resultados, como
sempre acontece, porque os que são
assíduos concorrem para estabelecer
as condições do ambiente.
Dentre essas condições, a harmonia é a
mais essencial ao êxito da sessão e eu
sempre achei que os melhores resultados
se obtêm quando harmonizados se
encontram os assistentes e

99
exclusivamente bons sejam os
sentimentos. Presentes pessoas
antipáticas umas às outras, ou
perturbadas e de certo modo excitadas,
desfavoráveis se tornam as condições
do ambiente. Por essa razão, desavisado
é que um grupo de novatos faça
reuniões com um médium altamente
desenvolvido e espere bons resultados,
da primeira vez. Semelhante coisa é
impossível, pelo que sempre foi tido como
de bom aviso que o maior número possível
de frequentadores habituais compareça, a
fim de que boas se mantenham as
condições, embora se permita que
estranhos assistam às experiências, se
beneficiem com elas ou recebam o
conforto que proporcionam. Os que as
frequentam regularmente já transpuseram a
fase da dúvida e do cepticismo, fase em que
vêm à tona todas as ideias pessoais. Esses
são os que já tiveram experiências suas,
obtendo manifestações de amigos seus do
Além. Aptos se acham, portanto, a
conservar-se em atitude plácida, o que
auxilia a frustrar qualquer adversa
influência, oriunda de um ou de alguns dos
adventícios. (81)

[…] não podemos deixar de reconhecer


que há certos indivíduos constituídos de
modo que não se ligam, tanto variam as
suas vibrações, a outros aqui na Terra, de
sorte que, ao irem a uma sessão repelem

100
toda tentativa que façam os de outro
mundo, para se porem em contato com
eles. Não se suponha queira eu dizer que as
condições sejam exatamente as mesmas
para todos, porque não o são. Há pessoas
delicadas e agradabilíssimas, que não
conseguem resultado algum; o que quero
dizer é que, com a nossa experiência
terrena, relativa a diversas pessoas, melhor
se compreenderá como podem alguns ser
bons assistentes de sessões e outros não.
Os primeiros emitem vibrações que
possibilitam as comunicações aos do
outro mundo que tentem comunicar-se. As
vibrações que os demais emitem
tornam impossível que isso se dê. Eis
por que consideramos eminentemente
desejável se sentem juntos os que
emitem vibrações que não se chocam
entre si. A harmonia é o objetivo; tão
necessária ela é, quanto um poderoso
médium, razão por que procuramos sempre
cultivá-la nas sessões de Sloan. (82)

Embora é dito que pessoas estranhas


comprometem a harmonia das sessões, diz que em
algumas foi permitido a presença delas para que
fossem assistidas, porém, esse caso, não significa
estejam “portas abertas” a qualquer um.

Se, porventura, nas reuniões de desobsessão

101
os Espíritos, de alguma forma, se utilizam do
ectoplasma a favor dos atendidos, teríamos aí mais
um forte motivo para mantê-las de “portas
fechadas”.

Em O Finito e o Infinito (1983), o jornalista


Herculano Pires, esclarece-nos que:

[…] Kardec jamais concordou com as


sessões mediúnicas de portas abertas.
E nem permitia que uma pessoa assistisse a
uma sessão sem antes haver tomado
conhecimento da doutrina. […] (83)

Pessoalmente, temos conhecimento de que em


algumas casas espíritas as sessões mediúnicas têm
as “portas abertas”, fato lamentável, pois demonstra
que os seus dirigentes, por alguma razão, não se
aprofundaram suficientemente no tema.

Herculano Pires foi certeiro, pois Allan Kardec,


em “Viagem Espírita 1862”, foi bem claro: “As
sessões nunca deverão ser públicas. Isto quer
dizer que em nenhum caso as portas poderão estar
abertas ao primeiro que apareça.” (84)

102
Portanto, não resta dúvida alguma de que as
reuniões mediúnicas devem ser privativas e não de
caráter público. É o recomendável que se aconteça
nas casas espíritas que optem em se alinhar com o
pensamento kardequiano.

Mas à frente, em tópico apropriado, voltaremos


a citar essa fala de Herculano Pires.

6.5. Quantos participantes deveria ter uma


reunião mediúnica?

Essa é uma pergunta que naturalmente surge,


em razão disso, vamos nos esforçar para encontrar a
sua resposta. O “participantes”, aqui significa todos
os membros trabalhadores encarnados da reunião.

Na Revista Espírita 1858, mês de dezembro,


a certa altura do artigo “Senhor Adrien, médium
vidente”, Allan Kardec disse que:

[…] em toda reunião, há sempre uma


assembleia oculta de Espíritos atraídos
por sua simpatia pelas pessoas, e pelas
coisas pelas quais se ocupem. […]. (85)

103
Portanto, além dos Espíritos elevados que
assumem compromisso em coordenar e auxiliar-nos
nas reuniões, aparecem outros atraídos pela
simpatia com as pessoas que dela participam e
também pelo interesse que nutrem com os objetivos
do trabalho.

Quanto aos encarnados, vejamos, em O Livro


dos Médiuns, capítulo “XXIX – Reuniões e
sociedades espíritas”, o que Allan Kardec orienta a
respeito:

332. Sendo o recolhimento e a


comunhão dos pensamentos as
condições essenciais de toda reunião
séria, compreende-se facilmente que o
número excessivo dos assistentes
constitui uma das causas mais
contrárias à homogeneidade. Não há, é
certo, nenhum limite absoluto para esse
número e bem se concebe que cem
pessoas, suficientemente concentradas e
atentas, estarão em melhores condições do
que dez pessoas distraídas e barulhentas.
Mas também é evidente que, quanto maior
o número, tanto mais difícil será o
preenchimento dessas condições. Aliás,
é fato comprovado pela experiência que os
círculos íntimos, de poucas pessoas, são

104
sempre mais favoráveis às belas
comunicações, pelos motivos que acabamos
de expor. (86)

Observa-se que o Codificador não estabeleceu


um número certo de participantes, deixou-o a critério
do bom senso dos dirigentes das casas espíritas,
alertando-os que se esse for excessivo pode,
facilmente, prejudicar ou comprometer a
homogeneidade do grupo.

Em nossas andanças, pelas Minas Gerais,


temos visto girar entre 12 a 15 pessoas o número de
membros do grupo mediúnico, o que, na maneira de
pensar de alguns, iria ao encontro disto que o
Codificador disse, acima registrado: “os pequenos
grupos serão sempre mais homogêneos” (87).

Em relação aos tipos de mediunidade,


julgamos ser desejável se ter: médium vidente,
médium inspirado (esclarecedor), médiuns de
psicofonia e os vibracionais.

A função do médium vidente é a de, quando


necessário, auxiliar o esclarecedor descrevendo
quadros ou situações que venham facilitar seus

105
argumentos. Via de regra, o esclarecedor é um
médium inspirado. É importante que se tenha mais
de um, para que nos eventuais impedimentos o
trabalho possa se desenrolar normalmente.

Vibracionais são aqueles que não têm uma


mediunidade ostensiva, mas, por pensamentos
elevados secundados pela prece, conseguem manter
a atmosfera do ambiente compatível com o trabalho
e, quando for o caso, doam o ectoplasma que,
muitas vezes, é utilizado a favor do manifestante.

6.6. Qual o principal compromisso de cada


membro da reunião?

Esse ponto, que buscamos evidenciar, é tão


importante que Allan Kardec o abordou no item 227
do capítulo “XX – Influência moral do médium”, da
obra O Livro dos Médiuns, no qual se lê:

Se o médium, do ponto de vista da


execução, não passa de um instrumento,
exerce, todavia, influência muito
grande quanto ao aspecto moral. Visto
que o Espírito estranho precisa identificar-se
com o Espírito do médium para que se
verifique a comunicação, esta

106
identificação só ocorre plenamente
quando há simpatia entre eles, ou
afinidade, se assim nos podemos
expressar. A alma exerce sobre o Espírito
livre uma espécie de atração ou de repulsão,
conforme o grau de semelhança ou de
diferença entre eles. Ora, os bons têm
afinidade com os bons e os maus com
os maus, de onde se conclui que as
qualidades morais do médium exercem
influência muito importante sobre a
natureza dos Espíritos que por eles se
comunicam. Se o médium é vicioso, os
Espíritos inferiores se agrupam em
torno dele e estão sempre prontos a
tomar o lugar dos Espíritos bons que
foram evocados. As qualidades que, de
preferência, atraem os Espíritos bons
são: a bondade, a benevolência, a
simplicidade do coração, o amor ao próximo,
o desprendimento das coisas materiais. Os
defeitos que os afastam são: o orgulho,
o egoísmo, a inveja, o ciúme, o ódio, a
cupidez, a sensualidade e todas as
paixões que escravizam o homem à
matéria. (88)

Temos aí, portanto, uma orientação aos


médiuns no sentido de envidarem todo o seu esforço
objetivando a sua própria evolução moral.

Na Revista Espírita 1859, mês de setembro,

107
foi publicado o artigo “Procedimentos para afastar os
maus Espíritos”, do qual destacamos:

Pode-se primeiro colocar como


princípio que os maus Espíritos não vão
senão lá onde alguma coisa os atraia;
portanto, quando se misturam às
comunicações, é porque encontram
simpatias no meio onde se apresentam, ou
pelo menos lados fracos dos quais esperam
se aproveitar; em todo o processo, é que
não encontram uma força moral
suficiente para repeli-los. Entre as
causas que os atraem, é necessário
colocar em primeira linha as
imperfeições morais de toda natureza,
porque o mal simpatiza sempre com o
mal; em segundo lugar, a muito grande
confiança com a qual se acolhe suas
palavras. Quando uma comunicação
acusa origem má, seria ilógico disso
inferir uma paridade necessária entre o
Espírito e os evocadores;
frequentemente, se veem as pessoas mais
honradas expostas aos embustes dos
Espíritos enganadores, como acontece no
mundo, pessoas honestas enganadas por
velhacos; mas quando se está atento, os
velhacos não têm o que fazer; é o que
acontece também com os Espíritos. Quando
uma pessoa honesta é enganada por eles,
isso pode prender-se a duas causas: a

108
primeira é uma confiança muito absoluta
que a dissuade de todo exame; a segunda,
que as melhores qualidades não
excluem certos lados fracos que dão
presa aos maus Espíritos, ansiosos em
agarrar os menores defeitos da
couraça. Não falamos do orgulho e da
ambição, que são mais do que defeito,
mas de uma certa fraqueza de caráter,
e sobretudo de preconceitos que esses
Espíritos sabem explorar habilmente
lisonjeando-os, e, a esse respeito, tomam
todas as máscaras para inspirar mais
confiança.
As comunicações francamente grosseiras
são as menos perigosas, porque não podem
enganar a ninguém; as que mais enganam,
são aquelas que não têm senão uma falsa
aparência de sabedoria ou de seriedade, em
uma palavra, a dos Espíritos hipócritas e dos
pseudossábios; uns podem se enganar de
boa fé, por ignorância ou por fatuidade, os
outros não agem senão por astúcia.
Vejamos, pois, o meio para desembaraçar-se
deles.
A primeira coisa é de início não os
atrair, e evitar tudo o que possa lhes
dar acesso.
As disposições morais são, como
vimos, uma causa preponderante; mas,
abstração feita dessa causa, o modo
empregado não é sem influência. […]. (89)

109
Vê-se, facilmente, que a nossa ação em elevar
nosso padrão moral é algo necessário para afastar
de nossas reuniões os Espíritos maus que poderiam
nos acompanhar e prejudicar o trabalho do grupo.

Do artigo “Estudo sobre os Possessos de


Morzine, As causas da obsessão e os meios de
combatê-la”, publicado na Revista Espírita 1862,
mês de dezembro, destacaremos os seguintes
trechos do comentário de Allan Kardec:

Suponhamos agora duas pessoas perto


uma da outra, envolvida cada uma de sua
atmosfera perispiritual, – que se nos
permita ainda esse neologismo. – Esses dois
fluidos vão se pôr em contato, penetrar um
no outro; se são de natureza antipática, se
repelirão, e os dois indivíduos sentirão uma
espécie de mal-estar com a aproximação um
do outro, sem disso se darem conta; sendo
ao contrário movidos por um sentimento
bom e benevolente, levarão consigo um
pensamento benevolente que atrai. Tal é a
causa pela qual duas pessoas se
compreendem e se adivinham sem se
falarem. Um certo não sei o quê diz
frequentemente que a pessoa que se tem
diante de si deve estar animada de tal ou tal
sentimento; ora, esse não sei quê é a
expansão do fluido perispiritual da

110
pessoa em contato com o nosso, espécie
de fio elétrico condutor do pensamento.
Compreende-se, desde então, que os
Espíritos, cujo envoltório fluídico é bem mais
livre do que no estado de encarnação, não
têm mais necessidade de sons articulados
para se entenderem.
O fluido perispiritual do encarnado,
portanto, é posto em ação pelo Espírito; se,
pela sua vontade, o Espírito irradia, por
assim dizer, seus raios sobre um outro
indivíduo, esses raios o penetram; daí a
ação magnética mais ou menos possante
segundo a vontade, mais ou menos
benfazeja segundo esses raios sejam
de uma natureza mais ou menos boa,
mais ou menos vivificante; porque, pela sua
ação, podem penetrar os órgãos, e, em
certos casos, restabelecer o estado normal.
Sabe-se qual é a influência das qualidades
morais no magnetizador.
O que pode fazer o Espírito encarnado
irradiando seu próprio fluido sobre um
indivíduo, um Espírito desencarnado pode
fazê-lo igualmente, uma vez que tem o
mesmo fluido, quer dizer, que pode
magnetizar, e, segundo seja bom ou mau,
sua ação será benfazeja ou malfazeja.
Dá-se conta facilmente assim da natureza
das impressões que se recebe segundo os
meios onde se encontra. Se uma
assembleia é composta de pessoas

111
animadas de maus sentimentos, elas
encherão o ar ambiente do fluido
impregnado de seus pensamentos; daí,
para as almas boas, um mal-estar
moral análogo ao mal-estar físico
causado pelas exalações mefíticas: a
alma é asfixiada. As pessoas, ao contrário,
se têm intenções puras, acham-se em sua
atmosfera como num ar vivificante e salutar.
O efeito será naturalmente o mesmo num
meio cheio de Espíritos segundo sejam bons
ou maus. (90) (itálico do original)

Devemos nos esforçar ao máximo para que


nossos pensamentos emitam apenas vibrações
positivas. Assim, contribuiremos para que, na
reunião mediúnica, se forme uma “atmosfera
espiritual” acolhedora, capaz de favorecer o bem-
estar do Espírito comunicante.

Um pouco mais a frente, vamos encontrar algo


interessante:

Certas pessoas preferem, sem


dúvida, uma receita mais fácil para
afastar os maus Espíritos: algumas
palavras a dizer ou alguns sinais a fazer, por
exemplo, o que seria mais cômodo do
que se corrigir de seus defeitos. Com

112
isso não estamos descontentes, mas não
conhecemos nenhum outro
procedimento mais eficaz para vencer
um inimigo do que ser mais forte do
que ele. Quando se está doente, é preciso
se resignar a tomar um remédio, por amargo
que ele seja; mas também, quando se teve
a coragem de beber, como se sente bem, e
quanto se é forte! É preciso, pois, se
persuadir de que não há, para alcançar
esse objetivo, nem palavras
sacramentais, nem fórmulas, nem
talismãs, nem quaisquer sinais
materiais. Os maus Espíritos disso se riem
e se alegram frequentemente em indicarem
que sempre têm o cuidado de se dizer
infalíveis, para melhor captar a confiança
daqueles que querem enganar, porque
então estes confiantes na virtude do
procedimento, se entregam sem medo.
Antes de esperar domar os maus
Espíritos, é preciso domar a si mesmo.
De todos os meios de adquirir a força para a
isso chegar, o mais eficaz é a vontade
secundada pela prece, a prece de
coração se entende, e não de palavras às
quais a boca tem mais parte que o
pensamento. É preciso chamar seu anjo
guardião e os bons Espíritos para nos
assistirem na luta; mas não basta lhes
pedir para expulsarem os maus Espíritos, é
preciso se lembrar desta máxima: “Ajuda-te,
o céu te ajudará”, e pedir-lhes sobretudo

113
a força que nos falta para vencer os
maus pendores que são para nós pior
que os maus Espíritos, porque são
esses pendores que os atraem, como a
corrupção atrai as aves de rapina.
Pedindo também pelo Espírito obsessor, é
retribuir-lhe o bem para o mal, e se mostrar
melhor que ele, e já é uma superioridade.
Com a perseverança, acaba-se, o mais
frequentemente, por levá-lo a melhores
sentimentos, e de perseguidor dele fazer um
devedor.
Em resumo, a prece fervorosa e os
esforços sérios para se melhorar, são
os únicos meios de afastar os maus
Espíritos que reconhecem seus senhores
naqueles que praticam o bem, ao passo que
as fórmulas os fazem rir; a cólera e a
impaciência os excitam. É preciso deixá-los
mostrando-se mais pacientes do que eles.
Mas ocorre, algumas vezes, que a
subjugação chega ao ponto de paralisar a
vontade do obsidiado, e que não se pode
esperar dele nenhum concurso sério. É
então, sobretudo, que a intervenção de
terceiros torna-se necessária, seja pela
prece, seja pela ação magnética; mas o
poder dessa intervenção depende
também do ascendente moral que os
intervenientes podem tomar sobre os
Espíritos; porque, se não valem mais,
sua ação é estéril. […].

114
É preciso dizer também que se culpa
frequentemente os Espíritos estranhos de
má ação das quais são muito inocentes;
certos estados doentios e certas aberrações
que se atribuem a uma causa oculta, às
vezes deve-se simplesmente ao próprio
indivíduo. As contrariedades, que o mais
comumente concentram-se em si mesmo, os
desgostos amorosos sobretudo, fizeram
cometer muitos atos excêntricos que seriam
erradamente levados à conta da obsessão.
Frequentemente somos nosso próprio
obsessor. Acrescentamos, enfim, que
certas obsessões tenazes, sobretudo nas
pessoas merecedoras, algumas vezes,
fazem partes das provas às quais estão
submetidas. “Ocorre mesmo algumas vezes
que a obsessão, quando é simples, é uma
tarefa imposta ao obsidiado, que deve
trabalhar para melhorar o obsessor,
como um pai à de um filho viciado.” (91)
(itálico do original)

A grande maioria das pessoas, infelizmente,


pensa que seria bem mais fácil ter uma espécie de
“fórmula mágica” para afastar os Espíritos inferiores
do que se preocupar em reformar seu caráter,
tornando-se um verdadeiro seguidor de Jesus, a
ponto de seu conselho de “Amarás o teu próximo
como a ti mesmo.” (Mateus 22,39) seja nosso modo

115
de agir.

Ao final do artigo “Estudo sobre os possessos


de Morzine – As causas da obsessão e os meios de
combatê-la”, publicado na Revista Espírita 1863,
mês de maio, há registro da manifestação de São
Luís, guia espiritual da Sociedade Espírita de Paris,
que aconselhava:

“Os possessos de Morzines estão


realmente sob a influência dos maus
Espíritos, atraídos nessa região por causas
que um dia conhecereis, ou melhor, que
reconhecereis vós mesmos um dia. O
conhecimento do Espiritismo ali fará
predominar a boa influência sobre a má;
quer dizer, que os Espíritos curadores e
consoladores, atraídos pelos fluidos
simpáticos, substituirão a maligna e cruel
influência que desola essa população. O
Espiritismo está chamado a prestar
grandes serviços; será o curador
desses males dos quais não se
conhecia a causa antes, e diante dos
quais a ciência fica impotente; sondará as
pragas morais, e lhes prodigalizará o
bálsamo reparador; tornando os homens
melhores, afastará deles os maus
Espíritos, atraídos pelos vícios da
Humanidade. Se todos os homens

116
fossem bons, os maus Espíritos deles
se afastariam, porque saberiam não poder
induzi-los ao mal. A presença desses
homens de bem fá-los fugir, a dos homens
viciados os atrai, ao passo que é ao
contrário para os bons Espíritos. Sede,
pois, bons se quiserdes não ter senão
bons Espíritos ao vosso redor.” (Médium,
senhora Costel) (92)

A frase final, certamente, merce reflexão da


parte de todos os participantes da reunião.

E em O Livro dos Médiuns, capítulo “IX –


Lugares assombrados”, item 132, os Espíritos
respondem à pergunta quanto à ação dos Espíritos
inferiores:

13. Haverá meios de os expulsar?


“Sim, mas quase sempre o que se faz
para afastá-los os atrai ainda mais. O
melhor meio de expulsar os Espíritos
maus consiste em atrair os bons. Atraí,
pois, os Espíritos bons, praticando todo o
bem que puderdes e os maus fugirão, visto
que o bem e o mal são incompatíveis. Sede
sempre bons e só tereis Espíritos bons ao
vosso lado.” (93) (itálico do original)

117
Acreditamos que essa orientação possa ser
generalizada para a todos os casos em que os
Espíritos maus interferem em nossa vida.

Do artigo “Atmosfera espiritual”, publicado na


Revista Espírita 1867, mês de maio, destacamos o
seguinte trecho:

Além disso sabemos que, além dos


assistentes corpóreos, há sempre
ouvintes invisíveis; que sendo a
permeabilidade uma das propriedades do
organismo dos Espíritos, estes podem se
encontrar em número ilimitado num espaço
dado. Frequentemente, nos foi dito que,
em certas sessões, estavam em
quantidades inumeráveis. Na explicação
dada ao Sr. Bertrand a propósito das
comunicações coletivas que obteve, foi dito
que o número dos Espíritos presentes era
tão grande, que a atmosfera estava, por
assim dizer, saturada de seus fluidos. Isto
não é novo para os Espíritas, mas não se
deduziu disto talvez todas as consequências.
Sabe-se que os fluidos emanado dos
Espíritos são mais ou menos salutares
segundo o grau de sua depuração;
conhece-se o seu poder curativo em certos
casos, e também seus efeitos mórbidos de
indivíduo a indivíduo. Ora, uma vez que o ar

118
pode estar saturado desses fluidos, não é
evidente que. segundo a natureza dos
Espíritos que proliferam em um lugar
determinado, o ar ambiente se acha
carregado de elementos salutares ou
malsãos, que devem exercer uma influência
sobre a saúde física tão bem quando sobre a
saúde moral? […] Cada indivíduo, em
razão do grau de sua sensibilidade,
sofre a influência dessa atmosfera
viciada ou vivificante. Por este fato, que
parece fora de dúvida, e que confirmam, ao
mesmo tempo, a teoria e a experiência,
encontramos nas relações do mundo
espiritual com o mundo corpóreo, um novo
princípio de higiene que a ciência, sem
dúvida um dia fará entrar em linha de conta.
Podemos, pois, subtrair-nos a essas
influências emanando de uma fonte
inacessível aos meios materiais?
Sem nenhuma dúvida; porque do mesmo
modo que saneamos os lugares insalubres
destruindo-lhes a fonte dos miasmas
pestilentos, podemos sanear a atmosfera
moral que nos cerca, subtraindo-nos às
influências perniciosas dos fluidos espirituais
malsãos, e isto mais facilmente do que não
podemos escapar às exalações pantanosas,
porque isto depende unicamente de
nossa vontade, e ali não estará um dos
menores benefícios do Espiritismo quando
for universalmente compreendido e
sobretudo praticado.

119
Um princípio perfeitamente averiguado
por todo Espírita, é que as qualidades do
fluido perispiritual estão em razão
direta das qualidades do Espírito
encarnado ou desencarnado; quanto
mais seus sentimentos são elevados e
livres das influências da matéria, mais
seu fluido é depurado. Segundo os
pensamentos que dominam num encarnado,
ele irradia raios impregnados desses
mesmos pensamentos que os viciam ou os
saneiam, fluidos realmente materiais,
embora impalpáveis, invisíveis para os olhos
do corpo, mas perceptíveis para os sentidos
perispirituais, e visíveis para os olhos da
alma, uma vez que impressionam
fisicamente e tomam aparências muito
diferentes para aqueles que estão dotados
da visão espiritual.
Unicamente pelo fato da presença
dos encarnados numa assembleia, os
fluidos ambientes serão, pois, salubres
ou insalubres, segundo os
pensamentos dominantes sejam bons
ou maus. Quem traz consigo
pensamentos de ódio, de inveja, de
ciúme, de orgulho, de egoísmo, de
animosidade, de cupidez, de falsidade,
de hipocrisia, de maledicência, de
malevolência, em uma palavra,
pensamentos hauridos na fonte das
más paixões, espalha ao seu redor
eflúvios fluídicos malsãos, que reagem

120
sobre aqueles que o cercam. Numa
assembleia, ao contrário, onde todos não
trouxessem senão sentimentos de
bondade, de caridade, de humildade,
de devotamento desinteressado, de
benevolência e de amor ao próximo, o
ar estará impregnado de emanações
saudáveis no meio das quais sente-se viver
mais comodamente.
Se se considera agora que os
pensamentos atraem os pensamentos
da mesma natureza, que os fluidos
atraem os fluidos similares,
compreende-se que cada indivíduo
conduz consigo um cortejo de Espíritos
simpáticos, bons ou maus, e que assim o
ar está saturado de fluidos em relação com
os pensamentos predominantes. Se os maus
pensamentos estão em minoria, eles não
impedirão as boas influências de se
produzirem, mas as paralisam. Se eles
dominam, enfraquecem a irradiação fluídica
dos bons Espíritos, ou mesmo por vezes,
impedem os bons fluídos de penetrar nesse
meio, como o nevoeiro enfraquece ou detém
os raios do sol.
Qual é, pois, o meio de se subtrair à
influência dos maus fluidos? Este meio
ressalta da própria causa que produz o mal.
Que se faz quando se reconheceu que um
alimento é contrário à saúde? É rejeitado, e
se os substitui por um alimento mais sadio.
Uma vez que são os maus pensamentos

121
que engendram os maus fluidos e os
atraem, é preciso se esforçar de deles
não ter senão bons, repelindo tudo o
que é mau, como se repele um alimento
que pode nos tornar doentes, em uma
palavra, trabalhar pela sua melhoria
moral, e, para nos servir de uma
comparação do Evangelho, “não só limpar o
vaso por fora, mas limpá-lo, sobretudo, por
dentro.” (94)

O fato é que os Espíritos, ainda que não sejam


vistos, participam de nossas atividades, incluindo as
reuniões mediúnicas. Daí ser importantíssimo que
cada um de nós possa “escolher”, por sintonia,
aqueles acompanhantes, que se afinam com nossa
maneira de ser e agir, de modo que as vibrações
emitidas por eles não prejudiquem o nosso trabalho
nelas.

Bem claro ficou a questão de termos que


“sanear a atmosfera moral que nos cerca”, uma vez
que “são os maus pensamentos que engendram os
maus fluidos e os atraem”, é algo que “depende
unicamente de nossa vontade”, uma vez que “as
qualidades do fluido perispiritual” liga-se
diretamente aos nossos sentimentos.

122
Os Espíritos superiores não deixaram dúvida de
que “O semelhante atrai semelhante.” (95) Ora, isso
nos coloca novamente diante da necessidade de
trabalharmos para ter uma razoável elevação moral,
de modo que os nossos “companheiros espirituais”
sejam só de bons Espíritos, que, certamente,
produzirão efeitos positivos numa reunião mediúnica.

Léon Denis, o continuador de Allan Kardec,


também falou a respeito dos nossos maus
pensamentos. No capítulo “XXXII – A vontade e os
fluidos”, da obra Depois da Morte, esclarece-nos:

Sim, a vontade exercida no sentido do


bem e conforme às leis eternas pode realizar
grandes coisas. Pode, também, muito para o
mal. Nossos maus pensamentos, nossos
desejos impuros, nossas ações
culpáveis corrompem os fluidos que
nos rodeiam e o contato desses vai
provocar mal-estar e produzir
impressões desagradáveis naqueles
que de nós se aproximam, pois todo
organismo sofre a influência dos fluidos
ambientes. De igual modo, sentimentos
generosos, pensamentos de amor, de
calorosas exortações, vão penetrar os seres
que nos cercam, sustentá-los, vivificá-los.
Assim se explicam o império exercido sobre

123
as multidões pelos grandes missionários e
as almas de elite e a influência contrária dos
maus, que podemos sempre conjurar, é
verdade, por uma resistência enérgica da
nossa vontade. (96)

Os participantes da reunião de desobsessão


devem refletir seriamente sobre esse detalhe que, à
primeira vista, pode parecer insignificante, mas que,
na verdade, é de suma importância.

O médico António J. Freire (1877-1958), foi


orador e escritor vinculado ao movimento espírita de
Portugal, em Da Alma Humana, orienta-nos:

[…] a maioria dos médiuns psicógrafos


são geralmente intuitivos e algumas vezes
semi-mecânicos, donde deveriam certas
lacunas e deficiências nas manifestações
subjetivas do Além, sobre tudo quando a
sua preparação moral, intelectual e de
cultura sejam deficientes. É por esse
motivo que todos os autores espíritas
recomendam com toda a solidariedade
e insistência aos médiuns a
necessidade imprescindível duma dupla
higiene: moral, pela rigorosa prática
dos preceitos cristãos; intelectual, pelo
desenvolvimento duma cultura geral, e
em especial, pelo estudo e

124
conhecimento dos princípios básicos do
Espíritos, especialmente na sua relação
de conjunto. Se, para o grupo dos
fenômenos físicos supranormais, estes
conhecimentos têm uma importância capital
e decisiva, no valor e transcendência das
comunicações mediúnicas. Poucos são os
médiuns que tenham o pleno
conhecimento das graves
responsabilidade da elevada função
social que lhes foi confiada, e do
cumprimento dos deveres inerentes a
tão nobre e delicada missão, como
instrumentos da grande renovação filosófica
e religiosa que há de conduzir a
Humanidade, liberta de superstições e de
dogmas, ao majestoso e fecundo templo da
Religião-ciência, tendo por cúpula a
Fraternidade Universal, unindo todos os
povos, de polo a polo, de mundo a mundo,
numa mesma vibração sintônica de Luz, Paz
e Amor, num amplexo de regate e de
redenção, tendo por catedral a majestosa e
magnificente Natureza, expressa nos
esplendores da Divina Criação. (97) (itálico do
original)

Esses conselhos de António J. Freire são


fundamentais, encontrando respaldo nas obras
publicadas pelo Codificador, razão pela qual estamos
insistindo um pouco nessa questão de reforma moral

125
dos médiuns e todos os participantes da reunião.

Allan Kardec, em A Gênese, também


evidenciou de forma bem clara que os nossos
pensamentos podem corromper os fluidos do
ambiente que nos encontramos: “Os nossos
pensamentos são como os sons de um sino, que
fazem vibrar todas as moléculas do ar ambiente.” (98)

Ainda em A Gênese, no capítulo “XIV – Os


fluidos”, tópico “Qualidade dos Fluidos”, item 19,
lemos:

Assim se explicam os efeitos que se


produzem nos lugares de reunião. Uma
assembleia é um foco de irradiação de
pensamentos diversos. É como uma
orquestra, um coro de pensamentos, onde
cada um emite uma nota. Resulta daí uma
multiplicidade de correntes e de
eflúvios fluídicos cuja impressão cada um
recebe pelo sentido espiritual, como num
coro musical cada um recebe a impressão
dos sons pelo sentido da audição.
Mas do mesmo modo que há
irradiações sonoras, harmônicas ou
dissonantes, também há pensamentos
harmônicos ou discordantes. Se o
conjunto é harmonioso, a impressão é

126
agradável; se for discordante, a
impressão será penosa. Ora, para isso
não é necessário que o pensamento se
exteriorize por palavras; quer ele se externe,
quer não, a irradiação existe sempre.
Tal é a causa da satisfação que se
experimenta numa reunião simpática,
animada de pensamentos bons e
benévolos, na qual reina uma saudável
atmosfera moral e se respira à vontade; sai-
se reconfortado dali, porque impregnado de
salutares eflúvios fluídicos. Basta, porém,
que se misturem aí alguns pensamentos
malévolos, para produzirem o efeito de uma
corrente de ar gelado num meio tépido ou o
de uma nota desafinada num concerto.
Desse modo também se explica a
ansiedade, o indefinível mal-estar que se
experimenta numa reunião antipática,
na qual pensamentos malévolos provocam
correntes de fluido repugnante. (99)

Em um ambiente onde predominam os fluidos


de pensamentos elevados, esses acabam por
repercutir positivamente no Espírito manifestante,
fazendo-o “sentir-se bem” na reunião.

Intimamente, ligado à moral também haverá o


produto dos nossos pensamentos, não é mesmo? A
obra que faz referência a respeito disso é

127
Mensagens de Além-túmulo (1943), com trinta
mensagens do Espírito Eurípedes Barsanulfo, através
do médium José dos Santos Junior. Vejamos o
seguinte trecho do Capítulo “I – Cuidado com os
vossos pensamentos”, cuja mensagem é datada de
18/06/1943:

Meus bondosos irmãos: a vossa presença


em torno a esta mesa de caridade tem como
fim principal oferecer-vos exemplos e
ensinamentos que sirvam para uma nova
orientação em vosso modo de agir e pensar.
Digo bem: agir e pensar, pois quantos de
vós ainda vivem pensando em coisas
por tal forma inferiores que vós
próprios tendes vergonhas de
confessar!
Lembrai-vos de que esses
pensamentos são percebidos por uma
grande quantidade de entidades,
pertencentes às mais variadas gradações
espirituais deste plano astral do planeta
Terra. Esses pensamentos são, portanto, o
atrativo de seres que muitas vezes passam
a vos seguir e perturbar-vos em vossa vida
diária.
Assim é que, portanto deveis não só
tomar cuidado com as palavras que
proferis, mas também deveis estar em
guarda para com vossos pensamentos.

128
(100)

Já tivemos informações de que “semelhante


atrai semelhante”, portanto, essa orientação de
Eurípedes Barsanulfo faz todo o sentido, cabe-nos
cumprir esta recomendação de Jesus: “Vigiai e orai,
para que não entreis em tentação.” (Mateus 26,41).

A busca incessante de melhoria moral deve ser


o foco principal dos participantes da reunião, pois
somente pela ascendência moral é que conseguirão
“afastar” os Espíritos obsessores. É exatamente ela
que lhes dará condições de os esclarecer com amor,
aliando, certamente, às preces em que esse
sentimento fique perceptível aos quais se dirige os
argumentos.

6.7. Seria útil definir: dia, horário e local


certos?

Na Revista Espírita 1867, mês de junho,


Allan Kardec publica o artigo “Nova sociedade
espírita de Bordeaux”, em que transcreve algumas
passagens do relatório anual da Sociedade Espírita
de Bordeaux. Extraímos, por oportuno, o seguinte

129
trecho:

“Desde que nos constituímos temos duas


sessões por semana. Esse duplo trabalho
nos foi imposto pela necessidade de
consagrar uma sessão particular (a de
quinta-feira) aos Espíritos obsessores e
ao tratamento das doenças que eles
ocasionam, e reservar outra sessão (a de
sábado) aos estudos científicos. […].
“Aliás, há em Bordeaux muitos casos de
obsessão, e uma sessão por semana,
especialmente consagrada à evocação
e à moralização dos obsessores, está
longe de ser suficiente, pois o médium
curador, acompanhado de um médium
escrevente, de um evocador e, por vezes,
por alguns de nossos irmãos, vai ao
domicílio dos doentes, a fim de melhor
se identificar com os obsessores e
chegar mais facilmente ao resultado. (101)

Vários parágrafos à frente, lemos:

Chamamos ainda a atenção para o


parágrafo seguinte:

“Embora tenhamos excelentes


instrumentos para os nossos estudos,
compreendemos que seu número se havia
tornado insuficiente, sobretudo em presença
da extensão sempre crescente da
Sociedade. A escassez dos médiuns

130
muitas vezes veio trazer obstáculos à
marcha regular dos nossos trabalhos, e
compreendemos que era necessário, tanto
quanto possível, desenvolver as
faculdades que jazem latentes na
organização de muitos de nossos
irmãos. É por isto que acabamos de
decidir que uma sessão especial de
ensaios mediúnicos seria realizada aos
domingos, às duas horas da tarde, na sala
de nossas reuniões. Julguei dever para elas
convidar não só nossos irmãos em crença,
mas ainda os estrangeiros que desejassem
tornar-se úteis. Estas sessões já deram
resultados que ultrapassaram a nossa
expectativa. Aí fazemos escrita, tiptologia,
magnetismo. Várias faculdades muito
diversas aí foram descobertas e daí saíram
dois sonâmbulos que, parece, devem ser
muito lúcidos.” (102)

Não pudemos deixar de incluir esse trecho,


pois há nele algo muito interessante. Trata-se da
criação pela Sociedade de Bordeaux de uma reunião
dedicada ao “desenvolvimento” de médiuns.
Imediatamente, após o último parágrafo, Allan
Kardec, enfaticamente, disse:

Não podemos senão aplaudir o


programa da Sociedade de Bordeaux e

131
cumprimentá-la por seu devotamento e pela
inteligente direção de seus trabalhos. […] A
maneira pela qual procede para o
tratamento das obsessões é, ao mesmo
tempo, notável e instrutiva, e a melhor
prova de que essa maneira é boa, é de que
dá resultado. […]. (103)

Ou seja, o Codificador sanciona o procedimento


realizado pelos membros da Sociedade de Bordeaux
para o tratamento das obsessões. Aliás, vale a pena
registramos do artigo “Breve Excursão Espírita”,
publicado em julho, na mesma Revista Espírita
1867, o seguinte trecho:

Malgrado nossa curta estada em


Bordeaux, pudemos assistir a duas sessões
da Sociedade: uma consagrada ao
tratamento dos doentes e outra a estudos
filosóficos. Assim pudemos constatar por
nós mesmos os bons resultados que
sempre são o fruto da perseverança e da
boa vontade. Pelo relato que publicamos em
nosso número precedente sobre a sociedade
bordelesa, pudemos, com conhecimento
de causa, acrescentar nossas
104
felicitações pessoais. […]. ( )

Portanto, o Codificador esteve em Bordeaux e

132
participou da reunião dedicada ao tratamento dos
doentes, o que faz de sua opinião algo
inquestionável, por retratar uma realidade da qual foi
testemunha ocular.

Acreditamos ser algo bem curioso isto que foi


dito a respeito de um grupo de médiuns que “vai ao
domicílio dos doentes, a fim de melhor se identificar
com os obsessores e chegar mais facilmente ao
resultado.” Talvez aqui se possa ter o fundamento
para convidar os pacientes a irem à casa espírita nos
dias das reuniões de desobsessão, a fim de
facilitarem o processo de “sintonia” e não para
estarem presentes na sala dedicada à reunião, onde
ocorrerá as manifestações, é preciso esclarecer.

Quanto ao horário, transcrevemos de O Livro


dos Médiuns, os seguintes trechos destes três
capítulos:

a) Capítulo “XVII – Formação dos médiuns”:

217. […] Como os Espíritos não estão


constantemente às suas ordens, os médiuns
correm o risco de ser enganados por
mistificadores. É bom que adotem, para
evitar esse mal, o sistema de só

133
trabalhar em dias e horas
determinados, porque assim se entregarão
ao trabalho em condições de maior
recolhimento; além disso, os Espíritos que
os queiram auxiliar, estando prevenidos
do horário das reuniões, se disporão
melhor a prestar esse auxílio. (105)

b) Capítulo “XXV – Evocações”, item 282:

16. São preferíveis as evocações em dias


e horas determinados?

“Sim, e se for possível, no mesmo


lugar, pois os Espíritos aí comparecem com
mais satisfação. O desejo constante que
tendes é que auxilia os Espíritos a se porem
em comunicação convosco. Eles têm
ocupações, que não podem deixar de
repente para a vossa satisfação
pessoal. Quando digo no mesmo lugar, não
julgueis que isso deva constituir uma
obrigação absoluta, já que os Espíritos vão a
toda parte. Quero dizer que é preferível
um lugar consagrado às reuniões,
porque o recolhimento se faz mais
perfeito.” (106) (itálico do original)

19. Haverá dias e horas mais


propícios para as evocações?

“Para os Espíritos, isso é


completamente indiferente, como tudo o
que é material, e seria superstição acreditar-
se na influência dos dias e das horas. Os

134
momentos mais propícios são aqueles
em que o evocador possa estar menos
distraído pelas suas ocupações
habituais; aqueles em que se ache mais
calmo de corpo e de espírito.” (107)
(itálico do original)

c) Capítulo “XXIX – “Reuniões e sociedades


espíritas”:

333. Existe ainda outro ponto não


menos importante: o da regularidade
das reuniões. Em todas elas sempre estão
presentes Espíritos a quem poderíamos
chamar frequentadores habituais, que não
devem ser confundidos com os que se
encontram em toda parte e em tudo se
intrometem. Estamos nos referindo aos
Espíritos protetores, ou aos que são
interrogados com mais frequência. Não
se pense que esses Espíritos nada mais
tenham a fazer, senão ouvir o que lhes
queiramos dizer ou perguntar. Eles têm
suas ocupações e, além disso, podem
achar-se em condições desfavoráveis para
serem evocados. Quando as reuniões se
realizam em dias e horas certos, eles se
preparam antecipadamente e é raro
faltarem. Alguns chegam a levar a
pontualidade ao excesso. Ofendem-se
com o atraso de um quarto de hora e, se
eles mesmos marcarem o horário da
reunião, será inútil chamá-los antes desse
momento. (108) (itálico do original)

135
Então a recomendação é escolher dia e horário
certos para se realizar as reuniões de desobsessão.
Nos casos em que o espaço físico da casa permitir,
seria bom se ter um local específico para a
realização delas.

Como? Espíritos protetores “que são


interrogados com mais frequência”? Ao que nos
parece, na atualidade, em boa parte das casas
espíritas não mais se evocam tais Espíritos, dando a
entender que os encarnados são tão “sábios” que
não precisam da orientação deles.

Por já ter a oportunidade de participar de


reuniões mediúnicas, facilmente percebemos que
muitos dos coordenadores das reuniões de
desobsessão têm uma preocupação excessiva em
relação aos horários de início e término, em um rigor
que ultrapassa o mínimo de bom senso, quase igual
ao que se aplica aos militares nos quartéis.

Não raras vezes, vimos um Espírito


manifestante ser “despachado”, em nome de Jesus,
é claro, com o argumento de estar “em cima da
hora” do encerramento. Só faltou lhe dar instrução

136
para voltar “na próxima reunião” para continuar o
diálogo.

Hoje, com base em nossos estudos ao longo de


um bom tempo, podemos dizer que isso significa
pura falta de conhecimento, porquanto, em O Livro
dos Médiuns, no capítulo “XXIV – Reuniões e
Sociedades Espíritas”, tópico “Reuniões em geral”,
item 333, o Mestre de Lyon fala exatamente sobre
esse ponto:

Acrescentemos, todavia, que embora os


Espíritos prefiram a regularidade, os de
ordem verdadeiramente superior não
se mostram tão meticulosos a esse
ponto. A exigência de pontualidade
rigorosa é sinal de inferioridade como
tudo o que seja pueril. É claro que eles
podem comparecer mesmo fora das horas
consagradas à reunião, apresentando-se de
boa vontade se o fim que tenha em vista for
útil. […]. (109)

Portanto, diante de tão objetiva explicação,


jamais deveríamos procurar “ser mais realistas que o
rei”.

No capítulo “VII – Disciplina fraterna”, de O

137
Centro Espírita, o jornalista Herculano Pires tece as
seguintes considerações:

O problema da disciplina no Centro


Espírita é dos mais melindrosos e deve ser
encarado entre as coordenadas da ordem e
da tolerância. Não se pode estabelecer e
manter no Centro uma disciplina rígida,
de tipo militar. O Centro é além de tudo o
que já vimos, um instrumento coordenador
das atividades espirituais. No esquema das
suas sessões teóricas e práticas a questão
do horário é imperiosa, mas não deve
sobrepor-se às exigências do amor
fraterno. Não é justo deixarmos fora da
sessão companheiros dedicados ou
necessitados, porque chegaram dois ou
três minutos atrasados. Vivemos num
mundo material e não espiritual, em que as
pessoas lutam com dificuldades várias
no tocante à locomoção, de
compromissos diversos, e é justo que
se dê uma pequena margem de
tolerância no horário. Essa margem não
deve também ser estabelecida com rigor,
mas deixada ao critério do dirigente dos
trabalhos, que saberá dosar as coisas de
acordo com as conveniências. O rigor
exagerado na questão de horário,
mormente nas cidades mais populosas,
causa aborrecimentos e mágoas a
pessoas sensíveis que, depois de

138
aflição e correria para chegar na hora
certa, viram-se impedidas de participar
da reunião por alguns segundos ou
minutos. Temperando-se as exigências da
ordem cronológica com dever da atenção
aos companheiros podemos evitar
aborrecimentos perfeitamente superáveis.
Claro que esse é um problema a ser sempre
esclarecido nas reuniões, para que todos
possam ter conhecimento da
flexibilidade possível no horário. O
simples fato de haver essa
flexibilidade, já tira à disciplina o seu
aspecto opressivo.
Essa mesma dosagem de ordem e
tolerância deve ser aplicada a outros
problemas, de maneira a assegurar-se, o
mais possível, um ambiente geral sem
prevenções, que muito ajudará na realização
dos trabalhos. (110)

As ponderações de Herculano Pires são


oportunas e, a nosso sentir, merecem uma atenção
especial da parte de todos aqueles que participam
das reuniões mediúnicas, incluindo aí os que as
coordenam.

Na Revista Espírita 1867, mês de junho, no


artigo “Nova sociedade espírita de Bordeaux”,
lemos:

139
Um grupo da província, que se pode
alinhar entre os mais sérios e melhor
dirigidos, introduziu este uso em suas
reuniões que, igualmente, ocorrem duas
vezes por semana. Ele é exclusivamente
composto dos oficiais de um regimento. Mas
lá não é uma faculdade deixada a cada
membro; é uma obrigação, que lhes é
imposta pelo regulamento de falar cada um
a seu turno. Em cada sessão o orador
designado para a próxima reunião deve
se preparar para desenvolver e
comentar um capítulo ou um ponto da
doutrina. Disso resulta para eles uma
aptidão maior para fazer a propagação e
defender a causa, em caso de necessidade.
(111)

Embora, diretamente não tenha nada a ver


com nosso tema, julgamos interessante a
designação do orador, indicando-lhe o ponto a ser
desenvolvido na reunião seguinte, o que em muito
se assemelha ao que, atualmente, se faz na maioria
das casas espíritas em suas reuniões públicas e,
algumas vezes, nas particulares de estudo
doutrinário e até mesmo em reuniões de
desobsessão.

Em “Obras Póstumas”, tomamos conhecimento

140
de que Allan Kardec elaborou o “Projeto 1868”, que
contém várias orientações a serem implementadas
na Sociedade Espírita de Paris.

Julgamos não ser algo fora de propósito que se


aplique também nas casas espíritas, a
recomendação do 3º item do tópico
“Estabelecimento Central” de, quando possível, se
reservar “um compartimento destinado às evocações
íntimas, espécie de santuário, que não seria
profanado por nenhuma ocupação estranha” (112),
por ter uma relação direta com esses tipos de
reuniões.

6.8. Deve-se indicar o médium para sintonizar


com o Espírito que vai se manifestar?

No item 275 de O Livro dos Médiuns,


capítulo “XXV – Evocações”, tópico “Espíritos que se
podem evocar”, Allan Kardec apresenta “as causas
que podem impedir a manifestação de um Espírito,
umas lhe são pessoais e outras, estranhas”, que
transcrevemos.

As causas estranhas residem

141
principalmente na natureza do médium,
no caráter da pessoa que evoca, no
meio em que se faz a evocação e,
finalmente, no objetivo que se tem em vista.
Alguns médiuns recebem mais
particularmente comunicações de seus
Espíritos familiares, que podem ser mais
ou menos elevados; outros se mostram
aptos a servir de intermediários a
todos os Espíritos, dependendo isto da
simpatia ou da antipatia, da atração ou
da repulsão que o Espírito pessoal do
médium exerce sobre o Espírito
evocado, o qual pode tomá-lo por
intérprete, com prazer ou com repugnância.
Isto também depende, abstração feita das
qualidades íntimas do médium, do
desenvolvimento da faculdade mediúnica.
Os Espíritos se apresentam com maior
boa vontade e, sobretudo, são mais
explícitos com um médium que não lhes
oferece nenhum obstáculo material.
Aliás, em igualdade de condições morais,
quanto mais facilidade tenha o médium para
escrever ou para se exprimir, tanto mais se
generalizam suas relações com o mundo
espiritual. (113)

Destaque para o fato de que determinados


médiuns podem causar repulsão aos Espíritos,
portanto, entre eles e o médium não haveria

142
afinidades fluídicas, mas, sim, antagônicas.

De Obras Póstumas, capítulo “Manifestações


dos Espíritos”, tópico “Dos Médiuns”, destacamos o
seguinte item:

35. As relações entre os Espíritos e


os médiuns se estabelecem por meio
dos respectivos perispíritos,
dependendo a facilidade dessas
relações do grau de afinidade existente
entre os dois fluidos. Alguns há que se
combinam facilmente, enquanto outros se
repelem, donde se segue que não basta ser
médium para que uma pessoa se comunique
indistintamente com todos os Espíritos. Há
médiuns que só com certos Espíritos
podem comunicar-se ou com Espíritos
de certas categorias, e outros que não o
podem a não ser pela transmissão do
pensamento, sem qualquer manifestação
exterior. (114)

Ora, se nas manifestações há necessidade de


haver afinidade fluídica entre o Espírito manifestante
e o encarnado que lhe servirá de instrumento, não
faz sentido o coordenador da reunião mediúnica
designar um dos médiuns presentes para dar
passividade ao Espírito que se comunicará.

143
Do artigo “Um antigo charreteiro”, publicado
na Revista Espírita 1859, mês de dezembro,
ressaltamos da nota do Codificador, o seguinte
trecho do último parágrafo:

Vimos médiuns, ciumentos a justo título


de conservar suas boas relações de além-
túmulo, repugnar-se em servirem de
intérpretes aos Espíritos inferiores que
se podem chamar; é de sua parte uma
suscetibilidade mal entendida. Do fato de
que se evoque um Espírito vulgar, mesmo
mau, não se está sob a sua dependência;
longe disso, sois vós, ao contrário, quem o
dominais: não é ele que vem se impor
apesar de vós, como nas obsessões, vós que
vos impondes a ele; ele não comanda,
obedece; sois seu juiz e não sua presa. Além
do mais, podeis ser-lhe útil pelos vossos
conselhos e vossas preces, e vos é
reconhecido pelo interesse que tomais por
ele. Estender-lhe uma mão segura, é
fazer uma boa ação; repelindo, é faltar
com a caridade; é mais ainda, é do
egoísmo e do orgulho. Estes seres
inferiores são, aliás, para nós um
poderoso ensinamento; foi por eles que
aprendemos a conhecer a classe baixa
da população do mundo Espírita e a
sorte que espera aqueles que fazem, neste
mundo, um mau uso de sua vida. [….]. (115)

144
O primeiro ponto que trazemos a esse tópico é
mostrar que o médium não deve recusar a sintonia
com Espíritos inferiores, ainda que eles sejam
extremamente maus. O segundo, é que, a qualquer
Espírito que se apresente, jamais se pode deixar de
“ser-lhe útil pelos nossos conselhos e nossas
preces”, sempre, e em qualquer circunstância, se
deverá “estender-lhe uma mão segura”.

Em “Boletim” da Revista Espírita 1860, mês


de agosto, encontra-se o registro da sessão
particular realizada no dia 06.06, do qual
destacamos:

Estudos. 1º Evocação de François Arago,


pela Senhorita H… São Luís responde que
esse médium não é aquele que convém
a esse Espírito; convida para tomar um
outro.
Diversas perguntas são dirigidas, a esse
respeito, sobre a aptidão especial dos
médiuns para receberem comunicações de
tal ou tal Espírito. A resposta foi esta: “Um
Espírito vem, de preferência, a uma
pessoa cujas ideias simpatizem com as
que teve quando vivo; há relação de
pensamentos entre o céu e a Terra, mais
ainda do que as há sobre a Terra”. (116)

145
Então, na prática, são os próprios Espíritos que
“escolhem” o médium, obviamente, levando em
conta a afinidade e sintonia para com ele. Portanto,
jamais o coordenador da reunião deve indicar o
médium para “receber” determinado Espírito.

Em “Correspondência de além-túmulo – Estudo


medianímico”, publicado na Revista Espírita 1865,
mês de abril, vamos destacar inicialmente o primeiro
parágrafo da mensagem de B… e, logo após, o
seguinte trecho dos comentários de Allan Kardec:

Eis-me, meu bom irmão; mas tu exiges


muito; não posso, com a melhor vontade,
satisfazer, numa só evocação, as numerosas
perguntas que me diriges. Não sabes que,
algumas vezes, é muito difícil aos
Espíritos transmitir seu pensamento
com a ajuda de certos médiuns pouco
apropriados a receberem nitidamente,
no cérebro, a impressão fotográfica dos
pensamentos de certos Espíritos, e que,
desnaturando-os, lhes dão uma marca de
falsidade que conduz, da parte dos
interessados, à negação mais formal da
manifestação; o que é muito pouco lisonjeiro
e entristece profundamente aqueles que,
por falta de instrumentos convenientes,
estão impossibilitados de dar sinais de

146
identidade suficientes. (117)

Comentário de Allan Kardec:

Vários ensinamentos importantes


ressaltam desta comunicação. O primeiro é
a dificuldade que sente o Espírito em se
expressar com a ajuda do instrumento
que lhe foi dado. Conhecemos
pessoalmente esse médium que deu há
muito tempo provas como poder e
flexibilidade de faculdade, sobretudo em
fatos de evocações particulares; é o que se
pode chamar um médium seguro e bem
assistido. De onde vem, pois, esse
impedimento? É que a facilidade das
comunicações depende do grau de
afinidade fluídica que existe entre o
Espírito e o médium. Cada médium
está, assim, mais ou menos apto para
receber a impressão ou o impulso do
pensamento de tal ou tal Espírito; ele
pode ser um bom instrumento para um
e um mau instrumento para o outro,
sem que isso prejulgue nada contra
suas qualidades, sendo esta condição
mais orgânica do que moral. Os Espíritos
procuram, pois, de preferência, os
instrumentos que vibrem em uníssono com
eles; impor-lhes o primeiro que chega, e crer
que eles podem indiferentemente dele se
servirem, seria como se se impusesse a um
pianista tocar violão, pela razão que,
sabendo música, deve saber tocar todos os

147
instrumentos.
Sem essa harmonia única que pode
levar à assimilação fluídica, tão
necessária na tiptologia quanto na escrita,
as comunicações são ou impossíveis,
ou incompletas, ou falsas. Na falta do
Espírito que não se pode ver, se não pode se
manifestar livremente, para isso não faltam
outros sempre prontos a aproveitar a
ocasião, e que pouco se importam com a
verdade do que dizem. Esta assimilação
fluídica é algumas vezes inteiramente
impossível entre certos Espíritos e
certos médiuns; outras vezes, e é o caso
mais comum, ela não se estabelece senão
gradualmente e com o tempo, o que explica
por que os Espíritos que se manifestam
habitualmente a um médium o fazem com
mais facilidade, e por que as primeiras
comunicações atestam, quase sempre, um
certo embaraço e são menos explícitas.
Está, pois, demonstrado, ao mesmo
tempo pela teoria e pela experiência, que
não há mais médiuns universais para as
evocações senão pela aptidão aos
diversos gêneros de manifestações.
Aquele que pretenda receber à vontade, a
propósito, as comunicações de todos os
Espíritos, e poder satisfazer, por
conseguinte, os legítimos desejos de todos
aqueles que querem conversar com os seres
que lhe são caros, farão prova, ou de uma
ignorância radical dos princípios mais

148
elementares da ciência, ou de
charlatanismo, e, em todos os casos, de
uma presunção incompatível com as
qualidades essenciais de um bom médium.
Num tempo pôde-se acreditá-lo, mas hoje os
progressos da ciência teórica e prática
demonstram que isto não se pode em
princípio. Quando um Espírito se comunica
pela primeira vez por um médium sem
nenhum embaraço, isto prende-se a uma
afinidade fluídica excepcional, ou anterior,
entre o Espírito e seu intérprete.
É, pois, um erro impor um médium a
um Espírito que se quer evocar; é
preciso deixar-lhe a escolha de seu
instrumento. Mas como fazer, dir-se-á, se
não se tem senão um único médium, o que
é muito frequente? Primeiro, contentar-se
com o que se tem, e abster-se do que não se
tem. Não está mais no poder da ciência
espírita em mudar as condições normais das
manifestações, quanto à química de mudar
as da combinação dos elementos.
No entanto, há aqui um meio de atenuar
a dificuldade. Em princípio, quando se
trata de uma evocação nova, o médium
deve sempre preliminarmente evocar
seu guia espiritual, e lhe perguntar se
ela é possível; em caso afirmativo,
perguntar ao Espírito evocado se
encontra no médium a aptidão
necessária para receber e transmitir
seu pensamento. Se houver dificuldade ou

149
impossibilidade, pedir para fazê-lo por
intermédio do guia do médium ou de fazê-lo
assistir. Neste caso, o pensamento do
Espírito não chega senão de segunda mão,
quer dizer, depois de ter atravessado dois
meios. Compreende-se, então, o quanto
importa que o médium seja bem assistido,
porque se o é por um Espírito obsessor,
ignorante ou orgulhoso, a sua comunicação
será alterada. Aqui, as faculdades pessoais
do médium desempenham, forçosamente,
um papel importante, pela natureza dos
Espíritos que atrai para si. Os médiuns mais
indignos podem ter poderosas faculdades,
mas os mais seguros são aqueles que, a
esse poder, juntam as melhores simpatias
no mundo invisível; Ora, essas simpatias
não são de nenhum modo garantidas pelos
nomes mais ou menos imponentes dos
Espíritos que assinam as comunicações, mas
pela natureza constantemente boa das
comunicações que deles recebem.
Estes princípios estão, ao mesmo tempo,
fundados sobre a lógica e sobre a
experiência; as próprias dificuldades que
acusam, provam que a prática do
Espiritismo não deve ser tratada
levianamente. (118) (itálico do original)

Mais claro que isso é impossível, Allan Kardec


foi bem objetivo quanto à necessidade de sintonia

150
fluídica entre o comunicante e o médium que lhe
servirá de instrumento, não sendo à escolha do
coordenador ou de algum dos médiuns presentes na
reunião, será o desencarnado que escolherá o
medianeiro pelo qual sentir afinidade.

Na Revista Espírita 1865, mês de maio, o


artigo “O doutor Vignal”, inserido em “Conversas de
além-túmulo,” é iniciado desta forma:

Nossos leitores se lembram, sem dúvida,


dos interessantes estudos sobre o Espírito
das pessoas vivas publicados na Revista de
janeiro e março de 1860, e aos quais foram
submetidos o Sr. conde de R… e o Sr.
doutor Vignal. Este último distante há
vários anos, morreu em 27 de março de
1865. Na véspera do enterro, perguntamos a
um sonâmbulo muito lúcido e que vê muito
bem os Espíritos, se o via. “Eu vejo, disse
ele, um cadáver no qual se opera um
trabalho extraordinário; […]. Não distingo a
forma do Espírito bem determinada.”
No dia 31 de março ele foi evocado na
Sociedade de Paris. O mesmo sonâmbulo
assistia adormecido à sessão durante a
evocação. Ele o viu e o descreveu
perfeitamente enquanto se comunicava
ao médium de sua escolha.

151
Dizemos de sua escolha, porque a
experiência demonstra o inconveniente
de impor um médium ao Espírito que
pode não encontrar nele as condições
necessárias para se comunicar
livremente. Quando se faz a evocação de
um Espírito pela primeira vez, convém que
todos os médiuns presentes se
coloquem à sua disposição, e esperem
que se manifeste por um deles. Nesta
sessão havia onze médiuns. (119)

A orientação do Codificador é que todos os


médiuns presentes na reunião se coloquem à
disposição, pois, cabe ao Espírito interessado em se
manifestar a escolha de um dentre eles.

Na Revista Espírita 1867, mês de março, foi


registrada uma situação bem interessante, Trata-se
de uma comunicação coletiva, ocorrida na reunião
de 1º de novembro de 1866, em que se comemora o
dia dos mortos, na qual quarenta e seis Espíritos se
manifestaram pelo médium Sr. Bertrand. Valerá a
pena lermos a nota de Allan Kardec após essas
mensagens e o registro da comunicação do guia do
médium:

152
Nota. Este gênero de comunicação
levanta uma questão importante. Como
os fluidos de um número muito grande
de Espíritos podem se assimilar quase
instantaneamente com o fluido do
médium, para transmitir-lhe seu
pensamento, ao passo que essa assimilação,
frequentemente, é difícil da parte de um só
Espírito, e não se estabelece, geralmente,
senão com o tempo?
O guia espiritual do médium parece
tê-lo previsto, porque dois dias depois
deu, espontaneamente a explicação
adiante.

“A comunicação que obtivestes no dia de


Todos os Santos, assim como a última que
dela é o complemento, embora nela haja
nomes repetidos, foram obtidas da maneira
seguinte: como sou teu Espírito protetor,
meu fluido é similar ao teu. Coloquei-me
acima de ti, transmitindo-te, o mais
exatamente possível, os pensamentos
e os nomes dos Espíritos que
desejaram se manifestar. Eles formaram
ao redor de mim uma assembleia cujos
membros ditavam, alternativamente,
todos os pensamentos que te transmiti.
Isto foi espontâneo, e o que tornou
naquele dia as comunicações mais
fáceis, foi que os Espíritos presentes
tinham saturado o apartamento com os
seus fluidos.

153
“Quando um Espírito se comunica com
um médium, ele o faz com tanto mais
facilidade quanto as relações fluídicas
estejam melhor estabelecidas entre
eles, senão o Espírito é obrigado, para
comunicar seu fluido ao médium, a
estabelecer uma espécie de corrente
magnética que chega ao cérebro deste
último; e se o Espírito, em razão de sua
inferioridade, ou de qualquer outra
causa, não pode estabelecer essa
corrente ele mesmo, ele recorre à
assistência do guia do médium, e as
relações se estabelecem como venho
de indicá-lo.”

SLENER. (120)

Na verdade, foi o Espírito Slener, guia do


médium, quem verbalizou, se assim podemos dizer,
o pensamento de todos os quarenta e seis Espíritos,
portanto, não ocorreu a manifestação de cada um
deles através de sintonia por ligação fluídica com o
médium.

Em “Ditados espontâneos e dissertações


espíritas”, constante da Revista Espírita 1860,
mês de junho, há uma mensagem intitulada
“Influência do médium sobre o Espírito”, que leva a

154
assinatura de Alfred de Musset (121):

Só os Espíritos superiores podem se


comunicar indistintamente com todos
os médiuns, e ter, por toda parte, a mesma
linguagem; mas eu não sou um Espírito
superior, eis porque, às vezes, sou um
pouco material! Entretanto, sou mais
avançado do que o credes.
Quando nos comunicamos com um
médium, a emanação de sua natureza
reflete, mais ou menos, sobre nós; por
exemplo, se o médium é dessas
naturezas onde o coração domina,
desses seres elevados, capazes de
sofrer por seus irmãos; enfim, dessas
almas devotadas, grandes, que a
infelicidade tornou fortes, e que
permaneceram puras no meio da
tormenta, então o reflexo faz bem,
nesse sentido que nos corrigimos
espontaneamente, quando a nossa
linguagem disso se ressente; mas, no caso
contrário, se nos comunicamos por um
médium de natureza menos elevada,
servimo-nos, pura e simplesmente, de sua
faculdade como de um instrumento; é
então que nos tornamos o que chamas
um pouco materiais; dizemos coisas
espirituais, se quiserdes, mas deixamos
o coração de lado.
Pergunta. Os médiuns instruídos, e de um

155
espírito cultivado, são mais aptos a
receberem comunicações elevadas que
aqueles que não têm instrução? – Resposta.
Não; eu o repito: só a essência da alma
se reflete sobre os Espíritos, mas só os
Espíritos superiores lhe são
122
invulneráveis. ( )

Portanto, somente os Espíritos superiores


teriam a capacidade de se manifestar por qualquer
médium.

Na mensagem há um ponto importante que


deve ser ressaltado. Trata-se da influência moral do
médium na comunicação, onde se vê que quanto
mais elevado for moralmente menos desconforto
causará aos Espíritos inferiores que por ele se
manifestam.

6.9. Há um limite de manifestações por


médium?

Não vimos Allan Kardec estabelecendo um


determinado limite específico de manifestações que
cada médium deveria obedecer.

Entretanto, vamos encontrar algo em O Livro

156
dos Médiuns, Segunda parte, capítulo “XVIII –
Inconvenientes e perigos da mediunidade”, no tópico
“Influência do exercício da mediunidade sobre a
saúde”, no item 221 que vale a pena transcrever:

2. O exercício da faculdade mediúnica


pode causar fadiga?
“O exercício muito prolongado de
qualquer faculdade provoca fadiga. A
mediunidade está no mesmo caso,
principalmente a que se aplica aos efeitos
físicos. Ela necessariamente ocasiona um
dispêndio de fluido, que traz a fadiga,
mas que se repara pelo repouso.”

3. Do ponto de vista higiênico, o exercício


da mediunidade pode ter inconvenientes em
si mesmo, excluindo-se os casos de abuso?
“Há casos em que é prudente, necessário
mesmo, a abstenção, ou, pelo menos, o
exercício moderado; vai depender do
estado físico e moral do médium. Aliás,
o médium o sente geralmente e, quando
isso acontece, deve abster-se.”

4. Haverá pessoas para quem esse


exercício seja mais inconveniente do que
para outras?
“Eu já disse que isso depende do
estado físico e moral do médium. Há

157
pessoas que devem evitar qualquer causa
de superexcitação e o exercício da
mediunidade é uma delas.” (Itens 188 e
194.) (123) (itálico do original)

Observamos que o Codificador deixou na


responsabilidade do médium a questão de dar ou
não passividade, entretanto, não falou nada
especificamente quanto à sua quantidade.

A fadiga pelo exercício prolongado é mais


comum na mediunidade de efeitos físicos. Pode até
ser que em outros tipos ocorra fadiga, mas, pelo que
deduzimos do que foi dito, não seria uma fadiga tão
elevada quanto as que se produzem nos fenômenos
efeitos físicos.

Bom, com isso poderíamos dizer que os grupos


mediúnicos que estabelecem a quantidade de
manifestações por médium estariam equivocados?

Analisando bem essa questão, é possível


concluir-se que, na verdade, isso é recomendável.
Sim, caro leitor, já estamos vendo sua “cara de
espanto”.

Mas, pense bem, caro leitor, se deixarmos isso

158
“livre” não poderá ocorrer que um médium tente
monopolizar as manifestações dos Espíritos, não
abrindo espaço para nenhum outro médium
participar do trabalho mediúnico?

Como ainda não nos tornamos “anjos”, essa é


a razão pela qual julgamos prudente estabelecer
esse limite, que será definido entre os participantes
da reunião de desobsessão, levando-se em conta o
número de médiuns psicofônicos disponíveis e o
tempo estipulado para a tarefa mediúnica.

Na obra Diretrizes de Segurança, os


médiuns José Raul Teixeira e Divaldo Pereira Franco,
questionados, responderam o seguinte:

52. Que pensar dos médiuns psicofônicos


que recebem diversos Espíritos, durante a
sessão, um atrás do outro? Será indício de
grande mediunidade?
RAUL – A mediunidade amadurecida não
é identificada pelo número de
desencarnados que se comuniquem por um
único médium, numa mesma sessão,
entretanto, será identificada pelo teor das
comunicações, pela qualidade do fenômeno,
que demonstrará a maior ou menor afinação
do médium com as responsabilidades da

159
tarefa.
Cada médium, quando devidamente
esclarecido e maduro para o desempenho
dos seus compromissos, saberá que o
número avultado de comunicações por
sessão poderá indicar descontrole do
instrumento encarnado e não a sua
pujança mediúnica. Há médiuns que
prosseguem dando passividade a Entidades
durante a prece de encerramento, sem
qualquer disciplina, quando não justificam
que tais Entidades estavam programadas,
como se os Emissários do Além,
responsáveis por lides tão graves, tivessem
menor bom senso que nós, encarnados.
Um número de até duas
comunicações, e, em casos de grande
necessidade e carência de outros
médiuns, até três, parece bastante
coerente.
Todos os médiuns, assim, terão chance de
atender aos irmãos desencarnados, sem
desnecessários desgastes. (124) (O negrito
da pergunta no original nós substituímos por
itálico)

57. Quantas comunicações um mesmo


médium pode receber durante a sessão
mediúnica de atendimento a Espíritos
sofredores?
DIVALDO – Um médium seguro, num
trabalho bem organizado, deve receber

160
de duas a três comunicações, quando
muito, para que dê oportunidade a
outros companheiros de tarefas, e para
que não tenha um desgaste exagerado.
Tenho tido o hábito de observar, em
médiuns seguros, conhecidos nossos, que
eles incorporam, em média, três Entidades
sofredoras ou perturbadoras e o Mentor
Espiritual; raramente ocorrem cinco
manifestações pelo mesmo instrumento,
principalmente num grupo. (125) (O negrito
da pergunta no original nós substituímos por
itálico)

A quantidade de duas ou três “para que dê


oportunidade a outros companheiros de tarefas”,
tudo bem é o que nos parece ser razoável,
entretanto a justificativa, dada por ambos, quanto ao
desgaste desnecessário ou exagerado, sentimos
muito, mas para nós não faz nenhum sentido,
levando-se em conta o que o Espíritos superiores
disseram ao consultar a obra O Livro dos Médiuns.

Certamente que alguém poderá nos apresentar


uma orientação de André Luiz a respeito do tema.
Sim, é fato. Na obra Desobsessão (1964), no
capítulo 40 – Manifestações simultâneas, no primeiro

161
parágrafo lemos:

Só se devem permitir, a cada


médium, duas passividades por
reunião, eliminando com isso maiores
dispêndios de energia e manifestações
sucessivas ou encadeadas, inconvenientes
sob vários aspectos. (126)

Em nossa maneira de ver, ao determinar a


quantidade, esse autor espiritual foi muito rigoroso,
indo além do que falou o Codificador ao dizer
“eliminando com isso maiores dispêndios de
energia”.

Defendemos o ponto de vista que uma possível


fixação da quantidade seja decisão do grupo
mediúnico, mas cada um é livre para seguir o que
ele recomenda.

6.10. Recomendações para o dia e o início da


reunião, bem como sobre a conversação antes
e depois dela

Inicialmente, é preciso esclarecer que pode até


parecer que falar de conversação não seria um

162
assunto adequado se levarmos em conta o contexto
do tema desse ebook, entretanto nos deparamos
com orientações que valerá a pena trazê-las para a
nossa reflexão.

Na obra Mensagens de Além-túmulo (1943),


contendo trinta mensagens do Espírito Eurípedes
Barsanulfo, através do médium José dos Santos
Junior, encontra-se referência de como se deve
proceder durante o dia da reunião. Vejamos o teor do
capítulo “X – Como se comportar durante o dia
designado para tomar parte numa mesa de
caridade”, designação que autor espiritual dá à
reunião de desobsessão, mensagem datada de 21 de
julho de 1943:

MEUS BONDOSOS IRMÃOS. Quis a


bondade de nosso Pai Celestial que hoje vos
fale sobre a maneira pela qual vos deveis
comportar em torno a uma mesa de
caridade.
Inicialmente, devo recordar-vos o que
muitas vezes vos tem sido repetido, isto é,
que nos dias designados para os
trabalhos de caridade, desde manhã,
todos os vossos atos devem ser
rigorosamente fiscalizados, para que

163
suas consequências não possam de nenhum
modo afetar a pureza de vossos
pensamentos à noite.
Igualmente, deveis evitar nesses dias
todo o trabalho que vos possa causar
demasiada canseira ou preocupação
para que tenhais facilidade em concentrar
vossos pensamentos no Pai Celestial, todos
unidos, numa só vibração harmoniosa.
Assim procedendo, nossa atividade aqui é
grandemente facilitada e os resultados
obtidos junto aos irmãos
desencarnados em sofrimento são de alto
proveito para eles.
Por outro lado vós também podereis ser
muito melhor beneficiados pelos
mensageiros médicos e outros
beneficiadores que sempre se esforçam para
que à vossa saída não sintais nenhuma dor
e estejais rodeados de uma aura alegre e
feliz.
Tende presente também que os minutos
que precedem o início das reuniões não
devem ser preenchidos com assuntos
inconvenientes, isto é, em desacordo com
tão alta finalidade, como é a de
demonstrardes às entidades do espaço,
ainda desviadas do caminho que as deve
conduzir ao Pai que elas precisam corrigir-se
e pedir o perdão de suas faltas.
Justamente porque nem sempre vossa
mentalidade está devidamente

164
preparada para tão sagrada missão,
sucedem-se na mesa de caridade fatos
desagradáveis cujas consequências recaem
sobre vós próprios.
Lembrai-vos, meus amados irmãos, que
vossos pensamentos firmes, unidos,
serenamente voltados para o Pai Celestial,
constituem o ambiente ideal para todos
os nossos trabalhos em favor de todos
os que precisam ser auxiliados, desta
ou daquela maneira.
Além disso, uma fusão assim de
pensamentos forma um foco tão belo o
poderoso que se torna um grande
ponto de atração para os espíritos de
todas as categorias, dentro de um espaço
incomensurável.
Muitos são os que se aproximam por essa
forma, como Já vos foi descrito em
mensagem anterior, sendo, todavia, de
notar-se que os maiores benefícios
resultam em favor dos irmãozinhos que
perambulam pelos espaços infindos,
desorientados e que assistindo aos
trabalhos como meros espectadores,
acabam encontrando a luz que lhes faltava
para se guiarem em direção ao Pai.
Por isso, meus irmãos, quando vos
sentais em torno da mesa, fazei-o com
a circunspecção própria de quem vai
tomar parte num ato sagrado que está
sendo observado e, por muitos, até

165
analisado atentamente.
Convenci-vos de que cada um de vós
tem uma importante missão a cumprir
perante seus irmãos da Terra e do
espaço que, portanto, está obtendo uma
graça à qual deve fazer sempre jus, para
que sejam todos igualmente beneficiados.
Finalmente, meus queridos irmãos,
recordo-vos que quando resolvestes tomar
novamente um corpo e baixar ao planeta
Terra, foi por desejardes, por essa forma,
subir mais um degrau na escada da
espiritualidade.
Ora, só se progride nessa longa escada
amando aos seus irmãos como a si próprios
e amar aos outros significa não somente
desejar-lhes felicidade, mas principalmente
proporcionar-lhes os meios para que sejam
felizes, interessando-se vivamente por eles,
cada qual dentro de seu círculo evolutivo.
(127)

Em princípio pensávamos em transcrever


apenas um trecho, mas pensando melhor, foi melhor
transcrever toda a mensagem de Eurípedes
Barsanulfo, porquanto, nela tem vários elementos
que merecem da parte de todos nós a devida
atenção.

166
Por oportuno, trazemos também estes trechos
da obra Desobsessão, ditada pelo Espírito André
Luiz através dos médiuns Chico Xavier e Waldo Vieira
(1932-2015):

1º) Capítulo “1 – PREPARO PARA A REUNIÃO;


DESPERTAR”

No dia marcado para as tarefas de


desobsessão, os integrantes da equipe
precisam, a rigor, cultivar atitude mental
digna, desde cedo.

Ao despertar pela manhã, o dirigente, os


assessores da orientação, os médiuns
incorporadores, os companheiros da
sustentação ou mesmo aqueles que serão
visitas ocasionais no grupo, devem elevar
o nível do pensamento, seja orando ou
acolhendo ideias de natureza superior.
Intenções e palavras puras, atitudes e
ações limpas.
Evitar deliberadamente rusgas e
discussões, sustentando paciência e
serenidade, acima de quaisquer
transtornos que sobrevenham durante o dia.
Trata-se de preparação adequada a
assunto grave: a assistência a
desencarnados menos felizes, com a
supervisão de instrutores da Vida Espiritual.
Imaginem-se os companheiros no lugar

167
dos Espíritos necessitados de socorro e
compreenderão a responsabilidade que
assumem.
Cada componente do conjunto é peça
importante no mecanismo do serviço.
Todo o grupo é instrumentação. (128)

2º) Capítulo “2 – PREPARO PARA REUNIÃO:


ALIMENTAÇÃO”

A alimentação, durante as horas que


precedem o serviço de intercâmbio
espiritual, será leve.
Nada de empanturrar-se o companheiro
com viandas desnecessárias.
Estômago cheio, cérebro inábil.
A digestão laboriosa consome grande
parcela de energia, impedindo a função mais
clara e mais ampla do pensamento, que
exige segurança e leveza para exprimir-se
nas atividades da desobsessão.
Aconselháveis os pratos ligeiros e as
quantidades mínimas, crendo-nos
dispensados de qualquer anotação em torno
da impropriedade do álcool, acrescendo
observar que os amigos ainda necessitados
do uso do fumo e da carne, do café e
dos temperos excitantes, estão
convidados a lhes reduzirem o uso,
durante o dia determinado para a reunião,
quando não lhes seja possível a
abstenção total, compreendendo-se que a

168
posição ideal será sempre a do participante
dos trabalhos que transpõe a porta do
templo sem quaisquer problemas alusivos à
digestão. (129)

3º) Capítulo “3 – PREPARO PARA A REUNIÃO:


REPOUSO FÍSICO E MENTAL”

Após o trabalho, seja ele profissional ou


doméstico, braçal ou mental, faça o seareiro
da desobsessão o horário possível de
refazimento do corpo e da alma.
Repouso externo e interno.
Relaxe, com ideações edificantes.
Abstenção de pensamentos impróprios.
Aspirações para cima.
Distância de preocupações inferiores.
Preparação íntima, podendo incluir
leitura moralizadora e salutar.
Formação de ambiente particular
respeitável, de cujos agentes espirituais,
enobrecidos e puros, se valham os
instrutores para a composição dos recursos
de alívio e esclarecimento aos irmãos que,
desenfaixados da veste física, ainda sofrem.
Os responsáveis pelas tarefas da
desobsessão devem compreender que as
comunicações reclamam espontaneidade e
que o preparo a que nos referimos é de
ordem geral, sem a fixação da mente em
exigências ou gratificações de sentimento

169
pessoal. (130)

4º) Capítulo “4 – PREPARO PARA A REUNIÃO:


PRECE E MEDITAÇÃO”

Pelo menos durante alguns minutos,


horas antes dos trabalhos, seja qual for a
posição que ocupe no conjunto, dedique-se
o companheiro de serviço à prece e à
meditação em seu próprio lar.
Ligue as tomadas do pensamento para o
Alto.
Retire-se, em espírito, das
vulgaridades do terra-a-terra, e ore,
buscando a inspiração da Vida Maior.
Reflita que, em breve tempo, estará em
contacto, embora ligeiro, com os irmãos
domiciliados no Mundo Espiritual, para onde
irá igualmente, um dia, e antecipe o cultivo
da simpatia e do respeito, da compaixão
produtiva e da bondade operosa para com
todos aqueles que perderam o corpo físico
sem a desejada maturação espiritual.
Dessa forma, estará caminhando para a
colaboração digna com os benfeitores
desencarnados que são os legítimos
ministradores do bem. (131)

São recomendações que devem merecer


atenção especial de todos os participantes da
reunião.

170
Da parte “Instruções particulares dadas aos
grupos em resposta a algumas das questões
propostas” constante de Viagem Espírita em
1862, destacaremos o seguinte trecho:

Frequentes vezes me tem sido indagado


se é útil começar as sessões com preces
e atos exteriores de culto religioso. A
resposta não é apenas minha, mas também
dos Espíritos que trataram desse assunto.
É, sem dúvida, não apenas útil,
porém necessário rogar, através de
uma invocação especial, por uma
espécie de prece, o concurso dos bons
Espíritos. Essa prática predispõe ao
recolhimento, condição especial a toda
reunião séria. O mesmo não se dá quanto
às práticas exteriores de culto, através das
quais certos grupos creem dever abrir suas
sessões e que têm mais de um
inconveniente, apesar da boa intenção com
que são sugeridas.
Tudo nas reuniões espíritas deve se
passar religiosamente, isto é, com
gravidade, respeito e recolhimento. […]. (132)

Embora essas recomendações tenham sido


dadas para as reuniões de uma forma geral,
acreditamos que devam ser aplicadas com maior

171
intensidade àquelas destinadas a manifestação de
Espíritos. Incluindo, é claro, as de desobsessão.

Retornando, à Desobsessão, completamos:

5º) Capítulo “12 – CONVERSAÇÃO ANTERIOR


À REUNIÃO”

Há sempre margem a conversações


no recinto para os que chegam mais
cedo, cabendo aos seareiros do conjunto
evitar a dispersão de forças em visitas,
mesmo rápidas, mas impróprias, a
locais vizinhos, sejam casas
particulares ou restaurantes públicos.
Compreensível rogar aos colaboradores
da tarefa a total abstenção de temas
contrários à dignidade do trabalho que
vão desempenhar.
Evitem-se os anedotários jocosos, as
considerações injuriosas a quem quer que
seja.
Esqueçam-se críticas, comentários
escandalosos, queixas, azedumes,
apontamentos irônicos.
Toda referência verbal é fator de indução.
Se somos impelidos a conversar, durante
os momentos que precedem a atividade
assistencial, seja a nossa palestra algo de
bom e edificante que auxilie e pacifique o
clima do recinto, ao invés de conturbá-lo.

172
(133)

6º) capítulo “58 – CONVERSAÇÃO


POSTERIOR À REUNIÃO”

Claro que, terminada a reunião, se sintam


os integrantes da equipe inclinados a
entrelaçar pensamentos e palavras na
conversação construtiva, porquanto, se a
alegria da obrigação cumprida não lhes
marca o íntimo, algo existe na equipe a ser
necessariamente retificado.
Euforia de confraternização, reconforto do
dever nobremente atendido.
Não raro, surge a oportunidade da prosa
afetiva em torno de um café ou enquanto se
espera condução.
Falemos, cultivando bondade e
otimismo.
Importante que a palestra não
descambe para qualquer expressão
negativa.
Se um dos desencarnados sofredores
emitiu conceitos menos felizes, ou se um
dos médiuns em ação não conseguiu
desincumbir-se corretamente das
atribuições que lhe foram conferidas em
serviço, evitem-se com empenho
reprovações, críticas, motejos,
sarcasmos.
Compreendamos que uma equipe para a
desobsessão se desenvolve e se aperfeiçoa

173
com serviço e tempo, como qualquer outra
empresa produtiva, e algum comentário
desairoso, destacando deficiências e
males, constitui prejuízo na obra do
progresso e na consolidação do bem.
(134)

Que também prestemos bem atenção a essas


ponderações em relação à conversações, pois,
segundo entendemos, elas são pertinentes e não
fogem à lógica e ao bom senso.

174
7. Afinal, pode-se ou não evocar os mortos?

Conversando com o amigo Ari Campos Vilela,


da cidade de Santo Antônio do Amparo (MG), sobre
essas reuniões, ele nos lembrou da importância
dessa questão. Por essa razão, ela será abordada em
capítulo à parte, pois o que havíamos falado
anteriormente acabou ficando um tanto “perdido” no
conjunto dessa pesquisa.

A frase “o telefone toca de lá para cá”, dita


por Chico Xavier, causa uma certa confusão entre os
espíritas, pois a tomam ao “pé da letra” e defendem
que não se deve evocar os Espíritos em nenhuma
circunstância.

Vejamos, por oportuno, o seguinte trecho do


depoimento da Sra. Daisy Andrade Pastor Almeida
(1911-1997), inserido na obra Luz Bendita (1977),
de autoria de Rubens Silvio Germinhasi (1937-2024):

As lições chegam, na conversa amiga,


como mensagens diretas a quantos

175
necessitam delas. Outras vezes, em visita ao
querido amigo em Uberaba, encontrei-me
com grande número de pais aflitos,
desesperados, em busca de notícias
dos filhos queridos, que deixaram a vida,
quase todos ainda jovens. Observe-se que
nem todos são espíritas. Há casos de
pessoas sem crença que foram levadas por
amigos e por misericórdia de Deus, recebem
suas mensagens e saem banhadas de
pranto, consoladas, impressionadas mesmo
com a autenticidade dos nomes, dos fatos
relatados pelos comunicantes. É a prova da
sobrevivência do espírito e de sua
comunicação com os encarnados.
Numa dessas ocasiões, um senhor
perguntou ao Chico: “Porque ainda não
recebi notícias de minha filha? Já vim
aqui várias vezes e ainda não tive essa
felicidade…” O Chico, amável como
sempre, respondeu: “Não depende de
mim, meu irmão; o telefone toca de lá
para cá e não daqui para lá.” O senhor
agradeceu a resposta e pensativo saiu
esperando nova oportunidade. (135)

Fica bem claro que, ao usar a frase, Chico


Xavier queria apenas dizer, aos que o procuravam,
que o “receber mensagens” não dependia dele, mas
era uma função dos Espíritos envolvidos na

176
programação das designadas “cartas consoladoras”.
Vê-se, portanto, que, equivocadamente, não a
interpretam dentro do contexto em que ela fora dita.

Na questão 15 do item 100 do capítulo “VI –


Manifestações visuais” de O Livro dos Médiuns, Allan
Kardec fica claro que o pensamento é “uma espécie
de evocação” capaz de “atrair a presença do Espírito
em que se pensa” (136).

Mas, é importante esclarecer que as evocações


que aqui trataremos são somente aquelas
relacionadas com os casos específicos de obsessão.

Acreditamos ser oportuno iniciar apresentando


algumas explicações de O Céu e o Inferno,
constantes do capítulo “XI – É proibido evocar os
mortos?”:

a) Item 10

Dizem que a evocação é uma falta de


respeito pelos mortos, cujas cinzas não
devem ser perturbadas. Mas quem é que diz
isso? São os antagonistas de dois campos
opostos, que se dão as mãos, isto é, os
incrédulos, que não creem nas almas, e os
crentes, que pretendem que só os

177
demônios, e não as almas, é que podem vir.
Quando a evocação é feita
religiosamente e com recolhimento;
quando os Espíritos são chamados, não
por curiosidade, mas por um
sentimento de afeição e simpatia, com
desejo sincero de instrução e
progresso, não vemos nada que denote
falta de respeito em apelar-se para as
pessoas mortas, como se fazia quando
estavam entre nós. Há, porém, outra
resposta categórica a essa objeção: é que os
Espíritos se apresentam espontaneamente,
sem constrangimento, muitas vezes mesmo
sem que sejam chamados. Eles também dão
testemunho da satisfação que
experimentam por comunicar-se com os
homens, e se queixam às vezes do
esquecimento a que são relegados. Se os
Espíritos se perturbassem ou se
agastassem com os nossos chamados,
certamente o diriam ou não atenderiam
ao chamado. Já que são livres, quando se
manifestam, é porque isso lhes convém. (137)

b) Item 15

Repelir as comunicações de além-


túmulo é rejeitar o meio mais poderoso
de instruir-se, seja pela iniciação nos
conhecimentos da vida futura, seja pelos
exemplos que tais comunicações nos
fornecem. A experiência nos ensina,

178
além disso, o bem que podemos fazer,
desviando do mal os Espíritos
imperfeitos, ajudando os que sofrem a se
desprenderem da matéria e a se
aperfeiçoarem. Interdizer as
comunicações é, portanto, privar as
almas sofredoras da assistência que
lhes podemos e devemos dispensar. As
seguintes palavras de um Espírito resumem
admiravelmente as consequências da
evocação, quando praticada com fim
caritativo:

“Todo Espírito sofredor e angustiado


vos contará a causa da sua queda, os
arrastamentos a que sucumbiu; falará
sobre as suas esperanças, combates,
terrores, remorsos, dores e desesperos;
mostrará Deus justamente irritado a punir
o culpado com toda a severidade da sua
justiça. Ao ouvi-lo, sereis movidos de
compaixão por ele e de temor por
vós mesmos. E se o seguirdes nos seus
queixumes, vereis então que Deus jamais
o perde de vista, esperando o pecador
arrependido e estendendo-lhe os braços
logo que procure regenerar-se. Vereis os
progressos do culpado, para os quais
tereis a felicidade e a glória de
contribuir, com a solicitude e o
carinho do cirurgião acompanhando
a cicatrização da ferida que ele cuida
diariamente.” (Bordeaux, 1861.) (138)

179
A questão de considerar a evocação “uma falta
de respeito” tem mais a ver com pensamento da
teologia dogmática das religiões cristãs tradicionais,
porém, chega ao Espiritismo via atavismo de alguns
confrades convertidos que vieram desse meio.

Sim, de fato, as comunicações que ocorrem


nas reuniões de desobsessão são uma inestimável
fonte de conhecimento da vida futura, além disso
nos dá a oportunidade de sermos úteis aos Espíritos
equivocados. Inclusive, vários deles voltam para nos
agradecer pela ajuda, fato esse que aquece o
coração de todos os participantes da reunião.

Sabemos ser essa uma questão controvertida


no movimento espírita, pois há confrades que ao
invés das orientações emanadas dos Espíritos
superiores que participaram da Codificação Espírita
bem com as do Mestre de Lyon preferem seguir as
ditadas por Emmanuel e André Luiz:

a) Emmanuel: “Não somos dos que


aconselham a evocação direta e pessoal, em caso
algum.” (139);

Entendemos que esse “em caso algum” é algo

180
próximo ao radicalismo que não nos convém. Veja,
caro leitor, como Emmanuel fez referência ao
Codificador:

Podereis objetar que Allan Kardec se


interessou pela evocação direta,
procedendo a realizações dessa natureza,
mas precisamos ponderar, no seu esforço, a
tarefa excepcional do Codificador, aliada à
necessidade de méritos ainda distantes da
esfera de atividade dos aprendizes comuns.
(140)

Segundo entendemos Emmanuel disse, na lata,


que a evocação direta se justificou no período em
que Allan Kardec desenvolvia a Codificação, hoje não
mais. É oportuno trazer estes dois pontos para
contra-argumentá-lo:

1º) O próprio Allan Kardec disse que “em


nenhuma parte o ensino espírita foi dado de
maneira completa”, pois “a revelação é feita
parcialmente” (141) e “desta maneira que ela
prosseguira ainda neste momento, porque tudo não
está revelado” (142), acrescentamos como
conclusão “Com a ajuda do que já descobriu, ele

181
abre àqueles que virão depois de nós o
caminho das investigações numa ordem especial
de ideias” (143). Assim, fica claro a possibilidade do
desenvolvimento de pontos que não foram
abordados com profundidade, já que “o seu ensino é
graduado” (144).

2º) Por não excluir a recomendação de se


evocar os Espíritos obsessores; assim o que ele disse
“bate de frente” com que o Codificador falou sobre
esses casos.

b) André Luiz: “Abolir a prática da invocação


nominal dessa ou daquela entidade, em razão dos
inconvenientes e da desnecessidade de tal
procedimento em nossos dias”. (145)

Embora Emmanuel e André Luiz mereçam todo


o nosso respeito, se quem os seguem, refletissem
com acuidade mudariam de atitude diante do que o
próprio médium disse a respeito de seu mentor.
Recorreremos à obra No Mundo de Chico Xavier,
para ver a seguinte resposta que Chico Xavier deu
ao professor Dr. Elias Barbosa (1934-2011) que lhe
perguntara: “Emmanuel já vez para você alguma

182
referência especial sobre Allan Kardec?”:

Lembro-me de que num dos primeiros


contatos comigo, ele me preveniu que
pretendia trabalhar ao meu lado, por tempo
longo, mas que eu deveria, acima de tudo,
procurar os ensinamentos de Jesus e as
lições de Allan Kardec e disse mais que, se
um dia, ele, Emmanuel, algo me
aconselhasse que não estivesse de
acordo com as palavras de Jesus e
Kardec, que eu devia permanecer com
Jesus e Kardec, procurando esquecê-lo.
(146)

Em nossa opinião, nesse ponto em particular


Emmanuel está certíssimo, devemos mesmo seguir
Allan Kardec, até que seja sobejamente comprovado
que algo que ele disse, diante de novas informações,
não se aplica mais.

Em O Livro dos Médiuns, Parte Segunda, no


Capítulo “XXV – Das evocações”, itens 269 a 272, há
diversas e importantes recomendações para quem
leva a sério a questão das evocações. Destacaremos
as seguintes:

183
269. Os Espíritos podem comunicar-
se espontaneamente, ou atender ao
nosso apelo, isto é, comparecer por meio
de evocação. Pensam algumas pessoas
que não devemos evocar nenhum
Espírito, sendo preferível que se espere
por aquele que queira comunicar-se.
Segundo alegam, quando chamamos
determinado Espírito não podemos ter
certeza de que seja ele mesmo quem se
apresenta, ao passo que aquele que vem
espontaneamente, por iniciativa própria,
comprova melhor a sua identidade,
porquanto, assim agindo, manifesta o desejo
que tem de conversar conosco.
Em nossa opinião, isso é um erro.
Primeiramente, porque estamos rodeados de
Espíritos, quase sempre de condição inferior,
que não desejam outra coisa senão
comunicar-se. Em segundo lugar, e ainda
por essa mesma razão, não chamar
nenhum deles em particular é abrir as
portas a todos os que queiram entrar.
Numa assembleia, não dar a palavra a
pessoa alguma é deixá-la livre a qualquer
um, e sabe-se o que daí pode resultar. A
chamada direta de determinado
Espírito constitui um laço entre ele e
nós; chamando-o pelo nosso desejo,
impomos assim uma espécie de barreira aos
intrusos. Sem um apelo direto, muitas
vezes um Espírito não terá motivo
algum para vir confabular conosco, a

184
menos que seja o nosso Espírito familiar.
Cada uma dessas duas maneiras de
agir tem suas vantagens e só haveria
desvantagem se uma delas fosse
excluída de modo absoluto. As
comunicações espontâneas não
apresentam qualquer inconveniente,
desde que se tenha domínio sobre os
Espíritos e não se permita que os maus
tomem a dianteira. Então, é quase sempre
vantajoso aguardar a boa vontade dos
que se disponham a comunicar-se, pois
o pensamento deles não sofre nenhum
constrangimento e dessa maneira se podem
obter coisas admiráveis. Entretanto, pode
acontecer que o Espírito por quem se chama
não esteja disposto a falar, ou não seja
capaz de fazê-lo no sentido desejado. O
exame escrupuloso, que temos aconselhado
é, aliás, uma garantia contra as
comunicações más. Nas reuniões
regulares, principalmente naquelas em que
se faz um trabalho continuado, há sempre
Espíritos habituais, que ali comparecem
sem que sejam chamados, por estarem
prevenidos em virtude da própria
regularidade das sessões. Tomam, então,
frequentemente a palavra, de modo
espontâneo, para tratar de um assunto
qualquer, desenvolver uma proposição
ou prescrever o que se deva fazer, caso
em que são facilmente reconhecíveis, quer
pela forma da linguagem, que é sempre

185
idêntica, quer pela escrita, quer por certos
hábitos que lhes são peculiares. (147)

Aqui se tem uma visão geral sobre as


evocações, em que se percebe claramente que o
Codificador inicia esclarecendo que os Espíritos
podem, indistintamente, manifestarem-se de modo
espontâneo ou comparecerem por meio da
evocação. Acrescentando, entretanto, que “Cada
uma dessas duas maneiras de agir tem suas
vantagens e só haveria desvantagem se uma delas
fosse excluída de modo absoluto”.

Mas, se não estivermos enganados, ele dava


preferência ao método de evocação direta, levando-
se em conta este trecho “não chamar nenhum deles
em particular é abrir as portas a todos os que
queiram entrar.”

270. Quando desejamos entrar em


comunicação com determinado Espírito,
é de absoluta necessidade que o
evoquemos (item 203). Se ele pode vir, a
resposta é geralmente sim, ou: Estou aqui,
ou ainda: Que quereis de mim? Às vezes,
entra diretamente no assunto, respondendo
com antecedência às perguntas que lhe

186
queiramos fazer. (148) (itálico do original)

Se queremos entrar em contato com um


Espírito em particular, como geralmente acontece
nos casos de obsessão, deve-se evocá-lo sem
nenhum problema.

Aliás, acreditamos que nas reuniões de


desobsessão muitas vezes será até mesmo
necessário evocar diretamente o(s) Espírito(s)
envolvido(s) na trama, objetivando libertá-lo(s) de
sua fixação mental e com isso proporcionar paz a ele
e à sua “vítima”.

No início do item 271, Allan Kardec disse algo


interessante:

Muitas vezes é surpreendente a


rapidez com que um Espírito evocado
se apresenta, mesmo da primeira vez. É
como se já estivesse prevenido de que
seria evocado e, de fato, é isso mesmo
que acontece, quando aquele que o evoca já
tinha previamente a intenção de fazê-lo.
[…]. (149)

Diante dessa informação, perguntamos: qual o

187
problema que poderia surgir ao se evocar um
Espírito?

Continuando, em O Livro dos Médiuns, Parte


Segunda, capítulo “XXV – Das evocações”, tópico
“Espíritos que se podem evocar”, entre outras
coisas, o Codificador disse o seguinte:

278. Uma questão importante se


apresenta aqui, a de saber se há ou
não inconveniente em evocar Espíritos
maus. Isto depende do fim que se tenha em
vista e da ascendência que se possa exercer
sobre eles. Não há inconveniente quando
são chamados com um fim sério,
instrutivo e tendo em vista melhorá-los.
Ao contrário, o inconveniente é muito
grande quando se faz a evocação por
simples curiosidade ou por
divertimento, ou, ainda, quando quem
os chama se põe na dependência deles,
pedindo-lhes um serviço qualquer. […].
(150)

Ora, nas reuniões de desobsessão há um fim


sério, que é o de ajudar aos dois envolvidos – vítima
e algoz –, portanto, não vemos motivo algum para
não se evocar o(s) desencarnado(s) relacionado(s)

188
com o drama.

No início do item subsequente (279), se vê


este importante alerta do Codificador, que jamais
deveríamos desprezar: “Ninguém exerce
ascendência sobre os Espíritos inferiores, a não ser
pela superioridade moral.” (151) (grifo do original)

Em A Gênese, no capítulo XIV – Os Fluidos,


tópico “Obsessões e possessões”, item 46, Allan
Kardec esclarece-nos:

46. Assim como as moléstias resultam


das imperfeições físicas que tornam o corpo
acessível às influências perniciosas
exteriores, a obsessão decorre sempre
de uma imperfeição moral, que dá
ascendência a um Espírito mau. A uma
causa física opõe-se uma força física; a uma
causa moral é preciso que se
contraponha uma força moral. Para
preservar o corpo das enfermidades, é
preciso fortificá-lo; para garantir a alma
contra a obsessão, tem-se que fortalecê-la.
Daí, para o obsidiado, a necessidade de
trabalhar pela sua própria melhoria, o
que na maioria das vezes é suficiente para
livrá-lo do obsessor, sem o socorro de
pessoas estranhas. Este socorro se torna
necessário quando a obsessão

189
degenera em subjugação e em
possessão, porque neste caso o
paciente não raro perde a vontade e o
livre-arbítrio.
Quase sempre a obsessão exprime
vingança tomada por um Espírito e sua
origem frequentemente se encontra nas
relações que o obsidiado manteve com
o obsessor, em precedente existência.
Nos casos de obsessão grave, o
obsidiado fica como que envolto e
impregnado de um fluido pernicioso, que
neutraliza a ação dos fluidos salutares e os
repele. É daquele fluido que é preciso
desembaraçá-lo. Ora, um fluido mau não
pode ser eliminado por outro igualmente
mau. Por meio de ação idêntica à do
médium curador, nos casos de enfermidade,
há que se expulsar o fluido mau com o
auxílio de um fluido melhor.
Nem sempre, porém, basta esta ação
mecânica; cumpre, sobretudo, atuar sobre o
ser inteligente, ao qual é preciso que se
tenha o direito de falar com autoridade,
que, entretanto, não a possui quem não
tenha superioridade moral. Quanto maior
esta for, tanto maior também será aquela.
Mas ainda não é tudo: para assegurar a
libertação, é preciso que o Espírito
perverso seja levado a renunciar aos
seus maus desígnios; que nele desponte o
arrependimento, assim como o desejo do

190
bem, por meio de instruções habilmente
ministradas, em evocações
particularmente feitas com vistas à sua
educação moral. Pode-se então ter a grata
satisfação de libertar um encarnado e de
converter um Espírito imperfeito. (152) (itálico
do original)

A nosso sentir, Allan Kardec ao dizer


“evocações particularmente feitas com vistas à sua
educação moral” nos remete à ideia de que um
Espírito perverso, que atenda à evocação, somente
pode ser convencido a renunciar a seu projeto de
vingança, contra aquele que exerce sua ação
nefasta, pelo incentivo que lhe damos para focar na
sua elevação moral. Portanto, não se poderá
protestar ignorância dessa missão que, como
espíritas, cabe-nos fazer, conforme já dito.

Se ao atuar sobre um ser inteligente “é preciso


que se tenha o direito de falar com autoridade”, fica
nítido que essa é a forma adequada para não nos
aventurarmos a dialogar com os obsessores sem
possuir “autoridade”.

Além disso, nos remete à necessidade de sua


evocação direta, para que ele tenha a oportunidade

191
de expressar seus sentimentos e aí podermos agir a
seu favor.

Diante dessas orientações de Allan Kardec,


entendemos que ele, além de referendar as reuniões
mediúnicas específicas para a orientação ou
esclarecimento de Espíritos, abre espaço para evocá-
los, como um procedimento absolutamente natural.

Ainda em A Gênese, um pouco mais à frente,


no capítulo “XV – Os milagres do Evangelho”, tópico
“Possessos”, no item 33, Allan Kardec, ao tratar dos
possessos, argumenta:

[…] Porém, existem outros casos em que


não há dúvidas quanto à ação dos maus
espíritos; eles têm uma analogia tão
marcante com aqueles de que somos
testemunhas, que neles se reconhecem
todos os sintomas desse gênero de
afecções. Em tal caso, a prova da
participação de uma inteligência oculta
ressalta de um fato material: são as
inúmeras curas radicais obtidas em
alguns centros espiritas, apenas com a
evocação e a moralização dos espíritos
obsessores, sem magnetização nem
medicamentos e, muitas vezes, na
ausência do paciente e à grande

192
distância dele. […]. (153)

Comprova-se, portanto, que, nos primórdios do


Espiritismo, as reuniões de desobsessão faziam parte
das práticas mediúnicas dos centros espíritas
daquela época e que a evocação dos Espíritos era
procedimento comum.

Há mais um outro momento em que o


Codificador, recomenda a evocação do Espírito
obsessor, a fim de instruí-lo e com essa postura, o
encarnado se libertaria de sua influência.

Vejamos isso na Revista Espírita 1866, mês


de fevereiro, no artigo “Cura das obsessões”:

O Espiritismo nos mostra na obsessão


uma das causas perturbadoras do
organismo, e nos dá, ao mesmo tempo, os
meios de remediá-la: aí está um de seus
benefícios. Mas como essa causa pode ser
reconhecida se não for pelas evocações? As
evocações, são, pois, boas para alguma
coisa, o que quer que digam delas seus
detratores.
[…].
[…] O conhecimento que temos agora do

193
mundo invisível no-lo mostra povoado dos
mesmos seres que viveram sobre a Terra,
uns bons, os outros maus. Entre estes
últimos, há os que se comprazem ainda
no mal, em consequência de sua
inferioridade moral e que não se
despojaram ainda de seus instintos
perversos; estão em nosso meio como
quando vivos, com a única diferença de que
em lugar de terem um corpo material
visível, têm um corpo fluídico invisível; mas
não são, por isto, menos os mesmos
homens, no sentido moral pouco
desenvolvido, procurando sempre as
ocasiões de fazer o mal, se obstinando
sobre aqueles que lhes dão presa e que
acabam submetendo-se à sua
influência; obsessores encarnados que
eram, são obsessores desencarnados,
tanto mais perigosos porque agem sem
serem vistos. Afastá-los pela força não é
coisa fácil, tendo em vista que não se pode
prendê-los pelo corpo; o único meio de
dominá-los é o ascendente moral com a
ajuda do qual, pelo raciocínio e os
sábios conselhos, chega-se a torná-los
melhores, por isto são mais acessíveis
no estado de Espírito do que no estado
corpóreo. Desde o instante em que são
conduzidos a renunciarem voluntariamente
a atormentar, o mal desaparece, se esse
mal é o fato de uma obsessão; ora,
compreende-se que não são nem as duchas
(154), nem os remédios administrados ao

194
doente que podem agir sobre o Espírito
obsessor. Eis todo o segredo dessas
curas, para as quais não há nem palavras
sacramentais, nem fórmulas cabalísticas;
conversa-se com o Espírito
desencarnado, se o moraliza, educa-o,
como teria sido feito quando de sua
vida. (155)

Negar que o Mestre de Lyon não recomendara


as evocações para os casos de obsessão é
demonstrar que não se aprofundou no tema. Quem
diz isso, prova que apenas se baseia em “achismo”,
não há como ser de outra forma.

Ademais, na elaboração da Codificação Espírita


o que Allan Kardec mais fez nas reuniões da
Sociedade Espírita de Paris foi a evocação de
Espíritos, pois era consciente de que somente
dialogando com eles é que poderia conhecer as
particularidades do mundo espiritual, dos
pormenores a respeito da mediunidade e dos vários
outros princípios doutrinários.

Em O Livro dos Médiuns, encontraremos


menção a algumas evocações relacionadas a
Espíritos obsessores e perturbadores:

195
a) 2ª Parte, no capítulo “V – Manifestações
físicas espontâneas”, tópico “Arremesso de
objetos”, item 94:

Vamos encontrar o registro da evocação e


o diálogo com Jeannet, um Espírito
perturbador da Rua des Noyers (156).

b) 2ª Parte, no capítulo “XXIII – Obsessão”,


item 250, lemos:

Um deles exercia, sobre pessoa do


nosso conhecimento, uma fascinação
extraordinária. Evocamo-lo e, depois de
algumas bravatas, vendo que não conseguia
enganar-nos quanto à sua identidade,
acabou por confessar que não era quem se
dizia. (157)

c) 2ª Parte, capítulo “XXIII – Obsessão”, item


252, temos:

[…] Sobre a causa não havia dúvida;


quanto ao remédio, era mais difícil. O
Espírito que se manifestava por
semelhantes atos era evidentemente
malfazejo. Ao ser evocado, mostrou-se de
grande perversidade e inacessível a
qualquer sentimento bom. […]. (158)

Nos fascículos da Revista Espírita são


encontrados vários relatos de evocação de Espíritos
obsessores, dos quais destacamos este que se lê na

196
Revista Espírita 1864, mês de fevereiro, no artigo
“Cura de uma obsessão”, no qual Allan Kardec
registra uma correspondência do Sr. Dombre,
presidente da Sociedade Espírita de Marmande, cuja
mentora espiritual era a Pequena Cárita.

Apesar de já o ter citado por duas vezes, será


importante retornarmos a ele para destacar este
trecho do parágrafo que a inicia:

“[…] Seguindo o conselho de nossos


guias espirituais, imediatamente nos
pusemos à obra. […] começaram nossas
reuniões com vistas a evocar o Espírito,
moralizá-lo, orar pelo obsessor e pela
vítima […].” (159)

Merece destaque o objetivo da reunião:


“evocar o Espírito, moralizá-lo” como fruto de
orientação espiritual e ainda assim nos aparecem
confrades totalmente contrários à evocação.

Em 11 de março de 2023, foi publicado no


portal Projeto Allan Kardec (160) a mensagem
intitulada “Solidariedade entre os Espíritos e os
homens”, com subtítulo “Educação dos Espíritos”,

197
ditada em 09.07.1861, pelo Espírito Mardochée,
documento faz parte do acervo do Museu AKOL,
administrado pelo confrade Adair Ribeiro.

Como o seu teor tem tudo a ver com o nosso


tema, resolvemos transcrevê-lo:

[Dados do documento] Bordeaux, Médium:


senhor Rubio, Enviado pelo senhor Sabò, 9
de julho de 1861

Solidariedade entre os Espíritos e os homens


Educação dos Espíritos
Quando atormentado por um Espírito
sofredor, você deve evocá-lo com
frequência, orar por ele e procurar
moralizá-lo. Deve inspirá-lo com
sentimentos de caridade pelos quais você se
sinta animado. Deve tentar esclarecer o
espírito dele e elevá-lo acima das
ideias vulgares das quais ele ainda está
imbuído. Deve inspirá-lo com ideias
bondosas. Deve educá-lo, instruí-lo, dar-
lhe uma parte dos conhecimentos
adquiridos em sua atual encarnação, bem
como nas passadas. É o dever de um bom
irmão! Deus quer que cada Espírito
dotado de alguma inteligência busque
espalhá-la entre seus irmãos menos
favorecidos. Agir de outra forma é
característico dos egoístas, e Deus não os

198
estima. Portanto, faça bom uso do bem
que a bondade de Deus lhe confiou em
benefício dos seres menos felizes. Se
você for rico, espalhe os seus benefícios ao
seu redor, em favor dos infelizes, que são,
infelizmente, os mais numerosos. Se você
for inteligente e bom, espalhe a inteligência
e a bondade. O uso que fizer das
prodigalidades ser-lhe-á uma fonte de
felicidade ou uma fonte de sofrimento.
Reflita e empenhe-se para colocar em
prática esta instrução.
Mardochée, guia do médium (161)

Observa-se que os Espíritos superiores nos


incentivam a evocação daqueles que sofrem ou
estão presos às ideias terrenas, visando instruí-los
acerca da sua nova realidade e, acima de tudo, das
leis divinas que regem o destino de todos nós.

199
8. E quanto aos guias poder-se-ia evocá-los
para os consultar?

Das instruções de Erasto relativas ao caso da


Senhorita Julie, publicadas na Revista Espírita
1864, mês janeiro, destacamos mais dois pontos: o
primeiro é a evocação dos Espíritos superiores,
pedindo auxílio nos casos de obsessão; e o segundo
é a prece:

“[…] É preciso não só uma ação material


e moral, mas ainda uma ação puramente
espiritual. Ao Espírito encarnado que se
encontra, como Julie, em estado de
possessão, é preciso um magnetizador
experimentado e perfeitamente
convicto da verdade Espírita; é preciso
que seja, além disso, de uma
moralidade irrepreensível e sem
presunção. Mas, para agir sobre o
Espírito obsessor, é necessária a ação
não menos enérgica de um bom
Espírito desencarnado. Assim, pois,
dupla ação: ação terrestre, ação
extraterrestre; encarnado sobre
encarnado, desencarnado sobre

200
desencarnado; eis a lei. […].
“Isso nos demonstra o que tereis de fazer
doravante nos casos de possessão
manifesta; é indispensável chamar em
vossa ajuda o concurso de um Espírito
elevado, gozando, ao mesmo tempo, de
um poder moral e fluídico, […] Além
disso, nosso concurso é dado a todos
aqueles que nos chamarem em sua ajuda,
com pureza de coração e fé verdadeira.
“[…] Quando se magnetizar Julie, será
preciso primeiro proceder pela fervorosa
evocação do cura d’Ars e de outros
bons Espíritos que se comunicam
habitualmente entre vós, rogando-lhes
agirem contra os maus Espíritos que
perseguem essa jovem, e que fugirão
diante de suas falanges luminosas. Não
é preciso esquecer, no mais, que a prece
coletiva tem um poder muito grande,
quando é feita por certo número de pessoas
agindo em acordo, com uma fé viva e um
desejo ardente de aliviar.”

Erasto (Médium: Sr. d’Ambel) (162) (itálico


do original)

Observamos que o Espírito Erasto está também


dizendo sobre a importância de se evocar a
assistência dos Espíritos superiores para que, nos
casos das obsessões em que simultaneamente

201
ocorre a possessão, eles possam auxiliar no processo
de libertação dos envolvidos nas teias de um
obsessor.

Alerta-nos, ainda, para o poder da prece, a


qual devemos fazer a favor dos Espíritos obsessores.

Em Da Alma Humana, o autor António J.


Freire, já citado, bem nos lembra:

[…] será num futuro não longínquo, um


dos capítulos mais interessantes da
neuropatologia e da psiquiatria, que
necessariamente hão-de recorrer ao estudo
do Espiritismo para aí colherem os
elementos indispensáveis para
fundamentarem uma terapêutica causal de
efeitos seguros, por intermédio da
catequese dos Espíritos obsessores e
das correntes fluídicas inerentes às sessões
espíritas, quando orientadas num elevado
sentido moral e com pleno conhecimento da
técnica espírita, sem esquecer as preces
fervorosas em benefício do Espírito
obsessor, que muito facilitam a sua
regeneração. (163)

Por experiência nesse tipo de trabalho,


fazemos coro com os que recomendam a prece para

202
o Espírito obsessor, porquanto, muitas vezes, nos foi
possível ver o resultado positivo dessa prática.

Anteriormente, havíamos registrado um trecho


da Revista Espírita 1864, mês de fevereiro, agora
é preciso ressaltar mais um ponto desse conteúdo:

“[…] Seguindo o conselho de nossos


guias espirituais, imediatamente nos
pusemos à obra. […] começaram nossas
reuniões com vistas a evocar o Espírito,
moralizá-lo, orar pelo obsessor e pela
vítima […].” (164)

O que julgamos merecer destaque é a


participação dos guias com orientações oportunas
sobre os casos de obsessão, seja por solicitação ou
não, tanto faz, o importante é que possam vir nos
mostrar o caminho para a resolução do problema.

O que poderíamos dizer, diante de nossa


experiência é que esse não é um procedimento
comum, aliás já que nos foi possível participar de
reuniões nas quais nunca se abriu oportunidade para
o mentor espiritual do trabalho se manifestar.

Vamos pegar alguns exemplos na Revista

203
Espírita, que evidencia a participação deles com suas
orientações:

1º) Revista Espírita 1864, mês de junho,


artigo: “Relato completo da cura da jovem
obsedada de Marmande”:

Evoquei-o imediatamente. O Espírito se


apresentou de maneira violenta, injuriando-
nos, rasgando o papel, e se recusando a
responder a certas interpelações. Enquanto
nos entretínhamos com esse Espírito, o Sr.
B.,., médico, que tinha ido examinar a crise,
chegou junto a nós e nos disse com um
certo espanto: "É singular! a criança cessou,
de repente, de se torcer; está agora
estendida sem movimento em sua cama. –
Isso não me espanta, disse-lhe, porque o
Espírito obsessor, neste momento, está
junto de nós." Convidei o Sr. B… a retornar
para a doente, e continuamos a interpelar o
Espírito que, no momento dado, não
respondeu mais. O guia do médium nos
informou que ele tinha ido continuar sua
obra; recomendou-nos de não mais
evocá-lo durante as crises, no interesse
da criança, porque, retornando junto dela
com mais raiva, torturá-la-ia de maneira
mais aguda. No mesmo instante, o médico
reentrou e nos informou que a crise acabava
de começar mais forte do que nunca. Eu lhe
fiz ler o conselho que vinha de nos ser dado,
e permanecemos todos tocados por essas
coincidências, que não podiam deixar

204
nenhuma dúvida sobre a causa do mal.
A partir dessa noite, e sob a
recomendação dos bons Espíritos que
nos assistem em nossos trabalhos
espíritas, nos reunimos cada noite, até a
cura completa. (165)

2º) Revista Espírita 1864, mês de


novembro, artigo “Um criminoso
arrependido (continuação)”, nota de Allan
Kardec que inicia o caso:

O médium tivera a intenção de evocar


Latour desde o momento do suplício; tendo
perguntado ao seu guia espiritual se
poderia fazê-lo, respondeu-lhe para
esperar o momento que lhe seria
indicado. Não foi senão em 3 de outubro
que dele recebeu a autorização, depois de
ter lido o artigo da Revista, onde dele é
falado. (166)

3º) Revista Espírita 1864, mês novembro,


tópico “Conversas familiares de além-túmulo
– Pierre Legay, dito Grand-Pierrot”:

(3ª entrevista, 19 de agosto de 1864.)


P. (ao guia espiritual do médium).
Quereis nos dar algumas instruções a
respeito do Espírito Legay, e nos dizer se é
tempo de fazê-lo compreender a sua
verdadeira posição! – R. Sim, meus filhos,
ele perturbou-se desde vossas perguntas de
ontem; ele não sabe o que é; tudo para ele é

205
confuso quando quer procurar, porque não
reclama ainda a proteção de seu anjo
guardião. (167)

4º) Revista Espírita 1865, mês de janeiro,


artigo “Nova cura de uma jovem obsidiada
de Marmande”:

A esta primeira evocação, este Espírito


prodigaliza as injúrias e mostra uma grande
repugnância em responder às nossas
interpelações. […] Essa primeira sessão teve
lugar em 16 de setembro de 1864. Antes da
evocação de Germaine, nossos guias nos
deram a instrução seguinte:

“Levai muito cuidado, muita observação e


muito zelo. Tereis negócio com o Espírito
mistificador que junta a astúcia, a habilidade
hipócrita a um caráter muito mau. Não
cesseis de estudar, de trabalhar na
moralização desse Espírito e de orar
para esse fim. Recomendai aos pais
evitar, em presença da criança, a
manifestação de qualquer medo por
seu estado; eles devem, ao contrário,
ocupar-se de suas ocupações ordinárias, e
sobretudo evitar, a seu respeito, a
precipitação. Que lhes digam muito,
sobretudo, que não há feiticeiros: isto é
muito importante. O cérebro jovem e flexível
recebe as impressões com muita facilidade,
e, com isso, seu moral poderia sofrer; que
não se a deixe conversar com as pessoas

206
suscetíveis de lhe contar histórias absurdas,
que dão às crianças ideias falsas e,
frequentemente, perniciosas. Que os
próprios pais se tranquilizem: a prece
sincera é o único remédio que deve livrar a
criança.
Nós vos dissemos, Espíritas, o Espírito
de Germaine tem habilidade; ele arranjará
sempre crenças ridículas, ruídos que
circulam ao redor da jovem; procurará vos
enganar. Tirai partido deste caso: a
obsessão se apresentará sob fases novas.
Tende-vos por advertidos; pensai que
deveis trabalhar com perseverança, e
seguir com inteligência os menores
detalhes que vos colocarão sobre as
marcas das manobras do Espírito. Não
vos confieis na calma. Se as crises são os
efeitos mais evidentes nas obsessões, são
consequências de outro modo bem
perigosas. Desconfiai-vos do idiotismo e da
infantilidade de um obsidiado que, como
neste caso, não sofre fisicamente. As
obsessões são tanto mais perigosas quanto
elas sejam mais ocultas; frequentemente
são puramente morais. Tal desarrazoa, tal
outro perde a lembrança do que disse, do
que fez. No entanto, não é preciso julgar
muito precipitadamente e tudo atribuir à
obsessão. Eu o repito, estudai, discerni,
trabalhai seriamente; não espereis
tudo de nós; nós vos ajudaremos, uma
vez que trabalhamos juntos, mas não

207
repouseis crendo que tudo vos será
dispensado.” (168)

5º) Revista Espírita 1866, mês de


fevereiro, artigo “Curas de obsessões”:

Escrevera-nos de Cazères, em 7 de
janeiro de 1866:

“Eis um segundo caso de obsessão, que


empreendemos e levamos a bom fim
durante o mês de julho último. A obsidiada
tinha a idade de vinte e dois anos; gozava
de uma saúde perfeita; apesar disto, foi de
repente vítima de acessos de loucura; seus
pais a fizeram cuidar por médicos, mas
inutilmente, porque o mal, em lugar de
desaparecer, tornava-se cada vez mais
intenso, ao ponto que, durante as crises, era
impossível contê-la. Os pais, vendo isto,
segundo o conselho dos médicos, obtiveram
sua admissão em uma casa de alienados,
onde seu estado não experimentou
nenhuma melhora. Nem eles nem a doente
jamais se ocuparam do Espiritismo, que
mesmo não conheciam; mas tendo ouvido
falar da cura de Jeanne R…, da qual
convosco conversei, vieram nos procurar
para nos pedir se poderíamos fazer alguma
coisa por sua infeliz filha. Respondemos que
não poderíamos nada afirmar antes de
conhecer a verdadeira causa do mal.
Nossos guias, consultados em nossa
primeira sessão, nos disseram que essa

208
jovem estava subjugada por um Espírito
muito rebelde, mas que acabaríamos por
conduzi-lo a um bom caminho, e que a cura
que se seguiria nos daria a prova da
verdade desta afirmação. Em consequência,
escrevi aos pais, distantes de nossa cidade
35 quilômetros, que sua filha se curaria, e
que a cura não demoraria muito tempo para
chegar, sem, no entanto, poder precisar-lhe
a época. (169)

6º) Revista Espírita 1867, mês de junho,


artigo “Grupo curador de Marmande –
Intervenção dos parentes nas curas”:

"Eis alguns exemplos de curas obtidas.

"Uma menina de 6 a 7 anos estava


acamada, tendo uma dor de cabeça
contínua, febre, uma tosse frequente com
escarro, uma dor viva do lado esquerdo; dor
também nos olhos que se recobriam, de
tempo em tempo, de uma substância
leitosa, formando uma espécie de fronha.
Sob os cabelos, a pele do crânio estava
recoberta de películas brancas; a urina
espessa e turva. A criança fraca e abatida
não comia nem dormia. O médico tinha
acabado por suspender suas visitas. A mãe,
pobre, em presença de sua filha doente e
abandonada, veio me procurar. Nossos
guias consultados prescreveram, por
todo remédio, a imposição das mãos,
os passes fluídicos da parte da mãe,

209
recomendando-me ir, durante alguns dias,
fazê-la ver como a isto se prender. Comecei
por fazer levantar os vesicatórios e fazê-los
secar. Depois de três dias de passes e
de imposição de mãos sobre a cabeça,
os rins e o peito, efetuados a título de
lições, mas feitos com alma, a criança pediu
para se levantar; a febre estava detida, e
todos os acidentes descritos mais acima
desapareceram ao cabo de dez dias. (170)

7º) Revista Espírita 1869, mês de janeiro,


tópico “Dissertações Espíritas”, artigo
“Obsessões simuladas”, no qual vamos
encontrar uma mensagem assinada pelo
Espírito Dr. Demeure:

Esta comunicação nos foi dada a


propósito de uma senhora que deveria vir
pedir conselhos para uma obsessão, e a
respeito da qual tínhamos julgado que
deveríamos previamente aconselhar-
nos com os Espíritos.

“A piedade pelos que sofrem não deve


excluir a prudência, e poderia ser uma
imprudência estabelecer relações com todos
os que se apresentam a vós, sob o império
de uma obsessão real ou fingida. [...] Não
mais podendo acusar-vos de contribuir para
o aumento da alienação mental, enviar-vos-
ão verdadeiros obsedados, diante dos quais
esperam que fracasseis, e obsedados
simulados, que vos será impossível curar de

210
um mal imaginário. Tudo isto não
retardará nenhum pouco o vosso
progresso, mas com a condição de agir
com prudência e de aconselhar aqueles
que se ocupam dos tratamentos
obsessionais a consultarem os seus
guias, não só sobre a natureza do mal,
mas sobre a realidade das obsessões
que eles poderão ter que combater. Isto
é importante, e aproveito a ideia que
vos foi sugerida, de antes pedir um
conselho, para vos recomendar a agir
sempre assim no futuro.” (171)

A frase que resume a opinião, em relação a ser


prudente consultar aos guias para os tratamentos
obsessionais, do Espírito Dr. Demeure, de forma clara
e objetiva é: “aproveito a ideia que vos foi sugerida,
de antes pedir um conselho, para vos recomendar a
agir sempre assim no futuro”.

211
9. Alguns Espíritos seriam constrangidos a
comparecer em uma reunião?

A ação dos Espíritos superiores a favos dos


menos evoluídos visando despertá-los para uma
nova realidade se faz patente. Apresentaremos dois
exemplos, tomados da Revista Espírita 1867, mês
de agosto:

1º) Caso: Um operário de Marseille

Num grupo Espírita de Marseille, a Sra.


T…, um dos médiuns, escreveu
espontaneamente a comunicação seguinte:

Escutai um infeliz que foi arrancado


violentamente do meio de sua família, e que
não sabe onde está... No meio das trevas
em que me encontro, pude seguir o
raio luminoso de um Espírito, ao que se
me diz; mas não creio nos Espíritos. Bem sei
que é uma fábula inventada pelas cabeças
de vento e crédulas... De minha parte, disso
não compreendo mais nada... Vejo-me
duplo; um corpo mutilado jaz ao meu lado,
e, no entanto, estou vivo... Vejo os meus que
me lamentam, sem contar meus
companheiros de infortúnio, que não veem

212
tão claro quanto eu; também aproveitei
da luz que me conduziu aqui para vir
haurir informações junto a vós.
Parece-me que não é a primeira vez que
vos vejo; minhas ideias estão ainda
perturbadas… será permitem-me retornar
uma outra vez quando estiver mais
habituado à minha posição atual… É
indiferente, vou-me daqui lamentando;
encontrava-me em meu centro… mas senti
que era preciso obedecer; esse Espírito
me parece bom, mas severo. Vou me
esforçar para ganhar a sua boa graça para
poder falar mais frequentemente convosco.
(172)

2º) Caso: Um operário da corte Lieutaud

No desmoronamento de uma ponte que


teve lugar poucos dias antes, seis operários
tinham perecido; foi um deles que se
manifestou.
Depois dessa comunicação, o guia do
médium lhe ditou a que segue:
Cara irmã, esse infeliz Espírito foi a
ti conduzido para exercer a caridade.
Como nós a praticamos para com os
encarnados, a vossa deve se exercer para
com os desencarnados.
Se bem que esse infeliz esteja sustentado
por seu anjo guardião, esse deve lhe
permanecer invisível, até que se reconheça

213
bem em sua situação. Por isto, cara irmã,
tome-o sob tua proteção, que é ainda
fraco, nisto convenho; mas, sustentado pela
fé, este Espírito logo verá reluzir a aurora de
um novo dia, e o que recusou reconhecer
desde sua catástrofe, se tornará logo para
ele um motivo de paz e de alegria. Tua
tarefa não será muito difícil, porque ele tem
o essencial para te compreender: a bondade
do coração.
Escuta, cara irmã, os impulsos de teu
coração, e sairás vitoriosamente da prova
que tua nova missão te impõe.
[…].
Vosso Guia. (173)

Acreditamos que a grande parte dos Espíritos


são levados a centros de educação, sem qualquer
constrangimento.

A questão é: alguns poderiam ser


constrangidos? Essa é uma dúvida comum, pois
vigora no meio espírita a ideia de que
os Espíritos superiores jamais
desrespeitariam o livre-arbítrio de
qualquer Espírito. Já até fizemos uma
pesquisa sobre esse tema, que
resultou no ebook Os Espíritos

214
Superiores e o Nosso Livre-arbítrio (174). O teor
dele será utilizado para compor esse capítulo.

É bom esclarecer, logo de início, que isso não


ocorre de forma generalizada, mas somente em
relação aos Espíritos muito endurecidos que, às
vezes, são coagidos pelos Espíritos superiores a se
manifestarem em reuniões mediúnicas. Têm como
objetivo proporcionar-lhes ajuda, esclarecendo-os de
sua real situação perante as leis divinas, conforme
confirmaremos com as explicações constantes de
obras da Codificação.

Em O Livro dos Médiuns, Segunda parte,


capítulo “XXV – Das evocações”, item 282 –
Perguntas sobre as evocações, questões 8, 9 e 10,
lemos:

8. O Espírito evocado vem


espontaneamente ou constrangido?
“Ele obedece à vontade de Deus, isto
é, à lei geral que rege o Universo. Todavia, a
palavra constrangido não se ajusta ao
caso, já que o Espírito julga da
utilidade de vir, ou deixar de vir. Ainda
aí exerce o livre-arbítrio. O Espírito
superior vem sempre que chamado com um

215
fim útil; não se nega a responder, senão a
pessoas pouco sérias ou que tratam estas
coisas como brincadeira.” (175) (itálico do
original)

Conforme ainda será visto, os fatos não se


ajustam à primeira parte da resposta que nega haver
coação, a não ser que ela esteja se referindo a
Espíritos com grau de evolução mais elevado, pois,
quanto aos malfazejos vimos que vários casos dando
conta de que foram levados à reunião contra a sua
vontade, portanto, foram constrangidos. É
exatamente isso que se verá nestas duas próximas
questões:

9. O Espírito evocado pode negar-se a


atender ao chamado que lhe é dirigido?

“Perfeitamente. Onde estaria o seu livre-


arbítrio se assim não fosse? Pensais que
todos os seres do Universo estão às vossas
ordens? Vós mesmos considerais obrigados
a responder a todos os que vos pronunciam
os nomes? Quando digo que o Espírito
pode recusar-se, refiro-me ao pedido
do evocador, visto que um Espírito
inferior pode ser constrangido a vir por
um Espírito superior.”

216
10. Haverá para o evocador, meio de
obrigar a vir contra sua vontade?

“Nenhum, desde que o Espírito lhe seja


igual ou superior em moralidade. Digo – em
moralidade, e não em inteligência – porque
não tendes sobre ele nenhuma autoridade.
Se lhe for inferior, o evocador pode
consegui-lo, desde que seja para o bem
do Espírito evocado, porque, nesse
caso, outros Espíritos o ajudarão. (176)
(itálico do original)

É caso raro, mas para que um encarnado


consiga que um Espírito se manifeste contra sua
vontade, ele deverá ter moralidade mais elevada da
que possui o evocado, mas, mesmo nesta situação,
acreditamos que ele será secundado por Espíritos
superiores.

Vejamos também a questão 21:

21. Existe alguma diferença entre os


Espíritos bons e os maus no que se refere à
solicitude com que atendem ao nosso
chamado?
“Há, e muito grande: os Espíritos maus
só vêm de boa vontade quando esperam
dominar e enganar; porém, experimentam
viva contrariedade quando são

217
forçados a vir para confessarem suas
faltas, e outra coisa não procuram senão ir-
se embora, como um colegial a quem se
chama para repreendê-lo. Podem ser
constrangidos a isso por Espíritos
superiores, como castigo e para instrução
dos encarnados.[…].” (177) (itálico do
original)

Portanto, existem algumas situações em que


alguns Espíritos inferiores são constrangidos a
manifestarem-se por ação dos que lhes são
superiores, visando o próprio bem deles.

E, um pouco mais à frente, do item 284,


julgamos ser oportuno destacar a seguinte questão:

50. O Espírito de uma pessoa viva não


poderia ser constrangido, por outro
Espírito, a vir e falar, como sucede com os
Espíritos errantes?
“Entre os Espíritos, sejam de mortos ou
de vivos, só existe uma supremacia: a que
resulta da superioridade moral. Por outro
lado, deveis compreender que um Espírito
superior jamais apoiaria uma indiscrição tão
covarde.” (178) (itálico do original)

O destaque é “como sucede com os Espíritos

218
errantes” pois evidencia o fato de que os que se
encontram nessa situação podem ser constrangidos
por Espírito que lhe tenha supremacia, ou seja, a que
resulta da superioridade moral, a vir e falar numa
reunião mediúnica.

Ainda em O Livro dos Médiuns, capítulo “XXVI –


Perguntas que se podem fazer aos Espíritos”, item
292, na questão 22, temos que “os maus podem
ser constrangidos a descrever seus sofrimentos, a
fim de serem tocados pelo arrependimento.” (179)

Trazemos de O Céu e o Inferno, Primeira


Parte, capítulo “X – Intervenção dos demônios nas
modernas manifestações”, o item 10, no qual se lê:

Não há nenhum meio de se obrigar


um Espírito a atender a uma evocação
contra a sua vontade, desde que ele
seja, do ponto de vista moral, igual ou
superior à pessoa que o evoca, caso em
que esta não terá nenhuma autoridade
sobre ele. Porém, se o Espírito lhe for
inferior, o evocador pode consegui-lo,
desde que seja para o bem do Espírito
evocado, porque, nesse caso, outros
Espíritos o ajudarão. (O livro dos médiuns,
Segunda parte, cap. XXV, item 282,

219
pergunta 10.) (180) (itálico do original)

Entendemos que em situações que o evocador


consegue “obrigar a um Espírito a atender a uma
evocação contra sua vontade” de forma que esse
compareça à reunião, ou ele, o evocador, é ajudado
pelos Espíritos superiores que a coordenam, ou é
ação somente deles.

O que consta no item 14, é praticamente a


reprodução do que citamos da 2ª Parte, capítulo
“XXV – Das evocações”, item 282 de O Livro dos
Médiuns. Apenas é preciso ressaltar que o
constrangimento de um Espírito inferior por um que
lhe é superior, sem dúvida alguma, é feito somente
em obediência à vontade de Deus.

Nestes trechos da Revista Espírita 1858,


Revista Espírita 1859 e Revista Espírita 1864,
respectivamente, podemos corroborar essa ação de
Espíritos superiores:

[…] pela evocação ele pode, como


Espírito de uma ordem pouco elevada, ser
constrangido a vir a um meio que lhe
desagrada. […]. (181)

220
[…] Sabeis que esses Espíritos não
vêm ao nosso chamado senão como
constrangidos e forçados, e que, em
geral, encontram tão pouco do seu meio
entre nós, que sempre têm pressa de irem.
[…]. (182)

[…] Somente certos culpados vêm com


repugnância, e, nesse caso, eles não são ali
constrangidos pelo evocador, mas por
Espíritos superiores, tendo em vista
seu adiantamento. […]. (183)

Com relação aos Espíritos perturbados também


pode ocorrer constrangimento.

Vimos anteriormente que na obra No


Invisível, capítulo “XIX – Transes e Incorporações”,
Léon Denis ao explicar a possibilidade do fenômeno
mediúnico se dar pela transmissão do pensamento e
também da incorporação, disse que:

[…] certos Espíritos pouco


adiantados são conduzidos por uma
vontade superior ao corpo de um
médium e postos em comunicação
conosco, a fim de serem esclarecidos sobre
sua verdadeira situação. […]. (184)

221
Então, com as experiências do grupo de Lyon,
Léon Denis ficou convencido de que certos Espíritos
pouco adiantados são coagidos a se manifestarem
na reunião mediúnica, cujo objetivo, foi, sem
nenhuma dúvida, o de esclarecê-los.

Vejamos estes exemplos, que serão tomados


das seguintes obras:

1º) Revista Espírita 1859, mês de setembro,


artigo “Confissão de Voltaire”:

O Espírito de um soberano, que


desempenhou no mundo um papel
preponderante, chamado em uma de
nossas reuniões, iniciou por ato de cólera
rasgando o papel e quebrando o lápis. Sua
linguagem esteve longe de ser benevolente,
porque se achava humilhado por vir
entre nós, e perguntou se acreditávamos
que ele deveria se abaixar para nos
responder. Conviu, entretanto, que, se o
fazia, era como constrangido e forçado
por uma força superior à sua; mas se
isso dependesse dele não o faria. […].
(185)

Temos aqui o próprio Espírito errante confessar


que foi constrangido a manifestar-se por uma força

222
superior à sua.

2º) Na Revista Espírita 1860, mês de abril,


foi publicada a ata da Sessão do dia 23 de março, da
qual destacamos:

Estudos. – Dois ditados espontâneos


foram obtidos, o primeiro do Espírito de
Charlet, pelo senhor Didier filho, o segundo
pela senhora de Boyer, de um Espírito
que diz ser forçado a vir acusar-se por
ter querido romper a boa harmonia e
lançar a perturbação entre os homens,
suscitando o ciúme e a rivalidade entre
aqueles que deveriam estar unidos;
citou alguns dos fatos dos quais se tornou
culpado. Essa confissão espontânea, diz-
se, faz parte da Punição que lhe foi
imposta. (186) (itálico do original)

Em maio de 1862, no registro da ata do dia 30


de março de 1860, consta a informação de que
foram dirigidas várias perguntas a São Luís sobre
esse Espírito, cujo nome era Being ( 187). Infelizmente,
não conseguimos localizar esse diálogo com o
protetor da Sociedade Espírita de Paris.

3º) Revista Espírita 1862, mês de novembro,

223
temos uma informação de São João Batista sobre o
Espírito G. Remone e um diálogo do Espírito Jacques
Noulin, pela ordem:

29. (A São João Batista.) G. Remone não


foi constrangido, por punição, sem
dúvida, a vir à nossa evocação
confessar seu crime?
Isto parece resultar da sua primeira
resposta, na qual fala da justiça de Deus. –
R. Sim, ele foi forçado, mas a isso se
resignou de boa vontade, quando viu como
um meio a mais para ser agradável a Deus,
em vos servindo em vossos estudos
espíritas. (188)

59. Não pareceis ser um Espírito muito


avançado? – R. Ocupai-vos de vossos
assuntos e deixai-me ir daqui.
Nota. Como não há portas fechadas para
os Espíritos, se este pede que se o deixe
ir, é que um poder superior lhe
constrange a ficar, sem dúvida para sua
instrução. (189)

O importante é o objetivo que levou a esse


Espírito ser constrangido a ter que ficar na reunião,
ou seja, o de ser para sua instrução.

224
4º) Revista Espírita 1865:

a) Mês de junho, artigo “Cura de um obsidiado


em Barcelona”:

[…] Na quarta evocação, orou conosco e


se lamentou de ser conduzido junto a
nós contra a sua vontade; ele queria
muito vir, mas de sua própria vontade. Foi o
que fez na sessão seguinte; pouco a pouco,
a cada nova evocação, tomávamos mais
ascendência sobre ele, e acabamos por fazê-
lo renunciar ao mal que, depois da quarta
sessão, tinha sempre diminuído, e tivemos a
satisfação de ver as crises cessarem na
nona. […]. (190)

b) Mês de dezembro, artigo “Espíritos de dois


sábios incrédulos aos seus antigos amigos da Terra”,
da comunicação do Espírito que assinou M. L…,
destacamos os seguintes parágrafos:

Meu caro cunhado, a quem devo sinceros


agradecimentos, disse que retornei aos bons
sentimentos em pouco tempo. Eu lhe
agradeço pela sua amenidade a meu
respeito; mas, sem dúvida, ele ignora o
quanto são longas as horas de sofrimento
resultantes da inconsciência de seu ser!!!…

225
Eu acreditava no nada, e fui punido por um
nada fictício. Sentir-se ser e não poder
manifestar seu ser; se crer disseminado em
todos os restos esparsos da matéria que
forma o corpo, tal foi minha posição durante
mais de dois meses!… dois séculos!… Ah! as
horas do sofrimento são longas, e se não se
tivesse ocupado em me tirar dessa má
atmosfera do nihilismo, se não se me
tivesse constrangido a vir a essas
reuniões de paz e de amor, onde eu não
compreendia, não via nem ouvia nada, mas
onde os fluidos simpáticos agiam sobre mim
e me despertavam pouco a pouco de meu
pesado torpor espiritual, onde eu estaria
ainda? meu Deus!… Deus!… que doce nome
a pronunciar por aquele que foi tanto tempo
ligado ao nada esse pai tão grande e tão
bom! Ah! meus amigos, moderai-me, porque
hoje não temo senão uma coisa, é de me
tornar fanático dessas crenças que teria
repelido como vis disparates, se outrora
viessem ao meu conhecimento!…
Eu não direi nada hoje sobre os trabalhos
dos quais vos ocupais; sou ainda muito
novo, muito ignorante para ousar me
aventurar em vossas sábias dissertações. Já
sinto, mas não sei ainda! Dir-vos-ei somente
isto, porque já o sei: Sim, os fluidos têm uma
influência enorme como ação curadora, se
não corpórea, disso nada sei, pelo menos
espiritual, porque senti a sua ação. Eu vos
disse e vos repito com alegria e

226
reconhecimento: Eu ia, constrangido por
uma força invencível, a de meu guia
sem dúvida, nas reuniões espíritas. Eu
não via, não ouvia nada, e, no entanto, uma
ação fluídica que não podia raciocinar, me
curou espiritualmente. (191)

Novamente, temos o próprio Espírito


manifestante dizendo que compareceu à reunião
porque foi constrangido por uma força invencível.

5º) O Céu e o Inferno, Segunda parte,


capítulos “VI – Criminosos arrependidos” e “VII –
Espíritos endurecidos”, respectivamente:

a) O Espírito de Castelnaudary

[…] São Luís respondeu: “É um Espírito


da pior espécie, verdadeiro monstro:
fizemo-lo comparecer, mas a despeito de
tudo quanto lhe dissemos não foi possível
obrigá-lo a escrever. Ele tem o seu livre-
arbítrio, do qual o infeliz tem feito triste
uso”.
[…].
[…] Morreu em 1659, com 80 anos, sem
que houvesse respondido por estes crimes,
[…]. Depois da morte, jamais cessara de
praticar o mal, provocando vários acidentes
naquela casa. Um médium vidente que

227
assistiu à primeira evocação o viu no
momento em que pretendiam forçá-lo a
escrever, sacudindo violentamente o
braço do médium. Seu aspecto era
terrível; trajava uma camisa ensanguentada
e tinha na mão um punhal. (192)

b) A rainha de Oude

2-a. Que pensais das honras fúnebres


prestadas aos vossos despojos? – R. Não
foram grande coisa, pois eu era rainha e nem
todos se curvaram diante de mim… Deixai-
me… forçam-me a falar… não quero que
saibais o que ora sou… Ficai sabendo que eu
era rainha…
9. Por que atendestes tão prontamente ao
nosso apelo? – R. Eu não queria vir, mas
forçaram-me. Acaso pensarás que eu me
dignaria responder-te? Que és tu a meu
lado?
9-a. E quem vos forçou a vir? – R. Nem
eu mesma sei… posto que não deva existir
ninguém mais poderoso do que eu. (193)
(itálico do original)

Esses exemplos, plenamente corroboram o fato


de que alguns Espíritos são constrangidos a se
manifestarem e, como dito, para o próprio bem
deles, ainda que não tenham consciência disso.

228
10. Como se deve tratar os Espíritos
manifestantes?

Julgamos que para a


maioria de nós, os
espíritas, não há nenhuma
dúvida de que todos os
trabalhadores da reunião
mediúnica, cada um na
tarefa que lhe cabe, são importantes.

Entretanto, um deles exerce uma função que


se destaca e que, a nosso ver, é fundamental para o
bom resultado dos trabalhos. Allan Kardec designava
quem a exercia de “evocador”, mas, na atualidade,
é, na maioria das vezes, chamado de “doutrinador”.

Particularmente não temos muita simpatia pelo


termo “doutrinador”, uma vez que poderá despertar
uma ideia que não representaria muito bem a função
realizada, pois até politicamente se pode doutrinar
uma pessoa. Em razão disso, o nosso pensamento é
no sentido de que será mais adequado a designação

229
de “esclarecedor” ou de “dialogador”.

Pela experiência adquirida ao longo dos


tempos, a nossa opinião é a de que essa função não
recomendável ser exercida por qualquer pessoa. Há
algumas qualidades que devem fazer parte de sua
maneira de ser. Não se exigirá dele, obviamente, um
comportamento angelical, porém, estas mínimas
qualificações julgamos serem imprescindíveis:

a) – que na sua vida do dia a dia seja alguém


de bom trato para com todos: mansuetude,
gentileza, tolerância, vontade de ajudar ao próximo,
etc.;

b) – ter boa desenvoltura com os ensinamentos


de Jesus que estão registrados dos Evangelhos;

c) – um bom conhecimento doutrinário,


consubstanciado nos princípios espíritas;

d) – e, finalmente, ter um coração livre dos


sentimentos de raiva e ódio.

O último item listado pode causar estranheza,


mas como a grande parte dos Espíritos que se
manifestam nas reuniões de desobsessão tem

230
entranhado dentro de si intenso grau de ódio,
evidenciado pelo seu irredutível desejo de vingança,
não faz sentido algum o esclarecedor pedir-lhes que
perdoem sua vítima, quando eles próprios não fazem
isso em sua vida diária.

Por outro lado, as palavras dirigidas aos


Espíritos devem estar “carregadas” do sentimento
de amor. Lamentavelmente, já vimos alguns
esclarecedores tratando de forma “seca”, quase que
grosseiramente mesmo, o infeliz que se manifestava.
Também não faltam aqueles que querem demonstrar
conhecimento soltando toda uma oratória acadêmica
e deixando os pobres manifestantes quase que
humilhados.

Em O Fenômeno das Mesas Falantes (1989


ou 1992?) encontramos as seguintes recomendações
do autor José Lhomme (1890-1949), presidiu a União
Espírita Belga no período de 1938 a 1949:

14. Doutrinação

Para colher bons frutos, a doutrinação


deve ser natural, isto é, apoiar-se em fatos
vividos e em uma afetividade inigualável.

231
É preciso falar à entidade como se falaria
a um amigo íntimo, em um tom fraternal,
mas firme.
A doutrinação de um espírito deve
repousar nos seguintes princípios:
1. Amar o seu semelhante;
2. Perdoar tudo e sempre;
3. Reparar os erros cometidos contra o
próximo;
4. Ser indulgente e dar tempo a outrem
para esclarecer-se sobre os meios a
empregar para evoluir;
5. Não julgar ninguém diante de
outras pessoas;
6. Fazer todos os esforços para se
desprender dos bens materiais que o
prendem ao ambiente humano;
7. Elevar seu pensamento ao Criador e
pedir a assistência de um espírito evoluído
(guia), de quem se aceita, antecipadamente,
os conselhos. (194)

A não ser a ressalva ao uso do “doutrinação”, a


lista de José Lhomme é pertinente e vai ao encontro
daquilo que pensamos sobre a função do
esclarecedor.

No artigo “Estudos sobre os possessos de

232
Morzine – As causas da obsessão e os meios de
combatê-la”, quinto e último da série, publicado na
Revista Espírita 1863, mês de maio, há algo que
merece citarmos:

Terminaremos confortando certos


habitantes da região sobre a pretensa
influência que alguns dentre eles teriam
podido exercer dando o mal, como o dizem;
a crença nos lançadores de sorte deve ser
relegada entre as crenças supersticiosas.
Que sejam piedosos de coração, e que
aqueles que estão encarregados de
conduzi-los se esforcem por elevá-los
moralmente, é o meio mais seguro para
neutralizar a influência dos maus Espíritos, e
de prevenir o retorno do que se passou. Os
maus Espíritos não se dirigem senão
àqueles que eles sabem poder dominar, e
não àqueles que a superioridade moral, não
dizemos intelectual, encouraça contra seus
ataques. (195)

A instrução de que os encarregados de instruir


os Espíritos sejam “piedosos de coração”, evidencia
a necessidade de que tenham efetivamente a
vontade de diminuir ou se solidarizar com o
sofrimento alheio.

233
No artigo “Nova cura de uma jovem obsidiada
de Marmande”, publicado na Revista Espírita
1865, vamos encontrar um detalhe no trecho do
diálogo com o Espírito Germaine, que vale a pena
mencioná-lo:

P. Então! Quereis nos dizer por que


torturais esta criança? – R. Inútil retornar
sobre esse assunto, isto seria muito longo
para contar. Eu imagino que não há aqui
um tribunal; que não serei chamada com
autoridade de me sentar sobre o banco, e
responder ao questionário. (196)

Eis um ponto importantíssimo: jamais se deve


comportar com juíz, pensando estarmos em um
tribunal a julgar os Espíritos que se manifestam.
“Mulher, onde estão eles: Ninguém de condenou?”
Disse ela: “Ninguém, Senhor.” Disse, então, Jesus:
“Nem eu te condeno. Vai, e de agora em diante
não peques mais.”

A médium Suely Caldas Schubert (1938-2021),


em Obsessão/Desobsessão: Profilaxia e
Terapêutica Espírita, no capítulo “6 – O
Doutrinador”, explica que:

234
Esclarecer, em reunião de
desobsessão, é clarear o raciocínio; é
levar uma entidade desencarnada, através
de uma série de reflexões, a entender
determinado problema que ela traz consigo
e que não consegue resolver; ou fazê-la
compreender que as suas atitudes
representam um problema para
terceiros, com agravantes para ela
mesma. É levá-la a modificar conceitos
errôneos, distorcidos e cristalizados, por
meio de uma lógica clara, concisa, com base
na Doutrina Espírita e, sobretudo, permeada
de amor.
Essa é uma das mais belas tarefas na
reunião de desobsessão e que requer
muita prudência, discernimento e
diplomacia. Que requer, principalmente, o
ascendente moral daquele que fala sobre
aquele que ouve, que está sendo atendido.
Esse ascendente moral faz com que as
explicações dadas levem o cunho da
serenidade, da energia equilibrada e da
veracidade.
As palavras são como setas
arremessadas, que poderão ser
danosas ou benéficas, dependendo do
sentimento de quem as projeta. As
primeiras ferem, causam distúrbios,
destroem e podem acordar sentimentos de
revide, com igual teor vibratório. As
segundas, vibrando na luz do amor,
penetram na alma como bênçãos

235
gratificantes, produzindo reflexos de
claridade que se identificarão com o
emissor.
No instante do esclarecimento, quando a
entidade se comunica, ela está de alguma
forma expectante, aguardando alguma
coisa, para ela, imprevisível. Também os
presentes à reunião se colocam em
posição especial, porém, de doação, de
desejo de atender à expectativa do
irmão necessitado. E qualquer que seja a
maneira sob a qual ele se apresente, todos
os pensamentos e todas as vibrações devem
estar unidos, homogêneos, dirigidos no
intuito de beneficiá-lo. Nesta hora, o
doutrinador será o polo centralizador desse
conjunto de emoções positivas,
estabelecendo-se uma corrente magnética
que envolve o comunicante e que ajuda,
concomitantemente, ao que esclarece. Este,
recebendo ainda o influxo amoroso do
Mentor da reunião, terá condições de dirigir
a conversação para o rumo mais acertado e
que atinja o cerne da problemática que o
Espírito apresenta.
O esclarecimento não se faz
mostrando erudição, conhecimentos
filosóficos ou doutrinários. Também não
há necessidade de dar uma aula sobre
o que é o Espiritismo, nem de mostrar o
quanto os espíritas trabalham. Como não é o
instante para criticar, censurar, acusar ou
julgar (197). Esclarecer não é fazer

236
sermão. Não surtirão bons resultados
palavras revestidas de grande beleza, mas
vazias, ocas, frias. Não atenderão às
angústias e aflições daquele que sofre e
muito menos abrandarão os revoltados e
vingativos. (198)

Embora tenha ampliado mais um pouco a


nossa percepção julgamos que essa explicação Suely
Caldas é oportuna e, certamente, deve ser levada
em conta.

A Equipe Eurípedes Barsanulfo, em O Que é


Evangelização dos Espíritos, esclarece-nos que:

O Evangelizador de Espíritos é o Ser


compromissado com Jesus, na grande
tarefa de renovar o pensamento do Espírito
auxiliando-o a compreender de forma
racional, amorosa, quem ele é
verdadeiramente. (199)

O Evangelizador de Espíritos não pode


servir o Mestre com o pensamento
ligado à vaidade, as ilusões e ao
materialismo que entorpece a consciência
do Espírito. (200)

O Evangelizador de Espíritos está


sempre pronto para o trabalho com

237
Jesus. Não se deixa iludir com as questões
materialistas, disponibilizando-se para o
trabalho amoroso de auxiliar e esclarecer.
(201)

Esse compromisso e essa prontidão para o


trabalho com Jesus devem surgir da aplicação da
máxima: “Tudo aquilo, portanto, que quereis que os
homens vos façam, fazei-o vós a eles, pois esta é a
Lei e os Profetas.” (Mateus 7,12)

Em O Livro dos Médiuns, Segunda Parte,


capítulo “XIV – Médiuns”, no item 162, Allan Kardec
acrescenta:

A moralização do Espírito, pelos


conselhos de uma pessoa influente e
experiente, caso o [próprio] médium não
se ache em condições de fazê-lo, constitui
quase sempre meio muito eficaz. […]. (202)

A experiência no trato com os Espíritos é uma


outra exigência para a função. Para a conseguir, o
candidato a dialogador, deve procurar alguma casa
espírita que lhe permita participar como aprendiz das
reuniões de desobsessão, uma vez que “é preciso

238
aprender a conversar com os Espíritos como se
aprende a conversar com os homens: em todas as
coisas é preciso a experiência.” (203)

Vejamos o seguinte trecho de O Livro dos


Médiuns, Segunda Parte, capítulo “XXIII –
Obsessão”, do item 249:

[…] o médium deve apelar com fervor ao


seu anjo bom, assim como aos Espíritos
bons que lhe são simpáticos, pedindo-lhes
que o assistam. Quanto ao Espírito
obsessor, por muito mau que seja, deve
ser tratado com severidade, mas, ao
mesmo tempo, com benevolência e
vencê-lo pelo bom comportamento,
orando por ele. Se for realmente perverso,
a princípio zombará desses meios; porém,
moralizado com perseverança, acabará por
emendar-se. É uma conversão a
empreender, tarefa muitas vezes
penosa, ingrata, desagradável mesmo,
mas cujo mérito está na dificuldade que
oferece e que, se bem realizada, dá sempre
a satisfação de se ter cumprido um dever de
caridade e, quase sempre, a de se haver
reconduzido ao bom caminho uma alma
transviada. (204)

Pela importância do que é preciso chamar a

239
atenção, temos que destacar: “o Espírito obsessor,
por muito mau que seja, deve ser tratado com
severidade, mas, ao mesmo tempo, com
benevolência”. Respeito, complacência, tolerância,
amorosidade, etc. devem ser a base com a qual o
esclarecedor precisa estar plenamente imbuído.

No capítulo “XXVIII – Coletânea de preces


espíritas”, de O Evangelho Segundo Espiritismo,
no item 84, Allan Kardec faz esta observação:

A cura das obsessões graves requer


muita paciência, perseverança e
devotamento. Exige também tato e
habilidade, a fim de encaminhar para o
bem Espíritos muitas vezes perversos,
endurecidos e astuciosos, pois há os
rebeldes em grau extremo. Na maioria dos
casos, temos de nos guiar pelas
circunstâncias. Qualquer que seja,
porém, o caráter do Espírito, uma coisa
é certa: nada se obtém pelo
constrangimento ou pela ameaça. Toda
influência reside no ascendente moral. Outra
verdade, igualmente comprovada pela
experiência tanto quanto pela lógica, é a
completa ineficácia dos exorcismos,
fórmulas, palavras sacramentais, amuletos,
talismãs, práticas exteriores, ou quaisquer
sinais materiais. A obsessão muito

240
prolongada pode ocasionar desordens
patológicas e reclama, por vezes,
tratamento simultâneo ou consecutivo, quer
magnético, quer médico, para restabelecer a
saúde do organismo. Destruída a causa,
resta combater os efeitos. (205) (206)

Julgamos ser importante estes trechos, que


bem resumem as orientações do Codificador: “Exige
também tato e habilidade”, “nada se obtém pelo
constrangimento ou pela ameaça” e “é a completa
ineficácia dos exorcismos, fórmulas, palavras
sacramentais, amuletos, talismãs, práticas
exteriores, ou quaisquer sinais materiais”.

Falta-nos ainda ressaltar um outro ponto de


suma importância. Em O Livro dos Médiuns,
Segunda Parte, capítulo “XXIII – Obsessão”, item 251,
que fala da subjugação corpórea, destacamos o seu
parágrafo inicial:

A subjugação corpórea tira muitas vezes


do obsidiado a energia necessária para
dominar o Espírito mau. É por isso que se
torna necessária a intervenção de
outra pessoa, que atue pelo magnetismo
ou pela força da sua própria vontade. Em
falta do concurso do obsidiado, essa

241
pessoa deve ter predomínio sobre o
Espírito; porém, como esse predomínio,
ou ascendente, só pode ser moral e,
portanto, só poderá ser exercido por
um ser moralmente superior ao
Espírito, o seu poder será tanto maior
quanto maior for a sua superioridade moral,
porque então se impõe ao Espírito, que se
vê forçado a inclinar-se diante dele. É por
isso que Jesus tinha tão grande poder para
expulsar os que, naquela época, se
chamavam demônios, isto é, os Espíritos
maus obsessores. (207)

Portanto, fica bem clara a necessidade de o


esclarecedor ter ascendência moral sobre os
Espíritos manifestantes para que, efetivamente, os
possa moralizar.

No capítulo “XXXVIII – Ação do homem sobr3e


os Espíritos infelizes”, da “Quarta Parte – O Além”, do
livro Depois da Morte (1890), transcrevemos o
seguinte trecho:

Todavia, é preciso não esquecer que


as relações com os espíritos inferiores
exigem uma certa segurança de vistas,
de tato e de firmeza. Todos os homens
não estariam aptos a tirar dessas relações

242
os bons efeitos que se poderia esperar. É
necessário possuir uma verdadeira
superioridade moral para dominar
esses espíritos, reprimir seus desvios e
dirigi-los no caminho do bem. Essa
superioridade só se adquire através de
uma vida isenta de paixões materiais.
Nesse caso, os fluidos depurados do
evocador comandam, facilmente, os
fluidos dos espíritos atrasados. (208)

Temos ou não razão ao dizer que essa função


não é para qualquer um?

Ainda em O Livro dos Médiuns, capítulo “XXV


– Evocações”, merecem destaque os seguintes
parágrafos do item 280 do tópico “Linguagem a ser
usada com os Espíritos”:

Entre os Espíritos inferiores, muitos são


infelizes. Quaisquer que sejam as faltas
que estejam expiando, seus
sofrimentos merecem ainda mais a
nossa comiseração, pois é certo que
ninguém pode vangloriar-se de escapar a
estas palavras do Cristo: “Atire a primeira
pedra aquele que estiver sem pecado”.
A benevolência com que os tratamos é um
alívio para eles. Em falta de simpatia,
precisam encontrar em nós a

243
indulgência que desejaríamos que
tivessem para conosco.
Os Espíritos que revelam a sua
inferioridade pelo cinismo da linguagem,
pelas maneiras, pela baixeza dos
sentimentos, pela perfídia dos conselhos,
são, indubitavelmente, menos dignos do
nosso interesse, do que aqueles cujas
palavras atestam o seu arrependimento,
mas, pelo menos, devemos-lhe a piedade
que nos inspiram os maiores
criminosos. O meio de os reduzirmos ao
silêncio consiste em nos mostrarmos
superiores a eles, que só confiam nas
pessoas de quem nada tenham a temer,
pois os Espíritos perversos reconhecem
a superioridade dos homens de bem,
como reconhecem a primazia dos Espíritos
superiores.
Em resumo, seria tão irreverente
tratarmos os Espíritos superiores de igual
para igual, quanto ridículo dispensarmos a
todos, sem exceção, a mesma deferência.
Tenhamos veneração para os que a
merecem, reconhecimento para os que nos
protegem e assistem e, para todos os
demais, a benevolência de que talvez
um dia venhamos a necessitar. […]. (209)

Os sentimentos de benevolência, indulgência e


piedade devem fazer parte do caráter de todos os

244
componentes de uma reunião de desobsessão. Como
já dito, sentimentos de raiva e ódio não devem
encontrar nenhum abrigo em seus corações.
Ademais, não se poderá exigir dos outros uma
atitude ou comportamento que, pela nossa
inferioridade, não conseguimos fazer.

É evidente que também se aprende nas


reuniões de desobsessão – momentos nos quais nos
é dada a oportunidade de ser caridosos com os que
sofrem influência dos Espíritos vingativos – ao lhes
oferecermos bons conselhos, incentivando-os a
tomar a decisão de deixarem suas vítimas em paz e
passar a cuidar de sua própria evolução espiritual.

Não raro os conselhos que lhes são dados


também servem para todos do próprio grupo
mediúnico, uma vez que temos que transformar
nossas palavras em ação diária.

245
11. A função da música

É fácil comprovar que a música certa no


momento certo, leva as pessoas às lágrimas… (210)

As vibrações produzidas pela música


“amolecem” o nosso coração, predispondo-o a
sentimentos nobres e mais elevados.

Sabemos que, se não em todas, mas

246
provavelmente na maioria das casas espíritas, nas
reuniões mediúnicas é utilizada música ambiente.

Pode-se questionar a necessidade dela, uma


vez que, nas obras da Codificação Espírita, nada
especificamente foi dito a respeito disso. Entretanto,
se levarmos em conta este episódio acontecido com
Saul, quando rei de Israel, relatado pelo historiador
Flávio Josefo (37-103 d.C.) na obra História dos
Hebreus, esse procedimento pode ser útil:

235. Saul, ao contrário, foi tomado pelo


espírito mau, que parecia querer esganá-lo a
todo instante. Os médicos não
encontraram outro remédio para esse
mal, senão mandar cantar para ele, ao
som de harpa, hinos sagrados, por
algum músico competente, quando o
demônio o agitasse. Mandaram procurá-lo
por toda parte; disseram-lhe que havia
somente um que poderia fazê-lo e era um
dos filhos de Jessé, de nome Davi, que não
somente era muito bom músico, mas muito
belo e capaz de servi-lo na guerra; mandou
então dizer a seu pai que o dispensasse do
encargo de vigiar os rebanhos e o
mandasse, porque lhe haviam dito tantas
coisas dele, queria vê-lo. Jessé mandou-o
logo, com vários presentes e Saul o recebeu
muito bem, deu-lhe um lugar como soldado

247
e o tratou bondosamente, em tudo. Além de
lhe ser muito agradável, somente ele
podia acalmá-lo e trazer a bons
sentimentos, com seus cânticos e o
som da harpa. Assim, pediu a seu pai que
o deixasse ficar com ele, pois estava muito
contente com a sua companhia. (211)

Esse fato também é narrado na Bíblia (1


Samuel 16,14-23), que ainda acrescenta: “Todas as
vezes que o espírito de Deus o acometia, Davi
tomava a lira e tocava; então Saul se acalmava,
sentia-se melhor e o mau espírito o deixava.” (212)

Na Revista Espírita 1864, mês de setembro,


foi publicado o artigo “Influência da música sobre os
criminosos, os loucos e os idiotas”, do qual
transcrevemos o seguinte trecho:

De todos os tempos, reconheceu-se à


música uma influência salutar para o
abrandamento dos costumes; a sua
introdução entre os criminosos seria
um progresso incontestável e não
poderia ter senão resultados
satisfatórios; ela comove as fibras
entorpecidas da sensibilidade, e as
predispõe a receber as impressões
morais. Mas isto é suficiente? Não; é um

248
trabalho sobre um terreno inculto, que é
preciso semear de ideias próprias a fazerem,
sobre essas naturezas desencaminhadas
uma profunda impressão. É preciso falar à
alma depois de ter amolecido o
coração. O que lhes falta é a fé em Deus,
em sua alma e no futuro; não uma fé vaga,
incerta, incessantemente combatida pela
dúvida, mas uma fé fundada sobre a
certeza, a única que pode torná-la
inabalável. Sem dúvida, a música pode a
isso predispor, mas ela não a dá. Por
isso não é menos uma auxiliar que não
é preciso negligenciar. Essa tentativa e
muitas outras, às quais a Humanidade e a
civilização não podem senão aplaudir,
testemunham uma louvável solicitude
para o moral dos condenados; mas resta
ainda alcançar o mal em sua raiz; um dia se
reconhecerá toda a extensão que se pode
tirar nas ideias espíritas, cuja influência já
está provada pelas numerosas
transformações que elas operam sobre as
naturezas em aparência as mais rebeldes.
[…]. (213)

Ao sensibilizar as fibras do coração o


dialogador terá “campo aberto” para, com base nos
ensinos do Mestre Jesus e, conforme o caso, o
conhecimento espírita, instruir o Espírito
manifestante.

249
Na Revista Espírita 1869, mês de março, foi
publicada uma mensagem intitulada “A música e as
harmonias celestes”, datada de 17 de janeiro,
assinada pelo Espírito do Maestro Rossini. Vejamos
este trecho:

[…] Evidentemente, o homem que


goza as delícias da harmonia é mais
elevado, mais depurado do que aquele
que ela não pode penetrar; sua alma
está mais apta a sentir; ela se desliga mais
facilmente, e a harmonia a ajuda a se
desligar; ela a transporta e lhe permite
ver melhor o mundo moral. De onde é
preciso concluir que a música é
essencialmente moralizadora, uma vez
que leva a harmonia às almas, e que a
harmonia as eleva e as engrandece.
A influência da música sobre a alma,
sobre o seu progresso moral, é
reconhecida por todo o mundo; mas a
razão dessa influência é geralmente
ignorada. Sua explicação está inteiramente
neste fato: que a harmonia coloca a alma
sob a força de um sentimento que a
desmaterializa. Esse sentimento existe em
um certo grau, mas ele se desenvolve sob a
ação de um sentimento similar mais
elevado. Aquele que está privado desse
sentimento a ele é levado

250
gradativamente; acaba ele também por
se deixar penetrar e se deixar arrastar
ao mundo ideal, onde ele esquece, por um
instante, os grosseiros prazeres que prefere
à divina harmonia. (214)

Eis aí a opinião de quem tem autoridade para


falar:

Gioachino Antonio Rossini (1792-1868) foi


um compositor erudito italiano, muito
popular em seu tempo, que criou 39
óperas, assim como diversos trabalhos
para música sacra e música de câmara.
(215)

Certamente que, ao se falar em música, não se


está recomendando as que têm caráter puramente
“mundano”, vamos assim dizer. Por outro lado, deve-
se evitar as que possam estimular a licenciosidade
ou produzir exaltação dos instintos e à violência de
qualquer tipo.

Recomendaríamos, se nos permite o caro


leitor, preferencialmente, música instrumental estilo
clássico ou de cunho religioso, próprias para
harmonização de ambientes.

251
No capítulo XX – Aparições e materializações
de Espíritos, da obra No Invisível (1903), Léon
Denis, fala sobre o efeito da música e dos cantos nas
reuniões mediúnicas dedicadas a esses fenômenos:

O estudo das forças em ação nesses


fenômenos demonstra que eficazes
auxiliares podem ser a música e os
cantos. Suas vibrações harmônicas
facilitam a combinação dos fluidos. Em
sentido oposto, temos verificado a
desfavorável influência da luz; esta produz
um efeito dissolvente sobre os fluidos em
elaboração e exige um emprego mais
considerável de força psíquica. Daí a
necessidade das sessões obscuras, pelo
menos nas tentativas iniciais. (216)

Sabíamos que o ectoplasma é uma substância


altamente sensível à luz, mas a novidade, que aqui
se depara, é ver que também a música e o canto
provocam efeitos positivos nele.

Em No Limiar do Etéreo ou Sobrevivência


à Morte Cientificamente Explicada (1931), o
autor J. Arthur Findlay explica:

252
Nada concorre mais do que a música,
para que as melhores condições se
estabeleçam. As vibrações musicais
embora sejam levadas pela atmosfera e não
pelo éter exercem indireta influência
sobre as vibrações que enviamos para o
segundo; por isso é que iniciamos as
nossas sessões cantando, acompanhados
ao harmônio. […]. (217)

Julgamos que esse efeito positivo da música


não deve ficar restrito às reuniões específicas de
materializações, pode ser algo genérico, valendo
para todas aquelas em que ocorre algum fenômeno
mediúnico, ainda que seja a simples psicografia ou
psicofonia.

Em O Espírito e o Tempo (1964), o jornalista


José Herculano Pires, pondera que:

[…] A fuga musical se consuma. O


espírito humano se liberta dos liames
terrenos, para alçar-se acima de si mesmo
e projetar-se num futuro sem limites. A
música nos toca através dos sentidos,
mas está além dos sentidos. Embora os
sons que a compõem pertençam ao
domínio da percepção, a harmonia que
deles resulta e a emoção que

253
provocam, a mensagem que traduzem,
extravasam do concreto. A música é
sempre uma fuga ao real, sublimação,
transcendência. […]. (218)

Fantástica a comparação de Herculano Pires ao


dizer que “o espírito humano se liberta dos liames
terrenos” por conta da música que “nos toca através
dos sentidos”.

Em O Que é Evangelização de Espíritos


(2005), a Equipe Eurípedes Barsanulfo, composta de
vários Espíritos, no tópico “A música” do capítulo
“Recursos utilizados pelo método da evangelização”,
pontua que:

A música tem extraordinária função,


provocar uma vibração diferente,
atuando de forma ampla nos
sentimentos. Desperta desejos,
sentimentos que se mesclam, deixando
sempre sinais no contexto íntimo do
Ser.
A música na Casa Espírita precisa trazer
harmonia e jamais excitações, que em
nada contribuiria com o bem-estar dos que a
ouvem.
A música alcança as mais íntimas

254
estruturas do pensamento, sendo seu
alcance maior do que o da palavra. (219)

Corrobora-se, portanto, a plena eficácia da


música.

Em junho de 2019, publicou-se no site da


Federação Espírita do Distrito Federal (FEDF) o artigo
“Quando arte e mediunidade se convergem
para socorrer, amparar e sensibilizar
corações”, no qual Fabiana Menezes, coordenadora
do Coral Unicanto, de Londrina (PR), foi muito feliz ao
afirmar:

“A música tem esta capacidade de


influenciar no campo vibracional das
pessoas, por isto, ela tem demasiada
importância nas Casas Espíritas, pois além
de elevar a vibração do ambiente, o que
oferece suporte para a atuação dos
benfeitores espirituais, ela também
sensibiliza os corações para que estes
possam receber a mensagem do Cristo,
reforçada pelo Espiritismo.” (220)

Ainda que a música terrestre não tenha o


esplendor da celestial, os Espíritos vulgares acabam

255
por se sensibilizarem, algo como “amolecer o
coração”, quando a ouvem.

256
12. Poder-se-ia, pois, considerar a pessoa
obsidiada um médium?

Essa é uma dúvida que surge, algumas vezes,


entre os adeptos do Espiritismo. Para um grupo de
confrades, o obsidiado não seria propriamente um
médium. É o que propomos elucidar nesse capítulo.

No capítulo III – A obsessão segundo Kardec da


obra A Obsessão e Seu Tratamento Espírita
(1982), o escritor e jornalista Celso Martins,
apoiando-se em Allan Kardec, apresenta várias
causas que podem desencadear uma obsessão, das
quais destacamos o item D:

Obsessão decorrente da eclosão das


faculdades mediúnicas e o médium, por
razões pessoais, se nega a aceitar o fato
que se impõe. Não educando o seu
mediunismo, não sabendo como
controlá-lo, como canalizá-lo para o
bem comum, acaba, o médium
inexperiente, nas malhas das
influências negativas de entidades
malfazejas. A mediunidade, não raro,

257
constitui oportunidade de resgatar velhas
dívidas, recurso oferecido pela Misericórdia
de Deus para que a criatura faça o Bem ao
semelhante, quitando-se de débitos
anteriores. […]. (221)

O que o jornalista Celso Martins expõe é algo


que, pessoalmente, vivenciamos na prática, quando
ainda residíamos no interior das Minas Gerais.

Mas a questão é: na codificação poderia ser


encontrado algum apoio para sustentar que o
obsidiado seja, de fato, um médium? Acreditamos
que sim.

Na Revista Espírita 1862, mês de dezembro


Allan Kardec publica o primeiro artigo intitulado
“Estudo sobre os possessos de Morzine – As causas
da obsessão e os meios de combatê-la”. Dele
destacamos este trecho:

[…] A ação dos Espíritos, bons ou


maus, é, pois, espontânea; a dos maus
produz uma multidão de perturbações
na economia moral e mesmo física que,
por ignorância da causa verdadeira, se
atribuíam a causas errôneas. O maus
Espíritos são os inimigos invisíveis,

258
tanto mais perigosos quanto não se
suponha a sua ação. O Espiritismo, pondo-
os a descoberto, vem revelar uma nova
causa a certos males da Humanidade;
conhecida a causa, não se procurará mais
combater o mal por meios que, doravante,
se sabe inúteis, procurar-se-ão os mais
eficazes. Ora, o que foi que fez descobrir
essa causa? A mediunidade; foi pela
mediunidade que esses inimigos
ocultos traíram sua presença; ela fez
para eles o que o microscópio fez para os
infinitamente pequenos: revelou todo um
mundo. […] Uma vez reconhecida a ação do
mundo invisível, ter-se-á a chave de uma
multidão de fenômenos incompreendidos, e
a ciência, enriquecida dessa nova lei, verá
se abrir diante dela novos horizontes. […].
Antes de falar do remédio, expliquemos
um fato que embaraça muitos Espíritas,
sobretudo no caso de obsessão simples,
quer dizer, naqueles, muito frequentes, em
que o médium não pode se
desembaraçar de um mau Espírito que
se comunica, obstinadamente, a ele pela
escrita ou pela audição; […].
Reportemo-nos ao que dissemos, em
começando, da maneira pela qual o
Espírito age, e imaginemos um médium
envolvido, penetrado pelo fluido
perispiritual de um mau Espírito; para
que o de um bom possa agir sobre o
médium é preciso que penetre esse

259
envoltório, e sabe-se que a luz penetra
dificilmente um espesso nevoeiro. Segundo
o grau de obsessão, esse nevoeiro será
permanente, tenaz ou intermitente e,
consequentemente, mais ou menos fácil de
dissipar. (222)

Ao discorrer sobre a obsessão simples o


Codificador refere-se à vítima como médium, mas
essa condição ficará ainda mais clara nas próximas
transcrições.

O 2º artigo “Estudos sobre os possessos de


Morzine – As causas da obsessão e os meios de
combatê-la”, foi publicado na Revista Espírita
1863, no mês de janeiro. Ressaltaremos o seguinte
trecho:

[…] A ação do mundo invisível,


estando na ordem das coisas naturais,
se exerce sobre o homem, abstração feita
de todo conhecimento espírita; a ela se está
submetido como se o está à influência da
eletricidade atmosférica, sem saber a física,
como estar doente, sem saber a medicina.
Ora, do mesmo modo que a física nos ensina
a causa de certos fenômenos, e a medicina
a causa de certas doenças, o estudo da
ciência espírita nos ensina a causa dos

260
fenômenos devidos às influências
ocultas do mundo invisível, e nos explica
o que, sem ela, nos parecia inexplicável. A
mediunidade é o meio direto de
observação – que se nos permita esta
comparação – é o instrumento de
laboratório pelo qual a ação do mundo
invisível se traduz de maneira patente;
e, pela facilidade que nos dá de repetir as
experiências, nos permite estudar o modo e
as nuanças dessa ação; foi do estudo e das
observações que nasceu a ciência espírita.
Todo indivíduo que sofre, de um
modo qualquer, a influência dos
Espíritos é, por isso mesmo, médium;
mas é pela mediunidade efetiva, consciente
e facultativa, que se chega a constatar a
existência do mundo invisível, e pela
diversidade das manifestações obtidas ou
provocadas, que se pôde esclarecer sobre a
qualidade dos seres que a compõem, e
sobre o papel que eles desempenham na
Natureza; o médium fez pelo mundo
invisível o que o microscópio fez pelo mundo
dos infinitamente pequenos. (223)

Se todo indivíduo que sofre a influência dos


Espíritos é médium, então não nos resta alternativa
senão a ter o obsidiado como tal.

Na Revista Espírita 1863, mês de fevereiro,

261
vamos encontrar o 3º artigo intitulado “Estudo sobre
os possessos de Morzine – As causas da obsessão e
os meios de combatê-la”, do qual transcrevemos o
seguinte trecho:

[…] No médium subjugado, o Espírito,


tomando de alguma sorte o corpo de um
terceiro para agir, exprime seus
pensamentos, não mais pela escrita, mas
pelos gestos e pelas palavras que provoca
no médium; ora, como todo fenômeno
espírita não pode se produzir sem uma
aptidão medianímica, pode-se dizer que
a mulher da qual se acaba de falar é
um médium espontâneo e involuntário.
[…]. (224)

O Codificador reportando ao caso relatado por


um correspondente de Boulognesur-Mer sobre “A
mulher de um marinheiro desta cidade, com a idade
de quarenta e cinco anos, está desde os quinze sobe
o domínio de uma triste subjugação.” concluiu que
“todo fenômeno espírita não pode se produzir sem
uma aptidão medianímica”, consequentemente,
qualquer pessoa que venha a passar pela dolorosa
experiência da obsessão é médium, ainda que não

262
tenha consciência disso e que os outros não o vejam
como tal.

No 5º e último artigo “Estudo sobre os


possessos de Morzine”, publicado na Revista
Espírita 1863, mês de maio, lemos:

Está na natureza desses Espíritos o serem


antipáticos à religião, porque lhe temem
poder, como os criminosos são antipáticos à
lei e aos juízes que os condenam, e
exprimem esses sentimentos pela boca
de suas vítimas, verdadeiros médiuns
inconscientes que estão estritamente na
verdade quando dizem não ser senão ecos;
o paciente está reduzido a um estado
passivo; está na situação de um homem
abatido por um inimigo mais forte, que o
constrange a fazer a sua vontade; o eu do
Espírito estranho neutraliza
momentaneamente o eu pessoal; há
subjugação obsessional e não possessão.
Que absurdo! dirão certos doutores.
Absurdo, tanto que quereis, mas que não é
menos hoje tido por uma verdade por um
grande número de médicos. Um tempo
virá, menos distante do que se pensa,
em que, a ação do mundo invisível
sendo geralmente reconhecida, a
influência dos maus Espíritos será
alinhada entre as causas patológicas;

263
será levado em conta o papel importante
que o perispírito desempenha na fisiologia, e
um novo caminho de cura será aberto para
uma multidão de doenças reputadas
incuráveis. (225) (itálico do original)

Allan Kardec ainda não havia se convencido da


real possibilidade da possessão, mas em dezembro
diante do caso da Srta. Julie, se renderá a essa
verdade, uma vez que para ele, os fatos são
argumentos irrefutáveis. Dizendo que os possessos
de Morzine “são verdadeiros médiuns inconscientes”
corrobora o que havia dito no 3º artigo. Além disso,
demonstra forte esperança de que no futuro os
médicos reconhecerão como causa patológica a
influência dos maus Espíritos sobre as pessoas.

264
13. Conclusão

Concluímos, então, que, conforme tudo o que


nos foi possível encontrar nas obras da Codificação,
as reuniões mediúnicas de orientação ou
esclarecimento de Espíritos sofredores (imperfeitos)
é uma missão nossa, que deve ser levada a efeito
em reuniões específicas.

A nosso ver, elas não devem ser de caráter


público, mas realizadas na intimidade que esses
casos requerem e para que também ocorra dentro de
uma privacidade que os Espíritos manifestantes
merecem.

Certamente surgirá a natural pergunta: se os


Espíritos sofredores só recebem ajuda numa reunião
mediúnica, e o que acontece com os que nela não se
manifestam? A resposta a essa oportuna pergunta
nós a encontraremos na Revista Espírita 1860,
mês de fevereiro, artigo “História de um condenado”,
no qual, após o último diálogo com o Espírito de
Castelnaudary (226), Allan Kardec acrescenta a

265
seguinte nota:

Esta evocação não foi o fato do acaso;


como deveria ela ser útil a esse infeliz, os
Espíritos que velam por ele, vendo que
começava a compreender a enormidade de
seus crimes, julgaram que o momento
chegara para lhe dar um socorro eficaz,
e foi então que prepararam as
circunstâncias propícias. É um fato que
vimos se produzir muitas vezes.
Pergunta-se a esse respeito, o que lhe
teria advindo se não houvesse sido
evocado, e o que ocorre com todos os
Espíritos sofredores que não o podem ser,
ou nos quais não se pensa. A isso é
respondido que os caminhos de Deus,
para a salvação de suas criaturas, são
inumeráveis; a evocação pode ser um
meio de assisti-los, mas certamente
não é o único; e Deus não deixa
ninguém no esquecimento. Aliás, as
preces coletivas devem também ter, sobre
os Espíritos acessíveis ao arrependimento,
sua parte de influência. (227)

Portanto, nenhum Espírito fica desamparado,


Deus, em seu infinito amor, jamais deixará de
auxiliar um filho transviado. Os que, por variados
motivos, não forem ajudados em reunião mediúnica,

266
serão por outros meios, pois, como muito bem disse
o Codificador “Deus não deixa ninguém no
esquecimento”.

Sendo uma missão nossa, ou seja, dos


encarnados, julgamos que as casas espíritas devem
envidar todos os esforços possíveis para instituírem
essas reuniões para bem cumprirem essa missão.
Segundo as palavras de Allan Kardec, a cada caso
resolvido se terá “a grata satisfação de libertar um
encarnado e de converter um Espírito imperfeito”
(228).

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fe.com%2fsite%2fwp-
content%2fuploads%2f2016%2f08%2fsala-de-
reunioes.png&ehk=r9ty8pz%2fwSj%2fYj5XHT7ItEZlh%
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https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl
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H8_5HJ8S4NQZfGPSHbUfUjvm2O2J0yZPGpmqs6VBcc2s
vIZyIzxRnw4V97ui006OPtgxIAerLBFUJt6V1AXQnlaAYQE
vGgay7pSQBprQIONyKxy1HYPZ_7l9hFkeddDD/w640-
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2024.
Grupo Meimei:
http://www.jornaloimortal.com.br/Public/Blog/7534a4f5
-563e-4da1-b387-fb25808f6f0a.jpg. Acesso em: 03
out. 2021.
Obsessão – Influência de Espíritos inferiores – alcoolismo:
http://luzdoespiritismo.com/wp-content/uploads/2013/1
1/mesa-de-bar.png. Acesso em: 28 out. 2022.
Planta, Sala de reuniões públicas na casa espírita,
baixado da WEB, link não funciona mais.
Reunião mediúnica:
http://www.ceakitajuba.org.br/sites/default/files/langua
ges/atendimento_reuniaomed.jpg. Acesso em: 06 jun.
2015.

274
Dados biográficos do autor

Paulo da Silva Neto Sobrinho é


natural de Guanhães, MG. Formado
em Ciências Contábeis e
Administração de Empresas pela
Universidade Católica (PUC-MG).
Aposentou-se como Fiscal de Tributos
pela Secretaria de Estado da Fazenda
de Minas Gerais. Ingressou no
movimento Espírita em Julho/87.
Participa do GAE – Grupo de
Apologética Espírita (https://apologiaespirita.com.br/), desde
o ano de 2004, quando de sua fundação.
Escreveu vários artigos e ebooks que estão publicados
em seu site Paulo Neto (https://paulosnetos.net) e alguns
outros sites Espíritas na Web, entre eles, O Consolador
(www.oconsolador.com.br).
Livros publicados por Editoras:
a) impressos: 1) A Bíblia à Moda da Casa; 2) Alma dos
Animais: Estágio Anterior da Alma Humana?; 3) Espiritismo,
Princípios, Práticas e Provas; 4) Os Espíritos Comunicam-se
na Igreja Católica; 5) As Colônias Espirituais e a Codificação;
6) Kardec & Chico: 2 Missionários. Vol. I; 7) Espiritismo e
Aborto; 8) Chico Xavier: Uma Alma Feminina e 9) Perispírito:
Provas Científicas de Ser o Molde do Corpo Físico.
b) digitais: 1) Kardec & Chico: 2 Missionários. Vol. II, 2)
Kardec & Chico: 2 Missionários. Vol. III; 3) Racismo em

275
Kardec?; 4) Espírito de Verdade, Quem Seria Ele?; 5) A
Reencarnação Tá na Bíblia; 6) Manifestações de Espírito de
Pessoa Viva (Em Que Condições Elas Acontecem); 7)
Homossexualidade, Kardec Já Falava Sobre Isso; 8) Os
Nomes dos Títulos dos Evangelhos Designam os Seus
Autores?; 9) Apocalipse: Autoria, Advento e a Identificação
da Besta; 10) Chico Xavier e Francisco de Assis Seriam o
Mesmo Espírito?; 11) A Mulher na Bíblia; 12) Todos Nós
Somos Médiuns?; 13) Os Seres do Invisível e as Provas Ainda
Recusadas Pelos Cientistas; 14) O Perispírito e as Polêmicas
a Seu Respeito; 15) Allan Kardec e a lógica da reencarnação;
16) O Fim dos Tempos Está Próximo?; 17) Obsessão,
Processo de Cura de Casos Graves; 18) Umbral, Há Base
Doutrinária Para Sustentá-lo?; 19) A Aura e os Chakras no
Espiritismo; 20) Os Quatro Evangelhos, Obra Publicada por
Roustaing, Seria a Revelação da Revelação?; 21) Espiritismo:
Religião Sem Dúvida; 22) Allan Kardec e Suas
Reencarnações; 23) Médiuns São Somente os Que Sentem a
Influência dos Espíritos?; 24) EQM: Prova da Sobrevivência
da Alma; 25) A Perturbação Durante a Vida Intrauterina; 26)
Os Animais: Percepções, Manifestações e Evolução; 27)
Reencarnação e as Pesquisas Científicas; 28) Reuniões de
Desobsessão (Momento de Acolher Espíritos em
Desarmonia); 29) Haveria Fetos Sem Espírito?; 30) Trindade:
O Mistério Imposto Por Um Leigo e Anuído Pelos Teólogos;
31) Herculano Pires Diante da Revista Espírita; 32) Allan
Kardec: sua mediunidade e os fenômenos que protagonizou
e 33) A pesquisa de Ernesto Bozzano confirma e
complementa a Codificação Espírita.

Belo Horizonte, MG.


e-mail: [email protected]

276
1 Pesquisa, O pesquisador, link:
https://thumbs.dreamstime.com/b/pesquisador-1847315
.jpg
2 PIRES, Obsessão, o Passe, a Doutrinação, p. 71-72.
3 CARNEIRO (org), No Limiar do Amanhã: Lições de
Espiritismo com Herculano Pires, p. 7.
4 FEESP, Curso Básico de Espiritismo, 1º ano, p. 50.
5 KARDEC, O Livro dos Médiuns, p. 359.
6 KARDEC, Revista Espírita 1860, p. 238.
7 KARDEC, O Livro dos Espíritos, p. 150.
8 KARDEC, Revista Espírita 1863, p. 149-150.
9 KARDEC, O Céu e o Inferno, p. 231.
10 KARDEC, O Livro dos Médiuns, p. 304.
11 KARDEC, O Livro dos Médiuns, p. 282.
12 KARDEC, O Livro dos Médiuns, p. 273.
13 KARDEC, O Livro dos Médiuns, p. 274.
14 DENIS, Depois da Morte, p. 344-345.
15 DENIS, Depois da Morte, p. 351-352.
16 BOZZANO, A Crise da Morte, p. 51-52.
17 BOZZANO, A Crise da Morte, p. 56-57.
18 KARDEC, Revista Espírita 1865, p. 210
19 KARDEC, Revista Espírita 1865, p. 212-213.
20 KARDEC, O Céu e o Inferno, p. 259-260.
21 KARDEC, O Céu e o Inferno, p. 286.
22 MACHADO, Cientistas e Experiências Mediúnicas – Carl
August Wickland, link:
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277
23 WICKLAND, Trinta Anos Entre os Mortos, disponível em:
https://pt.scribd.com/document/365376956/Trinta-Anos-
Entre-Os-Mortos-Carl-a-Wickland. p. 35.
24 MACHADO, Cientistas e Experiências Mediúnicas – Carl
August Wickland, link:
https://www.correioespirita.org.br/secoes-do-jornal/biogr
afias/1837-cientistas-e-experiencias-mediunicas-carl-
august-wickland
25 KARDEC, O Céu e o Inferno, p. 183-184.
26 DENIS, No Invisível, p. 252-253.
27 KARDEC, Revista Espírita 1863, p. 91.
28 KARDEC, Revista Espírita 1864, p. 230-231.
29 KARDEC, Revista Espírita 1865, p. 13-14.
30 KARDEC, Revista Espírita 1865, p. 18.
31 KARDEC, Revista Espírita 1864, FEB, p. 70.
32 KARDEC, Revista Espírita 1865, p. 169-170.
33 KARDEC, Revista Espírita 1866, p. 42.
34 KARDEC, O Livro dos Médiuns, p. 243.
35 KARDEC, O Livro dos Médiuns, p. 329.
36 KARDEC, A Gênese, p. 259.
37 KARDEC, O Livro dos Médiuns, p. 270.
38 KARDEC, Revista Espírita 1868, p. 90.
39 ESPITIRINHAS, 366 – Eu fiz o tratamento, link:
https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/
AVvXsEhOuihjSTv08eK-
H8_5HJ8S4NQZfGPSHbUfUjvm2O2J0yZPGpmqs6VBcc2s
vIZyIzxRnw4V97ui006OPtgxIAerLBFUJt6V1AXQnlaAYQEv
Ggay7pSQBprQIONyKxy1HYPZ_7l9hFkeddDD/w640-
h214/366-fiz-o-tratamento.png
40 KARDEC, Revista Espírita 1862, p. 362.
41 Planta, Sala de reuniões públicas na casa espírita,
baixado da WEB, link não funciona mais.

278
42 PIRES, O Espírito e o Tempo, p. 198.
43 OLIVEIRA, Magnetização mental, disponível em:
https://omedium.amejf.org.br/2021/07/14/magnetizacao
-mental/
44 KARDEC, Revista Espírita 1863, p. 6.
45 KARDEC, Revista Espírita 1863, p. 6.
46 KARDEC, Revista Espírita 1864, FEB, p. 70.
47 KARDEC, Revista Espírita 1864, p. 17.
48 KARDEC, O Evangelho Segundo o Espiritismo, p.
49 KARDEC, Revista Espírita 1867, p. 174-177.
50 Consumo excessivo de bebidas alcoólicas (Portal da
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51 XAVIER, PIRES E ESPÍRITOS DIVERSOS, Diálogo dos
Vivos, p. 34-35.
52 XAVIER, PIRES E ESPÍRITOS DIVERSOS, Diálogo dos
Vivos, p. 222-223.
53 KARDEC, O Livro dos Médiuns, p. 265.
54 KARDEC, O Evangelho Segundo o Espiritismo, p. 370.
55 KARDEC, A Gênese, p. 259.
56 KARDEC, O Livro dos Médiuns, p. 265.
57 KARDEC, O Livro dos Médiuns, item 238, p. 260.
58 LUZ DO ESPIRITISMO, Influência de Espíritos inferiores –
alcoolismo, disponível em:
http://luzdoespiritismo.com/wp-content/uploads/2013/1
1/mesa-de-bar.png
59 TEIXEIRA, Quando a Vida Responde, p. 100-101.
60 KARDEC, O Evangelho Segundo o Espiritismo, p. 102.
61 KARDEC, O Que é o Espiritismo, p. 149.

279
62 KARDEC, O Livro dos Médiuns, p. 414.
63 KARDEC, Revista Espírita 1863, p. 7.
64 Concentrar no estudo, disponível em:
https://www.ufsm.br/app/uploads/sites/391/2020/03/est
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65 PIRES, O Finito e o Infinito, p. 78.
66 UEM, Chico Xavier, Mandato de Amor, p. 205.
67 BBC NEWS BRASIL: Veiga, Chico Xavier: o médium filho
de analfabetos que vendeu 50 milhões de livros,
disponível:
https://www.bbc.com/portuguese/brasil-61975677#:~:t
ext=O%20filho%20de%20um%20vendedor,sempre%20
foi%20atribu%C3%ADda%20a%20esp%C3%ADritos.
68 KARDEC, Revista Espírita 1859, p. 353.
69 KARDEC, Revista Espírita 1860, p. 231-232.
70 KARDEC, O Livro dos Médiuns, p. 364.
71 KARDEC, Revista Espírita 1860, p. 301.
72 KARDEC, Revista Espírita 1862, p. 187.
73 KARDEC, Revista Espírita 1864, p. 308.
74 KARDEC, Revista Espírita 1864, p. 354-357.
75 Nota de Allan Kardec: Conhecemos um senhor que foi
aceito para um emprego de confiança, numa casa
particular, porque era espírita sincero. Entenderam que
as suas crenças eram garantia de sua moralidade.
76 KARDEC, O Livro dos Médiuns, p. 400-401.
77 KARDEC, Revista Espírita 1859, p. 36.
78 KARDEC, Revista Espírita 1860, p. 263-264.
79 KARDEC, Revista Espírita 1860, p. 264-265.
80 KARDEC, Revista Espírita 1862, p. 188.
81 FINDLAY, No Limiar do Etéreo ou Sobrevivência à Morte
Cientificamente Explicada, p. 80-81.

280
82 FINDLAY, No Limiar do Etéreo ou Sobrevivência à Morte
Cientificamente Explicada, p. 84-85.
83 PIRES, O Finito e o Infinito, p. 78.
84 KARDEC, Viagem Espírita em 1862, p. 115.
85 KARDEC, Revista Espírita 1858, p. 325.
86 KARDEC, O Livro dos Médiuns, p. 364-365.
87 KARDEC, Revista Espírita 1860, p. 141.
88 KARDEC, O Livro dos Médiuns, p. 240-241.
89 KARDEC, Revista Espírita 1859, p. 227.
90 KARDEC, Revista Espírita 1862, p. 356-357.
91 KARDEC, Revista Espírita 1862, p. 361-362.
92 KARDEC, Revista Espírita 1863, p. 141-142.
93 KARDEC, O Livro dos Médiuns, p. 146.
94 KARDEC, Revista Espírita 1867, p. 129-131.
95 KARDEC, O Livro dos Médiuns, Segunda Parte, cap.
XXVI, item 291, q. 18, p. 329.
96 DENIS, Depois da Morte, p. 312.
97 FREIRE, Da Alma Humana, p. 132-133.
98 KARDEC, A Gênese, cap. II – Deus, item 24, p. 55.
99 KARDEC, A Gênese, p. 244.
100 SANTOS JUNIOR, Mensagens de Além-túmulo, p. 23-24.
101 KARDEC, Revista Espírita 1867 – FEB, p. 250.
102 KARDEC, Revista Espírita 1867 – FEB, p. 253-254.
103 KARDEC, Revista Espírita 1867 – FEB, p. 254.
104 KARDEC, Revista Espírita 1867 – FEB, p. 273.
105 KARDEC, O Livro dos Médiuns, p. 214-215.
106 KARDEC, O Livro dos Médiuns, p. 307.
107 KARDEC, O Livro dos Médiuns, p. 308.

281
108 KARDEC, O Livro dos Médiuns, p. 365.
109 KARDEC, O Livro dos Médiuns, p. 365.
110 PIRES, O Centro Espírita, p. 66-67.
111 KARDEC, Revista Espírita 1867, p. 182.
112 KARDEC, Obras Póstumas, p. 374.
113 KARDEC, O Livro dos Médiuns, p. 299.
114 KARDEC, Obras Póstumas, p. 63.
115 KARDEC, Revista Espírita 1859, p. 346-347.
116 KARDEC, Revista Espírita 1860, p. 227-228.
117 KARDEC, Revista Espírita 1865, p. 109.
118 KARDEC, Revista Espírita 1865, p. 110-112.
119 KARDEC, Revista Espírita 1865, p. 137-138.
120 KARDEC, Revista Espírita 1867, p. 84-85.
121 Alfred de Musset (1810-1857) foi um dramaturgo, poeta
e novelista francês do período do Romantismo. (fonte:
https://www.pensador.com/autor/alfred_de_musset/)
122 KARDEC, Revista Espírita 1860, p. 191-192.
123 KARDEC, O Livro dos Médiuns, p. 221-222.
124 FRANCO e TEIXEIRA, Diretrizes de Segurança, p. 45.
125 FRANCO e TEIXEIRA, Diretrizes de Segurança, p. 53.
126 XAVIER e VIEIRA, Desobsessão, p. 153.
127 SANTOS JUNIOR, Mensagens de Além-túmulo, p. 52-54.
128 XAVIER E VIEIRA, Desobsessão, p. 21-22.
129 XAVIER E VIEIRA, Desobsessão, p. 25-26.
130 XAVIER E VIEIRA, Desobsessão, p. 29-30.
131 XAVIER E VIEIRA, Desobsessão, p. 33-34.
132 KARDEC, Viagem Espírita em 1862, p. 110.
133 XAVIER e VIEIRA, Desobsessão, p. 57.

282
134 XAVIER e VIEIRA, Desobsessão, p. 201-202.
135 GERMINHASI, Luz Bendita, 78-79.
136 KARDEC, O Livro dos Médiuns, p. 110.
137 KARDEC, O Céu e o Inferno, p. 149.
138 KARDEC, O Céu e o Inferno, p. 151.
139 XAVIER, O Consolador, p. 207.
140 XAVIER, O Consolador, p. 207.
141 KARDEC, Revista Espírita 1867, p. 276.
142 KARDEC, Revista Espírita 1867, p. 276.
143 KARDEC, Revista Espírita 1867, p. 122.
144 KARDEC, Revista Espírita 1867, p. 277.
145 VIEIRA, Conduta Espírita, p. 93.
146 BARBOSA, No Mundo de Chico Xavier, p. 69.
147 KARDEC, O Livro dos Médiuns, p. 295-296.
148 KARDEC, O Livro dos Médiuns, p. 296.
149 KARDEC, O Livro dos Médiuns, p. 296.
150 KARDEC, O Livro dos Médiuns, p. 300.
151 KARDEC, O Livro dos Médiuns, p. 300.
152 KARDEC, A Gênese, p. 259.
153 KARDEC, A Gênese, CELD, p. 352.
154 “No século XIX, o tratamento ao doente mental incluía
medidas físicas como duchas, banhos frios, chicotadas,
máquinas giratórias e sangrias.”, link:
http://www.ccs.saude.gov.br/memoria%20da%20loucur
a/vpc/reforma.html
155 KARDEC, Revista Espírita 1866, p. 41-42.
156 KARDEC, O Livro dos Médiuns, p. 96.
157 KARDEC, O Livro dos Médiuns, p. 269.
158 KARDEC, O Livro dos Médiuns, p. 270.

283
159 KARDEC, Revista Espírita 1864, FEB, p. 40.
160 O Projeto Allan Kardec é fruto de um convênio entre a
Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e a
Fundação Espírita André Luiz (FEAL), cujo objetivo é
permitir o acesso público a centenas de manuscritos
originais de Allan Kardec, que não haviam sido
divulgados.
161 PROJETO ALLAN KARDEC, Solidariedade entre os
Espíritos e os homens – Educação dos Espíritos
(manuscrito de 09.07.1861), link:
https://projetokardec.ufjf.br/item-pt?id=267
162 KARDEC, Revista Espírita 1864, p. 16-17.
163 FREIRE, Da Alma Humana, p. 131.
164 KARDEC, Revista Espírita 1864, FEB, p. 40.
165 KARDEC, Revista Espírita 1864, p. 169.
166 KARDEC, Revista Espírita 1864, p. 333.
167 KARDEC, Revista Espírita 1864, p. 343.
168 KARDEC, Revista Espírita 1865, p. 7-8.
169 KARDEC, Revista Espírita 1866, p. 38-39.
170 KARDEC, Revista Espírita 1867, p. 176.
171 KARDEC, Revista Espírita 1869 – Edicel, p. 41-42.
172 KARDEC, Revista Espírita 1867, p. 238-239.
173 KARDEC, Revista Espírita 1867, p. 239.
174 SILVA NETO SOBRINHO, Os Espíritos Superiores e o
Nosso Livre-arbítrio, link:
https://paulosnetos.net/article/espiritos-superiores-e-o-
nosso-livre-arbitrio-os-ebook
175 KARDEC, O Livro dos Médiuns, p. 305-306.
176 KARDEC, O Livro dos Médiuns, p. 306.
177 KARDEC, O Livro dos Médiuns, p. 308.
178 KARDEC, O Livro dos Médiuns, p. 317.

284
179 KARDEC, O Livro dos Médiuns, p. 331.
180 KARDEC, O Céu e o Inferno, p. 132.
181 KARDEC, Revista Espírita 1858, p. 191.
182 KARDEC, Revista Espírita 1859, p. 179.
183 KARDEC, Revista Espírita 1864, p. 387.
184 DENIS, No Invisível, p. 253.
185 KARDEC, Revista Espírita 1859, p. 239.
186 KARDEC, Revista Espírita 1860, p. 103.
187 KARDEC, Revista Espírita 1860, p. 130.
188 KARDEC, Revista Espírita 1862, p. 329-330.
189 KARDEC, Revista Espírita 1862, p. 331.
190 KARDEC, Revista Espírita 1865, p. 174.
191 KARDEC, Revista Espírita 1865, p. 379.
192 KARDEC, O Céu e o Inferno, p. 298.
193 KARDEC, O Céu e o Inferno, p. 326-327.
194 LHOMME, O Fenômeno das Mesas Falantes, p. 39-40.
195 KARDEC, Revista Espírita 1863, p. 139.
196 KARDEC, Revista Espírita 1865, p. 8.
197 N.T.: Alguns comunicantes pensam encontrar-se em um
julgamento e temem os participantes da reunião.
Cumpre evidenciar ao comunicante que ele não está
sendo julgado. Para tanto se faz mister que as nossas
atitudes sejam sempre a do irmão que procura socorrer
e esclarecer, porque sebe e sente em si mesmo as
necessidades daquele que sofre.
198 SCHUBERT, Obsessão/Desobsessão: Profilaxia e
Terapêutica Espíritas, p. 141-142.
199 AMUI, O Que é Evangelização dos Espíritos, p. 26.
200 AMUI, O Que é Evangelização dos Espíritos, p. 27.
201 AMUI, O Que é Evangelização dos Espíritos, p. 27.

285
202 KARDEC, O Livro dos Médiuns, p. 173.
203 KARDEC, Revista Espírita 1859, p. 5.
204 KARDEC, O Livro dos Médiuns, p. 268.
205 N.T.: Veja-se O Livro dos Médiuns, Segunda parte, cap.
XXIII, Obsessão; Revista Espírita, fevereiro e março de
1864; abril de 1865: exemplos de curas de obsessões.
206 KARDEC, O Evangelho Segundo o Espiritismo, p. 372.
207 KARDEC, O Livro dos Médiuns, p. 269.
208 DENIS, Depois da Morte, p. 352.
209 KARDEC, O Livro dos Médiuns, p. 302.
210 Filmes – E o vento levou e Ghost, link:
https://i.pinimg.com/736x/14/99/7d/14997dff9df64a5c9
14e422e9817cb90.jpg e
https://http2.mlstatic.com/D_NQ_NP_2X_931886-
MLB30873955123_052019-F.webp
211 JOSEFO, História dos Hebreus, p. 159.
212 Bíblia de Jerusalém, p. 412.
213 KARDEC, Revista Espírita 1864, p. 261-262.
214 KARDEC, Revista Espírita 1869, p. 92-93.
215 WIKIPÉDIA, Rossini, disponível em:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Gioachino_Rossini
216 DENIS, No Invisível, p. 312.
217 FINDLAY, No Limiar do Etéreo ou Sobrevivência à Morte
Cientificamente Explicada, p. 84-85.
218 PIRES, O Espírito e o Tempo, p. 63.
219 AMUI, O Que é Evangelização do Espírito, p. 45.
220 Link: https://www.fedf.org.br/Noticias/quando-arte-e-
mediunidade-se-convergem-para-socorrer-amparar-e-
sensibilizar-coracoes
221 MARTINS, A Obsessão e Seu Tratamento Espírita, p. 84.
222 KARDEC, Revista Espírita 1862, p. 358-359.

286
223 KARDEC, Revista Espírita 1863, p. 2-3.
224 KARDEC, Revista Espírita 1863, p. 36.
225 KARDEC, Revista Espírita 1863, p. 139.
226 Esta foi a designação adotada para o Espírito que
provocava fenômenos de efeitos físicos (ruídos) numa
pequena casa perto de Castelnaudary.
227 KARDEC, Revista Espírita 1860, p. 60-61.
228 KARDEC, A Gênese, p. 259.

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