HOJE
SALVÁMOS UM
SARAMUGO
Cofinanciado por:
Fundo de Coesão
Hoje salvámos um Saramugo. Vou contar-te como foi.
É verão
e quando estou de férias
passo o dia no campo
com os meus pais,
a salvar animais e plantas.
É que
os meus pais são
biólogos.
Tem feito muito calor no Alentejo.
Quando faz muito calor as ribeiras começam a secar.
Por isso, esta manhã
E, quando as ribeiras saímos de casa muito cedo
começam a secar, para irmos ver como estavam
os peixes ficam em apuros. as ribeiras do Guadiana.
Geralmente oiço a água a correr na ribeira quando estamos a chegar.
Gosto Mas nesta manhã a água não corria.
de ouvir a água a correr. E ficámos preocupados.
Costumo sentar-me Da ribeira já só sobravam poças
na margem da ribeira de água por aqui e ali,
de olhos fechados umas maiores, outras mais pequenas.
a imaginar o que fazem
todos os animais Era nelas que agora se reuniam
todos os animais da
que lá vivem.
ribeira.
Nestas poças estavam presos saramugos,
uns peixinhos pequeninos e muito raros
que só existem nas ribeiras do Guadiana.
Nas poças estavam saramugos,
mas não apenas saramugos.
Com eles estavam
achigãs, peixes-gato
e percas-sol
e isso não era bom.
Se eu fosse um saramugo
estes seriam os peixes
com os quais eu não desejaria estar fechada
numa poça de água.
É que esses peixes são grandes
e muito agressivos
e nem são do nosso país.
Chegaram aos nossos rios
trazidos de outros lugares do mundo
por pessoas que não sabiam
que eles podiam vir a comer
os peixes que sempre aqui viveram.
Não havia tempo a perder. Eles tinham de salvar os saramugos
Era preciso salvar os saramugos! que estavam presos nas pequenas poças.
Já não era a primeira vez É que estas poças podiam vir a secar
que os meus pais salvavam por completo por causa do calor.
saramugos, mas esta era
a primeira vez
que eu estava a assistir.
Mas nas poças grandes, Que dia cansativo.
que não iriam secar, também havia Foi difícil, mas os meus pais conseguiram fazer tudo.
muito a fazer. Era preciso tirar de lá Teria sido melhor se aqueles peixes exóticos
os achigãs, os peixes-gato e as percas-sol nunca tivessem sido trazidos
para que estes peixes não comessem para o nosso país.
os saramugos.
Não consigo parar de olhar para os saramugos que os meus pais salvaram.
Até a chuva encher de novos as ribeiras e
fazê-las correr com aquele som que eu gosto
de ouvir quando me sento de olhos fechados São tão bonitos.
na sua margem a imaginar os peixes
e os outros animais que lá vivem,
vão passar o resto do verão
num grande aquário ao ar livre,
com vegetação e comida.
Depois, quando a chuva voltar a encher as ribeiras do Guadiana,
os saramugos já poderão voltar para lá, a sua verdadeira casa, na natureza.
Enquanto a chuva não regressa, os meus pais estão a melhorar
a casa dos saramugos, as ribeiras,
para que eles tenham mais abrigos
quando a água voltar a correr.
Eu
venho com eles.
Não deve ser fácil ser Saramugo e ter de suportar tantas ameaças.
Oh não, construíram mais barragens e açudes.
E agora
estão a cortar
as árvores e os arbustos das
Ui, margens das ribeiras.
e agora vêm
tirar as pedras e as areias
do fundo da ribeira.
A Estragam a casa
ribeira tem tão pouca água
dos saramugos.
e ainda há quem esteja a levar mais água.
E estão a poluí-la.
Vêm aí pescadores que pescam tudo,
e também os peixes que não devem.
Felizmente existem pessoas
como os meus pais que
ajudam os rios
e as ribeiras e os peixes
do nosso país.
Foge,
Não perturbar
Saramugo, os animais,
foge. não poluir os rios
e poupar água.
Estou preocupada por existirem animais exóticos em Portugal.
E não são só animais, também há plantas.
Foram trazidos por pessoas Mas fazem.
que não sabiam que estes podiam fazer mal Ocupam as suas casas, comem o seu alimento
aos animais e às plantas que já cá viviam. e até os comem a eles.
Nunca se sabe todo o mal
que podem vir a fazer.
Nunca mudes animais ou plantas silvestres de local nem os leves para a tua casa.
E nunca leves para a natureza os animais e as plantas que tens na tua casa.
Nunca dá bom resultado,
Eles só são felizes na natureza,
mesmo que pareça bom para eles!
a sua casa.
O saramugo é um peixe muito especial, para além de ser único no mundo.
Os saramugos são muito pequeninos, com apenas 7 cm, por isso vivem
em cardume, desde que nascem, para se defenderem dos animais maiores.
Os saramugos Alimentam-se de algas
têm poucos filhos e vivem e de pequenos bichos.
apenas 3 anos.
Habitam em ribeiras de água límpida,
com pedrinhas no fundo e plantas na água
e nas margens.
Às vezes, no inverno e na primavera,
sento-me na margem de uma destas
ribeiras do Guadiana,
de olhos fechados, a ouvir
a água a correr.
Ponho-me a imaginar
o que fazem os peixes que lá vivem,
os que sempre lá viveram,
os que são do nosso país.
Penso nos saramugos,
nos barbos, bogas, cumbas,
escalos, bordalos, verdemãs
e cabozes de água doce.
Conheço todos.
Nas ribeiras que desaguam no rio Guadiana vive um peixe raro e muito especial.
É prateado e um pouco cor-de-rosa. Corpo estreito, olhos grandes.
Já sabes o seu nome.
É o Saramugo.
É muito importante, bonito,
diferente de todos os outros peixes
e está em perigo de desaparecer.
Precisa de ajuda
Há tanto
para que nunca deixe de existir
nas ribeiras do Guadiana,
a fazer.
nem ele nem os outros
peixes do nosso país.
Agora fecha o livro e diz:
O que se pode fazer
para salvar
o Saramugo?
Edição – ©ICNF,I.P. / Gabinete de Assessoria e Comunicação, Lisboa, 2021
Ilustrações – Pedro Benvindo
Texto – Paula Abreu
Design gráfico – António Tavares