Livro - IC - PIBIC - Vol. 3
Livro - IC - PIBIC - Vol. 3
FACULDADE COSMOPOLITA
EDITORIAL
PRESIDENTE
JianZhong Yang
DIRETORA FINANCEIRA
Edneya Lima
DIRETORA ACADÊMICA
Ana Claúdia Hage
COORDENADOR DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA
Luiz Fábio Magno Falcão
BIBLIOTECÁRIA REVISORA
Pâmela Whellen Jerônimo da Silva
1
APRESENTAÇÃO
Os organizadores.
2
SUMÁRIO
3
EDUCAÇÃO EM SAÚDE COM GESTANTES E PROFISSIONAIS DE SAÚDE ACERCA DO HTLV
NA ATENÇÃO PRÉ-NATAL ........................................................................................................................... 128
A REFORMA TRABALHISTA (LEI 13.467/17) E SEUS IMPACTOS NO ACESSO À JUSTIÇA ......... 153
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EFEITOS DA IMPERMEABILIZAÇÃO DO SOLO NA DRENAGEM URBANA: ESTUDO
DE CASO DO CANAL DA TV. TRÊS DE MAIO, NA CIDADE DE BELÉM-PA
INTRODUÇÃO
A cidade de Belém-PA apresenta uma grande rede natural de drenagem urbana, com bacias
hidrográficas que cortam vários bairros da cidade, a exemplo da BH da Estrada Nova. Mas, apesar
dessa riqueza natural, sofre com alagamentos constantes (SADEK, 2011).
Segundo dados do INMET (2018), os índices pluviométricos em Belém chegam a 3000 mm/ano.
É muita água para drenar, numa cidade que possui parte do seu território em áreas rebaixadas e
sob intensa urbanização, Figura 1.
Para Oliveira, Soares e Da Silva (2021), a urbanização, apesar de necessária, altera o ciclo
hidrológico à medida que suprime a cobertura vegetal, impermeabilizando o solo. Seus efeitos
imediatos são: aumento do escoamento superficial e consequente diminuição da taxa de
infiltração do solo (JUSTINO, DE PAULA e PAIVA, 2011).
Conhecer e caracterizar áreas propensas a alagamentos é essencial para subsidiar tanto o poder
público, na adoção de políticas de saneamento básico e ocupação territorial, quanto conscientizar a
população para os riscos dos alagamentos e inundações urbanas.
5
OBJETIVOS
Caracterizar a Sub-Bacia da Tv. Três de Maio em Belém-PA, estimando sua vazão superficial e o
tempo de transbordamento do canal, considerando fatores geográficos e antrópicos que
potencializam alagamentos e inundações urbanas.
MÉTODOS
A delimitação da érea de estudo baseou-se no Relatório de Impacto Ambiental do Plano de
Recuperação da bacia hidrográfica da Estrada Nova (PROMABEN), que a dividiu em quatro sub-
bacias, dentre as quais, selecionou-se a do canal da Tv. Três de Maio, abrangendo os bairros da
Condor, Guamá e São Brás, Fig. 2 (DA SILVA et al., 2015).
Cotas topográficas máximas e mínimas, e as métricas (extensão, área etc.), são valores numéricos
inicialmente necessários para a caracterização de uma bacia hidrográfica. Nessa pesquisa, os
dados foram obtidos no portal da Prefeitura de Belém (PMB, 2022).
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Os valores obtidos foram utilizados nas Equações 2 a 7, para caracterização da sub-bacia
hidrográfica e cálculo da vazão superficial, Tabela 1 (PALARETTI, 2012).
Índice de
1,00 ≥ Kf > 0,75 = alta propensão a grandes enchentes
&
conformação 𝐾' = (! 3 0,75 ≥ Kf > 0,50
enchentes
= tendência mediana a grandes
Declividade
A declividade influencia na velocidade do escoamento
∆,
equivalente 𝐼)* = 4 superficial:
( Quanto maior a declividade, maior o escoamento
(Ieq) superficial e,
Consequentemente, menor a infiltração no subsolo.
Densidade de Dd < 0,50 = qualidade de drenagem pobre
( 0,50 ≤ Dd < 1,50 = qualidade de drenagem regular
drenagem 𝐷- = & 5 1,50 ≤ Dd < 2,50 = qualidade de drenagem boa
2,50 ≤ Dd < 3,50 = qualidade de drenagem muito boa
(Dd) Dd ≥ 3,50 = qualidade de drenagem
excepcional
Intensidade
A equação das chuvas intensas fornece um valor em
da chuva em ./00×2 ",! mm/h em
uma hora, 𝑖 = (45.0)",$% 6 Função do tempo de retorno em anos (T) e da duração
em minutos (t) dessa chuva intensa.
para Belém-
PA (i)
Vazão O método racional fornece o volume em m³ para
#×7×& pequenas bacias
superficial 𝑄= 7 Hidrográficas, relacionando a precipitação com o
/,9 coeficiente de
(Q) Deflúvio.
7
Tabela 2 - Coeficiente de Deflúvio (C), conforme a urbanização da bacia hidrográfica.
Zonas Valores
de C
De edificação muito densa: partes centrais da cidade densamente construídas com ruas e
0,7 a 0,95
calçadas pavimentadas.
De edificação não muito densa: partes adjacentes ao centro, de menor densidade, com ruas e
0,6 a 0,7
calçadas pavimentadas.
De edificação com pouca superfície livre: partes residenciais com construções cerradas e
0,5 a 0,6
ruas pavimentadas.
De edificação com muitas superfícies livres: partes residenciais tipo cidade-jardim, ruas
0,25 a 0,5
macadamizadas ou pavimentadas.
De matas, parques e campos de esporte: partes rurais, áreas verdes, superfícies arborizadas e
0,05 a 0,2
sem pavimentação.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os dados das métricas da sub-bacia hidrográfica e do canal da Tv. Três de Maio, obtidos do portal
da Prefeitura de Belém, são apresentados na Tabela 3.
Na tabela 4, estão compilados os resultados dos cálculos para cada parâmetro, sendo que a vazão
superficial foi calculada para dois cenários: um real e outro nativo.
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C=0,95 35,67 m³/s seria numa área não
urbanizada, nativa.
Q2 para ambiente nativo 0,<×9=,9×.
𝑄(.) = = Q(2) = 3,75
C=0,1 /,9
m³/s
3,75
Fonte: Autor (2022)
Como calculou-se a vazão superficial para dois cenários distintos, encontraram-se dois tempos de
transbordamento para o canal, através da Eq. 1:
&& ×( /,:×<,9×<0'
𝑡2@(<) = A%
= /;,9=
= 2ℎ 𝑒 32 𝑚𝑖𝑛
&& ×( /,:×<,9×<0'
𝑡2@(.) = = = 24ℎ 𝑒 10 𝑚𝑖𝑛
A! /,=;
Analisando os resultados para uma chuva intensa de 67,6 mm/h com tempo de retorno de 20 anos,
percebe-se claramente o impacto da urbanização e seus efeitos na capacidade drenante da sub-
bacia hidrográfica em questão:
§ A capacidade volumétrica do canal não suporta o volume precipitado e transborda em cerca de 2,5
horas. Caso a chuva não cesse, após esse tempo inicia-se a inundação urbana da área. Vê-se que
num cenário não urbanizado, ou seja, nativo, o tempo de transbordamento seria de 24h, ou um dia,
§ A vazão superficial na área da sub-bacia hidrográfica é quase dez vezes maior do que seria numa
área não urbanizada (cenário 2); desta forma o volume precipitado avança rapidamente para as
cotas mais baixas e se acumula, iniciando o alagamento urbano na área.
Futuros estudos são extremamente desejáveis a fim de se ampliar esta capacidade, talvez com
redimensionamento de tubulações e galerias ou ampliação da calha do canal.
CONCLUSÃO
A sub-bacia hidrográfica do canal da Tv. Três de Maio é natural e altamente propensa a grandes
enchentes, possuindo potencial de drenagem regular, visto que sua declividade é alta, aumentando
o escoamento superficial, cuja vazão foi estimada em 35,67 m³/s acelerando ainda maiores
alagamentos.
Os cálculos mostram que devido à intensa urbanização da área, um evento extremo com chuvas
intensas de 67,6 mm/h provoca o transbordamento do canal em aproximadamente 2,5h
possivelmente inundando a área; ao passo que se a mesma área ainda contasse com solo nativo, o
transbordamento aconteceria pelo menos após um dia.
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Assim, em virtude da quase total impermeabilização, conclui-se que a área de solo natural
restante, pouco contribui para a drenagem de águas pluviais, onde apenas o canal existente,
concentra os altos volumes de chuva comuns na cidade de Belém.
Não há como modificar os aspectos físicos da cidade: áreas urbanas localizadas em cotas baixas e
pluviosidade alta o ano inteiro. Porém, podemos melhorar ou piorar os efeitos dessas
características.
A ausência da gestão e gerenciamento de resíduos sólidos, a manutenção tardia dos canais por
parte do poder público, a insensibilidade da população quanto à educação ambiental e a não
preservação dos espaços nativos, como áreas verdes são exemplos de agravantes da situação.
REFERÊNCIAS
DA SILVA, Hully Cristina Silva et al. Ações ambientais no controle de inundações urbanas
em belém (PA). Revista eletrônica Educação Ambiental, número 54/2015. Disponível em:
https://www.revistaea.org/artigo.php?idartigo=2229. Acesso em: 15 jul. 2022.
10
___________. Relatório de Impacto Ambiental do Programa de Recuperação Urbana e
Ambiental da Estrada Nova (PROMABEN). Belém: Engesolo Engenharia Ltda./PMB, 2007.
Disponível em: http://www.belem.pa.gov.br/licitacao/licitacao/consulta. Acesso em: 21 jun. 2022.
11
INTEFERÊNCIA DOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO E DA CIBERDEMOCRACIA NA
CONDUÇÃO DA AÇÃO PENAL 470
INTRODUÇÃO:
O artigo tem a proposta de analisar a condução judicial do Caso da Ação Penal 470, ao considerar
que houve vazamento de informações sigilosas na condução do processo feito pelo ex-juiz Sérgio
Moro, como tambémhouve a divulgação de notícias nas redes sociais.
OBJETIVOS
Diante disso, requer analisar como houve a interação entre o ex-juiz Sérgio Moro e os meios de
comunicação nos vazamentos de dados do processoa fim de estabelecer qual seria a
responsabilização civil dos periodistas.
Por outro lado, é também importante avaliar que com o avanço da tecnologia houve significativa
transformação na comunicação, onde o público leitor passa a ser um sujeito ativo nos debates
democráticos dentro do espaço virtual. De fato, houve acentuada difusão de notícias em redes
sociais do Caso Lava Jato e a produção de fake news, que também foi fator de contribuição para a
formação da opinião pública. Ou seja, avaliar como as interações das redes sociais se relacionam
no fluxo de comunicação na ciberdemocracia da era digital.
MÉTODO
A pesquisa se estrutura por meio da abordagem dedutiva dialética de dispositivos legais,
bibliográfica de livros, artigos e blogs de internet. O texto assinala o tratamento interdisciplinar do
saber mediante a avaliação crítica norteada pelo Direito Constitucional, Direito Penal, Direito
Processual Penal, Direito Internacional e Teoria da Comunicação, situados na pesquisa.
1
Doutor e Mestre em Direito pela Universidade Federal do Pará. Especialista em Direito Civil com ênfase ao Direito do Consumidor. Professor de
universitário da Faculdade Cosmopolita e da Universidade da Amazônia (UNAMA). Advogado. E-mail: [email protected]
2
Graduando no curso de Direito da Faculdade Cosmopolita.
3
Graduando no curso de Direito da Faculdade Cosmopolita.
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RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Os profissionais das empresas de comunicação devem respeitar o código de ética profissional dos
jornalistas e que deve haver um trabalho colaborativo e necessário entre as plataformas virtuais de
notícias e o sistema legal estatal, por meio da obediência de princípios jurídicos elencados pela
Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH).
A operação Lava Jato foi um verdadeiro espetáculo a céu aberto, haja vista que “houve a presença
das diligências, acordos de delação premiada e de buscas e apreensões que não priorizaram o
sigilo no curso da investigação” (CRISPINIANO, 2019, online).
A crítica do Caso Lava Jato consiste no fato de que a CartaConstitucional de 1988se firmapor
meio de ditames do sistema acusatório, a qual possui como característica fundamentala separação
entre a função de acusar, defender e julgar, ou seja, separa tais papéis em pessoas distintas dentro
do processo judicial.
De acordo com Alencar e Távora (2016, p. 57), o sistema acusatório é o modelo adotado no Brasil,
onde o Ministério Público possui a função privativa de promover a ação penal, de acordo com o
art. 129, I da Constituição Federal (CF) de 1988.
O órgão julgador deve ser dotado de imparcialidade, pois o sistema de apreciação de provas é o
livre convencimento motivado, sendo este aspecto relevante para diferenciar o sistema acusatório
com relação ao modelo inquisitorial. Para Alencar e Távora (2016), não há só a separação dos
sujeitos processuais, mastambémo magistrado possui o papel de ser, por excelência, o gestar das
provas.
Nesse contexto, deverá ser observado que no Novo Código de Processo Civil (NCPC)ocorre a
supressãodo termo “livre” presente pela expressão “Livre convencimento motivado”, positivado
no art. 371. Nesse dispositivo legal é assinalado que o juiz informará as razões que o convenceram
à tomadade decisão, pois estasdeverãoser apresentadas de forma clara e concisa. Em outras
palavras, a legislação aponta que a atividade jurisdicional do juiz possui limites, em virtude de o
ato do magistrado fundamentar a decisão e não poder conter elementos vagos e imprecisos.
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Outro elemento que merece destaque de análise no Caso Lava Jato é a midiatização por meio da
exposição processual que o magistrado Sérgio Moro realizou na condução da marcha processual.
Notou-se, por intermédio da mídia nacional, que na Operação Lava Jato o juiz Sérgio Moro
assumiu posição antagonista frente aos acusados, sobretudocom relação ao ex-presidente Luiz
Inácio Lula da Silva. Na verdade, “o problema da conduta judicante é que o juízo assumiu a
postura, no processo judicial, que caberia ao Ministério Público, pois cabe ao parqueto papel de
investigação e de acusação” (CRISPINIANO, 2019, online).
Dessa forma, deveria ser declarada a suspeição do magistrado, conforme disposto no artigo 245, I
do Código Civil de 2002 (CC/02) e no art. 254, I do Código de Processo Penal (CPP). Por fim,
como consequência processual deveria ser declarada a nulidade absoluta, nos termos do art. 564, I
do CPP: “Art. 564. A nulidade ocorrerá nos seguintes casos:I - por incompetência, suspeição ou
suborno do juiz. [...]” (BRASIL, 1941, online).
Nesse sentido, fixou-se o entendimento na doutrina de direito brasileiro, que não são aproveitáveis
as provas obtidas por meios ilegais, devendo elas ser desentranhadas do processo,de acordo com o
art. 157 do CPP e o art. 5°, inciso LVI da CF/88.
Uma vez observada a presença da incompetência do juiz devido aos diversos motivos já
mencionados, as provas produzidas pela parte julgadora não poderiam servir e as ações daquele
juízo não poderiam produzir efeitos. Além disso, foi notada a interferência da mídia nas
investigações (CRISPINIANO, 2019, online).
A participação dos meios de comunicação no Caso em epígrafe se situa no fato dos veículos
noticiosos proporcionarem o aspecto da formação da opinião pública. McCombs (2009, p. 20)
assevera que muitas percepções da realidade são frutos de interpretação de fatos que são
implantados na mente do público por meio de veiculação de elementos externos.
É possível ilustrar mediante a alegoria da caverna formulada por Platão, haja vista que “na
atualidade as pessoas compartilham um mundo emque acreditam estar segurase bem informadas,
mas, na verdade, as imagens postadas diante delas podem ser apenas sombras, por serem
caracterizadas na apresentação de fragmentosinterpretados da realidade” (McCOMBS, 2009, p.
20).
14
Segundo Lippmann (1922, p. 20), a comunicação difundida pelos canais de notícias possui a
capacidade de produzir efeitos no processo comunicacional ao criar interferências na percepção do
público com relação a determinada informação.
Para McCombs (2009, p. 21), a Teoria da Agenda consiste no fato de que os meios de
comunicação não apenas definem quais serão as agendas temáticas assinaladas como prioridade,
como também a construção da percepção das notícias perante o público, por exemplo: assuntos de
dano ambiental, corrupção, segurança pública, inflação, economia, desigualdade social, dentre
outros.
Em outras palavras, é questionada a capacidade de que o público leitor possa decidir de modo
autônomo no que diz respeito aos conteúdos de informações veiculados pelos meios de
comunicação. Nesse sentido, a formação da opinião pública começa ainda dentro das tomadas de
decisões dos corpos editoriais na condução da gestão das notícias.
Para Cohen (1963, p. 13), “tais meios de circulação de dados, ainda que não sejam capazes de
fazer o público replicar tudo o que está sendo noticiado, possibilitam observar o alcance ao seu
objetivo quando conseguem determinar o que o público deve pensar”. Desse modo, é estabelecida
a agenda de discurso e a condução da reflexão do público.
Destaca-se que foi Lippmann (1922, p. 20) que “vislumbrou a idéia de agendamento nas etapas de
constituição da informação, tendo em vista a observação que a mente dos consumidores de
informações era conduzida e influenciada para provocar distorções da percepção da realidade”.
Então, como foi à influência dos meios de comunicação no processo de formação da opinião
pública no Caso Lava Jato? O trâmite processual deve respeitar os meios de produção de provas e
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o devido processo legal. O processo judicial tem a sua ritualística, o que demanda tempo para que
haja o amadurecimento da lide dentro da disputa judicante. Ocorre que, a mídia possui outra
velocidade na divulgação de suas informações que é consideravelmente mais rápida em
comparação ao tempo da condução do processo jurídico.
Esta espetacularização judicial violou os direitos fundamentais dos acusados, o que provocou a
posterior absolvição do ex-presidente Lula, isto é, observou-se o descumprimento do direito de
defesa dos réus porque não foram apreciadas as provas de forma adequada e adstrita unicamente
às normas do direito brasileiro.
No caso das investigações e dos processos envolvendo o ex-presidente Lula, nota-se, de início, o
descumprimento do devido processo legal pelo fato de o ex-juiz Sérgio Moro ter realizado
vazamentos seletivos do processo e proferido diversas palestras no Brasil manifestando o seu
pensamento político e jurídico em torno do Caso Lava Jato. O magistrado obteve ampla
visibilidade midiática, que explorou fortemente o tema da corrupção. Nesse cenário, foi produzido
um ambiente de espetacularização midiática e de punibilidade em que não respeitou os
regramentos constitucionais.
Por fim, o ex-presidente Lula foi citado em 26 processos, dos quais, mais tarde foram anulados,
rejeitados ou arquivados, pondo em dúvida a credibilidade de operações ligadas a Lava Jato nos
seguintes processos, como:
Caso Triplex Guarujá, Caso do Sítio em Atibaia, Tentativa de reabertura ao Caso do Sítio de
Atibaia, Caso do Terreno do Instituto Lula, Caso Quadrilhão do PT, Caso Quadrilhão II, Caso
Delcídio, Caso Palestras do Lula, Caso da Lei de Segurança Nacional, Caso do filho de Lula
(touchdown), Caso do irmão de Lula, Caso do sobrinho de Lula, Caso Invasão do Triplex, Caso
Carta Capital, Caso MP 471, Caso da Guiné, Caso BNDES Angola, Caso Costa Rica Leo Pinheiro,
Segunda tentativa de reabrir o Caso Sítio de Atibaia, Caso da sonegação de impostos sobre imóveis
alheios, Caso dos filhos de Lula, Arquivamento do Caso Triplex do Guarujá, Suspensão do Caso
Caças Gripen, Arquivamento do Caso “Obstrução de Justiça”, Arquivamento do Caso “ministrão”
(MORO, 2022, online).
Como se não bastasse, em 2020, a defesa de Lula recebeu a informação do comitê de Diretos
Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU). O órgão deferiu o pedido da defesa de Lula,
16
o qual tratava da violação de quatro dispositivos (Arts. 9°,14,17 e 25) presentes na convenção
internacional de direitos civis e políticos.
Cabe avaliaras possíveis situações de vazamento de informações sigilosas pela imprensa no Caso
Lava Jato na construção da narrativa midiática em que oferecia ao público dados sem
comprovação da veracidade dessas informações obtidas. Na realidade, houve a seletividade e a
parcialidade na condução aos investigados durante a condução dos protocolos processuais
executados.
Sendo assim, torna-se necessário examinar o aspecto da responsabilidade civil dos jornalistas no
âmbito dessas divulgações de informações relacionadas a uma operação judicial sigilosa, onde
devem ser considerados os seguintes aspectos: “(I) quando o vazamento das informações para o
jornalista ocorre de forma completa e (II) quando o vazamento se apresenta fragmentado, sofrendo
uma seletividade estratégica antes de ser tornado público” (YOUNG; VAZ; SOUZA, 2020, p.
252).
A partir disso, Young, Vaz e Souza (2020, p. 253) “buscam avaliar a colisão entre bens jurídicos,
como: os direitos e garantias fundamentais; a liberdade de expressão; o direito de informação e a
liberdade de imprensa”, pois com a publicização dos dados dos fatos investigados no processo
acabou por preponderar o interesse do público a ser informado em detrimento dos interesses
individuais e demais respeito às garantias processuais individuais.
Dessa forma, é pertinente analisar se há responsabilização dos jornalistas que obtiveram acesso ao
caso por meio de vazamentos de notícias sigilosas. Houve a manipulação de informações na
divulgação estratégica de dados na operação Lava Jato, pois há marcação de claro conflito entre a
liberdade de imprensa na atuação jornalística e a proteção do devido processo legal na condução
do processo investigativo.
17
De acordo com a Constituição Federal de 1988, o direito à liberdade de imprensa assegura
garantias ao direito de informar e de ser informado. A base Constitucional estabelece no artigo 5º,
IV e no artigo 220, que nenhuma lei pode conter dispositivo que venham a constituir embaraço à
liberdade de informação jornalística em qualquer veículo de comunicação social, previsto “como
garantia a tutela das liberdades individuais do artigo 5º, IV, V, X, XIII e XIV, todos, da CF/88”
(BRASIL, 1988, online).
Segundo Young, Vaz e Souza (2020, p. 256), a inviolabilidade de informações sigilosas não é
usualmente observada ao considerar que casos de divulgação de informações sigilosas sempre
foram comunicados à mídia. É cediço que o ex-juiz Sérgio Moro foi o agente de vazamento das
informações, no entanto o polêmico caso também contou com outras divulgações de informações
em que há a dificuldade de identificar qual foi o agente que forneceu os dados confidenciais.
Young, Vaz e Souza (2020, p. 266) assinalam que “os parâmetros de conduta à atividade
jornalística devem verificar os procedimentos de suas fontes, visto que esse elemento é
fundamental para ponderar no confronto dos interesses tutelados entre a liberdade de informação
jornalística e os direitos fundamentais” insculpidos no ordenamento jurídico. Portanto, a ofensa
dos limites estabelecidos no sistema legal ocasiona o dever de indenizar na atuação da atividade
midiática.
18
Vale lembrar que no Caso Lava Jato houve a ampla difusão de informação e de dados por parte de
blogs e redes sociais. Esses meios de comunicação não são constituídos por jornalistas, pois para
ser periodista tem que ser um profissional que exerce a liberdade de livre circulação de dados de
modo habitual, mediante remuneração, trabalha a partir de um corpo editorial e possui o diploma
de graduação.
Segundo Paiva (2013, p. 4), “na atualidade as redes sociais têm a capacidade de monitorar
imagens e discursos com relação aos acontecimentos públicos”. Nessa direção, Sodré (2002, p.
19
161) assinala que “nasce o chamado ethos midiatizado, em razão de envolver as instâncias de
“veiculação”, “cognição” e “vinculação”, pois ocorrena sociedade a difusão, compreensão e
compartilhamento de informações” estabelecidas pelas mídias sociais.
De acordo com Paiva (2013, p. 17), “há clara relação entre as ações comunicativas nas redes
sociais e no campo jurídico, visto que concorrem em aspectos da hermenêutica, semiológica e da
pragmática discursiva”, ao estabelecer sentidos conversacionais dentro do Direito. No Caso Lava
Jato, as redes sociais possuem força vital na direção do contínuo fluxo da constituição e
colaboração no estabelecimento do poder-saber do mundo cibernético.
Para Paiva (2013, p. 15), “é claro a influência das redes sociais na interação no Caso Lava Jato,
em razão da sua velocidade e da profusão de conteúdos disseminados na rede global”. Os usuários
dessas redes sociais assumem papel de julgadores da ação, o que ocasiona uma espécie de
“dosimetria da pena” da era digital:
A ‘dosimetria da pena’ que decide o destino dos réus do Caso Lava Jato nos remete
à dimensão do cálculo, da matemática e contabilidade dos dados. Mas não é este o
nó górdio da era da informação? Quem tem o poder de medir, pesar e julgar? Quais
os critérios razoáveis para uma apreciação equilibrada dos dados, das provas, das
evidências? Como é possível equilibrar uma hermenêutica histórica, uma
interpretação fidedigna dos acontecimentos e a partir daí exercer a faculdade de
julgar? Qual a metodologia a ser empregada sem prejuízo para os atores sociais, os
réus e os cidadãos? Como analisar o fenômeno político, a atuação do poder do
judiciário e os ‘sistemas de resposta’ no espaço público informacional? [...] Na era
da comunicação numérica e digitalização das conversações políticas mediadas pela
tecnologia, qual o lugar dos discursos políticos, jurídicos e sócio participativos?
20
Como mensurar os efeitos de verdade promovidos pelos feixes discursivos sobre o
julgamento em circulação nas mídias e redes sociais? (PAIVA, 2013, p. 15-16).
Para solucionar o problema da disseminação de informações inverídicas nas redes sociais ou fake
news, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) propõe que as plataformas digitais
devem respeitar seis princípios, sendo eles: acesso universal, não discriminação, pluralismo,
privacidade, excepcionalidade dos limites à circulação de idéias e informações e, por fim,
neutralidade da rede. Esse arcabouço princípio lógico tem o objetivo de estabelecer uma relação
de mútua colaboração entre o sistema legal e as plataformas digitais.
CONCLUSÃO
Conclui-se que a liberdade de imprensa é absolutamente necessária para o bom desenvolvimento
da democracia, pois permite a livre circulação no espaço público de interesses da sociedade. A
mídia é veículo que conduz a informação na esfera pública, onde os sujeitos podem se informar.
No entanto, é visto por meio da Teoria da Agenda que a imprensa possuia capacidade de
estabelecer a agenda pública, ou seja, de fixar quais assuntos serão vistos como prioridade para a
coletividade e como estes serão interpretados. Em outros termos, os meios de comunicação detêm
o poder de convencimento social, de formar opinião pública acerca de fatos veiculados no espaço
público.
Quando ocorreu a publicização de informações sigilosas no processo judicial por meio do ex-juiz
Sérgio Moro, possibilitou-se a interferência dos canais de comunicação, que possuem o tempo da
condução do fluxo de informação mais célere em comparação ao tempo da marcha processual.
Com informações mais céleres da imprensa, tende-se a realizar pressões por justiça dentro do
sistema jurídico, onde se sente a interferência em querer buscar soluções mais rápidas aos
questionamentos feitos pelos veículos de comunicação. O problema disso é que prejudica a
21
imparcialidade, o devido processo judicial, o contraditório e a ampla defesa do processo, portanto
proporciona a violação aos direitos fundamentais da ordem constitucional.
Então, para não haver o abuso no direito de informar deve ser respeitado o Código de Ética
Profissional dos Jornalistas, em que assinala que deve ser sempre contrastada a fidedignidade das
fontes da informação.
Nota-se, ainda, que ao longo do tempo houve transformações no processo comunicacional por
causa do avanço da tecnologia. Nesse contexto, surgiu o fenômeno da midiatização como forma
de interação ativa do público no ato de constituir a notícia, o que provoca a disseminação de
informações falsas ou fake news no espaço público do Caso Lava Jato e, por consequência, reforça
as ofensas aos valores tutelados na Carta Constitucional.
Diante desse contexto, a CIDH fornece princípios jurídicos a serem respeitados, a fim de
solucionar o problema da midiatização na democracia. A característica em comum entre esses
princípios é que todos estabelecem uma relação de trabalho em conjunto das plataformas digitais
com relação ao aparato de justiça dos Estados.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. 5 out. 1988. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 3 set. 2022.
COHEN, Bernard Cecil. The press and foreign policy. Princeton, NJ: Princeton University Press,
1963.
CRISPINIANO, José. Cronologia de fatos que explicam os atos do ex-juiz Sergio Moro. Rede
Brasil Atual, São Paulo, 14 fev. 2019. Disponível em:
https://www.redebrasilatual.com.br/blogs/blog-na-rede/20-fatos-sobre-os-atos-do-ex-juiz-sergio-
moro-uma-cronologia/. Acesso em: 10 jul. 2022.
22
McCOMBS, Maxwell. A teoria da agenda: a mídia e a opinião pública. Tradução Jacques A.
Wainberg. Petrópolis, RJ: Vozes, 2009.
MORO foi parcial e direitos de Lula foram violados, conclui Comitê da ONU. Revista Consultor
Jurídico, São Paulo, 27 abr. 2022. Disponível em: https://www.conjur.com.br/2022-abr-27/moro-
foi-parcial-direitos-lula-foram-violados-conclui-comite-onu. Acesso em: 13 set. 2022.
PAIVA, Cláudio Cardoso de. O julgamento do mensalão e as redes sociais de interpretação. Pistas
para uma hermenêutica da comunicação e cultura midiática compartilhada. In: ENCONTRO
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23
QUAIS SÃO OS LIMITES DA LIBERDADE DE EXPRESSÃO PARA MANIFESTAR
OPINIÃO POLÍTICA?: CASO LOLLAPALOOZA
INTRODUÇÃO
O artigo visa avaliar a censura que houve no evento do Lollapalooza realizado em 2022feita pelo
Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Neste evento os artistas não poderiam expressar as suas
opiniões políticas acerca das eleições presidenciais do corrente ano sob a justificativa de ser
antecipação de propaganda eleitoral.
Críticas ao governo e a sua circulação de informações são salutares para fomentar o debate dentro
do espaço público, haja vista que o pluralismo de opiniões e as suas tensões compõem o elo
fundamental para a leitura plural e complexa da realidade (ARENDT, 2010).
OBJETIVOS
É importante abordar quais são os limites da liberdade de expressão individual e entre os seus
elementos serão tratados aspectos em torno do discurso de ódio, como também o de manifestar de
modo pontual opiniões em espaço público sobretudo em evento de natureza privada.
4
Doutor e Mestre em Direito pela Universidade Federal do Pará. Especialista em Direito Civil com ênfase ao Direito do Consumidor. Professor
universitário da Faculdade Cosmopolita e da Universidade da Amazônia (UNAMA). Advogado. E-mail: [email protected]
5
Graduanda no cursode Direito da Faculdade Cosmopolita.
6
Graduanda no curso de Direito da Faculdade Cosmopolita.
24
MÉTODO
A pesquisa realiza a investigação por meio de artigos acadêmicos, livros, decisões do caso
Lollapalooza por meio do site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e a catalogação de notícias do
caso por meio de outros sites da internet. Ainda nesse sentido, a análise requer abordagem de
caráter interdisciplinar entre liberdade de expressão, Direito Constitucional, Direito Civil e estudo
de Direito Comparado.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Conclui-se que a censura assinalada no evento não possui respaldo e justificação adequada no
sistema legal brasileiro e sistemas judiciais democráticos do mundo ocidental. A democracia exige
a preservação de pluralidade de opiniões políticas a fim de que sejam contrastadas dentro de
debate público livre e diversificado.
1. CASO LOLLAPALOOZA
O Lollapalooza é um festival musical que acontece em vários países. No Brasil, ocorre anualmente
desde 2012 no Estado de São Paulo (LOLLAPALOOZA BRASIL, 2022). Durante o evento
musical, em março de 2022, alguns artistas expressaram a sua opinião política ao longo de suas
apresentações musicais. Em decorrência disso, o Partido Liberal (PL) acionou o TSE sob arguição
da ocorrência de propaganda eleitoral antecipada, com fulcro no artigo 36-A da Lei nº 9.504/1997,
a chamada “Lei das Eleições” (BRASIL, 2022).
Nesse sentido, o Ministro do TSE Raul Araújo acolheu o pedido do representante do PL sobo
argumento de que as manifestações, a favor de determinado candidato presidencial e em desfavor
de outro candidato, reiteradamente, durante o evento, caracterizavamclara propaganda eleitoral
ostensiva e extemporânea, pelo que determinou:
defiro parcialmente o pedido de tutela antecipada formulada na exordial da
representação, no sentido de prestigiar a proibição legal, vedando a realização ou
manifestação de propaganda eleitoral ostensiva e extemporânea em favor de
qualquer candidato ou partido político por parte dos músicos e grupos músicas que
se apresentem no festival (BRASIL, 2022, não paginado).
25
Ocorre que, o inciso V do artigo 36-A da Lei nº 9.504/1997 permite a manifestação pessoal sobre
questões políticas, inclusive nas redes sociais. Desse modo, sePabllo Vittar repetisse seu
posicionamento político para as dezenas de milhões de seguidores estaria protegida pela lei
eleitoral? É contraditório impedir que a artista se expresse para 100 mil pessoas, pois, se desejar,
em segundos alcança milhões com seu posicionamento político e legítimo. Parece ser controverso
(DUARTE, 2022).
Adiante, o PL voltou atrás nesta segunda-feira (28 de março) e desistiu do processo protocolado
para o TSE que indicava propaganda eleitoral antecipada de artistas convidados, no festival
Lollapalooza(GERMANO, 2022).
É natural o holofote iluminar quem está no poder e, por tal razão, quem governa se depara com a
famosa claque “Fora”, seja Dilma, Trump, Temer. No momento atual, o “Fora, Bolsonaro”
continuará ecoando nos festivais (DUARTE, 2022). No entanto, o controvertido caso exige refletir
quais são os limites de manifestação de opiniões consideradas odiosas e ofensivas no espaço
público.
O caso Lollapalooza marca a incidência de censura indevida contra artistas que proferiram a sua
opinião política durante as suas apresentações no evento. Tecer críticas ao governo ou às políticas
públicas é observado como sendo algo positivo e, portanto, protegido pelo sistema legal brasileiro,
pois em um ambiente democrático é importante tutelar a diversidade de opiniões na esfera pública.
Portanto, as manifestações artísticas no evento não têm conexões ou não se enquadram em limites
constitucionais da discursividade, como: o discurso de ódio ou hate speech.
Diante deste cenário, torna-se importante estabelecer quais são as balizas do ordenamento jurídico
pátrio em torno do discurso de ódio a partir do precedente judicial do caso Ellwanger. Nesse
julgado, o Ministério Público do Rio Grande do Sul considerou que Ellwanger escreveu um livro
de cunho antissemita, o qual negava a existência do holocausto ao atribuir palavras negativas ao
povo judeu.
26
O autor da obra jamais negou sua autoria, pelo contrário, dedicou-se a reeditar seus livros
antissemitas pelo mundo sob o título: Holocausto Judeu ou Alemão? Nos bastidores da Mentira do
Século. Desse modo, pela “conduta de incitar a discriminação e o preconceito contra os judeus,
Ellwanger foi condenado pelo Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul (TJRS) por crime de
racismo, com a pena de dois anos de reclusão e prestação de serviços à comunidade”
(SCHREIBER, 2004, p.299).
Com Habeas Corpus negado pelo TJRS e pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ), a defesa
sustentou diante o Supremo Tribunal Federal (STF) que o crime cometido se limita apenas ao
incitamento contra os judeus e não o racismo, pois os judeus não seriam raça. “Após quase um ano
de julgamento, o STF manifestou pela condenação do réu. Na leitura dos votos da Corte, sete
ministros decidiram para sua condenação e três ministros julgaram para absolvê-lo”
(CAVALCANTE FILHO, 2018, p. 153-154).
Em contrapartida, o Ministro Sepúlveda afirma que a obra em questão pode ser sim instrumento
de prática de racismo, declarando seu voto para denegação do Habeas Corpus nº 82.424
(SCHAFFER, 2020). De fato, o STF compreendeu que os livros de Ellwanger não encontram
amparo pela liberdade de expressão, pois a Corte reconheceu a incitação ao ódio contra o povo
judeu, uma vez que o Ministro Gilmar Mendes reiterou o entendimento de que não se pode
atribuir primazia à liberdade de expressão, no contexto de uma sociedade pluralista, em face de
valores outros como os da igualdade e da dignidade humana (SARLET, 2021).
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fundamentais não são absolutos, podendo sofrer restrições diante de situações de conflito, devendo
o Estado intervir na propositura de solução adequada aos envolvidos, delimitando direitos que
estejam em colisão” (SCHREIBER, 2004, p. 285).
O marco inicial ocorreu no século XVIII com o movimento dos Estados Unidos, onde os seus
cidadãos poderiam expressar críticas ao governo. Em outras palavras, os federalistas Norte-
Americanos tinham entendimento de que a liberdade de expressão deveria ser garantida contra a
restrição prévia, isto é, o Estado não poderia proibir, previamente, o cidadão de publicar algo,
todavia, “tinha o direito de punir após a publicação, caso a entendesse como uma afronta ou um
28
perigo. Esse mesmo entendimento era empregado no contexto britânico, conforme o jurista inglês
William Blackstone do século XVIII” (DWORKIN, 2006, p.314).
Diante dessa compreensão, os americanos aprovaram a Lei de Sedição (1798), que categorizou
como crime publicar informações falsas, escandalosas e maliciosas sobre autoridades do Estado,
como o presidente e os membros do Congresso, evidenciando a imposição de limite do Estado ao
particular, embora o quarto presidente americano James Madison opinasse que essa lei violava a
Primeira Emenda Constitucional, além disso, o Presidente Thomas Jefferson concedeu perdão a
todos os condenados pela referida lei. Não obstante, essa ideia de que apenas a restrição prévia era
proibida perdurou por mais de 100 anos nos Estados Unidos, “período esse em que diversas
decisões judiciais foram proferidas no sentido de respeitar a Primeira Emenda quanto à proibição
de censura prévia, mas punia aqueles cujas publicações eram consideradas danosas” (DWORKIN,
2006, p.314).
Com o advento da Primeira Guerra Mundial, diante da Lei de Espionagem (1917), que tornou
crime a recusa do cumprimento do dever nas forças armadas americanas (exército e marinha),
alguns juízes e estudiosos passaram a adotar o entendimento de que essa lei violava a Primeira
Emenda. Nesse sentido, juristas como Leonard Hand, Oliver Wendell Holmes e Louis Brandeis
passaram a figurar como protagonistas nessa mudança de interpretação e aplicação nas decisões
judiciais. Uma alteração significativa foi percebida, tendo em vista uma mudança de concepção no
que se chamou de “Fórmula Holmes”, que limitava um pouco mais o Estado Jus Puniendi, pois “a
partir dessa concepção o Estado somente poderia castigar o discurso político que acarretasse
perigo evidente e imediato, porém não havia unanimidade sobre isso. E o movimento de mudança
de entendimento quanto à liberdade de expressão foi sendo gradual” (DWORKIN, 2006, p. 315-
316).
Além disso, havia a Lei da Calúnia, cujo objetivo não era censurar ou castigar, mas permitir que
os ofendidos tutelassem sua reputação, cuja ação judicial era de competência legislativa estadual e
não da Suprema Corte, logo, “eram os tribunais estaduais que decidiam em última instância qual
legislação estadual deveria ser aplicada nos casos de calúnia e difamação” (DWORKIN, 2006,
p.316).
Todavia, a derrota do New York Times em primeira instância trouxe à tona um grande problema,
não mais de competência exclusiva de lei estadual, pois ficou claro o quanto ações privadas de
indenização por calúnia e difamação podiam ser utilizadas para fins de restrição da liberdade de
imprensa em questões políticas. Diante desse cenário, o Professor Herbert Wechsler,
29
representando o New YorkTimes perante a Corte, revolucionou argumentando que a “Primeira
Emenda se aplicava também à legislação estadual sobre calúnia, alegação essa que foi aceita
unanimemente pela Corte, e acatada no voto do Juiz Brennan, que representava seis juízes. Nascia
a regra Sullivan” (DWORKIN, 2006, p.316).
Nesse contexto, há o importante precedente em torno da liberdade de expressão e liberdade de
imprensa, conhecido no caso New York Times vs. Sullivan. Em 29 de março de 1960, o jornal New
York Times publicou um anúncio sobre o tratamento que a polícia do Alabama dispensou às crianças
negras que protestavam, cuja reportagem trazia uma série de situações inverídicas. Em razão disso, o
Senhor Sullivan, chefe da guarda de Montgomery à época, sentindo-se ferido em sua reputação, pois
entendia que tratava de uma crítica a sua pessoa, embora o referido anúncio nada tenha mencionado
sobre seu nome, o Senhor Sullivan resolveu processar o New York Times, cuja alegação foi acolhida
pela primeira instância, levando à condenação do New York Times por calúnia e difamação, em uma
decisão controversa, tendo em vista a formação de um júri composto apenas por homens brancos e
cujo magistrado enalteceu a justiça do homem branco (DWORKIN, 2006, p.313).
Diante da derrota, o New York Times apelou à Suprema Corte que acatou o pedido e reformulou a
decisão, causando uma verdadeira revolução com relação à liberdade de expressão e de imprensa.
Cabe destacar que até a decisão Sullivan houve vários entendimentos diferentes acerca da
liberdade de expressão preconizada na Primeira Emenda Constitucional. Assim, Dworkin (2006,
p. 314) relata que durante mais de um século o entendimento aplicado da Primeira Emenda era de
um princípio bastante limitado, o que acarretava proteção bastante restrita e, mesmo tendo uma
letra expressa na Primeira Emenda consignando amplitude da liberdade de expressão, na prática a
aplicação era bastante limitada.
A partir do “caso New York Times vs. Sullivan, a Constituição Americana, por meio de sua
primeira Emenda Constitucional, tratou de limitar o poder do Estado, em que proibiu o Congresso
Americano de elaborar qualquer lei que limitasse a liberdade de expressão ou a liberdade de
imprensa” (DWORKIN, 2006, p. 311).
Dessa maneira, a justificativa da importância da concepção constitutiva é que esta possui duas
dimensões. A primeira dimensão considera que cada pessoa moralmente responsável tem
30
condições de fazer suas próprias escolhas acerca do que é bom ou mau para sua vida. Sendo assim,
ao impedir que os cidadãos ouçam determinadas opiniões sob o pretexto de que podem ser
persuadidos por convicções perigosas ou desagradáveis, “o Estado nega a responsabilidade moral
dos cidadãos e fere sua dignidade individual, pois o impedimento que ouçam determinadas
expressões, que a priori pareçam desagradáveis, nega-lhes a oportunidade de ouvi-las e ponderá-
las” (DWORKIN, 2006, p. 319).
Por outro lado, a segunda dimensão está associada ao aspecto mais ativo, pois “se de um lado o
cidadão tem responsabilidade moral para ouvir e constituir suas próprias convicções, por outro
lado também possui responsabilidade moral para expressar suas convicções para os outros com
respeito mútuo, de forma a atingir a verdade e a justiça” (DWORKIN, 2006, p. 320).
Nessa perspectiva, quando o Estado nega à alguém o direito de se expressar por desqualificar o
conteúdo do falante, está também negando a personalidade moral do ouvinte em refutar tais
alegações, ou seja, o ouvinte tem capacidade de criar suas próprias convicções, bem como possui
capacidade ativa de expressar suas convicções de modo respeitoso e com fins de se atingir a
justiça. Desse modo, “no momento em que o Estado impede uma pessoa de se expressar por
classificar o discurso como odioso, desqualificado, esse mesmo Estado está impedindo essa pessoa
de exercer sua responsabilidade moral e isso não se faz aceitável em uma sociedade liberal”
(DWORKIN, 2006, p.320).
A perspectiva liberal pressupõe que há um mercado de ideias, o qual parte da consideração de que
“os mecanismos de livre circulação do mercado sempre é o melhor esquema possível para
distribuir as informações de modo mais eficiente” (MASCARENHAS, 2014, p.34).
Nesse sentido, por mais odiosa que seja a opinião de alguém, é preciso que o Estado possibilite
que este se expresse, por considerar que todos possuem responsabilidade moral, portanto, negar-
lhe o direito de falar seria pior do que ouvir o discurso “desqualificado”, tendo em conta que ao
impedir o particular se perderia a oportunidade de que as próprias pessoas, diante de opiniões ditas
“absurdas”, pudessem refutá-las, haja vista que é legítimo o direito dos cidadãos de participar da
política e contribuir para a formação do clima moral ou estético.
Agora, outra compreensão a ser abordada será a categoria instrumental. Nesta, “a importância da
liberdade de expressão não se faz pelo direito moral intrínseco de expressar o que desejarem, mas
sim porque dar-lhe a oportunidade de falar produz consequências benéficas para a sociedade”
31
(DWORKIN, 2006, p. 318-319), pois o uso indevido da liberdade de expressar o pensamento e
ideias possui o potencial de ocasionar a perseguição aos grupos vulneráveis.
Autores como “Stanley Fish, Catharine MacKinnon, Frank Michelman, entre outros, contrapõem-
se à defesa constitutiva de liberdade de expressão adotada por Dworkin” (2006, p. 328). Para eles,
a liberdade de expressão deve ser observada no âmbito da justificação instrumental, pois são
favoráveis à censura a certos tipos de expressões como: a pornografia ou que ofendam o sexo
feminino, entre outros. Assim, tais assuntos não deveriam gozar de proteção, mas sim de
limitação.
Dworkin (2006, p. 321) “se afilia à categoria constitutiva ao afirmar que a justificativa da
limitação da categoria instrumental é mais frágil, pois em certos momentos, a liberdade de
expressão sofrerá limitação ao invés de proteção”, porque possibilita que certos marcadores
sociais possam de antemão se vitimizar em contraposição aos conteúdos controvertidos.
Sendo assim, o modelo constitutivo assinala que as limitações discursivas do modelo instrumental
são prejudiciais à livre manifestação de ideias, pois se houver a manifestação de ideias odiosas no
espaço público, as quais foram socialmente e historicamente constituídas, estas devem ser
protegidas pelo sistema legal, mas não com a finalidade de perseguir grupos vulneráveis. O
objetivo desta proposta, tão controvertida na tutela dos Direitos Humanos, é que a liberdade de
expressão possa ser amplamente debatida, questionada e enfrentada na arena pública (DWORKIN,
2006).
Em outros termos, ideias odiosas devem ser toleradas, a fim de fomentar o debate público, pois os
movimentos sociais, ao identificarem o problema, podem se mobilizar para reivindicar o direito à
igualdade, ou seja, o modelo de justificação constitutiva não é compatível com censura de
conteúdo, desde que a informação seja verossímil com a realidade que deseja ser debatida e
questionada. Para Dworkin (2006, p.327), “é importante que a Suprema Corte ratifique na
Primeira Emenda a proteção da liberdade de expressão até mesmo diante de expressões odiosas,
com preconceito racial ou sexual e dentre outros, tendo em vista tratar-se de uma sociedade liberal
e como tal”, não se faz compatível com nenhuma censura de conteúdo, conforme justificação
constitutiva.
De acordo com Dworkin (2006, p. 342), “é inegável que a decisão do caso Sullivan foi
extraordinária, pois provocou profundas mudanças no direito em relação à Primeira Emenda, visto
que, através desse caso houve uma revisão no Direito Constitucional americano sobre calúnia e
32
difamação”. No entanto, a Corte deveria ter fundamentado utilizando-se de uma justificativa mais
completa, como é o caso da justificação constitutiva, ao invés dos argumentos sob a ótica
instrumental, considerando a fragilidade e limitação que envolve esta justificativa. Apesar disso, é
evidente que a decisão Sullivan permitiu maior liberdade de atuação da imprensa americana se
comparada a qualquer outra imprensa no mundo.
Para Dworkin (2006, p. 321), essas “duas categorias de liberdade de expressão são necessárias
para explicar o direito referente à Primeira Emenda. Além disso, são elencados pontos em comum
dessas duas formas de justificação, sejam eles: em ambas, a liberdade de expressão não possui
caráter absoluto”, bem como possuem flexibilidade, pois diante de situações delicadas, os valores
podem figurar em segundo plano.
Cabe destacar que “o modelo constitutivo seguido nos Estados Unidos é controvertido na esfera
internacional” (HOPGOOD, 2014), pois é considerado como violador de Direitos Humanos por
tornar mais expostos os grupos vulneráveis à ofensa de seus direitos subjetivos, mas é interessante
ser abordado para avaliar os limites da liberdade de expressão, sobretudo na parte tocante do
cidadão poder proferir críticas ao Estado.
É notado que ambos os modelos da liberdade de expressão que compõe a estrutura do Estado
Democrático de Direito asseguram que haja o bom funcionamento das instituições e, para isto,
deve ser respeitado que o cidadão possa proferir críticas com relação não só às políticas públicas
governamentais, mas também às condutas dos agentes estatais. Portanto, tanto a categoria
constitutiva quanto a categoria instrumental da liberdade de expressão tenderão a questionar as
argumentações jurídicas que fundamentaram as censuras cometidas no caso Lollapalooza.
CONCLUSÃO
Sendo assim, a decisão liminar proferida de modo monocrático pelo TSE é controvertida, pois não
cabe alegar que houve manifestação de propaganda política quando os artistas manifestaram as
suas opiniões políticas durante as suas respectivas apresentações.
33
O partido político que ingressou com a ação não prosseguiu do feito processual. No entanto, este
caso é um sintoma que evidencia a atual fragilidade da jovem democracia brasileira e a
relativização dos direitos fundamentais contemplados na atual Carta Magna.
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34
ATIVIDADE ANTIMICROBIANA E CITOTOXICIDADE DA AnnonamuricataL.
(ANNONACEAE).
Nathália Araújo da Silva, Dirlane Davi Cardoso, EmillyCarollyne Martins dos Reis, Heliton Patrick
Cordovil Brígido, Thiago Freitas Silva
INTRODUÇÃO
A resistência microbiana tornou-se um grave problema de saúde pública devido ao uso
indiscriminado de antimicrobianos pela população, ocasionando impactos negativos sobre o
tratamento das doenças causadas por microrganismos patogênicos. A espécie Annonamuricata,
popularmente conhecida como graviola, guanabana e sirsak integra a família Annonaceae, que
possui aproximadamente 130 gêneros e 2300 espécies (ERRAYES et al., 2020). Esta é comumente
utilizada na medicina popular, pois apresenta vários benefícios para a saúde, sendo aproveitada suas
diferentes partes, como polpa, folhas, casca, raiz, sementes e flores (HASMILA et al., 2019).
OBJETIVOS
Avaliar a citotoxicidade e a atividade antimicrobiana do extrato etanólico obtido da semente de
Annonamuricata (Annonaceae).
35
MÉTODOS
Material vegetal
As sementes foram obtidas em uma remessa, entre agosto-setembro de 2022, advinda de frutos
produzidos em cultivo particular, no município de Tomé-Açu, Estado do Pará, sob as coordenadas
2°25'S 48°07'W.
Microrganismos
Foram utilizados isolados clínicos de Sthaphylococcus aureus, Klebsiellapneumoniae, Escherichia
coli, Pseudomonas aeruginosa e Cândida albicansgentilmente cedidas pelo Laboratório
Beneficente de Belém (R. dos Mundurucus, 1818 - Batista Campos, Belém - PA, 66035-360), em
ágar nutriente e mantidas em refrigerador a 8ºC até a realização dos testes.
36
consideradas positivas e as que não apresentaram consideradas negativas (BAUER et al., 1966;
NCCLS, 2003).
Citotoxicidade
A atividade citotóxica do extrato foi verificada através do ensaio de viabilidade celular pelo método
de MTT [brometo de 3- (4,5-dimetiltrazol-2-il) -2,5-difenil tetrazólio] (MOSMAN T, 1983). As
células modificadas THP-1 (4x105células/mL) foram cultivadas em meio RPMI-1640,
suplementado com 5% de soro fetal de bovino, mantido em atmosfera de 5% de CO2 a 37°C. Para
avaliação da atividade, as células foram tratadas com o extrato em diferentes concentrações (25-500
μg/mL). Após 24 horas de incubação, foi adicionado o MTT (5,0 mg/mL). A placa foi incubada a
37°C em uma atmosfera de 5% de CO2 por 4 h. Depois adicionou-se DMSO a cada poço para
solubilizar os cristais de formazan. A densidade óptica foi determinada a 490 nm. A viabilidade
celular foi expressa como uma porcentagem da absorbância de controle nas células não tratadas
após a subtração do fundo apropriado. A concentração citotóxica (CC50) foi determinada por
regressão linear (NGURE et al., 2009). Os resultados da citotoxicidade foram expressos em
citotóxico (CC50≤100 μg/mL); moderadamente citotóxico (CC50 entre 101 e 500 μg/mL); não
citotóxico (CC50≥500 μg/mL) (DA SILVA e SILVA JV, et al., 2019).
Análise Estatística
Os valores de CC50 (concentração de cada amostra que reduziu em 50% a viabilidade celular) foram
estimados a partir dos valores médios de dois experimentos independentes, realizados em triplicata,
por interpolação gráfica, utilizando o programa GraphPad Prism versão 5.04.
37
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O extrato etanólico da semente da A. muricata não demonstrou resultados frente as cepas S. aureus,
P. aeruginosa, K. pneumoniaee C. albicansno teste de avaliação preliminar da atividade
antimicrobiana. Entretanto, foi observado halo de inibição de 25 mm de diâmetro frente a E. coli,
resultado este promissor quando comparado ao halo de inibição do controle positivo que
demonstrou diâmetro de 31 mm. A Concentração Inibitória Mínima (CIM), que representa a menor
quantidade do agente capaz de inibir o crescimento microbiano, foi testada frente E. coli e o extrato
etanólico inibiu a linhagem bacteriana a partir da concentração de 15,625 µg/mL, dessa forma pode-
se afirmar que o extrato etanólico das sementes de A. muricata estudado a partir das concentrações
mínimas tem vantajoso potencial antimicrobiano. Outrossim, o extrato etanólico obtido da semente
de A. muricata, não mostrou citotoxicidade frente aos macrófagos (THP-1), pois apresentou CC50
acima de 500 μg/mL.
Diante dos resultados, a atividade frente a E. coli apenas reforça a presença de metabólitos já
citados. No entanto, é necessário o fracionamento do extrato, visto que a falta de atividade frente as
demais cepas podem estar relacionada as baixas concentrações dos compostos. Em contrapartida,
segundo Li et al., (2013) a molécula anonaína, presente na espécie vegetal, possui potente atividade
antimicrobiana frente a cepas de S. aureus e E. coli. Além disso, Vijayameenaet al., (2013)
demonstrou em estudos que o extrato etanólico de A. muricata apresenta atividade diante dos
seguintes microrganismos: K. pneumoniae, P. aeruginosa e S. aureus. Não obstante, o resultado
deste trabalho encontra-se em consonância com os resultados de Alfaia et al., (2016) que também
apresentou atividade contra E. coli nas concentrações de 25mg/mL e 50mg/mL com halos medindo
respectivamente 7mm e 8mm de diâmetro. Em suma, com base nos resultados obtidos e diante da
importância clínica da E. coli que está associada a vários processos infecciosos em seres humanos, a
semente da graviola pode ser utilizada como ferramenta para o controle desse microrganismo
patogênico.
CONCLUSÃO
A espécie Annonamuricataé de grande interesse científico devido à sua variedade de atividades
biológicas, dentre elas a antimicrobiana. No estudo preliminar realizado do extrato etanólico obtido
da semente de A. muricata, constatou-se atividade antimicrobiana frente a E. coli. Esta atividade foi
comprovada a partir da determinação da Concentração Inibitória Mínima de 15,625 µg/mL. Esse
mesmo extrato não se mostrou citotóxico para macrófagos. Com isso, torna-se relevante a
continuidade do estudo visando o fracionamento do extrato, com o intuito de testar essas novas
38
frações na tentativa de isolar substâncias com promissora atividade antimicrobiana e com baixa
citotoxicidade.
REFERÊNCIAS
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39
AVALIAÇÃO DO EFEITO DA Eleutherineplicata SOBRE O ESTRESSE OXIDATIVO
PULMONAR EM CAMUNDONGOS INFECTADOS PELO Plasmodium berghei ANKA
Pedro Henrique dos Santos Fernandes, Ana Clívia Capistrano de Maria, Nathalia Cunha de
Carvalho, Everton Luiz Pompeu Varela, Antônio Rafael Quadros Gomes.
INTRODUÇÃO
A malária é uma das infecções humanas mais prevalentes e um enorme problema de saúde pública,
sendo transmitida pela picada de mosquitos fêmeas do gênero Anopheles infectados com o parasito
Plasmodium (NASCIMENTO et al., 2019). Dentre as cinco espécies de Plasmodium que infectam
humanos, P. falciparum é oresponsável por induzir sintomas graves da doença, como complicações
pulmonares ocasionando a malária pulmonar (TAYLOR; CAÑON; WHITE, 2008).
A malária pulmonar ocorre quando os parasitos da malária infectam os capilares dos pulmões,
levando a inflamação e danos nos tecidos pulmonares. Os sintomas da malária pulmonar incluem
tosse seca, dificuldade para respirar, dor no peito e, em casos graves, insuficiência respiratória. A
malária pulmonar pode ser fatal em alguns casos, especialmente em pessoas com sistema
imunológico comprometido. (ESTÉFANES; HERNÁNDEZ-MORA, 2016; ELZEN et al., 2017;
WHITE, 2022). Entre as complicações pulmonares, se destaca a síndrome do desconforto
respiratório agudo (SDRA) no qual foi demonstrado que o ocorre um aumento significativo da
permeabilidade vascular, ocasionando edema pulmonar (ANIDI et al., 2013).
Além disso, a infecção por malária está cada vez mais grave devido a resistência dos parasitos ao
tratamento farmacológico empregado. A resistência às drogas também passou a ser bastante
estudada a partir de testes, in vitro e in vivoa fim de alcançar avanços no conhecimento
dosmecanismos de defesa do hospedeiro (AMALIAA; SULISTYANINGSIH; KARTIKASARI,
2017; EGWU; AUGEREAU; REYBIER; VICAL-BENOIT, 2021). Para combater as alterações
oxidativas provocadas durante a infecção, os estudos se baseiam em compostos com propriedades
antioxidantes, a fim de proporcionar novas alternativas para favorecer a redução da parasitemia
(GOMES et al., 2022).
A busca de novas substâncias com potencial antimalárico como alternativas terapêuticas para o
tratamento da doença, a partir das plantas popularmente utilizadas podem dar valiosa contribuição,
e dentre as espécies, a Eleutherineplicata é a que apresenta grande potencial com está ação (VALE
et al., 2020).
40
OBJETIVOS
Avaliar os efeitos da Eleutherineplicata sobre a as alterações oxidativas pulmonares em
camundongos infectados pelo Plasmodium berghei.
METÓDOS
O material vegetal coletado foi lavado em água corrente e seco em estufa a ar forçado por duas
semanas, até adquirir peso constante. Após este período o material seco foi triturado em moinho de
facas, sendo obtido o pó do qual foram preparados o extrato etanólico, o qual foi obtido por
maceração em etanol 96° por sete dias, com agitação diária. A fração diclorometano foi produzida
pelo Profº Dr. Valdicley Vieira Vale no laboratório de farmacologia de doenças negligenciadas da
Universidade Federal do Pará (UFPA).
O projeto foi submetido à Comissão de Ética no Uso de Animais- CEUA/UFPA e aprovado sob
parecer nº 7464060618. Foram utilizados 50 camundongos da linhagem BalbC-An, com massa
corpórea variando de 25 a 30g, procedentes do biotério do IEC /Belém-PA. Os animais foram
divididos randomicamente em 5 grupos.
Grupos experimentais
Grupo I (Controle negativo): (N=10 cada) correspondem aos animais que foram tratados com
veículo e sem seguida não foram infectados;
Grupo II (Controle positivo infectado): (N=10 cada), correspondem aos animais que foram
infectados com 1x106 hemácias parasitadas com P. berghei;
Grupo III (Controle tratado com cloroquina): (N=10 cada), animais infectados com P. berghei e
tratados com cloroquina (30 mg/kg de peso via oral);
Grupo IV e V (Tratados): (N=10 cada subgrupo) foi dividido em dois subgrupos de animais que
foram inoculados com P. berghei e tratados via oral diariamente durante três dias, com a
concentração de 200 mg/kg da Fração Diclorometano de E. plicata (FDMEp) e Extrato Etanólico de
E. plicata (EEEp).
41
Análise estatística
A análise estatística, assim como os gráficos, foi realizada utilizando os programas Microsoft Office
Excel 2018. Realizou-se o teste ANOVA com posterior análise por Tukey. Em todos os testes foi
considerado um nível de significância de 5% (p < 0,05).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Parasitemia
O gráfico 1 mostra a evolução da parasitemia de camundongos dos grupos tratados com EEEpde
200mg/kg, tratado com FDMEEp de 200mg/kg, tratado com cloroquina 30mg/kg e controle
positivo.
Em relação à atividade antimalárica do EEEp, foi observado que a dose de 200mg/kg reduziu a
parasitemia, em relação ao controle. Vários fatores podem estar envolvidos neste evento, tais como
baixa biodisponibilidade oral e meia-vida das naftoquinonas contidas no EEEp. Além disso, é
possível que uma terapia combinada com as naftoquinonas contidas no EEEP poderiam aumentar
sua eficácia terapêutica, por meio de sinergismo de seus compostos. Para isto, faz-se necessários
estudos adicionais experimentais e farmacológicos que comprovem tais hipóteses.
Em estudo inicial realizado por nosso grupo de pesquisa sobre atividade antimalárica de E. plicata,
Silva TL (2012) demonstrou que o tratamento com EEEpna dose de 200mg/kg em camundongos
infectados com P. bergheifoi capaz reduzir significativamente a parasitemia em relação ao controle
positivo.
42
Sobrevida
O gráfico 2 mostra a evolução da sobrevivência dos camundongos infectados, tratado com o
EEEpde 200mg/kg, tratado com FDMEEp de 200mg/kg, tratado com cloroquina 30mg/kg e o
controle positivo.
Em nosso estudo, o grupo FDMEEp apresentou diferença significativa na sobrevida entre os grupos
estudados, com maior tempo de sobrevida quando comparado ao grupo que recebeu solução salina.
No entanto, não houve redução da mortalidade destes, pois toda população foi a óbito ao final de 25
dias. Nossos resultados estão de acordo com o que foi identificado nos estudos de Silva (2012), os
quais identificaram uma sobrevida média de 20 dias para os animais tratados com substratos
contendo naftoquinonas.
Alterações oxidativas
Camundongos infectados com P. berghei foram submetidos ao tratamento com EEEp e FDMEp,
sendo realizadas as dosagens dos marcadores de estresse oxidativo nos pulmões coletados dos
animais. Para as amostras de pulmão dos grupos tratados, apenas o grupo EEEp 200 mg/kg
43
apresentou aumento significante da capacidade antioxidante em relação ao controle positivo (tabela
1). Além disso, não houve significância estatística entre os grupos tratados extrato e fração.
Tabela 1- Valores de capacidade antioxidante equivalente ao trolox (TEAC) e substâncias reativas ao ácido
tiobarbitúrico (TBARS) no pulmão dos grupos estudados.
TEAC TBARS
Grupo N
(µmol/L) (nmol/mL)
Controle 15,9 ±
positivo
10
1,2
20,5 ± 2,5
Cloroquina
10
12,3 ± 12,4 ± 2,9
30mg/kg 1,8 * *
FDMEp
10
17,47 ± 14,8 ± 2,5
200mg/kg 2,6 *
EEEp
10
19,27 ± 14,1 ± 3,2
200mg/kg 2,2 * *
Valores expressos como média ± desvio padrão. Teste ANOVA, Tukey entre os grupos. *p<0,05 entre controle positivo
e demais grupos.
Tal hipótese foi constatada por Moreira et al. (2021) que identificaram aumento de TEAC após o
10º dia de tratamento com dexametasona, seguido do aumento da sobrevida e redução da
parasitemia de camundongos infectados com P. berghei. Resultados semelhantes durante o
tratamento com N-nitro-L-argininemethylester (L-NAME), inibidor da síntese de oxido nítrico
(NO), identificaram aumento de TEAC no 20º dia de infecção pelo P. berghei (Barbosa et al.,
2021).
44
A dosagem das substâncias reativas ao ácido tiobarbitúrico visa quantificar a formação de produtos
secundários da peroxidação lipídica como o malondialdeido (MDA), um dos biomarcadores de
estresse oxidativo mais utilizados. Assim, é estimado o dano oxidativo no organismo por ação das
espécies oxidantes a componentes celulares como os lipídeos das membranas celulares (BALMUS
et al., 2016). Com relação aos níveis de TBARS em nosso estudo, foi observado que os tratamentos
com E. plicata reduziram significativamente o estresse oxidativo pulmonar gerado pela infecção
malárica (tabela 1). Isto sugere que os tratamentos tanto com extrato e fração estimularam aumento
da defesa antioxidante para combater o dano oxidativo na malária.
Em estudo conduzido por Vale et al. (2015) em que avaliou a atividade antimalárica de
Himatanthusarticulatus, planta utilizada no tratamento da malária na Amazônia brasileira,
constataram que houve uma redução significativa dos níveis de TBARS em camundongos
infectados pelo P. berghei, sugerindo que o tratamento reduz a inflamação por meio da redução de
NO e pelas propriedades antioxidantes do extrato etanólico da planta.
A redução dos níveis de TBARS em malária murina também foi identificada no estudo de Dkhil et
al. (2020) que utilizaram extratos de folhas de Indigoferaoblongifolia para a síntese de
nanopartículas de prata. Resultados semelhantes para redução de TBARS e aumento de superóxido
dismutase e Catalase foram encontrados no estudo de Omonkhua et al. (2013) que avaliaram os
efeitos antimaláricos, hematológicos e antioxidantes do extrato metanólico de
Terminaliaavicennioides em camundongos infectados por P. berghei.
CONCLUSÃO
Nosso estudo mostrou que os tratamentos com extrato e fração de E. plicataforam capazes de
reduzir a parasitemia e prolongar a sobrevida dos animais, sendo que o extrato possuiu mais
atividade antimalárica do que a fração. Em relação aos marcadores pulmonares, foi observado que
apenas o tratamento com extrato aumentou a capacidade antioxidante, enquanto para o marcador
TBARS, todos os tratamentos foram capazes de reduzir o dano oxidativo causado pela infeção. A
presença de naftoquinonas de E. plicatapodem ser as responsáveis pela atividade antimalárica, por
meio da atuação de maneira sinérgica ou isolada desses compostos. Para confirmar tal hipótese são
necessários novos estudos que poderão definir o benefício do uso deste recurso natural amazônico
para a síntese de novos medicamentos antimaláricos mais eficientes e com menos efeitos colaterais,
de forma a contribuir para a erradicação desta doença.
45
REFERÊNCIAS
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de Ciências da Saúde, Universidade Federal do Pará, Belém, Pará, 2012.
47
INCIDÊNCIA E PREVALÊNCIA DE GEO-HELMINTOS EM PRAIAS DE BELÉM/PA E
DISTRITOS
Geovane Gonçalves Araújo, Erika Cristina Dos Santos Gonçalves, Rafaela Dos Santos
Ribeiro, Débora Damasceno Carvalho Fernandes
INTRODUÇÃO
Parasitoses compreendem diversas infecções de trato que podem ser provocadas por protozoários ou
helmintos, impactando a saúde humana em diferentes níveis e constituindo um grave problema de
saúde pública. Estas doenças estão diretamente ligadas a fatores ambientais, climáticos, sociais e
econômicos, e por isso são notavelmente mais frequentes em países em desenvolvimento, por falta
de políticas públicas e condições sanitárias adequadas, o que explica o fato de serem, assim,
consideradas doenças tropicais negligenciadas (DTNs). (VISSER, 2009, p.3482).
Diversas espécies de parasitas estão envolvidas nestas infeccões, e em especial observa-se que
helmintos como Ancylostoma duodenalis, Ancylostoma caninum, Ancylostoma braziliensis, Necator
americanus, Toxocara canis, Ascaris lumbricoides, Trichuris trichiura, Strongyloides stercoralis e
outros, cujo ciclo biológico perpassa por etapas de maturação em solo e costumam ser frequentes
causadores de parasitoses, sendo classificados como geo-helmintos; os quais podem estabelecer
infecções por rotas de transmissão orais ou mesmo por penetração ativa de larvas (NEVES, 2016,
p.494).
Praias são ambientes públicos e com ampla circulacão de pessoas todos os dias,mas que também
por vezes acabam sendo locais onde há despejo irregular de esgoto e de livre circulação de animais;
e portanto os banhistasquanto as pessoas que residem nas adjacências, estão sujeitas a infecções por
geo-helmintos, levando-se em consideração que a areia constitui um habitat ideal para a maturação
de seus ovos e larvas por período extensos (SILVA,2020, p.1336).
Deste modo, opresente estudo foi feito em praias da região metropolitana de Belém, visando
analisar amostras de solo de diferentes pontos e profundidades de cada local ao longo de seis meses,
em busca de ovos ou larvas de geo-helmintos conhecidos por infecções parasitárias em seres
humanos.
OBJETIVOS
Através deste estudo, foi possível observaros níveis de pravalência de parasitas nas praias
pesquisadas através das análises do solo, correlacinando os achados laboratoriais com variáveis
socio-ambientais como clima, índices pluviométricos, saneamento básico, despejo de esgoto e a
48
própria sazonalidade da região, considerando os períodos de maior circulação de pessoas como
feriados e férias. Com grande potencial de contaminação parasitaria foi importante compreender
sobre a epidemiologia das geo-helmintíases nas localidades observadas.
MÉTODOS
Foram realizadas análises de amostras de solo em sete praias de Belém e região metropolitana no
estado do Pará: a praia do Cruzeiro no distrito de Icoarací; praia Grande e praia do Amor na Ilha de
Outeiro; praia do Paraíso, praia do Marahú, praia Porto Artur e praia do Chapéu Virado localizadas
em Mosqueiro. Locais com presença de esgoto a céu aberto como observa-se na figura 1, foram
priorizados para coleta de solo.
Figura 1. Pontos de coleta com esgoto a céu aberto nas adjacências. A. Ponto de coleta na praia Porto Artur em
Mosqueiro, com esgoto visível. B. Ponto de coleta na praia do Chapéu Virado em Mosqueiro, com esgoto e lixo visível.
As coletas de solo foram realizadas geralmente pela manhã com o auxílio de uma pequena pá e
tubos Falcon para armazenamento, nos meses de maio, agosto, setembro, outubro e novembro de
2022 e uma última coleta em fevereiro de 2023, e compreenderam a coleta de cerca de 10g de areia
em pontos de início, meio e fim de cada praia, e em três níveis de altura diferente do solo, sendo
49
coletadas amostras de areia superficial com no máximo 5cm de profundidade, intermediária com
cerca de 10cm de profundidade e profunda, com cerca de 20 cm de profundidade. Ao todo,
considerando as triplicatas e os diferentes meses de coleta, 441 amostras de solo foram analisadas
neste estudo.
O material coletado foi armazenado em tubos Falcon e encaminhadas para análise no laboratório de
parasitologia da Faculdade Cosmopolita através da metodologia de sedimentação espontânea,
segundo Hoffman, Pons e Janer (HOFFMAN, PONS, JANER, 1934), adaptada para amostras de
solo, visando identificar a presença de ovos e larvas de geo-helmintos. As amostras foram
submetidas a uma diluição em água destilada, filtração em gaze cirúrgica dobrada em quatro, e
transferidas para um cálice de decantação para sedimentação durante um período de 24 horas. Ao
término do período de sedimentação, o sobrenadante foi descartado e com o auxílio de uma pipeta
Pasteur, uma amostra do sedimento foi transferida para lâminas de microscopia, acrescidas a uma
gota de lugol, para posterior análise em microscópio óptico nas objetivas de 10 e 40x.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
No decorrer do estudo, 17 amostras (3,85%) foram positivas para achados de parasitas humanos,
dentre os quais a grande maioria consistiu em larvas rabditoides e filarioides de espécies de
ancilostomídeo e Strongyloides stercoralis, amplamente conhecidas por etapas larvais em solo
(NEVES, 2016, p.494).
Ovos de Taenia spp. e de Toxocara spp. também puderam ser observadas, mas em menor
proporção. Cistos de protozoários como Giardia lamblia e de Entamoeba coli, um parasita
comensal, também foram observados. Muitos protozoários ciliados foram observados em quase que
todas as amostras de solo analisadas em todas as praias, dentre os quais, alguns foram registrados na
figura 2; porém, como o objetivo primordial do estudo era focar na pesquisa de geo-helmintos, e
sabendo que o único ciliado parasita de importância para a saúde humana, Balantidium coli, não foi
observado em nosso estudo, optou-se por não relatar ou contabilizar os achados de protozoários de
vida livre, que são normalmente encontrados em habitats aquáticos e não estão associados a
manifestações patogênicas (LYNN, 2008). A tabela 1 traz um resumo de todos os achados.
50
Figura 2. Protozoários ciliados de vida livre. A. Trofozoíto de Phacodinium metchnikoffi, ciliado que pode ser
encontrado em solo, musgo ou em amostras de água, oval, com cílios alongados e aparentes ao seu redor; e cinco a nove
micronúcleos em seu interior. B. Trofozoíto de Stylonchiamylilus, ciliado aquático de corpo alongado e elipsoide, e
cílios caudais longos proeminentes, observados na extremidade direita da imagem. Imagens em aumento de 40X.
Tabela 1. Achados parasitológicos no solo das praias de Icoaraci, Outeiro e Mosqueiro entre os meses de maio, agosto, setembro,
outubro e novembro de 2022 e fevereiro de 2023
Pontos de coleta
ICOARACI OUTEIRO MOSQUEIRO
51
Todas as praias apresentaram achados em pelo menos um dos meses pesquisados, exceto a Praia do
Cruzeiro, que se manteve sem detecção de formas parasitárias ao longo de todo o estudo. Este fato
pode estar associado ao fato de que a praia do Cruzeiro fica localizada no distrito de Icoaraci, que
dos três distritos, é o mais próximo da região metropolitana de Belém, o que poderia sugerir maior
grau de vigilância por parte das autoridades sanitárias da capital.
Os achados foram observados de forma distribuída e aleatória em relação a localização nas praias,
havendo parasitas tanto nos pontos de início, meio e fim de cada praia coletada, sem um padrão
bem definido ou significante em sua frequência. Já no que tange a profundidade das amostras
coletadas, observou-se que sete achados foram oriundos de amostra de solo superficiais (41,18%),
seis de solo profundo (35,29%) e quatro de solo intermediário (23,54%).
Ao longo dos meses do estudo, a menor frequência de achados se deu no mês de maio, no qual
houveram apenas achados de protozoários de vida livre e provavelmente naturais da vida marinha, e
cistos de Giardia lamblia na praia do Paraíso, em Mosqueiro. (Figura 3).
Figura 3. Cisto de Giardia lamblia em solo da Praia do Paraíso, Mosqueiro. A. Cisto de formato elipsoide
clássico, com visualização evidente dos núcleos e do característico axonema de flagelos em seu interior. B. Cisto
de formato esférico (à esquerda) e cisto elipsoide (à direita) com melhor visualização dos núcleos e axonema de
flagelos. Aumento de 40X.
Sabendo que as parasitoses são doenças diretamente ligadas a fatores externos, sob a óptica
ambiental e climática, cabe destacar que o mês de maio é um dos meses do chamado “inverno
amazônico”, período que normalmente compreende dezembro a maio, onde maiores índices
pluviométricos são observados ao longo do ano. Segundo dados oficiais do Instituto Nacional de
Meteorologia, a Estação Meteorológica Convencional de Belém (PA) registrou um total de chuva
de 408,1 mm neste mês em 2022, volume que representa 126% da média climatológica (1991 a
2020) que é de 323,6 mm. Além disso, em maio de 2022 também foi registrada a menor
52
temperatura mínima nos últimos 10 anos na capital (BRASIL, 2022). A maior frequência de chuvas
pode ter provocado maior diluição do solo do local, ao passo que a diminuição de temperatura neste
mês pode ter dificultado a maturação de ovos e larvas de geo-helmintos, que são conhecidos por
serem mais prevalentes em locais de clima tropical, justamente pelas temperaturas mais quentes
propiciarem seu desenvolvimento (CROMPTON; SAVIOLLI, 2007).
53
Figura 4. Ovo de Toxocara spp. em solo da Praia Grande, Outeiro. Ovo de formato arredondado, coloração
acastanhada, casca grossa e presença de larva em seu interior. Aumento de 10X.
Santos e colaboradores (2006) relatam em seu estudo de solo de praias na Bahia que a maior parte
de parasitas encontrados nas amostras analisadas foram Ancylostoma spp. e Toxocara spp., o que
corrobora nossos resultados, assim como Gonçalves e colaboradores (2018) em um estudo de solo
de praças, locais que também são conhecidos por ter livre circulação de animais domésticos
hospedeiros naturais destes parasitas, também os relata como os mais frequentes dentre seus
achados.
Ainda no que tange aos fatores externos que podem facilitar a incidência de parasitoses,
observamos ainda achados de ovos e larvas de helmintos em pontos de coleta localizados próximos
a despejo evidente de esgoto nas praias, o que aumenta a probabilidade de contaminações por
parasitas intestinais, que são excretados em altos números nas fezes de indivíduos infectados. A
figura 5 retrata alguns destes achados.
54
Figura 5. Formas parasitárias de helmintos encontrados em área próxima a esgoto. A. Ovo de Taenia spp. de
formato redondo clássico, coloração acastanhada e casca espessa. B. Larva filarioide (L3) de ancilostomídeo,
possivelmente Ancylostoma braziliense, Ancylostoma caninum ou Uncinaria stenocephala. Cápsula bucal totalmente
recoberta (cabeça de seta vermelha), membrana estriada (seta vermelha) e cauda de formato afilado. C. Larva rabditoide
(L1-L2) de ancilostomídeos. Cápsula bucal livre (seta preta), cauda afilada, membrana lisa e sem primórdio genital
evidente. Itens A e Bencontrados na Praia do Amor, em Outeiro. Item Cencontrado na praia do Chapéu Virado em
Mosqueiro. Aumento de 10X.
55
As principais espécies do gênero Taenia são Taenia sollium e Taenia saginata, popularmente
conhecidas como solitárias. Embora não sejam consideradas classicamente como geo-helmintos,
uma vez que os ovos, que são morfologicamente indistinguíveis entre si e excretados em altíssimas
quantidades por indivíduos contaminados, já são considerados infectantes desde a sua liberação, não
necessitando de etapas de maturação em solo;(SILVA; TAKAYANAGUI, 2011) o achado deste
ovo se deu em um ponto de coleta nas adjacências de um despejo irregular de esgoto humano da
área, o que nos permite inferir que a partir de um ou mais indivíduos contaminados na região, o
despejo de material fecal sem o tratamento adequado diretamente na praia pode tornar viável a
contaminação do solo e possível propagação da infecção a outros indivíduos.
Em nosso estudo, observamos que a maioria dos achados relevantes foi de larvas de
ancilostomídeos, como ilustra a figura 6, o que também corrobora o estudo de Soldatelli (2020),
bem como os achados de Neto e colaboradores (2017) e Pedrosa e colaboradores (2014). Vale
destacar que estas formas parasitárias constituem um maior risco de transmissão para a população,
uma vez que a via de infecção estabelecida é a penetração ativa delas através da pele humana.
Considerando que muitos banhistas andam descalços ou têm o hábito de se sentar ou se deitar
diretamente sobre a areia das praias em momentos de lazer, a exposição a estes parasitas se torna
ainda mais facilitada e pode estar associada a manifestações como a larva migrans cutânea,
popularmente conhecida como “bicho geográfico” e em algumas regiões do Brasil, “verme da
praia”, tamanha sua associação com elas. Estas manifestações estão amplamente associadas a
espécies como Ancylostoma braziliense, Ancylostoma caninum, Uncinaria stenocephala, (KALIL;
WEBBER, 2010).
Figura 6. Larvas de Ancylostoma sp. A, B e C. Larva filarioide (L3) de ancilostomídeo, possivelmente Ancylostoma
braziliense, Ancylostoma caninum ou Uncinaria stenocephala. Cápsula bucal totalmente recoberta e cauda de formato
afilado. Aumento de 10X.
56
Vale destacar que os parasitas responsáveis pelas manifestações acima descritas de larva migrans
cutânea são originalmente espécies de animais domésticos como cães e gatos, e por isso esta
condição configura uma dertmatozoonose. Bonato e Takizawa (2013) em um estudo realizado em
praias artificiais no Paraná relatam, assim como em nosso estudo, uma maior frequência de achados
de larvas de ancilostomídeos nas areias de duas praias, uma de circulação pública e outra privada,
na qual observou-se curiosamente um maior número de amostras positivas na praia privada. Os
autores atribuem o achado justamente a maior circulação de animais domésticos nesta praia, que ao
serem levados pelos tutores para passeio e momentos de lazer, defecavam na areia, contaminando o
solo com ovos que posteriormente eclodiram, liberando larvas e assim tornando o ambiente propício
para propagação da infecção a outros animais e humanos. Em nosso estudo, a maioria das larvas
encontradas estava em seu estágio filarioide, que é a forma infectante para animais e seres humanos
(figura 6).
Outro parasita encontrado em nossas análises foi a larva rabditoide (L1-L2) de Strongyloide
sstercoralis, bem menores do que as larvas filarioides de ancilostomídeos, como representado na
figura 7. Este é um parasita de seres humanos, liberado no solo através de fezes contaminadas, e
possui um ciclo biológico complexo, que pode ocorrer em estágios de vida livre ou parasíticos. A
larva rabditoide ainda não é a forma infectante para o hospedeiro, e pode se diferenciar tanto em
helmintos adultos de vida livre, quanto na forma larval filarioide, que de fato é a forma infectante
para os seres humanos (NEVES, 2016). Os sintomas da infecção são principalmente
gastrointestinais, embora também possa haver manifestações pulmonares e complicações,
especialmente em pacientes com algum grau de imunossupressão (BRUM, et al. 2013).
57
Figura 7. Larva rabditoide de Strongyloides stercoralis. Larva rabditoide (L1-L2) de Strongyloides stercoralis, com
primórdio genital evidente (seta preta), cauda afilada e pontiaguda. Em ampliação no canto esquerdo superior da
imagem, observa-se uma curta e pequena cápsula bucal (cabeça de seta vermelha) e as porções iniciais do esôfago
rabditoide, que é dividido em três porções (seta vermelha). Em ampliação no canto inferior da imagem, observa-se o
bulbo esofágico (seta azul). Aumento de 10X.
Outro ponto a ser destacado em nosso estudo é que o maior número de achados em todas as praias
se deu no mês de fevereiro, período bastante movimentado nas praias da região de Belém devido à
procura de locais de diversão para o feriado de carnaval. Além disso, considerando que ovos de
helmintos podem resistir por meses no ambiente, podemos ainda considerar o período de festas de
fim de ano entre dezembro e janeiro, também reconhecido por alta circulação de pessoas e animais
nas praias, aumentando assim as chances de contaminação ambiental. O mesmo raciocínio também
pode ser aplicado para os achados nos meses de agosto e setembro, que também tiveram proporção
mais elevada de positivos nas praias analisadas, considerando que estes dois meses sucedem o
período de férias escolares da região, que ocorre no mês de julho, e que é amplamente conhecido
pela grande procura por parte de banhistas, especialmente aos finais de semana.
É provável que se tivessem sido empregadas técnicas adicionais na análise das amostras, como
método de Willis, Baermann-Moraes ou de Rugai, além da metodologia de Hoffman, mais achados
de parasitas tivessem sido possíveis, como foi pontuado no trabalho de Neto e colaboradores
(2017).
CONCLUSÃO
Considerando que as praias são locais de lazermuito visitados por turistas e pela população de
Belém, observamos através dos achados que ainda há risco de contaminação por parasitas nas áreas
estudadas. A presença de larvas de Strongyloides stercoralis, ovos de Taeniaspp, e cistos de
Entamoeba coli e Giardia lamblia, que são parasitas amplamente conhecidos por estabelecer
infecções cujo ser humano é o hospedeiro principal, sugere que a contaminação ambiental por
material fecal humano é uma realidade nas regiões estudadas, provavelmente devido ao despejo
58
irregular de esgoto, condições precárias de saneamento básico e pouco acesso a tratamento
adequado dos doentes. Outra questão que pode ser observada através de nossas análises, é a
presença de parasitas zoonóticos, os quais têm por hospedeiro principal animais domésticos como
cães e gatos, mas que podem estabelecer algum tipo de infecção em menor ou maior grau em seres
humanos, como a própria Giardia lamblia, Toxocara sp. ou diversas espécies de Ancylostoma sp.
Neste aspecto, cabe ressaltarmos que tanto animais em condições de rua quanto animais domésticos
com tutores frequentam e circulam nas praias, podendo ser fontes de contaminação ao defecar no
local; e ainda dependendo do hábito do animal de enterrar as fezes, maior facilidade ainda haverá
para a contaminação do solo.
Este trabalho visa agregar informações regionais sobre o perfil parasitológico de contaminação por
geo-helmintos em praias muito populares e conhecidas nos distritos de Belém, Pará; e ressaltamos a
importância de trabalhos complementares contendo análises realizadas também por outras
metodologias de concentração de amostras associadas, no intuito de aumentar as chances de
detecção.
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63
ATIVIDADE ANTIMICROBIANA DE AspidospermaexcelsumBenth. (APOCYNACEAE).
INTRODUÇÃO
Os microrganismos, a exemplo de bactérias e fungos, são os seres mais abundantes do mundo, as
quais realizam principalmente processos de simbiose com os seres vivos. Entretanto, outros são
capazes de causar danos no organismo humano, gerando grandes números de doenças por infecções
bacterianas ou fúngicas (TEXEIRA, 2019). Estudo de novos fármacos para as infecções
microbianas vem crescendo em todo mundo, devido ao aumento da resistência frente aos fármacos
disponíveis. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a resistência microbiana refere-se à
capacidade de microrganismos de se adaptarem quando expostos a antimicrobianos e de resistirem a
esses medicamentos, tornando-os inefetivos, como exemplo, a resistência aos antimicrobianos
acontece quando as bactérias expressam genes que permitem a mediação no mecanismo de ação do
antibiótico por transmutação espontânea de DNA ou por modificação e transmissão de plasmídeos
(OLIVEIRA; PEREIRA; ZAMBERLAN, 2020). Diante do exposto é urgente a busca de
alternativas terapêuticas, e nesse cenário o Brasil é privilegiado por possuir a maior biodiversidade
do mundo, com mais de 56 mil espécies de plantas (BRASIL, 1998), dentre elas, uma família tem
se destacado devido ao amplo uso medicinal, a Apocynaceae, que engloba espécies com atividades
biológicas de grande importância, como: antiparasitários, anti-inflamatórios, antineoplásicos
(OLIVEIRA et al., 2009; BANNWART et al., 2013; PAULA, DOLABELA e OLIVEIRA, 2014),
antisséptico, antimicrobiano, cicatrizante (OLIVEIRA et al., 2009) antitumoral, antituberculose
(CAI et al., 2017; ITOH et al., 2018; SCHMIDT et al., 2018). Contudo, várias espécies da família
Apocynaceae ainda carecem de estudos no âmbito químico, biológico e farmacológico, como a
Aspidosperma excelsum Benth., conhecida como carapanaúba, a qual se encontra amplamente na
região Amazônica (NASCIMENTO et al., 2013; FERES et al., 2020). Essa espécie é possuidora de
alcaloidesindólicos, já foram isolados dessa espécie, a ioimbina, O-acetilioimbina, excelsinina, O-
acetilexcelsinina, e 16-epi-excelsinina (TRINDADE et al., 2017).
OBJETIVOS
Avaliação da atividade antimicrobiana do extrato e frações da casca de Aspidosperma excelsum.
MÉTODOS
Coleta do material vegetal
64
A casca do tronco de A. excelsum foi coletada na rodovia estadual PA-150 (coordenadas S 02 ° 09
'50,3" e W 048 ° 47' 56,9"), no estado do Pará-Brasil, durante o mês de agosto de 2017.
Microrganismos
Foram utilizados isolados clínicos de Sthaphylococcus aureus, Klebsiella pneumoniae,
Pseudomonas aeruginosa, Escherichia coli, Acinetobacter baumannii e Candida albicans
gentilmente cedidas pelo Laboratório Beneficente de Belém (R. dos Mundurucus, 1818 - Batista
Campos, Belém - PA, 66035-360), em ágar nutriente e mantidas em refrigerador a 8ºC até a
realização dos testes.
Obtenção do extrato
As cascas de A. excelsum foram lavadas em água corrente e secas em estufa de ar circulado (40°C,
por 7 dias). O material seco foi submetido à moagem em moinho de facas. O pó da planta foi
submetido à maceração com etanol 96ºGL (relação 1:10). A solução etanólica foi filtrada e
concentrada em evaporador rotatório sob pressão reduzida até total evaporação do álcool, obtendo-
se o extrato etanólico seco (EE).
Fracionamento do extrato
O EE foi submetido a fracionamento para avaliação do efeito desse, na atividade antimicrobiana. O
fracionamento foi realizado em coluna cromatográfica aberta, utilizando como fase estacionária
sílica gel mesh 60 (0,1-0,2 mm/70-130) e fase móvel solventes de polaridade crescente, obtendo-se
as frações de hexano (FH), diclorometano (FDcl), acetato de etila (FAct) e Metanol (FM).
65
Avaliação da concentração inibitória mínima (CIM)
A amostra considerada positiva na atividade antimicrobiana da avaliação preliminar, foi submetida
à determinação da CIM pela técnica de microdiluição em caldo. As culturas bacterianas
desenvolvidas em caldo Muller-Hinton e diluídas (cerca de 108 UFC/mL) foram colocadas em
placas de 96 poços previamente dosificadas com as amostras nas concentrações de 1000 µg/mL,
500 µg/mL, 250 µg/mL, 125 µg/mL, 62,5 µg/mL, 31,5 µg/mL, 15, 625 µg/mL. Para o controle
negativo, foi utilizado o DMSO nas mesmas concentrações da amostra. E para o controle positivo
será utilizado o antibiótico cefalexina nas mesmas concentrações da amostra. As placas foram
submetidas a incubação a 37ºC por 24 horas. Em seguida, foi acrescentado 10µL de solução de
MTT (5mg/mL), sendo as placas novamente incubadas por 4h. A CIM é a menor concentração das
amostras testadas onde não houve crescimento bacteriano visível (CHAUD et al., 2005). Os
resultados da CIM foram interpretados como: CIM < 100 µg/mL: ativo, entre 100 a 500 µg/mL:
moderadamente ativo, entre 500 a 1000 µg/m: fraca atividade e acima de 1000 µg/mL: inativo
(DALL’ AGNOL, et al., 2003; TANAKA, et al., 2005).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Na avaliação preliminar da atividade antimicrobiana do EE no teste de disco difusão em ágar sobre
os microrganismos, verificou-se que o extrato etanólico foi capaz de inibir o crescimento de E. coli,
pois observou-se halo de inibição ao redor dos discos, 2mm, assim a amostra apresentou resultado
positivo. Por outro lado, frente às cepas de C. albicans, K. pneumoniae, A. baumannii, P.
aeruginosa e S. aureus, o extrato não apresentou halo de inibição, logo o resultado do EE para estas
cepas foi considerado negativo. As frações de hexano (FH), diclorometano (FDcl), acetato de etila
(FAct) e Metanol (FM) não apresentaram halo de inibição frente as cepas microbianas analisadas.
66
as plantas medicinais da Amazônia peruana, A. excelsum foi considerada uma das 12 plantas que
apresentou atividade antibacteriana promissora (ROUMY et al., 2020). Os extratos de
Aspidosperma subincanum também apresentaram atividade antimicrobiana contra cepas de S.
aureus (ROCHA et al., 2018).
Inicialmente nesse estudo foram avaliadas 5 cepas (S. aureus, K. pneumonie. P. aureaginosa, E.
coli, A. baumanni e C.albicans) em relação ao crescimento e formação de halos de inibição ao redor
de discos inoculados com as amostras de A. excelsum (EE, FH, FDcl, FAct e FM) por meio do teste
de disco difusão em ágar. O EE se mostrou possuidor de atividade antimicrobiana frente a cepa de
E. coli, então este, foi submetido a avaliação de Concentração Inibitória Mínima (CIM) através do
ensaio de microdiluição em caldo, o qual, é considerado um método mais sensível que o método de
difusão em disco. Verificou-se que o extratoetanólico não foi capaz de inibir as cepas de E. coli,
visto que a CIM foi acima de 1000µg/mL, sendo então considerada inativo frente Escherichia coli,
isto é, não apresentaram efeito bacteriostático quando comparado com o controle positivo da
cefalexina que apresentou o CIM >31,5.A inatividade da ação antimicrobiana do extrato de
Aspidosperma excelsum frente às bactérias Gram-negativas foi comprovada por outros autores
(OLIVEIRA et al., 2009; PESSINI, 2012) a qual, pode estar relacionada com a diferença na
morfologia e estrutura das bactérias Gram-negativas e Gram-positivas, sendo que as bactérias
Gram-negativas são mais seletivas quanto à passagem de substâncias (BRUNTON LL, HILAL-
DANDANR, 2015).
Além do perfil do antimicrobiano ser variável entre esses microrganismos por questões de
permeabilidade da membrana, outro ponto importante a ser destacadoé a concentração de
metabólitos secundários (alcaloides) presentes nas amostras. Essa característica pode estar
relacionada com o processo de fracionamento das amostras, uma vez que, o fracionamento pode
interferir aumentando ou diminuindo a atividade dos compostos ativos, no presente estudo o
fracionamento não contribuiu para o aumento da atividade antimicrobiana (GALUCIO NCR, 2014).
CONCLUSÃO
Os extratos e as frações de A. excelsum não apresentaram atividade antimicrobiana frente as cepas
analisadas.
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69
MOBILIZAÇÃO PRECOCE EM PÓS-OPERATÓRIO DE REVASCULARIZAÇÃO DO
MIOCÁRDIO EM PACIENTES COM DPOC
INTRODUÇÃO
A Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC) é definida como uma doença respiratória progressiva e
não totalmente reversível, caracterizada por obstrução crônica do fluxo aéreo [1]. A relação entre o
acometimento dos dois órgãos se dá por fatores de risco comuns, como tabagismo, obesidade e
inatividade, além da ocorrência de processo inflamatório sistêmico e aumento do estresse oxidativo em
ambos [2].
Com o desenvolvimento de doenças cardiovasculares (DCV), o paciente com DPOC pode ser submetido
a cirurgias cardíacas. Dentre elas, destaca-se a revascularização do miocárdio (RVM), que possui risco
para o desenvolvimento de complicações pulmonares pós-operatórias com efeitos deletérios sobre a
função pulmonar, devido fatores de risco como o uso de sedativos, dor, doença pulmonar pré-existente,
tempo de internação e abertura pleural [2,3].
OBJETIVOS
Identificar a influência da atuação fisioterapêutica durante o pós-operatório sobre as complicações
pulmonares e a capacidade funcional de pacientes com DPOC submetidos à cirurgia de revascularização
do miocárdio.
MÉTODOS
Trata-se de um ensaio clínico controlado, aleatorizado e de avaliação cega, realizado na Fundação
70
Hospital de Clínicas Gaspar Viana (FHCGV), referência em cardiologia no Pará, no período de 3 de
junho a 30 de setembro de 2022. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do hospital
(CEP/FHCGV), parecer n° 3.364.369.
Foram incluídos no estudo pacientes com idade superior a 21 anos e índice de massa corpórea (IMC)
entre 20 e 30 kg/m2, candidatos a cirurgia cardíaca eletiva e convencional com tempo de ventilação
mecânica (VM) menor que 24h, estabilidade hemodinâmica com ou sem uso de inotrópicos positivos,
ausência de arritmias e angina.
Foram excluídos pacientes com presença de doenças pulmonares prévias, com diagnostico de DPOC dos
tipos I e IV, com fração de ejeção abaixo de 35% ou maior que 54%, com alterações cognitivas que
interferiram nas técnicas utilizadas, que tenham realizado cirurgias concomitantes e ou submetidos à
reintervenção cirúrgica e óbito intraoperatório, que apresentaram contraindicações para a realização do
teste da caminhada de seis minutos (TC6) ou de qualquer protocolo proposto: angina instável, FC > 120
bpm em repouso, pressão sistólica >180 mmHg ou diastólica > 100 mmHg.
Todos os pacientes foram avaliados em dois momentos a partir da marcação da cirurgia, sendo eles: antes
do procedimento operatório e no momento da alta hospitalar. A 1ª avaliação foi realizada alguns dias
antes do procedimento operatório na seguinte sequência: avaliação dos dados demográficos e clínicos e
avaliação da função pulmonar para diagnóstico do quadro de DPOC (espirometria). Em seguida, os
pacientes que se encaixaram nos critérios de inclusão foram avaliados por meio do Teste de Caminhada
de 6 minutos (TC6) para avaliação da capacidade funcional.
Após o pós-operatório, os pacientes extubados em até 24 horas foram divididos aleatoriamente utilizando
um software para randomização em blocos em 2 grupos: grupo controle (GC), que recebeu o programa de
exercícios respiratórios e, grupo intervenção (GI), que realizou o programa de exercícios respiratórios
associado ao programa de mobilização precoce.O tratamento fisioterapêutico foi padronizado e realizado
do 1º ao 7º dia de pós-operatório (PO), ademais os atendimentos aconteciam duas vezes ao dia com um
tempo médio de 30 minutos.
Foi realizado somente pelo GI o programa de mobilização precoce, da seguinte forma: 1° dia de pós-
operatório: realizados exercícios ativos de membros superiores das grandes articulações em três séries de
dez repetições e cicloergômetro para membros inferiores de forma ativa, com duração de 20 minutos. No
período do 2° ao 7° dia de pós-operatório foram repetidos os mesmos exercícios e a cada dia era
acrescentado uma estimulação desde a posição ortostática até chegar ao treino de degrau, o qual ocorreu
de forma gradativa. Na 2ª reavaliação foi realizada apenas a avaliação da capacidade funcional, através do
71
TC6. As reavaliações foram executadas por pesquisadores cegos na alocação dos pacientes no momento
da alta hospitalar.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Em relação aos resultados, o grupo controle (GC) e grupo intervenção (GI) foram constituídos de 34 e 35
participantes, respectivamente. Totalizando a amostra final com 69 participantes após critérios de
inclusão e exclusão. Em relação à capacidade funcional dos participantes houve aumento significativo na
distância percorrida no TC6 (teste da caminhada de seis minutos) pelo GI após programa de mobilização
pós-cirúrgico quando comparado ao GC (Tabela 1).
A DPOC (doença pulmonar obstrutiva crônica) gera redução progressiva da capacidade de exercício e
associado a este fator, no período de PO de RVM (revascularização do miocárdio) ocorre redução
significativa da capacidade funcional desses pacientes submetidos à cirurgia. O estudo concluiu que dos
69 participantes, 20 apresentaram complicações pós-cirúrgicas como a atelectasia, hipoxemia e
72
insuficiência respiratória, assim como comparando o grupo controle e intervenção observou-se diferença
estatisticamente significativa entre os dois grupos, sendo o grupo controle com menor presença de
complicações (Tabela 2).
CONCLUSÃO
A influência da fisioterapia no pós-operatório da cirurgia de revascularização do miocárdio de pacientes
com DPOC repercutiu positivamente no aumento da capacidade funcional e na redução das complicações
pulmonares pós-operatórias.
REFERÊNCIAS
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obstrutiva cronica. J Pneumol 2004;30(S5):S1-40.
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73
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50.
4. Oliveira JMA, Silva AMF, Cardoso SB, Lima FF, Zierer MS, Carvalho ML. Complicações no
pós-operatório de cirurgia cardiovascular com circulação extracorpórea. R. Interd 2015;8(1):9-15.
5. Fonseca L, Vieira FN, Azzolin K. O. Fatores associados ao tempo de ventilação mecânica no pós-
operatório de cirurgia cardíaca. Rev Gaúcha Enf 2014;35(2):67-72.
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complicações respiratórias em pacientes com cardiopatias congênitas. Fisioterapia Brasil 2018;19(3):385-
99.
7. Feliciano VA, Albuquerque CG, Andrade FMD, Dantas CM, Lopez A, Ramos FF et al. A influência da
mobilização precoce no tempo de internamento na unidade de terapia intensiva. ASSOBRAFIR Ciência.
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deambulação precoce no tempo de internação hospitalar no pós-operatório de cirurgia cardíaca. Int J
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10. Henriques GCCC. Reabilitação e cirurgia cardíaca: revisão sistemática da literatura [Dissertação de
mestrado]. Bragança: Escola Superior de Saúde de Bragança; 2016. 123 p.
74
UTILIZAÇÃO DE UM APLICATIVO DE SMARTPHONE PARA AVALIAR O
EQUILÍBRIO EM IDOSOS
INTRODUÇÃO
A expectativa de vida da população mundial subiu em todo o mundo e estima-se que nas próximas
três décadas o número de pessoas com mais de 65 anos dobre e chegue a 1,6 bilhões (ONU, 2023).
As quedas são um grave problema de saúde que acometem de forma significativa a população mais
idosa, podendo causar prejuízos físicos e psicológicos ao indivíduo. Atualmente, as pesquisas têm
se voltado para a identificação dos riscos de quedas e determinação de intervenções mais efetivas e
direcionadas a fatores modificáveis como força muscular, equilíbrio e mobilidade (SUN;
SOSNOFF, 2018).
Com seus achados, Silva e et al. (2019) conseguiram associar os déficits de equilíbrio com o
aumento dos riscos de quedas que por serem multifatoriais, possuem a necessidade de uma
avaliação mais detalhada. Com o avanço tecnológico há equipamentos como a plataforma de força e
os sistemas infravermelhos para a avaliação do equilíbrio, estes possuem alto custo e possibilidade
de manuseio limitado e especializado. Em contrapartida, vem sendo utilizados métodos mais
simples e de baixo custo como os aplicativos de smartphones, que possuem sensores inerciais e
acelerômetros embutidos (O'BRIEN et al., 2019; RODRIGUES et al., 2022).
Greene et al. (2021) afirma que a avaliação realizada com um aplicativo de smartphone validado,
pode minimizar a necessidade de avaliações clínicas de alto custo, com equipamentos não portáteis
e conhecimentos especializados. Portanto, esta pesquisa busca avaliar o equilíbrio de idosos através
da utilização do aplicativo Momentum Science App e verificar sua aplicabilidade como uma forma
mais acessível de avaliação.
OBJETIVOS
Avaliar a aplicabilidade do aplicativo Momentum Science App na avaliação do equilíbrio dinâmico
de idosos com o teste TimedUpand Go.
MÉTODOS
Trata-se de um estudo transversal, observacional, com abordagem quantitativa através da avaliação
do teste Timed up and go (TUG) baseada em sinais inerciais obtidos por sensores de smartphone. A
coleta de dados ocorreu na instituição assistencial Lar de Maria, localizada na Avenida Almirante
75
Barroso, bairro de São Brás, em março de 2023. Tendo a participação de 10 idosas voluntárias,
ativas, em sua maioria aposentadas, com faixa etária de 60 a 81 anos e frequentadoras do espaço.
Excluíram-se indivíduos crianças, adolescentes e adultos com faixa etária inferior a 60 anos.
Inicialmente foi aplicada uma ficha de avaliação contendo os dados sociodemográficos, histórico
clínico e social, histórico de quedas e sobre a prática de exercícios de cada participante. Todas as
voluntárias foram informadas sobre os procedimentos a serem realizados e assinaram um Termo de
Consentimento Livre Esclarecido.
Para a obtenção dos registros inerciais durante a realização do teste TUG, foi anexado ao
participante um aparelho de telefonia celular (Samsung A52). O aplicativo Momentum Science App
desenvolvido para rodar em sistema operacional Android foi instalado no aparelho de telefonia
celular para a leitura e salvamento de sinais inerciais registrados por um acelerômetro triaxial e um
giroscópio triaxial embutidos no aparelho de telefonia celular. A taxa de aquisição média dos
sensores foi de 20 Hz. O aplicativo Momentum Science App foi validado para diferentes protocolos
de avaliação de movimento (DUARTE et al., 2022; DA COSTA MORAES et al., 2022;
RODRIGUES et al., 2022; SANTOS et al., 2022) e está disponível na Play Store.
O dispositivo foi fixado no corpo das participantes por uma cinta na coluna lombar ao nível de L3-
L5. O teste foi realizado após uma breve explicação e demonstração, sem o treinamento prévio. O
TUG é um teste de fácil aplicação, econômico e eficiente para a avaliação da mobilidade e
equilíbrio funcional de idosos, apresentando uma correlação significativa com o risco de quedas.
Consiste na ação de um indivíduo levantar e caminhar por uma distância de 3 metros, virar-se e
deambular de volta para a cadeira e sentar novamente, o tempo de realização serve como parâmetro,
até 10 segundos é o tempo normal de realização, entre 11-20 segundos o risco de queda desse
indivíduo é baixo e acima de 20 segundos o indivíduo apresenta um alto risco de quedas
(BISCHOFF et al., 2003; PODISIADLO; RICHARDSON, 1991 apud ANDRADE et al., 2021).
Para a análise dos resultados, as participantes foram divididas em dois grupos: o grupo composto
por idosas com comorbidades (G1) e o grupo com idosas sem comorbidades (G2), além da
construção de uma tabela com as informações pessoais como idade e peso de cada uma. Após a
realização do TUG, o aplicativo gera um arquivo no formato .txt onde os dados são convertidos em
números para uma melhor visualização.
Os dados foram organizados em uma planilha que destacou as variáveis: duração do teste, tempo
para ficar de pé, tempo de ir, tempo de voltar, tempo para sentar, velocidade para ir, velocidade para
76
voltar e número de passos a percorrer, partindo desses valores foi calculado a média aritmética e o
desvio padrão de cada variável.
Os procedimentos estatísticos foram conduzidos no software Bioestat 5.0. A distribuição dos dados
foi avaliada através do teste de Kolmogorov-Smirnov. Para dados de distribuição normal foi
utilizado o teste T Student e para dados de distribuição não normal foi utilizado o teste Mann-
Whitney (Wilcoxonrank-sum test).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O grupo composto por idosas sem comorbidade possui 4 participantes (grupo 1) e o grupo de idosas
com comorbidades é composto por 6 participantes (grupo 2), sendo as comorbidades mais
frequentes a hipertensão arterial, diabetes e hipercolesterolemia. Durante a entrevista e
preenchimento da ficha de avaliação, as idosas foram questionadas a respeito do número de quedas
sofridas no período de janeiro a março de 2023. As participantes do grupo 2 relataram um maior
número de quedas quando comparado ao grupo 1. Após o cálculo da média aritmética, obteve-se a
média de 2,28 quedas no grupo 2, enquanto, as participantes do grupo 1 tiveram a média de 1 queda
no mesmo período. A tabela 1 permite uma melhor descrição dos grupos:
Durante a aplicação do teste TUG, o segundo grupo o realizou em um tempo médio de 25.42
segundos, e o primeiro o realizou em um tempo médio de 16.73 segundos. Como citado
anteriormente, o tempo de realização do teste é um parâmetro imprescindível para avaliar o risco de
quedas. Sendo assim, o grupo 1 apresentou um melhor desempenho no tempo de realização do
exame, indicando um menor risco de quedas. Por outro lado, o grupo com comorbidades apresentou
um maior risco de quedas, uma vez que o tempo médio de realização do teste foi superior a 20
segundos. A tabela a seguir mostra os resultados gerados pelo aplicativo:
Tabela 2. Dados do aplicativo com a média e desvio padrão no Grupo Controle e Experimental
GRUPOS
Variável G1 G2
Faixa Etária 67 + 8.91 73.83
+ 6.82
Etilista 0.25 + 0.5 0.5 + 0.55
Tabagista 0 0.25 + 0.5
Prática de 0.5 + 0.58 0.33 + 0.52
atividade
física 77
Número de 1 + 0.82 2.5 + 1.52
quedas no
último ano
DADOS
Variável G1 G2 p-
valor
Duração 16.73 25.42 0.33
do teste (s) + +
3.57 21.06
Tempo 1.32 1.54 0.61
para ficar + +
em pé (s) 0.59 0.84
Tempo 6.26 9.49 0.8
para ir (s) + +
2.11 8.14
Tempo de 5.22 10.54 0.2
voltar (s) + +
1.01 11.59
Tempo de 2.58 3+ 0.61
sentar (s) + 1.6 1.76
Velocidade 0.53 0.45 0.7
para ir + + 0.2
(m/s) 0.19
Velocidade 0.59 0.46 0.2
para voltar + + 0.2
(m/s) 0.09
CONCLUSÃO
Esta pesquisa buscou avaliar a aplicabilidade de um aplicativo de smartphone para a avaliação do
equilíbrio dinâmico de idosos associados ao teste TimedUpand Go, para isto foram analisadas
diferentes variáveis além da duração do teste. O estudo apresentou limitações quanto a quantidade
de participantes, houve divergências de horário entre as idosas e as avaliadoras o que gerou
desproporcionalidade entre os grupos.
Os resultados encontrados pelo estudo mostram que aquelas idosas sem comorbidades possuem um
melhor desempenho na realização do teste, como um tempo de duração, tempo pra ir e para voltar e
o tempo para sentar menores que o grupo com comorbidades, além do risco de quedas que também
é reduzido, pois a média do grupo com comorbidades ultrapassou os 20 segundos de realização do
TUG.
78
Sendo assim, torna-se visível que a utilização de um dispositivo de smartphone com um aplicativo
capaz de registrar sinais inerciais pode ser utilizada para a avaliação de risco de quedas em idosos e
a sua junção com testes de avaliação torna os resultados mais fidedignos, principalmente quando
não se tem acesso a tecnologias mais avançadas para isso. Sugere-se que as pesquisas futuras
abordem uma população maior, visto que isto promoveria resultados mais amplos e representativos.
REFERÊNCIAS
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assessment in older adults with falls. Sensors, v. 21, n. 13, p. 4334, 2021.
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Sensors (Basel). 2021 Jul; 21(14): 4770.
HSU, Yu-Cheng et al. Automatic Recognition and Analysis of Balance Activity in Community-
Dwelling Older Adults: Algorithm Validation. Journal of medical Internet research, v. 23, n. 12,
p. e30135, 2021.
MÜJDECI, B.; AKSOY, S.; ATAS, A. Avaliação do equilíbrio em idosos que sofrem queda e
aqueles que não sofrem quedas. Brazilian Journal of Otorhinolaryngology, v. 78, p. 104-109,
2012.
NAZARIO, M.P.S. et. al. Déficit Cognitivo em Idosos Hospitalizados Segundo Mini Exame do
Estado Mental (MEEM): Revisão Narrativa. J Health Sci 2018;20(2):131-4.
NOAMANI, Alireza; VETTE, Albert H.; ROUHANI, Hossein. Instrumented Functional Test for
Objective Outcome Evaluation of Balance Rehabilitation in Elderly Fallers: A Clinical Study.
Gerontology, p. 1-13.
NISSIM, Michal et al. Effects of aquatic physical intervention on fall risk, working memory and
hazard-perception as pedestrians in older people: a pilot trial. BMC geriatrics, v. 20, n. 1, p. 1-12,
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79
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Single Inertial Sensor in Age-Ranged Healthy Adults. Sensores (Basileia).18 de outubro de
2019;19(20):4537.
OFORI, Ernest Kwesi; WANG, Shuaijie; BHATT, Tanvi. Validity of Inertial Sensors for Assessing
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SUN, Ruopeng; SOSNOFF, Jacob. Novel sensing technology in fall risk assessment in older adults:
a systematic review. BMC Geriatrics. 2018 Jan 16;18(1):14.
80
ANÁLISE MICROBIOLÓGICA DE ÁGUA MINERAL COMERCIALIZADA NO BAIRRO
DA MARAMBAIA, BELEM/PA.
INTRODUÇÃO
A qualidade de vida, hábitos mais saudáveis e a preocupação com a hidratação são fatores que
levam a população cada vez mais a consumir água mineral, entendendo que esta água pode ser uma
água mais saudável, ou seja, livre de contaminação (MARGALHO et al., 2021).
Estudos afirmam que a proteção das águas subterrâneas deve estar baseada em quatro estratégias:
mapeamento da vulnerabilidade de aquíferos; delimitação das áreas de proteção das fontes de
abastecimento de água subterrânea; cadastro de carga contaminante de subsolo; e monitoramento da
qualidade da água subterrânea (MITOSO et al., 2017).
81
OBJETIVOS
Analisar aspectos físico-químicos básicos e microbiológicos da água mineral disponibilizadasem
alguns pontos comerciais no bairro da Marambaia.
Comparar os resultados das análises físico-química da água mineral com as informações do rótulo.
Verificar se a qualidade da água está dentro dos parâmetros adequados para consumo.
MÉTODOS
Para as análises, após a assepsia dos garrafões na parte externa com álcool a 70%, foram retirados
de cada amostra 100 mLpara análise dos fatores fisícos-químicos básicos pH e temperatura, e 25
mL para a análise microbiológica em meios líquidos, através da técnica de Tubos Multiplus,
utilizando 3 tubos e diluição inicial 1:10, com resultado em Número Mais Provável (NMP) (APHA,
2003). A densidade e turbidez foram avaliados segundo os rótulos das amostras.
Os 25 mL de cada amostra foram diluídos em água peptonada, e logo feita as demais diluições,
transferindo 1 mL dessa diluição para tubos com 9mL de Caldo Lauryl Sulfato Triptose (LST) para
a etapa do teste presuntivo, sendo feitas em triplicada para cada uma das diluições (10ˉ¹,10ˉ² e 10ˉ³).
Os tubos foram incubados em estufa à 35C com leitura, verificação de turvação e produção de
gás, feita em 24, 48 e 72 horas.
A segunda etapa da técnica dos tubos múltiplos, realizada apenas em caso de resultado positivo da
etapa anterior, é composta de testes confirmatórios em meio caldo Verde Brilhante Bile 2% (BV) e
caldo E. coli (EC), com mesmo tempo de incubação, tempo de leitura e forma de verificar o
resultado como a etapa anterior.
82
Foram realizadas análises em meios sólidos para avaliação de crescimento microbiológico com
resultados dados em Unidades Formadoras de Colônias (UFC/g-1), sendo os meios MacCkonkey,
Nutriente, EosinMethylene Blue (EMB) para crescimento bacteriano e Potato Dextrose (BDA) para
crescimento fúngico (bolores e leveduras).
As placas foram semeadas na capela com o auxílio da alça de Drigalsky, utilizando 10 mL de cada
amostra, as placas foram incubadas em estufa à 35°C, com exceção das placas em meio BDA que
foram incubadas à temperatura de 25°C, todas as placas foram avaliadas no intervalo de 24, 48 e 72
horas para avaliar o crescimento.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O objetivo dos padrões microbiológicos para alimentos é proteger a saúde do consumidor, através
de padrões a serem adotados, ou seja, são parâmetros que devem ser adotados para venda de
alimentos seguros e adequados (RDC n. 331/2019). Sendo mais específico para água, temos o
Manual Prático de Análise de Água, que estabelece que água potável é aquela cujos parâmetros
microbiológicos, físico, químicos e radioativos atendam ao padrão de potabilidade e que não
ofereça risco à saúde, sendo assim, uma água isenta de microrganismos que possam causar danos à
saúde humana. (BRASIL, 2009).
Na aquisição dos garrafões foi verificada a temperatura do local de armazenamento dos mesmos,
com o intuito de coadunar as informações obtidas com as demais informações principalmente sobre
as análises físico-química e microbiológica, onde obtivemos os seguintes resultados: garrafão 1- 30º
C, garrafão 2- 29º C e amostra 3- 30º C.
Sobre a análise das informações do rótulo dos garrafões, foi observado que as informações estão
dentro dos parâmetros segundo a portaria Nº 470, de 24 de novembro de 1999, que constitui
características básicas dos rótulos das embalagens de água mineral e potável de mesa.
83
Em relação aos parâmetros microbiológicos, realizado através do método de número mais provável
(NMP), já demonstrado nos métodos a etapa presuntiva que nos evidencia a presença ou não de
coliformes, foi observado que os tubos das amostra 1, 2 e 3 apresentaram turbidez em todos os
níveis de concentração, porém não apresentaram produção de gás, indicando uma análise negativa
para bactérias do grupo coliformes, evidenciado na tabela 1, diante disso a segunda etapa de
confirmação tanto para coliformes totais como para coliformes fecais e Escherichia coli se torna
irrelevante.
Em relação aos meios sólidos, não foram observados crescimento em nenhuma das amostras
avaliadas.
84
CONCLUSÃO
As análises realizadas neste trabalho mostraram resultados satisfatórios de acordo com a legislação
vigente, estando apropriadas para o consumo humano. As informações do rótulo encontram-se
dentro do limite aceitáveis e padrões estabelecidos.
Vale ressaltar que a negativa para bactérias do grupo coliformes, não exclui a presença de outros
microrganismos, por esse motivo é de suma importância que outros trabalhos nesse sentido sejam
realizados, a fim de assegurar esclarecimento à população sobre a água consumida.
REFERÊNCIAS
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ASSOCIATION - AWWA; WATER POLLUTION CONTROL FACILITIES - WPCF.
Standard methods for theexaminationofwaterandwastewater. 20th. Edition.
Washington, D.C., 2003.
COELHO, Marcelo Iran Souza et al. Avaliação da qualidade microbiológica de águas minerais
consumidas na região metropolitana de Recife, Estado de Pernambuco. Acta Scientiarum. Health
Sciences, v. 32, n. 1, p. 1-8, 2010.
CORREA, InaraLuise; ALVES, Mikaela Duarte; GALUCIO, Vanessa Costa Alves. qualidade
microbiológica do óleo de andiroba (carapaguianensisaubl.) comercializado no mercado Ver-o-Peso
em Belém/PA. estudos em microbiologia e em parasitologia: uma abordagem prática e teórica,
Capítulo II, Livro em PDF, 106 p.
PANTOJA, Danielle Nazaré Salgado Mamede et al., Qualidade das águas minerais quanto aos
aspectos microbiológicos e físico-químicos analisadas no período de 2017 a 2019 na Região
Metropolitana de Belém, PA. Research, Society andDevelopment, v. 9, n. 9, e143996809, 2020.
RIBEIRO, Tamires Irineu; BARROS, Francisco de Assis Araújo; BARROS, Sergio Bitencourt
Araújo. Análise microbiológica de águas minerais de garrafões de 20 litros comercializada na
cidade de Picos-PI. BrazilianJournalofDevelopment, v. 7, n. 2, p. 15487-15499, 2021.
RIBEIRO, Erida Suzane Sousa; ARAUJO, Roberta Teofilo; SARBINO, Sleimann Augusto El
Souki; Análise microbiológica da água de poço Semiartesiano e poço comum no bairro Do Tapanã,
na cidade de Belém/PA, Estudos em microbiologia e em parasitologia: uma Abordagem prática e
teórica. capitulo vi.
85
EDUCAÇÃO EM SAÚDE SOBRE PRIMEIROS SOCORROS NA FUNDAÇÃO LAR DE
MARIA: UMA ABORDAGEM INTERDISCIPLINAR
a
Universidade do Estado do Pará (UEPA), Belém, Pará, Brasil.
b
Faculdade Cosmopolita, Belém, Pará, Brasil.
INTRODUÇÃO
Em 2020, no Brasil, cerca de 50% das 3.318 mortes infantis por acidentes foram de crianças abaixo
de 5 anos de idade. Ou seja, a cada 10 mortes de crianças e adolescentes na faixa etária de 0 a 14
anos, 5 mortes ocorreram em crianças de até 4 anos de idade, 90% dos casos poderiam ter sido
evitados com medidas simples de prevenção (ABIB, 2020)
Nesse viés, nas diversas fases do crescimento da criança ocasionam-se riscos diferentes, que podem
ser evitados ou reduzidos. Sendo os acidentes a principal causa de mortalidade em idade pediátrica,
que está relacionada a avaliação dos conhecimentos e práticas dos pais sobre medidas de cuidado,
uma área de possível melhoria com a aplicação de estratégias comprovadas como eficazes na sua
redução (RIBEIRO et al., 2019).
Ademais, as mudanças de rotina no lar, exigidas pela pandemia da COVID-19 impactou o mundo
em 2020, impondo o isolamento social e inevitavelmente, a maior presença das crianças dentro de
casa. Com hospitais operando em sua capacidade máxima, pais e responsáveis foram mais exigidos
a reforçar a segurança das crianças para prevenir acidentes e intervir em situações de urgência em
casos de acidentes infantis dentro de casa (BRASIL, 2020)
Muitas famílias que não possuem conhecimento dessa temática são lesadas devido a carência no
aprendizado, e com isso elevando o risco de sequelas ou morte da criança acidentada no meio
domiciliar. Sendo assim, técnicas específicas podem contribuir para minimizar as complicações e
através desse conhecimento, a realização de um atendimento adequado, rápido e resolutivo para as
86
situações que podem apresentar até a chegada da unidade hospitalar ou do socorro (SAMU) ao
domicílio. (VIEIRA; SOUZA, 2019).
A realização de palestras, roda de conversa, oficinas e ações de saúde são algumas das iniciativas
relevantes para disseminar informações sobre a prevenção de acidentes na infância. Proporcionando
a capacitação de pais e responsáveis de forma a assegurar a saúde e bem estar da criança garantindo
maior segurança até a chegada do atendimento especializado (ABIB, 2020).
Desta forma, este projeto tem como objetivo compreender e favorecer o conhecimento de mães e
responsáveis de menores de 0 a 14 anos sobre segurança domiciliar e primeiros socorros,
destacando a relevância da educação em saúde para mães e responsáveis, promovendo a prevenção
de acidentes e agravos decorrentes de acidentes que prejudiquem a saúde dos menores, avaliando o
impacto que a atividade educativa oferecida proporcionou aos participantes.
MÉTODO
Trata-se de uma pesquisa quantitativa contendo dados de estudo descritivo oriundo do projeto de
iniciação científica realizado por discentes e docentes do curso de enfermagem, com o propósito de
executar e apreciar uma prática de ensino, baseada em uma apresentação interdisciplinar sobre
primeiros socorros para mães e responsáveis de menores de 14 anos.
Mussi et al. (2019) afirma que o eixo central da pesquisa quantitativa é a materialização numérica-
física que acontece no momento da explicação com um rebaixamento da subjetividade e da
individualidade e a abordagem não se interessa pelo singular, individuo, ou seja, a pesquisa se
interessa pelo pessoal, ou melhor dizendo, pelo coletivo, devendo ser priorizado as características
do grupo.
Oliveira, Pietri, Bizzo (2019) dizem que as abordagens quantitativas contribuem ajudando na
compreensão das opiniões que são dadas e nas concepções de grandes amostras, essa contribuição
pode confirmar ou contestar hipóteses teóricas e sintetizar dados numéricos de maneira clara para as
políticas publicas. Essa abordagem quantitativa pesquisa situações sociais, ou seja, ela se baseia no
87
entendimento aprofundado de variáveis, de medidas e de suas relações numéricas, as quais são
analisadas mediante aos procedimentos estatísticos.
A pesquisa realizada por um grupo interdisciplinar de seis discentes dos cursos de fisioterapia,
enfermagem, direito e farmácia, da faculdade Cosmopolita, desenvolvidana Fundação Lar de Maria,
uma associação sem fins lucrativos que busca atender crianças, adolescentes, idosos e famílias,
dentro de uma visão de totalidade, contribuindo para a formação dos mesmos em sua dimensão
material, social, ambiental e espiritual. O total de participantes foram 15, sendo 13 mães, 1 tia e 1
avó, que foram identificadas como: m1, m2, m3, m4, m5..., que estavam presentes e são
matriculadas na Fundação Lar de Maria. Foram convidados a participar da pesquisa, aqueles que
apresentarem interesse após a explanação dos objetivos da pesquisa, assinarem o TCLE.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Momento Educativo
O momento educativo foi planejado e executado em equipe interdisciplinar, com a presença de
alunos do curso de Enfermagem, Direito, Fisioterapia e Farmácia. Os assuntos pesquisados e
partilhados foram direito da criança sobre segurança no lar com base noECA (Estatuto da criança e
Adolescente), automedicação e atendimento básico de primeiros socorros.
O dia educativo foi intitulado “Tarde Alegre”, houve roda de conversas entre participantes, equipe
interdisciplinar de discente, apresentação de vídeo educativo, simulação de manobra de heimlich e
sobre as manobras para uma possível PCR (Parada Cardiorrespiratória), dentre outros temas já
citados. Houve também um momento de alongamento corporal orientado pelos alunos de
fisioterapia. Os participantes puderam expor suas dúvidas sobre o tema e também citaram exemplos
de situações vivenciadas em casa com os menores.
O momento foirico de aprendizado não apenas para os participantes, mas para os discentes, que
puderam realizar atividade de educação em saúde de maneira interdisciplinar, aprender ensinando e
trocando experiência em diferentes áreas de conhecimento. Quanto aos participantes, puderam
trocar experiências com uma equipe interdisciplinar e tiveram mais acesso as informações sobre os
cuidados com os menores em domicílio.
88
área de conhecimento, pois ela sinaliza para a necessidade de articulação entre sujeitos.
(SCHNEIDER; MAGALHÃES; ALMEIDA, 2022)
Deu leite
Massagem no local
Pediu socorro
Limpeza
Sem resposta
0 1 2 3 4 5 6
Santos; Paes (2020) apontam que é notável que as mães e responsáveis apresentam pouco
conhecimento quando se fala no S.B.V (Suporte Básico de Vida), e quando esse conhecimento é
colocado a prova, é verificado que esse conhecimento é insuficiente, mesmo que essa busca seja
feita em diferentes variações sociodemográficas, sendo assim é preciso orientar e esclarecer os
responsávies para que não haja um aumento da morte desses menores.
O gráfico 01 esquematiza por meio do tratametnto das respostas o conhecimento dos responsáveis e
como eles reagiram diante de um acidente doméstico, a pergunta foi aberta e se o mesmo
participante repetir a resposta, ela será considerada apenas uma vez.
Com base no questionário, 5 (41,66%) dos participantes relataram não ter resposta ou áatitude para
ofertar primeiros socorros diante de uma situação de urgência e emergência em decorrência de
acidentes domésticos. Os acidentes domésticos apresentam-se atualmente indices de casos elevados,
89
e com desfechos em que o paciente pode vir a ficar com sequelas de incapacidade, tornando-se um
problema de saúde pública (Fernandes et al., 2023).
Quando se oferta educação em saúde para os responsáveis dos menores, é possível poder
proporcionar aos responsáveis conhecimentos de como evitar os acidentes e proporcionar ambientes
mais seguros (Fernandes et al., 2023). Se é realizado educação em saúde com divulgação de
informações, sensibilização dos envolvidos, proporcionar mudanças de comportamento dos
responsávis, é possível evitar até (90%) dos acidentes domésticos e seus efeitos (GONÇALVES et
al., 2019; COSTA et al., 2021; FARIA et al., 2022).
Queimadura
Outros
Queda
0 1 2 3 4 5 6 7
Legenda:…
Gráfico 02: Elaborado pelos autores.
O gráfico 02 mostra que a queda é o acidente doméstico mais presente nos domicílios, 6 (50%) dos
participantes relataram já ter tido acidentes domésticos relacionado a queda. Para Gonçalves et al
(2019) a maior ocorrência de acidentes é com relação a quedas, sendo (50,7%) das ocorrências, para
Fernandes et al (2023) a queda em acidentes domésticos apresentou (3,8%) dos acidentes. Em
2018, segundo o DATASUS, o acidente doméstico que mais gerou internações foi a queda, sendo
51.374 internações no SUS (COSTA et al., 2021)
Em caso de queda é necessário avaliar o estado do paciente e entrar em contato com o serviço de
saúde se houver a necessidade, a depender da clínica do paciente é necessário ter alguns cuidados
ainda no local do acidente, como não mover o paciente para não agravar possíveis lesões, controlar
sangramentos se houver, verificar o estado de consciência do paciente e nenhum participante da
pesquisa citou atitudes com base nessas técnicas de primeiros socorros.
O Corte ou acidente perfurocortante segundo dados da pesquisa ocorreu com 4 entrevistados, sendo
(33,66%) do grupo da amostra. Para Caricchio et al., (2019) em que buscou mapear as percepções
e como os responsáveis avaliam o risco de acidentes domésticos em crianças, (48,3%) acreditam
que o corte é um risco presente e real.
Não foi possível identificar dados mais robustos em relação a ocorrência de acidentes com corte ou
perfurocortantes em menores de 14 anos, havendo assim a carência de dados sobre esse acidente.
Com base na análise do gráfico 02, conclui-se que os participantes da pesquisa, 3 (25%) já tiveram
acidente doméstico com choque elétrico com menores entre 0 a 14 anos. Dalla -Corte et al (2019)
relata que o choque elétrico apresenta como consequência em grande parte das pacientes a
ocorrência de queimaduras. Em um estudo de um hospital público de Alagoas-GO, com foco em
pacientes com queimaduras, no ano de 2015 o choque elétrico ficou em terceiro lugar como
causador de queimaduras (Moraes et al., 2018).
Em outro estudo sobre queimadura, a causa sendo acidente por choque elétrico ocupou o terceiro
lugar, sendo (3,1%) dos casos (Gonçalves et al., 2019). A epidemiologia do acidente transcende
91
níveis sociais, a negligência dos responsáveis nem sempre é fator determinante, e pode resultar em
morte (LIMA et al., 2018)
O acidente doméstico traumático teve uma incidência de 2 casos, sendo (16,66%) dos casos. Para
Gonçalves et al., (2019) os acidentes traumáticos ocuparam a segunda posição, tendo uma média de
idade de 6 anos, o sexo masculino (68%) dos casos.
Os acidentes traumáticos têm origem de diversas causas, entre elas são acidentes com veículos
automotores/pedestres, afogamentos, queimaduras, esportes e violência e estão entre as principais
causas de morte em pacientes pediátricos. No Brasil, cerca de 117.000 crianças menores de 14 anos
são hospitalizadas no sistema público de saúde por causas externas a cada ano e 4.000 (3,4%)
dessas crianças morrem por consequência do trauma (FARIA et al., 2022).
A ocorrência de um acidente doméstico com engasgo é denominada de Obstrução das vias aéreas
por corpo estranho (OVACE), sendo uma das principais causas de morte até 3 anos no Brasil
(COSTA et al., 20220). A pesquisa identificou 1 (8,33%) caso de engasgo entre os participantes, os
acidentes domésticos em decorrência de OVACE ocupa a terceira colocação por óbitos em menos
de 14 anos (COSTA et al., 2021).
Em todas as faixas etárias, no Brasil ocorre por estimativa 1 milhão de acidentes em decorrência de
queimaduras por ano, uma média de 100 mil irão precisar ser hospitalizada, no serviço hospitalar,
em média 2,5% dos 100 mil casos irão evoluir a óbitos, 26,7% dos 1.568 das internações em um
Centro de Tratamento de queimaduras são crianças ou adolescentes, e que as principais causas são
por líquido quente ou em contato direto com as chamas (PAN et al., 2021).
A ocorrência de acidente doméstico por queimadura foi de 1 (8,33%) caso de acordo com a
pesquisa, Fernandes et al (2023) descreve que em 2015 no Brasil os acidentes domésticos por
queimaduras representam, (2,6%) dos casos de acidentes. Para Correia et al (2019) que dividiu os
acidentes de queimaduras em 3 classificações, menores de 5 anos, de 5 a 10 anos, e de 11 a 18 anos,
(62,22%) dos casos ocorreram em menores de 5 anos, entre 05 a 10 anos com (19,44%) e 11 a 18
anos com (18,33) dos casos. Os acidentes domésticos são (46%) dos casos de queimaduras, sendo
(86%) queimaduras térmicas, entre elas chama, escaldaduras, líquidos inflamáveis (DALLA-
CORTE et al., 2019). Entre 10% e 20% apresentaram queimaduras em superfície corporal, sendo
mais de 50% de segundo grau, (PAN et al., 2021).
92
Os casos de acidentes domésticos em que ocorre envolvendo de cão ou gato deve-se relacionar com
o fator da doença da Raiva, pois tanto o cão como gato são transmissores da doença quando não
imunizados.
Com 1 (8,33%) de mordedura relatado pelos entrevistados, no Brasil entre 2010 E 2017 ocorreram
25 casos de Raiva (ARAÚJO; SILVA, 2019). 3 (25%) dos casos relataram outros acidentes e não os
especificaram e 1 (8,3%) informou que nunca ocorreram acidentes domésticos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O estudo mostrou que os responsáveis por menores de 14 anos do Lar de Maria apresentavam
conhecimentos insuficientes sobre atendimento básico de primeiros socorros a crianças e adolescentes.
Entretanto, foram muito receptivos e interessados em aprender sobre direito de proteção a criança e ao
adolescente, noções básicas sobre primeiros socorros. Interagiram com a equipe interdisciplinar,
retirando dúvidas, exemplificando situações vividas, gerando troca de conhecimento e aprendizado.
Quanto aos discentes, tiveram a oportunidade de aprender ensinando, trocar conhecimento com outras
áreas de conhecimento, entendendo a importância da interdisciplinaridade no cuidado integral ao ser
humano e na promoção da saúde.
Os gráficos mostraram que existe uma grande necessidade de aprendizagem sobre primeiros socorros e
que esse público tem necessidade einteresse em aprender sobre esta temática relevante para a saúde
pública, para a promoção do direito da criaça e adoelescente e prevenção de acidentes domésticos e
diminuição de agravos em caso de acidentes em domicílio.
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96
Nível de Satisfação de discentes do curso de graduação em enfermagem sobre o
uso da simulação realística na atividade curricular de urgência e emergência.
a
Universidade do Estado do Pará (UEPA), Belém, Pará, Brasil.
b
Faculdade Cosmopolita, Belém, Pará, Brasil.
INTRODUÇÃO
Adotar as Metodologias ativas de ensino (MAEs) do tipo simulação realística como uma metodologia de
ensino possibilita aos docentes e aos discentes uma metodologia em que o processo educativo tenha um
mecanismo dinâmico, autônomo e com uma participação mais intensa durante o processo de ensino-
aprendizagem (CAVICHIOLI et al., 2021).
As Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs) apresentam em seu perfil uma formação acadêmica de
profissionais com base em MAEs, vem estimulando cada vez mais as instituições de ensino a desenvolver
este processo de ensino, que torne a aprendizagem por meio de metodologias que simule a vivência de
situações reais, e retirar o discente de um processo de ensino passivo, com limitações (GUEZZI at al.,
2020).
A urgência e emergência na prática profissional são caracterizadas por definir a assistência ao paciente
em estado clínico ou traumático que necessita de oferta de assistência imediata para que aquele estado de
iminência de morbimortalidade venha cessar, e que assim reflita em seu estado clínico positivamente
(SORTE et al., 2020).
As DCN/ENF ofertam uma proposta em que desenha o profissional enfermeiro com características
reflexivas e crítica, com um papel de protagonista na assistência, que busca desenvolver uma mudança
social nos espaços em que se encontra inserido (PALHETA et al, 2020). Aplicar estas diretrizes com
intuito de alcançar estas características traz a necessidade de analise quanto ao que tem sido alcançado
frente as MAEs, e como tem sido a sua eficácia nas disciplinas aplicadas nas instituições academicas.
OBJETIVO
Avaliar o nível de satisfação de acadêmicos de enfermagem acerca do uso da simulação realística como
metodologia de ensino aplicada na disciplina de urgência e emergência.
97
MÉTODO
Trata-se de uma pesquisa quantitativa com a interpretação dos dados descritivos obtidos a partir da
simulação realística do projeto de pesquisa do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica
(PIBIC), o projeto foi composto de desenvolvido por discentes e docentes do curso de enfermagem, o
objetivo do estudo foi aplicar e avaliar estratégias de ensino baseada em problemas (ABP) e simulação
clínica baseado em um caso clínico na atividade curricular de urgência e emergência.
O estudo seguiu a Resolução nº 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde, que regulamenta as pesquisas
envolvendo seres humanos, todos os sujeitos envolvidos no estudo, assinaram o Termo de Consentimento
Livre Esclarecido (TCLE) sendo submetido e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa nº do parecer
5.500.479.
Para análise quantitativa utilizamos a análise de conteúdo de Bardin e outros autores, que seguem a
mesma linha. A análise de Conteúdo (AC) é:
“um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter, por procedimentos,
sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos ou não)
que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção [...] destas
mensagens” (BARDIN, 2016).
A execução do projeto de pesquisa foi em uma faculdade particular, situada em metrópole do estado
do Pará, com a turma do 8° semestre da graduação em enfermagem, tendo como alvo os alunos que
cursavam a disciplina urgência e emergência, e que concordaram em participar da simulação
assinando o TCLE, tendo o total de 28 participantes.
A análise quantitativa, foi elaborada com gráficos através do Google forms, exportamos também os
dados obtidos para o software IRAMUTEQ® (Interface de R pour les Analyses
Multidimensionnelles de Textes et de Questionnaires) caracterizando a amostra através do material
adquirido em link com as perguntas respondidas pelos 29 participantes da pesquisa.
Em reunião com o grupo de pesquisa, foi determinado a temática a ser abordado para a contrução do
98
caso clínico de cliente em IAM, a construção do mesmo buscou expor aos alunos uma situação
problema comumente vivida por profissionais da saúde com simulação de paciente e profissionais
sendo realizada pelos discentes realizando cada procedimento de acordo com o que foi apresentado
no Brief pelos pesquisadores e docentes responsáveis.
Caso Clínico: Paciente Masculino, 60 anos com antecedente de Hipertensão sistêmica, foi admitido
na urgência e emergência com histórico de dor torácica. Na admissão apresentou piora da dor
torácica acompanhada de sudorese e mal-estar geral. Ao exame físico, paciente com fácies de
sofrimento, pressão arterial de 130/80 mmHg. O eletrocardiograma revelou ritmo sinusal, frequência
65 batimentos por minuto, complexos QRS em derivação I e de V3 a V6, supradesnivelamento do
segmento ST em derivações I, II, III, aVF e de V2 a V6. Iniciando o protocolo básico para
atendimento de paciente com IAM, o protocolo MONA (Morfinna, Oxigenio, Nitrato e AAS) a fim
de evitar complicações graves estabilizando o cliente.
Após simulação supervisionada, houve o Debriefing em que os alunos expuseram a percepção quanto
ao que foi simulado e análise do professor quanto a atuação dos mesmos. Observando a qualidade do
atendimento ofertado com retificação de pontos que precisariam ser melhorados, por fim, sendo
enviado o link para a avaliação da experiência vivenciada e do nível de satisfação dos graduandos de
enfermagem quanto ao método de ensino aplicado com caso clínico de IAM em disciplina de
urgência e emergência.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
No total de participantes 80% eram do sexo feminino, percentagem próxima a encontrada nos estudos
realizados por Major et al., (2020) que foi 90% do sexo feminino, Espindola et al., (2021) apresenta uma
porcentagem de 75% do sexo feminino e destaca que a presença do sexo masculino apresenta crescimento
se comparado do decorrer dos anos.
Dados que ratificam informações já apresentadas pelo censo da Educação Superior do Inep/MEC de
2020, no qual a faixa etária de maior incidência está entre 18 a 24 anos (47,64%) e de 30 a 39 anos
(21,13%). Para Lemes et al., 2021, 55% encontram-se na faixa etária dos 18 aos 20 anos,
apresentando assim uma discordância com os dados encomtrados na pesquisa, pois nenhum dos
alunos apresenta idade inferior a 24 anos. Espindola et al., 2020 contribui com Lemes et al., 2021,
pois apresenta que 75% dos alunos tem idade menor do que 21 anos.
Ao analisarmos a faixa etária dos participantes em que a prevalência é acima dos 30 anos, refletimos o
quanto esse aumento pode estar relacionado a busca de melhores oportunidades. Para assim compreender
99
que a educação não é privilégio somente de crianças e jovens, mas deve estar disponível e entendível a
toda e qualquer idade ou condição social buscando os melhores meios para um ensino de qualidade
(ANGELINI, 2021).
De acordo com as respostas obtidas dos alunos, o nível de satisfação dos mesmos foi dividido e analisado
em duas categorias:
1) Método como sendo proveitoso, preciso e dinâmico.
2) Método aproximou a prática da realidade.
E através destes conceitos certificarem quanto a satisfação com a simulação aplicada e eficácia no
aprendizado quanto ao atendimento de cliente com infarto agudo do miocárdio na urgência e emergência.
Tais dados passaram por processamento como mostra na figura 1, onde os alunos destacaram as seguintes
palavras: Preciso, Dinâmico, Interessante, Bom, importante para vivência e Proveitoso.
100
Estas principais palavras (figura 1) contribuíram para identificar que a aplicação da metodologia alcançou
o objetivo esperado, frente às palavras positivas relatadas pelos discentes. Uma resposta positiva diante
dos muitos desafios para acompanhar e aprimorar os métodos de ensino que já se tem utilizado em busca
de formar profissionais com pensamento mais crítico, humanista e reflexivo (NEGRI et al., 2019).
101
Quadro 3 - Quadro de respostas.
Discentes Resposta
Reflexão para estudar mais para que tenhamos melhor
D1
prática dos procedimentos.
Me aproximando do contexto realístico, podendo aplicar a
D2 teoria a prática.
Positivamente, adquiri um pouco mais de habilidade e
D3
conhecimento no processo de cuidar.
O relato D1 e D10 apresentado acima traz a percepção de necessidade em ampliar os estudos nos
aspectos os quais conseguiu identificar suas debilidades no conhecimento teórico para a aplicação em
sua prática percebendo o quanto é imprescindivel a realção entre teoria e prática dentro da vivência
como profissional de enfermagem. Pois a enfermagem também é uma ciência com seus saberes.
Verificando benefícios não apenas na experiência de ensino- aprendizagem, mas também no
desempenho, especialmente para com os alunos que apresentam mais dificuldade em reter
determinados assuntos necessários no cuidado de urgência e emergência (KRUPAT et al., 2016).
No relato “Foi possível compreender na prática como acontece realmente um IAM, e quais as
condutas do enfermeiro.” apresentam confirmação quanto a eficácia da simulação realística como
estratégia de ensino-aprendizagem na disciplina estudada, como já foi comprovado por estudos
realizados com acadêmicos dos cursos de enfermagem em uma universidade federal. Que tiveram
uma evolução importante na construção do conhecimento após a prática da simulação (Ferreira et al.,
2018; Nascimento & Magro, 2018).
Possibilitando aos docentes novas ferramentas de exposição e de compreensão dos assuntos com
maior eficácia principalmente na disciplina de urgência e emergência. Sistematizando as aulas e
simulações de forma clara e o mais próximo da realidade possível.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Contudo, através dos resultados analisados, ficou evidenciado que o método de simulação realística
aplicado na disciplina de urgência e emergência foi eficaz no processo de ensino-aprendizagem onde
o nível de satisfação foi considerado ótimo. Destaca-se que cerca de 90% dos participantes,
apresentando melhoria no aprendizado do conhecimento relacionado ao atendimento de cliente em
infarto agudo do miocárdio, e desenvolvendo nos participantes a percepção de autoconfiança,
maiores habilidades, maior aproveitamento e agilidade no atendimento garantindo a segurança do
paciente.
Com a aplicação da metodologia foi possível perceber que os discentes relatam um maior
aprimoramento do trabalho em equipe, com feedback do que pode ser melhorado e aproxima teoria e
prática, favorecendo assim uma melhor atuação como futuros enfermeiros, consolidando o saber a
partir da inovação nas práticas de ensino na disciplina de urgência e emergência na instituição.
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105
DESEMPENHO DA CAPACIDADE MOTORA GROSSA DE CRIANÇAS COM IDADE
ESCOLAR QUE VIVEM EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
IVYSTHEFANYDIASPONTE
RAÍSSACOSTANÓBREGAGUIMARÃES
ADRIANA DE OLIVEIRA LAMEIRA VERISSIMO
INTRODUÇÃO
O desempenho das atividades e a execução de tarefas do cotidianorealizadas pela criança estão
relacionadas às habilidades motoras. Estas tarefas incluem ocontrole postural e o equilíbrio, para
andar na comunidade, saltar obstáculos, correr,manipular objetos, dentre outras aquisições
necessárias ao pleno desenvolvimento doindivíduo(SANTOS, 2016).A ausência da promoção de
oportunidades práticas, organizadas sistematicamente, a fim de possibilitar às crianças novas
experiências que instiguem suas funções motoras de formas variadas, pode enquadrar-se como um
dos fatores preponderantes para o baixo desempenho motor típico relativo às respectivas idades e à
falha no desenvolvimento de habilidades motoras essenciais ao desenvolvimento das crianças
(RODRIGUES et al., 2013).
O Test of Gross Motor Development2 (TGMD-2) refere-se a um teste utilizado para obter um
indicador de desenvolvimento motor, identificar atrasos motores na criança de acordo com a sua
faixa etária correspondente, e pode ser utilizado como base para o planejamento de programas a fim
de melhorar habilidades em crianças que apresentam deficit motor e mudanças em função do
aumento da idade, experiência, instrução ou intervenção (ULRICH, 2000). Assim, o conhecimento
dos efeitos dos fatores de risco biológicos e ambientais sobre afuncionalidade motora das crianças
em idade escolar pode subsidiar políticas públicasvoltadas às ações de prevenção e promoção,
possibilitando uma abordagem global da criança que promova a sua independência, participação e
qualidade de vida.
106
OBJETIVOS
O objetivo deste estudo foi verificar e analisar o desempenho motor de crianças em idade escolar
em situação de vulnerabilidade socioeconômica e verificara infuência do fator socioeconômico no
desenvolvimento das crianças.
MÉTODOS
Estudo descritivo, observacional,e transversal, em que foram analisadas 30 crianças com os
seguintes critérios de inclusão: idade escola rentre 5 e 11anos, de ambos os sexos, residentes
nomunicípio de Belém, as quais apresentam desenvolvimento normal típico e que estavam inseridas
na Associação de Assistência Social Lar de Maria, instituição filantrópica situada na cidade de
Belém-PA. Foram definidos como critérios de exclusão: crianças com déficits cognitivos ou de
comunicação, mal formação congênita, alterações cromossômicas, paralisia cerebral, alterações do
desenvolvimento neuromotor ou outra condição de saúde com diagnóstico médico que pudesse
influenciar o desfecho estudado.
Todas as avaliações foram executa das somente após a assinatura do Termo de Consentimento Livre
e Esclarecido na versão do cuidador. A coleta de dados foi realizada individualmente com cada
criança, e obteve-se também dados antropométricos delas como, por exemplo, o peso e a altura.
Posteriormente, o desempenho motor foi analisado através daaplicaçãodoTGMD-2 que foi
executado na área externa do Lar de Maria e ocorreu em um período de dois dias, devido a
quantidade de crianças.
O teste consiste em duas fases, sendo a primeira relacionada à locomoção (corrida, galope, salto
sobre o mesmo pé, passada, salto horizontal e corrida lateral) e a segunda, pelocontrole de objetos
(rebatida, quique, recepção, chute, arremesso sobre o ombro e rolar.). Oteste requer duas tentativas
e o escore pode ser 1, se a criança desempenha corretamente e 0, se não desempenha corretamente.
Cada criança foi acompanhada por 2 avaliadores do teste, as duas fases do teste são divididas em 6
habilidades, totalizando 12 habilidades.
Durante a realização dos testes, mais especificamente antes de cada habilidade, um avaliador
demostrava e explicava verbalmente para a criança qual era a forma correta para executar a
atividade, e ooutro a analisava, pontuava e anotava a performance da criança em sua ficha de
avaliação do TGMD-2 nas duas tentativas de cada habilidade. Todas as crianças conseguiram
finalizar o teste e não houve nenhuma intercorrência.
107
Após as coletas, os dados foram organizados no programa Microsoft Excel 2010. Os gráficos e
tabelas foram construídos com as ferramentas disponíveis nos programas Microsoft Word, Excel e
GraphPad Prism 8.4.3. Todos os testes foram executados com o auxílio do software GraphPad
Prism 8.4.3. As variáveis quantitativas foram descritas por mínimo, máximo, média, mediana e
desvio padrão e as variáveis qualitativas por frequência e percentagem. Foram calculados intervalos
de confiança de 95% para a proporção para inferir como a classificação da performance motora se
comporta em relação à população de criança de onde foram obtidas. A independência ou associação
entre duas variáveis categóricas foi testada pelo teste qui-quadrado. Para comparar uma variável
numérica entre dois grupos foi utilizado o teste t de Student, ou o equivalente não paramétrico teste
de Mann-Whitney. A correlação de Pearson ou Spearman foram usadas para avaliar a relação entre
duas variáveis quantitativas. Os resultados com p ≤ 0,05 (bilateral) foram considerados
estatisticamente significativos.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foram incluídas 30 crianças no estudo em que pouco mais da metade (16 ou 53,3%) eram do sexo
masculino, 46,7% do sexo feminino, porém sem diferença significativa (p=0,715, qui-quadrado). É
possível observar as características da população amostral das crianças analisadas na Tabela 1. De
acordo com Bertoldi (2021), quanto à estatura média de crianças brasileiras do sexo masculino
espera-se que seja aproximadamente 1,15 metros, enquanto de crianças do sexo feminino espera-se
que seja aproximadamente 1,13 metros, dados que, ao serem comparados com a pesquisa na
população amostral, não indicam diferença significativa.
Tabela 1 - Idade e características antropométricas das crianças atendidas na associação de assistência social Lar de
Maria, avaliadas defevereiro a abrilde 2023
Variável Mínimo Máximo Média Média ± DP
No que se refere ao peso das crianças analisadas (Tabela 1), observou-se que o valor mínimo
obtido estava adequadoao peso estimado para a idade mínima (5 anos), enquanto o peso máximo em
relação à idade máxima (11 anos), indicava o sobrepeso das crianças, o qual constatou-se pelo
resultado do IMC. A Organização Mundial da Saúde (OMS, 2023©), juntamente com a
Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), o Ministério da Saúde (MS) e o Centro Latino-
Americano e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde (BIREME), em parceria com
instituições do Programa Telessáude Brasil Redes, disponibilizaram uma calculadora de IMC
108
infantil online, indicando que há controvérsias, por vezes, entre o diagnóstico e os testes realizados
para identificar o sobrepeso e a obesidade na infância.
Ademais, a OMS (2023©) ressalta que crianças e adolescentes com obesidade tendem a tornarem-
se adultos obesos, estimando que aproximadamente 40% das crianças obesas e 70% dos
adolescentes obesos serão adultos obesos. Estes dados retratam a ausência do acompanhamento de
qualidade em saúde às criançaspor profissionais especializados, a qual contribui para o aumento do
sobrepeso e obesidade infantil. Portanto, torna-se essencial o acompanhamento em saúde para as
crianças por uma equipe multiprofissional especializada, visto que podem contribuir por meio de
orientações, recomendações e intervenções para a prevenção e tratamentotanto do sobrepeso, da
obesidade quanto da desnutrição infantile outras condições clínicas, que possam aumentar o risco
do acometimento de doenças crônicas durante o período da infância ou posterior à esta fase.
Tabela 2 - Escores de habilidades motoras (TGMD-2) das crianças atendidas na associação de assistência social Lar de
Maria, avaliadas de fevereiro a abril de 2023, Belém-Pará
Variável Mínimo Máximo Mediana Média ± DP
109
proporção, representados abaixo. Quanto mais estreito for este intervalo, maior a certeza
relacionada àquela proporção na população de onde esta amostra foi obtida (Tabela 3).
Tabela 3 - Classificação da função motora das crianças atendidas na associação de assistência social Lar de Maria,
avaliadas de fevereiro a abril de 2023, Belém-Pará
Variável Frequência Percentagem IC95%
Performance motora
Muito superior 0 0,0 0,0 - 14,1
Superior 1 3,3 0,2 - 19,1
Acima da média 0 0,0 0,0 - 14,1
Médio 9 30,0 15,4 - 49,6
Abaixo da média 2 6,7 1,2 - 23,5
Fraco 16 53,3 34,6 - 71,2
Muito fraco 2 6,7 1,2 - 23,5
Fonte: Próprios autores (2023).
110
Figura 1 - Comparação dos escores motores segundo o sexo (teste t de Student)
Em relação à associação entre sexo e classificação das crianças quanto à performance motora,
observou-se que no grupo do sexo femininomais da metade (8 ou 57,1%) possuía uma performance
motora fraca, e paralelamente, no sexo masculino50% dos indivíduos também possuíam
performance motora fraca. Por conta disso, não houve diferenças significativas entre os sexos
(p=0,422). Um estudo realizado por Vargas et al., tratando a respeito de crianças com deficiência
intelectual, retratou que o desenvolvimento das habilidades motoras fundamentais (HMFs)
desenvolveu-se melhor em meninos quando comparado às meninas. A existência da performance
motora fraca na infância ocorre, por vezes, devido a falha no desenvolvimento das HMFs por conta
da ausência de estímulos e intervenções adequadas às crianças em cada fase do desenvolvimento.
(VARGAS et al., 2018)
111
capacidades como o equilíbrio, a organização espacial, a organização temporal (reprodução de
golpes), o próprio controle sobre o corpo, entre outras funções físicas no decorrer de seu
crescimento e avanço de idade. (ESCALA..., 2023©)
Quanto a correlação entre a idade das crianças e os escores nos subdomínios e geral no TGMD-2
(Figura 2), observou-se uma correlação significativa (p=0,004) da idade com o escore de controle
de objetos, sendo que essa correlação foi negativa (r=-0,51), ou seja, quanto maior foi a idade da
criança, menor foi a habilidade no controle padronizado de objetos. Similarmente, o quociente
motor bruto foi significativo (p=0,004) e menor quanto maior fosse a idade da criança, porém com
menor efeito com relação à habilidade de controle de objetos (r=-0,37). Diante disso, não houve
correlação significativa entre a idade e o escore padronizado de habilidades motoras (p=0,933).
Outrossim, constata-se queas 66,7% das crianças apresentaram o desempenho motor abaixo do
esperado, confirmando a hipótese de que asituação de vulnerabilidade socioeconômica como fator
preponderante no desenvolvimento motor da criança. Naliteratura é possível encontrar outros
estudos que ressaltam alguns fatores que contribuem para o atrasomotor em outras populações
112
semelhantes, obtidas não somente pela utilização do TGMD-2, mas também por outras escalas
(MACHADO et al., 2022).
Melo (2019) avaliou com o teste TGMD-2 dezessete crianças com idade entre 7 e 9 anos quevivem
em situação de vulnerabilidade socioeconômica, e posteriormente verificou o impacto de um
programade atividade física no desenvolvimento motor dessas crianças, visto que foi
classificadocomoabaixo do nível adequado nos resultados do teste. Segundo a autora, os atrasos
motores das crianças avaliadas neste estudo provavelmente possuem relação com as limitações do
contexto onde as crianças vivem, e devido a ausência de oportunidades domésticas e escolares para
a ampliação do repertório motor.
113
riscos, ao escasso saneamento básico, onde não possuem locais para lazer e práticas esportivas, sem
acesso à brinquedos e ações recreativas comuns que são indispensáveis na infância. (CAMPOS;
FONSECA, 2021)
Diante dos resultados deste estudo e entre os autores abordados (DUARTE; ROGERI; DASCAL,
2022) faz-se possível constatar que um diagnóstico precocee a intervenção nos contextos de vida de
crianças entre 5 e 11 anos faz-se imprescindível para o desenvolvimento locomotor e de habilidades
motoras essenciais para o bem-estar do ser humano no decorrer da vida. Por conta disso, torna-se
necessário o acompanhamento adequado da criança, fornecendo alternativas e incentivos para que
tenham acesso adequado às atividades desportivas saudáveis para cada idade e a fim de que possam
desenvolver-se progressivamente de forma saudável.
Além disso, no que tange às suas características antropométricas, ressalta-se que quanto mais
precoce a identificação de barreiras socioculturais, econômicas e alterações estruturais, aumentam
as probabilidades de melhores prognósticos e condições de vida. Com isso, ressalta-se que as baixas
condições socioeconômicas influenciam diretamente no desenvolvimento locomotor da criança,
visto que quando não possuem condições financeiras e um grupo de apoio para a realização das
atividades físicas regulares, por vezes, a criança torna-se sedentária e inibe suas possíveis
capacidades que são essenciais para o desenvolvimento de suas habilidades físicas. (NOBRE, 2017)
114
visem o desenvolvimento dessas habilidades motoras.
CONCLUSÃO
Conclui-se que o desempenho motor grosso de crianças em idade escolar em situação de
vulnerabilidade socioeconômica apresenta-se inferior, mostrando que o fator socioeconômico pode
ter infuência no desenvolvimento das crianças. Tal resultado evidencia a importância do
acompanhamento do desenvolvimento infantil e a necessidade de medidas que proporcionem
estimulação adequada para essa população. No âmbito escolar, os profisisonais que atuam como
facilitadores destas atividades, para o desenvolvimento das crianças, devem instigar o interesse nas
crianças para participarem das aulas, tornando-as mais dinâmicas e de fácil acesso.
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Acesso em: 24 mar. 2023.
117
FISIOTERAPIA NAS DISFUNÇÕES PÉLVICAS APÓS A CIRURGIA DE
REDESIGNAÇÃO SEXUAL EM MULHERES TRANSGÊNEROS: UMA REVISÃO
INTEGRATIVA
Claudia Beatriz dos Santos Pantoja1, Cybelle Silva do Couto Coelho2, Pamela Farias Santos3 e Yanna
Emanuelle dos Santos Costa1
1
Graduandade Fisioterapia pela Faculdade Cosmopolita, Belém-Para.
2
Docente do curso de Fisioterapia pela Faculdade Cosmopolita, Belém-Para.
3
Bacharel em Enfermagem pela Faculdade Cosmopolita, Belém-Para
RESUMO
INTRODUCAO: A cirurgia de redesignação sexual pode causar complicações entre elas, as
disfunções pélvicas, deste modo, a Fisioterapia pélvica é de grande valia no tratamento de
disfunções do Assoalho Pélvico, sendo eficaz e indicada para tratamento da cirurgia de mudança de
gênero. OBJETIVO: Identificar quais evidências científicas sobre a fisioterapia nas disfunções
pélvicas após a cirurgia de redesignação sexual em mulheres transexuais. METODOS: Este estudo
trata-se de uma Revisão de literatura do tipo integrativa, nas seguintes bases de dados: LILACS,
MEDLINE, PUBMED eLATIDEXde janeiro de 2018a dezembro de 2022. Com seguintes
critériosde inclusão: estudos completos, disponíveis gratuitamente no idioma português, inglês e
espanhol, publicados nos últimos 5 anos. Critérios de exclusão: artigos anteriores a 2019, artigos
pagos e em outras línguas. RESULTADOS: Na primeira etapa, nas buscas das bases de dados
gerou o total de 12 artigos, na segunda etapa reduziu para 7 artigos, após todo processo de seleção,
somente 4 estudos responderam à questão norteadora da pesquisa. DISCUSSÃO: A principal causa
das disfunções do assoalho pélvico após a cirurgia, está relacionada pela fraqueza ou atrofia da
musculatura, portanto a fisioterapia com exercícios para musculatura pélvica tem proporcionado a
melhorar dos sintomas. CONCLUSÃO:Existe poucos estudos na literatura sobre a atuação da
fisioterapia, portanto faz-se necessário mais estudos na questão dessa temática com objetivo de
promover mais qualidade de vida e bem-estar para mulheres trans.
1. INTRODUÇÃO
Entenda-se para falar sobre a saúde da população transgênero é necessário entender três pontos:
sexo, orientação sexual e identidade de gênero, demais, sexo vem de uma definição biológica e
cromossômica na qual é caracterizado por homônimos e órgãos reprodutores, já orientação sexual é
a atração que sente por outra pessoa do sexo aposto ou do mesmo sexo, já identidade de gênero está
ligada a questão social e cultural expressado pela sociedade como feminino e masculino, logo é a
sua identificação pelo um gênero, podendo ser do seu mesmo sexo chamada de cisgênero ou não
como os transgênero (SANTOS, 2021).
Logo, transgêneros são pessoas que não se identificam com o gênero na qual foi caracterizado
durante o seu nascimento, podendo gerar Disforia de gênero e o Transexualismo que é o
desconforto ou sofrimento ocasionado pela discrepância entre a identidade de gênero de um
118
indivíduo e o sexo biológico, acarretando desejo de mudança de gênero (CIASCA; HERCOWITZ;
LOPES, 2020). Ademais, existem indivíduos que, embora apresentem discrepância entre o próprio
sexo podem optar por tratamentos como hormonais, terapias e/ou cirurgias (SELVAGG, 2018).
Sendo assim, em 2010 o Ministério da Saúde sanciona Políticas Nacionais de saúde Integral
LGBTI+ que tem como objetivo ações e programas que promova saúde de forma completa para a
redução de discriminação e preconceito, além de oferecer o processo de transexualizador para o
acompanhamento de procedimentos hospitalares de pré e pós cirurgias, atendimento com a equipe
multiprofissional, tratamento com hormonioterapia e a cirurgia de mudança de gênero, chamada de
redesignação sexual (BRASIL, 2008).
Diante disso, qualquer cirurgia há complicações e consequências, desde o ato cirúrgico ao pós-
operatório mediato até mesmo ao tardio, com isso, uma estrutura que sofre problemas da cirurgia, é
o assoalho pélvico por ser constituído por tecidos moles, (ligamentos, faciais, pele e músculos)
acabam ocorrendo algumas disfunções devido aos cortes e a substituição de algumas estruturas
(FERREIRA & SILVA, 2020). Dentre elas, as disfunções pélvicas como fraqueza da parede
vaginal, estenose vaginal e uretral, prolapso vaginal e até mesmo disfunções sexuais e urinárias
(FERREIRA; CAMPOS; FERREIRA, 2018).
Logo, essas alterações no assoalho pélvico estão relacionadas com a fraqueza ou atrofia dos
músculos, que comprometem os órgãos da região, como a bexiga, útero e reto, que são suscetíveis
assim a prolapsos, incontinências e fraqueza da vagina (NAGAMINE; DA SILVA; DA SILVA,
2021). Já as sexuais estão relacionadas a falta de desejo, dor durante o ato, falta de excitação,
lubrificação, orgasmo e transtorno de aversão sexual, que interfere na qualidade de vida
(MENDONÇA et al., 2012).
119
evidências científicas sobre a fisioterapia nas disfunções pélvicas após a cirurgia de redesignação
sexual em mulheres transexuais.
2. METODOLOGIA
Este estudo trata-se de uma Revisão de literatura do tipo integrativa (RLI) que seguiu as seis fases
de acordo com Mendes, Silveira e Galvão (2008): 1) elaboração da questão norteadora da pesquisa;
2) critérios de inclusão e exclusão; 3) procura por artigos online para adquirir o máximo de
pesquisas focadas no tema em questão; 4) definição de quais informações a serem coletadas dos
materiais escolhidos; 5) análise dos resultados; 6) discussão e exposição dos resultados.
Primeiro, foi determinado o tema Fisioterapia nas Disfunções pélvicas após a cirurgia de
redesignação sexual em mulheres transgêneros com a seguinte questão norteadora: Quais as
evidências científicas acerca da importância da fisioterapia nas possíveis disfunções pélvicas
acarretadas pela cirurgia de redesignação sexual?
Os Critérios de inclusão foram: estudos relacionados com o tema e que respondessem à questão
norteadora da pesquisa, estudos completos, disponíveis gratuitamente no idioma português, inglês e
espanhol, publicados nos últimos 5 anos. Critérios de exclusão: artigos anteriores a 2019, artigos
pagos e em outras línguas.
Os resultados obtidos da pesquisa ficaram agrupados em uma tabela com objetivo de organizar
análise de dados, por meio de: identificação, objetivo, disfunções após a cirurgia, atuação da
fisioterapia e conclusão.
120
Além disso, para a seleção dos dadosforam feitas no primeiro momento as leituras dos títulos dos
artigos encontrados, em seguida, foram analisadas os resumos e pôr fim a leitura completa dos
artigos.
Por fim, A análise e síntese dos resultados ocorreu na etapa relacionada a construção da discussão,
interpretados e discutidos minimamente os principais resultados obtidos na pesquisa.
3. RESULTADOS
Na primeira etapa, nas buscas das bases de dados gerou o total de 12 artigos contabilizados com os
critérios estabelecidos e a utilização dos descritores e 5 artigos foram excluídos por apresentarem
duplicidade e serem pagos. Na segunda etapa baseou-se na leitura de títulos e resumos que
apresentavam relação com o tema, após a filtragem foram reduzidos para 7 artigos, sendo 2 na base
de dados PUBMED, 2 MEDLINE, 1 LILACS e 2 LATINDEX.
Logo, foram excluídos 3 artigos por apresentarem fuga ao tema e não responderam à questão
norteadora. Após isso, com aplicação dos filtros necessários (idioma, artigo completo e gratuito,
assunto principal e intervalo de ano de publicação), após todo processo de seleção, somente 4
estudos responderam à questão norteadora da pesquisaconforme a imagem 1.
bases de dados
PUBMED = 2
MEDLINE =5
LILACS =3
LITIDEX = 2
TRIAGEM
Considerando +tulo,
resumo, materiais
Registro após exclusão duplicados e ano de
n=7 publicação.
ELEGIBLILIDADE
Materiais completos
para avaliação
n=7
Estudos excluídos (n =3)
por apresentarem fuga
ao tema e não
responderem a questão
INCLUSÃO
121
Tabela 1: Os principais resultados encontrados de disfunções pélvicas após a cirurgia de afirmação de gênero e
atuação da fisioterapia, identificados por meio de autor / tipo de estudo, título, objetivo, disfunções pélvicas após a
cirurgia, atuação da fisioterapia e conclusão.
AUTOR/TIPO TITULO OBJETIVO DISUFUNCOES ATUACÃO CONCLUSÃ
DE ESTUDO PELVICAS A DA O
POS CIRURGIA FISIOTERA
PIA
Jiang et al., Implementation of a Pelvic Descrever a Disfunçãomuscular Dilatadores Pacientes que
2019. Floor Physical Therapy incidência de tiveram
Program disfunção do Incontinência Exercícios tratamento do
Estudo forTransgenderWomenUn assoalho pélvico urinária de esforço respiratórios assoalho
retrospectivo dergoing Gender- em mulheres trans com a pélvico pré-
Affirming Vaginoplasty submetidas à Constipação contração dos operatório
vaginoplastia e músculospélvi tiveram menos
resultados cos disfunção do
dafisioterapia assoalho
doassoalho pélvico após a
pélvico cirurgia do que
aqueles que
não fizeram.
Manrique et al., Assessment of pelvic floor Avaliar a Disúria Liberação de A fisioterapia
2019 anatomy for male-to- incidência de pontos gatilhos em pacientes
female vaginoplasty and disfunção do Incontinência de com sintomas
Estudo controle the role of physical therapy assoalho pélvico urgência Mobilização de disfunção
on functional and patient- nessa população e articular do assoalho
reported outcomes o papel da Constipação pélvico pode
fisioterapia no seu Fortalecimento melhorar
tratamento. Dificuldade para do quadril significativam
evacuar as fezes ente os
Exercícios sintomas antes
respiratórios e depois da
cirurgia
Eletroestimula
ção
Biofeedback.
eletroestimula
ção
Paganini et al., Função e disfunções Analisar as Estenose Exercícios Observou-se
2021 pélvicas: papel da funções e as respiratórios que as
fisioterapia após a cirurgia disfunções Prolapso com contração cirurgias de
Revisão de afirmação de gênero em pélvicas e do muscular afirmações de
Integrativa mulheres verificar o papel Incontinência gênero,pode
da fisioterapia urinária de urgência Alongamentos apresentar
pélvica após a e de esforço. da região complicações
cirurgia de lombo-pélvica, e o exercício
afirmação de Insatisfaçãosexual. pode trazer
gênero em Dilatador. sexualidade
122
mulheres Déficit de positiva, a
transexuais. relaxamento função sexual
prazerosa e a
Fraqueza muscular. feminilidade
das mulheres
transexuais
4. DISCUSSÃO
4.1 Disfunções pélvicas após a cirurgia
Jiang et al (2019) corrobora que as complicações causadas pela cirurgia de afirmação de gênero,
especificamente a Vaginoplastia que a mais utilizada, são muito frequente no pós operatório e as
questões urinárias, musculares e digestivas são as principais queixas, diante disso, em seu estudo 41
mulheres após cirurgia foram avaliadas, sendo 36% apresentaram disfunção muscular do assoalho
pélvico, 28% apresentaram disfunção urinária como incontinência urinária de esforço transitória e
22% apresentaram disfunção intestinal relacionada à constipação. Além disso, indo de acordo com
Manrique et al (2019) em seu estudo constou a 4%, das mulheres apresentou disúria, 2% Dor na
bexiga, 10% incontinência de urgência, Constipação com 16% e Dificuldade para evacuar 8%.
O Prolapso Pélvico foi relatado como umas das consequências da cirurgia, e isso pode ser explicado
por Wallace, Miller eMiISHRA, 2019) que afirmar queocorre devido o enfraquecimento dos
músculos e tecidos conjuntos da região, permitido a descida anormal dos órgãos pélvicos como
Útero, Ápice Vaginal, Bexiga e Reto, além disso, suas principais queixas de mulheres com Prolapso
são: sensação de peso na região, dor na lombar e perda de urina (WALLACE; MILLER &
MISHRA, 2019).
Já a incontinência urinária é causada pela perda involuntária da urina que ocorre em virtude da
alteração fisiológica da micção ou mesmo nas estruturas anatômicas da região envolvidas no
funcionamento da continência e que pode ser caracterizada por incontinência de esforço, de
urgência ou mista (RODRIGUES, 2022).
Outra complicação encontrada após a cirurgia, é as Disfunções sexuais, muitas mulheres têm a
perda da sensibilidade genital e alteração ao prazer, além de sentirem dor durante o ato sexual,
desejo sexual hipoativo, transtorno de aversão sexual, transtorno de excitação sexual, transtorno do
123
orgasmo. Essas alterações estão ligadas diretamente com as Disfunções Pélvicas já que são
ocasionadas em virtude de cirurgias Pélvicas, pela fraqueza muscular e músculos disfuncionais
hipertônicos, logo são associadas a uma perda significativa na qualidade de e o bem-estar das
(FERREIRA; CAMPOS; FERREIRA, 2018)
A principal causa das disfunções do assoalho pélvico após a cirurgia, está relacionada pela fraqueza
ou atrofia da musculatura, causada devido aos cortes e substituição de algumas estruturas da área,
que por sua vez acaba ocasionando o mau funcionamento da região, afetando a qualidade de vidas
dessas mulheres no pós-operatório (FERREIRA; CAMPOS e FERREIRA, 2018). Porém, para
Manrique et al (2019) vários fatores podem favorecer o aumento as disfunções, entre ele a terapia
hormonal com estrogênio e a privação de andrógeno que podem afetar a massa muscular do
assoalho pélvico e a sustentação dos órgãos pélvicos.
Ademais, para Jiang et al (2019) em sua pesquisa afirmar que o uso de dilatadores após a cirurgia
proporcionou a melhora da dilatação e funcionalidade vaginal em 89% das participantes, ainda
explica que essa taxa foi possível porque as participantes tiveram tratamento pré e pós-operatório
durante 3 meses.
124
melhora da função sexual de mulheres com incontinência urinária e disfunção sexual (COSTA et
al,2023).
De acordo com Jiang et al (2019), o fisioterapeuta tem como funçãode proporcionar a promoção em
saúde como ensinar e educar os pacientes sobre anatomia do assoalho pélvico e
fornecer conselhos práticos sobre a melhorar da dilatação, como a posição do corpo para facilitar o
relaxamento, e é de suma importância que esse profissional oriente exercícios respiratórios com
contração coordenada do assoalho pélvico para recrutamento da musculaturae alongamentos da
região lombo-pélvica queauxiliam na obtenção das posições necessárias para a inserção ativa do
dilatador.
Ferreira, Campos e Ferreira (2018) relata em um estudo que avaliou o efeito do treinamento dos
músculos do assoalho pélvico, sobre as disfunções sexuais femininas em 26 mulheres que
apresentavam diagnóstico de disfunção sexual como: transtorno de desejo sexual, de excitação,
orgástico e/ou dispareunia, as participantes foram avaliadas durante todo atendimento por meio da
palpação vaginal bidigitalpara avaliação da força dos músculos da região, através do
eletromiografia (EMG) intra-vaginal e avaliação da qualidade de vida sexual através do Female
Sexual Function Index. As mulheres foram submetidas ao treinamento em diferentes posições, por
dez sessões e o treinamento resultou na melhora da força muscular 69 %n qual apresentou grau 4 ou
5 de força na avaliação final e amplitudes de contração pela EMG, consequentemente a melhora na
função sexual.
5. CONCLUSÃO
Durante a busca notou-se uma escassez de estudos na literatura sobre a atuação da fisioterapia neste
público, como a utilização de protocolos e técnicas específicos desta área, voltados para as
intervenções e atuações na cirurgia de redesignação sexual, se fazendo assim, necessário novas
pesquisas e estudos voltados para esta temática, com objetivo de promover mais qualidade de vida e
bem estar para mulheres transe também, para redução das complicações cirúrgicasnopós operatório.
125
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127
EDUCAÇÃO EM SAÚDE COM GESTANTES E PROFISSIONAIS DE SAÚDE ACERCA DO
HTLV NA ATENÇÃO PRÉ-NATAL
INTRODUÇÃO
Descoberto na busca do Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV), o Vírus Linfotrópicode Células T
Humanas (HTLV), apesar de provocar impacto menor que o HIV, que causa a Síndrome da
Imunodeficiência Adquirida (AIDS), não deixa de ser relevante, pois esse vírus também infecta as
células de defesa (linfócitos T) do organismo (FERREIRA; ALMEIDA, 2017). A infecção pelo
HTLV é maior do que se imagina, pois estima-se que 2,5 milhões de brasileiros estejam infectados e
as formas de prevenção (uso de preservativos, preferência pelo parto cesáreo e fazer o teste
sorológico) e transmissão (relação sexual, transmissão vertical, periparto, transfusão sanguínea, entre
outros) ocorrem como em outros vírus, contribuindo para sua subnotificação (FERREIRAet al.,
2021).
Além disso, no contexto da Assistência Pré-natal, as informações são desconhecidas por muitos
profissionais da saúde, sobretudo pelos enfermeiros, profissionais que realizam a ponte de
educador/usuária. Nos exames laboratoriais, rotineiramente, não é solicitado e obrigatório a sorologia
para o anti-HTLV, não detectando gestantes infectadas, tornando-as transmissoras do vírus e
resultando em portadoras da doença, que pode evoluir a óbito ou adquirir manifestações clínicas de
doenças associadas: linfoma associada ao HTLV, paraparesiaespástica e acometimentos
oftalmológicos e/ou urológicos. Portanto, nesse cenário, o papel do profissional no diagnóstico
precoce e orientação imediata para os cuidados do binômio mãe-filho tornam-se indispensáveis
(SOARESet al., 2017).
Nesse contexto, entende-se a necessidade de efetivar ações de educação em saúde que possam evitar
que as gestantes venham desenvolver essa patologia. Para auxiliar nessa ação e na efetivação do
cuidado de enfermagem, são necessárias ferramentas que as potencializem. Assim, as práticas
educativas podem capacitar os indivíduos a intervir nas suas necessidades, com seus próprios
recursos, promovendo ações que efetivem e fomentem seu bem-estar e uma vida saudável
(SALBEGO et al., 2017).
128
A educação em saúde é concebida como um processo de troca de informações, do profissional aos
usuários de saúde, empregando tecnologias e/ou recursos simples, os quais levam o ouvinte a tornar-
se participativo, com a finalidade sensibilizar e manter esse participante consciente frente às
situações de interesse dos usuários. Dentro das atividades de educação em saúde, centraliza-se a
chamada comunicação conjugada, que se caracteriza por uma soma de elementos: persuasão,
instigação da opinião pública, tentativa de transformar ações comportamentais frente a prevenção de
doenças e incentivando a participação ativa da comunidade. Sob essa ótica, educação em saúde só
pode ser realizada no âmbito de prevenção e promoção à saúde, posto que o conhecimento interfere
no processo saúde-doença do usuário e, por conseguinte, reflete na saúde da comunidade
(CONCEIÇÃO et al., 2020).
OBJETIVOS
Objetivo Geral:
Desenvolver ação educativa que leve conhecimentos às gestantes e profissionais de saúde sobre o
HTLV na atenção pré-natal.
Objetivos Específicos:
1. Informar sobre as características, transmissão e patologias associadas ao HTLV na gestação;
2. Esclarecer sobre as formas de prevenção do HTLV na gestação;
3. Promover o conhecimento e debate entre gestantes e profissionais sobre o HTLV na atenção pré-
natal, contribuindo para a promoção em saúde dessa população.
MÉTODOS
Trata-se de um Relato de Experiência, ancorado nos moldes da Metodologia da Problematização,
recurso metodológico ativo que, de acordo com Rocha (2008), foi elaborado pela educadora Neusi
Aparecida Navas Berbel, tendo como base de aplicação o Arco de Maguerez, criado nos anos 1970.
Para a aplicabilidade da Metodologia da Problematização faz-se necessária a execução das cinco
etapas do Arco de Maguerez, que estão, respectivamente, definidas e interligadas entre si, da seguinte
maneira: Observação da realidade; Identificação de problemas; Definição de pontos-chave;
Teorização; Levantamento de hipóteses de solução; e Aplicação à realidade (COLOMBO; BERBEL,
2007).
A utilização dessa metodologia visa a observação minuciosa de uma determinada realidade pelo
estudante e/ou pesquisador, para que, a partir do olhar multifocal, seja possível a identificação dos
problemas, objetivando a elaboração de ações que intervenham de forma ativa para modificar a
realidade identificada (COLOMBO; BERBEL, 2007; ROCHA, 2008).
129
Foi desenvolvida na Unidade Básica de Saúde (UBS) do Pau Darco, localizada no município de
Santa Bárbara do Pará. Nessa Unidade, são desenvolvidos os Programas do Ministério da Saúde no
contexto da Atenção Primária em Saúde. A escolha do cenário se deu pelo fato da Unidade prestar
assistência pré-natal a, aproximadamente, 40 gestantes cadastradas, ser coberta por duas equipes de
Estratégia Saúde da Família (ESF), incluindo 14 Agentes Comunitários de Saúde (ACS), possuir
duas equipes de saúde bucal e estar situada em área de vulnerabilidade.
Participaram grupo de gestantes cadastradas na Unidade e profissionais de saúde que atuam no pré-
natal, selecionados por conveniência. Como critérios de inclusão das gestantes considerou-se:
grávidas cadastradas no programa de pré-natal, de qualquer idade gestacional e faixa etária, presentes
no dia da ação, excluindo-se aquelas que não se sentissem confortáveis e indispostas a participarem
da atividade, o que não ocorreu.Já para profissionais de saúde considerou-se: equipe multidiscplinar
que atuava no pré-natal, podendo ser: enfermeiros, assistentes sociais, nutricionistas, psicólogos,
médicos e odontólogos, de ambos os sexos, independente do tempo de atuação, e excluíram-se
aqueles indisponíveis no momento da atividade educativa, seja por falta no dia da ação, licença,
férias e/ou atestado.
O material utilizado para intermediar o processo educativofoi umfolder (Figura1), contendo figuras
ilustrativas e palavras impressas, que serviu de recurso didático-visual e apresentou a síntese das
principais informações repassadas aos participantes.
130
Para o desenvolvimento de todas as fases deste Projeto, procurou-se seguir as etapas da Metodologia
da Problematização, aplicada a partir do Arco de Maguerez. Dessa forma, a observação da realidade
se deu diante da aproximação e contato prévio dos autores com os profissionais da Unidade.
Neste contexto, relatou-se haver carência de ações educativas promovidas por seus profissionais.
Diante disso, o grupo procurou, então, apropriar-se de conhecimentos teóricos, a partir de revisão da
literatura, sobre as características da infecção pelo HTLV, transmissão, diagnóstico, prevenção e
patologias associadas. Mediante o levantamento dessas informações, a proposta de intervenção foi a
de levar às gestantes e profissionais do pré-natal informações básicas sobre o tema, por meio de ação
educativa e roda de conversa, entendendo ser esta uma estratégia viável para aplicação. Portanto, a
etapa de aplicação à realidade consistiu em levar informações, utilizando-se de linguagem acessível,
estimulando a participação efetiva de todos os sujeitos alvos da ação.
Realizou-se a atividade educativa na Unidade no mês de maio de 2023, onde as acadêmicas puderam
levar, inicialmente, as informações a que se propuseram, distribuindo a cada participante os foldersno
início da atividade, visando o alcance do processo educativo e formativo. Em um segundo momento,
os participantes compartilharam suas experiências e fizeram suas considerações.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Participaram da ação educativa 20 gestantes, 10 funcionários da UBS e 8 ACS, totalizando 38
participantes. O público foi bem receptivo e atento às informações expostas na roda de conversa e no
folder, sinalizando interesse em ambos.
A ação iniciou com apresentação das integrantes do grupo aos participantes, bem como da proposta
educativa que estava sendo trazida. As principais informações abordadas na roda, utilizando-se de
linguagem acessível, foram: a definição do HTLV, sua infecção nos linfócitos T do organismo,
características, transmissão e patologias associadas, ampliando-se a discussão sobre o
desconhecimento dos profissionais de saúde a respeito do vírus e a falta da obrigatoriedade do exame
de sorologia na gestação.
Estudo de Sales et al. (2017), afirmou que torna-se imprescindível que os profissionais de saúde
realizem uma assistência de qualidade às gestantes para prevenção do vírus HIV e/ou HTLV nos
serviços de saúde onde são atendidas, a exemplo da realização de ações educativas com o intuito de
promover a promoção da saúde e prevenção de futuras doenças no âmbito da atenção primária à
saúde.
131
Por esta razão, as gestantes e profissionais foram orientados quanto a importância do exame no pré-
natal, explicando que a sorologia para anti-HTLV é uma forma de detectar gestantes infectadas, para
que não se tornem transmissoras do vírus (LIMA et al., 2018). Também foi frisada a relevância da
disseminação do conhecimento sobre a infecção entre gestantes, parceiros, familiares e profissionais
da assistência, para que tenham consciência da disseminação pela transmissão vertical, quando ocorre
no parto normal e na amamentação de mães portadoras para os seus bebês.
Sabe-se que a amamentação exclusiva até os seis meses é fundamental para a vida do bebê, pois o
leite materno oferece anticorpos, nutrientes e minerais, e que todos corroboram para um crescimento
saudável. Todavia, a gestante que possuir o diagnóstico de HTLV-I deve ser orientada a não realizar
a amamentação, uma vez que o vírus pode ofertar riscos à saúde da criança (FIGUEIREDO-ALVES;
NONATO; CUNHA, 2019).
Ao final, foi estimulada a fala dos participantes pelas acadêmicas condutoras da ação, que se
manifestaram com dúvidas, relatos de experiências/casos e depoimentos sobre o HTLV na gestação.
Observou-se que a realização desta ação proporcionou a troca de saberes e informações importantes,
permitindo um diálogo profícuo entre as acadêmicas, gestantes e profissionais de saúde da Unidade.
A não interrupção e pouca dispersão do público, fatos constatados durante os momentos da ação,
permite inferir que o conteúdo foi bem assimilado pelas gestantes e profissionais.
Sendo assim, a enfermagem dentro do contexto do cuidado protagoniza uma assistência direta por
estar mais próxima da paciente por meio da prática assistencial e sistemática, de forma abrangente e
holística, utilizando-se de práticas multidisciplinares que viabilizam a organização do serviço,
constituindo seu fazer em diversas ações (STELLENBERG; NGWEKAZI, 2016).
Dessa forma, a enfermagem tem um papel fundamental na rotina dessas mulheres com o dever de
orientar, assistir e apoiar, utilizando uma linguagem simples e que possa contribuir para o processo
psicoemocional. O reconhecimento do processo saúde-doença com relação às formas alternativas de
produção do cuidado de enfermagem pode se dar pela adoção de tecnologias de trabalho pensadas
como estratégias criativas e inovadoras (ALVES et al., 2019).
132
que muitos deles não possuíam conhecimentos aprofundados sobre o assunto e/ou não compreendiam
sua importância para assistência perinatal.
A sorologia do HTLV deveria ser obrigatória durante a consulta de pré-natal, pois o Brasil está à
frente de todos os demais países da América Latina, liderando com o maior número de pessoas
contaminadas pelo HTLV-I. Se existisse essa obrigatoriedade, seria possível pensar sobre uma
redução no número de casos e ventilar a ideia de política pública voltada para sua erradicação
(BRASIL, 2019).
CONCLUSÃO
Os resultados da experiência contribuíram para reconhecer como a dinâmica de grupo com gestantes
favorece a aproximação e o vínculo, resultando em momentos de ação-reflexão para a identificação
das necessidades do cuidado, colaborando no planejamento e implementação da assistência para
prevenção do HTLV.
A implementação de uma prática de saúde às gestantes e equipe de saúde, pautada numa abordagem
dialógica através de grupos interativos, procurou estimular a interação, o apoio e a troca de
experiências entre os participantes, bem como estratégias de aprendizagem e enfrentamento do
HTLV durante a gestação. Além disso, os resultados também demonstraram que as boas práticas,
aliadas ao envolvimento da equipe multidisciplinar, podem contribuir para a mudança de paradigmas
no cenário obstétrico, contribuindo para melhor formação acadêmica das discentes envolvidas.
Dessa forma, espera-se que possa vir a subsidiar outros estudos na área da saúde e enfermagem, a fim
de qualificar o cuidado obstétrico, possuindo o programa de pré-natal e as ações educativas realizadas
em seu âmbito campos estratégicos para prevenção do HTLV na gestação, a fim de assegurar à
mulher o direito à atenção humanizada na gravidez, no parto e no puerpério.
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08maio. 2023.
134
CONTRATO DE TRABALHO INTERMITENTE: FLEXIBILIZAÇÃO E (DES) EMPREGO
Denise Marques dos Santos
Pedro Tourinho Tupinambá
1. INTRODUÇÃO
A Reforma Trabalhista realizada no ano de 2017, através da Lei 13.467/17, trouxe como novidade
para o direito brasileiro a possibilidade de contratação do empregado na modalidade de intermitente.
Essa modalidade contratual implica em inegável diminuição de ganhos para o trabalhador na medida
em que o empregado somente recebe o pagamento quando chamado para trabalhar, sendo que não há
previsibilidade de pagamento do empregado no período de inatividade.
Os argumentos utilizados para que fosse aprovada essa modalidade de contrato de trabalho eram de
que com essa medida iria se diminuir a taxa de desemprego e tirar vários trabalhadores da
informalidade, o que garantiria uma melhor qualidade de vida para essas pessoas.
Ocorre que há uma grande discussão a respeito dos efeitos deste contrato, sendo que, para muitos
juristas, esta modalidade contratual iria violar o direito dos trabalhadores a condições dignas de
trabalho e não alcançaria o objetivo de diminuir o desemprego.
Essa pesquisa se justifica pela necessidade de verificar se essa modalidade de contratação trabalhista
contribui de alguma forma para a sociedade e para a garantia dos direitos humanos dos trabalhadores.
Isso porque em uma interpretação constitucional o trabalho garantido ao ser humano é aquele que
resguarda a sua dignidade enquanto pessoa, não podendo ser qualquer trabalho, daí a proibição do
trabalho análogo ao de escravo e a busca incessante pelo direito nacional e internacional do Trabalho
Decente.
Assim, verificou-se em primeiro lugar se a utilização deste contrato de trabalho de fato trouxe uma
diminuição da informalidade e da taxa de desemprego.
Em um segundo momento, foi verificado se a utilização deste contrato garante de fato uma dignidade
a esses trabalhadores ou apenas há uma exploração de sua mão de obra sem a garantia da dignidade
humana.
Portanto, este artigo analisa se a utilização do contrato intermitente no Brasil de fato teria tirado os
trabalhadores da informalidade e se contribuiu ou não para a diminuição do desemprego com
qualidade de vida aos trabalhadores.
2. Objetivo(s):
Esta pesquisa tem como objetivo geral analisar se o contrato intermitente, previsto na Lei 13.467/17,
tem como contribuir ou não para retirar o trabalhador da informalidade e se realmente contribui para
a diminuição do desemprego.
Contribuindo ou não para a diminuição do desemprego e da informalidade, analisar-se-ão os efeitos
da utilização deste contrato em relação ao princípio da dignidade humana do trabalhador.
3. Métodos:
A metodologia a ser utilizada nesta pesquisa será de abordagem qualitativa e quantitativa, com a
utilização dos métodos dedutivo e fenomenológico. Para tanto será realizada a coleta de dados
primários e secundários, fazendo uma revisão descritiva e exploratória.
135
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES.
4.1 A RELAÇÃO DE EMPREGO E O CONTRATO INTERMITENTE NO BRASIL :
PRECARIZAÇÃO OU DIMINUIÇÃO DO DESEMPREGO ?
É verdade que quanto à prestação de serviços temos diversas modalidades, mas nem todas gozam das
garantias protetivas estabelecidas ao empregado. Assim, os trabalhadores eventuais, os trabalhadores
autônomos, entre outras modalidades que não satisfazem os requisitos do art. 3º, da CLT, ficam à
margem da proteção legal garantida aos denominados empregados e geralmente possuem apenas o
direito de receber o valor ajustado pela prestação de seus serviços.
Em um momento de crise econômica e política pela qual o Estado Brasileiro vinha atravessando, foi
aprovada a Lei 13.467/17, que entrou em vigor no mês de novembro de 2017 e entre as alterações
introduzidas o legislador incluiu a previsão do denominado Contrato de Trabalho Intermitente.
Apesar das inúmeras formas de trabalho existentes no Brasil e no mundo, deve ser destacado que o
contrato intermitente está inserido como uma modalidade da relação de emprego. Não se pode
confundir o contrato intermitente (modalidade de relação de emprego) com os trabalhos eventuais
típicos, nem com outras formas de trabalho como, por exemplo, a do trabalhador autônomo, que são
caracterizadas como relação de trabalho, mas sem o liame empregatício por estarem ausentes alguns
de seus requisitos como a ausência da subordinação no caso do autônomo.
Essa nova modalidade de relação de emprego traz certa preocupação para grande parte dos
doutrinadores brasileiros, uma vez que se trata de um contrato em que se admite a ausência da
habitualidade (art.443, §3º, CLT) quando o art.3º, da CLT, reconhece a habitualidade como um dos
elementos essenciais à relação de emprego.
A intermitência na prestação de serviços é o elemento principal que vai diferenciar essa modalidade
de relação de emprego do contrato de trabalho tradicional que possui regularidade na prestação de
serviços.
136
Ao mesmo tempo em que a nova lei prevê a existência de contrato de trabalho sem habitualidade,
estabelece expressamente que o período em que não houver prestação efetiva de serviço não será
considerado tempo à disposição do empregador. Isso em outras palavras significa dizer que aos
trabalhadores intermitentes somente haverá pagamento de salário em relação às horas efetivamente
laboradas e, portanto, caso seja chamado apenas quatro dias na semana para trabalhar quatro horas
em cada um desses dias, será remunerado apenas por essas horas de trabalho enquanto o trabalhador
tradicional possui uma jornada a ser cumprida e é remunerado, inclusive, pelo tempo que esteja à
disposição do empregador mesmo não havendo a execução do serviço.
Ao defender esse novo modelo contratual, durante a tramitação da Reforma Trabalhista na câmara
dos Deputados, sob o nº de projeto de Lei 6.787/16, o então Deputado Federal Rogério Marinho,
apresentou parecer no qual defendia que a adoção deste tipo de contrato iria originar uma grande
quantidade de contratação, principalmente nos setores do comércio, bares, restaurantes e de turismo,
fazendo referência expressa ao modelo adotado nos Estados Unidos através de uma projeção
apresentada pela Frente Parlamentar Mista em defesa do comércio, serviços e empreendedorismo.
Apesar da defesa desta modalidade de contratação no direito brasileiro, ao adotar um modelo similar
ao dos Estados Unidos sem a precaução de garantir uma renda mínima ao trabalhador durante o
período de inatividade, que pode durar meses, considerando, ainda, que não há limitação de sua
utilização a atividades temporárias, esse contrato trouxe consigo o risco iminente de ferir o direito à
remuneração justa do trabalhador, que é um dos elementos do Trabalho Decente preconizado pela
OIT.
Franco Filho, por exemplo, ao criticar a nova modalidade contratual comparando-a com ao contrato
tradicional, afirmou:
É essa condição de habitualidade que permite ao empregado sentir-se participante da empresa, e à
empresa é o aumento do grau de fidúcia naquele trabalhador que ajuda o empreendimento crescer.
O outro traço igualmente importante é o fato de haver remuneração ao empregado pelo trabalho
prestado e essa contraprestação deve ser permanente, constante, frequente, de modo a garantir a
tranquilidade necessária para o trabalhador desenvolver sua atividade, sabendo que, ao final de
determinado período, receberá o justo valor avençado.
137
A ausência dessa remunerabilidade inquieta e desestimula o trabalhador, [...] (FRANCO FILHO,
2017, p.118).
No mesmo sentido Martinez (2018) esclareceu que pela lógica da análise econômica do Direito a
previsibilidade legal do contrato intermitente não iria implicar em trazer para a formalidade os
trabalhadores eventuais e que fizessem bicos uma vez que o custo para tornar formal esses
trabalhadores que continuariam sem precisar ser formal seria bem maior que mantê-los na
informalidade.
Assim, será observado como se comportou a utilização do contrato intermitente no direito comparado
e, também, como se comportou o mercado de trabalho brasileiro após a adoção dessa modalidade
contratual. Pois, dessa maneira poderemos saber se de fato a adoção da referida modalidade
contratual efetivamente contribuiu para a diminuição do desemprego ou se simplesmente trouxe a
possibilidade de precarizar a relação de emprego substituindo postos de trabalho com tempo integral
por trabalhos intermitentes.
O trabalho intermitente não se trata de uma inovação do direito pátrio, segundo Rosso (2017),
embora a Lei nº 13.467 de julho de 2017, tenha trazido para o ordenamento jurídico, esta modalidade
de contratação já era conhecida nos sistemas jurídicos tais como o italiano, denominado “lavoro
intermitente”, o português, admitindo as duas sub modalidade de contratos, “o alternado e o
138
chamado”, o inglês, onde é chamado “zero hour” o espanhol denominado de “descontinuo” e pode
ser acrescentado, ainda, o estadunidense denominado de Just in time schedulling .
Cada um destes países regulamenta os contratos de trabalho intermitentes de forma diferente, embora
possam ser verificados pontos de convergência entre as regulamentações estrangeiras e nacionais.
Neste artigo, a análise será restrita aos modelos adotados no Reino Unido e Estados Unidos da
América em razão de serem os modelos que mais se assemelham ao brasileiro e que não trazem
nenhum tipo de proteção ao empregado.
Conhecido como contrato de “zero hour” (zero hora) no Reino Unido, como o nome sugere, os
contratos de trabalho intermitentes no Reino Unido não oferecem garantia de horas mínimas de
trabalho, portanto o empregado deve trabalhar conforme exigido pelo empregador. Portanto, este
modelo de contrato é amplamente utilizado para serviços de demanda sazonal.
Neste artigo, a análise será restrita aos modelos adotados no Reino Unido e Estados Unidos da
América em razão de serem os modelos que mais se assemelham ao brasileiro e que não trazem
nenhum tipo de proteção ao empregado.
O art. 27-A do Employment Rights Act regulamenta esta forma de contrato. De acordo com este
dispositivo, os contratos de zero hora são caracterizados por nenhuma garantia de renda salarial e
nenhuma garantia prestação de serviços (OIT, 2018).
Assim como a legislação brasileira, a regulamentação do Reino Unido não especifica como o serviço
será prestado, cabendo aos contratantes. Além disto, os trabalhadores podem ser chamados para
trabalhar a qualquer momento. No Reino Unido os empregado ficam à mercê de seus empregadores.
De acordo com o “Office for National Statistics” (Gabinete de Estatísticas Nacionais), os empregados
contratados de forma intermitente ganham cerca de duas vezes e meio (2,5) menos do que os
empregados com contratos tradicionais.
A regulamentação legal aberta do Reino Unido, deixando ao ajuste individual ampla margem de
disciplina do contrato zero hora, agrava a situação do trabalhador, que fica sujeito, na prática, ao puro
poder patronal. Embora no universo dos vínculos de trabalho, o zero hora represente apenas 3% dos
contratos laborais no Reino Unido, diante da vulnerabilidade dos trabalhadores e da possibilidade de
139
crescimento dessa modalidade contratual, é necessário encontrar soluções para torná-lo mais
compatível com as proteções sociais, no intuito de vedar o uso do trabalho como livre mercadoria
(NOGUEIRA, 2017, p. 35)
Os trabalhadores tradicionais ganham em média quatrocentos e setenta e nove dólares (US$ 479,00)
por semana, enquanto os trabalhadores intermitentes ganham menos da metade, ou seja, cento e
oitenta e oito dólares (US$ 188) por semana (OIT, 2018, p. 5).
O sistema brasileiro adotou as condições de trabalho intermitente similares ao do Reino Unido e dos
Estados Unidos, de tradição do common law, onde além de não haver remuneração do período de
inatividade, também, tal modalidade pode ser utilizada em qualquer tipo de trabalho ou atividade
econômica transferindo o risco da atividade econômica para o trabalhador.
Em pesquisa realizada (ZERO, 2017, p.2) constatou-se que até o útlimo trimestre de 2016,
aproximadamente 2,8% dos trabalhadores britânicos estavam contratados sob a modalidade do zero
hour contracts, onde em sua maioria nas multinacionais e empresa de grande porte.
Ora, esse dado alcançado pela análise desse trabalho demonstra em primeiro lugar que as empresas
que contrataram na modalidade intermitente são empresas que de regra não possuem dificuldade
econômica para contratar os mesmos trabalhadores de forma integral. Demonstra, também, que para
as atividades contratadas, entre elas a de fast food, são atividades que não caracterizariam “bicos” e
nem trabalhos não eventuais, o que desmistifica os argumentos de que seriam trazidos das
informalidades para o contrato intermitente os trabalhadores que estariam fora do sistema de proteção
social. Na realidade, os dados apontam para uma leve substituição dos trabalhadores de tempo
integral(tradicional) pelos denominados intermitentes.
Nos Estados Unidos da América, também, a situação é similar ao ponto de que as grandes empresas
de fast food, restaurantes e lojas são as que utilizam essa modalidade de contratação.
Apesar da modalidade muito difundida nos EUA, as críticas de economistas e, também, de
trabalhadores quanto à precarização dessa mão de obra é muito grande.
Reich (2015), ex-secretário de trabalho do governo de Bill Clinton e professor de políticas públicas
da universidade da Califórnia, criticou esse modelo de contratação ao afirmar que tem como
consequência o afastamento da segurança das famílias desses trabalhadores em razão da
imprevisibilidade do trabalho o que ocasiona, por sua vez, a possiblidade de não contar com
pagamento algum durante semanas ou meses enquanto não for chamado para o trabalho.
140
Deve ser ressaltado, ainda, que na Nova Zelandia se adotou inicialmente o contrato intermitente e
depois este tipo de contratação foi abolida naquele país ao argumento de que apenas precarizava as
relações de trabalho (TUPINAMBÁ, 2021).
Ora, verifica-se no direito estrangeiro, especificamente nos países em que o contrato é bem similar ao
brasileiro, que essa modalidade contratual adotada precariza as relações de trablaho e não contribui
efetivamente para a redução do desemprego
O contrato intermitente, conforme já explicado, passa a ser admitido no direito brasileiro a partir de
novembro de 2017 quando é inserido pela reforma trabalhista (Lei 13.467/17).
Para verificar o impacto dessa nova modalidade contratual em relação à empregabilidade,
especialmente quanto ao aumento ou não dos chamados empregos formais, foram levantados dados
estatísticos do Caged e do IBGE quanto à medição do índice de empregabilidade do período anterior
à Reforma Trabalhista e do período posterior, para que mediante a comparação dos dados tenhamos a
visão adequada do impacto nas relações de emprego.
Os primeiros números obtidos pelo IBGE, logo após a entrada em vigor da reforma trabalhista,
demonstraram que, nos primeiros meses pós Reforma Laboral, a economia não cresceu e nem mesmo
o número de postos de serviços, conforme demonstra a tabela de taxa de desocupação a seguir:
Aliás, conforme se verifica pela análise do gráfico acima, no período de 2014 a 2018, o melhor
momento vivido pelo Estado Brasileiro ocorreu no último trimestre de 2014 quando a taxa de
desocupação era de apenas 6,5% enquanto no último trimestre de 2017 estava em 11, 8 e após
141
4(quatro) meses da entrada em vigor da lei que prevê a possibilidade de utilização do contrato
intermitente a taxa de desocupação subiu para 13,1%.
Os dados iniciais já apontavam que não haveria a tão falada diminuição do desemprego e com o
agravante de ver contratos de trabalho com a garantia do pagamento de tempo à disposição e
consequentemente uma remuneração maior por contratos sem a garantia de pagamento do tempo à
disposição e com clara redução no valor da remuneração do empregado.
Ampliando o período de análise dos dados obtidos pelo IBGE, através do PNAD, no período de 2012
a 2023, torna-se possível verificar que a variação ocorrida na taxa de desocupação no período pós
reforma trabahista demonstra que a alteração legislativa não surtiu os efeitos preconizados por
aqueles que a propuseram e aprovaram. Essa constatação pode ser demonstrada pela análise do
gráfico a seguir:
De acordo com o levantamento oficial feito pelo IBGE é possível ao comparar os cinco anos
anteriores à reforma trabalhista com os cinco anos posteriores à reforma, que o ano em que a taxa de
desocupação foi menor ocorreu em 2014 quando o desemprego era de apenas 6,8% enquanto o
menor índice de desocupação após a reforma ocorreu em 2018 que foi de 12,5%.
Ressalte-se que a taxa atual, referente ao primeiro trimestre de 2023 chegou a ser de 8,8%(a menor
do período pós reforma), porém não pode ser utilizada porque seria necessário fazer a análise anual
142
para que a comparação seja compatível e equitativa. Mesmo assim, esse índice, ainda, é superior ao
menor índice alcançado no período anterior à reforma trabalhista.
Excluindo-se o percentual do ano de 2017 pelo fato de que foi o ano em que se aprovou a reforma e a
mesa entrou em vigor no mês de novembro daquele ano, temo que a média da taxa de desocupação
do período de 2012 a 2016 foi de 8,24% enquanto a média referente aos cinco anos posteriores à
entrada em vigor da nova modalidade é de 12,49%. A partir desses dados é possível deduzir que
antes de se adotar a modalidade do trabalho intermitente, a quantidade de sesemprego era menor do
que em relação ao período no qual se adotou essa modalidade de flexibilização do contrato de
trabalho.
É verdade que no ano de 2020 tivemos a pandemia do coronavírus que trouxe um desaquecimento da
economia, com exceção de alguns setores considerados essenciais que por sua vez tiveram um
aumento de demanda.
Os dados obtidos comprovam que a flexibilização do contrato de trabalho, com diminuição dos
ganhos para o trabalhador não é fator a influenciar na obtenção de mais postos de serviços. Mais uma
vez, pode ser constatado que os fatores que ocasionam o desemprego são outros que não os direitos a
serem assegurados aos epregado, eis que para que haja a produção é necessário que tenha demanda,
para que seja contratado empregado é necessário que haja a necessidade da utilização de seu serviço
e isso somente será possível se houver um crescimento da economia com o aquecimento do mercado
e da macroeconomia.
Constatado que a utilização dessa nova modalidade de contratação não surtiu os efeitos necessários
para aumentar os postos de serviço, será analisado agora, a questão da qualidade nessas relações de
trabalho.
De acordo com dados obtidos pelo Dieese (2023) a contratação de trabalhadores sob a modalidade do
contrato intermitente trouxe uma precarização das relações laborais, com grande perda aos
trabalhadores, onde se constatou que 43% dos trabalhadores interitentes obtiveram uma renda inferior
a um salário mínimo. A média da remuneração mensal nesse tipo de contratação ficou no valor
143
mensal de R$ 954,00 que equivale a um valor inferior ao salário mínimo legal. Além disso, foi
constatado pelo levantamento feito pelo Dieese que a jornada de trabalho do empregado intermitente
foi baixa ou nula, em alguns casos, sendo que 11% desses vínculos não houve sequer convocação dos
trabalhadores para prestar serviços no ano de 2023.
De acordo com levantamento feito junto ao CAGED, em 2023, a cada 10 trabalhadores contratados
nessa nova modalidade 4 trabalhadores não tiveram atividade e nem renda(pagamento).
Pela análise do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED), onde ficam registradas
as admissões e demissões de empregados, vários setores têm utilizado a contratação de trabalhadores
na modalidade intermitentes, entre eles o setor de serviços, comércio, construção civil e indústria.
Pela natureza das atividades desses setores que não é temporária e nem sazonal, facilmente pode ser
deduzido que essas contratações não decorreram de transformação do trabalhador eventual (aquele
que faz bico) em trabalhador formal, mas sim de substituição de mão de obra em que o contrato
garantia pagamento de valor mínimo (salário mínimo) por trabalhadores que poderiam receber um
salário mensal inferior ao valor do salário mínimo ou até mesmo ficar sem nada receber.
Esses dados são preocupantes, na medida em que o salário mínimo nacionalmente unificado é a base
de sustento do trabalhador e sua família, previsto constitucionalmente, a fim de garantir a qualidade
de vida do trabalhador e sua família.
O Direito ao trabalho garantido a todas as pessoas não é o direito a qualquer tipo de trabalho, mas a
um trabalho que garanta a dignidade ao trabalhador. A remuneração mínima, que seja essencial para
que possa usufruir os seus direitos básicos (art. 7º, IV, CF/88) é essencial e sem esse direito não tem
como se pensar em lazer, alimentação, habitação etc.
Constata-se de forma indubitável que a utilização do contrato intermitente no Brasil, da forma como
prevista na Lei 13.467/2017, além de não diminuir o desemprego contribui para a precarização do
contrato de trabalho com flagrante violação da dignidade humana do trabalhador.
5. CONCLUSÃO
Através da pesquisa realizada foi possível constatar que os argumentos favoráveis à adoção do
contrato intermitente no Brasil como forma ou meio de proporcionar aumentar os postos de serviços
e em consequência diminuir o índice de desemprego não tem base científica e não se comprovou ao
longo de mais de cinco anos depois de entrar em vigor essa alteração.
144
Aliás, na análise do direito comparado, já se deveria observar que o contrato intermitente tem um
efeito precarizante muito grande ao ponto de violar, em muitas situações, a própria manutenção do
trabalhador e sua família.
Nos Estados Unidos da América há um grande debate e uma grande reação tanto de trabalhadores
como de economistas e estudiosos sobre o assunto, justamente pelo fato deste modelo não garantir
uma renda mínima ao trabalhador e trazer uma instabilidade muito grante a ele e sua família.
Na Nova Zelândia esse contrato teve curtíssima duração, eis que aquele Estado ao verificar que as
condições dos trabalhadores eram precárias resolveu banir o contrato intermitente do país.
No Brasil, os dados estatísticos demonstram de forma clara que a utilização do contrato intermitente
não fez diminuir a taxa de desemprego (em outras palavras não aumentou os postos de serviços),
trouxe na verdade uma substituição de parte da mão de obra em que se garantia um mínimo de
direitos tais como remuneração não inferior ao salário mínimo por trabalhadores sem essa garantia.
Acrescente-se a isso, o fato de parte desses contratos formais não implicar em real atividade e nem de
real recebimento de salário uma vez que boa parte desses trabalhadores ficam sem trabalhar e sem
receber renda por meses.
Portanto, a conclusão é de que o contrato intermitente serviu apenas para precarizar a relação de
emprego, trazendo uma potencial retirada da renda mínima do trabalhador que passa a ser visto como
um simples custo na produção o que viola o princípio da dignidade da pessoa humana e retira do
trabalhador o direito de ter o seu mínimo existencial.
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147
A POLÍTICA MIGRATÓRIA MUNICIPAL COMO INSTRUMENTO DE PROTEÇÃO DE
DIREITOS HUMANOS DE MIGRANTES E REFUGIADOS NA CIDADE DE BELÉM
INTRODUÇÃO
Devido a intensa crise econômica, política e social vivida pela Venezuela, o número de pessoas
oriundas desse país aumentou vertiginosamente a partir de 2017, gerando profundos impactos
sociais nas cidades destino do fluxo migratório (AGUIAR, 2015)
Nesse contexto e criação e implantação de uma política migratória municipal é essencial para
definir o papel do município de Belém no contexto do fluxo migratório internacional.
Assim, este trabalho visa investigar as propostas legislativa que tramitam na Câmara de vereadores
de Belém, comparando-a com leis municipais migratórias de outros estados, com a finalidade de
investigar o papel do poder legislativo diante do aumento de pessoas refugiadas na capital paraense.
OBJETIVOS
O objetivo desta pesquisa é analisar quantitativamente o número de projetos de lei migratória. Na
execução da atividade foi localizado somente um projeto de lei migratória no município de Belém.
O objetivo qualitativo foi a investigação do conteúdo do projeto, verificando que basicamente o
148
projeto de lei trata de quatro assuntos, a saber, diretrizes, princípios, objetivos e ações voltadas a
construção de uma política migratória da cidade de Belém pautada na proteção de direitos humanos.
A partir da análise foi possível notar que o projeto de lei não estabelece distribuição de competência
entre as secretarias municipais e não cria cargos públicos específicos para uma política migratória
municipal. Essa omissão advém da lei orgânica municipal vedar que projeto de lei de autoria de
vereador crie atribuições para o Poder Executivo.
Um dos objetivos específicos desta pesquisa foi acompanhar a tramitação do Projeto na Câmara de
Vereadores. Em votação realizado no dia 4 de abril de 2023 o poder legislativo de Belém aprovou o
Projeto de Lei por unanimidade, tornando a capital paraense a primeira cidade do norte a ter
legislação específica sobre o tema.
MÉTODOS
A pesquisa realizada foi bibliográfica e documental. Na pesquisa bibliográfica foi analisado a
doutrina nacional e regional sobre migrantes e refugiados para investigar conceitos, teorias e dados
que possam subsidiar uma investigação técnica de propostas legislativas migratória municipal.
Ao analisar a legislação foi identificado que a lei institui principios, diretrizes, objetivos e ações
sobre a política municipal para migrantes, solicitantes de refúgio, refugiados, apatridas e asilados. A
Lei inicia definindo o conteúdo de cada instituto migratório supracitado, reproduzindo o que já
prevê a legislação federal.
Da análise da legislação se conclui que o autor do projeto de lei, vereador Fernando Carneiro, não
incluiu tópicos que só podem ser propostos pelo chefe do executivo municipal, tais como criação de
cargos, comitê e previsão orçamentária.
149
internacionais e federais existentes.
Entre os objetivos estabelecidos pela lei há previsão para garantir o acesso a direitos sociais e aos
serviços públicos de acordo às suas especificidades, promover o respeito à diversidade e à
interculturalidade, reconhecer, visibilizar, fomentar e garantir a participação social nos espaços de
discussão e deliberação, promovendo a articulação desta população com o Poder Público e da
sociedade civil.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
No atendimento do estrangeiro a primeira dificuldade pode ser o idioma. Há idiomas que facilitam a
comunicação, como o espanhol, e permitem a comunicação mesmo que os interlocutores não
dominem o idioma do outro país. Mas há idiomas que não facilitam a comunicação e podem
dificultar o esclarecimento dos aspectos legais que envolvam o ordenamento jurídico pátrio.
Essa narrativa é importante para que o Comitê Nacional para os Refugiados (CONARE) possa
encontrar o fundamento legal para o reconhecimento da condição de refugiado, ou seja, é preciso
saber se o solicitante é vítima de perseguição, violação de direitos humanos ou outra hipótese legal.
Durante o processo para determinar a condição de refugiado várias pesquisas são realizadas para
determinar a validade das informações prestadas pelo solicitante de refúgio. Basicamente o COI
contribui na obtenção de informações confiáveis sobre a situação do Estado de Origem com a
finalidade de entender o cenário que ensejou a busca pelo refúgio.
150
Assim, ao solicitar refúgio o interessado deve prestar informações de forma clara e detalhada, pois é
essa narrativa dos motivos que motivaram a fuga do país de origem que irão subsidiar o
reconhecimento ou não da condição de refugiado dentro do Brasil.
Uma rede integrada municipal pode facilitar a efetivação de direitos humanos de migrantes e
refugiados. A política migratória municipal em Belém pode delimitar a competência de cada
secretaria, estabelecer orçamento para política migratória e prever a criação de conselho com ampla
participação de migrantes e refugiados no processo de tomada de decisão.
Desta maneira a Lei Municipal n.º 9.897/2023 estabelece parâmetros gerais que servirão de
referência normativa para novos decretos, portarias e resoluções posteriores que tratem sobre
direitos e deveres de migrantes e refugiados em trânsito ou residentes em Belém.
CONCLUSÃO
A Lei Municipal n.º 9.897/2023 representa um grande avanço na proteção de direitos humanos de
pessoas em deslocamento internacional. Essa legislação torna a cidade de Belém a primeira do norte
do Brasil a ter uma lei migratória municipal.
A Prefeitura optou por assumir seu papel na defesa de direitos e na construção de uma sociedade
belenense mais acolhedora. Contribuiu no atendimento de dezenas de migrantes e refugiados, exigiu
dos agentes públicos a prestação de serviço eficiente e combateu a prática de atos xenofóbicos.
Desta forma, ainda há bastante para avançar, mas a nova lei migratória da cidade de Belém
representa um compromisso do poder público com o acolhimento, integração e garantia de direitos
humanos de pessoas em situação de vulnerabilidade internacional que foram forçadas a sair de sua
terra.
REFERÊNCIAS
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critérios para a determinação da condição de refugiado: de acordo com a Convenção de 1951
151
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152
A REFORMA TRABALHISTA (LEI 13.467/17) E SEUS IMPACTOS NO ACESSO À JUSTIÇA
1. INTRODUÇÃO
A Reforma Trabalhista de 2017, ocorrida no Brasil, trouxe em um dos seus eixos a alteração de
normas processuais ao argumento de que seria necessário diminuir a quantidade de processos
existentes no Poder Judiciário.
Entre as alterações das normas processuais, que buscaram diminuir as demandas, vieram as regras
dos artigos 790-B, caput, §4º; 791-A, §3º e §2º, do art. 844, da CLT que estabeleceram a
possibilidade de cobrança de honorários advocatícios de sucumbência, custas processuais e
honorários periciais ao benefíciário de Justiça Gratuita.
Sandoval Silva (2017) ensina que para a ordem constitucional e processual brasileira o acesso à
justiça deve se pautar nos diversos dispositivos constitucionais segundo os quais a lei não escluirá
da apreciação do Poder Judiciário a lesão ou ameaça a direito, mesmo que para isso seja necessário
garantir a justiça gratuita aos necessitados.
Esta pesquisa visa analisar se realmente as mudanças realizadas impactam nesse acesso à justiça no
âmbito do Direito Processual do Trabalho.
2. OBJETIVOS
Este trabalho propõe avaliar o impacto no acesso ao judiciário pós reforma trabalhista. Para essa
avaliação, verifica-se a ocorrência ou não da diminuição no número de demandas trabalhistas
perante o Judiciário no período pós-reforma além da análise jurídica da compatibilidade com as
normas constitucionais e convencionais que tratam da matéria.
153
Com isso é possível saber se a garantia dos Direitos Trabalhistas ficou ou não prejudicada por conta
dessas inovações processuais.
3. MÉTODOS
A metodologia utilizada é de abordagem qualitativa com apoio em dados quantitativos e método
dedutivo.
O material utilizado para a pesquisa corresponde a artigos científicos obtidos em revistas e livros de
pesquisas acadêmicas, bem como de dados oficiais obtidos junto a registros no órgão judicial.
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
4.1 A reforma trabalhista e o direito constitucional de acesso à justiça.
No processo do trabalho, antes das alterações trazidas pela Lei 13.467/2017, a Justiça Gratuita era um
benefício concedido às pessoas que recebessem salário igual ou inferior a duas vezes o salário mínimo
legal, ou que declarassem, sob as penalidades legais, que não teriam condições de pagar as custas
processuais sem prejuízo do seu sustento próprio e de sua família.
Utilizando os argumentos de que haveria uma “indústria” de reclamações trabalhistas, onde teríamos um
número de processos em excesso, o que traria a necessidade de limitação das demandas a fim de garantir
uma maior segurança jurídica que proporcionaria, por sua vez, aumento de índices de empregos em
razão de possíveis investimentos, o legislador reformista alterou substancialmente o sistema de
gratuidade judiciária no âmbito laboral.
Por outro lado, apesar do pouco debate que existiu no âmbito do Poder Legislativo e na sociedade,
durante a tramitação do projeto de lei da reforma trabalhista, tivemos diversos juristas e entidades
representativas de classes que se manifestavam contra a reforma trabalhista, inclusive, questionavam a
constitucionalidade e viabilidade das alterações processuais contrariando os argumentos dos defensores
dessas alterações.
154
Entre os argumentos contrários a essas alterações processuais, defendia-se em primeiro lugar que não
haveria as chamadas “indústrias” de ações trabalhistas o que seria perfeitamente visível pela análise dos
dados disponíveis no CNJ referente a Justiça em números onde se poderia constatar que a maioria das
ações trabalhistas versam apenas sobre o não pagamento de verbas rescisórias. Além disso,
argumentava-se de que ao estabelecer restrições processuais tais como imposição de custas, honorários
advocatícios de sucumbência e pagamento de honorários periciais pela parte vencida no objeto da
perícia mesmo sendo beneficiário de justiça gratuita, seria o mesmo que impedir ou inibir o acesso à
Justiça.
Mesmo com os argumentos contrários, a reforma trabalhista foi aprovada e as regras da CLT que
tratavam sobre o sistema de gratuidade de justiça foram alteradas na forma proposta pelo relator da
Reforma Trabalhista, o então deputado Rogério Marinho.
Assim, a partir da publicação da Lei 13.467/2017, em relação ao sistema de justiça gratuita, as regras
que procuraram limitar a utilização de ações trabalhistas, foram as seguintes:
Art.844. O não comparecimento do reclamante à audiência inaugural importa o arquivamento da
reclamação, e o não comparecimento do reclamado importa revelia, além de confissão quanto à matéria de
fato.
§1º[...]
§2º Na hipótese de ausência do reclamante, este será condenado ao pagamento das custas calculadas na
forma do art. 789 desta consolidação, ainda que beneficiário da justiça gratuita, salvo se comprovar, no
prazo de quinze dias, que a ausência ocorreu por motivo legalmente justificável.
§3º O pagamento das custas a que se refere o §2º é condição para propositura de nova demanda.
[...]
Ora, a novidade trazida pela lei 13.467/17 consistiu na obrigatoriedade de cobrança de custas judiciais
do beneficiário da justiça gratuita que no regime anterior ficava isento de pagar essas custas. Além da
obrigatoriedade de cobrança de custas daquele que não tem condições de arcar com as mesmas sem
prejuízo de seu sustento e de sua família, o parágrafo terceiro, ainda, veda a possibilidade desse cidadão
ajuizar nova demanda enquanto não pagar as respectivas custas.
Não há dúvidas que esse novo procedimento previsto a partir da Lei 13.465/17 é uma forma de limitar
ou impedir o acesso ao ajuizamento de reclamação trabalhista por esse trabalhador.
Essa forma de limitação de fato diminui a quantidade de ajuizamento de reclamações trabalhista, porém
não traz consigo nenhuma forma alternativa para solução do conflito trabalhista que pode ter se
originado na relação jurídica laboral.
155
Arendt (2016) já ensinava que direitos humanos é o direito a ter direitos. Não há como se falar em ter
direito quando a pessoa humana não pode se socorrer dos meios de tutela fornecidos pelo Estado para
garantir o seu direito reconhecido.
A Constituição da República Federativa do Brasil, também, em seu art. 5º, xxxv, estabelece que “A lei
não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça de direito.” Trata-se do princípio
constitucional da inafastabilidade da jurisdição.
Com o estabelecimento da exigência de cobrança de custas daquele que materialmente não possui
condições de arcar com esse ônus, vedando-se, ainda, que ajuíze ação antes de efetuar o pagamento
dessas custas é o mesmo que impedir o hipossuficiente de acessar o judiciário quando tiver seus direitos
violados ou ameaçados de violação.
Entre os dias 9 e 10 de outubro de 2017, a Associação dos Magistrados da Justiça do Trabalho realizou a
2ª jornada de Direito Material e Processual do Trabalho que reuniu Juízes Trabalhistas do Brasil inteiro,
Procuradores do Trabalho, Advogados entre outros profissionais da área jurídica trabalhista, onde, após
ampla discussão e debate sobre as matérias alteradas pela Lei 13.467/2017, em relação às alterações
relacionadas à obrigatoriedade de custas judiciais estabelecida aos beneficiários da Justiça Gratuira,
aprovou o Enunciado 25, que assim dispõe:
ARQUIVAMENTO. FIXAÇÃO DE CUSTAS E PAGAMENTO DE DESEAS PROCESSUAIS COMO
PRESSUPOSTO PARA O AJUIZAMENTO DE AÇÃO. GARANTIA FUNDAMENTAL DE ACESSO À
JUSTIÇA. VIOLAÇÃO. INCONSTITUCIONALIDADE.
São inconstitucionais os parágrafos 2º e 3º do art. 844, da CLT, acrescidos pela Lei 13.467/2017. As regras
que determinam o pagamento de custas pelo trabalhador, em processo arquivado, e que impedem
ajuizamento de ação sem a prévia quitação de usta pelo beneficiário da justiça gratuita encerram texto
manifestaente inconstitucional, colidindo com os artigos 5º, XXXV, LIV E VXXIV da Constituição
Federal de 1988. Solução interpretativa: declaração incidental de inconstitucionalidade.
Entre os argumentos de que inexistiria o impedimento ao acesso à justiça estaria o de que a imposição
de multa seria uma forma apenas de impedir o abuso do direito de ação, buscando evitar as lides
temerárias e sem sustentação jurídica como uma forma de punição ao mau uso do sistema de acesso à
Justiça.
156
A matéria chegou a ser discutida até no Tribunal Superior do Trabalho, órgão máximo da Justiça do
Trabalho, sendo que a 5ª Turma do TST, em 23.03.2021, decidiu considerar constitucional a alteração
processual, reconhecendo que a referida alteração não vedaria o acesso à Justiça, conforme a seguinte
ementa:
AGRAVO. RECURSO DE REVISTA. ACÓRDÃO PUBLICADO NA VIGÊNCIA DA LEI Nº
13.467/2017. AUSÊNCIA DA PARTE RECLAMANTE À AUDIÊNCIA. ARQUIVAMENTO.
JUSTIÇA GRATUITA. TRANSCENDÊNCIA JURÍDICA RECONHECIDA. Extrai-se que a
presente ação foi ajuizada na vigência da Lei nº 13.467/2017. A premissa fática delineada no
acórdão regional é no sentido de que a reclamante não compareceu à audiência, o que implicou
arquivamento da reclamação trabalhista. O art. 844, § 2º, da CLT dispõe que a parte reclamante,
ausente injustificadamente à audiência, será condenada ao pagamento das custas processuais, ainda
que beneficiária da justiça gratuita. Nesse contexto, somente seria possível afastar a condenação ao
pagamento das custas processuais caso comprovado o justo motivo para a obreira deixar de
comparecer à audiência. Assim, registrado que o reclamante não apresentou motivo legalmente
justificável para sua ausência a audiência, não há falar em isenção ao pagamento das custas
processuais. Precedentes. Considerando a improcedência do recurso, aplica-se à parte agravante a
multa prevista no art. 1.021, § 4º, do CPC. Agravo não provido, com aplicação de multa. (TST -
Ag: XXXXX20185040010, Relator: Breno Medeiros, Data de Julgamento: 24/03/2021, 5ª Turma,
Data de Publicação: 26/03/2021)
Como se pode observar, a 5ª Turma do TST entendeu que a imposição de custas ao beneficiário
da Justiça gratuita ausente na audiência inaugural que importaria no arquivamento da demanda,
com a imposição de pagamento das referidas custas como condição de reajuizamento da ação, não
implicaria na vedação de acesso à Justiça, mas medida para impor a observância do princípio da
boa fé processual.
A questão chega a ser levada até o Supremo Tribunal Federal, através da ADI 5766, buscando
uma palavra final quanto a este tema, na órbita do sistema jurídico brasileiro, cuja decisão será
analisada no tópico seguinte (4.2).
Assim, a Lei 13.467/2017, estabeleceu a regra do art. 790-B, com a seguinte redação:
Art. 790-B. A responsabilidade pelo pagamento dos honorários periciais é da parte sucumbente na
pretensão objeto da perícia, ainda que beneficiária da justiça gratuita.
O argumento lógico daqueles que defenderam essa alteração continou sendo a utilização do
princípio da boa fé ao afirmarem que estabelecer o pagamento dos honorários periciais quando o
resultado da perícia lhe for contrário significa penalizar aquele que estaria litigando de má fé.
157
Além de repetirem argumentos relativo ao que denominavam de necessidade de diminuir a
“indústria” das reclamações trabalhistas entre outros que já se utilizavam para a proposta de
alteração do art. 844, da CLT. Como será analisado, tais argumentos podem ser facilmente
contrariados por uma visão de efetivo acesso à justiça e até mesmo pelo sentido do que realmente
seria uma boa fé processual e as consequências jurídicas de sua não observância.
Com argumentos similares, o Congresso Nacional, também, aprovou a imposição dos honorários
sucumbênciais ao beneficiário da gratuidade judiciária, onde no caput do art. 791-A estableceu a
possibilidade da cobrança desses honorários com percentual que varia de 5% a 15% calculados
sobre o proveio econômico obtido ou quando não possível mensurar sobre o valor atualizdo da
causa. No parágrafo 4º, do art. 791-A, foi estabelecido que na hipótese do beneficiário da
gratuidade ter sido condenado nos honorários advocatícios sucubenciais, desde que não tenha
obtido em juízo, ainda que em outro processo, créditos capazes de suportar a despesa, a obrigação
decprremte dessa sicib}emcoa focar[a spb cpmdoção suspensiva de exigibilidade e somente seria
executada se nos dois anos subsequentes ao trânsito em julgado da decisão que a certificou, o
credor demonstrar que deixou de existir a situação de insuficiência de recursos.
Ora, nesta hipótese, se o beneficiário da justiça gratuita perder o processo trabalhista ou pelo
menos parte dos pedidos, ficará condenado a pagar ao advogado da parte adversa os honorários
advocatícios calculado sobre os valores das parcelas em que sucumbiu. Esses valores podem ser
descontados dos créditos trabalhistas desse trabalhador seja decorrente do mesmo processo ou de
outro processo existente. Ora, o legislador estabeleceu a possibilidade do trabalhador não receber
a totalidade de eventuais direitos trabalhistas reconhecidos em juízo, eis que esses podem servir
para pagar os honorários do advoado de sua parte adversa.
Apesar dos argumentos favoráveis às alterações legislativas realizadas, as quais afirmaram não
haver vedação de acesso à justiça, o que se observa é a possibilidade do beneficiário da justiça
gratuita que geralmente é o trabalhador desempregado, correr o risco de ingressar com ação
trabalhistas e sair devedor dessa demanda ou ganhar, mas não levar. Algo que analisado sob o
prisma do princípio protetor do trabalhador (hipossuficiente da relação jurídica trabalhista) leva
ao claro entendimento da inconstitucionalidade de tal determinação legal.
Ressalte-se que com relação à boa fé processual o direito já prevê, inclusive via reforma
trabalhista, a possibilidade de aplicação de multa por litigância de má-fé o que a princípio tornaria
denecessário onerar o trabalhador com a cobrança de honorários de sucumbência seja pericial ou
advocatícia.
158
Importante ressaltar que em determinadas matérias, principalmente quando se discute o direito de
receber adicional de insalubridade ou periculosidade, a doutrina e jurisprudência trabalhista tem
entendido ser necessário a realização de perícia judicial. Em situações controversas, até para saber
se o ambiente laboral possui risco ao trabalhador e necessário a realização de perícia que pode vir
a ser ou não favorável ao trabalhador e isso per si não implica má-fé dele e nem do empregador.
O simples fato de haver o risco de o trabalhador ingressar com processo judicial e sair do
processo devendo já é algo que inibe o acesso ao judiciário por aquele que necessita da gratuidade
judiciária para ter apreciado seu direito pelo Estado.
Sandoval Silva (2017) recorda que antes da Reforma Trabalhista a justiça brasileira não
condenava o reclamante qando sucumbente em pagar os honorários do advogado da parte adversa,
isentando o reclamante de todas as despesas processuais pelo fato do mesmo ser hipossuficiente.
E ao se referir às mudanças quanto à gratuidade da justiça no processo do trabalho, critica
veementemtente a reforma trabalhista ao afirmar:
[...] Outra barreira à gratuidade da justiça foi a responsabilidade atribuída ao trabalhador pelo
pagamento dos honorários periciais, quando sucumbente, ainda que beneficiário da justiça gratuita,
conforme o caput do art. 790-B e seus parágrafos.
No que pese a controvérsia na doutrina brasileira, a análise técnica-jurídica formal apoaponta para
verdadeira violação do direito de acessar o judiciário uma vez que cabe ao EstEstado garantir o
acesso a todos, inclusive, àqueles que não dispõem de condições econômicas para tal.
Ao estabelecer condições de limitação a esse acesso é o mesmo que vedar esse direito ao
trabalhador que é o hipossuficiente da relação jurídica de trabalho, podendo se afirmar que os
trabalhadores se encontram em posição de vulnerabilidade em suas relações laborais.
159
A matéria foi levada até o Supremo Tribunal Federal que proferiu decisão a respeito, conforme será
analisada no tópico a seguir.
4.2 A visão do guardião da Constituição: análise da decisão do STF sobre a constitucionalidade das
normas da lei 13467/17 que tratam da exigência de custas, honorários sucubenciais e periciais do
beneficiário da gratuidade de justiça.
Logo após a entrada em vigor da Lei 13.467/2017, a Procuradoria Geral da República ajuizou ação
direta de inconstitucionalidade contra os dispositivos da nova lei que estabeleceram a exigência de
pagamento de custas judiciais pelo arquivamento da reclamação trabalhista do beneficiário da justiça
gratuita, o pagamento dos honorários de sucumbência e dos honorários periciais pelo beneficiário da
gratuidade judiciária quando for a parte que perdeu o objeto da demanda ou da perícia.
No julgamento que foi precedido por amplo debate, o Supremo Tribunal Federal acabou decidindo, por
maioria de votos, pela procedência parcial da ADI que levou o número de 5766.
Conforme se pode verificar o STF, por maioria, declarou a inconstitucionalidade dos dispositivos da
reforma trabalhista que estabeleciam a exigência de pagamento de honorários advocatícios de
sucumbência do beneficiário da justiça gratuita e, também, da exigência de pagamento deste mesmo
beneficiário dos honorários periciais quanto o objeto da perícia lhe fosse desfavorável. Reconheceu o
STF que essas regras trazidas pela Lei 13.467/2017 implicam em vedação do acesso à Justiça.
Ora, pelo teor da decisão se verifica que a utilização do referido dispositivo efetivamente restringe o
benefício da gratuidade da justiça e quando isso ocorre é indiscutível a afronta ao princípio
constitucional da inafastabilidade da prestação jurisdicional.
Data máxima vênia, deixar arquivar o processo por não chegar à audiência na hora designada já é uma
punição para a parte, sendo que no caso do processo do trabalho a CLT já prevê até a hipótese de
suspensão do direito de ajuizar reclamação trabalhistas por seis meses quando o reclamante dá causa a
dois arquivamentos seguidos.
A má-fé não pode ser presumida, muito menos pela simples ausência da parte em audiência. A ausência
da reclamada em audiência quando deveria apresentar a defesa acarreta a revelia e não se pode dizer que
isso frustraria o exercício da jurisdição.
Mesmo com a ausência do reclamante na audiência que traz como consequência o arquivamento da
demanda não frusta o exercício da jurisdição, eis que nesse caso haverá julgamento do processo sem
resolução de mérito da mesma forma se tivesse havido pedido de desistência da ação.
A medida de exigir pagamento de custas de quem não tem como pagar sem prejuízo do seu sustento e de
sua família é medida desproporcional e, ainda, impedir que ajuíze novamente a reclamação até que
realize pagamento que não terá condições de fazer é simplesmente vedar o acesso ao judiciário deixando
o trabalhador à margem da tutela jurisdicional.
A tese adotada no julgamento quanto à esta questão especificamente foi equivocada e não condiz com os
princípios e regras de acesso à justiça, sendo um exagero ao estabelecer para o empregado mais de uma
punição (arquivamento, custa, impedimento de reajuizar reclamação pelo prazo de dois anos).
161
De qualquer forma, considerando que parte das regras trazidas pela reforma trabalhista foram declaradas
inconstitucionais, a expectativa é de que com essa decisão aquelas demandas reprimidas voltem ao
cenário do processo do trabalho, porém, não com a mesma intensidade que havia antes da reforma em
razão de ter sido mantida pelo STF a aplicação da regra do art 844,§2º , da CLT, que estabelece a
cobrança de custas do beneficiário da justiça gratuita quando deixar o processo arquivar sem
justificativa.
A seguir será analisado a variação das ações trabalhistas, os objetos dessas demandas e as consequências
da utilização dessas normas na realidade processual.
4.3 O dia seguinte: a quantidade de ações trabalhistas ajuizadas após a entrada em vigor da
reforma trabalhista em comparação com o período anterior.
Extraindo as discussões formais e de técnica jurídica, será analisado com base em dados oficiais os
tipos de demanda trabalhista (objeto/pedidos) bem como a variação na quantidade de ações
ajuizadas antes e após a reforma trabalhista.
Essa análise é importante a partir do momento em que se torna possível avaliar na prática(realidade)
quais foram os impactos dessas medidas adotadas no direito do trabalhador em acessar os órgãos do
poder judiciário para reivindicar o seu direito que estaria sofrendo uma resistência quanto ao
cumprimento.
No ano de 2021, os assuntos mais recorrentes na Justiça do Trabalho foram: aviso-prévio, multa de
40% do FGTS, multa prevista no artigo 477 da CLT, adicional de horas extras e multa prevista no
artigo 467 da CLT.
Ora, pela análise dos motivos do ajuizamento das ações trabalhistas, pode ser verificado que a
maioria das ações versam sobre pagamento de verbas rescisórias decorrentes do fato de não terem
sido pagas ou terem sido pagas erroneamente. Essa situação mostra de forma induvidosa que não se
162
pode atribuir aos trabalhadores a utilização de ação trabalhista de forma aventureira ou que haveria
uma indústria de reclamações.
O total de processos a serem julgados por magistrado apresentou aumentos consecutivos no período
de 2010 a 2017. No período de 2018 a 2020 foram verificados decréscimos: 1.064 processos em
2018, 1.002 em 2019 e 708, em 2020. Em 2021, entretanto, esse quantitativo voltou a aumentar,
totalizando 790 processos, 11,6% a mais que o ano anterior, porém longe do patamar que havia no
ano de 2017.
2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020
A queda do número de ações trabalhistas nas Varas do Trabalho e Tribunais Regionais do Trabalho,
que consistem, respectivamente, na primeira e segunda instâncias da justiça laboral, pela
proximidade com as partes e pela relativa proximidade temporal entre a apresentação de
reclamações e respostas judiciais, são os órgãos jurisdicionais que por primeiro enfrentaram debates
concernentes à reforma trabalhista. Entretanto, a primeira grande manifestação a respeito da
reforma não decorre necessariamente das decisões emanadas do poder judiciário, mas daquelas que
deixaram de ser proferidas.
163
número de demandas trabalhistas da ordem de 46%, segundo dados do Conselho Nacional de
Justiça.
Com a análise dos dados é possível verificar que houve uma grande diminuição no acesso ao
judiciário pelo trabalhador, sendo que não houve nenhuma medida efetiva no sentido de se buscar
solucionar eventuais conflitos existente nas relações de trabalho, o que leva à conclusão que essas
alterações ora analisadas impactaram negativamente no acesso à justiça ao vedar de fato o direito do
trabalhador de ver tutelado pelo Estado o seu direito reconhecido na constituição e na legislação
trabalhista.
Deve ser acrescentado que a reforma trabalhista não trouxe nenhuma outra medida que viesse a
proporcionar a solução dos conflitos trabalhistas. A previsão de se utilizar a arbitragem esbarra
tanto no fato de ser uma justiça privada cara como, também, na exigência do trabahador receber
pelo menos duas vezes o valor do teto da previdência e possuir diploma de nível superior, além de
que para se utilizar a arbitragem como forma de solução de conflitos é necessário que os direitos
sejam patrimoniais e disponíveis o que não é o caso da maioria dos direitos trabalhistas.
A previsibilidade, também, de utilizar das chamadas ações para homologação de acordo trabalhista
não serve para solucionar conflitos, mas apenas para submeter acordo prévios para análise e
homologação do judiciário.
Diante de todos os dados acima coletados, não há dúvidas que as regras ora analisadas impactaram
negativamente no direito do trabalhador em acessar a justiça para buscar o reconhecimento de seu
direito, eis que não se adotou medida efetiva para solucionar os conflitos trabalhistas existentes e
sim se estabeleceu mecanismo para tentar impedir esse acesso através de cobrança de custas e
honorários sucumbenciais dos trabalhadores.
5. CONCLUSÃO
As mudanças implementadas pela reforma trabalhista quando estabeleceu as regras dos artigos 790-
B, caput, §4º; 791-A, §3º e §2º, do art. 844, da CLT que prevêem a possibilidade de cobrança de
honorários advocatícios de sucumbência, custas processuais e honorários periciais ao benefíciário
de Justiça Gratuita causaram grande diminuição do número de processos trabalhistas ajuizados na
Justiça do Trabalho.
O problema é que essa diminuição não decorreu de solução ou pacificação dos conflitos existentes
nas relações jurídicas de trabalho. Pelo contrário, o que se viu foi a negativa do direito de acesso à
164
justiça com ameaças legais de imposição de custas e despesas processuais a trabalhadores que
pudessem ter seus processos arquivados por ausência na audiência inaugural ou perdessem parte
dos pedidos o que lhes traria obrigação de pagar os honorários advocatícios para os advogados de
seus ex-empregadores.
A intenção de impedir o ajuizamento de ações trabalhistas, aliás, ficou claro desde o momento em
que foram propostas essas alterações no congresso nacional.
A realidade do dia a dia, sem dúvidas, demonstrou que todas as regras analisadas contribuem para
impedir o acesso ao judiciário pelo hipossuficiente que necessita da gratuidade judiciária.
Portanto, essas alterações de fato vedaram o acesso à justiça, sendo que parte delas já foi excluída
do sistema jurídico pelo STF. Sendo que a regra que foi declarada constitucional precisará ser
revista pelo próprio legislador, pois do contrário continuará havendo a vedação do acesso à justiça e
violação real do art. 5º, XXXV, da Constituição da República Federativa do Brasil.
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