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Artigo Jung William James

O documento resume as conversas entre C.G. Jung e William James na Universidade de Clark em 1909. Jung e James compartilhavam interesses em pesquisas psíquicas e experiências religiosas. Eles discutiram esses tópicos, que não estavam na agenda da conferência, incluindo os estudos de James sobre a médium Leonora Piper. Jung admirava a mente aberta e científica de James.

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Artigo Jung William James

O documento resume as conversas entre C.G. Jung e William James na Universidade de Clark em 1909. Jung e James compartilhavam interesses em pesquisas psíquicas e experiências religiosas. Eles discutiram esses tópicos, que não estavam na agenda da conferência, incluindo os estudos de James sobre a médium Leonora Piper. Jung admirava a mente aberta e científica de James.

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ARTIGO 10.4025/psicolestud.v27i0.

49028

DIÁLOGOS ENTRE C. G. JUNG E WILLIAM JAMES: AS PESQUISAS


PSÍQUICAS

Pedro Henrique Costa de Resende1, Orcid: http://orcid.org/0000-0001-6313-7870


Walter Melo2,3 Orcid: http://orcid.org/0000-0002-5755-0666

RESUMO. C. G. Jung e William James compartilhavam uma série de interesses de


pesquisa. Por ocasião da Conferência realizada na Universidade de Clark, no ano de
1909, os dois autores tiveram a oportunidade de se encontrar e conversar. Os debates
abordaram temas que não estavam na pauta da conferência, especialmente pesquisas
psíquicas, também chamadas modernamente de experiências anomalísticas ou
relacionadas à ‘psi’. Desde seu período como estudante de medicina, Jung se
interessou pelos fenômenos anômalos da consciência, tendo pesquisado os principais
autores associados ao espiritualismo dos séculos XVIII e XIX. William James foi
pesquisador reconhecido dos chamados fenômenos psíquicos, tendo participado de
sociedades como a Society for Psychical Research e a American Society for Psychical
Research. Através de seus estudos, James e Jung buscavam contribuir para a
psicologia dinâmica, também chamada de psicologia profunda. O objetivo deste artigo
foi ampliar os diálogos estabelecidos na universidade de Clark, resgatando
informações importantes acerca da teoria dos dois autores.
Palavras-chave: C. G. Jung; William James; pesquisas psíquicas.

DIALOGUES BETWEEN C. G. JUNG AND WILLIAM JAMES: THE


PSYCHICAL RESEARCHES

ABSTRACT. C.G. Jung and William James shared several research interests. At the
conference held at Clark University in 1909, the two authors could meet and talk. The debates
were especially on topics regarding psychical research, contemporarily also called anomalistic
or psi-related experiences, which were not considered on the conference schedule. Since his
period as a medical student, Jung has been interested in anomalous phenomena of
consciousness, having researched the prominent authors associated with the spiritualism of the
18th and 19th centuries. William James was a recognized researcher of the so-called psychic
phenomena, participating in societies such as Society for Psychical Research and the American
Society for Psychical Research. Through their studies, James and Jung aspired to contribute to
dynamic psychology, also called depth psychology. This article aimed to broaden the dialogues
established at Clark University, rescuing important information about the theory of the two
authors.
Keywords: C.G. Jung; William James; psychical research.

1 Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Juiz de Fora-MG, Brasil. E-mail: [email protected]
2 Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Juiz de Fora-MG, Brasil.
3 Universidade Federal de São João del Rei, São João del Rei-MG, Brasil. E-mail: [email protected]
2 Diálogos entre C. G. Jung e William James

DIÁLOGOS ENTRE C. G. JUNG Y WILLIAM JAMES: LAS


INVESTIGACIONES PSÍQUICAS

RESUMEN. C. G. Jung y William James compartían una serie de intereses de


investigación. En la conferencia celebrada en la Universidad de Clark, en 1909, los dos
autores tuvieron la oportunidad de encontrarse y conversar. Los debates se centraron en
temas que no estaban en la agenda de la conferencia, especialmente en la investigación
psíquica, también llamada en la actualidad experiencia anomalística o relacionada con la
psi. Jung de su tiempo como estudiante de medicina se interesó por fenómenos anómalos
de conciencia, después de habiendo investigado los autores principales asociados con el
espiritualismo de los siglos XVIII y XIX. William James era conocido investigador de los
llamados fenómenos psíquicos, y participó en las sociedades como la Society for Psychical
Research y la American Society for Psychical Research. James y Jung a través de sus
estudios trataron de contribuir a la psicología dinámica, también llamada psicología
profunda. El propósito de este artículo es ampliar el diálogo establecido en la Universidad
de Clark, rescatando la información importante acerca de la teoría de los dos autores.
Palabras clave: C. G. Jung; William James; investigaciones psíquicas.

Introdução
Em 1909, a Universidade de Clark, nos Estados Unidos, sediou uma conferência que
contou com a presença de importantes nomes da ciência, pesquisadores como Franz Boas
(1858-1942), Ernest Rutherford (1871-1937) e Albert Abraham Michelson (1852-1931). A
psicologia estava representada por William James (1842-1910), Sigmund Freud (1856-
1939) e Carl Gustav Jung (1875-1961). Era a primeira vez que uma comitiva psicanalítica
vinha para a América. Além de Freud e Jung, participaram do evento, Sándor Ferenczi
(1873-1933), Ernest Jones (1879-1958) e Abraham Arden Brill (1874-1948). A conferência
sediada em Worcester, Massachusetts, foi organizada por Granville Stanley Hall (1844-
1924), presidente da instituição, com o objetivo de desenvolver o debate entre as principais
áreas de estudo da universidade. William James, na época, já era considerado um dos
mais importantes filósofos e psicólogos americanos e, a convite de Hall, compareceu a uma
das palestras de Freud e também passou algum tempo com Jung. O pensador americano
acreditava que as ideias defendidas pela psicanálise poderiam trazer importantes
esclarecimentos sobre a natureza humana, no entanto, se incomodou com as críticas de
Freud à religião3 (Barzun, 1983; James, 1920).
Em relação a Jung, James se mostrou bastante impressionado, pois os dois autores
concordavam sobre a importância do fenômeno religioso para a psique humana.
Conversaram durante algum tempo na casa de Hall, tendo como temas a parapsicologia,
as curas pela fé, o espiritualismo e a psicologia da religião. Jung estava particularmente
interessado nas pesquisas de James sobre os chamados fenômenos parapsíquicos,
especialmente os estudos do autor sobre a médium Leonora Piper (1857-1950). Esses
assuntos já ocupavam as pesquisas de James havia algum tempo e foram desenvolvidos

3Em entrevista a Albert Albrecht para o Boston Evening Transcript, em 11 de setembro de 1909, Freud criticou as formas
de terapia religiosa praticadas nos Estados Unidos, definindo-as como anticientíficas e perigosas. James (1920), em carta
a Flournoy, discorda dessa posição. Segundo Bair (2003), o filósofo americano apoiava o aconselhamento pastoral e as
curas pela fé, especialmente as práticas desenvolvidas pelo Movimento ‘Emanuel’ de Boston, como formas de
psicoterapia não médica.
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em suas conferências no Instituto Lowell em 1896 (Taylor, 1983) e em suas Gifford lectures
de 1901-1902, The varieties of religious experience (James, 2010). As impressões de Jung
foram da mesma forma positivas: em suas Cartas, afirma que James foi uma das figuras
mais impressionantes que conheceu em sua vida e demonstra admiração pela sua abertura
de visão e pela maneira como, em suas pesquisas, deixava que os fenômenos se
apresentassem espontaneamente, sem forçar uma interpretação para uma determinada
direção. Jung ainda afirma que conseguiu conversar de uma maneira descomplicada
somente com dois teóricos: Flournoy e James (Jung, 2003).
Para Bair (2003), o evento em Clark marca o início de um processo que levará Jung
a se afastar do movimento psicanalítico e buscar novas fontes teóricas, entre elas a teoria
jameseana. Por algum tempo após seu rompimento com Freud, o estudo acerca da religião
e a teoria pragmática do filósofo americano serão os norteadores de Jung (Innamorati,
2013; Shamdasani, 2012).
Nosso foco neste trabalho será, portanto, a ampliação do tema dos diálogos iniciados
em Clark, a partir dos interesses em comum de James e Jung, experiências religiosas e
espiritualismo, fenômenos designados genericamente pelo nome de psíquicos,
parapsíquicos ou anômalos.
Na ocasião da Conferência na Universidade de Clark, em 1909, Jung ficou
hospedado na casa de G. Stanley Hall. Foi nesse contexto que o psiquiatra suíço
estabeleceu seu primeiro contato com William James. O encontro com o ilustre filósofo
americano se deu após um jantar. Hall havia pedido a James que apresentasse alguns dos
resultados de suas pesquisas sobre percepção extrassensorial com Mrs. Piper. James,
então, entrega ao presidente da Clark um conjunto de papéis sobre o tema, e Jung se
mostra extremamente interessado. Após esse evento, Jung ainda teria conversado com
James na noite seguinte. “Eles se encontraram duas vezes e o assunto foi o mesmo nas
duas ocasiões: parapsicologia, espiritualismo, curas pela fé e outras aplicações não
medicinais da psicologia” (Bair, 2003, p. 222). Jung se expressa sobre essas conversas nos
seguintes termos:
Além da impressão pessoal que dele tive, devo muito a seus livros. Conversamos principalmente
sobre seus experimentos com Mrs. Piper, que já são conhecidos, e nada falamos de sua filosofia. Eu
estava particularmente interessado em conhecer a opinião dele sobre os chamados ‘fenômenos
ocultos’. Admirei a cultura européia dele e a abertura de sua natureza. Era uma personalidade distinta
e a conversa com ele foi sumamente agradável [...] De qualquer forma, foi o único espírito ilustre, além
de Th. Flournoy, com o qual pude manter uma conversação descomplicada. Cultuo, pois, sua memória
e sempre que possível me lembrarei do exemplo que ele me deu (Jung, 2003, p. 164, grifo do autor).

Como pode ser verificado pelas afirmações de Jung, não somente o tema
espiritualista pesquisado por James despertou sua atenção, mas também a obra
jameseana se tornou importante para ele. Sobre o tema dos debates em questão, o
psiquiatra suíço já demonstrava interesse pelo assunto muito tempo antes do referido
encontro. Bair (2003, p. 69) afirma que a escolha de Jung pela psiquiatria foi motivada pela
possibilidade de prosseguir “[...] com seus interesses principais: espiritualismo e teoria
religiosa”. Na época de Jung, a psiquiatria ainda estava se fundamentando como ramo da
medicina, e foram muitos os médicos que iniciaram seus estudos sobre a mente a partir de
análises de fenômenos anômalos da consciência, como o transe, a dupla personalidade e
o sonambulismo. Um campo no qual a ciência e a religião ainda estavam, de certa forma,
mescladas.

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4 Diálogos entre C. G. Jung e William James

O interesse de C. G. Jung pelas pesquisas psíquicas


Desde os tempos de seu curso de medicina em Basel, Jung se interessou pelos
chamados fenômenos ocultos. Nessa época, participou de uma sociedade para estudantes,
chamada Zofingia, a mesma da qual seu pai, Paul Jung, havia participado. Frequentemente,
proferia palestras na sociedade, que tinham como tema seus estudos sobre os fenômenos
parapsíquicos. O próprio Jung (1975a) afirma que, constantemente, tentava convencer
seus amigos e colegas acerca da veracidade das propostas espiritualistas. Em 1900, opta
por trabalhar no Hospital Burghölzli, local de referência em tratamento psiquiátrico. Por
incentivo de Bleuler, diretor do hospital, seu trabalho de conclusão do curso de medicina foi
sobre sua prima Helene Preiswerk, que, em sessões espíritas organizadas pela família,
dizia entrar em contato com os parentes falecidos. Posteriormente, esse estudo foi
publicado por Jung como parte do primeiro volume de suas Obras completas, com o título
Sobre a psicologia e patologia dos fenômenos chamados ocultos (1902).
Para Bair (2003), independentemente da explicação dada aos fenômenos
parapsíquicos, esses eventos já eram experienciados dentro da família de Jung. A autora
faz referência a dois eventos curiosos. No primeiro deles, o jovem Jung estava em seu
quarto em uma tarde de verão quando escuta um disparo como o barulho de uma pistola
vindo da cozinha, ele vai até a sala de jantar e encontra a mesa de nogueira, com setenta
anos de idade, quebrada do centro até a beirada, de uma forma que nada tinha a ver com
o veio natural da madeira. O tempo quente e úmido não favorecia o acidente, que seria
mais provável em um clima seco de inverno. Em um segundo evento, Jung chega em sua
casa e encontra a mãe, a irmã e a empregada bastante apreensivas, outro barulho
acontecera, dessa vez em um armário lateral da cozinha, ele vasculha o armário e encontra
uma faca, de metal muito resistente, partida em vários pedaços. Jung leva a faca a um
cuteleiro, que afirma que o objeto não teria se partido daquela forma de modo natural,
somente através de um ato intencional. A faca em questão foi guardada desde o incidente.
Os fenômenos parapsíquicos seriam interessantes para o psicólogo sob vários aspectos:
[...] informam sobre as coisas de que a mente do leigo nem suspeita, como a exteriorização de
processos inconscientes, seu conteúdo e as possíveis fontes de fenômenos parapsicológicos. Estes
relatos são de especial importância para a pesquisa da localização do inconsciente e dos fenômenos
de sincronicidade, que indicam uma relativização psíquica de espaço e tempo, e assim também da
matéria (Jung, 2012a, p. 338).

O interesse de Jung pela temática não se limitou à vivência e descrição de


experiências, o espiritualismo ressoará em um número maior de elementos nas obras do
autor suíço. Especialmente o caso da jovem médium Helene, analisado no trabalho Sobre
a psicologia e patologia dos fenômenos chamados ocultos (Jung, 2011).
A princípio Jung avaliou o caso sob uma perspectiva clínica e patologizante. Os
alegados espíritos manifestantes seriam conteúdos do psiquismo de Helene, dissociados
de sua personalidade primária, o que Jung definiria como complexos, “[...] noção que se
baseia em uma refutação de ideias monolíticas da personalidade” (Samuels, 1986, p. 22).
Em sua definição tardia, um complexo seria uma “[...] reunião de imagens e ideias,
conglomeradas em torno de um núcleo derivado de um ou mais arquétipos, e
caracterizadas por uma tonalidade emocional comum” (Samuels, 1986, p. 22). Essa mesma
perspectiva interpretativa acerca de manifestações de espíritos será apresentada em 1919,
na palestra proferida por Jung na Society for Psychical Research (SPR) de Londres. Na
referida apresentação Jung afirma:

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Antes de analisarmos mais detalhadamente os fundamentos psicológicos da crença nas almas, eu


gostaria de recordar brevemente os fatos acima mencionados. Destaquei particularmente três fontes
que constituem, por assim dizer, a verdadeira base da crença nos espíritos: a aparição de espíritos,
os sonhos e os distúrbios patológicos (Jung, 1975b, p. 579).

Jung destaca que o ponto comum entre essas três fontes é que a psique não é um
todo indivisível, mas passível de se fragmentar. Esses fragmentos poderiam se relacionar
com o ‘eu cotidiano’, mas alguns possuíam independência ao ponto de se apresentarem
como personalidades autônomas. Nas palavras do próprio Jung: “A estas partes da alma
chamei complexos autônomos e fundei minha teoria dos complexos da psique sobre a sua
existência” (Jung, 1975b, p. 582).
Por mais que essas experiências acerca da mediunidade tenham auxiliado o autor
suíço na construção de uma interpretação psicológica, Jung não estava satisfeito com essa
explicação para a definição da totalidade dos fenômenos parapsicológicos. Em nota
posterior à sua apresentação na SPR ele afirma:
Depois de coletar experiências psicológicas de muitas pessoas e em muitos países, durante cinquenta
anos, já não me sinto tão seguro, como em 1919, quando escrevi essa afirmação. Para ser franco,
duvido que uma abordagem exclusivamente psicológica possa fazer justiça aos fenômenos em
questão. Não apenas os achados da parapsicologia, mas minhas próprias reflexões teóricas,
delineadas em On the Nature of the Psyche, conduziram a certos postulados que se aproximam do
domínio das concepções da física nuclear, isto é, do contínuo espaço-tempo. Isso abre toda a questão
da realidade transpsíquica imediatamente subjacente à psique (Jung, 1975c, p. 600, nota 15, grifo do
autor).

Mais tarde, Jung também nomearia esses eventos como sincronicidade, nos quais
uma experiência pessoal poderia superar as leis de espaço, tempo e causalidade (Jung,
2013a). A sincronicidade é formulada por Jung a partir de dois fatores: 1) inicialmente “[...]
uma imagem inconsciente alcança a consciência de maneira direta (literalmente) ou indireta
(simbolizada ou sugerida), sob a forma de sonho, associação ou ‘premonição’; 2) uma
situação objetiva coincide com este conteúdo” (Jung, 1975d, p. 858, grifo nosso). Portanto,
a sincronicidade seria a conexão entre um fator subjetivo e um evento externo objetivo.
A partir do conjunto de suas experiências pessoais, vivências de seus pacientes e
seus estudos sobre o campo anômalo, Jung produziu dois ensaios sobre o tema: On
synchronicity, uma palestra apresentada nas Conferências de Eranos em 1951, e The
interpretation of nature and the psyche de 1952, escrito em parceria com o físico Wolfgang
Pauli (Main, 1997). Essas duas obras foram integradas na publicação expandida
Synchronicity an acausal connecting principle, de 1952.
Para Charet (1993), Jung tem histórico antigo com a temática espiritualista, enraizada
como crença comum entre alguns de seus parentes mais próximos e exaustivamente
pesquisada pelo autor suíço desde sua juventude. Sobre essas pesquisas teóricas
descreveremos a seguir alguns trabalhos que, em nosso entendimento, contribuíram para
o entendimento do autor suíço sobre a temática parapsíquica.
Um dos primeiros livros que Jung teria consultado foi Dreams of a spirit-seer (Kant,
1900), escrito por Immanuel Kant (1724-1804), no qual o filósofo descreve as experiências
do visionário sueco Emanuel Swedenborg (1688-1772). Na obra, Kant faz uma leitura crítica
das visões de Swedenborg e analisa a crença de muitos indivíduos na existência de
espíritos. De modo geral, a visão de Kant no livro é racionalista, definindo muitas das
experiências como fantasiosas, mas, em carta a Fraülein Charlottevon Knobloch, ele afirma
que há algum tempo se interessava e buscava conhecer mais sobre Swedenborg (Jung,
2012a). Para Charet (1993, p. 101, grifo do autor), “[...] isso indica que, oito anos antes da

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6 Diálogos entre C. G. Jung e William James

carta a von Knoblock, Kant estava especulando sobre as coisas nelas mesmas, que ele
chamaria mais tarde de ‘noumena’ na sua Crítica da razão pura”.
A partir de então, Jung passa a ler diversos autores associados ao espiritualismo dos
séculos XVIII e XIX, como Friedrich Zöllner (1834-1882), professor de física e astronomia
da Universidade de Leipzig. Dentre as principais obras de Zöllner, destaca-se
Transcendental physics (1880), na qual ele coordena uma equipe de pesquisadores na
investigação dos fenômenos apresentados pelo médium norte americano Henry Slade
(1835-1905). De acordo com Treitel (2004), a equipe de Zöllner era composta por Wilhelm
Weber (1804-1891), Gustav Fechner (1801-1887) e Wilhelm Wundt (1832-1920). Este
último travou diversos debates com a equipe por não aceitar as propostas espiritualistas de
Zöllner (Sommer, 2013).
Henry Slade havia sido julgado no tribunal Bow Street de Londres por acusação de
fraude. A denúncia partiu do professor Edwin Ray Lankester (1847-1929), que também
havia realizado pesquisas sobre os fenômenos apresentados por Slade. Inicialmente, o
médium foi condenado, sendo a sentença apelada. Por fim, o processo foi anulado por erro
insanável. Slade dizia se comunicar com espíritos, conseguindo materializar frases
espontaneamente sobre uma ardósia4. Zöllner descreve diversas experiências dessa
espécie e atesta a sinceridade de Slade, apesar de todas as acusações apontadas
anteriormente contra o médium (Zöllner, 1901).
Também são desse período as leituras de Jung sobre William Crookes (1832-1919),
químico britânico que pesquisou médiuns, como o escocês Daniel Dunglas Home (1833-
1886) e a jovem inglesa Florence Cook (1856-1904). As primeiras experiências de Crookes
sobre o tema, nos anos de 1870 a 1873, foram publicadas no Quaterly Journal of Science
de janeiro de 1874 e provocaram grande polêmica no meio científico, pois o pesquisador
britânico, membro da Royal Society de Londres, afirmava ter presenciado a aparição de
fenômenos luminosos e figuras humanas, manifestações de sons e ruídos, e movimentação
espontânea de objetos, tudo isso em um ambiente rigorosamente controlado (Crookes,
1927).
Crookes não era, inicialmente, um partidário de ideias espíritas. Em seu livro
Researches in the phenomena of the spiritualism (1874), ele afirma que aplicaria a seu
objeto de pesquisa o mesmo rigor que havia apreendido em anos de labor científico, e que
as explicações dos espiritualistas careciam de consistência, como pode ser verificado na
seguinte passagem:
O pseudo-cientista espiritualista professa saber tudo: nenhum problema de cálculo aflige sua
serenidade, não há experiências difíceis, não há leituras longas e laboriosas; nenhuma tentativa de
deixar claro em palavras o que alegra o coração e eleva a mente. Ele fala fluentemente de todas as
ciências e artes, sobrecarregando o inquiridor com termos como ‘eletro-biologia’, ‘psicologia’,
‘magnetismo animal’, etc. – Um mero jogo de palavras, mostrando ignorância em vez de
compreensão. Ciência popular como esta é pouco capaz de guiar ao descobrimento apressando um
futuro desconhecido; e os verdadeiros trabalhadores da ciência devem ser extremamente cuidadosos
para não permitir que as rédeas caiam em mãos impróprias e incompetentes (Crookes, 1927, p. 5,
grifo do autor).

O livro em questão apresenta a descrição dos diversos experimentos aplicados por


Crookes aos médiuns, assim como os esquemas e precauções montados para evitar
fraudes. Em muitos dos experimentos estavam presentes outros pesquisadores e

4 No verbete ‘instrumentos de escrita’ do Glossário Ceale, encontramos a informação que a ardósia era um instrumento
comum no ensino no século XIX, espécie de quadro negro que exigia o uso de um giz de pedra ou lápis de ardósia para
a escrita (http://ceale.fae.ufmg.br/app/webroot/glossarioceale).
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assistentes. Ao longo da descrição, Crookes vai adquirindo um tom de convencimento dos


fenômenos que presenciava. Sobre Florence, a jovem pesquisada, ele afirma a sua total
honestidade: “[...] a perfeita verdade e honestidade de Miss Cook” (Crookes, 1927, p. 104).
Ao longo de cada uma das séries de experimentos, o cientista levava a público o seu
parecer, em geral favorável à causa espiritualista. Personalidades da comunidade
científica, assim como o público em geral, se dividiam: uma parte apoiava e outros
rejeitavam as conclusões de Crookes.
Jung (1975a, p. 96) afirma que por mais “[...] estranhas e suspeitas que pareçam as
observações dos espíritas, nem por isso deixavam de constituir os primeiros relatos dos
fenômenos psíquicos objetivos”. Zöllner e Crookes eram leituras constantes de Jung, que
leu praticamente todos os livros referentes a esses pesquisadores, os via como “[...]
mártires da ciência, e incorporou as descobertas desses autores a seus argumentos” (Bair,
2003, p. 70). No entanto, espantava-se com a negação dos colegas, que ansiosamente
recusavam qualquer explicação que não fosse o já estabelecido, e questionava-se porque
era algo simplesmente definido como impossível. Preferia o termo possibilidade, que para
ele representava algo extremamente interessante e atraente. A condição humana ganhava
em profundidade e complexidade através desses estudos, que exploravam certas
capacidades da mente humana e abriam, ainda, a perspectiva e a possibilidade de uma
continuidade da consciência para além da vida material.
Outro autor relacionado ao tema que Jung referencia em sua obra é Justinus Kerner
(1786-1862), médico e poeta alemão pertencente à escola Romântica. Kerner é mais
conhecido por seu livro The seeress of Prevorst (1829), no qual ele descreve o contato com
a paciente Friederike Hauffe (1801-1829), seus estados sonambúlicos, suas visões
proféticas e as curas que Hauffe teria efetuado. Jung não considerava Kerner um cientista
propriamente dito, muitas de suas interpretações acerca dos fenômenos apresentados pela
chamada vidente de Prevorst são consideradas ingênuas. Hauffe nasceu em 1801, no
vilarejo de Prevorst, próximo à cidade de Löwenstein, estado de Baden-Württemberg, na
Alemanha. A menina teve uma infância normal e a única estranheza eram seus sonhos,
que a criança descrevia aos parentes e amigos de forma muito vívida e que, normalmente,
concretizavam-se. Também, desde a infância, Hauffe alegava ver espíritos que, segundo
suas afirmações, despertavam-lhe os mais diversos sentimentos e sensações, algumas das
visões lhe deixavam aflita e extremamente angustiada, enquanto em outras encontrava paz
e conforto.
Após seu casamento, Hauffe passa por uma série de alterações físicas. A morte de
um religioso, por quem era apaixonada, ocasiona uma depressão de sete anos. A partir de
então, apresenta estados de sonambulismos frequentes, todos os dias às 17 horas, o
horário correspondente ao funeral do religioso. Na época, consultou vários médicos, mas
nenhum conseguiu determinar uma cura para seus ataques convulsivos e febres, que
também eram constantes. Foi, então, encaminhada para tratamento na casa do médico
Justinus Kerner, na cidade de Weinsberg. Kerner passa a investigar os estranhos
fenômenos apresentados pela jovem. Seu interesse pelos fenômenos ocultos, no entanto,
eram anteriores ao seu encontro com a vidente de Prevorst, pois já havia escrito um livro
sobre o assunto, chamado História de duas sonâmbulas. A partir da experiência com Hauffe
escreveu A visionária de Prevorst, mais tarde escreveu História de alguns possessos de
nossa época, Fenômenos do domínio noturno e Da possessão, mal demoníaco magnético.
O livro de 1829 era o primeiro trabalho psiquiátrico devotado a uma única paciente e se
tornou um best seller (Kerner, 2012; Shamdasani, 2012).

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8 Diálogos entre C. G. Jung e William James

Para Jung (1960), as histórias de Kerner não provavam nada acerca da existência
post mortem, mas revelavam aspectos importantes da fenomenologia psicológica, nas
relações estabelecidas entre o consciente e o inconsciente. Segundo o autor suíço, no caso
de Hauffe, certos processos de pensamento se encontravam no nível inconsciente, de tal
forma que ela não os reconhecia como seus, exteriorizando-os em visões de formas e
aparições. Kerner, no entanto, não tinha dúvidas sobre a vidente, uma vez que ele já estava
convencido dos fatos apresentados por ela. Em relação ao trabalho de Justinus Kerner,
apesar de suas conclusões contrárias à causa espiritualista, Jung não patologiza os
fenômenos descritos por ele. Em seus seminários de 1933, intitulados Modern psychology,
Jung reserva algumas palestras para a análise da obra The seeress of Prevorst, deixando
espaço para a possibilidade da existência de percepções supranormais.
Segundo Shamdasani (2012), a leitura da referida obra em 1897 causou efeito
significativo no trabalho subsequente de Jung, sendo que suas interpretações pessoais
acerca do tema eram de caráter mais favorável do que ele expressava em suas palestras.
De acordo com Zumstein-Preiswerk (1975), Jung presenteou sua prima Helene com uma
cópia do livro The seeress of Prevorst quando iniciou sua participação nas sessões espíritas
organizadas por sua família. A forma de seu relato escrito acerca das sessões seguia o
mesmo estilo de Kerner. Mais tarde, esses escritos seriam o trabalho de conclusão do curso
de medicina do psiquiatra suíço (Jung, 2011).
Outro livro cuja temática central é a avaliação do fenômeno espiritualista é From
India to the planet Mars: a study of a case of sonambulism with glossolalia (1900). Essa
obra teve importante influência na psicologia analítica de Jung. Em 1900, o livro
rapidamente se tornou um best seller. O autor, Theodore Flournoy, médico e filósofo, havia
estudado com Wilhelm Wundt. Em 1891, Flournoy se tornou professor da Universidade de
Genebra, onde fundou um laboratório de psicologia experimental. Do final de 1894 até
1899, ele acompanhou as sessões organizadas em torno da médium Élise Catherine Müller
(1861-1929). Os fenômenos apresentados por essa mulher despertaram o interesse de
Flournoy em uma avaliação psicológica do caso, que mais tarde se transformou na obra
citada. No livro, a jovem é nomeada pelo pseudônimo Hélène Smith. Suas histórias
relatadas em estado de transe são descritas e agrupadas em três conjuntos que o autor
chamou de ciclos, respectivamente: ciclo hindu, ciclo real e ciclo marciano.
A partir de uma descrição elaborada, Hélène manifesta em estado de transe as
personalidades de suas histórias. Na primeira delas, ela é a princesa Simandini no reinado
do príncipe Sivruka na Índia. Na segunda, ela dá vida à Maria Antonieta, rainha do período
da revolução francesa. Por fim, o terceiro ciclo diz respeito às revelações de Hélène sobre
a vida em Marte, descrevendo, inclusive, a língua que seria falada no planeta. Com relação
ao último ciclo, Flournoy (2012, p. 2) afirma: “É neste sonambulismo astronômico que o
fenômeno da glossolalia aparece, que consiste na fabricação e uso de uma língua
desconhecida, e que é um dos principais objetos deste estudo”.
A parte inicial do livro é dedicada à análise de Hélène Smith. Ela é descrita como
uma jovem mulher, de cerca de 30 anos, de saúde vigorosa, diretora de um casa comercial,
muito diferente do tipo doentio e perturbado que, de acordo com Flournoy (2012), é
erroneamente associado aos médiuns. Em seguida, o livro traz a avaliação de uma das
personalidades manifestadas pela médium, Leopold, descrito por ela como seu guia
espiritual. Em seus transes, a jovem dava vida a Leopold, que afirmava ser Giuseppe
Balsamo, o conde Gagliostro, alquimista e aventureiro italiano, figura mais conhecida pela
obra de Alexandre Dumas Memórias de um médico. Posteriormente, o autor passa para a
análise dos ciclos de histórias.

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Para Flournoy (2012), os romances de Hélène apresentavam a mesma linguagem


dos sonhos, ou seja, eram frutos de sua imaginação subliminal. As histórias seriam em
parte criptomnésias, ou seja, lembranças esquecidas das leituras da médium armazenadas
em seu subconsciente. As manifestações de Hélène, apesar de serem extremamente
elaboradas e cheias de elementos históricos, seriam fruto de uma potente imaginação
subconsciente. No entanto, com exceção do ciclo marciano, que se apresenta como o mais
fantasioso, muitos dos eventos relatados intrigaram o filósofo de Genebra5. Essas fantasias
teriam uma dupla função: por um lado, compensatória, ou seja, uma reação diante das
dificuldades da vida; e, por outro, teleológica, definida por Flournoy (2012) como o papel
que as fantasias e os sonhos exerceriam no desenvolvimento psicológico futuro do
indivíduo.
Jung se mostra extremamente interessado pelo livro de Flournoy e escreve ao autor
oferecendo-se para traduzir a obra para o alemão. No entanto, um tradutor já havia sido
designado. Desde sua leitura de From India to the planet Mars, Jung passa a adotar a
abordagem de Flournoy acerca da interpretação dos fenômenos anômalos da consciência,
nos quais se incluem a fantasia, o sonho e os transes. Na mesma época em que se
correspondia com Freud, o psiquiatra suíço se aproximou de Flournoy, tendo visitado o
filósofo em Genebra. Seu livro Metamorfoses e símbolos da libido (1912), reescrito
posteriormente com o título Símbolos da transformação (Jung, 2012d)6 foi norteado pela
concepção de Flournoy de imaginação criadora, na qual a capacidade criativa do
inconsciente é considerada superior à da consciência. Em Memórias, sonhos e reflexões,
há um capítulo dedicado a Theodore Flournoy, no qual Jung afirma que o apoio do filósofo
foi fundamental para seu rompimento teórico com a psicanálise. Assim como William
James, Flournoy contribuiu para que Jung investisse na continuação de seus estudos
acerca da psicologia da religião e, no campo da filosofia, examinasse o pragmatismo (Jung,
1975a).
Além dos autores citados, a lista de menções de Jung sobre a temática espiritualista
inclui Franz Xaver Von Baader, Jakob Böhme, Carl DuPrel, Adam Karl August von
Eschenmayer, Joseph Ennemoser, Joseph von Görres, Johann Karl Passavant, Emanuel
Swedenborg, entre outros que o psiquiatra suíço considerava precursores da moderna
psicologia (Ellenberger, 1970; Crabtree, 1993; Jung, 2012b; Jung, 2012b ; Kerner, 2012).
Esses autores formam uma ponte entre seus interesses e as pesquisas desenvolvidas por
William James.
William James e as pesquisas psíquicas
Ao longo de sua carreira como filósofo e psicólogo, James buscou avaliar os
fenômenos anômalos da consciência, sendo uma referência no tema. Foi participante ativo
de sociedades na América e na Europa, como a Society for Psychical Research e a
American Society for Psychical Research, que tinham como proposta estudar os estados
excepcionais da mente. As sociedades das quais fez parte tinham o objetivo de avaliar tais

5 Sobre os eventos descritos no ciclo hindu, Flournoy relata em seu livro a grande dificuldade de encontrar referências
históricas. O filósofo escreveu a professores que estudavam história da Índia: dos três inicialmente consultados, nenhum
foi capaz de confirmar os nomes e os eventos relatados por Hélène, somente mais tarde ele encontrou um livro de autoria
de De Marlès, General history of India, ancient and modern from the year 2000 B. C. to our own times, que confirmava os
nomes e os fatos mencionados. Em Genebra, Flournoy encontrou somente dois exemplares (Flournoy, 2012).
6 Frank Miller, a mulher cujas fantasias são avaliadas na obra Símbolos da transformação, inicialmente era um caso
estudado por Flournoy (Jung, 2013a).
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10 Diálogos entre C. G. Jung e William James

estados através do método científico, isso significava saber se telepatia, poltergeist,


assombrações e mensagens de espíritos eram fatos ou fraudes.
Esses eventos eram foco de discussão na segunda metade do século XIX,
reportados na imprensa e referenciados na literatura. Diante da atenção despertada pelos
fenômenos, a ciência não poderia se manter afastada, deveria investigar. Segundo
Ellenberger (1970), uma farta bibliografia do período também foi produzida por psicólogos,
além de William James: autores como Frederic Myers (1843-1901) e Pierre Janet (1859-
1947) estudaram eventos como a escrita automática e o transe como formas de
manifestação do subconsciente. Barzun (1983, p. 239) destaca a afirmação de James: “Se
o transe hipnótico tinha se tornado genuíno após um longo ceticismo e denúncia, era
racional supor que outras coisas impossíveis no léxico do cientificismo poderiam ser
provadas factualmente [...]”, demonstrando novamente a indiferença de James pela
definição do que pode ou não ser pesquisado.
Os experimentos de James refletem muito do contexto em que ele vivia. Boston era
emblemática, pois entre sua população encontravam-se muitos frenologistas, herbalistas,
curandeiros, seguidores do mesmerismo e médiuns, que ofereciam conselhos e
tratamentos de saúde. A disputa com a medicina oficial levou à tentativa de implantação de
um projeto de lei no estado de Massachusetts com o intuito de banir as práticas de saúde
pouco ortodoxas dos médiuns e curandeiros. James se posicionou a favor de todas as
práticas religiosas, seu argumento era a eficácia do hipnotismo que, na Europa, chegou a
ser considerado técnica anticientífica (Murphy & Ballou, 1973; Sech, Araujo, & Moreira-
Almeida, 2013).
Figuras importantes de Harvard chegaram a organizar um grupo de pesquisa para
avaliar os fenômenos apresentados por esses indivíduos. Benjamim Peirce (1809-1880),
Louis Agassiz (1807-1873) e Eben Norton Horsford (1818-1893) avaliaram diversos casos.
Entre eles, personalidades do contexto espiritualista, como os irmãos Ira Erastus Davenport
(1811-1839) e William Henry Davenport (1841-1877) e as jovens da família Fox: Katherine
(1837-1892), Leah (1814-1890) e Margaret (1833-1893). No entanto, os resultados foram
considerados inconclusivos. Na Universidade da Pennsylvania, igualmente, formaram-se
comissões de investigação sobre a escrita automática e comunicações com espíritos.
Acadêmicos como George Stuart Fullerton (1859-1925), William Pepper (1843-1898) e
Silas Weir Mitchell (1829-1914) investigaram uma série de médiuns, mas se lamentaram,
pois na maior parte dos casos tratava-se de amadores em busca de autopromoção (Taylor,
1999).
As dificuldades, no entanto, em pesquisar os fenômenos parapsíquicos eram muitas.
Na condução dos experimentos, se por um lado alguns médiuns se resguardavam, impondo
diversas condições, por outro, não raro, os pesquisadores já assumiam posicionamentos a
favor ou contra por antecipação. James era contra indivíduos que tinham certezas de
antemão, assim como considerava o sectarismo científico tedioso e afastado da
racionalidade. Para o filósofo, o que mais faltava às pesquisas era crítica e cautela. O
assunto deveria ser tratado com a seriedade que merece, afastado do mero entretenimento.
Para Taylor (1983), esses estudos acrescentaram importantes elementos à psicologia de
James, pois demonstravam que a mente consciente não era a única detentora de
sentimentos, pensamentos e imagens.
A pesquisa sistemática do fenômeno só foi inaugurada nos Estados Unidos com a
fundação da American Society for Psychical Research em 1885 na cidade de Boston, tendo
por membros o presidente de Harvard, Charles William Eliot (1834-1926), e muitos
professores da instituição, como Henry Pickering Bowditch (1840-1911), James Jackson

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Putnam (1846-1918), Charles Sanders Peirce (1839-1914), Richard Hodgson (1855-1905),


William James, entre outros, dos campos da medicina, filosofia e ciências (Taylor, 1999).
Em 1886, James atuava como oficial da American Society for Psychical Research e
liderava o comitê de estudos sobre o hipnotismo. James devotou muitos anos e fez diversas
viagens para cumprir as solicitações das sociedades de que participou, investigando vários
casos. Entre os casos que acompanhou, o mais famoso é o da médium Leonora Evelina
Piper. De acordo com Taylor (1999), Piper levava uma vida normal até 1883, quando
apresentou um problema de saúde. Familiares indicaram que ela se consultasse com J. R.
Cocke, médium reconhecido por fenômenos de cura. Cocke era um homem cego, que em
consultas pessoais entrava em transe e indicava tratamentos: para aqueles que não podiam
ir até ele, era possível enviar cartas com mechas de cabelo do paciente, ele segurava as
mechas nas mãos e dessa forma conseguiria determinar a doença e o tratamento. Piper
experimentou seus primeiros estados alterados de consciência na presença de Cocke. Em
uma sessão, através da escrita automática, ela entrega uma carta a um dos presentes. O
homem em questão reconhece a mensagem como sendo de seu filho falecido. Após esse
evento, Piper participa de diversas sessões. Assim que James a conhece, ele a conduz à
American Society of Psychical Research, apresentando a médium a outros pesquisadores,
como James Hervey Hyslop (1854-1920) e Hogson, que escreveram sobre suas
faculdades.
Com o consentimento de Piper, James a submetia ao estado hipnótico. Em alguns
experimentos, a médium chegava a estados em que sua consciência se apagava por
completo, sendo possível espetá-la com uma agulha sem que ela manifestasse qualquer
reação. Taylor (1999) ainda descreve experimentos nos quais a médium, em estado de
transe e olhos cerrados, imitava os movimentos de James, se ele levava a mão ao nariz ela
repetia o gesto, e assim por diante. Em outro momento, James fez uma pequena incisão
no braço de Piper em estado de transe, sem que o corte sangrasse. Esse estado poderia
ser mantido por algum tempo, assim que ela era retirada do estado hipnótico, ocorria o
sangramento. Em outra experiência sob hipnose, Piper era consultada sobre os números e
naipes de um baralho afastado de seu campo de visão. Após as respostas, James separava
em pilhas os acertos e erros, destacando a rapidez das réplicas e a preponderância de
acertos.
Em nenhum momento James encontrou suspeitas sobre o caráter e a honestidade
de Piper. Diferentemente de outros médiuns da época, que faziam espetáculos, suas
capacidades se limitavam a uma facilidade de se mover entre diferentes estados de
consciência. Em estado hipnótico, ou através da escrita automática, era capaz de fornecer
informações detalhadas acerca de pessoas e fatos, ou sobre o que lhe fosse perguntado.
A médium ainda manifestava uma personalidade chamada de Reactor7 cuja capacidade de
discernimento superava a de seu próprio estado de vigília, dando conselhos prolongados
que satisfaziam as mentes mais críticas. Piper era chamada por James de seu corvo
branco, uma metáfora retirada de um silogismo lógico, representada pela seguinte questão:
para quebrar a lei da universalidade que todos os corvos são negros, basta um único corvo
branco. A mesma lógica se aplicaria a mediunidade, independentemente de sua causa ou
origem, para a designação do fenômeno como autêntico basta um único médium não
fraudulento.

7 Em sua obra O segredo da flor de ouro, Jung (2013b) afirma que as personalidades masculinas manifestadas por Piper
representam o elemento masculino de sua psique inconsciente, nomeada em sua teoria como animus.
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12 Diálogos entre C. G. Jung e William James

Segundo Murphy e Ballou (1973), Leonora Piper se tornou a médium mais estudada
da história. Esses experimentos teriam importância para a ciência psicológica, pois
demonstravam as intrincadas relações entre o psíquico e o biológico. O estado hipnótico
provocava alterações significativas em certos processos involuntários do organismo,
interferindo inclusive em aspectos desconhecidos da percepção, memória, atenção e
cognição. Sobre os fenômenos estudados, James teria afirmado: “Permanecem incertas e
aguardam mais fatos, fatos que podem não apontar claramente para uma conclusão em
cinquenta ou cem anos” (Barzun, 1983, p. 239). Em nenhum momento o filósofo se
posiciona como crente espiritualista, sua posição é a do pesquisador que reconhece um
fenômeno e busca seu sentido. Ao longo de seu trabalho, James compreende porque as
performances dos médiuns são sujeitas a fraudes, mas acrescenta que, observando as
manifestações, elas possuem semelhanças, independentemente da parte do mundo em
que ocorram e das diferentes épocas: isso deveria corresponder a resíduos de fatos.
As impressões de James sobre as experiências psíquicas, alguns meses antes de
sua morte, reforçam sua posição de que o subconsciente estava envolvido nesses
processos, o que levava ao entendimento de que sentimentos, pensamentos e imagens
não se encontravam em sua totalidade na consciência de vigília. A mente deveria ser
avaliada em sua totalidade, não somente o que flutuava na superfície, mas também o
submerso. O exame atento do tema deveria ter por norte o subliminar. Essa afirmação deixa
em suspenso a negação ou a afirmação acerca das realidades espiritualistas, atesta
apenas que os eventos tinham seu surgimento e desenvolvimento pela via subconsciente
(Taylor, 1999).
Apesar de as Sociedades não terem descoberto evidências incontestáveis da
realidade da vida após a morte, elas contribuíram significativamente para a moderna
psicologia dinâmica do inconsciente ou psicologia profunda. As experiências com médiuns
sugeriam a existência de uma parcela da mente não acessível à consciência de vigília, mas
que sob certas condições, como choque, fadiga, distúrbios físicos, entre outros, poderiam
invadir a consciência, demonstrando sua existência inequívoca (Taylor, 1999). James
considerava suas experiências com Piper como a superação do reducionismo científico.
Muitos estudiosos consideravam a mediunidade como um sintoma de doenças nervosas, o
que não se aplicava ao caso em questão, uma dona de casa saudável, mãe de dois filhos,
mas que possuía a característica marcante de conseguir transitar por diferentes estados de
consciência. A mente, nessa perspectiva, não seria uma unidade monolítica, mas um
agregado de fluxos de pensamentos, emoções, memórias etc., que se desenvolveriam na
consciência normal de vigília e também no nível subliminar (Ellenberger 1970).

Considerações finais
Ellenberger (1970) destaca a importância do movimento espiritualista para a
nascente teoria psicológica do século XIX. Apesar da existência de pesquisas sobre
estados alterados de consciência em décadas anteriores, é somente entre os anos de 1840
e 1850 que o movimento espírita se expande pelos Estados Unidos e pela Europa. A partir
desse período, um número maior de cientistas passou a se interessar pelos fenômenos
apresentados pelos médiuns. Esses estudos, por mais controversos que possam parecer,
trouxeram importantes contribuições para a teoria do inconsciente. “O advento do
Espiritismo foi um acontecimento de grande importância na história, porque indiretamente
forneceu psicólogos e psicopatologistas com novas abordagens para a mente”
(Ellenberger, 1970, p. 85). A escrita automática e a manifestação do transe mediúnico,
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Resende & Melo 13

introduzidos pelos espiritualistas, foram utilizados pelos pesquisadores como ferramentas


de exploração do inconsciente.
Desde seu período de estudante de medicina, Jung esteve interessado pela literatura
espiritualista, tendo pesquisado diversos autores. Segundo seu parecer, teóricos como
Kerner, Zöllner e Crookes foram os primeiros a relatar fenômenos parapsíquicos objetivos
(Jung, 1975a). Em sua análise, o autor suíço afirma que muitos dos acontecimentos
relacionados ao espiritismo poderiam ser explicados pela existência de percepções
inconscientes. “Com esta hipótese não se pretende explicar todos os fenômenos espíritas,
mas no máximo uma certa categoria deles”. Destacando ainda que: “Nosso inconsciente
possui poderes de percepção e reconstrução muito mais sutis do que a consciência” (Jung,
2012a, p. 346).
Os fenômenos anômalos da consciência, que foram apresentados neste trabalho,
perpassam as teorizações posteriores do autor. Dentre os diversos temas pesquisados por
Jung, podemos destacar a relação entre consciente e inconsciente, seu conceito de
complexo e sua proposta da sincronicidade como diretamente ligados a essas pesquisas
(Jung, 2013a). Para além dos diálogos estabelecidos entre Jung e James, dos autores
referenciados destacamos o trabalho de Theodore Flournoy. Ao estudar as diferentes
personalidades manifestadas por Hélène Smith, com pensamentos e sentimentos diversos
da personalidade de vigília, o pesquisador de Genebra abre espaço para a compreensão
do psiquismo como um campo plural, com agregados de ideias subconscientes de certa
independência. Jung (2013c) utilizará essa proposta para sua teoria dos complexos. Da
mesma forma, Flournoy destaca a existência de processos psíquicos prospectivos. Jung
(2013d), em sua obra, avaliará a existência de duas possibilidades de análise dos
fenômenos psíquicos. Em uma delas, nomeada de analítico redutiva, tem-se a necessidade
de um estudo causal, que busca as origens de transtornos e neuroses. Em outra via de
análise, nomeada de construtiva ou compreensão prospectiva, tem-se a avaliação dos
processos psíquicos em desenvolvimento, indicando um caminho futuro a ser percorrido
pelo indivíduo. A partir dessas avaliações, destacamos a necessidade de maiores estudos
acerca da relação entre os trabalhos de Jung e Flournoy.
Em relação aos diálogos entre Jung e James, o evento de 1909 na Universidade de
Clark representa um marco histórico. A partir do encontro entre os dois autores, inicia-se o
processo de formação do que seria posteriormente conhecido como psicologia analítica.
Os interesses de pesquisa do psiquiatra suíço não encontravam ressonância em Freud. Ao
encontrar suporte teórico e apoio pessoal em William James, Jung vislumbra a possibilidade
de traçar seu próprio caminho. A importância de Freud para Jung é inegável, sendo o autor
vienense referenciado objetivamente em suas Obras completas, especialmente nos
trabalhos reunidos no volume Freud e a psicanálise. No entanto, compreender os efeitos
teóricos de outros autores representativos torna-se fundamental para a apreensão da teoria
analítica. Em suas Obras completas, Jung referencia William James em vários momentos
e associado a diversos temas, como: pesquisas psiquiátricas, avaliação do inconsciente,
pluralismo, tipologia e pragmatismo, as diferenças entre o que o autor suíço nomeou
pensamento lógico e pensamento fantasia, teoria das emoções e experiência religiosa.
Neste trabalho, nos concentramos nos temas dos diálogos ocorridos na Conferência
de Clark. Nosso objetivo foi ampliar a discussão, apontando os principais estudos
desenvolvidos por Jung acerca do assunto antes de seu encontro com James e as
principais pesquisas psíquicas desenvolvidas pelo pensador americano. Para James, esses
estudos tiveram como perspectiva, mais do que confirmar as afirmações religiosas acerca
do fenômeno, trazer contribuições à psicologia do subliminar. Para Jung, o encontro com

Psicol. estud., v. 27, e49028, 2022


14 Diálogos entre C. G. Jung e William James

James foi a oportunidade de compartilhar seus interesses e encontrar estímulo para suas
pesquisas. O filósofo americano passa a ser um modelo para o psiquiatra suíço, com sua
abertura de visão e coragem de avaliar os eventos mais controversos.

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Recebido em 01/08/2019
Aceito em 26/03/2021

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