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RAMOS. Direito Fundamental À Prova

O documento discute o direito fundamental à prova no processo civil brasileiro. Em três frases: 1) Argumenta que o direito à prova é um direito fundamental formal e materialmente, essencial para o processo justo e a busca da verdade nos processos jurídicos. 2) Distingue o direito à prova do contraditório e ampla defesa, ainda que estejam relacionados. 3) Pretender definir os elementos mínimos do núcleo essencial do direito à prova no processo civil brasileiro.
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RAMOS. Direito Fundamental À Prova

O documento discute o direito fundamental à prova no processo civil brasileiro. Em três frases: 1) Argumenta que o direito à prova é um direito fundamental formal e materialmente, essencial para o processo justo e a busca da verdade nos processos jurídicos. 2) Distingue o direito à prova do contraditório e ampla defesa, ainda que estejam relacionados. 3) Pretender definir os elementos mínimos do núcleo essencial do direito à prova no processo civil brasileiro.
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DIREITO FUNDAMENTAL À PROVA

DIREITO FUNDAMENTAL À PROVA


Revista de Processo | vol. 224/2013 | p. 41 - 61 | Out / 2013
DTR\2013\9331

Vitor de Paula Ramos


Mestrando em Direito com ênfase em Processo Civil na UFGRS. Advogado.

Área do Direito: Processual


Resumo: O presente ensaio visa a comprovar a fundamentalidade do direito à prova e,
posteriormente, traçar alguns de seus sentidos mínimos no processo civil do Estado Constitucional
brasileiro.

Palavras-chave: Estado Constitucional - Processo justo - Direito à prova - Fundamentalidade -


Núcleo duro.
Abstract: Questo saggio mira a provare la fondamentalità del diritto alla prova e, dopo, fare una
bozza di alcuni dei suoi sensi minimi nel Processo Civile dello Stato Costituzionale brasiliano.

Keywords: Stato Costituzionale - Giusto Processo - Diritto alla Prova - Fondamentalità - Nucleo
essenziale.
Sumário:

- 1. INTRODUÇÃO - 2. A FUNDAMENTALIDADE DA PROVA - 3. DIREITO FUNDAMENTAL À


PROVA – PERFIL MÍNIMO (NÚCLEO ESSENCIAL) - 4. CONCLUSÕES - 5. BIBLIOGRAFIA

Recebido em: 07.05.2013 Aprovado em: 18.06.2013

1. INTRODUÇÃO

O direito à prova é um dos elementos do “processo justo” mais cotidianos da vida jurídica. Não
obstante, ainda falta nos Tribunais (e, em parte, na doutrina)1 um enfrentamento do tema sob o
prisma de sua fundamentalidade no ordenamento jurídico brasileiro, talvez por conta do, a nosso ver,
infeliz entendimento de nosso STF no sentido de que violações a direitos fundamentais processuais
seriam somente ofensas reflexas à Constituição Federal (LGL\1988\3).2 Talvez por conta da
ausência de um caldo cultural doutrinário que dê consistência o núcleo duro do direito à prova,
armando os Tribunais para que façam também a sua parte.

Com o presente trabalho pretende-se, na primeira parte, tornar claro que o direito à prova é
efetivamente um direito fundamental, bem como demonstrar sua intrínseca relação com a verdade
em um Estado Constitucional.

Na segunda parte, uma vez provada a fundamentalidade do direito à prova em nosso ordenamento
jurídico, passar-se-á à análise dos elementos mínimos (núcleo duro) que compõem tal direito.

Importante salientar, por oportuno, dois detalhes: (a) o presente trabalho lida com as implicações de
tal direito fundamental para o campo do processo civil; (b) é necessário que esteja claro que
contraditório, ampla defesa e prova são três direitos fundamentais constitucionalmente garantidos,
que, apesar de se entrecruzarem, não se confundem.3 O primeiro implica a “cabal participação” dos
litigantes (possibilidade efetiva de influência e de debate);4 o segundo, impossibilidade de limitação
injustificada dos meios de defesa,5 incluindo, entre outros, defesa profissional (por advogado)6 e
assistência técnica e, via de regra, procedimento de cognição plena e exauriente;7 o terceiro, direito
de contribuir ativamente com os fatos que são levados aos autos para a apuração da verdade,
conforme será abordado a seguir.

2. A FUNDAMENTALIDADE DA PROVA

Direitos fundamentais são aqueles que foram “eleitos” como verdadeiros fundamentos de
determinado ordenamento jurídico.8 Sua fundamentalidade pode ser material e formal, somente
formal, ou somente material.

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DIREITO FUNDAMENTAL À PROVA

A fundamentalidade formal diz respeito aos direitos fundamentais elencados pela Constituição como
fundamentais, ou, em outras palavras, aqueles que se “beneficiam da positivação constitucional”.9 É
o exemplo dos direitos previstos nos diversos incisos do art. 5.º da CF/1988 (LGL\1988\3). Em
elencos como esse, entretanto, podem figurar direitos que não são materialmente fundamentais.

A fundamentalidade material, por sua vez, diz respeito àqueles direitos cujo conteúdo “é
decisivamente constitutivo das estruturas básicas do Estado e da sociedade”.10 Sem o respeito a
eles não seria possível falar em “um espaço de liberdade de decisão e de autorrealização”;11 muito
menos em garantia e defesa da “subjetividade pessoal”.12

Os direitos fundamentais processuais possuem, ainda, a peculiaridade de ter como princípio (ou
sobreprincípio) norteador o direito ao justo processo, visto pela doutrina como o “modelo mínimo de
atuação processual do Estado e mesmo dos particulares em determinadas situações substanciais”.13
Sem alguns elementos mínimos, não há que se falar em processo justo.

Veremos, a seguir, no caso do direito à prova, se há fundamentalidade material e formal, apenas


formal, ou apenas material.

2.1 Fundamentalidade formal

A fundamentalidade formal do direito à prova pode ser localizada em dois incisos do art. 5.º da
CF/1988 (LGL\1988\3). Primeiramente, no inc. LVI,14 uma vez que, proibida a admissão das provas
ilícitas, permitida está a admissão das provas lícitas. Ainda, no inc. LV,15 em que, ao garantir o
contraditório e a ampla defesa, o legislador constitucional explicitamente faz referência à
asseguração dos meios inerentes a essa; entre tais meios inerentes, está, por óbvio, o direito à
prova.

2.2 Fundamentalidade material

A fundamentalidade material da prova está intrinsecamente ligada à verdade e à importância dessa


para qualquer relação jurídica. Não é aqui a sede adequada para que se reproduzam as diversas
discussões doutrinárias sobre o tema. Bastará dizer que adotamos como premissa que a verdade é
objetiva16 (no sentido de que não é determinada por um sujeito) e que se deve supor uma verdade
por correspondência17 (no sentido de que independe de qualquer consenso ou coerência narrativa: a
neve é branca somente se a neve é branca).

2.2.1 A importância da verdade e sua relação com a prova

O papel da verdade pode ser relevante ou irrelevante para as relações humanas.18 Será irrelevante
quando a relação em questão for interest-based. Por exemplo, quando alguém manifesta a um amigo
vontade de ir ao cinema, a verdade subjacente a essa manifestação não tem qualquer relevância.

Por outro lado, nas relações merit-based, a verdade é relevante. Se a regra do jogo de futebol vai no
sentido de que vence o time que conseguir fazer a bola validamente entrar mais vezes na goleira
adversária, passando da linha, é importante verificar se a bola efetivamente ingressou na goleira ou
não.

O direito é claramente merit-based. Se uma regra, visando a resolver determinado problema de


coordenação, expertise e eficiência19 afirma que quem bebe não deve dirigir, aqueles que não
bebem devem ter a segurança de que, agindo exatamente como manda a lei (nem mais nem
menos), não serão punidos; por outro lado, aqueles que agem em desacordo com a lei, devem saber
que sua conduta tem um nexo de causalidade direto com a possibilidade de aplicação da
consequência jurídica prevista, a fim de que restem desencorajados a, no futuro, procederem da
mesma forma. Ou seja, no exemplo dado, aqueles que beberem devem saber que é exclusivamente
sua conduta que faz com que a sanção prevista possa ser aplicada.

Trata-se, em outras palavras, de característica primordial do direito: a direção de condutas.20 Afinal,


se o direito for visto como interest-based, os indivíduos simplesmente não terão qualquer estímulo
para se comportar de acordo com o que prevê uma regra.21

Imaginemos22 uma cidade em que, diante dos inúmeros acidentes veiculares causados por excesso
de velocidade, promulga-se determinada regra que impede que os condutores guiem a mais de 50
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DIREITO FUNDAMENTAL À PROVA

quilômetros por hora. Entretanto, diante da impossibilidade de compra de medidores de velocidade, a


autoridade de trânsito determine aos seus funcionários que multem os veículos de maneira aleatória.

Se assumíssemos que a verdade fosse irrelevante para o direito, teríamos que aceitar que pouco
importa que o cidadão João, que conduzia a 35 quilômetros por hora, fosse multado, e o condutor
Marcos, que conduzia a 95 não fosse. Entretanto, tanto para Marcos como para João os fatos teriam
o condão de fazer com que a regra sobre a velocidade fosse, na próxima vez, simplesmente
ignorada.

O exemplo, bastante simples, tem a força de demonstrar que, caso as consequências jurídicas sejam
aleatórias, ou sem uma relação causal com os fatos e, principalmente, com as condutas, quem dirige
rápido, seguirá dirigindo rápido, e quem dirige devagar, seguirá dirigindo devagar. Ou seja, o direito,
conforme referido, perderá sua função basilar de dirigir condutas.

Daí concluir-se que, se é correto dizer que a verdade importa nas relações jurídicas, e se ela é
objetiva e correspondente a coisas que efetivamente existem no mundo real, é necessário que o
processo esteja equipado para, na medida do possível, levá-la para dentro dele.

Não obstante, o fato de o conceito de prova e de verdade estarem intimamente ligados não quer
dizer que são sinônimos. “Está provado” não significa, com efeito, “é verdade”, mas simplesmente
que existem elementos de juízo suficientes a favor ou contra algo.23 Prova e verdade estão ligadas
teleologicamente:24 isto é, o fim da prova é a busca da verdade, e o sistema deve ser truth oriented.
25

Dessa forma, tem-se que o direito à prova só tem sentido caso se conclua que as relações jurídicas
são efetivamente merit-based. Caso contrário, melhor seria abolir qualquer meio de prova,
retornando a métodos vulgares de resolução de conflitos, mais céleres e baratos, como jogar uma
moeda para o alto.26

Dito tudo isso, resta fácil identificar como o direito à prova pode ter sua fundamentalidade material
intrinsecamente ligada à verdade e ao papel que ela exerce em um Estado Constitucional. Isso
porque não é possível pensar nas estruturas básicas do Estado brasileiro sem que busque
constantemente a verdade. E não é possível pensar em uma busca pela verdade no processo sem
uma consistente estruturação do perfil mínimo do direito fundamental à prova.

Se, conforme visto, a busca da verdade é um elemento necessário para que a decisão possa ser
considerada justa,27 e se a verdade é necessariamente um elemento para que o direito tenha sua
função básica de orientar condutas, a própria ideia de Estado Constitucional (que, antes de qualquer
coisa, é Estado de Direito) não pode prescindir do direito à prova para os litigantes; por essa razão,
tem-se que tal direito é não só formalmente fundamental, como demonstrado no item anterior, mas
também materialmente.

3. DIREITO FUNDAMENTAL À PROVA – PERFIL MÍNIMO (NÚCLEO ESSENCIAL)

As discussões sobre a definição do núcleo essencial de um direito fundamental certamente não


podem (e não devem) ser aqui debatidas, remetendo-se à doutrina especializada.28

Cumpre-nos, aqui, somente destacar que o núcleo essencial tem como premissa que existem nos
direitos fundamentais conteúdos invioláveis, indisponíveis, que não podem ser relativizados, ou que
acabam por prevalecer em caso de colisão, sendo subtraídos inclusive da disposição do legislador.29

Mesmo sendo certo que determinar exatamente o conteúdo do núcleo essencial de um direito
fundamental em abstrato e previamente seja muito difícil,30 é necessário que se desenhem pelo
menos alguns sentidos mínimos abstratos, a fim de que se possa conferir maior operatividade aos
direitos fundamentais. É o que faremos a seguir com o direito fundamental à prova.

3.1 Admissão

O exame da admissibilidade da prova no ordenamento jurídico brasileiro parte do já referido art. 5.º,
LVI, da CF/1988 (LGL\1988\3), segundo o qual são inadmissíveis as provas ilícitas. Assim, por óbvio,
como também já referido, são admissíveis, em tese, as provas lícitas.31

Analisando a admissão da prova sob o prisma da busca da verdade, tem-se que se devem utilizar no
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DIREITO FUNDAMENTAL À PROVA

processo todos os elementos de conhecimento disponíveis.32 Devem-se excluir, por outro lado, por
razões de economia processual (como ocorre nos EUA, por força da Rule 402 das Federal Rules of
Evidence) as provas irrelevantes, ou, como prefere o texto do art. 130 do CPC (LGL\1973\5)
brasileiro, as provas inúteis ou meramente protelatórias.

O CPC (LGL\1973\5) brasileiro não indica explicitamente o que considera inútil, mas a Rule 401 das
Federal Rules of Evidence refere ser relevante a prova (evidence)33 se: (a) tiver alguma tendência de
fazer com que um fato seja mais ou menos provável do que seria sem essa prova; e (b) o fato tiver
consequência na determinação da ação. A doutrina esclarece que os dois critérios podem ser
chamados, respectivamente, de materialidade, quando a prova diz respeito aos fatos da causa, e
valor probatório,34 a tendência da prova de estabelecer a proposição ofertada à prova.35

A doutrina estrangeira afirma, ainda, que é relevante para a decisão o elemento de juízo que permite
fundar em si uma conclusão acerca da verdade do enunciado fático a provar;36 a relevância pode-se
dar tanto quanto ao fato jurídico em si, como com relação a um fato secundário.37 Frustra probatur
quod probatum non relevat.

A doutrina brasileira traz classificação um tanto diversa na forma, mas similar no conteúdo: entende
ser admissível a prova que, ao mesmo tempo, for pertinente, controversa e relevante.38 Pertinente
será aquela prova que disser respeito ao mérito da causa (similar à materialidade estadunidense);
relevante aquela que tiver o condão de alterar o resultado do julgamento (similar ao valor probatório
estadunidense), e controversa aquela que contar com mais de uma versão nos autos.39

O exame da admissibilidade é, e deve ser, preliminar, servindo para excluir ex ante provas
irrelevantes.40 Fere, pois, o núcleo duro do direito fundamental à prova o indeferimento de prova
admissível sob o pretexto de o juiz já se ter convencido sobre a verdade dos fatos.41

Entretanto, isso não quer dizer que as partes possam confirmar ad aeternum suas versões através
das provas. Se o prévio conhecimento do juiz não pode servir de razão para o indeferimento da
prova, eventual redundância da prova, por outro lado, poderá. Explica-se: existe um ponto em que a
incorporação de novas provas confirmatórias significará um aumento muito pequeno de
corroboração, acarretando grande perigo de desordem.42 O enfoque aí não será o convencimento
subjetivo do juiz, mas sim a existência objetiva de elementos de juízo coerentes e consistentes entre
si.

Cumpre salientar, ainda, que o exame de admissibilidade é hipotético, ou seja, imagina-se que o
êxito da prova será positivo e, após, verifica-se se terá condições de produzir elementos de
conhecimento sobre o fato a ser apurado.43 Se o fato a ser provado for secundário, necessário será
verificar se, estando provado, tal fato terá o condão de constituir premissa para uma inferência válida
sobre o fato jurídico principal.44

Diante de tudo isso, o que resta claro é que, uma vez que no processo nada se dá a um dos
litigantes sem tirar do outro, a admissibilidade da prova é, de um ponto de vista bastante pragmático,
um delicado equilíbrio entre o direito fundamental à prova de um dos litigantes e o direito
fundamental à razoável duração do processo do outro.

Assim, integram o núcleo essencial do direito à prova: (a) a admissão de quaisquer provas lícitas,
desde que relevantes (ou pertinentes e relevantes, como prefere a doutrina brasileira), e desde que
não redundantes; (b) que o exame da admissão da prova seja feito antes da valoração, não podendo
ser indeferida prova por “prévio convencimento” subjetivo do juiz. Admitidas provas fora das
hipóteses do item “a”, haverá indevida dilação ao feito, caso em que haverá violação ao direito
fundamental à duração razoável do outro litigante. O indeferimento de provas previstas no item “a”,
por outro lado, ou o indeferimento motivado como no caso do item “b”, ferem o núcleo essencial do
direito fundamental à prova.

3.2 Produção

No momento da produção da prova entrecruzam-se os direitos fundamentais à ampla defesa, à


prova e ao contraditório.45 É, pois, exigência do direito fundamental ao contraditório que o
destinatário da prova não seja exclusivamente o juiz, mas sim o próprio processo,46 permitindo-se
que as partes possam se manifestar ativamente tanto durante a produção da prova (formulando
quesitos de perícia, inquirindo testemunhas etc.) quanto após (manifestando-se sobre o resultado da
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DIREITO FUNDAMENTAL À PROVA

prova). De outra banda, é exigência da ampla defesa que as partes possam ter, durante a produção
da prova, assistência técnica.47

Especificamente no que tange ao direito fundamental à prova, quanto à produção, é necessário


possibilitar às partes que a prova seja assegurada ou produzida imediatamente, em caso de urgência
48
(havendo inclusive vozes na doutrina que sustentem a possibilidade de sua produção autônoma
mesmo sem urgência).49 Afinal, deixar perecer determinada prova, ou deixar de produzi-la quando
possível, seria macular gravemente o núcleo essencial do direito à prova.

Quanto à produção, pois, o núcleo duro do direito à prova exige: (a) a possibilidade de produção
imediata ou asseguração, assim como, em homenagem à ampla defesa, a assistência técnica e, em
homenagem ao contraditório, a participação efetiva.

3.3 Valoração racional, standards e decisão motivada

Com a superação quase total do sistema de prova legal, que condicionava a valoração do juiz
através da lei, passou-se a utilizar o sistema chamado de “livre convencimento do juiz”. A doutrina,
entretanto, há muito concluiu que, por óbvio, tal convencimento só é livre no sentido de que não
acarreta pré-valorações legais que vinculem o juiz;50 não é livre, por outro lado, das regras da lógica
e da racionalidade em geral.51 Afinal, de nada adiantaria produzir amplo e rico material probatório, se
o juiz pudesse simplesmente desconsiderá-lo na hora de tomar a decisão (mais fácil seria, também
nesse caso, a utilização da moeda).52

Toda a valoração da prova deve dar-se, portanto, com base em critérios racionais e objetivos, de
modo a verificar se as hipóteses oferecidas foram ou não corroboradas suficientemente pelas provas
trazidas aos autos. Pouco importa o convencimento subjetivo do juiz; é necessária a corroboração
objetiva das hipóteses, em grau considerado pelo direito suficiente.53

Depois da fase de admissão e da fase de produção das provas, ver-se-á o juiz diante do material
probatório. O primeiro passo, diante de cada uma das provas produzidas, será, pois, que o juiz
verifique a confiabilidade dessas.54 As provas que forem consideradas não confiáveis, não poderão
servir para corroborar hipóteses.

Cada enunciado de fato, ou melhor, sua veracidade ou falsidade,55 deve ser analisado
individualmente, e os fatos apurados através das provas darão graus maiores ou menores de
corroboração às hipóteses fáticas.56 A partir das provas e dos graus de corroboração nelas contidos,
será possível verificar a corroboração de uma hipótese diante da “capacidade de predizer algum
evento ou estado de coisas empiricamente contrastável” 57 (o raciocínio, que não pode ser aqui
esmiuçado, seguirá basicamente a estrutura que segue:58 Hipótese59 (exemplo: João atirou em
José) – Supostos Adicionais (exemplo: quem usa arma de fogo fica com rastros de pólvora nas
mãos) – Condições Iniciais (exemplo: quem atirou não usou luvas) # Predição (exemplo: se João
atirou em José, terá, após o disparo, rastros de pólvora nas mãos).60

Sobre tal raciocínio, entretanto, deve-se ter em mente que somente se os supostos adicionais
(conhecimentos usados para a predição) fundarem-se em leis científicas de caráter universal ou
quase universal é que as inferências probatórias terão o condão de produzir graus altos de
confirmação.61 Se, em um determinado processo, houver mais de uma prova (e, portanto, mais de
uma inferência) sobre o mesmo enunciado é necessário verificar o grau de confirmação dado a esse
por cada uma das provas, para posteriormente verificar se as inferências convergem.62

É importante, nesse compasso, que o juiz não se apresse em tirar conclusões diretamente sobre o
resultado final, ou seja, sobre se, por exemplo, o réu deve ou não ser condenado a pagar;63 afinal,
essa é somente uma das versões possíveis.64 O juiz, ademais, não deve “completar” a narrativa com
fatos desconhecidos ou não apurados. A narrativa é verdadeira “se – e somente se – resultarem
especificamente e analiticamente provados como verdadeiros os enunciados de fato que a
compõem”.65

Nesse aspecto, a valoração será racional se presentes os seguintes critérios: completude (se todas
as provas disponíveis forem levadas em consideração), coerência (se a valoração do conjunto das
provas não contiver contradições internas, apresentando conclusões convergentes), congruência (se
as provas levadas em consideração efetivamente disserem respeito aos fatos em apuração) e
correção lógica (se as inferências do raciocínio forem logicamente válidas e justificáveis).
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DIREITO FUNDAMENTAL À PROVA

Para que uma hipótese possa ser considerada provada, então, será necessário que a confirmação
obtida seja de determinado grau. Entretanto, tal grau não é dado pela epistemologia, mas sim pelo
próprio direito, através dos standards probatórios ou modelos de constatação.66

Na doutrina estadunidense67 são três os standards mais comuns: preponderância de provas


(utilizado para os casos cíveis em geral), prova clara e convincente (utilizado para casos especiais,
como casos de família) e prova além de qualquer dúvida razoável (utilizado em âmbito penal).68 A
partir desses graus, que dependem do direito material, será possível considerar uma hipótese
provada ou não.

Cumpre salientar, por fim, que a valoração racional da prova entrecruza-se aqui com o direito
fundamental à motivação. Basicamente porque, para que seja possível verificar (e controlar) se o juiz
cumpriu todos os passos acima delineados, é necessário que a decisão sobre a prova venha
adequadamente motivada. Sem ingressar em detalhes maiores sobre o tema,69 basta referir
genericamente que em termos de prova “o que não pode ser motivado legitimamente, não existe”.70

Em conclusão, no tocante à valoração da prova, o núcleo do direito à prova exige: (a) valoração
racional e analítica sobre a confiabilidade das provas produzidas; (b) valoração racional e analítica
da prova, respeitando critérios de completude, coerência, congruência e correção lógica, e contendo,
ainda: (b.1) análise sobre o conteúdo de cada prova em relação à veracidade ou falsidade do
enunciado de fato; (b.2) análise de cada uma das hipóteses levantadas com os fatos sob o prisma do
raciocínio H – SA – CI -> P, sendo P uma predição que deve ocorrer; (b.3) a utilização de supostos
adicionais que contenham generalização universal ou quase universal; (b.4) valoração racional e
objetiva das provas, sendo consideradas verdadeiras somente as narrativas confirmadas por
elementos de juízo suficientes; (c) sejam considerados suficientes somente os graus de
corroboração que atingirem o standard específico do caso concreto; (d) em homenagem ao direito
fundamental à motivação, seja fornecida motivação adequada, entendendo-se que, em termos de
prova, “o que não pode ser motivado não existe”. Fora daí, haverá violação ao núcleo duro.

3.4 Ônus da prova

O ônus da prova tem importância destacada sob o prisma do direito fundamental à prova; a uma, a
fim de orientar o comportamento das partes (inclusive, se for o caso, de sujeição), no sentido de que
saibam o que devem levar de material probatório ao processo (sempre com o intuito de que o
processo seja truth-oriented); a duas, a fim de que os riscos pelo não atingimento dos graus
suficientes de corroboração (“está provado”) sejam adequadamente distribuídos às partes pelo
legislador.

A doutrina tradicional sobre o ônus da prova classificava-o eminentemente como regra de


julgamento, ou seja, como um modo para o juiz chegar a uma decisão final sobre a causa, mesmo
diante de casos de incerteza.71 Tal função do ônus da prova, de caráter objetivo, remontaria à
passagem do processo romano clássico para o processo romano pós-clássico, quando da proibição
do sibi non liquere.72

Existiria, ainda, segundo a doutrina prevalente, uma segunda função do ônus da prova, essa
subjetiva, que consistiria em “regra de organização da atividade probatória das partes”,73 cujo fim
seria “estimular as partes no encargo de produzir prova sobre suas alegações”.74

A nosso ver, entretanto, tais ideias merecem uma análise crítica pormenorizada.

Em primeiro lugar, temos que a função subjetiva do ônus da prova não se sustenta. A uma, porque
no ordenamento jurídico brasileiro a proveniência da prova não importa;75 por exemplo, pode ser o
réu a fornecer prova que corrobore de maneira cabal o fato constitutivo do direito do autor, e, nesse
caso, mesmo na inércia do demandante, deverá ele vencer a causa. A duas, porque, no uso dos
poderes instrutórios do art. 130 do CPC (LGL\1973\5), pode o próprio juiz determinar o
esclarecimento dos fatos.76

Em segundo lugar: se “ônus” é um imperativo de conduta em benefício próprio,77 dever-se-á


questionar sobre qual conduta espera-se dos litigantes para “premiá-los” com a vitória na demanda;
afinal, mesmo sem levar qualquer prova a juízo (ou seja, sem qualquer conduta), poderá um litigante
vencer, e mesmo levando a juízo todas as provas que estiverem ao seu alcance (ou seja, com a
conduta “máxima”), poderá sucumbir. Ou seja: que “ônus” é esse, para o qual a conduta do sujeito
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DIREITO FUNDAMENTAL À PROVA

não importa?

Em terceiro lugar, e ao contrário do que se pensa, a função do ônus da prova não estava, na origem
(e nem está, hoje em dia, conforme será demonstrado), ligada ao sibi non liquere,78 ou à
inesclarescibilidade da demanda. Historicamente isso pode ser provado por duas razões: a primeira
porque o ônus da prova já existia e era juridicamente vinculante no processo romano formulário,79
quando ainda existia o sibi non liquere; a segunda porque a consequência do sibi non liquere na
época clássica do direito romano era justamente a substituição do iudex que o jurara por outro iudex.
80
Dessa forma, diante do novo iudex ou órgão colegiado “a necessidade da prova repropunha-se em
toda sua plenitude”,81 de modo que a existência do sibi non liquere “não excluía objetivamente o
ônus da prova”.82

Como solucionar, portanto, tais questões?

Uma possível (e desejável) reformulação do tema está, a nosso ver, na utilização, com as devidas
adaptações, dos conceitos estadunidenses de burden of producing evidence e burden of persuasion,
o primeiro dizendo respeito ao aporte de elementos de juízo ao processo,83 e o segundo ao
convencimento (rectius, suficiência de elementos probatórios que corroborem a hipótese) de que
determinado fato é ou não verdadeiro (modelos de constatação ou standards supramencionados).84

Adaptando o conceito de burden of producing evidence para nosso ordenamento, pode-se


tranquilamente entender que, diante do art. 130 do CPC (LGL\1973\5), cumulado com o art. 14, V, do
mesmo diploma, não há um ônus, mas um dever,85 das partes de levarem a juízo todos os
elementos de prova que estiverem a seu alcance,86 podendo ser sancionadas em caso de
desobediência à ordem de produção do juiz.87 Afinal, no art. 130 dá-se ao juiz o poder de
“determinar” as provas necessárias, e o art. 14, V, determina à parte um correlato “dever” de “cumprir
com exatidão os provimentos mandamentais”. Isso tudo, ainda, considerando que no campo cível,
diferentemente do campo penal, não há o direito de não produção de provas88 contra si mesmo,89
garantido no art. 5.º, LXIII, da CF/1988 (LGL\1988\3) somente para questões penais.90

Tal entendimento, em nada violador dos direitos fundamentais das partes, eliminaria não só o caráter
subjetivo do ônus da prova, mas também estimularia de maneira muito mais direta que todos os
elementos de juízo admissíveis (porque lícitos, pertinentes e relevantes) estivessem no processo,
desfazendo de uma vez por todas a falsa ideia de que o comportamento da parte em juízo influencia
diretamente o resultado da demanda. Nessa hipótese, aliás, não seria sequer necessário cogitar de
dinamizações ou inversões do ônus da prova.91

Quanto ao burden of persuasion, se adaptado, pode esse ser visto como um dever para o juiz, cujo
fim é a alocação de riscos pela inexistência de elementos de juízo suficientes para corroborar
determinada hipótese fática. Trata-se do “ônus” da prova como regra de julgamento, de caráter
objetivo, porém, não mais ligado à “inesclarecibilidade” dos fatos e nem à conduta das partes, mas
sim à alocação dos riscos pela insuficiência objetiva (de acordo com o standard) de elementos a
corroborarem determinada hipótese fática.92

Em outras palavras, é possível que os fatos estejam perfeitamente claros e, justamente por isso,
restem não confirmados aqueles deduzidos pelo autor ou pelo réu. Ou, em outro exemplo, pode-se
imaginar que, em demanda em que se exigia o standard de prova clara e convincente, das provas
disponíveis os fatos deduzidos pelo autor tenham somente atingido um grau de corroboração do
standard de preponderância de provas.93

Não se tratará aí de “inesclarecibilidade” dos fatos, mas sim de determinar qual grau de corroboração
é necessário para que determinada hipótese possa ser considerada provada. Nesse ponto, será
possível ao legislador alocar de diferentes formas os riscos pela não comprovação dos fatos. Poderá
determinar que o grau de corroboração para que o fato X possa ser considerado provado seja mais
baixo,94 em desfavor do réu (ou do autor). Ainda que isso tenha reflexos no resultado da demanda,95
não estará ligado à conduta das partes no processo.

Portanto, o direito fundamental à prova, segundo pensamos, exige, quanto ao ônus da prova, que:
(a) seja reconhecido, com base no art. 130 e 14, V, do CPC (LGL\1973\5), o poder do juiz de
“determinar” a produção de provas pertinentes e relevantes, e um correlato dever de produção
dessas provas para as partes, que poderão ser sancionadas em caso de descumprimento da ordem
de produção; (b) que a alocação dos riscos pela não corroboração objetiva em grau suficiente (de
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DIREITO FUNDAMENTAL À PROVA

acordo com os standards) seja feita de maneira justa pelo legislador, com correlato dever do juiz de,
em caso de não corroboração, julgar a demanda em favor do autor ou do réu (dependendo da regra).

4. CONCLUSÕES

1. O direito à prova é direito fundamental formal, previsto na Constituição Federal (LGL\1988\3) nos
inc. LV e LVI do art. 5.º;

2. É, também, direito fundamental material, na medida em que a prova é o meio de busca da


verdade, que, por sua vez, é requisito essencial para que o direito possa cumprir sua função
precípua de orientação de condutas.

3. O perfil mínimo (núcleo essencial) do direito à prova exige que:

3.1 A admissão da prova dê-se em momento anterior ao da valoração, sendo admitidas as provas
lícitas, desde que relevantes (ou pertinentes e relevantes), e desde que não redundantes.

3.2 Não sejam inadmitidas provas por conta de eventual convencimento do juiz.

3.3 Seja possibilitada a assistência técnica e a manifestação em todos os momentos da produção


(em homenagem, respectivamente, à ampla defesa e ao contraditório), e deferida a asseguração ou
produção imediata da prova, quando diante do critério da urgência (ou, como sustenta-se na
doutrina, mesmo sem ele);

3.4 Submeta-se a valoração da confiabilidade das provas e das provas em si às regras de


racionalidade e lógica, respeitados os critérios de completude, coerência, congruência, contendo
ainda:

3.4.1 análise sobre o conteúdo de cada prova em relação à veracidade ou falsidade do enunciado de
fato;

3.4.2 análise de cada uma das hipóteses levantadas com os fatos sob o prisma do raciocínio H – SA
– CI -> P, sendo P uma predição que deve ocorrer;

3.4.3 a utilização de supostos adicionais que contenham generalização universal ou quase universal.

3.5 Sejam consideradas provadas somente as hipóteses que forem corroboradas por elementos de
prova suficientes.

3.6 Sejam considerados suficientes os graus de corroboração determinados pelo modelo de


constatação aplicável no caso em análise.

3.7 Seja fornecida adequada motivação, em homenagem ao direito fundamental à motivação.

3.8 Tenham as partes o dever de levar a juízo todos os elementos de prova pertinentes e relevantes
de que dispõem, sendo sancionadas por eventual descumprimento da ordem judicial.

3.9 Aloque o legislador os riscos da não corroboração objetiva das hipóteses fáticas de maneira
justa, com correlato dever do juiz de, em caso de não corroboração, julgar a demanda em favor do
autor ou do réu (dependendo da regra).

5. BIBLIOGRAFIA

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1 Como exceção, cite-se a contribuição de CAMBI, Eduardo. Direito constitucional à prova no


processo civil. São Paulo: Ed. RT, 2001.

2 “Agravo regimental em recurso extraordinário com agravo. 2. Tributário. Empréstimo compulsório


sobre energia elétrica. Prazo prescricional. Matéria infraconstitucional. Precedentes. 3. Direito
administrativo. Alegação de violação aos princípios do contraditório, da ampla defesa e do devido
processo legal. Controvérsia que depende do exame prévio de normas infraconstitucionais. Ofensa
reflexa à Constituição Federal (LGL\1988\3). 4. Ausência de argumentos capazes de infirmar a
decisão agravada. 5. Agravo regimental a que se nega provimento”. AgRg no RE 645.279, j.
11.12.2012, rel. Min. Gilmar Mendes, grifos nossos.

3 MARINONI, Luiz Guilherme; MITIDIERO, Daniel; SARLET, Ingo. Curso de direito constitucional.
São Paulo: Ed. RT, 2012. p. 646-663.

4 Idem, p. 648.

5 Em nosso entendimento, com a vênia da doutrina, a ampla defesa não é direito fundamental
exclusivamente do demandado. Apesar do termo “defesa”, em sentido técnico, dizer respeito
geralmente a quem compõe o polo passivo de uma ação judicial, entendemos que não haveria
qualquer justificativa para o legislador constituinte garantir um direito fundamental ao réu sem
correspondência específica para o autor, em homenagem à paridade de armas. Em sentido
contrário, entendendo que a ampla defesa é direito do demandado, MARINONI, Luiz Guilherme;
MITIDIERO, Daniel; SARLET, Ingo. Op. cit., p. 651.

6 No mesmo sentido, vide MATTOS, Sérgio Luís Wetzel de. Devido processo legal e proteção de
direitos. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2008. p. 236-237.

7 Idem, p. 651. Os autores falam, entretanto, em defesa pessoal e técnica, limitando-as ao processo
penal.

8 SARLET, Ingo. A eficácia dos direitos fundamentais. 7. ed. rev. e ampl. Porto Alegre: Livraria do
Advogado, 2007. p. 38.
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DIREITO FUNDAMENTAL À PROVA

9 CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito constitucional e Teoria da Constituição. 7. ed.


Coimbra: Almedina, 2003. p. 406.

10 Idem, p. 379.

11 Idem, p. 406.

12 Idem, ibidem.

13 OLIVEIRA, Carlos Alberto Alvaro de; MITIDIERO, Daniel. Curso de processo civil. São Paulo:
Atlas, 2010. vol. 1, p. 27-28.

14 “São inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por meios ilícitos.”

15 “Aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados
o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes.”

16 Vide, por todos, TARUFFO, Michele. Uma simples verdade. Trad. Vitor de Paula Ramos. Madri:
Marcial Pons, 2012. p. 102.

17 Idem, p. 104.

18 Sobre as distinções de merit e interest-based vide GOLDMAN, Alvin. Knowledge in a Social World
. Reimpressão. New York: Oxford University Press, 2003. p. 280.

19 Sobre os problemas que as regras visam resolver vide ALEXANDER, Larry; SHERWIN, Emily.
The Rule of Rules. Morality, Rules, and the Dilemmas of Law. Durham/Londres: Duke University
Press, 2001. p. 13 e ss.

20 FERRER BELTRÁN, Jordi. Prueba y verdad. 2. ed. Madrid: Marcial Pons, 2005. p. 22.

21 Idem, ibidem.

22 O feliz exemplo foi trazido por Jordi Ferrer Beltrán, em palestra na UFRGS, em setembro de 2012.
Exemplo análogo pode ser encontrado em FERRER BELTRÁN, Jordi. La valoración racional de la
prueba. Madrid: Marcial Pons, 2007. p. 30.

23 FERRER BELTRAN, Jordi. Prueba... cit., p. 78. Voltaremos ao tema no item 2.3.

24 Idem, p. 69 e ss.

25 GOLDMAN, Alvin. Op. cit., p. 281. Vide, ainda, MCCORMICK, Charles. McCormick on Evidence.
6. ed. Atual. Kenneth Broun. St. Paul: West, 2006. p. 306.

26 TARUFFO, Michele. Op. cit., p. 215-216.

27 TARUFFO, Michele. “Idee per una teoria della decisione giusta”. Sui confini: scritti sulla giustizia
civile Bologna: Il Mulino, 2002. p. 224.

28 Vejam-se, nesse sentido, ALEXY, Robert. Teoría de los derechos fundamentales. Trad. Ernesto
Garzón Valdés. Madrid: Centro de Estudios Políticos y Constitucionales, 1993. p. 286-291 e
CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Op. cit., p. 458-460.

29 Vide, por todos, CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Op. cit., p. 458-460 e MARINONI, Luiz
Guilherme; MITIDIERO, Daniel; SARLET, Ingo. Op. cit., p. 344 e ss.

30 MARINONI, Luiz Guilherme; MITIDIERO, Daniel; SARLET, Ingo. Op. cit., p. 347.

31 Em hipóteses absolutamente excepcionais vêm a doutrina e a jurisprudência aceitando no


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DIREITO FUNDAMENTAL À PROVA

processo civil o recurso às provas ilícitas. Vide, por todos, MARINONI, Luiz Guilherme; MITIDIERO,
Daniel; SARLET, Ingo. Op. cit., p. 659.

32 TARUFFO, Michele. Uma simples… cit., p. 167.

33 A doutrina estadunidense sobre evidence é bastante farta. Além das obras citadas ao longo do
presente estudo, vide sobre o tema: DAMAŠKA, Mirjan R. Evidence Law Adrift. New Haven/London:
Yale University Press, 1997; HAACK, Susan. Evidence and Inquiry. A Pragmatist Reconstruction of
Epistemology. New York: Prometheus Books, 2009; KIRALFY, Albert. The Burden of Proof. Oxford:
Abingdon, 1987; LILLY, Graham C.; CAPRA, Daniel J.; SALTZBURG, Stephen A. Principles of
Evidence. 5. ed. St. Paul: West Publishing Co., 2006; LILLY, Graham. An Introduction to the Law of
Evidence. 3. ed. St. Paul: West Publishing Co., 1996; MORGAN, Edmund. Basic Problems of
Evidence. American Law Institute, 1961.

34 MCCORMICK, Charles. Op. cit., p. 306.

35 Idem, p. 307.

36 TARUFFO, Michele. La prueba. Madrid/Barcelona: Marcial Pons, 2007; FERRER BELTRÁN,


Jordi. La valoración racional de la prueba. Madrid: Marcial Pons, 2007. p. 71.

37 TARUFFO, Michele. La prova dei fatti giuridici. Nozioni generali. Milão: Cedam, 1992. p. 338-339.

38 OLIVEIRA, Carlos Alberto Alvaro de; MITIDIERO, Daniel. Op. cit., p. 45.

39 Especificamente sobre o critério da controvérsia, entretanto, cabe salientar que esse nem sempre
estará presente. Em casos de não contestação dos fatos, por exemplo, não haverá mais de uma
versão sobre os fatos, e ainda assim o juiz poderá determinar ulterior produção de provas, ou
deferi-la.

40 TARUFFO, Michele. La Prova dei Fatti Giuridici cit., p. 339.

41 Sobre a impossibilidade de indeferimento de prova admissível sob esse pretexto, vide KNIJNIK,
Danilo. A prova nos juízos cível penal e tributário. Rio de Janeiro: Forense, 2007. p. 19 e ss.;
MITIDIERO, Daniel. Colaboração no processo civil. Pressupostos sociais, lógicos e éticos. 2. ed. São
Paulo: Ed. RT, 2011, p. 145.

42 FERRER BELTRÁN, Jordi. La valoración… cit., p. 76.

43 TARUFFO, Michele. La prova dei fatti giuridici... cit., p. 339.

44 Idem, p. 340.

45 O contraditório, no Estado Constitucional brasileiro, somente pode ser entendido em sentido forte,
pautado pela colaboração do juiz com as partes. Sobre o tema vide, por todos, MITIDIERO, Daniel.
Op. cit.

46 Idem, p. 146.

47 MARINONI, Luiz Guilherme; MITIDIERO, Daniel; SARLET, Ingo. Op. cit., p. 651, com a ressalva
da nota 12.

48 Idem, p. 661.

49 Vide, por todos, YARSHELL, Flávio Luiz. Antecipação da prova sem o requisito da urgência e
direito autônomo à prova. São Paulo: Malheiros, 2009.

50 KNIJNIK, Danilo. Op. cit., p. 15-16. Em sentido análogo, FERRER BELTRÁN, Jordi. La
valoración... cit., p. 45.

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DIREITO FUNDAMENTAL À PROVA

51 Idem, p. 26.

52 TARUFFO, Michele. Uma simples… cit., p. 215-216.

53 De fato, como bem salientado pela doutrina, a verdade não precisa de adeptos. Por todos, vide
GOLDMAN, Alvin. Op. cit., p. 12.

54 TARUFFO, Michele (org.). La prova nel processo civile. Milão: Giuffrè, 2012. p. 218. Quanto à
prova testemunhal, o juiz deverá verificar se é dotada de credibilidade, e quanto à prova documental
deverá verificar se é dotada de autenticidade.

55 Idem, p. 219.

56 Idem, p. 223.

57 FERRER BELTRÁN, Jordi. La valoración... cit., p. 131.

58 O raciocínio é de FERRER BELTRÁN, Jordi. La valoración… cit., 131.

59 A hipótese deve ser logicamente consistente, fundada em conhecimento existente, empiricamente


contrastável imediatamente e ter relevância para o direito, conforme FERRER BELTRÁN, Jordi. La
valoración… cit., 130.

60 Idem, p. 132. A explicação pode ser dada através de exemplo do autor: se há a hipótese de que
alguém disparou tiros recentemente, sabendo-se que tiros com armas de fogo geralmente deixam
pólvora nas mãos (supostos adicionais) e que o autor dos disparos não usava luvas no momento dos
disparos (condições iniciais), então se pode predizer que, se o detido tiver sido o autor dos disparos,
serão encontrados rastros de pólvora em suas mãos. Se houver segurança sobre os supostos
adicionais e sobre as condições iniciais, e se configurada a predição, ter-se-á, portanto, um elemento
de juízo a favor da hipótese.

61 TARUFFO, Michele. La prova nel processo civile cit., p. 226.

62 Idem, p. 228.

63 NIEVA FENOLL, Jordi. La valoración de la prueba. Madrid: Marcial Pons, 2010. p. 200.

64 Idem, ibidem.

65 TARUFFO, Michele. La prova nel processo civile cit., p. 239.

66 FERRER BELTRÁN, Jordi. La valoración... cit., p. 80.

67 Vide, por todos, MCCORMICK, Charles. Op. cit., p. 568 e ss.

68 KNIJNIK, Danilo. Op. cit., p. 37 e ss.

69 Sobre a motivação vide, por todos, TARUFFO, Michele. La motivazione della sentenza civile.
Padova: Cedam, 1975.

70 NIEVA FENOLL, Jordi. Op. cit., p. 208.

71 Nesse sentido, ROSENBERG, Leo. La carga de la prueba. Trad. Ernesto Krotoschin. Buenos
Aires: Ediciones Jurídicas Europa-America, 1956. p. 2; MICHELI, Gian Antonio. L’onere della prova.
Padova: Cedam, 1942. p. 18.

72 Idem, p. 17. O sibi non liquere era a possibilidade dada ao julgador do processo romano
pós-clássico de jurar que a causa não lhe parecia clara, deixando de julgá-la.

73 CARPES, Artur. Ônus dinâmico da prova. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2010. p. 52. Sobre
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DIREITO FUNDAMENTAL À PROVA

a diferenciação entre o caráter subjetivo e o objetivo do ônus da prova vide, ainda, TARUFFO,
Michele. Onere della prova. Digesto – Banca di dati ipertestuale. Torino: Utet, 2008. item 8.

74 MITIDIERO, Daniel. Op. cit., p. 140.

75 Vide, nesse sentido, ARENHART, Sérgio Cruz. Ônus da prova e sua modificação no processo
civil brasileiro. Disponível em: [www.academia.edu/attachments/1471882/download_file]. Acesso em:
12.02.2013.

76 TARUFFO, Michele. Onere… cit., item 8.

77 GAVAZZI, Giacomo. Op. cit., p. 163.

78 Posição similar é a de VERDE, Giovanni. L’onere della prova nel processo civile. Napoli: Jovene,
1974. p. 27.

79 PUGLIESE, Giovanni. Per l’individuazione dell’onere della prova nel processo romano formulare.
Studi in Onore di Giuseppe M. de Francesco. Milão: Giuffrè, 1957. vol. 1, p. 550.

80 PUGLIESE, Giovanni. Il processo civile romano. Il processo formulare. Milão: Giuffrè, 1963. vol. 2,
t. 1, p. 327.

81 PUGLIESE, Giovanni. Per l’individuazione… cit., p. 542.

82 Idem, p. 553.

83 MCCORMICK, Charles. Op. cit., p. 562 e ss.

84 Idem, p. 562-563.

85 Explica CARNELUTTI, Francesco. Lezioni di diritto processuale civile. Padova: Cedam, 1933. vol.
2 – La funzione del processo di cognizione, p. 317. “La distinzione tra onere e obbligo (…) si fonda
sulla diversa sanzione comminata a chi non compia un atto: obbligo vi è solo quando l’inerzia doa
luogo alla sanzione giuridica (esecuzione o pena); se invece la astensione dall’atto fa perdere
soltanto gli effetti utili dell’atto medesimo, qui recorre la figura dell’onere.” AUGENTI, Giacomo Primo.
L’onere dela prova. Roma: Società Editrice del “Foro Italiano”, 1932. p. 148 e ss. Faz importante
resumo sobre o tema: “Se il carabiniere vede un Tizio che cerca di uccidere un altro, ferma
l’aggressore e non può astenersi neppure se questo gli dica che, appena avrà terminato, sarà
disposto a perdere per sempre il suo diritto di libertà”.

86 Interessante, nesse sentido, que doutrina e jurisprudência vêm entendendo, mesmo sem
abandonar a categoria do ônus da prova, que é possível, eventualmente, a cominação de multa para
exibição de documentos (vide MARINONI, Luiz Guilherme; MITIDIERO, Daniel. Código de Processo
Civil (LGL\1973\5). Comentado artigo por artigo. 3. ed. São Paulo: Ed. RT, 2011. p. 358), ou mesmo
a busca e apreensão – nesse sentido veja-se, por exemplo: “Interesse processual – Medida cautelar
exibição de documentos – Pretendida a exibição de contratos e extratos de movimentação da conta
corrente de titularidade da requerente. (...) Exibição de documentos – Multa diária – Descumprimento
da ordem de exibição de documento, no processo cautelar, que não enseja cominação de multa
Incidência da Súmula 372 (MIX\2010\1620) do STJ – Possibilidade da determinação de busca e
apreensão dos documentos exigidos, caso haja resistência do banco requerido Exclusão da pena de
multa por dia de atraso na juntada dos documentos (...).” (TJSP, Ap 9232413-51.2008.8.26.0000,
23.ª Câmara de Direito Privado, j. 12.12.2012, rel. José Marcos Marrone, data de registro:
13.12.2012, grifos nossos).

87 Com idêntica posição TARUFFO, Michele. La prova nel processo civile cit., p. 256. Em posição
diametralmente oposta, Súmula 372 (MIX\2010\1620) do STJ: “Na ação de exibição de documentos
não cabe à aplicação de multa cominatória”.

88 Note-se que se está aqui no campo da prova, bastante diferente do campo das alegações. Sobre
a possibilidade de que as partes se utilizem de alegações de fato falsas, vide TARUFFO, Michele.
Página 14
DIREITO FUNDAMENTAL À PROVA

Uma simples… cit., p. 197.

89 Devem, entretanto, serem questionados os limites disso, mormente em casos em que a produção
da prova envolva o próprio corpo, ou mesmo riscos, como exames de paternidade durante a gravidez
etc. Tais temas, entretanto, não podem ser aqui debatidos, pois superam o objetivo e os limites do
presente trabalho.

90 Vide, comparando o “resultado” da recusa de submissão a exames no campo cível e penal


KNIJNIK, Danilo. Op. cit., p. 56.

91 Idem, p. 256. O autor sustenta justamente que a manipulação pelo juiz dos ônus probatórios não
é a melhor forma de estimular a produção da prova, posição que, segundo pensamos, é
absolutamente correta. Sustentando, por outro lado, a necessidade de dinamização do ônus da
prova vide, por todos, CARPES, Artur. Op. cit., p. 72-73.

92 Assim sendo, o art. 333 do CPC (LGL\1973\5), em nosso sistema atual, seria simplesmente essa
alocação objetiva de riscos.

93 Uma vez que aqui eliminamos a dimensão subjetiva do ônus da prova, adotamos posição diversa
da de CARPES, Artur. Op. cit., p. 99 e ss. Para o autor, não haveria relação entre os modelos de
constatação e ônus probatórios, uma vez que os ônus probatórios nada diriam com o exercício da
valoração da prova. Em nosso entendimento, entretanto, após a valoração da prova (que, como bem
salienta Carpes é anterior ao recurso aos ônus probatórios), não se atingido o grau de suficiência de
determinada hipótese, deve-se verificar para quem ficou alocado o risco da não comprovação
daquele fato, o que é feito através da dimensão objetiva do ônus da prova, ou seja, do ônus da prova
como regra de julgamento.

94 Conforme bem salientado por TARUFFO, Michele. La prova nel processo civile cit., p. 252, tal
acarreta uma correspondente diminuição do privilégio à busca da verdade, muito parecida àquela
gerada pelas normas de prova legal.

95 TARUFFO, Michele. La prova nel processo civile cit., p. 251.

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