UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ
CAMPUS UNIVERSITÁRIO DO TOCANTINS/CAMETÁ
FACULDADE DE MATEMÁTICA
ROBSON
O Uso da Geometria na Construção Naval na
Região do Japiim Seco
CAMETÁ-PA
2023
ROBSON
O Uso da Geometria na Construção Naval na
Região do Japiim Seco
Trabalho de conclusão de curso
apresentado como requisito para a
obtenção de grau de Licenciado em
Matemática pela Universidade Federal
do Pará.
CAMETÁ- PA
2023
RESUMO
ABSTRAT
DEDICATÓRIA
AGRADECIMENTO
CITAÇÃO
SUMÁRIO
Introdução....................................................................................................1
Capítulo 1: Breve Histórico da Geometria.................................................6
1.1) ...............................................................................................................................6
1.2) ...............................................................................................................................7
Capitulo 2: O Ensino da Geometria........................................................15
2.1) ...................................................................................................................................15
2.2) ...................................................................................................................................17
Capitulo 3: A Construção Naval Ribeirinha...........................................21
Capítulo 4: Geometria e Construção Naval na Região do Rio Japiim
1
Introdução
2
3
Capítulo 1
Neste capítulo vamos falar das possíveis origens da geometria e da sua evolução, além
da importância desta área da matemática para o desenvolvimento humano. Vamos
abordar também o início do ensino da geometria no Brasil, mesmo que de forma muito
breve por não ser o foco desta monografia.
1.1 O Surgimento e a Evolução da Geometria
Os primeiros conhecimentos geométricos que o homem teve, a respeito da geometria
partiram das necessidades em compreender melhor o meio onde vivia, como divisão de
terras, construções, observação do movimento dos astros e outras das várias atividades
que sempre dependeram do seu desenvolvimento. Motivo este que talvez justifique a
origem da sua palavra, pois o termo “geometria” deriva do grego geo = terra + metria =
medida que significa medição de terra1.
O historiador grego Heródoto escreve que a geometria nasceu no antigo Egito, os
registros mais antigos de atividades humanas no campo da geometria de que dispomos
remontam à época dos babilônios há talvez cerca de cinco mil anos e foram
aparentemente motivadas por problemas práticos de agrimensura2, ver figura 1.
4
Figura- Tabuleta de argila babilônica com inscrições.
Encontram-se registros primitivos de geometria entre os hindus e chineses. Os trabalhos
chineses mais antigos envolvendo geometria datam dos séculos III a I a.C, porém alguns
historiados os consideram resumos ou reuniões de trabalhos mais antigos. A cronologia
da construção do conhecimento geométrico indica que o homem começou a geometrizar
por conta da necessidade de reconstruir limites (fronteiras) em terras, de construir
artefatos ou instrumentos, de construir moradias, de navegar, de se orientar, etc. e na
realização dessas atividades a medição desempenhou uma função importante3.
As primeiras considerações feitas a respeito da geometria são muito antigas tendo como
origem a simples observação e a capacidade de reconhecer figuras, comparar formas e
tamanhos. Um dos primeiros conceitos geométricos a serem desenvolvidos foi a noção
de distância4.
São vários os autores que afirmam que a geometria teve sua origem no Egito, e seu
surgimento veio da necessidade de fazer novas medidas de terras após cada inundação
anual no vale do rio Nilo1.
Os egípcios levavam os direitos de propriedade muito a sério e sem os marcos
fronteiriços tinham início muitos conflitos entre indivíduos e comunidades. Assim, sem
as demarcações, os agricultores não tinham como saber qual era a sua propriedade, tanto
para o cultivo, quanto para o pagamento de impostos aos governantes.
As primeiras unidades de medida referiam-se direta ou indiretamente ao corpo humano:
palmo, pé, passo, braça, cúbito. Por volta de 3500 a.C. - quando na Mesopotâmia e no
Egito começaram a ser construídos os primeiros templos - foi necessário desenvolver
unidades de medidas mais uniformes e precisas. Adotaram então a longitude das partes
5
do corpo de um único homem (geralmente o rei) e com essas medidas construíram
réguas de madeira e metal, ou cordas com nós, que foram as primeiras medidas oficiais
de comprimento.
Os Egípcios tinham muita habilidade em delimitar terras e com isso descobriram e
utilizaram inúmeros princípios. Um destes princípios era utilizado para marcar ângulos
retos, onde usavam cordas cheias de nós equidistantes um do outro, fazendo assim a
divisão das terras1. Essa técnica empírica, para obter resultados aproximados, mais tarde
viria a ser demonstrada pelo teorema de Pitágoras. É importante lembrar que a
geometria, de uma maneira mais rústica, foi utilizada na Babilônia, na China, entre
outros países. Mas seu uso como ciência dedutiva surgiu no vale do rio Nilo, no Antigo
Egito. Segundo Heródoto o rei dividia a terra entre os egípcios de modo a dar a cada um
deles um lote quadrado de igual tamanho e impondo-lhes o pagamento de um tributo
anual. Mas qualquer homem despojado pelo rio de uma parte de sua terra teria de ir ao
rei e notificar-lhe o ocorrido. Ele então mandava homens seus observarem e medirem
quanto a terra se tornara menor, para que o proprietário pudesse pagar sobre o que
restara proporcionalmente ao tributo total.
Os desenvolvimentos mais importantes na área da geometria foram realizados na
Grécia, onde grandes matemáticos deram forma definitiva à referida área da
matemática. Entre esses matemáticos, Tales e Pitágoras reuniram os conhecimentos
egípcios, etruscos, babilônicos e indianos, a fim de desenvolvê-los e aplicá-los à
matemática, navegação e religião. Tales, juntamente com a escola pitagórica grega, fez
contribuições importantes para estabelecer o método dedutivo-formal em matemática, o
que foi finalmente concretizado com o aparecimento de Os Elementos, obra máxima de
Euclides e provavelmente um dos tratados mais importantes já escritos em toda a
história ocidental.
Por vários séculos a Geometria Euclidiana estabeleceu um paradigma não apenas para a
matemática, mas também para as outras ciências, sendo a primeira "axiomatização" na
história da Matemática, além de constituir um patrimônio cultural construído pela
humanidade4.
6
Capítulo 2
Neste capítulo vamos fazer uma breve análise sobre o ensino formal da geometria nas
escolas, dando um enfoque maior sobre o ensino da geometria no Brasil. Vamos falar
sobre o histórico da implantação da disciplina geometria no Brasil, além dos desafios
causados pela forma com isso se desenvolveu em nosso país.
2.1 O Ensino de Geometria
Nota-se que, no decorrer de sua história, a geometria sempre teve uma importância
significativa em vários sentidos, facilitando a vida e desenvolvendo a sociedade
humana. Atualmente, a geometria é um componente essencial para a construção da
cidadania, pois a sociedade se utiliza, cada vez mais, de conhecimentos científicos e
tecnológicos, e isso tem tudo a ver com a geometria. Ao mesmo tempo em que
afirmamos sobre a importância da geometria para a modernização da civilização
humana, constatamos também sua forma equivocada de ser apresentada para nossos
estudantes.
A preocupação com a educação matemática vem aumentando no decorrer dos anos e
isso leva a uma série de discussões sobre como ensinar os conteúdos de matemática em
sala de aula, já que esta ocupa uma posição de relevante importância na formação do
cidadão. Ela está presente diariamente nas atividades cotidianas do homem, seja pelo
simples cálculo do custo de um produto ou nas análises gráficas de uma pesquisa
mostrada no jornal. A matemática é aplicada em várias áreas do conhecimento e
também é base de todos os processos seletivos de admissão funcional e está presente na
maioria das profissões, sejam elas graduações tais como administração, medicina,
engenharia, física, etc., ou nas profissões não graduadas tais como pintor, pedreiro,
carpinteiro, entre outras.
Dentre os ramos matemáticos propostos, para serem estudados nas escolas, abre-se um
espaço para o ensino da geometria, uma área muito importante do conhecimento
matemático. No início desta seção já antecipamos a importância e a preocupação do
ensino da geometria nos anos iniciais de vida escolar das crianças brasileiras. O
desenvolvimento dos conceitos geométricos constitui uma parte importante da
matemática, para os PCNs (1997). O pensamento geométrico permite ao aluno
7
compreender, descrever e representar, de forma organizada, o mundo no qual vive. Isto
porque estimulam a observação e a percepção das mais variadas formas geométricas dos
objetos que o cercam.
Apesar de sua importância, o seu ensino vem sendo deixado para segundo plano e
muitas vezes desprezado, nas escolas. Um autor certa vez disse: “O desenvolvimento de
conceitos geométricos é fundamental para a capacidade de aprendizagem e representa
um avanço no desenvolvimento conceitual” 5. O ensino desse assunto deve ser uma das
partes mais importantes do currículo escolar. Novas formas e perspectivas devem ser
mostradas por professores e professoras, com a finalidade de atrair o interesse dos
estudantes.
2.1.1 O Ensino de Geometria no Brasil
Nesta seção vamos fazer uma breve abordagem histórica de como se iniciou o processo
de ensino de geometria no Brasil e sua situação atual segundo especialistas.
O ensino de geometria em sua origem no Brasil fica atrelado às necessidades de guerra.
Platão afirmava que a geometria utilizada no desenvolvimento de armas e das
fortificações nada tinha a ver com a Matemática, ficando assim dividida a geometria em
duas partes: geometria prática ligada à mecânica, cujas características eram medir
distâncias, altura, profundidades, níveis, área, corpos etc. e geometria especulativa,
ligada a Filosofia e baseada em três pontos: Elementos de Euclides, Esféricos de
Theodosio e Cônicos de Apollonio6.
A geometria ligada à guerra é a primeira forma de prática pedagógica de que se tem
registro no Brasil. Esse uso da Geometria tornou-se muito importante na Europa devido
ao desenvolvimento dos armamentos bélicos a partir do século XIV. Devido a
necessidade de desenvolvimento no campo militar, foram criadas as primeiras aulas de
Artilharia e Fortificação e a matemática ganhou destaque nesse novo campo, sendo
assim criado um novo posto para um profissional do exército, o engenheiro, e a
geometria se tornou o principal objeto de conhecimento do engenheiro6.
A implantação e a fundação do ensino de geometria teve início no século XVII quando
foram enviados pela corte portuguesa especialistas ao Brasil para formarem pessoas
capacitadas em fortificações militares, a fim de defender suas terras, criando assim a
Aula de Fortificação em 16997. Para essas aulas a Corte Portuguesa designou José
8
Fernandes Pinto Alpoim e como não havia nenhum material escrito em português,
Alpoim, em 1744, escreveu os dois primeiros livros em português utilizados no Brasil:
O Exame de Artilheiros e O Exame de Bombeiros. Os livros apesar de terem objetivos
militares, também atendiam objetivos didático-pedagógicos. No livro O Exame de
Artilheiros o foco principal era o ensino de geometria. O segundo livro, O Exame de
Bombeiros, era composto de dez tratados todos eles envolvendo a geometria e a
trigonometria.
No seu início no Brasil, a geometria era matéria apenas de órgãos militares e isso se
prova com a fundação da Academia Real dos Guardas-Marinha e a Academia Real
Militar, nas quais o ensino de geometria era obrigatório, e posteriormente dentro destas
instituições houve a criação do curso de nível secundário e depois o curso de nível
superior.
Após algum tempo da criação dos cursos nos quais a geometria tinha destaque começou
a se pensar na aprendizagem da geometria, com o objetivo de fazer o estudante a
aprender algumas noções de princípios geométricos, mas apesar de sua introdução no
ensino primário, a geometria se tornou de suma importância a partir da criação do curso
secundário porque passou a ser pré-requisito para adentrar aos cursos superiores. Assim,
a geometria deixa de ficar restrita ao uso militar. Após debates chegou-se ao consenso
de que a geometria, entre outras coisas, era responsável por levar o indivíduo a adquirir
ideias exatas em Economia Política, desenvolver a razão e fazer raciocinar com exatidão
e método6, 7.
Como podemos notar a partir do exposto acima, a geometria sempre teve, desde sua
chegada ao Brasil, uma grande importância e significativa relevância para o
desenvolvimento deste país.
O ensino de geometria no Brasil varia de acordo com o nível escolar e o currículo
adotado pelas diferentes instituições de ensino. Geralmente, a geometria é ensinada
como parte do currículo de matemática nas escolas primárias e secundárias.
Apesar dos documentos oficiais (PCNs 1997), para o ensino da matemática na educação
básica, ressaltar a importância da geometria na formação do indivíduo, sabe-se que
ainda hoje esta área tem um tratamento frágil. O ensino sistemático da geometria é
ministrado somente a partir da 5º série do ensino fundamental e ainda assim é
trabalhada uma pequena parte do conteúdo a ser aplicado, incluindo noções de formas
9
geométricas, ângulos, perímetros e áreas simples. Os alunos aprendem a identificar e
classificar figuras, além de resolver problemas práticos envolvendo geometria.8
No ensino médio, a geometria se torna mais avançada. Os alunos aprendem conceitos
mais complexos, como teorema de Pitágoras, semelhança de triângulos, trigonometria e
áreas e volumes de figuras tridimensionais. A geometria analítica também é abordada,
permitindo que os estudantes trabalhem com coordenadas e equações para representar e
resolver problemas geométricos.
Ao longo das últimas décadas, a Geometria no Brasil, não possui o reconhecimento de
suas potencialidades em todos os níveis de ensino e áreas de aplicação, mesmo
considerando apenas a sua vertente Euclidiana. E ainda, muitas escolas confundem a
geometria com desenho geométrico, chegando a trabalhá-la separadamente da
matemática9. O fracasso escolar e as dificuldades que os alunos enfrentam em sala de
aula estão diretamente relacionados com o fato de que o ensino da Geometria tem sido
desenvolvido de forma enfadonha, com ênfase numa memorização aleatória de
resultados conceituais, muitas vezes, apresentados sem lógicas 10. Além do mais, há
situações em escolas que a Geometria nem sequer é ensinada e o que chama a atenção
são os empecilhos colocados pelos professores para não ensiná-la. Sempre há uma
explicação ou um culpado, que não justifica o descaso pelo ensino da Geometria no
ensino fundamental.
No geral, o ensino de geometria no Brasil visa fornecer aos alunos as habilidades
necessárias para compreender e aplicar conceitos geométricos em diversas situações,
promovendo a capacidade de resolver problemas e desenvolver o raciocínio lógico-
matemático. É importante lembrar que o currículo e a abordagem do ensino podem
variar de acordo com a região e o sistema educacional adotado em cada estado do país.
10
Capítulo 3
Neste capítulo vamos falar sobre o desenvolvimento da construção naval na região
amazônica. Faremos uma abordagem histórica mostrando a importância e a relevância
dessa cultura amazônica.
3.1 A Construção Naval Ribeirinha
A construção naval faz parte da cultura e da vida da população que vive nas margens
dos rios da região amazônica. Esta realidade se dá pelo fato desta região ser constituída
de florestas cortadas por inúmeros rios. Tal cultura foi gerada e organizada desde a
época em que este local fora habitado por seus primeiros moradores, os índios. Dominar
a técnica de construção naval é de vital importância para a vida das populações
ribeirinhas, uma vez que a pesca, em grande parte, depende das canoas, bem como a
locomoção e escoamento de matérias-primas para outras localidades. Hoje a cultura tem
sua importância econômica e social para região, principalmente para os ribeirinhos
(pessoas que habitam as beiras dos rios da Amazônia. Geralmente vivem do artesanato,
da agricultura, da caça, do extrativismo vegetal e, principalmente, da pesca) que tem
suas vidas entrelaçadas a ela em função da pesca ser sua principal fonte de alimento e
renda desse grupo social. Considerando a importância e a necessidade das embarcações
para as regiões ribeirinhas, a construção das mesmas ainda se faz uma realidade sócio-
econômico-cultural desenvolvida por mestres construtores navais locais, chamados de
carpinteiros.
Devido à riqueza cultural e à diversidade natural que há no Estado do Pará, torna-se um
convite mais que especial, tanto para quem mora no estado quanto para quem mora fora
dele, para conhecer a cultura que emerge de uma história e tradição de um povo. Com
isso, pesquisas têm sido realizadas por vários teóricos que corroboram por meio de
pesquisas, a cultura de construir barcos na Amazônia11,12,13. Entretanto, cada um com
suas respectivas particularidades e interesses, fornecendo-nos suporte teórico no
transcorrer dessa pesquisa.
11
A região amazônica já era habitada por várias tribos indígenas antes da chegada dos
portugueses, ocasionando, então, o encontro com a tribo dos Tupinambás no século
XVII14. “Esses povos nativos se concentravam na foz do Rio Amazonas, do Rio Pará e
parte do nordeste do atual Estado do Pará, onde se situam algumas cidades na
atualidade, como Colares e Vigia”14. Essas regiões mencionadas acima englobam uma
grande bacia hidrográfica coberta por uma extensa vegetação com variedade de árvores,
animais e peixes e expressa à cultura das pessoas que vivem nesta imensa região
chamada Amazônia, onde, geograficamente, é considerada a maior bacia hidrográfica
do planeta, composta por muitos rios, furos e igarapés 11. Esse cenário natural propiciava
aos povos dessas regiões o usufruto dos recursos que a natureza lhes oferecia, bem
como moldar uma árvore em ubá ou igarité (embarcação moldada em um tronco de
árvore) como mostra a figura.
Figura 1. Sistema indígena para fabricação de canoas, de acordo com desenho de Joaquim José Codima.
https://martaiansen.blogspot.com/2014/10/como-os-indigenas-do-brasil-faziam-canoas.html
Assim, desenvolveram o transporte fluvial viabilizando o deslocamento para outras
áreas, seja para garantir alimento à tribo ou até mesmo para fugir como forma de
resistência à colonização. A princípio a árvore era abatida com fogo e, após isso, eram
feitos os processos técnicos na madeira extraída, tais como queima do tronco para
melhor raspagem da parte queimada e, por conseguinte, formar uma cavidade côncava
com certa profundidade. Característica de uma embarcação chamada pelos índios
amazônicos de ubá11.
Com o passar do tempo, grandes mudanças aconteceram na região amazônica com o
descobrimento do território brasileiro pelos europeus onde as terras passaram a ser
pleiteadas e os mares navegados pelos colonizadores que, a cada descoberta de novas
terras, encantavam-se com a diversidade regional. Neste processo de descobrimento do
12
Brasil, os barcos se tornaram essenciais, porque eram por meio dos mares, rios e
igarapés que se davam as colonizações de terras pelos portugueses. A partir daí, houve a
necessidade de fazer reparos em avarias e construir novas embarcações para essa
finalidade, dando início à tradição cultural da construção naval artesanal na região
amazônica, já que o transporte fluvial permanece tendo significativa expressão na vida
da população amazônica15.
Ainda hoje alguns municípios do estado do Pará como Abaetetuba, Vigia de Nazaré e
Limoeiro do Ajuru ainda mantêm a tradição de construção artesanal de embarcações;
bem como outros municípios cujo território é cercado por rios, igarapés, furos e que
ainda exercem transportes de cargas, passageiros ou atividades pesqueiras.
13
Capítulo 4
Neste capítulo vamos analisar a relação entre conhecimento científico e empírico...
4.1 Construção Naval na Região do Rio Japiim Seco
O Rio Japiim Seco, por está localizada em uma região ribeirinha, sempre teve as
embarcações presentes em seu contexto sociocultural. Pelo fato de ser o principal meio
de transporte dos habitantes desta localidade desse modo faz parte do cotidiano o
convívio com embarcações, as quais, geralmente, são construídas em estaleiros na
própria localidade. O Rio Japiim Seco, fica localizada no interior do município de
Limoeiro do Ajuru, a desaguando no rio Pará. Assim como outras localidades, tem a
pesca, o extrativismo do açaí e a construção naval como uma das principais fontes de
renda. A construção naval está relacionada à própria história deste rio, desde muito
tempo, tinha e tem em seu cotidiano a cultura e a prática da carpintaria naval. Não se
sabe ao certo de onde se herdou os conhecimentos para a construção dessas
embarcações, o que se sabe que com passar do tempo os conhecimentos adquiridos
pelos mestres carpinteiros foram passando de geração a geração e cada vez mais as
técnicas vão se aperfeiçoando e se adaptando de acordo com a necessidade do tipo de
embarcação. Desde os primeiros habitantes, onde eram construídas canoas ou casco
movido a remo ou a vela, até os dias atuais onde as embarcações em sua maioria são
motorizadas, os mestres carpinteiros buscam aplicar seus conhecimentos para que as
embarcações estejam em perfeito estado de uso. Alguns modelos são projetados para
serem mais velozes, enquanto outros para serem cargueiros. De acordo com aumento
populacional a demanda pela encomenda dessas embarcações também vai crescendo, e
assim novos carpinteiros vão surgindo apara atender essa demanda, hoje a localidade
conta com dois estaleiros que trabalham na construção de embarcação de pequeno e
médio porte, consolidando também como umas das principais fontes de renda desta
localidade.
14
4.2 Saberes tradicionais e científicos dos
carpinteiros navais
No trabalho que desempenham diariamente, os carpinteiros navais utilizam-se
de saberes específicos de seu ofício, uma vez que tais saberes foram tradicionalmente
repassados a eles por intermédio de seus familiares ou por pessoas próximas, e de
acordo com Palheta & Albuquerque (2015, p. 27), esses saberes “podem ser
classificados por tradicional e científico [...]”. Esses saberes são difundidos na cultura
do ofício de carpinteiro naval e aperfeiçoados através da observação e da experiência
adquirida por anos de trabalho. Esse aperfeiçoamento ocorre ao longo do tempo como
garantia para permanecer desenvolvendo essa atividade, uma vez que a fonte de renda
para o sustento familiar é originário dessa prática.
No que se refere aos saberes tradicionais dos carpinteiros navais, destaca-se o
pensamento sobre conhecimento tradicional apresentado por Derani (2002, p. 155 apud
MARTINS, 2007, p. 29) em que “o conhecimento tradicional associado é conhecimento
da natureza, oriundo da contraposição sujeito-objeto sem a mediação de instrumentos de
medida e substâncias isoladas traduzidas em códigos e fórmulas”. Nessa concepção,
entende-se que os saberes adquiridos pelos carpinteiros são oriundos de
ensaios/tentativas na difusão de conhecimento com erros e acertos, partindo de suas
formas próprias de interpretar a natureza, adaptando-se ao ambiente de trabalho em que
vive.
No que se refere a saber científico, os saberes adquiridos pelos carpinteiros
navais estão arraigados à tradição cultural que vivenciaram durante anos no trabalho que
desempenham diariamente, podendo ser entendida como ciência que, no presente
estudo, é a Matemática, uma vez que esta é gerada por um indivíduo racional, o homem,
como tratam Nunes, Carraher e Schleimamn ( 2011, p. 27 apud Palheta & Albuquerque
2015, p. 27) ao exporem que “a matemática que um sujeito produz não é independente
de seu pensamento enquanto ele a produz, mas pode vir a ser cristalizada e tornar-se
parte de uma ciência, a Matemática, ensinada na escola e aprendida dentro e fora da
escola”.
A partir dessa perspectiva, expõe-se a relevância dos saberes carregado pelos
carpinteiros navais como princípio científico devido suas descobertas práticas com
15
relação ao uso da Matemática, que pode ser trabalhada em sala de aula; em outras
palavras, seus saberes tradicionais tornam-se científicos no ofício da carpintaria naval
por suas técnicas e adaptações adequadas ao ofício. Nesse momento, a aprendizagem da
Matemática e de outras áreas do conhecimento podem tornar-se mais atraentes com a
prática vivenciada na construção das embarcações, como observado nos estaleiros de
carpintaria naval no contexto investigado.
Quanto ao nível de escolaridade, a maioria dos mestres carpinteiros da região
do Japiim possui apenas o nível fundamental, às vezes alguns não possuem nem o
fundamental completo. Mas, todos os anos de prática no ofício de carpinteiro naval os
tornaram grandes detentores de saberes relacionado à Matemática, como geometria
plana, geometria espacial, funções e aritmética, visto que saberes como o da matemática
estão presentes em todas as etapas na construção de um barco (GUALBERTO, 2009, p.
117); não só, mas também conhecimentos acerca da Física foram identificados como
empuxo, hidrodinâmica, densidade e equilíbrio. Acerca desses saberes, onde os mesmos
não concluíram os estudos, os carpinteiros navais trazem consigo conhecimentos acerca
da matemática e de outras áreas de ensino como: geometria plana e espacial, geometria
analítica, funções, densidade, empuxo, entre outras”.Palheta & Albuquerque (2015, p.
29).
No que se refere à Matemática, os carpinteiros navais da região do Japiim Seco
reconhecem a presença e a importância da mesma durante a construção das
embarcações, não de forma teórica, mas prática, conforme a cultura da construção naval
artesanal na qual estão inseridos.
É possível notar nas palavras dos mestres carpinteiros a visão deles com
relação à Matemática empregada por eles na construção das embarcações, uma vez que
não se apropria dela de forma teórica, mas sim de forma prática.
Ao aprofundarmos a verificação sobre os métodos de construção das
embarcações pelos carpinteiros navais foi possível identificar a presença de elementos
da Matemática no processo de desenvolvimento de construção de embarcações,
especialmente de Geometria, tais como:
Ângulos22: o posicionamento angular das peças é colocado estrategicamente
para garantir uma boa dinâmica e equilíbrio na água, principalmente, no que se
refere ao casco. (Ex.: o lançado de proa23 e as peças que compõem o casco);
16
Polígonos24: dependendo da parte da embarcação é possível encontrar diferentes
polígonos. (Ex.: triângulos, retângulos, quadrados);
Simetria: essa questão está ligada diretamente à forma do casco, pois, este
precisa ter lados simétricos, ou seja, um plano de simetria longitudinal e
diametral, compreendido pelo eixo da quilha25 que se encontra em posição
perpendicular à superfície da água. Dessa forma, pode-se garantir a estabilidade
da embarcação;
Cálculo de área (m2): utilizado para encontrar as dimensões de peças e espaços
na embarcação;
Cálculo de volume (m3): esse cálculo é usado para se ter noção da quantidade
de madeira a ser utilizada na construção da embarcação, tendo em vista que, esta
é calculada em metros cúbicos, assim também, como alguns compartimentos
cúbicos. (Ex.: Utilizado na compra de matéria-prima e, compartimentos de
carga, ex2: volume = largura x altura x comprimento = valor em metros
cúbicos);
Unidades de medidas: muito usadas em toda a construção para medir a
madeira, cortá-la, fazer encaixe de peças e, até mesmo, na colocação do motor,
onde se emprega a polegada. (Ex.: milímetro, centímetro, metro e a polegada).
1
BOYER, Carl. B. História da Matemática. São Paulo. Edgard Blücher, Ltda., 1974.
2
GORODSKI, Claudio Alguns aspectos do desenvolvimento da geometria, 2002. Disponível em:
http://www.ime.usp.br/ gorodski/ps/
3
LOREZATO, Sergio Educação Infantil e percepção matemática Campinas: Autores Associados, 2008.
4
EVES, Howard. Geometria: Tópicos de História da Matemática para uso em sala de aula. Geometria Tradução Higino
H Domingues. São Paulo, Atual, 1997.
5
PASSOS.C.L..B. Representações, Interpretações e Praticas Pedagógica: A Geometria na Sala de Aula 2000. Tese de
Doutorado Unicamp, Faculdade de Educação, São Paulo, 2000.
6
MENESES, R. S. de. Uma história da Geometria escolar no Brasil: de disciplina a conteúdo de ensino Dissertação de
Mestrado, São Paulo: PUC, 2007.
7
SANTOS, A. B. C. SANTOS, A. C. S. NUNES, J. M. V. Inclusão da História da Matemática no processo ensino
aprendizagem, SBEM-PA, 2011.
8
LORENZATTO, Sergio. Por Que Não Ensinar Geometria? A educação matemática em revista. São Paulo: SBEM, n.
4; p. 3-13, 1995.
9
KALEFF, Ana Maria. Tomando o Ensino da Geometria em Nossas Mãos. Niterói, RJ. SBEM, n. 2, p. 19-25, 1994.
10
GIARDINETTO, José Roberto Boettger. Matemática Escolar e Matemática da Vida. Coleção Polêmicas do Nosso
Tempo; v. 65. Campinas, SP: Ed. Autores Associados, 1999
11
GUALBERTO, Antônio Jorge Pantoja. Embarcações, Educação e Saberes Culturais em um Estaleiro Naval da
Amazônia. 2009. 151 f. Dissertação (Mestrado em Saberes Culturais e Educação) - PPGED/UEPA, Belém, 2009.
12
LUCENA, Isabel C. R. de. Educação Matemática, Ciência e Tradição: tudo no mesmo barco. Natal. 223 f. Tese de
Doutorado (Doutorado em Educação Matemática) - NEPED/ UFRN. Natal-RN, 2005.
13
PALHETA, Dulcilene Freitas; ALBUQUERQUE, Silvia Maria Leal. Etnomatemática presente na Carpintaria naval
na Vila do Itapuá-Vigia: Um caminho para ensinar geometria em sala de aula. 56 f. Trabalho de Conclusão de Curso
(Licenciatura Plena em Matemática) – Universidade do Estado do Pará, Centro de Ciências Sociais e Educação, Vigia
de Nazaré - PA, 2015.
14
GUALBERTO, Antônio Jorge Pantoja. História e Memória da Carpintaria Naval Ribeirinha da Amazônia. VI
Simpósio Nacional de História Cultural – Escritas da História: Ver – Sentir – Narrar. UFPI. Teresina, PI – 2013.
15
SALORTE, Luciane Maria Legeman. Carpinteiros dos rios: o saber da construção naval no município de Novo
Airão/AM. 2010. 151 f. Dissertação (Mestrado em Sociedade e Cultura na Amazônia) - PPGSCA/UFAM, Manaus,
2010.