49-Texto Do Artigo-299-1-10-20120115
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RESUMO ABSTRACT
O objetivo deste trabalho é ressaltar a The objective of this work is to emphasize the
importância da intervenção nutricional no pré e relevance of nutritional intervention in the pre-
pós operatório da cirurgia bariátrica, postoperation of bariatric surgery, promoting
promovendo a perda de peso e reeducação weight loss and eating habits re-education.
dos hábitos alimentares. Para isso, foi feita For this, a bibliographic revision was done. The
uma revisão bibliográfica. As cirurgias mais most applied surgeries are; Capella Surgery
empregadas são a Cirurgia de Capella e and Bypass Y de Roux Surgery. A detailed
Cirurgia de Bypass Y de Roux. É feita uma nutritional assessment is done in the pre-
avaliação nutricional detalhada no pré- operatory with important information about the
operatório com informações importantes sobre life style, eating habits and nutritional status of
o estilo de vida, hábitos alimentares e estado the patient. Other purposes are to reinforce the
nutricional do paciente. Outras finalidades são; patient perception that weight loss is
reforçar a percepção do paciente de que a possible when the energetic balance becomes
perda de peso é possível quando o balanço negative, to identify the errors and eating
energético se torna negativo, identificar erros e disruptions, to promote real expectations about
transtornos alimentares, promover weight loss, to prepare the patient for the post
expectativas reais de perda de peso e operation feeding. All the techniques require
preparar o paciente para a alimentação no dietary data and monitoring post operation at
pós-operatório. Todas as técnicas exigem long term. After the discharge from hospital,
orientação dietética e monitorização pós- the patient follows a gradual plan of re-
operatória a longo prazo. Após a alta introduction of food with an initial energetic
hospitalar, o paciente segue um plano gradual consumption between 300-350 kcal/day,
de reintrodução de alimentos com um reaching 700 kcal on the third week. Point out
consumo energético inicial entre 300 a the necessity of constant attention of how
350kcal/dia, atingindo 700kcal na terceira much to chew, as well as the importance of do
semana. Salienta-se a necessidade de not consume a great amount of food than the
atenção constante quanto à mastigação, bem recommended one. The pattern and unsuitable
como quanto à importância de não consumir food habits in the postoperation is related to
maior quantidade de alimentos do que a the insufficient weight loss. It can be concluded
recomendada. O hábito alimentar inadequado that the bariatric surgery is not the end of the
no pós operatório está relacionado à perda de treatment, but the beginning of a changing
peso insuficiente. Pode-se concluir que a period in the behavior and food habits, where
cirurgia bariátrica não é o fim do tratamento, the patients must be followed by a
mas sim o início de um período de mudanças multidisciplinary team that supply the
no comportamento e nos hábitos alimentares, necessary support so that the changes occur
onde os pacientes deverão ser acompanhados without affecting your nutritional balance.
por uma equipe multidisciplinar que forneça o
suporte necessário para que as mudanças Key words: bariatric surgery, obesity, diet.
ocorram sem afetar seu equilíbrio nutricional.
E-mail: [email protected]
Palavras-chave: cirurgia bariátrica, E-mail: [email protected]
obesidade, dieta, nutrição E-mail: [email protected]
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cirurgia (Garrido Júnior e colaboradores, com uma maior variedade de alimentos sólidos
2000). do que aqueles que não tiveram o
Assim, para que o sucesso cirúrgico acompanhamento com a equipe (Cooper e
seja duradouro é importante que o profissional colaboradores, 1999; Tironi e colaboradores,
nutricionista conheça seus resultados para 2006; Csendes e colaboradores, 1999).
nortear sua conduta e orientar seu paciente de
maneira eficiente (Garrido Júnior e Intervenção Nutricional no Pós-Operatório
colaboradores, 2000).
A conclusão da cirurgia não finaliza o
tratamento da obesidade, pelo contrário, é o
INTERVENÇÃO NUTRICIONAL NO PRÉ- início de um período de um a dois anos de
OPERATÓRIO mudanças comportamentais, alimentares e de
exercícios, com monitoração regular de uma
equipe multidisciplinar de profissionais da
De acordo com Cronin e Mac saúde (Cruz, 2004; Garrido Júnior, 2003).
Donough, citado por Cruz (2004), o De acordo com Boas e colaboradores
aconselhamento nutricional no período pré- (2003) citados por Quadros e colaboradores
operatório está inteiramente relacionado ao (2006), para que o procedimento cirúrgico
aumento do potencial de sucesso no pós- torne-se um sucesso duradouro é fundamental
operatório. Além disso, tem como finalidade o acompanhamento clínico-nutricional pós-
promover perda de peso inicial, reforçar a operatório, e que este seja criteriosamente
percepção do paciente de que a perda de realizado e continuado para o resto de suas
peso é possível quando o balanço energético vidas. Um dos aspectos mais importantes é a
se torna negativo, identificar erros e informação, e todo paciente deve ser
transtornos alimentares, promover exaustivamente conscientizado quanto às
expectativas reais de perda de peso e mudanças alimentares e nos seus hábitos de
preparar o paciente para a alimentação no vida.
pós-operatório. É de extrema importância que o
Pelo crescimento alarmante da paciente operado seja controlado no mês de
população obesa e dos riscos de várias sua cirurgia e nos próximos seis meses até
comorbidades, chegou-se a conclusão de que completar doze meses de operado, realizando
se torna necessário avaliar no pré-operatório, um controle clínico nos anos posteriores. Este
a possibilidade do individuo apresentar algum controle inclui visitas a clinica para medir o
transtorno alimentar como anorexia nervosa, peso e controlar as concentrações séricas e
bulimia nervosa, transtorno de compulsão bioquímicas (Csendes e colaboradores, 1999).
alimentar periódica e síndrome do comer Segundo Casagrande e colaboradores (2001),
noturno, através de um questionário (Tironi, citado por Quadro e colaboradores (2005) e
2006). Silva e colaboradores (2005), as
Por meio da avaliação nutricional conseqüências nutricionais mais comuns no
detalhada no pré-operatório, obtêm-se primeiro ano de cirurgia são: hipoalbuminemia,
informações importantes sobre o estilo de deficiência de ferro, ácido fólico, vitamina B12,
vida, hábitos alimentares e estado nutricional anemia e desnutrição protéica, alem de
do paciente. Somente após essa avaliação deficiência aguda de tiamina que pode causar
pode-se afirmar se há ou não indicação de encefalopatia de Wernicke com quadro de
cirurgia para o paciente. Vale ressaltar que neuropatia irreversível ou ate óbito.
todos os profissionais da equipe como Após a alta hospitalar, o paciente
cirurgião, nutricionista, fisioterapeuta, segue um plano gradual de reintrodução de
psicóloga e psiquiatra reúnem-se para alimentos com um consumo energético inicial
discussão de casos e emitem laudos, de 300 a 350kcal/dia, atingindo
liberando o paciente para a cirurgia (Cruz, aproximadamente 700kcal na terceira semana.
2004). Durante as consultas de pós-operatório,
Indivíduos que receberam educação salienta-se a necessidade de atenção
nutricional e aconselhamento pela equipe constante quanto à mastigação até que o
multidisciplinar antes da cirurgia tiveram alimento se torne pastoso na boca, bem como
menos regurgitação de alimentos e lidaram quanto à importância de não consumir maior
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Raymond e Hoffer (1985), citados por Leite e que podem favorecer uma ingestão protéica
colaboradores (2003), a ingestão menor do próxima ao ideal. É conveniente lembrar que a
que 50 gramas de proteína por dia promove a carne vermelha seria a melhor escolha por ser
perda de massa muscular do indivíduo. Para de alto valor biológico e fonte de ferro heme
estimular este consumo, pode-se utilizar (Cambi e colaboradores, 2003).
módulos protéicos industrializados batidos em Sabe-se que os nutrientes que tiveram
vitaminas de frutas, caldos e mingaus com seu sítio de absorção alterado, necessitam de
pouca aderência no seu uso. O ideal seria suplementação dos mesmos apara atingir o
fornecer 40 a 60g de proteína por dia (Cambi e preconizado pela DRI, sejam eles, vitaminas
colaboradores, 2003). e/ou minerais, por exemplo: tiamina,
Para Carlini e colaboradores, (2003); cianocobalamina, cálcio, ferro, ácido fólico e
Dalcanale (2003), citados por Quadros e vitamina A (Leite e colaboradores, 2003; Blake
colaboradores (2005), a baixa ingestão e colaboradores, 1991).
calórica, promove uma necessidade do uso de No estudo de Pories e colaboradores
suplementos de vitaminas e minerais, pois (1995), a síndrome de dumping foi
toda vez que as calorias da dieta forem desenvolvida por 70,6% dos pacientes pós-
inferiores a 1250kcal ao dia, essa cirurgia tipo Y de Roux. Porém, quando os
suplementação torna-se indispensável. No doces eram evitados pelos pacientes, essa
caso da cirurgia Bariátrica, o valor calórico da síndrome era controlada.
alimentação se aproxima de 350kcal nas
primeiras semanas e continua inferior a
1250kcal no mínimo até o sexto mês após o PERÍODO DE REENGORDA
início do tratamento. Esta só não é iniciada
anteriormente, pois há dificuldade para
ingestão de comprimidos e intolerância A “reengorda” ou a recuperação do
quando estes são ingeridos macerados ou peso existe por diversos fatores. Nos primeiros
através de compostos líquidos, devido ao 2 anos após a cirurgia ocorre um intenso
sabor amargo que apresentam; porém, processo de catabolismo e a perda de peso é
quando houver tolerância, deverá ser iniciada praticamente certa. Após esse período há uma
o mais breve possível (Bifano, 2002; Cooper e readaptação do organismo com a produção de
colaboradores, 1999; Cruz, 2004; Dias e hormônios orexígenos e o catabolismo
colaboradores, 2006). também diminui, facilitando o ganho de peso.
Já em relação às fibras, Cooper e Nesta fase, o organismo está voltando a ser o
colaboradores (1999) observaram que há uma que era, ou seja, obeso. Por isso o pré-
diminuição de 50% nos seis primeiros meses operatório e o acompanhamento pós-
do pós-operatório, diminuindo para até 27% ao operatório do paciente é tão importante. A
final de dois anos de pós-operatório. cirurgia faz parte de um processo para reverter
Essas dietas excessivamente um quadro mórbido que envolve a participação
hipocalóricas tendem a provocar complicações de todos os profissionais e, sobretudo do
importantes, se não forem bem monitoradas próprio paciente (Garrido Júnior, 2003).
como: desidratação, desequilíbrio O sucesso da perda de peso, para
hidroeletrolítico, hipotensão ortostática e alguns pacientes, faz com que eles não
aumento da concentração de ácido úrico, retornem às consultas, pois eles se sentem
assim como fadiga, cãibras musculares, bem e acreditam que o acompanhamento
cefaléia, distúrbio gastrintestinal e intolerância médico e nutricional não é mais necessário,
ao frio (Cambi e colaboradores, 2003). sendo esta outra causa para a “reengorda”
A baixa ingestão protéica pode vir (Kenler e colaboradores, 1990).
acompanhada de baixas concentrações de O hábito alimentar requer muitas
transferrina ou albumina. Já que a carne precauções. Gordura e alimentos muito
vermelha não é bem tolerada, devido à falta de calóricos são desencorajados por razões
mastigação apropriada e também pela óbvias e dá-se ênfase para carnes magras e
diminuição das secreções gástricas. As outras fontes de proteínas, frutas, vegetais,
opções protéicas restringem, em alguns casos, grãos integrais e massa (Dias e
a leite e derivados, ovos, peixes e frango, além colaboradores, 2006).
das próprias fontes de baixo valor biológico
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Fica a mensagem de que a obesidade 4- Cambi, M.P.C.; Michels, G.; Marchesini, J.B.
não desclassifica o paciente do quadro de Aspectos nutricionais e de qualidade de vida
desnutrição, necessitando ao mesmo um em pacientes submetidos à cirurgia bariátrica.
acompanhamento nutricional especializado e Rev Bras Nutr Clin, v.18, n.1, p.8-15, 2003.
duradouro, para que o mesmo restrinja o
volume da alimentação, e não a qualidade da 5- Carneiro, G.; Faria, A.N.; Ribeiro, F.F.
mesma (Faintuch e colaboradores, 2003; Leite Influência da distribuição da gordura corporal
e colaboradores, 2003). sobre a prevalência de hipertensão arterial e
outros fatores de risco cardiovascular em
indivíduos obesos. Revista Associação Médica
CONCLUSÃO Brasileira, São Paulo, v. 49, n. 3, p.306-311,
jul./set. 2003.
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