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Guia Prático Da Língua Portuguesa

Enviado por

Jefferson Melo
Direitos autorais
© © All Rights Reserved
Levamos muito a sério os direitos de conteúdo. Se você suspeita que este conteúdo é seu, reivindique-o aqui.
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Guia Prático da

Língua Portuguesa
Luiz Fernando Mazzarotto
Teoria da Redação
Redação nos Vestibulares
Redação Escolar, Comercial e Oficial
Davi Dias de Camargo
Interpretação de Texto
Ana Maria Herrera Soares
Guia Prático de Redação
Editor
Raul Maia
Produção Editorial
Departamento Editorial DCL
Produção Gráfica
Nelson Pastor
Capa
Antonio Briano
Diagramação
Thiago Nieri
Revisão
Caio Alexandre Bezarias
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Mazzarotto, Luiz Fernando


Manual de redação / Luiz Fernando Mazzarotto,
Davi Dias de Camargo, Ana Maria Herrera Soares.
-- São Paulo : DCL, 2001. -- (Guia prático da
língua portuguesa)

Bibliografia.
ISBN 85-7338-429-8

1. Português — Redação I. Camargo, Davi Dias


de. II. Soares, Ana Maria Herrera. III. Título.
IV. Série.

01-0305 CDD-808.0469
Índices para catálogo sistemático:
1. Redação : Português 808.0469
Proibida reprodução total ou parcial
Direitos exclusivos desta publicação:
© Difusão Cultural do Livro Ltda.
Rua Manoel Pinto de Carvalho, 80
CEP: 02712-120 – São Paulo – Brasil
[email protected]
Introdução

No mundo atual, escrever é sempre im- comunicadas, resultando em algo prazeroso


portante, necessário e freqüente. Mostrar que de ler, parece coisa reservada aos professo-
você sabe comunicar-se (bem) usando a es- res de gramática, aqueles especialistas que
crita é um dos fundamentos da capacidade de estudam a Língua Portuguesa a ponto de fa-
ser e realizar, da cidadania e da competência. zerem disso sua profissão.
A tão propalada era do computador que, muitos Nada mais equivocado. A Língua Portu-
afirmavam, iria diminuir drasticamente a ne- guesa é acessível a todos, é companheira e
cessidade de papel e de escrever, fez o inver- filha de nós e da cultura em que vivemos e
so: nunca tanta informação e conhecimento participamos; companheira porque a utiliza-
circularam entre tantas pessoas e de modo tão mos continuamente, é o veículo de transmis-
rápido, nunca as pessoas se comunicaram são de nossos saberes, conhecimento e vi-
tanto (via e-mails, chats, impressos etc), fa- são de mundo, e filha porque é uma entidade
zendo com que todos escrevamos mais e mais. continuamente alterada pela vivência e cria-
E escrever bem exige conhecer as re- ções de nós, falantes da língua portuguesa
gras e bons autores do idioma em que se espalhados pelo mundo.
escreve. É nesse momento, em que se exige Este Manual de Redação é um guia para
segurança no manejo das palavras, que sur- todos que querem e precisam escrever; pre-
gem temor, dúvida, desconfiança e sentimento tende ensinar a vencer temores e dúvidas
de debilidade diante dos labirintos da língua. que cercam a produção de um texto. Contém
Estas são as reações mais comuns de a teoria completa da redação e suas categori-
vestibulandos, alunos de colégios e cursi- as, muitos exemplos do uso correto de pala-
nhos e outros praticantes da Língua Portugue- vras e expressões, como interpretar correta-
sa quando precisam encará-la. E produzir um mente um texto. E mais: modelos de redação
texto correto e elegante, em que o uso ade- comercial e oficial, temas de redação e ques-
quado das infinitas e complicadas regras gra- tões dos principais vestibulares do Brasil, para
maticais case com as idéias a serem você praticar o que aprendeu.
Sumário

1. Teoria da redação As partes da redação


— Estrutura ................................. 17
Introdução ..................................... 1
I. Introdução ........................... 17
A redação e os bloqueios ............ 2
II. Desenvolvimento ................ 17
Tipos de redação .......................... 4
III. Conclusão .......................... 18
Descrição ................................. 4
Qualidades básicas da
Tipos de descrição ............. 4
redação .................................. 20
Exemplos de descrição ...... 5
Montagem da redação ................ 20
Exemplo de descrição
I. O visual ⇒ estética ............ 20
de pessoa ........................... 6
II. Lado interno ⇒ correção .. 22
Exemplo de descrição
de ambiente ........................ 7 1. A correção ................... 23
Narração .................................. 7 2. A clareza ...................... 24
Exemplos de narração ....... 8 3. A concisão ................... 25
Formas de relatar 4. A originalidade .............. 25
o enunciado ...................... 10 5. A elegância ................... 26
Formas do discurso .............. 11 6. A coesão ...................... 26
Dissertação ............................ 12 Montagem dos esquemas .......... 26
Exemplos de Seleção e organização das
dissertação ....................... 14 idéias na redação .................. 26
Objetividade x Modelo de esquema .............. 27
Subjetividade .................... 15
Dissertação:
Texto Subjetivo ................. 16 como proceder? .................... 27
Texto Objetivo ................... 16 Exemplos de esquemas ........ 28
Descontraia ................................. 29 II – Da elaboração da
O estilo de cada um ............... 29 redação ............................. 72
Mandamentos de III – Das propostas ............ 73
uma boa redação ........................ 30 Modelo 7 – UNIFOR-CE ............... 74
O início da redação .................... 33 Modelo 8 – UEMA ........................ 75
Pontos a ponderar ...................... 34 Modelo 9 – UEL-PR ..................... 75
Redação ................................. 75
2. A redação nos vestibulares
Modelo 10 – UFPE ....................... 76
Lembretes importantes ............... 35 Objetivo: ................................. 76
Os erros mais freqüentes .......... 35 Critérios básicos
Temas de redação de correção ...................... 77
de vestibulares ........................... 36
Proposta ................................. 56 3. Redação escolar, comercial e
oficial
Modelo 1 – ENEM 2000 ............... 63
Modelo 2 – UFMG 99 .................. 65 Exemplo de redação escolar ..... 78
Modelo 3 – UERJ 2000 ................ 66 Carta comercial – Regras .......... 81
Instruções .............................. 66 Ata .......................................... 83
Proposta de Circular ................................... 85
redação .................................. 66 Certificado .............................. 87
Coletânea de textos .............. 66
Contrato ................................. 87
Conjunto 1 — Crianças e
Memorando ............................ 89
adolescentes no Brasil .... 66
Ordem de serviço .................. 89
Conjunto 2 — A infância
na mídia ............................. 67 Procuração ............................ 90
Conjunto 3 — Alguns Parecer .................................. 91
dados ................................ 69 Recibo .................................... 92
Conjunto 4 — Cenas Relatório ................................. 94
brasileiras ......................... 70
Currículo ................................. 95
Modelo 4 – ESPM-SP .................. 70
Apresentação ................... 95
Modelo 5 – PUC-RS 2000 ........... 71
Conteúdo ........................... 96
Redação ................................. 71
Redação oficial ........................... 98
Modelo 6 – PUCCAMP-SP ........... 72
Ofício – Regras ..................... 98
Instruções gerais .................. 72
Ofício completo ...................... 99
I – Dos cuidados gerais a
serem tomados pelos Ofício simples ....................... 100
candidatos ........................ 72 Requerimento ....................... 102
Decreto ................................ 104 3. Metonímia ......................... 121
Despacho ............................. 105 4. Ironia ................................ 121
Auto ...................................... 105 5. Eufemismo ........................ 122
Aviso .................................... 106 6. Prosopopéia ou
Ato ........................................ 107 Personificação ..................... 122

Acórdão ............................... 108 7. Hipérbole .......................... 122

Boletim .................................. 109 8. Antítese ............................ 122

Comunicado ......................... 109 9. Gradação ......................... 122


10. Catacrese ...................... 123
Edital ..................................... 110
11. Aliteração ....................... 123
Folha corrida ........................ 112
12. Assonância ................... 123
Portaria ................................. 113
13. Onomatopéia ................. 123
4. Interpretação de textos 14. Polissíndeto ................... 123
Conceito .................................... 114
5. Guia prático de redação
A intenção textual ..................... 115
Introdução ................................. 155
O sentido lógico e o sentido
simbólico das palavras ............. 116 Especificações ......................... 156
Graus de compreensão Observações finais .................. 291
dos textos ................................. 117 Vocabulário ............................... 301
Figuras de linguagem ............... 119 Questões de vestibulares ........ 343
1. Metáfora ........................... 119 Índice ......................................... 371
2. Comparação .................... 120 Bibliografia ................................ 375
— 1 —

1 Teoria da redação

Introdução ce-nos normal a reação instintiva de


detestá-la, de abstraí-la de nosso dia-a-
dia, pois seria anormal o regozijo por uma
A Redação no Vestibular, ou em redação que nos lembrasse todas as
qualquer tipo de Concurso, certa- limitações de que somos possuidores.
mente já causou muito mais horror, tre- E, ainda por cima, com nosso nome e
mores, faniquitos e bloqueios do que assinatura... É demais!
hoje. Destarte, passou o tempo, apren-
deu-se a conviver com ela, mas não se Mas, entenda-se o vestibular como
Ihe descobriram os segredos, não se uma grande maratona, e suponha-se
Ihe assinalaram as técnicas, não se Ihe que, no lugar da redação (com número
adquiriu o sabor gratificante da con- de linhas e tempo definidos), exigissem
vivência: tornou-se conhecida, mas dos vestibulandos uma prova de nata-
não íntima. ção, por exemplo: «o candidato deverá
nadar quinhentos metros em cinqüenta
O vestibular nos exige muito mais minutos; não atingir o estabelecido im-
que garatujas, rabiscos, arremedos de plicará a atribuição do grau zero». Um
comunicação verbal lançados ao papel. percentual insignificante de candidatos
As falhas, sabemo-las, são de base. A (aqueles que fizeram da natação, des-
reforma do ensino, com o distaciamento
de a infância, uma prática constante)
da cultura humanística, assolou o debili-
não se preocuparia em absoluto com tal
tado saber, contribuindo muito mais para
prova. Apenas, ao longo do ano prepa-
um ensino pragmático que se coloca ad-
ratório, continuariam a manter a forma.
verso «ao gosto pelas letras».
Os outros, a maioria esmagadora (tal
E comunicarmo-nos é criar. É ofere- como na redação), seriam obrigados a
cer a outrem as nossas idéias, as nos- submeter-se a treinamentos constantes
sas opiniões, as nossas experiências e intensos, que Ihes exigiriam muita for-
de vida. É mostrar a nossa cultura e per- ça de vontade e autodeterminação em
sonalidade. A comunicação escrita, muito treinar mais, muito mais do que uma vez
mais que a oral, é o nosso auto-retrato. por mês ou por quinzena ou por sema-
A redação surge como um verdadeiro na. Force-se, agora, um paralelo com a
espelho do que somos — é o peso de redação e sinta-se o quanto nos falta,
nossa bagagem cultural. Ora, entenden- não para escrever algumas linhas (como
do-a, mesmo que inconscientemente, para dar algumas braçadas suficientes
como reflexo da nossa bagagem forma- para atravessar a piscina na sua late-
tiva, como reflexo «do que sou», pare- ral), mas para escrevermos (ou nadar-
— 2 —

mos) o suficiente em técnica e corre-


ção, com limites de tempo e de número
de linhas, de forma a nos possibilitar
concorrer, mais do que participar, a uma
vaga na Universidade.

É necessário, portanto, que cada


um, conscientizado de suas limitações
e necessidades, se atire de corpo e alma
a um trabalho de treinamento contínuo e
gradativo, com vistas a melhorar a sua
redação, à luz das técnicas e orien-
tações dadas.

O esforço, a dedicação, o reconhe-


cer-se débil — mas capaz — são os
elementos que, juntos, propiciarão ao
A redação e os
aluno as condições para adquirir a
autoconfiança perdida ao longo de anos
bloqueios
sem preparo específico, refletidos
basicamente em bloqueios e brancos «Gastei uma hora pensando um verso
mentais, ou na apavorante quantidade que a pena não quer escrever.
de erros que surgem após uma corre-
ção. É básico que cada um venha a acre- No entanto ele está cá dentro inquieto,
ditar em si mesmo, sinta-se o suficiente- vivo.
mente capaz de, por meio de treinos con- Ele está cá dentro e não quer sair.»
tínuos, elaborar uma redação que atinja
os padrões mínimos de objetividade, cla- (Carlos Drummond de Andrade)

reza e correção das idéias: pré-requisi-


«Tantos estudantes psiquicamente
tos exigidos e propostos para a reda-
normais, que falam bem, e até com
ção nos vestibulares ou nos concursos exuberância e eloqüência, no inter-
públicos. câmbio de todos os dias, são deso-
Portanto: ladores quando se Ihes põe um lápis
ou uma caneta na mão.»
Eu + Força de Vontade (Mattoso Câmara)
Proporcional às Minhas Dificul-
São poucas as pessoas que, ao
dades = TREINO + TREINO + TREI-
receberem a incumbência de escrever
NO + ...
alguma coisa, ainda que simples bilhete,
Esta é a regra: Escrever? Só es- não sintam inibição paralisante. Aconte-
crevendo...! ce um branco em sua mente, um vazio
— 3 —

nas suas potencialidades. Vivem minu- torne algo não só penoso, mas im-
tos (minutos?) de angústia, roem unhas, possível.
mascam caneta e nada sai.
Como evitar isso?
O que acontece, se tal ocorre in-
clusive com pessoas de razoável co- — Treinando! Escrevendo to-
nhecimento, com executivos desinibidos, dos os dias. Lendo e escrevendo.
por exemplo? — E tempo?
Primeiramente, como causa objeti- — Todos dispõem de tempo. É ape-
va, existe a falta de hábito da escrita e nas uma questão de saber aproveitá-lo.
da leitura. Secundariamente, existe a De dez minutos diários para uma leitura,
causa subjetiva, o bloqueio psíquico. de mais dez minutos para pequena re-
Quando escrevemos, temos medo de dação, todos dispõem. É só fazer hábito
expor-nos. Em geral, não tememos ser e... até o gosto é capaz de adquirir.
gozados pelo que dizemos. Mas não
aceitamos a hipótese de gozação pelo Lembre-se: 10 e 10
que escrevemos. É a força do docu-
mento!... — Adianta escrever se ninguém
É importante não esquecer que, o corrige?
mais das vezes, falar bem não significa — Evidentemente que sim! Escre-
necessariamente escrever bem. Na vendo todos os dias você vai se
linguagem oral, usamos de recursos que desinibindo. Vai adquirindo jeito para a
inexistem na escrita: os gestos, por coisa. Vai sanando dúvidas de ortogra-
exemplo, ou as situações configuradas, fia (desde que consulte o dicionário).
facilmente descritas ou levadas a imagi- Vai ficando fluente.
nar, são elementos fundamentais para
que a comunicação possa ser efetua- — Escrever sobre quê?
da. Convém ainda lembrar que no falar — Sobre qualquer coisa. No come-
somos repetitivos e, às vezes, até mes- ço, é aconselhável escrever sobre coi-
mo obscuros, sem que ninguém nos
sas que aconteceram com você. Expri-
«anule» nada. Na redação, ao contrá-
mimos melhor assuntos que vivemos.
rio, a objetividade e a clareza devem se
Depois sobre uma notícia, um comentá-
fazer presentes, pois nós não seremos
rio. A cena de um filme. Mais tarde um
inquiridos no caso de alguma dúvida.
tema abstrato. Reproduzir aquilo que leu.
Daí que nossas dificuldades se re- Ou então reescrever as redações que
fletem em brancos ou bloqueios e so- voltam da correção, corrigindo-as nos
mente como já dissemos, muito treina- erros apontados, aumentando-as em
mento e perseverança são capazes de idéias novas, enriquecendo-as de deta-
nos devolver a autoconfiança abalada lhes que, porventura, tenhamos lido ou
e de nos oferecer um mínimo de condi- que tenham nos ocorrido. E assim vai
ções para que o fazer redações não se indo...
— 4 —

Tipos de redação O interesse de um texto descritivo


reside na impressão que tal descrição
provoca em nós, e nada melhor que o
Três são os tipos de composição substantivo — que designa o mundo
escrita: a Descrição, a Narração e a do ser — e o adjetivo — que designa o
Dissertação. mundo das qualidades do ser — para
produzirem enfaticamente aquela im-
pressão que brota da fonte descritiva.
Descrição
O emissor capta a realidade por meio
de seus sentidos e a transmite, utilizando
Descrever é traduzir com palavras os recursos da linguagem, tal que o recep-
aquilo que se viu e se observou. É a tor a identifique. A caracterização é im-
representação, por meio das palavras, prescindível, daí a forte incidência de ad-
de um objeto ou imagem.
jetivos no texto. A descrição é atemporal,
É uma seqüência de aspectos: for- por um lado, e espacial, por outro. Ver-
ma, tamanho, matriz, quantidade etc. bos indicativos de ação ou movimento são
Equivale ao registro do que se vê em secundários, valorizando-se os proces-
uma fotografia. Pessoas, objetos ou pai- sos verbais não-significativos, ou de liga-
sagens (com todos os seus pormeno- ção. Há grandes descrições que despre-
res) podem ser objeto de um desenho zam totalmente formas verbais finitas, res-
ou pintura e, logicamente, de uma des- saltando o emprego de formas nominais
crição. (infinitivo, gerúndio, particípio).
Consiste em fazer viver, tornar vi- Convém que se observe, na des-
vos e tangíveis os pormenores, si- crição, a quase ausência de processos
tuações ou pessoas. É evocar o que verbais finitos (indicativo ou subjuntivo),
se vê ou sente, ou criar o que não se o que dá à descrição um tom especia-
vê, mas se percebe ou imagina. Des- líssimo de imobilidade do objeto.
crever não é copiar friamente, mas
enriquecer a visão do que é real ou Tipos de descrição
procura-se tornar real. Saber descre-
ver não significa enumerar muitos de- 1. Descrição Denotativa: A descrição
talhes, mas procurar transmitir sensa- é denotativa quando a linguagem re-
ções fortes. presentativa do objeto é objetiva, cla-
ra, direta, sem metáforas ou outras
A descrição é destituída de ação. É
figuras literárias. Na descrição deno-
estática.
tativa, as palavras são tomadas no
Na descrição, o ser, o objeto ou o seu sentido de dicionário, único. De-
ambiente são mais importantes, ocupan- notativas são, por exemplo, as des-
do lugar de destaque na frase o subs- crições científicas, as descrições que
tantivo e o adjetivo. vêm nos livros didáticos etc.
— 5 —

2. Descrição Conotativa: É a des- Exemplos de descrição


crição literária, onde as palavras são
tomadas em sentido simbólico, ri- 1. «Duas horas da tarde. Um sol ardente
cas em polivalências. Visam a re- nos colmos dardejando e nos eirados
tratar uma realidade além da realida- sobreleva aos sussurros abafados o
de. Uma supra-realidade. grito das bigornas estridentes...»

Dado, por exemplo, o tema «A Ca- (Gonçalves Crespo)

deira» para descrever:


2. «Manhã cinzenta. Partida de Lisboa.
a) A pessoa que se limitasse a descre- Os primeiros aspectos da campina
ver fisicamente a cadeira — suas per- ribatejana: touros, campinos de vara
nas, espaldar, assento, altura, cor ao alto, searas infinitas.
etc. — estaria fazendo descrição Depois, mutação de cenário: flores-
denotativa. tas de pinheiros verdenegros, outeiros.
b) Mas aquele que passasse, digamos, Uma aberta de luz: campos exten-
a descrever «reações psicológicas» sos de milho e arrozais. Enfim, o tufo
de uma cadeira diantes dos diferen- espesso do Choupal. Coimbra, debru-
tes tipos de nádegas que sobre ela çada sobre o Mondego».
repousassem... estaria fazendo des-
(R. Lapa)
crição conotativa.
Qualidades da boa descrição: 3. «Sala de prédio novo no pátio do
uma descrição é boa quando é viva, torel. Ornamentações «Liberty» na
animando-se a paisagem com seres vi- sua clara tonalidade preferida, que
funde o verde-mar e em rosa-páli-
vos e com a presença do homem. Além
do. Duas grandes janelas por onde
de viva, a descrição deve ser real e
se perspectiva a baixa e um largo
pormenorizada. Descrição real é a des-
trecho do rio. A parede do sul corta-
crição em relevo, dotada, podemos di-
da por três arcos envidraçados que
zer, de corpo. Devem ser eliminados to-
dão para uma espécie de estufa
dos os pormenores que não se subordi-
rescendente.»
nem à impressão geral que se quer dar.
(Teixeira Gomes)
O estilo da descrição: a lingua-
gem descritiva exige o vigor e o relevo 4. «Os companheiros de classe eram
do termo forte, próprio, exato, concreto. cerca de vinte. O Gualtério, miúdo,
Nos quadros de natureza, por exemplo, redondo de costas, cabelos re-
a linguagem deve traduzir a cor e a vi- voltos, motilidade brusca e care-
são, os espaços sem limites, as formas tas de símio — palhaço dos ou-
sem contornos, imprecisas, intangíveis, tros, como dizia o professor: o Nasci-
para isso utilizando os termos gerais e mento, o bicanca, alongado por um
abstratos. modelo geral de pelicano, nariz
— 6 —

esbelto, curvo e largo como uma Exemplo de descrição de pessoa


voice; o Álvares, moreno, cenho
carregado, cabeleira espessa e NHÔ RUFA
intonsa de vate de caverna, vio- Chamava-se Rufino o preto cuja
lento e estúpido ( . . . ); o Almeidinha, carapinha em desalinho a neve dos anos
claro, translúcido, rosto de me- manchara de branco. Não sei a sua ida-
nina, faces de um rosa doentio, de, mas meu avô dizia que "Negro quan-
que se levantava, para ir à pedra com do pinta tem três vezes trinta". Talvez
um vagar lânguido de convales- carregasse por noventa anos aquele
cença; o Maurílio, nervoso, insofri- corpo magro e dolorido.
do, fortíssimo em tabuada: cinco As pálpebras empapuçadas deixa-
vezes três, vezes dois, noves fora, vam entrever, dos olhos, apenas um ris-
vezes sete?. . . Iá estava Maurílio, trê- co preto que mirava com ódio a menina-
mulo, sacudindo no ar o dedinho da que o acompanhava e divertia-se às
esperto... olhos fúlgidos no ros- suas custas.
to moreno, marcado por uma pin-
ta na testa; o Negrão, de ventas A pele preta era opaca e sem viço,
próprio da idade avançada. Seu nariz
acesas, lábios inquietos, fisio-
achatado parecia esborrachado. O lá-
nomia agreste de cabra, canhoto
bio inferior, bem vermelho e grosso, pen-
e anguloso, incapaz de ficar sen-
dia desgovernado, dificultando a fala.
tado três minutos; (...) Batista
Carlos, raça de bugre, válido, de Os pés grandes e descalços, sem-
má cara, coçando-se muito, co- pre inchados, permitiam-lhe apenas um
mo se o incomodasse a roupa no caminhar trôpego, arrastado e cansa-
corpo, alheio às coisas da aula, do. Usava um velho capote de cor inde-
como se não tivesse nada com aquilo, finida, onde predominava o pó da estra-
da, e um chapéu de feltro, maltratado
espreitando apenas o professor para
pelas intempéries, tão deformado pela
aproveitar as distrações e ferir a ore-
falta de forro a ponto de parecer uma
lha dos vizinhos com uma seta de pa-
tigela desabada sobre os olhos.
pel dobrado. (...)
Trazia a tiracolo um bodoque (que
Fui também recomendado ao Sanches. é um arco para atirar bolotas de barro)
Achei-o supinamente antipático: e, no outro ombro, uma velha aljava de
cara extensa, olhos rasos, mor- couro, velha e encardida, repleta das
tos, de um pardo transparente, lá- ditas bolotas de barro seco, sua arma
bios úmidos, porejando baba, contra os meninos. Estes diziam que Nhô
meiguice viscosa de crápula anti- Rufa tinha bicho-de-pé e gritavam de
go. Era o primeiro da aula. Primeiro que longe, em coro:
fosse do coro dos anjos, no meu con-
— Bichento! Bichento!
ceito era a derradeira das criaturas.»
(Dalva Ferreira Fanchim. Piraí do Sul, sua gente e suas
(O Ateneu, Raul Pompéia — Coleção dos Clássicos histórias. Curitiba: Imprensa da Assembléia Legislativa
Brasileiros, Edições de Ouro, p. 57-58.) do Paraná, 1984, p. 90.)
— 7 —

Exemplo de descrição Narração


de ambiente
Narrar é discorrer sobre fatos. É
A FAZENDA
contar. Consiste na elaboração de um
Pior fazenda que a do Espigão, ne- texto que relate episódios, aconteci-
nhuma. Já arruinara três donos, o que mentos, ou seja, é uma seqüência de
fazia dizer aos pragueiros: Espiga é o acontecimentos: começo, meio e fim.
que aquilo é! Equivale ao registro de uma história, de
um "causo", de uma anedota, de uma
Os cafezais em vara, ano sim ano piada. Quando se conta uma história
não batidos de pedra ou esturrados de (verdadeira ou inventada), está-se fa-
geada, nunca deram de si colheita de zendo uma narração.
entupir tulha. Os pastos ensapezados,
enguaxumados, ensamanbaiados nos Ao contrário da descrição, que é
topes, eram acampamentos de cupins estática, a narração é eminentemente
com entremeios de macegas mortiças, dinâmica. Nela predominam os verbos.
formigantes de carrapatos. Boi entrado Aqui o importante está na ação. No «o
ali punha-se logo de costelas à mostra, que aconteceu».
encaroçado de bernes, triste e dolorido
A essência da ficção é a Narrativa,
de meter dó.
respondendo os seus elementos a uma
As capoeiras substitutas das ma- série de perguntas. São elas:
tas nativas revelavam pela indiscrição a) Quem participa nos acontecimentos?
das tabocas a mais safada das terras (personagens)
secas. Em tal solo a mandioca braceja-
va a medo varetinhas nodosas; a cana b) O que acontece? (enredo)
caiana assumia aspecto de caninha, e
esta virava um taquariço magrela dos c) Onde e em que circunstâncias acon-
que passam incólumes entre os cilin- tece? (o lugar dos fatos, ambiente e
dros moedores. Piolhavam os cavalos. situação)
Os porcos escapos à peste encrua- Em síntese, a narrativa de um fato
vam na magrém faraônica das vacas ou vários é feita a partir de alguns ele-
egípcias. mentos, tais como:
Por todos os cantos imperava o fer- o quê?
rão das saúvas, dia e noite entregues à
o acontecimento a ser narrado;
tosa dos cupins para que em outubro se
toldasse o céu de nuvens de içás, em quem?
saracoteios amorosos com enamorados a personagem principal (protagonista);
sativus.
quem?
(Monteiro Lobato. Urupês. 13. ed., São Paulo:
Brasiliense, 1996, p. 234-5.) o antagonista;
— 8 —

como? de ouvir as personagens); ter como as-


a maneira como se desenrolou o sunto caso real ou fictício; ser séria,
acontecimento; engraçada ou triste. Quem escreve é
quem decide como fazer a redação.
quando?
o tempo da ação; Exemplos de narração
onde? 1. «Toda a gente tinha achado estranha
o local do acontecimento; a maneira como o Capitão Rodrigo
Cambará entrara na vida de Santa Fé.
por quê? Um dia chegou a cavalo, vindo nin-
a razão do fato; guém sabia de onde, com o chapéu de
barbicacho puxado para a nuca, a bela
por isso cabeça de macho altivamente erguida,
o resultado ou conseqüência. e aquele seu olhar de gavião que irri-
tava e ao mesmo tempo fascinava as
Na redação narrativa, o fato é o pessoas. Devia andar lá pelo meio da
núcleo da ação, e o verbo o elemento casa dos trinta, montava um alazão,
valioso por excelência. Ao escrevermos trazia bombachas claras, botas com
uma narração, é importante que uma só chilenas de prata e o busto musculoso
situação a centralize e envolva as per- apertado num dólmã militar azul, com
sonagens. Deve haver um centro do gola vermelha e botões de metal. Ti-
conflito, um núcleo do enredo. A narra- nha um violão a tiracolo; sua espada,
ção distingue e ordena os fatos. apresilhada aos arreios, rebrilhava ao
A sua essência é a criatividade. sol daquela tarde de outubro de 1828
e o lenço encarnado que trazia ao pes-
O texto narrativo é eminentemente coço esvoaçava no ar como uma ban-
temporal e espacial. Envolve a ação, deira. Apeou na frente da venda do
o que produz a personagem, o agen- Nicolau, amarrou o alazão no tronco
te do processo narrativo. dum cinamomo, entrou arrastando as
esporas, batendo na coxa direita com
Esta modalidade de texto transita
o rebenque, e foi logo gritando, assim
por um fio condutor que leva a uma situ-
com ar de velho conhecido:
ação denominada «clímax» ou «nó»,
decaindo numa «resolução» ou epílo- — Buenas e me espalho! Nos pe-
go. O segredo da narrativa concentra- quenos dou de prancha e nos grandes
se no grau de «suspense» criado, bem dou de talho!
como no fecho surpreendente.
Havia por ali uns dois ou três ho-
É importante lembrar que a narra- mens, que o miraram de soslaio sem di-
ção pode ser curta ou longa; ter diálogo zer uma palavra. Mas dum canto da sala
ou não (o diálogo torna a narração mais ergue-se um moço, que puxou a faca,
dinâmica, pois cria no leitor a sensação olhou para Rodrigo e exclamou:
— 9 —

— Pois dê! Depois de alguma relutância o ou-


tro guardou a arma, meio desajeitado, e
Os outros homens se afastaram
Rodrigo estendeu-lhe a mão, dizendo:
como para deixar a arena livre, e Nicolau,
atrás do balcão, começou a gritar: — Aperte os ossos.»
— Aqui dentro não! Lá fora! Lá fora! (Érico Veríssimo, Um certo capitão Rodrigo)

Rodrigo, porém, sorria imóvel, de 2. «O fiscal da alfândega não podia en-


pernas abertas, rebenque pendente do tender por que aquela velhinha viaja-
pulso, mãos na cintura, olhando para o va tanto. A cada dois dias, vinha ela
outro com um ar que era ao mesmo tem- pilotando uma motocicleta e ultrapas-
po de desafio e simpatia. sava a fronteira. Fora interceptada
— Incomodou-se, amigo? — per- inúmeras vezes, fiscalizada e nada.
O fiscal alfandegário não se confor-
guntou, jovial, examinando o rapaz de
mava com aquilo.
alto a baixo.
— Não sou de brigas, mas não cos- — Que traz a senhora, aí?
tumo agüentar desaforo. — Nada, não, senhor!
— Oi bicho bom! A cena, que se repetia com tanta
Os olhos de Rodrigo tinham uma freqüência, intrigava o pobre homem.
expressão cômica. Não se conteve:
— Essa sai ou não sai? — pergun- — Não é por nada, não; me faz um
tou alguém do lado de fora, vendo que favor, dona. Não Ihe vou multar, nem
Rodrigo não desembainhava a adaga. O nada; é só por curiosidade, a senhora
recém-chegado voltou a cabeça e res- está contrabandeando o quê?
pondeu calmo:
— Seu fiscal, o senhor já desmon-
— Não sai. Estou cansado de bri- tou a moto e nada achou, que quer mais?
gas. Não quero puxar arma pelo menos
por um mês. — Voltou-se para o homem — Só pra saber, dona!
moreno e, num tom sério e conciliador,
— Tá bem, eu conto: O contraban-
disse: — Guarde a arma, amigo.
do é a moto, moço!»
O outro, entretanto, continuou de
(adaptado)
cenho fechado e faca em punho. Era
um tipo indiático, de grossas sobrance- 3. A BORBOLETA PRETA
lhas negras e zigomas salientes.
A borboleta, depois de esvoaçar
— Vamos, companheiro — insistiu muito em torno de mim, pousou-me na
Rodrigo. — Um homem não briga debal- testa. Sacudi-a, ela foi pousar na vidra-
de. Eu não quis ofender ninguém. Foi ça; e, porque eu a sacudisse de novo,
uma maneira de falar... saiu dali e veio parar em cima de um
— 10 —

velho retrato de meu pai. Era negra como Pegou a mala deixada na portaria de um
a noite. O gesto brando com que, uma dos hotéis em que havia procurado cô-
vez posta, começou a mover as asas, modo, tomou um táxi e foi para a casa
tinha um certo ar escarninho, que me do parente, certo de ali encontrar o de-
aborreceu muito. Dei de ombros, saí do sejado cantinho onde pudesse passar
quarto; mas tornando lá, minutos depois, alguns dias.
e achando-a ainda no mesmo lugar, senti
Chegou e foi bem recebido. Como,
um repelão dos nervos, lancei a mão de
porém, a casa era pequena, teve de aco-
uma toalha, bati-lhe e ela caiu.
modar-se no mesmo quarto em que dor-
Não caiu morta; ainda torcia o cor- mia um sobrinho de poucos meses. De
po e movia as farpinhas da cabeça. madrugada, acordou com a bexiga cheia,
Apiei-me; tomei-a na palma da mão e fui desesperado por esvaziá-la. Levantou-
depô-la no peitoril da janela. Era tarde; a se, procurou o vaso noturno por todos
infeliz expirou dentro de alguns se- os cantos e não o encontrou. Para ir até
gundos. Fiquei um pouco aborrecido, in- o banheiro, tinha de atravessar o quarto
comodado. onde dormia o casal, precisaria acender
as luzes e, com todo esse movimento,
— Também por que diabo não era poderia acordar o irmão e a cunhada.
ela azul? disse comigo.
Como fazer, então, para sair da-
E esta reflexão — uma das mais quela aflitiva situação?
profundas que se tem feito, desde a in-
venção das borboletas — me consolou Depois de muito pensar, pegou o
do maléfico, e me reconciliou comigo garoto, passou-o para a sua cama e
mesmo. esvaziou a bexiga ali mesmo no col-
chãozinho do berço...
(Machado de Assis. Memórias póstumas de Brás
Cubas. 5. ed., São Paulo: Ática, 1975, p.52.) Aliviado, o Juventino, ao pegar ou-
tra vez o garotinho para pô-lo novamen-
4. CASTIGO MERECIDO te no berço, viu que o safadinho havia
feito coisa muito pior em sua cama...
Numa das suas viagens a São Pau-
lo, o Juventino não pôde conseguir, de (Décio Valente. Coisas que acontecem... 1. ed. São
Paulo: L. Oren, 1969, p. 66-7.)
forma alguma, um quarto em hotel ou
pensão onde pudesse hospedar-se.
Percorreu a cidade toda, e nada! Formas de relatar o enunciado
Tudo cheio, completamente lotado.
A relação verbal emissor/receptor
Finalmente, após longas e infrutífe- efetiva-se mediante o que chamamos
ras caminhadas, resolveu ir para a casa discurso. A narrativa se vale de tal
de seu irmão, residente em bairro afas- recurso, efetivando o ponto de vista ou
tado do centro da grande metrópole. foco narrativo.
— 11 —

a) Quando o narrador participa do en- c) Ocorrem casos em que o narrador é


redo, é personagem atuante, diz-se classificado como onisciente, pelo
que é narrador-personagem ou fato de dominar o lado psíquico de seus
participante. Isso constitui o foco personagens, antepondo-se às suas
narrativo ou ponto de vista da pri- ações, percorrendo-lhes a mente e a
meira pessoa. alma. Neste particular, Clarice Lis-
pector destaca-se brilhantemente.
Exemplo:
Exemplo:
«— Is this an elephant? Minha ten-
dência imediata foi responder que não; «Na rua vazia as pedras vibravam
mas a gente não deve se deixar levar de calor — a cabeça da menina flameja-
pelo primeiro impulso. Um rápido olhar va. Sentada nos degraus de sua casa,
que lancei à professora bastou para ver ela suportava. Ninguém na rua, só uma
que ela falava com seriedade e tinha o pessoa esperando inutilmente no ponto
ar de quem propõe um problema.» de bonde. E como se não bastasse seu
(Aula de Inglês, Rubem Braga)
olhar submisso e paciente, o soluço a
interrompia de momento a momento, aba-
b) Chamamos narrador-observador lando o queixo que se apoiava com-
ao que serve de intermediário entre o panheiro na mão... Na rua deserta ne-
episódio e o leitor — é o foco narrati- nhum sinal de bonde. Numa terra de
vo de terceira pessoa. morenos, ser ruiva era uma revol-
ta involuntária.
Exemplo:
Se num dia futuro sua marca ia fazê-
«Os dois cabras se aproximaram la erguer insolente uma cabeça de mu-
sem que ele pressentisse. Eram um alto e lher? Por enquanto ela estava sentada
um baixo; o baixo, grosso e escuro, ves- num degrau faiscante da porta, às duas
tido numa camisa de algodãozinho encar- horas. O que a salvara era uma bolsa
dido. O alto era alourado e não se podia velha de senhora, com alça partida. Se-
dizer que estivesse vestido de coisa ne- gurava-a com um amor conjugal já habi-
nhuma, porque era farrapo só. O grosso tuado, apertando-a contra os joelhos.»
na mão trazia um couro de cabra, ainda
(Clarice Lispector)
pingando sangue, esfolado que fora fa-
zia pouco. E nem tirou o caco de chapéu
da cabeça, nem salvou ao menos.
O velho até se assustou e brusca-
Formas do discurso
mente se pôs a cavalo na rede, a escu-
tar a voz grossa e áspera, tal e qual 1. O DISCURSO DIRETO constitui a
quem falava: técnica do diálogo. É a persona-
gem em atividade, animizada, falan-
— Cidadão, vim Ihe vender este do. Estrutura-se, normalmente, com
couro de bode.» a precedência de dois-pontos e ini-
(Rachel de Queiroz) cia-se após um travessão.
— 12 —

«... Botou as mãos na cabeça e a que o envolvem, na discussão da pro-


boca no mundo: blemática que nele reside, na defesa de
princípios, na tomada de posições.
— Nossa senhora, meu patrãozinho
me mata!» Caracteriza-se a dissertação pela
(Fernando Sabino) análise objetiva de um assunto, pela
seqüência lógica das idéias, quando re-
2. O DISCURSO INDIRETO caracteriza- fletidas e expressas, pela coerência na
se pelo emprego da subordina- exposição delas.
ção sintática, impedindo a fala da
personagem. «D. Evarista ficou A redação expositiva ou disserta-
aterrada. Foi ter com o marido, dis- ção implica uma estrutura organizada
se-lhe que estava com desejos.» em etapas que focalizem o assunto a
partir de uma técnica determinada, bus-
(Machado de Assis)
cando objetivos precisos.
3. O DISCURSO INDIRETO LIVRE é uma Portanto: a dissertação exige re-
mescla do discurso direto com flexão e seleção de idéias. Exige que
o indireto, proporcionando um mo- se monte um plano de desenvolvimento.
vimento interno da fala, o monólo-
go interior. Para reforçar esta necessidade,
vale a pena transcrevermos algumas li-
Observe o fragmento: nhas de Buffon:
«Sinhá Vitória falou assim, mas Fa-
«É pela ausência de plano, é por
biano franziu a testa, achando a frase
não ter refletido bastante sobre o
extravagante. Aves matarem bois e ca-
assunto, que um homem de talento se
valos, que lembrança! Olhou a mulher,
sente embaraçado, não sabendo por
desconfiado, julgou que ela estivesse
onde começar a escrever. Entrevê, ao
tresvariando».
mesmo tempo, grande número de idéi-
(Graciliano Ramos) as; e como não as comparou, nem su-
bordinou, nada o obriga a preferir umas
às outras; fica, pois, perplexo. Mas,
Dissertação quando tiver esboçado um plano,
quando tiver reunido e posto em or-
Dissertar é tratar com desen-
dem todos os pensamentos essenci-
volvimento um ponto doutrinário,
ais ao seu assunto, sentirá o ponto de
um tema abstrato, um assunto ge-
maturação da produção do espírito,
nérico. Ou seja:
apressar-se-á a fazê-lo desabrochar e
Dissertar é expor idéias em torno terá prazer em escrever.
de um problema qualquer.
Para escrever bem, é preciso, por-
Consiste na exposição de um as- tanto, estar plenamente senhor do seu
sunto, no esclarecimento das verdades assunto; é preciso refletir bem nele,
— 13 —

para ver claramente a ordem dos Introdução — parte em que se


pensamentos e formular deles uma apresenta o assunto a ser questionado;
seqüência, uma cadeia, em que cada o desenvolvimento — parte em que
ponto representa uma idéia». de se discute a proposta e, por último, a
conclusão — em que se toma posição
Convém certo domínio de conheci-
relativamente à proposta.
mento do assunto, cultura apreciável e,
sobretudo, domínio das estruturas sin- Normalmente os vestibulares pe-
táticas mais elaboradas, do período com- dem que se disserte em 25 ou 30 linhas,
posto por subordinação. As orações re- no máximo, o que nos faz sugerir pará-
duzidas de infinitivo, particípio e gerúndio grafos de 5 ou 6 linhas.
constituem excelente material.
A sermos coerentes, é necessário
⇒ Este é o tipo de redação pedido (ou entre os parágrafos, correlação. Isto é,
esperado) pela maioria dos vestibu- o assunto deve ser criteriosamente
lares do Brasil ou dos Concursos Pú- distribuído.
blicos.
Resumindo:
E, infelizmente, desde as primei-
É uma seqüência de juízos, de con-
ras redações primárias até as colegi-
siderações, de reflexões sobre algum
ais, a redação preferida, pela necessi-
assunto, a partir do que estabelece uma
dade de se incentivar a criatividade, foi
opinião.
a Narração. Contamos sobre piqueni-
ques, passeios, viagens, excursões...; Para quem vai fazer uma disserta-
contamos o real, o imaginário, o veros- ção é importante:
símil...; passamos do infantil ao trágico;
seguimos, enfim, por caminhos que a a) examinar o tema, entendê-lo e rela-
nossa imaginação e potencialidades cioná-lo a alguma situação conhe-
nos levaram e, em matéria de redação, cida;
paramos aí. b) anotar as idéias (argumentos fa-
O discutir assuntos, o criticar situa- voráveis e contrários) que conseguir
ções, o propor soluções sempre o fo- sobre o tema;
ram muito distantes de nossa realidade. c) decidir a posição (favorável ou con-
A juventude, hoje, mais do que nunca, trária) que vai defender;
alienou-se em páramos de um mundo sem
problemas. Ela não participa, ela não sen- d) fazer um rol do vocabulário (elenco
te, ela não reage, ela não discute, nor- de palavras) que se refere ao as-
malmente não entende, e... por isso, não sunto;
escreve; quando o faz, as paráfrases
e) rascunhar a dissertação a partir do
fazem-se presentes também.
tema, com rápida introdução em que
A dissertação baseia-se em três podem aparecer dados históricos,
partes fundamentais: opiniões gerais;
— 14 —

f ) apresentar os argumentos, come- O marco divisório entre os dois


çando pelos mais simples, já atacan- mundos, o que avança destemido e o
do os contrários e enaltecendo os que marca passo no círculo de giz de
favoráveis; suas estruturas arcaicas e tradicionais,
é, sem dúvida nenhuma, a educação. É
g) concluir o trabalho, à vista dos argu-
ela que, ao produzir tecnologia, encami-
mentos, com a posição que está de-
nha as soluções permanentes concebi-
fendendo;
das em nível de magnitude. Por isso
h) revisar o texto: mesmo, é a matéria-prima prioritária, o
elemento deflagrador do progresso rá-
— eliminando o que for supérfluo ou ine- pido. Terá de ser encarada com imagi-
ficaz, como repetições, frases que nação e empenho, pré-requisito que
pouco dizem (e que, portanto, não exige a participação imediata e fecunda
fazem falta); da vontade nacional.
— alterando, se preciso, a ordem dos Muitas nações subdesenvolvidas já
argumentos; despertaram para a ampla semeadura
— corrigindo os erros de concordância, educacional. O fato de pensar-se na
de regência, de pontuação, de orto- educação como meio de desenvolvimen-
grafia, de acentuação; to já constitui um sistema de desenvolvi-
mento, uma atitude para o desen-
i) rever o texto, analisando-o como su- volvimento. Nem todas, porém, lograram
põe que o examinador o analisará e, ainda preencher o hiato entre o desejo e
se necessário, modificá-lo; a vontade de se desenvolverem.
j) passar a limpo, lembrando-se de que O hiato persiste sob a forma de uma
nenhum examidor gostaria de ter de mentalidade rançosa, impermeável às
decifrar a letra. mudanças. E, quando o influxo refor-
mista vence barreiras e busca implan-
Exemplos de dissertação tar-se, defronta quase sempre a falta
de organização e os condicionamentos
Os meios de comunicação de mas-
superados.
sa devem alterar, nas próximas duas
ou três décadas, uma boa parte da Só a esperança não basta; é preci-
fisionomia do mundo civilizado e das so a consciência.
relações entre os homens e povos. A
(Jornal do Brasil, 23/11/69)
educação, mola mestra deste impulso
irresistível, é modernizada dia a dia a
1. NASCEM OS HOMENS IGUAIS
fim de suprir as novas necessidades
que se multiplicam, adaptando o homem Nascem os homens iguais; um mes-
contemporâneo ao chamado das es- mo, igual princípio os anima, os conser-
trelas, que ele já não se satisfaz em va, e também os debilita, e acaba. So-
contemplar. mos organizados pela mesma forma, por
— 15 —

isso estamos sujeitos às mesmas vai- pre, cheio de Espinhos e sem uma única
dades. Para todos nasce o Sol; a aurora flor que nele se abra e amenize. Haveria
a todos desperta para o trabalho; o si- somente um homem em quem palpitasse
lêncio da noite anuncia a todos o des- coração tão seco, tão enregelado e sem
canso. O tempo que insensivelmente vida de Sentimentos: o homem que não
corre, e se distribui em anos, meses e amasse o lugar de seu nascimento. De-
horas, para todos se compõe do mesmo pois dos pais, que recebem nosso pri-
número de instantes. Essa transparen- meiro grito, o solo pátrio recebe os nos-
te região a todos abraça; todos acham sos primeiros passos; é um duplo rece-
nos elementos um patrimônio comum, li- ber, que é duplo dar. As idéias grandes
vre, e indefectível; todos respiram o ar; e generosas dilatam o horizonte da pá-
a todos sustenta a terra; as qualidades tria; a religião, a língua, os costumes, as
da água, e do fogo, a todos se comuni- leis, o governo, as aspirações fazem de
cam. O mundo não foi feito mais em be- uma nação uma grande família, e de um
nefício de uns, que de outros, para to- país imenso a pátria de cada membro
dos é o mesmo; e para o uso dele todos dessa família. Mas, deixem-me dizer
têm igual direito; ou seja pela ordem da assim, a grande não pode fazer olvidar
natureza, ou seja pela ordem da sua a pequena pátria; dessa árvore que se
mesma instituição; todos achamos no chama a nação, o país, não há quem
mundo as mesmas partes essenciais. não sinta que a raiz é a família e o berço
Que cousa é a vida para todos mais do a pátria.
que um enleio de vaidades, e um giro
(Joaquim Manuel Macedo. Apud Oliveira, Cleófano
sucessivo entre o gosto, a dor, a ale- de. Flor do Lácio. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 1961,
gria, a tristeza, a aversão, e o amor? p. 287.)

(Matias Aires. Reflexões Sobre a vaidade dos homens,


ou discursos morais sobre os efeitos da vaidade. 9. ed.,
Rio de Janeiro: José Olympio, 1953, p. 117-8.)
Objetividade x Subjetividade

2. A PÁTRIA Ao expor um problema, ao discutir


um assunto, você pode agir de duas
Um célebre poeta polaco, des- maneiras: objetiva ou subjetivamente.
crevendo em magníficos versos uma flo-
Objetivamente, se a exposição
resta do seu país, imaginou que as aves
do assunto se apresentar impessoal,
e os animais ali nascidos, se por acaso
marcada pela presença do raciocínio e
longe se achavam, quando sentiam apro-
da Iógica universal — quando o assunto
ximar-se a hora da sua morte, voavam
for abordado e discutido de maneira ge-
ou corriam e vinham todos expirar à som-
nérica, com idéias e posicionamentos
bra das árvores do bosque imenso onde
que pudessem ser aceitos por todos,
tinham nascido. O amor da pátria não
ou por uma maioria.
pode ser explicado por mais bela e deli-
cada imagem. Coração sem amor é um Essa redação tem por finalidade
campo árido, quase sempre, ou sem- básica instruir e/ou convencer o lei-
— 16 —

tor. As idéias e o modo de se analisar e é o normal, que dentro de uma surjam


enfocar os problemas são pessoais, mas aspectos das outras. O seu entrosa-
a colocação disso tudo dentro da reda- mento é normal, malgrado se conservem
ção deve ser impessoal: verbo na 3ª sempre a essência e as particularidades
pessoa ou na 1ª do plural — afinal, de cada uma, pois, se assim não o fosse,
Nós não sou eu, mas... somos todos. não saberíamos identificá-las.
Subjetivamente, caso predomi- Exemplos:
nem, na exposição das idéias, suas pró-
prias opiniões, sua maneira pessoal, Texto Subjetivo
particular de ver e encarar as coisas.
Esta modalidade depende essencialmen- «Nunca será tão domingo como aqui,
te do tema dado, que deve estar próxi- e domingos e domingas de eternidade se
mo da subjetividade. De um modo geral, concentram em vigorosa dominicalização.
ela deve ser evitada por aproximar-se Não acontecer nada, que beatitude! Dei-
demasiadamente da narração, por meio xar o mato crescer — mas o próprio mato
dos seus subtipos, como a crônica, por foge à obrigação, e goza o domingo. Lá
exemplo. estão o touro zebu e seu harém de no-
bres e modestas vacas — porque o zebu
Na redação subjetiva, procura-se, alia à majestade indiana a placidez das
antes de tudo, angariar a simpatia do Minas, e boi nenhum se fez tão mineiro
leitor com relação ao exposto. Daí que, quanto esse, e bicho nenhum é tão minei-
para fazê-lo, baseamo-nos essencial- ro quanto o boi, em seu calado conheci-
mente em nossas opiniões, no nosso mento da vida, sua participação no traba-
modo particular de ver as coisas, no lho. O rebanho amontoa-se em círculos,
nosso pensar em relação aos fatos, algumas reses em pé, outras deitadas,
deixando transparecer, o mais das ve- chifres cumprimentando-se sem ruído. Pa-
zes, um tom confessional, pontilhado de rece um só boi espalhado, maginando. Com
emoções e sentimentalismos: verbo na o pincel do rabo, executa o milenar movi-
1ª pessoa do sing. — EU. mento de repelir a mosca, sei que não o
O ideal seria que se unissem num pratica pelo prazer de abanar-se. Mas há
só os dois modelos, escrevendo, num bois esparsos, bois solitários, que se pos-
tom impessoal, idéias efervescentes de tam junto a árvores, aparentemente re-
características emotivas que pudessem colhidos; ou fitam o carro que levanta po-
tocar o leitor, derrubando-o do seu papel eira sobre a poeira habitual, e ruminam
tirano de riscar, corrigir, apontar defei- não sei que novelas de boi.»
tos: afinal, ele é «gente como nós». (Carlos Drummond de Andrade)

⇒ Observação:
Texto Objetivo
Nem sempre a descrição, a narra-
ção e a dissertação aparecem em «esta- «As casinhas eram alugadas por
do puro». É perfeitamente possível, aliás mês e as tinas por dia: tudo pago adi-
— 17 —

antado. O preço de cada tina, metendo a Ela é muito importante. Sendo o


água, quinhentos réis, sabão à parte. As contato inicial do leitor com o texto, deve
moradoras do cortiço tinham preferência atraí-lo, despertar-lhe o interesse. As-
e não pagavam nada para lavar. sim, deve ser objetiva e simpática. E,
sobretudo, não pode ser longa. Normal-
Graças à abundância da água que
mente um ou dois períodos.
lá havia, como em nenhuma outra parte,
e graças ao muito espaço de que se dis- O tópico frasal pode se apresentar
punha no cortiço para estender a roupa, de várias formas: uma declaração, uma
a concorrência às tinas não se fez es- pergunta, uma divisão, uma citação... Ao
perar; acudiram lavadeiras de todos os desenvolvê-lo, é preciso ser o mais ob-
pontos da cidade, entre elas algumas vin- jetivo possível, evitando-se divagações
das de bem longe. E, mal vagava uma inúteis.
das casinhas, ou um quarto, um canto
onde coubesse um colchão, surgia uma Enfim, na introdução, o importante
nuvem de pretendentes a disputá-los.» é falarmos no tema da redação, mes-
mo que (ou até obrigatoriamente às ve-
(Aluísio Azevedo) zes) tenhamos de usar as suas pala-
vras, ou parte delas.

As partes da Lembre-se: a redação começa na


linha (1) e não no tema ou no título,
redação — Estrutura não havendo desta forma repetição;
pois, como repetir o que ainda não foi
dito?
Classicamente, uma redação deve
constar de três partes:
I — Introdução II. Desenvolvimento
II — Desenvolvimento
É o corpo da redação. Sua parte
III — Conclusão principal. É aqui que aparecem as idéi-
as, os argumentos, a originalida-
de. A introdução corresponde à tese.
I. Introdução O desenvolvimento vem a ser o debate
da tese. É a parte mais longa. O corpo
Introduzir significa «levar para sempre há de ser maior que a cabeça e
dentro». Na introdução, portanto, con- os pés. Sob pena de termos uma aber-
duzimo-nos para dentro do tema, do as- ração!...
sunto.
Apresenta cada um dos argumen-
A introdução apresenta a idéia que tos ordenadamente, analisando deti-
vai ser discutida (tópico frasal), nada damente as idéias e exemplificando de
Ihe acrescentando. maneira rica e suficiente o pensamento.
— 18 —

O desenvolvimento será a parte mais Portanto, é a comprovação da te-


longa da redação, mas não necessaria- se levantada na Introdução e discutida
mente a mais confusa, complicada e no desenvolvimento.
ininteligível. E isso é o que acontece, nor-
Ela é, a princípio, retirada da melhor
malmente, quando não se faz uma sele-
idéia que achamos ter no momento da
ção de idéias prévia, quando não se sabe reflexão inicial sobre o tema. É a nossa
o que escrever antes de começar a es- posição em face de um problema qual-
crever. Bem se diz: «só comece a es- quer, a sua solução, ou a projeção futura
crever depois que você souber, com de conseqüências que advirão caso não
certeza, quais as idéias, aquilo que sejam tomadas as medidas que acha-
e sobre o que você vai escrever». mos necessárias (e que devem ter sido
Não há necessidade de muitas idéi- citadas no desenvolvimento da redação).
as (e normalmente nem espaço para A conclusão não deve ser muito
isso). O importante é que, mesmo sendo longa, a exemplo da introdução, e deve
poucas, as idéias sejam correta e obje- ocupar, também, somente um parágrafo
tivamente expostas. Não se deve can- (ao contrário da introdução, pode ter
sar o leitor com um milhão de argumen- mais do que um período).
tos diferentes, nem com períodos lon-
⇒ Observação:
gos e maçantes que, fatalmente, resul-
tam confusos. Principalmente nos contos e nas
crônicas, a conclusão, o «fecho», pode
Nas redações entre 15 e 18 linhas,
ser imprevisto e absolutamente desliga-
o desenvolvimento deve ocupar um ou
do daquilo para que se vem conduzindo
dois parágrafos (com vários períodos
o leitor. E nisso está o seu valor. É claro
dentro deles). Nas redações com nú-
que isso não cabe às dissertações,
mero de linhas entre 20 e 25, o número
aos temas abstratos. É próprio para a
de parágrafos no desenvolvimento gira narração.
em torno de 3 ou 4.
Exemplo:
PARA LER... E VERIFICAR!
III. Conclusão
Veja a seguir um exemplo de dis-
sertação, com suas partes respectivas,
É o acabamento da redação. E, se
e os comentários — ao final — sobre
não se deve iniciar «abruptamente» a
cada uma delas.
redação, também não se pode acabá-la
de súbito. A PAZ E A GUERRA
A conclusão resume todas as idéi- «Há ideologias que pressupõem
as apresentadas e discutidas no desen- seja o homem um ser naturalmente incli-
volvimento, tomando uma posição sobre nado à guerra, essencialmente agressi-
o problema apresentado na introdução. vo. São idéias fundamentadas na teoria
— 19 —

da evolução, nos conceitos de luta pela Comentários:


existência, em que o mais forte ocupa as
Notamos que o assunto se desen-
altas posições econômicas e políticas.
volve em torno de uma idéia-núcleo que
No entanto, estas concepções são está expressa no trecho: «No entanto...
completamente contrárias à tendência baixo nível de luta animal» (segundo pa-
evolucionária humana, que retrocede rágrafo). Esta idéia-núcleo traduz o pen-
não só até a evolução em nível animal, samento geral do autor em face da pro-
mas também ao mais baixo nível de luta blemática sugerida pelo título, além de
animal. Nem mesmo os carnívoros se lançar uma idéia discordante daquela
alimentam uns dos outros, como o ho- apresentada na introdução (primeiro pa-
mem competitivo devora os rivais. rágrafo).
Nenhum futuro evolucionário espe- Nos parágrafos seguintes (segun-
ra o homem que segue este caminho. A do e terceiro), o autor confirma e justifi-
luta competitiva não deixará sobreviven- ca os princípios expostos em sua tese,
tes. Mesmo que se limite a uma guerra utilizando o recurso dos exemplos (qua-
econômica, só pode acabar em conten- tro últimas linhas do terceiro parágrafo)
da social, em crises de desemprego, em que reforcem a idéia assumida no de-
apuros financeiros e num fracasso quan- correr da sua argumentação e apresen-
to à utilização dos recursos do mundo tando soluções aos impasses que de-
da maneira mais completa e eficiente. nuncia (quatro primeiras linhas do quar-
to parágrafo). Ao aproximar-se da con-
Fora de uma atitude mútua de cola-
clusão do trabalho, o autor prepara o
boração social e da produção voltada e
seu término com um retorno às idéias da
planejada para o consumo, não há solu-
introdução (três últimas linhas do quarto
ção para tais dificuldades. Enquanto se
parágrafo). Na etapa conclusiva, ex-
mantiverem as condições atuais, o ho-
pressa no parágrafo final, o autor sinte-
mem sentir-se-á agressivo, estará pre-
tiza a idéia-núcleo desenvolvida no de-
parado para assegurar seu próprio bem-
correr da dissertação, e o assunto é
estar à custa do próximo.
encerrado de forma taxativa e enfática.
Esta, contudo, não é a natureza do
O esquema de idéias desta dis-
homem, e sim a natureza do homem em
sertação poderia ter seguido o roteiro
nível subumano. Se o colocarmos em
que passaremos a apresentar:
condições de trabalho realmente huma-
nas, tendo em vista o bem comum, sua I — Introdução:
natureza tornar-se-á mais humana, mais
cooperativa, e seu futuro estará asse- a) Segundo a teoria da evolução, o ho-
gurado. Se fracassarmos neste propó- mem é naturalmente agressivo e deve
sito, seu futuro será a guerra e a des- competir para viver.
truição.»
b) Desta competição, sairá vencedor o
(John Lewis, O homem e a evolução) mais forte e o mais importante.
— 20 —

II — Desenvolvimento: entre as palavras é feita pela organiza-


ção do pensamento no que se refere ao
a) Na luta competitiva, o homem retro-
conteúdo e pelas partículas de transição
cede ao mais baixo nível animal.
que unem as idéias, tais como as ex-
b) A competição entre os homens aca- pressões «no entanto», «contudo», li-
bará por destruir a civilização e as gando parágrafos, e conjunções, ligan-
possibilidades de progresso. do as idéias dentro do período.
c) A única solução: colaboração social A ênfase consiste no fato de a
e produção voltada e planejada para idéia-núcleo estar colocada em lugar de
o consumo. destaque, ocupando um parágrafo in-
teiro e aparecer reforçada em subidéias
III — Conclusão:
no final do segundo e quarto parágra-
a) O futuro do homem assegurado: condi- fos, e totalmente destacada da conclu-
ções realmente humanas de trabalho. são. A ênfase à idéia principal é conse-
guida por meio do uso de expressões
b) Perdurando a atual situação: o homem
fortes e eloqüentes, tais como «nível ani-
destruir-se-á.
mal», «homem competitivo devora os ri-
vais» (segundo parágrafo), «nível subu-
Qualidades básicas da mano», «a guerra e a destruição» (últi-
mo parágrafo) e muitas outras igualmen-
redação te enfáticas.

Unidade + Coerência + Ênfase


Observando o estilo da dissertação
Montagem da
anterior, veremos que ela apresenta as
três qualidades necessárias a um
redação
bom texto escrito: unidade, coerência
e ênfase.
A unidade reside no fato de que o I. O visual ⇒ estética
autor se fixou em uma só idéia central no
decorrer de sua argumentação; em to- Quando, ao entrar na casa de al-
dos os parágrafos as idéias se sucedem guém, você a encontra na mais completa
em ordem seqüente e lógica, todas com- confusão, sujeira por todos os lados: os
pletando e enriquecendo a idéia-núcleo. pratos de não sei quantos almoços dis-
Não houve pormenores desnecessários, putando lugares com as panelas; as cri-
nem redundâncias, o que pode atestar o anças com roupas sujas, o rosto lambu-
esquema anteriormente traçado. zado, o nariz a escorrer; o cheio de bolor
e gordura a envergonharem seu deso-
A coerência reside na associação
dorante; qual a sensação que tem?
e correlação de idéias dentro do período
e de um parágrafo a outro. A conexão — De desleixo, de sujeira, certamente!
— 21 —

Sentirá acaso vontade de ali per- c) Todas as palavras com maiúsculas


manecer, ficar para o jantar, pegar ao (letra de forma).
colo uma criança?
A MISSÃO SOCIAL DO ADVOGADO
— Seguramente não! A VIDA NO PLANETA DOS MACACOS
E, entretanto, a coisa muda de figura
⇒ Observação:
se a casa visitada é asseada, as crian-
ças cuidadosas com a roupa e o trato, o Coloca-se o título apenas nas fo-
ar agradável a lembrar-lhe a sua própria lhas de redação em que ele não esteja
casa, enfim, causa-lhe «boa impressão». previamente grafado, ou nas folhas de
Pode até sentir o suco gástrico manifes- redação que não estejam previamente
tando-se apesar de ter devorado sucu- numeradas. A linha do título e as duas
lenta refeição há bem pouco tempo. (ou três) linhas que se deixam em
branco antes do primeiro parágra-
Com a redação também é assim! O
fo não devem ser contadas. A reda-
impacto (bom ou mau) que nos causa é
ção começa na linha um, ou seja, no
muito importante.
primeiro parágrafo.
Lembre-se: o BELO é um padrão nato
2) Use ponto final nos títulos, em se tra-
e instintivo em nós. E não há beleza onde
não houver ordem e limpeza. tando de frase ou citação somente.
Os temas de redação normais não
Estes são os elementos que com- levam ponto final.
põem a estética da redação, concorren-
do para um melhor visual e correção: 3) Entre o título e o contexto, deixe uma
duas ou três linhas ou espaço equi-
1) Título/Tema valente.
a) Todas as iniciais do título, menos das ⇒ Observação:
palavras de pouca extensão, como
preposições, artigos, conjunções etc., Estes três primeiros itens se refe-
com exceção do primeiro, devem ser rem aos vestibulares que solicitam que
maiúsculas: o vestibulando dê um título para a sua
Redação.
A Missão Social do Advogado
4) Os parágrafos devem adentrar à li-
A Vida no Planeta dos Macacos
nha uns dois centímetros e iniciarem-
Ou se, todos, à mesma altura.
b) Maiúscula inicial apenas na primeira pa- São fundamentais à redação, pois
lavra, seja ela artigo, preposição etc. constituem o visual prático da estrutura
A missão social do advogado redacional, apontando as três partes
obrigatórias num texto dissertativo: a
A vida no planeta dos macacos introdução, o desenvolvimento e a con-
Ou clusão.
— 22 —

O número de parágrafos é variável O borrão não possui um valor de


conforme a extensão exigida para a reda- perda específico: não vale menos um, ou
ção. Nas redações dissertativas, o míni- menos dois. Ele é negativo na sua es-
mo obrigatório é de três parágrafos; sência, no exato momento do seu apa-
o máximo depende da quantidade de linhas recimento.
pedidas. Sugere-se que os parágrafos
7) Letra é importantíssimo! Não apenas
contenham em torno de cinco linhas cada.
pelo visual simpático de uma caligra-
5) Separar as diferentes idéias em pará- fia, mas por representar a própria re-
grafos distintos, guardando-lhes a de- dação. A legibilidade é o item a que
vida conexão. As idéias que se relacio- todos os vestibulares fazem referên-
nam mais intimamente, que se unem cia específica: alguns poucos espe-
por um mesmo fio de ligação lógica cificam também o tipo de letra.
devem ficar no mesmo parágrafo, ain-
A realidade é que a ilegibilidade é
da que em diversos períodos.
item anulatório da redação. E não é
Porém, toda vez que se mudar o fio necessário chegar-se a extremos para
do raciocínio, sempre que se passe para que se caracterize a ilegibilidade. Letra
uma nova idéia que não tenha relação feia, em redação, é pecado. De que
tão íntima com a anterior, deve-se iniciar adianta alguém escrever bem, escrever
linha nova. Portanto, novo parágrafo. substanciosa, estilística e semanticamen-
te com letra que ninguém entenda? Ou
Apenas o parágrafo inicial pode ainda com letra que, para ser entendida,
ser constituído por um período (ou são necessárias a releitura e a adivinha-
dois) somente. Os demais parágrafos ção? Para os que têm letra feia, a saída é
(os do desenvolvimento) devem ter vários o treinamento de caligrafia (aliás, este
períodos; portanto, vários pontos finais. caderno não é para crianças, como mui-
6) Não rasurar a redação. A redação tos pensam, mas para quem possui letra
suja, borrada dará ao avaliador uma feia) ou a letra de forma.
primeira impressão negativa, que difi-
cilmente será apagada, por melhor que
se apresentem o conteúdo e a cor- II. Lado interno ⇒ correção
reção.
A maioria quase que absoluta dos Ao se compor uma redação, devem
vestibulares oferece oportunidade e lu- ser levadas em consideração as quali-
gar para se fazer a redação, preliminar- dades básicas que a habitam e a distin-
mente, no rascunho. Assim sendo, a ra- guem das redações normais. No vesti-
sura na versão definitiva não pode ser bular, o número de redações ascende
explicada nem perdoada; ou o aluno não aos milhares, e são estas qualidades que
fez rascunho (e isso é imperdoável), ou vão fazer com que algumas poucas se
o fez, mas não aprendeu ainda nem a diferenciem da maioria. São, exatamen-
fazer o primário trabalho de cópia. te, estas as qualidades da redação:
— 23 —

}
1) correção Há erros, no entanto, que pesam
mais na avaliação de uma redação. Há
2) clareza
aqueles que deixam o avaliador de tal
3) concisão Forma + forma indisposto que...

Conteúdo Quais são os piores erros?


4) originalidade
Vamos lá:
5) elegância
a) de concordância: Esse negócio de
6) coesão sujeito no plural e o verbo no singular
é dose! Portanto, muito cuidado! Pro-
Para redigirmos bem, é necessário
que aliemos à criatividade ou análise de cure o sujeito de cada verbo e veja se
um assunto a correção e adequação de há correspondência. Sobretudo tenha
cuidado quando, na oração que você
linguagem. Não basta elaborar uma idéia
importante. É preciso saber expressá-la escreveu, ocorre partícula «SE», ver-
com acerto e propriedade. O estilo na re- bos impessoais como «HAVER», «FA-
ZER» etc. E para errar concordância
dação é representado pela clareza, uni-
dade, ênfase e coerência que devemos nada melhor do que fazer períodos
imprimir aos recursos lingüísticos que tra- longos ou utilizar a ordem inversa.
Escreva idéias simples em períodos
duzam nossos pensamento. Estes aspec-
tos já foram referidos anteriormente em simples, portanto curtos.
nosso trabalho. Outros elementos são
b) de regência: Se você usar verbo
importantes na expressão escrita e dizem
de regência problemática (aqueles
respeito também ao estilo. São aqueles
que você estudou, como assistir, que-
que influem decisivamente na elaboração
rer etc.), cuide da regência. Se você
de uma linguagem escrita correta, ade-
não tem certeza da regência de um
quada e harmoniosa, alcançada não só
verbo, não o use. Substitua-o por si-
por meio de recursos (leitura, vocabulá-
nônimo. O problema mais freqüente
rio, interpretação de textos, conhecimen-
de regência em uma redação ou car-
to de tipos de composição), mas também
ta, ofício etc. diz respeito ao empre-
pelo conhecimento de fatos gramaticais
go das formas oblíquas «O» e «LHE».
que ordenam, disciplinam e sistema-
A norma é:
tizam nossa língua.
— «O» só para objeto direto (com
1. A correção verbo transitivo direto);

— «LHE» só para objeto indireto ou


É a ausência de erros. Consegue-
com valor de possessivo.
se com a observância das normas da
Gramática. Para que serve a Gramática?
CUIDADO:
— Exatamente para ensinar-nos a es-
crever corretamente! Você tem de pôr Nada de: «ele Ihe viu», «eu o quero
em prática aquelas regrinhas todas!... muito bem», «ele assistiu o filme».
— 24 —

c) de colocação: Se é verdade que este seus erros... bem, estes são de domínio
tópico não precisa chegar ao requin- público e de dívida ativa: custam caro!
te, também é verdade que não se tole-
rarão os exageros dos modernistas 2. A clareza
eufóricos. Assim:
Consiste na transmissão mais com-
— Nunca comece oração com oblí- preensível do pensamento. Quem es-
quo átono: Me levaram dali para um lu- creve (como quem fala) deve fazer-se
gar escuro e misterioso. Te deram o re- entendido da melhor maneira possível.
cado? etc.
A concisão concorre muito para a
— Lembre-se de que não, nunca, clareza. Para obter-se clareza, além da
que, porque, quando, enquanto, se, concisão, cumpre:
para que etc. exigem oblíquo antes do a) Para escrever claro é preciso pensar
verbo! claro. Antes de começar a escrever,
— Jamais coloque o oblíquo depois medite sobre o tema, reúna idéi-
de particípio: Vocês tinham levantado- as, coloque-as de modo coerente. Só
se mais cedo. comece a escrever depois que você
souber o que vai escrever!
— Depois de vírgula (ou qualquer
Daí a importância de um esquema
outra pontuação) não se deve colocar
e do rascunho.
pronome oblíquo (a não ser que sejam
vírgulas de encaixe, como por exemplo: b) Frases curtas: períodos longos fa-
Nunca, mesmo nos piores momentos, talmente resultam confusos.
lhe pedimos ajuda.)
c) Empregar a palavra precisa: só
d) de grafia: Erro ortográfico, sobretu- empregue palavras simples, de cujo
do em palavras comuns, de uso coti- significado você tem certeza. Não
diano, não se admite. Coisas do tipo queira esnobar porque o esnobado
de «ãncia, pêcego, talvêz, xegar». E poderá ser você!
escrever «exepicional» em vez de
d) Evitar a ambigüidade, que é a pos-
«excepcional» é sem comentários...
sibilidade de mais de um sentido em
Se você não sabe escrever uma uma oração.
palavra, EVITE-A! Ex.: «José mandou dizer a Pedro
Troque-a por sinônimo! E cuidado que só trataria daquele negócio no seu
escritório». No escritório de quem?
com os acentos gráficos!
No dele, José, ou no de Pedro? Isso
⇒ Lembre-se: em caso de dúvida, não
é ambigüidade.
use a palavra, coloque outra da qual você
tenha certeza da grafia. Afinal, na sua Clareza é qualidade; obscuridade,
redação, quem manda é você... mas, nos defeito.
— 25 —

3. A concisão Ex.: Tu tens toda a razão.

Consiste no expressar os aspec- Tens toda razão.


tos, fatos ou opiniões com o menor nú- Nós batemos três vezes.
mero de frases ou palavras.
Dentro não havia ninguém. Ba-
Portanto, empregam-se apenas as temos três vezes. Dentro, ninguém.
palavras que são indispensáveis à com-
preensão da mensagem. Em um texto, o Se não recorremos à elipse, muitas
que não é indispensável constitui proli- vezes, poderemos cair na redundân-
xidade. cia, que é a repetição inútil e erro imper-
doável.
Concisão é qualidade; prolixi-
dade, defeito. 4. A originalidade
Mais uma vez aparece aqui a ne- Consiste em apresentar os as-
cessidade do rascunho. Devemos pectos, fatos ou opiniões de modo pes-
escrever segundo o fluxo de idéias que soal, sem imitação de processos ou par-
nos vêm à mente, sem grandes preocu- ticularidades alheios. Na originalidade,
pações com a concisão. Pronto o ras- está a criatividade. Pode revelar-se tan-
cunho, devemos submetê-lo a rigoroso to nas idéias como nas expressões.
crivo analítico, cortando tudo aquilo que
não faça falta nem imprima vigor. Idéias originais são idéias pró-
prias?!...
Naturalmente, só se considera qua-
lidade aquilo que não prejudica as de- Mas quem é original? O que pensa-
mais qualidades. O excesso de conci- mos ou o que dizemos que outro antes
são redunda em obscuridade e desar- de nós não tenha dito ou pensado? Cer-
monia. tamente que a originalidade pertence aos
gênios.
No texto seguinte, o que vem des-
tacado pode sair. Em saindo, o texto fica De um estudante, não se pode exi-
conciso e ganha vigor. gir originalidade, exige-se, isto sim, que
fuja ao vulgar, ao lugar-comum, ao
«Em uma certa noite eu saí de mi- «clichê»: aquilo que todo mundo diz.
nha casa para dar um giro para espai-
recer. Fui até à casa de um amigo meu. Para isso o fundamental é escre-
Vejam vocês que eu não tinha nenhum vermos diferençados do linguajar co-
plano traçado, e algo sensacional, que mum. Escrever como se fala é come-
ter uma série de erros; daí que a ori-
eu não esperava, me aconteceu...»
ginalidade no vestibular fica, real-
De grande valia para obter-se a mente, por conta da correção. Será
concisão é a figura da ELIPSE: omissão original aquele que escrever cor-
de palavras facilmente subentendíveis. retamente .
— 26 —

5. A elegância a feitura da Redação, ou seja: Unidade,


Coerência e Ênfase.
Exigir elegância na redação de um
vestibulando já é pedir demais. Vamos Esta tomada de posição se concre-
deixar isso para os grandes escritores e tiza com o lançamento no papel dos tó-
para as meninas... Para os vestibulandos, picos de exposição, das idéias a se-
basta o cuidado com o visual da redação. rem desenvolvidas, por meio de expres-
A limpeza, os parágrafos, a letra bo- sões rápidas e abreviadamente in-
nita, isso é elegância em redação. dicativas, articuladas entre si.
O esquema auxilia e encaminha o
6. A coesão trabalho. É um ponto de referência, sem-
Um texto coeso é aquele em que as pre sujeito a reduções, interpolações e
alterações.
partes se relacionam entre si de modo
claro e adequado, criando um todo com Assim, do esquema passa-se ao
sentido, que pode ser captado pelo leitor. rascunho; deste, para a redação pro-
E como se faz um texto coeso? Usando- priamente dita, e esta, passada pelo cri-
se corretamente os instrumentos da lín- vo analítico, chega a uma forma definiti-
gua (usar artigos e pronomes que con- va, observadas as diversas qualidades
cordem com os nomes a que se referem, para a sua elaboração.
combinar os tempos verbais de modo lógi- Tendo o aluno o plano ou roteiro de
co etc.) e observando se há relações de idéias, poderá dar início a um rascunho,
sentido entre as frases, que unidas entre no qual vai expressar, por meio de frases
si transmitem de modo claro uma informa- completas e parágrafos bem distribuídos,
ção, uma opinião, uma mensagem. o assunto que se propõe desenvolver.
Enfrentará, então, problemas de for-
Montagem dos ma, porque o conteúdo, as idéias foram
selecionadas e ordenadas no esquema.
esquemas A disposição ordenada das idéias
em Introdução, Desenvolvimento e Con-
clusão é o último estágio do esquema.
Seleção e organização Obs.: Reveja o texto «A paz e a
das idéias na redação guerra» e seus comentários.
A seguir, damos como sugestão
Uma vez determinado o assunto so- um modelo de ESQUEMA. Pelo uso, deve-
bre o qual iremos escrever, é necessário rá ser modificado, adaptado, ampliado,
um momento de reflexão em torno dele e da atendendo, desta forma, ao estilo indivi-
disposição que daremos às idéias a serem dual de cada um, suas tendências, enfo-
utilizadas. Para isso, é necessário traçar de ques pessoais, abrangência: cada um
antemão um plano, ou seja, um esquema. deve possuir o seu próprio «modelo de
As qualidades essenciais desse pla- ESQUEMA», protótipo que deverá ser
no devem ser as mesmas utilizadas para conseguido a partir do treino e da prática.
— 27 —

Modelo de esquema

{ 1. O quê? Matéria tratada ⇒ assunto ⇒

{
INTROD.
tema ⇒ ponto de vista ⇒ TESE.

2. Por quê? Razão — objetivo.


3. Para quê? Objetivo — finalidade.
4. Causas.
5. Conseqüências.
6. Circunstâncias: como? de que maneira?
DESENV.
7. Analogias = comparações.
8. Prós: argumentos a favor.
9. Contras: argumentos contrários.
10. Análise: situação atual.
11. Síntese.

{
12. Observação: perspectivas.
CONCL. 13. Soluções.
14. Conclusão.

3. Ao fim dessa pesquisa, terá muitas


Dissertação: outras idéias. Poderá anotá-las.
como proceder? 4. Deve delimitar bem seu objetivo: qual
é a tese ou o ponto de vista que
Não há uma receita (ou um método, quer expor ou defender? De que ân-
ou uma técnica) que seja recurso infalí- gulo, de que perspectiva quer tratar o
vel na produção de textos dissertativos. assunto? Respondendo a essas per-
Apresentamos, então, sugestões de ati- guntas, estará definindo o tema de seu
vidades que podem ajudar na criação texto. Pode resumir o que pretende:
de mensagens dissertativas:
O que quero dizer sobre o menor
Imagine um vestibulando que tenha
abandonado pode ser resumido na frase:
de fazer um texto sobre o menor aban-
donado. Como ele pode comportar-se? ..............................................................
1. Anota suas idéias sobre o assunto. ..............................................................
2. Se suas idéias são poucas, pode pes-
..............................................................
quisar sobre o assunto: buscar dados
estatísticos, testemunhos, definições etc. ..............................................................
— 28 —

Ele tem uma lista de idéias anota- b. Dados históricos da televisão brasi-
das: destas idéias pode destacar a(s) leira.
mais importante(s), isto é, aquelas que
estão estreitamente ligadas ao tema que Desenvolvimento:
escolheu. Serão as idéias centrais (ou a. Os programas de televisão e o patro-
nucleares, ou básicas). Outras idéias que cínio comercial.
ele tenha sobre o assunto: verificará se
pode valer-se delas para justificar, ilus- b. A televisão educativa.
trar, comprovar, realçar a(s) idéia(s) bási-
ca(s). Serão as idéias de apoio (ou se- c. A seleção dos programas e a aceita-
cundárias, ou delimitadoras, ou su- ção popular.
bordinadas). Fazendo isso, ele está or- d. O nível dos programas e o nível cul-
ganizando o conteúdo de seu texto. Ele tural do povo brasileiro.
deve lembrar-se de que pode valer-se
de muitos recursos, no trabalho de orga- Conclusão:
nização de seu texto: analogia, oposição
a. A situação atual da televisão brasi-
ou contraste, testemunhos, definições,
leira.
ilustrações, decomposição etc. Ao esco-
lher algum(ns) desse(s) recurso(s), cer-
2. Título: «Educação e Modernidade»
tamente terá novas idéias.
O vestibulando dispõe então de um Introdução:
conteúdo. Esse conteúdo busca uma ex-
a. Modernização da Educação: adapta-
pressão, para tornar-se texto. Ele deve-
ção do homem ao mundo contempo-
rá estudar agora um plano para seu tra-
râneo.
balho. Qual será a disposição de suas
idéias nesse plano? Desenvolvimento:
Um texto dissertativo — o vestibulan-
do sabe — pode ter um plano definido em a. Educação X estruturas arcaicas e tra-
três grandes linhas: dicionais.

• INTRODUÇÃO b. Tecnologia e progresso.


• DESENVOLVIMENTO c. A participação do governo nas pro-
• CONCLUSÃO moções e reformas educacionais.
d. O despertar das nações subdesen-
Exemplos de esquemas volvidas para o progresso pela edu-
cação.
1. Título: «A Televisão no Brasil» Conclusão:
Introdução:
a. «A vontade prova-se na ação» (José
a. A importância da televisão na forma- Ingenieros) — é preciso a consciên-
ção de uma mentalidade nacional. cia da renovação cultural.
— 29 —

b. É preciso reformar a mentalidade O ADVOGADO


avessa às mudanças.
Aquelas águas me-
3. Título: «Áreas Verdes» ritíssimas se espraiavam
delituosamente pelas
Introdução:
margens. O inocente la-
a. O apelo do mundo moderno à preser- go defendia-se assim,
vação das áreas verdes. legitimamente, da flores-
ta, que à revelia, desem-
b. O porquê do desaparecimento das bargava suas árvores
áreas verdes; crescimento popu- pelos arredores sem nenhuma apelação.
lacional, grandes núcleos habita- No alto, as montanhas, com suas togas
cionais, escritórios, imobiliárias, edi- de neve revestindo o cimo.
fícios por toda a parte.
O MÉDICO
Desenvolvimento:
Aquele lago me dei-
a. A poluição do ar.
xou um diagnóstico. Sua
b. Os problemas de saúde. beleza era selvagem
como uma crise aguda e
c. Tensão e neurose: falta espaço, fal- suas águas viviam per-
ta ar, falta beleza. manentemente em estado
d. Desaparecimento de praças e par- comatoso. O vento, como
ques: crianças em apartamentos. um bisturi, cortava a su-
perfície das águas escarlatinadas pelo
e. O protesto: campanhas, acampamen- mercúrio que cobria todo o céu no pôr-
tos: a «volta ao natural». do-sol.
Conclusão: O BUROCRATA
a. A humanidade corrigindo seus pró- Prezado Sr.,
prios erros: a tentativa de preserva- quando olhei para
ção e recriação do que está sendo o céu, vi nuvens
destruído. que seguiam ane-
xas atenciosamen-
te por sobre o mon-
Descontraia te abaixo-assinala-
do, que, ciente de
sua participação
na paisagem, pedia deferimento res-
O estilo de cada um peitosamente para a floresta, que nes-
tes termos se estendia por todo o vale,
Várias pessoas descrevendo um refletindo-se nas respeitosas e desde
lago, segundo suas profissões: já agradecidas águas do lago.
— 30 —

O «HIPPIE» * Não se preocupe em demonstrar cul-


tura e conhecimento excessivos. As
Entende. . . era um
coisas realmente boas e valiosas são
negócio legal. Aquele simples. Os grandes sábios são sim-
lago muito na sua, cur- ples. As «grandes notas» vêm de re-
tindo um vale cheio de dações simples.
ervas, sacou? O ven-
to transava pela cuca * Não queira fazer experimentalismos
das árvores no bara- lingüísticos. Não tente neologismos lé-
tino mais legal, mais xicos ou sintáticos.
chuchu beleza da paróquia. Use apenas palavras comuns. Sem
cair no lugar-comum.
O INTELECTUAL
Só recorra a um termo menos co-
Não sei se por
nhecido se ele se ajustar melhor no tex-
um fenômeno de
to do que um termo usual.
aculturação, ou se
por um processo de 2. O palavrão.
amadurecimento,
Nunca!
aquele lago se inse-
ria perfeitamente no 3. Criticar a Universidade, as autori-
contexto da nature- dades, as instituições é proibido.
za circundante e
Esse negócio de «meter a lenha» não
marginal. Achei muito válida a inserção dá pontos.
das árvores, dando uma conotação exis-
tencialista ao pluralismo vegetal que ali Faça a crítica «construtiva»: mos-
estava. tre os erros e aponte soluções.
4. Ser negativista.

Mandamentos de Em tudo há um lado bom. Procure


descobri-lo. Aponte alternativas, saídas.
uma boa redação Sugira métodos e maneiras de solu-
cionar as dificuldades e as chagas so-
ciais. A maioria dos temas de vestibula-
Ao redigir, é importantíssimo que o res e concursos versam sobre «pro-
candidato não cometa nenhum destes blemas sociais». Eles querem saber
pecados transcritos a seguir, sob pena o nosso posicionamento, o que pensa-
de padecer, sem indulgências, o inferno mos, o que achamos, se conhecemos.
de mais um ano de espera! A nossa participação é efetivada,
exatamente, por meio de nossas
1. Esnobar.
prováveis soluções. É a forma de
Mostrar que é «o bom». Complicar. que dispomos para participar do
Escrever difícil. contexto social.
— 31 —

5. Evite definições. 15. Eco.


Elas são perigosas. É a rima na prosa. Só os artistas
Dado um tema como «A Liberda- têm direito de recorrer a ela, que pode
de», a maioria tende a sair definindo: fornecer belos efeitos.

A Liberdade é... Exemplo de eco (defeito):

A Liberdade é... Margarida levou toda a vida para


atravessar a avenida.
A Liberdade é..., monotonamente,
maçantemente, insuportavelmente, de O Maneco entrou no boteco e
uma pobreza de espírito que revoltaria bebeu uns trecos.
até São Francisco. 16. A gíria:
É sempre melhor criar uma história, Via de regra não! A menos que se
relatar um episódio, dentro da qual e no trate de diálogo, e entre como transcri-
decorrer do qual apareça o tema. ção da linguagem de nível coloquial-
6. O ponto final (.). popular. Fora daí, o uso da gíria será
interpretado como pobreza vocabular.
Não o esqueça. Denota desleixo. É negativo.
Depõe contra você e ... é erro!
17. Não abrevie palavras.
7. O pingo no i.
Escreva-as todas por extenso, a
É preciso pôr os pingos nos is!...
menos que se trate de abreviações con-
8. Cortar o t. sagradas como por exemplo o «etc.».
9. A cedilha no ç. 18. Evite repetir palavras.
10. A inicial maiúscula de período. Use sinônimos. Há repetições que
11. As maiúsculas nos títulos. enfatizam. Mas fora o caso intencional
da ênfase, repetir revela pobreza
12. As iniciais de nomes próprios, vocabular ou desleixo.
maiúsculas.
Exemplo de repetição enfática:
13. Erro gráfico até no título, é ter-
rível! «Vamos, não chores...

14. Estrangeirismo. A infância está perdida.

O emprego de vocábulo que não A mocidade está perdida.


pertença ao nosso idioma só pode ser Mas a vida não se perdeu».
feito quando não haja, em português, pa- (Carlos Drummond de Andrade, A Rosa do Povo)
lavra de sentido correspondente. Termo
técnico, por exemplo. Se usada, a pala- 19. Não escreva demais!
vra deve vir entre aspas («») ou grifada. No caso de não limitarem o número
Ex.: «Know-how». de linhas, não vá além de vinte e cinco.
— 32 —

Entendo que o ideal para uma Redação 24. Pensamento novo, período novo.
são vinte linhas.
É comum, entre os que iniciam, mis-
Também não escreva «de menos». turar no mesmo período idéias que não
Dado um limite mínimo (20, por exemplo), se completam. Tome por norma: idéia
não pare nesta linha. Vá adiante uma ou nova, período novo. Veja, entretanto, que
duas linhas, pelo menos. isso nem sempre significa parágrafo
novo!
20. Não «encha lingüiça»!
25. Oração subordinada sem prin-
À falta de idéias, não fique repetin- cipal — não diz nada! Não pode!
do a mesma coisa com palavras dife-
rentes! Isso é redundância, é prolixida- Se há subordinada, tem de haver
de, é terrível defeito! É preferível pou- principal. Ou você já viu comandado sem
cas linhas bem redigidas a muitas mal comandante? Veja se entende alguma
escritas. Faça um trabalho honesto! coisa:
— Quando Maria chegou porque
21. Não aumente o tamanho da le-
tinha visto um homem que ela não co-
tra para dar impressão de que
nhecia.
escreveu bastante.
— A menina que estava chorando
Isso indispõe o avaliador. Letra es-
quando a chamaram.
tilo «bicho-de-pé», só se vê a linha (de
tão pequena), não pode. O avaliador não — Quando chove, se estamos sem
vai colocar lente de aumento especial- agasalho, resfriamo-nos.
mente para corrigir sua redação.
— O embrulho que chutou na cal-
22. Não se desculpe dizendo que çada.
não escreveu mais porque o
Deu para entender? Por que não
tempo foi pouco. deu?
Ninguém vai acreditar!... E agora:
Essa conversa de que é a primeira — Quando Maria chegou, porque
redação, então... nem se fala. tinha visto um homem que ela não co-
23. Não cometa CACOFONIA, que é a nhecia, desandou a chorar.
palavra de sentido obsceno, chulo — A menina, que estava chorando,
ou ridículo, formada pela junção de quando a chamaram, foi eleita rainha.
sílabas entre as palavras:
— Quando chove, se estamos sem
Aqui ela se disputa todos os dias... agasalho, resfriamo-nos.
A boca dela...
— O embrulho que chutou na cal-
Fé demais... çada furou-lhe o pé.
— 33 —

Especialmente, tome cuidado com 3. Uma cena descritiva. Exemplo:


os períodos muito longos: resultam
O som invade a cidade. Buzinas
confusos e são propícios a períodos
estridentes atordoam os passantes.
incompletos; os verbos nas formas
Edifícios altíssimos cobrem os céus cin-
nominais — gerúndio, particípio, in-
zentos da grande metrópole. Uma fuma-
finito — equivalem a subordinadas; por-
ça densa e ameaçadora empresta a São
tanto, deve haver uma principal.
Paulo o aspecto de fotografias antigas
sombreadas pela cor do tempo. É a pai-

O início da sagem tristonha da poluição.


4. Uma pergunta. Exemplo:
redação Será a chamada música popular
brasileira verdadeiramente popular e
Começar a redação, para alguns verdadeiramente brasileira?
alunos, é uma tarefa ingrata e, às ve-
5. Um dado geográfico precisando
zes, irrealizável, determinando desta
um fato. Exemplo:
forma o seu insucesso. Há alunos que
sentem verdadeiro pavor como «como Em Criciúma, no sul de Santa Cata-
é que eu começo». Depois de tudo o rina, oito mil homens vivem uma aventu-
que foi visto, parece-nos que isto deve ra todos os dias. A aventura do carvão.
deixar de ser problema: as orientações São os mineiros, homens que quase
e os treinamentos são elementos desi- nunca vêem o sol.
nibidores suficientes. E, para que não
6. Dados estatísticos. Exemplo:
persistam dúvidas (e como incentivo ao
trabalho), algumas sugestões para «INÍ- Naquela cidade de... habitantes,
CIOS», sobre como «DESENVOLVER» e cerca de ... freqüentam as salas esco-
«CONCLUIR» um assunto. lares, o que atesta a preocupação das
autoridades com o nível de instrução de
I. Você pode iniciar um assunto utili- seus moradores.
zando os seguintes recursos:
7. Narrativa de um ato. Exemplo:
1. Dados retrospectivos. Exemplo:
Em agosto de 1976, faleceu o ex-
As primeiras manifestações de co- presidente Juscelino Kubitschek de Oli-
municação humana, nas eras mais pri- veira, em cuja gestão foi construída a
mitivas, foram traduzidas por sons que monumental capital brasileira.
expressavam sentimentos de dor, ale-
gria ou espanto. Mais tarde... 8. O recurso da linguagem figura-
da. Exemplo:
2. Uma citação. Exemplo:
O jornaleiro, filho das madrugadas
O assunto do (sobre) ... pode ser frias do Sul, quebra o gelo das manhãs
analisado (ou discutido) a partir das pala- gaúchas com sua voz cortante e quei-
vras lúcidas de ... quando afirma que «...» xosa como o minuano nos pampas.
— 34 —

9. Uma frase declarativa. Exemplo: Em se tratando de um assunto po-


lêmico, o aluno deve examinar os prós
O artista contemporâneo, diante de
e os contras que o envolvem, concluin-
um mundo fundamentalmente complexo
do com uma idéia que expresse sua
e agitado, tem por missão traduzir o mais
posição em torno da problemática ana-
fielmente possível essa realidade.
lisada.
10. Com idéias contrastantes. Exem-
III. A conclusão de uma redação deve
plo:
ser, em primeiro lugar, enfática. Um
Enquanto os grandes salões de alta bom início e uma conclusão bem feita
costura das grandes capitais exibem emprestam brilho e interesse ao tra-
coleções de vestimentas suntuosas, os balho. A conclusão pode conter uma
marginais da sociedade morrem de frio idéia pitoresca, humorística, surpre-
por falta de agasalho. endente, taxativa, sugestiva. O assun-
to nunca pode ser abandonado em
⇒ O importante é que na INTRODUÇÃO
meio à plena discussão dos aspectos
de uma redação dissertativa apare-
que a ele se ligam. Um meio adequado
ça o tema, o ponto de vista, a tese,
de bem concluir é aquele em que sin-
alguma referência, enfim, ao assunto
tetizamos o assunto nos termos em
da redação; daí que nada obsta que,
que foi proposto ou questionado na
na introdução, apareçam as palavras
etapa introdutória.
que compõem o tema/título.

Portanto, a maneira mais simples Para treinamento, use o modelo de


(de se vencer o tormento) de iniciar uma esquema sugerido há pouco.
redação, e de que todos dispõem, é fa-
lando sobre ela mesma, sobre o tema
dado, o assunto pedido, o título sugerido. Pontos a ponderar
Não há que se inventar nada. Ele já está
lá, à nossa disposição. Desta forma, não Há certas partes de um navio que,
há por temê-lo, mas apreciá-lo pelas van- tomadas isoladamente, afundariam. A
tagens que pode nos oferecer. máquina afundaria; a hélice também.
Mas, quando as partes de um navio são
II. Para desenvolver o assunto de uma colocadas em conjunto, flutuam.
redação, podemos utilizar os seguin-
tes recursos: Assim acontece com as nossas ex-
periências em redação. Algumas têm sido
a) citações trágicas; outras, felizes. Mas todas
b) dados estatísticos reunidas compõem uma embarcação
c) justificativas que está rumando para um destino de-
finido, certo, e isso nos faz sentir re-
d) exemplos confortados, otimistas, confiantes para
e) comparações prosseguir e persistir.

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