Ética profissional e Cidadania
Senso Moral e Consciência Moral
Juízo de fato e Juízo de valor
Ética e Moral
Caso Cassação Psicóloga do DF
Professora: Ariane Rocha Felício de Oliveira
E-mail:
[email protected]O que sentimos ao olhar essas imagens?
E essas?
Senso moral
Senso moral: sentimentos e algumas ações
Pessoas passando fome (piedade, às vezes revolta, indignação)
– solidariedade: doações a ONGs e campanhas
Chacinas e assassinatos (crimes violentos): horror, cólera
(medo também em alguns casos)
Às vezes levados pelo impulso, raiva, vaidade, orgulho etc.
temos atitudes que nos entristecem e envergonham depois
Admiração e emoção pela honestidade, altruísmo de alguém
De acordo com valores morais: bem ou mal, certo ou errado,
alegria ou sofrimento etc.
(às vezes tem influência das leis – mas não é a regra)
Agora vejam essas imagens...
Senso moral
O senso moral (também a consciência moral que veremos adiante)
está relacionado a valores
Valores: depende da cultura – do grupo que se faz parte – da
geração etc.
E se a adolescente grávida estivesse nos anos de 1920, por
exemplo? Chocaria?
A moral é explicitamente relativa, cada sociedade em momentos
históricos específicos elabora sua moral predominante de forma
diferente. A moral “significa os hábitos de conduta e de
comportamento instituídos por uma sociedade em condições
históricas determinadas” (CHAUI, 2003, p.307).
LUIZ, 2018, p.243-244
“Ademais, aquilo que era proibido numa época pode não ser em outra e vice-
versa. Desta forma, aquele que não se submete aos valores morais
predominantes da sociedade em que se vive é tido como imoral . Assim, para a
nossa sociedade é imoral a prostituta, ladrão, desonesto, o assassino etc.
Entretanto, as coisas são mais complicadas, senão vejamos.
Não seria imoral àquele que vive de dinheiro aplicado e de exploração do trabalho?
Não é imoral o homofóbico? Não é imoral o preconceito contra pobre? E aquele
que critica a moral predominante, não é imoral?. Enfim, o parâmetro que temos
para dizer se algo é moral ou imoral é, quase sempre, a moral predominante,
que censura, reprime e penaliza tudo que não estiver em sintonia com as
instituições e, por conseguinte, com as classes dominantes da sociedade. Nesse
sentido, não há como se falar de moral de forma isolada, ela está ligada,
fundamentalmente, à concepção de mundo das classes dominantes.”
MORAL
Conduzem a maioria das nossas ações, comportamentos,
sentimentos no cotidiano
São “internalizados” (subjetivados) no transcorrer do processo de
socialização: família, instituições educativas, igrejas etc.
“Além da família, na sociedade atual, a escola, as instituições
religiosas, os meios de comunicação social, juntamente com estilos
de vida, decorrentes da base material da sociedade, contribuem no
complexo processo de produção e reprodução dos valores morais.”
(LUIZ, 2018, p.244).
Valores morais (ou virtudes éticas): são dados pela cultura,
construímos historicamente, apesar de universais
Naturalização dos valores morais
Vamos ouvir um caso...
Odara é uma estudante universitária de 22 anos, que espera há mais de oito
meses na fila do Sistema Único de Saúde (SUS) por uma cirurgia no útero,
devido a uma malformação. Ela sofre com muitas dores e desenvolveu
endometriose grave, intensificando as cólicas. Os custos iniciais do tratamento
na rede particular é algo em torno de R$ 5.500,00. A estudante criou uma
vaquinha na internet para tentar levantar o dinheiro para a cirurgia, mas ainda
não conseguiu nem a metade do valor e teme não conseguir e permanecer
sentindo dores, além de correr o risco de comprometer até mesmo sua
fertilidade.
Certo dia, Odara estava no ônibus indo para um curso que está fazendo quando
se depara com uma carteira no assento próximo a ela. Como o transporte
coletivo não estava muito cheio, a estudante presume que a carteira pertencia a
uma senhora que havia descido há pouco tempo. Ao abrir a carteira, Odara
não encontra nenhum documento com foto para confirmar suas suspeitas,
apenas um cartão de crédito e a quantia de R$ 5.200,00 em dinheiro.
O que você faria?
O que acha que fez Odara?
Justifique suas escolhas
Não há resposta certa, esse é apenas um debate sobre os assuntos da aula.
Consciência moral
Consciência moral: processo de decisão, de reflexão
exige que a pessoa se responsabilize pelos seus atos
justifique para si mesmo (e também para o outro) as razões
das decisões
Raiz: bem x mal
Senso moral e consciência moral
Valores morais subentendidos
Sentimentos provocados pelos valores
Sobre o caso que conversamos...
Sobre o caso que conversamos...
CHAUÍ, 2000, p.431
“Os sentimentos e as ações, nascidos de uma opção
entre o bom e o mau ou entre o bem e o mal,
também estão referidos a algo mais profundo e
subentendido: nosso desejo de afastar a dor e o
sofrimento e de alcançar a felicidade, seja por
ficarmos contentes conosco mesmos, seja por
recebermos a aprovação dos outros.”
CHAUÍ, 2000, p.431
“O senso e a consciência
moral dizem respeito a
valores, sentimentos,
intenções, decisões e ações
referidos ao bem e ao mal
e ao desejo de felicidade.
Dizem respeito às relações
que mantemos com os
outros e, portanto, nascem
e existem como parte de
nossa vida intersubjetiva.”
Juízo de fato x juízo de valor
Juízo de fato: um acontecimento incontestável
Ex: “Está chovendo.”
Juízo de valor: interpreta e avalia (acontecimentos, pessoas,
ações, sentimentos etc.)
Ex: “A chuva é boa para abençoar a alma.
“Juízos de fato são aqueles que dizem o que as coisas são, como
são e por que são. Em nossa vida cotidiana, mas também na
metafísica e nas ciências, os juízos de fato estão presentes.
Diferentemente deles, os juízos de valor - avaliações sobre
coisas, pessoas e situações - são proferidos na moral, nas artes,
na política, na religião” (CHAUÍ, 2000, p. 431).
Juízo de valor
“Avaliam coisas, pessoas, ações, experiências,
acontecimentos, sentimentos, estados de espírito, intenções e
decisões como bons ou maus, desejáveis ou indesejáveis.”
(CHAUÍ, 2000, p. 431).
Juízos éticos de valor são normativos: determinam o “deve
ser” dos sentimentos, atos e comportamentos – enunciam
obrigações e avaliam intenções e ações pelo critério do
correto e incorreto
CHAUÍ, 2000, p. 431
“Os juízos éticos de valor nos dizem o que são o bem, o
mal, a felicidade. Os juízos éticos normativos nos dizem
que sentimentos, intenções, atos e comportamentos
devemos ter ou fazer para alcançarmos o bem e a
felicidade. Enunciam também que atos, sentimentos,
intenções e comportamentos são condenáveis ou
incorretos do ponto de vista moral.”
Para entender as relações
Juízo de fato – estruturas e processos que existem em si e
por si, independentemente de nós (chuva – condição
meteorológica)
Juízo de valor vem dos valores morais cultura
Construído historicamente, apesar de universais
CHAUÍ, 2000, p. 432
“Frequentemente, não notamos a origem cultural dos
valores éticos, do senso moral e da consciência moral,
porque somos educados (cultivados) para eles e neles,
como se fossem naturais ou fáticos, existentes em si e
por si mesmos. Para garantir a manutenção dos padrões
morais através do tempo e sua continuidade de geração a
geração, as sociedades tendem a naturalizá-los. A
naturalização da existência moral esconde, portanto, o
mais importante da ética: o fato de ela ser criação
histórico-cultural.”
Ética
Existem algumas definições
Ética (Chauí): filosofia da moral ou ciência da moral – reflexão
que discute, problematiza e interpreta o significado dos valores
morais.
Análise reflexiva sobre a moral: pensar fundamentos, discutir,
problematizar, contextualizar
Ética (Luiz): conjunto de princípios construídos a partir da
reflexão sobre os valores morais que orientam nossas ações e
comportamentos no sentido de melhorar nossa vivência e
convivência em sociedade, e nossa relação com o meio-ambiente.
Conjunto de valores e princípios que regem a nossa conduta
Ética
Para alguns autores: a ética trata da vida pública, de
princípios fundamentais – ética política, ética profissional etc.
– sendo a moral o comportamento privado.
Constituintes do campo ético
Conduta ética Agente consciente – “aquele que conhece a diferença
entre bem e mal, certo e errado, permitido e proibido, virtude e vício”
(CHAUÍ, p. 433).
Consciência e responsabilidade são condições indispensáveis da vida
ética.
O sujeito ético – a pessoa – só pode existir se:
ser consciente de si e dos outros, isto é, ser capaz de reflexão e de reconhecer a existência dos
outros como sujeitos éticos iguais a ele;
ser dotado de vontade, isto é, de capacidade para controlar e orientar desejos, impulsos,
tendências, sentimentos (para que estejam em conformidade com a consciência) e de capacidade
para deliberar e decidir entre várias alternativas possíveis;
ser responsável, isto é, reconhecer-se como autor da ação, avaliar os efeitos e consequências dela
sobre si e sobre os outros, assumi-la bem como às suas consequências, respondendo por elas;
ser livre, isto é, ser capaz de oferecer-se como causa interna de seus sentimentos, atitudes e
ações, por não estar submetido a poderes externos que o forcem e o constranjam a sentir, a
querer e a fazer alguma coisa. A liberdade não é tanto o poder para escolher entre vários
possíveis, mas o poder para autodeterminar-se, dando a si mesmo as regras de conduta.
Ética profissional
Princípios fundamentais que orientam a profissão
Princípios básicos para a atuação e o comportamento dos
profissionais em exercício
Ética ≠ Lei
Lei tem como base alguns princípios éticos, mas a ética não é
uma normativa como a lei
Códigos de ética profissionais: direcionamentos e princípios
fundamentais – o descumprimento (infrações éticas) pode
gerar sanções, mas não configura como crime
REFERÊNCIAS
CHAUÍ, M. A existência da ética. In: CHAUÍ, M. Convite à
filosofia. São Paulo: Ática, 2000. p. 429-435.
LUIZ, L. T. A moral e a ética: considerações conceituais e
implicações socioculturais. Revista Humanidades e
Inovação, v. 5, nº 11, 2018.
Caso recente de infração para pensar...
Em 2009 já havia sido punida por semelhante infração
(censura pública)
Denúncia: Ministério Público Federal; ABGLT e duas
pessoas
Psicóloga “cura gay”
Infrações:
Artigo 1º alíneas “a” e “c”
Psicóloga “cura gay”
Artigo 2º alíneas “a”, “b”, “c”, “f ”
Psicóloga “cura gay”
Artigo 19
Artigo 20
Psicóloga “cura gay”
Ato de cassação