0 notas0% acharam este documento útil (0 voto) 376 visualizações50 páginasCORRÊA, Roberto Lobato. O Espaço Urbano
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RancroS
Roberto Lobato
Corréa,
O ESPACO
URBANO
O.eeeee
pesquisadores das areas de ciéncias sociais)
planejamento, politica. Interessa também 08
Capitalistes e proprietérios de terra e 05
ativistes das associacbes de moradores. Esse
interesse advém do fato de a cidade
concentrer, cada vez mais, 2 maioria da
opulagZo, tornando-se assim condicso
ecessaria pare a reproducso do capital e
os grupos socials. & também um campo de
lutes sociis.
(0 espaco & analisado, neste volume, 2
partir da aco dos agentes socials que o
produzem e dos processos e formas
espaciais: centrelizecdo, descentralizacdo,
coesto, segregacao e sua dinamica, ©
inercia
Roberto Lobato Corréa 6 geégrafo do
IBGE e professor da Universidade Federal do”
Rio de Janeiro. Publicou, na série Prinefpios,
Regido e organizagao espacial ¢ A rede
urbana.
Areas deinteresse do-volume z
=
eer
ee
wy
PI eaCCoesto ¢ as areas especializadas —___
Segregasio ¢ as areas sociais
Segregaclo ¢ classes socials
Quem produz a segregacio?
significado da segregasio
(Os padres espacials
Dindmica espacial da segregardo
Mobilidade e segregasao
© padrao latino-americano
Inercia e as reas cristalizadas
5. Considerag6es finais
6. Vocabulario critico
7. Bibliogratia comentada
1
Introducao
presente estudo aborda a cidade, Trata-se de um te
ima que & extremamente caro aos diversos estudiosos da so-
ciedade, historiadores, socilogos, economistas, antropélo-
0s, urbanistas e gederafos, entre outros. A temética inte-
ressa também aos planejadores ¢ politicos e aqueles que de-
‘ém alguma fraglo do capital, seja ele financeiro, industrial,
comercial fundidrio ou imobilidrio. Interessa a todos 0s ha-
bitantes da cidade, entre eles os ativistas das associacées
ae bairto.
(O interesse em conhecer e atuar sobre a cidade deriva
do fato de ser ela o lugar onde vive parcele crescente da po-
plagdo. Mas também de ser 0 jugar onde os investimentos
dde capital s80 maiores, seja em atividades localizadas na ci-
‘dade, sej no proprio urbano, na produpdo da cidade. E
mais: de ser o,principal lugar dos conflites sociais.
(© gedgrafo considera a cidade, de um lado, como
‘um ou varios miicleos localizados em uma regido ov pais;
neste estudo consideram-se mapas de pequena escala. De
‘outro, a cidade considerada como espago urbano, senéo
analisada a partir de mapas de grande escala. Estas duas
abordagens nao séo mutuamente excludentes. Nem do am-Diregdo
Benjamin abeala Juni
samira Yousse! Camp
Proparagie de texto
Sérgio Reberto Torres
digo de arte (miolo)
ton Takes
owing Beene Corte
Bosrguce
as
‘Ay Normanha
GIB apotone Tae Bente
pr 4S
£
Sumario
A.Introduggo
2.0 que 60 espago urbano?__
8. Quem produz 0 espace urbano?__ an
Os proprietérios dos meios de produgio __ 13,
s proprietérios fundiarios _"_" 16
0s promotores imobilirios 19
0 Estado 4
Os grupos sociais excluides 29
Um exemplo concreto: o bairro de Copacabana 31
4, Processos e formas espaciais _______ 36
Centralizagao e Area Central_______ 37
A génese da Area Central 38
niicleo central ¢ @ zona petiférica do centro — 40
Descentralizacdo e os ntcleos secundérios 45
© significado da descentralizagao 47
A seletividade da descentralizacio °
Os niicieos secundérios: 0 comércio ¢ servigos — 50
(Os micleos secundérios: 3bito exclusive dos gedgrafos, apesar das diferencas de abor-
ddagem em relagdo aos demais estudiosos.
No presente estudo consideramos a cidade como espa
50 urbano. Sua andlise geogrifica ¢ feita de diferentes mo-
Gos, de acordo com as diversas correntes do pensamento
seogréfico. Assim, por exemplo, o espago urbano pode ser
analisado como um conjunto de poatos, inhas e éreas, Po-
de ser abordado a partir da percepeio que seus habitances
ou alguns de seus segmentos ttm dele ¢ de suas partes. Ou-
‘10 modo possivel de analise considera-o como forma espa-
cial em suas conexSes com estrutura social, processos e fun-
ses urbanos. Por outro lado ainda, 0 espaco urbano, co-
‘mo qualquer outro objeto social, pode ser abordado segua-
do um paradigma de consenso ou de conflito.
Tnieiamos este trabalho procurando definir © espaco
urbano. Trata-se de construir 0 nosso objeto de estudo ¢ in-
dicar como serd a sua abordagem. Em segundo lugar consi.
eraremos os agentes sociais que produzem 0 espaco da ci-
Gade. A maior parte deste trabalho focaliza os procestot ¢
as formas espaciais, As considerapdes finais privilegia:
algumas proposigdes de pesquisa sobre o espaco das cida-
es brasileiras, esperando que suscitem numerosos estudos
ue contribuam para uma melhor compreensio do urbano
©, por conseguinte, da sociedade brasileira,
2
O queéo
espaco urbano?
© etparo de wma grande cidade caphalista consul
se, em um primelomonsent de sua apreeasto, no conn:
to decdiferenes uses da tera justapostos entre is 0s
tetnem ay, como o ceo dacidade, oa de concent)
Gio de atvideder comercias, de servigcs ode geao, ares
industriais, areas residenciais distintas em termos de forma fiewh
t coneido soci, de lzer ene outran, auels de reser
va para fra expansdo. Ete eomiplexoconjanto de uses
Ga terre 6, em reidade, a organiza espacial da cidade
of, simplesmente, 0 esparo Urbano, que aparsee asim ¢0-
mo espazo fragmenta,
Mas o espagoifbano € simutaneamente fragmentado
eG cada una de sas pares mane reaps cope
fiab Comrades, lade que de eentdade rath verve.”
Eas raardes manifetam-s emplrcamente através de
os de vetclos ede pestoasasodaos 8 opeagbes deca
fae desarga de mercadors, aoe desiocamenos quota
nos entre as deas rsdenciais eos diverse locals de abalho,
20 dslocamentos menos Treqdentes para compas no cen
Ga cidade ou nas lojs do bai, h vistas aos parents ©
amigos, A Ides a0 cinema, cl relgiowo, plac pargu@
wmliorell cidade. Este & © quarto momento de sua 3
A acticulagdo manifestase também de modo menos vsi-
vel. No capitalismo, manifesta-se através das relasdes espa-
ciais envolvendo a circulacdo de decisbes ¢ investimentos de
capital, maiswvalia, saarios, juros, rendas, envolvendo ain-
da a pratica do poder e da Ideologia. Estas retacdes espaciais
silo de natureea social, tendo como matriz a propria socieda-
de de clases e seus provessos. AS relagbes espaciaisintegram,
ainda que diferentemente, as diversas partes da cidade, unin.
do-as em um conjuato articulado cujo micleo de artculagac
tem sido, tradicionalmente, o centro da cidade. Este é um se-
sgundo momento de apreensdo do que é0 espaco urbano: fas:
mentado e articulade
‘Ao se constatar que g espago urbano é simultaneamen-
te fragmentado ¢ articulado, ¢ que esta divisio aniculada é
a expressio espacial de processos socials, introduz-se um ter.
cxiro momento de apreensio do espago urbano: é unt rele
sociedade. Assim, 0 espaco da cidade capitalista¢ for
Temente dividido am ateas residenciais segregadas, refletin
do a complena estrutura social em classes: a cidade medieval,
por sua vez, apresentava uma organizacdo espacial influencia-
da pelas guildas, as corporacdes dos diversos artesios. Mas
© espaco urbano é um reflexo tanto de ages que se realizam
‘no preseate como também daquelas que se realizaram no pas
sado e que deixaram suas marcas impressas nas formas espa.
iais do presente
ois pontos devem ser agora indicados. Primeiramente
or ser reflexo social e fragmentado, o espaco urbano, espe.
cialmente 0 da cidade capitalista, ¢ profundamente desigual
a desigualdade constitu-se em caracteristica prépria do espa
0 urbano capitalista. Em segundo lugar, por ser reflexo so
cial e porque a sociedad rem a sua dindmica, 0 espago urbe-
no € também mutavel, dispondo de uma mutabilidade que ¢
‘complexa, com ritmos e natureza diferenciadas.
© espago da cidade & também um G@ndicio
aso.
sA0-0 con-
icionamento se dé através do papel que as-obras fixadas pe
vetiny
chy dx
War seat
Jo homem, as formas espacias, desempenham na reproducéo
«das condigdes de produgao e das relacdes de producto. Assim,
4 existdncia de esiabelecimentos irdustriais juntos uns dos ou
110s, ¢ realizando entre si vendas de matérias-primas indus
trlalmente fabricadas, constitui-s, plas vantagens de estarem
juntos, em fato que viabiliza a continuidade da producéo, is
to 6, 2 reproduedo das condigbes de produsdo.
As areas residenciais segregadas representam papel pon-
Aerével no processo de reprodusia das relagbes de producto,
no bojo do qual se reproduzem as diversas classes socais ©
suas frases: os bairros slo os locas de reprodusdo dos di
versos grupos sociais
Fragmentada, articulada, reflexo e conéicionante social,
8 cidade ¢ também o lugar onde es diversas classes sociais vic
vem € se reproduzem. Isto envolve 0 quotidiano e 0 futuro
Préximo, bem como as crengas, valores ¢ mitos criados no
‘ojo da sociedade de classes e, em parte, projetados nas for
ras espaciis: monuments, lignes sagrads, uma tua espe-
Gia etc. O espaso urbane assume asim uma dinensio sib»
(Geaque, entrant, € varidvel sepundo 08 dif 6
ian, rose. Mas 0 quotdiano €'9 fare proume
tcham-e engusdrados mum tones de fragmenta de
tual do epayo, evando oy conts soc como ners
Operiig at barcaasc os movimenton socal oe
cada cidade ¢ assim, ¢ também, 0 cendio © @ e880)
Gee pot ts viens aa! de cons ChE
coe clade ldadania plana al pra odo.
iso que 40 esate urbane fagmenado © ariuldo,
rofl condonane Soda am eeu de aimslor¢
ampo-de Nak © asin propia toseaade co ae
Shas dienes, gusla mais apart, maralzada na for
mat eqcin Eee o aowo cbc de endo,
spac urban, come se not; conn por d-
ferns tos date, Can um dees pode se Vito como
sma frma espacial. Esa, conto, nlo em cuties
oma, ein porque nse alam ua 60 mis fun,»
504s, Ista 6, tividades como a producto ¢ venda de mercado-
Flas, prestapdo de servigos diversos ou uma funsdo simbéli-
ccs, que se acham vinculadat aos procestos da sociedade. Es
tes sfo, por sua vez, o movimento da propria sociedade, da
estrutura social, demandando funcoes urbanas que se mate-
tlalizam nas formas espaciais'. Formas estas que so social-
mente produzidas por agentes sociais concretos. Comeyare-
‘mos analisendo o papel destes agentes e, a seguir, considera
ems os processos e as formas espaciais, que consttuirdo a
parte central deste estude.
Fe
TSisres Mion, Espapo ¢ méiodo.SSo Palo, Nobel 1985,
r eet arta fn | aid fn |g ot
3
Quem produz
O espaco urbano?
© espaco urbano capitalista — fragmentado, articula-
do, reflexo, condicionante social, cheio de simbolos e cam-
po de lutas'— ¢ um produto social, resultado de agoes acu-
uladas através do tempo, ¢ engendradas por agentes que
produzem ¢ consomem espago. Sio agentes sociais concre-
tos, ¢ nfo um mercado invisivel ou processos aleatérios
atvando sobre um espaco abstrato. A acdo destes agentes
@ complena, derivando da dinémica de acumulacio de capi-
tal, das nevessidades mutveis de reprodusdo das relacdes
de produsdo, e dos conflitos de classe que dela emergem.
‘A-complexidade da acdo dos agentes sociais inclui pré-
ticas que levam a um constante processo de reorganizagdo
‘espacial que se faz. spporagio de novas areas a0 espa
0 urbano, densificagdo do uso do solo, deterioracto de
certas Areas, renovardo urbana, relocacdo diferenciada da
infra-estrutura e mudanga, coercitiva ou no, do conteddo
social e econémico de determinadas dreas da cidade. E pre-
ciso considerar entretanto que, a cada transformacio do es-
apo urbano, este se mantém simultaneamente fragmenta-
0 € articulado, reflexo e condicionante social, ainda que
as formas espaciais e suas funedes tenham mudado. A desi-ualdads sécioespacial também ndo desaparece:o equl-
Eric socal da organizasao espacial nao pesa de om ci
Curt ternoriio,impregnado de colon
jem so estes agentes sociais que fazem e refazem a
cidade? Que exratéses ¢ agbesconsteras desmpenam
pro de far fear a lade? Ea ages So
fay propels dos tei de produfao, sobreudo co]
‘grandes industrials;
(0) 0s proprietérios fundidrios;
{c) 08 promotores imobildrios; |
(@) 0 Bxado} ¢ |
(@) 08 grupos sociais excluidos. -
‘Antes de considerarmos a acio de cada um destes agen
tes, convém tecer alguns comentarios gerais sobre cles em
conjunto.
[Em primeiro lugar, a acdo destes agentes se faz dentro
de um marco juridico que regula a atuacdo deles. Este mar.
co ndo é nevtro, refletindo o interesse dominante de um
dos agentes, e constituindo-se, em muitos casos, em uma re
{rica ambigua, que permite que haja transgresiOes de acor-
do com os interesses do agente dominante
Em segundo lugar, convém apontar que, ainda que
ppossa haver diferenciagdes nas estratégias dos weés primed
Tos agentes, bem como conflitos entre eles, ha entretanto
enomizadores comuns que os unem: um deles ¢a apropri
‘clo de uma renda da terra. Por outro lado, a ago desses
agentes serve ao propdsito daminante da sociedade capita
lista, que € 0 da reprodugao das relagdes de producto, im-
plicando a continuidade do processo de acumulagdo ¢ a ten-
{ativa de minimizar os conflitos de classe, este aspecto ca
endo rartigularmente ao Estado. Para isto 0 espace urba-
no contituise, como aponta Lefébvre (1976), em instru
‘mento onde so viabilizados concretamente 05 propésitos
acima indicados, em grande parte através da posse e do con-
trole do uso da terra urbana
B
Em terceiro lugar, & necessirio ressaltar que a tipolo-
ia apresentada é muito mais de natureza analitica do que
‘efetivamente absoluta. No estagio atual do capitalismo, os
grandes capitais industrial, financeiro e imobiliério podem
‘star integrados indireta e dicetamente, neste caso em gran-
des corporasdes que, além de outras atividades, compram,
especulam, financiam, administram ¢ produzem espago ur-
ano. Como consequéncia desta integracdo muitos dos con.
Atos entre aqueles agentes supranencionados desaparecem
Em quarto lugar, € importante notar que as estraté
gias que esses agentes adotam variam no tempo e n0 espa:
50, € esta variabilidade decorre tanto de causas externas
‘40s agentes, como de causas inernas, vinculadas ae con-
tadigdes inerentes 20 tipo de capital de cada agente face
a0 movimento geral de acumulecdo capitalista e das con-
fitos de classe. Assim, como exemplo, o aumento da com:
posigao organica de capital de uma empresa, afetando @
taxa de lucto, pode gerar novas estratégias que incluam
mudancas locacionais, afetando, portanto, 0 uso da terra
urbana.
Os proprietarios dos meios de produ:
cao
Os grandes proprietarios industriais e das grandes em:
presas comerciais sto, em razdo da dimenslo de suas ativi-
Gades, grandes consumidores de espago. Necessitam de ter-
renos amplos ¢ baratos que satisfagam requisitos locacio-
ais pertinentes as atividades de suas empresas — junto
so porto, as vias férreas ou em lecais de ampla acessibilide.
de & populagdo etc. A terra urbana tem assim, em pric!
pio, um duplo papel: © de supo:te fisico © 0 de expressar
iferencialmente requisitos locacionais expecificos as ativi-
dades.
Mas as relacdes entre proprietirios dos meios de pro
Guglo e a terra urbana so mais complexas. A especulacdofunditria, geradora do aumento do preco da terra, tem du.
plo efeito sobre as suas atividades. De um lado onera os
vstos de expansdo na medida em que esta pressupde terre
nos amplos e baratos. De outro, 0 aumento do prego dot
iméveis, resultante do aumento do prego da terra, atinge
08 salérios da forga de trabalho: gera-se assim uma pres
so dos trabalhadores visando saldrios mais elevados, os
‘quais incidirao sobre @ taxa de lucro das grandes empresas,
reduzindo-a.
‘A especulacdo funcidria ndo ¢ assim de interesse dos
Proprietérios dos meios de producdo. Interessa, no encan-
10, aos proprietarios fundidrios: a retencio de terras cfia
uma escassez de oferta e 0 aumento de seu preso, possbili-
tando-thes ampliar 2 renda de terra, Esta prética gera con:
flito entre proprietarios industriais e fundidrios!
Os conflitos que emergem tendem a ser, em principio,
resolvidos em favor dos proprietérios dos meios de produ-
40, que, n0 capitalismo, comandam a vida econdmica €
politica. A solucdo desses conflitos se faz através de pres-
S6es junto ao Estado para realizar desapropriacbes de ter-
as, instalapao de infra-estrutura necesséria as suas ativida-
dese para a criaedo de facilidades com 2 construgao de ca:
sas baratas para a forza de trabalho.
‘Mas torna-se necessirio saber quem sto os propriet
sos industriais em cada caso. Sao eles descendentes de imi
arantes, originariamente vinculados a0 comércio de exporta-
(4o-importacdo, ou suas raizes estdo na propriedade fund
Ha? E é necessério ainda que se conhesa 0 peso positive
os grupos em conflito ¢ as aliancas que sto feitas.
E importante também considerar, como lembra Min:
sione *, que os conflitos entre proprietarios industriais e
"Cape, Horacio. Agents y arate eh le produsisn del espacio rks
posal, Gagan 8. 17
EMntione, Ensn, Teevael elements for @ mart aca of uth
eelpmen ns Haste, Mog: Cope Civ, Condon, Soma Wie, 197
1s
fundidrios nao mais constituem algo absoluto como no pas-
sado. Isto se deve a:
(a) 0 desenvolvimento das contradicbes entre capital e traba
Iho toma perigosa a abolicdo de qualquer forma de proprie-
dade, entre elas a da terra, pois isto poderia levar a que se
demandasse 2 aboliczo da propriedade capitalists;
() através da ideologia da casa prépria, que inclui a terra,
ppodem-se minimizar as contradicées entre capital e trabalho:
(a propria burguesia adquiriu terras, de modo que a pro.
priedade fundiaria passou a ter sigificativo papel no pro
cesso da acumulagdo;
(@) a propriedade da terra é pré-requisito fundamental para
a construsdo civil que, por sua vez, desempenha papel extre-
mamente importante no capitalismo, amortecendo areas da
atvidede industrial; ¢
(@) a propriedade fundiéria e seu controle pela classe domi
ante tem aind a funcio de permitir 0 controle do espa
0 através da segregacto residencial, cumprindo, portanto,
lum significativo papel na organizacdo do espaco.
1Nas grandes cidades onde a atividade fabril ¢ expressi-
va, a acdo espacial dos proprietérios industriais leva & eria-
fo de amplas areas fabris em setores distintos das areas re-
Sidenciais nobres onde mora a elite, porém préximas as
reas proletarias. Deste modo a agdo deles modela a cida-
de, produzindo seu proprio espago e interferindo decisiva-
mente na localizagao de outros usos da terra,
E, quando ums industria localizada em rezio de fato-
x25 do'passado, se v8 envolvida fisicamente por uzos resi-
denciais de starus, verifiea-se que a relocalizacio industrial
constitui 6timo negécio. Deslocs-se para areas mais am-
plas e baratas, com infra-estrutura produzida, em muitos
casos, pelo Estado. Ganha assim uma nova localizacao on-
de pode se expandir. Adicionalmente extrai clevade renda
fundidria ao realizar 0 loteamento do antigo terreno fabri,altamente valorizado pelo novo uso. A zona Sul da cida
{de do Rio de Janeiro oferece alguns exemplos notaveis des:
ta prea,
Os proprietarios fundiarios
(Os proprietarios de terras atuaim no sentido de obterem
‘a maior renda fundidria de suas propriedades, interessan-
do-se em que estas tenham 0 uso que seja.o mais remunera
Gor possivel, especialmente uso comercial ou residencial
Ge siaius, Estdo particularmente interessados na coaversto
dda terra rural em terra urbana, ou seja, tém interesse na ex-
pansdo do espago da cidade na medida em que a terra urba-
ha € mais valorizada que a rural. Isto signifiea que estéo
fundamentalmente interessados no valor de troca da terra
‘eno no seu valor de uso.
‘Os proprietrios fundiérios podem entdo exercer pres-
s8es junto a0 Estado, especialmente na instncia municipal,
Visando interferir no procesto de definica0 das leis de uso
do solo e do zoneamento urbano. Esta pressio nao € feita
‘uniformemente nem beneficia a todos os proprietérios fun-
didrios. Alguns, 08 mais poderosos, poderio até mesmo ter
‘suas tervas valorizadas através do investimento pUblico em
infre-estrutura, especialmente a vidria: as cidades brasilei-
ras fornecem varios exemplos desta pratica
‘A propriedade fundiaria da periferia urbana, sobrers-
do aguela da grande cidade, consttui-se no alvo de atens80
os proprietérios de teras. Isto se deve ao fato de estar ela
Giretamente submetida ao processo de transformagao do ¢s-
‘paso rural em urbano. As possibilidades dessa transforma-
fae sdo, entretanto, dependentes de um confronto entre as
Fendas a serem obtidas com a producdo agricola e com
‘verda de terras para fins urbanos. Mais cedo ot mais tar-
Ge, gracas ao diferencial da renda, 0 uso agricola da perife-
tia é substituido por um urbano, passando, em muitos
2
505, por uma etapa de esterilizano da terra. Ha entdo um
processo de valorizacio fundiéria,
‘A passagem da terra agricola para terra urbana, no en:
tanto, é mais complexa, envolvendo iferenciais de deman-
da de terras e habitarbes, de direedo em que esta transi
‘ago se verifica © das formas que ela assume. Estes dife-
reneiais aruam mais ou menos de modo combinado.
‘A demanda de terras e habitasdes depende do aparecl-
mento de novas camadas sociais, oriundas em parte de flu-
xos migratérios e que detém nive! de renda que as torna ca
pacitadas a parcicipar do mercado de terras habitasdes
Depende também das possibilidades de remunerasao do ca-
pital investido em terras e operagées imobilidras. E depen-
Ge ainda da politica que o Estado adoca para permitir a re-
produso do capital, como 0 reforgo do aparelho do Esta:
Go pelo aumento do mimero de funciondrios e através da
‘deologia da casa prépria, conforme mostra, entre outros,
Durand-Lasserve.
‘Ha, portanto, condigbes que interferem na demanda
de terras e habitactes, as quais vio traduair-se em taxas dis-
tintas de crescimento demogréfico e espacial das cidades
de umm dado pais ou regiao.
Os diferenciais de direcdo em que as transformagdes
se verificam dependem, por sua vez, da estrutura agréria
que pode viabilizar ou ndo as operacbes de valorizagio fun-
didria, das condigées ecologicas diferenciadas, da existéncia
Ge eixos de circulasao, e dos tipos de uso a que se destina
a terra urbana,
‘Assim, estruturas agrarias diferenciadas em setores dis-
tintos da periferia podem influenciar diferencislmente a
ppassagem do rural 20 urbano. Neste sentido, ¢ convenien-
{e apontar que uma estrutura agriria baseada na proprieds-
de especulativa tende a viabilizar mals rapidamente ¢ trans-
Formago em questo. A existéncla de areas alagadigas em
uum dado setor da periferia, por outro lado, constitui-se,
via de regra, em um entrave para a valorizagao fundiaria,(0s eixos de comunieagdes, outrossim, tém ocorréncia espa-
‘Gal de modo seletivo, afetando desigualmente a periferia ru-
fal-urbana. Finalmente, hd usos tipicos de periferia, como
Certas indiistrias que so af localizadas, subtraindo’ terras
para uma valorizagio através de uso resiencial.
Os diferenciais das formas que a ocupagdo urbana na
periferia assume so, em relagio ao uso residencial, os se-
Juintes: urbanizagdo de starus e urbanizagdo popular. As
stratégias dos proprietarios fundiérios variardo segundo
Suas propriedades se localizer nas areas onde domina uma
‘ou outra forma.
(Os proprietirios de terras bem localizadas, valorizadas
por amenidaces fisieas, como 0 mar, lagoe, sol, sal, verde
re, agem pressionando o Estado visando a instalacdo da in-
frecestrutura urbana ov obtendo créditos bancérios para
cles proprios instalarem a infra-estrutura. Tas investimentos
Valorizam a terra que anteriormente fora esterilizads por
‘om razoavelmente longo perfodo de tempo. Campanhas pu
blictérias exaltando as qualidades da area s8o realizadas,
‘20 mesmo tempo que 0 prego da terra sobe constantemente
Estas teas da periferia de amenidades sao destinadas
a populagio de starus, Como se trata de uma demanda sol-
Vdvel, € possivel aos proprietérios fundiérios tornarem-se
também promotores imobilirios; loteiam, vender ¢ cons-
troem casas de luxo. Criam-se assim bairros seletivos em se-
ores de amenidades: como a palavra “periferia” tem sen
Qo pejorativo, estes bairros fsicamente periféricos nao sio
mals pereebidos como estando localizados na periferiaurba-
‘ha, pois afinal de contas os bairros de starus nao sio social-
mente perifricos!
"No Brasil os exemplos de ex-periferias urbanas enobre-
cidas so numerosas. Nas cidades itordneas localizam-se jun-
to a0 mat, como no Rio de Janeiro, em Salvador, Recife ¢
Fortaleza, Bairros, como Copacabana, Ipanema, Barra da
‘Tijuea, Barra, Ipod, Bos Viagem e Aldeota jé foram, num
passado mais ou menos distante, periferias urbanas: agora
Exo baitros de status, frutos de valorizagées fundidrias
Se ee ee aden a ane
Pree ees
epee eres
i ey seg eae eae
ee
rc enrmace none inent
ee net
ie Borie tempers
eran cases
te ssa eaeaie re
Paap epeeremrers
Os promotores imobilidrios
Por promotores imobillérios, entende-se um conjunto
de agentes que realizam, parcial ou totalmente, as seguines
‘operacses?
(@) incorporagio, que é a operacio-chave da promogio imo-
bilidria; © incorporador realiza a gestao do capital-dinhe
Tyr Aten, Roberto Schmidt de, fa: VALLADARES, Lil 1982Pa
ro na fase de sua transformacto em mercadoria, em imé-
vel; a localizasdo, 0 tamanho das unidades e a qualidade
do prédio a ser construlgo s40 defiidos na incorporasto,
assim como as decsBes de quem val construclo, « prope
ganda ea venda das unidades;
(6) finnciamestd ou sea, « partir da formagdo de recur
40s monetrios provenientes de pessoas fsieas e juriicas,
verifiense, de acordo com 0 incorporador, 0 investimento
visando & compra do terreno e & construgdo do imével
Goh estsdo seni, redlizado por eonominas¢ argues,
“Visand verificaf a viabiidade téenice da obra dentro de pa.
rdmetios definidos anteriormente pelo incorporador © luz
do eédigo de obi
@) consirugio ou produto Fisica do imével, que se vrif-
4 pelt stuapio de firmas specilizadas nas mais diversas
eapas do processo produtvo; a forga de trabalho est vine
culads as irmas construtore ¢
(©) comercalzacio ou transformasto do capital: mercado
“Tia emcepital-dinheiro, agora arescido dé Tct0s, 0s core.
tores, 9 planejadores de vendas e os profissionas de propa
ganda ao 0s responsévels por esta operagdo.
Estas operagdes vao originar diferentes tipos de agen
tes concretos, incluindo o proprietrio-construtor do tere
‘no, um agente cléssico que ainda persiste produzindo pou
cos €pequenos iméves, a firmas exclusivamente incorpors-
doras, aquelas que se especalizam na construgdo ou em
uma capa do processo produtivo, como a concretagem de
clmento, ouras que incorporam ¢ constroem, outras mais,
especaizadas na correagem e aquelas que concentram em
Sas ros todas as operagbes:algummas desasitimas con
srolam também outrasatvidades fora do selor fundiéro.
imobitaio.
Por outro lado, do ponto de vista da gtnese do promo-
tor imobildrio verficam-se enormes diferengas ene eles
Hi desde 0 proprietdrio fundiario que se transformou er
_construtor ¢ Incorporador, a0 comerclente prospero que di-
Versifica suas atividades criando uma incorporadora, pas-
sido pela empresa industrial, que em momentos de crise
ou ampliagdo de seus negécios cra uma subsididria ligada
‘& promogio imobilidria, Grandes bancos ¢ 0 Estado atuam
também como promotores imobilérios,
Entre os agentes em questdo, particularmente os incor-
poradores, hd um diferencial em funsio de dois aspectos,
conceitualizados por R. S. de Almeida como “‘escala de
‘operagées”, ou 0 mimero de construgges simulténeas que
© incorporador ¢ capaz de gerir,e “scala espacial de'atia-
g40", ou a area onde se localizam as obras ¢ os estoques
e terrenos. Estas duas escalas estio relacionadas: maior a
‘scala de operagOes, maior a escala espacial de atuagao ¢,
‘adicionalmente, maior o poder palitico do incorporador.
Quais sao as estratégias dos promotores imobilidrios?
Na sociedade capitalsta nao ha interesse das diferen
tes fragdes do capital envolvidas na produgio de iméveis
fem produzir habitasdes populares. Isto se deve, basicamen-
te, a0s baixos niveis dos salarios des camadas populares, fa-
ce ao custo da habitagao produzida capitalisticamente. De-
vese também, em parte, conformeargumenta Henri Coing*,
4 convergéncia de interesses do proprietério fundidrio, do
promotor imobilirio e da indistria de material de constr
0 no sentido de apenas produzir habitagoes tom inova-
68s, com valor de uso superior as antigas, obtendo-se, por-
fanto, um prego de venda cada vez maior, o que amplia a
exclusdo das camadas populares.
Em que condigbes, pergunta H. Coing, & possivel ha-
ver a producto de habitapdes para os grupos de baixa ren-
da? Quando esta produsio é rentivel?
(@) € rentével se sio superocupades por varias familias ot
por varias pessoas solteiras que alugam um imével oa um
comodo;
"ip: DUMaNe Lassen, Alin, 19802
(©) é rentivel se 2 qualidade da construgio for péssima,
com 0 seu custo reduzido ao minimo, conforme Engels des.
creve para a Inglaterra em relapao a0 séeulo XIX; €
(©) ¢ remtavel quando verifica-se enorme escassez de habita-
‘62s, elevando 05 pregos a niveis insuportaveis.
Mas esta nio ¢ a situacSo usual nas cidades do Terce
‘ro Mundo: o capital no tem intereste em produzir habita-
‘90es para as camadas populares. Numa sociedade onde par~
te ponderdvel da populacio nao tem acesso & casa propria
‘ou mesmo nao tem condicdes de pagar aluguel, a estratégia
dos promotores imobilidrios é basicamente a seguinte
(@) dirigirse, em primeiro lugar, & produslo de residéncias
para satisfazer a demanda solvavel; e
() obter ajuda do Estado no sentido de tornar solvavel a
produglo de residéncias para satisfazer a demanda ndo-sol-
vavel
‘Em relagdo primeira categoria, verfica-se a produ-
‘lo de iméveis de uxo visando atender aqueles que dispdem.
de recursos, af incluindo-sea producdo de residéncias secun-
‘avias, em éreas de lazer, para este segmento da populago.
A produgao de iméveis caros e finos pode echegar mesmo
4 saturar, havendo, por outro lado, déficit de residéncias
populares. Para o segmento da populaglo que constitu 0
mercado dos promotores imobiliérios, os financiamentos
1do sio dificeis, o mesmo ocorrendo para as incorporado-
ras de iméveis.
A existéncia de uma demanda solvivel saturada e de
uma nio-solvivel insatisfeita explica o interesse do capital
imobilidrio em obter ajuda do Estado, de modo a permitir
tomar vidvel a construglo de residéncias para as camadas
populares: eréditos para os promotores imobilirios, facli-
dades para desapropriagao de terras,e eréditos para os futu-
ros moradores. A criagao de drgios, como foi o caso do
Banco Nacional da Habitasdo (BNH) ¢ das Cooperativas
{de Habitagto (COHABs),e a criagio de mecanismos juridi-
08 ¢ financeiros, como o Fundo de Garantia por Tempo
de Servigo (FGTS), visam viabilizar a acumulaedo capitais-
tavia produsdo de habitacses, cujo acesso éagora ampliado.
Esta estratégia ¢ vidvel em razgo da importincia da
produsdo de habitacdes na sociedade capitalista. Cumpze
cla um papel fundamental, que é o de amortecer as crises
ciclicas da economia através do investimento de capital e
a criagZo de numerosos empregos: dai ter 0 apoio do Esta-
4 capitalista, que por sua vez esté fortemente repleto, atra-
vés de seus componentes, de interesses imobildrios.
‘A estratégia dominante, de produzir habitagdes para
populace que constitui a demanda solvével, tem um sig-
nificativo rebatimento espacial. De fato, a agdo dos promo-
tores imobilidrios se faz correlacionada a:
(@) prezo elevado da terra e alto starus do baitro;
(©) acessibilidade, eficigncia e seguranga dos meios de trans-
porte;
(© amenidades naturais ou socialmente produzidas; ©
(@ esgotamento dos terrenos para construsio e as condi-
966s fisicas dos iméveis anteriormente produzides, confor-
Ime indica R. S. de Almeida. Estas caracteristicas em conjun-
to tendem a valorizar diferencialmente certas dreas da cida-
de, que se tornam alvo da acdo macica dos promotores imo-
Dilidrios: so as areas nobres, criadas e recriadas segundo
(0s interesses dos promotores, que se valem de maciga pro-
paganda. Assim, de um lado, verifica-se a manutenslo de
Dairros de status, que continuam a ser atrativos ao capital
imobilirio e, de outro, a eriacéo de novas reas nobres
‘em razdo do esgotamento de areas disponiveis em outros s=-
tores valorizados do espaco urbano: os novos bairros no-
‘bres sSo efetivamente criados ou resultam da transforma-
‘#0 da imagem de bairros antigos que, dispondo de alguns
strativos, tornam-se de status elevado.
‘A atuago espacial dos promotores imobilidrios se faz
de modo desigual, criando e reforgando a segregagao resi-Gencial que caracteriza a cidade capitatista. E, na medida
fem que em outros setores do espago produzem conjuntos
habitationais populares, a segresacao ¢ ratificada,
O Estado
© Estado atua também na organizagdo espacial da ci-
Gade. Sua atuagdo tem sido complexa e varigvel-tanto no
tempo como no espaco, refletindo a dinmica da socieda.
e da qual é parte constituince. Vamos considerar apenas
© pape do Estado capitalist, privilegiando a cidade lati-
no-americana e, particularmente, a brasileira.
‘Una primeira observacao refere-se a0 fato de o'Esta-
4 atuar direcamente como grande industrial, consumidor
e espeso e de localizacdes especificas, proprietario fundi-
Ho e promotor imobiliério, sem deixar de ser também um
agente de regulagdo do uso do solo ¢ © vo dos chamados
movimentos sociais urbanos. Assim, ao implantar uma refi-
naria de petréleo, 0 Estado esté organizando diretamente
© espago urbano, a0 mesmo tempo que interfere, dada a na-
tureza da atividade industrial, no uso da terra das éteas pré
ximas. As terras piiblicas s40 uma reserva fundiria que ©
Estado dispoe para usos diversos no futuro, inclusive para
regociagdes com outros agentes sociais. Através de Srados
como a COHAB, por outro lado, o Estado torna-se promo.
tor imobilidrio.
‘No entanto, é através da implantacio de servicos pii-
blicos, como sistema vidrio, calgamento, agua, esgoto, ilu.
‘minaclo, parques, coleta de lixo etc., interessantes tanto
fs empresas como & populacio em geral, que a atuecao
do Estado se faz de modo mais corrente e esperado. A cla.
bboracio de leis © normas vinculadas ao uso do solo, entre
utras zs normas do zoneamento ¢ 0 eédigo de obras, cons.
tituem outro atributo do Estedo no que se refere a0 espa
0 urbano. E € decorrente de seu desempenho espacialmen.
2
te desigual enquanto provedor de servigos piblicos, especial:
mente aqueles que servem & populaglo, que o Estado se
toma o alvo de certas reivindicagtes de segmentos da popt-
ledo urbana.
Em realidade, segundo A. Samson’, o Estado dispde
dde um conjunto de instrumentos que pode empregar em re-
Iago ao esparo urbano. Sto of seguintes, entre outros:
(@) dieito de desapropriaczo ¢ precedéncia na compra de
vera
() regulamentagao do uso do solo;
(©) controle e limitagao dos pregor de terras;
@ limitagdo da superficie da terra de que cada um pode
se apropriat
(© impostos fundiérios e imobiliérios que podem variar se-
gundo a dimensio do imével, usc da terra e localizagao;
( taxagio de terrenos livres, levando a uma utilizasto
mais completa do espago urbano;
() mobilizagio de reservas fundiérias pabices, afetando
© preco da terra e orientando expacialmente @ ocupasio
do espaso;
(t) investimento piblico na procuedo do espaco, através
dde obras de drenagem, desmontes, aterros e implantay
dda infra-estrutura
@ organizacao de mecanismos de erédito & habitagdo; ¢
G) pesquisas, operagdes-teste sobre materiais e procedimen-
tos de construcdo, bem como o controle de produgao e do
mercado deste material
Esta complexa ¢ variada gama de possibilidades de
acto do Estado capitalista no se efetiva a0 acaso. Nem
se processa de modo socialmente neutro, como se o Esta
do fosse uma instituigo que governaste de scordo com
tuma racionalidade fundamentada nos principios de equili-
brio social, econémico e espacial, pairando acima das cias-
Sim Dumano-Lassesv, Al26
2 sci de ses confitos. Sua ago & matcada pelos
conflitos de interesses dos diferentes membros da sociedadé
fe lor, bem como das alanas ene ds esa
leat or inet daguce spent ou eee aa
se doninante que, a cada momento, eabn0 poder
Heke pecan,
t= om str nes police alminiseates ccapaci ee
‘al etal emunspalAcadam asses ssa se
40 mua, asi somo o dears qu ensabre oes
dominantes. E no nivel municipal, no entanto, que estes in-
teens to toratn mas evden ee scars menos co
Cae Aft a lela garante a munidpaade makes
dere brew spay urbane, podees sue aaa ae ee
parse, deus longa traded veforeeda plo ate de
tna ccononia cade ve mas monopole oe snes on
Giuio © inobllano, menor conceneaten, sseetemees
ti fn campo de uaa pera as elie eae
‘A atuaplo do Eaao ofa, ndamertanente e em
tina ande,visndo ear congo de eazelo ¢
produto da sociedad copia, no, condibes quo:
Bizem o proceso de amuse teprodusso dis Cae
facia sre Sage
“endo em vita sos propésitos 0 stado capiaia
cca racaismos us invem tpn ealdcaanle tock
Satncago, Asin, on diferencas de imports entonal
Petia oo am fowe fatordoorininante slats ee
{9 da tera dos ives como conseautncn, ine
Go a seasaneto soci: os rapes de fende mas Clovce
ssidem tn idves mais ere localzaos er bthese
Geo pose daira mais cevedo, Aus du aousaoe
Pclalneteditronsada do eaulpamentos de conan
fevo,o Extado também lnefere na segregate reer:
Gal Hsrvey Comenta qu ete Uo de seento aads na
Plas a sonda ral dagues que posuom™ sovada sua
D. Veter e outros fornecem a este respeito um exce-
lente exemplo de investimentos pibicos espacialmente desi-
guais e suas conseqiéncias. Trata-se da alocagio concentra
dda de recursos em agua e esgoto na Zona Sul carioca duran-
te a década de 1970. Esta € a drea melhor servida do expa-
50 da cidade do Rio de Janeiro: ali reside um econdmica €
politicamente poderoso grupo social que teve seus iméveis
mais valorizados — acessiveis, portanto, a grupos sociais
cada vez mais selecionados.
‘A segregagiio residencial pode resutar também de uma
acto direta e explicita do Estado através do planejamento,
quando da criacio, a partir do zero, de nicleos urbanos.
Esta tem sido uma tradicdo letino-americana, mas no ex-
clusiva, que tem suas origens jé no século XVI. A este res
peito, as palavras de Hansen’ sobre a origem e evolugao
da cidade de Mérida na peninsula do Yucatan, no México,
slo dignas de nota:
A cidade fi 1m tomo de uma praga oentel
s quatro quarteies que.a dalimtavam foram reservados
para a catecral os edficas dos governos provincial e mun?
‘ipal ea residéncia eo chete dos conuistadoree. Ace autos
Penhéis foram cecidos lotes dentro se dole ov te Qua
‘om cade diregdo. Esta draa espenhola de resicencia.
Constituluo centro. A uma distancia maior nadiegeo €0 ex:
fxpansio deste cent, fo-
‘os inaios podiam estabele
corsa. Estas areas constitviram os barrios. Amedida que a
icase crescia, o canto fo! absorvenaa oe barrios @ 08 f+
ios foram co mudendo para meisalem. Amedida que estes
‘sumentavam em numero, area que ocupavam Ia se tomen-
do maior. Mas © crescimento prosseguil vagarosamente
fom harmonia com s estrutura social «cultural estebelecicn,
E Brasilia, uma cidade planejada, ineugurada em 1960?
A oposicao entre o Plano Piloto ¢ as denominadss cidades-
‘a: Maciab0 pa Su, Las Anni, 198
7 Hassan AT. Eeloga de une cde latino-amerizann. In: PessoN,
cre Eudes cena humana Ste Paulo, Mavs Fete, 1970. 7.87