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(Resenha) Foucault, M. Verdade e Poder

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RESENHA

Mario Bernardo de Oliveira Alves

Foucault quando fez seus estudos por volta dos anos de 1950-1955, um dos
problemas que se colocava era o do estatuto político da ciência e as funções
ideológicas que podia veicular. Nesse contexto, duas palavras poderiam resumir:
poder-saber.

Em A História da Loucura, o filósofo questionou o saber da psiquiatria, entendendo o


ligamento da psiquiatria a uma série de instituições, de exigências econômicas e
urgências polícias sociais e apreender de forma mais precisa o entrelaçamento dos
efeitos de poder e de saber. No Nascimento da Clínica, o filósofo questionou o saber
da medicina e a estrutura (muito mais) sólida do que a psiquiatria, mas também
profundamente enraizada nas estruturas sociais.

Desse modo, essas inquietações de Foucault foram consideradas sem importância e


epistemologicamente sem nobreza. No entanto, haviam três razões para isso. A
primeira razão seria dos intelectuais marxistas na França (PCF) de fazer reconhecer
pela instituição universitária e pelo establishment, desse modo, eram pesquisadas
as mesmas questões para trabalhar os mesmos problemas e domínios. A medicina,
a psiquiatria não eram nobres ou sérias e não estavam à altura das grandes formas
do racionalismo clássico.

A segunda razão é que o estalinismo pós-estalinista, excluindo do discurso marxista


não permitia a abordagem de caminhos ainda não percorridos. A terceira razão, o
filosofo acredita que havia uma recusa por parte dos intelectuais do partido
comunista francês ou dos próximos em colocar o problema do esquadrinhamento
disciplinar na sociedade.

Então, a partir daí fica evidente a ordem do discurso acerca dos enunciados
científicos, onde quem estava à frente do poder, ditava as regras da produção
científica e do discurso, onde dentro dessas três razões, há: o domínio científico na
perspectiva marxista, em segundo momento é a materialização da ditadura, onde
realmente o que é novo não tem espaço na produção do discurso, duramente
influenciada por poderes políticos. E para finalizar, a soma dessas interdições se
resumem ao silenciamento dos discursos que buscavam questionar o
esquadrinhamento disciplinar da sociedade.

Foucault assim nota que certas formas de saber empírico como a biologia, a
economia política, a psiquiatria, a medicina, o ritmo das transformações não
obedeciam aos esquemas suaves e continuístas do desenvolvimento, ou seja, em
determinadas ciências, o discurso sofre letras transformações e, essas
transformações não somente rompem com as proposições até então verdadeiras,
mas fomentam um novo regime no discurso e no saber.

Dessa maneira, há uma modificação nas regras de formação dos enunciados que
são aceitos como cientificamente verdadeiros. Desse modo, as transformações
bruscas que que certos saberes sofrem não é uma mudança de conteúdo, refutação
de erros antigos, nascimento de novas verdades), nem tampouco uma alteração da
forma teórica ou renovação do paradigma, modificação dos conjuntos sistemáticos),
mas sim é uma questão em o que regem e como regem esses enunciados
científicos. O intuito não é saber qual é o poder que age, mas quais efeitos de poder
circulam entre os enunciados científicos.

Nesse momento aí, Foucault coloca o conceito de descontinuidade com os efeitos


do poder no jogo enunciado e o regime discursivo nesses aspectos de bruscas
transformações dos enunciados “verdadeiros” e, delimita o conceito de
acontecimento.

Para o filósofo, o acontecimento é distinguir os acontecimentos históricos, diferenciar


as redes e os níveis a que pertencem e restituir os fios que os ligam e que fazem
com que se engendrem uns a partir dos outros. É retomar a história para fazer a
análise simbólica ou ao campo das estruturas significantes, fornecendo recurso às
análises das relações de força, de desenvolvimento estratégicos e de táticas. A
historicidade que nos domina e nos determina é belicosa e não linguística, é a
relação de poder e não a relação de sentido.

A história não tem “sentido”, mas deve poder ser analisada em seus menores
detalhes, mas segundo a inteligibilidade das lutas, das estratégias, das táticas. A
dialética e nem a semiótica poderiam dar conta do que é a inteligibilidade intrínseca
dos confrontos.
A partir disso, Foucault compreende que ninguém se preocupava com a forma que o
poder se exercia, em detalhe e com sua especificidade, técnicas e táticas. A
mecânica do poder nunca era analisada, apesar de haver entendimento do poder.
Dessa maneira, a partir de 1968, a partir das lutas cotidianas e realizadas na base
com aqueles que tinham que se debater as malhas mais finas da rede do poder,
apareceu a concretude do poder e ao mesmo a fecundidade possível destas
análises de poder.

Para Foucault o marxismo pode ter sido um obstáculo na formulação da


problemática do poder, entendendo que todo o funcionamento do poder na era
marxista era entendida em significação econômica, era a principal engrenagem de
poder. Por conseguinte, o filósofo entende que há duas formas de análise sobre as
pessoas: uma remetia ao sujeito constituinte e a outra remetia ao econômico; à
ideologia e ao jogo das superestruturas e das infraestruturas.

No entanto, retomar à história fornece um aparato teórico ainda mais relevante, visto
que Foucault trabalha com o conceito de genealogia a maneira em que a história
que dê conta da constituição dos saberes, dos discursos, dos domínios do objeto,
livrando-se do sujeito constituinte (ideologia) para chegar à análise do sujeito na
trama histórica.

Ao livrar-se do sujeito constituinte, é romper com a visão da história linear e casual,


embasada nas regularidades, leis evolutivas e ideológicas, para o filósofo, a noção
de ideologia está sempre em oposição virtual a alguma verdade e, refere-se a
alguma coisa como o sujeito e sobre tudo, ela está em posição secundária em
relação a algo que deve funcionar como infraestrutura, determinação econômica ou
material.

No que concerne ao identificar as malhas mais finas da rede do poder, as lutas


cotidianas representam os aspectos da repressão. Foucault acredita que a noção de
repressão é mais infiel e parece se adaptar bem à uma série de fenômenos
relacionados aos efeitos de poder. Contudo, ao definir esses efeitos de poder pela
repressão tem uma concepção jurídica deste mesmo poder, aquela lei que diz não.

A noção de repressão a partir dos fenômenos dizem a respeito dos efeitos de poder
não está errada, porém não corresponde pela maneira no qual o poder opera. Afinal,
nem todo o poder exerce o efeito repressivo e, ele não só opera como uma força
que diz não, mas ele é produtivo. O poder permeia, produz coisas, induz ao prazer,
forma de saber e produz discursos.

Evidentemente, existem procedimentos que fazem circular os efeitos do poder no


que diz a respeito dos enunciados sobre a aids. As grandes instituições perpetuam
esses efeitos de maneira contínua, ininterrupta, adaptando-se e individualizada para
cada corpo social, mas especificamente falando no corpo social relacionado à aids.

O discurso médico, o discurso jurídico, o discurso sobre a sexualidade atenuado


pela moral e ética, todos eles perpassam pelo eixo da aids e exerce seu poder sobre
o corpo estigmatizado pela síndrome e/ou populações vulneráveis ao HIV como:
gays, travestis, profissionais do sexo, heroinômanos e negros.

O manifesto dos efeitos do poder fez com que o papel do intelectual transitasse para
um outro momento. Durante a era marxista, o intelectual viu-se reconhecido como
dono da verdade e justiça, tinha um fardo de ser a consciência de todos, tinha o
caráter universal, dotando de sua escolha moral, teórica e política e, com isso,
dentro essa subjetividade do intelectual foi traçado um novo modo de “ligação entre
teoria e prática”, ou seja, o intelectual deixou de ser universal, de atuar pela
consciência de todos e passou a trabalhar no que concerne em suas condições de
vida, de trabalho, ou seja, na moradia, no hospital, no asilo, no laboratório, na
universidade e nas relações familiares ou sexuais.

A transição do “intelectual universal” para o “intelectual específico” deriva da ideia do


“homem da justiça, homem da lei” para o “cientista perito”. As funções do intelectual
transitaram também, de “escritor genial” para “cientista absoluto”. O papel do
intelectual específico se torna cada vez mais importante na medida em que ele é
obrigado a assumir responsabilidades políticas enquanto sua área de atuação,
desse modo, ele passa a deter um saber específico, não interessa mais as massas
(universal) e nem serve aos interesses do Capital e do Estado ou ainda de que ele
veicula uma ideologia cientificista (marxista, darwinista), ou seja, o intelectual
específico passa produzir verdade e, consequentemente, a verdade não existe fora
do poder ou sem poder.

A produção da verdade é centrada na forma do discurso científico e nas instituições


que o produzem, desse modo, os discursos sobre a aids tem uma grande relevância
quando produzida por instituições médicas, jurídicas e políticas, sendo submetida a
uma constante incitação econômica, mas ainda assim possui interdições em
determinadas esferas. Embora, o discurso científico torna-se verdade sendo
regulamentado pelo poder, existem mecanismos que permitem distinguir os
enunciados verdadeiros dos falsos, a maneira como se sanciona uns e outros.

A verdade acaba sendo objeto de várias formas e com uma imensa difusão e
consumo, circula na educação, na informação, na extensão do corpo social e é
produzida sob o controle não exclusivo, mas dominante, como a universidade, o
hospital, o asilo, a mídia.

Retomando a um dos pilares para compreensão da problemática, entendendo que a


movimentação popular, as lutas ideológicas foram cruciais para o enfrentamento e
cobrança de respostas à epidemia de aids tanto para a comunidade científica quanto
para a gestão política. O confronto social e esse debate político é duramente
atrelado às funções gerais do dispositivo da verdade em nossas sociedades e, é um
ponto de ruptura da docilidade dos corpos em determinado campo da verdade/poder
para um novo campo.

Diante dessa responsabilidade com a verdade, o intelectual carrega três


especificidades: 1) a especificidade da sua posição de classe (consciência de
classe); 2) a especificidade de suas condições de vida e de trabalho ligada à sua
condição intelectual (domínio de pesquisa, seu lugar no laboratório, as exigências
políticas) e; 3) a especificidade da política de verdade nas sociedades
contemporâneas.

Nesse caso, entender a “verdade”, é entender como um conjunto de procedimentos


regulados para a produção, a lei, a repartição, a circulação e o funcionamento dos
enunciados. Entendendo também que a verdade está circularmente ligada a
sistemas de poder que produzem e apoiam, e a efeitos de poder ela induz e que a
reproduzem.

O regime da verdade não é meramente ideológico ou superestrutural, o problema da


verdade não a libertar do poder, mas é desvincular o poder da verdade das formas
de hegemonia na qual ela funciona no momento. Em suma, é na produção de novos
enunciados fora das grandes instituições de saber, trazendo novas problemáticas e
outros estudos relevantes.

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