Catalogo Mostra 3m Largo Do Batata
Catalogo Mostra 3m Largo Do Batata
apresenta
Curadoria
Daniel Lima
Artistas selecionados
Lucimélia Romão
Minimum - David da Paz e Patricia Passos
Naine Terena
Projeto Matilha - Fafi Prado e Pedro Guimarães
Renato Atuati
largo da batata | 2
3M
A 9ª edição da Mostra 3M de Arte, edição A 3M, como empresa inovadora, está ciente
2019, acontece pelo terceiro ano consecutivo de que é fundamental apoiar a diversidade e
no Largo da Batata, um dos espaços mais inclusão, em total sinergia com a moldura desta
democráticos da cidade de São Paulo. Mostra. Dentre suas iniciativas internas está a
criação, em 2016, de programas de Diversidade
Nesta edição, a Mostra tem como tema & Inclusão, com o apoio de mais de 100
Manifestos por Outros Mundos Possíveis, funcionários voluntários que atuam em quatro
e busca discutir a estética e a proposta grupos - LGBT+, Raça & Etnia, Pessoas com
de ações que aceitem e englobem as Deficiência e Liderança Feminina - com pleno
diferenças. Diversidade para dialogar com engajamento das lideranças da empresa.
todos, visando expressar dentro da arte Com o objetivo de promover o respeito
contemporânea e debater de maneira poética no ambiente corporativo e fora dele, a 3M
um novo mundo para além do político, social e tem realizado ações de sensibilização,
econômico. A ativação promove a participação educação, valorização e inclusão, por meio
do coletivo em espaço público, com cinco obras de campanhas internas, promoção de talk
de caráter de denúncia e anúncio, estimulando shows e palestras, com comunicação intensa e
a observação das nossas próprias contradições, engajamento constante.
relações, dinâmicas de inclusão e exclusão.
Que todos possam se inspirar com mais uma
Ao apoiar a realização desse projeto Mostra 3M e espalhar empatia, cooperação
criado por nove edições, nossa empresa e criatividade para construirmos melhores
mostra consistência em contribuir para a mundos todos os dias.
transformação social do país também pela
ação cultural e artística. Neste ano em especial, LUIZ EDUARDO SERAFIM
o tema da Mostra está plenamente alinhado Head de Marketing Corporativo da 3M do Brasil
aos pilares da 3M, que valorizam a criatividade,
o respeito, a colaboração, a diversidade e
inovação permanente.
3
Fotografia: André Veloso
Elo3
A busca por outros mundos possíveis nos faz
refletir a respeito da nossa caminhada, uma
trajetória que muito conquistou em busca da
democratização do acesso à arte, mas há ainda
muito a realizar.
apresentação | 4
Fotografia: Tainã Moreno
mil litros de preto: o largo está cheio | 5
curadoria
6
7
lucimélia romão
Mil Litros de Preto: O Largo Está Cheio
naine terena
Prosperidade
renato atuati
Entre
8
artistas
9
COnVERSA
DANIEL LIMA Eu começo te perguntando:
como a sua história de vida te levou à proposta
é uma universidade federal. Isso me dá um
susto, mas eu também levo um tempo para
Os amigos, a família agiram muito rápido, para
não criminalizarem ele, mas o que vimos foi:
A minha família é toda negra,
artística “Mil Litros de Preto”? perceber isso. Eu falei: “nossa, eu chego dentro morreu dentro da periferia, é bandido. Foi bem dentro da minha casa. Eu tenho
da universidade, cadê os pretos? Não tem na época que eu estava lendo o Genocídio do
LUCIMÉLIA ROMÃO Bom, eu sou do interior de preto”. E aí, quando eu percebo isso, eu começo negro brasileiro, do Abdias Nascimento, e o irmãos que têm a pele clara, que
São Paulo, de Jacareí. Eu cheguei em São João a estudar, eu começo a entender um pouco Racismo estrutural, do Silvio Almeida, então
del-Rey [MG] sem muita noção do que era o como vai funcionar o racismo, porque eu não eu pude comparar essa realidade, e foi muito são por parte de pai, mas ali na
racismo. Eu já passei por várias situações que eu
mesma não tinha reconhecido como situações
entendia até os meus 23 anos. Em São Paulo a
gente costuma − pelo menos na minha região
forte isso para mim, porque eu tinha acabado
de chegar de mobilidade acadêmica, eu vindo
minha família todo mundo é preto
racistas, porque não estava simplesmente
habituada a pensar sobre isso, porque ainda
− mascarar isso muito bem. Aqui, dentro da da UFMG, e lá é um ambiente extremamente e a gente não falava sobre isso,
universidade, não tem essa máscara, você vê o racista, muito esquisito. Então, essa diferença
temos essa ideia de democracia racial que racismo nu e cru. Eu caí em certas situações que de classe e raça estava muito latente quando já que todo mundo vive nessa
plantaram no Brasil. A minha família é toda eu nunca tinha caído, como a negra agressiva, eu vi o assassinato do Marcos. Fiquei muito
negra, dentro da minha casa. Eu tenho irmãos eu nunca tinha ouvido isso em São Paulo, aqui incomodada com a situação, e falei: “nossa,
rotina de estudar, trabalhar,
que têm a pele clara, que são por parte de pai,
mas ali na minha família todo mundo é preto
foi o que eu mais ouvi dentro da universidade.
E, apesar de eu ser direta, eu não sou uma
preciso falar sobre isso, porque antes eu
tinha uma viseira”. Eu estava conversando,
trabalhar e trabalhar.
e a gente não falava sobre isso, já que todo pessoa encrenqueira; não deixo passar as coisas, inclusive, com uma prima minha, que agora
mundo vive nessa rotina de estudar, trabalhar, mas não sou uma pessoa que fica provocando está morando nos Estados Unidos com o DANIEL Só em pensar, além da vivência
trabalhar e trabalhar. Quando eu chego aqui e caçando. E fui colocada em situações que marido dela, e aí eu estava falando para ela individual, que é estrutural, é outro salto,
em São João del-Rey, eu começo a me deparar eu não me imaginava, por conta da cor, e, sobre a minha pesquisa de iniciação científica, a gente entende: “caraca, o Brasil viveu a
com várias questões que não tinha percebido. até então, eu me imaginava meio invencível. e ela falou assim: “nossa, mas ainda existe maior escravidão do planeta”, eu não tinha
Por exemplo, no Estado de São Paulo, eu não A partir dos estudos, eu comecei a ver: “opa, não racismo no Brasil? Eu achei que ruim mesmo ideia disso quando eu estudei na escola, nem
morava dentro da periferia, então, a região sou tão invencível assim”. E quando o Marcos era aqui nos Estados Unidos, porque teve mais quando comecei a trabalhar com a Frente 3
onde eu morava e a escola onde eu estudava Vinícius1 morreu... Ele levava a vida mais ou enfrentamento”. Eu respondi: “nossa, tem!”. de Fevereiro. A noção de que o Brasil recebeu
tinham muitas pessoas brancas. Quando eu menos como eu levava: era um menino que Ela é mais velha que eu pelo menos uns 7, 8 quase metade dos povos escravizados da
chego aqui, na primeira ligação que fiz para estava estudando, estava indo para a escola, anos, e ela não tinha enxergado isso até o final África, que tivemos dez vezes mais escravizados
a minha mãe, falei: “caramba, mãe, aqui tem não estava fazendo nada. E aí ele é assassinado do ano passado, que foi quando eu conversei do que nos Estados Unidos. Então a nossa
preto para caralho”. Tinha muito preto e eu não e marginalizado. Foi um caso muito chocante. com ela, explicando a minha pesquisa. sociedade está baseada nisso. É tão eficiente
estava acostumada a ver, a não ser os da minha E completei: “nossa, a gente passou mesmo o discurso de democracia racial que impera a
família. Ela: “que legal”. Isso na rua, só que despercebido por isso”. Não que ela não tenha
1 http://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/ afirmação de que não existe racismo no Brasil.
quando eu entro para a academia, realmente sofrido, sofreu para caramba, mas não conseguiu
noticia/2018-06/familia-acusa-policia-pela-morte-de-
não tem preto dentro da universidade. Aqui reconhecer que isso estava dentro da estrutura. LUCIMÉLIA ROMÃO É muito doido isso.
marcos-vinicius-na-mare
Radicado em São Paulo, o PROJETO FAFI PRADO atua como performer e artista PEDRO GUIMARÃES atua como performer e
educadora. É formada em Dança pela Escola educador. É graduado em História pela UNESP
MATILHA é um coletivo dedicado Klauss Vianna, em Comunicação Social pela da cidade de Assis, em São Paulo. Desde 1989
a ações artísticas em espaços FAAP-SP e é pós-graduada pelo CEUMA/USP atua como professor e educador social em
em Linguagens da Arte. Realizou trabalhos escolas públicas e projetos socioeducativos,
públicos, com foco na construção de autorais em performance e videoarte. Fundou além de participar de coletivos de criação
experiências relacionais. O público o grupo de criação coletiva Cia.Cachorra, que artística na cidade de São Paulo. Como
posteriormente passou a denominar-se Projeto performer atuou em trabalhos diversos
é convidado a participar somando Matilha, tendo realizado importantes trabalhos como “Zona de Ação” (Sesc) e o projeto
depoimentos pessoais e estados de intervenção urbana, entre eles “Liberte-se”; audiovisual “Cubo” (CCBB-SP). É integrante e
“Zona de Poesia Árida” e o projeto audiovisual cofundador da Frente 3 de Fevereiro, grupo
afetivos às temáticas propostas. “Cubo” (CCBB-SP), circulando por festivais de pesquisa e criação artística acerca do
Neste projeto, compartilham a no Brasil e na América Latina. Participou racismo na sociedade, tendo participado
como artista brasileira da residência artística com o grupo de diversos festivais e mostras
concepção Fafi Prado, criadora do Vheículo SUR, itinerando por países da América no Brasil e na Alemanha. É autor da obra de
coletivo, e Pedro Guimarães. Latina e Europa (Chile, França e Alemanha). literatura expandida “Cachorrio” e coautor de
Atualmente é articuladora artístico-pedagógica “Transcendentidade”, intervenção artística junto
do Programa de Iniciação Artística (PIÁ) da ao Projeto Matilha.
Secretaria Municipal de Cultura e coordenadora
do Projeto Matilha.
16
CONVERSA
DANIEL LIMA Quais são os desafios de
construção conceitual e técnica do
Achamos que conseguimos desmembrar isso,
nos libertar disso, e estamos vendo que não.
Mas vocês me chamaram a atenção: “E a figura
feminina?”, então chegamos num consenso:
O que você vê nesse espelho?
“Puxadinho”? Que o colonizador volta, põe suas unhas de a gente abre isso para um período posterior Você vê quem? Você vê: o índio, o
fora novamente e diz: “Quem manda aqui sou que é o período do fim da colonização. Do fim
FAFI PRADO Então, eu penso assim: bem difícil, eu, os interesses, os meus interesses, estão da colonização, período pós-ciclo do ouro, português, o negro, o senhor de
porque como a gente vai tratar de um assunto acima dos de vocês”. império e república para introduzir outras
tão amplo e genérico, que é história do Brasil figuras como a esposa do senhor de terra, a terra, o jesuíta e o bandeirante.
da perspectiva escolarizante, uma vez que nós Bom, a princípio o que eu havia pensado? parteira, a benzedeira...
todos fomos educados por essas imagens e Que essa pergunta disparadora, esse espelho para
narrativas? Como é que pegamos uma coisa tão o qual a pessoa vai olhar, que vai ter a imagem FAFI PRADO Começam a surgir essas figuras FAFI PRADO Inclusive o mito da miscigenação,
grande e transformamos num jogo que seja de dela distorcida, que trouxesse somente as figuras específicas na sociedade ali, na organização. da democracia racial já começa ali, quando
síntese, entende? Como é que se faz síntese com desse período de maior crueldade do país. O tem essa ideia de: “Ah, não, a gente é tudo isso”.
essas palavras com todo o significado que está período que é anterior ao humanismo, iluminismo, PEDRO GUIMARÃES Esse tipo de coisa, esse tipo Então pensamos em brincar com a palavra,
atribuído? E como isso vive no imaginário das marxismo, onde tudo era pontuado por uma de preocupação em um momento onde não há colocar a palavra mestiço para justamente
pessoas? É uma brincadeira também. Dá para grande desumanidade que é: a apropriação da nenhum tipo de pensamento humanista, o que medir o quanto as pessoas correm para esse
a gente inverter, ainda que poeticamente, terra indígena, o africano sendo trazido para existe é o poder fálico, o poder patriarcal. lugar, que de alguma forma é um conforto
essa educação, esse modo, essa narrativa, esse ser escravizado, o jesuíta vindo catequizar para aqueles que se consideram mestiços.
FAFI PRADO Patriarcal, as sociedades matriarcais
discurso passado para nós? Já que ele está na aculturando. Porque não viramos nem uma coisa, Principalmente para as pessoas que não
já tinham também sido exterminadas.
gente! Então nos arriscamos a falar. Porque nem outra, somos somente aculturados. Porque a querem se dizer brancas ou negras.
queríamos começar falando desde a colonização. gente não tem nem a cultura europeia totalmente PEDRO GUIMARÃES Então o que eu coloco é:
PEDRO GUIMARÃES E para se dizerem não
e também perdemos a cultura ameríndia e do lado de fora do “Puxadinho” eu quero que
PEDRO GUIMARÃES Para mim, o constitutivo racistas também.
africana. Então, viramos esse limbo, que em o questionamento seja algo mais incômodo.
é a colonização. Não conseguimos avançar grande parte é responsável por essa situação A possibilidade de você mudar, de você criar FAFI PRADO E não racistas, exatamente!
do que nos foi dado durante a colonização. horrorosa que a gente vive desde o início. uma narrativa utópica está no manifesto. É ali
Tanto é que hoje todo mundo está falando em PEDRO GUIMARÃES O mestiço é confortável
dentro, com as várias opções de sujeitos, que as
descolonização. O que a gente está vivendo Pensei, num primeiro momento, uma coisa que nesse sentido, porque quando a pessoa se
pessoas vão ter com o jogo de dardos e com a
politicamente não é a recolonização do país? criasse um desconforto muito grande. Então, declara mestiça e ela tem apreensão, ela
reescrita. Mas do lado de fora, eu insisto, do lado
Até em termos mundiais, toda essa onda de o que tem para buscar como identidade nesse tem domínio racional do que isso significa,
de fora o impacto inicial tem que ser a partir
fundamentalismo, de conservadorismo que espelho? Você olha para esse espelho, o que eu respeito. Mas na maioria das vezes esses
desse incômodo mesmo, de não oferecer muitas
está tomando, que tomou conta do mundo, está você vê? O que você vê nesse espelho? Você vê termos relacionados à mestiçagem são sempre
opções, porque não houve muitas opções...
muito ligada à relação internacional que havia quem? Você vê: o índio, o português, o negro, o subterfúgios que as pessoas usam para fugir do
entre as metrópoles e as colônias. senhor de terra, o jesuíta e o bandeirante. racismo mesmo que elas têm e não aceitam.
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CONVERSA
DANIEL LIMA Como o trabalho atual se Acredito que esse não é o caminho, isso pode ser Mas permaneceria a hipótese de que, ao NAINE É, porque também, a gente, quando
relaciona com a história de outros trabalhos excludente, também, para outro tipo de produção colocar todos juntos, existiriam elos, existiriam faz a arte ativista, esfrega na cara do público
poéticos que você criou? indígena. Algo que aconteceu agora no curso que certas temáticas, certas formas de construir a algumas coisas. Minha obra é mais sublime
estou lecionando. Eu mostrei esse último desenho obra e construir a perspectiva da obra, que seria desse ponto de vista, porque ela não está
NAINE TERENA Ele se relaciona no sentido do técnico da obra porque as pessoas estavam interseccionada com a dos outros. E, de fato, jogando uma coisa na sua cara, ela é leve, no
percurso mesmo, da construção. Para mim, o muito curiosas. Tem 38 alunos e eles queriam quando eu coloquei todas as obras juntas, elas sentido de estar te mostrando algumas coisas,
percurso é bastante forte, porque se constitui ver e entender o que vou apresentar na Mostra. poderiam ter diferentes configurações, mudar a mas eu não vou te bater com a obra. Então eu
sempre de algumas memórias ou de alguns E falaram assim: “é uma hipermandala”, e então, ordem facilmente, e, de fato, todas dialogavam acho que essa perspectiva é de algo que está
pensamentos instintivos que me surgem, até automaticamente, perguntaram: “mas o que é com todas. Então, existia algo em comum subjetivo, às vezes está subliminar, que não
visualmente mesmo; todos surgiram de algumas mandala na cultura indígena? O que tem a ver?”. que eu acho que tem a ver com a perspectiva precisa dos elementos indígenas expostos ali
imagens que brotam na minha cabeça, mas Eu falei: “não tem a ver”. Uma outra pessoa se mesmo, que é a ideia de ser uma perspectiva para dizer que é um artista indígena ou é uma
que eu sei que tem uma relação com o que eu levantou e disse: “mas por que o artista branco não hegemônica. Essa perspectiva que a gente obra indígena.
faço, com o que eu vivi e vivo no meu dia a dia pode fazer qualquer coisa e ninguém questiona o constrói a partir da nossa própria visão. E, em
em todos os planos. O viés ativista é algo que local identitário dele, e para o negro e o indígena parte, junto com a comissão julgadora desta Acredito que isso é algo para se pensar, não
reconheço muito forte na trajetória, nessas existe sempre esse questionamento, se é ou se Mostra 3M de Arte, a minha defesa do seu categorizar e dizer que é melhor ou que não é
construções. Então, acredito que o mais forte, não é relacionado?”. trabalho, assim como, de outros membros da melhor, se o que foi feito há 1.500 anos é arte
talvez, seja a indagação sobre essa coisa do comissão, era de que temos que trazer novas mais do que o que a gente está fazendo agora,
artista indígena: o que é? onde vai? onde se Eu penso, também, que a gente não pode querer mas que todas perpassam essa subjetividade,
perspectivas, que alimentam novos mundos.
encaixa? E ele não se encaixa. fazer muitos conceitos nesse momento, porque que é a nossa formação. Não essa formação
Se a gente não fomentar novas perspectivas,
senão vamos colocar em algumas caixas que hegemônica, que, embora a gente esteja dentro
não tem como alimentar a imaginação política,
DANIEL Sim, vamos pensar sobre a figura do talvez não sejam necessárias. Por exemplo, do sistema, conseguimos dar uma escapulida de
social, de novos mundos.
artista indígena. Como você elabora essa ideia tem artista indígena dessa arte que toma um algumas coisas, de alguns pensamentos.
de pensar fora da representação construída pouco dessas ferramentas não indígenas, como
de um mundo branco sobre o que seria arte a instalação, propriamente dita, que diz que a DANIEL Dentro desse processo micropolítico de
negra e arte indígena, e, sim, através da principal característica é o senso de ativismo. construção de uma subjetividade, que a gente
autorrepresentação e de uma representação expressa publicamente, através dos recursos
contemporânea? Como você elabora essa ideia DANIEL Eu fiz uma exposição como curador em estéticos, poéticos, terminamos carregando
de artista indígena? 2017 que era só com artistas negros: mulheres, por que o artista branco a nossa subjetividade. Quando esse processo
Dupla formada por David da Paz PATRÍCIA PASSOS vive em Fortaleza-CE, DAVID DA PAZ vive e trabalha em Fortaleza-CE.
trabalha na cidade e em São Paulo-SP. É artista, educador, analista e desenvolvedor de
e Patrícia Passos. Seus trabalhos É arquiteta, mestre em Arquitetura, Artes e sistemas. Trabalha com creative coding e usa
são fruto das intersecções entre Espaços Efêmeros pela Universidade Politécnica a programação de computadores como uma
da Catalunha e pós-graduada em Design de disciplina criativa para gerar sons, imagens,
corpo, arte, espaço, novas e velhas Interiores pelo Senac São Paulo. Dedica-se animações e criar instalações artísticas e
tecnologias, ciências e nomadismos, a projetos de direção de arte e cenografia interfaces interativas. Já desenvolveu inúmeras
voltados ao teatro, ao cinema, à televisão e experiências artísticas e educativas em suas
cultivando uma sensibilidade voltada a instalações em espaços públicos. Em 2015 incursões por diferentes cidades. Atualmente,
à escuta, à preservação e à ativação foi contemplada com a residência artística do coordena o Jardim Lab., laboratório maker e de
MIS de São Paulo, com o projeto da instalação tecnologia educacional, onde além de diversas
da história oral. sonora Indentifo-meXENO. De 2008 a 2010 práticas com cultura digital e aberta, ministra
integrou o coletivo Sudacas, em Barcelona, aulas de smart city, internet das coisas, robótica
realizando instalações nos espaços públicos da e dispositivos móveis.
cidade. Estuda e pesquisa antropologia visual.
(+) https://www.medialab-prado.es/personal/david-
(+) http://oitopassos6.wix.com/setdesigner>. da-paz>.
27
CONVERSA
DANIEL LIMA Gostaria de perguntar, primeiro, entre esses novos modos de comunicação,
A gente tem isso da escuta, PATRÍCIA PASSOS ...milhões de possibilidades,
sobre a criação da dupla MINIMUM: como ela se que a galera vai desenvolvendo através das e juntar com os recursos não é?
formou? Qual é a ideia do coletivo MINIMUM? tecnologias, e como isso também pode gerar
outras sensibilidades num espaço público. tecnológicos. A escuta do DAVID DA PAZ E acaba gerando também
DAVID DA PAZ Foi bem um encontro mesmo. outros circuitos, outras economias, que, de fato,
A Patrícia viu os projetos que eu estou fazendo e PATRÍCIA PASSOS A interatividade. Fomos outro transformando-se descolonizam essas significações dominantes.
soube do edital, e a gente começou essa conversa. bem para esse lado da interatividade, uma
forma de resgatar a escuta, o diálogo. Você em linguagem tecnológica. DANIEL Aproveito para perguntar sobre as
PATRÍCIA PASSOS A gente pesquisava coisas está dialogando com um sistema tecnológico, nossas contranarrativas a essas significações
separados, mas eu sempre estava antenada nas mas tem uma coisa por trás, tem pessoas que dominantes. Conheço o David desde o projeto
pesquisas que ele desenvolvia. Eu vi esse edital muitas vezes, serve para manter um sistema Copas, no qual trabalhamos. Um projeto que
foram ouvidas, que tiveram expressão, e a gente
e troquei ideia com ele para a gente fazer uma de exploração, controle, opressão – como pensou a alteração das cidades para o projeto
transformou isso nesse lugar da tecnologia.
coisa juntos. você falou, essa ideia de minerar dados. Hoje dominante que era a Copa do Mundo. Nos
DAVID DA PAZ Eu gosto de dizer que a em dia, a mineração desses dados pessoais encontramos pensando sobre, exatamente,
DAVID DA PAZ Então, a gente não é bem um tecnologia nem é boa, nem é má, mas talvez seja o commodity mais valioso de esses desvios a narrativas dominantes. A minha
coletivo nesse sentido. Na realidade, a gente se também não é neutra. Então, a gente tem todos: informação sobre as pessoas permite pergunta é: como esse trabalho, do “Monolítico”,
formou como um coletivo a partir desse projeto. uma escolha que é, por exemplo, gerar o controle de política, do comportamento de se relaciona com os trabalhos anteriores que
Então, no projeto a gente teve oportunidade de um tipo de inteligência artificial baseada consumo e assim vai. Como vocês pensam essa vocês desenvolveram?
pensar nessa relação do estudo do espaço, que em direitos humanos, baseada em poesia, ideia de descolonizar a tecnologia? A gente
a Patrícia tem, da arquitetura. baseada em valores humanos que, diante das poderia usar um termo como esse? DAVID DA PAZ Já tem alguns anos que eu venho
políticas atuais, a gente vê que estão sendo trabalhando com essas ideias de narrativas,
PATRÍCIA PASSOS Da escuta. A gente tem DAVID DA PAZ Eu creio que sim, eu acredito narrativas sensoriais, narrativas não lineares.
confrontadas. Então, tem uma escolha, um
isso da escuta, e juntar com os recursos nisso também. Se você pensar, por exemplo, Então, como eu já tive essa questão da escolha,
direcionamento, uma postura também política
tecnológicos. A escuta do outro transformando- quando você usa um GPS, o GPS foi utilizado essa possibilidade de falar, de ver o mundo, de
ao utilizar essas tecnologias. Então, a gente
se em linguagem tecnológica. para guerra, enquanto você está usando para praticar sutilezas e trazer através de narrativas
está minerando dados para fazer uma política
ajudar a encontrar água numa travessia México- das quais não domino a matriz interpretativa.
DAVID DA PAZ E o MINIMUM, esse nome surgiu que vá contra essa maré também de terror que
Estados Unidos... Então é um tipo de guerra Então, para mim, tudo isso é política. Quando
porque a gente uma hora falou: “e agora, o está acontecendo no Brasil, desses governantes
ainda, mas jogada pelo outro lado, não só pelas você não escolhe exatamente como o público
nome?”. Eu já vinha usando. Talvez escolhemos atuais. Quer dizer, a política partidária sempre
significações dominantes. Você está gerando deve pensar, mas só lança... Acho que este
porque já tinha uma história, porque eu já vinha foi isso, mas não vamos entrar nessa.
outras significações também, que vão permitir trabalho se relaciona bastante com essas
usando esse nome quando desenvolvia alguma outras comunicações ou gerar embates. Quando
DANIEL Mas a gente pode pensar essa ideia de trajetórias. Quando eu fui para o Copas, eu fui
coisa relacionada a essas novas tecnologias eu penso tecnologia e arte, esse é um fator
descolonizar a tecnologia. A tecnologia que, como coletivo Curto Circuito. Com o coletivo
e à arte. Mas a pesquisa é a mesma, a relação importante, pensar: quais são essas...
32
CONVERSA
DANIEL LIMA Quais foram os maiores desafios RENATO Eu comecei a pensar em portas, o DANIEL Sim. Você citou os outros trabalhos
Eu quis pegar um elemento
técnicos para a construção da obra? projeto começou não só com portões, mas que já fez. Como vê essa relação com os outros que reforçasse esse elemento
também tinha algumas portas. O início partiu trabalhos? Como vê o “Entre” nessa trajetória
RENATO ATUATI Particularmente, essa proposta disso. Então comecei a fazer um desenho bem dos seus trabalhos? individual e a junção deles
no Largo foi um desafio. Primeiro porque é uma livre, assim, de posicioná-las em um círculo, na
praça aberta. E tendo como exemplo meus verdade. Depois passei a dispor uma porta ao RENATO Olha, eu já trabalhei a questão de formasse um campo coletivo.
trabalhos anteriores, em que às vezes o lugar lado da outra, com portões, com portas. Era um portas e janelas de edifícios, isso já uma
me informa como utilizar um suporte, às vezes conceito circular. Desde o começo tinha esse temática que apareceu no meu trabalho em
eu me amparo na arquitetura do espaço que ideia de usar um elemento que é privado ou outras cidades. Inclusive, intervenções que
eu estou dialogando, pode ser uma instituição que esteja no limite entre público e privado, eu fiz tocando essa questão de gentrificação. limitação de movimentação na interação com
que tem uma parte externa e eu me apoio e fazer dele um conjunto para explorar essa Passei por intervenções e performances que eu a obra. Como você vê essa interação? O que
na arquitetura dela, ou eu vou para um outro questão pública, de coletividade, do individual fechava edifícios. Fechei uma galeria, em uma você vê como potência nessa possibilidade de
estabelecimento, como um estacionamento, e lá e do coletivo. residência que eu fiz. Também fiz projeções em manipular a obra?
também eles me informam, eu acabo utilizando janelas em um edifício que estava vazio. Essa
os espaços como suporte. Assim, muito do meu Eu quis pegar um elemento que reforçasse esse questão do dentro e do fora ela reapareceu RENATO Essa é uma questão que também
trabalho dialoga com o lugar em si, com a elemento individual e a junção deles formasse agora, mas é frequente, como tenho percebido. vem aparecendo um pouco mais no trabalho,
arquitetura dele. Neste caso, por ser em uma um campo coletivo. Comecei a juntar esses que é a participação do público de diferentes
praça, para mim foi bem desafiador porque eu portões até chegar a um hexágono. Foi um Neste caso, especificamente, eu estou muito maneiras. Neste caso, acho interessante a
não podia me fixar em algo. Foi um desafio para exercício em diálogo com arquitetos com quem ansioso para ver esse trabalho funcionando, percepção de que os portões são elementos
mim nesse sentido. Acabei me amparando nos estudei, amigos, colegas de trabalho a quem fui porque ainda está tudo no projeto. Mas eu gosto fixos, muito pesados na cidade. Às vezes vai ter
portões... eu estava com essa ideia dos portões, é mostrando e perguntando: “Gente, esse projeto do resultado, que é um lugar entre uma coisa leveza numa portinha ou outra que abre, ou se
um tema que já apareceu na minha pesquisa em fica de pé?”. Aquela coisa da ideia do artista e a e outra, de você abrir e ele não te levar a lugar ele é manipulado por máquinas (quando aberto
tempos anteriores. Então, criei um projeto com ideia que funciona. nenhum. Eu estou bem curioso para ver como pelo controle remoto). Eu acho que pode ser
os portões que compõem o entorno do Largo. será a dinâmica, mas acho que essa questão bem interessante no trabalho que as pessoas
Assim fui desenvolvendo essa estrutura. Foi parece recorrente em meu trabalho. os movimentem com as próprias mãos. Pelo
DANIEL Eu acredito que tem esse desafio meio que uma resposta que tive da arquitetura. fato de ter as rodinhas, pela estrutura que o
mesmo, de pensar a obra como autônoma, Precisava sustentar esse trabalho. Inicialmente DANIEL É interessante perceber que este trabalho proporciona, você pode movimentar
ela está no espaço público. Ela tendo uma era um decágono, tinha mais portas. Eu fui trabalho também dialoga com a história dos esses portões que, geralmente, são elementos
própria sustentação autônoma. Assim como um simplificando, fui ajustando até virar esse objetos e esculturas que foram criados desde o muito estáticos, que segregam o espaço urbano.
funcionamento que também é um desafio técnico. hexágono. Mas foi uma resposta muito da Neoconcretismo, com a ideia de você manipular A relação corporal da pessoa com um portão.
E como você chegou ao desenho do hexágono? arquitetura, de como sustentar esse trabalho, de a obra. Os “Bichos”, da Lygia Clark, por exemplo. Ela poder mover esse portão, eu acho que pode
ele ficar, como você disse, autossuficiente. Lembra essa proposição que tem uma certa ser interessante isso.
Ser educador
por Victoria Oliveira | Coordenadora Educativo Ao visitar uma exposição ou mostra de
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Ficha Técnica | Imprint
CURADORIA | CURATORSHIP Daniel Lima; DIREÇÃO
GERAL | DIRECTION Soraya Galgane e Fernanda Del
Guerra; PRODUÇÃO EXECUTIVA | EXECUTIVE PRODUCER
Marcela Ribeiro; ASSISTENTE DE PRODUÇÃO | ASSISTANT
PRODUCER Fabiana Prieto; ASSISTENTE FINANCEIRO | FINANCIAL
ASSISTANT Regina Freitas; IDENTIDADE VISUAL E WEBSITE
| VISUAL IDENTITY Oz Estratégia + Design; ASSESSORIA DE
IMPRENSA | PRESS Agência Lema; MÍDIAS SOCIAIS | SOCIAL
MEDIA Letícia Gouveia; FOTOGRAFIA | PHOTOGRAPHY André
Velozo; REGISTRO VIDEOGRÁFICO | VIDEOGRAPHIC RECORD
F2 Media; EXPOGRAFIA | EXPOGRAPHY Oz Estratégia
+ Design; CENOTECNIA | SCENOGRAPHY Water Vision;
PROJETO E INSTALAÇÕES ELÉTRICAS | ELECTRICAL PROJECT AND
INSTALLATIONS Grupo Forte; SEGURANÇA | SECURITY FAQUI
Group; LIMPEZA | CLEANING STAFF Limpidus; CONTÊINER
| CONTAINER Locamex; COORDENAÇÃO EDUCATIVO | ART
EDUCATION COORDIANTION Victoria Oliveira; EDUCADORES
| EDUCATORS Aline Souza Oliveira, Amanda Dias, Andre
Carlos, Bianca Sant’angelo, Tayná Araújo, Tomás Maciel,
Veronica Cristina, Yara Alves; ACESSIBILIDADE | ACCESSIBILITY
Sondery Creative Accessibility
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Artistas e Obras | Artists and Artworks
(01) PROSPERIDADE Naine Terena; COORDENAÇÃO E PROJETO (03) ENTRE Renato Atuati; PRODUÇÃO E EXECUÇÃO |
EXECUTIVO | MANAGEMENT AND EXECUTIVE PROJECT Thiago PRODUCTION AND EXECUTION Maurício Zatti Arquitetura;
Guimarães; PRODUÇÃO E EXECUÇÃO | PRODUCTION AND CÁLCULO ESTRUTURAL | STRUCTURAL CALCULATION Valdemir
EXECUTION EPROM; APOIO E PESQUISA | SUPPORT AND Lúcio Rosa; AGRADECIMENTOS | AKNOWLEDGEMENTS Daniel
RESEARCH Letycia Rendy Yobá Payayá Regis – Criativa Produções, Joaquin Gak e Lucas Bueno;
(02) MIL LITROS DE PRETO – O LARGO ESTÁ CHEIO Lucimélia Romão; (04) MONOLÍTICO MNEMÔNICO MINIMUM – David da Paz e
BIÓLOGA E CONTRA-REGRA | BIOLOGIST AND STAGEHAND Liliane Patrícia Passos; PESQUISA E DESENVOLVIMENTO | RESEARCH
Crislaine; SONOPLASTA E DJ | SOUND MIXER AND DJ Matheus AND DEVELOPMENT David da Paz e Patrícia Passos;
Correa; FOTOGRAFIA | PHOTOGRAPHY Priscila Natany; APOIO PROGRAMADOR | PROGRAMMER David da Paz; CENÓGRAFA | SET
TÉCNICO | TECHNICAL SUPPORT Junio de Carvalho; ORIENTADORA DESIGNER Patrícia Passos
| ADVISOR Juliana Monteiro; MÃES DE MAIO E PERFORMERS
Adriana Santos, Alessandra Damas, Aparecida Gomes da Silva (05) PUXADINHO Projeto Matilha – Fafi Prado e Pedro
Assunção, Benedita de Fátima Rodrigues, Carol Zeferino, Guimarães; CONCEPÇÃO E ATIVAÇÃO | CONCEPTION AND
Claudete Rodrigues Espírito Santo, Cristiane Damasceno da ACTIVATION Projeto Matilha; PRODUÇÃO | PRODUCTION Paula
Silva, Débora Silva Maria, Hilda Maria Azevedo, Iara Oliveira Maia; CENOGRAFIA | SET DESIGNER Julio Dojcsar; PAISAGISMO |
de Souza, Ilza Maria de Jesus Soares, Joseane dos Santos, LANDSCAPING Marina Alegre; VÍDEO | VIDEO: Fernando Coster
Josefa Ambrozia de Souza, Jucelia Maria dos Santos, Juliana
Cavalcante Salvador, Lucimara Santos, Marcia Yara Conti da
Silva, Maria Aparecida Alves Marttos, Maria Eva de Souza, Catálogo Digital | Digital Catalog
Maria José Lima da Silva, Maria Lucia de Souza, Maria Luciene
EDIÇÃO E TEXTOS | EDITING AND TEXTS Daniel Lima; PESQUISA |
de Caldas, Marina Affarez, Mayrini Correa, Miriam Duarte
RESEARCH Daniel Lima; PROJETO E DESENVOLVIMENTO | DESIGN
Pereira, Nadja Caroline dos Santos, Regina Aparecida Simão
AND DEVELOPMENT Oz Estratégia + Design; REVISÃO | REVIEW
Sarchi, Rosana Barros Ortega, Roseli Aparecida Florêncio,
Thais Totino
Rosilene Florêncio Barros, Tânia Regina Alves de Souza,
Vanessa Aparecida Gomes, Zilda Maria de Paula; DIREÇÃO DO
PATROCÍNIO | SPONSORSHIP 3M do Brasil Ltda;
VÍDEO E DE FOTOGRAFIA | VIDEO AND PHOTOGRAPHY DIRECTION
GERENCIAMENTO DE PATROCÍNIO | SPONSORSHIP MANAGEMENT
Tainã Moreno; MONTAGEM, EDIÇÃO E CINEGRAFISTAS | EDITING
Luiz Serafim, Denis Barba e Layza C.P.Virginio Mesquini;
AND CAMERAMEN Glauco Rossi e Tainã Moreno; PRODUÇÃO DO
REALIZAÇÃO | PRODUCED BY Elo3 Integração Empresarial
VÍDEO | VIDEO PRODUCTION Ivani Melo; ASSISTENTE | ASSISTANT
Jade Mali; FOTÓGRAFA | PHOTOGRAFER Maria Eduarda Rezende;
TRILHA AUTORAL | SOUNDTRACK Glauco Rossi
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