0% acharam este documento útil (0 voto)
129 visualizações7 páginas

Drenagem Linfática: Terapia ou Estética?

Este artigo discute se há diferença entre a drenagem linfática manual para fins terapêuticos e estéticos. Independentemente do objetivo, a técnica deve respeitar a anatomia e fisiologia linfática e não causar dor ou lesões. Embora existam variações desenvolvidas por diferentes escolas, todos seguem os mesmos parâmetros técnicos. Adaptações são feitas de acordo com cada caso, sem alterar a natureza da técnica. Outras massagens podem ser usadas para fins estéticos, mas não podem ser
Direitos autorais
© © All Rights Reserved
Levamos muito a sério os direitos de conteúdo. Se você suspeita que este conteúdo é seu, reivindique-o aqui.
Formatos disponíveis
Baixe no formato PDF, TXT ou leia on-line no Scribd
0% acharam este documento útil (0 voto)
129 visualizações7 páginas

Drenagem Linfática: Terapia ou Estética?

Este artigo discute se há diferença entre a drenagem linfática manual para fins terapêuticos e estéticos. Independentemente do objetivo, a técnica deve respeitar a anatomia e fisiologia linfática e não causar dor ou lesões. Embora existam variações desenvolvidas por diferentes escolas, todos seguem os mesmos parâmetros técnicos. Adaptações são feitas de acordo com cada caso, sem alterar a natureza da técnica. Outras massagens podem ser usadas para fins estéticos, mas não podem ser
Direitos autorais
© © All Rights Reserved
Levamos muito a sério os direitos de conteúdo. Se você suspeita que este conteúdo é seu, reivindique-o aqui.
Formatos disponíveis
Baixe no formato PDF, TXT ou leia on-line no Scribd
Você está na página 1/ 7

RBCS ARTIGOS DE REVISÃO

DRENAGEM LINFÁTICA MANUAL TERAPÊUTICA


OU ESTÉTICA: EXISTE DIFERENÇA?
MANUAL LYMPHATIC DRAINAGE THERAPEUTIC OR AESTHETIC:
IS THERE A DIFERENCE?
Rogério Tacani1 e Pascale Tacani2
1
Fisioterapeuta; mestre em Ciências do Movimento, pela Universidade Guarulhos – UnG; mestrando em Engenharia Biomédica, pela Universidade
de Mogi das Cruzes – UMC; coordenador do Curso de Pós-Graduação Lato Sensu em Fisioterapia Dermato-Funcional da Universidade Cidade
de São Paulo – Unicid; docente dos cursos de Fisioterapia do Centro Universitário São Camilo, da Universidade Guarulhos e da Universidade
Cidade de São Paulo; formação no Método Leduc – Drainage Lymphatique Manuel et Traitment Physique de L’Oedeme – Universidade Livre de
Bruxelas – BE; membro da Associação de Fisioterapia Dermato-Funcional do Estado de São Paulo – Afidesp.
2
Fisioterapeuta; especialista em Fisioterapia Motora Ambulatorial e Hospitalar, pela Universidade Federal de São Paulo – Unifesp; mestranda
em Ciências, pelo Programa de Pós-Graduação em Cirurgia Plástica da Unifesp; docente dos Cursos de Graduação em Fisioterapia da
Universidade Municipal de São Caetano do Sul – USCS e do Centro Universitário São Camilo, da Pós-Graduação Lato Sensu em Fisioterapia
Dermato-Funcional da Universidade Cidade de São Paulo – Unicid e do Centro de Estudos e Formação Integrada – Ceafi, em Goiânia;
formação no Método Leduc – Drainage Lymphatique Manuel et Traitment Physique de L’Oedeme; membro da Associação de Fisioterapia
Dermato-Funcional do Estado de São Paulo – Afidesp.

RESUMO
Atualmente, a drenagem linfática manual é um dos recursos de grande destaque no tratamento de edemas,
linfedemas e de algumas condições inestéticas; porém, na prática clínica, têm-se observado que muitos profis-
sionais aplicam técnicas de massagem de forma iatrogênica, utilizando-se erroneamente do nome drenagem
linfática manual, devido à sua grande popularidade. O objetivo deste artigo é apresentar fundamentações gerais
sobre a drenagem linfática manual e verificar se existe diferença nos parâmetros de aplicação da técnica para
finalidades terapêuticas e estéticas. Independentemente de sua finalidade, a drenagem linfática manual deve
respeitar a anatomia e a fisiologia do sistema linfático, além da integridade dos tecidos superficiais, devendo ser
executada de forma suave, lenta e rítmica, sem provocar dor, danos ou lesões aos tecidos do paciente. Apesar
da existência de versões adaptadas e evoluídas da drenagem linfática manual, aprimoradas por diferentes
escolas científicas ao longo da história, conforme achados e pesquisas experimentais de anatomia, fisiologia e
fisiopatologia do sistema linfático, todas estas versões seguem os mesmos parâmetros técnicos, não havendo
diferença técnica de drenagem linfática manual terapêutica e estética. O que ocorre nas diversas situações de
seu uso em indivíduos saudáveis ou com doenças e lesões mais graves são adaptações de alguns componentes
da técnica, de acordo com o quadro clínico individual vigente, sem descaracterizá-la. Outras técnicas de
massagem e terapias manuais são indicadas como coadjuvantes e complementares para o tratamento de
algumas disfunções estéticas, porém devem respeitar a integridade dos tecidos manipulados e não podem ser
denominadas como drenagem linfática manual.
Palavras-chave: drenagem linfática manual, linfedema, massagem, fisioterapia dermato-funcional, estética,
celulite.

71
Revista Brasileira de Ciências da Saúde, ano III, nº 17, jul/set 2008

x1017artigos revisao.p65 71 22/1/2009, 16:38


ARTIGOS DE REVISÃO SAÚDE

ABSTRACT

Nowadays, Manual Lymphatic Drainage is one of the most used therapeutic resources to treat oedema, lymphoedema
and some non-aesthetic conditions. However, clinical pratice shows that many professionals apply this technique
wrongly, attributing the name of manual lymphatic drainage because of its popularity. The aim of this article is to
present manual lymphatic drainage basis and discuss if there are differences in aplications’ parameters for therapeutic
or aesthetic purposes. Whatever may be its objective, manual lymphatic drainage must respect lymphatic sistem’s
anatomy and physiology, and grant superficial tissues’ integrity; it must be applied using soft, slow and rhythmic
movements, without causing pain, tissue lesions or damage to pacients. Despite different versions of manual lymphatic
drainage, develloped by different scientific schools throughout history, according to findings and experimental
studies of anatomy, physiology and pathophysiology of the lymphatic system, all these versions use the same
technical parameters, without technical differences between therapeutic and aesthetic objectives. What occurs in
various instances of its use in healthy or sick people, are adaptations of some components of the technique,
according to individual clinical conditions, without changing its characteristics. Other massage techniques and
manual therapies are indicated as complementary treatment of non-aesthetic conditions, however must respect
tissues’ integrity and cannot be called manual lymphatic drainage.
Keywords: manual lymphatic drainage, lymphoedema, massage, dermato-functional physiotherapy, aesthetic,
cellulitis.

1. INTRODUÇÃO destes gerenciados ou aplicados por profissionais não-


qualificados, os quais, aproveitando-se da popularidade
Diversas técnicas de massagem e terapias manuais
das técnicas de drenagem linfática, têm seduzido um
têm sido usadas ao longo dos tempos para tratar con-
público cada vez maior com falsas promessas de ema-
dições inestéticas. Atualmente, devido ao maior inte-
grecimento, redução de medidas e eliminação do fibro
resse da população por tratamentos que melhorem a
edema gelóide (celulite) (PERES, 2008).
aparência e o bem-estar, tem havido uma grande pro-
cura por práticas de massagem ditas como “reduto- Também têm surgido de forma crescente relatos
ras” ou “modeladoras”. de pacientes que freqüentam consultórios e clínicas de
fisioterapia sobre características obscuras destas prá-
Por conta disto, observa-se uma crescente oferta
ticas, em especial das técnicas de drenagem linfática,
destas técnicas em serviços e clínicas de estética, muitos
executadas de forma iatrogênica com manobras extre-
mamente vigorosas, provocando dores intensas, hema-
tomas e equimoses, o que gera um intenso sofrimento
e complicações, como microvarizes, piora do fibro
edema gelóide (celulite) e deslocamento de trombos
(PERES, 2008; ALTHEMAN, 2007).
Reforçando este fato, há um número cada vez maior
de queixas extra-oficiais de fisioterapeutas egressos de
algumas clínicas de estética diante da exigência de
executarem estas práticas do modo acima descrito, sob
a alegação infundada de que a drenagem linfática manual
para finalidades estéticas deve ser assim, inclusive com
o risco de terem seus serviços dispensados caso
contrariem tal orientação.
Este panorama, que beira a margem do conheci-
Figura 1: Lesões cutâneas provocadas por drenagem linfática
iatrogênica mento científico, não apenas põe em risco a saúde da
Fonte: arquivos pessoais Dr. Rogério Tacani. população como também pode contribuir para o

72
Revista Brasileira de Ciências da Saúde, ano III, nº 17, jul/set 2008

x1017artigos revisao.p65 72 22/1/2009, 16:38


RBCS ARTIGOS DE REVISÃO

descrédito e a desvalorização da fisioterapia dermato- a pele e a aponeurose (camada que recobre os músculos)
funcional perante a sociedade leiga e científica. (GODOY, BELCZACK & GODOY, 2005). Portanto, massagem
e drenagem são duas coisas distintas.
Em função disto, o objetivo deste artigo é apresentar
fundamentações gerais sobre a drenagem linfática
manual e verificar se existe diferença nos parâmetros
de aplicação da técnica para finalidades terapêuticas e 3. BREVE HISTÓRICO DA DRENAGEM
estéticas. LINFÁTICA MANUAL
Uma das primeiras descrições acerca da drenagem
linfática manual data dos anos 1930, por intermédio do
2. DEFINIÇÕES E FILOGENIA dinamarquês Emil Vodder e de sua esposa, Estrid
Vodder, que trabalhavam em Cannes, cidade litorânea
A drenagem linfática manual é uma técnica de
francesa, os quais recebiam muitos ingleses atraídos
massagem composta por manobras suaves, lentas,
pelo clima do Mediterrâneo e, destes, bastantes
monótonas e rítmicas, feita com as mãos, que obede-
possuíam enfermidades crônicas das vias respiratórias
cem ao trajeto do sistema linfático superficial e que
superiores (sinusites, faringites, rinites, amigdalites etc.)
tem por objetivos a redução de edemas e linfedemas
devido ao clima úmido e frio da Inglaterra. Vodder
(de causas pós-traumáticas, pós-operatórias, de
percebia que a maioria destes pacientes tinha os gânglios
distúrbios circulatórios venosos e linfáticos de diversas
do pescoço intumescidos e rígidos, quando lhe ocorreu
naturezas, dentre outras) e a prevenção ou melhoria
intuitiva e empiricamente a idéia de massagear estes
de algumas de suas conseqüências (TACANI, 2003; GO-
gânglios de maneira suave (TACANI & CERVERA, 2004).
DOY, BELCZACK & GODOY, 2005).
O terapeuta repetiu suas experiências em vários
Esta técnica diferencia-se de outros métodos de mas-
destes casos e obteve com regularidade os efeitos
sagem, especialmente da massagem clássica, por não
favoráveis de sua primeira experiência e, da mesma
produzir vasodilatação arteriolar superficial (hiperemia)
forma, também em tantos outros diferentes casos. O
e por utilizar pressões manuais extremamente suaves
casal Vodder se dedicou de corpo e alma a aprofundar
(de até 30 a 40mmHg) e lentas (em média de 12 vezes
as possibilidades de uso do novo tipo de massagem
por minuto) (TACANI, 2003; TACANI & CERVERA, 2004).
desenvolvido por eles, e assim nasceu a drenagem
É importante salientar que o termo massagem vem linfática manual, apresentada pela primeira vez em 1936,
do grego massien, que traduz a ação de esfregar, friccio- num congresso em Paris (NIETO, 1994).
nar, roçar (TACANI & CERVERA, 2004), amassar diferentes
Vodder não teve boa aceitação de grande parte da
partes do corpo (GODOY, BELCZACK & GODOY, 2005),
classe médica por muitos anos, até 1958, quando foi
tendo o significado de manipular os tecidos moles do
convidado a expor seus trabalhos em um congresso
corpo, mais eficazmente aplicada com as mãos e admi-
médico na Alemanha, despertando grande interesse de
nistrada com o propósito de produzir efeitos sobre
alguns investigadores que formaram uma associação
diversos sistemas orgânicos (nervoso, muscular, respi-
com o objetivo de dar provas científicas ao método, e
ratório, circulatório) (TACANI & CERVERA, 2004). Dre-
não apenas relatos clínicos (TACANI & CERVERA, 2004;
nagem é uma palavra originada do germânico pré-his-
HERPERTZ, 2006).
tórico draug, que gerou os termos do inglês antigo
(anglo-saxão) drough e dry (NIETO, 1994), e pertence ao A partir de então, este grupo de pesquisadores
léxico da hidrologia, consistindo em evacuar um pântano especialistas em linfologia trouxe algumas provas da
do excesso de água por meio de canaletas que desem- eficácia da drenagem linfática manual (DLM), dentre
bocam em um coletor maior, desembocando este, por eles Mislin, Collard, Asdonk, Földi, Leduc, Kunke e
sua vez, em um poço ou curso de água (GODOY, BELC- Casley-Smith (T RAISSAC , S AGARDOY & L UCAS , 1998;
ZACK & GODOY, 2005). FERRANDEZ, THEYS & BOUCHET, 2001), que começaram a
se interessar mais pelo sistema linfático e a estudar os
Pode-se fazer uma analogia com a drenagem linfática
efeitos da técnica em um nível muito mais científico
manual, onde as manobras são suaves e superficiais, sem
que o desenvolvido por Vodder (VIÑAS, 1998).
necessidade de comprimir os músculos, mobilizando
apenas uma corrente de líquido que está nos tecidos Na década de 1960, começou a ser utilizada com a
mais superficiais e nos vasos linfáticos localizados entre finalidade de melhorar os resultados cosméticos da

73
Revista Brasileira de Ciências da Saúde, ano III, nº 17, jul/set 2008

x1017artigos revisao.p65 73 22/1/2009, 16:38


ARTIGOS DE REVISÃO SAÚDE

cirurgia palpebral. Desde esta época, já eram obser- pela evacuação do terminus na fossa supraclavicular
vados os seus benefícios para a prevenção e o trata- e linfonodos (VIÑAS, 1998);
mento de algumas das complicações destas cirurgias  um maior tempo deve ser dedicado às áreas mais
(BODIAN, 1969 apud GUIRRO & GUIRRO, 2002). edemaciadas (VIÑAS, 1998);
A descrição detalhada da anatomia do sistema  o paciente, durante a aplicação de DLM, deve estar
linfático, em especial dos linfotomas e de suas vertentes em uma posição confortável, preferencialmente
linfáticas por Kubik, em 1985, possibilitou uma grande deitado com a região a ser tratada totalmente
aplicação fisiológica da técnica de drenagem linfática desnuda e posicionada, de modo que a pele não
manual (BORIS, WEINDORF & LASINSKI, 1994). fique tensa (VIÑAS, 1998). A elevação do segmento
corpóreo também é indicada, uma vez que a
A DLM foi e continua a ser aperfeiçoada, adquirindo
gravidade influencia o fluxo linfático (CAMARGO &
hoje um lugar de destaque no tratamento de edemas e
MARX, 2000);
linfedemas, de modo a tornar-se parte integrante da
terapia descongestiva linfática – TDL (CASLEY-SMITH et  para uma prática correta, é imprescindível
al., 1998), método reconhecido pela Sociedade Interna- conhecer as diversas divisórias linfáticas que
cional de Linfologia como o mais eficaz para o trata- delimitam os quadrantes linfáticos e os locais dos
mento do linfedema (CAMARGO & MARX, 2000). principais grupos de linfonodos superficiais (VIÑAS,
1998), pois as manobras da DLM devem ser feitas
No Brasil, uma grande contribuição para o trata- na direção e no sentido destes grupos do
mento e a prevenção dos linfedemas foi dada pelas quadrante linfático a ser drenado (KASSEROLLER,
fisioterapeutas e pesquisadoras Ângela G. Marx e Márcia 1998). Quando houver impedimentos à drenagem
C. Camargo, merecendo destaque histórico por terem linfática natural, estas deverão estimular a
desenvolvido um método conhecido como linfoterapia®, mudança de direção e sentido da linfa para
que utiliza vários recursos fisioterapêuticos: linfodre- quadrantes sadios (VIÑAS, 1998; CASLEY-SMITH et
nagem manual, enfaixamento compressivo funcional, al., 1998), utilizando-se as anastomoses linfo-lin-
cinesioterapia específica, cuidados com a pele, auto- fáticas e os linfotomas de Kubik (BORIS, WEINDORF
massagem linfática e uso de contenção elástica (TACANI & LASINSKI, 1994);
& CERVERA, 2004; CAMARGO & MARX, 2000).
 as manobras empurram tangencialmente a pele
Outra contribuição de extremo valor foi dada por até o seu limite elástico, sem que haja deslizamento
Carlucci, nos anos 1980, ao criar a denominada ou fricção sobre a mesma (KASSEROLLER, 1998);
drenagem linfática reversa. Este pesquisador  todas as manobras, basicamente, constam de três
observou a presença de edema pericicatricial após o fases: a primeira é a do apoio da mão e dos dedos
uso da drenagem linfática manual em sentido fisiológico sobre a pele da paciente, seguido pela fase ativa,
nas cirurgias plásticas estéticas de retalhos longos. O que é a de empurrar o fluido; a terceira é a fase
referido edema ocorre devido ao bloqueio dos vasos de repouso, na qual a pele volta sozinha à sua
linfáticos superficiais nos locais das incisões, aumentando posição inicial. Dessa forma, os vasos linfáticos
a tensão nas bordas das cicatrizes, sendo, portanto, terão tempo para relaxar, encher-se e possibilitar
indesejável. Apesar de o termo “reversa” dar uma falsa uma melhor mobilização ao fluido que
impressão de inversão do fluxo da linfa, este método normalmente apresenta um fluxo lento (VIÑAS,
procura direcionar tal edema para as vias que se 1998; HERPERTZ, 2006; LEDUC & LEDUC, 1995 e 1992;
mantêm íntegras após as incisões cirúrgicas, até a CASLEY-SMITH et al., 1998; F ERRANDEZ, THEYS &
reconstituição dos vasos (GUIRRO & GUIRRO, 2002). BOUCHET, 2001; CAMARGO & MARX, 2000);
 as manobras devem ser sempre leves, superficiais,
4. FUNDAMENTAÇÕES GERAIS lentas, pausadas e repetitivas, drenando apenas o
líquido intersticial dos tecidos mais superficiais do
A prática correta da drenagem linfática manual corpo e a rede de plexos linfovenosos subpapilar,
(DLM) requer o seguimento obrigatório dos seguintes intradérmico e hipodérmico, localizados entre as
aspectos: camadas da pele e hipoderme, sendo a circulação
 a DLM deve ser realizada sempre de proximal profunda ativada pelas intercomunicações
para distal (CASLEY-SMITH et al., 1998) e ser iniciada existentes e pelo efeito da drenagem da superfície.

74
Revista Brasileira de Ciências da Saúde, ano III, nº 17, jul/set 2008

x1017artigos revisao.p65 74 22/1/2009, 16:38


RBCS ARTIGOS DE REVISÃO

Devido a isto, a pressão exercida sobre a pele do nagem linfática e ofereciam a técnica sem profissionais
paciente deve ser de 30 a 40mmHg (VIÑAS, 1998; habilitados (PERES, 2008).
CASLEY-SMITH et al., 1998; CAMARGO & MARX, 2000; Godoy, Belczack & Godoy (2005) alertaram que
BADGER et al., 2002); várias técnicas de massagem são utilizadas de maneira
 elas jamais devem produzir dor e eritema (TACANI, inadequada e denominadas falsamente como drenagem
2003; FÖLDI, 1998), pois o eritema é decorrente linfática manual, causando prejuízos aos pacientes. Para
do aumento do aporte sangüíneo local, que tem Casley-Smith (NIETO, 1994), uma drenagem linfática mal
como conseqüência o aumento da filtração capilar, aplicada é um dos piores impedimentos para a função
isto é, mais passagem de plasma para o interstício do sistema linfático. Além disso, ela apresenta contra-
(CASLEY-SMITH et al., 1998); indicações de seu uso para diversas situações clínicas,
 pressões excessivas são capazes de lesar os oferecendo alto risco para a saúde, no caso da não-
capilares linfáticos por estes serem muito frágeis observância destas e/ou do despreparo técnico-
(T ACANI , 2003; H ERPERTZ , 2006; F ÖLDI & científico por parte dos profissionais que a utilizam
STRÖBENREUTHER, 2005; GUIRRO & GUIRRO, 2002; (GODOY, BELCZACK & GODOY, 2005; VIÑAS, 1998; NIETO,
CAMARGO & MARX, 2000; KASSEROLLER, 1998). 1994; HERPERTZ, 2006; FÖLDI & STRÖBENREUTHER, 2005;
FERRANDEZ, THEYS & BOUCHET, 2001; GUIRRO & GUIRRO,
2002; CAMARGO & MARX, 2000).
5. DISCUSSÃO Outras técnicas de massagem e terapias manuais
Apesar da existência de versões adaptadas e evoluí- hiperemiantes e de descolamento subcutâneo são
das da drenagem linfática manual, aprimoradas por indicadas como coadjuvantes e complementares para
diferentes escolas científicas ao longo da história, o tratamento de algumas disfunções estéticas (TACANI
conforme achados e pesquisas experimentais de & CERVERA, 2004), porém não são indicadas para os
anatomia, fisiologia e fisiopatologia do sistema linfático, distúrbios linfáticos, e devem, mesmo assim, respeitar
todas estas versões seguem os mesmos a integridade dos tecidos manipulados (GUIRRO &
parâmetros técnicos, ou seja, não há diferença GUIRRO, 2002).
técnica de drenagem linfática manual tera- A propósito, segundo Heckel (1939) apud Boigey
pêutica e estética. (1986) “(...) A idéia muito difundida, há uns 20 anos, de
amassar os nódulos e as placas de celulite através de
O que ocorre nas diversas situações de seu uso em
beliscão energético indo até a equimose é a prova de
indivíduos saudáveis ou com doenças e lesões mais
um incurável obscurantismo”, mostrando que, há quase
graves, ou ainda submetidos a cirurgias oncológicas,
90 anos, já se descrevia que as técnicas de massagem
vasculares e plásticas, dentre outras, são adaptações
dos tecidos superficiais com fibro edema gelóide
de alguns componentes da técnica, conforme o quadro
(celulite) e adiposidades localizadas devem ser realizadas
clínico individual vigente, sem descaracterizá-la (BADGER
de forma leve, superficial, branda e agradável, respeitan-
et al., 2002; ARIEIRO et al., 2007).
do-se sua integridade para não produzir hematomas,
Os edemas, linfedemas e outros distúrbios correla- equimoses e, tampouco, dor excessiva (TACANI & CER-
cionados (discretos ou graves) podem apresentar um VERA, 2004; BOIGEY, 1986), uma vez que a ruptura de
caráter inestético, e a melhora clínica destas condições fibras elásticas e a formação de processos inflamatórios
patológicas normaliza a função de órgãos e sistemas pioram ainda mais o estado dos tecidos comprometidos
orgânicos, melhorando, conseqüentemente, a aparência (TACANI & CERVERA, 2004).
corporal dos indivíduos, fato que desperta grande Somando-se a este panorama, são descritas na
interesse da população. literatura complicações clínicas graves do uso inade-
Aproveitando-se disto, muitos serviços de estética quado e inadvertido das técnicas de massagem, tais
e embelezamento, nos últimos anos, passaram a como hematomas hepáticos (TROTTER, 1999), necrose
oferecer estes tratamentos ao público, sendo notificados de gordura subcutânea (HANIF & AHMAD, 2006), desloca-
no Estado de São Paulo (até outubro de 2007), pelo mento ureteral, embolização arterial renal, síndrome
Conselho Regional de Fisioterapia e Terapia Ocupa- interóssea anterior, pseudo-aneurisma arterial poplíteo
cional da 3ª Região (Crefito-3), cerca de 1,3 mil esta- (ERNST, 2003), os quais merecem destaque e atenção
belecimentos que faziam o uso indevido do termo dre- da população e das autoridades.

75
Revista Brasileira de Ciências da Saúde, ano III, nº 17, jul/set 2008

x1017artigos revisao.p65 75 22/1/2009, 16:38


ARTIGOS DE REVISÃO SAÚDE

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS Outras técnicas de massagem e terapias manuais


são indicadas como coadjuvantes e complementares
A drenagem linfática manual, independentemente
para o tratamento de algumas disfunções estéticas,
da escola de origem ou do estilo da técnica, respeita a
porém devem respeitar a integridade dos tecidos
anatomia e a fisiologia do sistema linfático, além da
manipulados e não podem ser denominadas como
integridade dos tecidos superficiais, e, para tanto, deve
drenagem linfática manual.
ser executada de forma suave, lenta e rítmica, sem
causar, em hipótese nenhuma, danos ou lesões aos Cabe salientar a importância do esclarecimento ao
tecidos e, tampouco, dor ao paciente. público que tenha interesse em se submeter a estes
procedimentos terapêuticos: que o façam com
Devido a esse consenso na literatura, conclui-se que
fisioterapeutas devidamente habilitados e que, nas
não existe diferença nos parâmetros de aplicação da
situações adversas, denunciem-nos para as autoridades
técnica de drenagem linfática manual para finalidades
responsáveis.
terapêuticas e estéticas.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALTHEMAN, Francine. Qual é o preço da vaida- FÖLDI, Michael & STRÖBENREUTHER, Roman. Foundations
de? Revista Crefito-3, 4(1): 21-23, 2007. of manual lymph drainage. 3. ed. St Louis: Elsevier
ARIEIRO, Elaine G.; MACHADO, Kátia S.; LIMA, Vanessa Mosby, 2005.
P. de; TACANI, Rogério E. & DIZ, Andréia M. A eficácia GODOY, José Maria P.; BELCZACK, Cleusa E. Q. &
da drenagem linfática manual no pós-operatório de GODOY, Maria de Fátima G. Reabilitação linfovenosa.
câncer de cabeça e pescoço. Revista Brasileira de Cirur- Rio de Janeiro: Dilivros, 2005.
gia de Cabeça e Pescoço, 2007; 36(1): 43-46.
GUIRRO, Elaine C. O. & GUIRRO, Rinaldo R. J. Fisiotera-
BADGER, Caroline; SEERS, Kate; PRESTON, Nancy & pia dermato-funcional: fundamentos, recursos e pato-
MORTIMER, Peter. Physical therapies for reducing and logias. 3. ed. São Paulo: Manole, 2002.
controlling lymphoedema of the limbs (Protocol for
a Cochrane Review). Cochrane Library, 2002; Issue 1. HANIF, Zulfiqar & AHMAD, Muhammad. Subcutaneous
Oxford: Update Software. fat necrosis presenting as large mass. European Journal
of Emergency Medicine, 13: 106-107, 2006.
BOIGEY, Maurice. Manual de massagem. São Paulo: Or-
ganização Andrei, 1986. 204p. H ERPERTZ , Ulrich. Das lipodem. Zeitschrift für
Lymphologie, 19: 1-11, 1995.
BORIS, Marvin; WEINDORF, Stanley & LASINSKI, Bonnie.
Lymphedema: reduction by noninvasive complex ______. Edema e drenagem linfática: diagnóstico e te-
lymphedema therapy. Oncology, 1994; 8(9): 95-106. rapia do edema. São Paulo: Roca, 2006.
CAMARGO, Márcia C. & MARX, Ângela G. Reabilitação HOWELL, D.; EZZO, Jeanette; TUPPO, K.; BILY, Linda &
no câncer de mama. São Paulo: Roca, 2000. JOHANNSON, K. Complete decongestive therapy for
CASLEY-SMITH, Judith R.: BORIS, Marvin; WEINDORF, lymphedema following breast cancer treatment
Stanley & L ASINSKI , Bonnie. Treatment for (Protocol for a Cochrane Review). Cochrane Library,
Lymphedema of the Arm – The Casley-Smith Method. 2002; Issue 1. Oxford: Update Software.
Cancer, 1998; 83 (12 Supp/American): 2.843-58. KASSEROLLER, Renato G. The Vodder School: the
E RNST , Edzard. The safety of massage therapy. Vodder Method. Cancer, 1998; 83 (12 Supp/American):
Rheumatology, 42: 1.101-1.106, 2003. 2.840-42.
FERRANDEZ, Jean-Claude; THEYS, Serge & BOUCHET, KLEIN, Jeffrey A. Post-tumescent liposuction care:
Jean-Yves. Reeducação vascular nos edemas dos mem- open drainage and bimodal compression. Dermatologic
bros inferiores. São Paulo: Manole, 2001. Clinics, 1999; 17(4): 881-9.
FÖLDI, Ethel. The treatment of lymphedema. Cancer, LEDUC, Albert & LEDUC, Olivier. Drainage de la grosse
1998; 83 (12 Supp/American): 2.833-34. jambe. Bruxelles: Wilmart & Gilles, 1992.

76
Revista Brasileira de Ciências da Saúde, ano III, nº 17, jul/set 2008

x1017artigos revisao.p65 76 22/1/2009, 16:38


RBCS ARTIGOS DE REVISÃO

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

______. Le drainage lymphatique: théorie et pratique. TACANI, Rogério E. Tratamentos fisioterapêuticos pro-
2. ed. Paris: Masson, 1995. postos por cirurgiões plásticos a pacientes submeti-
dos à lipoaspiração. 2003. 80 p. Dissertação (Mestrado
MOSELEY, Amanda L.; CARATI, Colin J. & PILLER, Neil B.
em Ciências do Movimento) – Centro de Pós-Gra-
A systematic review of common conservative
duação, Pesquisa e Extensão da Universidade
therapies for arm lymphoedema secondary to breast
Guarulhos. Guarulhos: Ceppe/UnG.
cancer treatment. Annals of Oncology, 18: 639-646,
2007. TACANI, Rogério E. & CERVERA, Leonardo. Técnicas
manuais. In: DE MAIO, Maurício (Editor). Tratado de
NIETO, Salvador. Linfedema: tratamiento médico. Medicina Estética. São Paulo: Roca, 2004. p. 1.881-1.918.
Buenos Aires: s/ed, 1994.
TACANI, Rogério E.; GIMENES, Rafaela O.; ALEGRANCE,
PERES, Lucia P. Drenagem linfática. Revista Crefito-3, Fábia C. & ASSUMPÇÃO, Jurandyr D. Investigação do
5(1): 32-33, 2008. encaminhamento médico a tratamentos
RUBIN, Alex; HOEFFLIN, Steven M. & RUBIN, Merlin. fisioterapêuticos de pacientes submetidos à
Treatment of postoperative bruising and edema with lipoaspiração. O Mundo da Saúde, 29 (2): 2005.
external ultrasound and manual lymphatic drainage. TRAISSAC, Bernard; SAGARDOY, Guy & LUCAS, J. F. Le
Plastic and Reconstructive Surgery, 2002; 109(4): 1.469- drainage lymphatique manuel en angiologie. Phlebologie,
71. 41: 471-476, 1988.
SOARES, Lúcia Maria A.; SOARES; Sandra Mara B. & SO- TROTTER, James F. Hepatic hematoma after deep tissue
ARES, Aline K. A. Estudo comparativo da eficácia da massage. New England Journal of Medicine, 341 (26):
drenagem linfática manual e mecânica no pós-opera- 2.019-20, 1999.
tório de dermolipectomia. Revista Brasileira em Pro- VIÑAS, Frederic. La linfa y su drenaje manual. 4. ed. Bar-
moção da Saúde – RBPS, 2005; 18(4): 199-204. celona: Integral, 1998.

Endereço para correspondência:


Pascale Tacani. Rua Santo Antônio, 50. CEP 09521-160 – São Paulo. Tel.: 11 4239-3334. Clínica de Fisioterapia da USCS.
E-mail: [email protected].

77
Revista Brasileira de Ciências da Saúde, ano III, nº 17, jul/set 2008

x1017artigos revisao.p65 77 22/1/2009, 16:38

Você também pode gostar