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2- Trodul: Yoo dule ~
Projeto Integrado de Protesio as Terras ¢ Populagdes Indigenas da Amazinia Legal
FUNAVPPTALIGTZ
Seminario
eee "Terras Indigenas: Identificagdo antropolégica e identificagao pela FUNAI"
Brasilia 23-25 de julho de 1997
- Relatério -
Jurandyr Carvalho Ferrari Leite
Consultor/Coordenador do Semindrio
Ric de Janciro, 30/09/97A. GERAIS snes
1. Da IDENTIFICAGKO é
Caracteristicas © objet¥08 x...
Estudos necessérios e abrangéncia
2, JURIDICO E ANTROPOLOGICO
Adequagao...
Portaria 14.
3, RELATORIO. ssn
Caracteristicas e importancia..
4, ESTUDOS ANTROPOLOGICOS E COMPLEMENTARES
Estudos antropolégic08 nee
& Levantamento fundidrio e cartorial
"Estudo” Cartografico. :
Levantamento Ambiental
5, PARTICIPAGAO DOS INDIOS......
O que é e como viabilizar...
6, IDENTIFICAGAO E RE-IDENTIFICAGAO
ee)
e C. CONDICOES TECNICAS PARA A IDENTIFICAGAO sen
1, DOCUMENTAGAO E INFORMAGAO oe Sesser 20.
Organizagéo, guarda e acesso iacteeeeetaateaea ne 20
2, ESTUDOS PRE-CAMPO... a
3. A TRABALHO DE CAMPO DO ANTROPOLOGO PREVIO AOS DEMAL...
4, CAPACTTAQAO wns
D. CONDICOES PRATICAS E ESTRUTURAIS cevesrrrinesneemenneeeennnie
1. CONDIGOES GERAIS
ADRs, verbas, quadros...
Escotha dos membros do GT.
Be Coordenagdo do GP...
E. AVALIACAO E ACOMPANHAMENTO.
-ACOMPANHAMENTO E AVALIAGAO.....
. RESUMO - O QUE EE COMO PREPARAR......
FB, POS-GT snmernnenrnennnrn mecemennene 29
G. CONCLUSAO sevssnereenetnstnnetneta
ALGUMAS QUESTOES SOBRE A PREPARAGAO DO "ROTEIRO OU MANUAL" 29
renmrnsnnrrenenees 29INTRODUCAO
Este relatério foi elaborado a partir das discussdes e propostas surgidas durante 0
seminério "Terras Indigenas: Identificagdo antropolégica e identificagao pela
FUNAI" realizado de 23 a 25 de julho de 1997 em Brasilia, como parte do trabalho de
preparagio de um "manual" de identificagdo de terras indigenes, trabalho este que esta
sendo financiado pelo PPTAL/GTZ
Nao foi intengo reproduzir a seqiiéncia das intervengoes dos participantes
descrevendo-a uma a uma, Em luger disso procurei agregar as idéias € propostas
surgidas, buscando uma sistematizago que indicasse as tendéncias e preocupagies
mais correntes.! Este procedimento, obviamente, retira de muitas falas sua coeréncia
intema e logica de argumentagdo, que so também expressdo da insergdo de quem fala
neste campo de atuagio. Nao é tarefa facil reconstruir as posigdes expressas no
seminario, sobretudo porque procuramos garantir que todos os participantes — mais de
trinta técnicos de instituigdes distintas —, expressassem seus pontos de vista, criticas ¢
sugestdes, incentivando assim o interedmbio entre os diferentes setores, formagies
posigdes institucionais. Com isto o tempo de intervengio foi reduzido, 0 que
certamente prejudicou o detathamento de algumas idéias por parte dos participantes.
Para a preparagiio deste texto ouvi as gravagdes do seminario ¢ procureilistar todas as,
consideragdes e sugesties surgidas. Ao apresenté-las neste relatério preferi, no
entanto, que as questdes surgidas de modo dispersos ¢ desiguais (com linhas de
raciocinio baseadas em textos pré-elaborados, experigncias diversas ou no simples
debate), estivessem ordenadas e agnupadas em t6picos e desse ao leitor a possibilidade
de uma leitura menos fragmentada e orientada para 0 objetivo principal deste trabalho,
que é de servir a preparagio de um texto-roteiro que oriente e informe o antropélogo e
coordenador do grupo técnico dos objetivos e procedimentos do trabalho de
identificagdo, Isto direcionou o texto e mesmo a incluso de alguns tépicos, que néio
surgiram expressamente durante o semindrio, mas foram elaborados apés reler todos os
epoimentos ¢ intervengdes. Também niio deixei de fazer comentirios ou de incluir
idéias que estavam implicitas na intervengio oral
11é nossa pretensio que fique a disposigo dos interessados a cépia da transcrigo dos debates, mas
© pouco tempo e a qualidade da gravagdo ainda nfo permit um bom trabalho ¢ mesino a identificagdo
de algumas falasPor estarem permeados que avaliagdes mais amplas, por modos de conceber a terra
indigena, os indios, o indigenismo, etc. e até de posigdes politicas, os tépicos
apresentados poderiam ser ampliados ¢ amplamente discutidos, De qualquer modo, 6
nosso objetivo que este relatério chegue aos participantes e no participantes, Algumas
pessoas prepararam textos para a apresentago no seminario, Gostaria de anexar os
comentirios ¢ criticas e novas reflexdes que a leitura deste relatério possa suscitar, bem
como a corregio de informagées que se fizerem necessérias, Este ser sem divida 0
melhor modo de caminharmos na diregao de uma “discussdo seqienciada’”, que possa
gerar novas idéias ¢ atitudes.
A. GERAIS
1. Da identificagio
Caracteristicas e objetivos
trabalho de identificagio de uma terra indigena tem uma finalidade constitucional: a
de caracterizar e definir uma érea como "erra tradicionalmente ocupada” conforme
estabelecido no art.231 (caput ¢ §1°) da Constituigao Federal de 1988. E competéncia
da Unitio "demared-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens”. A ela cabe,
portanto, a iniciativa de declarar uma terra como “tradicionalmente ocupada” pelos
indios, reconhecendo publicamente o seu direito & posse permanente.
A identificagdéo tem 0 papel de caracterizar e fundamentar — através de estudos
téenicos elaborados por profissionais com competéncia para tal ~, uma determinada
terra como “terra tradicionalmente ocupada" pelos indios, conforme definido na
Constituigio Federal de 1988, visando declarar publicamente 0 direito dos indios a
posse destas terras de propriedade da Unido e excluindo automaticamente deste dircito
todos os terceiros. E, portanto, nesta fase que se produz a principal pega juridica para a
justificativa e findamentago de uma terra como indigena, tanto para o convencimento
a autoridade administrativa, como no caso de questionamento desta terra em juizo.
A declaragao de que uma terra € tradicionalmente ocupada pelos indios através de
decreto federal 0 reconhecimento formal do direito originarios dos indios sobre
determinada érea do territério brasileiro, caracterizada como "terra tradicionalmenteocupada’, Esta caracterizagii, feita pelo executivo e por sua iniciativa, pode ser (e tem
sido) questionada dentro do proprio processo (Decreto 1775/96, art.2 § 8) ou em juizo,
dai a nevessidade de que trabalho de identificagdo ¢ seus resultados seja convincente €
sustentavel na arena juridica. No intuito de cumprir 0 preceito constitucional de
protesio aos indios, uma area pode ser destinada aos indios ainda que néo seja "terra
tradicionalmente ocupada”, isto é, ainda que nfo haja um vinculo entre um grupo
indigena e a terra conforme a caracteriza¢o constitucional, Neste caso no se trataria
de um processo de declaragéo de direito mas 0 da desapropriagao.
Embora estas premissas tenham tido aparente concordincia entre os participantes do
seminatio, algumas intervengdes procuraram dar ao processo de segularizagio e, em
especial, & identificagdo uma outra dimensGo: a proposta? oriunda da identificagéo &
fruto de uma "construgao", jé que este ¢ fundamentalmente um processo social &
politico, Isto significa que o grupo técnico ndo iri identificar um objeto natural ¢
acabado, mas "construi
uma proposta surgida de uma série de fatores e presses
locais ¢ setoriais, ¢ de um dialogo entre os diversos atores envolvidos. A identificagao &
vista também como um momento de negociagao ¢, até, de "gestio de conflitos", uma
‘vez que varios interesses estio ai colocados numa situagdo privilegiada. A identificago
& historica e datada, 0 antropélogo fala de um grupo social, que como tal se modifica &
gera novas demandas.
Estud se
A definigo de “terra tradicionalmente ocupada" contida no §1° do artigo 231 da
Constituiglio Federal, é feita pelo que tem sido chamado de quatro situagdes:
[a] as ocupadas em cardter permanente,
[b] as utilizadas para suas atividades produtivas,
[c] as imprescindiveis a preservagéo dos recursos ambientais necessdrios
a seu bem-estar e
[4] as necessdrias a sua reproduedo fisica e cultural,
segundo seus usos, costumes e tradigées.
2 © uso do termo "proposta” foi em si um objeto de polémica, especialmente quando este se
ccontrapte & objetividade necessiria a uma pera técnica, como & 0 relatério de identificagto, que
Estas duas partes® que compdem a identificago no so portanto separadas. O estudo
etnogrifico tem um papel de caracterizar a terra tradicionalmente ocupada e justificar
03 limites propostos. Embora o estudo antropolégico muitas vezes tenha que descrever
aspectos (aparentemente) nio territoriais como forma de justificar uma determinada
concepgo de ocupagio, o fato de ter que justificar os limites propostos obriga a uma
forma de apresentagdo destes dados que as aproxima.
Isto apenas fortalece a idéia de que é preciso ir para campo sabendo que o resultado do
trabalho seré uma pega utilizada dentro de um proceso administrativo de demarcagio
da terra e também uma pega juridica, como tal algumas exigéncias legais e normativas
ddevem ser curmpridas ¢ buscadas neste trabalho, ainda que estes nao sejam os elementos
primordiais ou mais interessantes para a compreensiio daquele grupo social. Estas
cexigéncias normativas ¢ legais podem ser questionadas a luz do conhecimento do
grupo, podem nio ser respondidas, mas nestes casos isto deve ser argumentado
tecnicamente no relatério.
© prazo dado para manifestagdo dos interessados em decreto (0 contraditério), no impede que
fais ntersses se manifese posteriommente
5 Como foi sugeride durante © Seminario o relatério deveria conter uma espécie de "memorial
descritivo antropolégico", no sentido de que todos os limites fossem descritos pelo antropSlogo
Justificando-os. Mais do que os limites as porq¥es de areas internas a terra, ris, areas nflo ocupadas
‘por aldeias ou atividades produtivas direias, etc. deve constar deste descritive. Talvez este
rocedimentoajudasse a "prever"pesivis ages questionando a terra dos indo.
© Que sto assim consideradas no Decreto 1775/96 e na Portaria 14/96 usando-se identificagdo para
‘a primeira etapa ¢ "proposta de limites" ou delimitagdo para o segundo.2, Juridico ¢ antropolégico
Adequacio
A questio da adequagio do discurso juridico e antropologico esteve presente desde 0
primeiro momento no seminario com a desconfianga na capacidade dos antropélogos
de preparar os "laudos" exigidos. Esteve presente também como pano de fundo na
avaliagao dos relatérios antropolégicos, na proposta de um acompanhamento juridico
do grupo técnico, nas criticas a0 cariter limitador da Portaria 14/96, A aproximagio
destes dois discursos jé foi discutida em outros féruns e, aparentemente, no valeria a
pena voltar a ela se no fosse nosso objeto (a identificago) fundamentado justamente
desta intersegio entre o juridico ¢ 0 antropolégico.? Limito-me a apresentar trés
aspectos surgidos no debate.
Em primeiro lugar, as duas areas trabalham com conceitos € provas distintos, alids, a
propria nogo de prova e conceito nfo so correlatas. Isto eria diferengas —e uma certa
tensio ~ no que ¢ considerado importante para advogados e antropélogos. Néo por
outra razio, surgiram comentarios do tipo, “os relatdrios siio ruins porque ndo
‘cumpriram a Portaria 14” ¢ outros que diziam que "cumprir a Portaria 14 é banal,
‘mas isto néio argumenta uma terra como tradicionalmente ocupada". No mesmo
sentido, uma das propostas apresentadas foi de que, para fazer frente as limitages,
legais e normativas, fosse buscado na antropologia conceitos préximos a terra
tradicionalmente ocupada, tais como territério ou territorialidade que jé tem um
acimulo teérico maior.8 Qutras destacavam a necessidade de uma boa etnografia,
deixando a *proposta", que ¢ uma negociagio politica conduzida necessariamente
através do juridico, para um segundo momento.
7A avaliagio juridica que se fax do processo de identificagiio ¢ da qualidade dos relatérios, torna
cesta a questfo mais importante no debate atual da identificagfo. No texto que apresentei afirmel que "a
adequagio entre as leituras jutidicas do texto constitucional ¢ 0 conhecimento antropolégico* era 0
desafio do momento, Isto tem motivado varias discussées sobre a qualidade dos trabalhos e, de certo
‘modo, motivou o semindrio ¢ a sevisio dos "manuais". Esta interpretagdo do momento afual inspirow
parigs dese relator.
8 Embora esta medida possa precncher uma certa lacuna tebrica, 0 exercicio de "adequagdo" teria
necessariamente que ser feito, seja em um artigo teérico que fosse citado na realizago dos relatérios,
seja em cada relatéio especifco,dialogando com os termos da lei.
° Esta posicdo separa claramente as duas etapas da identificagdo, como tratei no t6pico anterior.‘De qualquer modo a exigéncia de convencer a autoridade governamental e 0 juiz com
base na fundamentago técnica dos preceitos juridicos e, assim, aproximar
argumentagio técnica (antropologica e dos estudos complementares) do discurso do
juridico € uma caracteristica da identificagdo, para isto usa-se conceitos, etnografia,
evantamentos, dados obrigatérios em portaria — que pode até nio demonstrar nada
quanto a relago do grupo indigena com a terra, mas so obrigatérios. O antropélogo
que deveria procurar "traduzir" para nés o indio € seu territério, deve considerar
também a diferenga de discurso entre as areas de conhecimento e setores de nossa
sociedade e procurar “traduzir" seu proprio discurso para os termos do juridico —
tradugdo que deve ser consciente e explicita, Este é um trabalho embutido no trabalho
de identificagao. E neste sentido que algumas consideragées levantadas sobre o cuidado
com 0 trabalho e a forma do "texto" do relatério mereceria destaque:
- 0 texto nao é o tempo da pesquisa ¢ do levantamento de dados, mas o da
adequago destes discursos, ento que se tivesse mais tempo para elaboracdo
do texto ¢ um maior cuidado com o discurso,
~ que este pudesse ser
jo, antes da avaliagao da proposta oficialmente, por um
advogado destacando problemas de expresses e termos que possam gerar
confusdes na interpretagio ou auséncias de informagBes necessiias,
= que o texto se remeta, como resposta que é, a0 texto constitucional procurando
concluir usando os termos da lei.
© segundo aspecto surgido em varios momentos, visando esta adequago foi a da
preparagio de quesitos que oriente (e delineie) a ida do antropélogo campo,
aproximando assim 0 resultado de seu trabalho daquele de interesse do jurista ou
autoridade, ou antes, aqueles exigidos na legislagdo.10 O carater desta lista de quesitos,
que ¢ inspirada no levantamento de pontos e questdes pelo juiz, foi no entanto ambigua
no seminario, Algumas vezes esta foi confundida com um questionario de levantamento
de campo para 0 antropélogo, genérico ou seja como um manual de campo ou antes
um “instrumento de pesquisa". Tomemos o espirito de se pensar nestes "quesitos"
como uma tradugdo em forma de questdes ou t6picos do que se considera
10 Podemos dizer que preparar quesitos para orientar o trabalho antropolégico & a principal
ropostaembutida na Portara 14/96, sobre a qual fslaremos mais abaixo10
indispensivel segundo a legislago, com o intuito de objetivar 0 trabalho do GT. Duas
consideragées surgidas no semindrio, quanto a dificuldade de preparar tais quesitos: a
primeira € que esta se trabalhando com um universo de 500 terras indigenas em
situagdo social e geogrdficas muitos distintas e com grupos indigenas bastante distintos
entre si, portanto, isto
iculta © detalhamento dos tépicos constitucionais para nlio
negar as especificidades de cada caso. A segunda consideragio é de que estes quesitos
nio sejam elaborados a partir de uma tinica experiéncia ou de um modelo, seja ele os
seringueiros do Acre, 0 modelo (urbano) dos circulos concéntricos, ou outro qualquer,
que 0 transformaria em um limitador ¢ daria ao técnico mais trabalho para justificar a
razio de nfo responder cada uma das questdes.!1
© tereeiro aspecto ¢ 0 da polémica situag%o da imparcialidade e neutralidade do
antropélogo. Ha uma confusdo entre imparcialidade ¢ a relagio de confianga com 0
grupo social que esta pesquisando, necesséria ao trabalho do antropélogo. Segundo a
avaliagao juridica, o comprometimento com uma das partes envolvidas em um proceso
judicial pode desqualificar um técnico. A objetividade do trabalho do antropélogo e sua
forma de controle dos dados obtidos em pesquisa, esta intimamente ligado a um certo
tipo de "cumplicidade” com o grupo social estudado. Este é assunto, contudo, nao
pode e nio deve ser vista apenas como um “nio-entendimento” da forma de trabalho
do antropblogo, uma vez que afirmagées parciais e tomadas de posigio pode
enfraquecer ou desqualificar mesmo um trabalho bem fundamentado.
Portaria 14
A Portaria 14/96 foi, sem divida, um dos tépicos mais discutidos ou referenciados
durante 0 semindrio, Esta Portaria, datada de 9 de janeiro de 1996, um dia apés a
assinatura do Decreto 1775/96, estabeleceu regras para a elaboragao do relatério
circunstanciado de identificagio e delimitago de terras indigenas. Comego pelas
declaragdes repetidas de que a Portaria 14/96 é "limitadora". Como entender isto, se
tomando textualmente a Portaria em seu art.1° temos "O relatério (...) devidamente
fundamentado em elementos objetivos, abrangera, necessariamente, além de outros
elementos considerados relevantes pelo grupo técnico, dados gerais e especificos
11 Estes quesitos poderiam gerar ainda a dificil relagdo de ler o grupo indigena a partir da te, isto
6 e uma vez ndo sendo pertinente as perguntas a um determinado grupo indigena, isto poderia ser lido
‘como uma deficiéncia do relaério, ou pior um questionamento a propria indianidade do grupo.Ml
organizados da seguinte forma(...),"? (GM) Nao hé, portanto, de forma explicita uma
“limitago". Entretanto ha o estabelecimento de um minimo que o relatério deve
conter. Embora tenha sido dito que a Portaria é "indicativa”, em oposigio a
“limitadora", nio me parece correto: ela ¢ impositiva deste minimo, quando fala em
"abrangerd, necessariamente”. Se do ponto de vista do texto n&o ha uma limitagao,
uma vez que esté aberta a possibilidade inclusdo de "outros elementos". Em que sentido
pode ser entendida esta limitagdo?
Em primeiro lugar, ao separar os t6picos em Partes (I, Dados Gerais, Il. Habitagio
Permanente, Ill. Atividades Produtivas, IV. Meio Ambiente, V. Reprodugio Fisica
Cultural), a Portaria parece estranha aos olhos de qualquer cientista social,
especialmente do antropélogo, dada a multidimensionalidade do fato social. Nao sem
justificativa houveram afirmagdes sobre esta multidimensionalidade, sobre a dificuldade
de “encaixar" organizagio social, economia nos moldes da Portaria, pois "tudo esta
muito ligado", ou ainda, afirmagoes de que estes topicos e os dados exigidos em cada
uum so insuficiente para dar conta do preceito constitucional de "terra tradicionalmente
‘ocupada". Segundo uma das opiniGes, a forma como esta organizada sugere (ou induz)
a tomar uma "determinada situagdo a ser identificada como imutével e ideal, cabendo
0 antropélogo uma fotografia da realidade presente que é tida como ideal, de modo
que garantindo aquilo 0 processo esté liquidado.". © que se argumenta € que
frequentemente o antropélogo para apresentar uma terra como tradicionalmente
ocupada e para justificar uma proposta de limites especifica, deve ir além do modelo da
Portaria, que é assim "insuficiente". Foi indicado que muitas vezes 0 antropélogo €
levado a pensar num "resgate de coisas perdidas", como no caso de areas do Nordeste
‘e mesmo partes de terras indigenas ocupadas por nao indios, em outras regides do pais.
A descrigio de processos sociais, como foi dito, é diferente de uma catalogagio de
termos culturais ou de "marcas no espaco", neste sentido nao se pode fazer uma leitura
acritica da Portaria 14/96, se quer levar em conta estes processos sociais ¢ historicos.
Esta preocupagio como os processos sociais e histéricos nfo encontramos na portaria.
Como "prever" um tertitério (questo levantada varias vezes e de dificil enquadramento
no decreto ¢ Portaria) que possa manter o grupo indigena, sem levar em conta os tais,
“processos sociais", por uma previsdo aleatéria, por dados de populacéio? Talvez estas
questdes, surgidas de intervengdes no semindrio, possam levar a entender um certo
“incémodo” do antropélogo12
‘Trata-se assim de uma forma de pensar o objeto em questo como diferenciado &
miltiplo, onde os "desvios" nao sao excegdes.!2 Por ser um objeto social ¢ dinamico e
‘a forma de apropriagdo e ocupacdo do territério nfo pode, por exemplo, estar
desligada da forma como o préprio Estado atuou (ou como nio atuou) nas areas, seja
com projetos econdmicos, seja na delimitagiio da Area, na ago indigenista, etc... Em
varios casos 0 tertitério, no se depreende de apenas de elementos do préprio grupo
(demogratia, atividades econdmicas, etc.), mas nas relagdes que este grupo estabeleceu
com o Estado ¢ 0 indigenismo, o que nao é levado em conta na portaria.
Além de limitar 0 conhecimento sobre o grupo e da terra indigena, num arremedo de
antropologia, hé outra forma de conceber esta "limitago": a de que ela & politica e no
técnica. Nao se pode desconsiderar que a Portaria 14, expressa um certo controle €
intervengdo sobre o proceso de regularizagio, nem tanto pelo texto em si, mas pela
conjuntura que foi realizada e pela leitura que o titular da pasta da Justiga fazia da
problematica da terra indigena (expressa nos despachos, com analisou o Prof. Henyo
em texto apresentado no semindrio e refletida na Portaria, ao tratar cada uma das
"situagGes" como "areas" distintas). Os prineipios que nortearam a Portaria € 0 mesmo
que norteava a leitura daquela autoridade para avaliar os relatérios: ¢ como se dissesse
"isto é o que realmente importa, 0 que ¢ objetivo, e por isto deve ser considerado, o
resto pode ser indicado se quiser". E possivel descontar esta leitura politica da Portaria,
resolvendo-a com um simples "ela permite", mas de fato os dados anexados pelo
antropélogo ¢ estranhos a sua forma e concepeao fechada serdo considerados numa
avaliagio? E é nesta perspectiva que cabe perguntar se 0s itens colocados sdo possiveis
de serem respondidos para todos os casos, se dio conta de justificar a terra conforme o
preceito constitucional (que é maior do que a Portaria e mais dificil de ser revogado),
ou seja, Se 05 preceitos constitucionais foram traduzidos na Portaria como uma ponte
para as situagdes concretas das terras indigenas ou ele 6 de fato um limitador, um
impecilio para se justificar a terra tradicionalmente ocupada, uma tradugio de uma
concepeio estatica e positivista do ministro.
12 Como se sabe © que se encobre sob 0 titulo de indios é quase duas centenas de etnias distintas a
grande miaioria falando linguas proprias e todas distintas quanto a organizago social a forma de
‘conceber 0 terrtério. Devemos acrescentar a isto 0 fato de que grupos pertencentes a uma mesma einia,
podem ter relagdes distintas com a terra, por situagdes ecoldgicas distintas, pelas relagdes com 0
Eslado ¢ sociedade brasileira, etc. que cra situagSes socias ¢ territoriais também distintas. Este ¢ um
dos problemas na realizagdo de um roteiro muito fechado.13
Mas ha o outro lado da questo, que abarca 0 que foi falado sobre os quesitos: é
necessétio que o relatério antropologico dialogue com o juridico, isto significa
responder ¢ se referenciar aos termos constitucionais, que sio os principios que serio
considerados em juizo. E, neste sentido, a Portaria espelha uma discussio que ja vem
sendo feita no campo juridico a algum tempo, 0 que foi destacado no seminario, Este é
© caso da leitura do conceit de “terra tradicionalmente ocupada” e a definigto de
quatro situagdes que devem ser lidas "em conjunto e sem exclusio", 13 situagdes,
apresentadas no §1° do Art.231. Esta é a diregao que tem ido a leitura dos juristas ¢ do
judicidtio, A Portaria procura fazer com que estas quatro situagdes estejam no relatério
de forma clara (partes 2-5), agregando uma parte de Dados Gerais, uma sobre 0
Jevantamento fundidrio ¢ outra com a proposta de delimitagao (1, 6 € 7). Neste sentido,
embora com os problemas apresentados acima, ela espelha uma leitura que tem sido
feita do texto constitucional, Neste caso vale retomar a idgia de que o relatério é uma
pega técnica para um determinado fim (administrativo e juridico). Dialoger com estes
pardmetros juridicos, como ja afirmei anteriormente, € uma caracteristica da
identficagdo, ainda que muitas vezes seja necessirio e prudente criticd-los em termos
técnicos dentro mesmo do relatério.!4
Uma iiltima questo sobre este assunto, que eu mesmo defendi durante © seminério
Nao considero uma portaria ministerial o lugar ideal para se definir “quesitos*. Isto néo
quer dizer que no concorde que uma forma de apresentagiio de relatério seja discutida
ou que se prepare "perguntas" que procurem traduzir © texto constitucional e os
interesses politicos do momento. Perguntas estas que 0 antropélogo leve a campo de
forma a objetivar seu trabalho e oriente a propria elaboragio do relaterio. Mas uma
portaria tem um caréter normativo que pode levar a uma leitura estitica dos processos,
€ no faltariam exemplos de situagdes onde se procura superdimencionar aspectos da
1S Ou “nenhuma suficiente sozinha’, como dizia Wagner Gongalves em 1991, antes de propor ele
‘mesmo "quesitos", Teno davidas quanto & este tipo de leitura "nenhuma sufiente sozinha’. Se por um.
lado, este tipo de conceprio esté de acordo com o cariter inclusive de Yocupago" embutido na
efinigio terra indigena, ndo permitindo uma leitura apenas por habitacio, ou rea novessiria a
producdo: por outro lado, hé situages concretas em que a terra “disponivel" (o que restou) para os
Indios, ndo comporta todas as atividades produtivas do grupo naquele momento (caso de indios que
trabalham em atividades fora da Area). "Nenhuma suficiente sozinha" pode dar margem a leitura de
«que s6 & "tera tradicionalmente ocupada” no caso das quatro situagBes serem idemtificadas, o que no
‘corre sem problemas,
14 Nunca ¢ demais lembrar que alcitura dos textos juridicos também sio historicas ¢ hi nelas
‘muitas divesgéncias. Portanto ndo ¢ uma Ieitura imutavel ¢ acabada. Isto € particularmente importante
de ser considerado neste momento, em que apenas comecamos a esbocar leituras sobre © capitulo
constitucional14
realidade indigena para cumprir exigéncias. Caberia em portaria (da FUNAL) estipular
que o relatorio seja lido por outros técnicos ¢ advogados do érgio ou contratado para
este fim e discutido com 0 coordenador do GT, no sentido de observar sua adequagio
ou de procurar adequé-lo em tamanho ¢ forma exigidos no processo. Caberia aprovar
um manual/roteiro que “orientasse" o trabalho de campo e a apresentagao do relatério,
Mas, dada a multiplicidade de situagdes concretas ¢ até de conhecimento mais ampliado
sobre 0 assunto, uma portaria pode criar num ambiente administrativo uma
normatizagio mais rigida do que de fato 6. Fica a questo,
3. Relatério
iease
Varios aspectos levantados anteriormente so bastante suficientes para pensar o
relatério, valeria, no entanto, destacar alguns pontos especificos, ainda que me
repetindo,
© relatério resultante do GT de identificagéo é uma pega técnica, com finalidade
constitucional, base para o ato declaratério da terra como “terra de ocupagio
indigena". Como pega de um proceso administrativo ele passa a ser impessoal e vale 0
que esta escrito, portanto ele é para o processo maior do que as intengdes, 0 bom
trabalho de campo, etc. A partir dele sera pautado o processo ¢ varios questionamentos
posteriores. Do ponto de vista juridico e como pega técnica 0 relatério deve pautar-se
pela objetividade e ter como objetivo caracterizar ¢ fundamentar através de dados a
terra (e a proposta de limites) como "terra tr
jonalmente ocupada". E ai os
“elementos objetivos’ e 0s vestigios sto importantes de serem apresentados pois,
facilitam a argumentagio. Neste sentido & que a "formula juridica do relatério deve ser
garantida’. Um bom relatério pode influir diretamente no ritmo do processo
administrativo © ser pega importante em juizo, diminuindo a necessidade de outras,
pericias. Ou seja, “se ele deve ser bom o suficiente para convencer a autoridade
administrativa (deve também) ser bom também para o convencimento do juiz" € nos
casos de defesa de manifestagdes de interessados apés a publicagio do resumo deste no
DOU, conforme estipulado no Decreto 1775/96. Deste modo o relatorio de
‘dentificagio deve ser tomado para além de seu uso na instrugo do processo
administrativo. A clareza na apresentagio também foi destacada, sobretudo15
referenciando-se aos termos constitucionais e fazendo “pontes” com os dados
recolhidos em campo e nas pesquisas documentais e bibliogréficas, buscando dar-the
uma forma juridica.
Sendo uma pega que pode ser usada em outras instancias, seu conteido deve, em
primeiro lugar, tentar responder os termos da CF: a terra ¢ tradicionalmente ocupada?
Porque? etc. Ainda assim, as regras de elaboragdo ¢ apresentagio estipuladas pela
Portaria MJ n° 14/96, devem ser seguidas no relatorio, isto é, este deve conter as partes,
estipuladas, ¢, sempre que possivel, constar todos os dados pedidos. Em caso de
impossibilidade técnica ou mesmo conceitual de se obter tais dados, que venha
devidamente explicitado e demonstrado a razdo da impossibilidade.
4, Estudos antropolégicos e complementares
Aatribui
especifica de cada um dos componentes do GT ¢ o trabalho especifico que
deveria realizar depende, é claro, da forma como se concede a identificagdo, os estudos
necessarios, sua dindmica e as condigdes de trabalho, Destaco aqui alguns pontos no
considerados anteriormente acerca dos estudos daqueles técnicos que tém feito parte
da maioria dos GTs. Alids a prépria composigao do GT foi objeto de discussao, quando
da proposta de anterioridade do trabalho do antropélogo, ao planejamento, a
diferenciagéo entre identficagdo e redefinigdo de limites, e as diversas situagdes que se
encontram indios e terra indigena.
Estudos antropolégicos
© antropélogo tem o duplo papel de técnico e coordenador do GT. Como coordenador
caberia sistematizar ¢ orientar 0 trabalho como um todo, Do ponto de vista dos estudos
especificos que deveria realizar, houveram perspectivas distintas, nem sempre
complementares. Foram sugeridos alguns procedimentos na atuagio especifica do
técnico antropélogo, que listo abaixo:
~ Realizar uma emografia bdsica, especialmente para aquelas situagdes de
contato recente ou onde nao haja qualquer trabalho antropolégico anterior. "4
boa eiografia sempre fica", sendo portanto uma base para dirimir davidas
fiaturas ou entender os contextos em que proposta de limites foi gerada. Hi16
instrumental dentro da antropologia e inclusive manuais para a realizago deste
tipo de trabalho.
~ Dialogar com as varias partes envolvidas.
- Dialogar com o indigenismo que durante muito tempo preencheu 0 vazio da
antropologia, fazendo uma leitura sécio-antropolégica do processo
administrativo e do juridico (antropologia do direito e da administragzo)
~ Escutar primordialmente os indios e tentar construir, a partir deles, o territotio a
ser delimitado,
~ Viabilizar a melhor forma de participagao dos indios
- Fazer ele proprio o levantamento cartorial, que pode dar informagies para
compreender a situago dos indios e no indios na area proposta,
= Caracterizar 0s nfo indios na terra indigena, embora néo seja seu trabalho
aplicar os laudos para avaliagdo de benfeitorias.
= Tentar realizar outras viagens além do campo, para coleta de informagdes em
arquivos ¢ contatos com outras organizagdes envolvidas na terra em questi.
~ Preocupar com a caracterizagao sociolégica do entomo.
fantamento fundiario e cartorial
© levantamento fundiério & considerado fundamental para a regularizago da area
proposta, mas sua importincia técnica (isto é, enquanto estudo) para a definigio de
limites é pequena, por isto mesmo ele foi considerado em muitas intervengdes como um
trabalho dependente dos estudos realizados pelo antropélogo e da proposta de
delimitagdo, Neste sentido € que este levantamento poderia ser feito em uma segunda
etapa com o acompanhamento do antropdlogo ¢ com os resultados consolidados em no
relatério do coordenador do grupo técnico. Destaco outros aspectos levantados:
~ Que o trabalho ndo fique restrito apenas a um levantamento de benfeitoria, mas
que seja buscados elementos para julgar a boa ou mé-fé da ocupagio tendo em
vista a indenizagdo de nao-indios.7
= que se tenha mais cuidado na avaliagdo de benfeitorias, sobretudo porque
uitas destas populagdes também so "populagdes tradicionais".
= que © técnico do INCRA que sempre acompanha este tipo de trabalho seja
cencarregado de estudar opgdes para o reassentamento de no indios, propondo
inclusive rea para tal, conforme dispde 0 Decreto 1775/97.
= que © antropélogo seja responsivel por acompanhar este trabalho, para que
qualificagdo de ndo-indios sejam considerados segundo critérios obtidos em
‘campo no estudo e relagdo com o grupo indigena.
~ que este trabalho seja feito ndo pela FUNAI, mas por técnicos do INCRA.
‘Houve ainda a proposta de haja uma melhor preparago para o levantamento cartorial,
inclusive com a contratagZo pelo érgio indigenista de uma pessoa especialista em
direito agrério, Foi levantado também a importancia de que este levantamento cartorial
seja feito pelo antropélogo [ou com seu acompanhamento], como dito anteriormente,
“Estudo" Cartografico
Este trabalho é considerado imprescindivel para a apresentago da proposta de limites
dda drea, uma vez que o antropélogo nao dispSe de conhecimento necessirio a plotagem
da area, Este técnico pelo seu conhecimento pritico ¢ pelo envolvimento que na
questéo tem influenciado propostas e alteragdes de limites, Algumas vezes com
argumentos técnicos ou regras que por sua vez nao sio colocados em um relatério
especifico, como no caso do levantamento fundidtio ¢ do levantamento ambiental). No
entanto, a influéncia deste técnico sobre o grupo técnico foi insuficientemente debatida.
AA principal proposta relativa a este trabalho técnico, é que este seja ampliado, nfio se
limitando a elaboragio do memorial descritivo e planta, mas que se realize um relatério
que avalie a qualidade da cartografia usada e existente e também as condigdes técnicas
para a posterior demarcagao fisica da area,
Levantamento Ambiental
Ha uma leitura de que a Constituigio de 88, incluiu na definigao das terras indigenas a
gerantia dos recursos naturais, entdo a identificagtio de uma terra indigena passaria hoje18
pelo reconhecimento desses recursos naturais necessirios a conservago daquela érea, ¢
portanto, por um estudo ambiental. Nao ha concordancia de que em todos os casos seja,
necessirio a contratagio de um técnico para proceder este levantamento ambiental, isto
deveria ser avaliado caso a caso € apés 0 trabalho do antropélogo. Em caso de
necessidade que este seja escolhido conforme a especificidade da terra e grupo indigena
em estudo, uma vez que um "técnico ambiental" pode ter diversas formagdes
especializagoes.
5, Participagio dos in
O que ¢¢ como viabilizar
Como viebilizar a participagdo dos indios? Nao hi, como se depreende dos
depoimentos, uma formula de participaggo embora varios depoimentos tenha
considerado esta fase de idemtificagio primordial para que esta seja viebilizada.
Houveram criticas quanto a forma como isto esta estabelecido na legislaglo e outra
questdes que listo a seguir:
~ A incluso de indios em portaria como membro do GT, observando-se cuidados
quanto a representatividade de facgdes foi um dos mecanismos usados. Embora
este processo gere um tipo de participagao, ele s6 pode ser realizado quando a
situago do grupo é suficientemente conhecida e a escolha ou indicagao dos
indios a compor 0 GT nao crie cisdes no grupo ou propostas que gerem futuras
divisbes. Ainda assim isto nfo garante um procedimento participative na
i identificagio.
~ Os indios nem sempre entendem em um primeiro momento o que significa um
GT, a identificagao e a definigo de limites. A partir de uma primeira proposta e
dos impactos desta, pode surgir propostas do proprio grupo, o que nem sempre
é possivel de "prever" em campo, mas apenas apés a “repercussio" da proposta
entre os indios. © material produzido pelo GT tem entdo grande importancia
para o grupo, inclusive regionalmente e, portanto, deve ser devolvido ao grupo
f indigena19
- 0 GT tem a capacidade de gerar a participago dos indios, discutindo com estes
as minicias do processo.
~ A participagio é diferente em cada caso, mas deve sempre ser pensada como
surgindo da relagio com o antropélogo pesquisador, pois corre-se 0 risco de se
fazer uma participago que seja contraria aos padres culturais do grupo
indigena. A participagdo indigena é uma condigio do trabalho do antropélogo.
0 antropétogo deve escutar primordialmente os indios,
6, Identificagiio e re-identifieagio
© termo “identificagao" tem sido usado genericamente para qualificar a necessidade de
composigdo de um grupo técnico, tanto para proceder estudos preliminares e propor
uma area pela primeira vez, como para casos de revisGes de limites (de redefinigao), de
reestudos, de estudos complementares etc... O produto final tanto na identificagio
quanto na reviséo € um relatorio que tera um peso no processo de demarcagio
administrativa da terra, Esta situagdes so distintas e interferem em varios aspectos da
sistematizagtio da fase de identificagio, e isto pode ser particularmente detectado nas
discusses havidas quanto a composigdo do grupo técnico e da definigdo dos estudos
complementares necessarios. Ainda que os estudos necessitem ser todo refeitos em sua
totalidade, 0 ponto de partida seri o processo ¢ 0s questionamentos dele surgidos &
também os aspectos a serem tratados deverdo obrigatoriamente repassar os argumentos
do relatorio anterior. Uma terra que ja passou por uma identificagdo € distinta de uma
terra em que nenhum tipo de estudo sistematico foi realizado quanto a abordagem,
quanto a participagdo indigena, quanto aos estudos necessérios, ¢ até mesmo quanto
a0 quesitos que orientaria 0 grupo técnico.
De qualquer modo, isto expe um problema sério, que ¢ a preparagio para o estudo de
uma determinada terra. Em casos de redefinigo, os problemas ocorridos com a
primeira proposta devem estar claros para o grupo técnico, assim como os
‘questionamentos existentes. Em termos de dinamica de trabalho, sera condigao primeira
que todo 0 processo seja lido e que sejam explicitadas as razSes que levaram esta area a
ser objeto de um reestudo, Uma situagio levantada no seminé
jo surpreende: 0 ministro
Jobim tratava com 0 mesmo valor as diversas proposta existentes para uma mesma
terra. Sem discutir uma possivel mé-fé, ¢ mais do que légico que um novo estudo20
comega por desconstruir, como foi dito no seminério, as propostas e argumentos
anteriores, usando os dados pertinentes e justificando as alteragdes para consolidar 0
relatério.!5 Este trabalho serviria, assim. como suporte para novos argumentos
propostas. Num re-estudo ou re-identificagdo, alertar sobre 0 momento em que foi
produzida a proposta anterior, os paradigmas de identificagdo em que foi produzida, a
situago em que se encontrava o grupo indigena, etc, so elementos que devem ser
referenciados e sua definigdo antes mesmo da ida a campo pode orientar a busca de
informagies em campo.
‘As questdes quanto a organizagao da identificagdo de forma diferenciada & pensada
‘também para as situagdes onde ha pouco contato e/ou estudos as populagGes indigenas.
C. CONDICOES TECNICAS PARA A IDENTIFICACAO
1. Documentagao e informacio
Organizacio, guarda ¢ acesso
Mais uma vez foi levantada a necessidade de uma melhor organizagio da
documentagio intema & FUNAI. Ainda que tenha havido avangos, esta informagio
continua dispersa e sem condigdes de uma répida recuperago para que possa subsidiar
a identificagio. Segundo depoimentos estes problemas sto maiores quando se observa
a situagio da documentagdo nas regionais, em total abandono e sem qualquer
seguranga. As informagSes contidas nestas regionais, no entanto, seriam preciosas para
© conhecimento da ago do Estado nas terras indigenas e para obtengdo de informagées
sobre o grupo indigena num trabalho de identificagdo e de ago indigenista. Dada a
falta de um trabalho mais sistematico esta documentago esti ameagada e com ela a
meméria da ago do érgio.
Para suprir parte destas deficiéncias e para manter um acimulo de dados sobre as
terras, foi sugerido a elaboragdo de um banco de dados onde fosse organizada a
15 Foi levantado que um caso de redefinigo ou re-identificago seria mais simples ¢ talvez mais
ripido, Talvez isto seja verdade quanto ao trabalho de campo, mas a preparaglo ou o trabalho pré-
‘campo talvez deva set mais longa pois seri necessério responder, justificar, qualificar todas as.
ropostas anteriores21
informagdes sobre a atuagio do érgiio junto populagdo, em suas variadas facetas, nas
diversas terras indigenas.
Especificamente quanto a ordenagio do processo demarcatério, foi questionada a
forma de organizagio dos proceso administrativos abertos no orgio. Em um
determinado momento abre-se uma pasta onde os documentos vao sendo anexados, 0
que tem feito destas pastas de processos de regularizagio uma jungio de documentos
sem critério, Seria importante observar uma regra de entrada da documentagio que
respeitasse as fases do processo demarcatério ¢ que fosse estabelecido critérios para a
insergdo de documentos, (0 que nfo significa que outras informag&es no possam ser
aglutinadas em arquivo especifico). Este procedimento facilitaria a leitura do processo e
sua agilizagao.
2. Estudos pré-campo
© trabalho do antropélogo comega no campo? E dos outros membros do GT? Varias
questdes foram levantadas quanto a ampliagio do prazo de trabalho pré-campo no
sentido de que 0 antropélogo prepare mais sua ida e obtenha informages. Para 0 caso
das dreas do PPTAL isto ja estaria previsto, embora nio venha sendo cumprido, Neste
caso também foi observada a necessidade de se pensar em situagdes distintas,
"dependendo dos casos".
Lango, no entanto, uma proposta. Que este trabalho pré-campo do antropélogo deve
prever um cronograma e agdes especificas: nesta fase o antropélogo deveria tomar
contato ou aprofundar-se no caso a ser tratado, lendo atentamente 0 processo em caso
de revisdio, ou, em caso de um processo novo, obter-se as informagdes indiretas,
‘mapas ete, No caso do antropélogo nao ter experiéncia anterior de identificago seria o
momento de uma melhor preparagio. Telvez este seja 0 momento, da preparagdo (até
por escrito) de uma espécie de "projeto” para ida a campo, onde se explicitasse as
principais questdes sobre a terra, que pudesse ser discutido com a equipe da DID.
3. A trabalho de campo do antropélogo prévio aos demais
‘A. questio mais reportada no seminario no que diz respeito a sistematica da
identificago foi a ida a campo do antropdlogo antes do grupo técnico, Nao ha22
impedimento legal de que 0 antropélogo va antes a campo € que realize sua
fundamentago antropolégica, antes do trabalhos complementares. O Decreto 1775/97
diz-se que a “demarcagéio ...seré fundamentada trabalhos desenvolvidos por
antropélogo" 16
‘Tentarei agrupar alguns argumentos levantados no sentido de justificar a ida antecipada
do antropélogo e alguns problemas ¢ temores quanto a este procedimento, Nao
considero que tenha havido discordncia quanto ao principio, mas alguns cuidados
temores que deveriam ser levados em consideraco
= "Uma das coisas que coloca a impossibilidade que 0 trabalho gere dados
substanciais, que 0 antropélogo funciona, geralmente, néo sé como técnico
mas freqitentemente como negociador. Dentro de um Grupo Técnico ele esté
extremamente mal situado. Um antropélogo tem um tempo de trabalho de
‘maturagiio da sua relagdo com 0 grupo, das suas hipéteses de construgdo de
uma metodologia, que & inteiramente incompativel com a necessidade do
técnico do INCRA, [p.ex] Se é para pensar o trabalho do antropélogo como
uma insténcia técnica que instrumemtaliza 0 cardter probatério da
identificagao, 0 trabatho tem que, necessariamente, preceder os outros. So
metodologias diferentes. A situagdo de campo contamina a possibilidade de
uma pesquisa antropolégica, (..) Um outro caminko possivel seria de manter
a idéia do Grupo Técnico como insténcia mais mediadora, e al se volta a uma
atividade mais politica e néio técnica, e neste sentido 0 antropélogo volta a
executar um trabalho mais ou menos como ele teria feito sempre, neste caso
com a participagdo significativa dos indios. E fica dito com o antropélogo, por
ser sensivel a termos sociais, vai ser 0 operacionalizador fundamental de uma
proposta que vai ser negociada com a participagdo dos indios.” (5.Pacheco de
Oliveira)
16Este texto substituiu a minuta que correu anteriormente onde se lia que "a demarcagio,.. serd
procedida de trabalhos deseavolvides por artropélogo". No hi um vinculo direto no texto do decreto,
‘entre 0 antropSlogo de que trata o caput 0 antropblogo coordenador do grupo téenico do §1°, nem
tampouco uma explicita expresso que indique que estes trabalhos devam ser realizados 30 mesmo
tempo, isto é, que 0 estudo antropolégico que fundamentara a demarcagio serd feito durante a
realizagdo dos estudos complementares. O procedimento que tem sido adotado ¢ que os trabalhos sejam.
realizados conjuntamente, Nao ha, contudo, um impedimento a uma leitura distinta, A ida antecipada
do antropélogo & campo poderia garantir. além de uma pesquisa mais fiel quanto a metodologia
antropolbgica, uma melhor definigio das prioridades ¢ necessidades de (quais) estudos
‘complementares, ¢ até uma preparacdo do grupo indigena para a chegada do grupo técnico.23
a, = A chegada de um grupo de técnicos na area causa problemas ao trabalho do
: antropélogo, especialmente no relacionamento com os indios. Muitos dos
componentes do grupo nao sabem (ou néio tem) o que fazer, durante o inicio do
trabalho do antropdlogo, jé que o tempo do trabalho antropologico é muito
diferente dos outros técnicos. Muitas vezes os técnicos ficam ociosos ¢
impacientes com o ritmo do trabalho do antropdlogo e acabam por prejudicar o
trabalho ou precipitar situagdes.
- Como plotar uma proposta de érea embasada no estudo antropologico sem que
este tenha sido minimamente encaminhado? Como realizar o ievantamento de
benfeitoria sem uma proposta de limites minimamente construida? A pressdo
para a execugio destes trabalho que fazem parte da identificagdo por parte dos
. ‘técnicos em campo, cria problemas na dindmica no trabalho do antropélogo.
~ Outro aspecto que concorreria para a separagio do trabalho do antropélogo do
§ restante do grupo, ¢ a necessidade de separagdo do trabalho antropolégico,
feito junto aos indios, do trabalho de levantamento fundidrio de ocupantes no
{ndios, onde uma série de pressio ocorre e © grupo técnico fica entio mais
: suscetivel a estas pressdes. Isto é sério sobretudo se tomarmos que a correlago
de forgas do antropélogo frente a0 grupo técnico é muito pequena (um
antropélogo e trés técnicos agricolas).
Problemas ¢ temores:
~ © problema mais frequente levantado sobre esta ida anterior é do custo que
dduas idas a campo acarretaria, Esta questo foi rebatida, levantando-se que um
trabalho mais detalhado certamente significaria uma redugdo de custos,
evitando-se novas diligéncias, mas fundamentalmente este tipo de procedimento
reduziria 0 custo, pelas possiblidade de planejamento das novas ages e dos
oe estudos complementares, A FUNAI tem trabalhado com composigées de grupo
modelo: um antropélogo, um cartégrafo, um técnico agricola (#2 INCRA e
6rgiio estadual) ¢, atualmente, também um técnico ambiental. A ida anterior a
campo do antropélogo permitiria prever a necessidade destes “estudos
complementares" € de que natureza, qual a dimensio de cada trabalho e até
antever problemas quanto & delimitagio da area pelo cartégrafo (este com ida
garantida em um segundo momento). Deste modo, 0 planejamento feito a partir24
de problemas coneretos levantados em campo ¢ discutidos junto ao érgio,
poderiam significar um custo menor e um trabalho mais direcionado ¢ sem
ociosidade, quer dizer, com menos tempo em campo. A questio de custos
coloca-se de modo ainda mais evidente nas redefinigdes de areas.
~ Mas, porque ir antes em casos onde ha trabalho acumulado? E claro que, se um
antropélogo esteve em campo pouco antes ¢ tenha levantado dados pensando
na delimitagdo desta, isto poderia ser levado em conta, desde que devidamente
documentado. Mas esta no pode ser a regra. Foi comentado que a experiéncia
€ 0 acimulo de dados sio relativos: mesmo que um antropélogo seja um
especialista no grupo, se em seu trabalho no houve uma preocupagao com
elementos que permitam justificar a terra indigena, ele precisara buscar estes,
‘outros elementos. Talvez o tempo de campo possa ser menor e até a dindmica
do trabalho distinta, mas isto nfo dispensa a ida a campo e o trabalho
antropolgico, valendo portanto a premissa de que este deve ser realizado
procurando garantir 0 maximo © tempo € as condigées especificas a esta
atividade.
- A ida do antropélogo antes do GT poderia aumentar a possibilidade de
surgimento de duas propostas de limites concorrentes, uma do antropologo,
outra do GT. Isto pode vir a ser mais grave se 0 antropdlogo que fizer a
primeira etapa, no for 0 mesmo que coordenara o GT, Como determina 0
Decreto 1775/96, o relatério do GT que devera fundamentar-se no estudo
antropoldgico, ¢ aquele que deve conter a proposta de limites, neste caso é 0
GT 0 responsével pela apresentagdo da proposta ¢ oficialmente haverd uma s6
proposta. Mas como apresentar uma proposta completamente distinta daquela
que 0 relatorio do antropélogo indique, se esta deve ser a base do trabalho do
grupo? Esta situag#o nos apresenta uma questo de fundo sobre qual seria a
fungio do antropélogo na identificagdo: para algumas pessoas o trabalho do
antropélogo seria o de realizar uma etnografia bsica, © que seria justificavel
principalmente nas terras de contato recente ou sem estudos anteriores pela qual
© GT € 0 proprio drgio indigenista pudesse pautar-se. Somente a partir desta
etnografia bisica é que se produziria a proposta de limites. Para outras,
antropélogo, mesmo indo antes, teria a fungio de fundamentar uma pré-
proposta, que permitiria planejar a ida do grupo a campo, identificando25
‘ problemas a serem enfrentados, Nesta visto, o trabalho do grupo técnico no
seria de produzir uma proposte inédita, mas de complementar dados, levantar
ne ‘ccupantes nflo-indios, elaborar o memorial junto ao cartografo e até disimir
2 dividas ¢ negociar limites mais polémicos (junto ao grupo indigena ¢ GT). '7
~ A garantia de cumulatividade das ages durante a identificagao exigiria que 0
antropélogo que fez os primeiros levantamentos em uma ida anterior a campo,
fosse posteriormente um dos componentes do grupo técnico (preferencialmente
como coordenador).'8 A opedo por manter ou no o antropélogo como
componente do grupo técnico que ira posteriormente, levam a procedimentos
i bastante distintos. Procurar que este procedimento fosse prioritariamente feito
pelo mesmo antropélogo € de fato uma forma de tentar que proposta de limites
argumentos ande mais colado.
~ A realizagao deste desmembramento coloca o problema da disponibilidade dos
profissionais e das condigées de campo, sobretudo na Amazénia, que pode
deixar um intervalo muito grande entre um trabalho e outro. © ideal, seria que 0
tempo entre uma ida e outra no fosse muito longo. A ida anterior nijo quer
dizer que nfo seja cobrado um certo cronograma para o trabalho deste
t antropélogo.
4. Capacitagio
Uma proposta é que se invista mais em capacitagio para a identificagéo de terras
indigenas, Isto significa produzir uma discussio seqiienciada, uma avaliaglo qualificada
: ea cireulagdo de material produzido nas identificagao. Portanto, um espago para que se
5 produza um conhecimento mais sélido sobre a identificagao e a produgao de laudos.
: 17 Indiquei anteriormente que a fase de identificagdo teria duas ctapas: a dos estudos que
S fundamentaria a proposta ¢ 0 da delimitagdo (ou identificagdo © delimitagdo, conforme as normas). E.
a considerei dependentes uma da outra, os cstudo no sto estudos genéricos mas estudos que
permitam justificar uma proposta de limites. Se nfo se pode ira campo com uma proposta de limites
Z ‘ronta, buscando os elementos que a justifiquem, o antropélogo deve saber que seus argumentos sero
: fandamentais para jutificar a propos. Esta discussdo parece caber também neste momento.
18 Alguns participantes reivindicaram que 0 antropélogo pudesse acompanhar todo 0 proceso,
para além da fase de identificagio.26
D. CONDICOES PRATICAS E ESTRUTURAIS
1. Condigdes gerais
verbas, quads
Alguns problemas foram colocados como problemas operacionais, que mais uma vez
Jimito-me a lista, pretendendo apenas dar as dimensoes da identificagao.
- Ha uma dissintonia entre ADRs e administragio central que prejudica 0
planejamento dos trabalhos.
~ As ADRs tem varias caréncias ¢ problemas, assim como os postos indigenas. A
chegada de um grupo para identificago com verbas para campo gera uma série
de pedidos para suprimentos, consertos etc.
os = Muitos contflitos ocorrem com a chegada do GT,
: - As ADRs nfo tem como dar apoio ao trabalho de identificagao.
= Tem havido muito atraso na liberagdo de verbas que prejudicam todo o
planejamento,
De outro lado foram colocadas questdes ligadas especificamente a DID:
- Nao ha um setor definido na DID, com atribuigdes definidas para cuidar do
acompanhamento do GT e da preparagdo da ida a campo.
~ Nio hé pessoal suficiente na DID para o trabalho de acompanhamento dos GTs.
O setor tem se ressentido da falta de pessoal e a recente contratagao tempordria
de técnicos pelo prazo de um ano renovavel por mais um, significa que estes
novos técnicos serdo treinados e, quando efetivamente estiverem familiarizados
’ com o trabalho, serdo dispensados.27
Escolh: iT
Quanto a escolha do GT foram levantados alguns problemas operacionais:
- H& dificuldade de contratagdo de antropélogos visitantes. No caso da
Amazénia, para agilizar 0 processo, esta contratagao tém sido feita através do
convénio de cooperagao técnica € nao pela via administrativa. A abertura de
licitagdo € o processo conforme os trémites burocraticos demora em média seis,
meses, ¢ esta demora tem prejudicado 0 planejamento para a identificagao.
Surgiu entdo a proposta que fosse consultada a GR, que manteve durante muito
tempo um convénio com a ABA e fazia contratagées de antropélogos para
2 trabalhos de pericia, e no se tem informagdes de que isto tenha gerado
problemas com o TCU.
~ A disponibilidade de téenicos nas ADRs e do proprio antropélogo visitante, tém
sido também um problema, principalmente quando se tenta compatibilizar os
ss tempos destes com as estagies de chuva que dificulta o acesso as reas em
determinadas épocas do ano na Amazénia
~ Foi sugerido que com a programagdo anual, pronta, fosse iniciado o contato
com a ABA e Deptos. de antropologia para pedir a indicagio de antropdlogos,
€ que também fosse formado um banco de dados neste sentido,
$ Coord: T
Tem acontecido problemas em campo quando alguns componentes do grupo téenico
1m se recusaco a cumprir 0 que o coordenador sugere (indica, manda, atribui...). Isto
recoloca a discussio sobre 0 papel do coordenador: ele é um articulador do grupo, um
presidente ou um orientador? O fato da proposta de limites ser fundamentada nos
Dee estudos antropoldgicos, seria um indicador de que 0 antropélogo teria mais condigdes
de pensar o trabalho como um todo, além de sua habilidade especifica de compreensio
da realidade indigena. Sao estes aspectos que o qualifica como coordenador do grupo
técnico. A discussio sobre 0 papel especifico do coordenador, no entanto, esté
condicionada ao modelo que se pretende adotar na identificagdo com a ida anterior ou
* nao do antropélogo ¢ a composicdo ideal de um grupo técnico.28
E. AVALIACAO E ACOMPANHAMENTO.
Acompanhamento e avaliagio
Foi expresso por técnicos da DID que este setor néo dispde de uma estrutura de
acompanhamento do GT, que portanto tem sido realizado de modo informal pelos seus
técnicos. Propositalmente coloquei aqui o tema do acompanhamento, junto &
avaliagdo, também levantada durante 0 seminario. A avaliagio do relatério realizada
por pessoal experiente ¢ informada, com conhecimento juridico ¢ antropologico,
deveria ser feito nfo contra o antropélogo ou 0 GT,!9 mas como uma forma de
aproximar © produto final das normas juridicas ¢ das exigéncias institucionais ¢ de
“corrigir rotas". Muitas das questdes que esto fragilmente colocadas em um relatério
podem ser do conhecimento do téenico, que, no entanto, nfo deu a devida importancia
‘a0 preparar 0 texto. Neste sentido, é que avaliagao do relatério pode ser considerada
uma etapa de acompanhamento, uma etapa inserida na previsfo dos trabalhos do GT, 0
que sem davida implica em uma estruturagdo da DID para isto,
Quanto aos critérios de avaliagéo do relatorio, estes deveriam ser claros ¢ explicitos.
Este procedimento pode gerar uma imagem mais clara do que seria um "bom relatério”
edo que é necessario estar contido neste podendo assim produzir um saber que permita
orientar methor as identificagdes e seus resultados.
Foi proposto que houvesse um acompanhamento juridico ao GT (jé falado) e também
que fosse feita uma avaliagdo do relatério antropolégico por um consultor externo (nos
moldes do CNPq).
Resumo - © que é ¢ como preparar
0 Decreto 1775/96 determina que seja publicado no DOU e no Diario oficial do estado
correspondente a terra indigena o resumo do relatério do GT. Foram levantadas duas
propostas, de certo modo conflitantes:
~ que este resumo seja feito pelo antropélogo responsivel pelo GT;
19 Isto é medindo a capacidade deste, invalidando o trabalho por possiveis falhas etc.29
= que este resumo seja feito como resultado da avaliagao juridica e antropologica,
com o coordenador do GT, aproveitando para reparar problemas no relatério.
4 Outras questdes surgidas quanto ao resumo:
= 0 que orienta este resumo? Vale aqui as ctiticas 4 Portaria 14/96, 0 que torna
preocupante que esta seja usada como base para o resumo,
~ De outro lado, o que tem sido usado pelo ministro em sua avaliagao, o relatdrio
ou © resumo? Um resumo mal feito no pode orientar uma leitura ruim do
relatorio?
- E preocupante que haja processos parados esperando a preparagio do resumo,
© que reforga a necessidade de uma sistemitica © que este resumo seja
produzido como parte desta
F. POS-GT
aa Acompanhamento das outras fases do processo
Por fim foi colocado que o antropdlogo e os membros do GT deveriam acompanhar e
set acionados nas fases subsequentes do processo, principalmente nas respostas a0
contraditorio de modo a dar maior cumulatividade ao processo.
G. CONCLUSAO
jgumas questies sobre a preparacio do "Roteiro ou Manual”
. ‘Uma das finalidades do semindrio foi a de levantar e aprofiundar questées que pudessem
subsidiar a preparagdo de um "Manual de Procedimentos” para orientar o trabalho do
‘ antropélogo-coordenador do grupo técnico de identificagio. Durante a realizago do
semindrio e preparagdo deste texto preocupei-me em buscar os elementos necessirios &
reparacdo deste instrumento. Neste relatério procurei espelhar esta preocupagao tanto
na organizagao dos tépicos como nos comentarios que se seguem. Para finalizar este
texto deixo algumas questies sobre as caracteristicas deste manual e seu lugar dentro
de um aperfeigoamento do trabalho de identificago, e das dificuldades que o proprio
seminario deixou transparecer.30
Embora a propria FUNAL jé tenha produzido manuais de identificagao, 0 termo
"manual" tem sido usado com reservas pelas varias pessoas que vem acompanhando o
presente trabalho. Aparentemente este termo remeteria a procedimentos mecinicos ¢
rotineiros que nfo combinaria com um certo bom senso necessirio realizagio do
trabalho, Em lugar deste tem sido usado "roteiro”, termo que eu mesmo adotei durante
algum tempo.
O terme roteiro nos remete a um “esquema que deve ser abordado, estudado. efc., emt
discussao ou trabalho escrito” (Aurélio), um itinerario, No senso comum sociolégico
muitas vezes usamos a idéia de "roteiro" em contraposigdo a um questionario com
perguntas fechadas ou como um esquema para uma pesquisa a ser desenvolvida
Procurando “manual” no dicionério encontramos “livro que traz nogdes essenciais
sobre uma matéria" (Aurélio). No entanto os manuais que acompanham diversos
produtos frequentemente nao nos dio as tais "nogdes essenciais", mas uma série de
"instrugdes de uso” que nfo apresentam sendo como proceder para chegar a um
determinado fim, mecanicamente, Talvez esta imagem seje a que melhor representa 0
mal-estar" com a idéia de manual, Deve-se considerar que a forma como se apresenta
este instrumento poderd influir na disposigio para sua leitura, ¢ neste sentido a
discussio dos termos sio relevantes. Apesar de uma certa aproximago, estes termos
indicam caminhos distintos se pensarmos em "esquema" e “apresentagio de nogdes
essenciais", por exemplo. Por outro lado, algumas observagées ¢ também a discussio
realizada no semindrio, demonstram que & muito mais o status e a maneira como sto
adotados que dara a0 roteiro, manual ou lista de quesitos uma leitura fechada ou nao,
endo necessariamente seu nome.20
Pude anotar, algumas vezes durante o seminario indicagdes do tipo "o roteiro deve
incluir..", que, se por um lado, referendava a demanda por um instrumento que
orientasse e instruisse 0 processo de identificagdo, por outro, mostravam que este
instrumento nilo era concebido da mesma forma pelos interlocutores. Nas conversas €
centrevistas realizadas antes do seminério, notamos uma idéia muito difusa © até
conflitantes do que seria um manual ou roteiro, com indicagSes de aspectos muito
20 & discussio entre manual e roteiro nio foi objeto de discussdo no semindrio, e ali quase sempre
‘optou-se pela idéia de "rteiro™. O uso do termo “roteiro* na carta convite deste semindrio, bem como
1 texto que apresenteie fiz circular entre os participants, foi em grande parte esponsivel pelo uso
‘durante 0 semindrio.“
31
pontuais ou de procedimentos mais gerais. Os manuais existentes da FUNAI com a
mesma finalidade nao servem de parametro, de modo que o trabalho a ser realizado nao
& de uma simples atualizagdo de um instrumento j4 conhecido quanto seus objetivos e
contetido, antes trata-se de criar um novo instrumento.
‘A necessidade deste novo instrumento para orientar o trabalho do antropélogo decorre
de um novo momento para o processo de identificago, situagao que tratei no texto
preparado para o seminario, Nos tltimos anos, mudangas significativas tem acontecido
no processo de regularizagio das terras indigenas, vindas sobretudo de uma visio mais,
juridica deste. As alteragdes introduzidas na Constituigio de 1988 levou a novas
leituras da terra indigena, ¢ ao definir com mais preciséo uma "terra tradicionalmente
‘ocupada" pelos indios estabeleceu um novo embasamento juridico para a declaragao da
terra indigena, sobre a qual os proceso administrativos (e judiciais) tem
sgradativamente se pautado. Além disto 0 estado de direito exige que os argumentos
que justificam uma terra indigena sejam mais consistente © capazes de serem
sustentados em juizo. Isto tem exigido uma aproximagio necessiria entre a
antropologia ¢ 0 direito, que ja se ensaiava mesmo antes da Constituigao de 1988, em
tomo da questdo da terra indigena,
Com isto cresceu também as cobrangas e exigéncias sobre 2 qualidade do relatério de
identificagdo, enquanto pega processual. A importincia desta pega no processo &
também maior, uma vez que esta pode vir a sustentar (ou no) uma proposta em juizo,
mesmo contra uma decisio administrativa, Isto ndo que dizer que esta pega deva ser
completa ¢ nica, Outros argumentos podem ser produzidos, relatérios podem ser
complementados com novas idas a campo ¢ com estudos complementares. Mas a
preparagio de um bom relatério pode apressar 0 processo de regularizagio da terra
indigena, evitando-se novas diligéncias, A importancia do relatério foi maximizada
dentro da administragdo pela atuag#o do Ministro Jobim, ele proprio um juiz, a0
instruir 0 processo € a elaboragdo do relatério a partir de uma leitura rigidamente
Juridica,
Com estas mudangas a fragilidade de muitos relatérios de identificagao realizados até
‘ento tem ficado mais evidente.?! O proposito do manual/roteiro em dltima instancia
21 E sempre bom nJo esquecer que ler a “fragilidade” dos relatérios pela situagto atual
esconsiderar © contexto em que foram produzidos. Como peca administrativa este frequentemente32
seria a de garantir uma "melhora" destes relatérios enquanto resultado do processo de
identificago. © que faria deste um "bom relatério"? Seria prever os possiveis
acontecimentos e processos futuros contra terra indigena? Seria ter uma boa
descrigéo do grupo indigena, ou melhor uma boa antropologia? Seria, ainda, pautar-se
ros preceitos constitucionais? Ou entdo estar de acordo com os requisitos da Portaria
14/96 ¢ os procedimentos do Decreto 1775/97? Cada uma das questdes podem indicar
procedimento € objetivos de pesquisas distintos, Responder estas questdes é apresentar
‘© que se quer do relatério de identificagao, e poder pensar quais os procedimentos
necessérios para se chegar a este fim,
seminério foi amplo em andlises e sugestdes, como espero ter demonstrado neste
relatério, Muitas destas alteram 0 que seria um roteiro/manual, Algumas situagdes que
alteram 0 "roteiro" podem ser citadas: a ida anterior do antropélogo a campo; a
concepgao de que este deve realizar uma etnografia bisica separada da negociagao de
uma proposta de limites; os questionamentos quanto a composigio do grupo e a
possibilidade de que isto seja definido junto com © antropélogo; a preparagio e
levantamento prévios ao campo de dados ¢ questées sobre a terra a ser identificada; as,
propostas de acompanhamento/avaliagdo como parte do trabalho de identificagao, ete.
Estas alteragbes dependem de algumas opgdes politicas ¢ uma nova sistematizagao do
trabalho de identificagdo, tanto no aspecto administrativo quanto técnico, do qual o
roteiro/manual é dependente. A reformulagdo por que passa a identificagao — cujo
reflexo aparece na critica a qualidade dos relatérios -, exige uma maior sistematizagio
dos trabalhos de identificagao nao s6 do trabalho especifico dos técnicos, mas também ,
empurra a discussdo também administrativa e de apoio téenico, que pode ser traduzido
em maior controle do processo ¢ dos dados, planejamento ¢ avaliagées. Algumas
propostas neste sentido esto colocadas neste relatério?2, mas se elas extrapolam os
limites de um roteiro/manual, objetivo do presente trabalho, podem alterar em muito 0
peril e dindmica destes,
‘io sofria questionamento mais sstematico, era mais 0 veiculo de uma proposta que seria negociada
conforme a forga de cada setor. Esta negosiagio no nivel governamental continua existindo, o que
altexgusignificativamente foi a frca do judiciério.
22 Destaco especificamente quanto ao procedimento de identificagao, a idéia de acompanhamento
Jutidico e antropotégico dos trabathos de identificagto, a avaliaglo dos relatéios, a preparagio técnica
da ida a campo, a preparagdo do resumo, e a formagio de um banco de dados.33
Se tomarmos a proposta de um produgao de um roteiro/manual para 0 antropélogo
coordenador como maneira prioritaria para superagéo dos problemas decorrentes da
identificagaio, estaremos identificando exclusivamente no trabalho dos técnicos as
deficiéncias deste trabalho, e deixando de pensar esta questo como necessariamente
envolvendo uma série de agentes. Se de fato pudemos notar que alguns problemas
relacionam-se diretamente ao trabalho destes técnicos, sabemos que # solugio nfo est
exclusivamente no manual, que pode inclusive ser mais um problema se mal lido ou
mal conduzido dentro do trabalho.
Sobre 0 conteiido deste manual, considero que este deve ater-se principalmente naquele
que ¢ 0 principal problema do trabalho de identificagao e de seu produto que é a
capacidade de adequar-se e responder as novas exigéncias juridicas. Isto significa dizer
© que é, qual a fungio ¢ a importancia da identificagao dentro e fora do processo de
regularizagdo; em que legislagdo e normas ele deve se pautar, os resultados esperados &
a forma de apresentagio dos resultados ¢ alguns cuidados necessirios na escrita e no
levantamento. Neste relatério pude discorrer ¢ comentar cada um destes possiveis,
itens
Considero pouco pertinente um “roteiro” que se aproximasse de uma lista de quesitos,
ou de um questionério de pesquisa a campo, pela multiplicidade de situagdes e possivel
‘engessamento que esta lista pode acarretar, sobretudo neste momento em que muitas
discussdes devem ser aprofundados. Mesmo os conceitos juridicos devem ser lidos com
certa flexibilidade, uma vez que alguns vem s6 agora sendo esmiugados ¢ discutidos.
‘Um acompanhamento permanente das discussdes e da jurisprudéncia sobre o assunto €
sobre as decisdes politicas seria fundamental para orientar o trabalho de identificagao.
© manual pode (¢ deve) ter, além de textos bisicos que tratem especificamente do
assunto, uma bibliografia mais flexivel atualizada e atualizavel, que acompanhe tais
mudangas e discussdes ¢ as leve também para o antropélogo coordenador. O caminho
mais promissor e adequado é contudo 0 de produzir-se discusses mais permanentes
sobre 0 assunto, seja produzindo texto sobre tépicos especificos, seja criando féruns de
debates sobre o tema,