Farmacopeia Brasileira, 6ª edição MG5.1.
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5.1.6 UNIFORMIDADE DE DOSES UNITÁRIAS
Para assegurar a administração de doses corretas, cada unidade do lote de um medicamento deve
conter quantidade do componente ativo próxima da quantidade declarada. O teste de uniformidade
de doses unitárias possibilita avaliar a quantidade de componente ativo em unidades individuais do
lote e verificar se esta quantidade é uniforme nas unidades testadas. As especificações deste teste se
aplicam às formas farmacêuticas com um único fármaco ou com mais de um componente ativo. A
menos que indicado de maneira diferente na monografia individual, o teste se aplica, individualmente,
a cada componente ativo do produto.
A uniformidade de doses unitárias de formas farmacêuticas pode ser avaliada por dois métodos:
Variação de peso e Uniformidade de conteúdo. A aplicação de cada método, considerando a forma
farmacêutica, dose e proporção do fármaco, é apresentada na Tabela 1.
Tabela 1 – Aplicação do método de Uniformidade de conteúdo (UC) ou de Variação de peso (VP) de acordo com
a forma farmacêutica, dose e proporção do fármaco.
Dose e proporção do
fármaco
Forma farmacêutica Tipo Subtipo
≥ 25 mg e < 25 mg ou
≥ 25% < 25%
Comprimidos não-revestidos VP UC
revestidos filme VP UC
outros UC UC
Cápsulas duras VP UC
moles suspensões, UC UC
emulsões ou géis
soluções VP VP
Sólidos acondicionados componente único VP VP
em recipientes para dose múltiplos componentes solução liofilizada no VP VP
única recipiente final
outros UC UC
Soluções acondicionadas VP VP
em recipientes para dose
única
Outros UC UC
O método de Uniformidade de conteúdo para preparações em doses unitárias baseia-se no doseamento
do conteúdo individual do componente ativo de um número de doses unitárias para determinar se o
conteúdo individual está dentro dos limites especificados. O método de Uniformidade de conteúdo
pode ser aplicado em todos os casos.
O método de Variação de peso pode ser aplicado às seguintes formas farmacêuticas:
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1. soluções acondicionadas em recipientes para dose única e em cápsulas moles;
2. sólidos (incluindo pós, grânulos e sólidos estéreis) acondicionados em recipientes para dose única
que não contêm outras substâncias adicionadas, sejam elas ativas ou inativas;
3. sólidos (incluindo sólidos estéreis) acondicionados em recipientes para dose única, contendo ou
não substâncias ativas ou inativas adicionadas, que tenham sido preparados a partir de soluções
homogêneas liofilizadas nos recipientes finais, e sejam rotulados de modo a indicar este modo de
preparação;
4. cápsulas duras, comprimidos não revestidos ou revestidos com filme, contendo 25 mg ou mais da
substância ativa, compreendendo 25% ou mais, em peso, da dose unitária ou, no caso de cápsulas
duras, o conteúdo da cápsula. A uniformidade de outras substâncias ativas presentes em menores
proporções deve ser demonstrada pelo método de Uniformidade de conteúdo.
O método de Uniformidade de conteúdo é exigido para todas as formas farmacêuticas que não
atendem às condições especificadas para aplicação do método de Variação de peso.
UNIFORMIDADE DE CONTEÚDO
Para determinar a uniformidade de doses unitárias pelo método de uniformidade de conteúdo, separar,
no mínimo, 30 unidades e proceder conforme descrito para as formas farmacêuticas indicadas.
Quando a quantidade de componente ativo de uma dose unitária for diferente do especificado no
doseamento, fazer os ajustes de diluição das soluções e/ou o volume das alíquotas de modo a obter a
concentração do componente ativo na solução final semelhante à do doseamento. No caso de
doseamento por titulação, utilizar titulante com concentração diferente, se necessário, para consumo
de volume adequado de titulante. Considerar qualquer modificação das diluições para efetuar os
cálculos.
Quando houver procedimento especial para o teste de uniformidade de conteúdo na monografia
individual, fazer a correção necessária dos resultados obtidos conforme descrito a seguir.
1. Pesar quantidade de unidades do produto suficiente para efetuar o doseamento e o procedimento
especial do teste de uniformidade de conteúdo apresentados na monografia individual. Reduzir os
comprimidos a pó fino (ou misturar os conteúdos das cápsulas, soluções, suspensões, emulsões, géis
ou sólidos em recipientes para dose única) para obter mistura homogênea. Se não for possível obter
mistura homogênea desta forma, usar solventes apropriados ou outros procedimentos para obter
solução contendo o fármaco. Empregar alíquotas apropriadas desta solução para os ensaios
especificados.
2. Analisar, separadamente, porções da amostra, medidas com precisão, conforme o procedimento
indicado para o doseamento (D) e o procedimento especial indicado para uniformidade de conteúdo
(E), descritos na monografia individual.
3. Calcular a quantidade de fármaco por peso médio utilizando os resultados obtidos pelo
procedimento de doseamento (D) e pelo procedimento especial (E).
4. Calcular o fator de correção (F) segundo a equação:
F = D/E
em que
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D = quantidade do componente ativo por peso médio da forma farmacêutica obtida pelo procedimento
de doseamento;
E = quantidade do componente ativo por peso médio da forma farmacêutica obtida pelo procedimento
especial. Se (100|D – E|)/D for superior a 10, não é válido o uso de F.
1. Se F estiver entre 0,970 e 1,030, não há necessidade de correção.
2. A correção será aplicada quando o valor de F estiver entre 0,900 e 0,970 e entre 1,030 e 1,100 e
deve ser efetuada calculando-se a quantidade do fármaco em cada unidade, multiplicando-se as
quantidades obtidas no procedimento especial pelo fator de correção F.
Formas farmacêuticas sólidas
Analisar, individualmente, 10 unidades conforme indicado na monografia individual para o
doseamento, a menos que um procedimento especial para uniformidade de conteúdo seja descrito na
monografia. Calcular o Valor de Aceitação (VA).
Formas farmacêuticas líquidas
Analisar, individualmente, 10 unidades conforme indicado na monografia individual para o
doseamento, a menos que um procedimento especial para uniformidade de conteúdo seja descrito na
monografia. Conduzir o teste, individualmente, em quantidade homogênea do material que é
removida de cada recipiente em condições normais de uso. Expressar o resultado como quantidade
dispensada por unidade. Calcular o Valor de Aceitação (VA).
Valor de aceitação para Uniformidade de conteúdo
Calcular o Valor de aceitação (VA) segundo a equação:
𝑉𝐴 = |𝑀 − 𝑋̅| + 𝑘𝑠
cujos termos são definidos na Tabela 2.
VARIAÇÃO DE PESO
Para determinar a uniformidade de doses unitárias pelo método de variação de peso, separar, no
mínimo, 30 unidades e proceder conforme descrito para as formas farmacêuticas indicadas. A
quantidade de fármaco por unidade é estimada a partir do resultado do doseamento e dos pesos
individuais, assumindo-se distribuição homogênea do componente ativo. As quantidades individuais
estimadas (𝑥𝑖 ) são calculadas segundo a equação:
𝑥𝑖 = 𝑝𝑖 × A/P
em que
𝑝𝑖 = pesos individuais das unidades ou dos conteúdos das unidades testadas;
A = quantidade de componente ativo, expressa em porcentagem da quantidade declarada, determinada
no doseamento;
P = peso médio das unidades utilizadas no doseamento.
Comprimidos não revestidos ou revestidos com filme
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Pesar, com exatidão e individualmente, 10 comprimidos. A partir do resultado do doseamento e do
peso individual de cada comprimido, estimar a quantidade de componente ativo em cada unidade e
expressar os resultados individuais em porcentagem da quantidade declarada. Calcular o Valor de
Aceitação (VA).
Cápsulas duras
Pesar, com exatidão e individualmente, 10 cápsulas, preservando a identidade de cada uma. Remover,
cuidadosamente, o conteúdo e pesar as cápsulas vazias. Calcular o peso do conteúdo de cada cápsula
e, a partir do resultado do doseamento, estimar a quantidade de componente ativo em cada cápsula.
Expressar os resultados individuais em porcentagem da quantidade declarada. Calcular o Valor de
Aceitação (VA).
Cápsulas moles
Pesar, com exatidão e individualmente, 10 cápsulas, preservando a identidade de cada uma. Cortar as
cápsulas com lâmina e retirar o conteúdo, lavando os invólucros com solvente adequado. Deixar os
invólucros à temperatura ambiente, por 30 minutos, para a completa evaporação do solvente, tomando
precauções para evitar adição ou perda de umidade. Pesar as cápsulas vazias e calcular o peso do
conteúdo de cada cápsula. Estimar a quantidade de componente ativo em cada cápsula a partir do
resultado do doseamento e do peso do conteúdo de cada cápsula. Calcular o Valor de Aceitação (VA).
Formas farmacêuticas sólidas (exceto comprimidos e cápsulas)
Proceder como indicado em Cápsulas duras. Calcular o Valor de Aceitação.
Formas farmacêuticas líquidas
Pesar, com exatidão e individualmente, a quantidade de líquido que é removida de cada um de 10
recipientes em condições normais de uso. Se necessário, calcular o volume equivalente do conteúdo
removido após a determinação da densidade. Estimar a quantidade de componente ativo em cada
recipiente a partir do resultado do doseamento e do peso do conteúdo removido dos recipientes
individuais. Calcular o Valor de Aceitação.
Valor de aceitação para Variação de peso
Calcular o Valor de aceitação conforme descrito em Valor de aceitação para Uniformidade de
conteúdo, exceto que as quantidades individuais de componente ativo nas unidades são substituídas
pelas quantidades individuais estimadas.
CRITÉRIOS
Aplicar os critérios a seguir, tanto para Uniformidade de conteúdo como para Variação de peso, a
menos que indicado de maneira diferente na monografia individual.
Formas farmacêuticas sólidas e líquidas
O produto cumpre o teste de uniformidade de doses unitárias se o Valor de aceitação calculado para
as 10 primeiras unidades testadas não é maior que L1. Se o Valor de aceitação for maior que L1,
testar mais 20 unidades e calcular o Valor de aceitação. O produto cumpre o teste de uniformidade
de doses unitárias se o Valor de aceitação final calculado para as 30 unidades testadas não é maior
que L1 e a quantidade de componente ativo de nenhuma unidade individual é menor que (1 – L2 ×
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0,01)M ou maior que (1 + L2 × 0,01)M. A menos que indicado de maneira diferente na monografia
individual, L1 é 15,0 e L2 é 25,0.
Tabela 2 – Termos e expressões para o cálculo do Valor de aceitação (VA).
Variável Definição Condições Valores
X Média dos conteúdos individuais
(x1, x2,..., xn), expressa como
porcentagem da quantidade
declarada.
x1, x2,..., xn Conteúdos individuais das
unidades testadas, expressos como
porcentagem da quantidade
declarada.
n Número de unidades testadas
k Constante de aceitabilidade Se n = 10, então k = 2,4
Se n = 30, então k = 2,0
s Desvio padrão da amostra n
12
(
xi − X )
2
i =1
n −1
M a ser Valor de referência Se 98,5% ≤ X ≤ M = X (VA = ks)
utilizado 101,5%, então
quando
T ≤ 101,5 M = 98,5%
Se X < 98,5%, então
(caso 1) (VA = 98,5 − X + ks)
Se X > 101,5%, então M = 101,5%
(VA = X − 101,5 + ks)
M a ser Valor de referência Se 98,5 ≤ X ≤ T, então M = X (VA = ks)
utilizado
quando M = 98,5%
Se X < 98,5%, então
T > 101,5 (VA = 98,5 − X + ks)
(caso 2)
Se X > T, então M = T (VA = X − T + ks)
Valor de Fórmula geral:
Aceitação M − X + ks
(VA) Os cálculos
são especificados acima
para os diferentes casos
L1 Valor máximo permitido para o L1 = 15,0 a menos que
valor de aceitação especificado de forma
diferente na monografia
individual
L2 Desvio máximo permitido para Nenhum resultado L2 = 25,0 a menos que
cada unidade testada em relação individual é menor que especificado de forma
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ao valor de M utilizado nos (1 – L2 × 0,01)M ou diferente na monografia
cálculos do valor de aceitação. maior que (1 + L2 × individual
0,01)M
T Média dos limites especificados T é igual a 100% a
na monografia individual para a menos que outro valor
quantidade ou potência declarada, tenha sido aprovado por
expressa em porcentagem. razões de estabilidade;
nestes casos,
T é maior que 100%.