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Orquiectomia em Equinos - Revisão de Literatura

A orquiectomia, ou popularmente conhecida como castração de machos, é um procedimento cirúrgico realizado com alta frequência em equinos, e nada mais é do que a remoção cirúrgica dos testículos. Suas indicações variam desde controle de natalidade, diminuição do comportamento agressivo do animal, facilidade no manejo, assim como também para o tratamento de patologias do sistema reprodutor.
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Orquiectomia em Equinos - Revisão de Literatura

A orquiectomia, ou popularmente conhecida como castração de machos, é um procedimento cirúrgico realizado com alta frequência em equinos, e nada mais é do que a remoção cirúrgica dos testículos. Suas indicações variam desde controle de natalidade, diminuição do comportamento agressivo do animal, facilidade no manejo, assim como também para o tratamento de patologias do sistema reprodutor.
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ORQUIECTOMIA EM EQUINOS - REVISÃO DE LITERATURA

AUTOR

BARBOZA, Igor Aparecido Baptista


FURTADO, Lucas Martins
Discentes do curso de Medicina Veterinária – UNILAGO

BLANKENHEIM, Thalita Masoti


Docente do Curso de Medicina Veterinária – UNILAGO

RESUMO

A orquiectomia, ou popularmente conhecida como castração de machos, é um procedimento cirúrgico


realizado com alta frequência em equinos, e nada mais é do que a remoção cirúrgica dos testículos.
Suas indicações variam desde controle de natalidade, diminuição do comportamento agressivo do
animal, facilidade no manejo, assim como também para o tratamento de patologias do sistema
reprodutor. Existem diferentes abordagens técnicas para realização do mesmo procedimento e dentre
elas podemos citar a realização por acesso cirúrgico pré-escrotal, escrotal e perineal, assim como a
técnica fechada, semi-fechada e a aberta; deliberando que a sua utilização ocorre de acordo com a
preferência do cirurgião. Mesmo sendo considerada de fácil execução, o índice de complicações pós-
operatória é grande, demonstrando então a importância do conhecimento das intercorrências, assim
como uma avaliação pós-operatória adequada. O presente artigo tem como objetivo principal descrever
brevemente o procedimento anestésico, detalhar as técnicas cirúrgicas e suas diferenças, assim como
abordar o pós-operatório visando um melhor conhecimento para os profissionais da área com o intuito de
conscientizar e diminuir as complicações pós-operatórias.

PALAVRAS - CHAVE

Castração. Cavalos. Pós-operatório. Técnicas cirúrgicas.


1. INTRODUÇÃO
1. INTRODUÇÃO
É de conhecimento do homem, após anos de observação intuitiva, a associação entre a presença de
órgãos sexuais e a manifestação de comportamento sexual agressivo, comportamento este que tem início quando
o animal atinge a idade púbere. Tal característica pode ser controlada a partir do procedimento de castração, com
o intuito de aumentar a docilidade do animal, controlar o comportamento agressivo e o sexual, como montas
indesejáveis, e melhorar o manejo e convívio em grupo do animal (FINGER et al., 2011; CABRERA et al., 2004).
A castração em equinos, também denominada como orquiectomia, é uma prática considerada de rotina e
simples, contudo, sabe-se que o índice de complicações é alto. É um procedimento que consiste na retirada de
ambos dos testículos do animal através de diferentes técnicas cirúrgicas. Por esse motivo é de extrema
importância que o procedimento seja realizado por um profissional capacitado, visando a utilização de medidas
que minimizem possíveis complicações (FINGER et al., 2011).
Este procedimento é preconizado para equinos entre um e dois anos de vida, período no qual a descida dos
testículos já deve estar completa, sendo necessária a avaliação da presença de ambos na bolsa escrotal para
escolha da técnica cirúrgica adequada. Além disso, é indicado como tratamento para patologias do sistema
reprodutivo, como por exemplo, orquites, criptorquidismo, hidrocele, neoplasias testiculares e epididimites. Por ser
um procedimento que na maioria das vezes é realizado a campo, é de suma importância o estabelecimento de um
protocolo de assepsia para evitar contaminação e demais complicações (SANTOS E PIMENTEL, 2023).
A dor no pós-operatório não deve ser negligenciada, assim como constante avaliação do paciente para
identificação de possíveis complicações e rápida intervenção. Dentre as principais complicações pode-se citar:
peritonite, hemorragias, eventração, edema escrotal e infecção incisional. Sendo assim, deve ser de conhecimento
do Médico Veterinário tais alterações, as causas que vão desencadeá-las, e principalmente quais condutas devem
ser tomadas para correção de tais. É indicada a administração pós-operatória de analgésicos, terapia
antimicrobiana, curativos no local e restrição de espaço com intuito de restringir os movimentos do animal
(FOSSUM, 2013; MEIRELES et al., 2017).
O presente trabalho trás como objetivo uma revisão sobre o tema orquiectomia em equinos, apresentando
desde os aspectos fundamentais de um procedimento cirúrgico, como a assepsia e o procedimento anestésico,
até as diferentes técnicas utilizadas, quais suas indicações e suas principais complicações. Além disso, será
elucidado a importância do conhecimento amplo do cirurgião para que possa saber lidar com possíveis
intercorrências e complicações pós-operatórias.

2. REVISÃO DE LITERATURA
2.1- Anatomia do sistema reprodutor masculino
O sistema reprodutor masculino, tanto em seres humanos como em animais, desempenha o papel
fundamental na produção de gametas masculinos, também denominados espermatozoides, na síntese dos
hormônios sexuais e das células reprodutivas, cuja finalidade é complementar o sistema reprodutor feminino. Tal
sistema é composto pelas seguintes estruturas anatômicas: escroto, dois testículos, dois epidídimos, dois cordões
espermáticos, dois ductos deferentes, uretra, pênis e o prepúcio (Figura 1) (MORAES, 2018).
Figura 1 – Estruturas anatômicas do testículo de equinos de importância cirúrgica (MORAES, 2018).

Os testículos, localizados no escroto, desempenham um papel crucial nas esferas celular e endócrina,
sendo responsáveis pela produção dos espermatozoides e dos hormônios sexuais, como a testosterona, que
exerce importante função no desenvolvimento e na manutenção das características sexuais masculinas. Estas
gônadas, que apresentam-se em pares, originam-se na região sublombar, a partir da eminência genital
embrionária. Durante seu processo de migração, deslocam-se em direção ao canal inguinal até alcançarem sua
posição final no escroto (MORAES, 2018; FRANÇA, 2005).
Tal processo, denominado descida testicular, depende do cordão mesenquimal, que é revestido por
peritônio e se estende desde os testículos, passa pelo canal inguinal, e vai até o processo vaginal, ou também
denominado gubernáculo dos testículos. Durante o processo, as gônadas masculinas deslocam-se da sua posição
original no interior do abdômen, para o processo vaginal e é coberto então pelo escroto (MORAES, 2018).
Os testículos tem formato oval, seu eixo mais longo é posicionado de forma oblíqua e direcionada
dorsocaudalmente. Cada testículo é conectado ao epidídimo através do ligamento próprio do testículo. Em sua
parte central encontra-se o mediastino testicular, que nada mais é do que a convergência dos túbulos seminíferos,
os quais se unem para formar a rede testicular, que desempenha função no transporte dos espermatozoides para
os ductos deferentes, seguindo em direção a polo dorsal do testículo e por fim à cabeça do epidídimo (MORAES,
2018).
O funículo espermático é composto pelas seguintes estruturas: artéria testicular, veias testiculares que
formam o plexo pampiniforme, vasos linfáticos associados as veias, ducto deferente, feixes e tecido muscular liso
ao redor dos vasos, camada visceral da túnica vaginal, plexo testicular de nervos autônomos. Além disso, as
camadas que revestem o testículos estendem-se para cobrir também o epidídimo e uma parte do funículo
espermático. Essas camadas representam a continuação das estruturas da parede abdominal e se dividem em: a)
escroto, composto pela pele externa e por um tecido fibroelástico subcutâneo denominado túnica dartos; b)
envoltórios do testículo, que incluem a fáscia espermática externa formada por duas lâminas, derivadas das
fáscias abdominais, pelo músculo cremáster, que é uma extensão do músculo oblíquo interno do abdômen, e pelo
processo vaginal, que engloba a fáscia espermática interna e a lâmina parietal da túnica vaginal (FRANÇA, 2005).

2.2- Anestesia
A realização do procedimento de anestesia em equinos permite a execução de cirurgias, das mais simples
as mais complexas, de maneira segura para o profissional e promovendo também o bem-estar dos animais. Com
o avanço da anestesiologia veterinária, novas técnicas tem sido empregadas com o intuito de proporcionar maior
estabilidade e segurança para os pacientes, oferecendo planos anestésicos mais refinados, maior controle da dor
e uma recuperação pós-operatória mais rápida. Um procedimento anestésico de qualidade deve incluir uma
sedação eficaz, uma indução sem estresse e segura, a manutenção da estabilidade hemodinâmica durante a
cirurgia e um processo de recuperação tranquilo e livre de complicações (JUNIOR et al.,2023).
O procedimento de orquiectomia em equinos normalmente é conduzido a campo, com o animal
permanecendo em estação, contudo, existem diversas abordagens anestésicas disponíveis e a seleção da mais
apropriada é de responsabilidade do anestesista encarregado do procedimento, que deve levar em consideração
a individualidade do paciente, a indicação da cirurgia, a raça, sexo, idade, estado clínico do animal, elaborando
assim um protocolo anestésico que atenda as necessidades específicas do paciente, levando em consideração
também a escolha entre manter o animal em estação ou em decúbito (JUNIOR et al.,2023; SANTOS E
PIMENTEL, 2023).
Antes do início do procedimento cirúrgico, é crucial efetuar uma avaliação geral do paciente, desde a
condição física, nível de consciência, exame físico geral, exames laboratoriais, como a palpação dos testículos
para certificar-se da presença de ambos, descartando assim a presença de criptorquidismo ou hérnia inguinal, por
exemplo. Já no processo de preparação do paciente, recomenda-se submetê-lo a um período de jejum alimentar
de 12 a 24 horas, e jejum hídrico de 6 horas. O jejum alimentar tem como objetivo evitar potenciais complicações
pós-operatórias relacionadas ao sistema gastrointestinal, uma vez que os agentes anestésicos utilizados podem
afetar a motilidade intestinal, tornando o animal mais suscetível a cólicas (SANTOS E PIMENTEL, 2023;
MEIRELLES et al., 2017).
Diversos protocolos anestésicos foram encontrados na literatura, e nos procedimentos feitos com o animal
em posição quadrupedal, para a sedação foi utilizado acepromazina, na dose de 0,05 mg/kg, por via intravenosa;
alguns autores, como Meirelles et al. (2017), associaram esta à xilazina, na dose de 1 mg/kg, e butorfanol, na
dose de 0,036 mg/kg, também por via intravenosa, já em outra literatura, como Finger et al. (2011), esperou-se
cerca de 15 minutos para administração das ultimas medicações citadas. Contudo, segundo Moraes (2018), a
sedação pode ser feita com cloridrato de detomidina, na dose de 20 a 40 μg/kg, ou xilazina, na dose de 0,3 a 0,5
mg/kg, e butorfanol, na dose de 0,01 a 0,05 mg/kg. Após a preparação da área cirúrgica, conforme elucidado por
(AUTOR), associa-se à sedação a técnica de anestesia local, tanto na região subcutânea do escroto, como na
linha de incisão, intratesticular e no cordão espermático, podendo utilizar tanto ropivacaina 0,2% num volume de
20 ml, de acordo com Finger et al. (2011) e Meirelles et al. (2017), ou então lidocaína no volume de 10 ml,
segundo Moraes (2018).
Já para as castrações feitas com o paciente em decúbito, Ribeiro et al. (2014) cita que a sedação pode ser
obtida através da utilização de xilazina, na dose de 0,5 mg/kg, induzindo o animal com éter-gliceril-guaiacol
(EGG), na dose de 75 mg/kg, associado à cetamina, na dose de 2,2 mg/kg, ambos diluídos em solução fisiológica
e administrados por via intravenosa, sendo a manutenção feita com anestésicos inalatórios, como o isoflurano. Já
Moraes (2018) expõem a combinação da cetanima, na dose de 2,2 kg/kg, com xilazina, na dose de 1 mg/kg, e
caso o procedimento seja demorado, é possível administrar uma segunda dose desta associação, dependendo do
tempo ainda necessário para conclusão do mesmo. Meirelles et al. (2017) ainda relata uma técnica anestésica
diferente, utilizando para a sedação acepromazina, na dose de 0,05 mg/kg, feita por via intramuscular, e após
decorrido 30 minutos, administrar por via intravenosa xilazina, na dose de 0,5 mg/kg; em seguida, para indução,
utilizar guaifenesina, na dose de 75 mg/kg, associada ao propofol, na dose de 2 mg/kg; realizar também bloqueio
local com lidocaína, administrando um volume de 20 ml em cada testículo; e por fim, para a manutenção
anestésica, o isoflurano.

2.3- Criptorquidismo
De acordo com a literatura a idade indicada para realizar a orquiectomia em equinos é a partir dos 18 aos
24 meses de idade, sendo de suma importância considerar a fisiologia da descida testicular, um processo que
pode acontecer até os dois anos de idade. A vista disso, caso não ocorra a descida de um ou ambos os testículos,
o paciente pode ser considerado criptorquida (SANTOS E PIMENTEL, 2023). Essa alteração apresenta
predisposição racial, como nas raças Quarto de Milha e Percheron, em contraposto a raças Puro Sangue Árabe e
Puro Sangue Inglês (RIBEIRO et al., 2014).
O criptorquidismo é uma alteração de desenvolvimento restrita ao sexo, não letal, de alta prevalência em
equinos, e de relevância econômica considerável, já que acarreta alterações funcionais e comportamentais nos
animais afetados. Nos animais criptorquidas bilaterais, a esterilidade é consequência inevitável, devido à
exposição de ambos os testículos a temperaturas elevadas, por não estarem na bolsa escrotal, inibindo assim a
espermatogênese. Todavia, as células de Leydig presentes nos testículos são funcionais e, portanto, produzem
andrógenos, como a testosterona, em quantidades análogas às produzidas por testículos localizados no escroto.
Em contrapartida, criptorquidas unilaterais frequentemente mantem sua fertilidade, mas exibem uma redução na
concentração de espermatozoides (SHADE et al., 2017).
Por este motivo, os animais afetados apresentam todas as características de um garanhão normal,
demonstrando aspectos indesejáveis, pois tendem a ser mais nervosos, apresentam comportamento agressivo,
aumento de libido, além de comportamentos viciosos. Ademais, em virtude do risco de desenvolvimento de
neoplasia testicular, das características supracitadas, e da natureza hereditária da afecção, a utilização desses
animais na reprodução torna-se inviável, sendo a castração uma medida necessária para todos os pacientes que
apresentam criptorquidismo (SHADE et al., 2017; FRANÇA, 2005).
Equinos criptorquidas apresentam ambos ou um dos testículos localizados em diferentes regiões, o que
traz a tona uma classificação para esta afecção, com base na localização dos testículos e epidídimos retidos. É
classificado como criptorquida inguinal aquele animal que apresenta testículos que passaram pelo anel vaginal,
mas não pelo anel inguinal superficial. Caso os epidídimos e os testículos permaneçam na cavidade abdominal, a
classificação é criptorquida abdominal total ou completo; já se o testículo está na cavidade abdominal e uma parte
do epidídimo está no canal inguinal, e termo correto é criptorquida abdominal parcial ou incompleto. São
denominados testículos ectópicos aqueles que são localizados no tecido subcutâneo e não podem ser deslocados
manualmente para o escroto (SHADE et al., 2017).
A realização do tratamento clínico com a utilização de hormônios não é indicada para animais
criptorquidas, tanto pela característica hereditária da afecção, quanto pelo risco de neoplasia, sendo recomendada
então a intervenção cirúrgica como único método de tratamento. A escolha da via de acesso cirúrgico irá depender
da localização do testículo retido, levando em consideração também a experiência e a preferência do cirurgião, o
temperamento do animal e os fatores econômicos. Dentre as abordagens cirúrgicas, podemos citar a inguinal,
parainguinal, suprapúbica paramediana, pelo flanco e via laparoscópica, lembrando que para todas essas é
necessário a realização de anestesia geral (SHADE et al., 2017; SANTO E PIMENTEL, 2023).
Em casos de criptorquidismo unilateral, independente da técnica cirúrgica selecionada, recomenda-se
remover primeiro o testículo retido, garantindo que, caso seja necessário interromper a cirurgia, permanecerá
visível um indicativo de criptorquidismo, permitindo uma distinção clara entre um cavalo castrado e um criptorquida
(SHADE et al., 2017).

2.4- Técnicas cirúrgicas


O controle do comportamento agressivo dos machos equinos inteiros é crucial para um convívio seguro
com o animal, principalmente durante a puberdade, período no qual esse comportamento se intensifica. Optar pela
orquiectomia bilateral tem o intuito de proporcionar docilidade e facilitar a convivência entre os animais, o
proprietário e os trabalhadores. A abordagem cirúrgica, seja unilateral ou bilateral, apresenta como técnica o
procedimento com incisão pré-escrotal, escrotal ou perineal, e pode ser utilizado o método aberto, semifechado e
fechado. Já a posição do paciente durante a cirurgia pode ser tanto em decúbito ou em posição quadrupedal. Vale
ressaltar que antes do procedimento os testículos devem ser palpados para verificar a presença de ambos na
bolsa escrotal ou a possível presença de hérnia inguinal. Cada técnica apresenta suas indicações e
desvantagens, e o Médico Veterinário é o responsável por decidir o procedimento mais adequado para cada
paciente (DIAS et al., 2021; SANTOS E PIMENTEL, 2023; MEIRELLES et al., 2017).
Antes de iniciar o procedimento cirúrgico é necessário realizar uma lavagem preliminar em pacientes com
elevado nível de sujidade, seguida pela antissepsia obrigatória da região do leito cirúrgico, nesse caso, com início
nos testículos e expandindo para as áreas laterais. Para esta etapa, pode-se empregar iodo degermante 10% e
álcool 70%, seguindo um protocolo que envolve friccionar a região com iodo degermante em três etapas,
garantindo um tempo de contato com a pele de cinco minutos, e então realizar a lavagem com álcool 70% também
em três etapas, de forma alternada, devendo o iodo ser a primeira solução utilizada (SANTOS E PIMENTEL,
2023).
Para realização da técnica fechada é feita uma incisão em região escrotal, paralela a rafe mediana, na
pele, túnica dartos e fáscia espermática, acarretando na exposição da túnica vaginal parietal. Então, após o
testículo ser exposto, uma incisão é feita na fáscia espermática e no ligamento escrotal na porção proximal do
testículo. É necessário, com auxílio de uma gaze, se for de preferência do cirurgião, rebater o tecido adiposo e a
fáscia que circunda a túnica vaginal para melhor exposição do cordão espermático permitindo assim a realização
da ligadura. Após realização da ligadura, o cordão espermático é seccionado transversalmente distal à ligadura e
após verificar possível hemorragia deste, é liberado para a região inguinal. O mesmo procedimento é realizado no
testículo contralateral (DIAS et al., 2021).
A técnica aberta (Figura 2) é feita de maneira similar, a túnica vagina é incisada completamente e o
mesórquio é rompido com o intuito de liberar o ligamento da cauda do epidídimo, realizando então a ligadura e
remoção do testículo. Já na técnica semifechada é feita uma incisão da túnica vaginal parietal seguida da
confecção da ligadura; contudo, existem algumas variações desta técnica, na primeira o cirurgião utilizará os
dedos para expor o testículo e as estruturas do cordão espermático, seguido da ligadura; a segunda corresponde
na exposição do plexo pampiniforme e do ducto deferente através de uma incisão e posterior ligadura antes da
túnica vaginal e do músculo cremaster; e na terceira variação é feita uma incisão vertical na túnica vaginal após
sua exposição e do músculo cremaster, realizando então a ligadura (SANTOS E PIMENTEL, 2023; MEIRELLES et
al., 2017; DIAS et al., 2021).
Figura 2 - Sequência da castração em estação, com o uso de braçadeira de nylon, em eqüino (grupo. Anestesia
intra-testicular (a), incisão de pele (b), exposição do testículo (c), separação do cremáster (d), aplicação das
braçadeiras de nylon (e) e aspecto final do cordão espermático após a orquiectomia (FINGER et al., 2011).

Nas abordagens pré-escrotal e perineal as técnicas utilizadas são as citadas acima, a diferença é
o local em que a incisão inicial é feita, na primeira a incisão é feita na linha média dorsal ao escroto, e na segunda
a incisão é feita ventral ao ânus; nas duas o testículo deve ser direcionada com os dedos do cirurgião em direção
a incisão, onde a fáscia espermática e a túnica vaginal serão incisadas. Para realização da ligadura em todas as
técnicas pode ser utilizado o emasculador do tipo Reimer (Figura 3), ou a confecção da ligadura com fio cirúrgico
ou abraçadeiras de nylon (Figura 4) de 2,5 milímetros de espessura. Na maioria das vezes a incisão cirúrgica na
região escrotal é deixada aberta, cicatrizando por segunda intenção, porém, alguns cirurgiões realização a sutura
da ferida, proporcionando uma rápida cicatrização e retorno mais rápido ao trabalho, assim como diminuindo a
possibilidade de eventração através da ferida (SANTOS E PIMENTEL, 2023; FINGER et al., 2011; DIAS et al.,
2021).

Figura 3 – Emasculador tipo “REIMER” (FRANÇA, 2005).

Figura 4 - Esquema representativo do uso da abraçadeira de náilon: A – Abraçadeira de náilon sem acionar o
sistema de travas (a) e com o sistema de travas acionado (b); B – posicionamento e ajuste da abraçadeira de
náilon no funículo espermático (c) (SILVA et al., 2006).

Novos materiais de sutura tem sido desenvolvidos e aprimorados, oferecendo ao cirurgião uma gama de
fios absorvíveis e inabsorvíveis, sendo estes de suma importância uma vez que são os responsáveis pela
hemostasia, proporcionando melhores condições técnicas e um bom pós operatório ao paciente. É necessário que
cirurgião saiba as vantagens e desvantagens dos diferentes materiais de sutura disponíveis, visando a melhor
utilização de cada um, além de estar ciente dos novos estudos e por consequência dos novos materiais
disponíveis para sua utilização. As abraçadeiras de nylon, por exemplo, tem se mostrado uma opção viável e
inovadora quando o assunto é orquiectomia em equinos; além de ser resistente à tração, bem tolerado pelo
organismo, é de fácil manuseio e contem um sistema de trava eficiente (FRANÇA, 2005; DIAS et al., 2021; SILVA
et al., 2006).
Em um estudo onde utilizou-se diferentes técnicas de hemostasia na orquiectomia, como a abraçadeira de
nylon, emasculador e categute, avaliando também o tempo cirúrgico, constatou-se que com a utilização de
abraçadeiras o tempo é reduzido (MEIRELLES et al., 2017). Ainda assim, a partir da literatura, é possível verificar
que as abraçadeiras não se rompem no momento da sua aplicação no funículo espermático para proporcionar
hemostasia, demonstrando assim a sua resistência; além disso, seu sistema de trava não permite o afrouxamento,
possibilitando ao cirurgião mais segurança (SILVA et al., 2006). Esse material, quando comparado aos outros,
apresenta reação tecidual menor (FRANÇA, 2005).
Alguns autores relatam que a utilização do emasculador está associado a uma taxa maior de hemorragia,
quando comparado utilização de outras técnicas de hemostasia, isso pode acontecer pelo posicionamento
inadequado do emasculador, acarretando em vasos sanguíneos insuficientemente comprimidos. Uma maneira de
evitar tal hemorragia é posicionando o emasculador transversamente, com a superfície cortante distalmente, e
com isso evitando a incorporação de tecidos moles e a tensão excessiva do cordão espermático. Em equinos
idosos recomenda-se a emasculação do cordão espermático e do cordão musculofibroso separadamente,
reduzindo a quantidade de tecido a ser ligado (FRANÇA, 2005; SILVA et al., 2006; FINGER et al., 2011).

2.5- Pós-operatório
No geral, as precauções que devem ser tomadas no pós-operatório consistem na monitoração da dor e
avaliação para verificar possíveis complicações decorrentes do procedimento, como por exemplo, infecção e
hemorragia. Indica-se a utilização de analgésicos, antibióticos e curativos na ferida cirúrgica, assim como repouso
e retorno gradual a exercícios (MEIRELLES et al., 2017). Em visto que a maior parte das orquiectomias em
equinos seja feita a campo, estudos buscam determinar qual o momento adequado para realizar a aplicação de
soro antitetânico, no pré-operatório ou no pós-operatório, sendo indicado por Turner e Mcilwraigth (2002) a
administração no pós-operatório.
Em relação às medicações pós-operatórias utilizadas, ao se tratar dos anti-inflamatórios, o flunixim
meglumine foi o mais citado, sendo utilizado na dose de 1,1 mg/kg, uma vez ao dia, durante três dias
consecutivos, a única variância foi quanto a via de administração, sendo a intramuscular e a intravenosa citadas.
Alguns autores relataram o uso da ivermectina, na dose de 200 µg/kg, como dose única e administrada por via
intramuscular. Já se tratando do uso de antibióticos, houveram algumas diferenças, o fármaco de escolha foi a
penicilina benzatina, porém a posologia apresentou discrepância; a maioria relata utilização da dose de 20.000
UI/kg, na frequência de aplicação no pós-imediato e 48 e 96 horas após a primeira aplicação, totalizando três
aplicações; houve uma variação na frequência, realizando as aplicações a cada 24 horas, durante três dias
(MEIRELLES et al., 2017; SANTOS E PIMENTEL, 2023; FINGER et al., 2011; MORAES, 2018).

2.6- Complicações pós-operatórias


Mesmo que a orquiectomia geralmente seja realizada em equinos jovens e saudáveis, observa-se uma
taxa significativa de complicações associadas a essa cirurgia eletiva. A ocorrência dessas complicações é
influenciada por diversos fatores, como a técnica cirúrgica utilizada, as condições do ambiente, o tamanho dos
testículos, a raça e a idade do paciente. Existem registros de 22% de complicações em equinos submetidos à
orquiectomia em estação, enquanto a taxa varia de 6 a 8% nos casos em que o animal está em decúbito
(CARVALHO et al., 2017).
Dentre as principais complicações pós-operatórias de orquiectomia em equinos podemos citar: edema,
herniação do omento, trauma do pênis, hemorragia, funiculite, eventração, hidrocele, infecção da linha de incisão,
e peritonite. Estas alterações são classificadas como leves pois podem ser corrigidas através de um tratamento
clínico, contudo, estas não excluem a possibilidade do desenvolvimento de complicações cuja evolução pode ser
fatal. A hemostasia durante o procedimento, por exemplo, é de suma importância, visto que uma ligadura
inadequada no cordão espermático acarreta em hemorragia, o que pode ser fatal para o animal. Todo equino que
passa por esse procedimento cirúrgico desenvolve peritonite asséptica no pós-operatório, em consequência da
comunicação da túnica vaginal com a cavidade peritoneal, todavia, o desenvolvimento de peritonite séptica difusa
é raro (CARVALHO et al., 2017; FINGER et al., 2011).
A complicação pós-operatória mais comum é o edema (Figura 5), ocorre em graus variados em cada
animal, evidente no quarto ou quinto dia, sendo resolvido dentro de dez a doze dias, porém, em excesso pode
indicar drenagem inadequada e levar a contaminação local; existem relatos de que a realização do procedimento
com o animal em decúbito dorsal acarreta em menor ocorrência de edema. Exercícios controlados,
antibióticoterapia, uso de antiinflamatórios, duchas de água fria contribuem para a resolução do mesmo (SANTOS
E PIMENTEL, 2023; FINGER et al., 2011; MEIRELLES et al., 2017).

Figura 5 – Inchaço pós-operatório na área escrotal (MORAES, 2018).

Outra complicação que geralmente acontece é a infecção local, decorrente de um processo infeccioso,
afetando o cordão espermático e por consequência peritonite ascendente ou formação de abscessos; conforme
citado acima a maioria é asséptica, porém, caso sinais clínicos como taquicardia, diarreia, relutância em andar, dor
abdominal sejam notados, deve-se considerar que essa peritonite tornou-se séptica. A infecção crônica do cordão
espermático leva a formação de um tecido de granulação e drenagem de conteúdo purulento, edema não doloroso
do cordão remanescente, com aderência à pele escrotal, podendo também formar uma fístula no local
(CARVALHO et al., 2017; FINGER et al., 2011; DIAS et al., 2021).
A eventração, ou pelo anel vaginal, ou pela ferida escrotal, ocorre geralmente em casos que o animal era
criptorquida, já que neste uma incisão de grande dimensão é feita no peritoneo; tal complicação pode acontecer
nas quatro primeiras horas do pós-operatório, no momento da recuperação anestésica, ou até seis dias após o
procedimento. Já a evisceração, cuja etiologia é multifatorial, o tamanho do anel inguinal, a posição do membro
pélvico durante a cirurgia, o aumento da pressão intrabdominal, e a técnica escolhida, como a técnica aberta, que
com a abertura da túnica vaginal permite que a cavidade abdominal e o meio externo tenham comunicação,
aumentam a taxa de ocorrência desta complicação pós-operatória. A realização incorreta da antissepsia, de
possíveis contaminações no trans e pós-cirúrgico, rejeição do fio de sutura, ligadura contaminada, acarretam no
desenvolvimento de funiculite. As lesões no pênis acontecem de forma mais rara, geralmente por incisão da fáscia
e corpo cavernoso do pênis, ocasionando em parafimose, ou então pela incisão da uretra peniana, acarretando
em estenose e fistula uretral (DIAS et al., 2021).
A redução do risco de complicações pós-operatórias em equinos está intrinsecamente ligada ao
conhecimento detalhado da anatomia e fisiologia do trato reprodutor masculino, à aplicação abrangente das
técnicas cirúrgicas e a compreensão das potenciais complicações cirúrgicas e suas causas (CARVALHO et al.,
2017).

3. CONCLUSÃO
A partir do exposto nesse artigo, é evidente que o procedimento de castração não é uma cirurgia tão
simples, esta deve ser realizada por profissionais qualificados, que realmente saibam indicar a realização de tal
procedimento, além de levar em consideração as necessidades individuais de cada animal. É de suma
importância a realização de estudos visando determinar qual o melhor material para realização das ligaduras
durante o procedimento, tendo em vista a diminuição de complicações como a hemorragia. Ainda assim, como a
taxa de complicações pós-operatórias é elevada, os profissionais responsáveis devem realizar constantes
avaliações do paciente, além de elaborar novos protocolos e estudos a fim minimizar tais complicações,
independente se o procedimento será realizado á campo ou em centro cirúrgico.

4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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