0% acharam este documento útil (0 voto)
358 visualizações170 páginas

Guia para o Estudo Das Indústrias Líticas...

Este documento apresenta um guia para o estudo das indústrias líticas da América do Sul elaborado por Annette Laming-Emperaire. O guia contém um glossário com termos técnicos relacionados ao estudo de artefatos de pedra e um código de análise para a classificação sistemática desses artefatos. O objetivo é fornecer uma linguagem comum e métodos padronizados para a comunicação e interpretação dos achados arqueológicos.
Direitos autorais
© © All Rights Reserved
Levamos muito a sério os direitos de conteúdo. Se você suspeita que este conteúdo é seu, reivindique-o aqui.
Formatos disponíveis
Baixe no formato PDF, TXT ou leia on-line no Scribd
0% acharam este documento útil (0 voto)
358 visualizações170 páginas

Guia para o Estudo Das Indústrias Líticas...

Este documento apresenta um guia para o estudo das indústrias líticas da América do Sul elaborado por Annette Laming-Emperaire. O guia contém um glossário com termos técnicos relacionados ao estudo de artefatos de pedra e um código de análise para a classificação sistemática desses artefatos. O objetivo é fornecer uma linguagem comum e métodos padronizados para a comunicação e interpretação dos achados arqueológicos.
Direitos autorais
© © All Rights Reserved
Levamos muito a sério os direitos de conteúdo. Se você suspeita que este conteúdo é seu, reivindique-o aqui.
Formatos disponíveis
Baixe no formato PDF, TXT ou leia on-line no Scribd
Você está na página 1/ 170

ANNffiE LAMING-EMPERAIRE

ARQUEOLOGIA Vol. 12

KVASIR PUBLISHING
&
DEPARTAMENTO DE
ANTROPOLOGIA DA
UNIVERSIDADE FEDERAL
DO PARANÁ
Pub lic ado sob os auspícios do Conselho de Pesquisas da Uni versidade Federal do Paraná
GUIA PARA O ESTUDO DAS INDúSTRIAS LíTICAS
DA AMÉRICA DO SUL

ANNETTE LAMING-EMPERAIRE

MANUAIS DE ARQUEOLOGIA N. 0 2
ARQUEOLOGIA Vol. 12

K v asir Publishing
&
Departamento de Antropologia
Uni v ersidade Federal do Paraná

CENTRO DE ESTUDOS E PESQUISAS ARQUEOLÓGICAS

CURITIBA- PARANÁ- BRASIL

Edição impressa 1967


Edição digital 2017
íNDICE DA MAT~RIA

APRESENTAÇÃO 7
INTRODUÇÃO 11
I. Problemas dP. terminologia lítica 13
II. Problemas de tipologia lítica .. . . . 15

PRIMEIRA PARTE
I . Plano do glossário ................ . . ...... . 19
A. Material utilizado e seu estado . ........ .. . 20
B . Técnicas do trabalho da pedra .... . .. . .. . ...... . 20
C . Descrição de um objeto de pedra .. .. . .... . 21
D. Utilização dos objetos de pedra .. . .. . .. .... . 22
II. Glossário .. .. ....... .. . .. ...... . . . ... ..... . . . 24
A. Material utilizado e seu estado ............ . .... . . 24
B. Técnicas do trabalho de pedra .......... . .. . .. . .. . 28
C. Descrição de um objeto de pedra ................ . 41
D. Utilização dos objetos de pedra ... . .. . .. . . .. .. . . . 62

SEGUNDA PARTE
I. Os quadros analíticos. Princípios gerais ........... 91
A. As diferentes etapas da análise tipológica . . . . . . . . 91
B. Estrutura geral dos quadros analíticos . . . . . . . . . . . 94
C. Rubricas e códigos comuns a todos os quadros . . . 96
D. Princípios comuns a todos os quadros. A morfologia 100
E. Princípios comuns a todos os quadros. A utilização 115
II. Quadros analíticos estabelecidos em função da fa-
bricação. Códigos correspondentes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 119
A. Matéria-prima-bruta. Pedras utilizadas
Mineral corante . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 119
B. Pedra picoteada. Pedra polida. Pedra picoteada e
polida . . . ................................. 121
c. Pedra lascada. Objetos modelados (objetos de bloco,
núcleo, detritos) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 125
D . Pedra lascada. Os objetos lascados (lascas) . . . . . . 14.1
CONCLUSõES 149
BIBLIOGRAFIA 153

3
íNDICE DAS ILUSTRAÇÕES

ESTAMPAS
I . Núcleo e lascas 37
II. Pedra polida 42
III . Núcleo 48
IV . Lasca 50
V. Objeto de bloco 60
VI. Objetos de pedra lascada sôbre lasca 68
VII. Objetos de pedra lascada sôbre bloco 71
VIII. Ferramentas plano-convexas 75
IX. Pontas bifaciais 80
X. Objetos diversos 88
FIGURAS
1. Croquis de uma ponta bifacial com pedúnculo e aletas 102
2. Quadriculado de um croquis para localização das dife-
rentes partes .. 110
3 . Medidor de ângulos 112
4. Quadro de formas .. ... . ..... ... .. .... .. . . 113
QUADROS
I. Ábaco para a medida das dimensões e das proporções 103
II . Análise das formas em função dos eixos de simetria 107
III. Análise da matéria-prima-bruta, da p edra utilizada
e da matéria corante . . . . . . . . . . . . ........ 122
IV. Análise da pedra picoteada ou polida 124
V. Análise de uma lâmina de machado polido . 124/125
VI . Análise da pedra lascada 126/127
VII. Exemplo de análises : .. 148/149
a. de um objeto lascado sôbre lasca 148/149
b. de um objeto lascado sôbre bloco 148/149

5
APRESENTACÃO
'
O nome da Dra. Annette Laming-Emperaire está intimamente
ligado ao desenvolvimento das pesquisas arqueológicas no estado do
Paraná. Pouco antes da fundação do Centro de Ensino e Pesquisas
Arqueológicas (CEPA), a Dra. Laming-Emperaire já prestava a sua
colaboração à arqueologia paranaense através do então Instituto de
Pesquisas da Universidade do Paraná, na sua Secção de Arqueologia.
Com a criação do Centro de Ensino e Pesquisas Arqueológicas,
em fins de 1956, foi possível , além do aceleramento de pesquisas
sistemáticas em vários sítios arqueológicos no litoral e no planalto
do Paraná, a realização regular de cursos de especialização.
Dos cursos, seminários e escavações promovidos pelo CEPA,
os quais eram assistidos por jovens universitários e graduados de
vários estados brasileiros, muitos foram orientados pela Dra. Laming-
Emperaire. Este contato direto com o elemento humano em vias de
especialização e com as evidências páleo-etnográficas do Brasil Me-
ridional, possibilitou a pesquisadora uma melhor tomada de posição
quanto aos problemas e necessidades da Arqueologia Brasileira. Fre-
qüentemente suas aulas e palestras versavam sôbre técnicas de esca-
vações e sôbre análise e interpretação do material arqueológico em
sítios escavados por sua equipe, denotando a sua preocupação em
sistematizar estas tarefas segundo as condições e particularidades
inerentes.
Em 1959 publicou , em colaboração com o arqueólogo José
Emperai re, "A Jazida José Vieira -um Sítio Guarani e Pré-Cerâmico
do Interior do Paraná" (Arqueologia n. 0 1), expondo, principalmente,
as técnicas de estudo do material lítico.
Com a publicação do presente "Guia para o Estudo das Indús-
trias Líticas da América do Sul", através da nova série de publicações
do Centro de Ensino e Pesquisas Arqueológicas, novo passo está
sendo daào no sentido da sistematização da análise e interpretação
das evidências líticas.
Igor Chmyz
Editor dbs Manuais de Arqueologia

9
INTRODUÇÃO

O "Guia para o estudo das indústrias líticas da América do Sul"


é um dos resultados do "Seminário de Ensino e Pesquisa em Sítios
Pré-cerâmicos", promovido pelo Centro de Ensino e Pesquisas Ar-
queológicas e o Conselho de Pesquisas da Universidade Federal do
Paraná, com a colaboração da CAPES.

O Seminário foi dirigido pela Prof.a Dra. Annete Laming-Empe-


raire, Directeur de Recherches à l'École Pratique des Hautes Études,
Paris. Participaram do Seminário o Pe. João Alfredo Rohr, S. J., do
Museu do Homem do Sambaquí, Florianópolis; Margarida Davina An-
dreatta, do Museu Paranaense, de Curitiba; Prof. Pe. Pedro lgnacio
Schmitz, S. J., da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Facul-
dade de Filosofia Ciências e Letras de São Leopoldo e Instituto Anchie-
tano de Pe squisas, São Leopoldo ; Celso Perota, do Centro de Ensino e
Pesquisas Arqueológicas ; Anamaria Beck, do Instituto de Antropologia
da Universidade Federal de Santa Catarina; Braz Francisco Raul San-
tiago Winkler Pepe, do Instituto de Arqueologia Brasileira da Gua-
nabara ; Marcos Albuquerque, do Instituto de Ciências do Homem da
Universidade Federal de Pernambuco .

O Seminário realizou- se na Ilha das Rosas, na baía de Antonina,


Paraná, de 10 de agôsto a 20 de setembro de 1966.
O Guia teve sua origem num pedido insistente da equipe à Profa.
Dra. Annette Laming-Emperaire, para organizar um vocabulário apro-
:Driado à identificação e estudo da indústria lítica da América do
Sul. Durante a elaboração do vocabulário e do estudo do material
proveniente da escavação, verificou-se que existia uma necessidade
igualmente urgente da elaboração de um sistema de análise da in-
dústria lítica, surgindo assim a segunda parte do Guia, o "Código de
análise da indústria lítica". O vocabulário e o código poderão dar aos
arqueólogos sul-americanos, principalmente aos que se dedicam a sí-
tios pre-cerâmicos, uma linguagem comum, na qual possam também
comunicar com clareza e segurança os resultados de suas pesquisas.

O Guia foi elaborado com a colaboração de tôda a equipe, em


francês pela Profa. Dra. Annette Laming-Emperaire, tendo sido tra-
duzido ao português pelo Prof. Pe. Pedro Ignacio Schmitz, S.J ., com
a colaboração de Margarida Da vi na Andreatta ; depois foi discutido
e experimentado.

11
Numerosas modificações foram introduzidas no original do Guia,
de Outubro 1966 a Maio 1967. Niéde Guidon, que prepara sua tese de
doutorado de arqueologia em Paris, participou desta segunda redação.
A Diretora e a equipe do Seminário de Ensino e Pesquisas em
Sítios Pré-cerâmicos registram aqui a sua gratidão ao Conselho de
Pesquisas da Universidade Federal do Paraná, à CAPES, ao Prof.
José Loureiro Fernandes, então Diretor do Departamento de Antropo-
logia, ao Prof. Igor Chmyz e a todos os que colaboraram para que o
seminario e o presente Guia se tornassem realidade.

12
I - Problemas de terminologia lítica .

Em arqueologia pré-histórica, a tipologia é o principal,


às vêzes o único meio de que dispomos para definir uma cul-
tura, para estudar sua evolução nas camadas sucessivas de
um sítio, para determinar geogràficamente os limites de uma
área cultural. Ora, definir uma cultura através de vestígios
de pedra, algumas vêzes muito rudimentares, significa que,
das formas de um objeto e de alguns detalhes perceptíveis
sàmente aos especialistas, poderão ser deduzidas informações
coerentes sôbre seu modo de fabricação e de· utilização. Com
relação a êsses vestígios é necessário dispôr-se de um vocabu-
lário que seja bastante variado para descrevê-los e suficiente-
mente preciso para que as descrições de dois arqueólogos, que
se ocupem de um mesmo tipo de problemas, sejam compará-
veis entre si.
Nos países em que a arqueologia pré-histórica vem-se de-
senvolvendo desde muitas décadas, êste vocabulário existe. Êle
constitui presentemente um instrumento de trabalho cuja ri-
queza é às vêzes impressionante, empregado por numerosos
especialistas. Infelizmente, na maioria dos casos, êsse vocabu-
lário fixou-se em função de circunstâncias históricas, as quais ,
por sua própria natureza, não são nem lógicas, nem siste-
m áticas. Cada palavra pode ter um significado diferente ou
ligeiramente diferente segundo os autôres e as tentativas de
redefinição e de homogeneização dos têrmos se tornam mais
difíceis em razão de sua utilização por grande número de
autôres.
A sorte dos países da América Latina é que êles se encon-
tram em uma situação muito diferente. Pràticamente, ne-
nhum estudo de tipologia lítica foi tentado em nenhum dêles,
quer em espanhol, quer em português. As poucas descrições
existentes emprestam seus têrmos seja do inglês, do francês ,
do alemão e naturalmente do espanhol e português da Europa.
O resultado é uma linguagem mal definida e inadaptável a um
estudo detalhado.

13
Os arqueólogos sul-americanos lamentam, justamente,
não dispôrem de vocabulário adequado ao seu trabalho e, nas
condições atuais, a descrição científica de uma indústria da
América do Sul em espanhol ou em português é uma tarefa,
se não irrealizável, pelo menos muito difícil. Mas de outro
lado, êles podem se rejubilar de partirem pràticamente da es-
taca zero, de não terem, como seus colégas de outras regiões ,
o impecilho dos têrmos tradicionais de valor desigual e já cris-
talizados , de estarem completamente livres para construir
uma terminologia e uma tipologia adaptadas, tanto às zonas
arqueológicas que estudam , quanto às exigências científicas
da moderna arqueologia.
Êste pequeno guia é um ensaio para preencher essa la-
cuna e ao mesmo tempo aproveitar dessa sorte.
Preencher essa lacuna, não quer dizer que temos a pre-
tensão de esgotar o assunto. É evidente que êste modesto en-
saio deverá ser enriquecido pela experiência de outros arqueó-
logos no decorrer dos próximos anos.
Aproveitar da sorte de não estarmos tolhidos por ne-
nhuma tradição fixa de terminologia não quer dizer que te-
nhamos a ilusão de edificar algo de totalmente novo. Com
efeito, em cada página, recorremos às experiências de nossos
predecessôres que já descobriram e descreveram numerosos ti-
pos. Em cada linha utilizaremos dados reconhecidos no de-
curso de um século de pesquisas que se desenvolveram em
todos os países e que são hoje universalmente reconhecidos.
Nossa sorte, portanto, não é tanto a de fazer algo de novo, co-
mo a de ter a possibilidade de eliminar as incoerências, que se
arrastam em cada uma das línguas nas quais a pesquisa pre-
histórica já tem uma longa tradição.
O estudo que segue divide-se em duas partes: a primeira
é uma espécie de léxico ou glossário no qual definimos 170 pa-
lavras escolhidas entre as mais fundamentais do vocabulário
arqueológico. Para cada palavra damos o equivalente francês.
As palavras mais importantes são acompanhadas pela
ilustração correspondente, que consiste sempre em um dese-
nho, mais ou menos esquemático, graças ao qual esperamos
eliminar os possíveis erros de interpretação.
A segunda pa-rte, que inicialmente não se destinava a ser
incluída neste trabalho, é a exposição resumida de um mé-

14
todo de análise das indústrias líticas. ~sse método, já expe-
rimentado na descrição das indústrias da Patagônia austral,
pode ser aplicado a qualquer tipo de indústria lítica. Todos
os têrmos que nêle são empregados são definidos na primeira
parte.
~ste trabalho foi redigido no decurso de escavações que
realizamos na Ilha das Rosas, na baia de Antonina (estado
do Paraná), em agôsto de 1966, onde se reuniram durante
algumas semanas uma dezena de pesquisadores. Cada defini-
ção previamente elaborada na França, foi traduzida, critica-
da, revisada e, após nosso retôrno a Paris, controlada a partir
dos dados bibliográficos mais dignos de fé, e em particular a
partir do texto datilografado de Michel Brézillon: La dénomi-
nation des outils de pierre taillée, Gallia, 1968. Cada quadro
analítico foi experimentado e aplicado ao estudo do sambaqui
então escavado. O resultado final é êste pequeno livro cujo de-
signio principal é de nos dar uma linguagem comum e permi-
tir a comparação de nossas pesquisas e resultados. Esperamos
que outros arqueólogos brasileiros o utilizem, critiquem e aper-
feiçoem, estendendo assim a todo o país, nossas possibilidades
de intercâmbio e compreensão.

II - Problemas de tipologia lítica.

Para descrever uma indústria lítica, não podemos nos li-


mitar a definições gerais (como as de faca, raspador, machado,
enxó, por exemplo), uma vez que os tipos gerais são pràti-
camente universais, aparecem em todas as culturas e não ca-
racterizam nenhuma. O encontro de uma "faca" ou de um
"raspador" de pedra em uma camada arqueológica, sem ou-
tras especificações, não tem quase nenhum significado. Para
que êsse achado se torne significativo é necessário que ao tipo
geral "faca" ou "raspador" sejam adicionados característicos
qualificativos de um tipo específico de "faca" ou "raspador".
A análise de uma indústria consiste essencialmente em deter-
minar a presença de características que possibilitarão a defi-
nição dos sub-tipos específicos que a compõem.
A descrição assim obtida, entretanto, é ainda insuficiente
para definir a indústria estudada. É necessário também deter-
minar a importância relativa de cada um dêsses tipos ou sub-
tipos no conjunto do equipamento técnico de um grupo dado,
em uma época determinada. Bordes elaborou um método de

15
estudo dêsses conjuntos, o método dos gráficos cumulativos.
Por exemplo: constata-se que em uma determinada época do
paleolítico superior do sudoeste da França, a proporção de
raspadores e de lâminas diminui ao mesmo tempo que a de
burís aumenta. Essa diminuição e êsse aumento caracterizam
uma época e uma coleção de 100 ou mais utensílios, já são su-
ficientes para identificar uma camada.
Neste trabalho só abordamos o primeiro aspecto do pro-
blema, o da determinação de tipos de objetos.
Temos que trabalhar em um continente, a América do
Sul, ou em um país, o Brasil, regiões nas quais não existe clas-
sificação tipológica coerente. Contràriamente ao que se dá na
Europa, e salvo para alguns casos excepcionais, nós não po-
deremos dar definições exatas de sub-tipos que sejam já re-
conhecidos na literatura existente como na Europa ociden-
tal, o buril curvo-convexo (burin busqué), o buril diédro (bu-
rin diedre) e o buril bico de flauta (burin bec de flüte), etc,
mas teremos que proceder de maneira inversa. Iremos inicial-
m ente estabelecer um método de análise de todos os objetos
de pedra encontrados nas escavações e em coleções, e somente
d epois disso, a partir dessas análises, é que a determinação de
tipos característicos desta ou daquela zona da América do Sul,
será possível. Trata-se portanto de analisar o maior número
possível de obj etos por meio de fichas ou de quadros sistemáti-
cos e depois sintetizar os dados obtidos, encontrando uma defi-
nição objetiva dos objetos mais característicos dos conjuntos
estudados, agrupando-os em tipos e dando um nome ou um
número a cada um dêsses tipos. O método de análise que ado-
tamos após numerosas tentativas e hesitações é explicado na
segunda parte dêste trabalho.
Naturalmente, nossos quadros analíticos não nos condu-
zirão a descobertas sensacionais e os tipos que conseguirmos
estabelecer por seu intermédio, serão, seguramente, quase
que os mesmos que teríamos determinado por simples obser-
vação, ou os já definidos por outros autôres. A vantagem dês-
te processo que propomos, não reside portanto na esperan-
ça de novidades espetaculares, mas simplesmente na siste-
matização de observações que poderiam ser obtidas por qual-
quer outro método. Graças a essa sistematização, a análise
das indústrias será mais rápida, mais completa, mais precisa
e objetiva.

16
Mais rápida porque, se a elaboração dos quadros (e das
definições correspondentes) custou-nos mêses de tentativas e
pesquisas, se ainda serão necessários mêses para chegar a um
estado definitivo, a análise de um objeto feita através de um
quadro pré-estabelecido é muito mais rápida do que a descri-
ção do mesmo objeto em linguagem comum.
Mais completa, pois em um quadro onde tôdas as colunas
são previstas, nada de essencial pode ser esquecido.
Mais precisa e objetiva finalmente, pois desde que todos
os têrmos utilizados foram definidos anteriormente, sàmente
uma pequena parte fica sujeita à interpretação pessoal. Se
êstes quadros e esta terminologia fôrem utilizados com cons-
tância pelo mesmo pesquisador, êste poderá comparar mesmo
com um espaço de muitos anos, seus próprios trabalhos de
épocas diferentes, indústrias de níveis ou de regiões diferen-
tes. Se êles fôrem adotados por vários autores, será usada a
mesma linguagem, que permitirá comparar os resultados, pu-
blicá-los em uma mesma revista ou livro, sem que o leitor te-
nha a impressão, como acontece muitas vezes , de que, de um
artigo a outro, de um capítulo a outro, bruscamente muda a
maneira de se expressar. O uso dos quadros oferece também
a vantagem, que nós sabemos ser extremamente preciosa, por
dela nos termos utilizado várias vêzes, de permitir que, dentro
de uma mesma equipe, diferentes pesquisadores possam se
revezar no estudo tipológico das coleções recolhidas.
Finalmente a estrutura dêsses quadros que planejamos,
lógica e sistemática, e que será explicada mais adiante, deve
permitir uma manipulação fácil dos resultados da análise,
qualquer que seja a finalidade do estudo empreendido: téc-
nicas de fabricação, equipamento cultural de um grupo, evo-
lução dêste equipamento ou sua repartição no espaço.
A partir dêstes quadros é possível realizar para cada ru-
brica a contagem das características observadas e estabelecer
estatísticas e gráficos ; coordenar os resultados sôbre fichas
perfuradas ou eventualmente analisá-los em um computador
eletrônico, o que é totalmente impossível com as descrições
do tipo clássico.

17
PRIMEIRA PARTE: TERMINOLOGIA

I - Plano do glossário.

O glossário, que constitui o essencial desta obra, não foi


organizado em ordem alfabética, mas sim segundo uma estru-
tura que nos pareceu ao mesmo tempo mais lógica e prática.
Inicialmente estabelecemos uma lista dos têrmos mais fre-
quentemente utilizados em arqueologia prehistórica e sem os
quais é impossível tentar-se qualquer descrição tipológica. Em
seguida êsses têrmos foram divididos em quatro grupos cor-
respondendo:
A- aos têrmos relativos ao material utilizado e seu estado.
Para esses têrmos definimos sàmente alguns tipos de
matéria prima, independentemente de sua identificação
mineralógica, e alguns tipos de alteração.
B - aos têrmos relativos às técnicas de trabalho da pedra.
Para esses têrmos mantivemos aquêles que designavam
as principais maneiras de trabalhar a pedra, principais
operações e os principais produtos dessas operações, in-
dependentemente de sua utilização.
C - aos têrmos relativos à descrição de um objeto de pedra.
Para esses têrmos estabelecemos uma primeira lista, a
qual, mais ainda que as outras, deverá ser completada
em função dos objetos que se pretende analisar. Nêste
primeiro ensaio limitamo-nos à análise de uma lâmina
simples de pedra polida, de um objeto-núcleo de bloco,
de um núcleo, de uma lasca. Será necessário completá-la
ao analisar pontas de flecha ou de lança, recipientes de
pedra, mós, pilões, etc.
D - aos têrmos relativos à utilização dos objetos de pedra,
isto é, aos tipos principais de armas e utensílios de pe-
dra habitualmente reconhecidos.
Para esses têrmos estabelecemos uma classificação, que
nos parece apresentar a vantagem de corresponder, não

19
a determinadas regiões ou culturas, mas a necessidades
universais do Homo-faber.
Nesta última série consideramos os objetos em função do
uso que lhe atribuímos, mais ou menos arbitràriamente: cor-
tar, furar, esmagar, etc. Definiremos estas ações, como é ló-
gico e habitual, por um verbo, o que torna cómodo uma clas-
sificação geral dos utensílios, armas e objetos diversos.
Em cada uma dessas séries só conservamos os têrmos
mais comuns. Estas listas poderiam ser acrescidas até se ob-
ter um verdadeiro dicionário com muitas centenas, talvez vá-
rios milhares de palavras. Mas nossa finalidade é ser simples
e práticos. Limitamo-nos, portanto, a 168 palavras.
Eis a lista dos têrmos na ordem em que serão defini-
dos (1):
A O material utilizado e seu estado:
- Matéria prima (d 1) , cortex (d 2), pátina (d 3),
brilho (d 4), marcas de fogo (d 5), marcas decor-
rentes de frio intenso (d 4);
Massa inicial (d 7), seixo (d 8), bastonete (d 9) ,
plaqueta (d 10), bloco (d 11) , lasca (d 12), cristal
(d 13);
Matéria corante (d 14);
Pedra utilizada (d 15) .
B Técnicas do trabalho da pedra. Principais opera-
ções. Principais produtos brut os:
Pedra picoteada ou m artelada (d 16) , lâmina pico-
teada ou martelada (d 17) ;
Pedra polida (d 18) , lustro (d 19), lâmina polida
(d 20) ;
Pedra lascada (d 21); Técnicas de lascamento:
percussão (d 22), percussão indireta (d 23) ; pres-
são (d 24) ;
Principais operações: preparo geral (d 25), descor-
ticamento (d 26), preparo da forma (d 27), debita-
( 1) Essas necessidades são satisfeitas por m eios d e ação fundamentais para os
quais adotamos em suas gr andes linhas a classificação proposta por A. Le-
r oi-Gourhan em l 'Homme et la Matlére (p.45 -64 ). Entretanto ao têrmo percus-
são pousada (percusion posée) adotado por Leroi-Gourhan , preferimos o têr-
mo pressão, conser vand o en tretanto sua definição.
(1) - A cada têrmo definid o foi atri buido um n úmero de ordem a fim de faci -
litar sua locallzação no glossário: d 1, d 2, etc.

20
gem (d 28), estilhamento (d 29), trabalho secun-
dário (d 30);
Principais produtos obtidos: indústria de lascas
(d 31);
núcleo (d 32), lasca (d 33);
produtos do preparo: lasca inicial (d 34), lasca
cortical (d 35), lasca de descorticamento (d 36) ,
lasca de ângulo (d 37), golpe de buríl (d 38) ;
ponta desviada (d 39), lasca oblíqua (d 40), lasca
com dorso (d 41), lasca com dorso natural (d 42),
lasca com dorso de preparo (d 43) , lâminas (d 44) ,
lamelas (d 45) ;
indústria de bloco ou de núcleo (d 46);
indústria de seixo (d 47);
objeto-núcleo ou de bloco, objeto de seixo (d 48);
produtos do preparo (d 49);
objeto poliédrico (d 50), objeto bifacial (d 51), ob-
jeto unifacial (d 52);
ferramenta fortúita (d 53);
estilhas de lascamento (d 54), detritos (d 55),
fragmento (d 56), peça quebrada (d 57).
C - As diferentes partes de um objeto de pedra. Sua
descrição :
- Lâmina de pedra picoteada ou polida (D 58), fa-
ces (d 59), bordo (d 60), lado (d 61);
parte ativa ou bordo ativo (d 62), fio (d 63), zona
neutra (d 64), parte de preensão ou encabamento
(d 65);
garganta (d 66), sulco (d 67), depressão (d 68),
perfuração (d 69), entalhe polido (d 70), macho
(d 71).
- Núcleo (D 72), plano de percussã.o (d 73), â ngulo
do plano de percussão (d 74);
lascamentos de descorticamento (d 75), lascamen-
tos preparatórios (d 76);
- Lasca (D 78), eixo morfológico (d 79), eixo de de-
bitagem (d 80);
plano de percussão ou talã.o (d 81), bordo externo
(d 82), bordo interno (d 83), cornija (d 84), ân-
gulo (d 85), preparo (d 86), posição (d 87);
face externa (d 88), lascamentos (d 89), aresta
(d90);

21
face interna (d 91), bulbo (d 92) , ondas (d 93) , es-
camamento (d 94) ;
adelgaçamento (d 95) ;
lado (d 96) ;
bordos (d 97) , bordo ativo (d 98), bordo de pre-
ensão ou de encabamento (d 99), descontinuidade
(d 100), ângulo inicial (d 101), ângulo retocado
(d 102), ângulo gasto (d 103);
retoques (d 104), entalhe lascado (d 105) .
Objeto-núcleo ou de bloco (D 106);
faces (d 107) ;
lado (d 108) ;
bordo (d 109) .

D - Utilização dos objetos de pedra ( 1) . Os tipos clás-


sicos :
Objeto (d 110) , ferramenta (d 111) , instrumento
(d 112), arma (d 113), utensílios (d 114) , utensí-
lios duplos, múltiplos, complexos (d 115, d 116, d
117) .

I - Ferramentas e armas:

a - Cortar, fender, incisar: (objetos com gume em bi-


sel duplo, entrada em contacto com a matéria a
ser trabalhada ao longo de uma linha) .
por pressão (2): faca (d 118) , lasca utilizada
(d 119) , buríl (d 120).
por percussão (3): chopper (d 121) , chopping-tool
(d 129) , biface (d 124), lâmina de machado lasca-
da (d 125), lâmina de machado picoteada e polida
(d 126) .
( 1) - Agru pamos os ob j et os segundo o tipo de açã o exercida , a sup erflcle que
estabelece o contacto com a m atéria a ser t rabalh ada e o m odo d e entrar
em con t a cto com essa m esma m atéria .
(2) - Pressão ou p er cu ssã o pousad a de A. Leroi-Gourh an . O utensílio entra em
contacto com a m atér ia a ser t rabalhada sem choq ues, n em batidas. A ma-
n eira d e a gir é uma pr essão exercida, a o m esm o t empo que um m ovimento
de va e e vem ou d e r ot ação .
(3) - P ercu ssão: o utens!llo en t ra d e um modo violen t o em cont act o com a ma -
t ér ia a ser t rabalhada ou com a prêsa a ser atln glda. A m a n eira de a ção
é o golpe, r epetido ou n ão. A ca da golpe o objeto permanece ligad o a seu
u t lllzador por m elo da m ão ou d e um cabo.

22
b - Raspar, ralar, igualar, aplainar: (ferramentas pla-
no convexas (d 127), com gume em bisei simples,
cantata ao longo de uma linha . .
por pressão: raspador lateral (d 128) , raspador
(d 129), plaina (d 130), lesma (d 131) , ferramen-
ta denticulada (d 132) .
por percussão: enxó (d 135) .

c - Furar, perfurar, cavar, raspar: (objetos ponteagu-


dos, o contacto se faz teoricamente por um ponto).
- por pressão: ponta (d 134), furador (d 135) , anzol
(d 136) ;
- por percussão : pi cão (d 13 7) , ponta de lança (d
138);
por percussão lançada (4) : armaduras (d 139),
pontas bifaciais de armas de arremêsso (d 140) ,
armadura ou cabeça de arpão (d 141) .

d - Bater, quebrar, martelar, lascar , atingir, derrubar:


(objetos de formas globulosas, o contacto se faz
teoricamente segundo uma superfície, as vêzes se-
gundo uma linha ou um ponto).
por pressão : retocador ou compressor (d 142);
por percussão: pedras e seixos utilizados como per-
cu tores (d 143) , percutores de arestas (d 144),
martelo (d 145), massa (d 146) ;
por percussão lançada : pedras e seixos utilizados
como armas lançadas (d 147) , bala de funda (d
148), virote (d 149) .
e - Esmagar, pulverizar, moer:
Esfregar, polir: (objetos de formas globulosas e su-
perficie lisa, o contacto se faz segundo uma super-
fície)
por pressão: seixos utilizados para esfregar, polir
ou moer (d 150) , mão de mó (d 151) , mão de pi-
Ião (d 152).
(4) - P ercussão lançada: o utensíllo entra de u ma maneira violenta em contac>o
com a m atéria sôbre a qual deve a gir ou com a presa a ser atingida, ap<>ó
ter-se d estacado do mecanismo de propulsão (mão e braço, arco, propul-
sor , etc). O alvo a ser atingido está sempre longe dêsse m ecanismo.

23
II - Objetos passivos . Suportes. Recipientes. Ornamentos, etc.

a - Apoiar: bigorna (d 153), quebra-coquinhos (d


· 154), pilão (d 155) , almofariz (d 156), mó (d 157),
aguçadores (d 158), polidores (d 159).
b -Conter: vaso de pedra (d 160) , zoólito (d 161).
c - Lastrar: pêso de rêde (d 162), pêso de bastão de
cavar (d 163), bolas (d 164) .
d - Adornar: tembetá (d 165) , pérolas (d 166), placas
perfuradas (d 167).

III - Uso desconhecido : discos perfurados (d 168) .

II Glossário:

A - O material utilizado e seu estado:

d 1 - Matéria prima. (Matiêre premiêre)


Rocha da qual é feita a peça estudada. Sua determina-
ção corresponde a uma identificação mineralógica. As vêzes es-
sa "rocha" é madeira fóssil, que tem quase que as mesmas pro-
priedades que as rochas e lasca bem.
d 2 - Córtex. (Cortex)
Camada externa de alteração de uma rocha, cuja es-
pessura depende simultâneamente da duração da exposição
aos agentes atmosféricos, das condições climáticas e da natu-
reza da rocha. O córtex se distigue do interior da rocha por sua
côr e suas propriedades físico-químicas. Muitas vêzes a fabri-
ca ção de um utensílio começa pela retirada do córtex, o des-
corticamento do seixo ou bloco utilizado.
d 3 - Pátina (Patine) .
É comum no estudo das indústrias líticas reservar a pa-
lavra córtex à camada de alteração de uma rocha pelos agen-
tes atmosféricos, produzida antes de sua utilização pelo ho-
mem, e a palavra pátina à camada de alteração produzida
sôbre as partes trabalhadas ou utilizadas pelo homem e que
se formou depois da fabricação ou da utilização. Em um mes-
mo objeto lítico, pode-se observar o córtex nos lugares em
que êst e não foi retirado, no processo de fabricação, e uma

24
pátina, que se formou posteriormente à fabrica-;;ão. Em
certos utensílios re-utilizados com intervalos de muitos sé-
culos ou muitos milênios, pode-se às vêzes observar uma du-
pla pátina, sendo que a mais espessa corresponde à primeira
fabricação e a menos espessa afeta as partes posteriormente
re-talhadas ou re-utilizadas.
d 4 - Brilho (Lustre) .
Chama-se brilho de uma pedra o lustro que ela adqui-
riu pela ação do vento, da água ou pelo uso, ou manêjo prolon-
gado. O brilho pode afetar tôda a peça ou somente uma parte
mais exposta ou mais utilizada do que as outras. O exemplo
mais clássico de brilho observado em um objeto de pedra é o
das foices, que serviram para cortar cereais. A expressão pode
ser empregada sob a forma de um substantivo (brilho) ou co-
mo adjetivo (brilhante). É necessário não confundir o brilho
aqui definido, que é involuntário, com o lustro de uma peça
polida, resultado de uma ação voluntária, que visa torná-la
mais polida, mais brilhante, executada durante a última eta-
pa da sua fabricação (d 19).
d 5 - Marcas de fogo. (Marques de feu).
O fogo tem diferentes maneiras de agir sôbre as rochas.
Algumas que contêm óxido de ferro tornam-se avermelhadas,
outras como o silex se fendilham, outras como o basalto ou
os quartzitos lascam-se de uma maneira irregular, partindo-se
em fragmentos, que diferem muito de lascas voluntàriamente
produzidas, outras ainda se alteram e se decompõem. É ne-
cessária muita prudência na interpretação dessas marcas e
o mais aconselhável é procurar informações em um laborató-
rio de petrografia.
d 6 - Marcas de frio intenso. (Marques de gel) .
Um frio intenso ou a geada noturna sucedendo-se a um
excesso de sol durante o dia, agem mecânicamente sôbre as
rochas expostas: descascamento de paredes de grutas e abri-
gos, da superficie das rochas, etc. Os lascamentos causados
pelo frio mostram uma superfície irregular. Na superfície do
silex, os lascamentos devidos ao frio assumem geralmente a
forma de depressões semi-esféricas. A interpretação das fra-
turas resultantes do frio é também muito difícil, às vêzes, e
é prudente recorrer a um laboratório especializado. De um
modo geral, os lascamentos devidos a causas naturais são

25
mais irregulares e suas superfícies são menos lisas que as dos
lascamentos artificiais; as primeiras não apresentam nem pla-
no de percussão (d 73) nem bulbo (d 92) .

d 7 - Massa inicial. (Masse initiale).


Damos êsse nome ao tipo de material do qual foi tirado
o objeto que está sendo estudado, seja êste de pedra lascada
ou polida. Pode-se determinar 6 tipos essenciais de massa ini-
cial, mas esta lista não é limitativa. A maior parte dos objetos
líticos são tirados de um seixo, de uma plaqueta, de um basto-
nete, de um bloco, de uma lasca, de um cristal. ~sses tipos se-
rão definidos a seguir.

d 8 - Seixo. (Galet).
São fragmentos há muito tempo destacados da rocha
mãe, com as arestas desgastadas, formas arredondadas e de
superfície constituída por um córtex de espessura variável.
Os seixos constituem a matéria prima de um grande número
de utensílios prehistóricos (Pebble culture, cultura dos sei-
xos). Não se deve julgar, como é comum, que uma indústria
de seixos, seja particularmente grosseira. Com efeito, se o
têrmo "Pebble culture" foi utilizado inicialmente para desig-
nar indústrias africanas arcáicas e grosseiras, em todos os lu-
gares do mundo, onde os lascadores de pedra dispunham de
seixos de rochas passíveis de serem lascados, êles os utiliza-
vam. Na Patagônia austral, por exemplo, pràticamente tô-
da a indústria é feita a partir dos seixos das morainas. No li-
toral do Brasil meridional, as indústrias, em grande número
de casos, são feitas a partir de seixos. Somente os vestígios de
córtex permite decidir se a matéria prima foi ou não um seixo.

d 9 - Plaqueta. ( Plaquette) .
Algumas rochas, como os xistos, se clivam em forma de
plaquetas com duas faces aproximativamente paralelas. Es-
tas plaquetas constituem frequentemente a matéria prima de
certos utensílios.

d 10 - Bastonete . (Baguette).

Certas rochas, como a obsidiana, têm uma forma na-


tural de bastonetes. Podem constituir a matéria prima de cer-
tos utensílios. Êste caso é, porém , raro.

26
d 11 - Bloco. (Bloc).
Por convenção, chama-se bloco uma massa destacada
da rocha mãe, que não corresponde a nenhuma das definições
precedentes (seixo, plaqueta, bastonete) e que não apresente
nem o plano de fratura nem a face interna de uma lasca. O
bloco pode apresentar córtex em uma das faces, corresponden-
do àquela que estava exposta ao ar. Neste caso, o córtex apre-
senta curvas, sempre menos acentuadas do que as do seixo.
Quando uma pedra lascada não apresenta mais nenhum tra-
ço de córtex não é possível determinar se ela provém de um
bloco, de um seixo ou de um bastonete.

d 12 - Lasca . (Eclat).
Uma lasca é um fragmento destacado, por percussão,
de um bloco de rocha, de um seixo, etc. Êsse fragmento é então
trabalhado para se transformar em múltiplos tipos de utensí-
lios, cujo conjunto constitui a indústria de lascas (ver d 21).
Mas, quando a lasca é de grande tamanho, ela pode também
ser utilizada como massa inicial, do mesmo modo que qual-
quer bloco de rocha, seixo, plaqueta, etc, para fornecer seja
um núcleo do qual serão tiradas lascas menores, seja um
utensílio da série dos bifaces, choppers, etc. Uma massa
inicial constituída por uma lasca, pode ser reconhecida seja
pela face interna, seja pelo plano de percussão ou pelo bulbo
(ver as diferentes partes de uma lasca: d 78).

d 13 - Cristal. (Cristal) .
Eventualmente um cristal pode ser utilizado como
massa inicial de um utensílio. Pode ser reconhecido por suas
formas poliédricas e por seus planos de clivagem, lisos e retilí-
neos.
d 14 - Matéria corante. (Matiere colorante).
Em muitos sítios encontram-se fragmentos de rochas
que foram utilizados como corantes (hematita para as côres
vermelhas, limonita para as amarelas, manganês para a pre-
ta, córtex de diferentes rochas, etc).
A utilidade dêsses corantes é variada. O mais comum nos
sítios pré-históricos da América do Sul são as pinturas ru-
pestres e os traços de côr vermelha nas sepulturas. A matéria
corante pode, nos sítios, apresentar-se sob várias formas:

27
- matéria corante bruta: são os fragmentos não prepara-
dos, mas nos quais pode-se perceber, às vêzes, traços de ras-
pagem ou de uso, seja em forma de depressões semi-esféricas,
seja em forma de facetas. A identificação petrográfica é indis-
pensável.
- matéria corante preparada: pode ser encontrada em for-
ma de bolas vermelhas ou amarelas, ou como sinais sôbre pa-
letas, seixos, conchas, etc. Ignora-se a natureza do solvente
que serviu para o seu preparo. Uma análise de laboratório po-
de dar resultados interessantes.
- matéria coran te utilizada: certos objetos mostram si-
nais de pintura (utensílios de pedra, ossadas em sepulturas,
paredes de abrigos). As quantidades são então mínimas e
como em todo caso uma r::>.spagem prejudicaria a peça pinta-
da , uma análise é geralmente impossível.
d 15 - Pedra utilizada. (Pierre utilisée) .
Coloca-se nesta categoria numerosos utensílios de pe-
dra bruta, que não sofreram nenhum trabalho antes de serem
utilizados. São, por exemplo, seixos escolhidos por suas formas
e sua dureza, fragmentos de rocha escolhidos por suas pro-
priedades físicas e que serviram como percutores, polidores,
aguçadores, etc. São unicamente as marcas de utilização que
êles mostram (golpes, superfícies polidas, sulcos ou depressões
semi-esféricas formadas pelo aguçamento de utensílios sôbre
a superfície, etc) que permitem enquadrá-los como utensílios.
Frequentemente, quando a pedra utilizada apresenta las-
camentos, é considerada como pedra lascada, quando tem su-
perfícies polidas como pedra polida, etc. Esta classificação
constitui, entretanto, um êrro. Essas pedras não foram traba-
lhadas. Elas não foram nem lascadas, nem polidas intencio-
nalmente e devem ser estudadas como as da categoria especial
de pedras utilizadas.

B - Técnicas do trabalho da pedra. Principais


operações. Principais produtos brutos.

d 16 - Pedra picoteada ou martelada. (Pierre piquetée ou


bouchardée) .
O picoteamento ou martelamento de uma pedra é a
operação que consiste em martelar-se a sua superfície com pe-
quenos golpes até se conseguir a forma desejada (lâmina de

28
machado, vaso, etc). O utensílio que serve para picotear ou
martelar é um percutor de pedra que apresenta nas superfí-
cies utilizadas, múltiplos sinais de percussão. Os detritos da
operação formam uma poeira de rocha pulverizada ou reduzi-
da a grãos. Esta poeira, raramente é recolhida durante a es-
cavação pois se confunde com os sedimentos da camada ar-
queológica. Pode-se entretanto imaginar uma oficina de pi-
coteamento na qual o solo seria constituído em grande parte
de rocha pulverizada, sendo então possível recolhe-la e iden-
tifica-la.
Parece que, na maioria dos casos, o picoteamento ou mar-
telamento é a operação preliminar do polimento. Entretanto
existem certas lâminas de machado que são somente picotea-
das e em grande número de casos, objetos considerados como
sendo de pedra polida, conservam em certas partes, sinais
dêsse picoteamento preliminar. Êsses objetos serão chamados
de: pedra picoteada e polida.
Pode-se estudar o picoteamento em função da fineza dos
resultados obtidos e considerar, por exemplo, 3 graus de fine-
za, que, do mais grosseiro ao mais fino, serão chamados pico-
teamento 1, picoteamento 2 e picoteamento 3. Mas não esta-
beleceremos nenhum código para medir o grau de fineza e
cada um deverá defini-lo em função das coleções estudadas e
após exame à lupa binocular.
d 17 - Lâmina pi coteada ou martelada . ( Lame piquetée ou
bouchardée) .
Chama-se lâmina de pedra picoteada ou martelada o
produto, não encabado, da operação descrita acima, apresen-
tando um gume mais ou menos afiado e uma parte reservada
ao encabamento ou mais raramente à preensão ou à suspen-
são. Existem lâminas picoteadas de machado, de enxó, de
picão, etc. (Ver as diferentes partes de uma lâmina picoteada
ou polida d 58 - d 71) . Em todos os casos que conhecemos o
gume é polido.
d 18 - Pedra polida . (Pierre palie) .
Classifica-se nesta categoria todos os objetos cuja
forma foi obtida por abrasão (sendo que o abrasivo usado é
geralmente areia úmida) . As operações preliminares da abra-
são podem ser o lascamento e neste caso tem-se um objeto
lascado e polido, ou então o picoteamento e o objeto é dito

29
picoteado e polido, ou, em último caso, tem-se o lascamento
e picoteamento e o objeto é lascado, picoteado e polido. Quan-
do essas operações existiram, mas não resta nenhum sinal na
superfície do objeto estudado, diz-se que se trata de um ob-
jeto polido ou inteiramente polido.
O polimento é, geralmente, efetuado sôbre uma pedra,
pousada no solo. Às vêzes é o próprio solo rochoso natural que
é utilizado. Depressões resultantes do polimento se formam,
pouco a pouco, na superfície. O contínuo esfregar das faces
dos objetos polidos forma depressões de polimentos, largas e
pouco profundas. Os gumes são executados do mesmo mo-
do, mas êles deixam sôbre as rochas utilizadas depressões alon-
gadas, de secção sub-triangular, correspondendo à secção do
gume. As rochas que serviram para polir as faces são sem-
pre chamadas mós ou polidores (ver d 157 e d 159). Entretanto
é preferivel usar o nome polidor e deixar o termo mó para
os utensílios que serviram para preparar o alimento. As ro-
chas que serviram para polir o gume, serão chamadas agu-
çadores ou afiadores (ver d 158).
Segundo a fineza do grão do abrasivo, o polimento obtido
é mais, ou menos, fino. Consideramos, como para o picotea-
mento, 3 graus de fineza do polimento (grosseiro 1, médio
2, fino 3) mas não estabelecemos um código para medir es-
sa fineza e cada pesquisador deverá defini-la em função das
coleções estudadas e após exame à lupa binocular.
d 19 - Lustro . (Lustrage) .
O lustro é um brilho particular, obtido, não com
o auxílio de um abrasivo, mas, esfregando o objeto a ser lus-
trado com um couro, um pano, folhas especialmente escolhi-
das, etc. O lustro se observa sôbre certas lâminas de pedra
polida, finamente trabalhadas. Quando êste brilho é obser-
vado somente na região do gume, pode ser o resultado do
uso, involuntário portanto. Neste caso, não se falará mais de
lustro, mas sim de brilho.
d 20 - Lâmina polida. (L ame palie) .
Chama-se lâmina de pedra polida o produto, não en-
cabado, das operações de polimento, apresentando um gume,
mais ou menos aguçado e uma parte reservada ao encabamen-
to ou mais raramente à preensão ou à suspensão. Existem lâ-
minas polidas de machado, de enxó, de picão, etc.

30
d 21 - Pedra lascada. (Pierre taillée).
Classifica-se nesta categoria, todos os objetos de pe-
dra, obtidos por lascamentos voluntários, resultantes seja de
percussões, seja de percussões e pressões. O lascamento da pe-
dra pode ser estudado seja sob o ponto de vista da técnica
(percussão, pressão), seja sob o ângulo das principais opera-
ções (preparação, desbastamento e lascamento, preparo da
forma, trabalho secundário), seja sob o ângulo dos produ-
tos obtidos, classificados em função dos processos de fabri-
cação (indústria de lasca, indústria de bloco, detritos diversos).

T écnicas de lascamento. (percussão, pressão).

As definições referentes às técnicas de lascamento são


de Bordes, 1947. Alguns dos trechos seguintes foram reprodu-
zidos, quase que textualmente, do estudo de Bordes, cujas
definições derivam de experiências diretas.
Bordes distingue 3 categorias de técnicas de lascamento
da pedra :
lascamento por percussão,
lascamento por percussão indireta,
lascamento por pressão.

d 22 - L ascamento por percussão. (Taille par percussion).


Foi dividida por Bordes em duas séries: a percussão
simples e a percussão esmagada (percussion écrasée).
- Percussão simples: Pode ser feita por meio de fer-
ramentas de pedra, de madeira ou de osso. A percussão sim-
ples com pedra, na sua forma mais elementar, consiste em ba-
ter no núcleo com uma outra pedra, de modo a destacar uma
lasca. A superfície de impacto de um seixo é teoricamente
punctiforme. Não é a violência do golpe que determina o ta-
manho da lasca, mas sim, o pêso do percutor.
A percussão simples, com percutor de madeira ou de
osso, se faz do mesmo modo, mas o percutor é um osso lon-
go ou um pequeno pedaço roliço, de madeira dura. A su-
perfície de impacto é linear.
-Percussão esmagada : É utilizada quando se deseja ob-
ter retoques muito abruptos. Pode consistir:

31
- seja em pousar o bloco que se deseja debitar, sôbre um
suporte e bater sôbre êle com um grande percutor. Deste
modo, há dois pontos de impacto, um ao nível do percutor
e o outro do lado do suporte, e quase sempre resultam dois
lascamentos. É o lascamento bipolar;
-seja em pousar o bloco que se deseja debitar, sôbre um
suporte de pedra ou de osso e dar uma série de pequenos gol-
pes, no centro da face superior do objeto. Pequenas lascas,
se destacam do bordo em contacto com o suporte, sôbre a fa-
ce oposta ao contacto. É o lascamento por contra-golpe ;
- seja em instalar, sôbre o solo, uma grande pedra que
desempenhará o papel de suporte. A peça a ser lascada, ou
núcleo, é segura com as duas mãos, levantada acima da ca-
beça e bat ida com força sôbre o suporte. Os planos de per-
cussão das lascas obtidas, são muito grandes, muito oblíquos,
com o bulbo saliente, ponto de impacto visível, cone aparente,
algumas vêzes, múltiplo. É o lascamento sôbre suporte.
d 23 - Lascamento por percussão indireta. (Taille par
percussion indirecte) .
Um punção, de madeira dura, de osso ou de chifre,
algumas vêzes de pedra, é colocado entre o percutor e o nú-
cleo. O núcleo é mantido no solo, entre os pés, uma extremi-
dade do punção é colocada sôbre o ponto escolhido. O golpe
do percutor é aplicado na extremidade oposta.
d 24 - Lascamento por pressão. (Taille par pression).
Um retocador, de pedra, de osso, de chifres ou de madeira
é aplicado de modo a exercer pequenas pressões, sucessivas,
sôbre a parte a ser retocada, sendo que a peça a ser retocada
é mantida na mão. Os retoques obtidos por pressão, são mais
finos e mais regulares que os retoques obtidos por percussão,
mas são menos profundos e menores.

Pri ncipais operações do lascamento da pedra.

A fabricação de um objeto de pedra lascada, compreende,


esquemàticamente, as operações seguintes:
Tratando-se de um utensílio de lasca:
escolha do material conveniente que vai constituir
a massa inicial ;

32
preparo do núcleo. Descorticamento;
preparo da parte que constituirá a face externa da
lasca;
trabalho secundário dos bordos.
Tratando-se de um utensílio de bloco:
escolha do material conveniente que constituirá a
massa inicial;
preparo desta massa. Descorticamento ;
preparo da forma;
debitagem da lasca;
trabalho secundário dos bordos.
d 25 - Preparo. ( Préparation) .
É o conjunto das operações de lascamento executadas em
uma massa de pedra bruta, operações essas que consistem em:
desembaraçar essa massa, completa ou parcialmen-
te, de seu córtex, por meio de lascamentos tangen-
ciais. É o descorticamento.
dar-lhe, graças a lascamentos escolhidos, a forma
aproximativa que permitirá a continuação da fabri-
cação do objeto desejado.
O preparo de um núcleo consiste, após o descorticamen-
to, em preparar um plano de percussão, a partir do qual se-
rão debitadas a ou as lascas desejadas. Êsse preparo consiste
em aprontar, também, uma ou várias faces, em contacto com
o plano de percussão as quais constituirão as faces externas
das lascas debitadas.
O preparo de uma lasca consiste em delimitar, por meio
de lascamentos sucessivos, uma das faces do núcleo que se
encontra em contacto com o plano de percussão. Esta face
será destacada com a lasca e constituirá sua face externa.
A lasca assim preparada será chamada: "com face externa
preparada". Vê-se que o preparo das faces de um núcleo e o
preparo da face externa de uma lasca são operações que se
confundem.
O preparo de uma massa de matéria prima, a partir da
qual deverá ser obtido um utensílio de bloco, como por exem-
plo, um biface, um chopper, é menos claramente definida.
Tal preparo consü;te, após o descorticamento, em dar ao blo-
co, por meio de lascamentos sucessivos a forma e as dimen-

33
sões desejadas para que se possa começar o trabalho que da-
rá ao objeto a forma final almejada.
d 26 - Descorticamento. ( DéclOrticage ou épannelage).
É a operação que consiste em desembaraçar uma
massa de pedra (seixo, bastonete, etc) de seu córtex. Cha-
mam-se lascas de descorticamento (ver d 36) os produtos
desta operação.
d 27 - Preparo da forma. (Façonnage).
É a operação pela qual, a partir de uma massa ini-
cial (seixo, bloco, etc), desc.orticada e preparada, fabrica-se
um utensílio de bloco, como por exemplo um biface, um
chopper, etc, por meio de uma série de lascamentos executa-
dos sôbre uma ou várias faces.
d 28 - Debitagem. (Débitage).
É a operação que consiste em destacar uma lasca de
seu núcleo por meio de uma percussão sôbre o plano de
percussão.
d 29 - Estilhamento. (Eclatement).
É a separação de uma lasca de um bloco de pedra. O
têrmo é vago e aplica-se a qualquer tipo de lascamento. Cha-
ma-se face de estilhamento à parte da lasca (ou do bloco do
qual ela provêm), que se encontrava no interior da massa de
pedra, antes do lascamento.
d 30 - Trabalho secundário. (Travail secondaire).
É o conjunto de operações pelas quais, dar-se-á a um
objeto-núcleo, após o preparo de sua forma, ou a uma las-
ca, após sua debitagem, uma forma, mais apta, ao traba-
lho ao qual se destinam tais objetos. O trabalho secundário
pode consistir também em um reavivamento ou uma reforma
de partes usadas ou quebradas. O trabalho secundário se li-
mita geralmente aos bordos, ao plano de percussão ou ao bul-
bo da lasca; nos objetos-núcleos restringe-se geralmente
aos bordos. Os diferentes aspectos, que podem revestir o tra-
balho secundário são por exemplo, retoques, adelgaçamento,
etc e serão estudados na terceira parte do glossário (d 104,
d 95, et c.). Nem sempre é possível distinguir o trabalho secun-
dário do trabalho de preparação.

34
Os produtos do lascamento da pedra podem se dividir em
duas grandes séries, a indústria de lascas (D 31) e a indústria
de blocos ou de núcleos (D 47) .

d 31 - Indústria de lascas . (Industrie sur éclats).


Conjunto de objetos de pedra lascada, constituídos
por lascas que, após seu destacamento do núcleo (debita-
gem) permaneceram tal qual (lascas brutas) , ou então sofre-
ram, como único trabalho, o de acabamento (trabalho secun-
dário) o qual pode atingir os bordos ou o plano de percussão,
mais raramente a face interna, e a externa, não afetando
nunca a massa da lasca.

d 32 - Núcleo. (Nucléus).
Bloco de matéria prima, preparado para que dêle
se possa tirar, uma ou uma série de lascas. Um núcleo debita-
do (ou mostrando uma ou duas cicatrizes) é aquele do qual
já se retirou uma ou várias lascas, que deixaram na super-
fície, a ou as cicatrizes, resultantes de sua debitagem.
Um núcleo esgotado é aquele do qual não é possível ti-
rar mais nenhuma lasca.
Um núcleo re-utilizado é um núcleo que não é mais uti-
lizado como tal e do qual, um ou vários bordos, foram reto-
cados e utilizados como os de um utensílio (cortar, raspar,
etc).

d 33 - Lasca. (Eclat).
Fragmento de rocha, debitado por uma percussão,
aplicada em um ponto determinado do núcleo. A lasca apre-
senta, tipicamente, um plano de percussão (a superfície sô-
bre a qual foi aplicada a percussão), uma face externa( a que
se encontrava no exterior do núcleo antes da debitagem),
uma face interna (a que se encontrava no interior do núcleo
antes da debitagem) .
Na terminologia aplicada às indústrias européias, distin-
gue-se as lascas, às vêzes pela fase de fabricação à qual elas
correspondem (lasca inicial, lasca de descorticamento, etc),
às vêzes pela sua forma (lasca obliqua, ponta desviada, etc),
às vêzes pelas suas proporções (lâminas, lamelas). A maior
parte dêsses diferentes caracteres pode-se combinar entre si.

35
Uma lasca bruta é uma lasca qualquer, que não sofreu
trabalho secundário. Uma lasca retocada é uma lasca na qual
foram praticados retoques.

Produtos do Preparo

Tipos de lasca em função da fase de fabricação

Os produtos do preparo de um núcleo ou de um obje-


to de bloco, foram minuciosamente estudados por A. Leroi-
Gourhan (1966: 249). Entre os mais importantes distin-
guem-se: lasca inicial, lascas de descorticamento, lascas de
ângulo. Seguem-se as definições, segundo A. Leroi-Gourhan,
dêsses diferentes produtos do preparo.

d 34 - Lasca inicial. (Eclat d'amorçage) .


É a primeira lasca destacada de um núcleo, ainda re-
vestido de seu córtex. Não há plano de percussão; quando
êle existe é formado por uma plataforma natural da rocha.
A face externa da lasca é inteiramente revestida de córtex;
a lasca inicial pode ser chamada de lasca vertical - d 35
(éclat cortical). Essa lasca pode ser utilizada tal qual ou en-
tão ser retocada antes de servir. (Est. I, n. 0 1).

d 36 - Lascas de descorticamento. (Eclats de décorticage) .


Após a lasca inicial, outras lascas são retiradas; a
face externa dessas lascas é constituida, em parte, pelas mar-
cas das retiradas dos lascamentos precedentes e, em parte,
pelo córtex. Tais lascas são chamadas lascas de descortica-
mento. Podem ser utilizadas tais quais ou retocadas e utili-
zadas; geralmente são abandonadas no próprio lugar onde se
debitou a pedra. (Est. I, n. 0 2 e 3). Uma lasca de ângulo (d
37) (éclat d'angle) é constituida por um ângulo retirado do
núcleo.

d 38 Golpe de buríl. (Coup de burin) .


É uma pequena lasca, alongada, obtida no decurso
da fabricação de um buríl, por um lascamento, perpendicular
ao plano principal da lasca que constituirá o buríC (Est. VI,
n. 0 3) .

36
/} '

2 3

4 5 6

EST AMPA I. - Núcleo e lascas: 1 - Seixo - n ú cleo e lasca Inicial cortical ; 2 e 3 -


O m esmo núcleo com cicatrizes d e lascas Iniciais e d e lasca s d e d escortlcam ento.
Ao lado , lasca de d escortlcamento; 4 - Lasca d e â n gulo com seu núcleo ; 5 - Lasca
com d orso n a tura l ou cor t ical com seu núcleo; 6 - Lasca com d orso d e p repa-
ração com seu n úcleo; 7 Ponta d esvia da, com seu n úcleo ; 8 - Lasca obliqua ,
com seu núcleo.

T i pos de lasca em função de sua forma

A. Leroi-Gourhan distingue, entre outras:

d 39 - Ponta desviada. (Pointe décalée) .


uma ponta, de silhueta triangular, cujo eixo de
É
debitagem é paralelo ao eixo morfológico, mas não se con-
funde com o mesmo (ponta pseudo-levaloisense de Bordes).
(Est. I. n.o 7) .
d 40 - Lasca oblíqua . (Eclat oblique) .
É aquela cujo eixo de debitagem é oblíquo em rela-
ção ao eixo morfológico. (Est. I , n .o 8).

37
d 41 - Lasca com dorso. (Eclat à dos).
É uma lasca de secção triangular, da qual um bordo
longitudinal, abrupto e estreito, forma um dorso contínuo. O
dorso é chamado natural ( d 42), (naturel), por Leroi-Gourhan
se êle é constituido por córtex (poder-se-ia tambéi:n chamá-lo
cortical); é chamado dorso de preparo, (d 43) (à dos de pré-
paration) quando constituido pela marca de um lascamento
anterior. (Est. I, n.o 5 e 6).

Tipos de lasca em função de suas proporções

A. Leroi-Gourhan distingue, assimilando o comprimento


ao eixo de debitagem:
Lascas muito grandes (de mais de 15 cm de compri-
mento); grandes (lO cm); médias (8 cm); pequenas
(6 cm); muito pequenas (4 cm); minúsculas (2 cm).
Lascas muito largas (cuja relação C/ L é superior a
1; quase longas (relação C/ L igual a 1,5), longas (re-
lação C/ L igual a 2); laminares (relação C/ L igual a
a 3); lâminas, (d 44), (lames) (relação C/ L igual a
4); lâminas estreitas (relação C/ L igual a 6); lâminas
muito estreitas (relação C/ L igual a 10).
Serão chamadas lamelas, (d 45) (lamelles), as lâminas de
menos de 4 cm de comprimento e as lâminas muito estreitas
de menos de 6 cm de comprimento.
Se êste ensaio codifica bem os hábitos europeus, sôbretu-
do para o Paleolítico Superior, é importante sublinhar que,
êle é dificilmente aplicável a indústria lítica americana. Com
efeito, as proporções gerais das indústrias americanas são
muito diferentes da Europa e mais particularmente das do
Paleolítico Superior europeu. As noções de comprimento e lar-
gura são relativas. O que seria espontâneamente chamado
grande em um conjunto, será médio em outro. Por exemplo,
em uma indústria, onde o comprimento médio das lascas é 4
cm, uma lasca de 8 parecerá grande, uma de 10 cm muito
grande e inversamente. A mesma objeção se aplica à noção de
largura. Pensamos que é melhor designar as relações esco-
lhidas (1; 1,5; 2; etc.) por letras ou sinais, ou deixá-los na for-
ma de uma relação, do que aplicar-lhes qualificativos. Da
mesma maneira, pensamos que, enquanto não existir um acôr-
do internacional, é preferivel evitar os têrmos lâminas e la-

38
melas cujas proporções variam segundo os autôres. (Para
Leroi-Gourhan uma lâmina é uma lasca de pedra, cuja rela-
ção C/ L é igual ou superior a 4; para Bordes essa relação é
1gual ou superior a 2).
d 46 - Indústria de bloco ou de núcleo. (Industrie sur bloc
ou nucléus).
Conjunto de objetos de pedra lascada, obitidos a partir
de uma massa inicial, que constituirá o próprio corpo do
objeto; essa massa será preparada e adquirirá uma forma por
meio de lascamentos mais importantes do que simples reto-
ques dos bordos. :t!:sses lascamentos afetam a massa do ob-
jeto. Os lascamentos podem ser mais ou menos numerosos,
podem se restringir a uma face (objeto unifacial), ou esten-
der-se a duas faces (objeto bifacial) ou ocasionar muitas faces
(objeto poliédrico). A massa inicial de um objeto de bloco
pode ser uma lasca espessa, que geralmente será preparada
em uma só face, constituindo, portanto, um objeto unifacial.
Ao invés de indústria de bloco, costuma-se dizer também
indústria de núcleo.
d 47 - Indústria de seixos (pebble-tools). (Industrie sur
galet).
Êste têrmo denomina geralmente um conjunto de
utensílios (ou de armas), grosseiros, fabricados a partir de
um seixo. Uma grande proporção das indústrias líticas sul
americanas e principalmente as das culturas litorâneas ou
dos bordos dos rios, são fabricadas a partir de seixos. Elas
não apresentam características particulares e compreendem
as mesmas grandes categorias que as indústrias obtidas a
partir de outros blocos de rocha, isto é, elas compreendem
utensílios (ou armas) de lascas, utensílios (ou armas) de blo-
co, utensílios (ou armas) picoteados ou polidos. Na análise
de uma peça, limitar-nos-emos a indicar, quando possível,
se essa peça foi fabricada ou não a partir de um seixo, sem
considerar êsse traço como de importância particular, nem
fazer uma categoria especial para tal peça.
d 48 - Objeto-núcleo ou de bloco, objeto de seixo (Objet-nu-
cléus ou sur bloc, objet sur galet).
Objeto lascado, fabricado a partir de uma massa ini-
cial (bloco, seixo, lasca, etc), que constituirá a própria mas-

39
sa do objeto; a técnica de fabricação consta de lascamentos
completos ou parciais que interessam uma, duas ou várias
faces .
d 49 - Produtos do preparo . (Produits de préparation) .
Os produtos do preparo de um objeto de bloco
compreendem, como os resultantes do preparo de um nú-
cleo, uma lasca inicial e lascas de descorticamento. As outras
lascas, destacadas de uma ou de outra face , para obter a for-
ma do objeto, não receberam denominações particulares.
d 50 - Ob jeto poliédrico . ( Objet polyédrique) .
Objeto núcleo ou de bloco , apresentando mais de duas
faces principais trabalhadas.

d 51 - Objeto bifacial . (Objet bifacial).


Obj eto núcleo ou de bloco, apresentando duas faces
principais, trabalhadas por lascamentos e cuja intersecção
forma um contorno contínuo, o qual constitue a totalidade ou
parte da periferia. Um trabalho bifacial é um trabalho sôbre
as duas faces. (Est. VII , n .o 1) .

d 52 - . Objeto unifacial. (Objet unifacial ).


Objeto núcleo ou de bloco apresentando uma face
principal, trabalhada por lascamentos. A intersecção dessa fa-
ce, com a face não trabalhada forma um contôrno contínuo,
constituindo a totalidade ou parte da periferia do objeto. Um
t rabalho unifacial é um trabalho, sôbre uma só face. (Est. VII,
n. 0 2) .

d 53 - Ferramenta fortúita . (Outil occasionnel) .


É uma estilha de lascamento, fragmento de utensí-
lio, núcleo, etc que foi utilizado para um fim qualquer, sem
ter sido propositadament e fabricado para essa finalidade. A
ferramenta fortúita é reconhecida, seja pelo ajeitamento de
um bordo (retoques) , seja pelas marcas de uso dos bordos
(escamamento, gasto, etc) ou de uma face (marcas de gol-
pes por exemplo). Os bordos de fratura de utensílios mostram
muitas vêzes retoques ou marcas de uso. Neste caso tem-se
uma ferramenta fortúita constituida por um fragmento de
objeto de lasca ou de bloco.

40
d 54 - Estilhas de lascamento. ( Déchets de taille) .
Agrupa-se sob o têrmo estilhas de lascamento, o
conjunto de lascas nos quais não se observa, nem trabalho se-
cundário, nem utilização e que foram abandonados após a fa-
bricação de um objeto de lasca ou de um objeto de bloco. A
abundância de lascas iniciais, lascas de decorticarr;.ento, de
núcleos, de restos diversos, permite determinar a presença de
um atelier de talhe da pedra. A cada técnica de trabalho da
pedra e a cada tipo de operação, correspondem séries especí-
ficas de estilhas de lascamento e é por êsse motivo que seu
estudo é tão importante. Sucede frequentemente que certas
estilhas de lascamento, por exemplo, lascas de decorticamento,
tenham sido retocadas e utilizadas.
d 55 - Detritos . ( Débris) .
Classifica-se nesta categoria as estilhas de lascamen-
to, irregulares, que não entram nem na categoria de lascas,
nem na de fragmentos, isto é, que não apresentam uma face
interna de lascamento bem diferenciada da face externa e
que não podem ser identificadas como um fragmento de nú-
cleo, de lasca ou de um utensílio de bloco.
d 56 - Fragmento . ( Fragment) .
Por convenção, chamamos fragmento de núcleo, de las-
ca ou de objeto de bloco, tôda parte identificável de um dês-
ses objetos, correspondendo a menos da metade de sua totali-
dade. Inversamente, falar-se-á de uma peça quebrada, (d 57),
(piece cassée), quando a parte estudada corresponde a mais
da metade da peça. Nem sempre é possível avaliar se o pe-
daço estudado corresponde a mais ou a menos que a metade.
Nestes casos, por convenção, dir-se-á tratar-se de uma peça
quebrada e não de um fragmento.

C - As diferentes partes de um objeto de pedra .


Sua descrição.

No parágrafo precedente (B) definimos as principais téc-


nicas e as principais operações pelas quais são obtidos os ob-
jetos de pedra, bem como os principais produtos dessas ope-
rações. Neste parágrafo (C), analisamos êsses produtos e os
decompomos em suas partes principais. Os tipos assim des-
critos serão:
- uma lâmina polida (d 58) ;

41
um núcleo (d 72);
uma lasca (d 78);
um objeto-núcleo ou de bloco (d 106).
d 58 Lâmina de pedra picoteada ou polida. (La me de
pierre piquetée ou palie) .
Será necessário analisar as dimensões ( 1) e a forma
da lâmina considerada no seu conjunto e depois estudar se-
paradamente cada uma das partes que a compõem. (Est. II,
n. 0 1).

a-

b-

2
ESTAMPA II . - Pedra pollda: 1 - Lâmina pollda trapezoidal: a - par-
te do encabamento, face superior; b - parte ntlva, face superior; c -
lado. 2 - Lâmina com garganta: a - garganta.

a - Morfologia geral:
Dimensões . Podem ser dadas, seja em valôres absolutos,
seja utilizando um ábaco, como por exemplo o modêlo dado
na segunda parte (Quadro I). Em ambos os casos, deve-se
levar em conta três dimensões ao menos, o comprimento, a
largura e a espessura (C x L x E).

Forma. Será definida por um adjetivo tirado da geome-


tria e que representa a silhueta geral da peça. O vocabulário
geométrico, concernente aos volumes é extremamente pobre,
de maneira que é difícil encontrar o qualificativo adequado.
Neste caso, o mais fácil é qualificar, sucessivamente, os três
(1) Uma análise fina deveria também abranger o volume e o pêso, mas tais pes-
quisas são raras e como procuramos neste trabalho esclarecer os problemas,
não Insistiremos sôbre o lnterêsse que apresentaria a Introdução dessas no-
ções na descrição de uma peça lltlca.

42
planos principais com o auxílio de têrmos igualmente empres-
tados à geometria. O plano principal será, por exemplo, trian-
gular, trapezoidal, oval, etc., a secção longitudinal, bi-convexa,
plano-convexa, etc; a secção transversal, bi-convexa, quadran-
gular, etc.
b - Partes principais :
A fabricação de uma lâmina de pedra por picoteamento
ou polimento, determinou faces, lados e bordos, mas determi-
nou também uma parte ativa, ou gume e uma parte que ser-
viu ao encabamento. Entre o gume e a parte de encabamen-
to geralmente existe uma zona intermediária ou zona neutra;
esta zona não entra em contacto nem com o cabo, nem com
a matéria a ser trabalhada.
Às definições, aplicáveis às diferentes partes de uma lâ-
mina, deve-se adicionar a descrição das marcas de fabricação
(grau de polimento, etc) e a descrição das marcas de utiliza-
ção (estrias, serrilhado, etc) .
A descrição de uma lâmina de pedra polida deve ser sem-
pre acompanhada de um croquis, cuja orientação deve ser
constante. Por convenção, representamos as lâminas poli-
das do mesmo modo que os objetos lascados de bloco com o
eixo longitudinal orientado verticalmente.
Qualquer que seja a convenção adotada por cada pesqui-
sador, é indispensável que êle a siga rigorosamente e, duran-
te um mesmo estudo, oriente todos os objetos da mesma ma-
neira.
d 59 - Faces . (Faces).
As faces de uma lâmina picoteada ou polida corres-
pondem aos dois planos principais e opostos. Quando as duas
faces são idênticas, decide-se, por convenção, que a face su-
perior será aquela representada no croquis, sendo a face in-
ferior a oposta. Quando duas faces não são idênticas, a con-
venção é a mesma, mas representa-se, de preferência, o ob-
jeto apoiado sôbre sua face mais plana, que é então conside-
rada como face inferior. Uma face é definida por suas dimen-
sões e sua forma. Uma face será descrita por três adjetivos: o
primeiro designa sua forma no plano (trapezoidal, retangu-
lar, etc); o segundo define sua curvatura no sentido lon-
gitudinal e o terceiro a curvatura no sentido transversal
(convexa, côncava, plana).

43
As duas faces principais de uma lâmina podem entrar
em contacto diretamente. Sua intersecção forma então, aqui-
lo que se chama um corda. Podem ao contrário, ser separadas
por superfícies perpendiculares ou oblíquas, chamadas lados.
Uma lâmina de face quadrangular, por exemplo, pode apre-
sentar um bordo e 3 lados, dois bordos e dois lados, três bor-
dos e um lado ou quatro bordos, mas nunca 4 lados, pois en-
tão não seria mais uma lâmina.

d 60 - Bordo. (Bord) .
O bordo de uma lâmina é a linha formada pela in-
tersecção de duas faces. Por convenção, chama-se bordo direi-
to ao bordo representado à direita do croquis principal e bor-
do esquerdo àquele representado à esquerda, bordo superior
àquele representado no alto e bordo inferior o que é represen-
tado em baixo. Um bordo é definido por suas dimensões e for-
ma. A descrição morfológica, detalhada, de um bordo, com-
porta 4 têrmos , o primeiro que designa a forma no plano prin-
cipal (retilíneo, convexo, côncavo), o segundo a forma no pla-
no transversal, o terceiro o valor do ângulo formado pela in-
tersecção das duas faces que o determinam (1). :ti:ste valor é
normalmente medido na altura do meio do bordo ; se as va-
riações são importantes, pode-se dar uma idéia de sua ampli-
tude por duas medidas (exemplo: 40° - 60°), ou anotá-la,
marcando, em diversos pontos, localizados no croquis por meio
de letras , (exemplo: a - 40°, b - 50°, e - 70°) os diferen-
tes valôres do ângulo. O quarto têrmo, indicará se o ângulo
é vivo, atenuado ou arredondado.

d 61 - Lado . ( Côté) .
Um lado de uma lâmina polida é uma superfície,
perpendicular ou oblíqua às faces principais, e que ao mesmo
tempo as separa. Um lado é definido por suas dimensões e
forma. A descrição morfológica de um lado faz-se seguindo
o modêlo da descrição de uma face, definindo a forma em pla-
no, depois as curvaturas no sentido longitudinal e transver-
sal. Pode-se também , medir os ângulos que o lado forma com
as faces, superior e inferior e finalmente indicar se os ângu-
los formados têm as arestas vivas, atenuadas ou arredondadas.
(I) Todos os á n gulos ser ã o m edid os com o a u xilio do p equeno aparelho da fl g. 3
que todos p od em recorta r em uma m a t éria um tant o r ígida (papelão, plá s·
tlco , et c ) .

44
d 62 - Parte ativa. ( Partie active) .
Indicar-se-á qual o bordo que serviu de gume (com
o estudo de sua forma e de seu ângulo). Observar-se-á à lupa
binocular a superfície que mostra sinais de uso e indicar-se-á
qual a extensão dessas marcas, bem como sua natureza (es-
trias de uso e sua direção, por exemplo). Pode-se, dêste mo-
do, formular uma hipótese sôbre o tipo de uso. O fio do gume,
(d 63) (fiZ du tranchant) é a linha formada pela intersecção
das duas faces. Êsse têrmo é usado unicamente em um senti-
do funcional e quando se deseja especificar a quantidade do
gume: fio agudo, muito agudo, etc.
d 64 - Zona neutra. (Zone neutre).
Pode, em caso de um estudo mais fino, ser estudada
separadamente. O comprimento deverá ser medido paralela-
mente ao eixo longitudinal. É caracterizada pela ausência de
traços ou sinais de uso.
d 65 - Parte de preensão ou de encabamento. (Partie de
préhension ou d'emmanchement).
Em uma lâmina polida essa parte é, geralmente, cha-
mada talão. Êste têrmo, entretanto, tem tantos significados
diferentes que preferimos não utilizá-lo. Mesmo quando não
há nem machos, nem entalhes, nem garganta, é sempre pos-
sível, à lupa binocular, distingir a parte encabada do resto d~.
lâmina, pois pátina e traços de uso podem formar uma de-
marcação nítida. Esta demarcação poderá ser indicada sôbre
o croquis. Se os limites desta parte puderam ser definidos,
deve-se dar o seu comprimento, medido paralelamente ao eixo
longitudinal; descrever-se-á os sinais característicos como:
machos, gargantas, entalhes, etc, as marcas de uso (traços
de resina, uso das arestas, etc) e enfim, pode-se, se fôr o ca-
so, formular uma hipótese sôbre a maneira de encabamento
com um croquis explicativo.
Em uma lâmina polida pode-se observar diversas modifi-
cações da forma geral. Em todos os casos que conhecemos,
essas modificações se situam na parte destinada ao encaba-
mento. Definiremos aqui uma garganta, um sulco, uma de-
pressão, uma perfuração, um entalhe, um macho.
d 66 - Garganta. (Gorge).
É uma ranhura, periférica, perpendicular ao eixo lon-
gitudinal, situada em níveis variados da parte de encaba-

45
menta. É necessário indicar se a garganta é discontínua ou
incompleta ou se ela é oblíqua em relação ao eixo longitudi-
nal. Pode ser interessante anotar a forma do perfil de uma
garganta e suas marcas de utilização. (Est. II, n.O 2).
d 67 - Sulco. ( Sillon) .
É, igualmente , uma ranhura, mas mais estreita e me-
nos profunda que uma garganta. Por convenção, poder-se-ia
chamar garganta, por exemplo, a todas as ranhuras de mais
de 5 mm de m aior largura e sulco, todas as ranhuras de me-
nos de 5 mm de largura. Uma tal convenção teria a desvan-
tagem de distribuir em grupos diferentes, séries de lâminas,
cujos sulcos tenham uma largura compreendida, por exemplo,
entre 4 e 7 mm. Umas seriam chamadas lâminas com sulco e
outras, lâminas com garganta, o que seria um flagrante ab-
surdo. Dêste modo, conservamos o nome de garganta para to-
das as ranhuras periféricas, feitas nas lâminas de pedra po-
lida, qualquer que seja sua profundidade e largura. Uma gar-
ganta é definida por suas dimensões, por sua forma e suas
arestas, e por sua localização.
O têrmo sulco poderia ser reservado às ranhuras não
periféricas e talvez não funcionais, feitas na pedra polida, pro-
vàvelmente a título decorativo. Não temos nenhum bom
exemplo.
d 68 - Depressão . (Cupule).
É uma cavidade praticada na pedra. É definida por
suas dimensões (comprimento x largura x profundidade),
por sua forma (em calota de esfera, hemisférica, irregular,
ovoide, etc), por suas arestas vivas ou arredondadas, por ser
polida ou picoteada, e por sua localização.
d 69 - Perfuração. ( Perforation) .
É uma cavidade que atravessa a lâmina de um la-
do ao outro. É definida por suas dimensões, por sua forma
(bicônica, cilíndrica, etc), por suas arestas e por sua locali-
zação.
d 70 - Entalhe polido. ( Encoche palie) .
Chama-se entalhe polido um rebaixamento, pratica-
do por polimento no lado ou no bordo de uma lâmina. A dife-
rença entre uma depressão e um entalhe polido é que a pri-

46
meira é aberta segundo um só plano e a segunda, ao menos
segundo dois (pode-se colocar um líquido em uma depressão,
não em um entalhe). Um entalhe é definido por suas dimen-
sões, sua forma , suas arestas e por sua localização.

d 71 - Macho. (Tenon).
Chama-se macho uma parte saliente de uma lâmina
polida; enquanto que garganta, sulco, depressão e entalhe
correspondem a retiradas de matéria, o macho, ao contrário,
corresponde a uma parte da rocha que foi reservada quando
da fabricação do utensílio. O macho é definido por suas di-
mensões, sua forma , suas arestas e por sua localização.

D 72 - Núcleo. (Nucléus) .
Deve-se inicialmente analisar as dimensões e a for-
ma do núcleo considerado como um todo e depois estudar se-
paradamente as partes que o compõem. (Est. III).

a - Morfologia geral:
Dimensões . Elas deverão ser dadas em valor absoluto, ou
por meio de um ábaco (vêr quadro I). Existem núcleos muito
irregulares, poliédricos, nos quais pode-se medir mais do que
três dimensões. Nêstes casos, será necessário marcar sôbre o
croquis, de que ponto a que ponto foi medida cada uma das
dimensões dadas.

Forma . Será definida, se possível, por um adjectivo tira-


do da geometria (globular, discoidal, triangular, prismático,
etc) . As formas dos núcleos, entretanto, são comumen-
te irregulares e sem correspondente geométrico. É ne-
cessário, então, estabelecer-se um código em função da cole-
ção estudada: cada forma encontrada com uma certa fre-
quência será desenhada e numerada A, B, C, etc. A cada nú-
cleo estudado atribui-se em seguida uma dessas formas (forma
A, forma B, etc).

b - Partes principais:
As partes características de um núcleo são um ou mais
planos de percussão, os lascamentos preparatórios, uma ou
mais cicatrizes.

47
d 73 - Plano de percussão. ( Plan de frappe) .
É a superfície que recebe os golpes destinados a fazer
saltar uma lasca. Tanto o plano de percussão de um núcleo
como da lasca às vêzes chamado talão, que foi destacada
dêsse núcleo, são constituídos pela mesma superfície. Os
têrmos aplicados a um são aplicáveis ao outro (ver d
81). O ângulo do plano de percussãro de um núcleo, (d 74),
(l'angle du plan de frappe d'un nucléus) é aquele formado
pela intersecção do plano com a cicatriz deixada pela retirada
da lasca. Êle é suplementar do ângulo do plano de percussão
dessa lasca (d 84). (Est. III, fig. 1 e 2).

d 75 - Lascamentos de descortinamento (Enlevements de


décorticage) e lascamentos preparatórios (Enleve-
ments de préparation).
Os primeiros são os lascamentos que retiraram o cór-
tex da superfície de uma lasca a ser debitada. Em um núcleo
não debitado, esses lascamentos são visíveis na sua totalidade;
em um núcleo já debitado restam sàmente as extremidades
dêsses lascamentos, cortados pela cicatriz. Os lascamentos
preparatórios de um núcleo (d 76) são descritos do mesmo
modo que os de uma lasca (d 25). (Est. III, fig. 1 e 2).

ESTAMPA III. - Núcleo : 1 - Núcleo preparado: a - plano de percussão; 2 -


Núcleo lascado e lasca correspondente: a - plano de percussão; b - vestígios
dos lascamentos preparatórios; c - cicatriz.

48
d 77 - Cicatriz. (Cicatrice).
Um núcleo mostra muitas senes de marcas em ne-
gativo deixadas pela retirada de lascas:
as marcas deixadas pelos lascamentos de descorti-
camento ou preparatórios. Estas são chamadas mar-
cas de lascamentos de descorticamento ou prepara-
tórios ou lascamentos.
as marcas deixadas pela debitagem de uma lasca ou
de várias lascas preparadas. Pode existir uma só cica-
triz dêste tipo se somente uma lasca foi retirada. Po-
de não existir nenhuma, se o núcleo foi abandonado
antes de ser debitado. A marca, visível no núcleo, dei-
xada pela retirada de uma lasca é chamada cicatriz.
A cicatriz é reconhecida pelo seu tamanho maior em
relação às marcas dos lascamentos preparatórios, pe-
lo fato de cortar êsses lascamentos e por ter um pla-
no de percussão bem definido. É definida por suas
dimensões, por sua forma e de um modo geral pelos
mesmos traços, porém em negativo, correspondentes
aos da face interna de uma lasca (bulbo, ondas). A
marca em negativo do bulbo é comumente chamada
de contra-bulbo. (Est. III, n.o 2).
D 78 - Lasca. (Eclat).
Deve-se analisar as dimensões e a forma de uma las-
ca (bruta ou retocada) considerada como um todo, depois es-
tudar, ~eparadamente, cada uma das suas partes. (Est. IV).

a - Morfologia geral:
Dimensões. Uma lasca de pedra pode ser medida toman-
do-se como orientação, seja seu eixo morfológico, seja o seu
eixo de debitagem. Êsses dois eixos podem eventualmente se
confundir, o que, porém, não é regra.
d 79 - Eixo morfológico. ( Axe morphologique) .
O eixo morfológico coincide com aquilo que é co-
mumente chamado comprimento de uma lasca. O eixo mor-
fológico corresponde ao comprimento de um retângulo, no
qual se pode inscrever a lasca. Êle pode-se confundir com o
eixo de simetria longitudinal, se êste existir. A largura é a
maior dimensão perpendicular a êste eixo morfológico.

49
b

ESTAMPA IV. - Lasca: 1 - Face interna: a - plano de percussl!.o (sObre a ex-


tremidade de flecha); 2 - Face interna : a - plano de percussão; b - lasca-
mentes secundários; c - super fície de lascamento; d - retoques internos

d 80 - Eixo de debitagem. ( Axe de débitage) .


O eixo de debitagem é a perpendicular ao plano de
percussão que passa pelo ponto de impacto. A largura é a
maior dimensão perpendicular a êste eixo de debitagem.
As dimensões de uma lasca são representadas, seja pelo
comprimento do eixo morfológico multiplicado pela largura
correspondente, multiplicada pela maior espessura seja pe-
lo comprimento do eixo de debitagem multiplicado pela lar-
gura e espessura. As duas séries de medidas têm seu interês-
se, mas a.primeira é mais significativa para o estudo do uso,
sendo a segunda, significativa para a análise da fabricação.
Ambas podem ser dadas, seja em valor absoluto, seja utilizan-
do um ábaco, como por exemplo o que damos no Quadro I.
Forma. Será definida por um adjetivo tirado da geometria
e que dará uma idéia da silhueta geral da peça. As conven-
ções serão as mesmas que as usadas no estudo da forma de
uma lâmina polida ou de um núcleo. Além de se definir a
forma como um todo, o que pode ser difícil ou irrealizável,
será útil precisá-la segundo os três planos: o plano principal
que será, por exemplo, trapezoidal, retangular, etc; a secção
longitudinal que será plano-convexa, bi-convexa, etc; e a sec-
ção transversal que será plano-convexa, bi-convexa, etc.
b - Partes principais:
As partes características de uma lasca são:
o plano de percussão;

50
as faces divididas em face externa (ou superior) e
face interna (ou inferior) ;
os lados ;
os bordos, retocados ou não.
Cada uma dessas partes é descrita com uma terminologia
particular.
Além disso, para o estudo da utilização, será necessário
distinguir a parte ativa ou gume da parte de preensão ou de
encabamento.
d 81 - Plano de percussão. (Plan de frappe) .
É a superfície que recebeu o golpe que destacou a
lasca do seu núcleo. O plano de percussão é comum ao núcleo
e à lasca debitada. No momento da debitagem, uma parte fica
com a lasca (certos autores como Bordes, Tixier, chamam es-
sa parte de talão), uma outra, fica no núcleo. (Est. IV, fig.
2). O ponto que recebeu o golpe chama-se ponto de impacto.
As principais partes do plano de percussão são: bordo
externo, bordo interno e ângulo.
d 82 - Bordo externo . (Bord externe).
É aquêle que, antes da debitagem, constituía o bordo
do plano de percussão do núcleo. O bordo externo muito corou-
mente é marcado por uma série de pequenos golpes ou esma-
gamentos, efetuados durante a preparação da lasca para sua
debitagem.
d 83 - Bordo interno. (Bord interne) .
É aquêle que, antes da debitagem, se encontrava no
interior do núcleo.
Algumas vêzes nota-se, no bordo interno, uma ligeira sa-
liência da pedra. Essa saliência pode ser chamada cornija,
(d 84), (corniche) , (Tixier). É útil anotar sua presença.
d 85 - Ângulo do plano de percussão de uma lasca. ( Angle
du plan de frappe d'un éclat)
É o ângulo que se forma entre êsse plano de percus-
são e a face interna da lasca.
Seu valor tem grande importância para o estudo das téc-
nicas de debitagem. Valor dado em gráus. Pode-se denominá-lo
ângulo de estilhamento para distinguí-lo do ângulo " de chas-

51
se" , que é aquêle formado pelo plano de percussão com a face
externa.
O plano de percussão é definido por suas dimensões,
forma, pelo seu preparo, sua posição, ângulo, pelas marcas
observadas em seu bordo externo e, algumas vêzes, pela pre-
sença de um trabalho posterior à debitagem.
Dimensões. Serão medidas em valores absolutos (compri-
mento e largura), de preferência em mm. Alguns planos de
percussão muito alongados e de largura mínima, são cha-
mados filiformes. Quando tanto o comprimento como a lar-
gura são reduzidos às dimensões de um ponto , o plano é cha-
mado punctiforme.
Forma. A forma pode ser expressa por três adjetivos: o
primeiro, definindo o plano principal (losangular, oval, etc);
o segundo, a curvatura no sentido paralelo ao plano principal
da lasca (convexo, côncavo, sinuoso, etc); o terceiro, a curva-
tura no sentido transversal ao plano principal da lasca. Na
maioria dos casos, o primeiro adjetivo, ou o primeiro e se-
gundo definem suficientemente a forma.
Trabalho secundário. Após a debitagem, o plano de
percussão pode ter sido adelgaçado por lascamentos sôbre seu
bordo externo ou bordo interno. Êsse trabalho secundário po-
de resultar na retirada do bulbo e, às vêzes, na supressão do
próprio plano.
d 86 - Preparo. (Préparation).
O plano de percussão pode ser:
cortical, isto é, constituído inteiramente pelo córtex;
liso, isto é, obtido por um só lascamento;
diédro, isto é, obtido por dois lascamentos que for-
mam um ângulo;
facetado , isto é, obtido por vários lascamentos;
picoteado ou martelado,· isto é, preparado por uma
sucessão de pequenos golpes.
d 87 - Posição. (Position).
É muito importante para o estudo das técnicas de
fabricação. Pode ser :
longitudinal, isto é, paralela ao eixo longitudinal da
lasca;

52
transversal, isto é, perpendicular ao eixo longitudi-
nal da lasca;
oblíqua, em relação ao eixo longitudinal da lasca.
As faces.
Uma lasca comporta duas faces principais, a face exter-
na (ou superior) que é também chamada verso por Leroi-
Gourhan, e a face interna (ou inferior) chamada reverso pe-
lo mesmo autor.
As faces de uma lasca são caracterizadas tanto por suas
dimensões e formas , como por uma série de traços próprios
a cada uma.
d 88 - Face externa. (Face externe).
É aquela que estava no exterior do núcleo antes da
debitagem e que é formada pelos lascamentos preparatórios.
Dimensões. Em valor absoluto ou utilizando um ábaco.
Formas . Um adjetivo para caracterizar o plano principal
(triangular, trapezoidal, etc) um outro para a curvatura no
sentido longitudinal (plano, convexo, concavo, irregular, etc)
um terceiro para a curvatura no sentido transversal (plano,
convexo, côncavo, irregular, etc) .
d 89 - Lascamentos . ( Enlévements) .
São as marcas deixadas pelo trabalho de preparação
da lasca. As linhas que marcam a intersecção dos lascamen-
tos são as arestas, (d 90), (arêtes). Quando não há lascamen-
tos mas a face externa se apresenta coberta de córtex, ela
recebe o nome de cortical; quando ela é recoberta metade
por córtex e metade por lascamentos é chamada semi-cortical;
quando é formada por um só lascamento é chamada lisa .
A descrição dos lascamentos compreende a observação de
seu número (1, 2, 3, 4, n) e de sua disposição. A disposição po-
de ser longitudinal, isto é, lascamentos paralelos ao eixo longi-
tudinal ; transversal, isto é, lascamentos perpendiculares ao ei-
xo longitudinal ; oblíqua, isto é, lascamentos oblíquos em re-
lação ao eixo longitudinal; irregular; irradiante, isto é, apre-
sentando um ponto comum aos lascamentos, ponto êsse si-
tuado na periferia; facetada, isto é, constituida por um certo
número de lascamentos, dos quais, ao menos um não toca a
periferia. É raro que todos os lascamentos de uma face corres-

53
pondam a uma mesma definição ; por êste motivo, é o tipo
geral do preparo da face que se deve descrever pelos adjeti-
vos enumerados acima e não a totalidade dos lascamentos que
a formam.
d 91 - Face interna . (Face interne) .
É a que se encontrava no interior do núcleo antes da
debitagem da lasca; é a face de lascamento e corresponde exa-
tamente à cicatriz em negativo deixada no núcleo.
Além das dimensões e forma, que são analisadas do mes-
mo modo que para a face externa, a face interna de uma las-
ca é caracterizada pelo bulbo, pelas ondas e pelo escama-
menta.
d 92 - Bulbo. (Bulbe) .
Também chamado bulbo de percussão. É uma ex-
crescência de forma conchoidal, cujo centro é marcado pelo
ponto de impacto ou de percussão. Sua presença, ausência,
seu tamanho, devem ser sempre anotados.
d 93 - Ondas. (Ondes).
Em alguns tipos de rochas o bulbo se prolonga pela
face interna por uma série de ondas que lhe são concêntricas.
d 94 - Escamamento . (Esquillement ou Ecaillure).
As vêzes, no momento da debitagem, uma pequena
escama se desprende na base do bulbo.
d 95 - Adelgaçamento. (A mincissement) .
Por definição, a massa da lasca não sofre mais trans-
formações após a debitagem; sàmente os bordos podem ou não
ser alterados por um trabalho secundário. Em certos casos,
um ou vários lascamentos são efetuados em uma ou ou-
tra face, após a debitagem ; êsses lascamentos têm sem-
pre a finalidade de adelgaçar uma parte do objeto (essa parte
mais delgada é comumente destinada à preensão ou encaba-
mento). Quando esse adelgaçamento afeta a face interna, é
àbviamente posterior à debitagem e corresponde portan-
to a um trabalho secundário. Quando êle afeta a face exter-
na, é sempre difícil de se determinar se se trata de um tra-
balho de preparação (anterior à debitagem) ou de um tra-
balho secundário (posterior à debitagem).

54
d 96 - Lado (Côté).
A noção de lado de uma lasca é mal definida. Na
maioria dos casos, uma lasca apresenta uma face interna
aproximadamente plana, uma face externa mais ou menos
convexa e sua intersecção forma bordos e não lados. Entre-
tanto, quando a face externa apresenta uma superfície longa
e estreita, bem delimitada, paralela a um dos bordos, forman-
do, com a face interna, um ângulo próximo de 90°, chama-se
geralmente a essa superfície de lado, ou de dorso da lasca. O
lado pode ser definido por suas dimensões, sua forma e pelos
ângulos que forma com a face interna e com a face externa.
d 97 - Bordos. (Bords) .
O lado é uma superfície, o bordo é uma linha. Os
bordos de uma lasca são determinados pela intersecção da
face externa com a face interna ou então pela intersecção de
um lado com a face interna. Na zona do plano de percussão
(e de algumas irregularidades ou descontinuidades), essa li-
nha se divide em duas: do lado da face externa ela forma o
bordo externo do plano de percussão; do lado da face interna,
o bordo interno do plano de percussão. Pode-se considerar os
bordos de uma lasca seja quanto à sua disposição, seja quanto
à sua utilização.
Um bordo longitudinal é aquêle que é paralelo ao eixo lon-
gitudinal da lasca. Por convenção, êle é chamado direito ou
esquerdo, segundo a sua representação à direita ou à es-
querda, no croquis.
Um bordo transversal é aquêle que é perpendicular ao ei-
xo longitudinal da lasca. Por convenção, êle é chamado supe-
rior ou inferior segundo a sua representação acima ou abaixo,
no croquis.
d 98 - Bordo ativo . (Bord actif).
Corresponde à parte ativa (gume, ponta, etc.) da
lasca, utilizada ou não. Quando êsse bordo apresenta um tra-
balho, êste visou, geralmente um aguçamento do gume.
d 99 - Bordo de preensão. (Bord de préhension).
O bordo de preensão ou de encabamento correspon-
de ao bordo pela qual a peça era manuseada ou eventualmente
encabada. Diferencia-se do bordo ativo por ser menos regular e

55
por apresentar um ângulo mais aberto. Quando nele se apre-
senta um trabalho secundário, êste consiste geralmente, no
desbeiçamento das arestas.
d 100 - Descontinuidade. (Discontinuité) .
O bordo ativo e o de preensão podem ser interrom-
pidos por superfícies de tamanho variável, aproximadamente
perpendiculares ao plano principal e que não foram retiradas
pelo trabalho secundário. Tais superfícies são chamadas des-
continuidades.
O bordo de uma lasca será definido por:
sua morfologia, comprimento em valor absoluto, cur-
vatura no plano principal, curvatura no plano per-
pendicular ao plano principal (retilineo, convexo,
côncavo, irregular, sinuoso, etc), ângulo formado pe-
la intersecção das duas faces, aspecto dêsse ângulo
(vivo, atenuado , arredondado, etc);
seu trabalho secundário, isto é os retoques ou o des-
beiçamento que o afetaram numa ou noutra face,
com o nôvo ângulo que se formou.
seu uso. Deve-se distinguir os bordos ativos dos de
preensão, e depois, para cada um dêles, realizar o es-
tudo das marcas deixadas pelo uso (esmagamento,
esfregamento, estrias, colorações diferentes, serrilha-
do; locais gastos pelo uso, assim como traços de ma-
térias orgânicas como por exemplo a resina) . ~ste es-
tudo só pode ser feito à lupa binocular.
d 101 - Ângulo inicial. ( Angle initial) .
É o que se forma no momento da debitagem. Pode
ser medido mesmo quando houve trabalho secundário ou uti-
lização intensa, prolongando-se as duas faces, em linha reta,
até seu ponto de intersecção.
d 102- Ângulo retocado. (Angle retouché).
Sempre mais aberto que o precedente, é o que se
forma após os retoques.
d 103- Ângulo gasto. (Angle usé).
É ainda mais aberto, e freqüentemente arredondado,
corresponde ao estado de um gume utilizado.

56
A diferença entre o ângulo inicial e o ângulo gasto, dá
um espécie de índice de uso da lasca; entre o inicial e o reto-
cado, um índice de retoque.
d 104 - Retoques . (Retouches ) .
O retoque de uma lasca constitui a última fase de
sua fabricação . O retoque consiste em dar, por meio de pe-
quenos lascamentos sucessivos obtidos por pressão ou por
percussão, a forma deS"ejada à lasca bruta, cujo contôrno, de-
terminado pela debitagem, pode não corresponder exatamen-
te, às intenções do artesão. Por outro lado, os retoques conso-
lidam o gume tornando-o mais espêsso. Durante sua utiliza-
ção o utensílio pode ser igualmente retocado à medida em que
é gasto pelo uso, como quando amolamos uma faca. Os reto-
ques afetam os bordos como quando de um objeto. Os reto-
ques podem ser dificilmente distinguidos de certas marcas de
uso, e em alguns casos essa distinção é de todo impossível.
Os retoques podem igualmente eliminar um bordo cortan-
te e transformá-lo num bordo não cortante que constituirá
uma parte de preensão ou de encabamento. A superfície as-
sim formada é comumente chamada em francês "dos abattu".
Os retoques que transformaram um gume em "dos abattu"
são normalmente abruptos.
Os retoques de um bordo são definidos por suas dimen-
sões, forma, localização nos bordos, por sua posição em rela-
ção às faces, por sua disposição e por sua inclinação.
Dimensões. Não existe uma terminologia fixa, universal-
mente aceita. O mais prático para um estudo fino seria indi-
car as dimensões em mm. Leroi-Gourhan propõe chamar
"muito grandes" os retoques de mais de 20 mm. de lar-
gura, "grandes" os de 15 mm, "médios" os de 6 mm, "peque-
nos" os de 2 mm. Porém parece mais prático indicar o núme-
ro médio de retoques por cm de bordo. Desta maneira obtém-se
um índice de largura média. Pode-se também dar a largura
média da superficie retocada. Assim se obtem um comprimen-
to médio dos retoques.
Formas. Podem ser definidas por dois adjetivos : o primei-
ro, que designa a forma no plano principal (oblonga, etc) ; o
segundo, referente à depressão ou à curvatura do lascamento.
A medida em valor absoluto dessa depressão é impossível, de
modo que os retoques serão chamados peliculares, côncavos

57
ou muito côncavos, segundo o lascamento tenha sido lame-
lar ou francamente fundo.
Localização. Os retoques podem afetar qualquer um dos
diferentes bordos definidos mais acima. Algumas vêzes êles
são periféricos, isto é, foram praticados ao longo df tôda a
periferia da lasca. Segundo afetem um só ou vários bordos,
ou tôda a periferia, êles podem ser contínuos ou descontínuos.
Posição. Em relação às faces. Qualquer que seja o bordo
afetado, os retoques podem ser feitos na face interna, na fa-
ce externa ou em ambas.
Os retoques são chamados externos ou diretos quando os
golpes ou a pressão do retocador foram aplicados sôbre a face
interna da lasca, sendo que os lascamentos afetam a face ex-
terna.
Os retoques são internos ou inversos quando a ação foi
aplicada sôbre a face externa da lasca e portanto, os lasca-
mentos afetam a face interna.
Os retoques são bifaciais quando, uma mesma zona do
bordo, há retoques externos e internos. Para os retoques de
uma lasca, o têrmo unifacial seria redundância pois essa
noção está subentendida nas de retoques externos ou internos
Os retoques são alternos, quando um bordo apresenta su-
cessiva e alternadamente, séries de retoques externos e in-
ternos. O ponto de encontro de dois bordos, sendo que um pos-
sui retoques externos e o outro retoques internos , constitui,
também, um conjunto de retoques alternos. ~ste tipo de re-
toque é comumente utilizado para a obtenção e fabricação
de pontas e perfuradores.
A essas diferentes posições pode-se acrescentar o quali-
ficativo i nvasores, quando os retoques, partindo do bor-
do retocado, afetam uma certa superfície, isto é, invadem uma
face, geralmente a face interna.
Disposição. O vocabulário que define a disposição dos re-
toques nos bordos é muito vago. Pode-se distinguir retoques
perpendiculares, oblíquos, irregulares, folheados.
perpendiculares, quando são perpendiculares ao bor-
do e paralelos entre si.
oblíquos quando o são em relação ao bordo e paralelos
entre si.

58
irregulares, são oblíquos e perpendiculares ao mesmo
tempo.
folheados (feuilletées) quando são dispostos em séries
superpostas e escalonadas, paralelas ao bordo. Esta
disposição só é possível em rochas de estrutura fo-
lheada, como por exemplo os xistos.
superpostos ( étagées), quando sôbre os primeiros re-
toques grandes se superpõem retoques cada vêz me-
nores.
Inclinação. A inclinação de um retoque é o ângulo que
êle forma com a face oposta. Quando se trata de retoques bi-
faciais , a inclinação do retoque é o ângulo formado, não mais
com a face oposta, que é retocada também, mas com o plano
teórico do utensílio. ~sse ângulo não pode ser medido direta-
mente, mas pode-se admitir que êle corresponde à metade do
valor do ângulo formado pela intersecção das duas séries de
retoques.
A inclinação pode ser dada, seja por uma medida em
graus, seja por um adjetivo (oblíquo, abrupto, etc). Para A.
Leroi-Gourhan os retoques são:
rasantes quando a inclinição é de 100
oblíquos quando a inclinação é de 30o ;
muito oblíquos quando a inclinação é de 45°;
abruptos quando a inclinação é de 700;
verticais quando a inclinaçãc é de 90°.
Nós preferimos anotar diretamente o valor em graus.

d 105 - Entalhe lascado. ( Encoche taillée) .


Reentrância côncava de um bordo obtida por reto-
ques. Se a concavidade ocupa todo o bordo retocado, não se
trata mais de um entalhe, mas sim de um bordo côncavo.
(Est. VIII, n .o 10).

D 106 - Objeto de bloco ou de núcleo. (Objet sur bloc ou sur


nucléus).
Para descrever um objeto de bloco será necessário
inicialmente, analisar suas dimensões e formas gerais; depois,
estudar separadamente cada uma das partes constituintes.
(Est. V) .

59
E S TAMPA V. - Obj eto de bloco: a - parte d e pre -
ensão ou de en cabamen to; b - parte ativa.

a - Morfologia geral .
D im ensões. As regras são as mesmas que foram observa-
das para o estudo das dimensões de um núcleo.
Form a. Usar-se-á um adjetivo geométrico, tôda vez que
isso fôr possível, para definir a forma no seu conjunto (amig-
daloide, piramidal , etc) e depois a forma das três secções prin-
cipais (plano principal, plano longitudinal, plano transversal) .

b - Partes princi pais.


Um objeto de bloco comporta : faces, lados e bordos.
Distingue-se também uma parte ativa de uma que ser-
viu à preensão ou ao encabamento.
d 107 - Faces . (Faces) .
As faces de um objeto de bloco são as próprias faces
que delimitam seu volume. Para simplificar, o que nem sempre
é possível, considera-se que a maior parte dos objetos de bloco
apresentam sàmente duas faces , situadas de um lado e do
outro do plano principal.

60
Se as duas faces são simétricas, é teàricamente impossí-
vel falar de uma face superior e de uma face inferior. Por con-
venção, diz-se que a face superior é aquela representada no
croquis, sendo a outra, a inferior.
Se uma face é mais convexa que a outra, ela é considerada
como face superior; a face mais plana torna-se, então, a in-
ferior .
Uma face é definida por suas dimensões, sua forma, seus
lascamentos. As dimensões são dadas em valores absolutos ou
segundo o ábaco. A forma será descrita por meio de três ad-
jetivos, sendo que o primeiro designa a forma em plano; o
segundo, a curvatura no sentido longitudinal ; o terceiro, a
curvatura no sentido transversal.
Os lascamentos que tiveram por meta dar uma forma
ao obj eto, são estudados como os lascamentos da facA externa
de uma lasca (d 89).

d 108 - Lado. (Côté) .


É um têrmo mal definido, que no caso de um obje-
to de bloco, define geralmente uma superfície pequena em
relação às faces principais; essa superfície é mais cu menos
perpendicular ao plano principal do objeto. Um lado muito
pequeno pode ser chamado descontinuidade. Um lado, tal como
uma face, é definido por suas dimensões e sua forma, pelo nú-
mero e disposição de seus lascamentos e, eventualmente, pe-
los ângulos que êle forma com as faces superior e inferior.

d 109 - Bordo . (Bord) .


Chama-se bordo de um objeto de bloco, a linha for-
mada pela intersecção das duas faces principais. Em um po-
liedro, no qual não se distingue as faces principais, a intersec-
ção das faces forma arestas.
Teàricamente, o bordo de um objeto bifacial é contínuo e
corresponde ao perímetro do maior plano. Na realidade, êle é
raramente contínuo e pode ser marcado por uma ou várias
descontinuidades.
O lado é uma superfície; o bordo é uma linha.
Pode-se distinguir um bordo ativo ou parte ativa de um
bordo de preensão, ou de encabamento, tal como foi indicado

61
para as lascas. Êsses bordos podem ter sofrido um trabalho
secundário e apresentar então, retoques.
O ângulo de um bordo, em um ponto dado, é aquêle for-
mado pela intersecção das duas faces.
Um bordo é definido por suas dimensões e sua forma. A
desc:dção da forma comporta quatro têrmos: a forma no plano
principal (retilíneo, convexo, côncavo, etc), a forma em um
plano perpendicular ao primeiro (retilíneo, convexo, côncavo),
o valor do ângulo formado pela intersecção das duas faces e
o estado dêsse ângulo (vivo, atenuado, arredondado, etc). Se
houver um trabalho secundário, êle será descrito segundo o
modêlo indicado para os bordos de uma lasca. (d 104).

D - A utilização dos objetos de pedra. Os tipos


clássicos.

Nesta parte do glossário os objetos de pedra são conside-


rados em função de sua utilização. Após a definição de al-
guns têrmos gerais (objeto- d 110, ferramenta- d 111, ins-
trumento - d 112, arma - d 113, utensílio - d 114, fer-
ramentas duplas, múltiplas, complexas - d 115, 116, 117,
aborda-se a descrição dos principais tipos de objetos líticos
reconhecidos pelos prehistoriadores.
Agrupamos êsses objetos por tipo de ação (cortar, raspar,
etc) o que nos fornece, de um lado, o esbôço das característi-
cas principais de um objeto, correspondentes à uma ação
dada (corta-se com um gume linear de bisei duplo, raspa-se
com um gume linear de bisei simples, etc) (1) e nos mos-
tra, de outro lado, que objetos de fabricação diferentes (de
lasca, de bloco, polidos) podem ser destinados a um mesmo
uso (corta-se com uma faca de lasca, com uma lâmina lasca-
da de machado, com uma lâmina polida de machado).
É interessante notar que, se tivessemos agrupado êsses
mesmos objetos, não em função de sua ação, mas sim do modo
de ação (pressão, percussão, etc) o agrupamento teria cor-
respondido melhor às categorias técnicas, como mostra o qua-
dro seguinte, no qual, na primeira coluna, se acumula a maio-
ria dos objetos de lasca ; na segunda, a maioria dos de blo-
co, etc.
( 1) Aliás um m esmo u t ensillo pod e ser considerado como t endo bisei s1mpl€s
ou duplo , segundo a posição em que é manuseado.

62
QUADRO DAS AÇÕES E DOS MODOS DE AÇÕES DOS OBJETOS LÍTICOS

I. Ferramentas e Percussão Percussão


armas Pressão à distância

- Cortar, fender, in- Faca, lasca Chopper e


cisar Buríl chopping-tool -
(gume de bisei duplo; Uniface e bi-
contacto por uma li- face - Lâmina
nha) de machado
lascada ou po-
lida.
- Raspar, ralar, igua- Raspador late_
lar, aplainar ral, Raspador
(objetos plano-conve- Plaina - Les- Enxó
xos de gume de bisei ma
simples; contacto por Ferramentas
uma linha) denticuladas
- Furar, perfurar, ca- Ponta, furador Pontas de fle-
var, rasgar Picão cha
(objetos ponteagudos, Anzol? Ponta de lança Arpão
contacto por um pon-
to)
- Bater, quebrar, mar- Retocador ou Pedras e sei- Pedras e sei-
telar, lascar, atin- compressor xos utilizados xos utilizados
gir, derrubar
(objetos de formas glo- Percutores Bala de funda
bulosas; contacto por Martelo Virote
uma superfície) Massa
- E s f r e g a r , polir, Seixos utiliza- Seixos utiliza-
moer, esmagar, pul- dos dos
verisar
(objetos de formas glo- Mãos de mó Mãos de pilão
bulosas e de superfície
lisa; contacto por uma
superfície)
II - Objetos passivos Utensílios diversos
- Servir de suporte; servir de Mó
apoio
(Objetos passivos complementares Pilão - Almofariz
das duas séries precedentes) Quebra-coquinhos
(Objetos passivos utilizados sepa- Aguçadores
radamente, sendo que a parte ati- Polidores
va é constituida pela própria ma-
téria a ser trabalhada)
-Conter Vaso de pedra
Zoólito (?)
- Lastrar Pêsos de rede
Pêsos de bastões de cavar
Bola
- Adornar Tembetá
Pérolas
Placas perfuradas
III - Uso desconhecido Discos perfurados

63
A leitura vertical dêste quadro pode ser compreendida do
seguinte modo:

I - Ferramentas e armas que exercem uma ação.

1 - Ferramentas utilizadas por pressão


Se bem que o seu maior número seja constituído por fer-
ramentas de lasca, por serem muito frágeis para servir como
percutores, elas não correspondem a uma categoria técnica
determinada, pois entre as ferramentas utilizadas por pressão
são encontradas também algumas de bloco, como as plai-
nas e outras das categorias de pedras utilizadas ou polidas
por exemplo as mãos de mó.
Na utilização por pressão, a parte ativa é formada, seja
por uma linha, (facas e raspadores laterais, burís, ferramentas
plano-convexas, raspadores, ferramentas denticulares, plainas,
lesmas) seja pela intersecção teàricamente puntiforme de
três planos (pontas e furadores), seja pela combinação dessas
duas séries (facas-pontas e numerosas ferramentas comple-
xas), seja por uma superfície (seixo com uma ou várias faces
de uso, polidas, mãos de mó).

2 - Ferramentas e armas utilizadas por percussão


A maior parte é constituída por ferramentas maciças, se-
jam lascadas de bloco, sejam picoteadas ou polidas. Não co-
nhecemos na América do Sul, utensílios de lasca que possam
ser estudados nesta série, com exceção, talvez, de alguns
discos.
Na utilização por pressão, a parte ativa pode ser consti-
tuída, tanto pela intersecção de duas faces formando um bi-
sei simples ou duplo (bifaces e unifaces; choppers e chopping-
tools; lâminas de machados lascadas, picoteadas ou polidas,
machadinhas; lâminas de enxó; cinzéis; discos), como por
uma ponta (picão; ponta de lança), ou por uma superfície
(pe1·cutores; martelos; massas; mãos de pilão).

3 - Objetos utilizaàr.Js por percussão à distância


São sobretudo armas. Em alguns casos, a arma é atirada
e desligada no momento do lançamento, como é o caso da
flecha ; em outros, ela é retida pelo lançador por meio de um
filamento como, é o caso dos arpões.

64
A parte ativa é constituida por uma ou várias pontas (ar-
maduras diversas, pontas de flechas, armaduras de arpões)
se a finalidade é transpassar a prêsa, ou por uma superfície
convexa se a finalidade é bater, entontecer, derrubar (bala
de funda, virote) .

II - Objetos passivos:
Sua característica comum é negativa: a ausência de mo-
vimento no momento do uso ; como corolário deduzimos que
êles não são nem seguros pela mão, nem encabados, mas são
pousados sôbre a terra ou pendurados.
É de se notar que nesta série não há pedras lascadas.

d 110 - Objeto. (Objet).


É o têrmo mais geral para designar uma peça. Não
implica nenhum conceito sôbre a fabricação, nem sôbre a for-
ma, nem sôbre o uso.
d 111 - Ferramenta. (Outil).
A palavra é definida por Cândido de Figueiredo co-
mo : "Utensílio de ferro para artes e ofícios. Conjunto de uten-
sílios para o exercício de um ofício ou arte". Uma ferramenta
lítica é um objeto de pedra, encabado ou não, que serve de
intermediário entre uma matéria a ser trabalhada e o homem
que a utiliza para afinar, precisar ou reforçar uma ação im-
possível a mão nua.
d 112 - Instrumento. (Instrument).
Segundo Cândido de Figueiredo: "Qualquer agente
mecânico que se emprega para executar um trabalho ou uma
operação. Pessoa ou coisa que serve de meio ou de auxílio
para determinado fim" . O sentido é mais geral que o de fer-
ramenta. Sob o nome "instrumentos" poderiamos agrupar fer-
ramentas e armas, mas o seu sentido é impreciso e, portan-
to, é melhor evitá-lo nas descrições tipológicas.
d 113 - Arma. (Arme) .
Para Cândido de Figueiredo: "Instrumento ofensi-
vo ou defensivo. Qualquer meio de agressão". Para a tipolo-
gia lítica, completaremos da seguinte maneira: objeto de pe-
dra, encabado ou não, servindo tanto à defesa como ao ata-
que, provocando a morte ou a captura de uma prêsa animal
ou humana.

65
d 114 - Utensílio. (Utensile) .
A definição de Cândido de Figueiredo diz: "Qual-
quer instrumento de trabalho, de que se serve um artista ou
um industrial. Objeto que serve de meio ou instrumento pa-
ra se fazer qualquer coisa: utensílios de casinha". Segundo
esta definição, mó é um utensílio, do mesmo modo que uma
faca.
d 115, 116, 117, - Ferramentas duplas, múltiplas e comple-
xas. (Outils doubles, multiples, complexes)
Pode-se chamar duplas, as ferramentas
que apresentam dois bordos ativos de função equivalente. Te-
mos, por exemplo: raspadores duplos, facas duplas, pontas du-
plas, etc. Se necessário, mas são casos raros, pode-se falar de
ferramentas triplas (ou quádruplas) para designar ferra-
mentas com três ou quatro bordos ativos equivalentes. Um
conjunto de ferramentas chamadas múltiplas será constituí-
do por ferramentas duplas, triplas, e eventualmente quádru-
plas.
Pode-se chamar complexas as ferramentas que apresen-
tam dois bordos ativos de função diferente. Por exemplo uma
faca-raspador ou uma ponta-raspador, serão ferramentas com-
plexas. Os exemplos são numerosos. Quase todos os tipos de
ferramentas de lascas, utilizadas por pressão são combináveis
entre si. As combinações são mais raras entre as ferramentas
de bloco utilizadas por percussão (com ou sem cabo) pois é
necessário reservar um lugar importante e já especializado
para a preensão ou o encabamento. É também raro que se-
jam combináveis entre si, em uma mesma ferramenta, ações
por pressão e ações por percussão ; as mãos de mó e de pilão,
entretanto, combinam frequentemente essas duas séries de
ações.

I - Ferramentas e armas.
a - Cortar, fender, incisar.
(Objetos de gume em bisel duplo, contacto ao longo
de uma linha) .
Por pressão:
d 118 - Faca ou raspador lateral. (Couteau ou racloir).
Na terminologia lítica há uma grande confusão en-
tre a noção de faca e a de raspador lateral. Teoricamente,

66
uma faca é uma ferramenta destinada a cortar, isto é, a di-
vidir a matéria a ser trabalhada em tôda sua espessura, por
uma ou várias incisões perpendiculares ou oblíquas à sua su-
perfície. Teàricamente, um raspador lateral é um utensílio
destinado a raspar, isto é, a retirar da matéria a ser trabalha-
da, lamelas finas, paralelamente à sua superfície. A faca tem,
portanto, um gume em bisei duplo, destinado a dividir, o mais
delgado e agudo possível para assegurar uma penetração mais
fácil; ela termina geralmente por uma ponta destinada a ata-
car, a penetrar, a cortar. O raspador lateral, como também o
raspador, tem um gume em bisei simples; apresenta uma face
plana, o bordo ativo é retilíneo ou convexo, expêsso, de modo
a não penetrar muito profundamente na matéria a ser tra-
balhada.
Na realidade, os dois tipos não são claramente diferen-
ciados e é certo que muitos utensílios de gume retilíneo ou
convexo paralelo ao eixo longitudinal foram indiferentemente
utilizados para cortar ou para raspar, como faca ou como
raspador lateral. Enquanto a análise tipológica não permitir
a distinção entre dois (ou mais) tipos nitidamente diferencia-
dos no conjunto de facas e raspadores laterais, nós os englo-
baremos sob um têrmo único. É preferível, nos parece, para
as linguas portuguêsa e espanhola, adotar a tradução faca
(couteau) e não raspador lateral (racloir), pois esta se presta
a confusões com a tradução de raspador (grattoir); a defini-
ção de faca seria: ferramenta de gume longitudinal apresen-
tando geralmente um bordo de preensão bem distinto e mais
espêsso do que o bordo ativo. (Est. VI, fig.l). Um grande nú-
mero de facas é feito de lascas. Há também facas bifaciais de
blocos que apresentam sempre um gume em bisei duplo. Uma
uas finalidades da análise tipológica é, justamente, r!istinguir
tipos: técnicos, morfológicos e funcionais, nessa massa, atual-
mente confusa, de facas e raspadores laterais sul-americanos.

d 119 - Lasca utilizada. (Eclat utilisé).


~sse têrmo é utilizado para designar uma lasca que
não corresponde a nenhum dos tipos definidos de ferramen-
ta na série estudada; ela não é retocada e mostra em um ou
vários bordos, marcas de uso. O bordo de uma lasca não re-
tocada é agudo, frágil e seu uso corresponde, geralmente, ao
de uma faca.

67
d 120 - Buríl. (Burin).
Ferramenta de lasca apresentando em uma extre-
midade um bordo ativo formado pela intersecção
seja de dois lascamentos perpendiculares ao plano principal,
seja de um lascamento dêsse tipo e de uma fratura da lasca,
fratura essa, retocada ou não. Os lascamentos perpendiculares
formam uma pequena lasca característica, chamada "golpe de
buril". Existem também burís de bloco. Os burís são raros e
mal estudados na América. Alguns foram descritos na Amé-
rica do Norte (Alaska, California, Texas). Parece que alguns
foram descobertos recentemente na América do Sul (Equa-
dor, Estado de São Paulo, Paraná). (Est. VI, n .0 3) .

2 3 4

ESTAMPA VI. - Obj etos de pedra lascada sôbre lasca: 1 - Faca de lasca: a -
parte de preensão ou d e encabamento; b - parte ativa ou cortante; 2 - Ponta
de lasca; 3 - Buril e "golpe de buril" ; 4 - Furador

Por percussão:

d 121 e 122 - Chopper e chopping-tool.


Frequentemente, na terminologia prehistóri-
ca, os têrmos chopper e chopping tool são confundidos. En-
tretanto, êles designam dois utensílios distintos, que têm,
apenas em comum o fato de serem , ambos, geralmente, de fa-
bricação grosseira.
Segundo Movius , o chopper é um utensílio de bloco, tra-
balhado em parte de uma só face; quando o chopper é feito
de um seixo, o bordo de preensão é constituido pelo córtex do
seixo. O bordo ativo, obtido por lascamentos feitos em uma
só face, se restringe a uma parte da periferia.

68
Segundo Movius, o chopping-tool é um utensílio de blo-
co trabalhado parcialmente em duas faces, de modo a deter-
minar um bordo ativo, que se restringe a uma parte da peri-
feria. Quando o chopping-tool é feito a partir de um seixo, o
bordo de preensão é constituído pelo córtex do seixo.
Essas definições, que se apoiam na fabricação, não nos
permitem diferenciar a utilização dêsses dois tipos. Admite-se
geralmente que:
o chopper é uma ferramenta destinada a lascar ou a
cortar por percussão, lascada unifacialmente e par-
cialmente, de fabricação grosseira; (Est. VII. n. 0 3).
o chopping-tool é uma ferramenta destinada a lascar
ou a cortar por percussão; lascada bifacialmente par-
cialmente, de fabricação grosseira. (Est. VII, n .0 4) .
d 123 - Biface . (Biface).
É uma ferramenta de bloco, teoricamente trabalha-
da na totalidade de suas duas faces de modo a determinar um
gume em bisei duplo, contínuo e periférico. (Est. VII, n. 0 1).
A forma é geralmente oval ou em amêndoa. Como para os
choppers e chopping-tools, o uso dos bifaces é incerto, e tal-
vez, sob êsse nome genérico, se confundam utensílios diferen-
tes. Antes de qualquer análise tipológica fina, pode-se distin-
guir alguns tipos de biface, por exemplo, com gume perifé-
rico de bisei duplo ou simples, com gume parcial de bisei du-
plo ou simples, etc. Algumas formas finas foram certamente
utilizadas como facas; fala-se , no caso, de facas bifaciais.
d 124 - Uniface. (Uniface) .
É , de modo geral, um utensílio lascado em uma só
face e definido por oposição aos bifaces que são lascados na~
duas faces (Est. VII, n. 0 2) . São muito comuns nas indústrias
da Patagonia, os utensílios feitos a partir de um seixo, sendo
que uma das faces foi deixada em bruto. A forma e, provà-
velmente, a função dêsses utensílios são equivalentes às dos
bifaces. Foram descritos sob têrmos diversos (bifaces parciais,
etc), nós, porém, chamá-los-emos "unifaces".
Machado
Um machado é uma ferramenta complexa, constando de
um cabo e uma lâmina; é, portanto, abusivo, denominar co-

69
mo "machado", a lâmina isolada, seja ela lascada ou polida.
Não se deveria usar para a parte lítica do instrumento, os
têrmos machado lascado ou polido, mas sim lâmina de ma-
chado lascada ou lâmina de machado polida. Tôdas as lâmi-
nas de machados têm um gume em bisei duplo mais ou me-
nos perpendicular a seu eixo longitudinal. O encabamento se-
ria adaptado de tal modo que o gume ficaria paralelo ao cabo.
d 125 - Lâmina de machado lascada . (L ame de hache
taillée).
É uma ferramenta de bloco, lascada bifacialmente e
apresentando um gume mais ou menos perpendicular ao eixo
longitudinal. (Est. VII, n.o 5). Não é necessário distinguí-la
da machadinha (hachereau), tipo pouco conhecido na Amé-
rica do Sul e que foi definido por Bordes (1961) como sendo
um biface, "de forma geral muito variada, geralmente bem
espesso, mas apresentando uma aresta, mais ou menos trans-
versal, oposta à base. Esta aresta, mais ou menos oblíqua em
relação ao eixo da peça pode ser retilínea, convexa, algumas
vêzes côncava ou escavada em goiva". As formas são variáveis.
d 126 - Lâmina de machado picoteada ou polida. (Lame de
h ache piquetée ou palie) .
Ela diverge da lâmina de machado lascada somen-
te pela técnica de fabricação e pela maior variabilidade das
formas (Est. II). Entre as formas sul americanas mais no-
táveis podemos assinalar a itaiçá ou machado perfurado e
o machado semilunar ou em âncora. (Est. X, n. 0 12).

b - Raspar, ralar, igualar, aplainar.


(utensílios plano-convexos de gume em bisei sim-
ples, contacto por meio de uma linha) .
D 127 - Ferramentas plano-convexas. (Outils plan-conve-
xes) .
Colocam-se nesta categoria todos os utensílios de
lasca ou de bloco q11e apresentam uma face inferior plana e
uma face superior convexa. (Est. VIII) . Se nos limitássemos
a esta definição, quase tôdas as lascas e utensílios de lasca en-
trariam nesta categoria de utensílios plano-convexos. pois sua
face de lascamento geralmente se aproxima de uma face pla-
na. Portanto, para distinguir as ferramentas chamadas pla-
no-convexas das outras de lasca, é necessário fazer entrar na

70
definição, outros critérios e particularmente o ângulo do gume
(que é tipicamente muito aberto) e a relação entre a espes-
sura do utensílio e sua largura ou comprimento (são caracte-
risticamente ferramentas espessas) .

ESTAMPA VII. - Objetos de pedra lascada sôbre bloco: 1 - Biface; 2 - Uni-


face ; 3 - Chopper; 4 - Chopplng-tool; 5 - L â mina de machado lascado ; 6 - Plcão

Êste ângulo e esta relação, não podem ser definidos a


prióri, e somente após a análise de um número sufiriente de
ferramentas plano-convexas, é que será possível determinar
com precisão, quais as características que lhe são comuns
(ângulo do bordo ativo, proporções gerais).
As ferramentas plano-convexas compreendem: raspador
lateral, raspador, lesma, plaina, enxó, ferramentas denticula-
res.
São utilizadas para raspar, ralar, igualar, aplainar, etc,

71
isto é, para retirar películas finas paralelamente à superfície
da matéria a ser trabalhada (couro, madeira, etc) .
- Por pressão:
d 128 R aspad or lateral. ( Racloir) .
O raspador lat eral dificilmente se diferencia da fa-
ca (d 118) (Est. VI , n. 0 1) e um mesmo utensílio pode ser
empregado para cortar e raspar, variando o modo pelo qual
é segurado pela m ão ou o ângulo segundo o qual a matéria é
atacada. Esta polivalência explica a confusão da terminologia
lítica concernente a facas e raspadores laterais. Parece mais
seguro abandonar, provisàriamente, pelo menos, esta diferen-
ciação e reunir as duas séries de utensílios sob um mesmo têr-
mo. Preferimos o têrmo: faca, ao invez de raspador lateral;
de um lado, porque a ação de cortar é, talvez, mais essencial
do que a de raspar e, de outro, porque há maiores possibili-
dades de confusão entre raspador lateral e raspador, do que
entre faca e raspador.
d 129 - Raspador . (Grattoir).
Utensílio de lasca ou de bloco da série das ferramen-
tas plano-convexas. O bordo ativo é convexo ou, mais rara-
mente, retilíneo e forma um ângulo muito aberto com a face
externa (1). Êsse bordo é, geralmente, situado em uma extre-
midade longitudinal da ferramenta. Quando se trata de um
raspador de lasca, o bulbo da face interna, quase sempre, foi
retirado para tornar tal face mais plana.
Os principais tipos definidos para a Europa são:
raspador terminal;
raspador em ferradura ou em leque ;
raspador discoidal ou circular;
raspador unguiforme ;
raspador nucleiforme ;
raspador carenado;
raspador com ombro;
raspac1.or de nariz.
( 1) Sonn eville -Bordes e Perr ot ( 1951 ) definem o raspador como t endo " um re-
toque não abrupto, salvo em caso de reavivagem". O raspador, neste caso ,
é definido sàm entc pela convexid r.de do bordo ativo e por sua posição em
uma e;: tremidade longitudinal. Como o bordo at!vo, algumas vêzes é reti-
lineo, a única diferença en tre um raspador com bordo ret!lineo e um ras-
pador lateral ou faca. seria , então, sua posição terminal, o que correspon-
de à distinç ão ang lo-saxônica en t re "end-scraper" e "slde -s craper" .

72
- Raspador terminal . ( Grattoir sur bout).
( End-scraper) .
Raspador cuja parte ativa se encontra na extremidade
do eixo longitudinal. (Est . VIII, n .o 1).

- Raspador em ferradura ou em leque. (Grattoir en ter


à cheval ou en éventail). (Horse-shoe scraper) .
O bordo ativo é semi-circular e mais largo do que a ex-
tremidade oposta. A forma inversa, isto é, com o bordo ativo
mais estreito que a extremidade oposta é chamada, por
Leroi-Gourhan, 1964, cuneif'Orme .
- Raspador discoidal ou circular. (Grattoir discoidal
ou circula ire).
Raspador em forma de disco cujo bordo ativo se estende
por i ôda a periferia. (Est. VIII, n.O 3). Pode-se ehamar de se-
mi-circular ou semi-discoid&l, os raspadores dest'l mesma for-
rna , mas cujos bordos ativos se estendem sàmente até a me-
tade da periferia. Pode-se também, se necessário, distinguir
um tipo 3/ 4 discoidal, etc.

- Raspador unguiforme ou unciforme. (Grattoir unci-


forme ou unguiforme) .
Pequeno raspador de formas e dimensões semelhantes à
unha do polegar, caracterizado por uma pequena superfície
plana no centro da face superior, superfície essa destinada,
julga-se, ao apoio de um dedo. (Est. VIII, n.o 4). f:les não são
sempre diferenciados claramente dos raspadores discoidais ou
semi-discoidais ou dos pequenos raspadores em ferradura. É
necessário, entretanto, reservar êsse têrmo aos raspadores que
apresentam a superfície plana, característica, na face supe-
rior. O raspador unguiforme é típico das indústrias dos pam-
pas, onde apresenta características bem distintas (fabricação
a partir de rochas duras como ágata, jaspe, etc. , dimensões
de 2 a 2,5 cm).

Raspador nucleiforme. (Grattoir nucléiforme).


É obtido pelo preparo rudimentar de um núcleo por re-
gularização do plano de percussão e retoques abruptos do bor-
do ativo (cf. Sonneville-Bordes e Perrot, 1951). (Est. VIII, n.o
5 e 6) .

73
- Raspador carenado . ( Grattoir caréné).

O têrmo se aplica a raspadores espessos em forma de qui-


lha. (Est. VIII, n .o 5 e 6).

- Raspador com ombro. (Grattoir à épaulement).


Raspador cujo bordo ativo apresenta uma saliência obti-
da por retoques unilaterais. (Sonneville-Bordes, 1951). (Est.
VIII, n.o 9) .

- Raspador de nariz . (Grattoir à museau).


Raspador em cujo bordo ativo foi obtida uma saliência por
meio de retoques bilaterais. ~ste tipo não é conhecido na
América do Sul. (Sonneville-Bordes, 1951). (Est. VIII, n. 0 7).

- Raspadores atípicos, raspadores duplos .


Qualquer um dos tipos anteriores pode incluir os ditos
atípicos, quando o objeto a definir fôr irregular e não corres-
ponder estritamente às formas definidas acima, mas desde
que apresenta uma tendência para uma delas.
Muitos raspadores são duplos, isto é, apresentam dois bor-
dos ativos, geralmente opostos.

d 130 - Plaina. (Rabot).


A plaina é uma ferramenta de bloco ou de lasca,
plano-convexa. O bordo ativo forma, com a face plana, um
ângulo muito aberto obtido por lascamentos abruptos, exe-
cutados a partir da face plana. O bordo ativo pode ser convexo
e estar situado em uma extremidade longitudinal do utensí-
lio, sendo que neste caso, seu aspecto geral é muito próximo
ao de um raspador terminal muito grande. O bordo ativo
pode também ser retilíneo ou ligeiramente convexo e paralelo
ao eixo longitudinal (Est. VIII, n. 0 8). Existem também plai-
nas, cujo bordo ativo é paralelo ao eixo longitudinal e é côn-
cavo. As plainas serviram, talvez, para descascar e alisar ma-
deira. A medida que foram sendo gastas e por causa dos re-
toques sucessivos, o bordo ativo tornou-se cada vez mais côn-
cavo até causar a quebra do utensílio em duas partes mais ou
menos iguais, sendo que a linha de ruptura passa pelo meio
do bordo côncavo. Podem existir plainas duplas ou plainas

74
com dois bordos ativos. De maneira geral, a plaina tem um
bordo ativo e não apresenta pontas, enquanto que as lesmas
tem dois bordos ativos simétricos e duas pontas.

~ ~~
2
~ o~ 4 - -
5

ESTAMPA VIII. - F erramentas plano-convexas: 1 - Raspador Terminal; 2 -


Raspad or em f erradura ; 3 - Raspador discoidal; 4 - Raspador unciforme cu un-
gulforme; 5 e 6 - Raspador nuclelforme e carenado; 7 - Raspador de nariz; 8 -
Plaina ; 9 - Raspador com ombro; 10 - Ferramentas dentlculadas ; 11 - Lesma.

d 131 - Lesma . (Limace).

Utensílio de bloco (ou de lasca) de forma alongada,


lembrando uma lesma. Tipicamente, comporta duas pontas
e dois bordos ativos longitudinais, sendo que o retoque afeta
tôda a periferia da ferramenta. A face inferior é plana. (Est.
VIIT, n. 0 11). Certas lesmas apresentam um só bordo funcio-
nal, ou um bordo e uma ponta, ou um bordo e duas pontas,
ou dois bordos e uma ponta. O bordo ativo é obtido por las-
camentos abruptos, executados a partir da face inferior pla-
na. O bordo ativo (ou os bordos ativos), à medida que o uten-

75
sílio é gasto e reavivado recua progressivamente, tornando-se
retilíneo e, a seguir, ligeiramente côncavo. O corpo da lesma
se adelgaça. Finalmente, nenhum retoque é mais exeqüivel.
A lesma se quebra em duas, seja ao ser feito o último retoque
seja durante o uso. A forma, mais frequente de se encontrar
uma lesma é gasta ou muito usada, ou então em fragmentos
que representam a metade do utensílio.
Por suas dimensões, as lesmas formam um conjunto in-
termediário entre as plainas e os raspadores.
d 132 - Ferramentas denticuladas. (Outils à encoche ou à
coche).
Numerosos utensílios do Paleolítico superior euro-
peu têm em uma extremidade ou lado, um entalhe bem deli-
mitado por retoques abruptos. (Est. VIII, n.o 10). Talvez te-
nham sido ferramentas destinadas a descascar e igualar bas-
tonetes de madeira. Os entalhes encontram-se combinados,
geralmente, com outros bordos ativos (de raspadores, facas,
etc) e formam, com êles, ferramentas complexas.
- Por percussão:
d 133 - Enxó. (Herminette).
É uma ferramenta muito próxima do machado, mas
cuja lâmina tem um gume com bisei simples, perpendicular
ao eixo longitudinal e ao cabo. São ferramentas destinadas a
esculpir, escavar, a trabalhar a madeira. Uma lâmina de enxó
é de pedra polida. O equivalente em uma indústria de pedra
lascada seriam certos choppers com bisei simples, cujo mane-
jo seria necessàriamente muito mais grosseiro.
c - Furar, perfurar, cavar, rasgar.
(Objetos ponteagudos. O contacto se faz teàrica-
mente por um ponto).
- Por pressão:
d 134 - Ponta. ( Pointe) .
A palavra ponta se aplica a objetos muito diferentes,
cuja função comum é penetrar na matéria por meio de uma
extremidade mais ou menos aguda. A parte ativa é teàrica-
mente punctiforme. Essa penetração pode se efetuar, por pres-
são e é a que estudamos aqui, ou por percussão, sendo que,
neste caso, se trata de ferramenta e de arma do tipo picão

76
e ponta de lança e, finalmente, por percussão lançada, refe-
rindo-se, então, a arma da série de pontas de armas de arre-
mêsso.
As pontas utilizadas por pressão podem ser pontas de las-
ca ou pontas de bloco, bifaciais.
Tipicamente, uma ponta de lasca é uma lasca cuja extre-
midade forma um triédro. Um plano dêsse triédro é formado
pela face interna da lasca; os dois outros, por dois lascamentos
da face externa da lasca. A intersecção, teàricamente punti-
forme dêsses três planos, forma a ponta. Esta é ajeitada e
reforçada por retoques praticados sôbre um ou dois dos bor-
dos da lasca, até o ponto de intersecção. Êsses retoques são
frequentemente alternos, isto é, praticados sôbre uma face,
em um dos bordos e sôbre a face oposta, no outro bordo. A
ponta de lasca é, em todos os casos que conhecemos na Amé-
rica, associada com um outro bordo ativo e a combinação des-
sas duas partes ativas forma uma ferramenta complexa. Te-
mos assim facas-pontas ou raspadores-pontas ou facas-pon-
tas-raspadores, etc. A secção da ponta é, geralmente, triangu-
lar. (Est. VI, n.o 2).
Tipicamente, uma ponta de bloco é formada pela inter-
secção, teàricamente puntiforme, de duas ou mai.s faces tra-
balhadas de uma ferramenta. As pontas desta série, utiliza-
das por pressão, são sempre, pelo menos segundo o que co-
nhecemos, combinadas com um ou dois bordos retocados em
gume. Tem-se, então, uma faca-ponta bifacial com um ou
dois gumes. A secção da ponta é losangular ou bi-convexa.
d 135 - Furador. (PeTçoir).
É ferramenta de lasca que apresenta uma ponta
muito bem delimitada, quase sempre obtida no ponto de en-
contro de dois bordos, dos quais um, apresenta retoques, inter-
nos e o outro, retoques externos. A secção da ponta é triangu-
lar ou quadrangular. A diferença entre a ponta e o furador se
restringe ao destaque dos bordos que, no furador, tendem a se
tornar ligeiramente concavos. (Est. VI, n.o 4).
d 136 - Anzol. (Hameçon).
Diferencia-se nitidamente das pontas de flecha e
de arpão por ser sua função a de reter, mais do que a de per-
furar. O anzol se caracteriza por uma parte de fixação, segun-
do a qual êle é atado a um intermediário maleável, e uma par-

77
te ativa, composta de uma ou vanas pontas, cuja função é
de penetrar na carne do animal, sob o impulso de sua própria
tração, e, dêsse modo, retê-lo. A ação de reter, entretanto, se
acrescenta, na maioria dos casos, a de perfurar, sob o efeito
de um movimento brusco da mão do pescador, que se propaga
atravez da linha. Esta dupla série de ações possibilita uma
dupla classificação do anzol: entre os utensílios e armas que
agem por pressão e os que agem por percussão. Na América
do Sul se conhece, além dos anzois de matéria vegetal (espi-
nhos, etc), anzois de conchas, de osso e de pedra. Os anzois
de pedra que conhecemos, são lascados bifacialmente e acura-
damente trabalhados.

-Por percussão:

d 137 Picão . (Pie).


Ferramenta de pedra, de osso, de madeira ou de chi-
fre, de forma alongada, ponteaguda, comportando ao menos
três faces que formam um triédro, às vêzes quatro. A inter-
secção, teàricamente puntiforme, das faces forma a ponta do
picão. Na realidade, como o picão é destinado ao trabalho por
percussão e como uma ponta aguda não resistiria ao choque,
esta "ponta" é sempre representada por uma pequena super-
fície. Os picões de pedra são feitos de bloco, ou lascados ou
então polidos, mas nunca são feitos de lasca, pois seriam mui-
to frágeis. É uma ferramenta para trabalhar a terra. Nun-
ca foi descrita na América do Sul. Bordes (1961) o define co-
mo "uma variedade de biface, muito alongado e, quando típi-
co, de secção espessa, mais ou menos quadrangular, às vêzes
triédrica". (Est. VII , n. 0 6).
d 138 - Pontas de lança. ( Pointes de lance) .
Agrupa-se sob o têrmo geral de pontas de lança,
pontas bifaciais geralmente foliáceas, muito grandes para se-
rem consideradas como pontas de armas de arremêsso e mui-
to simétricas para serem consideradas como facas-pontas.
Nenhum critério permite distinguir pequenas pontas de
lança de grandes pontas de armas de arremêsso. Sàmente a co-
locação em gráfico, de grandes séries, permitiria determinar
a continuidade ou a descontinuidade dos dois tipos de pon-
tas.
Seria mais fácil distinguir as pontas de lança, das fa-

78
cas-pontas, pelo exame à lupa binocular das marcas de uti-
lização e dos sinais de encabamento.

- Por percussão lançada.


d 139- Armadura. (Armature).
Em tecnologia dá-se êsse nome a um conjunto de
peças destinadas a consolidar ou a reforçar uma ferramenta
ou uma máquina. Na terminologia prehistórica, uma arma-
dura de pedra é, tanto uma lasca pontuda, quanto uma pe-
quena ponta bifacial fixadas a uma haste. O conjunto consti-
tuiria por exemplo, uma flecha, uma zagaia, um arpão, uma
lança.
Pequenas lascas irregulares inseridas em série, ao longo
de hastes de madeira, podem ter constituido armas poderosas
cujos tipos são difíceis de serem reconstituidos, a partir sã-
mente dessas armaduras. As pontas de flecha e as de arpões
são armaduras de flechas ou de arpões.
d 140 - Pontas bifaciais de armas de arremêsso. (Pointes
bifaces de jet).
Não há solução de continuidade definida, entre os
grandes bifaces amigdaloides, as facas e pontas ovais ou fo-
liáceas bifaciais as pontas de lança e, finalmente, as pontas
foliáceas das armas de arremêsso, se bem que seja claramente
evidente, tratar-se de ferramentas e de armas bem distintas.
As características comuns a essas séries são de ordem técnica
e morfológica: são lascados bifacialmente e têm uma forma
em amêndoa ou em folha. Do ponto de vista funcional, que
é aquêle que nos interessa nesta parte do glossário, distingue-
se bem claramente três grupos diferentes, entre essas ferra-
mentas e armas:
os bifaces, que são provàvelmente ferramentas poli-
valentes, de dimensões grandes ou médias (ver d
123) ;
as facas de pontas, que podem ser assimétricas com
um gume lateral bem definido. São ferramentas que
serviram para cortar e que poderiam ser encabadas
ou não. (ver d 134) ;
as pontas de lança e pontas de armas de arremêsso,
que são tipicamente simétricas com dois gumes la-
terais separados por uma ponta mediana. Essas pon-

79
tas foram sempre encabadas e seriam utilizadas, se-
ja por percussão, como é o caso das pontas de lança,
seja por percussão lançada como é o caso das pontas
de armas de arremêsso (flechas ou zagaias). As prin-
cipais armaduras de flechas conhecidas na América
do Sul são, além das pontas foliáceas, as pontas com
canelura que apresentam um adelgaçamento duplo
na base, em forma de canelura; as pontas de base
côncava; as pontas pedunculadas; as pontas pedun-
culadas com aletas. (Est. IX).
Existem também na Europa, pontas feitas de lasca, que
serviram para armar flechas, zagaias, etc. Não conhecemos,
entretanto, êsse tipo na América do Sul.

4
2

5 6

ESTAMPA IX. - Pontas bifaciais: 1 e 2 - Pontas foliaceas: a - parte do en -


cabamento ; b - parte ativa; 3 - Ponta com canelura; 4 - Ponta pedunculadn;
5 - Ponta com pedúnculo e aletas; 6 - Ponta com base côncava.

d 141 - Armadura ou cabeça de arpão. ( ArmaturP ou tête


de harpon).
A cabeça ou armadura de pedra ou de osso. A de
um arpão apresenta no mínimo uma saliência lateral, desti-
nada a se enganchar na carne da presa. A maior parte das

80
armaduras de arpões prehistóricos que chegaram até nós, são
de osso, material que é mais resistente do que a pedra, que-
brando-se menos fàcilmente.

d - Lascar
Bater, quebrar, martelar
Atingir, derrubar
(Objetos globulosos; o contacto se faz, teàricamen-
te, por uma superfície e às vêzes por uma linha ou
uma ponta).

- Por pressão:
d 142 Compressor ou retocador. (Compresseur ou
retouchoir) .
São assim chamados os objetos de madeira, de os-
so ou de pedra com os quais se retoca a pedra, por pressão. Os
compressores de pedra podem ser seixos, ou fragmentos quais-
quer. Um compressor pode ser utilizado em trabalhos de aca-
bamento de um objeto de pedra lascada, ou para reavivar um
gume.

- Por percussão:
Na categoria de percutores, entram todas as ferramentas
cuja função é dar golpes para afundar, esmagar ou lascar. A
parte contundente pode ser uma superfície ou uma aresta.
O percutor pode ser encabado ou não. Os diferentes tipos
nunca foram objeto de um estudo aprofundado. Os têrmos
mais utilizados e melhor definidos são:
d 143 - Pedms ou seixos utilizados como percutores. (Pier-
r es ou galets utilisés com me percuteurs) .
São simplesmente seguros com a mão, sem prepa-
ro anterior. A parte ativa, aresta ou, mais comumente, uma
superfície é reconhecível pelas marcas de golpes e esmaga-
mentos . Os seixos utilizados como percutores têm geralmente,
formas regulares, oblongas, ovoides, etc.
d 144 - Percutores de arestas. (Percuteurs sur arêtes).
São pedras lascadas, de formas poliédricas diversas,
cujas arestas apresentam pequenos esmagamentos. Os per-
cutores de arestas são geralmente núcleos ou ferramentas de

81
bloco, re-utilizadas para esta finalidade suplementar. Podem,
também, ter sido especialmente fabricados. Teriam sido segu-
ros pela mão, em diversas posições, de modo que várias ares-
tas, diferentemente orientadas, mostram traços de utilização.

d 145 - Martelos. (Marteaux).


O têrmo é geralmente empregado de maneira vaga.
Parece-nos , entretanto, que êle poderia ser reservado aos pe-
quenos percutores encabados, de pedra lascada ou polida, des-
tinados a esmagar, afundar, enfim, martelar.

d 146 - Massas . (Massues).


O têrmo é igualmente mal definido. Parece-nos que
êle poderia ser aplicado aos grandes percutores encabados, de
pedra lascada ou polida, destinados a esmagar, matar, acha-
tar. Conhece-se na América do Sul diversos tipos de massas de
pedra polida como, por exemplo, a argola.

- Por percussão lançada:


d 147 - Pedras e seixos utilizados como armas de arremêsso.
(Pierres et galets utilisés comme armes de jet).
Não importa que pedra ou que seixo teriam sido
utilizados como armas de arremêsso para o ataque e para a
defesa, desde que suas dimensões fôssem tais que permitis-
sem seu fácil manejo. Êles não apresentam marcas particula-
res de uso e só poderão ser definidos em condições muito es-
peciais (por exemplo, o acúmulo artificial de tais projéteis
em um ponto estratégico) .

d 148 - Bala de funda (Balle de fonde).


São pequenos esteróides naturais ou feitos de argila
sêca, utilizados para armar as fundas.

d 149 - Virote. (Virote).


São assim chamados os objetos de pedra polida, com
um corpo longo, regular, bicônico lastrado na parte posterior
por uma larga excrescência circular. No Paraná, segundo
observadores, nos tempos históricos, os virotes eram lançados
em direção às pinhas, que eram uma importante fonte de ali-
mentos, para fazer cair os pinhões.

82
- Bola (ver d 164).
e - Esmagar, pulverizar, moer;
Esfregar, polir.
(Objetos globulosos e de superfícies lisas ; o contacto
se dá por uma superfície) .
A distinção entre esta rubrica e a precedente (d- Bater,
quebrar) é mais de grau de intensidade, do que de natureza,
e é mais por razões práticas do que lógicas que nós as separa-
mos, atualmente, em dois grupos. Nota-se, na realidade, que é
possível dispor-se, em uma série progressiva, as diferentes
ações analisadas nos dois grupos :
fragmentação grosseira: massa, percutores diversos,
retocador, etc;
fragmentação mais fina, pulverização, polimento:
mão de pilão, mão de mó, seixos utilizados para polir,
etc.
- Há uma grande confusão na nomenclatura dos obje-
tos destinados a pulverizar, moer, polir, etc. Uma das con-
fusões mais frequentes é a de classificar, entre os objetos de
pedra polida, aquêles objetos que apresentam faces polidas
em decorrência do uso, sem diferenciar o polimento resultante
de uma técnica de fabricação.
Para tentar esclarecer um pouco a nomenclatura dos ob-
jetos destinados a pulverizar, moer, polir, pode-se distinguir,
de um lado, os utensílios cuja função é transformar a própria
massa da matéria a ser trabalhada, esmagando-a, estilhaçan-
do-a, pulverizando-a, e de outro lado, os utensílios para trans-
formar somente a superfície da matéria a ser trabahada, por
atrito.
Os utensílios da primeira série comportam tôda uma par-
te complementar passiva sôbre a qual é colocada a matéria a
ser trabalhada: a mão da mó não é concebível sem a mó, a mão
do pilão, sem o pilão, etc. Essas partes complementares serão
estudadas mais adiante.
Os utensílios da segunda série podem desempenhar um
papel ativo se êles forem aplicados e acionados sôbre a matéria
a ser trabalhada (como os seixos que servem para alisar os
potes de cerâmica), ou um papel passivo, se a matéria a ser
trabalhada é acionada sôbre êles (lâminas de machado que

83
são movimentadas sôbre um polidor). Êsses utensílios passi-
vos serão estudados mais adiante.

- Por pressão :
d 150 - Seixos utilizados para esfregar, polir ou moer .
( Galets utilisés pour frotter, polir ou moudre) .
São seixos não trabalhados, nos quais uma ou vá-
rias superfícies são polidas pelo uso. É impossível, sem um
estudo profundo das marcas de uso, saber se êsses seixos te-
riam servido para polir (por exemplo a superfície de uma ce-
râmica) , ou para moer e esmagar um material mole (por
exemplo, grãos). Atualmente, não é possível dar nenhum cri-
tério preciso que permita discriminar-se essas duas possibili-
dades. Somente o estudo do contexto (existência de cerâmi-
ca, do consumo de cereais, etc) e um estudo das superfícies
polidas, feito a lupa binocular, permitirão o estabelecimento
de distinções entre os utensílios e respectivas hipóteses. Pro-
visoriamente, tais utensílios podem ser chamados de "seixos
de superfície polida pelo uso". A superfície polida e as mar-
cas do polimento devem ser localizadas e descritas.
d 151 - Mão de mó. (Main de meule) .
É o objeto ativo complementar da mó. É constitui-
da por uma pedra de secção arredondada, freqüentemente ci-
líndrica, acionada circularmente, a mão, sôbre a parte passi-
va. Se a forma da pedra é natural, não trabalhada, não se
deve identifica-la como mão de mó, mas sim como seixo uti-
lizado (d 150). As formas mais freqüentes na América do Sul
são alongadas e cilíndricas. As faces utilizadas correspondem
a uma ou várias faces longitudinais ou à totalidade do perí-
metro do cilindro. Elas são fabricadas por picoteamento. Ser-
viriam, principalmente, para moer o milho. O trabalho de es-
magamento se efetua por movimentos circulares e laterais e
por uma seqüencia de pressões e pequenas percussões, entre
as quais , as pressões são mais importantes.

- Por percussão:

d 152 - Mão de pilão . (Main de pilon ) .


Na América do Sul, a mão de pilão é um objeto de
pedra, de madeira ou outro material, cilíndrico e alongado ,
ma11ejado verticalmente para esmagar ou pulverizar, grãos,

84
frutos, peixe, carne. É fabricada por picoteamento ou poli-
mento. As partes ativas são as duas ou uma só extremidades.
O trabalho se efetua por pressões e percussões múltiplas, sen-
do as percussões mais importantes. Longas mãos de pilão, ci-
líndricas, de pedra, finamente polidas, foram encontradas
em diversas partes da América do Sul.

II - Objetos passivos . Suportes, recipientes, ornamentos, etc .

a - ServiT de suporte, servir de apóio.


(Objetos complementares dos utensílios analisa-
dos em I d e I e, que apresentam uma superfí-
cie destinada a receber ou servir de base de per-
cussão ou fricção ao material a ser trabalhado).

d 153 - Bigoma. (Enclume)


Pedra cuja parte útil é constituída por uma face mais
ou menos plana, onde é apoiado o material destinado a ser ba-
tido, quebrado, por meio de um percutor (seixo utilizado, mar-
telo, etc). Trata-se, geralmente, de um bloco de forma natural,
não trabalhado, sendo que o uso é detectado pelas marcas de
golpes impressas na sua face plana. Uma bigorna dormente é
constituida pela superfície de uma rocha utilizada "in situ".

d 154 - Quebra-coquinhos
Seixo ou pedra (algumas vêzes madeira ou osso de
baleia) que apresenta uma ou várias depressões de 15 a 30
mm de diâmetro, situadas em uma ou em duas faces opostas.
Supõem-se que estas pedras teriam servido de suporte, sôbre
os quais eram quebradas as sementes de certas palmeiras. As
mãos correspondentes deveriam ser quaisquer seixos utili-
zados como percutores e são mal identificados. Os quebra-co-
quinhos são muito comuns nos sambaquis do Brasil Meridia-
na.!.

d 155 - Pilão (Pilan) .


Na América do Sul é um recipiente de pedra (ou de
madeira) escavado por picoteamento, algumas vêzes polido,
parte complementar de uma mão de pilão. A matéria a ser
trabalhada (pimentas, frutos, peixe, carne, grãos), era colo-
cada na cavidade e esmagada por percussões e pressões.

85
d 156 -Almofariz. (Mortier).
A mesma definição que pilão. As dimensões são me-
nores.
d 157 - Mó. (Meule).
Pedra cuja parte útil é constituída por uma super-
fície plana ou então ligeiramente côncava em virtude do uso.
É parte complementar da mão de mó . A matéria a ser traba-
lhada (cereais, etc) era colocada sôbre essa superfície e esma-
gada por pressões e pequenas percussões. A mó dormente é
constituída pela superfície de uma rocha, utilizada "in situ".
d 158 - Aguçador. ( Aiguisoir).
Seixo ou bloco de rocha escolhido por suas quali-
dades físicas particulares e sôbre o qual é esfregado o gume
ou a ponta a ser aguçada (lâmina polida de machado, fura-
dor de osso, etc) . As marcas de uso são visíveis como pequenas
facetas planas.
d 159 - Polidor. ( Polissoir) .
Bloco de rocha, escolhido por suas qualidades físi-
cas particulares (arenito, basalto, etc), sempre muito maior
do que o objeto ou a parte do objeto a ser polida. As superfícies
gastas vão se aprofundando, pouco a pouco, em formas va-
riadas: inicialmente planas ou ligeiramente côncavas, elas
podem adquirir formas imprecisas com proporções maiores,
em negativo, dos objetos que nela foram polidos. O polimento
das faces de uma lâmina de machado formará depressões
ovais, o de um gume deixará longos sulcos de secção trian-
gular, etc. (Est. X, n.o 5 e 7).
Freqüentemente a própria rocha que aflora serviu como
polidor, recebendo, nesse caso, o nome de "polidor dormente".
Sôbre certos afloramentos rochosos pode-se observar nume-
rosas depressões de polimento, umas largas e ovais, outras
alongadas, de secção triangular. Neste caso, trata-se de um
verdadeiro atelier de polimento de lâminas de machado, onde
foram fabricadas as lâminas e suas faces e gume, polidos.

b - Conter:
Inclui-se nesta categoria, os recipientes de pedra que não
são complementares de utensílios de ação mecânica, como foi
o caso da série precedente.

86
d 160 - Recipientes e vasos de pedra. ( Récipients et v ases
de pierre) .
Eles só podem ser distinguidos dos pilões e almofari-
zes através do estudo das marcas de uso. Um recipiente que
serviu só para guardar líquidos e sólidos, como por exemplo
farinhas, corantes, etc, não mostrará marcas de uso, a não
ser ligeiras diferenças de coloração entre a parte que esteve
em contacto com o conteúdo e a que não esteve : vestígios de
matéria orgânica, corante, etc.
d 161 - Zoólitos . ( Zoolithes) .
São assim chamadas as pedras esculpidas em forma
animal. É muito comum apresentarem, na composição da
forma, uma disposição cruciforme. Um eixo é constituido pela
cabeça e pela cauda e o outro eixo, pelas asas na representação
de uma ave, as nadeiras em uma representação de peixe, etc.
Uma grande depressão é escavada na face ventral. Ignora-se
completamente o uso dos zoólitos cuja área de repartição se
estende desde o Rio de Janeiro até o Rio de la Plata (Est. X ,
n .0 6) .

c - Lastrar:
Os objetos desta sene não têm formas definidas, pois a
ação depende, não da forma, mas do pêso do objeto. Contrà-
riamente, a fixação é importante e a parte de preensão, ou
de ligação é nitidamente definida. Nesta série, conhecemos,
na América do Sul, os pêsos de rede , os pêsos de bastões de
cavar e as bolas
d 162 - Pesos de rede . ( Poids de filet) .
Conhecem-se seixos que não possuem outra marca de
trabalho além de entalhes (2 , 3 ou 4) praticados ao longo do
perímetro de um círculo de pequeno diâmetro da pedra es-
colhida, entalhe êsse que retém o filamento , que liga o pêso à
rede. (Est. X, n .o 1) .
d 163 - Pesos de bastões de cavar . ( Poids de batons à jouir).
Conhecem-se numerosas pedras, aproximadamente
circulares que apresentam uma grande perfuração central
através da qual passaria o bastão de cavar. A pedra perfurada
teria por função lastrar o bastão para que penetrasse mais
profundamente na terra, a cada golpe. (Est. X, n.o 8).

87
2

. . ..... •····· ··-.........


{5
8"
9 ·· .. .. . ,./~ .

11

ESTAMPA X. - O bjetos diversos: 1 - P esos de rede com quatr o entalh es; 2 -


Bola com sulco; 3 - Bola com m últiplas escrescências; 4 - Tem betá; 5 - P o lid or ;
6 - Zoólito em forma d e ave ; 7 - Polidor (pode ter servido para polir osso); 8 -
Peso de bastão d e cavar ; 9 - Dis co perfur ado (Bras il Merid ional ); 10 - Placa
per f urada (Bras il Meridional) ; 11 - T embeta; 12 - Lâ mina d e machado semi-lunar

d 164 - Bolas.
Bola de pedra picoteada ou polida de forma tipi-
camente esférica, mas podendo apresentar variantes (ovoi-
des, etc ), que apresenta ou n ão, um sulco equatorial. As
bolas são utilizadas como arma de arrem êsso para a caça aos

88
cervídeos, guanacos, etc. (Est. X, n.o 2 e 3). As bolas utili-
zadas nos tempos históricos para capturar os animais do-
mésticos não deviam tocar as pernas dos animais, pois as que-
brariam. Não constituem pois, uma arma por si mesmas, mas
um objeto que servia para lastrar e um elemento constituinte
da boleadeira (conjunto de bolas e couros). Eis o motivo de
sua classificação como objeto que serve para lastrar. As bo-
las prehistóricas , eram certamente utilizadas como élrmas.

d - Adornar:
Diversos objetos de pedra polida teriam sido orna-
mentos. Na América do Sul conhecemos os tembetás, as péro-
las e as placas perfuradas.

d 165 - Tembetá.
São ornamentos labiais análogos aos que os indios
usavam na época da descoberta e que alguns usam até hoje.
No Brasil meridional conhecem-se tembetás de pedra polida
verde, de formas arredondadas, bi-cônicas, que correspondem
à parte externa do ornamento labial. Pode ter havido uma
parte interna, de madeira, na qual êle se adaptava. (Est. X ,
n. 0 4 e 11).

d 166 - Pérolas. (Perles).


Existem pérolas cilíndricas de pedra macia, pro-
venientes de sepulturas.

d 167 - Placas perfuradas. (Plaques perforées).


São placas de pedra polida, com um ou dois furos
e que se supõem terem servido para adornos . (Est. X, n.o 10) .

III - Uso desconhecido

O uso de muitos objetos de pedra não pôde ser esclareci-


do. Entre êles pode-se citar em particular, provenientes do
Brasil meridional, pontas de pedra polida, de formas diver-
sas {plano-convexas, fusiformes, etc) ainda em curso de es-
tudo.
Quase tôdas as regiões apresentam objetos enigmáticos.

89
d 168 - D i scos p erfurados . (D i sques perforés).
Discos de 5 a 8 cm de diâmetro, sendo alguns de os-
so e outros de pedra; foram encontrados nos sambaquis do
Brasil meridional. O polimento é muito fino. A perfuração
central é cilíndrica e tem alguns mm de diâmetro. (Est. X ,
n.0 9) .

90
SEGUNDA PARTE

QUADROS ANALíTICOS E CóDIGO DE UTILIZAÇAO

I - Princípios gerais:
Nesta segunda parte, propomos, de maneira sumária um
método de análise da indústria lítica. ~ste método está sen-
do estudado desde 1963, mas sua estruturação não está termi-
nada e nós apresentamos aqui, somente os pontos já bastante
esclarecidos. Uma exposição mais completa, si bem que as-
suntos dêste gênero não podem jamais ser considerados co-
mo definitivos, será feita, mais tarde, em uma publicação
mais detalhada.
O emprêgo do método proposto é independente das defi-
nições dadas na primeira parte, sendo possível utilizar as de-
finições sem que seja obrigatório o emprêgo dos quadros ana-
líticos : o inverso, entretanto não é aconselhável, pois os qua-
dros perdem todo seu valor se as definições dadas não fôrem
rigorosamente mantidas, ou então, se outras definições não
fôrem estabelecidas e respeitadas.
A - As diferentes etapas da análise tipológica:
A análise consiste em colocar em evidência os traços es-
senciais dos objetos estudados, isto é, aquêles cuja combina-
ção permitirá, em seguida, a definição dos tipos e sub-tipos.
A análise é composta de duas etapas: inicialmente, uma clas-
sificação sumária dos objetos e em seguida, a análise dos
principais traços característicos que êles apresentam. Esta
análise pode ser feita, tanto por meio de quadros semelhan-
tes aos modêlos aqui propostos, quanto por meio de fichas.
Depois da análise, deverá ser executada uma operação inversa,
de síntese: reagrupamento dos traços analisados permitindo a
definição de tipos e sub-tipos; reagrupamento de tipos e sub-ti-
pos de modo a definir uma cultura, etc. A operação de síntese
é bastante facilitada pelo uso de fichas perfuradas. Não será
exposta neste trabalho.

91
Primeira operação. Classificação sumária dos objetos.
Esta operação consiste em separar um lote de peças ( 1) a
ser estudado, que corresponde a um só setor de uma só ca-
mada, ou, em certos casos, ao conjunto de setores de uma ca-
mada, em grandes grupos cujas respectivas técnicas de fabri-
cação são muito diferentes entre si para serem estudados em
um mesmo quadro.
O lote será dividido inicialmente em :
I Pedra não lascada nem polida: matéria prima (blocos,
seixos, fragmentos diversos que não se ajustam as cate-
gorias seguintes), pedras utilizadas, minerais corantes;
II Pedra picoteada e pedra polida;
III Pedra lascada.
Até êste ponto, não há dificuldades e o mais inexperien-
te dos principiantes, após algumas horas de observação e de
estudo, poderá executar, sem esforço, esta classificação rudi-
mentar. Nos três lotes assim separados, devem ser introduzi-
das subdivisões que, algumas vezes , exige já um treinamento.
O primeiro lote, que agrupa tôdas as pedras que não sofre-
ram nenhum trabalho, nem de polimento, nem de lascamen-
to, será dividido em:
1- Blocos, seixos ou fragmentos brutos sôbre os quais não
são visíveis sinais de uso e nem de trabalho rudimentar
de amaneiramento (matéria prima, pedras trazidas ca-
sualmente para o local, etc.);
2 - Blocos, seixos ou fragmentos que mostram marcas de
uso, mas não de fabricação (como, por exemplo, seixos
que serviram para polir) . Incluímos nesta série, certas
pedras que foram vagamente ajeitadas (entalhes de pe-
sos de rede, por exemplo), sem que, entretanto, possam
entrar em uma das categorias seguintes;
3 - Minerais corantes, utilizados ou não (seixos de ocre ,
fragmentos de matéria corante mostrando marcas de
raspagem , etc) .
Quanto ao segundo lote , o das pedras picoteadas e poli-
das, é necessário cuidar-se para não incluir seixos que mos-
( 1) É evid ente qu e antes elo inicio dos estu dos, tôclas as peças são numeradas.

92
tram marcas de polimento ou de picoteamento resultantes da
utilização, e não da fabricação. Êstes, como já vimos, perten-
cem ao primeiro lote.
O terceiro lote compreende todos os objetos de pedra las-
cada, divididos em:
1 - os objetos constituídos de uma massa inicial da qual
foram retiradas uma ou mais lascas a fim de se lhes dar
uma forma adequada. Núcleos. Indústria de bloco ou de
núcleo.
2 - os objetos obtidos pela debitagem de uma massa inicial.
Lascas diversas . Indústria de lasca.
Algumas vêzes, pode ser difícil distinguir fragmentos de
núcleos, utensílios de bloco, detritos resultantes dos lascamen-
tos, fragmentos de matéria prima. De modo geral, pode-se fa-
zer entrar na categoria dos fragmentos ou dos detritos de pe-
dra lascada (1 ou 2) todos os fragmentos nos quais é nitida-
mente visível um trabalho intencional (lascamentos com fra-
turas conchoidais, superfícies descorticadas, etc), sendo que
serão considerados como fragmentos de pedras não trabalha-
das, os blocos sem marcas de lascamentos, os seixos simples-
mente quebrados, etc.
Esta primeira classificação rudimentar deve, portanto ,
conduzir à separação de três lotes, com as respectivas sub-
divisões , no total da coleção a ser estudada, como segue:
I - Pedra não trabalhada :
1 Matéria prima bruta e pedras diversas.
2 Pedra utilizada.
3 Minerais corantes, utilizados ou não.
II - Pedra picoteada, pedra polida, pedra pkoteada e
polida.
III - Pedra lascada :
1 1'1:assa inicial preparada: núcleos, indústria de bloco.
2 Produtos retirados de uma massa inicial: lascas, indús-
tria de lascas.
Em alguns casos, dever-se-á separar também um quarto
lote constituído por pedras lascadas e ao mesmo tempo po-
lidas, muito frequentes nos sambaquis do Brasil m eridional.

93
O estudo dêsse grupo se fará segundo os mesmos princ1p10s
estabelecidos para as categorias precedentes, de modo que
não será necessário repetí-los.
Se a coleção estudada for muito vasta, pode-se também,
para cada categoria, reagrupar os objetos por tipo cuja carac-
terização seja evidente: aproximar, por exemplo, os raspadores
dos raspadores, separando-os das pontas ou dos furadores,
colocar juntas as formas foliáceas; agrupar as bolas de sul-
co periférico, separando-as das bolas sem sulco, etc. O estu-
do será facilitado, mas essa divisão não é indispensável; os
objetos duvidosos podem ser simplesmente estudados um após
o outro, seguindo a ordem de sua numeração.
Esta primeira operação se materializa sôbre a mesa, pelo
agrupamento de objetos diferentes quanto à técnica de fabri-
cação e eventualmente subdivididos quanto à utilização ou
forma. Essa primeira operação deve ser relatada sob forma
de uma descrição rápida, de tipo sintético, dando uma pri-
meira idéia geral da indústria estudada.

Segunda operação. Análise dos objetos.


A análise consiste em anotar as características signifi-
cativas de cada objeto, dos lotes a serem estudados, seja nas
colunas de um quadro analítico correspondente à sua catego-
ria técnica, seja em fichas (uma para cada objeto estudado).
O princípio básico é de distinguir com o maior rigor possível
os característicos significativos das peças referentes à matéria
prima, à fabricação, à forma, ao uso e ao seu ~stado. A
análise independente dessas séries de características permiti-
rá, no momento da síntese, o estabelecimento de tipos de ob-
jetos, em função da fabricação, da forma ou do uso e possi-
bilitará o estudo das relações entre as características técnicas,
morfológicas e funcionais dos diferentes tipos.

B - Estrutura geral dos quadros analíticos


Os quadros analíticos, qualquer que seja a categoria téc-
nica a que se referem, são constituídos de acôrdo com um
mesmo plano e cada um comporta oito séries de dados funda-
mentais. Cada série é chamada rubrica e as subdivisões de ca-
da rubrica, correspondem a colunas. A disposição pode se or-
ganizar de maneira análoga se uma ficha é utilizada para ca-
da objeto em lugar de quadros agrupando vários objetos.

94
A primeira rubrica comporta informações exteriores ao
objeto estudado (circunstâncias da escavação e dos estudos,
número do objeto). É idêntica, para todos os quadros analíticos
a segunda rubrica estuda a matéria, a côr do objeto, as
sim como a massa inicial a partir da qual êle foi fabricado .
É idêntica para todos os quadros analíticos.

A t erceira rubrica se refere à fabricação do objeto estu-


dado e às técnicas de fabricação que permitiram enquadrá-lo
nas grandes categorias do parágrafo precedente (pedra não
lascada, nem polida; pedra picoteada ou polida ; pedra lasca-
da ) . É a rubrica que apresenta maior diversidade entre os di-
ferentes quadros. Entre um seixo bruto, um machado polido
e uma lasca retocada em furador, por exemplo, as técnicas de
fabricação são muito diferentes e não podem ser definidas se-
gundo os mesmos critérios. As sub-divisões em colunas, são
entretanto, estabelecidas segundo um mesmo plano para cada
quadro e compreendem, de um lado, a localização das partes
analisadas e de outro lado, a descrição dessas partes. A des-
crição é disposta em um número variável de colunas nume-
radas que são preenchidas segundo a categoria técnica do ob-
jeto estudado.
A quaTta rub?"ica diz respeito à morfologia do objeto es-
tudado. Em todos os quadros é subdividida em dimensões, cro-
quis e forma. O preenchimento dessas colunas se faz segundo
os mesmos princípios em todos os quadros analíticos .
A quinta rubrica se refere à utilização do objeto estuda-
do. A despeito da diversidade dos usos, o estudo da utilização
em todos os quadros consistem em: localizar as partes utiliza-
das ou utilizáveis ; descrever essas partes; observar as marcas
de uso ; formular uma hipótese sôbre as possibilidades de uso.
A sext a r u brica consiste na descrição do estado da rocha e
da peça no momento em que foi encontrada. íl:ste estado de-
pende t anto da u tilização como das condições do depósito em
que ela permaneceu depois de ter sido perdida ou abandona-
da. O preenchimento é idêntico em todos os quadros.
Finalmente, todos os quadros analíticos terminam por
duas rúbricas não subdivididas.
A sétima r u brica é reservada às observações; a oitava ru-
brica, denominada tipo, deverá ser preenchida no momento
da an álise, com o nome de um tipo sob o qual, provisóriamen-

95
te, o objeto será classificado (êsses tipos universais são defi-
nidos no glossário) . Sob êsse tipo provisório, deixar-se-á um
espaço em branco para o definitivo, que surgirá após a síntese
final, feita a partir dos quadros analíticos.
A estrutura geral dos quadros analíticos pode ser repre-
sentada esquemàticamente do seguinte modo:
Circunstâncias

N .•
Da escavação

Matéria Fabricação
Da análise

Morfologia
Da síntese

Ut1Jlzação Estado Observações Tipo


I
prima

As rubricas concernentes às circunstâncias, matéria pri-


ma, estado, observações e tipo são preenchidas do mesmo mo-
do em todos os quadros. Seu estudo detalhado é objeto do
parágrafo C.
As rubricas concernentes à morfologia e utilização dife-
rem um pouco de um quadro a outro. Seu estudo detalhado
é feito nos parágrafos D e E.
A rubrica referente à fabricação é a que apresenta maio-
res diferenças entre os diversos quadros. Seu estudo é feito
separadamente, para cada quadro analítico, nos parágrafos
liA, IIB, IIC e IID.

C - Rubricas e códigos comuns a todos os quadros .


Circunstâncias. Matéria prima. Estado. Observações.
Tipo .

Primeira rubrica: Circunstâncias :


Coloca-se no alto, à esquerda, as principais informações
sôbre as circunstâncias em que se desenrolou a escavação (no-
me do responsável, local, sítio, camada e setor, data); no al-
to, no centro, as informações concernentes à análise tipoló-
gica (nome do pesquisador que efetua o estudo, data e local
dêsse estudo, código utilizado, o qual, no ca~o dos quadros
propostos nêste trabalho é o código 1967); finalmente, no al-
to, à direita os dados referentes aos trabalhos de síntese, sen-
do que esta parte ficará em branco durante a fase analítica
(nome do pesquisador que realiza a síntese, data e local e
método utilizado) . Esta última informação, bem como a data

96
do código adotado para a análise, são muito importantes, pois
outros estudos foram realizados utilizando-se um código um
pouco diferente , datado de 1965, e é provável que graças à ex-
periência e às sugestões de terceiros, possamos chegar a obter
um código mais aprimorado em 1969 ou 1970.
Anota-se o número do objeto estudado na primeira co-
luna.

Segunda rubrica: Matéria prima:


Começa-se en t ão o estudo do objeto e na parte destinada
à matéria prima coloca-se as informações referentes à :
a - Rocha: identificação mineralógica da peça. Quando
o pesquisador n ão possui a formação necessária para realizar
essa identific ação pode estabelecer para cada coleção estuda-
da, uma série de tôdas as rochas representadas e dar a cada
uma assim selecionada, um número (silex: 1, obsidiana: 2,
quartzito : 3, etc) . Esta série, grosseiramente identificada, ser-
virá como série de referência e para cada objeto, ao invez de
colocar sílex, obsidiana, quartzito, etc, indicar-se-á 1, 2, 3, etc.
Mais tarde, a série poderá ser identificada e as correções trans-
portadas ao quadro analítico.
Se a iden t ificação j á estiver pronta, cada pesquisador
estabelece seu próprio sistema de abreviações (por exemplo:
sílex - si, oosidiana - ob, etc) .
b - Côr: Nem sempre é necessário indicar a côr compre-
cisão, entretanto, em certos casos, ela pode dar informações
interessantes (caso de pedras corantes, de uma côr preferida
para certos ornamentos). Ora, a apreciação de uma côr varia
com o observador, com a luz, etc . Para que seja possível uma
certa obj etividade na sua descrição, deve-se usar um código
de côres. Sugerimos o código "Boubée expolaire", de dimen-
sões pequenas e cômodas, de fácil manejo, mas que tem o
grande inconveniente de não incluir os azuis nem os verdes.
Qualquer que seja o código utilizado é indispensável indicá-lo,
por exemplo, no alto, à direita, ao lado da indicação "código
1967". Pode-se também criar seu próprio código de côres, pin-
tando sôbre um papel, uma série das principais côres que
constam na coleção e indicando-as por uma letra ou um nú-
mero . À S vêzes é útil anotar a côr do interior da rocha (i) e
a côr do córtex (c) .

97
c - Massa inicial: Sempre que possível, anota-se nessa co-
luna de que massa inicial provém o objeto: bloco, seixo, pla-
queta, bastonete, etc. (Glossário: d 7, 8, 9, 10, 11, 12, 13).
Pode-se anotar:
Os tipos mais frequentes definidos no glossário são:
Bloco de rocha: B1
Seixos: Sx
Plaqueta: Pl
Bastonete: Ba
Lasca: La
Esta lista pode ser aumentada com o aparecimento de
novos tipos.
Sexta rubrica : Estado do objeto:
Esta rubrica se divide em duas colunas:
a - Estado físico-químico: Nesta coluna, anota-se a pre-
sença ou ausência de pátina, sua intensidade e extensão, os
traços de decomposição química, marcas devidas a frio in-
tenso, ao fogo , brilho ocasionado pelo vento, manchas, etc .
(Glossário: d 3, 4, 5, 6).
Estado físico-químico:
Pode-se anotar:
Pátina (sôbre uma superfície lascada ou polida) : p
Cortex: c
Alteração química: alt
Marcas de fogo (rachaduras) : fg
Marcas devido a frio intenso (depressões) : fr
Brilho resultante do vento: vt
acrescentando-se a cada um dêsses símbolos uma, duas ou
três cruzes indica-se a maior incidência do fenômeno obser-
vado ( +, + +, + + +). Esta lista pode também ser aumentada
se necessário.
b - Estado da peça: Anota-se nesta coluna se a peça es-
tá intacta, com o bordo acidentalmente desbeiçado, quebrada,
ou se é somente um fragmento (d 56, d 57).
Uma peça intacta será indicada por: int.
Um, dois ou três dentes: 1, 2, 3 dt

98
Uma peça quebrada: qb
Um fragmento de peça: frag
Também esta lista pode ser aumentada.
Definimos como sendo um dente tôda quebradura aci-
dental afetando menos que 1/ 10 de um bordo do artefato.
Uma peça quebrada será uma peça que sofreu um lasca-
menta acidental que afetou menos da metade da sua totali-
dade. A parte que saiu em consequência dêsse lascamento
constitue um fragmento (que é portanto, por definição, me-
nor do que a metade da peça).

Sétima rubrica: Observações:


Nesta coluna anota-se tudo o que não foi previsto nas de-
mais: re-utilização, acidentes diversos, tratamento, repara-
ções, comparação com outras peças, etc. Pode-se mesmo, even-
tualmente, relembrar alguns dados históricos ou informações
atuais sôbre a técnica; citar estudo ou reprodução de um ob-
jeto comparável, etc. É aqui também que se deve indicar se
a peça foi encontrada em associação com uma habitação, com
outros objetos, etc; indicar também o trecho correspondente
do diário de escavações.

Oitava rúbrica: Tipo:


Nesta coluna poderá ser anotado o tipo geral ao qual
pertence o objeto e que foi determinado provisàriamente, mas
deixar-se-á um espaço em branço no qual, após a dAtermina-
ção dos tipos e sub-tipos da coleção, estes serão indicados de-
finitivamente . Os tipos gerais a serem inicialmente indicados
devem corresponder, de uma maneira geral, àqueles definidos
no glossário. Na mesma coluna indica-se por um F dentro de
um círculo vermelho se a peça foi ou deve ser fotografada
e por um D igualmente dentro de um círculo vermelho se foi
feito um desenho especial, fora do quadro.
Não há códigc para as colunas Observações e Tipo, pois
em Observações anota-se justamente o que não foi previsto e
em Tipo, por extenso ou abreviadamente a qual dos tipos fun-
damentais e gerais pertence a peça estudada. Em caso de in-
certeza, não se deve deixar a coluna em branco, mas colocar
um ponto de interrogação.

99
Recapitulação das rubricas comuns a todos 10s quadros
Circunstâncias, Matéria prima, Estado, Observações, Tipo
Código correspondente:

Escavação : Análise: Síntese:


Responsável: Data: Pesquisador:
Data: Labora tório: Data:
Local : Código usado: Labora tório:
Camada e setor: Sistema utilizado:
Pesquisador:

Matéria prima
N .o
Rocha Côr

Segundo Código
Massa inicial

Bl
Estado
Fisico.quimico Peça

P + int
Ob servações Tipo
I
Sx c ++ 1, 2, 3 sem Por
código ln- indivi- Pl alt +++ dt
Ba fg qb código extenso
dlvidual dual
La fr frag
vt

D - Princípios comuns a todos os quadros. A morfologia


As rubricas explicadas no parágrafo precedente, são pre-
enchidas segundo um mesmo código, qualquer que seja a ca-
tegoria técnica do objeto estudado. Para o estudo da morfo-
logia e da utilização, encontramo-nos de um lado, perante prin-
cípios comuns às diferentes categorias técnicas distintas e de
outro lado, traços que são especiais para cada categoria e
que devem ser estudados diferentemente. Daremos, inicialmen-
te, os princípios comuns e depois, nos parágrafos consagrados
a cada quadro analítico, as indicações necessárias à análise
dos traços particulares de cada categoria.
Sob a rubrica Morfologia são estudados sucessivamente
os problemas de orientação, de representação, das dimensões,
das formas, das divisões em partes.

Orientação e representação.
Para descrever um objeto, é necessário, de inicio, que êste
seja orientado, dividido em várias partes e que cada uma des-
sas partes seja fàcilmente reconhecível. É necessário que o de-
senho que acompanha a análise seja feito sempre segundo um
mesmo princípio. Êsse princípio varia segundo os autôres e
muitas vêzes, encontramos variações nas diferentes publica-
ções de um mesmo autor. A orientação pode ser feita em fun-
ção da forma geométrica (orientando, por exemplo, o maior
eixo sempre verticalmente) , ou em função da fabricação ( por
exemplo, orientando sempre para cima o plano de percus-

100
são de uma lasca), ou em função da utilização (por exem-
plo, orientando sempre para baixo, o gume de uma ferra-
menta) . Cada um dêsses princípios tem seu valor, mas não
podem ser adotados simultâneamente, pois o plano de percus-
são e o gume não têm sempre a mesma posição em relação
ao eixo longitudinal, e nem mesmo em relação um com o
outro.
Em nossos quadros analíticos, adotamos a orientação em
função da forma geométrica pois é a única que é aplicável a
qualquer objeto. Em todos os croquis dos quadros, as peças
são orientadas com o eixo maior em posição vertical. Somen-
te certas peças fixas, como um almofariz ou um polidor, quais-
quer que sejam suas proporções, são orientados na posição em
que eram naturalmente colocados e utilizados.
A parte mais larga da peça estudada corresponderá à par-
te inferior do desenho e a mais estreita ou a ponta correspon-
derão à superior. A face mais plana será apoiada sôbre a mesa,
sendo que a face convexa corresponderá, portanto, a uma face
superior.
A peça, uma vez orientada, deverá ser represe:ntada. O
croquis deve ser feito com grande cuidado. É graças a êle que
o restante da análise será inteligível e passível de ser contro-
lado. Em princípio, para cada objeto (com exceção de certos
fragmentos e detritos sem interêsse) dar-se-á um desenho e
dois cortes: o desenho da peça vista perpendicularmente ao
seu plano principal e os dois cortes perpendiculares a êsse
plano, um longitudinal e outro transversal. Com o progredir
do estudo, certos sinais convencionais serão acrescentados (in-
dicando, por exemplo, os trabalhos secundários ou as marcas
de uso) e é necessário sempre, prever um espaço suficiente pa-
ra que os três desenhos sejam claros.
É difícil sistematizar rigorosamente a representação de
um objeto, mas em regra geral:
o obj eto é colocado sôbre a mesa, repousando sôbre sua
face mais plana e se as faces forem simétricas, sôbre a
sua face menos interessante. A face superior é desenha-
da com seus principais lascamentos. Se ela apresenta cór-
tex, êste é representado por um pontilhado;
os dois outros croquis são cortes, passando pelo interior
da peça estudada, sendo que somente o contôrno é repre-

101
sentado. Não é, entretanto, contra-indicado completar ês-
ses cortes pela representação do aspecto real do utensílio
visto segundo um plano longitudinal ou transversal ( co-
mo na figura 1) ;
em caso de necessidade, croquis complementares podem
figurar na rubrica Observações.

FIGURA 1. - Croquis de u ma ponta bifacia l com pe -


dúnculo e aletas. Plano principal, corte longitudinal e
corte transversal.

Dimensões :
Pode-se, tanto tomar as dimensões em valores absolutos
indicando o comprimento, a largura e a espessura da peça,
quanto medi-la com o auxílio do ábaco (quadro I) o qual
fornece o valor absoluto em cm. do comprimento e as relações
largura/ comprimento e espessura/ comprimento. Obtém-se as-
sim, diretamente, uma idéia do aspecto geral da peça, se ela
é longa ou curta, delgada ou espessa e pode-se compará-la com
outras peças medidas pelo mesmo sistema.
O ábaco é constituido por uma série de retângu!os de tô-
das as dimensões de 1 a 20 cm de lado. Todos os retângulos
que têm a mesma diagonal, têm as mesmas proporções.
O ábaco é utilizado da seguinte maneira : coloca-se a peça
sôbre o mesmo, com seu eixo longitudinal paralelo à ordenada,
tendo-se o cuidado de notar que nenhum ponto ultrapasse os
limites do ábaco, mas que a -peça toque, pelo menos em um

102
27
I
'' I
I
I I I I
I '
I
I I I I
I I I
26 I I I I I I
I
I I
I I I I I
I
I I I I I
25 I
I I I I I I
I I
24 I I I I I I I
I I I I I
I I I
23 I I I I I I I
I I I I I I
I I I
22 I I I I I I I
I I I I I /
I I
I I I I
21 I I I I I
I I I I I
I I I I I I
I I I I /
20 I
I I
I I I I I I /
I
/
I I I I
19
I I I
I I I I I
I
I
I
I
I
/
/

I I I I I I I / /
18 I I I I
/ /

I I I I I I
I
/
/
I I I I I I
17 I I I
I I I I I /
/

I I I
I h I g, I g, / f e I d I c / b / 8 /
16

15
I I I I I / /
14 I I 7 7 I I I I / 1/
13
I 7 7 7 l 7 17 / /
12
I 7 17 I 1/ I I / I/
11
I 1/ I 17 I I I I/ / I

10
; I I I I I I 7 1/
9
I IT7 lT7 7 7 1 7 [7 7
I 7 l7 1/ I 11/ I/
, j I. I I - ; I 77
8

7117 7 1/ /1 I/ r7
7

5
I I I li 1///
I

~I f17 f7; v~ f7
/; I«v
4
III1
3

2
Ifi/ [0 v
íf4 ~
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16

QUADRO I. - Ába co para a m edida das dimensões e das proporções .

103
ponto, a linha das ordenadas, e em um ponto, a das abcissas.
A peça, dêste modo, está inscrita em um retângulo e são as
proporções dêsse retângulo que serão consideradas equivalen-
t es às da peça em questão.
Anot a-se o comprimento da peça diretamente sôbre a or-
denada, arredondando-se para o cm inferior ou superior: 5, 2
e 5, 4 serão anotados como 5; 5,7 será 6. Observa-se, em se-
guida, a relação entre largura e comprimento localizando-se o
retângulo em que está inscrita a peça. Todos os retângulos
cuja diagonal está compreendida entre a primeira e a segunda
diagonal traçadas no ábaco a partir da direita, têm uma re-
lação 1/ c compreendida entre 16/ 16 e 14/ 16, relação essa de-
signada pela letra a. Por convenção, se a diagonal procurada
cair exatamente sôbre uma das diagonais limites, arredonda-
se para a relação inferior, isto é 14/ 16 que será, então, anota-
da como b. Todos os retângulos (e tôdas as peças inscritas
nêsses retângulos) cuja diagonal é compreendida entre a se-
gunda e a terceira diagonal do ábaco têm uma relação 1/ c
entre 14/ 16 e 12,116 designada pela letra b. A relação 12/ 16
será considerada como c e assim sucessivamente.
A medida da espessura é feita da mesma maneira, giran-
do-se a peça e procurando a qual dos retângulos corresponde
a relação espessura - comprimento. A leitura é feita da mesma
maneira e o resultado, expresso por uma letra. Para a medida
das espessuras é recomendado utilizar-se uma prancheta ou
um esquadro com o qual o objeto é mantido na posição (2).
Dêste modo, a leitura das dimensões de uma peça que te-
nha 6,2 x 4,7 x 1,3 será feita da seguinte maneira: 6 b g 1; a de
uma peça de 10 cm x 5 x 4 será lida 10 de.
Ràpidamente, compreende-se diretamente do enunciado
das medidas de uma peça, se ela é larga ou estreita, espêssa ou
delgada, e o sistema permite a reclassificação rápida das pe-
ças por categoria de comprimento, de largura e espessura, e
estabelecer gráficos de freqüência.
A única dificuldade está no fato que, para as peças irre-
gulares, é difícil escolher-se o "eixo longitudinal", mas esta di-
ficuldade não é decorrente do uso do ábaco, existe já quan-

(2 ) U m pequeno apa r elho compo rta ndo dois lados fi xos, em âng ulo reta, corres-
pon dendo á abc issa e à ordena da e duas reg uinhas móveis permitindo !e-
cl1ar o retâ n gulo no qua l a peça fica inscrita . es tá em estudo .

104
do se trata de obter as medidas absolutas do objeto. Para con-
trabalançar, na medida do possível esta dificuldade, recomen-
da-se representar o objeto, no croquis, na mesma posição em
que foi medido.
O ábaco pode ser utilizado para a medida de qualquer ca-
tegoria de objetos. Somente os fragmentos e as peças quebra-
das serão medidos em valores absolutos, pois a proporção de
dimensões incompletas não têm nenhuma significação. (1) .

Formas :
Como as dimensões, as formas podem ser descritas de
duas maneiras: utilizando o vocabulário geométrico usual ;
utilizando um quadro de formas, baseado no estudo dos eixos
de simetria (Quadro II) . Os dois sistemas podem ser empre-
gados simultâneamente e os dois resultados, anotados no qua-
dro analítico.

Formas geométricas .

Anota-se sucessivamente a forma do objeto como um to-


do e depois, para uma análise fina, a forma dos três planos
principais, com um vocabulário geométrico mais simples pos-
sível.
Para as formas totais ou volumes, os principai.s têrmos
da literatura arqueológica são: piramidal, bi-piramidal, em
dorso de tartaruga, em cunha ou cuneiforme, tabular, côni-
co, poliédrico, cilíndrico, globuloso, discoide, prismático, in-
forme , etc. Para as formas especiais de determinadas indús-
trias, pode-se aumentar a lista, seja forjando novos têrmos,
seja estabelecendo formas-tipo designadas, cada uma, por um
número ou letra: forma A, forma B ou forma 1, 2, etc.
Quando se trata de definir um plano, as formas são mais
simples e mais fáceis de serem manipuladas. Encontra-se na
( 1) Exemplo de como se deve medir uma peça quebrada , cujas dimensões, quan-
d o Intacta. eram , por exemplo , 6 x 4 x 2.
Se o comprimento for incompleto, escrever -se -à:
X + 3,5 X 4 X 2 OU (X 3,5) X 4 X 2 +
Se a largura for Incompleta, escrever -se-à:
6 X X -J- 2 ou 6 X (X 2,5) X 2 +
Se a es pessura for incom pleta , escrever-se-á:
6 X 4 X X -t- 1 OU 6 X 4 X (X -t- 1 )
Em um fragmento nem sempre é possível determinar o que corresponderia ao
comprimento, à largura ou à espessura.

105
literatura arqueológica : circular, oval, quadrangular, trian-
gular, quadrado, retângular, oblongo, foliáceo, amigdalóide,
plano-convexo, bi-convexo, etc. A literatura emprega, comu-
mente, uma terminologia para descrever o plano principal e
outra para as secções. É necessário, na medida do possível,
unificar os dois vocabulários.
As formas, raramente são figuras geométricas perfeitas.
Indicamos a tendência a uma determinada forma por uma
fl echa , ou anotamos os qualificativos : regular, muito regular,
irr egular, muito irregulaT, de modo que para cada forma te-
nhamos 5 graus de aproximação da forma perfeita.
Por exemplo: triangular muito regular
triangular regular
triangular
triangular irregular
triangular muito irregular

Quadro de simet1"ia. ( Quadro II) .


A terminologia clássica, empregada na descrição das for-
mas dos objetos de pedra, é frequentemente muito pouco sa-
tisfatória. Tentamos, portanto, construir um quadro de for-
mas no qual possam entrar tôdas as formas encontradas.
Após múltiplos ensaios chegamos a uma classificação das for-
mas, baseada essencialmente no número e no tipo dos eixos
de simetria.
Esta classificação, simplesmente em esboço, foi mantida
porque, segundo nosso julgamento, pode se articular com uma
classificação das indústrias em função das atividades humanas.
Com efeito, a um dado sistema de simetria, correspondem
certas possibilidades de ação sôbre a matéria e vice-versa. Foi
portanto o único modo de classificar que permitiu a corres-
pondência entre os dados morfológicos ou geométricos e os
dados relativos ao uso. Essas correspondências estão sendo es-
tudadas.
Os três croquis (plano principal, corte longitudinal e
transversal) da coluna precedente serão classificados em fun-
ção da existência de um ou mais eixos de simetria e em fun-
ção da natureza dêsses eixos. Êsses eixos correspondem, quase
sempre a planos de simetria do objeto considerado em seu to-
do, mas desistimos de falar em têrmos de volume pois sua re-

106
presentação gráfica, rápida, é impossível. É provável que o
estudo dos planos de simetria dos objetos corresponda mais
profundamente à realidade técnica estudada, mas nós recua-
mos diante da dificuldade material que sua manipulação ofe-
rece.

8
,.
Coe ..

r c o cd r c~

Q UADRO II . - An á lise d as fo rmas em fun ção d os e ixos d e s imetria.

As formas mais comuns da indústria lítica foram dividi-


das nas seguintes categorias:
as formas que não apresentam nenhum eixo de sime-
tria (O) . É a categoria representada mais frequentemen-

107
te nas indústrias mais rudes de pedra lascada. Contrària-
mente, é pouco ou não é representada nas indústrias de
pedra picoteada e polida;
as formas que apresentam um eixo de simetria (I). Esse
eixo pode:
passar duas vêzes pela intersecção de dois lados (I i);
ser perpendicular a dois lados (I p) ;
passar pela intersecção de dois lados e ser perpendi-
cular a um terceiro (I ip).
as formas que apresentam dois eixos de simetria (II);
êsses eixos por sua vez podem :
passar, cada um, duas vêzes pela intersecção de dois
lados (II i);
ser, cada um, perpendicular a dois lados (II p);
ser um, perpendicular a dois lados e o outro, passar
duas vêzes pela intersecção de dois lados (I i I p).
Sistemas mais complexos podem ser imaginados, mas na
prática, tôdas as formas conhecidas de indústria lítica entram
em uma ou outra dessas categorias, com exceção dos esterói-
des: as bolas, por exemplo, que possuem n eixos de simetria.
O número e o tipo de eixos de simetria são completados
pelo número (2, 3, 4, 5, n) e pelo tipo (retilíneo, convexo,
côncavo, irregular) dos lados.
Analisar-se-á a forma de cada um dos três planos que
foram desenhados para cada objeto estudado, dando-se, ini-
cialmente o número e a natureza dos eixos de simetria e de-
pois, o número e a natureza dos lados.
Uma ponta de flecha foliácea, regular, será descrita por
exemplo:
I 2 co I i co co
I 2 co ou I co co
I i I p 2 co I i I p co co
Enquanto o pesquisador não estiver familiarizado com o
sistema e antes que êste tenha sido plenamente aprovado, é
aconselhável o emprêgo dos adjetivos geométricos que definam
a forma do objeto de um modo global e de cada um dos pla-
nos, como foi indicado acima.

108
Essas diferentes notações serão dispostas na coluna "For-
mas" umas sôbre as outras e sempre na mesma ordem :
1 Volume geral em têrmos geométricos ;
2 - Forma do plano principal ;
3 - Forma da secção longitudinal ;
4 - Forma da secção transversal.

Divisões do objeto e localização das partes :


Depois da peça ter sido orientada, desenhada, m edida e
definidas as suas formas, é necessário ainda destacar suas di-
ferentes partes, individualizá-las e descrevê-las.
Nesta altura, encontramo-nos face a uma das maiores
dificuldades apresentadas por êstes quadros analíticos, so-
bretudo para a pedra lascada, mas também, em m enor escala,
para a pedra polida, pois a distinção das partes de um objeto
depende do ponto de vista segundo o qual são consideradas.
Em uma lâmina de machado, polida, por exemplo, pode-se
distinguir morfologicamente duas faces principais; os bor-
dos; os lados; do ponto de vista da fabricação, as distinções se-
rão marcadas entre as partes simplesmente marteladas, da-
quelas que foram mais ou menos finamente elaboradas ; pode··
se também ter que evidenciar partes , nas quais, ao contrário,
o córtex foi deixado em bruto, entalhes, sulcos, etc; finalmen-
te do ponto de vista da utilização, será necessário distinguir
entre a parte ativa e a que serviu para o encabamento ou a
preensão e eventuais descontinuidades, irregularidades, et c.
As partes assim diferenciadas, segundo êsses três pontos de
vista, nunca se recobrem perfeitamente mas se superpõem de
maneira livre e irregular.
O pesquisador pode ser , então, obrigado a decompor o ob-
jeto segundo dois ou três aspectos (fabricação e utilização ou
forma, fabricação e utilização). Pode-se, e é o que inicialmen-
te fizemos nos códigos dos anos anteriores, dividir a peça em
segmentos distintos segundo sua fabricação ou sua utilização.
Êsses segmentos eram anotados no croquis e numerados
a, b, c ou 1, 2, 3 sendo em seguida estudados individual-
mente . A inconveniência é que os segmentos assim diferen-
ciados se situam em lugares diferentes e variados, de modo
que os resultados das análises de dois objetos, não podem ser
comparadas entre si. O fato do segmento a de uma peça x t er
retoques bifaciais, enquanto que o segmento a' de uma peça

109
x ' semelhante à primeira, mostrar retoques internos, não tem
significação, pois ignoramos a posição dêsses segmentos a e a'
em relação ao eixo da peça, ao seu eixo de debitagem , ou a
não importa qu e parte comparável. O ponto essencial é que
haja um sistema de referências, que seja fixo.
Para estabelecer êsse sistema de referências, a maneira
mais simples de proceder é basear-se na orientação do cro-
quis (que é determinada por regras precisas) , mencionar alto
e baixo, direit:l e esquerda , face superior e face inferior. Essas
divisões são, entretanto, excessivamente simples e não ofer e-
cem grande firmeza na sua localização.
Pode-se , também , adotar um quadriculado feito sóbre o
objeto, idêntico para tódas as peças móveis (os vasos , almo-
far izes , etc , exigem um outro tratamento). Nós adotamos o
quadriculado proposto por Michel Brézillon que nos parece
suficiente para o grau de fineza de descrição ao qual seria
conveniente chegar.
'f

3
B

5 6

FIGURA 2. -~ Quadriculado de u1n c roquis para loca li ~ação


das diferentes partes .

O retângulo no qual é inscrita a peça, é dividido em 6


casas, cujos lados são numerados segundo o esquema da fig .
2. Os segmentos de bordo, incluídos em cada casa, levam
o m esmo número que a casa. Se o segmento de bordo ou o
bordo que se deseja descrever, ocupar duas casas, será desig-
nado pelas duas cifras correspondentes; se ocupar três casas ,
pelas três cifras correspondentes. No caso da fig. 2, pode-se

110
falar, por exemplo, do segmento de bordo 3 ou 1, 7, 2, etc. As
faces são chamadas A (a face que foi desenhada) e B (a que
não foi desenhada). Pode-se falar de A e de B; se se deseja fa-
lar de uma parte de A ou de B diz-se A 3 , A4, B 5 8 , etc. Por
convenção, admite-se que a fórmula 3 A designa o bordo da
face A e que a fórmula A 3 designa a porção da face A contida
na casa correspondente.
O sistema, quando se trata de um objeto de duas faces
principais, possui a grande vantagem de ser simples. Quando
se trata de um poliédro, o mesmo sistema de referência é mais
difícil de ser utilizado, mas não encontramos outro melhor pa-
ra substituí-lo.
Dêste modo, após a análise morfológica do objeto e após
terem sido feitos os croquis, traçamos na superfície do croquis
principal, um quadriculado leve que nos servirá para locali-
zar, no prosseguimento da análise, tanto os fatos relativos à
utilização como os relativos à fabricação.

Outros princípios de análise morfológica comuns a


todos os quadros
Terminamos o estudo do mecanismo de análise da forma
geral do objeto, que é feito sob a rubrica Morfologia em três
colunas : Dimensões, Croquis e Forma. Nas rubricas Utiliza-
ção e Fabricação, teremos também que descrever certas par-
tes do objeto estudado. Esta descrição se faz segundo certos
princípios que expomos a seguir:
Um certo número de descrições é feito em têrmos de com-
primentos, de ângulos e de formas.
Os comprimentos serão sempre dados em cm e mm. Para
as medidas, pode-se empregar uma régua graduada, um com-
passo ou qualquer outro instrumento para medir. É bom dis-
por-se sempre instrumentos sôbre a mesa.
Os ângulos são sempre medidos em graus. Para medi-los,
pode-se recortar em folha rígida (papelão, por exemplo) o pe-
queno aparelho representado na fig. 3 cujo uso é extrema-
mente prático.
Para a descrição das formas, adotamos as seguintes re-
gras:
Para um volume : ver o que foi dito sôbre a descrição da
peça como um todo.

111
Para uma superfície: a descrição deve comportar três ad-
jetivos:

iO 90

60 70

-40 50

FIGURA 3. - Medidor de ângulo


atualmente utlllzado para o estudo
das Indústrias líticas da Patagôni-
c". A disposição dos â n gulos pode
ser mudada em função das ne-
cessidades.

O primerio se relaciona ao plano principal; é um ad-


jetivo que designa geometricamente, uma superfície.
Damos, a título de exemplo, o quadro de formas pro-
posto por A. Leroi-Gourhan (1966) (fig. 4). A cada

112
forma pode ser acrescentada a série de adjetivos in-
dicada nas p. 105 e 106.

~
- 11 16

17
t- - - - ~

12 24
,a 18
"'
7
2

3
8 + 13

~
19
25

--
20
14
9
4
21

22
5 10 15

FIGURA 4. - Quadro de formas proposto por A. Leroi-Gourhan: 1 - Triângulo


Isóscele; 2 - Tr. equilátero; 3 - Tr. com cantos arredondados; 4 - Tr. conve-
xllineo; 5 - Tr. concavllineo; 6 - Quadrado; 7 - Q. com cantos cortados; 8 -
P. com cantos arredondados; 9 - Q. convex!lineo; 10 - Q . concav!Jineo; 11 -
Retángulo; 12 - Paralelogramo; 13 - Losanbo; 14 - Trapézio; 15 - Pentágono..
etc; 16 - Biconvexo; 17 - Plano-convexo; 18 - Convexo-côncavo; 19 - Dissimé-
trico; 20 - Helicoidal; 21 - Com bordos côncavos; 22 - Com bordos cortados;
23 - Circular e semi-circular; 24 - Elíptico; 25 - Ovóide ; 26 - Bllobado; 27 - -
Trilobado; 28 - Quadrllobado.

O segundo se relaciona à curvatura medida segundo


o eixo longitudinal. A superfície pode ser plana, con-
vexa, concava, ondulada, etc. A cada uma dessas pos-
sibilidades, pode-se também acrescer uma, duas ou
três cruzes C+,++, +++ ).
O terceiro se relaciona à curvatura segundo um pla-
no perpendicular ao precedente. As duas curvaturas
não são necessàriamente idênticas. Por exemplo, pa-
ra a superfície superior de uma taça anotar-se-á:
circular, ca, ca
mas a superfície superior de uma telha será anotada:
retângular, pla, co

113
A curvatura no sentido transversal será analisada segun-
do os mesmos têrmos que a curvatura no sentido longitudi-
nal.
Para uma linha: - (Bordo, aresta, fio de um gume)
Formada pela intersecção de duas faces, a descrição com-
portará:
a forma segundo o plano principal (retilínea, convexa,
côncava, serrilhada, sinuosa, etc) ;
a curvatura segundo um plano perpendicular ao primei-
ro, com os mesmos qualificativos;
o valor do ângulo formado pela intersecção das duas fa-
ces, medido na região média do bordo ou da aresta es-
tudada. Se as variações de ângulo são importantes de
uma extremidade à outra, pode-se anotar essa variação
pelas duas medidas extremas (por exemplo 400-600).
Finalmente a essas três determinações, pode ser acres-
centada a série de adjetivos que se referem à regularidade;
ao valor em graus, do ângulo, pode ser adicionado um adje-
tivo indicando se êsse ângulo é vivo, atenuado ou arredondado.

Recapitulação da rubrica morfológica.


4 . Morfologia

Dimensões Croquis Formas

u-
C x 1 x e cm Têrmos geométricos
7. para os volumes:
ou ---r--~~-+-------------

C em cm
1 segundo relação __2__W-~~
3 ~ 2.
'r B A
~~r~;f~~
Discoide , etc
1/C
e segundo relação 5 l ~t--6--- --- Têrmos geométricos pa-
e/ C --t--=""'"'TW:::.__t----~~- ra cada um dos 3 cro-
B qms:
Circular,
B
I Ovoide
Quadrado, etc .
e
Mr
r
irr
M irr

114
E - Princípios comuns a todos os quadros . A utilização.
A rubrica utilização se divide, em todos os quadros, em
4 colunas: localização, descrição, marcas, possibilidades. Na
primeira, destaca-se as diferentes partes do objeto, do ponto
de vista da utilização. Na segunda coluna descreve-se as par-
tes; na terceira, analisa-se as marcas de utilização de cada
uma dessas partes e na quarta, formula-se uma hipótese sô-
bre a função do objeto e a utilização das diferentes partes.

Localização:

Procura-se distinguir no objeto, a parte ativa, daquela


que teria sido destinada à preensão, a ligaduras, encabamen-
to ou base de apôio. Designamos a parte ativa, não importa
qual seja seu tipo (gume, superfície, etc) por At. e a parte de
preensão, qualquer que seja ela por Pre. Na maior parte dos
casos, entre a parte ativa e a de preensão, existe uma zona
neutra que dá ao objeto sua forma, seu peso, delimita o gume,
etc; chamamos a essa parte Zn (1).
Os limites entre as diferentes partes são anotados no
croquis por meio de pequenos traços perpendiculares aos con-
tornos. Pode-se, quando isso se torna necessário, e quando ca-
da uma dessas partes são descontínuas ou se subdividem em
várias zonas, distinguir entre At. 1, At. 2, Pre 1, Pre 2, Zn 1,
Zn 2, etc. Na medida do possível deve-se simplificar e distin-
guir sàmente as partes essenciais (Pre e At) do objeto, mas
cada parte que mostrar marcas ou possibilidades particulares
de uso, será anotada individualmente, por uma designação
(garganta, sulco, entalhe, etc), e pela localização (A 2, B3, 4).
As descontinuidades poderão, eventualmente, ser anota-
das por um d.
As partes diferenciadas são anotadas, uma sob a outra,
na coluna localização, começando sempre por Pre e suas sub-
divisões, continuando com At e suas subdivisões e eventual-

(1) A ferramenta e a arma são intermediários entre um a gente (o homem) e


·um objetivo (uma matéria a ser transformada, uma prêsa a ser atingida) .
Este intermediário compreende, no m lnimo, uma parte de preensão (Pre) que
estabelece a sua liga ção com o agente, e uma parte atlva ( At) que entra em
contacto com o alvo a ser atingido ou com a matéria que r eceb erá a ação.
Entre Pre e At pode haver uma zona neutra que não entra em contacto nem
com o agente, n em com o objetivo em vista. Em alguns casos raros, por
exemplo bala de funda , Pre e At se superpõem.

115
mente por Zn. Depois, na frente de cada uma é anotada sua
localização em relação ao quadriculado do croquis. Escrever-
se-á, por exemplo:
Pre 3 1 7 2 4 AB
At 8 AB
Zn 5 6 AB

Descrição:
Esta coluna será inteiramente preenchida sàmente nos
casos em que se deseje efetuar uma análise fina do objeto.
Em regra geral, a divisão em partes e a localização dessas par-
tes são suficientes para uma análise comum, pois a forma de
cada uma dessas partes já foi dada glovalmente na rubrica
morfologia. Sàmente o gume ou a parte ativa nos parece me-
recer, na maior parte dos casos, uma descrição especial.
O princípio é anotar a descrição na mesma linha que a
parte e sua localização.
Para um volume: ver a descrição da peça como um todo.
Para uma superfície: anota-se a forma do plano principal;
sua curvatura no sentido longitudinal;
- sua curvatura no sentido transversal.
A cada um dêsses têrmos, pode-se acrescentar um adje-
tivo que indique a regularidade ou a intensidade (de uma cur-
vatura) ou ambas.
Para uma linha (um gume): anota-se a forma ou a curvatura
no plano principal:
a forma ou a curvatura em um plano perpendicular
ao primeiro;
o ângulo e sua qualidade.
Aqui também, a cada um dêsses têrmos, pode-se acres-
centar um ou dois adjetivos sôbre a intensidade ou regulari-
dade.
E impossível, nêste guia, analisar todos os casos possíveis.
Cada pesquisador completará estas indicações por sua pró-
pria experiência utilizando os princípios gerais e as definições
dadas nos parágrafos precedentes, tendo o cuidado de anotar
rigorosamente as convenções que estabelecer.

116
Marcas:
No estudo da utilização é necessano destacar com cla-
reza o que é visível, do que seria hipotético. As observações são
anotadas na coluna Marcas e as hipóteses, na coluna Possibi-
lidades .
Na coluna Marcas, na frente de cada uma das partes di-
ferenciadas são anotadas as marcas de uso correspondentes.
É necessário ter sempre presente que elas são, em quase to-
dos os casos, difíceis de serem observadas e que tôda obser-
vação acurada deve ser feita à lupa binocular. Entretanto, já
a ôlho nú, algumas observações interessantes podem ser feitas.
As indicações que damos aqui são muito incompletas e o
código deverá ser aumentado à medida que o estudo progride.
Para cada marca, anota-se sucessivamente:
1 sua natureza (estrias, gasto, etc)
2 sua disposição ou direção, ou sua fineza e côr
3 sua intensidade.

Natureza:
As principais marcas que pudemos notar sôbre objetos
líticos são :
estrias: visíveis à lupa ou a ôlho nú. É necessário indicar
se são paralelas entre si e sua direção em relação ao ei-
xo do objeto. Pode-se também anotar a profundidade, o
comprimento, sua secção, etc.
dentes
gasto (arredondamento dos gumes)
picoteamento. É necessário indicar se é fino ou grosseiro
arranhaduras (em facetas, depressões, etc).
um brilho (d 4) que pode ser observado sôbre a parte de
preensão de objetos manipulados durante muito tempo,
ou então, sôbre a parte ativa de objetos que teriam ser-
vido para trabalhar a terra, cortar hastes de cereais, etc.
traços de resina ou qualquer outro material usado no en-
cabamento.
diferenças de coloração.
Esta lista não é exaustiva e deverá ser completada pelos
pesquisadores. Se não houver marcas, é necessário indicá-lo
por um traço. O objeto pode não ter sido usado por vários mo-
tivos.

117
Nosso código atual é ainda muito pobre. Utilizamos sobre-
tudo :
estrias (es) com os adjetivos: paralelas (par); longitudi-
nais (long); transversais (trans) ou obliquas (obl), sem-
pre em relação ao eixo longitudinal;
gasto (ga) que talvez seja necessário diferenciar de poli-
mento (pol) ;
arranhaduras (arr);
picoteamento (pie);
brilho (bri);
traços (tra) para indicar vestígios de resina ou de um
material orgânico qualquer, ainda não analisado;

Possibilidades:
Esta coluna é a das hipóteses. Em face de cada uma das
partes diferenciadas e das marcas que ela mostra, pode-se
indicar por um verbo ou por qualquer outra expressão, qual
a idéia sôbre o uso da peça, por exemplo: cortar, raspar, furar,
etc, agindo sôbre material mole, fibroso, duro, etc, para as
partes ativas; seguro pela mão, encabado, atado, etc, para as
partes de preensão .
Recapitulação da rubrica Utilização
5. Utilização
Localização Descrição das Marcas de Possibilidades
I das partes partes utilização de utilização

Pre
encabamento
At co ret 30° agudo bri <++> cortar
Zn

Nêste ponto da análise, falta sàmente a rubrica Fabri-


cação que será estudada separadamente para cada tipo de
fabricação e o quadro se apresenta do seguinte modo:
Escavação Análise Síntese
Nome e data : Nome e data : Nome e data :
Local : Local : Local:
Sítio : Código : Processo :
Camada e setor:
I I
J Matéria prima Fabri- l Morfologia I Utilização Estado
N.Or Ro Côr 1M. i. caçao
-
Obser- •
Dim 1Croq 1For ' Loc Desc Mar 1 Pos R 1 P vaçoes
- Tipo

I ·11l I I I I I
118
II - Indicações particulares e analise da fabricação .

A - Matéria prima bruta, pedras utilizadas, mineral corante.


O traço significativo que distingue essas três séries, das
demais séries de indústrias líticas é a ausência de lascamento,
de picoteamento ou de polimento. Elas deveriam, portanto,
ser estudadas em quadros com a rubrica Fabricação bastante
reduzida ou mesmo substituída por uma outra: "Trabalho ru-
dimentar" ou "Amaneiramento", espaço aliás, que seria rara-
mente utilizado. Entretanto, para limitar o número de qua-
dros a serem impressos ou preparados, pode-se estudar essas
peças na fórmula geral, reagrupando as subdivisões da rubri-
ca Fabricação em duas colunas somente.
Para o preenchimento do quadro, deve-se consultar os
parágrafos I C, I D e I E, completando com as seguintes ob-
servações:

Morfologia:

A morfologia compreenderá, como nos outros casos, três


colunas: dimensões, croquis e formas.

Dimensões :

As dimensões serão dadas por três medidas indicando os


valores absolutos em cm e mm do comprimento, depois da lar-
gura e depois da espessura (C x 1 x e). Pode-se também, se
desejar utilizar o ábaco para medir as relações entre dimen-
sões de pedras lascadas ou polidas. ver p. 102 ss.) . Essas re-
lações, entretanto, não têm grande significado quando se tra-
ta de pedras que não foram nem lascadas, nem utilizadas. Pa-
ra as pedras utilizadas tais relações podem dar um certo ín-
dice de manejabilidade e ter um certo interêsse .

Croquis:

Poderá consistir de um simples desenho da peça vista se-


gundo sua face mais importante, ou, como para os objetos
manufaturados, em um croquis cujo contôrno corresponda ao
plano principal, completado por dois cortes perpendiculares a
êsse plano. O quadriculado será executado como foi explicado
à p . 110.

119
Forma :
Será dada simplesmente por um adjetivo que indique sua
form a geométrica, por exemplo: esférico (esf), piramidal (pir),
ovoide (ov), etc, assim definindo o volume da peça. As peças
que não corresponderem a nenhuma forma geométrica deter-
minável, serão anotadas como informes (inf). Quando uma
peça tende para uma forma geométrica, anota-se essa tendên-
cia por uma flecha. Por exemplo um seixo de aspecto ovoide
pouco regular será anot ado : ->- ov. Frequentemente, ao invez
de definir o volume total é mais fácil defini-lo por meio de 1,
2 ou 3 secções. Elas serão anotadas, então, uma sob a outra,
descrevendo-se, inicialmente, a secção principal e depois a lon-
git udinal e a transversal . Parece-nos inútil para esta série,
empregar-se a noção de simetria e o quadro n .o II.

A maneiramento :
Quando existe algum trabalho de fabricação , êle deve ser
tão rudimentar que impede a classificação do objeto na série
pedra picoteada ou polida ou na pedra lascada. A rubrica Ama-
n eim ment o será dividida em duas colunas : localização e des-
crição.
Na coluna Localização, indica-se o local exato da inter-
ven ção observada, utilizando para isso o quadriculado do cro-
quis.
Na coluna Descrição, indica-se por extenso, a natureza
dêsses sinais observados (entalhe, etc) e se se desejar, sua for-
ma e dimensões.

Indicações especiais para os minerais corantes :


Nesta série entram todos os fragmentos que constituíram,
ou poderiam t er constituído a matéria prima para pintura ou
corantes diversos. Quando ela (hematite, limonita, etc) é
abundante, como nos sambaquis do Brasil meridional, é in-
t eressan t e reservar-lhes um quadro, no qual tôdas as peças
coletadas serão estudadas em série.
Deve-se cuidar especialmente da definição das côres. Além
da definição por meio de um código de côres, ou na sua falta,
pode-se traçar na coluna correspondente, um traço colorido,
servindo-se da rocha estudada como lápis. Obtem-se assim, sô-
bre o quadro, uma bela gama dos pigmentos utilizados por

120
êste ou aquêle grupo. As côres obtidas, por serem sêcas e pou-
co espessas, apresentam-se , geralmente, muito claras.
Geralmente, não há marcas de amaneiramento, mas de
uso. Localizam-se as pa rtes utilizadas por meio do croquis qua-
driculado e anotam-se as marcas observadas: facetas , arra-
nhaduras , depressões, etc.
Finalmente o quadro analítico para a Matéria prima bru-
ta, Pedras utilizadas e Mineral corante apresenta-se .do se-
guinte modo :

B - Pedra p icoteada . Pedra polida. Pedra picoteada e polida .

As duas séries de técnicas são estudadas em um mesmo


quadro, porque é sempre difícil distinguir um polimento gros-
seiro de um picoteamento ou martelamento, e também por-
que o picoteamento e o polimento constituem, na maior par-
t e dos casos, duas fases de fabricação de um utensílio o qual
apresentará, portanto, partes bem polidas e outras nas quais
o picoteamento é ainda visível.
Para o preenchimento do quadro analítico, deve-se con-
sultar os parágrafos I C, I D e I E, completando-os com as se-
guintes observações:

Morfologia :

Dimensões:
Serão dadas pelo ábaco, pode-se também dá-las em me-
didas absolutas, acrescentando também algumas medidas par-
ticularmente significativas como a largura ao nível do gume
por exemplo.

Croquis:

O plano principal e os dois cortes serão sempre represen-


tados, excepto para um objeto esférico para o qual um só cro-
quis é suficiente . A esfericidade perfeita é rara. Quando ne-
cessário, pode-se fazer vários cortes, em diferentes níveis do
plano principal . É indispensável, neste caso, ligar as extremi-
dades de cada corte aos pontos correspondentes do croquis
principal, de modo a situar exatamente cada um deles.

12 1
QUADRO III

MAnRIA PRIMA BRUTA- PEDRA UTILIZADA- MATERIAL CORANTE

CIRCUNSTÂNCIAS

Escavação :
Nome e data : Análise: Síntese

Lugar: Nome e data: Nome e d>ta :


Sítio: Lugar : Lugar :
Camada e selar: Código : Método:

NO
Matéria Prima AMANEIRAMENTO MORFOLOGIA UTILIZAÇÃO ESTADO I TIPO
Form.~~~ Desc. IMarca ~
OBS.
I R. I C. I Mi I Loc. I Descr. I Dim froquisl Possib.

N
N
QUADRO III . - Análise da matéria -prima-bruta. da pedra utilizada e da matéria corante.
Forma:
Serão estudadas como foi indicado na p. 105 e seguintes
mas deve-se atentar particularmente para o estudo dos eixos
de simetria que são especialmente significativos nesta catego-
ria. Com efeito, o picoteamento e o polimento são executados
por um número infinito de pequenas ações que conduzem,
pouco a pouco, à forma desejada. Por correções sucessivas, for-
mas quase perfeitas puderam ser obtidas e é util ec;tudar as
diferentes simetrias que são intencionais e ligadas à função
do objeto. Eixos e planos de simetria revestem uma impor-
tância particular para os.objetos utilizados para percutir, por-
tanto, para todos os utensílios da categoria de machados e
enxós.
As diferentes partes de um objeto de pedra picoteada ou
polida variam muito com o tipo de objeto.
Para uma lâmina de machado ou de enxó, distingue-se
uma face superior e uma face inferior, lados, bordos (ver d 59,
60 , 61) . Examina-se inicialmente, se essas diferentes partes fo-
ram trabalhadas da mesma maneira. Se êsse fôr o caso, a des-
crição é simplificada; do contrário, será necessário destacar
as partes diversamente trabalhadas, e eventualmente repre-
sentá-las no croquis. A distinção entre as partes de uma face
ou de um bordo, ou de um lado, do ponto de vista da fabrica-
ção, será feita por meio do quadriculado do croquis como pre-
cedentemente.
Para outras formas , por exemplo, um metate, será ne-
cessário elaborar um sistema de análise diferente, mas sem-
pre seguindo os mesmos princípios gerais e a mesma ordem.
Na coluna Localização, as partes diferenciadas são anot a-
das umas sôbre as outras, com a notação de sua posição no
croquis.
Na coluna Descrição, descreve-se sucessivamente as super-
fícies e os bordos diferenciados, dando inicialmente a forma
(ver p. 116), depois as dimensões em valôres absolutos.
Na coluna, picoteamento ou polimento, indica-se as mar-
cas de trabalho observado, isto é picoteamento ou polimento.
Vai-se do mais grosseiro ao mais fino :
Pi 1, Pi 2, Pi 3 para o picoteamento ou
Po 1, Po 2, Po 3 para o polimento ou
Lus para o lustro.

123
QUADRO IV

PEDRA POLIDA OU PICOTEADA

CIRCUNSTÂNCIAS

Escavação:
Anális ~ : Síntese
Nome e dat a:
Nome e data : No me e data:
Lugar:
Sítio: Lugar : Lega r:

Ca mada e se tor:

N.o
Matéri.:t Primil

R. c.
I Mi Tecn.
'
FABRICAÇÃO

I I
Pie
Pol. idou
a Descr.
Código:

Lo c.
I MORFOLOG IA

Dim !croquis Fo rm. Lo c.


UT ILIZAÇÃO

Descr ·I Ma r c. l;:ssib.
Mé todc:

E"ADO
R.
I l
P.
OBS.
TIP O

I ~
N
QUADRO IV . - Análise da pedra picoteada ou polida .
QUADRO V

PEDRA POLIDA OU PICOTEADA


CIRCUNSTÂNCIAS
Escavação:
Nome e data: Análise: Síntese
Lugar : Nome e data: Nome e data:
Sítio: lugar: lugar:
Camada e setor: Código: Método:

N.o
Matéria Prima F A BRICAÇ Ã o MOR F O LOGIA
I UTILIZA ç Ã o
I Estado
OBSERVAÇÕES Tipo
R
I Ic. Mi. Técn.
Picot.
ou Pol i.
I Descrição
I localização Di m.
I Croquis
I Forma
I localiz.
I Descrição
I Marcas
I Possib.
I R
I
p

o ? verde ? Po lidor de Po 2 Semilunar e recta - Face A 11 ,6 X I ip Pree: 4 Recta - pi - mt. reg. Encabar - - Quebraduras modernas no l âmina polida
7

:a
grão fino pi.- mt reg. 19,5 X 6 recti-co gume. Estrias modernas nas polida de ma-
fi xo? 19 x 4,5 cm e 7,5 5,5 cm 2,5 cm I 2 faces chado semilu-
nar ou âncora .
Po 2 Idem a face A face B 1 I ,a
Os sulcos separam a parte
semilunar e a de preensão são
Po 3 Ca - recti - mt. reg. Bordo 2.1.3.4.
~ "I I i lp ob~iquas e m relação ao eixo

·0'
110° an. Bordo 4.3.5.6. B A I ~ 2 co longitudinal

I~
3 4 Ati: 7,1,3,5 Co+++-rect.-mt. 4 qb. Cortar
Po 2 Pou co profundo Sulco: 8 reg. - Est. p. ob.
C= 2 cm AB3 70° ate

I i lp
Po 2 Co+++- Recti- m . reg. Gume: 7, 1, 2 co
70 ° ate . 3, 5, 8 5 6
[:) ·- Zn: 6, 3, 4 Ca+ - rect - mt. reg.
Po 1 Recta. - pi. - reg. Canto= 4 8 1' 2 li 0 ° an.
1 x 0,5 cm Inferior
I ip
B 3 recti-co
->-
~
Po li dor de Po 1-2 Recta . - pi. Lado: 4
3rão grosso 5 x 0,7 cm

A
A presença de córtex será indicada no fim da linha, se-
guindo as mesmas convenções usadas para a pedra lascada :
cort: inteiramente cortical ;
cort/ 2: a metade é constituida de córtex ;
c: traços descontínuos de córtex;
cc: traços de córtex mais abundantes, descontínuos;
ccc: traços ainda mais abundantes, descontínuos .
Tôda outra observação que não foi prevista aqui será ano-
tada por extenso ou então definida em fôlha anexa.
Finalmente, da mesma maneira que a coluna Possibilida-
des da rubrica Utilização , a coluna Técnica desta rubrica Fa-
bricação, pode ser preenchida por uma hipótese sôbre o modo
de fabricação (com areia, com um seixo percutor, etc) em
código, por extenso. Ter sempre presente que se trat::~ de uma
hipótese e não da observação de um fato.

C - Pedra lascada . Objetos modelados : núcleos, objetos de


bloco, detritos:
Distinguimos (p. 92) dois grupos de objetos lascados ob-
tidos por técnicas diferentes. No primeiro grupo, a partir de
qualquer massa inicial, modela-se o objeto por meio de lasca-
mentos sucessivos que, pouco a pouco, lhe dão a forma deseja-
da. No segundo grupo, retira-se da massa inicial uma lasca,
cuja face externa foi ou não, previamente, trabalhada, isto é,
quando ainda parte da massa inicial, ou núcleo. A lasca é que
constitue o objeto analisado. Na primeira série , a das pedras
modeladas, classificam-se os núcleos e os objetos de bloco, na
segunda série, as lascas . .
Restará, portanto, de uma coleção assim dividida, prove-
niente de escavações feitas sistemàticamente, um grande lo-
te de detritos diversos que não são nem núcleos, nem uten-
sílios de bloco, nem lascas, e cujo aspecto informe desencoraja,
desde o início, sua análise. Se, apesar da sua aparência infor-
me, êles apresentarem uma face interna nítida e eventual-
mente um bulbo e um plano de percussão, serão estudados no
quadro das lascas, agrupando-os com as lascas mais regulares
e classificáveis, sob o têrmo geral de produtos do preparo (d
49). Se não apresentam nenhuma das características de uma
lasca, serão estudados no quadro dos objetos modelados, sen-
do agrupados sob o têrmo geral de detritos.

12 5
Analisamos, portanto, sucessivamente no quadro dos ob-
jetos modelados, as ferramentas e armas de bloco, os núcleos
e os detritos. A distinção entre êsses três grupos nem sempre
é fácil . De um modo geral, coloca-se entre os núcleos, as for-
mas globulosas, sem marcas de trabalho de retoque e sem
bordos utilizados, e classifica-se entre as ferramentas e armas
de bloco, as formas bifaciais, as formas plano-convexas e todos
os objetos que apresentam bordos retocados ou utilizados. En-
tretanto, certas formas globulosas, são ferramentas autênti-
cas, por exemplo, os percutores de arestas, enquanto que cer-
tos bordos retocados ou utilizados pertencem a núcleos que,
após a debitagem de uma ou várias lascas, foram amaneira-
dos como ferramentas.
Como todos êsses objetos são estudados no mesmo quadro,
será possível após a análise de um certo número entre êles,
de agrupá-los por tipos. Num caso duvidoso ter-se-á tôda van-
tagem de marcar, na coluna Tipo, um simples ponto de inter-
rogação.
Morfologia :
Ver indicações particulares dadas para cada uma das sé-
ries separadamente.
Utilização:
Ver indicações particulares dadas para cada uma das sé-
ries separadamente.
Fabricação:
O princípio geral, como para a pedra polida, consiste em
distinguir as partes principais em função de sua fabricação,
em localiza-las em relação ao croquis orientado, em descrever
suas formas e estudar suas características principais e depois,
eventualmente, de formular uma hipótese sôbre a técnica de
fabricação . A rubrica se dividirá, portanto, em quatro grandes
séries : localização das partes, descrição, marcas de trabalho,
técnica.
A diferenciação e a localização das partes varia, segundo
se trate de um núcleo ou de um utensílio de bloco e é neces-
sário para cada série, consultar as indicações particulares que
lhe dizem respeito.
A descrição das partes se faz seguindo os princípios ge-

126
QUADRO VI

PEDRA LASCADA

CIRCUNSTÂNCIAS

Escavação:
Aná lise : Síntese
Nome e data :
Lugar: Nome e d ata: Nome e d ata :
Sítio: Lugar: Lugar:
Camada e setor: Código: Método:

F A B RICAÇÃO
Matéria Prima MO RF OLOGIA UT ILIZAÇÃO ESTAD O
N.o Modelagem o u Trabalho OBS. TIPO
Téc. Preparo e Debitag . Secundário De ser. Loc.
R. c. Mi Dim. Croquis fo rm. Lo c. Descr. Ma rc. Possi b . R p
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15

QUADRO VI. -Análise da pedra lascada


rais dados nas p. 110 e 111, segundo se trate de uma superfí-
cie ou de um bordo. As dimensões são dadas em valôres abso-
lutos.
As marcas de trabalho se dividem em duas grandes sé-
ries correspondentes às duas etapas da fabricação de um ob-
jeto modelado: o modelamento propriamente dito e o trabalho
de retoque.
A modelagem consiste na retirada de uma série de las-
cas, o que dá, pouco a pouco, a forma às faces e aos bordos
formados pela intersecção das faces. O trabalho secundário,
pouco importante na indústria modelada é essencialmente
constituído do retoque dos bordos. Os problemas são muito
diferentes entre analisar um núcleo, uma ferramenta ou uma
arma de bloco e é necessário, para cada série, consultar as in-
dicações particulares que a ela se referem .
Na coluna Técnica indica-se o tipo provável da técnica
utilizada (percussão, pressão) e todos aquêles que têm uma
certa experiência em lascamento de pedras, poderão formular
uma hipótese sôbre a natureza do percutor (pedra, madeira,
osso) ou sôbre o tipo de percussão (simples, esmagada, direta,
etc).
Indicações particulares para a análise de objetos de
bloco :
Separa-se, segundo os tipos gerais, os objetos de blocos
intactos ou quebrados, e os fragmentos não identificáveis. Pode
ser difícil distinguir um fragmento de utensílio de bloco, de
um detrito qualquer. Em regra geral, o fragmento apresenta-
rá uma das partes características do utensílio completo (bor-
do retocado ou utilizado, uma ou duas porções de face com las-
camentos) e a fratura será irregular (1).
Quando tal distinção é impossível, a peça, por conven-
ção, é estudada entre os detritos.
Morfologia:
Dimensões:
A utilização do ábaco é particularmente recomendada,
( 1) Se esta fratura fôr encontrada com certa freqüência, localizada ~~mpre num
m esmo ponto, ela indica que ha um determinante relevado da técnica de
fa b ricação ou de utilização.

127
pois ela dará interessantes índices de espessura, de manejabi-
lidade, ou outros.
Forma:
Recomenda-se usar o quadro de simetria.
Utilização:
Localização das partes:
Os bordos serão divididos em bordos ativos e de preensão
ou encabamento. A distinção entre os dois corresponde, na
maioria dos casos, a uma diferença na abertura do ângulo
formado pela intersecção das duas faces. Ao bordo ativo cor-
responde geralmente um ângulo mais fechado; a um bordo de
preensão, um ângulo mais aberto ou então um lado.
Fabricação :
. Localização das partes :
Distinguir-se-á uma face superior (a que é representada
no croquis), uma face inferior, bordos e eventualmente lados.
Descrição:
Como para a pedra polida, descreve-se as superfícies e os
bordos, do mesmo modo como indicado na p . 133ss e dá-se suas
dimensões em valores absolutos.
Marcas de trabalho: Modelagem:
A modelagem das faces é caracterizada essencialmente
pelos lascamentos que foram aí efetuados. Como os bordos são
simplesmente resultado do trabalho das faces, não é neces-
sário estudá-los sob êste ponto de vista. A modelagem dos la-
dos é estudada da mesma maneira que a das faces .
Dos lascamentos que caracterizam uma ou outra face ,
estuda-se :
1 - Número: será anotado por 1, 2, 3, etc. Quando mui-
to numeroso e difíceis de serem contados, indica-se n lasca-
mentos.
2 -Forma: será anotada segundo o esquema geral pro-
posto para a análise de uma superfície (p. 111) . Nesta coluna
trata-se de dar a forma dos lascamentos e não da face estuda-
da, pois esta já foi analisada na coluna descrição. Todos os
lascamentos de uma face não têm a mesma forma. Deve-se,

128
portanto, dar uma indicação da forma dominante, isto é, o ti-
po geral dos lascamentos considerados. Se, entretanto, êles
forem tão variados, que seja impossível o estabelecimento da
forma dominante, marca-se diversos. ~les podem ser de for-
mas diversas, mas todos muito côncavos. Anota-se então: div.
ca +; div. ca ++, etc.
3 -Dimensões: se mais de cinqüenta por cento dos las-
camentos têm aproximadamente as mesmas dimensões, ano-
ta-se as dimensões médias (c x 1). Esta média deve ser sim-
plesmente estimada. Um cálculo será inútil. Se nenhuma di-
mensão é dominante, anota-se diversas (div.).
4 - Disposi ção: chamamos disposição dos lascamentos ,
a posição relativa entre êles. A disposição deve ser determina-
da pelo estudo dos eixos de debitagem dêsses lascamentos. Es-
ses eixos podem ser :
paralelos : Seus planos de percussão são situados sôbre um
mesmo bordo (p.) .
opostos: os eixos ainda são paralelos mas os planos de
percussão são situados (alternadamente ou não) sôbre
dois bordos opostos (op. alt. e op.) .
convergentes : os eixos convergem para um ponto da pe-
riferia (cvgt).
radiais: os eixos convergem para um ponto mais ou me-
nos central da face (rad.)
irregulares : os eixos são dispostos irregularmente (irr.) .
face t ados: os eixos são irregularmente dispostos; entre os
lascamentos ao menos um não toca a periferia (fac.) .
_folheados: isto é, superpostos e escalonados de modo a
lembrar um corte em massa folhada. Esta disposição é
frequent e na Patagonia, nas rochas constituídas por fo-
lhetos superpostos, como por exemplo os xistos (folh.) .
A lista da disposição dos lascamentos pode ser aumenta-
da de acôrdo com as necessidades.
5 - Orientação: chamamos orientação dos lascamentos
à sua posição em relação ao eixo longitudinal da face estuda-
da. Esta orientação se confunde com a orientação tio eixo de
debitagem.
Os lascamentos podem ser :

129
longitudinais: se os eixos de debitagem são paralelos ao
eixo morfológico (long.).
transversais: se os eixos de debitagem são perpendiculares
ao eixo morfclógico (transv.).
oblíquos: se os eixos de debitagem são oblíquos em rela-
ção ao eixo morfológico (ob.) .
irregulares : se os eixos de debitagem são irregularmente
dispostos em relação ao eixo morfológico, (irr.).
Na prática, é raro que todos os lascamentos de uma face
tenham a mesma disposição e a mesma orientação, sobretu-
do se fôrem mais de 3 ou 4. Neste caso, define-se seu aspecto
geral e não o de cada lascamento separadamente; então, an-
tes das qualificações, coloca-se uma flecha que indica a ten-
dência para êsse aspecto.
6 - Córtex: Anota-se a presença ou ausência de acôrdo
com o que dito na p. 125.
Marcas de trabalho. Trabalho de retoque :
O estudo dos bordos é feito de uma maneira completa-
mente diferente da utilizada para as faces. Os bordos dife-
rentes foram localizados na coluna Localização e suas formas
respectivas foram descritas e medidas na coluna Descrição.
Resta estudar o trabalho que êles podem ter sofrido após a
modelagem das faces. O retoque (d 104) é sobretudo freqüen-
te nas indústrias de lasca, mas é encontrado também nos ob-
jetos de bloco, sobretudo nas formas plano convexas.
Nem sempre é fácil distinguir-se o trabalho de retoque
do trabalho primário, quando da fabricação do objeto, pois
um pequeno lascamento de fabricação, morfologicamente, não
difere de um grande retoque. Entretanto, em geral, o retoque
se superpõe a um lascamento no qual êle está inteiramente
contido, enquanto que os lascamentos de fabricação incidem
sôbre dois ou mais lascamentos. No trabalho por pressão, o
retoque pode encobrir inteiramente o primeiro trabalho de fa-
bricação. O retoque raramente é isolado; em geral é executado
em séries homogêneas, enquanto que os lascamentos de fa-
bricação são executados separadamente, com pontos de im-
pactos mais distanciados.
O retoque é menor que o lascamento de fabricação.
As características dos retoques a serem estudadas suces-
iivamente são:

130
8 - Continuidade : não é necessária contar-se os retoques
de um bordo, sobretudo se o seu comprimento é conhecido e
sabe-se quais as dimensões médias dos retoques. Dêste modo,
nesta primeira coluna, é suficiente indicar-se se ao longo do
bordo considerado, os retoques são contínuos ou descontínuos
(ct ou dct).
Os retoques são superpostos, quando se superpõem uns
aos outros sendo que, sôbre grandes retoques iniciais. foram
superpostos retoques cada vez menores. Os retoques folheados
são um caso particular de retoques superpostos. São séries
dispostas paralelamente ao bordo e marcadas sàmente por
uma sequência de pequenos traços horizontais que dão
ao bordo o aspecto de massa folhada (sp; fol.).
9 - Forma: será definida por dois adjetivos: um, refe-
rente aos contornos no plano principal (paralelepípede, esca-
mosa, etc); o outro, à sua concavidade. Não nos parece útil
precisar a profundidade do retoque e nem seu perfil segundo
os planos longitudinal e transversal. Distinguimos convencio-
nalmente três graus de profundidade: retoque pelicular (pel.) ,
retoque côncavo (ca), retoque muito côncavo (mt ca). Não
estabelecemos cifras para índices da relação profundidade do
retoque/ comprimento.
10 - Dimensões : Como para os lascamentos, se mais de
cinqüenta por cento dos retoques têm aproximadamente as
mesmas dimensões, apenas a média, ràpidamente estimada
será anotada. Um cálculo exato seria inútil. Se nenhuma di-
mensão é dominante, pode-se, segundo a fineza da análise,
seja anotar diversas (div.) , seja anotar as dimensões das me-
nores e das maiores.
Começa-se por tomar a dimensão correspondente ao eixo
de debitagem, mesmo se ela não fôr a maior ; em seguida, me-
de-se a maior dimensão perpendicular à primeira. Os dados se-
rão expressos em mm. Por exemplo, as dimensões de um reto-
que expressas por 2 x 3 mm., significam que o retoque se alonga
paralelamente ao bordo, enquanto que as dimensões expressas
por 3 x 2 mm. indicam que êle se alonga neste caso, perpen-
dicularmente ao bordo.
11 - Disposição : chamamos disposição de um conjunto
de retoques à posição relativa que êles mantêm entre si e em
relação ao bordo. Essa disposição deve ser determinada pelo es-
tudo dos eixos de debitagem. Êsses eixos serão:

131
perpendiculares: ao bordo e paralelos entre si (perp) ;
oblíquos: oblíquos em relação ao bordo e paralelos entre
si (ob) ;
diversos: quando são tanto oblíquos quanto perpendicula-
res (div.) ;
12 -Situação: a situação de uma série de retoques é da-
da em relação às duas faces que determinam o bordo sôbre
o qual êles se situam. Contràriamente ao que se passa em uma
lasca, as duas faces de um objeto de bloco não podem ser de-
signadas a não ser pela sua localização no croquis. Situare-
mos, portanto, os retoques ao lado dos têrmos convencionais
adotados e anotaremos na coluna situação, por exemplo:
1 3 5 A, quando os retoques afetam o bordo do lado da
face representada ;
1 3 5 B, quando os retoques afetam o bordo do lado
oposto;
1 3 5 AB , quando os retoques são bifaciais (bif.) ;
1 3 5 alternos, quando um bordo apresenta sucessiva-
mente, mas não em um mesmo ponto, retoques sôbre a
face A e retoques sôbre a face B (alt.).
A cada um dêsses tipos pode ser acrescentado o adjetivo
" invasores" quando, além do bordo, afetam uma parte ou a
totalidade da face. Anota-se no caso, o setor da face invadida,
por exemplo A 3 5, B 1 2.
13 - Inclinação: é o ângulo formado pelos retoques e
pela face oposta. ~sse ângulo não se confunde com o ângulo
de fabricação do bordo que pode ser mais agudo.
14- Resultados: parece-nos útil reservar uma coluna pa-
ra anotar o resultado obtido pelo retoque: adelgaçamento, re-
gularização dos bordos, desbeiçamento de um gume muito
agudo, reavivamento. Esta coluna será preenchida sem código
pré-estabelecido, no decorrer das observações.
Normalmente, os retoques afetam os bordos e não as fa-
ces de um objet0 de bloco. Entretanto, há casos de certos ob-
jetos retocados por pressão, em que as faces são completa-
mente retocadas. Não abordaremos aqui êsse problema.

132
Código correspondente à rubrica Fabricação.
Nos quadros analíticos para Objetos de Bloco
Fabricação :
Localização :
Distinguir-se-á: faces (superiores e inferiores)
bordos
lados, eventualmente
Descrição:
Têrmos geométricos e valôres absolutos.
Marcas de trabalho:
Esta parte é dividida em 15 colunas das quais as 7 pri-
meiras são reservadas ao preparo das faces, as 8 seguintes, ao
trabalho secundário dos bordos. As colunas 7 e 15 são livres
para uma série de observações não previstas neste trabalho.
Eis a ordem, segundo a qual, dependendo das possibilida-
des, deverão ser preenchidas as colunas :
1 - Número de lascamentos : 1, 2, 3, n .
2 - Forma dos lascamentos:
- um têrmo qualificando o plano: triangular (tri.) ,
ovoide (ov.), oblongo (obl.);
- um têrmo qualificando a curvatura longitudinal :
plano (pl.), convexo (co.), côncavo (ca.);
-- um t êrmo qualificando a curvatura transversal :
plano (pl.), convexo (co.), côncavo (ca.).
3 - Dimensões : C x L.
4 - D isposição: paralelos (p), opostos (op e op alt.),
convergentes (cvgt), radiais (rad) , irregulares (irr) ,
facetados (fac), folheados (folh.).
5 - Orientação: longitudinais (long), transversais
(transv), oblíquos (obl), irregulares (irr).
6 -- Presença de córtex:
7 - Coluna liV1·e
Trabalho secundário:
8 - Continuidade dos retoques: contínuos (ct.). descon-
tínuos (dct.), superpostos (sp) , folheados (folh.).

133
9 F','Jrma dos retoques
1O Dimensões
11 - Disposição: perpendiculares (perp.), oblíquos (obl.),
diversos (div.) .
12 - Situação
13 - Inclinação
14 Resultados : sem código
15 Coluna livre
Indicações particulares para a análise dos núcleos.
O pesquisador não se deve espantar com a ausência ou
a raridade dos núcleos em certas indústrias. A debitagem de
seixos, em particular, deixa como resultado fragmentos difi-
cilmente identificáveis .
Morfologia:
As dimensões serão dadas utilizando o ábaco, o croquis
comportará uma superfície preparada e dois cortes. A forma
será definida por adjetivos tirados da geometria (ver p. 111),
pois o quadro de simetria nos parece sem interêsse para os ti-
pos de núcleos, muito irregulares, até hoje encontrados na
América do Sul.
Fabricação:
Localização das partes:
A fabricação de um núcleo consiste em descorticá-lo, des-
bastá-lo, preparar o plano de percussão a partir do qual será
retirada a lasca desejada, assim como preparar a futura face
externa da lasca.
Na coluna localização distinguem-se, portanto, as super-
fícies descorticadas e desbastadas, o plano de percussão, a su-
perfície da lasca pronta para ser debitada, ou se a lasca já
foi retirada, a cicatriz deixada por sua debitagem. Se o núcleo
foi, em seguida, utilizado como utensílio, será necessário tam-
bém , identificar qual o bordo que sofreu trabalho secundário
de retoques. Na maioria dos casos e sobretudo em regiões on-
de a matéria prima é rara, um núcleo é utilizado várias vêzes
(isto é mais de uma lasca é obtida de um mesmo núcleo), e
ocasionalmente até que êle fique reduzido a uma pequena
massa poliédrica não mais operativa (núcleo esgotado). Êle

134
pode então apresentar vários planos de percussão e várias ci-
catrizes que podem ou não se superpor ou se entrecortar. As
diferentes partes são anotadas umas sôbre as outras com sua
localização em relação ao quadriculado.
Na prática é muitas vêzes difícil, se o núcleo não foi de-
bitado, identificar-se a superfície preparada para a retirada da
primeira lasca daquelas resultantes do descorticamento. Nes-
te caso, será suficiente indicar uma superfície superior ou A
(aquela que é representada no croquis) e uma superfície in-
ferior ou B. Empregamos a palavra superfície ao invéz de fa-
ce, pois a intersecção dessas duas superfícies não forma ne-
cessàriamente um bordo contínuo, como aconteceria se se tra-
tasse da intersecção de duas faces. Entretanto, em alguns ca-
sos, pode-se distinguir duas, três ou mesmo mais faces com
bordo contínuo. Então, estas serão localizadas e descritas mas
sempre verificando-se se não se trata de um objeto modelado
ao invéz de um núcleo. O plano de percussão do núcleo (que
chamamos plano de percussão n para distingui-lo do plano de
percussão da lasca já debitada) pode também constituir tôda
uma face, de tal núcleo.
Descrição:
Após ter-se diferenciado e localizado as principais partes
do núcleo, analisa-se suas formas e dimensões. Para as su-
perfícies principais A, B, etc., indica-se sucessivamente a for-
ma segundo o plano principal, a curvatura longitudinal e a
curvatura transversal.
Para o plano de percussão procede-se do mesmo modo.
Em alguns núcleos, o plano de percussão se distingue mal das
superfícies que o rodeiam, em particular quando êle é cortical.
Neste caso, tanto em forma como em dimensões anota-se: in-
dete1·minado.
Para as cicatrizes, procede-se da mesma maneira. Entre-
tanto, as curvaturas: longitudinal e transversal, serão normal-
mente côncavas (ca.) em lugar de serem convexas (co.).
Preparo da forma e debitagem .

Para as superfícies descorticadas, desbastadas ou prepa-


radas, procede-se exatamente como para as faces de um ob-
jeto de bloco, isto é estuda-se sucessivamente:
1 - Número de lascamentos ;

135
2 - Forma dos lascamentos;
3 - Dimensões dos lascamentos ;
4 - Disposição;
5 - Orientação;
6 - Presença ou ausência de córtex.
A terminologia é a mesma dos objetos de bloco.
Para o plano de percussão, cuja importância é muito
grande, procede-se de maneira um pouco diferente. Começa-se
por indicar por uma flecha, sua posição no croquis. Depois:
1 Número: anota-se o número de lascameP.tos que
constituem o plano de percussão (0, 1, 2, 3, 4, n)
2 - Forma: Coluna em branco, tal forma não nos pare-
ce importante.
3 - Dimensões: Coluna em branco. Não importante.
4 D isposição ou tipo: nesta coluna são estudados os
lascamentos que constituem o plano de percussão.
Na terminologia clássica, estes lascamentos deter-
minam o tipo de plano :
um plano é chamado cortical quando é constituido
por córtex (cor.) ou liso quando por um só lasca-
menta ;
um plano diédro é formado por dois lascamentos
que formam um ângulo diédro, cuja aresta corres-
ponde, geralmente, ao ponto de impacto (die);
um plano facetado é constituído por vários peque-
nos lascamentos que formam facetas (fac.). A lista
dos têrmos pode ser aumentada.
5 - Orientação: anota-se, nesta coluna, a posição do pla-
no de percussão em relação ao eixo longitudinal do
núcleo:
o plano será longitudinal se fôr paralelo a êste eixo
(long) ;
o plano será transversal se fôr perpendicular a êste
eixo (transv.) ;
o plano será oblíquo se fôr oblíquo em relação ao
eixo (obl.) .
6 - Córtex : ver p. 125

136
7 -Ângulo: anota-se, nesta coluna, no caso de um nú-
cleo debitado, o ângulo formado pela superfície do
plano de percussão n com a face de lascamento. :És-
te ângulo é suplementar do ângulo do plano de
percussão e da lasca debitada correspond(;nte.
Cicatrizes:
Nas indústrias líticas mais rudimentares, é difícil distin-
guir entre um lascamento preparatório e uma cicatriz de de-
bitagem. Nenhum critério objetivo permite adivinhar as in-
tenções do homem que trabalhava a pedra, nem saber se êle
tentou preparar um núcleo ou obter uma lasca qualquer. Por
convenção, admitimos que certas marcas que não ocupam
posição central em relação a outras de dimensões mais ou me-
nos equivalentes, são sinais de preparo ou de modelagem do
núcleo. Serão, portanto, considerados como cicatrizes, os las-
camentos apresentando ao menos um dos carcteristicos se-
guintes: plano de percussão preparado, dimensões nitidamen-
te superiores às dos outros lascamentos, posição central em
relação aos outros lascamentos.
Essas cicatrizes serão analisadas da seguinte maneira:
1 - Número: a cicatriz é, por definição, constituída por
um só lascamento. Coluna em branco.
2 - A forma já foi dada na descrição. Aqui indicar-se-à
se a superfície é lisa ou se ela apresenta ondas con-
cêntricas, etc (lis., on., +, ++, +++).
3 - As dimensões já foram dadas na descrição. Nesta
coluna indica-se a presença e a saliência do bulbo.
Um traço significará a sua ausência (-, bulb., +,
++, +++).
4 - Disposição: é a posição da cicatriz em relação ao ei-
xo de debitagem.
Consideramos somente três posições:
a cicatriz pode ser reta ou simétrica ao eixo de de-
bitagem (re.);
desviada à direita do observador (desv. dr.);
desviada à esquerda do observador (desv. esq.).
5 Orientação : é dada em relação ao eixo morfológico,
mas é inútil defini-la pois ela já foi dada para o

137
plano de percussão e sempre êsses dois dados são
correlatas. Coluna em branco.
6 - Córtex: Não pode existir, por definição. Coluna em
branco.
Trabalho de ret1aque :
Em um núcleo existem dois casos nos quais se constata a
presença de trabalho de retoque:
- quando o núcleo foi utilizado como ferramenta;
-quando o bordo externo do plano de percussão se apre-
senta preparado por uma série de pequenos lascamentos oure-
toques; êste é um caso frequente, êste trabalho só é bem
constatável antes da debitagem da lasca preparada; êsse bor-
do externo, na sua maior parte, sai com a lasca. O bordo da
cicatriz, ao longo do plano de percussão, tem, então, arestas
vivas, mas de um lado e do outro dêsse bordo, pode-se, algumas
vêzes observar traços do trabalho de retoque do bordo externo
do plano de percussão.
Se uma aresta do núcleo foi utilizada como gume, ou
como percutor, e foi retocada, essa aresta é localizada em fun-
ção do quadriculado e anotada na coluna Localização das par-
tes . Se, ao contrário, o bordo retocado faz parte do plano de
percussão, não é necessário estabelecer uma linha especial na
coluna Localização das partes. Por convenção, as colunas 8 a
15, na altura correspondente à linha plano de percussão, são
consagradas ao estudo do seu bordo externo.
Procede-se, em ambos os casos, ao estudo dos retoques se-
guindo o esquema que foi exposto (p. 130 ss) e anota-se :
8 - Continuidade : dos retoques ao longo do bordo exter-
no do plano de percussão, ou ao longo do segmento
de bordo considerado.
9 - Forma: ver p. 131.
10 - Dimensões: ver p. 131. Comumente, o bordo exter-
no do plano de percussão é preparado por lascamen-
tos minúsculos, indiferenciáveis uns dos outros. É
necessário verificar bem se se trata de lascamentos
e não sàmente de um esmagamento. Neste caso,
não se anotam as dimensões, mas apenas marca-se:
esmagamento (esm.) .

138
11 - Disposição: para um plano de percussão n o traba-
lhos de retoque afeta, em todos os casos que conhece-
mos, a face preparada da futura lasca e não a super-
fície superior do plano de percussão. Anota-se : face
preparada (f. prep.) .
12 Orientação : - Coluna em branco.
13 Inclinação: Para o plano de percussão, a inclinação
do trabalho de retoque será difícil de ser medida.
Coluna em branco.
14 - Resultados : Pode-se anotar, nessa coluna, esmaga-
mento do bordo, regularização do bordo, etc , em
função das observações.
Utilização:
Pode-se admitir que a ou as cicatrizes de um núcleo são
as marcas normais de sua utilização e segundo esta perspec-
tiva, elas deveriam ser estudadas na rubrica Utilização. Isto,
entretanto, nos levaria a dar à palavra utilização um signi-
ficado muito diferente daquêle dos outros quadros nos quais ,
sob esta rubrica, estuda-se a parte do objeto analisado que
entra em contacto com a matéria a ser trabalhada, que exer-
ce uma ação sôbre ela. Por razões de homogeneidade e co-
modidade, conservamos para todos os quadros, esta mesma
perspectiva e é por esta razão que estudamos, na rubrica Fa-
bricação, as cicatrizes dos núcleos .
A rubrica Utilização dos núcleos será preenchida somen-
te nos casos de re-utilização de um bordo ou de uma face , tra-
tando-se de um núcleo já debitado ou apenas preparado. Neste
caso, a análise dêsse bordo ou dessa face será idêntica às par-
tes utilizadas de qualquer objeto de bloco: distinção e loca-
lização da parte ativa e da parte de preensão, descrição dessas
partes , marcas de uso, hipótese sôbre o uso possível dessa fer-
ramenta improvisada. Na coluna Tipo anota-se: núcleo re-uti-
lizado.

Código correspondente à rubrica Fabricação


nos quadros analíticos para Núcleos.
Fabricação :
Localização das partes: por meio do quadriculado.
Pode-se distinguir:

139
superfícies preparadas, descorticadas, desbastadas (sup.
pr.; sup. desc.; sup. deb.);
ou uma superfície superior A e uma superfície inferior B;
um ou vários planos de percussão n;
um ou vários bordos retocados (bor.).
Descrição: ver p. 133. Sem observações particulares.
Preparo da forma e debitagem:
Superfícies: o mesmo código que para as faces de um objeto
de bloco.
Plano de percussão n:
1 Número de lascamentos: ver p. 135
2 - Coluna em branco
3 - Coluna em branco
4 Disposição: ver p. 136
5 Orientação: ver p. 136
6 Córtex: ver p. 125
7 Ângulo: em graus
Cicatriz:
1 Coluna em branco
2 Superfície de lascamento: ver p. 137
:3 Bulbo: ver p. 137
4 Disposição: ver p. 137
5 Coluna em branco
6 Coluna em branco
Trabalho de retoque:
8 Continuidade dos retoques: contínuos (cont.) des-
contínuos (desc.)
9 Formas: como para os objetos de bloco
10 - Dimensões: como para os objetos de bloco
11 - Disposição: para um bordo qualquer, como para os
retoques dos objetos de bloco;
para o bordo externo do plano de percussão :
sôbre a face preparada: f. prep.
sôbre o plano de percussão: pl. per. n.

140
12 - Orientação: coluna em branco
13 - Inclinação : coluna em branco
14 - Resultados : sem código

Indicações particulares para a análise dos fragmentos de


núcleos e dos detritos
Salvo no caso de um estudo tipológico muito avançado,
os fragmentos de núcleo e os detritos serão analisados ràpida-
mente. Uma análise fina dêsses objetos sem formas definidas
é muito difícil e longa. O tempo gasto pode não ser compen-
satório. As rubricas Circunstâncias da escavação e do estudo,
Matéria prima, Estado , Observações e Tipo serão preenchidas
como para os outros quadros. Na rubrica Morfologia , anota-se
as dimensões em valôres absolutos ; a forma geral será indi-
cada em têrmos geométricos, sem que se faça em detalhe um
plano principal e os dois cortes e sem referências ao quadro
de simetria, inútil para fragmentos poliédricos irregulares.
Um só croquis rápido será suficiente. As rubricas Fabricação
e Utilização serão organizadas de acôrdo com o modêlo geral
da série se fôr desejável a anotação de um traço interessante.
Geralmente, porém, são deixadas em branco.
D - Pedra lascada . Os objetos debitados: lascas :
Estudamos sob o título objetos debitados, por opos1çao
aos objetos modelados, tôda ou qualquer lasca, retocada ou
não, utilizada ou não, correspondente ou não a um tipo de-
finido . Em princípio, uma lasca é fàcilmente identificável se-
ja por seu plano de percussão, seja por sua face interna. Na
prática, existem objetos cuja classificação entre objetos debi-
tados ou modelados é válida, pois êles são ambas as coisas.
:ll:sses objetos de classificação técnica incerta t êm como
massa inicial uma lasca, mas ou êles apresentam sôbre a face
interna, retoques mais ou menos invasores, ou então, sofre-
ram sôbre uma ou outra face, uma modelagem mais ou menos
intensa posterior à debitagem. Nos dois casos, deve-se decidir
qual a fronteira que separa a lasca do objeto modelado. O cri-
tério, neste nível de estudo, deve ser o da fabricação e não o
da utilização. Deve-se ter sempre presente que nossos quadros
analíticos são baseados na necessidade de não misturar os
critérios e como cada quadro corresponde a uma técnica de
fabricação particular, não devemos estudar em um mesmo

14 1
quadro dois objetos de finalidades comparáveis mas de fabri-
cação diferente: uma plaina fabricada a partir de uma lasca
e uma fabricada a partir de um antigo núcleo, por exemplo.
A lasca pode ser reconhecida por seu plano de percussão,
destacado do núcleo e por sua face interna plana ou ligeira-
mente convexa, marcada por um bulbo e por ondas concên-
tricas ; o objeto modelado pode ser reconhecido por ter todas
suas faces constituídas pelas marcas planas ou ligeiramente
côncavas dos lascamentos que êle sofreu. Como classificar
então , 1.11n objeto:
- em que tôdas as faces são constituídas pelas marcas
ligeiramente côncavas dos lascamentos que lhe deram a for-
ma, mas que apresenta ainda um plano de percussão (e tal-
vez um bulbo) , vestígio da lasca-núcleo do qual provém (1).
- que apresenta uma face interna lisa (e eventualmen-
te um bulbo), mas cuja face externa sofreu um considerável
trabalho de modelagem da forma por meio de lascamentos
feitos a partir da face interna, sendo portanto posteriores à
debitagem (é o caso de numerosas plainas, lesmas, etc) .
- que apresentam ainda um plano de percussão (1) e
uma parte da face interna lisa, mas o restante dela é mais
ou m enos coberto por retoques invasores?
O problema se coloca nos seguintes têrmos : si o trabalho
observado, sempre posterior à debitagem, é de simples reto-
que, o objeto é uma lasca autêntica; se se trata de um pre-
paro de forma então estamos lidando com um objeto de blo-
co ou com um núcleo. Talvez, neste caso, sejamos vítimas de
definições pre-estabelecidas, muito rígidas. Não encontramos
ainda uma solução satisfatória para êsse problema. Não acre-
ditamos que se deva criar, sem análises prévias, uma terceira
grande categoria técnica, aquela dos objetos de lasca apresen-
tando um trabalho de preparo da forma sôbre a face externa
ou sôbre a face interna, posterior à debitagem, pois os limi-
tes entre essa terceira categoria, e dos objetos modelados e
a dos objetos de lasca, seriam novamente imprecisos. Provi-
soriamente propomos que se classifique e estude com as las-
cas , todos os objetos que apresentarem uma face interna ainda
discernível . A descrição das marcas de trabalho das diferen-

( 1) A e xp ressão lasca -núcleo é d e B . Ch ampault ( 1966 ). E la corresponde a um


caso fr equente n a América d o Sul.

142
tes partes dêsse objeto nos darão informações sôbre suas ca-
racterísticas particulares (retoques invasores da face interna,
retoques de tamanho muito grande modificando a forma da
face externa do objeto, feitos a partir da face interna).
Admitimos que a simples presença de um plano de per-
cussão 1 sem que subsistam traços da face interna, não é su-
ficiente para se incluir um objeto entre as lascas. Neste caso,
êle será estudado com os objetos modelados e sua característi-
ca particular será encontrada no quadro analítico pelo fato
de que na coluna Massa inicial ter-se-á marcado: lasca;
A análise de uma lasca é bem semelhante à de um objeto
modelado.
Circunstâncias r!.a escavação e do estudo: ver p. 96-97.
Matéria prima: ver p. 97.
Estado: ver p. 98.
Observações: ver p. 98.
Tipo : ver p. 99.
Morfologia:
D ime n sões:
Com o ábaco, salvo para os fragmentos
Cmquis:
Um plano principal e dois cortes
Forma:
Forma do todo ; simetria dos três planos principais.
Utilização: ver p . 115 e seguintes:
Fabricação :

Localização das partes:


As principais partes de uma lasca são: as duas faces , o
plano de percussão, os bordos e, eventualmente, os lados. Ca-
da parte é anotada com sua localização em relação ao quadri-
culado do croquis. A localização do plano de percussão (e
quando possível, do ponto de impacto) é indicada no croquis
por uma flecha traçada a lapis que deve corresponder ou ao
menos ser paralela ao ponto de impacto.

143
Os bordos são divididos em segmentos em função do tra- .
balho secundário que mostram. Os segmentos, assim distintos
podem ou não, corresponder aos estabelecidos em função da
utilização. Em todos os casos deve-se procurar reduzir ao mí-
nimo as subdivisões. Marca-se, quando necessário, sôbre o
croquis, pequen os traços perpendiculares ao contorno do ob-
jeto estudado, marcando os limites dos segmentos destacados.
Descrição:
Ver p. 116 e ss. para a descrição das superfícies (faces,
lados e plano de percussão) e para a descrição de bordos.
Marcas de trabalho:
Sua an álise é dividida, como para os objetos modelados em
15 colunas. A fabricação de uma lasca comporta três fases
principais :
a preparação do plano de percussão e da face externa,
operações que se realizam sôbre o núcleo ;
a debitagem do núcleo que determina a face de lascamen-
t o ou interna, da lasca;
o trabalho de retoque que dá forma aos bordos e às ares-
t as e que dá, ao objeto, sua forma definitiva.
As marcas deixadas pela preparação e debitagem são es-
tudadas nas colunas 1 a 7, as marcas decorrentes do trabalho
ele retoque nas colunas 8 a 15.
Preparação e debitagem:
A face externa ou A será estudada como a face de um
objeto de bloco. A face interna ou B será estudada segundo o
modêlo de uma cicatriz de núcleo ; aliás , ela é um negativo ou
cont ra-molde da cicatriz.
Para uma face externa se estudará sucessivamente: nú-
mero de lascamentos , forma, dimensões, disposição, orienta-
ção, córtex.
Para uma face interna estudar-se-á sucessivamente:
1 Coluna em branco
2 Natureza da superfície: Anota-se simplesmente se
ela é lisa (lis.) ou tem ondas concêntricas (on.),
assim como o relêvo dessas ondas (+ , + +, +++ )

144
que, em uma face interna de uma lasca, correspon-
dem ao inverso daquelas da cicatriz (p. 137).
3 -- Bulbo: Para sua notação ver p. 137. Ao bulbo da las-
ca corresponde, na cicatriz, uma depressão o con-
trabulbo. Algumas vêzes o bulbo é marcado pela sai-
da de uma pequena escama (um minúsculo lasca-
menta); anota-se es .
4 - Disposição : Ver p. 137. Para uma cicatriz do núcleo
desviada à direita, teremos uma face interna da
lasca correspondente, desviada à esquerda ou vi-
ce-versa.
Para o p lano de percussão estudar-se-á sucessivamente :
Deve-se observar que o bordo externo do plano de percus-
são mostra, algumas vêzes , marcas de trabalho anteriores à
debitagem e praticadas diretamente sôbre o bordo externo
do plano de percussão do núcleo de origem. Essas marcas se-
rão estudadas como trabalho secundário por duas razões: a
primeira é uma razão de simetria. Um mesmo trabalho deve
ser estudado nas mesmas colunas, quer tenha sido efetuado
sôbre o núcleo ou sôbre a lasca já debitada. A comparação e
a síntese serão simplificadas graças a êsse procedimento; a
segunda razão é que frequentemente ignoramos o momento
em que se deu o martelamento para desbeiçar, ou o martela-
menta do bordo externo do plano de percussão; êsse momento
pode tanto ser anterior como posterior à debitagem. Na in-
certeza, podemos tanto anotá-lo nas colunas da preparação
como nas do trabalho secundário.
1 Número de lascamentos : ver p. 135.
2 Coluna em branco
3 Coluna em branco
4 Disposição dos lascamentos : ver p. 136.
O plano é chamado esmagado quando, sendo muito pe-
queno, foi esmagado e destruido pela percussão (esm.) .
5 - 0Tientação : é a posição do plano em relação ao eixo
longitudinal da lasca. Teoricamente esta posição
já foi indicada pela localização em relação ao qua-
driculado do croquis. Entretanto, como se trata de
um dado fundamental, achamos que é útil, pelo me-

145
nos até o aperfeiçoamento definitivo dêstes quadros
anotá-la, como foi feito pará o plano do núcleo. Ver
p. 136.
6 Córtex: ver p. 125.
7 Ângulo: é o ângulo formado pelo plano com a face
interna da lasca. Êste ângulo é suplementar do ân-
gulo do plano de percussão do núcleo corresponden-
te. Medido em graus.
Para os bordos, normalmente, nada se anota nas colunas
Preparação e Debitagem, pois êles já foram descritos na colu-
na Descrição e seu retoque é posterior à debitagem.
Trabalho de retoque:
Nas colunas 8 a 15 estuda-se o trabalho secundário dos
segmentos de bordo diferenciados e do bordo externo do pla-
no de percussão. Se algum trabalho secundário foi executado
em alguma das faces, isto será anotado na linha correspon-
dente. Se um trabalho secundário foi executado no bordo in-
terno do plano de percussão, acrescenta-se sua localização.
De um modo geral, preenche-se a coluna Localização das par-
tes, tôdas as vêzes que se julgar necessário para a análise de
um trabalho secundário.
De um modo geral, os retoques dos bordos da lasca serão
estudados do mesmo modo que os retoques dos bordos dos ob-
jetos de bloco:
8 - Cbntinuidade: ver p. 131.
9 Forma: ver p. 131.
10 - Dimensões: ver p. 131.
11 - Disposição: ver p. 131.
12 Situação: a terminologia será um pouco diferente,
pois a situação será definida em relação a uma face
externa e uma face interna e não mais em relação
às duas faces A e B, indiferenciadas dos objetos de
bloco:
os retoques serão chamados externos quando afeta-
rem um bordo, sôbre sua face externa (ext.);
os retoques serão chamados internos quando afeta-
rem um bordo, sôbre sua face interna (int.) ;

146
como para os objetos de bloco, os retoques serão
chamados bifaciais quando afetarem as duas faces
de um bordo, em um mesmo ponto (bif.); alternos
quando um bordo apresenta, sucessivamente, mas
não em um mesmo ponto, retoques sôbre sua face
externa e interna (alt.) .
13 Inclinação: ver p. 132.
14 Resultados: ver p. 132.
Técnica :
A coluna técnica será preenchida, como para os objetos
de bloco, com a indicação da técnica utilizada para cada
parte considerada. Técnica de debitagem, na linha correspon-
dente à face interna; técnica de preparo, na linha da face ex-
terna; técnica dos retoques, nas linhas correspondentes aos
bordos. Pode ser que seja necessário anotar duas hipóteses téc-
nicas na linha do plano de percussão: uma correspondente à
preparação, outra ao amaneiramento dos bordos. Duplica-se
ou triplica-se então a linha correspondente, seguindo-se sem-
pre a mesma ordem :
preparo do plano;
amaneiramento do bordo externo;
amaneiramento do bordo interno.

Código correspondente à rubrica Fabricação.


nos quadros analíticos para Lascas e Objetos de Lascas.
Fabricação:
Localização:
Distinguir-se-á: duas faces (interna e externa);
bordos
plano de percussão 1
lados, eventualmente.
Descrição:
Têrmos geométricos e valôres absolutos
Marcas de trabalho:
Preparo e debitagem. Face externa:
1 - Número dos lascamentos: ver p. 128.
2 - Forma dos lascamentos: ver p. 133.

147
3 - Dimensões dos Zascamentos: ver p. 129
4 - Disposição dos lascameni'Os: ver p. 129
5 Orientação dos lascamentos: ver p. 129
6 Córtex: ver p. 125
7 Coluna livre

Preparo e debitagem. Face interna .


1 - Coluna em branco
2 - Superfície de lascamento: ver p. 137
3 - Bulbo: ver p. 137
4 - Disposição: ver p. 137
5 - Coluna em branco
6 - Coluna em branco
7 - Coluna em branco

Preparo e debitagem. Plano de percussão


1 - Número: ver p. 135
2 - Coluna em branco
3 - Coluna em branco
4 - Disposição: ver pp. 136 e 145.
5 - Orientação: ver p. 136
6 - Córtex: ver p. 125
7 - Ângulo do plano com a face interna: em graus

Trabalho secundário: Bordos


8 -· Continuidade dos retoques: ver p. 131
9 - Forma : ver p. 131
10 - D imensões: ver p. 131
11 - Disposição: ver p. 131
12 - SituaçãxJ: ver p. 146
13 - Inclinação: ver p . 132
14 - Resultados: sem código
15 - Coluna livre
Finalmente, o quadro analítico dos objetos de pedra las-
cada apresenta-se da seguinte maneira :

148
QUADRO VIl A e 8 PEDRA LASCADA CIRCUNSTÂNCIAS
Escavação
Nome e data: A. L. Emperaire · 8 / 4/59 Anális:: Síntese:
Lugar: Patagonia Nome e data: Nome e data :
Sítio: Lagoa Sola - Rio Luga r: Lugar:
Camada e setor: Proximidades do rio Cód ig o· Método·

Matéria Prima F A B R I CAÇÃO


MO R F O L O G IA U T I L I ZAÇÃO Estado
Modelagem ou Preparo e Debitagem Trabalho secundário
N.o Obs. Tipo
R c Mi Tec. 1 2 3 4 5 6 7 8 9 lO 11 12
I I I I
13 14 15 Descrição Localiz. Dim.
I Croquis Forma Localiz. Descr.
I Marcas Possib. R p

59.8.133 b i=
510
La - - - - - Cort. ->-ov.-
coco
F. ext.
6
7 -+ii
2 co
Pree ?
5.8.6.
Co + -
rei.
Segurar? c - A ponta
foi desta-
Raspador
Furador

~11}:;..-
Sx 3 cm g1h 80° · Ag. cada por

1\
c= um grande
E 64 retoque
Debitagem ond - re -+ ov- F. int. 1 2. o muito
percutor ++ esc. pi pi 1 co concavo
duro- 5,5 x 4 cm 1 rei. em 1.7
Percussão At. Co + - ret gb.-7 Cortar
simples
- - - '--1:. :: ·.:~\1·?~~~ 6 A
5.3 .1.7.4. 60°-80° Raspar

,
trasnv. Cor!. 70° PI. per. I 2.6. Ag. Incisar
3
~:'::.:·n~,;~~- 't

~-<lo/ :~t/:~T--
5

'
v :):X.-~
:.~~ !~.

8
..
b

8
Retoque
percutor
duro
ct esc.
ca
10 X 5
mm
perp.
e
ob
5.3.1 .
7.2.4.
6
60°
-
700
Regu-
la ri·
zação
co+-rel.
reg .
Bordos "( A
7 I p
4 rei.

A ag.

59.8.237 ? F 82 Bl. Percussão n di v. di v. ir reg. irreg. - -+pentag. Face A


7
-+IIi Pree Ret·si n Em 3.5 Segurar - - - Pequeno
direta - ca co co 6 2 rei . 3.5.8.6.4. irreg . 80°· bri biface
Perc. duro 5,5x5,5 cm fg 2 l 3 co 110°-Ag.
em 5=an.
2.

~~
Percussão 3 di v. di v. rad? ir reg . - -+pentag. Face B 1 li
di reta reta. ' co co 2 co
Percutor
duro
5,5x5,5 cm
-- AI. -+rei e cortar
3.1.7.2.4. co- sin.
60°-70°

~)
ag .
dct esc.
ca +
ca
+++
12 X 5
mm
di v. 1.7.2. 50°-60° tentati·
4 .6
B
ag .
at.
va re ~
gula ri·
zar
co- sin.
mt. irr
Bordos
_v
y-
--

6
5 " 6 A
8
B
1 +losan 10x30
ca mm
- em
outro
- -+losang.
ca -mt.
Lado 6 -+ii
2 co
+++ plano irr-
a 90° 3,5x0,5 cm A
CONCLUSõES

Em conclusão, queríamos tranquilizar o leitor corajoso


que nos seguiu até estas últimas páginas, dar-lhe alguns con-
selhos práticos e finalmente alargar as perspectivas dêste guia,
fazendo com que não seja unicamente uma fastidiosa descri-
ç5_o de detalhes ínfimos da estrutura de um objeto de pedra e
mostrar certas direções segundo as quais êle poderá ser útil.

Advertência:
:Este guia só pode ter sido lido até o fim por aquêles que
já se afrontaram com os problemas decorrentes do estudo de
coleções líticas e que se decidiram a tentar um esfôrço difí-
cil para resolver êsses problemas. Quer tenham êles folheado
ou estudado, ou mesmo experimentado alguns aspectos, no
curso desta leitura, êsses leitores devem ter-se assustado com
a complexidade das operações que se deve executar para estu-
dar o menor objeto de pedra.
A complexidade de nossos quadros é grande, certamente,
mas talvez seja menor do que parece; certamente ela é menor
que uma descrição não sistemática de dados que deverão ser
reunidos depois para estudar um objeto de pedra no seu con-
junto. Para uma mesma quantidade de dados recolhidos é
sempre mais rápido marcá-los em uma ficha ou em um quadro
pré-estabelecido, do que descrevê-los um à um.
Com o auxílio de nossos quadros, após alguns dias de
treino, o estudo de um objeto medianamente complexo pode
levar de 10 a 15 minutos. Fragmentos, pedras utilizadas, etc.
não exigirão mais do que 5 a 10 minutos, ou mesmo menos. Ao
contrário, outros objetos mais complexos ou mais raros, po-
dem ser estudados mais longamente.
Não é indispensável, e talvez seja mesmo indesejável que
todas as colunas do quadro sejam preenchidas. Pode-se, seja
preencher aquelas que correspondem à solução de um dado
problema, previamente determinado (por exemplo o estudo de

149
t odos os planos de percussão de uma coleção de lascas já es-
tudada ou publicada), seja preencher as colunas mais essen-
ciais abandonando um certo número de outras colunas que
parecem de interêsse secundário para o estudo que se preten-
de fazer. Uma coleção pode ser estudada sàmente do ponto
de vista de sua fabricação, ou de sua morfologia, ou de seu
uso, ou mesmo de sua matéria prima.
O importante não é preencher tudo (o que seria quase
impossível), mas preencher bem, sempre da mesma maneira,
nunca misturando os traços decorrentes da morfologia com
os ligados à fabricação ou utilização.
Será sempre possível retomar o estudo de uma série e
preencher as colunas que teriam sido deixadas, em branco;
esta é uma das grandes vantagens dêstes quadros.

Conselhos práticos :
Os quadros analíticos que alguns arqueólogos estabele-
ceram podem ser transformados, transferidos para fichas ou
mesmo abandonados, mas as análises já feitas devem ser sem-
pre possíveis de serem utilizadas. Nenhum de nós deseja per-
der seu tempo. Para isto, é necesário obedecer a alguns prin-
cípios simples:
- Nunca esquecer de indicar na rubrica Circunstâncias
da escavação e do estudo qual o código utilizado para o estu-
do (nosso guia corresponde ao código 1967). Se algumas mo-
dificações fôrem introduzidas no código, elas deverão ser cla-
ramente indicadas em folhas a parte.
- Respeitar estritamente as convenções e as definições
dadas.
- Nos códigos propostos, as listas de características de
uma ou outra coluna são as vêzes muito curtas. Elas corres-
pondem a características que nós observamos de fato, mas
raramente são limitativas. Podem e devem ser aumentadas de
acôrdo com a necessidade. Pode-se acrescentar às colunas exis-
tentes e utilizadas, novos traços, com a condição de definí-los
rigorosamente.
-Algumas vêzes, pode-se hesitar em atribuir uma carac-
terística a um objeto. Não se deve nunca preencher uma colu-
na com uma indicação da qual não se tenha certeza. É melhor

150
uma ausência de informação do que informações que falseiem
o resultado da síntese e inutilizem o quadro. Deve-se ter sem-
pre presente que há três maneira de não preencher uma colu-
na . A coluna é deixada em branco, o que significa que nos
traços a ela correspondentes não foram estudados. A coluna
n esta ou naquela linha apresenta um pequeno traço, o que
significa que o característico que se desejava estudar é inexis-
tente. Um ponto de interrogação mostra que o característico
estudo é duvidoso, e que se se renuncia, ao menos provisària-
mente , a uma decisão.

Per-spectivas:
Êste guia n ão representa um trabalho definitivo mas sim
um ensaio elaborado em equipe, já objeto de numerosas hesi-
tações. Devido a êsses fatos êle é muito imperfeito.
Temos consciência das numerosas imperfeições que êle
apresenta, mas, ou não tivemos tempo de remediá-las ( o tem-
po de redação, mesmo dos parágrafos mais simples, ultrapas-
sou largamente as previsões, até as mais pessimistas) , ou não
soubemos remediá-las , pois as soluções imaginadas apresenta-
vam inconvenientes mais graves que os da primeira redação,
tendo sido, portanto, abandonadas.
Êste ensaio sàmente terá sentido na medida em que fôr
t estado não sàmente por um pesquisador, mas um conjunto
de arqueólogos que trabalhem nas mais diferentes direções e
que possam nos enviar suas críticas e sugestões que visem tor-
nar os quadros ou as fichas mais práticos, mais simrles, mais
coerentes, mais completos. Atualmente, vários pesquisadores
trabalham para aperfeiçoar o método, alguns no sentido de
uma simplificação, outros naquele de melhorar as definições.
Algumas coleções foram analisadas em quadros, outras em fi-
chas simples ou fichas perfuradas. Um ensaio está sendo
ten t ado para ordenar uma série de várias centenas de peças.
É muito cêdo para que se possa julgar os resultadcs.

Finalmente, queremos terminar lembrando que a verti-


gem da análise e da decomposição em caractéres mais e mais
ínfimos e que podem parecer mais e mais derrisórios, não deve
nos fazer perder de vista a finalidade da pesquisa.
Esta finalidade não é a mesma para todos, e grosseira-
mente, pode-se dizer que há duas direções principais da pes-

151
quisa em tipologia. Atravez da análise das principais caracte-
rísticas dos objetos, pode-se procurar modos de fabricação,
modos de utilização, procurando reconstituir as técnicas de-
saparecidas. Segundo esta perspectiva, faz-se uma páleo-et-
nologia. Por meio destas mesmas análises, pode-se também
t entar estabelecer os tipos ou a sua incidência no espaço e sua
evolução no tempo. Seguindo esta perspectiva pode-se esperar
que certos problemas de difusão e de empréstimo, de inven-
ção e de convergência, de evolução técnica das sociedades em
razão do jôgo dos fatôres internos ou das influências externas,
sejam aprofundados. Em todos os casos é a fineza e a precisão
da análise que garantirão a fineza e a precisão dos resultados .

152
Bibliografia

1 - BOHMERS- 1956 - "Statistic and graphs in the study of flint


assemblages", Paléohistoria, tome V, - 38 p . - 2 tableaux
2 - BOHMERS - 1960 - "Statistique et graphique dans l'étude
des matériels lithiques préhistoriques" - Antiquités na-
tionales et internationales, sept. déc ., - pp. 51-56, -
fase. 3 et 4, - 1 tableau.
3 - BORDES Fr . - 1947 - " Etude comparative des différentes
techniques de taille du si! ex et des raches dures", L' An-
thropologia - pp. 1-29, - 13 fig.
4 - BORDES Fr. - 1950 - "Príncipes d'une m éthode d'étude des
techniques de débitage et de la typologie du Paléoli-
thique ancien et moyen", L'Anthropologie - t. 54,
pp. 19-34.
5 - BORDES Fr. - 1961 - Typologie du Paléolithique ancien et
moyen, Delmas, Bordeaux, 2 vol. in 4, dont 1 de pla nches.
6 - BREZILON Michel - 1968 - La dénomination des objets de
pierre taillés. These de doctorat de 3 eme cycle, soutenue
à Paris en 1966, Galia Préhistoire - IV supl. -- 411 p.
227 fig.
7 - CRABTREE Don E. - 1966 - A stoneworker's approach to
analyzin g and the Lind enmeier Folsom. Tebiwa, the jour_
na! of the Idaho State University Museum, vol. 9, n .0 1,
pp. 3-39.
8 - DEMPSEY Paul et BAUNHOFF Martins - 1963 - The statisti-
cal use of artifact distributions to establish chronological
sequence American Antiquity, XXVIII, n. 0 4, - p. 496-509
- blibliographie.
9 - FORD J ames A. - 1962 - - A quantitative method for deriving
cultural chronology. Pan American Union, Washington
D. C., T echnical manual n. 0 1, - 60 p., - 23 fig . et ta-
bleau bibl.
10 - GARDIN J. C. - 1962 - "Cartes perforées et ordinateurs a u
service de l'archéologie", La Nature, Science, Progres.
n° 3331, p. 449-446 .

15 3
11 -- GARDIN J. C . - 1962 - 'Documentation sur cartes perforées
et travaux sur ordinateurs dans les sciences humaines",
Revue internationale de documentation, 29, n .0 3, p . 84-92 .
12 - GREENZO Robert E. - 1962 - "The classification of chipped
stone projectile points" communication au C(Jingrés inter-
national des Américanistes, Mexico, aoüt, - pp. 19-24.
13 - HEINZELIN DE BRAUCOURT, Jean de- ... - "Príncipes de
diagnose numérique en typologie", Académie royale de
Belgique, classes Sciences Mémoires, collections in 4, 2ême
série, t . XIV, - fac. 6, p . 38.
14 - HEINZELIN DE BRAUCOURT, Jean de - 1962 - Manuel de
typologie des industries lithiques, Bruxelles, - 74 p .
50 pl., bibl.
15 - KRIEGER Alex D . - 1964 - New world Lithic Project - Part
II - (conférence de Santa Fé ) in American Antiquity,
vol. 29 , n .0 4, p. 489 .
16 - LAPLACE G . - 1964 - "Essai de typologie systématique", An-
nali dell'Universita di Ferrara (Nuova Série) Sezione XV.
P a leontologia Umana e Paletnologia. Suplemento II ai vo-
lume I , 85 p .
17 - LEROI-GOURHAN A. - 1964 - Cours polycopiés. Notes de
morphologie descriptive .
- 1966 - reproduites dans La Préhistoire par A. Le
roi-Gourhan, G . Bailloud, J . Chava illon, A. Laming-Em-
peraire, Paris, PUF, collection Nouvelle Clio, n .0 1 sous le
titre " Tableaux de morphologie descriptive" p . 245-271 ,
258 fig .
18 - RITCHIE William A. - 1961 - A typology and nomenclature
for New York projectile Points. N. Y. State Museum and
Science Service. Buli. n .0 384 - The University of the
State of N. Y . Albany, 119 p. - 1 fig. 36 pi. 1 doll . 50 écrit
par R. J . Mason, in American Antiquity. 1962, XXVIII, p.
110-111.
19 - ROUSE Irving - 1960 - The classification of artifacts in Ar-
cheology American Antiquity janv. XXV, 3 - pp. 313-323
- bibliog. de 47 titres .
20 - SEMENOV, S . A. - 1.964 - Prehistoric Technology, London ,
Cory Adams et Mackay. 212 p ,105 fig.
21 - SONNENFELD- 1963 - Interpreting the function of primitive
implements Am. Ant. 3, XXVIII, 1 pp . 56-65
22 - SONNEVILLE-BORDES et PERROT. Lexique typol<Jgique du
Paléolithique supérieur. Bulletin de la Societé Préhistori-
que Fran çaise, tome 50 , 51 , 52, 53 (1953, 1954, 1955, 1956 ).

154
23 - TIXIER J acques - 1963 - Typologie de l'épipaléothique du
Maghreb (Mémoires du Centre de Recherches Anthrop .,
préhist., et e thnogr . d 'Alger n ° 2) Arts et m étier gra-
phiques, Paris, 209 p . 61 fig. 2 tableaux hors tP.xte.
24 - SWANSON Earl H . et BUTTER Robert B . - 1942 - First con-
ference of western Archeologists on problems of Point
Typology. Occasional Paper of the Idaho State College
Museum, n .0 10.
25 - WEYER Edouard M . - 1964 - New world Lithic Typology pro-
ject - P art I - Conférence de Santa Fé. in 1\merican
Antiquity, vol. 29 n .0 4, pp . 487-489 .
26 - WHITE Anita M . et BINFORD Lewis, et PEPWORTH M . - 1963
- Miscellaneous Studies in Typology and classification
Anthropological p a pers, Museum of Anthropology - Uni-
ve rs ity of Michigan n° 19 - Ann Arbor.

155
Kvasir Publishing

Você também pode gostar