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Os cl ássicos d AS ocro I
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Durkheim Marx
Glauco Ludwig Araujo
lvan Penteado Dourado
Vinicius Rauber e Souza
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dos para que seja capaz de suspender seus próprlos valores, preconceitos e pré-
-noções, na busca por uma pesquisa social construída por um olhar neutro e obje-
tivo. A crença da neutralidade científica seria uma das principais caractensticas
da herança positivista desse pensador em outra parte significativa de suas obras.
Organismo social, di'visão do trabalho e
solidariedade
Em sua tese de doutora-
mento, intituiada Da diuísã,o
do trabalho social, de 1893,
Émile Durkheim (2008b) es-
tabeleceu as bases de uma so-
ciologia mâcrossocial, ou seja,
uma teoria social com capaci-
dade de comparar sociedades
2t" diferentes. utilizancio catego-
rias que sejam comuns a elas,
buscando construir categorias
/ capazes de identificar o nível
w
,Y de evoiução das sociedades com
:i base no critério de complexida-
l.i
de. Os critérios de divisão do
trabalho social e o tamanho da
população seriam de{inidores
1
-1.
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do tipo de solidariedade e, con-
sequentemente, do seu nível de
Fonte: WESCFIENÊELDER. Jcãc Pedro ["4ocellln, 2016.
complexidade.
Durkheim propõe dois níveis diferentes de sociedades, categorizadas entre
tipos sociais, defi.nidas como sociedades simples e sociedades complerns, detento-
ras de solídariedades mecâ.ruicas e orgdnicos, respectivamente. I.{as palavras de
Durkheim:
Começa-se por classificar as sociedades segundo o g'nau de composição que estas
apresentam, tomantlo por base a sociedade perfeitamente simpies ou de se6;rnento
único; no interior dessas classes se distinguirão as diÍ'erentes variedades, conforme
se produza ou não uma coalescência completa dos segmentos sociais (2005a, p. 86i.
Sociologia para não soeiólqos
Os dásicss da sociologie: Durkheim, \Âêber e Marx
De modo geral, podemos citar como exemplo característico da sociedade
simples ou "primitiva", pensada por Durkheim, uma "tribo primitiva" isolada do
contato com outras sociedades, formada por uma aldeia com um número reduzi-
do de famílias. Sociedades assim teriam em seus membros uma enorme consci-
ência coietiva e, por esse motivo, a solidariedade seria do tipo cooperativo. Como
característica resultante, "a solidariedade que deriva d.e semelhanças atinge seu
maximum quando a consciência coletiva abrange exatamente nossa consciência
total e coincide em todos os pontos com ela;mas, nesse momento, nossa individua-
lidade é nula" (DURKHEIM, 2000, p. 82). O pensamento de cada membro desse
coietivo seria de uma ordem coietiva, o apeiido ou nome social e seu papei nessa
tribo seriam definidos ern função da sua contribuição para o grupo. Esse conjunto
de elementos formaria o que Durkheim tipificou corno solidariedade mecâ.nica.
Como exemplo das sociedades complexas, têm-se as grandes cidades, cons-
tituídas por um imenso contato com outras cidades em seu entorno, com uma
quantidade significativa de pessoas vivendo suas rotinas diárias altamente di-
-1
versas. Para Emiie Durkheim, essas sociedades teriam um crescente nível de
especiaiização das atividades produtivas, uma divisáo do trabalho social que leva
em conta critérios altamente diversificados e especializados. Segundo a{irma o
&.
autor, "A solidariedade produzida peia divisão social do trabaiho é totaimente Ê ÉElliÉL
diferente. 1...1 Só é possível se cada um tiver uma esfera própria de ação e, conse-
quentemente, uma personalidade" (DURKHEII\,I, 2000, p. 83i. Esse conjunto de
características teria como resultado um ambiente social altamente propício para
a emergência de indivíduos, o que teria como resultado uma sociedade caracteri-
zada por um tipo de solidariedade orgíinica.
I)entro desses dois tipos de soh.dariedade existentes, os r.,a1ores morais se-
riam elementos cuja função pr-incipal seria a de manter sólidos os laços sociais
de pertencimento. Porém. o que ocorreria se aigum indivíduo não respeitasse a
determinação de leis, norrnas e comportamentos? Se esse sujeito não obedeces-
se e náo reproduzisse exatamente o que the foi ensinado? Bm outras paiar.ras,
como Durkheim explicaria comportamentos conflitivos, tais como greves, crimes
e guerras?
Para esse pensador que buscou intelectualmente constituir uma nova ci-
ôncia social, com capacidade para explicar, e, assim, auxiliar a sociedade a se
manter em equilíbrio, todos os comportamentos que tivessem a pretensão de de-
sequilibrar ou causar mudanças sociais, que seriam identificados como anonrias.
{) conceito de anomia pode ser entendido como um tipo de doença social, algo que
deveria ser erradicado e minimizado, pois destoaria da ordem social ügente.
Sociedades que vivem momentos de guerra e conflito social são considera-
das por Durkheim como sociedades anôm.icos, ou seja, sociedades que estão vi-
Glauco LudwigAraujo, lvan Penteado Dourado, Mnicius Rauber e Souza
vendo um desequilíbrio no organismo social e colocando em risco sua existência.
Caberia à sociologia explicar as causas dessa anomia e, logicamente, apontar so-
iuções. Seguindo essa linha, podemos probiematizar o crime e o comportamento
criminoso com base nâ perspectiva teórica de Durkheim.
O crime constituiria um exemplo de comportamento anômico, pois nenhu-
ma sociedade manter-se-ia equilibrada e organizada se seus indivíduos fossem
educados para agir transgredindo as leis e os costumes vigentes. Com.eter um
crime constitui uma atitude que confronta as leis, estatuto principal utilizado
parâ definir de forma positiva e pública a diferença entre o certo e o errado nas
sociedades. O criminoso, porém, não pode ser responsabilizado pelo seu ato sem
que se leve em conta a crítica ao próprio organismo social que âpresenta falhas
em sua organização e manutenção. Se o comportamento criminoso surge no indi-
víduo, esse recebeu o estímulo social e apenas reproduziu aquilo que aprendeu.
O indiuduo será punido, mas apenas a punição não seria capaz de restabelecer
o equilíbrio social, se a própria sociedade continuar a produzir criminosos. Por-
tanto, caberia a própria sociedade e às instituiçÕes que a constituem impedir
que novos criminosos surjam, já que o comportamento do indivÍduo, segundo
Durkheim, é um mero produto do social.
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