Antes Do Casamento - Deborah Fletcher (Sabrina 1589)
Antes Do Casamento - Deborah Fletcher (Sabrina 1589)
A jovem conferiu pela última vez a maquiagem, olhando para sua imagem refletida
no espelho retrovisor do carro.
Depois de retocar o batom cor de cereja, moveu a cabeça, satisfeita com o que viu.
Saiu do veículo e olhou ao redor ansiosa, agradecida pela escuridão da noite.Um fraco raio
de luar era a iluminação suficiente que ela precisava.
Embora a temperatura estivesse quente, ela usava um casaco escuro, adquirido
especialmente para aquela ocasião. Estava preparada para fazer daquela noite algo ines-
quecível. Ela seria como uma entrega especial, uma linda embalagem que ele fingiria
surpresa ao receber; sabia que para o coração dele era um presente que ele desejava mais
do qualquer outra coisa. Estava tão segura a respeito dos dois que mal conseguia controlar
o excitamento.
Seguiu em direção ao centro do pátio, desviou o olhar de uma porta para outra
e depois para as janelas, procurando por algum indício de que alguém talvez pudesse
vê-la.
Eram oito casas, uma próxima da outra, lares luxuosos dentro do condomínio
de Wake Country, construídas lado a lado, com subdivisões tradicionais em forma
de "U", fachadas de tijolos, quintais viçosos, com
um gramado bem verde e flores exóticas, e árvores altas com as copas floridas.
As casas eram espaçosas, com assoalhos de madeira e banheiros decorados em
mármore. Para os moradores, eram oferecidas duas piscinas olímpicas, quadras de
tênis e uma área de lazer.
No centro do jardim onde ela estava, podia ver diretamente dentro da casa,
por uma enorme janela que ficava no canto, livre de qualquer obstáculo. As finas
cortinas estavam afastadas e ela podia enxergá-lo muito bem. Estava sentado
confortavelmente na sala de estar, sem camisa, deitado em um sofá de couro preto.
Um travesseiro colocado por trás da cabeça que se inclinava sobre o dorso nu a fez
sorrir ao apreciar o peito forte que subia e descia cada vez que ele respirava.
Ela podia sentir o entusiasmo aumentar ao observá-lo. Aquela prometia ser
uma noite que ela e o dr. Walker jamais esqueceriam. Respirou fundo, apertou o
cinto ao redor da cintura, ajeitou o casaco que a cobria e se dirigiu à porta dele.
Capítulo Um
1
Era tão boa no que fazia que não foi surpresa para ninguém quando seu
programa alcançou o segundo lugar em audiência na emissora. Após seis meses ela
estava apenas um passo atrás de King John Vega, o homem coroado como o
imperador dos programas de rádio, e ela estava trabalhando com afinco para
destroná-lo. Todas as noites, entre oito horas e meia-noite, o bálsamo de sua voz
empurrava cada vez mais o homem para fora de seu assento real.
Vega fazia suas tiradas diárias contra ela, mulheres como ela e o sexo
feminino em geral. Mônica sabia que ele estava sentindo a pressão. Quando ele teve
a audácia de pedir para que as mulheres negras do sul não falassem como Mônica
James, ela tomou uma atitude, fez uma lista de mulheres negras e articuladas que o
colocassem no seu devido lugar. Aquele homem tinha tornado pública a rivalidade
entre eles. Mônica prometeu que o faria se arrepender de cada comentário. A reação
de King John Vega foi como a de um cachorro acuado, mas foi ela quem deu uma
mordida maior, tomando seu espaço e seu posto.
Quando ela falava, os homens a desejavam, as mulheres queriam ser como
ela, todos a respeitavam e todos a ouviam. A voz talvez fosse doce, porém a mulher
por trás da voz era inteligente, tinha bom senso e um senso de humor atilado.
— Temos tempo para mais um ouvinte. Quem está na linha?
— Olá, Mônica! Eu sou Gail. Eu adoro o seu programa! Mônica deu um
sorriso para o engenheiro de som, Brian Bailey, que olhou para ela. O homem que
cuidava dos detalhes técnicos para que o show fluísse tranqüilamente fingiu
engasgar enquanto a jovem ouvinte continuava tecendo elogios.
— Obrigada, Gail. Então, me diga algo de bom, minha amiga. Sobre o que
você quer falar esta noite?
— Bem, eu estou com meu namorado já faz um tempo, e as coisas estão muito
bem. Estamos morando na casa da mãe dele, ele até me deu um anel no mês passado,
no meu aniversário. Agora ele quer um bebê. Mas não sei se eu quero. O que você
acha? O que devo fazer?
Mônica fechou os olhos e respirou fundo antes de responder.
— Há quanto tempo você está com ele, Gail?
— Há seis meses.
— E desde quando estão morando juntos?
— Faz umas quatro semanas. E porque facilita quando ele precisa pegar o carro
da mãe emprestado, entende?
Mônica revirou os olhos e Bryan segurou uma risada.
— Quantos anos você tem, querida? Você disse que fez aniversário no mês
passado, certo?
— Isso mesmo. Fiz vinte anos.
— Você e seu companheiro trabalham, Gail?
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— Estou tentando concluir o ensino médio e ele faz um serviço aqui e outro
ali. E por isso que não tenho certeza se devo ter um bebê.
— Você é uma garota esperta, Gail, e quero que continue assim. Pessoalmente,
não acho que seja uma boa idéia ter um filho agora.
— Mas ele quer tanto, Mônica, e eu faria qualquer coisa por ele! — exclamou
Gail.
— E não há nada de errado com isso. Mas primeiro você precisa se formar e
ir para a faculdade, e ele precisa ter um trabalho fixo. Crianças precisam de
segurança, minha amiga, e isso não é barato. Se ele a ama como você o ama, ele vai
querer se certificar de que vocês tenham essa segurança antes de trazer uma criança
ao mundo. Está me entendendo?
Houve um breve silêncio, e Mônica continuou:
— Deixe-o saber o quanto você acha importante ter uma casa só para vocês,
em vez de morarem na casa da mãe dele. Você e o bebê merecem ter o seu canto, e
um carro que não seja emprestado. Ele não pode conseguir tudo isso estando
desempregado. Se ele não está preparado para assumir uma família, deve cair fora.
Você não precisa de ninguém para complicar sua vida, Gail. Não precisa ter um
filho, se não é isso o que você quer. Está me ouvindo?
— Sim, estou ouvindo. Obrigada.
Bryan desconectou a chamada e fez um sinal com a mão para indicar que o
tempo tinha esgotado. Mônica falou no microfone:
— Faça a coisa certa, Gail. Eu tenho fé em você. Bem, isso é tudo por hoje,
pessoal. Fiquem sintonizados no Doutor Blue Mood e sua meia-noite mágica.
Estarei de volta na segunda-feira, no mesmo horário, e espero suas ligações para me
contarem algo de bom. Aqui é Mônica James. Paz e amor, e um ótimo fim de
semana.
A voz de Chaka Khan e do grupo Rufus tocava ao fundo enquanto o sinal de
Mônica se encerrava. Bryan girou alguns botões, deixando-os prontos para a
próxima equipe.
— Você está ficando mole — disse ele com um certo sarcasmo enquanto eles
saíam.
— Pegou leve com o pessoal, hoje. — Abriu um sorriso largo.
— Estou de bom humor. Mas aposto que alguém vai me deixar irritada
amanhã e voltarei ao meu normal.
Bryan balançou a cabeça.
— Não duvido nada. Bem, vou para casa. Minha esposa preparou o jantar e,
se eu tiver sorte, estará acordada esperando por mim.
— Algum plano para o fim de semana? — perguntou Mônica, enquanto
seguiam para o elevador. Ela o olhou intensamente e apertou o botão para a garagem.
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— Tenho uma dúzia de coisas para fazer com as crianças. Júnior tem um jogo
na liga infantil, tenho que trabalhar em algum projeto de escola com Tanya e minha
esposa prometeu fazer amor pelo menos duas vezes antes de eu voltar aqui na
segunda. Três vezes, se eu me comportar.
Mônica riu.
— Danielle vai acabar mimando você. Preciso falar com ela.
— Fique longe da minha mulher. Eu gosto das coisas do meu jeito. Se você
começar a meter esse seu lindo narizinho onde não é chamada, vai criar muita
confusão para mim — ele disse com uma gargalhada. — E você? Tem algum
programa para o fim de semana?
— Eu finalmente vou desempacotar minhas coisas e colocar minha casa em
ordem. Já paguei quatro parcelas da hipoteca, e minhas panelas ainda estão dentro
de caixas no meio da sala de estar. E isso, você sabe, é um crime.
Eles riram calorosamente e pararam ao lado do carro de Mônica. Bryan abriu
a porta e inclinou-se para lhe dar um rápido abraço; ela se sentou ao volante, acenou
e foi para casa.
Caminhando com todo cuidado entre as caixas, Mônica atravessou a sala de
estar e foi para a cozinha. A nova cafeteira automática funcionou como prometido
e um café fresquinho esperava por ela. Foi recebida pelo rico aroma que preenchia o
ambiente. Uma enorme caneca de cerâmica com o logotipo da rádio estava no
armário, aguardando o líquido quente.
Da janela da cozinha podia ver a luz que brilhava no quintal da casa ao lado.
Desde o dia em que se mudara, ela de vez em quando via o vizinho bonitão lançando
olhares furtivos pela janela, em sua direção. Agora, olhando com mais atenção,
parecia que ele tinha companhia. Uma mulher se movia atrás das cortinas
transparentes da sala, e seus gestos eram mais do que sedutores; na verdade, quando
a mulher tirou o casaco, Mônica se surpreendeu ao descobrir que ela usava apenas
calcinha e sutiã.
O striptease, no entanto, durou pouco; com o semblante frustrado, a moça
tornou a vestir o casaco e virou-se na direção da porta. Mônica viu o vulto de seu
vizinho passando atrás da mulher, e segundos depois a porta se abriu e ela saiu,
pisando duro e claramente contrariada.
Mônica sentiu pena da moça, pois era óbvio que as coisas não haviam
transcorrido conforme ela esperava. Deu de ombros e voltou a atenção para a xícara
de café.
Preston Walker estava chocado. A visita de Donata Thompson o pegara de
surpresa. Mais ainda quando ela deixara claro quais eram suas intenções. Depois
que ela saiu, ele trancou a porta da frente, passou a mão pela testa e foi se deitar no
sofá da sala de estar.
Preston lecionava língua e literatura inglesa na universidade estadual havia
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mais de doze anos, e durante todo esse tempo nenhuma aluna se mostrara tão
audaciosa quanto Donata. Ele tinha por princípio desencorajar os eventuais avanços
de suas alunas, cuidando sempre para estabelecer limites no relacionamento com
elas, mas o comportamento de Donata o deixara estarrecido.
Um rápido movimento chamou sua atenção, e ele afastou a cortina a fim de
olhar para a janela envidraçada da casa ao lado, ocupada fazia poucos dias por uma
nova moradora. Já havia reparado em sua nova vizinha, uma mulher bonita e
elegante, que aparentemente morava sozinha, pois ele não notara a presença de mais
ninguém entrando ou saindo da casa, além dela. A moça segurava uma caneca nas
mãos e olhava em sua direção. Antes de esticar o braço para fechar a cortina, ela
sorriu e acenou para ele. Hesitante, ele retribuiu o sorriso e ergueu a mão, acenando
de volta, antes de cerrar a cortina e apagar a luz.
Quando a campainha tocou, Mônica já havia tomado três xícaras de café e
aberto metade das caixas que ocupavam a sala de estar. Embora fossem apenas oito
horas da manhã, o dia prometia ser quente, com o sol já brilhando no céu sem
nuvens. Ainda com sua roupa de dormir, uma camiseta branca larga e uma calça de
moletom, abriu a porta, deixando o sol entrar na sala.
Diondre James estava parado ali, segurando sacolas de plástico com alguns
mantimentos. Ele sorriu, enquanto ela o cumprimentava calorosamente.
— Eu sabia que sua geladeira estava vazia, então pensei que seria bom fazer
umas compras. Além disso, estou com fome...
Mônica sorriu e afastou-se para dar passagem ao irmão mais velho. Ao abrir
mais a porta, viu que seu vizinho estava parado no pátio de estacionamento,
conversando com dois policiais. Parecia bastante agitado, e um dos policiais, alto e
de cabelos vermelhos, ao que tudo indicava, tentava acalmá-lo. Mônica colocou uma
das mãos no ombro do irmão e o puxou para dentro, tirando-o do caminho para que
pudesse ver melhor.
— O que será que está acontecendo ali? — perguntou, sem desviar o olhar da
cena no estacionamento.
Diondre deu de ombros.
— Pelo que deu para ouvir, é algum problema com o carro dele, mas não sei
o quê, exatamente.
Mônica fez um sinal para que o irmão levasse as compras para a cozinha.
— Só um instante, eu volto já — avisou. — Tem café quentinho na cafeteira,
sirva-se à vontade.
Ela saiu para o jardim e caminhou na direção do homem que estava parado
olhando para o carro de polícia.
— Bom dia — cumprimentou com um sorriso. — Está tudo bem?
Preston olhou fixamente para Mônica, enquanto ela se aproximava. Estava
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vestida com simplicidade, uma calça de moletom e uma camiseta larga, mas era
possível perceber que tinha um belo corpo. Era quase da mesma altura que ele e sua
pele era de um adorável tom de canela, que contrastava com os dentes brancos e
perfeitos. Ela estendeu a mão para cumprimentá-lo.
— Sou sua nova vizinha — disse. — Mônica James. Achei que já estava na
hora de me apresentar.
A voz dela era rica, com um timbre profundo que destacava cada palavra que
ela dizia, como se ela oferecesse um presente especial, apenas para seus ouvidos.
Preston devolveu o sorriso e relaxou um pouco no ar quente daquela manhã,
deixando de lado o nervosismo.
— Olá, Mônica. E um prazer conhecê-la. Sou Preston Walker.
— O que houve? Por que toda essa agitação?
— Alguém resolveu praticar um ato de vandalismo no meu carro — ele
explicou e apontou na direção do Isuzu Rodeo azul estacionado a duas vagas de
distância do carro de Mônica.
Os quatro pneus estavam furados, e sobre o capo havia uma mancha de tinta
amarela. Ela balançou a cabeça e ergueu as sobrancelhas de leve.
— Algumas mulheres não lidam muito bem com rejeição.
Preston se voltou para ela com um meio-sorriso.
— Então você viu tudo, ontem à noite?
Ela encolheu os ombros e sorriu, um pouco sem jeito. Preston balançou a
cabeça.
— Na verdade, não é bem o que você está pensando. Ela é minha aluna, e o
que fez foi totalmente inapropriado. Eu disse isso a ela, mas acho que não lidei muito
bem com a situação.
— Pelo visto, não! — Mônica riu.
Preston suspirou e enfiou as mãos nos bolsos da bermuda caqui, e Mônica
notou que ele estava sem graça com aquela situação.
Preston Walker era um homem que, definitivamente, podia ser considerado
bonito. Suas feições eram clássicas e bem proporcionadas, desde os olhos castanhos
e o nariz perfeito até o furinho no queixo. O corte dos cabelos era impecável, ao
estilo militar, dando-lhe uma aparência ainda mais máscula.
— O que você leciona? — Mônica perguntou, ainda sorridente.
— Língua e literatura inglesa, numa universidade — ele respondeu, com o
olhar fixo nos olhos dela.
Mas a conversa foi interrompida quando o irmão de Mônica a chamou.
— Mônica... telefone! — Diondre gritou e gesticulou, para chamar a atenção.
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Preston observou com curiosidade o homem parado na porta e depois se
voltou para Mônica.
— Bem, foi um prazer conhecê-la. Espero que a gente se encontre novamente.
Mônica deu uma piscadela, ao começar a voltar para casa.
— Mas é claro que vamos nos encontrar. Boa sorte com seu carro!
Preston ficou observando-a até ela alcançar o homem alto que a esperava na
soleira da porta. Era a primeira vez que ele via outra pessoa na casa e, do nada, viu-
se desejando que, quem quer que fosse aquele homem, não tivesse planos de ficar ali
por muito tempo.
Enquanto andava pelos corredores da universidade, Preston torcia as mãos
com ansiedade. Consultou mais uma vez o relógio de pulso: nove e quinze.
Encostou-se na parede, cruzou os braços e respirou fundo, sentindo de repente
o cheiro de formol, que vinha do laboratório de ciências. Nunca suportara aquele
cheiro nauseabundo.
Encostou os ombros na parede e pressionou as mãos contra os olhos. Sua
cabeça doía. A manhã mal havia começado e seus nervos já estavam em frangalhos.
Os alunos passavam por ele, em direção às salas de aula. O barulho incessante e o
burburinho de vozes fazia sua cabeça latejar, destruindo seu bom humor. Um ou
dois alunos o cumprimentaram, enquanto ele esperava por seu melhor amigo, o Dr.
Godfrey Davis.
Preston e Godfrey eram o oposto um do outro, mas eram como irmãos desde
a época da faculdade, quando também freqüentaram a fraternidade Alpha Phi
Alpha. Eram diferentes como o dia e a noite, no entanto possuíam uma amizade
equilibrada, e nenhum dos dois conseguia imaginar o que um faria sem o apoio do
outro.
Quando finalmente o homem saiu para o corredor, estava acompanhado por
uma admiradora pendurada em seu braço. Preston balançou a cabeça. Ainda não se
acostumara com o desrespeito do amigo pelas regras da universidade quanto ao
protocolo de ética no que se referia ao relacionamento entre professores e alunos.
Godfrey usava um terno cinza feito sob medida, uma camisa rosa clara e uma
gravata estampada, que valorizavam o corpo atlético. Passos firmes exibiam sapatos
lustrosos de couro cinza que pareciam ter sido feitos especialmente para combinar
com o terno. Godfrey sorriu enquanto ele e a mulher paravam diante de Preston.
— Bom dia, Preston. Como vai?
— Estou bem, Godfrey, obrigado. Preciso apenas de alguns minutos do seu
tempo. Sei que você está indo para uma aula. — Preston inclinou a cabeça para a
moça que o acompanhava e sorriu em cumprimento.
Lembrando-se de repente da boa educação, Godfrey fez um gesto na direção
da aluna.
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— Conhece a srta. Chateiam?
— Sim, conheço. Como vai, Jennifer?
— Bem, obrigada. Eu estava dizendo ao professor que estou pensando em
pedir transferência pára o curso de biologia.
Preston assentiu com a cabeça.
— Bem, diria que ninguém melhor do que o dr. Davis para aconselhá-la.
Espero que não se importe por eu interromper, mas preciso falar com ele.
— Sem problema. — Ela deu um sorriso malicioso e voltou sua atenção para
o outro homem.
— Vejo você mais tarde?
— Claro. Por que não passa mais tarde no laboratório, para continuarmos
nossa conversa?
— ele sugeriu.
Confirmando com um gesto de cabeça, a garota agitou os longos cabelos
loiros, virou-se e se afastou pelo corredor, balançando os quadris.
— Você nunca para? — advertiu Preston. — Qualquer dia, você vai perder o
emprego por causa de uma dessas garotas.
— Por favor! A única coisa que eu faço é aconselhar os alunos.
— Os alunos também?
Godfrey deu um de seus charmosos sorrisos.
— Então, o que traz aqui tão cedo? — ele perguntou, virando-se na direção da
sala de aula, ainda vazia. Fez um gesto para que Preston entrasse na frente e o seguiu,
fechando a porta.
—Você conhece uma aluna chamada Donata Thompson, do terceiro ano?
Uma que veio transferida da Universidade Meredith...
Godfrey colocou a pasta sobre a mesa e pensou por um momento.
— Uma garota bonita, de pernas grossas? Acho que este mês ela está loira, se
não me engano...
Godfrey riu, porém Preston continuou sério. Ignorando o senso de humor do
amigo, sentou-se em uma das trinta cadeiras cuidadosamente arrumadas.
— A srta. Thompson apareceu na minha casa na sexta-feira à noite, usando
apenas calcinha e sutiã debaixo do casaco. Eu tive de mandá-la embora.
— E ela não foi convidada? — Godfrey riu.
— Ela é minha aluna! — respondeu Preston, com expressão incrédula.
— Mande-a para mim, então... Tenho uma ou duas coisas que poderia ensinar
a ela!
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— Não tem graça, Godfrey. No sábado de manhã, encontrei meu carro sujo
de tinta e com os quatro pneus furados! Tenho quase certeza de que foi ela.
Godfrey se mostrou espantado com a possibilidade.
— Bem, relaxe, meu amigo. Eu, no seu lugar, não me preocuparia com isso.
A garota tem uma queda por você, e você a pôs para correr. Logo, logo, ela vai
esquecer o que aconteceu e vai arrumar outro para dar em cima, antes que o semestre
acabe.
Um dos rapazes do time de futebol, ou então, quem sabe, se eu tiver sorte,
um professor de ciências...
Os alunos de Godfrey começaram a entrar na sala, e Preston se levantou,
ainda inconformado. O amigo não dissera nenhuma palavra para ajudar a acalmar
sua apreensão.
— Não sei por que eu perco o meu tempo pedindo o seu conselho —
murmurou só para Godfrey ouvir e encaminhou-se para a porta.
Godfrey riu e foi atrás dele, parando-o no corredor.
— Era isso que você queria? Deveria ter falado. Eu teria dito para você ligar
para Mônica James. Ouvi dizer que ela tem ótimos conselhos para homens como
você. Preston olhou para ele, intrigado.
— Como você conhece Mônica James?
— Amigão, você precisa sair mais! Ligue para a WLVU. Dizem que ela é a
solução que os homens pediram a Deus, e tudo o que ela faz é dar conselhos para
pessoas como você.
Donata Thompson deu um último retoque na maquiagem enquanto sua
colega de quarto esperava por ela, sentada na beirada da cama. As duas dividiam o
dormitório no centro residencial da universidade.
— Então, o que aconteceu? — Tijuana perguntou numa tentativa de extrair a
informação que a amiga procurava manter em segredo.
A outra garota deu um sorriso amarelo, ainda olhando para seu reflexo no
espelho.
— Por que você quer saber? — indagou, enquanto aplicava uma camada
generosa de sombra azul na pálpebra.
— Quero saber como andam as coisas entre você e o professor, afinal ele é
artigo de primeira!
— Tijuana deu uma risadinha.
— Bem, vamos apenas dizer que a sua amiga aqui não está somente satisfeita,
como o professor ainda estará pensando mesmo depois que eu me formar. Eu vou
passar com um "A" em literatura neste semestre.
— E isso aí, garota!
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— Ele implorou para eu ficar, mas eu não podia. Tinha que deixá-lo querendo
mais, você entende?
Tijuana concordou com um gesto de cabeça.
— Você é mesmo sortuda! — ela exclamou e deu um assobio.
— Eu gostaria de encontrar um homem como esse professor. Os moleques que
tem por aqui me dão nos nervos.
— Bem, o professor Walker definitivamente não é um moleque, se você me
compreende.
— Donata riu e com as mãos fez um gesto obsceno.
— Mas quando você irá vê-lo novamente?
Donata forçou os músculos da face para criar um sorriso e fazer soar
verdadeira a mentira que saiu de seus lábios.
— Ele quer me levar para jantar hoje à noite. Em algum lugar romântico. Eu
disse que o avisaria se tivesse algum tempo disponível na minha agenda. — E riu
junto com a amiga, que se levantou e foi em direção à porta.
— Você é mesmo muito sortuda — Tijuana repetiu enquanto colocava o livro
debaixo do braço.
— É melhor irmos andando ou vamos chegar atrasadas na aula.
Donata concordou e seguiu a amiga, mas não sem antes dar mais uma olhada
no espelho e ver a imagem de uma estranha que a observava.
Donata olhou para o relógio na parede. Faltavam doze minutos para acabar a
aula de sociologia e ela pudesse se concentrar na próxima, que era de inglês. O
professor Walker devia estar ansioso para vê-la. Tinha certeza disso.
Não tinha a menor intenção de deixar que ele a dispensasse como da última
vez. Ela não fora até a casa dele com um conjunto de lingerie que custara o
equivalente ao jantar de um mês inteiro, para que ele agisse como se não estivesse
nem um pouco interessado no que ela tinha a oferecer.
Não, não estava louca. Aquele homem só tinha olhos para ela, já fazia um
bom tempo. O oferecimento dele para ajudá-la com o último exame não fora apenas
um gesto profissional. Ela sabia quando um homem estava interessado nela, e esse
era claramente o caso do Dr. Preston Walker.
Depois de abrir o casaco dando-lhe uma amostra do que tinha a oferecer, ela
pôde ver nos olhos dele que era desejada. Um homem não suava daquele jeito sem
motivo. Ele queria bancar o difícil, jogando-a para fora de casa como se fosse lixo.
Aquela lembrança a deixava irritada. Mas tudo bem. Faria com que ele não
cometesse aquele erro novamente. Donata Thompson não jogava como ele; ela ia
direto ao ponto, e o professor agora sabia que teria de andar na linha com ela, ou se
arrependeria amargamente.
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Mônica estava saindo para trabalhar justamente quando Preston estava
chegando em casa. Ele parou diante da porta e esperou que ela se aproximasse
enquanto seguia para o estacionamento.
— Então, você é a Mônica James do rádio. Ouvi dizer que seu programa é
bem popular atualmente.
— Boa noite para você também, Preston. Você ouviu corretamente, sou eu
mesma.
Preston sorriu e sentiu que as palavras lhe escapavam.
— Bem... — Ele fez uma pausa procurando algo mais para falar. Mas o olhar
penetrante de Mônica acabou com sua autoconfiança. — Eu estava... hum....
imaginando... se... — ele titubeou.
— Sim — disse ela, observando-o atentamente. — Eu adoraria.
— Você não sabe o que eu ia perguntar.
— Mas sei por que eu disse "sim".
— E por quê?
— Ligue para mim qualquer hora, então poderemos nos conhecer melhor —
ela respondeu com um tom convidativo na voz, passou por ele e seguiu em direção
ao carro.
— Ei, espere! Você não vai me dar o número do seu telefone?
— Ligue para a rádio. O programa vai ao ar das oito à meia-noite, na WLUV-
FM. Ao longo do programa, eu repito várias vezes o número do telefone.
Preston ficou observando enquanto Mônica entrava no carro e saía do
condomínio, e continuou olhando até o carro desaparecer de vista. Só então abriu a
porta e entrou em casa.
.Jogou em cima da mesa a correspondência que havia pegado na caixa do
correio. Seu dia no trabalho não fora dos melhores, mas ver Mônica fazia tudo valer
a pena. Enquanto pensava sobre seu dia, sentiu o estresse tencionar-lhe os músculos
das costas e dos ombros.
Ele e Godfrey haviam almoçado juntos, e após uma longa conversa, o amigo
o convencera a não contar o episódio com Donata para o diretor do departamento.
Dissera que a garota provavelmente estava tão embaraçada quanto ele e que o
melhor a fazer, para ambos, seria esquecer o assunto.
— Não adianta colocar mais lenha na fogueira — observara Godfrey, com um
sorriso. — A raiva de uma mulher desprezada pode ser letal.
Naquela tarde, na última aula do dia, ele tentara ignorar a presença de Donata.
Ela fez o habitual estardalhaço na entrada, mas Preston a tratou como se o fiasco do
fim de semana não tivesse acontecido. Quando ela parou diante de sua mesa e disse
"olá", ele respondeu educadamente e indicou um lugar para que ela se sentasse, para
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somente então começar a aula. Quando ela demorou para sair da sala, após o sinal,
deliberadamente esperando que os outros alunos saíssem primeiro, Preston pegou
sua pasta, pediu licença e se retirou.
Havia um rádio antigo, de madeira, sobre a bancada da cozinha, e ele o ligou
e sintonizou na estação FM 109.5. Eram sete e meia, e ele abriu a geladeira à procura
de alguma coisa leve e rápida de preparar para o jantar. Em seguida pegou uma
panela, descascou alguns legumes e colocou-os para cozinhar. Foi até o quarto,
trocou de roupa, voltou para a cozinha e fritou dois ovos, para comer com os
legumes, que estavam quase prontos.
Ao final de uma música, a voz de Mônica James, fazendo a chamada para o
programa, chamou sua atenção.
— Vamos mostrar um pouco de seriedade esta noite, pessoal! A sua vida tem
romance ou isso já não existe mais? Ligue e me conte algo de bom!
Logo em seguida a voz de Tony Brexton entrou no ar até o retorno de Mônica.
Preston arrumou a comida em um prato, sentou-se e ouviu atentamente enquanto
jantava.
— Quem está na linha?
— Olá, Mônica, sou Denise Baines. Na minha opinião, o romance está morto.
Os homens estão muito preguiçosos. Depois que conquistam uma mulher, eles
relaxam, não se esforçam mais para agradar.
— É isso que acontece no seu relacionamento, Denise? Seu namorado não a
leva para jantar?
— Tenho sorte se ele me levar a uma lanchonete! — respondeu a ouvinte com
uma gargalhada.
— E por que você acha que isso acontece, Denise? Você também deixou de ser
romântica?
— Ah, Mônica, a gente perde a motivação, entende? Não dá vontade de se
empenhar, quando você sabe que não vai receber nada em troca.
— Eu entendo, Denise. Agora quero ouvir o que os homens têm a dizer.
Liguem e digam algo de bom.
Preston sorriu, colocou o prato na máquina de lavar louça e voltou a se sentar.
Não tinha certeza de quanto tempo ficou ali parado, ouvindo o programa, antes de
pegar o telefone e discar o número que Mônica repetira tantas vezes. O telefone
tocou insistentemente, e quando ele pensou em desistir, uma voz masculina
finalmente atendeu.
— WLUV-FM.
Preston fez uma pausa, clareou a garganta e falou:
— Sim... hum... Posso falar com Mônica James, por favor?
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— Você tem algum comentário ou pergunta a fazer? Preston hesitou
novamente.
— Não, eu gostaria apenas de falar com ela um instante. Meu nome é Preston
Walker. Eu sou vizinho dela.
— Mônica está no ar agora, sr. Walker. É alguma emergência?
— Não, não. Ela apenas me pediu que ligasse. Eu pensei que o programa fosse
gravado, e não ao vivo. Me desculpe.
— Espere um pouco. — A voz do homem desapareceu e a música ficou mais
alta no ouvido de Preston.
Do rádio sobre o balcão, a voz de Mônica se espalhou pelo ambiente.
— Vamos ao nosso próximo ouvinte. Aqui é Mônica. E então, o que você me
conta de bom?
De repente Preston ouviu o som vindo ao mesmo tempo do rádio e do
telefone.
— Mônica, alô...
— Você precisa abaixar o volume, ouvinte.
Ele gaguejou ao perceber que estava no ar e que seu telefonema estava sendo
transmitido pelo rádio. Procurou o botão e ajustou o volume do aparelho.
— Agora está melhor — disse Mônica. — Então, quem está falando? Diga-
me algo de bom. Você é romântico, ouvinte?
— Não estou envolvido com ninguém, no momento — ele finalmente
respondeu, com suas palavras ecoando pela saída de som* do rádio.
— E por que não?
— Não sei, acho que ainda não encontrei a pessoa certa. Embora exista alguém
que estou muito interessado em conhecer melhor — acrescentou, resolvendo levar o
jogo adiante.
— E você será um tolo romântico com essa mulher que você quer conhecer
melhor?
Preston sorriu.
— Romântico, sem dúvida... Tolo não, nunca.
— Então me conte, você é romântico? Que habilidades especiais você irá usar
para conquistar uma mulher?
— Bem, se eu disser, não seria uma surpresa para ela, seria?
— Mas você não disse nem o seu nome, então como ela vai saber que é você?
— Ela vai saber. Mônica riu.
— Tenho certeza que sim. Nos diga, ouvinte, como você sabe que essa é a
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mulher na qual você quer investir o seu romantismo?
Preston fez uma pausa, incerto se deveria ou não responder a pergunta, mas
viu que não tinha nada a perder.
— Foi o olhar. Nós trocamos vários olhares que fizeram meu coração disparar,
minha cabeça girar e a respiração ficar mais pesada. É uma energia difícil de explicar.
— Humm... Isso parece muito intenso.
— E foi — ele respondeu com voz baixa e profunda, que enviou arrepios ao
longo da espinha de todas as mulheres que estavam ouvindo. — Era como se
fôssemos íntimos sem nunca termos nos tocado. Eu podia sentir o calor da pele dela
com a minha mão. Foi um daqueles olhares que deixa você com as pernas bambas.
Eu soube naquele instante que, quando nós nos tocássemos, esse momento mudaria
para sempre as nossas vidas.
— E você pode dizer tudo somente por causa de um olhar que trocou com essa
mulher?
— Mônica perguntou, com uma sombra de incredulidade na voz.
— Sim — respondeu Preston com voz ressonante. — Um olhar que me tirou
o fôlego.
Mônica lançou um olhar na direção de Bryan e ficou admirada ao perceber
que ele a fitava com ar de curiosidade, talvez captando algo diferente em suas reações
ao telefone.
— Você parece estar muito seguro de si — observou ela, voltando a se
concentrar na conversa.
— Estou seguro sobre essa mulher. Ela tem uma personalidade forte e precisa
de um homem que saiba lidar com isso.
— Bem, me parece que você quer dar muito trabalho a ela — retrucou Mônica,
com um tom sorridente na voz.
— Eu duvido de que ela não queira o mesmo. — Ele riu. — Espero apenas que
ela aceite o desafio.
— Mais alguma coisa que você queira me dizer esta noite?
— Não, senhorita. Ou melhor, gostaria de pedir um favor, se possível...
— O que posso fazer por você, Sr. Romântico?
— Você pode tocar uma música de amor?
A música começou a tomar o lugar da voz de Mônica através do rádio:
— Aqui é Mônica James, e dedico esta música ao nosso querido ouvinte. Aqui
vai um clássico, meu amigo, Are You Man Enough, dos Four Tops. Desejo a você boa
sorte, Sr. Romântico.
Mônica desligou alguns botões e voltou a falar no telefone.
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— Você ainda está aí?
— Are You Man Enough? Onde está o romantismo disso?
— Ah, depende de você, Sr. Romântico. — Mônica riu.
— Isso não foi legal. Eu não esperava ser colocado no ar.
— Acho que terei de compensá-lo pelo constrangimento.
— A que horas você sai do trabalho?
— Bem depois da sua hora de dormir.
— Tem certeza?
— Não tenho certeza de nada, Preston Walker. Você não é nada do que eu
imaginava.
— E o que você imaginava?
— Achei que fosse do tipo mais conservador. Talvez um rato de biblioteca.
Dessa vez foi ele quem riu.
— Então esse é o tipo de homem em que você está interessada?
Mônica sorriu ao telefone.
— Eu achei que seria interessante fazer algo para testar você.
Preston analisou o comentário.
— Talvez eu seja mais difícil do que você possa lidar, Mônica James.
Mônica sentiu o coração disparar. Do outro lado, Bryan gesticulava,
sinalizando que ela tinha apenas mais trinta segundos antes de voltar a entrar no ar.
— Eu gosto do café com açúcar e um pouquinho de leite — ela sugeriu.
— A que horas posso esperar você?
— Na mesma hora em que você me olha através da janela.
Preston riu.
— Estarei aguardando.
Quando ela desligou, Preston deu um largo sorriso. Olhou para o relógio da
parede e descobriu que tinha somente uns trinta minutos para ir até um
supermercado vinte e quatro horas. Precisava de uma lata de café e uma nova
cafeteira automática.
Donata seguia Preston dentro do mercado, cuidando para manter distância a
fim de que ele não a visse. Viu-o pegar um carrinho e seguir rapidamente pelos
corredores procurando alguns utensílios. Ela puxou o boné para cobrir melhor o
rosto, e uma mulher de avental azul deu a ela as boas-vindas ao supermercado.
Donata respondeu ao cumprimento com um rápido aceno e se escondeu atrás da
prateleira de revistas, fora do alcance da visão de Preston. Cobriu o rosto com uma
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revista e espiou enquanto ele examinava as cafeteiras e finalmente se decidia por
um dos modelos. Com o item escolhido, ele foi em direção ao caixa, e Donata o
seguiu de perto.
Preston aguardava sua vez na fila, quando ela se aproximou e pressionou as
mãos na cintura dele. Quando ele se virou, assustado, ela o cumprimentou de
maneira calorosa, demonstrando surpresa por encontrá-lo ali àquela hora da noite.
— Aqui é Mônica James e a rádio WLUV-FM chegando até você da cidade
de Raleigh, Carolina do Norte. Os violinos estão tocando e eu acabei de abrir uma
caixa de lenços. Me liguem, pessoal. Estou pronta e esperando
— ela cantou no microfone.
Bryan agitou os braços nervosamente com os telefones que não paravam de
tocar e sinalizou para que ela pegasse a primeira linha. T
— Aqui é Mônica James. Qual o seu nome e de onde você está falando?
— Olá, Mônica! — Soou uma voz masculina grave do outro lado da linha.
Meu nome é Earl, e estou falando de Mebane.
— E então, Earl? O que posso fazer por você?
— A pergunta é o que eu posso fazer por você. Mônica se recostou em sua
cadeira, com uma expressão
divertida no rosto.
— Opa, isso é que é uma surpresa boa, hein, pessoal? E o que você pode fazer
por mim, Earl?
— Sabe, o problema é que vocês, mulheres, ainda não encontraram um
homem de verdade, como eu, para dar aquilo que vocês querem.
— Ah, é? E o que você tem para me dar, Earl? O rapaz riu.
— Uma pegada boa, Mônica. Uma pegada como você nunca viu igual...
— Bem, se tudo o que você tem a me oferecer é uma pegada, não me faça mais
perder o meu tempo. Não estou interessada na sua pegada. Uma pegada, para mim,
não chega nem perto do começo, ouviu? E preciso bem mais do que uma pegada para
me cativar, meu caro, e acredito que para as nossas ouvintes do sexo feminino,
também. Vamos à próxima ligação... Quem está na linha?
— Olá, Mônica! Meu nome é Cassandra Elise Thomas Stewart Mathews, e
sou de Durham.
— Uau, garota! Que nome comprido você tem! Se o programa fosse um pouco
mais curto, não daria tempo de você falar seu nome.
— É que eu tenho uma longa lista de ex-maridos. — A mulher riu ao
responder.
— E o que você me conta de bom, Cassandra? Sobre o que quer falar?
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— Mônica, estou cansada desses homens com os quais vivo cruzando na noite,
com aquelas roupas fora de moda e dentes de ouro.
— Não muito cansada, considerando-se todos esses ex-maridos que você tem.
— Estou falando sério, Mônica. Esses homens de hoje precisam aprender
como se apresentar corretamente.
— Quando vai para esses clubes, como você se veste? Givenchy? Yves St.
Laurent?
— Quem?
— Quem desenha os vestidos que você usa para sair à noite? Algum estilista
famoso?
— Eu me visto adequadamente. Minhas roupas estão na moda.
— Não duvido, mas vou lhe falar uma coisa que minha mãe sempre dizia. Se
você se parece com o lixo da terça, tudo o que vai conseguir são os comedores de
sobras da quarta. Nenhum homem vai se aproximar se você não se enquadra no
mundo dele. Cassandra? Está me ouvindo?
Cassandra riu, embora não parecesse ter compreendido o que Mônica queria
dizer.
— Está bem. Vou explicar melhor. Como podemos exigir caviar se parecemos
uma sardinha? Se você quer pescar uma lagosta, minha amiga, não perca seu tempo
nos fossos. Peixes grandes nadam nos mares, em água limpa.
— Acho que entendi, Mônica! — exclamou a mulher com uma sonora
gargalhada.
— Aqui é Mônica James, e voltaremos a atender suas ligações após os
comerciais. Mas antes disso, uma antiga balada. Aqui está Maxwell, com Don't Ever
Wonder.
Mônica desligou o microfone e Bryan se juntou a ela na cabine.
— Está preparada esta noite?
— Quem está na linha?
— Alguns jogadores nas linhas dois e três e uma garota com uma pergunta
séria na linha quatro. Quem você quer atender primeiro?
— Pode passar a garota. Deixe os outros esperando, quem sabe assim eles
desistem.
— Você é malvada, mesmo. — Bryan riu.
— Não sou, não. É que tenho um encontro esta noite e eu não quero estragar
meu bom humor por causa de algum homem que se ache um presente de Deus para
toda a população feminina.
— O encontro é com o vizinho?
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Ela concordou com a cabeça e sorriu.
— Eu pensei por um momento que você fosse acabar com ele, mas ele deu
conta do recado. Você não conseguiu o melhor.
— É, não consegui!
Bryan saiu e foi para a cabine de som.
— Aposto que ele não terá tanta sorte da próxima vez — comentou. — Estou
certo, ou não?
Mônica riu.
— Está certíssimo!
Godfrey ainda não tinha respondido à sua ligação, e Preston tinha a sensação
de que fazia horas que estava andando de um lado para o outro. A casa de Mônica
estava às escuras, a última luz fora apagada minutos depois de sua chegada.
Ele estava mortificado pelos eventos que haviam arruinado seus planos
naquela noite. O aparecimento de
Donata no mercado fora uma situação muito estranha. As poucas pessoas que
estavam na fila e mais duas caixas que trabalhavam lá observaram curiosas, a jovem
que se jogava em cima dele e piscava por cima do ombro para a platéia que havia se
formado. Quando tentou afastá-la, ela ameaçara fazer uma cena ainda maior, o
tempo todo mantendo um sorriso no rosto, como se não houvesse nada de errado.
Enquanto ele pagava pelas mercadorias, ela se pendurara no braço dele e contara
com entusiasmo sobre seu dia.
No estacionamento, Donata começara a chorar e se desculpara pelo
comportamento, pedindo perdão. Prometera que aquilo não tornaria a acontecer,
que era tudo culpa da pesada carga de estudos e das ansiedades do dia-a-dia. Preston
saíra do estacionamento e vira que ela continuava onde ele a havia deixado, com
uma expressão estranha no rosto.
Ele respirou fundo e olhou para a cafeteira nova, em cima da bancada da
cozinha, e a caixa e os papéis da embalagem jogados no chão. Ele estava lendo o
manual de instruções quando a campainha tocara. Pensando que fosse Mônica,
correra para abrir a porta, mas seu entusiasmo arrefecera como se tivesse levado um
banho de água fria, quando se deparara com Donata parada na porta, chorando.
Irritado, começou a ralhar com ela, o que só serviu para fazê-la chorar ainda mais.
Os dois estavam envolvidos numa acalorada discussão quando Mônica
chegou e se aproximou, caminhando pelo pátio. De repente, Donata se jogou nos
braços dele, enlaçando-o pelo pescoço. Os olhares de Preston e Mônica se
encontraram nesse instante, mas ela se apressou a desviar o olhar e passou reto, até
entrar em casa e fechar a porta.
O momento de distração de Preston foi o suficiente para Donata passar por
ele e entrar, indo se acomodar no sofá como se tivesse sido convidada. A discussão
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se prolongou por mais uma hora, até que, finalmente, ele conseguiu convencê-la a ir
embora.
Ele pensou em if até a casa de Mônica e explicar o que havia acontecido, mas
não teve coragem. A expressão no rosto dela ao passar, mostrara claramente que ela
não queria ouvir nenhuma desculpa. Ele olhou pela janela em direção à casa dela e
viu que as luzes estavam todas apagadas, com exceção de uma réstia fina que
atravessava as cortinas do quarto, que poucos minutos depois também se apagou,
mergulhando a casa na escuridão.
Com um suspiro pesado, ele também apagou as luzes e foi para o quarto.
Estava tão perdido em pensamentos que não percebeu a sombra de alguém, no centro
do pátio, olhando diretamente para sua janela.
Bryan levou para Mônica um copo de água gelada enquanto balançava a
cabeça.
— As coisas estão agitadas, hoje.
— Continua chovendo telefonemas?
— Sim, nunca vi coisa igual...
— Bem, enquanto estiver assim, nosso emprego está garantido.
— Seu vizinho está esperando na linha quatro. — Bryan sorriu.
Mônica olhou para ele e ergueu as sobrancelhas.
— Ele pediu o favor de não ser colocado no ar, pelo menos não até ter a chance
de se desculpar. O que ele fez?
Mônica olhou para o relógio e ignorou a pergunta.
— Quando a música terminar, entre com os comerciais. Deve ser tempo
suficiente para eu resolver isso — disse ela, pegando o telefone. — Você disse linha
quatro?
Bryan fez que sim com a cabeça.
— Estique o máximo que puder os comerciais, sim? — acrescentou ela,
enquanto Bryan se afastava.
Mônica esperou que ele fechasse a porta e voltou-se para o telefone.
— Mônica falando.
— Mônica, é Preston.
— Pois não, Preston? — O tom de voz era gelado.
— Eu... gostaria de explicar o que aconteceu na semana passada...
— Você não me deve nenhuma explicação — interrompeu ela. — Nós apenas
nos conhecemos. Não somos nem mesmo amigos, portanto não há motivo para que
eu fique chateada com o que aconteceu.
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— Mas eu estou chateado, e gostaria de ser seu amigo. Espero que você me dê
outra chance de provar que isso é verdade.
Um silêncio opressivo pairou na linha telefônica, como se Mônica estivesse
pensando no que dizer. Do outro lado da cabine, Bryan fazia sinais com a mão para
avisar que o tempo estava acabando.
— Bem, você me deve uma xícara de café — ela finalmente respondeu.
— Com açúcar e um pouquinho de leite! Vai estar pronto quando você chegar
— Preston prometeu, animado.
Donata deitou-se na cama, sem prestar atenção no rap que tocava no CD-
Player. Tijuana e mais duas amigas estavam ocupadas cuidando dos cabelos, mas
apesar do barulho e do som alto, Donata não escutava nada. Com os olhos fechados,
tinha apenas a imagem do rosto do professor Walker em sua mente, e a sensação da
chave queimando a palma de sua mão. A cópia da chave da casa dele.
Ela só precisara de vinte minutos para atravessar o campus e ir até a galeria de
serviços do outro lado da rua, onde havia um chaveiro,j-tirar uma cópia da chave e
voltar para a sala de aula a tempo de recolocar o chaveiro dentro da pasta dele antes
que ele voltasse do almoço. Fora uma sorte ele ter deixado a pasta aberta em cima
da mesa, quando o dr. Davis aparecera na porta, chamando-o para almoçar. Fora
uma sorte também ela estar no corredor bem naquela hora, e ter visto os dois se
afastando em direção à cantina. Ela andara pé ante pé até a porta da sala de aula, vira
que estava vazia e então avistara a pasta preta de couro em cima da mesa, em meio
a algumas pastas e papéis. Notando que a pasta estava aberta, a curiosidade tomara
conta e ela esticara o pescoço para espiar o corredor, a fim de se certificar de que ele
tinha mesmo ido almoçar. Então correra até a mesa e espiara dentro da pasta, sem
saber exatamente o que esperava encontrar. Aquele homem a fascinava tanto que
qualquer coisa que dissesse respeito a ele a encantava também, até mesmo olhar para
uma folha de papel com a elegante caligrafia dele.
E foi quando ela viu o chaveiro, bem no topo, com as chaves do carro e outra
que era claramente da porta de casa. A idéia brilhou em sua mente como uma
lâmpada fluorescente que se acendesse num repente, e ela não pensou duas vezes.
Não havia tempo a perder. Sabia que havia um serviço de chaveiro do outro lado da
avenida, só precisava atravessar o campus até lá, fazer a cópia da chave e voltar
rapidinho, a tempo de recolocar o chaveiro no lugar. O que iria fazer com a cópia da
chave, ela não sabia ao certo naquele momento, mas era uma oportunidade que não
podia perder.
Donata abriu os olhos e viu as amigas, entretidas em se arrumar; nenhuma
prestava atenção a ela.
Enfiou a mão dentro da fronha e colocou ali a chave. Algum dia decidiria o
que fazer com ela.
Assim que Mônica dobrou a última esquina antes de chegar em casa, deu-se
conta de que não tinha mais como voltar atrás. Sentia-se como uma adolescente se
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preparando para o primeiro encontro. Estacionou o carro e parou por um momento
para verificar seu reflexo no espelho retrovisor, pois havia retocado a maquiagem ao
sair da rádio. Respirou fundo, enchendo os pulmões com o ar cálido da noite.
As luzes externas da casa de Preston estavam acesas, iluminando o caminho
até a porta da frente. Antes de bater, ela passou os dedos nas sobrancelhas e apertou
os lábios, molhando-os com a língua. Um Preston igualmente agitado a
cumprimentou ao abrir a porta, convidando-a para entrar.
— Olá, Mônica!
— Olá... Não estou interrompendo nada, espero?
— Não. Estou feliz por você ter vindo. — Ele sorriu.
Mônica entrou e reparou na decoração, ao mesmo tempo moderna e
aconchegante. Livros de todos as cores e tamanhos se enfileiravam nas prateleiras
de uma estante que ocupava uma parede inteira. A mesa de jantar, com tampo de
vidro, estava elegantemente arrumada, com uma bandeja no centro contendo uma
xícara com pires e um pequeno pote de vidro com torrões de açúcar. Havia também
um prato com biscoitos e outro de docinhos variados.
— Sei que você disse só açúcar e um pouquinho de leite, mas achei que poderia
oferecer mais opções
— explicou Preston.
— Obrigada.
Mônica sorriu e pegou um biscoito, enquanto ele tirava o bule fumegante da
cafeteira e derramava o conteúdo na xícara.
— Você não vai tomar? — perguntou ela, estranhando que só houvesse uma
xícara na mesa
— Não tomo café.
Mônica arqueou as sobrancelhas.
— Que tipo de homem não toma café?
— O mesmo tipo que não come carne, não fuma e não bebe álcool.
— Não come carne?
— Não.
— De nenhum tipo? Que pena... Estava pensando em convidar você para um
churrasco e assar um leitão inteiro...
Ambos riram.
— Bem, mas eu adoro todos os tipos de peixe e frutos do mar. Uma boa
lagosta, por exemplo...
Mônica meneou a cabeça e sorriu. Uma forte energia circulava entre eles.
Olhando para o outro lado, ela avistou a própria casa, pela janela da sala de estar.
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Ela havia deixado as cortinas abertas e a luz do corredor de cima acesa, criando uma
iluminação aconchegante no enquadramento da janela. Preston olhou na mesma
direção e sorriu.
— Às vezes eu me sento ali. — Apontou para a cadeira do outro lado da sala.
— Mas acho que você já sabe disso.
Novamente Mônica sorriu e meneou a cabeça, sem saber ao certo o que dizer.
Era a primeira vez em sua vida que sentia aquela insegurança diante de um homem.
Nunca ficava embaraçada, ou sem palavras, e no entanto, era o que estava
acontecendo naquele momento. Tratou de mudar de assunto:
— Você é daqui mesmo, Preston?
— Não. Eu nasci na Alemanha e vivi em vários países. Meu pai era militar de
carreira.
— Sua família é grande?
— Sou filho único. E você?
— Meu irmão mais velho e eu crescemos em Grensboro. Fomos criados
somente pela minha mãe, que era enfermeira.
— Era?
— Agora ela se dedica a cuidar da casa e de minha irmãzinha de quatro anos,
filha do meu padrasto.
— Seu irmão mora aqui por perto?
— Ele mora em Durham. Ele estava aqui naquele fim do semana quando
vandalizaram o seu carro. Eu deveria tê-lo apresentado.
— Era seu irmão? — Preston sorriu. — Pensei que fosse um amigo ou... algo
mais.
— Algo mais? — questionou Mônica com curiosidade, ao notar um tom de
ciúme na voz dele.
Preston ficou sem graça.
— Eu esperava que ele não fosse ninguém. Quero dizer... ninguém especial...
quero dizer...
— ele gaguejou, ficando cada vez mais vermelho. — Você sabe o que eu quero
dizer.
Mônica achou graça do nervosismo repentino dele, forçou-se a tomar mais
um gole de café e não reprimiu uma careta.
— Argh! — Ela estremeceu. — Agora entendo por que você não toma café.
Isto está horrível!
— Eu sinto muito. — Preston sorriu, sem se ofender com a sinceridade dela.
— Eu fiquei em dúvida se tinha colocado muito pó, mas é que achei que a quantidade
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sugerida no manual não parecia suficiente.
— Dava para remover tinta de parede com isto. Qualquer hora, vou lhe
ensinar como se faz um café.
— Posso oferecer outra coisa? Um chá de ervas, ou uma água?
— Não, obrigada. Eu tenho que ir andando. Já é tarde e eu sei que você sai de
manhã cedo para trabalhar. O meu dia começa de noite, por isso posso dormir até
mais tarde. Entendeu? — Ela sorriu.
— Não se preocupe com isso — Preston apressou-se a dizer. — Você é muito
bem-vinda para ficar. Eu realmente gostaria de conversar mais com você.
O olhar de Mônica encontrou o de Preston, e ela sentiu o coração acelerar. A
proximidade daquele homem fazia com que seu sangue circulasse mais depressa,
aumentando o calor do corpo, umedecendo as palmas de suas mãos. Forçando-se a
afastar a onda de desejo, ela colocou a xícara sobre o pires e se levantou.
— Você está livre para jantar este fim de semana? — perguntou com a voz um
tanto trêmula.
— Que tal sábado? — Preston sugeriu, sem hesitar. Mônica riu e concordou
com um gesto de cabeça. Em
seguida encaminhou-se para a porta, deu meia-volta e olhou para ele.
— Eu preciso perguntar... E a sua namorada? Como está o relacionamento de
vocês?
Ainda sentado, Preston sentiu o sorriso esmorecer em seu rosto.
— Ela não é minha namorada. E uma de minhas alunas na faculdade. Ela tem
sérios problemas emocionais, e está tentando superar. — Ele se levantou e foi até
Mônica. — Eu não começaria um relacionamento sem terminar outro. Não sou esse
tipo de homem.
Mônica deu um passo para trás, desejando fugir da sensação perturbadora que
Preston lhe provocava. Ele diminuiu a distância entre ambos avançando mais um
passo. Segurou a mão dela e fitou-a nos olhos.
— Obrigado por ter vindo — disse com uma voz que era pouco mais que um
sussurro. — Talvez possamos repetir amanhã?
Mônica olhou para ele, ciente dos dedos fortes que pressionavam os seus.
— Outro dia sim, mas não amanhã. E da próxima vez, eu faço o café. — Ela
sorriu. — Boa noite, Preston.
— Boa noite, Mônica. Durma bem.
Preston esperou, na soleira da porta, até vê-la entrar em casa. Acenou, fechou
a porta e, depois de tirar a mesa, subiu para o quarto. Quase que automaticamente,
dirigiu-se à janela e espiou na direção da casa de Mônica, a tempo de ver as luzes do
andar térro se apagarem. Logo em seguida a luz do quarto se acendeu, e ele deu um
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passo para trás, hesitante. Não queria que ela o visse observando-a, mas a tentação
era grande demais. Ele, então, perguntou-se se seria covardia apagar a luz e
continuar espiando, sem que ela pudesse vê-lo. A primeira resposta que lhe veio à
cabeça foi "sim", mas depois refletiu que, se Mônica não quisesse ser observada,
fecharia as cortinas ou apagaria a luz. Com esse pensamento tranqüilizador, Preston
apagou a luz e recostou-se na cabeceira da cama, o olhar fixo na janela iluminada do
outro lado.
Mônica ficou parada perto da janela do quarto, sabendo que Preston a
observava do escuro. Por um momento, considerou a possibilidade de despir-se ali
mesmo, mas em seguida mudou de idéia. Não havia necessidade disso, seria uma
provocação um pouco sem sentido. Depois de alguns minutos, cerrou as cortinas e
foi para o banheiro.
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— Eu tive uma outra idéia, se você concordar. Poderíamos passar a tarde
juntos, o que acha?
— Eu adoraria! — Mônica o acompanhou até a porta, um pouco frustrada, pois
esperara que a noite não terminasse assim tão rápido. — Obrigada mais uma vez,
por ter vindo — sussurrou, com a palma da mão no rosto dele.
Ele deu um último beijo nos dedos dela e sorriu. Então virou-se e atravessou
o gramado, desejando que o ar frio da noite trouxesse algum alívio para seu corpo.
Debaixo do conforto das cobertas, Preston olhava para o teto, a visão perdida
na escuridão, os braços cruzados atrás da cabeça. Ele desejava Mônica, e estava claro
que ela também o queria. Teria sido muito fácil se perder nos braços dela e nunca
abandoná-los. Se ele a tivesse beijado, os lábios dela clamando pelos dele, teria sido
o fim. Não tinha dúvidas de que teria dormido na cama da Mônica, abraçado a ela.
Teria de contar seu segredo no dia seguinte. Abriria seu coração para Mônica.
Poderia ter aproveitado aqueles momentos que passaram juntos e contado, mas não
tivera coragem. Não sabia como ela iria reagir.
No dia seguinte ele explicaria. Contaria e então rezaria para que ela
entendesse.
Mônica repassou cada detalhe da experiência deles naquela noite até que
ficassem gravados em seu cérebro. Ficar com Preston tinha sido muito bom, tão fácil
quanto respirar. Quando ela se aproximara mais, ele praticamente saíra correndo,
deixando-a com dores em certas partes do corpo que definiam sua feminilidade.
Uma estranha expressão havia surgido rapidamente no rosto dele, contudo ela tinha
testemunhado o desejo em seu olhar.
Era o mesmo que ela sentia, espalhando-se como fogo entre os dois. Estava
maravilhada de como podia saber tão pouco a respeito daquele homem e ainda assim
desejá-lo tanto, um desejo que chegava a doer.
Embaixo do chuveiro, ela fechou os olhos e deixou-se levar pelo devaneio.
Fazia algum tempo desde que um homem havia prendido sua atenção daquela
maneira. Tivera vários namorados, mas nenhuma relação duradoura. O
que mais marcara havia sido o primeiro, claro, com quem ela perdera a virgindade.
Jess fora seu colega de faculdade, e eles ficaram juntos por quase um ano. Depois
viera Tyrone, um agente esportivo de olhos azuis que ela conhecera durante o breve
tempo em que morara em Nova York. Tyrone mostrara o que ela realmente não
queria em um homem. O namoro durara exatamente quatro meses e duas semanas,
o que fora muito. O último e mais longo relacionamento ainda mexia com ela ao se
lembrar dele. King-John Vega fora seu primeiro amor verdadeiro. Ele a tinha feito
de tonta, e ela ficara completamente descontrolada quando romperam.
Eles haviam se conhecido numa convenção nacional de radialistas. Quando
se sentou ao lado dele, ela já estava irremediavelmente apaixonada. Um ano depois
ela se mudara de Nova York para Chicago para trabalhar com ele. King-John a havia
ensinado como agarrar a audiência e mantê-la firme, ensinara-a a fazer os ouvintes
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sentir que ela estava falando com cada um deles individualmente, fazer com que
cada um acreditasse que era o melhor amigo dela.
Os dois se tornaram inseparáveis, e ela ficara con-vecida de que se o amor
tinha um nome, esse nome era King-John. Ele fora o amante mais gentil e atencioso
que ela tivera. Mas o sexo incrível e o prazer de ser o mentor dela não foram o
suficiente para acalmar a natureza competitiva de King-John. Ele queria que ela
ficasse à sua sombra e à mercê de seu espírito dominador, e ela não era mulher para
isso. Quando seu talento começou a atrair a atenção nacional, isso foi demais para
ele. Como presidente e chefe dos negócios, King-John tornou-se uma pessoa
manipuladora, com ar superior e horrível. Quando Mônica decidiu que já agüentara
o suficiente, ele a largou e foi trabalhar em Atlanta.
Casou-se com a diretora de seu programa um ano depois.
Mônica fechou o chuveiro e se enrolou em uma toalha. Depois de King-John,
um relacionamento era a última coisa que passava por sua cabeça, pelo menos até
agora. Mas desde que conhecera Preston Walker, sentia-se mais aberta para as
possibilidades.
CAPÍTULO II
Era uma hora em ponto quando Mônica trancou a porta de casa e virou-se
para observar Preston guardar alguns itens no porta-malas do carro e fechar o capo.
Ela deu um largo sorriso e acenou para ele.
— Olá! Como vai? — perguntou e foi ao encontro dele.
— Eu, bem. E você? — Preston enrubesceu de leve. — Tomei a liberdade de
fazer alguns planos para nós. Espero que você não se importe.
Ele abriu a porta do passageiro e fez um gesto para ela entrar. Mônica
observou enquanto ele dava a volta em frente do veículo e se sentava ao volante.
— Então, para onde estamos indo? — ela perguntou ao colocar o cinto de
segurança. — Que planos você fez?
Preston ligou o motor e o interior do carro foi tomado por uma rádio
universitária que tocava jazz. A música era suave, fácil, só um pouquinho chata.
Como se lesse o pensamento dela, ele mudou de estação, mas finalmente resolveu
colocar um CD, e quando The Temptations começaram a cantar The Way You Do
the Things, Mônica começou a acompanhar a música.
— Eu achei que surpreenderia você. Mostrar que não sou aquele professor
tedioso que você pensou — disse ele com um largo sorriso quando olhou para
Mônica.
O olhar dele fez com que Mônica se sentisse quente por dentro e por fora. Ela
arqueou as sobrancelhas.
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— Eu achei você tedioso?
— Você sabe que sim. Mônica devolveu o sorriso.
— Bem, espero estar vestida adequadamente. — Olhou para a calça caqui e o
blusão de algodão azul.
— Eu trouxe uma roupa extra, caso seja necessário.
— Não se preocupe. Coloquei na mala tudo o que achei que você fosse
precisar.
— Deixe-me adivinhar. Você foi escoteiro, não foi? O seu lema é sempre estar
preparado, certo?
— E também sou leal, cortês, confiável, bom, corajoso...
Mônica ergueu as mãos em sinal de derrota, rindo enquanto o interrompia.
— Está bem, está bem! — Ela balançou a cabeça. — Então, qual posto você
atingiu?
— Escoteiro estrela. E também sou escoteiro líder assistente agora para uma
tropa de meninos em Durham.
— Impressionante. Meu irmão foi até a segunda classe. Ele não gostava do
líder da tropa.
— E você? Foi escoteira?
— Por favor! Eu sempre me rebelei contra atividades estruturadas que me
forçavam a ficar em companhia de mais de uma menina ao mesmo tempo.
— Por quê?
— Meninas não jogam limpo.
— Você acredita mesmo nisso? — Ele ergueu uma sobrancelha.
— Você não teve muita experiência com o sexo feminino, teve? Nós podemos
ser nosso pior inimigo, sem fazer muito esforço.
— Por que isso?
— As leis da natureza.
Preston olhou para ela com ar interrogativo.
— As estatísticas dizem que há aproximadamente quatro mulheres para cada
homem. O que significa que a competição é acirrada; como existem poucos homens,
já que a metade é gay e a outra metade é comprometida, isso não deixa muito espaço
para as garotas apenas se divertirem.
— Você apenas não encontrou as amigas certas.
— Pode ser verdade. Ao crescer eu passei boa parte do tempo com meu irmão.
Como minha mãe trabalhava, era ele quem tomava conta de mim depois da escola
e nos fins de semana. Eu saía muito com os garotos. Por isso meus amigos sempre
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foram os meninos.
Preston aquiesceu e checou os espelhos antes de entrar na rodovia.
— Como nós nos mudávamos muito enquanto eu crescia, participar do grupo
de escoteiros foi uma maneira que eu encontrei de manter alguma raiz. A maioria
das tropas são iguais, ensinando os mesmos princípios. As regras e as atividades
nunca eram diferentes. Era fácil fazer amigos porque todos tinham algo em comum.
Ser escoteiro foi um fator de estabilidade enquanto eu crescia. Um grupo de
escoteiros era como um lar, não importava em que base eu estava.
— Como eram seus pais? — Mônica quis saber.
— Meu pai era militar. Muito disciplinado e rigoroso.
Minha mãe era exatamente o oposto. Isso criava um equilíbrio interessante.
— Eles ainda estão vivos?
— Meu pai faleceu há quatro anos. Ele nunca se recuperou de uma cirurgia no
coração. Minha mãe mora na Flórida com duas irmãs. Elas dividem uma casa na
praia e administrar um antiquário. Espero ter a chance de apresentar vocês algum
dia.
Mônica não respondeu e prestou atenção no caminho, tentando esquecer do
calor que aumentava no seu corpo. Preston saiu da rodovia e seguiu para Cedar
Grove, fazendo a curiosidade de Mônica aumentar. Do lado de fora do veículo a
paisagem era composta de campos abertos, pontilhados por rebanhos. Eles não
poderiam ter escolhido um dia melhor para passar juntos; o sol estava agradável e a
temperatura quente acariciava seus corpos.
Preston saiu da estrada principal para uma estrada de terra, e a expressão de
Mônica mudou de uma calma curiosidade para divertida. As placas apontavam para
"Predator Paintball" na mesma direção em que eles seguiam. Preston riu ao ver o
olhar espantado dela.
— Paintball? — ela perguntou ao encará-lo.
— O quê? Muito simples para você?
— Você deve achar que eu sou uma pessoa que adora aventuras.
— Está dizendo que você não está apta para a tarefa? — Preston estacionou e
desligou o carro.
O amplo sorriso de Mônica era caloroso e emitia certas sensações para o corpo
dele.
— Eu estou dizendo — ela respondeu em tom de desafio — que espero que
você esteja preparado para levar uma surra. Você agora está jogando nos grandes
times, Sr. Romântico.
— Vamos jogar, Srta. James.
Uma hora depois, Mônica estava encostada em uma árvore, debaixo de uma
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vivida folhagem verde. Agachada e com as costas amparadas pelo tronco, ela fazia
sinais para o guia que estava sentado na árvore oposta a ela, apontando para Preston
e seu companheiro. Eles sorriram juntos, mas sem fazer barulho para chamar a
atenção de seus oponentes.
Mônica apontou na direção da bandeira vermelha de Preston, um pouco
distante, pronta para ser tomada. Quando o parceiro dela, Tuck, um homem alto,
com barba e uma barriga que começava a aparecer, moveu a cabeça concordando, ela
apontou sua semi-automática para o adversário e puxou o gatilho. As balas de tinta
atingiram os dois homens em cheio, espalhando tinta azul em suas roupas e
capacetes. Tuck caiu no chão e se arrastou até pegar a bandeira, ela deu um grito
como se fosse Tarzan e olhou presunçosamente para Preston.
— Acho que isso significa que você foi abatido, Sr. Romântico. Isso faz um
placar de cinco a dois.
— Mônica andou até ficar ao lado de Preston. Ele a abraçou carinhosamente
e quando seus corpos se tocaram os joelhos dela tremeram. Ela se desvencilhou do
abraço, não querendo fazê-lo notar que a deixava nervosa.
-— Isso não foi justo. — Preston tirou o capacete, balançou a cabeça e riu. —
Não foi justo de maneira alguma.
— Vale tudo na guerra e no amor — foi a resposta de Mônica quando seus
olhos se encontraram, para em seguida se desviarem. Ela lutava para prestar atenção
no homem que se aproximava rapidamente.
— Foi uma ótima estratégia de campo, minha pequena dama — o guia de
Preston disse, juntando-se a eles. — Muito bom para uma mulher.
— O que tem a ver ser uma mulher? Quero dizer, se fosse coisa de homem,
eu é quem deveria estar cumprimentando você agora.
— Isso mesmo — Tucl^, afirmou, juntando-se a eles. Ele passou a bandeira
vermelha para Mônica.
— Acho que isso pertence a você. Você conseguiu com justiça.
Preston ainda sacudia a cabeça.
— Para mim é o suficiente. Vamos fazer alguma coisa boa para que eu possa
me redimir.
Ele segurou a mão de Mônica enquanto todos voltavam para a casa de madeira
que servia de escritório. Chegando lá, Mônica tirou as roupas que Preston dera a ela
quando haviam chegado. Aquelas peças tinham protegido muito bem suas roupas,
evitando qualquer traço de tinta.
Após se despedirem, Preston pegou a mão dela e juntos caminharam até o
carro, balançando os braços como um casal de namorados. Ele ainda estava
maravilhado com a coragem de Mônica.
— Onde foi que você aprendeu a subir numa árvore daquele jeito?
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— Esqueceu que tenho um irmão mais velho? Você não acreditaria nas coisas
que ele me ensinou. Nunca participou de corrida de carrinhos de mão?
Preston balançou a cabeça negativamente.
— Eu ganhei dois troféus. Tudo que Diondre fazia, lá estava eu tentando fazer
igual.
— Eu deveria ficar embaraçado por ter perdido tão feio.
— Por quê?
— Coisa de homem. Vamos manter isso entre nós — disse e pegou a estrada
de volta para Raleigh.
— Esse pode ser nosso segredinho.
— Sou uma mulher com um programa de rádio, e você quer que mantenha
uma vitória dessas em segredo!
Preston riu e pegou a mão dela.
— Eu vou compensá-la. — Beijou-lhe suavemente a palma da mão.
— Com o que quer que seja. Você não pode arruinar a reputação de um
homem dessa maneira. Eu posso perder a minha carteirinha do clube do He-Man.
Mônica sentiu os músculos do estômago sobressaltarem, fazendo o desejo
invadir seu corpo. A mão dela queimava onde ele a havia tocado e aquela onda de
calor era muito intensa. Ele lutava para falar, e diminuir a tensão que ela sentia.
— Acho que isso vai depender do que você planejou para nós esta tarde — ela
informou com uma voz baixa e rouca.
— Confie em mim, é algo que eu conheço muito bem. Conseguirei fazer com
que você esqueça tudo o que aconteceu agora há pouco.
O passeio foi agradável, uma brisa fresca atravessava as janelas abertas.
Mônica apreciou o alívio causado pelo vento que soprava sobre seu corpo e se
recostou no assento do carro, aproveitando a melodia que tocava dentro do carro. A
conversa entre eles era casual, sobre o que gostavam e o que não gostavam.
Descobriram que dividiam a mesma paixão por comida tailandesa, arte étnica,
arquitetura e ativismo político.
— Você realmente fala o que pensa. Fico feliz por isso — disse Preston.
— Eu sempre falo tudo o que penso, Preston. Eu não mordo minha língua
para não falar o que eu penso. As pessoas ou gostam de mim ou me odeiam.
— Eu gosto disso. Sempre vou saber onde estou pisando com você.
— Não tenha dúvidas, meu querido, você saberá. Preston saiu da estrada
principal e seguiu pelas ruas
históricas de Rougemont, na Carolina do Norte. Mônica focou sua atenção na
vista ao redor dela. Quando ele estacionou em frente a uma linda mansão no estilo
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italiano, sua curiosidade foi aguçada. Ela não conseguia deixar de admirar a
paisagem viçosa situada naquela linda montanha.
Ao sair do carro, seguiu diretamente para o alpendre. Uma pequena placa na
porta era um sinal de boas-vindas para Bellvue House.
— Que lugar é este? — Mônica perguntou com o excita-mento reluzindo em
seus olhos.
— Antigamente era uma pousada, mas eles fecharam há alguns anos. Os
proprietários são velhos amigos, de vez em quando eles me emprestam o lugar para
trabalhar.
— Que tipo de trabalho?
— Basicamente, escrever. Um pouco de poesia, quando estou inspirado, um
livro de ficção que estou escrevendo no momento. — Preston estendeu a mão para
ela. — Vamos.
Ela o seguiu ao redor da casa, de mãos dadas. No local também havia uma
pequena piscina. Mônica se abaixou para sentir o perfume das rosas vermelhas,
antes de seguir para a pequena entrada de tijolos. Colocando as mãos no bolso,
Preston tirou um jogo de chaves e abriu a porta.
A curiosidade a fez entrar, assim que ele fechou a porta atrás dele. Mônica
ficou boquiaberta, piscando os olhos enquanto tentava absorver toda a vista de uma
só vez. Preston se jogou no centro da enorme cama. Um grande ventilador de teto
refrescava o ambiente. A colcha que cobria a cama era linda, uma mistura de seda e
cetim que davam um ar de decoração vitoriana. Uma hortênsia recém-cortada
enfeitava a mesinha ao lado da cama. Uma parte da parede servia como cabeceira, e
do lado oposto havia uma enorme banheira cercada por velas de vários tamanhos.
Em frente à cama, uma lareira desativada tomava conta da parede, com seu interior
escuro preenchido por uma coleção de plantas e cactos com variados tons de verde.
— Aqui foi o lugar dos velhos escravos — esclareceu Preston. — Esta área
antigamente era uma cozinha da casa principal, e os empregados dormiam lá em
cima. Foi transformado em suíte nupcial, alguns anos atrás.
— É lindo...
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— Quantos anos você tem? — perguntou Mônica, ainda incrédula.
— Faço trinta e oito no mês que vem.
— E você nunca fez amor com uma mulher?
— Nunca. Admito que cheguei perto uma ou duas vezes, mas nunca fui até o
fim.
— Você não ficou com nenhum homem, ficou?
— Não. — Ele riu. — Eu sou definitivamente heterossexual. Eu gosto de
mulher.
— completou com um sorriso tímido. — Gosto de uma mulher em particular,
e preciso lhe dizer Mônica, ver você, passar o tempo com você, tem sido um
verdadeiro desafio para mim.
— E o que levou você a tomar uma decisão como essa? E como conseguiu
resistir à tentação por trinta e oito anos?
— Bem, os primeiros... dezesseis, digamos, não foram tão difíceis.
Mônica riu da tentativa dele de fazer graça do assunto. Sob o olhar dela,
Preston sentiu que prendia a respiração, ao refletir sobre as memórias que tinham
formado sua existência. A história começou a aparecer vagarosamente.
— Nós morávamos na Coréia. Meu pai foi destacado para a base aérea de
Osan. Meu melhor amigo era um garoto chamado Robert Miller. Tínhamos
dezessete anos. Você sabe como são os rapazes nessa idade, os hormônios tomam
conta e a única coisa em que pensam é sexo. — Ele riu ao esfregar a sobrancelha e
continuou: — Robert perdeu a virgindade com uma prostituta chamada Pearl. Ele
pagou vinte dólares e ela deu a ele exatamente dez minutos. Quando chegou a minha
vez, eu não consegui. Senti que não era certo. Além do mais, eu tinha uma queda
por uma menina da minha classe. Eu queria que ela fosse a minha primeira, mas ela
não dava a mínima para mim. Ela me achava meio idiota. Mônica sorriu e ele
continuou:
— Então, antes da formatura, Robert ficou doente. Os pais o levaram de volta
para os Estados Unidos porque não conseguiam descobrir o que havia de errado com
ele. Um tempo depois eu soube que ele havia sido diagnosticado com AIDS. Isso foi
quando a doença ainda era pouco conhecida. Robert foi piorando, e morreu um ano
depois, de complicações por causa de uma pneumonia.
Esse fato me deu uma consciência ainda maior de como não tinha valido a
pena a experiência com Pearl, e de como a minha escolha na época me salvara de um
destino semelhante ao dele. E então se reforçou a minha decisão de não ter uma
relação casual. Depois disso entrei na faculdade e me dediquei inteiramente aos
estudos. Fiz pós-graduação, mestrado, logo em seguida comecei a trabalhar na uni-
versidade, e com tudo isso não sobrava muito tempo para outras atividades, entre
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elas o romance. As poucas moças por quem me interessei logo saíam correndo
quando eu contava que era virgem.
Os dois riram.
Preston se estirou ao lado dela e se apoiou num cotovelo.
— Isso incomoda você? — perguntou.
Mônica pensou um pouco antes de responder, e aquele breve silêncio fez com
que o coração de Preston batesse com ansiedade.
— Na verdade não, porque agora eu tenho noção dos nossos limites, mas acho
que isso levanta uma questão mais ampla.
— Qual?
— Eu não sou virgem. E não posso fingir que sou, nem que eu quisesse. Não
sou promíscua, mas já tive vários relacionamentos íntimos e extremamente
satisfatórios. Você consegue lidar com uma mulher experiente e que não se importa
em admitir que gosta de sexo?
— Eu consigo se ela estiver disposta a deixar de lado essa sexualidade para
tentar construir uma relação comigo. Também entenda, que um pedido como esse é
difícil para algumas mulheres. Talvez nunca consumemos o que vamos dividir, mas
eu preciso saber que, o que quer que aconteça, você me respeitará o suficiente para
não procurar outro homem enquanto estivermos juntos. Podemos não fazer sexo,
mas há outras maneiras de se ter intimidade com uma pessoa.
— Hum... Isso me parece interessante, Sr. Romântico.
— Espero que você fique por perto tempo suficiente para decobrir. — Preston
riu.
— Bem, acho que não saberemos se não tentarmos, não é?
Ele abriu um sorriso largo e respirou livremente. Mônica se sentiu confortável
quando ele pegou sua mão e entrelaçou os dedos nos dela. Quando Mônica aninhou
a cabeça em seu peito, ele beijou-lhe os cabelos, pensando que aquela mulher tinha
o poder de fazê-lo se sentir tolo e vulnerável, e ao mesmo tempo másculo e seguro.
A voz de Diondre soou na secretária eletrônica. Mônica rolou na cama,
lutando para encontrar o telefone, derrubou um copo, uma caixa de lenços e uma
bíblia da mesinha-de-cabeceira.
— O que é? — atendeu o telefone com a voz sonolenta.
— Você ainda está na cama? — o irmão perguntou irritado. — Pensei que
íamos à igreja agora de manhã.
— Que horas são?
— Quase dez. A que horas você foi se deitar ontem?
Mônica permaneceu deitada com os olhos fechados, o corpo nu pressionando
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o colchão.
— Não sei... — Ela bocejou.
— Levante-se, garota — ordenou Diondre. — Você precisa se vestir. Passarei
aí daqui a meia hora.
— Por que tão cedo? A missa começa às onze horas, e eu moro a dois minutos
da igreja.
— Meia hora, Mônica! — insistiu Diondre, autoritário. — Esteja pronta
quando eu chegar, está bem?
Mônica recolocou o telefone na base, forçando-se a abrir os olhos e a se
levantar. Às dez e meia em ponto estava pronta, quando Diondre tocou a
campanhia. Ele entrou e foi recebido com uma caneca de café.
— Você parece muito bem esta manhã. Melhor do que estava quando falei
com você agora há pouco.
Mônica mostrou a língua para ele e virou-se para olhar seu reflexo no espelho
pendurado no hall. O conjunto de seda que estava usando havia sido comprado oito
anos antes e tinha um estilo clássico, e ela se sentia descansada, radiante e disposta.
— Você também está ótimo — disse para o irmão.
Ele sorriu, ajeitou a lapela do terno e exibiu para ela os sapatos de couro de
crocodilo. Mônica riu.
— Então, como foi seu encontro? — ele perguntou, sentando-se no sofá.
— Foi ótimo.
— Aonde vocês foram?
— Fomos a Cedar Grove jogar paintball e depois fizemos um romântico
piquenique. E depois passamos o resto da noite conversando. Mal percebi o tempo
passar.
— Paintball? — Diondre balançou a cabeça. — Ele não poderia de ter feito algo
melhor?
— Foi ótimo. Nós nos divertimos muito.
— A esposa dele não veio atrás de você?
— Ele não é casado, Diondre.
— Ah, é mesmo — o irmão respondeu com sarcasmo. — Namorada, então.
— Vou lhe contar uma coisa, mas se você repetir para alguém, eu nego até a
morte que falei isso, entendeu?
Diondre pegou Qt café que havia colocado em cima da mesinha de centro.
— Opa, qual é o segredo? Pode deixar que não conto para ninguém.
— Preston me disse que é virgem. Ele nunca esteve com uma mulher antes.
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Está se guardando para o casamento.Diondre engasgou com o café e inclinou-se para
a frente, tossindo. Tentou lutar contra o riso, mas não conseguiu.
— Meu Deus! — exclamou finalmente, limpando a boca com um guardanapo
que Mônica deu para ele.
— Está melhor? Diondre ainda ria.
— Quantas vezes se escuta uma piada como essa?
— Não é piada. Ele é virgem, mesmo.
— Ah, está bem! Assim como aquela moça que estragou o carro dele não é a
namorada! Desde quando você ficou tão ingênua? Irmã James não criou você desse
jeito! Se acreditar nisso, pode acreditar em qualquer coisa.
— Por que você acha que ele está mentindo? Nem o conhece, e duvida dele?
— Eu sou homem, por isso sei que ele está mentindo.
— Só porque você é um cachorro, todos os homens do mundo têm que ser
também?
— Eu, cachorro?! — Diondre perguntou, fingindo-se de ofendido. — Quantos
anos ele tem? Trinta e cinco, quarenta? Ele tem algum problema, se realmente nunca
transou com uma mulher, Mônica! Ou ele é gay, ou impotente, ou sofre de um sério
complexo de Édipo, sei lá! De um modo ou de outro, você tem de cair fora, se afastar
o quanto antes desse homem.
— Mas eu gosto dele, Diondre! Gosto muito... — Ela se jogou no sofá, ao lado
do irmão. — Para ser sincera, nunca gostei tanto de um homem na minha vida. Nem
de King-John.
Diondre observou a irmã durante alguns instantes e de repente assumiu uma
expressão séria e a envolveu em seus braços.
— Está bem, talvez ele seja uma rara exceção, um homem de sentimentos
puros. Vamos admitir que seja esse o caso. O que você acha disso? É algo com que
consegue lidar bem?
— Eu não acho que seja de todo mau, sabe? Na verdade, tira até um pouco da
pressão. Eu gosto da idéia de construir um relacionamento que não seja baseado no
sexo. Que o sexo venha como uma conseqüência... É um conceito novo para mim,
mas bem interessante...
Seus olhares se encontraram e Diondre sorriu. Segurou-a pelo queixo, fazendo
com que ela o fitasse nos olhos.
— Mônica, você é a mulher mais inteligente que eu conheço. Confie na sua
intuição. Se você gosta desse rapaz, então eu apoio você inteiramente. O que os
outros pensam não importa, o que importa é que ele respeite você e a faça feliz.
Ela abraçou o irmão.
— Obrigada — sussurrou. —Você é um irmão maravilhoso, mesmo sendo um
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cachorro.
Diondre imitou um latido e a apertou entre os braços.
— Agora vamos. Depois dessa conversa parece que eu preciso rezar por você...
Mônica riu e o seguiu até a porta.
Donata parou o carro ao lado do de Preston, no estacionamento do
condomínio. Permaneceu algum tempo sentada dentro do carro, tentando decidir se
ia bater à porta dele, se esperava até ele sair, se telefonava avisando que estava lá, ou
se usava a cópia da chave que mandara fazer e entrava na casa dele, fazendo-lhe uma
surpresa. Mas a idéia, no fundo, a assustava.
Estava confusa, e a culpa era dele. Aquele homem a confundia, fingindo não
estar interessado quando no fundo estava louco de desejo por ela. O Dr. Walker era
um homem orgulhoso, que relutava em admitir que estava cindo por uma mulher,
mas ela era paciente e sabia esperar. Ainda chegaria o momento em que ele
declararia abertamente o seu amor e imploraria pelas atenções dela.
Inquieta, saiu do carro e encostou-se ao capo, com os braços cruzados, o olhar
fixo na casa de Preston. Era domingo, e ele poderia estar dormindo, ou lendo, ou
preparando uma aula. Poderia demorar horas para sair, ou até mesmo não pôr o nariz
para fora de casa até o dia seguinte. Se ao menos já estivesse escuro, ela poderia
enxergar alguma coisa pelas janelas, mas àquela hora era impossível.
Donata caminhou até perto da casa, com as mãos enfiadas nos bolsos do
blusão de moletom. Apalpou a chave em um dos bolsos; aquele objeto lhe transmitia
uma sensação de poder e ao mesmo tempo de medo. Queria entrar na casa do dr.
Walker, mas ainda não reunira a coragem necessária para isso. Indecisa, deu meia-
volta e retornou para o carro, para esperar um pouco mais. Quem sabe ele apareceria
a qualquer momento? Estava abrindo a porta do carro quando avistou o casal de
idosos que haviam sido tão gentis com ela na véspera.
Esperara horas diante da casa de Preston no sábado, ansiosa para encontrá-lo
e sugerir que passassem algum tempo juntos. Foi quando o casal passara por ela, de
mãos dadas, voltando para casa. Ela já estava ali plantada, horas antes, quando eles
haviam saído e a cumprimentado cordialmente. Vendo-a no mesmo lugar ao
voltarem, a amável senhora perguntara se podia ajudar em alguma coisa. Ela
explicara que estava esperando pelo dr. Walker, e o que a senhora dissera a deixara
arrasada:
— Ele saiu com aquela moça simpática que mora na casa ao lado, Mônica
James — informara a mulher.
— O dr. Walker sabia que você viria? — indagara o marido.
— Não. — Donata balançara a cabeça. — Eu sou a noiva dele. Estava fora da
cidade e ele não esperava por mim. E aniversário dele hoje e eu pensei em fazer uma
surpresa. Mas não faz mal, vou tentar falar com ele mais tarde — respondera,
despedindo-se com um aceno de mão.
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— Quer que diga a ele que você esteve aqui? — perguntara a mulher,
obrigando-a á olhar para eles mais uma vez, disfarçando o mal-estar com um sorriso.
— Não, obrigada. Quero fazer uma surpresa para ele. Ele adora surpresas.
O casal sorrira para ela e se despedira. Isso fora na noite anterior, e agora o
casal parecia feliz em revê-la.
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Mônica riu.
— Bem, o que eu sei é que há apenas um homem lá fora para mim, querida.
Eu também sei que ele não está me traindo. Infelizmente, você não pode dizer o
mesmo. Então, se precisa ligar para alguém, deveria ligar para elei, e não para mim.
Em vez de desperdiçar o meu tempo, você deveria guardar essa energia para ele.
Procure o que fazer! Aqui é Mônica James, e estou chegando até você pela rádio
WLUV-FM. Ligue e me conte algo de bom...
Donata andava de um lado para outro como se fosse um animal enjaulado. A
petulante desligara na sua cara! Dissera que ela fosse cuidar da sua vida! Ah, mas
ela ia pagar, ah, se ia! Ela tremia de raiva, o ódio tomando conta do seu espírito com
sede de vingança. Preston estaria com ela se não fosse por aquela mulher. Mônica
James era a culpada pelo seu tormento e pelo seu coração ferido!
A noite terminou cedo. Preston estava trabalhando em um projeto desde que
Mônica saíra para a rádio, e ainda não terminara quando ela chegou. Conversaram
brevemente antes de Mônica voltar para casa, prometendo tomar café com ele na
manhã seguinte antes de ir para o aeroporto pegar o avião para Washington, para a
convenção nacional de radialistas.
Ela tomou a terceira xícara de café e virou a última página do livro que estava
lendo. A história era monótona, sem ação, e ela se arrependeu por ter comprado o
livro em vez de tê-lo retirado na biblioteca. Depois de verificar se todas as portas
estavam trancadas, subiu para o quarto e, como já se tornara uma espécie de vício
incontrolável, dirigiu-se para a janela.
Do outro lado, Preston estava parado no meio do quarto, usando apenas a
calça do pijama, displicentemente amarrada na cintura. Sem se conter, Mônica
pegou o telefone e ligou para ele, observando-o atender.
— Tudo bem? — Preston perguntou, olhando na direção da janela de Mônica.
— Tudo. Só queria ouvir a sua voz antes de dormir. Preston ficou olhando
para ela com a mão sobre o vidro.
Nenhum dos dois disse uma palavra, ambos imaginando o que poderia
acontecer se estivessem pertinho um do outro naquele momento.
— É melhor você me pedir logo em casamento, Preston Walker. Estou ficando
cansada de ter que me despedir de você todas as noites.
As palavras de Mônica surpreenderam os dois. Uma breve onda de ansiedade
passou pelo rosto dela enquanto aguardava uma resposta.
Preston respirou fundo e soltou o ar devagar.
— Querida, eu também não gosto de me despedir de você. Eu te amo, Mônica.
Ela sorriu, sentindo o coração bater acelerado. Desligou o telefone, soprou um
beijo para ele e se afastou da janela, sem fechar as cortinas.
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Nessa noite, ela deu vazão à sua ousadia e despiu-se, de costas para a janela,
tirando lentamente peça por peça de roupa, até ficar completamente nua. Em
seguida, sem olhar para trás, encaminhou-se para o banheiro.
A convenção de radialistas não estava no topo da lista de prioridades de
Mônica, mas a diretoria da emissora determinara que ela devia comparecer e manter
a atenção voltada para si própria, para o programa e o aumento de audiência. Mônica
queria evitar essa conferência, principalmente porque queria evitar King-John Vega,
que fora escalado para ser o mestre de cerimônias. Mas no final, ali estava ela, a
poucos minutos de reencontrar o homem que partira seu coração.
O avião aterrissou no horário previsto. Pouco depois de pegar a bagagem e
entrar num táxi, Mônica se viu entrando no luxuoso saguão do Willard
Intercontinental Hotel. Localizado no coração de Washington, o Willard era o hotel
mais importante da cidade, em tradição, luxo e sofisticação. Enquanto se dirigia para
o quarto, ela sentiu uma súbita saudade de Preston e o desejo de que ele pudesse estar
ali com ela.
A primeira coisa que fez assim que se viu instalada no quarto foi ligar para
ele e deixar uma mensagem na caixa postal dele.
— Olá, querido. Só quero que você saiba que eu cheguei bem. Irei para o centro
de convenções em alguns minutos. Estou com saudade... Queria que você estivesse
aqui. Falo com você mais tarde.
No banheiro, Mônica colocou seus artigos de nécessaire sobre a bancada da pia,
retocou a maquiagem, aplicou gloss nos lábios e um pouco de perfume nos pulsos e
atrás das orelhas. O conjunto turquesa que usava lhe caía muito bem, valorizando
seu corpo. Satisfeita, passou a mão pelos cabelos e desceu para o saguão.
Ela o avistou primeiro. No final do longo corredor, King-John estava em pé,
conversando com três homens, que Mônica reconheceu como colegas de profissão.
A presença dele era tão marcante quanto ela se lembrava, sua estatura imponente
irradiava confiança, Com os seus mais de um metro e noventa de altura, King-John
aparentava a realeza que indicava seu nome.
Ele gesticulava animadamente ao falar com os homens, alheio à aproximação
dela. De repente, Mônica notou a ausência da aliança de casamento.
Jason Ealy, um dos associados da emissora de Chicago, viu-a se aproximando
e sorriu.
— Mônica James! Olhe para você. Como vai? — perguntou e a abraçou,
atraindo a atenção do grupo para ela.
— Melhor do que nunca, Sr. Ealy. Sr. Hazelton, olá
— cumprimentou Mônica, controlando a voz, mas seus joelhos tremiam.
— Por que "senhor"? Da última vez em que nos encontramos, você não foi tão
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formal — provocou Jake Hazelton, inclinando-se para dar um beijo no rosto dela.
— Se não me engano, eu o chamei de imbecil, mas achei melhor lhe dar o
benefício da dúvida desta vez — Mônica respondeu antes de cumprimentar o
terceiro homem. — Muito prazer. Sou Mônica James, da WLUV-FM, Raleigh-
Durham, Carolina do Norte.
— Darryl Little, WKTZ, Sarasota, Flórida — falou o homem baixote e
gorducho, apertando entusiasticamente a mão dela. — Conheço muito você de
nome.
Mônica aquiesceu e finalmente encarou King-John.
— Majestade, como vai?
Ele sorriu e seu peito pareceu ainda maior.
— É bom vê-la, Mônica. Eu esperava que você estivesse aqui.
— É mesmo?
— Ficamos sabendo que você e King-John estão disputando o mercado na
região sudeste
— comentou Jake, olhando de Mônica para King-John.
Mônica concordou, sem desviar o olhar de King.
— Então você deve ter ouvido também que meus índices de audiência
ultrapassam os dele
— disse ela, séria. — Lentamente, o rei está perdendo sua coroa para a rainha.
King-John sacudiu a cabeça e riu.
— A rainha fala demais. Vamos ver até quando seu reinado vai durar.
— Bem, cavalheiros, preciso me inscrever. Certamente nos encontraremos
mais tarde.
— Espero que sim — murmurou King, pegando a mão dela e levando-a aos
lábios.
Inesperadamente, esse gesto fez com que os joelhos de Mônica amolecessem,
e por um segundo ela pensou que fosse cair. Decidida a não permitir que ele
percebesse que seu toque a afetara, mediu-o de cima a baixo e então, lentamente,
retirou a mão para limpá-la na manga do blazer azul-marinho de Jake. O grupo caiu
na gargalhada e Mônica seguiu pelo corredor, sem olhar para trás, para os quatro
homens que a observavam curiosamente.
Mônica passou o resto do dia evitando King-John. O tempo pareceu se
arrastar, e quando terminou o último workshop, com duas horas livres antes do
jantar, ela ficou grata por poder voltar para o quarto.
Tirou a roupa e se jogou na cama, pegou o celular e ligou para Preston, que
atendeu ao segundo toque.
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— Diga algo de bom — disse Mônica, a voz como um convite.
— Sinto falta da minha garota.
— Isso é muito bom. Sinto falta de você também.
— Como está indo a conferência?
— Já estou pronta para voltar para casa.
— Você viu o seu* "ex"? — Preston quis saber. Aquela pergunta ocupava sua
mente desde que Mônica contara sobre o relacionamento que tivera no passado.
— Por que isso parece incomodar você?
— Não incomoda. Eu só estava pensando...
— Incomoda, sim. Admita.
— Sim, me deixa nervoso.
— Por quê?
— Porque você tem sentimentos por ele que ainda não estão resolvidos.
— De onde você tirou essa idéia?
— Você acha que não?
—A única coisa que eu sinto é raiva pela maneira como ele terminou comigo,
nada mais. Mas isso já passou. Se ele não tivesse feito isso, provavelmente ainda
estaríamos juntos e eu não teria conhecido você.
— Fico feliz que pense assim, querida. Não vejo a hora de você voltar.
— Preston, o que você está vestindo? — ela perguntou de repente.
— Bermuda e camiseta... Por quê?
— Tire — ela sussurrou.
— Como?
— Tire a roupa — Mônica repetiu. Preston deu risada.
— Você está brincando, certo?
— Não, estou falando sério. Tire a roupa, por favor. Preston hesitou, mas
acabou fazendo como ela dizia.
— Pronto, estou só de cueca e meias.
— Ótimo, porque eu estou só de calcinha e sutiã. Estou praticamente nua.
— Enquanto falava, ela deslizava a mão gentilmente pelo abdômen,
acariciando com as pontas dos dedos até chegar ao umbigo. — Se eu estivesse aí, iria
beijar aquele furinho no seu queixo. Eu adoraria mordiscar o seu queixo...
Preston deixou-se cair sentado no sofá e apoiou as pernas em cima do móvel.
Podia sentir a virilha tremer, e teve de resistir à vontade de se tocar.
47
— Então eu iria beijando mais para baixo até chegar nos mamilos —
continuou Mônica, com voz baixa e sedutora. — Você gostaria disso, não gostaria?
— Hum... — Preston gemeu, a imaginação ganhando controle sobre o corpo.
— Aí eu lamberia um mamilo, depois o outro, bem devagarinho...
— Mônica... — Preston fechou os olhos, imaginando-a a seu lado, com a boca
em seu peito.
— Depois eu iria descendo, até chegar ao seu umbigo — ela continuou com a
mão entre as pernas.
— Diga como você se sente.
— Eu me sinto muito bem, aquecido e molhado. Posso sentir seu hálito quente
sobre a minha pele.
Dessa vez foi Mônica quem gemeu. Sentiu os mamilos intumescidos
pressionar o sutiã, e passou a mão sobre os seios.
— Eu posso sentir suas mãos em mim, Preston. Elas estão quentes, quase
pegando fogo...
— Onde estão as minhas mãos?
— Estão... passando por todo o meu corpo. — Mônica apertou as coxas com
mais força, com a mão entre elas.
De repente, uma batida na porta a arrancou do devaneio. O som começou
fraco e foi aumentando a intensidade até que ela ouviu alguém chamar seu nome.
— Mônica! Eu sei que você está aí. Abra a porta! Sou eu, King-John.
Ela suspirou, amaldiçoando a interrupção.
— Desculpe, Preston, eu ligo para você depois, querido.
— Qual o problema?
— Tem alguém batendo na porta.
— É ele? '
— Sim.
Preston meneou lentamente a cabeça e sua mão caiu ao lado do membro ereto.
— Entendo — murmurou e sentou-se no sofá, a ereção desaparecendo
rapidamente.
— Eu espero que sim... Essa é uma conversa que ele e eu precisamos ter. Sinto
muito.
— Tudo bem, Mônica. Faça o que tem de fazer.
— Eu ligo mais tarde.
— Está bem.
48
Ela desligou o telefone e tentou se acalmar.
— Só um minuto, King! — ela pediu, vestindo-se apressadamente.
Ao abrir a porta, Mônica o fitou sem disfarçar o desprezo e a irritação.
— Pensei que você entenderia quando não atendi da primeira vez.
King riu e se encostou no batente, medindo-a da cabeça aos pés.
— Eu prefiro quando você é direta.
— Onde está sua esposa?
— Não tenho mais esposa. Nos divorciamos há um ano.
— Sinto muito.
— Sente mesmo?
Mônica ergueu os ombros em sinal de pouco de caso.
— Na verdade, não.
— Como eu disse. Você é melhor ainda quando é direta.
— O que você quer, King?
— Eu queria muito falar o quanto eu senti a sua falta. Nós éramos bons juntos
— disse ele com voz sedutora, na tentativa de mudar a opinião de Mônica sobre ele.
— E quando éramos ruins, nós éramos muito, muito ruins. E definitivamente,
houve muito mais coisas ruins do que boas, entre nós.
— Isso pode mudar.
— Não, não pode.
— Por que não?
— Porque não estou interessada.
— Puxa... Você sabe mesmo me magoar, não?
— Não tanto quanto você a mim.
— Você ainda tem raiva de mim?
— Nenhuma.
— Mas ainda guarda ressentimento.
Seu ego continua inflado, King. Mas veja bem, eu não sinto a menor falta de
você, assim como tenho certeza de que não te amo mais. Na verdade, do jeito que as
coisas estão indo, logo você será apenas uma vaga lembrança.
King não esperava por aquela reação, e franziu os lábios, transferindo o peso
de um pé para o outro, procurando por uma resposta à altura. Mas antes que ele
pudesse falar Mônica o dispensou:
— Adeus, King. Sua fala mansa não funciona mais comigo. Valeu a tentativa.
49
— Ela fez menção de fechar a porta, e King deu um passo para trás.
— E boa sorte com sua carreira. Uma boa e curta carreira é melhor do que
nada.
Mônica trancou a porta e voltou para a cama, cobrindo a boca com a mão para
não rir. Ver a expressão estupefata no rosto de King compensara tudo o que ele a
fizera sofrer. A sensação de desconforto no estômago desapareceu, e tudo que ela
queria era voltar para o celular com Preston e terminar o que eles tinham
começado.Mônica estava tirando a correspondência da caixa de correio quando um
carro passou por ela e parou no estacionamento. Ela observou enquanto a jovem
lutava com as sacolas de supermercado que tirava de dentro do veículo. Quando
finalmente conseguiu distribuir o peso nos dois braços, a garota seguiu para a porta
de Preston. Mônica franziu a testa ao vê-la inserir a chave na fechadura.
Como se pressentisse que estava sendo observada, Donata olhou na direção
dela.
— Olá — cumprimentou Mônica. — Como vai?
— Bem, obrigada — respondeu Donata, abrindo a porta e colocando as sacolas
no chão, do lado de dentro.
— Acho que não fomos apresentadas. Você é amiga do dr. Walker? —
perguntou Mônica, cada vez mais intrigada.
Donata deu uma risadinha.
— Eu sou a noiva dele. Andei muito ocupada na faculdade nas últimas
semanas e não tive muito tempo para o meu amor. Nossos horários são tão malucos
que a gente mal se vê. Pensei em fazer uma surpresa preparando um jantar especial
hoje à noite. Você deve ser a nova vizinha. Ele me falou muito sobre você.
— E mesmo?
Donata continuava sorrindo.
— Você é Mônica James, do programa de rádio, não é? Mônica deu um meio-
sorriso.
— Sim, sou eu mesma.
— Eu adoro o seu programa.
— Obrigada — respondeu Mônica, ainda com os olhos na chave que Donata
tinha colocado na fechadura.
— Bem, tenho muita coisa para fazer. Foi um prazer conhecer você.
Precisamos marcar um jantar. Preston e eu adoraríamos jantar com você e seu
namorado.
— Meu namorado?
— O rapaz alto e bonito que estava com você, o outro dia. Preston disse que
ele é seu namorado...
50
Mônica ergueu uma sobrancelha e fez uma pausa antes de responder:
— Ah... sei... sim.
— Foi um prazer conhecê-la — Donata falou mais uma vez, e fechou a porta.
Mônica andava de um lado para outro, na sala de sua casa, sentindo a raiva
crescer. Ficara contente quando conseguira antecipar o voo de volta, depois de
decidir não participar do último dia de conferências, já que os temas que a
interessavam haviam sido abordados nos dois primeiros dias.
Viajara toda animada, planejando fazer uma SIM prosa a Preston, e enquanto
isso, a noiva dele também planejava uma surpresa!
À medida que ela se dava conta de como fora tola e crédula, a raiva ia se
transformando em fúria.
Do lado de fora, o tempo estava mudando, e nuvens escuras se aglomeravam
no céu, como se fossem um reflexo da tempestade que avassalava seu coração. Sem
acender as luzes, ela foi até a cozinha e afastou a cortina, apenas o suficiente para
espiar para fora.
As luzes na casa de Preston estavam acesas, e Mônica viu a moça se
movimentando pela cozinha... nua!
Mônica ficou olhando o tempo todo, incapaz de desgrudar os olhos, enquanto
a garota andava de um lado para outro, descascando e lavando legumes, abrindo e
fechando a geladeira, colocando uma travessa no forno...
Por alguns minutos a garota sumiu de seu campo de visão, e então Mônica viu
a luz do quarto de Preston se acender. Subiu correndo as escadas para seu quarto e
foi até a janela, afastando um pouco a cortina sem acender a luz, para que a outra
não a visse.
A moça estava deitada na cama de Preston e acariciava o próprio corpo com
as mãos. Mônica ficou assistindo, boquiaberta, enquanto ela rolava nos lençóis,
pressionando o rosto no travesseiro dele e se contorcendo.
De repente, Mônica sentiu o estômago embrulhado, e teve de sair correndo
para o banheiro, para vomitar.
Mais tarde, no intervalo do programa, Bryan entregou a Mônica uma xícara
de café.
— Você está hostil hoje, Mônica. O que está acontecendo?
— Nada.
— Tudo bem, se você não quer falar, mas pegue leve com o pessoal que está
ligando. Se continuar sendo grossa desse jeito, vamos perder a audiência.
Mônica girou na cadeira, ignorou os comentários do amigo. Sabia que ele
tinha razão, mas ainda estava dominada pela raiva; uma raiva intensa. Assim que a
última música terminou, ela pegou o microfone.
51
— Aqui é Mônica James, falando a você diretamente da rádio WLUV-FM. O
tema de hoje é confiança e fidelidade. Quero saber por que para os homens a
fidelidade não vale nada, ao contrário, eles fazem questão de ser infiéis. Quero muito
saber por quê. Peguem o telefone, cavalheiros, liguem e me digam algo de bom.
Mônica percebeu que Bryan olhava para ela curioso. Quando seus olhares se
encontraram ela sentiu as lágrimas surgirem e lutou contra o súbito desejo de chorar.
As linhas tocando fizeram com que ela se recompusesse para atender a primeira
chamada.
— Aqui é Mônica. Quem está na linha?
— É Douglas, Mônica.
— De onde você está ligando, Douglas?
— Aqui mesmo de Raleigh.
— Fale comigo, Douglas. Você é um homem em quem uma mulher pode
confiar?
Ele riu.
— Contanto que as minhas mulheres não saibam umas das outras, sim!
— Isso pode ficar feio, Douglas.
— Houve momentos em que quase fui descoberto, mas agora estou lidando
bem melhor com as situações.
— Por que você precisa mentir? Por que simplesmente não ser honesto com
as mulheres?
— Porque vocês, mulheres, gostam de bancar as tolas quando não é
necessário. Se vocês não ficassem olhando para seus relógios biológicos e pensando
que precisam agarrar um homem antes que o relógio pare, seria mais fácil um
homem ser honesto com vocês e dizer claramente que não quer ficar preso a uma só
pessoa.
— Isso me parece desculpa de gente covarde, Douglas. Você também tira
proveito da situação e tem medo que se a verdade aparecer você saia perdendo.
—Vamos ser honestos um com o outro, Mônica. Quando vocês mulheres
começam a envelhecer, o suprimento de possíveis partidos começa a diminuir. Por
outro lado, nós homens, quando envelhecemos, vemos aumentar nossas opções. E
também tem essa longa lista que vocês fazem sobre como um homem deve ser ou
deixar de ser, o que ele deve ter, enfim, essa pressão pode ser demais para um
homem, entende?
— Eu discordo, Douglas. Acho que um homem de verdade não teria nenhum
problema em fazer algumas coisas que uma mulher lhe pedisse, se os dois estiverem
interessados em construir uma relação. Acho que são vocês que têm problemas.
Medo de crescer e de se transformar em homens de verdade.
52
Mônica desconectou a ligação.
— Aqui é Mônica James, estarei de volta logo após os nossos comerciais.
Quando voltar, quero contar para vocês a história de um homem infiel e de como
me sinto. Quero que alguém ligue e me diga algo de bom. Quero que alguém me
ajude a entender o que se passa na cabeça de um homem.
CAPÍTULO III
57
insignificante, ligue para mim ou para minha parceira, a detetive Keyes.
Provavelmente terei mais perguntas para vocês amanhã. Até lá, tentem dormir bem
esta noite.
Minutos mais tarde, Mônica e Preston estavam parados no meio da sala de
estar. Ela ouviu tudo o que Preston já tinha passado por causa de Donata e ficou
chocada com as informações que a polícia recolhera dos vizinhos, especialmente do
Sr. e da Sra. Stern, que declararam ter visto Donata mais de uma vez observando a
casa de Preston, e que a garota contara a eles que era noiva do professor.
— Eu sinto muito — disse ela novamente. — Não acredito como fui tão tola a
ponto de acreditar naquela garota e achar que você estava me enganando! Me perdoe,
Preston...
— Claro que eu perdôo, querida. Se fosse comigo, eu teria pensado a mesma
coisa. Você acreditou exatamente no que ela queria que você acreditasse.
— O Sr. Ramirez disse que era melhor você não ficar aqui esta noite. Onde
você vai dormir?
— Bem, por enquanto, estou agitado demais para dormir. Mas acho que vou
para um hotel, ou para a casa de Godfrey.
— Nada disso, fique na minha casa. Prometo não morder.
— Bem... Até que eu gostaria de levar uma mordida — afirmou Preston, com
um sorriso.
— Cuidado...
Ele a envolveu nos braços.
— Não sei se é uma boa idéia, Mônica. Não quero que nenhum de nós se sinta
desconfortável.
Mônica o estudou por um momento, notando que a expressão dele era séria.
— Não vou aceitar um "não" como resposta. Pegue sua escova de dentes
enquanto eu coloco lençóis limpos na cama do quarto de hóspedes.
— Está bem, então, já que você insiste... Só vou apagar as luzes e trancar tudo.
Mônica e Preston conversaram por algum tempo. Ela encheu mais uma xícara
de café, mas acabou não bebendo. Pediu licença e foi trocar de roupa, deixando
Preston sentado na enorme poltrona da sala, refletindo sobre o que poderia fazer
para resolver o problema que estava complicando sua vida.
Antes de subir, ela ligou o aparelho de som, enchendo o ambiente com um
jazz suave. A música fez Preston relaxar imediatamente. Ele pegou uma revista e
começou a folheá-la, decidindo que esperaria Mônica se recolher para então ir se
deitar também.
Mas dali a poucos minutos, Mônica tornou a descer, usando um shortinho
curto de pijama e uma camiseta branca simples. Ela diminuiu a iluminação e andou
58
na direção dele.
Preston ficou deslumbrado com a beleza diante de si.
AS pernas dela eram perfeitas, longas, lisas e bem torneadas, e ele as admirou
despudoradamente, sentindo o membro se avolumar e se erguer. Nunca antes ele
sentira tanto desejo por uma mulher.
— Eu só vim dizer boa noite — murmurou ela com voz suave, notando o
repentino desconforto.
— Coloquei toalhas limpas no banheiro. Fique à vontade para pegar qualquer
coisa que você precise.
Preston concordou com um movimento de cabeça, sem desgrudar os olhos dos
dela, tentando esconder seu estado com a revista aberta sobre o colo.
— Obrigado — respondeu num sussurro, procurando recuperar o fôlego.
— Você vai ficar bem? Parece que está com dor... — Ela sorriu, erguendo as
sobrancelhas de maneira provocante, divertindo-se com o embaraço dele.
Preston riu, sem jeito, com o rosto ficando vermelho até as orelhas. Mônica
riu.
— Eu beijaria você, mas tenho medo de machucá-lo.
— Acho que eu agüento um beijo — respondeu ele, jogando a revista de lado
e levantando-se para ficar perto dela. — Duvido que um beijo me cause mais
problemas do que já tenho — completou, quase sem voz.
Mônica enlaçou o pescoço de Preston com os braços, colando o corpo ao dele.
Os dois se olharam intensamente, e Mônica podia ver o brilho do amor e da paixão
nos olhos escuros, uma emoção tão pura que incendiava seu coração.
Preston inclinou-se devagar e roçou de leve os lábios nos dela. Em seguida
repetiu o gesto, provocando-a. Mônica abriu os lábios, e um sopro de ansiedade
escapou deles. Quando a boca de Preston finalmente encontrou a dela, foi como se
o tempo parasse. Mônica sentiu-se arrepiar inteira quando a língua de Preston
entrou em sua boca, enroscando-se sensualmente com a sua, enviando ondas de calor
por todo o seu corpo.
Ela o abraçou com mais força, pressionando o corpo contra o dele, sentindo-
se quase derreter quando ele empalmou um seio, por cima da camiseta, e estimulou
o mamilo túrgido. Preston arrastou os lábios para o pescoço de Mônica e depois
desceu mais, erguendo a camiseta com uma mão e abocanhando o seio exposto.
Mônica começou a mover os quadris, como numa dança sensual, e num gesto
instintivo, enfiou a mão por dentro da calça dele, acariciando-o primeiro por cima
da cueca e depois passando a mão para o lado de dentro.
A sensação do membro grande e rijo entre seus dedos «•rn deliciosa; estava
longe de ser a primeira vez que ela compartilhava intimidades com um homem, mas
a experiência com Preston era única. Era diferente de tudo o que já vivenciara antes,
59
talvez porque viesse acompanhada de um sentimento bem mais profundo do que ela
sentira pelos parceiros anteriores.
— Mônica... não... — ele sussurrou com voz rouca, as palavras quase presas
na garganta.
—Ah, Mônica...
Ignorando as súplicas dele, ela continuou a acariciá-lo, enquanto se movia
com ele no ritmo lento da música, esfregando os quadris contra os dele, até que ele
começou a acompanhar seus movimentos, sem interromper o beijo, que se
aprofundava cada vez mais. Com a ponta dos dedos, ele acariciava o mamilo
excitado, e Mônica foi arqueando o corpo para trás, encorajando-o a intensificar as
carícias.
Ela mal acreditou quando sentiu a mão dele descer e apertar o núcleo pulsante
e úmido em sua virilha, por cima do short. Mônica segurou a mão dele e conduziu-
a para dentro do short e para dentro da calcinha, quase incapaz de respirar ao sentir
os dedos dele tocar a penugem macia entre suas pernas, e depois descer um pouco
mais e tocá-la no âmago de sua feminilidade. Mônica, meu amor... Ah, Mônica...
Preston murmurou o nome dela como se fosse uma prece, e os gemidos de
ambos foram se tornando mais altos enquanto alcançavam juntos o clímax, cada
qual explodindo na mão do outro, num gozo tão intenso que nenhum ato de amor
completo seria capaz de superar.
— Eu te amo, Mônica... Te amo muito.
Ela endireitou o corpo para olhá-lo de frente, demonstrando seus sentimentos
com um beijo. O CD iniciava pela terceira vez, e os dois ainda estavam colados um
ao outro, balançando suavemente ao som da melodia, embalados no calor dos braços
um do outro, deleitando-se naquela esteira romântica e sensual e no alívio que os
beijos e carícias tão ansiados haviam trazido.
Quando o departamento de polícia e a segurança do campus completaram a
busca no dormitório e concluíram o interrogatório, Tijuana Fields não estava nem
um pouco contente. Seu sono fora interrompido pelas batidas na porta, e duas horas
depois ela ainda estava acordada.
Quando o telefone tocou, ela estava apenas a um passo de estrangular alguém
com as próprias mãos.
— Alô?
— Tiju, sou eu, Donata.
— Onde você está, criatura?! A polícia está procurando por você. O que você
fez?!
— Eu não fiz nada. Foi o professor Walker. Ele enlouqueceu, Tiju, perdeu
completamente o juízo. Eu disse a ele que queria terminar e ele ficou louco. Estou
assustada, Tiju. — Donata chorava ao telefone.
60
— Você tem de ir à polícia, Donata, tem de contar o que aconteceu. Eles vão
entender. Ele não vai escapar, se você contar a verdade.
— Não posso. Eu deixei que acontecesse... Eles vão me culpar.
— Não vão, não. Onde você está? Eu vou buscá-la.
— Só você, Tiju. Ninguém mais, está bem? Venha sozinha.
— Tudo bem, me diga onde você está!
Donata deu-lhe o endereço e Tijuana anotou. Em seguida calçou os sapatos,
vestiu uma jaqueta e saiu.
Quarenta e cinco minutos depois, Tijuana passava devagar por uma rua
deserta, na periferia de Raleigh. No final da rua, uma pequena chama saía de uma
lata de lixo com dois sem-teto do lado. Os dois homens olharam para o nino que ela
dirigia com os faróis acesos. Tijuana deu marcha a ré e parou. Estava abrindo a porta
para descer quando Donata surgiu das sombras e acenou para ela. Tijuana quase
engasgou de susto.
Ela abriu a porta do passageiro para a amiga entrar.
— Meu Deus, Donata, o que aconteceu com você?!
A garota se ajeitou no assento do carro e fechou a porta, com as lágrimas
correndo pelas faces.
— Foi horrível, Tiju! Ele me machucou — começou a relatar entre soluços.
O rosto dela estava ferido, cheio de hematomas. Uma fina linha de sangue
seco estava no canto da boca, e um dos olhos estava fechado de tão inchado. Tijuana
ligou o motor e manobrou o carro.
— Vou levá-la para um hospital.
Donata entreabriu os olhos enquanto o médico cuidava de seus ferimentos,
no cubículo fechado por uma cortina azul-clara. Seu plano correra às mil maravilhas.
Ela ainda não acreditava na própria sorte de ter avistado aquele sujeito forte e
barbudo, que mais parecia um urso, no bar do outro lado do campus. Nem na coragem
que tivera de ir falar com ele para fazer uma proposta tão estranha como a que fizera.
Só podia ter sido algum anjinho que a guiara o lhe soprara no ouvido o que dizer e
fazer.
Valera a pena pagar a ele duzentos dólares para que a machucasse de maneira
a parecer pior do que realmente era. E aquela mulher tinha sido um presente dos
deuses da vingança! A chegada inesperada de Mônica James não teria dado tão certo
se Donata tivesse planejado. A única preocupação dela era que Mônica pudesse ver
o homem-urso chegando, mas felizmente ela saíra antes, e no fim, Ludo dera certo.
O Dr. Walker iria pagar caro por não levá-la a sério. Muito caro...
Donata tornou a fechar os olhos, quando o sono começou a invadi-la,
transportando-a para a terra dos sonhos.
61
A agitação no distrito policial de Raleigh era constante, o barulho no ambiente
só aumentava. Quando entrou pela porta dos fundos e parou para pegar um recado,
o detetive Ramirez não tinha certeza se estava feliz em voltar para o escritório.
Sentando à sua mesa, seu pensamento se voltou para o caso mais recente. Com
mais perguntas que respostas, ele não estava nada feliz com os últimos
acontecimentos.
Tirou a tampa do copo de café que havia comprado no caminho e tomou um
gole; o café estava morno, depois do trajeto da Dunkin Donuts até a delegacia.
Seus pensamentos foram interrompidos ao ver a pilha de arquivos sobre a
mesa. Olhou para sua parceira, a detetive Angela Keyes, e viu a expressão
preocupada em seu rosto. Ela era uma mulher baixinha e miúda, mal chegava a seus
ombros. Desde que entrara na academia de polícia, tinha sido muito útil,
constantemente desafiando o sistema, mas sempre realizando o seu trabalho. Ao
olhar para ela agora, ele não podia deixar de pensar em como ela ficaria com os
cabelos escuros soltos sobre os ombros, contrastando com a pele cor de mel.
— O que há de novo? — perguntou, tomando o seu café da manhã, ovos feitos
no micro-ondas e um croissant com queijo e bacon.
— As amostras de sangue tiradas da vítima batem com as amostras que foram
recolhidas na casa do dr. Walker.
— Algo aqui não está certo, Ângela. — Ramirez balançou a cabeça. — Eu não
sei ainda o que é, mas alguma coisa não está certa.
— Kit! afirma que não havia nada entre os dois, mas todo mundo com quem
nós falamos afirmam que eles pareciam ser próximos. Os vizinhos disseram que
eles estavam noivos, e os estudantes dizem que ela passava muito tempo na sala dele
na universidade, e até a outra namorada pensou que houvesse algo entre eles. A
mulher chegou a declarar isso no rádio, pelo amor de Deus!
— Mas ele tem um álibi. Quatro pessoas disseram que estavam com ele numa
reunião.
— Antes ou depois de espancar a garota? Você está esquecendo que ele teve
mais de uma hora para agir. Segundo nos relatou a garota, ela preparou o jantar, ele
chegou, eles namoricaram, e depois a situação encrespou, ele a agrediu e saiu.
— Ele nos garante que não esteve em casa o dia todo. Disse que era muito
pouco tempo para ir para casa entre o horário de término das aulas e o início da
reunião, que não valia a pena porque seria chegar e sair em seguida, por isso ele
resolveu ir até o Home Depot.
— E ele tem como provar que esteve nessa loja? Alguém o viu lá? Ele comprou
alguma coisa, tem alguma nota fiscal, ou tíquete do caixa?
— Ele diz que não fez nenhuma compra. Ficou olhando a seção de
ferramentas, matando o tempo até a hora da reunião.
62
— Pois é, é muito fácil dizer isso, não? Pois eu digo que de estava tentando
matar a garota, nesse espaço de tempo. Queria se livrar dela, para que não viesse à
tona o fato de que estava saindo com uma aluna.
— E como você explica os loucos telefonemas da garota?
— Ela admitiu que fez as ligações e que estava arrependida. A garota disse
que eles tinham um relacionamento. Ele deu os sinais errados. Quando precisava de
sexo, ele a queria e depois mudava de idéia. A garota é jovem, Antônio, e está
apaixonada. Ela confiou nele, e ele abusou dessa confiança. Ela reagiu porque se
sentiu magoada. Não é a primeira mulher a agir como uma tola com o homem que
partiu seu coração. E isso não dá a ele o direito de bater nela.
— Vamos trazê-lo para interrogatório.
— Você quer que eu mande uma viatura para buscá-lo?
— Ele não está sendo preso. Apenas ligue e diga que precisamos falar com
ele. Deixe que venha por conta própria.
A detetive Keyes pegou o telefone e começou a discar.
Mônica e Preston conseguiram limpar boa parte do estrago no quarto dele. Ele
chamou um serviço de limpeza para dar um jeito no carpete e nas paredes. O linho
e os adornos que estavam estragados foram jogados no lixo. Ao entregar a Mônica
o último saco de lixo, ele deu um beijo rápido em seus lábios.
— Terminei aqui — falou e com um gesto apontou para trás. — Você precisa
de ajuda na cozinha?
— Não. Já terminei.
— Obrigado. Você não precisava fazer isso.
— Eu sei. Eu quis fazer. — Ela bocejou. — Desculpe.
— Ficou acordada até tarde, não foi? — Preston brincou, caminhando com ela
para a sala de estar.
Mônica deu um beliscão nele e fez o seu famoso revirar de olhos. Preston caiu
no sofá, e puxou-a para perto.
— As coisas ficaram um tanto intensas entre nós ontem à noite — comentou
com o rosto vermelho.
— Passamos dos seus limites? — Mônica quis saber, sentando-se sobre as
pernas dobradas e virando-se para encará-lo.
— Não, mas foi mais longe do que deveria. Nós quase fomos até o fim.
— Ficamos bem perto de chegar ao final, Preston. E para registro, eu não me
arrependo nem um pouco. Espero que você também não.
— Eu não me arrependo de nada com você. Pensando bem, só lamento que
você tenha dito para o mundo inteiro o canalha que pensou que eu fosse.
63
Mônica riu.
— Vou consertar isso quando entrar no ar hoje à noite. — Mônica envolveu o
pescoço dele com os braços. — Não posso deixar que o público fique com uma noção
errada sobre o homem que eu amo.
Preston se inclinou para beijá-la mais uma vez, mas foi interrompido pelo
toque do telefone.
— Alô? — atendeu.
Mônica viu a expressão dele mudar, as feições se tornando sérias. A pessoa do
outro lado da linha falava quase ininterruptamente, e Preston apenas dava respostas
curtas, como "sim", "eu não sabia" e "entendo". Quando ele desligou, estava tenso,
sem nenhum vestígio do bom humor de antes.
— Algum problema?
— Eu fui suspenso da universidade para um processo de interrogatório.
— Preston, não! Como pode ser?!
— Donata foi encontrada ferida na noite passada. Com hematomas e
machucados de espancamento. Ela afirma que fui eu que bati nela. A polícia está
investigando, e até que fique tudo esclarecido, a direção da universidade acha melhor
eu me manter afastado.
— Isso não é justo!
— Preciso ligar para aquele detetive...
Mal ele terminou de falar, o telefone tocou novamente.
—Alô? Sim, aqui é Preston Walker. Sim. Não, não. Está bem. Sim, estarei aí
daqui a uma hora. Obrigado. — Ele desligou e voltou-se para Mônica. — Era a
polícia. Eles querem que eu vá à delegacia para prestar depoimento e ser interrogado.
Tenho de me encontrar com o detetive Ramirez em uma hora.
— Eu vou com você.
— Não é necessário. Tudo vai ficar bem. Eu não fiz nada de errado.
— Isso não me parece nada bom, Preston. Ele a abraçou.
— Não parece, mas tudo vai dar certo. A verdade está do meu lado.
Dez minutos mais tarde, Preston trancou a nova fechadura da porta da frente
e deu um beijo de despedida em Mônica. Ela ficou observando enquanto ele entrava
no carro, ligava o motor e saía rumo à via expressa. Sentiu as lágrimas queimar seus
olhos. Preston era um homem tão bom, tão íntegro... Não merecia estar passando
por aquilo.
Decidida, entrou em casa e pegou o telefone.
— Diondre, sou eu. Preston precisa da sua ajuda.
Preston estudou cada canto da sala de interrogatório por mais de vinte
64
minutos. O recinto era pequeno, as paredes recém-pintadas de branco, sendo uma
mesa e cinco cadeiras a única mobília. Ele se sentia inquieto, com as mãos sobre a
mesa. Ainda não conseguia entender como as coisas haviam chegado àquele ponto.
Sua casa fora invadida, ele fora suspenso do trabalho, e agora era acusado de ter
agredido fisicamente Donata Thompson, lira assustador.
Mais dez minutos se passaram antes que a porta se abrisse e o detetive
Ramirez entrasse.
— Desculpe-me pelo atraso — murmurou o detetive, sentando-se de frente
para Preston.
Ele jogou uma pasta sobre a mesa, e os olhares dos dois homens se
encontraram.
— Temos uma situação muito séria aqui, Dr. Walker. Como o senhor sabe,
a srta. Thompson alega que o senhor a agrediu. As evidências apontam que ela foi
atacada na sua casa, mesmo que o senhor afirme que não estava lá.
— Eu não estava. Não faço idéia de como ela entrou e de quem estava com
ela.
— Vamos falar sobre o horário em que o senhor estava na loja. Qual loja era?
— A Home Depot, que fica perto do campus. Depois da minha última aula eu
tinha algum tempo livre antes da reunião que estava marcada para a noite. Não fazia
sentido eu ir para casa e depois voltar à cidade, então fui até essa loja. Eu queria
saber o preço das grelhas a gás.
— O senhor não tem uma grelha?
— Tenho, mas preciso de uma nova.
— O senhor falou com alguém lá?
— Talvez eu tenha trocado algumas palavras com um ou dois atendentes, mas
não não me lembro quais foram, aquele lugar é imenso, deve ter uma centena de
atendentes.
— A que horas o senhor chegou em casa?
— Por volta de dez e meia da noite.
— E foi quando o senhor descobriu que sua casa tinha sido invadida, certo?
— Exato.
— O senhor tinha, ou tem, um relacionamento amoroso com Donata
Thompson?
— Não. Não tenho, e nunca tive.
Ramirez fez uma pausa, esperando por alguma reação de Preston. Como ele
continuasse imóvel, o policial prosseguiu com o interrogatório:
— Como o senhor definiria, então, o seu relacionamento com essa moça?
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— Ela é minha aluna. Só isso.
— E como ela conseguiu a chave da sua casa?
— Não faço a menor idéia.
— Ela diz que o senhor a deu para ela.
— Ela mentiu.
Uma batida na porta fez o detetive desviar o olhar de Preston. Ramirez se
levantou e foi abrir, e sussurrou algumas palavras com sua colega de trabalho.
Preston respirou fundo, tentando afastar a tensão.
— Bem, dr. Walker, parece que seu advogado está aqui — o detetive Ramirez
informou e abriu a porta para que Diondre entrasse.
— Desculpe o atraso. Eu estava no fórum quando Mônica me ligou. Vim o
mais rápido que pude.
Preston deu um sorriso amarelo e apenas concordou com um gesto de cabeça.
— Obrigado.
Diondre se dirigiu para os dois oficiais. *
— Meu cliente está sendo acusado, detetive?
— Não. Ele veio voluntariamente responder a algumas perguntas para ajudar
nas investigações
— respondeu Ramirez.
— Então terminamos aqui — falou Diondre.
Ele e o detetive se olharam brevemente, estabelecendo cada um o seu
território.
— Seu cliente não deve fazer planos para se ausentar do Estado.
Provavelmente faremos mais perguntas.
— Faça uma acusação formal ou deixe-o em paz, detetive. Não vou permitir
que nenhum dos seus homens incomodo meu cliente — falou, enquanto lançava um
olhar para a detetive Reyes.
— Entraremos em contato, sr. James — disse a mulher, sem desviar o olhar.
Ramirez observou Preston e Diondre saírem do escritório e depois do edifício,
e ficou olhando até os dois trocarem algumas palavras, se despedirem com um aperto
de mãos e entrarem em seus carros.
— Ele é culpado — afirmou a detetive Keyes. Ramirez olhou para ela e
balançou a cabeça.
— Eu não acredito nisso. Acho que ele está dizendo a verdade. — Voltou para
a sua mesa e deu uma ordem para a detetive que seguia atrás dele: — Descubra tudo
o que puder sobre a nossa vítima. Faça o que for necessário, quero saber cada
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pequeno segredo dessa Srta. Donata Thompson.
Preston sentou-se confortavelmente no escritório da casa da Mônica, com
Diondre dando a ele uma lista de coisas que ele devia ou não fazer. Ele ouviu
atentamente, agradecido por ter um aliado legalmente habilitado. Mônica foi para o
quarto para que os homens pudessem conversar à vontade.
— Você sabe que tudo o que me contar é estritamente confidencial? —
Diondre indagou.
— Sei.
— E você tem sido completamente honesto comigo? Não há nada que tenha
esquecido?
— Diondre, eu contei tudo para você.
— Por que você acha que ela está fazendo isso?
— Eu não consigo imaginar por quê.
— Bem, vou trabalhar. Preciso descobrir tudo o que a polícia sabe. Eu acho
que se eles tivessem algo de concreto ou soubessem de alguma coisa, teriam acusado
você. Mas de qualquer forma precisamos estar preparados. Você tem o número do
meu telefone, ligue a qualquer momento, se precisar. Eu ligarei depois da reunião
com a diretoria da universidade. Farei você voltar para o seu cargo o mais rápido
possível.
— Obrigado. Estou muito grato mesmo.
— Diga-me uma coisa. O que há entre você e minha irmã é sério?
Preston olhou para Diondre e sorriu.
— Eu estou apaixonado por sua irmã. Quero me casar com ela.
Diondre riu, e os dois homens se apertaram as mãos.
— Pelo menos você joga golfe. Eu detestaria ter um cunhado que não jogasse
golfe.
Os dois riram e Diondre abriu a geladeira para pegar uma lata de refrigerante,
depois foi para a porta.
— Diga a Mônica para me ligar mais tarde — pediu enquanto saía.
— Eu direi. E mais uma vez, obrigado.
Por um breve momento, Preston pensou em ir para casa, mas decidiu que não
era lá que queria estar. Foi para o quarto de Mônica e espiou, com medo de perturbar
o sono dela.
Ela estava deitada com o corpo relaxado, as cobertas afastadas, enroladas perto
dos pés. Usava apenas um babydoll de tecido claro que contrastava com a cor de sua
pele. A visão dela vestida daquela maneira fazia sua temperatura subir e ele de
repente sentiu calor mesmo com o ar-condicionado ligado. Ficou ali parado,
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observando, maravilhado com as emoções que ela lhe causava.
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— Há um ano eu estava sendo seguida pela namorada do meu marido.
— Puxa, garota! A namorada do seu marido?! Isso parece sério.
— Você conhece a história, Mônica. Você acha que encontrou o homem
perfeito, tudo está bem em casa, quando você descobre do nada que seu homem está
traindo você. A mulher deu um profundo suspiro antes de continuar.
— A primeira vez que eu a vi foi quando ela teve a petulância de aparecer na
creche do meu filho. Ela queria saber se meu marido e eu ainda estávamos juntos.
Eu perguntei por que ela queria saber. Lógico que ela não respondeu, mas eu disse a
ela que não estávamos juntos, que se ela o queria, podia ficar com ele. Eu saí direto
para o trabalho dele, feito uma louca.
— E aí, Patrícia?
— Ele jurou de pés juntos que era mentira, que não tinha nada com a mulher.
Foi então que os telefonemas começaram. Toda vez que eu atendia, ela desligava.
Tive de trocar o número do meu telefone duas vezes.
— E depois?
— Ela começou a me seguir. Aonde quer que eu fosse, lá estava ela.
Finalmente perguntei qual era o problema dela e ela respondeu que se eu não
estivesse por perto os dois poderiam ficar juntos. Disse que eu estava no caminho
dela, imagine só! Confesso, Mônica, que comecei a ficar assustada.
— E aí, como você conseguiu se livrar dela?
— Ela apareceu um dia dizendo que estava grávida. Meu marido foi conversar
com ela, e eu os segui enquanto andavam. Ela chorava e dizia que ele era o culpado
por todo o estresse que ela estava passando. Depois ele ficou lá, jurando para mim
que a moça não estava grávida dele e que ele não sabia qual era o problema dela. Eu
fui à polícia e pedi um mandado de restrição. Duas semanas mais tarde a mulher
estava andando pela vizinhança outra vez.
— E o que você fez?
— Quando o ano letivo terminou, eu fiz as malas e me mudei para outra
cidade. Disse ao meu marido que ia embora, com ou sem ele.
— Ele ficou?
— Não. Ele ainda insiste que não fez nada para que ela agisse daquela maneira.
Jura que ela era louca.
— Você acredita nele?
— Eu quero acreditar. Eu gosto dele, então quero acreditar que ele não me
magoaria.
— O que aconteceu com a mulher?
— Nos primeiros meses, nós ficamos sabendo que ela estava tentando nos
encontrar. Ela apareceu na casa da minha mãe, fingindo ser uma antiga colega de
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escola. Disse que tinha perdido meu endereço e meu telefone. Quando minha
família disse que daria o recado, ela quis saber onde meu marido estava. A coisa
ficou feia e meu pai teve que pôr a maluca para fora.
— Uau, que história! Continue firme, garota!
— Mônica, eu tenho mais uma coisa para dizer.
— E o que é, Patrícia?
— Eu quero acreditar no meu marido, mas não sou nenhuma tola. Escrevi
uma carta com todos os detalhes sobre o que passei. Nessa carta eu digo que se
qualquer coisa me acontecer, primeiro devem procurar por ela e depois pelo meu
marido. Mandei uma cópia para minha irmã, uma para o meu advogado, uma para
minha melhor amiga e uma para a polícia, daqui e da cidade onde eu morava.
—Amar não significa ser idiota! Tenho orgulho de você, Patrícia. Aqui é
Mônica James. Ligue e diga algo de bom!
Donata dirigia e reclamava do calor e do ar-condicionado quebrado de seu
carro. As coisas não estavam indo como ela havia planejado e tudo isso era culpa de
Mônica James. Suas mãos apertaram o volante com mais força ao dirigir para a casa
de Preston, ansiosa por estacionar e ir direto para a porta dele.
Mônica James. Esse nome deixava um gosto amargo na sua boca, e ela mordeu
a língua até sentir o gosto de sangue. Mônica James pagaria pelo que fizera. Preston
era seu!
Tudo tinha sido planejado, e tinha tudo para dar certo, até que aquela mulher
aparecera e estragara tudo.
De repente, uma voz dentro dela pareceu começar a falar, acalmando-a.
Tranqüila, ela continuou a seguir rumo à casa de Preston Walker. A voz a encorajou
e ela sentiu que sorria. Seria fácil. A voz era clara como cristal, e ela entendeu
exatamente o que tinha de fazer.
O serviço religioso demorou mais do que todos haviam imaginado. As
senhoras da igreja cumprimentavam Preston calorosamente, sussurrando que agora
elas podiam tirar Mônica da lista de orações, já que ela havia encontrado alguém.
Uma hora mais tarde o trio se dirigia para a casa da família de Mônica.
Diondre tocou a buzina para a garotinha que brincava no quintal. Mariah veio
correndo cumprimentá-los.
— Mônica! — a menina gritou e correu para os braços da irmã e depois para
os braços de Diondre e por fim, de Preston. — Eu tenho um vestido novo! —
cantarolou, girando ao redor deles para que vissem o laço rosa e branco que caía ao
longo das costas.
— Eu também! — Mônica cantarolou no mesmo tom, mostrando sua nova
aquisição.
— Onde está mamãe? — perguntou, segurando a garotinha pela mão.
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— Na cozinha, beijando Bill.
— Como é? — indagou a irmã mais velha.
— Mamãe está na cozinha beijando Bill. Que nojo! Eles se beijam de boca
aberta.
— Desde quando você chama seu pai pelo primeiro nome? — perguntou
Diondre, dando um tapinha no bum-bum dela.
Mariah olhou para o irmão, esfregando a mão onde ele tinha batido.
— Mas o nome dele é Bill.
Irmã cumprimentou a todos da porta.
— Mariah, eu disse para você chamá-lo de "papai". Continue com isso e você
vai apanhar.
— Eu gosto de "Bill".
— Eu acho melhor "papai" — opinou Mônica.
— Ele não é seu pai, é meu!
— Menina, você está impossível hoje — disse Bill, aproximando-se para
cumprimentar Preston e Diondre. Depois deu um beijo em Mônica. — Continue
falando essas coisas e eu não vou poupá-la das palmadas que você está sempre
pedindo — concluiu com os olhos fixos em Mariah.
A garotinha lançou um olhar zangado e com os braços cruzados saiu da
cozinha pisando duro.
— Com licença — pediu Irmã. — Eu preciso dar um jeito no comportamento
dessa minha filha.
— Eu me lembro disso. O nosso comportamento também foi consertado
muitas vezes, não é, Mônica? — comentou Diondre.
A família toda riu enquanto o casal de irmãos recordava a infância.
— Como vão as coisas? — Bill perguntou.
— Foi uma longa semana — respondeu Diondre, olhando para Mônica e
Preston.
— Estou feliz por ter acabado — completou Preston.
— Você soube de mais alguma coisa desde que aquela mulher invadiu sua
casa?
— Não, senhor. Mas estou agradecido por Diondre ter conseguido meu
emprego de volta.
Irmã voltou com uma expressão aborrecida.
— Sua filha está acabando com a minha paciência, sabe? — reclamou, olhando
a galinha que assava no forno.
71
— Quando ela não se comporta, é minha filha. Quando é boazinha, é sua filha.
—Bill balançou a cabeça.
Irmã lançou ao marido um olhar que não demonstrava surpresa.
— Onde ela está? — indagou Bill.
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— Não me importa o que você faça depois, Diondre, mas primeiro vai ajudar
Mônica com a louça.
— Eu posso ajudar — Preston se ofereceu.
— Não — respondeu Irmã com firmeza. — Diondre e Mônica podem lavar a
louça. Eu gostaria que você me ajudasse com outra coisa.
Mônica olhou para a mãe, mas não disse nada.
— Bill, Preston e eu estaremos lá no fundo por alguns minutos. Fiquem
atentos em Mariah. Ela não vai dormir por muito tempo. — Ela se inclinou para
beijar o marido.
— Não assuste o rapaz — Bill falou em tom de brincadeira.
— Mônica não vai nos perdoar se você mandar o namorado dela embora.
Irmã riu enquanto Mônica olhava para ela, incrédula. Diondre explodiu em
uma gargalhada.
— Não vou machucá-lo muito. Ela levou muito tempo para encontrá-lo. Se
ele for embora, não sei o que vamos fazer.
Ela saiu para o jardim, seguida por Preston. A modesta casa de três quartos
era o orgulho de Irmã, desde quando ela conseguira o dinheiro para pagar a hipoteca.
E o jardim dos fundos sempre fora seu «santuário particular.
Foi para lá que ela levou Preston. Ao se sentarem no banco, Irmã ficou séria
enquanto ela clareava a garganta para falar, olhando para Preston.
—Minha filha é uma moça muito especial, Preston.
— Sim, senhora. Definitivamente, ela é.
— Uma mulher especial merece um homem especial — afirmou ela, sem
desviar o olhar do rosto dele. Preston apenas concordou com a cabeça. — Mônica
nunca conheceu o pai, embora Bill tenha sido um excelente padastro. Acho que
existe uma parte em minha filha que ainda procura pela força de um homem, que
ela imagina que o pai teria. Porém, sempre ensinei minha filha que ela não precisa
de um homem para conseguir se realizar. E acho que por ser auto suficiente,
qualquer homem que ela escolher só ficará ao lado dela se ela quiser.
Preston concordou novamente, sentindo que ainda havia algo por vir.
— Minha filha o ama, Preston, e eu acredito que você seja bom para ela. Parece
entender que ela precisa do seu apoio, mas que você também precisa deixá-la ser a
mulher que é.
— Eu compreendo. Eu amo muito a sua filha. Mônica é o meu mundo.
— Não me agradeça ainda, Preston. Eu sei que a ama, mas eu não estou nada
feliz com essa confusão em que você se meteu.
Ele fechou os olhos e respirou fundo. Ao abrir os olhos, sentiu que as lágrimas
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ameaçavam cair.
— Eu daria qualquer coisa para que isso não tivesse acontecido com Mônica.
Nunca quis magoá-la. Mas pode acreditar que farei de tudo para mantê-la segura.
— Só a sua vontade talvez não seja o suficiente, Preston. — Irmã deu um
suspiro. — Meu marido era um homem muito ciumento e violento. O que meus
filhos não sabem, e que eu vou lhe contar agora em segredo, é que o pai deles tentou
me matar.
Naquela época eu nem sabia que estava grávida de Mônica, e Diondre era
apenas um bebê. Ele perdeu o controle e me agrediu para valer, queria me matar
mesmo. Consegui fugir, mas tive de ficar escondida por muito tempo, até ter certeza
de que estava segura.
Preston segurou a mão de Irmã enquanto ela enxugava uma lágrima.
— Eu não quero que Mônica sinta esse tipo de medo, Preston. Essa mulher
que persegue você é bem capaz de machucar alguém, e eu não quero que aconteça
nada com a minha filha. Fui clara?
— Sim. Nada vai acontecer com Mônica. Juro que não vou deixar.
— Acho bom. Você não vai querer me enfrentar se minha filha for
machucada por causa de algo que você fez, ou o que quer que essa garota acredita
que você tenha feito.
— Quero que saiba que eu compreendo e que fique tranqüila — insistiu
Preston.
Irmã se levantou e começou a caminhar de volta à casa, mas sem pressa.
— Mônica disse que vocês falaram sobre casamento.
— Sim, senhora.
— Quando vocês resolverem, não façam alarde. Casem-se em segredo. Só
depois avisem todo mundo. E a melhor coisa que vocês podem fazer.
— Mônica disse que quer uma cerimônia simples.
— E, eu sei que minha filha gostaria disso. Que tal pensar em fazer o
casamento aqui no jardim, então? É um lugar bonito, modéstia à parte, e sempre foi
o local predileto de Mônica.
A última entrevista tinha sido reveladora. A pessoa oferecera as informações
com todos os detalhes. O detetive Ramirez e a detetive Keyes balançavam a cabeça,
incrédulos.
— Ela me enganou direitinho... Eu acreditei que a garota estivesse dizendo a
verdade.
— Donata é muito esperta. Ela sabe ser convincente.
— Mas eu a interroguei duas vezes. Nunca suspeitei de nada, e eu costumo
74
ser boa nisso.
— Sim, você é — concordou Ramirez. — Mas Donata Thompson é diferente.
A intenção criminosa dela é movida por uma doença. Isso dá uma total e diferente
dimensão do que ela é capaz.
— Mas eu deveria ter percebido.
— Ela não queria ser descoberta, e atuou muito bem. Alguns pontos sobre a
história de Donata Thompson começaram a mostrar falhas. A cada novo detalhe, o
quebra-cabeça que antes estava incompleto começava a fazer sentido.
A descoberta de uma acusação no colégio foi a primeira peça. Anos atrás,
Donata fora acusada de atacar uma colega, que ela alegara estar envolvida com o
treinador do time masculino de basquete, sendo que ela própria também estava
namorando o rapaz. Este fizera um boletim de ocorrência, acusando Donata de
assédio. Como ela era menor de idade, o assunto não chegara ao tribunal, com a
promessa de Donata de se manter na linha e não procurar mais encrencas. Fora uma
sorte para os investigadores que o treinador se lembrasse de todos os problemas que
enfrentara com a garota.
Os estudos de Donata na Universidade de Meredith haviam sido encerrados
quando ela fora acusada de ameaçar uma professora de Ciências, que ela acusava de
estar usando produtos químicos nela. A paixão de Donata pelo marido da professora,
que era um astro do basquete, agravara o problema. Um ano de tratamento em uma
clínica aparentemente tinha sido o suficiente para curá-la do distúrbio mental. Isso,
até ela conhecer o professor Preston Walker, que se tornara sua nova obsessão.
Durante as investigações, um nome em particular chamou a atenção dos
detetives.
— Por que esse nome soa tão familiar? — indagou Keyes.
— Tank, também conhecido com Warren York, foi preso pelo menos quatro
vezes este ano. A última vez foi por atacar a esposa. Você lembra, a mulher com o
queixo quebrado e o ombro fraturado, quando ele a forçou a sair do carro na estrada
porque ela comprou a marca de cigarros errada.
— Eu me lembro. Ele se achava o máximo — comentou Keyes, sarcástica.
— Ele se diverte batendo em mulheres.
— É ele mesmo, e eu estou muito curioso para saber que tipo de negócios ele
tem com a Srta. Thompson.
Embora a noite ainda não tivesse chegado, os assentos estavam todos tomados
no Casey's Bar Grill. Ramirez procurou entre os rostos dos clientes, que não se
deram conta da chegada dos detetives. Keyes tocou no braço dele, indicando a mesa
de bilhar e o homem enorme que estava ao lado dela. Os dois se aproximaram com
cuidado.
— Sr. Tank. Há quanto tempo...
75
— Não o suficiente, pelo visto.
— Nós precisamos lhe fazer algumas perguntas.
— Sobre o quê?
— Vamos até a delegacia.
— E se eu não quiser ir? Ramirez sorriu.
— Eu não me lembro de ter pedido. Estou mandando. Tank suspirou, encheu
o peito de ar e depois cuspiu na direção de Keyes.
Ela não se mexeu, medindo-o dos pés à cabeça.
— O que aconteceu com sua mão? — perguntou, olhando para a mancha
arroxeada nas juntas dos dedos.
— Eu bati em alguma coisa.
— Deve ter sido em alguma coisa dura.
— Não, eu apenas bati com força — ele respondeu, e Keyes sentiu o hálito
fétido de uísque barato.
Ramirez fez um gesto em direção à porta.
— Agora, você escolhe. Pode facilitar ou dificultar as coisas. De um jeito ou
de outro, você vai para a delegacia. O que prefere?
Tank bateu o taco sobre a mesa de bilhar e pegou uma nota de dez dólares. O
homem que estava preparado para jogar com ele virou o rosto, sabendo que os
policiais haviam ganhado, e que não haveria mais jogo com ele aquela tarde.
Uma ordem de prisão foi dada. Os dois oficiais que ouviram sua história
queriam que Donata acreditasse que eles sabiam de alguma coisa, mas ela sabia
muito mais. Eles não sabiam onde ela estava ou que tinha planejado. Ela sorriu e se
encostou na cama do quarto decorado com bom gosto.
Sua amiga Tijuana queria que ela se entregasse, mas ela não faria isso. Não
até ter completado sua missão. Tinha assuntos para resolver com Preston e
aquela mulher. Eles não sabiam que ela podia ver tudo, e mesmo agora quando
estavam juntos com a família e amigos, ela estava bem ali, observando tudo. Desse
modo, saberia quando praticar seu último ato contra eles.
Ela se levantou da cama e espiou pela janela, observando o casal bancar os
anfitriões para as pessoas que estavam no quintal. Preston estava perto da
churrasqueira, com um enorme avental branco sobre a bermuda e a camiseta de
algodão. Mônica estava sentada com uma criança no colo.
Todos estavam rindo, o que deixou Donata furiosa. Ela foi para outro
cômodo. A visão da senhora idosa com lágrimas nos olhos a fez parar de repente e
respirar fundo, lutando contra sua raiva. Mas logo sentiu-se melhor e sorriu para o
casal que estava deitado sobre o colchão.
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Isaac Stern lutava com a fita que o mantinha preso à cama. Donata balançou
o dedo na direção dele.
— O senhor realmente não quer isso, Sr. Stern. — Ela se aproximou da cama
e colocou a mão sobre o joelho da mulher. — Nós não queremos que nada aconteça
com a Sra. Stern, não é mesmo?
O homem parou de lutar, implorando com o olhar para que ela os deixasse em
paz. Uma lágrima rolou pela face da esposa, e Donata enxugou a lágrima.
— Eu sei que você pode entender, Lydia. Posso chamá-la de Lydia? Às vezes
nós mulheres temos que assumir o controle da situação. Só estou tentando consertar
as coisas. Eu prometo que isto não vai demorar, e aí vocês poderão retomar sua vida
normal. — Ela sorriu para a mulher. — Meu noivo acha que pode se livrar de mim
me magoando, mas eu não vou deixar. Ele me traiu com aquela vagabunda que mora
do lado da casa dele. Você deveria arrumar vizinhos melhores. Que tipo de mulher
eu seria se não fizesse algo a respeito?
Donata pegou uma sacola e tirou de dentro um casaco e um conjunto de
lingerie. Segurou as peças perto do corpo, satisfeita. Tudo o que ela precisava agora
era um penteado para completar a nova aparência.
— O que vocês acham? Não é perfeito? Meu novo namorado vai adorar, tenho
certeza. — Donata saiu do quarto cantarolando uma música imaginária que só
existia na sua cabeça. — Viu? Eu disse... Todo mundo concorda. Tudo vai ficar bem!
Diondre, Godfrey e Preston estavam diante da televisão, assistindo a um jogo.
Bill brincava com Bryan e seu filho, .Júnior, enquanto a filha de Bryan era arrastada
de um Indo para o outro por Mariah.
Tem alguma idéia de onde ela pode estar? — Danielle Bailey perguntou. —
Ainda acho que você e Preston deveriam ficar atentos até ela ser presa.
— O detetive disse que a família acredita que ela esteja indo para a casa da
avó. Parece que toda vez que tem problemas é para lá que ela vai.
— Mesmo assim você precisa tomar cuidado — disse Irmã. — Você não sabe
o que aquela mulher pde fazer.
— Nós estamos sendo cuidadosos — Mônica respondeu antes de mudar de
assunto. — Danielle, e a sua loja?
— Não poderia estar melhor. Estou precisando aumentar o espaço. E também
tenho pensado seriamente em criar uma linha de roupas para meninas.
— Muito bom — comentou Irmã. — Eu sempre procuro roupas para Mariah
que estejam de acordo com a idade dela.
— Exatamente. Sempre que vou fazer compras para Tanya, eu me aborreço.
Ela tem apenas onze anos, mas as roupas que eu encontro a fazem parecer mais
velha.
As três mulheres voltaram a atenção para as meninas, que estavam dançando
77
no meio do quintal. Mariah dava ordens, comandando as atividades.
— Minha filha é uma bagunceira! — exclamou Irmã, balançando a cabeça.
— Tanya é tão boazinha...
— Tanya adora crianças. Ela diz que quer ser professora quando crescer.
— Eu não sei como vocês conseguem. Crianças me deixam muito cansada —
Mônica disse.
— Isso está em você — respondeu Danielle.
— Você faz o que tem que fazer — completou Irmã.
— E depois você e Preston ainda têm muito tempo para decidir se querem ou
não ter filhos.
Mônica balançou a cabeça negativamente.
— Tudo bem ficar insegura, Mônica, mas se você decidir ter filhos tenho
certeza de que vai se sair bem. Você é maravilhosa com Mariah. E Preston é ainda
melhor. Os dois serão ótimos pais.
— Obrigada, mas pessoalmente, eu não quero. Ser a irmã mais velha e tia
postiça é o suficiente para mim.
— Você e Preston já falaram sobre filhos? — perguntou Danielle.
— Filhos! Eles primeiro têm que resolver o problema com sexo!
— Mãe! — gritou Mônica, embaraçada.
— Isso ajudaria muito — comentou Danielle, tentando segurar o riso.
— Vocês duas, parem com isso — Mônica sussurrou e olhou pela porta do
pátio para ter certeza de que Preston não tinha escutado.
Irmã e Danielle continuavam rindo, e se inclinaram em tom conspirador.
— Eu tenho que confessar, Mônica, quando Bryan me contou sobre Preston,
eu não acreditei!
— Eu ainda não acredito — Irmã brincou.
— Bem, podem acreditar, porque é verdade!
— E muito engraçado — disse Irmã. ,,— Especialmente porque Mônica mal
pôde esperar para perder a virgindade.
— E ela foi rápida, Irmã?
A mulher riu e concordou com a cabeça.
— Não fui! — respondeu Mônica.
— Sim, você foi. E guarde minhas palavras, um dia terá uma filha igualzinha
a você.
— Eu já disse. Crianças não estão no topo da minha lista. Preston e eu não
78
estamos preocupados em ter filhos.
— Diz isso agora — a mãe afirmou. — Mas você \ ai ver.
Danielle riu.
— Esqueça, Mônica. Praga de mãe pega. — Danielle apontou para a filha. —
Minha mãe me amaldiçoou com aquela ali. Bryan e eu não estávamos pensando em
ter um segundo filho, então ela disse que desejaria que eu tivesse uma filha assim
como eu. Nove meses depois, Tanya nasceu.
Elas foram interrompidas por Mariah.
— Monca? Quer ver minha nova dança?
— Eu já vi.
— Eu cantei também!
— Você canta muito bem, Mariah. Onde aprendeu aquela música? — Danielle
perguntou.
— Eu escuti no rádio. Mamãe, posso ficar com a Monca? Eu quero dormir na
cama grandona sozinha... Posso?
— Mariah, Mônica tem de ir trabalhar na segunda-feira. Talvez você possa
dormir aqui na semana que vem.
A menina fez beicinho, ameaçando chorar.
— Não faça isso — avisou a mãe. — Não me faça dar a você uma razão para
chorar.
— Por mim, tudo bem — disse Mônica. — Se Diondre concordar em levá-la
para casa amanhã, ela pode ficar.
— Tem certeza?
— Nós podemos assistir a filmes com Preston à noite — ela falou alto, e
depois abaixou a voz:
— Porque tenho certeza de que não faremos mais nada além de ver televisão...
Danielle e Irmã riram.
— Mônica disse que você pode ficar, mas primeiro vá pedir para seu irmão
levá-la para casa amanhã. Eu não vou voltar para Raleigh para pegar você.
— Ei, Dondi! — Mariah gritou para o irmão. — Mamãe disse que você tem
que me levar para casa amanhã!
Mariah estava sentada no colo de Preston, com a cabeça no peito dele,
dormindo profundamente. Ao lado, estava Mônica, encostada no sofá, quase
dormindo.
— Eu deveria colocá-la na cama — disse ao retirar a menina dos braços de
Preston. Eles se mexeram e Mariah por um instante abriu os olhos.
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— Deixe que eu faço isso — Preston se ofereceu. Mônica sorriu e seguiu
subindo as escadas. No andar
de cima, ela ajeitou as cobertas e colocou a irmã para dormir, vestiu-lhe o
pijama e deu um beijo de boa-noite.
Segundos depois, ela e Preston estavam na sala, abraçados. Mônica pressionou
o corpo contra o dele e se beijaram sem pressa. Com um olhar terno, ele se afastou
e tocou-a no rosto delicadamente. Mônica se sentia segura nos braços dele. Preston
sabia disso e a abraçou com mais força, afastando qualquer ansiedade que pudesse
pertubá-la.
— Talvez eu deva dormir no seu sofá esta noite ele falou com voz tensa.
— Não comece. Minha mãe se preocupa o suficiente por nós dois.
— Sua mãe tem razão em se preocupar. Precisamos ficar espertos. Aquela
louca chegou ao extremo de pagar alguém para bater nela. Não sabemos do que mais
é capaz.
— Não estou tão preocupada. O Sr. Ramirez prometeu que deixaria uma
patrulha em alerta aqui no condomínio. Além disso, não acho que ela queira ser
pega. Duvido que nós a veremos tão breve.
Preston concordou. Aspirou o perfume de Mônica, envolveu-a com força
entre os braços e a beijou.
O silêncio na casa de Preston foi interrompido pelo toque do telefone. A
secretária eletrônica atendeu.
— Preston, sou eu, Godfrey. Liguei apenas para agradecer a você e a Mônica
pelo convite. Eu me diverti muito esta tarde. Por acaso Mônica tem alguma amiga
solteira para me apresentar? Me ligue. Tchau.
Depois do sinal do aparelho o silêncio retornou. Preston acabava de pôr a
chave na fechadura, quando o telefone tocou de novo. Ele deixou que a secretária
atendesse, pois estava muito cansado. Mas congelou ao ouvir a voz de Donata.
— Eu nunca irei embora, Dr. Walker. Agora mesmo, estou tão perto que posso
sentir o medo no seu rosto idiota. Vou fazer você pagar pelo que fez comigo.
— Ela riu e depois começou a chorar. — Eu só queria amar você... Eu teria sido
boa para você, mas você tinha que deixar ela atrapalhar tudo? Vou fazer vocês dois
pagar por isso.
Quando ela desligou, Preston sentiu um arrepio.
Abriu a porta da frente e olhou para o pátio. As luzes da casa de Mônica
estavam apagadas. Ele saiu e olhou para os lados. Não havia nada, apenas a
escuridão. Voltou para dentro entrançou a porta. Ligou para Mônica para ver se ela
estava bem, pois não conseguia se livrar da sensação de que Donata Thompson
estava em algum lugar ali perto, observando-os.
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CAPÍTULO IV
O sol brilhava intensamente e espalhava seu calor. O céu claro fez com que
Mônica saísse, e do lado de fora respirou o ar da manhã e apreciou a vista. Não podia
imaginar algo que pudesse estragar aquela manhã de domingo.
Após tomar uma xícara de café, ela andou descalça sobre a grama verde recém-
cortada e tocou a campanhia da porta de Preston, sempre olhando para a janela do
quarto de hóspedes de sua casa, onde Mariah dormia.
— Bom dia, linda — cumprimentou Preston, roubando um beijo.
— O que está fazendo acordada tão cedo?
— O dia está bonito demais para ficar dormindo. Você já tomou café?
— Não. Pensei em convidar você e Mariah para comer umas panquecas.
—Boa idéia.
— Você quer ir à igreja?
— Quero, sim, mas pensei em ir até a nova igreja sobre a qual Danielle falou,
perto da Rodovia 54.
A missa dura uma hora e o traje pode ser casual.
— Se você quiser, podemos ir ao Jardim Zoológico depois. Mariah vai gostar.
— Parece divertido.
— Eu tomo uma ducha e me visto em trinta minutos. Que horas começa a
missa?
— Às onze. Temos tempo para comer, ir à igreja e pegar a estrada lá pelo meio-
dia.
Preston concordou e deu nela outro beijo rápido.
— Por que você não liga para Diondre e pergunta se ele não quer ir conosco?
— Está bem. Vou ligar e depois arrumar Mariah, então podemos ir.
Preston a observou voltar para casa. O sorriso de seu rosto desapareceu
lentamente. Ele sabia que teria de contar sobre o telefonema de Donata. Na noite
anterior, quando ele ligara para o detetive, a polícia ainda não sabia por onde ela
andava.
— Monca! Nós podemos ver os macacos no Zoológico?
— Pare de gritar. Estou bem aqui. Sim, podemos ver os macacos.
— Eu quero passar batom.
— Você é muito nova para usar batom.
— Só um pouquinho, por favor!
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Mônica olhou para a irmã e resolveu fazer a vontade dela. Procurou e
encontrou um tubo usado com sabor de morango.
— Pronto. Este é o seu batom. Use só um pouquinho e depois coloque na
gaveta lá no seu quarto.
Mariah exibiu um largo sorriso de felicidade. Ela se aproximou da irmã, que
estava na frente do espelho, e passou a nova maquiagem.
— Eu quero mostrar para o Preston — falou a menina, dando pulos.
— Você vai mostrar para ele daqui a pouco.
O telefone da mesinha-de-cabeceira tocou e Mônica se levantou da cadeira
para atender.
— Alô?
— Bom dia. Como estão as minhas garotas esta manhã?
— Olá, mamãe. Nós estamos bem. Estamos saindo, na verdade.
— Aonde vocês vão?
— Diondre está vindo para cá, nós vamos com ele e Preston para a igreja e
depois vamos ao Jardim Zoológico.
Então não preciso me preocupar com Mariah. Só esporo que você e seu irmão
sobrevivam.
— Você não está preocupada com Preston?
— Ele sabe se virar. Preston não deixa Mariah fazer o que quer como ela faz
com vocês.
— Obrigada.
— Estou apenas sendo honesta.
Mariah começou a puxar o braço de Mônica.
— Eu quero mostrar para o Preston o meu batom.
— Aqui, diga "olá" para a mamãe.
Ela colocou o fone no ouvido da menina.
— Mamãe, posso mostrar para o Preston o meu batom?
— Que batom?
— Mônica me deu um batom.
— É um batom clarinho! — ela gritou sobre a cabeça da criança.
— Mariah, é melhor você se comportar com Mônica. Está entendendo?
— Estou. Eu posso, mamãe?
— Se sua irmã concordar.
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Mariah derrubou o telefone e correu para a porta.
— Pare, Mariah! — ela gritou e apanhou o telefone do chão. — Espere um
pouco, mãe.
A menina a ignorou enquanto descia as escadas, em direção à porta da frente.
— Mariah, não saia de casa.
— Mas eu quero ver o Preston agora! — Ela começou a chorar.
Mônica ouviu o barulho da porta abrindo.
— Você espere aí até que Preston a chame e a deixe entrar, ouviu?
— Mônica gritou da escada. Ela podia ouvir a menina choramingando. Usou
a segunda linha e ligou para Preston.
— Olá. Tudo bem?
— Mariah quer ver você. Ela está indo para sua casa. Eu não estou pronta
ainda e ela estava tendo um ataque.
— Acabei de me vestir. Vou me encontrar com ela.
— Obrigada. — Mônica retomou a linha onde sua mãe esperava.
— Está tudo bem? — perguntou Irmã.
— Sim, senhora. Só quis avisar Preston de que Mariah estava indo para lá.
— Mariah tem uma queda por Preston. Eu a ouvi dizendo para o pai dela que
ele era o novo namorado dela.
— Bill deve ter adorado. Ela o chama de namorado desde que aprendeu a falar.
— Ele vai superar. Os pais têm que dividir suas filhas mais cedo ou mais tarde.
Mônica riu e foi olhar pela janela. No estacionamento, viu Diondre saindo do
carro. A porta da casa de Preston estava escancarada, mas não havia sinal dele ou de
Mariah.
— Já vou indo, mamãe. Diondre está aqui e eu preciso resgatar o novo
namorado de Mariah antes que ela o deixe louco.
— Divirtam-se e tomem cuidado.
Depois de se vestir, Mônica desceu as escadas, verificou se a cafeteira estava
desligada, saiu e trancou a porta. Colocou as chaves dentro da bolsa e acenou para o
irmão e Preston, que estavam conversando. Preston sorriu ao vê-la.
— O que aconteceu? Mariah mudou de idéia? Mônica arregalou os olhos
enquanto olhava ao redor.
— Você não a viu? Ela não veio até aqui? Imediatamente Diondre e Preston
reagiram ao olhar
surpreso de Mônica, que voltou para casa e começou a gritar pela irmã.
Diondre foi para a piscina e para o playground. Preston procurou pelo estacionamento
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e depois começou a bater nas portas dos vizinhos, acordando-O. Quando os três se
reencontraram no pátio, não precisavam dizer em voz alta que Mariah havia
desaparecido.
Foi muito fácil. A garotinha sairá dançando pelo jardim, e antes que alguém
pudesse ver, Donata puxou Mariah para dentro da casa dos Stern.
Ela ria histericamente ao observar a criança lutar com a fita que a mantinha
presa ao lado do casal de velhos na enorme cama.
Foi para a cozinha, abriu a geladeira, pegou alguns ovos, quatro fatias de
bacon, duas de queijo e um tomate.
Ouviu a campanhia tocar e vozes alteradas do lado de fora. Podia ouvi-los
chamando pela menina. Sem se abalar, ela continuou preparando sua refeição,
ouvindo as sirenes no estacionamento.
Bill segurava a mão de Irmã e com a outra dirigia. O tráfego na Interestadual
fluía rapidamente, mas nenhum dos dois notava o excesso de velocidade em que
estavam ao irem para Raleigh.
Irmã lutava contra as lágrimas.
Seus filhos precisariam de sua força, e ela estava determinada a não falhar
com eles.
— Tudo vai ficar bem — garantiu Bill, como se pudesse ler os pensamentos
dela. — Com sorte, eles já a terão encontrado quando chegarmos lá.
Irmã queria desesperadamente acreditar que sua filhinha estaria esperando
por ela, sã e salva.
Bill repetia para ele mesmo, afirmando que tudo terminaria bem.
— Tenha fé — disse. — Deus vai protegê-la.
Ao chegarem na casa de Mônica, um policial acenou para que eles parassem,
pedindo uma identificação.
— Meu nome é Bill Turner. É nossa filha que está desaparecida.
O policial deixou que eles passassem. Assim que Mônica os viu, correu na
direção deles.
Lágrimas corriam por seu rosto enquanto ela abraçava a mãe.
— Por favor, me desculpe, mamãe! Eu não devia tê-la deixado longe da minha
vista. A culpa é toda minha.
— Você não deve se culpar, querida. Agora pare de chorar — Irmã ordenou
com voz firme.
Bill abraçou as duas, demonstrando os mesmos pensamentos da esposa.
— Mônica, você e seu irmão sempre foram responsáveis com Mariah. Nós
confiamos nos dois. Sua mãe e eu sabemos que você não se descuidaria. — Ele se
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virou para Diondre, Preston e o oficial que estava perto deles. — Vocês sabem de
alguma coisa?
O detetive Ramirez estendeu a mão e se apresentou.
— Sr. Turner, nós já demos o alerta Amber.
— Desculpe o que é isso?
— O alerta Amber é um alerta de emergência. Assim que uma criança é tida
como desaparecida, nós lançamos um alerta que nos possibilita encontrar a» criança
o mais rápido possível. Nós passamos todas as informações importantes sobre sua
filha, inclusive uma fotografia, para todas as emissoras de rádio e televisão do Estado
e para a internet. Também fizemos boletins sobre Donata Thompson. Acreditamos
que ela esteja envolvida.
— Você quer dizer que aquela mulher louca pegou a minha filha? — indagou
Irmã.
Mônica abraçou a mãe quando o policial respondeu.
— Não temos certeza, mas é bem possível. Montamos uma estação aqui na
casa de sua filha e tenho cada um dos meus homens trabalhando no caso.
Preston veio abraçar Irmã e seu olhar foi para Bill.
— Eu assumo total responsabilidade. Nada disso teria acontecido se eu tivesse
sido capaz de fazer alguma coisa com aquela mulher.
Irmã balançou a cabeça negativamente e colocou a mão no rosto dele.
— Eu preciso que você tome conta de Mônica agora. Precisamos parar de nos
culpar pelo que aconteceu. Temos de nos concentrar em encontrar Mariah. — Ela se
voltou para Ramirez.
—Agora, alguém pode me dizer o que mais vocês estão fazendo para encontrar
a minha filha?
— Estamos procurando por todo o condomínio. Não há como ela ter ido muito
longe. Estabelecemos uma linha de tempo para o desaparecimento da menina. A
Srta. James disse que a senhora estava ao telefone com ela quando a menina sumiu.
— Sim, eram quase nove horas. Eu me lembro porque o reverendo Price estava
terminando o sermão na televisão. Meu marido assiste ao programa todos os
domingos, das oito às nove.
— E a senhora falou com sua filha?
— Sim. Ela queria permissão para ir ver Preston. Eu disse que ela só poderia
ir se Mônica deixasse.
— A senhora se lembra de algo mais?
— Mônica usou a segunda linha para falar com Preston. Ela queria avisar que
Mariah estava indo para a casa dele.Eu escutei Mariah insistindo para ir até a porta.
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O detetive Ramirez olhou para Mônica.
— O que aconteceu depois que você ligou para o Dr. Walker?
— Ele disse que ia descer e se encontrar com ela. Ele linha acabado de se vestir
e eu ainda não estava pronta. Eu ouvi Mariah abrir a porta e depois não a vi mais.
Pensei que ela tivesse ido direto para a casa de Preston. Quando olhei pela janela vi
meu irmão chegando e a porta de Preston aberta.
— Quanto tempo se passou entre falar ao telefone e olhar pela janela?
— Um ou dois minutos, não mais do que isso. Preston continuou com sua
parte do relato.
— Depois que Mônica me ligou, eu desci imediatamente e fui abrir a porta
para Mariah. A porta de Mônica estava aberta, mas a menina ainda não tinha saído.
Esperei alguns minutos e já estava quase indo ver por que ela estava demorando
quando o irmão dela chegou.
— É isso mesmo — confirmou Diondre. — Nos cumprimentamos, e logo em
seguida Mônica apareceu. Percebemos logo que Mariah tinha desaparecido,
procuramos por ela, e como não a encontramos, chamamos a polícia.
— O senhor não viu ninguém sair quando chegou, Sr. James?
— Não. Ninguém.
— Srta. James, é possível que sua irmã tenha saído antes de a senhorita ligar
para o Dr. Walker?
— É possível, mas eu disse para ela não sair até que o visse. Normalmente ela
obedece.
— Detetive, minha filha pode ser muito cabeça-dura. Ela queria ver Preston
e não queria esperar. Num piscar de olhos ela poderia ter desaparecido sem ninguém
saber.
Lutando para não chorar, Irmã recostou-se no ombro do marido. Ele segurou
as mãos dela.
— Encontre minha filhinha, Senhor — ela sussurrou. — Por favor, faça com
que encontrem minha filhinha...
A detetive Keyes se juntou ao parceiro que estava sozinho no meio do pátio.
A mente dele trabalhava para processar aquela reviravolta nos eventos.
— O que está acontecendo? — ela perguntou, apoiando-se em uma estátua de
mármore.
— Foi um trabalho muito bem feito. Pelo que sei, talvez uns quatro ou cinco
minutos, para alguém ver a criança, agarrá-la e então desaparecer sem ser vista por
ninguém. Nada indica que a pessoa tenha saído dirigindo, e nada prova que tenha
fugido a pé. Nós temos testemunhas suficientes no perímetro do condomínio que
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poderiam ter visto ou ouvido alguma coisa. E se a criança tivesse saído andando
alguém teria percebido. No que deu bater de porta em porta?
— Em quase nada. Todos os vizinhos que estavam em casa foram
interrogados, exceto as casas três e sete. Os Glaston, que moram na casa três, estão
de férias e só voltam na semana que vem. Um casal vizinho tinha a chave, e nós
checamos a casa, mas não encontramos nada.
— E a casa sete?
— O Sr. e a Sra. Stern. O casal de idade que foi interrogado sobre o Dr.
Walker, lembra-se? Pelo que pude apurar, eles tinham uma reunião de família em
Nova York hoje. Eles têm uma filha que confirmou com eles ontem, e disse que eles
entrariam em contato com ela assim que chegassem. O Dr. Walker disse que o carro
deles estava no estacionamento ontem à noite, mas não esta manhã. Ele diz que eles
costumam deixar o carro no estacionamento do aeroporto quando saem da cidade.
— King-John Vega está na área e você está ouvindo a WTCI, 98.3 FM. A
polícia do Estado deu um alerta sobre uma criança desaparecida que eles acreditam
ter sido seqüestrada de Raleigh hoje cedo. A menina, Mariah James Turner, de
quatro anos, foi vista pela última vez usando um top amarelo com flores brancas,
short jeans, meias brancas e tênis cor-de-rosa. A polícia acredita que ela esteja na
companhia de uma mulher chamada Donata Thompson, uma estudante
universitária. A srta. Thompson talvez esteja dirigindo um Hyundai Accent prata,
com placa da Carolina do Norte, Linbrav. Se alguém acha que viu essa criança ou se
tiver alguma informação, pedimos que entre em contato com a polícia local. Uma
nota pessoal, a pequena Mariah é a irmã mais nova de uma das personalidades
premiadas da rádio de Raleigh, Mônica James. Queremos que ela saiba que estamos
rezando para que a menina retorne sã e salva para sua família. Aqui é King-John
Vega, trazendo sempre as notícias em primeira mão.
A foto da menina foi exibida na televisão. Era uma boa foto, ela pensou, ao
olhar para a tela da tevê com som mudo. Na cama, a criança finalmente tinha parado
de chorar e adormecera, encostada na Sra. Stern. A mulher e o marido se colocaram
em uma posição em que protegiam a menina e lançavam olhares de ódio para
Donata.
Ela ignorou os dois.
Foi até a janela e deu uma espiada. Finalmente caíra a noite. O calor da tarde
deixara o ar mais quente. De onde ela estava, mal podia ver através das janelas, mas
sabia que ele estava sentado ao lado daquela mulher, e todo o resto deles esperando
por alguma notícia. No pátio, os policiais se misturavam com os repórteres, numa
confusão só.
Donata sorriu. A hora havia chegado.
Preston seguiu Mônica quando ela foi para o quarto transformado em uma
mini-academia para ficar um pouco longe da família. Ela olhava para o espaço, com
a alma machucada, e quando ele entrou no quarto seu coração ficou partido por ver
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como era intenso o sofrimento dela.
Ele a abraçou, e Mônica se encostou nele, sentindo como se pesasse uma
tonelada.
— Ela nunca ficou longe da gente antes. Deve estar assustada.
— Mariah é uma menina esperta. Ela vai ficar bem. Eles vão encontrá-la.
— Eu não deveria ter desgrudado dela, meu Deus... Preston segurou
firmemente os ombros dela.
— Eu não quero ouvir você falar assim de novo. A culpa não foi sua. Ninguém
poderia prever que isso fosse acontecer. Neste momento você precisa ser forte. Por
sua mãe e por Mariah. Não temos tempo para você sentir pena de si mesma. Temos
de trazer sua irmã de volta em segurança. É nisso que devemos nos concentrar. Fui
claro?
— Você parece a minha mãe.
— Sua mãe é uma mulher incrível. E você é igual a ela, não se esqueça disso.
Mônica o abraçou.
— Estou feliz que você esteja aqui.
— Eu não poderia estar em nenhum outro lugar. Irmã observava os dois
abraçados da porta. Sua filha
mais velha ficaria bem, ela pensou, vendo o amor que existia entre os dois. E
assim que eles encontrassem Mariah, ela também ficaria.
O momento foi interrompido pelo detetive Ramirez, chamando da escada por
Mônica.
— Srta. James tem uma ligação para a senhorita. E o Sr. Bailey e ele diz que
é urgente! Diz que é sobre a sua irmã.
Os três desceram as escadas e Mônica agarrou o telefone da mão do policial.
— Bryan, o que aconteceu?
— Mônica, você precisa vir para a emissora, agora.
— O que houve?
— Donata ligou procurando por você.
— Bryan, espere! — Ela apertou um botão do aparelho e colocou o fone na
base.
— Você está no viva-voz. Eu quero que todo mundo ouça isto. O que ela disse?
— Ela disse que se quiser ver Mariah novamente, você tem que vir para a
rádio e começar a falar com os ouvintes. Ela disse que vocês duas precisam ter uma
longa conversa.
Mônica fitou rosto por rosto enquanto sua família e a polícia olhavam para
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ela.
— Ela disse mais alguma coisa?
— Disse para você trazer Preston junto, e ninguém mais. Disse que se a
polícia vier com vocês, ela vai saber e Mariah vai sofrer as conseqüências. Ela quer
ouvir você em meia hora, e o relógio está correndo. Essas foram as palavras exatas
dela.
— Nós estamos indo! Deixe tudo preparado para eu entrar no ar.
— Eu vou com você — disse a detetive Keyes.
— Não. Ela disse para irmos somente eu e Preston. Nós vamos sozinhos.
— Não é seguro...
— a detetive começou a falar, mas Ramirez ergueu a mão, interrompendo-a.
— Chame uma unidade com dois oficiais a paisana para encontrá-los lá. Eles
devem chegar primeiro. Diga a eles para ficarem perto da porta principal e ficar de
olho em quem entra ou sai.
— Não — disse Mônica. —A porta principal é trancada às seis horas. Os
empregados entram pela garagem. Os seguranças ficam no portão. Os convidados
entram pela porta lateral que dá direto no escritório da segurança e então na escada
principal.
Muito bom. Eles devem ficar perto da porta lateral e manter alguém no
escritório para ficar de olho na garagem. Chame a Bell South e diga a eles para
rastrearem todas as ligações que Mônica receber. Precisamos ficar preparados para
rastrear a ligação dela. Você pode mantê-la falando, Mônica?
— Isso é o que faço melhor, detetive — respondeu ela com um sorriso.
Preston andava de um lado para o outro atrás de Bryan. Mônica ajustou os
fones de ouvido esperando pela sua deixa. O sinal tocou e Bryan apontou o dedo,
indicando que ela estava no ar.
A voz dela era uma mistura de determinação e ansiedade.
— Aqui é Mônica James. E domingo à noite e estou aqui por um pedido
especial. Nós temos muito o que falar, pessoal, então comecem a me ligar. Alguém
me ligue e diga algo de bom.
O painel de chamadas piscava freneticamente. Mônica atendeu a primeira
ligação.
— Aqui é Mônica. Quem está na linha?
— Mônica, meu, nome é Lucy Lewis. Você ainda não encontrou sua irmã?
— Ainda não, sra. Lewis.
— Por que está trabalhando então? Você não fez nada para aquela criança,
fez?
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— Não, senhora. Mas estou aqui esperando ter a minha irmãzinha de volta.
— Sabe que algumas pessoas podem pensar que você fez alguma coisa e está
no rádio sem estar preocupada.
— Confie em mim, sra. Lewis. Estou muito preocupada, mas eu tenho que
estar aqui por Mariah.
— Bem, boa sorte, querida. Vamos rezar por ela.
— Obrigada, sra. Lewis. Aqui é Mônica James. Alguém me ligue e diga algo
de bom. Eu me sinto como Heather Headly hoje à noite, pessoal. Ela vai cantar
Fulltime e quando eu voltar quero contar para vocês por que o homem que eu amo é
tão especial. Ele é todo meu e de nenhuma outra mulher. E se há alguém que acha
que pode tomá-lo de mim, então venha. Vamos acertar isso de uma vez por todas.
Mônica tirou os fones e se levantou para esticar as pernas. Preston e Bryan
entraram correndo na cabine onde ela estava.
— O que você está fazendo? — perguntou Bryan.
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olhando para a janela de Preston e depois para o grupo de policiais. Ao olhar através
do vidro, Angela Keyes ficou na linha de visão, dando ordens com tamanha
autoridade que o fez sorrir.
Irmã se aproximou e parou a seu lado, olhando para a mesma direção que ele.
Permaneceram assim por algum tempo sem falar nada. Foi Irmã quem quebrou o
silêncio.
— Preston observava minha filha por esta janela. Acho que eles se
apaixonaram assim, parados, um observando o outro.
Ramirez olhou para Irmã e sorriu.
— O Dr. Walker é um homem de sorte. Sua filha parece ser uma mulher
admirável.
— Sim, ela é. Minhas duas filhas são únicas.
O homem concordou e voltou a se concentrar no caso.
— Ela é casada? — perguntou Irmã apontando na direção de Angela.
— Não.
— E você?
— É difícil manter um relacionamento neste tipo de trabalho, sra. Turner. Eu
parei de tentar há muito tempo.
— Talvez seja hora de repensar.
Ramirez riu do jeito sincero de Irmã e seu olhar encontrou o de Angela. Ele
se afastou da janela e foi até o meio da sala onde o restante da família estava ouvindo
o rádio. Mônica estava discutindo com um ouvinte que tentava fugir do assunto,
mas ela não estava deixando até que ele desse mais explicações. Mônica encerrou a
conversa e prometeu voltar, avisando qual seria o próximo assunto. Todos que
estavam na sala se entreolharam.
— O que ela vai fazer? — indagou Diondre.
— Ela vai fazer aquela mulher falar — respondeu Irmã. — Ela vai ajudá-los a
encontrar Mariah.
Enquanto eles aguardavam ansiosamente, o telefone tocou e Ramirez foi
atender.
Ela andava de um lado para o outro, enfurecida. O casal e a criança a
observavam. O rádio estava baixo mas eles podiam ouvir a voz de Mônica e a
conversa dela com os ouvintes. Mônica a desafiara. Tinha dito para todo mundo que
Preston era somente dela. E Preston junto com Mônica riram dela na rádio,
confessando o amor que sentiam um pelo outro.
Quando Donata bateu com força na parede do quarto, Mariah começou a
chorar.
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— E tudo culpa da sua irmã! Ela pensa que é especial, mas não é! Ela vai se
arrepender!
Donata pegou o rádio e o jogou no chão. Mariah tremia com medo daquela
mulher que xingava sua irmã e Preston. Ela saiu do quarto, desceu as escadas e
correu para pegar o celular na bolsa.
Bryan atendia as ligações o mais rápido possível. Enquanto isso, Preston e
Mônica conversavam com os milhares de ouvintes que compartilhavam do drama
que eles estavam vivendo. Quando Bryan atendeu uma das ligações, a fúria de
Donata foi explosiva.
— Diga a Mônica James que se ela quiser ver a irmãzinha novamente é melhor
ela pegar o telefone agora!
— Espere um momento, por favor. Vou passar a ligação. — Bryan se levantou
e bateu no vidro. Quando Mônica olhou, ele fez um sinal para que ela pegasse a linha
dois, passou a ligação e avisou os policiais.
— Aqui é Mônica James, você está me ligando para dizer algo de bom?
— Você gostaria disso, não é? — Donata perguntou às gargalhadas.
— Claro, eu gosto de boas notícias. Quais são as suas?
— Eu quero contar uma história, srta. James.
— Deixe-me ouvir. Diga alguma coisa.
— O homem que você diz ser seu não é tão especial. Ele me tratou mal quando
eu tentei ser boa com ele. E ele me jogou fora como se eu fosse lixo. Que tipo de
homem faz isso?
— Às vezes nós nos enganamos com quem escolhemos, Donata. Não
significa que ele não preste para mais ninguém. — Mônica mantinha a voz suave
e baixa. — Eu já cometi esse erro uma ou duas vezes.
— Ele não me amou. Tentei fazer o que pensei que ele queria. Ele tinha que
ter me amado.
— Ele se importou com você, mas não do jeito que você queria. Algumas vezes
isso acontece.
— O que faz você ser tão especial? Sai por aí como se fosse a dona da verdade
e você não sabe é nada.
— Não, eu não sei tudo. Então, por que você não me diz? Diga, por que você
está tão zangada, Donata? Quem foi a primeira pessoa que a deixou triste? Quem
não te amou?
Donata ficou congelada com a pergunta. Ela olhou ao redor da sala dos Stern
e parou ao ver algumas fotografias na mesa de centro, nas prateleiras e nas paredes.
Uma em particular chamou sua atenção.
Ela se levantou e apontou o dedo para a foto.
92
— Ele deveria ter me amado — disse num fio de voz.
— Quem deveria ter amado você?
— Meu pai. Ele não me amou. Eu tentei ser uma boa menina, mas ele nunca
me amou.
— Seu pai a abandonou, Donata? Foi isso que aconteceu?
— Você não sabe nada sobre mim! — Ela gritou e jogou o retrato no chão,
espatifando o vidro.
— Não, eu não sei. Mas sei como é ser abandonada pelo pai. Meu pai também
me deixou. Eu nunca o conheci. Sei o que é amar sem ser amada. Meu pai nunca me
amou também.
As duas ficaram em silêncio, esperando pela reação uma da outra.
— Mariah tem um pai que a ama muito — Mônica continuou. — O nome
dele é Bill e ele sente muito a falta dela, Donata.
— Cale a boca! Cale a boca!
— Eu não posso me calar, Donata. Isto é um programa de rádio. Eu tenho que
falar. O nome dela é Mariah e ela só tem quatro anos. Mariah é uma garotinha muito
especial, que adora cantar e fazer novos amigos. Eu não quero que ela fique
assustada. Preciso que você me ajude, ela precisa da sua ajuda, Donata. Por favor.
— Não, não, não, não... — Donata continuou cantando. Ela sentou no chão,
escondendo a cabeça entre as pernas.
Preston segurou a mão de Mônica, dando força a ela, até que Donata
finalmente falou:
— Eu quero ser o presente do Dr. Walker. Ele merece presentes especiais.
Mas ele não quis o meu.
— Ele o quer que você dê os seus presentes para outras pessoas. Alguém que
os mereça e os aprecie. Ele quer isso porque se importa com você, Donata.
— Todo mundo entendeu — falou Donata. — Minha amiga Lydia disse que
desejava que fôssemos felizes juntos. Disse que éramos um bonito casal. Mas então
você bagunçou tudo. — A voz estava repleta de amargura.
— Eu não baguncei, e você sabe disso, Donata.
— Minha amiga Lydia disse que eu era uma boa garota e você quer que ela
pense ao contrário.
— Não é verdade, Donata.
Com uma gargalhada, Donata desligou o telefone e começou a balançar o
corpo para a frente e para trás, segurando a cabeça entre as mãos.
Mônica sentiu um frio na boca do estômago e com um sinal Bryan indicou
que ela ainda estava no ar.
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— Aqui é Mônica James, da rádio WLUV-FM. Estaremos de volta depois
das mensagens dos nossos patrocinadores.
A linha de telefone ainda estava aberta quando o policial chamou.
— O que foi? — perguntou Mônica. — Eles localizaram a ligação?
— Ela ligou do celular. Eles não conseguiram encontrá-la.
— Eu vou falar com ela novamente. Eu tenho que fazer com que ela nos diga
onde está Mariah.
Preston se aproximou para abraçá-la.
— Mônica, tome cuidado. Não sabemos o que ela pode fazer.
— Eu tenho que tentar, Preston.
O detetive Ramirez voltou para a janela enquanto ouvia Mônica e Donata.
Seu olhar correu para a porta da casa dos Stern. Donata havia chamado a velha
senhora de amiga, ele pensou ao repassar a conversa das duas. Quando ele havia
falado com o casal durante a investigação sobre Donata ter sido atacada pelo Dr.
Walker, eles pensaram que ela fosse a noiva dele. Ele fez um gesto para a parceira
para que ela viesse encontrá-lo no pátio e dar instruções.
— Ligue para a filha do casal Stern. Pergunte sobre os pais dela.
— O que você está pensando? — indagou Keyes.
— Estou pensando que se eu fosse pegar uma garotinha e precisasse fugir
rapidamente, qual seria a melhor saída? E também estou me perguntando por que
um casal que viajou para o feriado deixaria a televisão ligada.
Donata não ouviu quando a porta foi arrombada e a casa invadida. Ela não
conseguia ouvir nada, a não ser umas vozes estranhas dentro da sua cabeça.
A garotinha tinha um pai, ela pensou. Ela mesma tivera um pai. O pai de
Mônica James a tinha abandonado. O pai de Mônica não a amara, mas o pai de
Donata a tinha amado. Um sorriso surgiu em seu rosto quando um homem alto a
ergueu do chão, murmurando palavras que ela não compreendia.
— Meu pai me ama — ela disse. — Eu sou sua garotinha favorita.
Donata foi levada até o carro de polícia, mas não estava prestando atenção.
Ela ouvia apenas o pai falando com ela, sussurrando em seu ouvido que a amava
muito.
Dentro da casa dos Stern, o detetive pegou o celular do chão e colocou no
ouvido. - Alô, srta. James? Detetive Ramirez? É o senhor? Encontrou Mariah? Um
momento tem uma pessoa aqui que quer falar com você. — Ele passou o telefone
para a menina.
— Monca? A gente pode ir no jardim zoológico agora?
Irmã e as filhas estavam sentadas lado a lado no quintal, tomando sorvete.
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Mariah não parou um minuto, desafiou o irmão, o pai e Preston e depois a mãe e a
irmã. Então os homens fugiram para o campo de golfe, enquanto as mulheres da
família James brincavam com a menina que era a dona de toda a atenção.
Irmã abraçou bem forte a filha pela milésima vez.
— Você tá me apertando — reclamou a garota.
Mônica e a mãe riram. Mariah pulou da cadeira e voltou a correr pelo jardim,
enquanto as outras duas mulheres olhavam para ela.
— Eu quero perguntar uma coisa — falou Irmã para Mônica com o olhar
ainda na filha mais nova.
— O que é, mãe?
— Você realmente pensa que seu pai não amou você?
— Houve uma época que sim. Depois de algum tempo não importava mais,
porque você nos amou muito. Já que eu sempre tive amor, nunca senti falta disso.
Donata não teve a mesma sorte.
— Seu pai amou muito você e seu irmão. Mas ele tinha alguns problemas,
Mônica. Ele não sabia amar. Eu nunca disse isso para você e seu irmão, mas você
precisa saber que seu pai não foi embora por causa de vocês. Era um problema meu
e dele. Ele amou você da maneira dele. Nunca pense o contrário.
— Eu sei, mãe. Sempre soube.
As duas permaneceram sentadas em silêncio. Mariah ouviu os homens
chegando antes delas e foi correndo para o portão. Irmã sacudiu a cabeça.
— Eu sempre vou atrás dela, mas sei que não posso. Não quero que ela cresça
com medo de ser independente.
— Eu sei. Deixa que eu vou desta vez. — Mônica sorriu para a mãe. Minutos
mais tarde ela e a irmã voltavam com os recém-chegados. Irmã ficou feliz por ver
Mônica e Preston entrarem de mãos dadas.
— Aqui está meu outro bebê — disse Bill ao beijar a esposa.
— O que vocês estão fazendo?
— Aproveitando o clima — respondeu Irmã ao abraçar o marido.
Diondre olhou para o relógio.
— Precisamos pegar a estrada — avisou a Preston e Mônica.
— Vou encontrar Godfrey e Ramirez para tomar uns drinques, depois vamos
para o clube.
Irmã revirou os olhos para o filho.
— Você está muito velho para isso, Diondre. Precisa arrumar uma mulher e
sossegar.
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— Nunca. Eu adoro a vida de solteiro.
— Ainda bem que alguém está aproveitando, porque eu tive o suficiente —
comentou Preston.
Mônica sorriu e deu um beijo no namorado.
— Mamãe, posso ficar na casa da Monca?
— Dessa vez não, meu bem. Mônica não vai para casa. Eu vou tirar folga por
alguns dias.
— E para onde você vai? — indagou Bill.
— Las Vegas. Preston e eu vamos ficar lá uma semana.
Irmã ergueu as sobrancelhas e olhou para os dois. Sorriu com uma expressão
de quem sabe das coisas, depois abraçou e beijou os dois.
— Acho que poderíamos ter uma ótima festa no jardim quando vocês
voltarem. Algo para celebrar. O que você acha, Mônica?
— Eu acho que seria ótimo.
— O que estamos celebrando? — perguntou Diondre, olhando para a mãe e
para irmã e depois para Bill e Preston. — O que está acontecendo?
— Não é da sua conta! Isso é coisa de meninas — Mariah retrucou rindo.
Preston não sabia se a excitação era pelo que eles estavam sentindo ou se era
por causa da vibrante energia da cidade. Ele e Mônica tiveram essa sensação antes
mesmo de o avião pousar no Aeroporto Internacional de Las Vegas.
De mãos dadas, os dois decidiram explorar a cidade, depois de trocarem as
roupas de viagem por short e camiseta. Preston insistiu em quartos separados até a
cerimônia e Mônica ainda balançava a cabeça pelo absurdo da idéia.
— É um total desperdício de dinheiro, Preston.
— Talvez, mas dividir o mesmo quarto pode fazer a gente ter a lua-de-mel
antes do casamento.
— Eu te amo, mas você está me deixando louca, Preston.
Ele a enlaçou pela cintura e a puxou para mais perto.
— Isso é uma coisa boa.
A temperatura da noite estava agradável, uma brisa fresca soprava. Os dois
só tinham dois objetivos: conseguir a licença para se casar e encontrar um lugar onde
começariam uma nova vida juntos. Depois de cinqüenta dólares e duas assinaturas,
eles realizaram o primeiro objetivo. Tinham esperança de conseguir realizar o
segundo também.
— Onde Bill e sua mãe se casaram? — Preston olhava de um lado a outro a
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rua movimentada antes de atravessarem.
— Na capela Graceland. — Você está brincando?
— Não. Um ator vestido de Elvis cantou no casamento. Foi onde Aaron
Neville, dos Neville Brothers, se casou. Bill é fã dele.
— Então acho que a gente deveria se casar lá.
— Eu acho que não.
— Não importa onde eu me case, Mônica James. Apenas que quando eu disser
o "sim", serei o homem mais feliz do mundo. Mas tenho uma idéia e quero que você
confie em mim. Pode deixar isso comigo?
— Contanto que não toque Blue Suede Shoes como fundo musical, você pode
fazer o que quiser!
A banheira estava cheia e com cheiro de flores, a cor da água era igual ao azul
do céu. Pétalas de rosas brancas e amarelas flutuavam na água junto com Mônica.
Ela estava maravilhada com o lindo anel que brilhava no seu dedo, anunciando que
ela era a sra. Preston Walker.
Um sorriso estava em seu rosto desde quando se levantara naquela manhã e
se preparara para o dia que havia mudado o seu mundo. A manhã tinha sido pura
alegria, começando com o café da manhã na cama da suíte nupcial do famoso Hotel
Bellagio. A manhã também incluíra a primeira surpresa preparada por Preston, uma
coleção de poemas escritos a mão, especialmente para ela.
A hora do almoço se aproximava, e sua assistente chegou para ajudá-la a se
vestir, trazendo o segundo presente de Preston, um vestido longo de cetim branco,
bordado com pérolas. Uma simples coroa de flores, feita de rosas e orquídeas
brancas, adornavam seu cabelo. Com o antigo colar de pérolas da mãe e um par de
brincos com diamantes dados pelo irmão, ela estava linda.
A terceira surpresa foi um dos melhores momentos de sua vida. Ela abriu a
porta do hotel, esperando encontrar apenas Preston de pé do outro lado. Mas o que
ela encontrou foi Bill, vestido em um smoking preto, segurando um buquê de rosas
brancas amarradas por uma fita de cetim. Ele a beijou no rosto, e com lágrimas nos
olhos, lembrou que o dever de um pai era levar a filha até o altar no dia do
casamento. A mãe, o irmão e a irmãzinha estavam esperando no final do corredor.
Mãe e filha lutavam para não chorar, limpando as lágrimas que conseguiam escapar.
Antes de a cerimônia começar, Preston fez mais uma surpresa, levando
Mônica até o saguão do hotel para apresentar a mãe e duas tias. As três mulheres a
cumprimentaram com abraços e dando boas-vindas à família. A senhora Adele
Walker era uma mulher de estatura pequena. Quando ela sorriu para Mônica, foram
os olhos de Preston que ela viu. As feições, o sorriso, em tudo a mãe era a imagem
do filho.
— Preston teve sorte em encontrar você, minha filha — ela sussurrou no
ouvido de Mônica.
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— Estou muito feliz por vocês.
As duas tias, que nunca haviam se casado e amavam Mônica como se fosse
filha delas também, estavam radiantes.
— Já era hora de Preston se casar — falou Glenda, a irmã mais velha.
— Agora, talvez tenhamos netinhos! — exclamou Bernardette, a irmã mais
nova.
As três mulheres a fizeram rir e se sentir à vontade; enquanto eles esperavam
pelas preparações finais para o casamento, as duas famílias se transformaram em
uma só.
Sob o olhar dos familiares, Preston e Mônica fizeram seus votos no terraço,
que tinha como vista o lago do Hotel Bellagio.
As paredes ao redor tinham toques de patina dourada. O piso era coberto de
mármore, combinando com o azul das águas do lago, criando uma atmosfera
romântica. O momento foi fechado com chave de ouro após os noivos fazerem os
votos. Quando Preston se inclinou para dar o primeiro beijo em sua esposa, as águas
da fonte do hotel se elevaram, dançando graciosamente, como se mandassem
bênçãos para aquela união. Mariah ria animadamente, agitando os braços, enquanto
Diondre a colocou em seus ombros. Os três irmãos sorriam felizes. Bill abraçou a
esposa e a beijou apaixonadamente.
Todo aquele momento parecia um sonho.
Agora, enquanto passava creme no corpo, Mônica sentia arrepios de
ansiedade. Ela não podia imaginar um final tão perfeito para aquele dia como uma
noite de núpcias. Uma noite de núpcias de verdade!
Uma camisola de seda creme e um penhoar combinando repousavam sobre
uma cadeira.
As peças tinham um corte elegante, e quando ela vestiu a camisola, sentiu
como se fosse uma segunda pele sobre seu corpo perfumado. Admirou seu reflexo
no espelho, sentindo o nervosismo aumentar. A camisola deixava muito pouco para
a imaginação, valorizando cada curva de seu corpo. Ao passar a mão pelos cabelos,
ela se sentia bonita, e era como queria ficar, para Preston.
Ele estava parado nervosamente ao lado da cama quando ela entrou no quarto.
Usava apenas uma calça de pijama de seda preta. Mônica não pôde deixar de suspirar
de desejo por aquele homem que agora era seu marido.
Velas iluminavam o ambiente, fazendo a pele dela brilhar. Preston andou até
ela, extasiado com a beleza que contemplava.
Você c uma deusa, e estou aqui para atender aos seus desejos — ele sussurrou
suavemente.
Mônica enrubesceu ao ser elogiada. Os olhos dele a mediam da cabeça aos pés.
Preston sentia dificuldade para respirar. Ela era linda e era toda sua. Poderia ficar
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ali parado para sempre, olhando para ela.
Deu um passo à frente e a tocou no rosto com dedos trêmulos. Em seguida
envolveu-a nos braços e disse que a amava, antes de beijá-la. O beijo foi suave e
lento, como se fosse o primeiro raio de sol a tocar o céu. Era como se ele sugasse a
alma de Mônica através daquele beijo, enquanto sentia as formas do corpo dela
encostado ao seu.
Com os olhos fixos em Mônica, baixou as alças da camisola, os dedos
passeando pelo corpo delgado numa carícia, tocando cada ponto, explorando cada
recanto. Quando tocou os mamilos, eles ficaram rijos. A língua seguia o caminho
feito anteriormente pelos dedos.
Preston estava no paraíso, com permissão para ficar para sempre.
Mônica colocou os braços ao redor dele e cravou as unhas em sua pele,
entregue ao desejo. Tudo dentro de Preston gritava para tomá-la, para estar dentro
dela.
Na verdade, ele estava mais que pronto para isso.
Segurou o rosto dela com as mãos e a beijou novamente, mostrando o quanto
precisava dela. Mônica usou o corpo para empurrá-lo para a cama, saboreando o
calor que esse movimento causava.
Preston terminou de tirar a camisola e jogou-a no chão, sorrindo com a visão
dos seios que lhe era oferecida, memorizando todos os detalhes da nudez de Mônica.
Ofegou quando ela passou a língua em sua orelha e depois pelo pescoço, até*
alcançar um mamilo e depois o outro. Sua língua corria pelo peito dele, deixando-o
sem ar. Ao abrir os olhos, o que ele viu no olhar da esposa foi pura sedução.
Mônica começou a desamarrar o cordão da calça de pijama, e ele a ajudou a
tirá-la. Quando ela envolveu o membro pulsante com as pernas, Preston teve a
impressão de que o quarto girava, tão intenso era o que estava sentindo.
— É mesmo a sua primeira vez? — ela perguntou baixinho, ao mesmo tempo
que movimentava o corpo sensualmente, deixando-o sem ar. — Então eu prometo
ser gentil — disse, antes de deitar sobre ele.
Preston tremeu ao sentir a mão de Mônica em sua masculinidade. Era um
prazer indescritível, enquanto ela o guiava para dentro do corpo dela, movendo os
quadris de maneira lenta e provocante.
Preston ergueu o tronco e a abraçou, sentindo os seios pressionados contra seu
peito, enquanto introduzia a língua pelos lábios entreabertos de Mônica. E assim,
nessa posição, abraçados um ao outro, alcançaram um clímax pleno de prazer,
bradando o nome um do outro, num doce e sensual prelúdio do que seria a sua vida
de casados.
Eles se deitaram devagar, ainda abraçados um ao outro. Preston beijou o rosto
de Mônica, beijou os olhos, a ponta do nariz, e mordiscou o lábio superior dela.
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— Como eu me saí? — perguntou timidamente, com a respiração ainda
ofegante. — Eu não queria desapontar você.
Mônica sorriu e o abraçou com mais força.
— Você se saiu muito bem, Dr. Walker.
— Vou melhorar com a prática. Prometo.
— Acredite você vai praticar muito. Preston riu, abraçando-a de volta.
Eles ficaram deitados, calados, dividindo aquele momento de intimidade.
Mônica percebeu de repente a música que vinha do aparelho de som do quarto.
Sorriu novamente e o beijou no rosto.
— Obrigada por ter me esperado — sussurrou.
— Eu não poderia imaginar outra mulher que não fosse você, na minha vida.
Eu te amo, sra. Walker!
Ele rolou até Mônica ficar deitada de costas, seus corpos ainda unidos. Ela
abriu as pernas para recebê-lo novamente. Beijando-se, eles fizeram amor mais uma
vez, devagar, docemente, até que se largaram na cama, vencidos pela exaustão.
Adormeceram debaixo das cobertas enquanto o sol substituía a lua. Os
primeiros raios se infiltravam através das janelas. Mônica rolou de encontro ao
corpo de Preston para a proteção de seu abraço. Sorriu e sussurrou no ouvido dele:
— A primeira coisa que vamos comprar é uma casa, uma bem grande.
— E sem vizinhos.
— Por que sem vizinhos?
— Não quero ninguém nos espiando pelas janelas.
EPÍLOGO
Preston estava na cabine de som junto com Bryan enquanto Mônica entrava
no ar. Ela estava incrível, o rosto corado pelo excitamento. A pele e os olhos brilha-
vam, e ele achava que ela estava ainda mais bonita do que na primeira vez em que a
vira.
O amor deles se tornava mais profundo a cada dia. Mesmo agora, observando-
a, ele tinha vontade de colocá-la em seus braços e ficar junto dela para sempre. Bryan
passou os fones de ouvido para que ele pudesse ouvir o programa.
— Estamos tendo uma festa aqui hoje, pessoal! Antes de começar a atender os
ouvintes, há algumas coisas que preciso fazer esta noite. Tenho alguns assuntos que
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precisam ser resolvidos antes de eu dizer adeus. Os últimos três anos foram uma
incrível jornada para nós. Vocês foram um público excelente. Não existe nenhum
outro apresentador de programa de rádio que possa dizer que ama vocês mais do que
eu. Meu muito obrigada para toda a
Raleigh-Durham, e a cada um de vocês por terem feito deste programa o
número um em audiência! Estou feliz por estar aqui e sou abençoada por ter bons
amigos e uma família fantástica a meu lado. Meu novo programa vai estrear na
próxima semana na TV WRAL, e prometo a mesma energia e vibração que me
acompanha desde a primeira noite em que comecei aqui na rádio. Agora, preciso
fazer uma ligação. Há alguém para quem preciso enviar uma mensagem.
Mônica apertou um dos botões da mesa de controle e o telefone na cabine de
Bryan começou a tocar. Ele sinalizou para que Preston atendesse. Ele se levantou,
sem desviar os olhos de Mônica.
Alô? — Atendeu timidamente e pôs os fones sobre a mesa.
— Boa noite. Aqui é Mônica James Walker, da WLUV-FM. É o Sr.
Romântico quem fala?
— Sim, sou eu. O que posso fazer por você, Mônica?
— Meus ouvintes querem saber como está indo sua vida amorosa. Você e
aquela mulher ainda gostam de romance?
— Sim. Ela me fez um homem muito feliz.
— E você a está fazendo muito feliz?
— Acho que sim. Mas se não estivesse, certamente ela me diria.
— Tenho certeza de que sim. Bem, sua mulher tem algo a dizer. Você está
sentado, sr. Romântico?
O rosto de Preston ficou vermelho. Nervoso, ele olhou para Bryan, que apenas
sorriu.
— Sr. Romântico, eu apenas quero desejar a você um feliz primeiro dia dos
pais!
Preston ficou confuso, olhando de Mônica para Bryan. O dia dos pais era dali
a seis meses. Ele arregalou os olhos quando compreendeu o que estava acontecendo.
— Parabéns, Sr. Romântico! Amo muito você.
Ele largou o telefone, correu para a cabine e abraçou Mônica, feliz com a
novidade.
— Eu também amo você — ele sussurrou, pressionando os lábios sobre os dela,
num beijo de tirar o fôlego. Mônica sorriu e pegou o microfone.
— Aqui é Mônica James Walker, da WLUV-FM. Não saia daí, eu volto
depois dos comerciais.
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Com os anúncios no ar, ela abraçou o marido, segurando seu rosto enquanto
ele se abaixava para beijar-lhe a barriga.
— Então, quanto tempo você pensa em ficar comigo e com essa criança?
— provocou Mônica.
— Acho que para sempre.
— Não parece muito para mim.
Bryan fazia a contagem para ela entrar no ar novamente. Mônica beijou
Preston mais uma vez, e então aproximou o microfone dos lábios, sentando-se na
cadeira para continuar o programa.
— Aqui é Mônica James Walker. Alguém me ligue e me diga algo de bom!
Fim
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