O Empirismo
de David Hume
1711-1776
David Hume foi um filósofo,
historiador e ensaísta britânico
nascido na Escócia que se tornou
célebre por seu empirismo radical
e seu ceticismo filosófico. IV. Teorias explicativas do conhecimento
As questões
Qual é a origem do conhecimento?
Qual é o fundamento do conhecimento?
O que podemos conhecer?
Quais são os limites do conhecimento?
O conteúdo da mente
A mente é composta por perceções, que podem ser de dois tipos:
Impressões:
- Perceções originais, mais vivas e mais intensas do que as ideias.
Ideias:
- Cópias das impressões, menos vivas e menos intensas do que elas.
- As ideias de cavalo alado ou de elefante cor-de-rosa podem ser concebidas pela
mente porque temos impressões correspondentes às ideias simples de “cavalo” e de
“alado”, bem como de “elefante” e de “cor-de-rosa”, respetivamente.
Todas as ideias derivam das impressões.
Todo o conhecimento acerca da natureza deriva da experiência.
A origem das ideias
As ideias têm origem nas impressões.
A nossa mente associa ideias diferentes das quais temos ou já
tivemos uma impressão correspondente.
Todo o pensamento deriva da sensibilidade.
Relações de ideias e questões de facto
Os objetos da razão podem ser de dois tipos:
Relações de ideias
Questões de facto
Relações de ideias
São operações da mente derivadas exclusivamente do pensamento.
São independentes da experiência.
O seu contrário é impossível, resultando numa contradição lógica.
- Objeto das ciências matemáticas (Geometria, Álgebra, Aritmética).
Relações de facto
Dizem respeito aos objetos do mundo.
Dependem da experiência.
O seu contrário é possível, não implicando qualquer contradição.
- Objeto das ciências empíricas, que utilizam raciocínios indutivos e o
método experimental.
- É destes conhecimentos que Hume irá tratar na sua obra Investigação
sobre o Entendimento Humano.
Relação de Ideias Questões de facto
• O quadrado da hipotenusa • O sol vai nascer amanhã
é igual à soma dos catetos
• O calor e a luz são efeitos
do fogo
Relações de Ideias Questões de Facto
• Verdades Necessárias • Verdades Contigentes
Como conhecemos estas ideias? Como conhecemos estas ideias?
Conhecemo-las a priori Conhecimento a posteriori
(baseia-se naquilo que estamos a observar ou
(demonstração, intuitivamente a sentir, aquilo que nos recordamos ter
certas) observado ou sentido)
Será que estas proposições se circunscrevem
ao que observámos ou sentimos?
Não, muitas vezes leva-
nos além da nossa
experiência.
Exemplo Ilha Deserta
É encontrado um relógio, o que
inferimos?
• Inferimos algo que não observámos: que
esteve alguém naquela ilha.
• Segundo David Hume raciocínios deste tipo
não provêm da matemática (demonstração)
mas assenta na intuição, na relação de causa
e efeito. [diapositivo 8,9,10 e 11 é da responsabilidade da professora Conceição
Alves]
O problema da causalidade
A causalidade é o princípio que diz que, quando dois acontecimentos se
seguem um ao outro, um é a causa e o outro é o efeito.
É estabelecendo relações de causa-efeito entre os objetos que conhecemos as
questões de facto.
- Mas a questão principal de Hume é: como é que chegamos ao
conhecimento desta relação entre os factos?
O problema da causalidade
Como é que chegamos ao conhecimento da relação de causa-efeito?
Por via racional? (A causalidade seria um princípio a priori, apreendido sem
recurso à experiência).
Por via da experiência sensível? (A causalidade seria apreendida pelos
sentidos, ou seja, haveria uma impressão correspondente à causalidade).
Por outra via? Qual?
O hábito ou costume como fundamento da causalidade
Qual é o fundamento da relação de causa e efeito?
«Este princípio é o costume ou hábito, pois onde quer que a repetição de
qualquer ato ou operação particular manifeste uma propensão para
renovar o mesmo ato ou operação, sem ser impulsionado por processo
algum do entendimento, dizemos sempre que essa propensão é efeito do
costume.[…] Por conseguinte, todas as inferências a partir da experiência
são efeitos do costume, não do raciocínio.»
O hábito ou costume como fundamento da causalidade
O princípio que nos permite esperar certos acontecimentos futuros (efeitos)
baseados em acontecimentos passados (causas) chama-se costume ou hábito.
Não é um princípio racional.
Não é um princípio apreendido pela experiência sensível.
É um sentimento ou uma crença projetada nos acontecimentos.
É um guia da vida humana.
O hábito ou costume como fundamento da causalidade
Não temos conhecimento da conexão entre os objetos ou acontecimentos.
Apenas sabemos que certos acontecimentos se sucedem uns aos outros.
“Aprendemos pela experiência apenas a frequente conjunção dos objetos,
sem alguma vez conseguirmos compreender algo como a conexão entre eles.”
O hábito ou costume como fundamento da causalidade
A mente é capaz de relacionar a acha de lenha (causa) com o aumento da
chama (efeito), pois habituou-se a que de tal causa se seguisse tal efeito, sendo
que crê que no futuro a natureza se comportará da mesma forma.
“Podemos observar que, nestes fenómenos, se pressupõe sempre a crença do
objeto correlativo; sem ela a relação não poderia ter efeito nenhum. […] Quando
lanço uma acha de lenha seca para o lume, a minha mente é imediatamente levada
a pensar que ela aumenta e não extingue a chama. Esta transição do pensamento
da causa para o efeito não deriva da razão. Tira a sua origem do costume e da
experiência.”
Princípio da Regularidade da natureza
Trata-se da crença na ideia de que o futuro se assemelhará ao passado, ou
seja, de que a natureza segue um curso regular e uniforme.
Das mesmas causas seguir-se-ão os mesmos efeitos.
- Não é um princípio objetivo (que resida na própria natureza).
- É um sentimento humano (temos a perceção de que os eventos da
natureza têm uma regularidade) que projetamos na natureza.
- É, por isso, um princípio subjetivo.
O ceticismo de David Hume e a crítica a Descartes
Não temos um conhecimento objetivo nem certo dos processos da natureza.
O conhecimento é apenas provável.
Não é possível atingir a certeza, como pretendia Descartes.
“A natureza […] implantou em nós um instinto, que impele o pensamento
numa marcha correspondente àquela que estabeleceu entre os objetos
externos, embora ignoremos os poderes e as forças de que dependem
totalmente o curso e a sucessão regulares dos objetos.”
O ceticismo de David Hume e a crítica a Descartes
A dúvida cartesiana
“Existe uma espécie de ceticismo, antecedente a todo o estudo e filosofia, que é muito
inculcada por Descartes. (…) Recomenda uma dúvida universal, não só de todas as
nossas opiniões e princípios anteriores, mas também das nossas próprias faculdades.”
Rejeição do cogito
-“Mas não existe um tal princípio original, que tenha uma prerrogativa sobre os outros,
que são autoevidentes e convincentes.”
Se fosse possível praticar o método da dúvida universal, ela nunca teria um
fim
- “A dúvida cartesiana, se alguma vez fosse possível a uma criatura humana atingi-la (na
realidade, não é), seria inteiramente incurável e nenhum raciocínio nos poderia
introduzir num estado de certeza e convicção acerca de qualquer matéria.”
O ceticismo de David Hume e a crítica a Descartes
A utilidade da «espécie de ceticismo» de Descartes:
- Preparação do estudo da filosofia (função propedêutica).
- “Deve, no entanto, confessar-se que esta espécie de ceticismo,
quando mais moderada, se pode entender num sentido muito
aceitável, e constitui um preparativo necessário ao estudo da filosofia .”
Atividade 1
Classifique como Verdadeiras (V) ou Falsas (F) as seguintes afirmações:
As perceções são as unidades básicas da mente. (V)
Há dois tipos de perceções: as ideias e a causalidade. (F)
O contrário de uma questão de facto como “O céu é azul” gera uma
contradição. (F)
As relações de ideias não dependem da experiência sensível. (V)
Atividade 2
Classifique como Verdadeiras (V) ou Falsas (F) as seguintes afirmações:
As impressões são a origem do conhecimento. (V)
Todo o conhecimento de factos tem origem numa experiência sensível. (V)
Hume é um empirista porque acredita que as ideias são as perceções
originais, derivadas diretamente dos dados dos sentidos. (F)
A razão é a origem do conhecimento. (F)
Ideias como “cavalo alado” podem ser pensadas porque associamos ideias
simples das quais temos uma impressão correspondente. (V)