0% acharam este documento útil (0 voto)
66 visualizações6 páginas

CENTRAIS

O documento discute a história da ENH (Empresa Nacional de Hidrocarbonetos) de Moçambique e as descobertas de gás natural no país. Ao longo de 40 anos, a ENH evoluiu de operadora e reguladora para empresa comercial e foram feitas descobertas significativas de gás natural, como no campo de Pande e na Bacia do Rovuma. Embora o petróleo ainda possa ser encontrado, o foco atual é o desenvolvimento do potencial de gás natural de Moçambique.

Enviado por

cissamunguambe
Direitos autorais
© © All Rights Reserved
Levamos muito a sério os direitos de conteúdo. Se você suspeita que este conteúdo é seu, reivindique-o aqui.
Formatos disponíveis
Baixe no formato DOC, PDF, TXT ou leia on-line no Scribd
0% acharam este documento útil (0 voto)
66 visualizações6 páginas

CENTRAIS

O documento discute a história da ENH (Empresa Nacional de Hidrocarbonetos) de Moçambique e as descobertas de gás natural no país. Ao longo de 40 anos, a ENH evoluiu de operadora e reguladora para empresa comercial e foram feitas descobertas significativas de gás natural, como no campo de Pande e na Bacia do Rovuma. Embora o petróleo ainda possa ser encontrado, o foco atual é o desenvolvimento do potencial de gás natural de Moçambique.

Enviado por

cissamunguambe
Direitos autorais
© © All Rights Reserved
Levamos muito a sério os direitos de conteúdo. Se você suspeita que este conteúdo é seu, reivindique-o aqui.
Formatos disponíveis
Baixe no formato DOC, PDF, TXT ou leia on-line no Scribd
Você está na página 1/ 6

CENTRAIS

Existencia de petroleo
continua uma possibilidade
APESAR das pesquisas ate aqui conduzidas no pais terem culiminado com a descoberta de
graves reservas de gas natral e poucas reservas de petroleo leve, nao esta descartada a
possibilidade de nos proximos tempos se poder encontrar reservatorios de petroleo em grande
escala como sucedeu na bacia sedmentar do Rovuma.
E assim porque tal como explica o Presidente do Conselho de Administracao da Empresa
Nacional de Hidrocarbonetos, Estevao Pale, em Moçambique, existem bacias sedimentares
com condições favoráveis para ocorrência tanto de petróleo como de gás natural.
Numa entrevista concedida por ocasiao dos 40 anos da criacao da ENH, Estevao Pale faz uma
radiografia sobre os primeiros anos da existencia da companhia que numa primeira fase teve
de autuar como operadora e reguladora, a entrada em operacao dos blocos de Pande e
Temane, na provincia de Inhambane, ate a descoberta das gigantescas reservas da bacia do
Rovuma na provincia de Cabo Delgado.
Estevao Pale tambem se refere aos desafios enfrentados pela empresa para preencher a sua
participacao nos blocos onde foram efectuadas descobertas na Bac ia do Rovuma bem como a
capacitacao dos recursos humanos a altura das exigencias dos projectos. Siga a entrevista;
PERGUNTA - A ENH nasce num contexto em que era um operador e ao mesmo
regulador. Como olham para as actividades da empresa neste período?
ESTEVAO PALE (E.P) - A ENH desempenhou o papel de operador e de regulador, ao
abrigo da lei 3/81, num contexto em que Moçambique era considerado um país de risco, em
parte devido à guerra que assolava o país e ao contexto económico vigente na altura. Neste
contexto, havia poucas actividades neste sector, cingindo-se, praticamente, nas actividades de
pesquisa e avaliação dos campos gasíferos de Pande e Temane.
O quadro legal vigente na altura ortorgava a ENH os direitos de exercer actividades
petrolíferas como as de reconhecimento, pesquisa, desenvolvimento e produção. Dessa
forma, o Governo atribuía concessões à ENH e esta entrava em parceria com empresas
internacionais de petróleo, através de contratos de partilha de produção. A empresa assinou
vários contratos de concessão, sendo um deles o de Pande, onde a ENH era a operadora e
mais tarde exerceu as operações em parceria com a Enron, e um outro em relação a um bloco
no Rovuma, para a pesquisa com a LONROPET. Estes contratos destacam-se por ter sido o
de Pande e o de Rovuma que colocaram Moçambique no mapa das maiores reservas de gás
natural da região e do mundo.
Por outro lado, duas décadas após a criação da ENH, e com vista a imprimir uma nova
dinâmica no sector de hidrocarbonetos, houve necessidade de reformular a legislação, por
forma a separar o papel de regulador do comercial. Foi neste contexto que se aprovou a lei
3/2001. Com este dispositivo legal, o papel de regulador passou para o Instituto Nacional do
Petróleo (INP), sendo que a ENH passou a exercer exclusivamente o de braço comercial do
Estado nas operações petrolíferas.
Igualmente, foi introduzido o novo quadro legal, incluindo contratos de concessão e o
primeiro regulamento de operações petrolíferas.
PERGUNTA - Nestes últimos 40 anos qual foi o momento mais marcante para a
empresa?
E. P. - Foram vários os momentos marcantes da Empresa nos últimos 40 anos, a destacar os
seguintes: a realização de trabalhos de avaliação de reservas do campo de Pande; o início da
produção comercial de gás natural em Pande e Temane; o início do uso de gás natural em
Vilankulo; as descobertas de gás na Bacia do Rovuma, e a instalação de uma rede de
distribuição de gás canalizado na Cidade de Maputo e Marracuene.
A avaliação dos recursos antes descobertos em Pande permitiu-nos melhorar o nosso
conhecimento do potencial geológico da região e, consequentemente, a valorização das
reservas de Pande. Como fruto disso, foi fácil encontrar parceiros interessados em explorar o
nosso gás e quando chegaram companhias internacionais como a Sasol e o IFC não foi
necessário nenhum trabalho adicional de pesquisa para comprovar as reservas. Assim sendo,
os passos que se seguiram cingiram-se na produção e transporte do gás natural para os
mercados consumidores. Por outro lado, este trabalho de pesquisa, conduzido com o apoio
dos nossos parceiros da extinta União Soviética, permitiu a formação de um vasto número de
técnicos nacionais, que até hoje prestam uma valiosa contribuição para a Empresa. O outro
momento marcante do percurso da empresa nos últimos 40 anos foi o início do uso de gás de
Pande em Vilankulo, em 1992, que simbolizou a primeira experiência de uso de gás natural
em Moçambique. Na altura, o país estava em guerra e o único combustível e outros bens
essenciais possíveis de se obter em Vilankulo eram transportados através de uma coluna com
protecção militar. Apenas as instalações da ENH e alguns privados com pequenos geradores a
gasóleo tinham acesso à electricidade em Vilankulo, que na altura já era a maior vila da
região. Face a essa situação, a ENH decidiu converter o furo de avaliação Pande-7 em furo de
produção de gás natural. Foi instalado equipamento de tratamento de gás natural à boca do
poço, tendo sido enterrada uma tubagem de polietileno de alta densidade, a uma profundidade
de um a dois metros, num percurso de cerca de 100 quilómetros até Vilankulo. A Empresa
adquiriu geradores a gás natural e com base neles passamos a produzir electricidade em
Vilankulo. Com o sucesso desta experiência, desenvolvemos uma rede de distribuição de gás
natural canalizado para toda a vila de Vilankulo, que mais tarde se expandiu para Inhassoro,
Nova Mambone, bem como para as ilhas do Arquipélago de Bazaruto. Este projecto beneficia
agora cerca de 2.250 famílias na região e serviu de base para o desenvolvimento de uma outra
rede de distribuição de gás, desta feita, abrangendo a cidade de Maputo e o Distrito de
Marracuene.
INVESTIMENTO INICIAL EM PANDE
E TEMANE FOI DE 1,2 BILIAO DE USD
O outro momento marcante na nossa história dos 40 anos foi o início da produção comercial
de gás natural de Pande e Temane, após investimentos iniciais de cerca de 1.2 bilião de
dólares norte americanos, que foram usados, essencialmente, para a construção de uma
Central de Processamento (CPF) em Temane, e um gasoduto de cerca de 865 quilómetros,
partindo de Temane, em Inhassoro, até Secunda, na África do Sul. Este projecto marcou o
início da produção comercial de gás natural no País e, através dele, Moçambique é hoje o
maior exportador de gás natural da África Austral.
Um outro marco igualmente importante dos últimos 40 anos foram as descobertas de gás
natural em offshore na Bacia do Rovuma. Estas descobertas tornaram Moçambique numa das
maiores reservas de gás natural do mundo e, quando a produção iniciar, o País poderá tornar-
se num dos maiores produtores de Gás Natural Liquefeito (LNG) do mundo, com potencial
de transformar a economia nacional e contribuir para a segurança energética global. Os
trabalhos que se seguiram visando o desenvolvimento dos projectos, nomeadamente as
decisões de investimento, constituíram marcos importantes, enquanto passos decisivos para a
sua materialização.
O que descrevemos acima mostra que, os últimos 40 anos foram marcados por momentos de
trabalho árduo, esforços conjugados entre parceiros, governo e a sociedade no geral, que
culminaram com grandes realizações de impacto económico e social no País e na região.
Esses momentos todos não só fazem parte da nossa história como também foram uma escola
e construíram as bases para o desenvolvimento de uma indústria nacional à base de gás
natural, com impactos na economia nacional bem como no desenvolvimento de um capital
humano valioso com conhecimentos sobre a indústria.
Gas nao era mercadoria
com uma grande procura
PERGUNTA - Quando a ENH foi criada, o país já tinha efectuado algumas descobertas
em Pande e no Bloco de Buzi. Porquê se levou tanto tempo assim para se iniciar a
exploração do gás, por exemplo, em Inhambane?
E. P. - A primeira descoberta de gás natural em Moçambique foi no campo de Pande, em
1961, em Inhambane, seguida da descoberta do Buzi (1962), em Sofala, e a seguir a de
Temane (em 1967), também em Inhambane. Porém, 40 anos depois, encontramos as
condições necessárias para a monetização desses recursos, o que culminou com o início da
produção comercial em 2004. A principal razão para esse lapso de tempo entre as primeiras
descobertas até ao início da produção comercial é o facto de que, naquela altura, as
companhias petrolíferas estavam ávidas pelo petróleo bruto e não por gás natural. O gás
natural não era uma mercadoria com grande procura, tanto mais que exigia a existência de
infra-estruturas que permitissem o seu transporte para os principais centros industriais, o que
não existia. Por outro lado, o nível de desenvolvimento tecnológico para utilização de gás
natural como feedstock era ainda muito fraca, a África do Sul por exemplo, usava carvão
como matéria-prima para a geração de combustíveis sintéticos.
Entretanto, com o desenvolvimento da tecnologia do uso do gás natural a Sasol começou a
substituir gradualmente o gás natural em detrimento do carvão, o que viabilizou o
desenvolvimento do empreendimento de gás de Pande e Temane e a construção do gasoduto
transfronteiriço de 864km pertencente a ROMPCO, entre o CPF e Secunda. Por outro lado,
no plano global, um novo paradigma favorável ao gás natural surge com a assinatura do
Protocolo de Quioto, em 1997, em que as partes se comprometeram a reduzir a emissão de
gases, através de, dentre várias medidas, optar por energias mais limpas.
Enquanto isso, ao nível interno, tivemos a grande transição do país de uma economia
centralmente planificada para uma economia de mercado, em finais dos anos 80, o que abriu
espaço para reformas económicas e maior atraccão do investimento directo estrangeiro.
PERGUNDA - Volvidos estes 40 anos, tendo em conta os estudos geológicos realizados, é
possível se dizer hoje, que há um domínio profundo do sistema geológico ou petrolífero
nacional?
E. P. - Os vários estudos de pesquisa de hidrocarbonetos realizados nas bacias de
Moçambique e do Rovuma permitiram um maior conhecimento geológico. Em particular, a
zona de Pande e Temane, da Bacia de Moçambique, e a Área 1 e a Área 4, da Bacia do
Rovuma, podem-se considerar que o seu sistema petrolífero é conhecido. Agora, decorrem
estudos em outros blocos, nomeadamente no Buzi e na zona de Angoche, com indícios de
existência de recursos, daí a nossa expectativa de se aumentar o conhecimento geológico da
região. Contudo, é preciso continuar com as pesquisas, aquisição e colheita de dados nessas e
noutras bacias para aferirmos continuamente a sua prospectividade para que, de forma mais
detalhadas, possamos ter o Conhecimento geológico do sistema petrolífero das bacias
sedimentares moçambicanas.
PERGUNTA - Considerando que a ENH é parceira de todas as empresas que operam
em Moçambique, tem se a ideia de quantos furos foram abertos até hoje tanto na bacia
sedimentar do Rovuma como de Moçambique?
E. P. - A base de dados na posse da ENH indica que, em ambas bacias sedimentares do
Rovuma e de Moçambique, até a data, foram executados aproximadamente 240 furos para
fins de pesquisa, desenvolvimento e produção de hidrocarbonetos, incluindo alguns de
natureza científica. Deste universo, 180 furos foram de pesquisa, 49 de produção, seis de
desenvolvimento e cinco de investigação científica. De salientar que os seis furos de
desenvolvimento acima mencionados fazem parte da campanha de preparação dos furos para
produção de gás a partir de 2022, concretamente no âmbito do projecto Coral Sul FLNG, que
no dia 15 de Novembro corrente, Sua Excia Presidente da República, testemunhou a
cerimonia do batismo da plataforma e o inicio da deslocação da mesma para a Área 4 na
Bacia do Rovuma.
PERGUNTA - Tirando o petróleo leve descoberto em Inhambane em quantidades
reduzidas, todas as pesquisas levaram a descoberta de gás natural. Acredita ser ainda
possível descobrir-se petróleo em grandes quantidades tal como aconteceu com o gás do
Rovuma?
E. P. - A espeça de descoberta de quantidades consideráveis de petróleo existe, sendo por
isso necessário reduzir com o tempo à limitação de dados que permitam espelhar a realidade
do subsolo. Em pesquisas geológicas, nunca se tem certeza concreta de ocorrências de
hidrocarbonetos. Por isso, é preciso continuarmos a levar a cabo actividades de prospecção e
pesquisa. Daí a necessidade de se continuar a atrair potenciais investidores para estes
trabalhos de prospecção e pesquisa. Contudo, em Moçambique, temos bacias sedimentares
com condições favoráveis para ocorrência tanto de petróleo como de gás natural. Para tal, são
necessários trabalhos de detalhes para descobrir reservas comerciais desses recursos. É ainda
verdade que, se formos a considerar que o potencial está mais centrado em offshore, onde o
capital de investimento é intensivo, neste sentido há que buscar parceiros estratégicos e ou
companhias financeiramente robustas que possam suportar esses estudos que poderão
culminar com a perfuração para testar a existência de tais recursos petrolíferos.
Nesse contexto, é importante que as pesquisas continuem de forma detalhada e aprofundada
para que mais reservas comerciais de petróleo e gás natural sejam descobertas. As Zonas de
Angoche e do Zambeze estarão em teste nos próximos anos e teremos uma resposta clara
sobre este aspecto num futuro breve.

Você também pode gostar