IED T (resumos da aula + manual)
Ordem do direito
- O direito é uma ciência normativa (não se trata de factos e sim deveres)
- O direito é uma ciência social
- O direito é uma ORDEM
Estruturalmente apresenta-se como ORDEM (unidade, coerência e hierarquia)
- vocaciona-se para a permanência, estabilidade e normalidade
Noção principal e mútua:
- Direito é um sistema (ordem), uma organização, um conjunto sistematizado,
hierarquizado e coerente
- Composto por normas que estão juntas de um forma coerente (não é possível haver
normas contrárias - caso haja são inválidas)
1.1. Características essenciais:
1.1.1. necessidade
1.1.2. sociabilidade
1.1.3. normatividade
1.1.4. decisionalidade
1.1.5. autoridade
1.1.6. imperatividade
1.1.7. justiça
1.1.8. coercibilidade
1.1.9. tutela
Hierarquia (ordem de direito hierárquica) - há leis têm mais valor que outras
- Uma lei revoga a outra e aquela que for mais nova entra em vigor
Revogação Tácita - revogação que decorre da incompatibilidade entre norma jurídica ou
dispositivo anterior e uma nova norma jurídica ou dispositivo.
Coercibilidade - Se não cumprirmos o direito, somos vítimas de sanções (punições) seja
criminal, multa (coima) - mas isto só acontece no direito
Não basta o direito colocar essa sanção, é necessário haver uma garantia (tutela): tribunais,
etc…
1.1.1 Necessidade
- O direito é uma ordem necessária / “onde há sociedade há direito, onde há direito
há sociedade”
- Necessária para a ordem e convivência pacífica entre os sujeitos jurídicos
- O estado só pode agir violentamente no caso de defesa, se a guerra for feita por
outra nação e atacar é permitido defender-se.
- O direito vem anteriormente ao Homem e vem depois do Estado e da Comunidade
Internacional
II
- Se a sociedade evolui continuamente, a ordem jurídica tem de evoluir por igual de
forma contínua
- É inevitável haver mudanças na ordem jurídica
1.1.2. Sociabilidade
O direito é uma ordem social.
“Onde há sociedade, há Direito, e, reciprocamente, onde há Direito, há também, sociedade”
ubi societas, ubi jus, ubi jus, ubi societas
O que significa em Direito ser pessoa?
- Pessoas jurídicas (singulares ou coletivas) têm direitos, deveres e obrigações
Personalidade jurídica
- Humana (começa no nascimento completo e com vida)
- Pessoas coletivas (sociedade comercial: continente, etc..) - privadas ou públicas
O Direito implica haver uma conexão entre duas pessoas (bilateralidade ou
plurilateralidade)
- Relação entre pessoas jurídicas físicas, entre sujeitos singulares (Personalidade
jurídica Humana)
- Relação entre pessoas jurídicas físicas e não físicas (sociedades, associações,
fundações, Estados) (Personalidade jurídica Coletiva)
Família - primeira forma de organização social interna (Família < Clã < Tribo)
- Entretanto forma-se estruturas administrativas e político-administrativas
- Mais tarde desenvolve-se a figura do Estado e recentemente a do Estado Moderno
Estado - pessoa jurídica, coletiva, pública e territorial
- Território
- poder político soberano
- comunidade humana (povo)
O Direito não resulta apenas da ação do poder representativo! Pode vir diretamente da
própria sociedade (âmbito estadual, regional e local)
Normatividade e decisionalidade
- Direito é uma ordem normativa e decisória
Atos normativos:
- atos jurídicos dotados de generalidade e de abstração
- Simultaneamente geral (a quaisquer pessoas / indeterminação dos destinatários) e
abstrato (tem em mente um conjunto indeterminado de situações)
A lei tem de ser genérica e abstrata já que tem de pensar em todas as pessoas e em todos
os casos, não há uma lei específica para cada indivíduo.
Atos normativos no Direito..
Internacional:
- maioria dos tratados internacionais, a globalidade dos tratados ius cogens, tratados
da União Europeia
Interno:
- Constituição, alguns atos governativos de direção, a globalidade dos atos
legislativos (leis, decretos-leis, decretos legislativos regionais, decretos
regulamentares, regulamentos, costumes de origem interna)
A ordem jurídica não integra exclusivamente comandos normativos, também integra
comandos não normativos (decisões, atos jurídicos individuais ou individualizáveis, e
concretos e concretizáveis.
Atos não normativos (decisórios) no Direito..
Internacional:
- parte dos tratados internacionais, um segmento dos atos jurídicos internacionais,
certo tipo de diretivas, decisões da União Europeia
Interno:
- parte dos atos políticos internos > os de controlo político, os administrativos,
jurisdicionais, contratuais
1.1.4. AUTORIDADE
O direito é uma ordem autoritária
- manifestação de autoridade, como o resultado do exercício de um poder funcional
Manifestação de autoridade como:
Autoridade unilateral
- Estado, Região Autónoma, Autarquia Local
- É apenas um sistema
Autoridade consensual / bilateral / plurilateral
- Quando os Estados ou as Organizações Internacionais agem concertadamente
- Acordo entre países, Estados (Portugal x Espanha / União Europeia)
Autoridade Espontânea / societária / comunitária
- autores e destinatários do Direito, governantes e governados - costume não
representativo ou com o próprio uso
1.1.5. IMPERATIVIDADE
O direito é uma ordem imperativa.
- No entanto, o cumprimento do Direito depende da vontade humana e a aceitação do
mesmo resulta do díptico liberdade-responsabilidade.
Autoridade (imperatividade)
- ordem autoritária (não é ditadura) quer dizer que para haver direito é preciso alguém
criá-la, afinal a constituição prevê a existência dessas leis. É preciso estar previsto.
Autoridade interna:
- criada no quadro de um único sistema (o Português): Assembleia da República,
Governo, Órgãos Internos portugueses
Uma fonte de Direito - COSTUME
Duas vertentes:
Prática:
- habituam-se a agir de uma certa forma e continuam a fazê-lo (de forma repetida)
- para haver um costume é necessário haver uma convicção que se deve agir daquele
jeito, como se tivesse escrito como regra
Antes da escrita já havia Direito a partir dos costumes.
Reino-Unido: A principal fonte de autoridade é o costume:
- Não há constituição escrita, portanto usam o costume como fonte de Direito.Q1
- As competências do Rei e do Primeiro-Ministro (por exemplo) não estão escritas
numa constituição e sim nos costumes.
Imperatividade (obrigatoriedade)
- Direito é obrigatório
- Em princípio é obrigatório, no entanto, isso não quer dizer que seja totalmente
cumprido
1.1.6. JUSTIÇA
O Direito é uma ordem justa
- A ordem jurídica assume, estruturalmente, uma natureza tridimensional
O facto > o comando (normativo ou decisório) > o valor
Portanto isto enquadra: Que a ordem jurídica encontra a sua origem no facto, no facto
humano social e, dentro deste, no facto jurídico, no facto relevante para a ordem jurídica
- Esse facto jurídico antecede o comando jurídico, a norma jurídica ou a decisão
jurídica que representa o lado visível do Direito.
Logo, sem a presença da justiça, não existe Direito.
Questão da Justiça - É complicado porquê?
- Há duas correntes, tem pessoas que dizem que a justiça não é essencial para o
Direito e outras que refutam essa informação
Direito escrito:
- Está em vigor e não se questiona
- Há momentos em que o Direito vai contra a lei natural (lei da razão), e por
consequência um Direito positivo pode ficar acima de uma lei natural. Portanto foi
decidido que o Direito positivo só pode existir se tiver de acordo com a lei da razão
Desvantagens e vantagens (positivismo)
- Os positivistas fazem uma construção mais segura, portanto não têm dúvidas acerca
da lei que aceitaram
- EX.: É feita uma lei onde se houver escassez os pais podem matar os filhos, a
Assembleia, o Presidente (etc…) concordem com a mesma. Mesmo que seja errado,
como foi aprovada têm de respeitar e se está no Direito escrito têm de
automaticamente cumprir.
1.1.7. COERCIBILIDADE
O Direito é uma ordem coerciva
Características essenciais:
- coercibilidade
- tutela
O direito é obrigatório, imperativo, no entanto por vezes não é cumprido e é por isso que
existe ameaças de sanções - coercibilidade existe para reforçar a imperatividade
- A sanção precisa ser maior e mais relevante de acordo com o tamanho do crime. As
sanções existem para evitar que haja falhas na obrigatoriedade.
Dois tipos de sanções:
Objetivas:
- Recaem não sob as pessoas e sim sob os próprios atos (EX: Na assembleia da
República foi feita uma lei contra a constituição, isso não é possível, portanto essa
lei vai ser desconstitucionada de acordo com a hierarquização das leis. A
consequência negativa (sanção) vai recair sob a lei que foi contra a constituição > foi
descontitucionada)
Ordem decrescente de sanções graves:
- Inexistência > invalidade (nulidade e anulabilidade) > ineficácia
- O ato que é nulo vai ser sempre nulo (nasceu nulo e cresce assim), dizem que essa
invalidade é insanável (não tem arranjo nem ultrapassagem)
Ineficácia - o ato é válido mas falta um requisito, portanto não produz efeito. No entanto, se
for publicado tem eficácia
Subjetivas:
- Recaem sobre os sujeitos
TIPOS DE SANÇÕES
Subjetivas
- compulsória
- reconstitutivas
- compensatórias
- preventivas
- punitivas (criminais, administrativas, civis)
Sanções subjetivas compulsórias
- fazem o sujeito cumprir o comando dado, a partir da privação de bens jurídicos
Sanções subjetivas Reconstitutivas
- Acontece quando é reposto algo que foi perdido ou arranjar o que foi partido
(exemplo: o carro foi reparado, mas pode haver o caso de ficar totalmente destruído
então comprasse um novo. Apesar de não ser o mesmo carro é um caso de uma
sanção reconstitutiva já que substituiu o outro por um idêntico)
Sanções subjetivas compensatórias
- Têm como finalidade a indemnização do lesado, o que cria uma situação
minimamente equivalente à que teria existido em caso de cumprimento.
- Abrange igualmente os danos morais
Sanções subjetivas preventivas
- Pretende evitar situações futuras , possíveis ou razoavelmente previsíveis, contudo
isto ocorre apenas se já tiver havido um incumprimento da ordem jurídica.
Sanções subjetivas punitivas
- Finalidade de infligir um qualquer sofrimento ao sujeito incumpridor do Direito.
Sanções punitivas criminais
- Em razão do crime, portanto a punição de comportamentos não éticos
- Implicam a privação, ou um condicionamento, mais ou menos severo, da liberdade
Sanções punitivas administrativas
- menos grave
- implicam privação do património, custo económico (coima)
Sanções punitivas civis
- violação de comandos jurídicos atinentes ao relacionamento entre sujeitos privados,
singulares ou coletivos, ou ao relacionamento entre sujeitos privados e sujeitos
públicos na sua atividade de gestão privada
SANÇÕES OBJETIVAS
- São aplicadas em leis, regulamentos ou contratos e são aplicadas quando uma
determinada condição é violada, independente da culpa ou intenção do indivíduo
Gravidade das Sanções objetivas:
Mais grave para a menos grave:
- inexistência
- invalidade (nulidade e anulabilidade)
- ineficácia
ineficácia - o ato é válido mas falta um requisito qualquer, que falta a prática de um ato - não
produz efeito - assim que for publicado tem eficácia.
1.1.8. TUTELA
O Direito é uma ordem tutelada.
Uma ordem dotada da garantia de que, em caso de desaplicação, as sanções previstas são
juridicamente efetivadas. Portanto, é uma ordem que assegura que, se as suas regras
foram desrespeitadas, serão aplicadas penalidades de acordo com a lei.
Essa garantia pode verter-se em heterotutela, autotutela ou tutela mista, em tutela
pública ou privada, e em tutela interna ou internacional.
HETEROTUTELA
- Garantia do Direito a partir de terceiros sujeitos (frequentemente públicos, por
vezes privados)
Vantagens:
- prevalência do comando jurídico sobre a força, a manutenção de paz social, o rigor,
a imparcialidade, a igualdade, a proporcionalidade, a certeza.
Direito Interno
- A heterotutela é na sua essencialidade, conferida ao Estado
Tanto no que se refere às relações entre os sujeitos privados, com às destes com o Estado,
como às do Estado com outras pessoas jurídicas públicas, de natureza territorial - Regiões,
Autarquias Locais - ou não territorial - associações públicas, fundações públicas.
Mesmo quando o ente é público, existe heterotutela.
O artigo 20º garante os direitos e interesses legalmente protegidos, maxime, de direitos,
liberdades e garantias pessoais.
Institui igualmente o direito fundamental de acesso aos Tribunais, no qual se integra, o
direito de ação judiciária (o direito de recorrer à autoridade judiciária para obtenção de uma
decisão definitiva sobre a existência de um direito ou de um interesse)
Cabe a esses mesmos órgãos, assegurar a tutela essencial dos direitos e interesses dos
cidadãos, reprimir a violação da legalidade democrática e dirimir os conflitos de interesses
públicos e privados (artigo 202º, nº2, constituição)
Constituição - Artigo 20º
“Acesso ao Direito e tutela jurisdicional efectiva”
1. A todos é assegurado o acesso ao direito e aos tribunais para defesa dos seus direitos e
interesses legalmente protegidos, não podendo a justiça ser denegada por insuficiência de
meios económicos.
2. Todos têm direito, nos termos da lei, à informação e consulta jurídicas, ao patrocínio
judiciário e a fazer-se acompanhar por advogado perante qualquer autoridade.
3. A lei define e assegura a adequada proteção do segredo de justiça.
4. Todos têm direito a que uma causa em que intervenham seja objeto de decisão em prazo
razoável e mediante processo equitativo.
5. Para defesa dos direitos, liberdades e garantias pessoais, a lei assegura aos cidadãos
procedimentos judiciais caracterizados pela celeridade e prioridade, de modo a obter tutela
efetiva e em tempo útil contra ameaças ou violações desses direitos.
Constituição - Artigo 202º
1. Os tribunais são os órgãos de soberania com competência para administrar a justiça em
nome do povo.
2. Na administração da justiça incumbe aos tribunais assegurar a defesa dos direitos e
interesses legalmente protegidos dos cidadãos, reprimir a violação da legalidade
democrática e dirimir os conflitos de interesses públicos e privados.
3. No exercício das suas funções os tribunais têm direito à coadjuvação das outras
autoridades.
4. A lei poderá institucionalizar instrumentos e formas de composição não jurisdicional de
conflitos
Constituição - Artigo 268º
(Direitos e garantias dos administrados)
1. Os cidadãos têm o direito de ser informados pela Administração, sempre que o
requeiram, sobre o andamento dos processos em que sejam diretamente interessados, bem
como o de conhecer as resoluções definitivas que sobre eles forem tomadas.
2. Os cidadãos têm também o direito de acesso aos arquivos e registos administrativos,
sem prejuízo do disposto na lei em matérias relativas à segurança interna e externa, à
investigação criminal e à intimidade das pessoas.
3. Os actos administrativos estão sujeitos a notificação aos interessados, na forma prevista
na lei, e carecem de fundamentação expressa e acessível quando afetem direitos ou
interesses legalmente protegidos.
4. É garantido aos administrados tutela jurisdicional efectiva dos seus direitos ou interesses
legalmente protegidos, incluindo, nomeadamente, o reconhecimento desses direitos ou
interesses, a impugnação de quaisquer actos administrativos que os lesem,
independentemente da sua forma, a determinação da prática de actos administrativos
legalmente devidos e a adopção de medidas cautelares adequadas.
5. Os cidadãos têm igualmente direito de impugnar as normas administrativas com eficácia
externa lesivas dos seus direitos ou interesses legalmente protegidos.
6. Para efeitos dos n.os 1 e 2, a lei fixará um prazo máximo de resposta por parte da
Administração.
Não dá para resumir da página 32 à 39
Autotutela
- tutela realizada pelo próprio - alguém está a violar o direito e essa pessoa pode
defender o seu direito - pode ser possível não envolver o tribunal nem a política –
legítima defesa
- excepcional
Situações que ainda presidem de autotutela
- artigo 337º código civil - legítima defesa
Quando podemos alegar legítima defesa?
- tem de haver uma agressão, lesão do direito (pôr em causa o direito à integridade) e
tem de ser atual (acabou de acontecer, vai acontecer, pode acontecer) não pode ser
depois de alguns dias.
- não pode haver possibilidade ao recurso à heterotutela
Exemplo: há uma rua no bairro alto e estava sozinho à noite só que não deu tempo para
chamar a polícia então recorreu à autodefesa, já que não conseguia pedir ajuda.
- proporcionalidade -> se a pessoa que está a tentar agredir-me for uma idosa e
depois eu dou-lhe um tiro nos cornos isso não é proporcional -> se for mais do que
devia é um “excesso de legítima defesa”.
- Com isso, a lei civil não pode entrar em detalhes porque as situações são sempre
diferentes.
O Estado de necessidade
- art.º 339.º, Código Civil
Código Civil - Artigo 339º
(Estado de necessidade)
1. É lícita a acção daquele que destruir ou danificar coisa alheia com o fim de remover o
perigo actual de um dano manifestamente superior, quer do agente, quer de terceiro.
2. O autor da destruição ou do dano é, todavia, obrigado a indemnizar o lesado pelo
prejuízo sofrido, se o perigo for provocado por sua culpa exclusiva; em qualquer outro caso,
o tribunal pode fixar uma indemnização equitativa e condenar nela não só o agente, como
aqueles que tiraram proveito do acto ou contribuíram para o estado de necessidade
O Estado de necessidade reflete portanto uma situação involuntária que poderá acontecer,
contudo, essa reação irá infringir o Direito.
Ex.: Há um incêndio, mas estou atrasado para a aula, portanto a primeira coisa que faço é
apagar o fogo. Contudo, para o apagar tenho de abrir a porta à força, isto obviamente
infringe um Direito, mas é um ato de necessidade. - É uma situação em que há dano e
perigo.
- O dano feito terá de ser pago. Portanto, o autor do dano é obrigado a indemnizar o
lesado pelo prejuízo sofrido. Caso não tenha sido só por sua culpa exclusiva, o
tribunal pode fixar uma indemnização equitativa e condenar não só o agente como
aqueles que tiraram proveito ou contribuíram para o estado de necessidade.
- Se houver uma situação parecida à do exemplo mas preferir não chegar atrasado à
escola isso pode ser considerado crime por omissão de auxílio.
Ex.: Estou à espera do comboio, no entanto, reparo que há uma pessoa presa nos ferros.
Eu não conheço a pessoa de nenhum lado, portanto não vou ajudá-la. - Omissão de auxílio
(crime)