LYNN ALVES
Organizadora
INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E EDUCAÇÃO
O livro Inteligência Artificial e
educação: refletindo sobre os desafios
contemporâneos apresenta uma
discussão atual sobre a interação
O livro Inteligência Artificial e educação: refletindo sobre e a mediação com as Inteligências
os desafios contemporâneos,
contemporâneos, organizado por Lynn Alves, Artificiais Generativas (IAGs), sob o
é voltado para pesquisadores, professores, estudantes
prisma das Ciências Humanas, com
de pós-graduação e graduação e demais interessados
na discussão sobre as questões e tensões em torno das destaque para a área de educação, indo
Inteligências Artificiais Generativas (IAGs) na sociedade além de perspectivas maniqueístas. A
contemporânea. Cada capítulo de autoria de professores e obra produzida por pesquisadores e
pesquisadores brasileiros e portugueses apresenta distintos professores brasileiros e portugueses
olhares sobre os limites e possibilidades dessas tecnologias delineará, discutirá e refletirá sobre a
nos cenários escolares e acadêmicos das Ciências Humanas, presença da Inteligência Artificial (IA)
com destaque para a educação. A presente obra marca um
nos espaços escolares e acadêmicos,
lugar diferenciado, já que no Brasil não temos ainda livros
que tratem especificamente dos temas abordados na obra, destacando as tensões e possibilidades
contribuindo para a construção de olhares e ações mais dessas tecnologias, com ênfase para o
Lynn Rosalina Gama Alves atualmente críticas em volta das interações e mediações das IAGs. ChatGPT, inserindo e contextualizando
é bolsista de produtividade de
com questões que também afetam o
Desenvolvimento Tecnológico e
Extensão Inovadora pelo Conselho processo de dataficação na sociedade,
Nacional de Desenvolvimento como a falta de transparência dos
Científico e Tecnológico (CNPq) – algoritmos, o racismo algorítmico,
LYNN ALVES Organizadora
nível 1D. Doutora em Educação com fake news, questões éticas e de autoria,
o pós-doutorado na área de Jogos regulação inclusive da IA, entre outros
Eletrônicos e Aprendizagem pela aspectos que se tornaram essenciais
Universidade de Turim, na Itália.
para vivermos com a mediação das
Também é professora e pesquisadora
do Instituto de Humanidades, Artes
e Ciências Professor Milton Santos da
INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL tecnologias.
E EDUCAÇÃO
Universidade Federal da Bahia (Ihac/
UFBA). Coordena a Rede de Pesquisa
Comunidades Virtuais (RPCV) da
UFBA, onde desenvolve pesquisas que REFLETINDO SOBRE OS DESAFIOS CONTEMPORÂNEOS
podem ser encontrados no site
www.comunidadesvirtuais.pro.br.
ISBN 978-65-5630-560-8 ISBN 978-65-8952-459-5
9 786556 305608 9 786589 524595
Inteligência artificial e educação-capa-549x240.indd 1 24/11/2023 08:31
O livro Inteligência Artificial e
educação: refletindo sobre os desafios
contemporâneos apresenta uma
discussão atual sobre a interação
e a mediação com as Inteligências
Artificiais Generativas (IAGs), sob o
prisma das Ciências Humanas, com
destaque para a área de educação, indo
além de perspectivas maniqueístas. A
obra produzida por pesquisadores e
professores brasileiros e portugueses
delineará, discutirá e refletirá sobre a
presença da Inteligência Artificial (IA)
nos espaços escolares e acadêmicos,
destacando as tensões e possibilidades
dessas tecnologias, com ênfase para o
ChatGPT, inserindo e contextualizando
com questões que também afetam o
processo de dataficação na sociedade,
como a falta de transparência dos
algoritmos, o racismo algorítmico,
fake news, questões éticas e de autoria,
regulação inclusive da IA, entre outros
aspectos que se tornaram essenciais
para vivermos com a mediação das
tecnologias.
(fech.) Sobre os autores.indd 228 24/11/2023 10:12
INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL
E EDUCAÇÃO
REFLETINDO SOBRE OS DESAFIOS CONTEMPORÂNEOS
Inteligência artificial e educação-miolo.indb 1 24/11/2023 13:29
UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA
Reitor Reitora
Paulo Cesar Miguez de Oliveira Amali de Angelis Mussi
Vice-reitor Vice-reitora
Penildon Silva Filho Evanilda Souza de Santana Carvalho
EDITORA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA UEFS EDITORA
Diretora Diretor
Susane Santos Barros Murillo Almeida Cerqueira Campos
Conselho Editorial Coordenação Editorial
Alberto Brum Novaes Zenailda Novais
Angelo Szaniecki Perret Serpa
Caiuby Alves da Costa Conselho Editorial
Charbel Niño El-Hani Abílio Souza Costa Neto
Cleise Furtado Mendes Ana Maria Carvalho dos Santos
Evelina de Carvalho Sá Hoisel Anderson de Souza Matos Gadéa
Maria do Carmo Soares de Freitas Antonio César Ferreira da Silva
Maria Vidal de Negreiros Camargo Antônio Vieira de Andrade Neto
Caio Graco Machado Santos
Cremildo Atanazio de Souza
Marluce Alves Nunes Oliveira
Natival Almeida Simões Neto
Inteligência artificial e educação-miolo.indb 2 24/11/2023 13:29
Lynn Alves
(Organizadora)
INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL
E EDUCAÇÃO
REFLETINDO SOBRE OS DESAFIOS CONTEMPORÂNEOS
Salvador / Feira de Santana
Edufba / UEFS Editora
2023
Inteligência artificial e educação-miolo.indb 3 24/11/2023 13:29
2023, autores.
Direitos para esta edição cedidos à Edufba e à UEFS Editora. Feito o Depósito Legal.
Grafia atualizada conforme o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990,
em vigor no Brasil desde 2009.
Coordenação editorial Capa e projeto gráfico
Cristovão Mascarenhas Rodrigo Oyarzábal Schlabitz
Coordenação gráfica Revisão
Edson Nascimento Sales Equipe Discovery
Coordenação de produção Normalização
Gabriela Nascimento Maíra de Souza Lima
Assistente editorial Imagem da capa
Bianca Rodrigues de Oliveira Diego Zabot - imagem criada por IA
Sistema de Bibliotecas – SIBI/UFBA
Inteligência artificial e educação : refletindo sobre os desafios contemporâneos
/ Lynn Alves, organizadora. – Salvador : EDUFBA ; Feira de Santana :
UEFS Editora, 2023.
227 p. ; 17 x 24 cm.
Contém biografia.
ISBN: 978-65-5630-560-8 (Edufba) / 978-65-8952-459-5 (UEFS)
1. Inteligência artificial. 2. Educação - Efeito das inovações tecnológicas.
3. Ensino, aprendizagem e tecnologias. 4. Inteligência artificial - Aplicações
educacionais. I. Alves, Lynn.
CDU: 37:004.8
Elaborada por Jamilli Quaresma CRB-5: BA-001608/O
Editora afiliada à
Editora da UFBA UEFS Editora
Rua Barão de Jeremoabo, s/n Av. Transnordestina, Novo Horizonte
Campus de Ondina Campus da UEFS, CAU III
40170-115 – Salvador, Bahia 44.036-900 – Feira de Santana, Bahia
Tel.: +55 71 3283-6164 Tel.: +55 75 3161-8380
www.edufba.ufba.br /
[email protected] [email protected]Inteligência artificial e educação-miolo.indb 4 24/11/2023 13:29
SUMÁRIO
9 PREFÁCIO:
NAVEGANDO NAS ONDAS DA INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL
CHATGPT
13 APRESENTAÇÃO:
CONSTRUINDO NOVOS OLHARES PARA A PRESENÇA DA
INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL NOS CENÁRIOS EDUCATIVOS
LYNN ALVES
PARTE I – INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL: BREVE HISTÓRICO,
CONCEITOS E REFLEXÕES
CAPÍTULO 1
21 INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL: BREVE HISTÓRICO, CONCEITOS E
REFLEXÕES
MURILO DO CARMO BORATTO
CAPÍTULO 2
33 NOTAS INICIAIS SOBRE A INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E EDUCAÇÃO
LYNN ALVES
Inteligência artificial e educação-miolo.indb 5 24/11/2023 13:29
CAPÍTULO 3
51 UM MOSAICO DE IDEIAS SOBRE A INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL
GENERATIVA NO CONTEXTO DA EDUCAÇÃO
ENIEL DO ESPÍRITO SANTO
FLAVIA GOULART MOTA GARCIA ROSA
CAMILA BEZERRA DA SILVA
MIGUEL ANGEL GARCIA BORDAS
CAPÍTULO 4
71 A EXPOSIÇÃO AI.MAGINATION COMO UMA AÇÃO STEAM E
DE CURADORIA DE ARTE COM INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL
PABLO GOBIRA
ANA LUIZA PEDROSA CAMILO
CAPÍTULO 5
91 TENSIONAMENTOS DO CHATGPT EM PRÁTICAS DE ENSINO:
POSSÍVEIS DIÁLOGOS COM AS CIÊNCIAS DA NATUREZA E
A MATEMÁTICA
DAVID SANTANA LOPES
JULIANA SANTANA MOURA
BEATRIZ OLIVEIRA DE ALMEIDA LIMA
CAPÍTULO 6
107 AS CIÊNCIAS SOCIAIS E O ANJO DA HISTÓRIA: O RACISMO
NAS RUÍNAS DA INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL
JAMILE BORGES DA SILVA
CAPÍTULO 7
123 INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL GENERATIVA E OS SABERES
CIENTÍFICOS
WENDEL FREIRE
EDMÉA SANTOS
Inteligência artificial e educação-miolo.indb 6 24/11/2023 13:29
PARTE II – MEDIAÇÃO DA INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL NAS PRÁTICAS
PEDAGÓGICAS E INVESTIGATIVAS
CAPÍTULO 8
139 APROPRIAÇÕES E USOS DO CHATGPT NO CONTEXTO DA
PESQUISA SOBRE PLATAFORMIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO:
UM RELATO DE EXPERIÊNCIA
CÍNTIA DA SILVA VITORINO
BRUNO CERQUEIRA BARBOSA
LUCAS DE JESUS DA SILVA
EVERTON SANTANA RODRIGUES
CAPÍTULO 9
155 INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL PARA ENSINAR E APRENDER
ADELINA MOURA
ANA AMÉLIA A. CARVALHO
CAPÍTULO 10
169 INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL, CHATGPT E MATEMÁTICA:
CONVERGÊNCIAS E DIVERGÊNCIAS
WILLIAM DE SOUZA SANTOS
JOÃO PAULO DE ARAÚJO SOUZA
CAPÍTULO 11
189 ANTS TO THE MOON: UMA EXPERIÊNCIA DE GAME DESIGN
ASSISTIDA PELA INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL
DIEGO ZABOT
Inteligência artificial e educação-miolo.indb 7 24/11/2023 13:29
CAPÍTULO 12
205 LITERACIA DIGITAL PARA UMA INTERAÇÃO TECNO-HUMANA:
EXPERIÊNCIA COM O CHATGPT NO ENSINO SUPERIOR
DÉBORA NICE FERRARI BARBOSA
PATRÍCIA SCHERER BASSANI
SANDRA TERESINHA MIORELLI
219 SOBRE OS AUTORES
Inteligência artificial e educação-miolo.indb 8 24/11/2023 13:29
PREFÁCIO:
NAVEGANDO NAS ONDAS DA
INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL
Caro leitor,
É com imenso prazer que lhe apresentamos esta obra coletiva, resul-
tado do trabalho conjunto de pesquisadores e professores brasileiros e
portugueses.
Nas páginas que se seguem, você encontrará um mergulho profundo
e reflexivo sobre a presença da Inteligência Artificial (IA) nos espaços
escolares e acadêmicos. Nossa intenção é desvelar as múltiplas dimen-
sões, tensões e possibilidades que essas tecnologias trazem consigo, com
destaque especial para a presença marcante do ChatGPT.
A IA tem se mostrado uma força transformadora em diversos aspectos
de nossa sociedade, e a educação não poderia ficar à margem dessas
mudanças. No entanto, ao explorarmos a relação entre a IA e os ambientes
educacionais, somos confrontados com uma série de questões complexas
e desafiadoras. Neste livro, buscamos ir além da superfície e adentrar nos
meandros dessa temática, trazendo à tona debates necessários e cruciais.
Uma das questões que nos acompanham ao longo desta jornada é
a falta de transparência dos algoritmos. Como confiar em sistemas que
tomam decisões sem que possamos entender os critérios utilizados?
Inteligência artificial e educação-miolo.indb 9 24/11/2023 13:29
Como lidar com a opacidade que permeia o funcionamento dessas tec-
nologias? Nosso objetivo é promover a reflexão sobre a necessidade de
maior transparência e responsabilidade na criação e implementação de
sistemas de IA, especialmente quando estes afetam diretamente a vida
dos estudantes e professores.
Além disso, não podemos ignorar as implicações sociais da IA. A questão
do racismo algorítmico ganha destaque, pois a tecnologia, se não desen-
volvida com uma perspectiva crítica e inclusiva, pode perpetuar e agravar
desigualdades existentes. Como podemos garantir a equidade e a justiça em
um ambiente mediado por tecnologias inteligentes? Quais são as medidas
necessárias para evitar a perpetuação de vieses e discriminações?
Outro desafio central que enfrentamos é o fenômeno das fake news,
que se espalham rapidamente nas redes sociais e outras plataformas.
Como podemos utilizar a IA como aliada no combate à desinformação?
E quais são as implicações éticas e de autoria relacionadas ao uso de sis-
temas inteligentes na produção e disseminação de conteúdo? Estas são
questões urgentes que demandam análise cuidadosa e soluções eficazes.
É importante destacar também a necessidade de regulamentação da IA.
À medida que essas tecnologias avançam e se tornam cada vez mais inte-
gradas à nossa vida diária, a criação de políticas e marcos legais se faz
essencial. Quais são os limites éticos e legais que devemos estabelecer?
Como garantir que a IA seja utilizada de maneira responsável e em bene-
fício da sociedade como um todo?
À medida que avançamos na leitura desta obra, seremos convidados a
refletir sobre essas questões e a explorar outros aspectos que se tornaram
essenciais para compreendermos e convivermos com a mediação das tec-
nologias inteligentes, como a IA. Acreditamos que somente por meio da
reflexão e do diálogo aberto poderemos encontrar caminhos para lidar
com os desafios e aproveitar as oportunidades proporcionadas por essas
tecnologias.
Esperamos que este livro seja um convite à reflexão crítica e um ponto
de partida para debates profundos sobre a presença da IA nos espaços
escolares e acadêmicos. Que ele inspire educadores, pesquisadores e todos
10 INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E EDUCAÇÃO
Inteligência artificial e educação-miolo.indb 10 24/11/2023 13:29
aqueles interessados na educação e nas implicações da IA a compreender,
questionar e transformar a forma como a tecnologia é incorporada no
contexto educacional.
Agradecemos a todos os pesquisadores e professores que contribuíram
para a produção deste livro e a todos os leitores que se aventurarem por
suas páginas. Que esta obra seja um farol que ilumine o caminho rumo a
uma relação mais consciente, ética e humanizada entre a IA e a educação.
Boa leitura e que as reflexões aqui contidas ecoem em nossas práticas
educativas, inspirando a construção de um futuro em que a tecnologia
seja uma aliada potente para o desenvolvimento humano.
ChatGPT
PREFÁCIO 11
Inteligência artificial e educação-miolo.indb 11 24/11/2023 13:29
Inteligência artificial e educação-miolo.indb 12 24/11/2023 13:29
APRESENTAÇÃO:
CONSTRUINDO NOVOS OLHARES PARA A
PRESENÇA DA INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL
NOS CENÁRIOS EDUCATIVOS
As distintas ferramentas de Inteligência Artificial (IA) estão presentes
no nosso imaginário há mais de 50 anos, seja através do cinema com suas
narrativas nos apresentando mundos distópicos mediados por essas tec-
nologias, seja através de animações como Os Jetsons1, que marcaram nossa
infância.
Estes agenciamentos sociotécnicos também estão presentes nas nossas
vidas, através do chatbot que medeia nossas relações com os serviços de
atendimento ao público no segmento de vendas, na educação, nos jogos
digitais, enfim em diferentes setores e produtos. Fomos nos acostumando
com a presença desses aparatos tecnológicos e aprendemos a não ques-
tionar sua funcionalidade e seus algoritmos.
Contudo, essa posição vai mudar a partir de novembro de 2022
quando uma empresa denominada OpenIA desenvolve e divulga para o
1 Esta série de animação para televisão foi produzida pela Hanna-Barbera, exibida origi-
nalmente na ABC entre 1962 e 1963 e reproduzida até hoje em canais abertos e/ou nas
plataformas de streaming.
13
Inteligência artificial e educação-miolo.indb 13 24/11/2023 13:29
grande público o ChatGPT 3.5, gerando muitas discussões na sociedade
contemporânea internacional e nacional. Toda discussão e crítica se ali-
nham também com um momento de tensão na relação que vem sendo
estabelecida com as plataformas digitais e os distintos processos de data-
ficação. Regulamentação virou palavra de ordem.
Este livro produzido por pesquisadores e professores brasileiros e
portugueses vai delinear, discutir e refletir sobre a presença da IA nos
espaços escolares e acadêmicos, destacando as tensões e possibilidades
dessas tecnologias, com destaque para o ChatGPT, inserindo e contextua-
lizando com questões que também afetam o processo de dataficação na
sociedade, como a falta de transparência dos algoritmos, o racismo algo-
rítmico, fake news, questões éticas e de autoria, regulação inclusive da
IA, entre outros aspectos que se tornaram essenciais para vivermos com
a mediação das tecnologias indicadas anteriormente.
O prefácio do livro foi escrito pelo ChatGPT 3.5, a partir do seguinte
prompt:
Figura 1 – Prompt para a escrita do prefácio do livro pelo ChatGPT 3.5
Fonte: elaborada pela autora.
14 INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E EDUCAÇÃO
Inteligência artificial e educação-miolo.indb 14 24/11/2023 13:29
Considerando que a presente obra trata das questões relacionadas
com essa tecnologia, julgamos coerente trazer um exemplo concreto do
potencial deste artefato, isto é, incluir um texto produzido a partir do
banco de dados dessa IA. É importante destacar que não foi feita nenhuma
alteração no texto apresentado pelo ChatGPT, ou seja, foi incluído no
livro na íntegra.
O livro Inteligência Artificial (IA) e educação: refletindo sobre os desa-
fios contemporâneos foi organizado em duas partes para possibilitar aos
leitores navegarem de forma não linear, a partir dos seus interesses de
leitura e pesquisa. A primeira parte, denominada “Parte I – Inteligência
Artificial: breve histórico, conceitos e reflexões”, tem sete capítulos que
apresentam linhas cronológicas para entender o avanço da IA e o marco
diferencial com a emergência da Inteligência Artificial Generativa (IAG),
representada nesse momento pelo ChatGPT 3.5, ChatGPT 4.0 e as IAs que
produzem imagens como Dall-E, Midjourney, entre outras. Ainda nessa
parte, são apontados os riscos e as possibilidades ao interagir com tais
aparatos tecnológicos, especialmente no cenário educacional.
Com a intenção de situar os leitores com conceitos mais técnicos, o
primeiro capítulo escrito por Murilo do Carmo Boratto e intitulado “Inte-
ligência Artificial: breve histórico, conceitos e reflexões”, que dá o nome
à primeira parte do livro, objetiva aproximar os leitores do universo da IA,
com viés computacional.
O segundo capítulo denominado “Notas iniciais sobre a Inteligência
Artificial e educação”, de autoria de Lynn Alves, professora e pesquisadora
da Universidade Federal da Bahia (UFBA), contextualiza o fenômeno ao
apresentar a evolução das IAs, dando destaque para as que são voltadas
à educação, o que nos convoca a adotar uma postura crítica frente a essas
tecnologias diante dos encantos e riscos.
O capítulo “Um mosaico de ideias sobre a Inteligência Artificial Gene-
rativa no contexto da educação”, de autoria dos pesquisadores Eniel do
Espírito Santo, Flávia Goulart Mota Garcia Rosa, Camila Bezerra da Silva e
Miguel Angel Garcia Bordas, apresenta novos elementos para compreender
as IAGs, estabelecendo relação com os cenários educativos.
APRESENTAÇÃO 15
Inteligência artificial e educação-miolo.indb 15 24/11/2023 13:29
“A exposição AI.MAGINATION como uma ação Steam e de curadoria
de arte com Inteligência Artificial” se constitui no quarto capítulo, cujos
autores são Pablo Gobira e Ana Luiza Pedrosa Camilo, que discute e des-
taca a potencialidade do uso de IA em ações educacionais no campo das
artes e curadoria.
No quinto capítulo, intitulado “Tensionamentos do ChatGPT em prá-
ticas de ensino: possíveis diálogos com as Ciências da Natureza e a Mate-
mática”, o pesquisador David Santana Lopes e as pesquisadoras Juliana
Santana Moura e Beatriz Oliveira de Almeida Lima discutem as relações
que podem ser estabelecidas com a mediação do ChatGPT nas práticas
de ensino das Ciências da Natureza e da Matemática.
Partindo da discussão do racismo algorítmico, Jamile Borges da Silva
no capítulo “As Ciência Sociais e o anjo da história: o racismo nas ruínas
da Inteligência Artificial” nos alerta para pensar essas questões a partir
da interação com as IAs.
Concluindo essa primeira parte do livro, os autores Wendel Freire e
Edméa Santos refletem sobre a produção de saberes no capítulo “Inteli-
gência Artificial Generativa e os saberes científicos”.
O objetivo do livro é pensar, discutir e apontar as possibilidades peda-
gógicas do ChatGPT em distintos níveis de ensino. Assim, a segunda parte
da obra, denominada “Parte II – Mediação da Inteligência Artificial nas
práticas pedagógicas e investigativas”, apresenta cinco capítulos com refle-
xões e práticas de professores e pesquisadores brasileiros e portugueses
com a interação dessa tecnologia nos espaços de aprendizagem.
O capítulo “Apropriações e usos do ChatGPT no contexto da pesquisa
sobre plataformização da educação: um relato de experiência”, os autores
Cíntia da Silva Vitorino, Bruno Cerqueira Barbosa, Lucas de Jesus da Silva
e Everton Santana Rodrigues, estudantes do Bacharelado Interdisciplinar
em Ciências e Tecnologias da UFBA, apresentam as suas experiências ao
interagirem com a IA no cenário da investigação, compreendendo-a como
um assistente de pesquisa.
No capítulo “Inteligência Artificial para ensinar e aprender”, Adelina
Moura e Ana Amélia A. Carvalho apresentam, discutem e analisam a
16 INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E EDUCAÇÃO
Inteligência artificial e educação-miolo.indb 16 24/11/2023 13:29
mediação realizada com um grupo de estudantes do 12º ano do ensino
profissional.
“Inteligência Artificial, ChatGPT e Matemática: convergências e diver-
gências”, de autoria de William de Souza Santos e João Paulo de Araújo
Souza, apresenta e discute as respostas dessa IA a tópicos relacionados
com o conhecimento matemático.
Diego Zabot, a partir de sua experiência com desenvolvimento de
jogos, relata no capítulo “Ants to the moon: uma experiência de game
design assistida pela Inteligência Artificial” a produção de imagens pelo
ChatGPT e pelas IAs ao criarem um jogo digital.
E finalmente no último capítulo “Literacia digital para uma interação
tecno-humana: experiência com o ChatGPT no ensino superior”, produ-
zido por Débora Nice Ferrari Barbosa, Patrícia Scherer Bassani e Sandra
Teresinha Miorelli, temos a discussão sobre o letramento que se constitui
em uma categoria de análise fundante para qualquer tipo de interação e
aprendizagem.
As trilhas apresentadas no livro não têm intenção de apontar verdades
absolutas, mas de provocar os leitores, especialmente os educadores, a inte-
ragirem com os aparatos tecnológicos, em especial as IAs destacadas aqui,
construindo olhares críticos que vão além de perspectivas tecnofóbicas.
Assim, muito ainda precisa ser estudado, analisado e discutido nos
diferentes cenários a fim de subsidiar práticas nas quais as IAs sejam
nossas assistentes em distintos percursos e não aparatos de dominação
dos homens pelos homens em parceria com as máquinas.
Convidamos todos a dialogarem com a obra e a construírem novos
sentidos para a presença da IA na sociedade contemporânea.
Salvador, 2 de junho de 2023
Lynn Alves
APRESENTAÇÃO 17
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Inteligência artificial e educação-miolo.indb 18 24/11/2023 13:29
PARTE I
INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL:
BREVE HISTÓRICO,
CONCEITOS E REFLEXÕES
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Inteligência artificial e educação-miolo.indb 20 24/11/2023 13:29
CAPÍTULO 1
INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL: BREVE
HISTÓRICO, CONCEITOS E REFLEXÕES
MURILO DO CARMO BORATTO
FUNDAMENTOS
Ao utilizarmos o termo Inteligência Artificial (IA), logo nos vem à mente
a importância do seu real significado e de sua finalidade. Dessa forma,
podemos defini-la como o estudo de conceitos cujo objetivo é fazer com
que os computadores sejam, de certa forma, mais inteligentes, facilitando
o seu uso em várias áreas que exijam um raciocínio rápido e lógico e bus-
cando torná-los mais eficientes na execução de atividades do que se estas
fossem executadas por um humano.
No entanto, para entendermos mais facilmente esse conceito, devemos
abordar o real sentido do que é realmente a inteligência em uma perspec-
tiva mais ampla: inteligência nada mais é que a capacidade de raciocinar
21
Inteligência artificial e educação-miolo.indb 21 24/11/2023 13:29
e adquirir conhecimento em determinadas ações aplicadas a um mundo
real, com finalidade de otimizar a conclusão de uma tarefa específica.
Quando passamos a unir os dois conceitos, do real significado do que é
a IA e de sua aplicação em várias áreas, temos um conceito básico, mas de
fácil entendimento para podermos iniciar o estudo: IA é a forma de tornar
os computadores mais úteis em tarefas não muito comuns aos humanos,
nas quais também é possível que tais máquinas possam adquirir conhe-
cimento artificialmente, evoluindo através das suas funções atribuídas.
BREVE INTRODUÇÃO
Com a evolução atual do processamento dos computadores, pudemos
ver a aplicação da IA aplicada às máquinas, tornando este tópico, em seu
conjunto, mais acessível através dos estudos tradicionais da Filosofia,
Psicologia e Linguística associados aos conceitos utilizados pelos profis-
sionais das Ciências da Computação.
Teremos nossa compreensão aumentada se associarmos e aplicarmos
esse conhecimento tradicional à área da computação aplicada. Veremos a
seguir alguns motivos que nos fazem ter a certeza de que uma máquina
pode ser mais eficaz em certas tarefas de diversas áreas, desde as mais
simples até algumas mais complexas.
Um computador, ao ser programado para executar tarefas, é mais eficaz
do que o homem, principalmente por não ter as necessidades básicas de
um ser humano, como ter que se alimentar ou ter um limite devido ao
cansaço físico e mental. Tais tarefas são de execução mais eficaz por serem
geradas através de códigos de fácil entendimento pelas máquinas, tendo
assim uma porcentagem mínima de erros.
Enfim, a IA tem como finalidade realizar determinadas ações de uma
maneira que se aproxime mais fielmente da realidade ou até mesmo que
realize tais tarefas com resultados mais eficazes, buscando possíveis erros
se executados por humanos e assim simulando esses resultados mais per-
feitamente e mais próximos da realidade.
22 INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E EDUCAÇÃO
Inteligência artificial e educação-miolo.indb 22 24/11/2023 13:29
HISTÓRIA
O desenvolvimento de projetos com o uso da IA começou no final da
Segunda Guerra Mundial devido à publicação do artigo com o título de
“Computing Machinery and Intelligence”, de autoria de Alan Turing (1950).
Nesse artigo foi a primeira vez que se discutiram várias objeções à ideia
de que as máquinas podem pensar, expondo seus contra-argumentos.
Tal artigo foi considerado um dos mais influentes na história da inteli-
gência artificial e da filosofia da mente.
Após esse marco, inúmeros autores começaram a desenvolver acerca
da inferência “a máquina pode pensar?”. Tendo essa premissa desenvol-
vida em obras da literatura subsequente a Turin, podemos identificar
algumas formas de inteligência que já eram imaginadas naquela época,
por exemplo personagens fictícios definidos por seus autores como espé-
cies de máquinas que adquiriam inteligência própria, interagindo assim
com o mundo real.
Uma afirmação que ficou muito famosa entre os profissionais da com-
putação foi a do professor George Luger, do Departamento de Ciências da
Computação da Universidade do Novo México, que definia exatamente a
IA como um “[...] campo jovem e promissor e que possui como principal
objetivo buscar outras formas de compreender e desenvolver técnicas
inteligentes para a solução de problemas”1 (Luger, 2009, p. 30, tradução
nossa). Em seu livro Artificial Intelligence: Structures and Strategies for
Complex Problem Solving, o autor define alguns conceitos básicos que
lastram as técnicas computacionais da IA atual.
Há muitos anos, tem-se o conhecimento das intenções dos cientistas em
criarem máquinas inteligentes com o objetivo de facilitarem a execução
das mais variadas tarefas possíveis. Não é exagero dizer que tal tecnologia
é algo que evoluiu muito através dos anos, desde sua criação e aplicação, e
ainda continua em total desenvolvimento visando não somente às tarefas
1 “[...] young and promising field of study whose primary concern is finding an effective way
to understand and apply intelligent problem solving, planning, and communication skills to
a wide range of practical problems”.
INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL 23
Inteligência artificial e educação-miolo.indb 23 24/11/2023 13:29
mais comuns no dia a dia, mas também ao avanço das tecnologias apli-
cadas a pesquisas médicas, científicas e militares.
A IA pode ter muitas classificações voltadas para as pesquisas na
busca de melhores soluções para problemas complexos, tentando simular
o conhecimento humano, mas hoje em dia a linha a qual mais está se
destacando seria uma conhecida como IA Simbólica, reverberada pelas
aplicações generativas que são responsáveis por criarem textos, imagens,
sons de forma autônoma.
APLICAÇÕES DA INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL
Em virtude das crescentes complexidades das tarefas comuns no nosso
dia a dia, nossos recursos físicos são cada vez mais exigidos. Dessa forma,
a solução seria desenvolver máquinas cada vez mais capacitadas para
tais funções, uma vez que a cada ano ocorre uma evolução significativa
com relação à IA. Tais funções não significam apenas tarefas físicas, elas
requerem uma inteligência, como cálculos matemáticos aplicados em
diversas áreas da tecnologia, tornando o processo muito mais eficaz e de
rápida execução.
Podemos citar algumas aplicações nas quais a IA já é utilizada há
algum tempo e outras em que ela pode vir a ser usada. Mostraremos a
seguir o seu uso em áreas totalmente distintas para melhor entender sua
verdadeira importância atualmente.
Na educação, o uso de sistemas de tutoria inteligentes (do inglês,
intelligent tutoring systems) auxilia na composição do conhecimento dis-
cente em sala de aula. Esses sistemas são capazes de adaptar o material
de instrução às necessidades individuais de cada aluno, proporcionando
um caminho de aprendizagem personalizado. A área médica é outro seg-
mento em que o uso das máquinas se torna algo essencial. Podemos ver
isso através de análises médicas, monitoramento de pacientes ou controle
de uso de medicamentos, em cirurgias complexas etc.
Em projetos de engenharia, também podemos identificar o uso de
máquinas definindo as melhores opções para a sua realização. Outra aplicação
24 INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E EDUCAÇÃO
Inteligência artificial e educação-miolo.indb 24 24/11/2023 13:29
possível e que já foi utilizada é a interpretação de idiomas estrangeiros,
por meio da qual algumas questões podem ser respondidas em idiomas
não comuns à pessoa que os digitou. Nesse caso, podemos utilizar um
exemplo muito comum em nosso dia a dia: o uso de ferramentas disponí-
veis na internet de tradução de idiomas, em que basta apenas executar a
digitação da palavra ou texto, para que o próprio programa já o interprete
gerando o resultado ou resposta final. Esse é um exemplo muito simples
e bem prático da utilização da IA em prol do conhecimento humano.
Sabemos também que os computadores possuem a capacidade de inter-
pretar imagens com formato simples. Através de dispositivos de captura
de imagens, torna-se possível a reprodução na forma que os comandos
ordenarem dentro de um mundo virtual, isto é, uma virtualização do
nosso mundo, construído a partir da internet, em que usuários podem
interagir uns com os outros e com ambientes de software em tempo real.
O uso da IA também se faz muito útil em indústrias de vários setores
e na automação de tarefas de montagem de peças de um determinado
produto, como ocorre na indústria automotiva.
Enfim, podemos concluir que o uso de IA possui uma enormidade de
aplicações nos mais diversos setores, tanto profissionais quanto sociais, e
devemos lembrar que isso é algo que veio se acrescentar à rotina diária da
humanidade, pois é uma tecnologia que ainda tem muito a expandir-se
e sua evolução é crescente a cada dia.
O APRENDIZADO DE MÁQUINA
Em um passado não tão remoto, a IA almejava emular o raciocínio lógico
através do armazenamento de informação, possibilitando sua utilização
como motor de inferências. Contudo, a abordagem original se mostrou
não ser a solução ideal, pois era restrita a domínios extremamente espe-
cíficos e apresentava limitações quanto a variações, alterações e atualiza-
ções das informações ao longo do tempo. Diante disso, certos cientistas
propuseram uma ideia divergente da inicial, que consistia em permitir
que a máquina aprendesse por si só, ou seja, que fosse capaz de construir
INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL 25
Inteligência artificial e educação-miolo.indb 25 24/11/2023 13:29
um modelo de conhecimento de forma autônoma a partir de parâmetros
iniciais. Dessa forma, emergiu uma ramificação da IA conhecida como
aprendizado de máquina (do inglês, machine learning).
A partir desse momento, desenvolveu-se uma nova tendência de
aprendizado denominada pensamento simbólico, a qual transitava do
raciocínio lógico para um dotado de características intuitivas, isto é, ao
invés de fornecer os dados e indicar como processá-los, simplesmente ins-
truiu-se a máquina a aprender através de exemplos, por meio de tentativa
e erro, representando os dados e, em seguida, submetendo a máquina a
exemplos para comparação.
De maneira mais descritiva, esse método consiste em a máquina aplicar
uma fórmula com múltiplos parâmetros, sendo que o aprendizado ocorre
ao substituir valores iniciais aleatórios nessa fórmula e, posteriormente,
tentar realizar primeiras previsões assertivas a partir de exemplos forne-
cidos. Nesse processo, a máquina consegue identificar as previsões equi-
vocadas, corrigindo as predições com base nos exemplos previamente
armazenados. A repetição desse método milhares de vezes possibilita que
a máquina ajuste essas previsões a um referencial, denominado modelo
de treinamento.
A partir do momento que se atinge essa solução, o modelo consegue
expandir a previsão, não se limitando apenas a exemplos previamente
anotados, mas alcançando também exemplos não anotados. A precisão
da solução dependerá da base de conhecimento inicial fornecida. Por isso,
discutem-se extensivamente os vieses da IA, que se referem a tendências
sistemáticas e injustas nos resultados produzidos pelos sistemas de IA.
Esses vieses podem se manifestar de diversas formas e podem estar vin-
culados a fatores como gênero, raça, idade, localização geográfica, renda
e muitos outros.
Logo, a qualidade dos dados se torna um fator preponderante para a
obtenção de uma boa solução, visto que tal modelo de aprendizado infere
vieses dos dados. Assim, dados de excelente qualidade resultam em solu-
ções altamente assertivas com uma ótima acurácia, enquanto dados de
qualidade inferior conduzem a uma assertividade reduzida.
26 INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E EDUCAÇÃO
Inteligência artificial e educação-miolo.indb 26 24/11/2023 13:29
Diversos autores equiparam os dados ao petróleo, tal a sua relevância,
pois seriam o combustível que alimenta a IA. As discussões centradas nos
algoritmos como elementos principais deslocaram-se para focar unica-
mente na qualidade dos dados como fator determinante.
O processo descrito anteriormente esclarece o funcionamento da
maioria das aplicações generativas, baseadas no aprendizado de máquina.
Essa fundamentação teórica exposta define um conjunto de técnicas
algorítmicas e modelagens estatístico-matemáticas denominado redes
neurais artificiais (do inglês, artificial neural networks) (Goodfellow;
Bengio; Courville, 2016).
TÉCNICAS DE INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL
Tendo como base o que vimos até aqui, podemos definir de forma mais
formal que a IA é um conjunto de técnicas algorítmicas que tem como
principal objetivo, através de uma forma artificial de raciocinar e com o
uso da tecnologia, resolver situações ou problemas mais facilmente do que
se fossem executados pelos humanos. O único, porém, que pode provocar
uma certa decepção, se é que podemos chamar assim, são as ações óbvias
por parte dos comandos executados pelas IA, pois todo o seu comando foi
desenvolvido por um humano, assim algumas ações são muito previsíveis.
Este conjunto de técnicas e regras é expresso por algoritmos e, como tal,
é classificado em categorias, que podem variar de acordo com a situação.
Antes de adentrarmos em alguns modelos de aprendizado, faz-se neces-
sário conceituar e diferenciar algumas nomenclaturas e taxonomias rela-
cionadas ao aprendizado de máquina. O primeiro ponto seria diferenciar
os dois tipos de aprendizados: supervisionado versus não supervisionado.
O aprendizado supervisionado consiste em todo tipo de aprendizado
que se fundamenta na existência de um modelo que avalia as respostas aos
estímulos de entrada. Já o aprendizado não supervisionado caracteriza-se
pela inexistência de um modelo que avalia as respostas aos estímulos de
entrada (Russel; Norvig, 2010).
INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL 27
Inteligência artificial e educação-miolo.indb 27 24/11/2023 13:29
Uma vez que o aprendizado não supervisionado se caracteriza pela
inexistência de um modelo, o processo caracteriza-se pela autonomia,
isto é, as relações, os padrões, a regularidade, as categorias de dados vão
sendo apresentados e automaticamente codificados na saída. A seguir,
apresentam-se alguns esquemas explicitando melhor essas definições.
O primeiro refere-se a um diagrama do ciclo do aprendizado supervi-
sionado (Figura 1), enquanto o segundo é uma taxonomia para ilustrar
os métodos do aprendizado de máquina (Figura 2).
Entre todos os algoritmos de aprendizado apresentados, as redes
neurais artificiais tomarão uma relevância muito grande devido às apli-
cações generativas, destacando-se o ChatGPT. A ideia de simulação do
cérebro humano através da transmissão e armazenamento das infor-
mações, podendo assim tomar decisões, representa a simplicidade do
modelo de aprendizagem dessas aplicações. Os dados recebidos geram
um processamento e assim define uma solução para uma ação, tor-
nando o processo quase automatizado e mais realista. Isso pode ocorrer
durante o processo inicializado, facilitando ou dificultando de acordo
com o nível de acurácia a qual se quer chegar, gerando assim um base
de dados a ser utilizada posteriormente, o que facilita a tomada de
decisões em situações futuras (Sutton, 2018).
REFLEXÕES SOBRE A INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL
Os algoritmos de IA atualmente permeiam e moldam imperceptivelmente
o comportamento humano. Atividades corriqueiras como uma simples
busca na internet, a escolha de um filme em uma plataforma de streaming
ou uma mera compra on-line são mediadas por algoritmos de IA. Estes,
de acordo com o perfil do usuário, recomendam e decidem o que será
possível visualizar ou não.
A máquina aprende a recomendar e o que ela sugere nem sempre
corresponde à realidade, mas sim ao que supostamente lhe convém ver,
priorizando aquilo que mais conecta as pessoas em detrimento do que
realmente é verídico. Isso representa um problema grave, uma vez que a
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Figura 1 – Diagrama do ciclo de aprendizado supervisionado
Fonte: elaborada pelo autor.
Figura 2 – Taxonomia dos algoritmos de aprendizado de máquina
• IA para Classificação • IA para Redução
- Análise de Discriminante - Análise de Componente Principal
• IA para Regressão • IA para Aglomerados
- Regressão Logística - K-means
- Self Organizing Map (SOM)
• IA para Decisão
- Árvores de Decisão
- Redes Neurais Artificiais
Fonte: elaborada pelo autor.
INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL 29
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função primordial de um algoritmo generativo é maximizar a satisfação
do usuário, facilitando a obtenção do que busca.
Dessa forma, estamos constantemente subjugados a vieses incons-
cientes ao acessar as redes sociais ou qualquer aplicação estruturada
pela IA. Tal situação nos afeta continuamente, acarretando um rede-
moinho de dilemas éticos.
Portanto, é imperativo que os desenvolvedores de softwares de IA
sejam supervisionados, dado o alto grau de riscos envolvidos. Frequen-
temente, esses profissionais não estão cientes das consequências, pois a
eles parece inofensivo simplesmente fornecer ao usuário aquilo que ele
deseja ver, em vez do que é correto e legal. Por essa razão, necessitamos
da participação de antropólogos, sociólogos, filósofos, psicólogos – indi-
víduos versados na condição humana – capazes de definir os objetivos
que devem ser atribuídos aos algoritmos, evitando a perpetuação de uma
visão apocalíptica que preconiza que a IA irá aniquilar o mundo, como
frequentemente retratado em filmes de ficção científica.
REFERÊNCIAS
BARTOLETTI, I. An artificial revolution: on power, politics and AI. London:
The Indigo Press, 2020.
CRAWFORD, K. Atlas of AI. New Haven: Yale University Press, 2021.
GOODFELLOW, I.; BENGIO, Y.; COURVILLE, A. Deep Learning. Cambridge, MA:
MIT Press, 2016. Disponível em: http://www.deeplearningbook.org. Acesso em:
20 jan. 2023.
LUGER, G. F. Artificial Intelligence: Structures and Strategies for Complex
Problem Solving. 6th. ed. Reading, MA: Addison-Wesley, 2009.
O’NEIL, C. Algoritmos de destruição em massa: como a big data aumenta a
desigualdade e ameaça a democracia. Santo André: Rua do Sabão, 2020.
30 INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E EDUCAÇÃO
Inteligência artificial e educação-miolo.indb 30 24/11/2023 13:29
RUSSELL, S.; NORVIG, P. Artificial Intelligence: A Modern Approach. 3rd. ed.
Upper Saddle River: Prentice Hall, 2010.
SUTTON, R. S.; BARTO, A. G. Reinforcement Learning: An Introduction. 2nd. ed.
Cambridge, MA: MIT Press, 2018.
TURIN, A. M. Computing machinery and intelligence. Mind, [s. l.], v. 59, n. 236,
p. 433-460, 1950.
INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL 31
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CAPÍTULO 2
NOTAS INICIAIS SOBRE INTELIGÊNCIA
ARTIFICIAL E EDUCAÇÃO
LYNN ALVES
BREVE INTRODUÇÃO
Nos primeiros meses de 2023, a mídia nacional e internacional divulgou
de forma intensa notícias sobre o Chat Generative Pre-trained Transformer
(ChatGPT) da OpenAI1, despertando o interesse de diferentes pessoas acerca
do tema Inteligência Artificial (IA). Tal temática sempre foi recorrente nos
filmes de ficção científica, os quais normalmente apresentam uma pers-
pectiva de dominação homem-máquina, a exemplo da narrativa seriada
Westworld2. Nesses cenários, a máquina toma consciência e decisões que
1 Ver em: https://openai.com/.
2 Ver em: https://www.youtube.com/watch?v=9BqKiZhEFFw.
33
Inteligência artificial e educação-miolo.indb 33 24/11/2023 13:29
podem levar ao controle e/ou à exterminação da humanidade. Esse plot
sempre recorrente nos filmes, literatura, jogos digitais etc. nos leva a ter
uma ideia muitas vezes equivocada dos limites e potenciais da IA.
As notícias sobre o ChatGPT e a minha interação com essa tecno-
logia me remeteram a uma outra IA, criada em 1960 por Joseph Weizen-
baum no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT). Refiro-me a
Eliza3, um programa de conversação projetado para simular conversas,
em que assume o papel de terapeuta rogeriano usando técnicas de pro-
cessamento de linguagem natural e regras simples de transformação de
frases (Crawford, 2021).
Mas Eliza não foi continuada, pois a tecnologia da época não era sofis-
ticada o suficiente para permitir conversas verdadeiramente naturais e
significativas entre humanos e máquinas. O programa também tinha
limitações e só conseguia manter apenas conversas simples com base em
regras e padrões predefinidos. Além das limitações técnicas, pesquisa-
dores e terapeutas criticavam o software por sua falta de capacidade de
resposta e empatia verdadeira.
Em contraponto, os usuários que interagiram com Eliza durante o
período do experimento ficaram surpresos ao saberem que estavam con-
versando com uma máquina e não um terapeuta humano (Turkle, 1997).
Eliza se tornou um marco na história da IA e da computação, pois
demonstrou o potencial da tecnologia para simulação de conversas
humanas e criação de chatbots.
Mas o que caracteriza a IA? Na perspectiva de Bartoletti (2020, p. 21,
tradução nossa),
de forma simplificada a IA é (pelo menos até agora) sobre
máquinas realizando uma tarefa que os humanos executam
e que só é possível porque nós, humanos, os ensinamos a
fazê-lo. O que os programamos para fazer é reconhecer e agir
sobre a correlação entre as coisas (intelligere); coisas que para
nós, humanos, constituem parte do que constitui a vida e a
3 Ver em: https://www.csail.mit.edu/news/eliza-wins-peabody-award.
34 INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E EDUCAÇÃO
Inteligência artificial e educação-miolo.indb 34 24/11/2023 13:29
experiência. Portanto, Al refere-se – para ser mais técnico – a
artefatos usados para detectar contextos ou para efetuar ações
em resposta a contextos detectados4.
Esse processo vem evoluindo e nos últimos 60 anos as tecnologias
de IA se tornaram pervasivas e estão presentes nas nossas vidas de
diferentes formas que nem percebemos, seja através dos chatbots que
medeiam a relação entre clientes e empresas, seja através das assistentes
virtuais como Alexa e Siri dos nossos smartphones. Portanto, o avanço
das pesquisas e produtos que usam IA não é recente, mas vem se com-
plexificando a cada dia.
O ChatGPT e mais recentemente o ChatGPT 4.0 despertaram na popu-
lação o interesse e a curiosidade para pensar sobre como esses avanços
podem contribuir não apenas para um mundo melhor, mas também para
intensificar questões que já atravessam nossa existência, a exemplo das
desigualdades sociais, do desemprego estrutural, do racismo algorítmico,
das questões éticas, da falta de transparências dessas tecnologias, dentre
outras que tensionam distintas áreas, como a educação.
As questões que vêm tensionando a presença da IA na educação,
especialmente o ChatGPT, serão discutidas neste capítulo cujo objetivo é
apresentar um breve cenário desse contexto, apontando aspectos impor-
tantes que devem ser considerados nos espaços escolares e acadêmicos ao
interagir com Inteligências Artificiais Generativas (IAGs). Tais IAGs têm
capacidade de criar e gerar novas informações a partir de um banco de
dados preexistente.
Assim, este capítulo se constitui a partir do diálogo com referências
acadêmicas e notícias veiculadas na mídia, nos meses de março a maio
de 2023, sobre robôs Sapiens, especialmente o ChatGPT.
4 “To put it simply, AI is (so far at least) about machines performing a task that humans perform
and which is possible only because we, humans, have taught them to do so. The thing we
program them to do is to recognize and act upon the correlation between things (intelligere);
things that for us, humans, make up some part of what constitutes life and experience. The-
refore, AI refers – to put it more technically – to artefacts used to detect contexts or to effect
actions in response to detected contexts”.
NOTAS INICIAIS SOBRE INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E EDUCAÇÃO 35
Inteligência artificial e educação-miolo.indb 35 24/11/2023 13:29
A primeira seção denominada “Breve introdução” teve o objetivo de
situar o conceito de IA. Na seção “Inteligência Artificial e o ChatGPT”,
discutimos o conceito de IA e a caracterização técnica do ChatGPT, des-
tacando as questões que vêm tensionando a interação com este agencia-
mento sociotécnico. Na seção seguinte, intitulada “Inteligência Artificial
e os distintos cenários de aprendizagem”, discutimos a relação entre essa
tecnologia e a educação. E finalmente na última seção, apontamos trilhas
para adotar uma postura mais crítica em relação à interação com IA nos
espaços escolares e acadêmicos.
INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E O CHATGPT
Alan Turin foi o primeiro pesquisador a indicar que as máquinas podiam
usar informações disponíveis para solucionar problemas e tomar decisões,
aproximando-se dos humanos, conforme o artigo “Computing Machinery
and Intelligence”, publicado em 1950. Tais constatações tornam Turin
reconhecido como o Pai da IA. Contudo, o termo IA só foi cunhado em
1956 para designar sistemas inteligentes.
Mas é na década de 1960 que o cenário empresarial e acadêmico, através
das ações da International Business Machines (IBM), passa a desenvolver
softwares e programas com aplicações comerciais (Bartoletti, 2020).
Ao longo dos últimos 60 anos, o crescimento das pesquisas tanto no
cenário acadêmico como industrial foi marcado pelo desenvolvimento do
aprendizado de máquina (machine learning) que contribuiu para a criação
da IAG (geração de ideias e imagens a partir de determinados banco de
dados), como os softwares de produção de imagem: o Dall-E (desenvolvido
pela OpenAI), Midjourney (Midjourney), BlueWillow (BlueWillow), entre
outros; e as IAs conversacionais como o ChatGPT, ChatGPT 4.0 (OpenAI),
Perplexity (Perplexity), Bard (Google) etc.
O aprendizado de máquina vai contribuir para que a IA seja capaz de
tomar decisões baseadas na análise de padrões, que são tendências identi-
ficadas e que podem ser correlacionadas. Esses dados se organizam a partir
de um contexto e da utilização de recursos computacionais, contribuindo
36 INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E EDUCAÇÃO
Inteligência artificial e educação-miolo.indb 36 24/11/2023 13:29
para que a máquina aprenda com os seus erros e vá adaptando o seu com-
portamento (Bartoletti, 2020).
Em contraponto a esses avanços, Bartoletti chama a atenção para o
fato de que o aprendizado de máquina utiliza muita mão de obra barata.
Para a autora,
Ao contrário da promessa dos milhões de desejáveis empregos
que a IA inevitavelmente criará, essa tecnologia está produ-
zindo muitos empregos invisíveis, exigentes e mal pagos em
áreas mais pobres do mundo. Embora não possamos ignorar
o fato de que, para alguns, esse trabalho nada invejável é uma
passagem de volta de pobreza (e talvez a única)5 (Bartoletti,
2020, p. 24-25).
Um dos exemplos dessas novas profissões e que levantam aspectos
éticos são os moderadores de conteúdos das plataformas, como as vincu-
ladas à Meta, ou ainda os avaliadores de conteúdos para projetos de IA
que fazem a rotulagem de dados. Esses trabalhos normalmente são ter-
ceirizados para países do Sul Global, com baixos níveis de remuneração.
A autora ainda destaca que o processo de aprendizagem de máquina
pode ser supervisionado ou não supervisionado. Na aprendizagem super-
visionada, um codificador dá à máquina a entrada, a saída e o resultado.
Em contraponto, na aprendizagem não supervisionada não existe a pre-
sença de um humano dando as entradas (inputs) de dados, o que leva a
máquina a aprender sozinha. Esse tipo de aprendizagem pode ser utili-
zado para encontrar correlações que não são perceptíveis ao olho humano,
tornando essa aprendizagem fundamental (Bartoletti, 2020).
Um exemplo de IA que apresenta os dois tipos de aprendizado de
máquina é o ChatGPT 3.5 que foi treinado em uma variedade de tarefas
de processamento de linguagem natural, usando uma arquitetura de rede
5 “Contrary to the promise of the millions of desirable jobs that AI will inevitably create, this
technology is producing a lot of invisible, demanding, low-paid jobs in poorer areas of the
world. [...] Although we can’t overlook the fact that, for some, this unenviable work is a ticket
out of poverty (and perhaps the only one)”.
NOTAS INICIAIS SOBRE INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E EDUCAÇÃO 37
Inteligência artificial e educação-miolo.indb 37 24/11/2023 13:29
neural (Transformer) com a capacidade de geração de textos de forma
autônoma, isto é, sem a necessidade da entrada de um texto de origem
para se basear, mas que precisa de interação do humano através de um
contexto e o prompt/pergunta na tela do chat para gerar textos que são
produzidos considerando o que foi demandado pelo usuário. O ChatGPT
é constantemente atualizado a partir do feedback (reinforcement learning)
dos usuários e dos programadores do sistema.
Para atender essa demanda, a IA consulta o banco de dados no qual
foi treinado, acessando os arquivos inseridos até setembro de 2021, para
responder as perguntas dos usuários. Embora tenha sido treinado com
base em 175 bilhões de parâmetros e tenha capacidade de responder em
qualquer idioma as perguntas através de um texto coerente, pode acon-
tecer equívocos, isto é, a IA produzir textos superficiais, sem referências,
inventando informações, entre outros “erros”. Esse comportamento da
máquina pode ocorrer pelos seguintes motivos: a) os dados utilizados para
treinamento foram insuficientes e/ou enviesados; b) ruídos nos dados,
por exemplo corrompidos, com informações confusas etc.; c) limitações
algorítmicas; d) falhas de implementação ou programação.
Esse caráter inovador já foi superado pela nova versão ChatGPT 4.0 que
é um modelo de linguagem multimodal que gera resultados para textos e
imagens, com 1,3 trilhões de parâmetros, capaz de produzir respostas mais
precisas e completas para as perguntas, apresentando um texto mais coe-
rente e natural. Embora as versões anteriores não estejam conectadas ao
banco de dados da internet, o ChatGPT 4.0 pode ser integrado a sistemas
que acessam dados na web, como o browser da Microsoft (principal inves-
tidora da OpenIA) denominado de Bing que já tem integrada essa versão.
Ressalta-se que, para interagir com essa última versão, é necessário ter uma
assinatura mensal ou de forma gratuita6 através do referido navegador.
Um exemplo de outra tecnologia que utiliza a lógica do GPT é o
AutoGPT, um aplicativo de código aberto que explora os recursos do
6 As informações técnicas indicadas foram obtidas na interação com o ChatGPT 3.5 nos dias 30
de março e 1º de maio de 2023.
38 INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E EDUCAÇÃO
Inteligência artificial e educação-miolo.indb 38 24/11/2023 13:29
GPT 4.0 (Lug, 2023a). Essa tecnologia é totalmente autônoma e treinada
sem a supervisão humana, aprendendo com experiências vivenciadas
pelos feedbacks e pelo próprio sistema, que contribuem para melhorar
seu desempenho, podendo realizar atividades como escrever códigos,
pesquisar, produzir podcasts, entre outras atividades positivas.
Em contraponto, pode gerar também desastres e destruições, a exemplo
da versão ChaosGPT que tem o objetivo de destruir a humanidade, aproxi-
mando-se das narrativas e ações das IAs que aparecem em filmes de ficção
científica (ChaosGPT, 2023), como Ex_Machina: Instinto Artificial7. Tal
aparato sociotécnico nos alerta para uma questão óbvia mais importante:
a criação da tecnologia para o bem ou para o mal depende das ações e
escolhas humanas e não da máquina.
A partir dos modelos de IAG, outros vêm sendo criados com a tecno-
logia semelhante, a exemplo de Bard (Google), Perplexity (Perplexity),
LLaMA (Meta), Alpaca (Stanford), Cerebras-GPT (Cerebras), Dolly 2 (Data-
bricks), Nama8, StableLM (Stability) – esta última intenciona constituir-se
em uma alternativa de código aberto (Lug, 2023b).
Todo esse potencial sinalizando o avanço da IA provocou muitas notí-
cias na mídia e euforia para interagir e/ou apontar os aspectos negativos
dessas tecnologias na sociedade contemporânea. Um dos segmentos que
vem se posicionando de forma maniqueísta em relação à mediação dessa
tecnologia é a educação. Diante disso, na próxima seção iremos discutir
os limites e as possibilidades dessas tecnologias para tal área.
INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E OS DISTINTOS CENÁRIOS DE
APRENDIZAGEM
As discussões e inserções das tecnologias digitais nos cenários educacionais
datam mais de 30 anos, tendo início com a chegada dos computadores nas
escolas, a fim de ensinar a usar os aplicativos do pacote office ou ainda a
7 Ver em: https://www.youtube.com/watch?v=54nzsdLPs9I.
8 Ver em: https://www.nama.ai/.
NOTAS INICIAIS SOBRE INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E EDUCAÇÃO 39
Inteligência artificial e educação-miolo.indb 39 24/11/2023 13:29
interagir com a Linguagem Logo, criada por Papert (1993). Posteriormente,
a internet, os jogos digitais, aplicativos, entre outras plataformas passaram
a tensionar o fazer escolar e acadêmico, mas sem mediação efetiva nos
espaços escolares e nas práticas docentes.
Ao longo desse período, fomos acompanhando novas possibilidades
tecnológicas, inclusive com a integração da IA, a exemplo dos tutores
inteligentes, dos softwares para detecção de plágio e reconhecimento de
voz e de imagens, das assistentes virtuais, da personalização de ensino, da
aprendizagem adaptativa, da análise de dados, dentre outras aplicações.
Entre essas aplicações da IA através da aprendizagem de máquina, des-
tacamos o Learning Analytics (LA) que analisa padrões de comportamentos
relacionados com a aprendizagem, estabelecendo relações, quantificando
para predizer e modelar novos comportamentos e direcionando para uma
personalização do ensino, com o objetivo de atender as necessidades dos
estudantes, com a indicação de materiais de aprendizagem e exercícios
adaptados ao nível e estilo de aprendizagem deles. Uma das empresas espe-
cialistas nessa área e na aprendizagem adaptativa é a Knewton (inglesa)9.
As críticas a essas perspectivas destacam o caráter invasivo em relação
à privacidade e à proteção de dados dos estudantes, traçando itinerários
que consideram os dados coletados, mas que nem sempre têm relação
com o interesse e desejo dos sujeitos do processo de ensinar e aprender.
Tais práticas associam-se ao que vem sendo denominado de aprendi-
zado adaptativo, difundido pelas Plataformas Digitais de Ensino (PDE),
a exemplo da Pearson Education.
O objetivo dessas plataformas é criar programas que ajustam ritmo e
conteúdo do ensino com base no desempenho individual de cada estu-
dante. Autores como Williamson (2017), Selwyn, Pangrazio e Cumbo (2022),
O’Neil (2020), entre outros têm feito críticas ao processo de dataficação
da educação que invade os espaços escolares através de algoritmos que
coletam os dados para fins nem sempre transparentes, modelando o com-
portamento dos estudantes.
9 Ver em: https://www.knewton.com/.
40 INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E EDUCAÇÃO
Inteligência artificial e educação-miolo.indb 40 24/11/2023 13:29
No Brasil, podemos citar o caso dos dados dos estudantes relativos às
suas avaliações do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), que estão
sendo transferidas para o banco de dados do Microsoft Azure, nos Estados
Unidos, que é responsável pelo tratamento dessas informações. Essa des-
centralização dos dados para as big techs reforça as práticas de colonia-
lismo de dados, sinalizando a vulnerabilidade da privacidade dos alunos,
uma vez que se disponibilizam informações valiosas para empresas como
a Microsoft sobre o desempenho dos alunos brasileiros, sem que os usuá-
rios tenham conhecimento dessa transferência de dados e seus possíveis
usos (Silveira, 2021). É importante destacar que a Regulamentação Geral
de Proteção de Dados da Comunidade Europeia e dos Estados Unidos,
por exemplo, não permite que os dados dos seus cidadãos sejam armaze-
nados em banco de dados fora dos seus limites geográficos.
Os tutores inteligentes, a detecção de plágio, o reconhecimento de
voz (muito usado para o aprendizado de outras línguas, a exemplo do
Duolingo) e a assistência virtual se constituem em outros exemplos das
aplicações da IA na educação e não são recentes.
Portanto, a IA já estava presente de distintas formas na educação,
mas, em novembro de 2022, fomos surpreendidos por mais um software
produzido pela OpenAI, o ChatGPT, e mais recentemente – em março de
2023 –, o ChatGPT 4.0, provocando reações “apocalípticas e integradas”
(Eco, 1993). As aplicações do ChatGPT (OpenAI) na educação já estão
presentes no Duolingo, no Quizlet (produz cartões digitais e avaliações
“práticas” utilizadas pelos alunos do ensino médio nos Estados Unidos),
no Khanmigo da Khan Academy, entre outras empresas de tecnologias
educacionais e edtechs (Heaven, 2023). Segundo Heaven (2023), a OpenAI
trabalhou com os educadores na elaboração de uma ficha para identificar
o impacto potencial do ChatGPT nas escolas americanas.
Há reações apocalípticas como o banimento do programa em escolas
e universidades americanas, londrinas e australianas, apavoradas com a
ideia de que o ChatGPT tome o lugar dos professores e de que os alunos
não produzam mais seus textos, reflexões e análises de forma autônoma,
ou seja, que passem apenas a copiar e a colar o que o programa fazia para
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Inteligência artificial e educação-miolo.indb 41 24/11/2023 13:29
eles. Outra questão também discutida refere-se à autoria das imagens e
dos textos produzidos. É importante lembrar que essas ideias sempre
estão presentes quando uma nova tecnologia surge, a exemplo do que
aconteceu com a internet e a Web 2.0.
A questão de indicar a autoria do ChatGPT também tem sido discu-
tida, inclusive a Associação de Psicologia Americana (APA)10 já divulgou
como devemos citar essa IA nas nossas publicações.
Na trilha do pessimismo, estão empresários e intelectuais vinculados
ao movimento longoprazismo11 e ao Institute Future of Life12 que publi-
caram, em março de 2023, uma carta aberta pedindo uma pausa para que
as pesquisas sobre a IA caminhassem de forma mais lenta nos próximos
seis meses, pois acreditam que os avanços podem não ser seguros para
a humanidade (Pause [...], 2023). Um mês depois de publicada, no dia
22 de abril, a carta já contava com 27.573 assinaturas.
A referida carta levanta questões relevantes, como as apresentadas a
seguir, que precisam ser discutidas de forma ampla e crítica:
Os sistemas contemporâneos de IA estão se tornando compe-
titivos em tarefas gerais, e devemos nos perguntar: devemos
deixar que as máquinas inundem nossos canais de informação
com propaganda e falsidade? Devemos automatizar todos os
trabalhos, incluindo os satisfatórios? Deveríamos desenvolver
mentes não-humanas que eventualmente nos superassem em
número, fossem mais espertas, obsoletas e nos substituíssem?
Devemos arriscar perder o controle de nossa civilização? Tais
10 Ver em: MCADOO, T. How to cite ChatGPT. APA Style, Washington, D.C., 7 Apr. 2023. Dispo-
nível em: https://apastyle.apa.org/blog/how-to-cite-ChatGPT. Acesso em: 5 maio 2023
11 “O longoprazismo é caracterizado pela ideia que a humanidade tem uma espécie de dívida
moral com o futuro, e que deve lutar para sobreviver apenas o suficiente para ser capaz de
colonizar o espaço, viver em simulações digitais e achar formas de driblar a mortalidade. Entre
os defensores estão figuras como os bilionários Elon Musk (da Tesla) e Jeff Bezos (fundador
da Amazon). Torres, um dos críticos da ideia, argumenta que é um movimento que ignora os
problemas do presente para apostar em um futuro hipotético que é incerto e, se concretizado,
provavelmente será restrito a algumas poucas elites” (Gaglioni, 2022).
12 Ver em: https://futureoflife.org.
42 INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E EDUCAÇÃO
Inteligência artificial e educação-miolo.indb 42 24/11/2023 13:29
decisões não devem ser delegadas a líderes tecnológicos não
eleitos13 (Pause [...], 2023, tradução nossa).
Ao mesmo tempo em que pontos trazidos na carta indicada anterior-
mente são importantes para fomentar o debate na sociedade sobre as
questões éticas que envolvem o desenvolvimento de quaisquer tecnolo-
gias e nesse caso a IA, devemos também analisar quais os reais interesses
dos signatários da carta. Por exemplo, logo depois de assinar a carta, Elon
Musk divulga que está desenvolvendo uma IA14, sinalizando um com-
portamento contraditório com o indicado na carta aberta que também
foi assinada por esse empresário. Portanto, as perspectivas apocalípticas
devem ser contextualizadas e analisadas, a fim de identificar o que sus-
tenta tal discurso.
Em contraponto aos apocalípticos, estão os integrados que iniciaram
freneticamente conversas com ChatGPT, humanizando-o, tentando veri-
ficar como tal tecnologia pode ser utilizada para distintos fins, sem pensar
nas questões que estão por traz da produção de tecnologias como a IA e
todo o processo de dataficação que está presente no modelo de negócio
das big techs na sociedade contemporânea.
Mas existe uma terceira forma de ver e atuar frente ao contexto exposto,
isto é, nem apocalípticos e nem integrados, como dizia Eco (1993), mas
adotar um papel crítico frente ao fenômeno no qual estamos imersos.
O olhar crítico é construído sem se fechar para o novo, mas investigá-lo
e explorá-lo para identificar os seus limites e possibilidades, atribuindo
sentidos e posicionando-se de forma crítica para propor formas de uso
e apropriações que considerem os aspectos éticos, ideológicos, políticos,
13 “Contemporary AI systems are now becoming human-competitive at general tasks, [...] and we
must ask ourselves: Should we let machines flood our information channels with propaganda
and untruth? Should we automate away all the jobs, including the fulfilling ones? Should we
develop nonhuman minds that might eventually outnumber, outsmart, obsolete and replace
us? Should we risk loss of control of our civilization? Such decisions must not be delegated to
unelected tech leaders”.
14 Ver em: https://startupi.com.br/elon-musk-pode-criar-startup-de-ia/.
NOTAS INICIAIS SOBRE INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E EDUCAÇÃO 43
Inteligência artificial e educação-miolo.indb 43 24/11/2023 13:29
econômicos, educacionais, culturais, entre outros que essa tecnologia traz
para o contexto social.
Tal análise irá subsidiar posturas que exijam transparência para com-
preender como os algoritmos presentes na IA atuam diminuindo e, quando
possível, eliminando os vieses que reforçam comportamentos xenofóbicos,
racistas, machistas, entre outros.
Partindo dessa última perspectiva, devemos interagir com o ChatGPT
nos cenários acadêmicos e escolares, criando um espaço para saber o que
pedir, como pedir, analisar o texto que recebemos identificando a coerência,
veracidade e fonte das informações, o contexto no qual foi produzido e a
consistência dos dados. Para isso, o estudante e o professor/pesquisador
precisarão desenvolver o seu pensamento crítico, o letramento e a sua
capacidade e habilidade de solucionar problemas, pois as produções do
ChatGPT podem apresentar vieses algorítmicos, falta de transparência
em relação às decisões tomadas pela IA, que pode inclusive “alucinar”.
O termo “alucinação” vem sendo utilizado pelos cientistas da compu-
tação para se referir às falhas que as IAs podem apresentar, por exemplo
[...] quando o sistema dá uma resposta que não corresponde à
realidade e podem ser causadas por diferentes fatores, como
erros na programação do modelo, dados de treinamento
incorretos ou incompletos, ou limitações nos algoritmos de
aprendizado usados (Beiguelman, 2023, p. 3).
Para a autora, a alucinação, a exemplo da humanização das máquinas,
pode se constituir em uma das maiores armadilhas da IA para a crítica
(Beiguelman, 2023).
Outro ponto importante que não pode ser preterido refere-se às ques-
tões de privacidade e proteção dos dados dos usuários, criando estratégias
para que os estudantes e professores tenham a confidencialidade dos seus
dados garantida e a clareza de como são coletados, obtendo também o
direito e a liberdade de permitir ou não o acesso a eles.
Após o ChatGPT ter sido banido da Itália em 31 de março de 2023,
por violar o Regulamento Geral de Proteção de Dados (RGPD) da União
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Inteligência artificial e educação-miolo.indb 44 24/11/2023 13:29
Europeia, a OpenAI em 28 de abril de 2023 retoma o serviço no país, com
novas implementações no sistema de divulgações e controles de privaci-
dade que foram divulgadas no site da empresa.
As mudanças estão detalhadas a seguir:
• [Publicação no site da empresa de informações] destinada a todos os
utilizadores da Europa e do resto do mundo, para ilustrar que dados
pessoais e com que métodos são tratados para a formação de algo-
ritmos e para relembrar que qualquer pessoa tem direito de opor-se a
tal processamento;
• expandiu a informação sobre o tratamento de dados reservados aos
utilizadores do serviço, tornando-a também acessível na máscara de
registo antes do registo do utilizador no serviço;
• reconhecido a todas as pessoas residentes na Europa, incluindo não
utilizadores, o direito de se oporem ao tratamento dos seus dados pes-
soais para a formação de algoritmos, inclusive através de um formu-
lário especial de preenchimento online e de fácil acesso;
• previu a possibilidade dos interessados terem as informações consi-
deradas incorretas declarando-se, no momento, tecnicamente inca-
pazes de corrigir os erros;
• clarificou, na informação reservada aos utilizadores, que embora con-
tinue a tratar determinados dados pessoais para garantir o correto
funcionamento do serviço com base no contrato, tratará os seus dados
pessoais para efeitos de formação dos algoritmos, salvo se exerçam o
direito de oposição, com base no interesse legítimo;
• já implementou nos últimos dias um formulário para usuários que
permite a todos os usuários europeus exercer o direito de se opor ao
processamento de seus dados pessoais e, assim, poder excluir con-
versas e o histórico relacionado do treinamento de seus algoritmos;
• adicionou um botão na tela de boas-vindas reservada aos usuários
italianos já registrados no serviço, através do qual, para acessar nova-
mente o serviço, eles devem declarar que são maiores de idade ou
treze anos e, neste caso, que têm dos pais consentimento;
NOTAS INICIAIS SOBRE INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E EDUCAÇÃO 45
Inteligência artificial e educação-miolo.indb 45 24/11/2023 13:29
• inseriu a solicitação da data de nascimento na máscara de registro
do serviço, bloqueando o registro de usuários menores de treze
anos e prevendo, na hipótese de usuários maiores de treze anos, mas
menores, que eles devem confirmar que têm consentimento dos pais
para usar o serviço (Butcher, 2023).
Os procedimentos indicados anteriormente sinalizam que a empresa
deu um retorno para sociedade em relação às críticas e acusações que
recebeu por violar o direito dos usuários de terem seus dados protegidos.
Assim, usuários de distintas áreas devem estar atentos para denunciar
todas as vezes que se sentirem invadidos e com seus direitos violados,
contribuindo para fortalecer as ações de regulamentação das plataformas
e tecnologias.
ENTRE MITOS E VERDADES: CONSTRUINDO TRILHAS PEDAGÓGICAS
O objetivo deste capítulo é situar o leitor, especialmente aqueles da área de
educação, de que as tecnologias digitais estão presentes na sociedade de
distintas formas e que o surgimento de uma nova tecnologia não implica
em uma lógica de exclusão. O ChatGPT não vai excluir a escrita, nem a
nossa capacidade de pensar, tomar decisões, solucionar problemas, mas
podemos criar diferentes maneiras de apropriações e usos para interagir
com esse artefato e construir novas trilhas para aprender.
Contudo, não devemos simplesmente tornar o ChatGPT nosso único
caminho de produção de conhecimento, de acesso a novas informações,
de fonte de pesquisas etc., acreditando que as informações trazidas por
essa tecnologia são verdades inquestionáveis e que não têm por traz ques-
tões ideológicas que precisam ser analisadas e discutidas – ou ainda que
podem ser equivocadas.
Por exemplo, por que os conhecimentos do Sul Global são sempre
preteridos nas indicações e referências? Em qual contexto foi produzida
a informação que o ChatGPT nos apresenta? Quais os vieses que estão
implícitos e às vezes explícitos nos textos apresentados? Como estão sendo
46 INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E EDUCAÇÃO
Inteligência artificial e educação-miolo.indb 46 24/11/2023 13:29
coletados os nossos dados ao interagirem com esse ambiente e como serão
usados? Qual o modelo de negócio das empresas que estão por traz das
tecnologias de IA? Quem terá acesso e como? Como são tratadas questões
éticas, étnicas, de identidade de gênero, xenofóbicas, entre outras, ao ali-
mentar e treinar os bancos de dados dessas tecnologias?
Muitas perguntas sem respostas, mas que precisam ser discutidas nos
distintos espaços escolares e acadêmicos a fim de que possamos garantir
uma interação crítica.
Considerando que a tecnologia indicada pode se constituir em mais
um assistente virtual para os autores e atores do processo ensino-aprendi-
zagem, os professores podem atuar como curadores dos conteúdos produ-
zidos, verificando e contextualizando o texto que é entregue pelo ChatGPT.
Para tanto, é preciso conhecer o tema, de forma a identificar os diferentes
vieses presentes na produção apresentada e denunciar quando for o caso,
além de dar feedbacks para que a máquina aprenda e evolua, a partir do
diálogo com o melhor do ser humano e não o seu lado mais sombrio15.
Diante desse cenário, cabe aos educadores fomentarem constante-
mente o diálogo de discussão não apenas sobre a IA, mas especialmente
sobre o processo de dataficação que a sociedade vem vivendo ao longo
dos últimos 20 anos.
Fortalecer as políticas e ações que estão em andamento para que
regulem essas plataformas16 e a IA17 é prática emergente e prioritária, assim
15 Refiro-me à experiência realizada com o bot Tay da Microsoft, em 2016. Ver em: MÜLLER, L.
Tay: Twitter conseguiu corromper a IA da Microsoft em menos de 24 horas. Tecmundo, [s. l.], 26
mar. 2016. Disponível em: https://www.tecmundo.com.br/inteligencia-artificial/102782-tay-
-twitter-conseguiu-corromper-ia-microsoft-24-horas.htm. Acesso em: 8 maio 2023.
16 Projeto de Lei nº 2630/2020, inicialmente conhecido como PL das Fake News, será votado
no dia 2 de maio de 2023, apesar de muitas críticas da sociedade civil. Ver em: https://www.
camara.leg.br/propostas-legislativas/2256735.
Regulação das plataformas digitais no Brasil – posicionamento das organizações da sociedade
civil reunidas na Sala de Articulação contra a Desinformação – SAD. Documento lançado em
25 de abr. 2023. Ver em: https://www.abrasco.org.br/site/wp-content/uploads/2023/04/SAD-
-Regulacao-das-plataformas-digitais-no-Brasil.pdf. Consulta pública disponível em: https://
dialogos.cgi.br/documentos/debate/consulta-plataformas/.
17 Em andamento no Brasil, o Projeto de Lei (PL) nº 2338/23, de 3 de maio de 2023, que substitui o
PL nº 21/2020, de 4 de março de 2020, que “cria regras para sistemas de IA disponibilizados no
Brasil, estabelecendo os direitos das pessoas afetadas por seu funcionamento, define critérios
NOTAS INICIAIS SOBRE INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E EDUCAÇÃO 47
Inteligência artificial e educação-miolo.indb 47 24/11/2023 13:29
como processos continuados de formação de professores para desenvolver
uma atuação mais crítica e consciente frente ao “admirável mundo novo”.
Enfim, nem apocalípticos e nem integrados, devemos, como já dizia
Babin & Kouloumdjian (1989) no final dos anos 1980, frente ao novo:
“imergir, distanciar e apropriar”. Convido a todos a seguirem o conselho
desses autores.
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para o uso desses sistemas pelo poder público, prevendo punições para violações à lei. Também
estabelece que um órgão atuará na fiscalização e regulamentação do setor” (Drullis, 2023).
Em 23 de novembro de 2021, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência
e a Cultura (Unesco) publicou Recomendação sobre a ética da IA. Ver em: https://unesdoc.
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50 INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E EDUCAÇÃO
Inteligência artificial e educação-miolo.indb 50 24/11/2023 13:29
CAPÍTULO 3
UM MOSAICO DE IDEIAS SOBRE A
INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL GENERATIVA
NO CONTEXTO DA EDUCAÇÃO
ENIEL DO ESPÍRITO SANTO
FLÁVIA GOULART MOTA GARCIA ROSA
CAMILA BEZERRA DA SILVA
MIGUEL ANGEL GARCIA BORDAS
PALAVRAS INICIAIS
A Inteligência Artificial (IA) tem sorrateiramente se integrado ao dia a dia
da humanidade, especialmente a partir de meados do século XX. Roti-
neiramente deparamo-nos com sistemas inteligentes, desde ao entrar em
contato com o menu eletrônico de um call center até nas tarefas mais sim-
ples do cotidiano, tais como escrever uma mensagem por e-mail ou em
aplicativos de trocas de mensagens que, dependendo das configurações
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Inteligência artificial e educação-miolo.indb 51 24/11/2023 13:29
predefinidas da interface digital, fornecerão possibilidades de palavras
para completar a frase em elaboração.
Ademais, temos as interações com os aplicativos baseados na nave-
gação por Global Positioning System (GPS), que auxiliam os motoristas
em tempo real nas suas rotas, além das recomendações personalizadas
das plataformas de streaming com que interagimos. Certamente, “a inte-
ligência artificial faz parte da nossa vida humana” (Kaufman, 2022, p. 25).
No campo da educação, sistemas inteligentes têm sido utilizados
pelas plataformas de Learning Management System (LSM) para moni-
torar os dados de acesso e interação dos estudantes no Ambiente Virtual
de Aprendizagem (AVA), fornecendo subsídios para professores e tutores
na identificação e, sobretudo, pronta ajuda àqueles com dificuldades de
aprendizagem e prestes a evadir. Deveras, isso exemplifica como sistemas
inteligentes podem auxiliar humanos na resolução de problemas.
Nesse cenário disruptivo, o Relatório da Comissão Internacional sobre
os Futuros da Educação, publicado pela Organização das Nações Unidas
para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), adverte-nos que, embora
a transformação digital tenha aberto caminhos novos e promissores para
a educação, “a tecnologia fornece novas alavancas de poder e controle que
podem tanto reprimir como emancipar”, razão pela qual precisamos ficar
“[...] atentos para garantir que as transformações tecnológicas em curso nos
ajudem a prosperar e não ameacem o futuro das diversas formas de conhe-
cimento ou da liberdade intelectual e criativa” (Unesco, 2022, p. 7). Nesse
sentido, urge atenção redobrada aos maus usos da IA, especialmente no
tocante à vigilância, à persuasão e ao controle, no dizer de Russel (2021).
Não obstante os avanços expressivos da IA observados nos últimos
anos, a comunidade acadêmica internacional foi surpreendida pelo sur-
gimento de interfaces que, baseadas na Inteligência Artificial Generativa
(IAG), apresentam respostas a perguntas específicas em textos prontos,
com semântica aceitável e próximo de um linguajar dito humano. Tais
interfaces, com respostas geradas em questões de segundos, possuem uma
curadoria das milhares de informações disponibilizadas em rede. Contudo,
por se tratar de modelos probabilísticos estatísticos, com grau de incerteza
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Inteligência artificial e educação-miolo.indb 52 24/11/2023 13:29
intrínseco, podem apresentar conceitos equivocados, nomeados de alu-
cinações. Assim, “[...] o mais prudente é que seus usuários não confiem
plenamente nos seus resultados [...]” (Kaufman, 2022, p. 42).
Nesse contexto, tendo-se como fio condutor a IAG, este capítulo busca
trazer reflexões sobre as suas implicações no campo da educação, com
uma tessitura que considere o funcionamento da IA, suas crises éticas e
algumas sugestões das potencialidades didático-pedagógicas que emergem
de seu uso. Visto tratar-se de um recente fenômeno em andamento, não
temos a pretensão de aprofundá-lo na sua inteireza, razão pela qual reco-
nhecemos o nosso inacabamento diante da temática; todavia, ansiamos
promover o questionamento por meio de um diálogo crítico e reflexivo
em face da emergente IAG.
Este texto foi desenvolvido em três tópicos: o primeiro com a abor-
dagem mais tecnológica da IAG; em seguida tratou-se das questões éticas,
sobretudo no âmbito acadêmico; e o último tópico do desenvolvimento
com a exposição das aplicações no campo da educação. Além disso, há a
introdução que apresenta as ideias gerais e a finalização intitulada “Pala-
vras reflexivas”, em função da dinâmica dessa temática que a cada dia
aparecem novas contribuições.
A INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL GENERATIVA
Nos últimos tempos, têm surgido diversas aplicações que fazem uso de IA,
levando muitos especialistas a acreditarem que essa é a próxima fron-
teira da tecnologia, pois possui potencial para transformar a sociedade
em que vivemos.
A IA é uma área da Ciência da Computação que busca desenvolver
algoritmos capazes de simular a capacidade humana de raciocínio e
aprendizado. Nos dias atuais, é utilizada em diversas áreas – a exemplo da
saúde, educação e finanças – e tem, segundo Gruetzemacher e Whittlestone
(2022), potencial de transformar a forma como vivemos e trabalhamos.
No entanto, também levanta questões éticas e sociais importantes, que
precisam ser consideradas.
UM MOSAICO DE IDEIAS SOBRE A INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL GENERATIVA... 53
Inteligência artificial e educação-miolo.indb 53 24/11/2023 13:29
Na área da IA, surgiu na década de 1950 uma rede neural simples cha-
mada Perceptron, que apenas conseguia solucionar problemas linearmente
separáveis. Nos dias atuais, há as Redes Adversárias Generativas (GANs)
que são capazes de gerar imagens realistas e de criar vozes sintéticas de
alta qualidade.
Anteriormente, a IA, especialmente a área de aprendizagem de máquina,
se preocupava com trabalhos de classificação e regressão. Tais trabalhos
faziam uso de uma base com dados históricos, em que os dados de trei-
namento do modelo de aprendizagem eram rotulados, sendo capazes
de distinguir entre duas imagens, por exemplo de um gato e de um cão.
As GANs fazem parte da IAG que, segundo Aggarwal, Mittal e Battineni
(2021), se trata de uma área da IA que tem como objetivo criar softwares
capazes de gerar conteúdo original, como textos, imagens e música. Esses
softwares são dotados de algoritmos de aprendizado de máquina, especial-
mente redes neurais, para aprender a partir de grandes volumes de dados
e produzir novos conteúdos com base nessa aprendizagem. Porém, gerarão
novos dados, semelhantes aos dados utilizados para aprendizagem, mas
que podem ser únicos e originais. Esse processo de geração de conteúdo
consiste na etapa de extrair informações das instruções humanas e gerar
conteúdo de acordo com as intenções extraídas.
As GANs são um tipo de rede neural artificial composta de duas redes
que trabalham em conjunto para gerar dados (Aggarwal; Mittal; Battineni,
2021). Na GAN, existe a rede geradora e a rede discriminadora, em que a
primeira é responsável por criar novos dados sintéticos, e a segunda é res-
ponsável por tentar distinguir entre os dados reais e os dados sintéticos.
A ideia é que a rede geradora produza cada vez mais dados realísticos e
que a rede discriminadora não consiga distinguir entre os dados reais e
os sintéticos (Aggarwal; Mittal; Battineni, 2021).
As aplicações das GANs essencialmente são para geração de imagens,
texto e som. Elas podem gerar imagens realistas de rostos e paisagens,
assim como gerar textos únicos de artigos de notícias, postagens e contos.
As possibilidades de criação são praticamente ilimitadas. Podemos criar
textos, imagens e sons completamente novos. Por exemplo, criar uma
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Inteligência artificial e educação-miolo.indb 54 24/11/2023 13:29
imagem de um gato estilo Van Gogh ou uma música nova a partir de
notas preexistentes. E não somente para uso artístico, podemos aplicar
à saúde para identificar padrões em exames médicos, no diagnóstico de
doenças (Lund et al., 2023).
Um software de IAG é Dall-E criado pela OpenAI que é capaz de gerar
imagens a partir de descrições textuais dadas pelo usuário. Midjourney é
semelhante ao Dall-E, capaz de gerar imagens a partir de descrições textuais,
porém é acessada através do software Discord. Já o Copilot é um plugin
desenvolvido pela GitHub para sugerir código de programação enquanto
o desenvolvedor codifica. A Figura 1 apresenta uma imagem de um gato
tocando guitarra no estilo de Pablo Picasso gerada pelo Midjourney.
Na atualidade o software mais popular de IAG é o ChatGPT, espe-
cializado em diálogo, lançado em novembro de 2022 pela OpenAI, uma
instituição sem fins lucrativos focada em pesquisa em IA.
Figura 1 – Imagem gerada pelo Midjourney
Fonte: MidJouney (2023).
ChatGPT
ChatGPT se tornou muito popular desde seu lançamento em novembro
de 2022, evidenciando o avanço da IA, além de levantar questões sobre
UM MOSAICO DE IDEIAS SOBRE A INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL GENERATIVA... 55
Inteligência artificial e educação-miolo.indb 55 24/11/2023 13:29
possíveis riscos que essa tecnologia pode trazer para a sociedade (Lund
et al., 2023). Foi através do ChatGPT, criado pela OpenAI, que a maioria
das pessoas no cenário internacional e nacional teve seu primeiro con-
tato com a IAG.
Basicamente, trata-se de um chatbot projetado para simular conversação
humana, sendo possível gerar textos a partir de uma solicitação textual
do usuário, capaz inclusive de conversas informais. O ChatGPT responde
tanto questões simples como questões complexas, de uma maneira seme-
lhante a um ser humano (Introducing [...], 2022).
Ele tem diversas aplicações na sociedade. Ele pode ser utilizado como
assistente virtual, uma vez que pode ajudar o usuário a navegar por um
site, fornecendo informações sobre produtos e serviços e oferecendo
suporte ao cliente; auxiliar na criação de conteúdo, como escrever artigos
e postagens em redes sociais; pode ser usado como tutor virtual de ensino,
oferecendo suporte e explicando conceitos nas mais diversas áreas; criar
roteiros e histórias; dar assistência em pesquisas acadêmicas; servir como
assistente pessoal, auxiliando os usuários em suas atividades diárias;
traduzir textos; e até mesmo apoio emocional.
A diferença entre o ChatGPT e um chatbot tradicional é que o ChatGPT
tem uma capacidade de entendimento de linguagem natural superior a
uma chatbot tradicional, além de ser capaz de dar respostas precisas, de
forma eficiente.
ChatGPT é um modelo de linguagem que utiliza redes neurais tanto
de aprendizagem supervisionada como por reforço. Além disso, é treinado
a partir de grandes bases de dados constituídas, por exemplo, de textos
da internet, artigos e redes sociais, com o objetivo de aprender relações
entre as frases (Introducing [...], 2022).
Possui uma arquitetura Generative Pre-trained Transformer (GPT),
que é uma arquitetura de rede neural criada pela OpenAI, usada para
treinar modelos de linguagem natural. Segundo Zhu e Luo (2022), uti-
liza uma técnica de aprendizado de máquina chamada “pré-treinamento”
para aprender linguagem natural. A base de dados da versão 3.5 contém
informações até o ano de 2021.
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Inteligência artificial e educação-miolo.indb 56 24/11/2023 13:29
O GPT também utiliza uma técnica chamada Transformer, intro-
duzida em 2017, baseada em uma abordagem totalmente diferente dos
modelos tradicionais de redes neurais. Segundo Mittal (2021), Trans-
former usa uma técnica chamada “atenção” para processar as informações
de entrada, a qual permite que um modelo se concentre em diferentes
partes da entrada em distintos graus, fazendo com que o modelo dê mais
importância às partes mais relevantes. Isso permite ao modelo processar
sequências de texto de forma mais eficiente do que outras arquiteturas
de rede neural.
Perspectivas, desafios e limitações
A IAG tem o potencial de transformar o mundo, impactar muitas áreas
e consequentemente gerar novas oportunidades e soluções inovadoras
(Jovanović; Campbell, 2022), mas isso vem acompanhado de desafios e
limitações. Tudo indica que ela continuará evoluindo em termos de pro-
duzir conteúdo original, como textos e vídeos, e melhorará sua capaci-
dade de entendimento da linguagem natural, tornando-se mais eficiente
e precisa no conteúdo produzido.
Segundo De e demais autores (2022), a IAG também deve se integrar
com outras tecnologias, como a Internet das Coisas (IoT), para permitir
a geração de conteúdo de forma autônoma e em tempo real. E à medida
que a IAG evolui, pode haver uma mudança na forma como as pessoas
interagem com sistemas computacionais, permitindo uma relação per-
sonalizada com o usuário, além de adaptada a cada usuário (Jovanović;
Campbell, 2022). Porém, é preciso estar atento a questões éticas e de segu-
rança à medida que a IAG evolui. É preciso saber o alcance dos impactos
sociais e políticos que a IAG reserva para sociedade e analisar medidas para
garantir a segurança da sociedade de possíveis consequências adversas
(Andrade; Mendonça; Filgueiras, 2023).
Um dos desafios é ter dados de treinamento insuficientes, já que a IAG
requer grandes conjuntos de dados para produzir resultados confiáveis.
A falta de dados ou dados de baixa qualidade podem afetar a qualidade
UM MOSAICO DE IDEIAS SOBRE A INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL GENERATIVA... 57
Inteligência artificial e educação-miolo.indb 57 24/11/2023 13:29
dos resultados. Outro desafio é viés nos dados de treinamento: a IAG pode
reproduzir viés humano a partir dos dados de treinamento, produzindo
resultados tendenciosos ou injustos, o que fere questões éticas. Também
existe limitação técnica como tempo de treinamento, complexidade de
modelo e capacidade computacional necessária.
Outra questão é que as respostas fornecidas pelo ChatGPT nem sempre
estão corretas. Quando isso acontece, pode ser o caso de uma alucinação.
Por exemplo, ao perguntar quais foram os brasileiros que ganharam o
Prêmio Nobel, ele retorna uma lista com quatro pessoas, como mostra a
Figura 2. Porém, nunca um brasileiro ganhou um Prêmio Nobel.
Figura 2 – Exemplo de alucinação do ChatGPT
Fonte: ChatGPT (2023).
Outro caso ocorreu nos Estados Unidos, com dois advogados que
usaram o ChatGPT para auxiliar na argumentação no recurso de um
cliente. Eles buscaram por casos semelhantes para ajudar na sustentação
de sua tese. O ChatGPT retornou vários casos, porém os casos foram
inventados. Os advogados foram punidos (Deu ruim, 2023).
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Inteligência artificial e educação-miolo.indb 58 24/11/2023 13:29
O perigo está em o usuário não saber quando a resposta do ChatGPT
está certa ou errada, a menos que ele já saiba a resposta.
Um fator preocupante dessas tecnologias é a falta de transparência.
O conjunto de treinamento, as imagens e os algoritmos não estão dispo-
níveis publicamente. Para promover a segurança e a confiança no uso de
sistema dotados de IA, explicabilidade, interpretabilidade e inteligibilidade
são conceitos de suma importância (Andrade; Mendonça; Filgueiras, 2023).
Diante do exposto, a IAG apresenta muitos benefícios, porém há neces-
sidade de estudos e pesquisas sobre os riscos que ela pode representar
para a sociedade e sobretudo em relação às questões éticas.
INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E ÉTICA
Desde os primórdios da comunicação científica, nos arredores de Atenas,
o filósofo grego Aristóteles, discípulo de Platão, através de seus estudos
filosóficos, desenvolveu conceitos fundamentais da ética, lógica, política,
dentre outros, os quais são utilizados ainda hoje. “Ética” origina-se do grego
éthos e, na definição de Merton (2013, p. 183), o éthos da ciência é um:
[...] complexo afetivamente modulado de valores e normas que
se considera serem obrigatórios [...] são seguidos não somente
porque são predominantemente eficientes, mas porque se
acredita que eles são corretos e bons. Eles são prescrições
morais tanto quanto técnicas.
A ética está vinculada a princípios morais, sendo cada um respon-
sável pelos seus atos, ou seja, é o que denominamos de responsabilidade.
O breve enfoque deste tópico envolve os aspectos éticos, questões
que na atualidade englobam a conexão do mundo em rede e a IA, cujos
algoritmos como agentes “[...] são capazes de realizar ações e tomar deci-
sões com consequências éticas, mas não são capazes de um pensamento
moral [...]” (Kaufman, 2022, p. 74). Desse modo, diferentemente dos seres
humanos, os algoritmos não têm como assumir a responsabilidade pelos
UM MOSAICO DE IDEIAS SOBRE A INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL GENERATIVA... 59
Inteligência artificial e educação-miolo.indb 59 24/11/2023 13:29
seus atos. “A ética é objeto da ação humana, as tecnologias não têm obje-
tivos próprios nem autonomia” (Kaufman, 2022, p. 90).
A complexidade dos modelos de IA – estes modelos que agregam
contribuições de diversos desenvolvedores e base de dados de diferentes
fontes –, sua abrangência e presença na vida dos cidadãos dificultam cada
vez mais a compreensão por uma grande maioria de usuários, devido
às limitações tecnológicas destes que são moldados, conduzidos, sele-
cionados e observados. No entanto, a sociedade não pode permanecer
como mera espectadora do desenvolvimento tecnológico que repercute
diretamente na vida de cada um, tanto para o “bem” como para o “mal”.
Reduzir essa lacuna entre usuários e modelos de IA é algo que tem no
respeito humano o seu princípio básico e na transparência quanto aos
propósitos de uso e aplicação.
O sistema de IA tem mobilizado grupos, em diferentes países, que
se preocupam com o fato deste apresentar “[...] discriminação sistémica
contra certos indivíduos ou grupos de indivíduos com base em certos
traços ou características [...]” (Kaufman, 2022, p. 102). Esses traços com-
preendem o gênero, a etnia e a raça, considerados “atributos sensíveis”.
Assim, os algoritmos da IA interferem cada vez mais na vida pessoal
do cidadão e, por não serem atributos morais, recaem em soluções de
seleção preconceituosas, misóginas, passíveis de erros irreparáveis.
Essas questões fazem parte do cotidiano através de “Recomendação de
conteúdo nas timelines de mídias sociais, segurança digital, biometria,
processamento de linguagem natural e reconhecimento facial [...]” (Silva,
2019-2020, p. 441).
De acordo com Kaufman (2022), resultados tendenciosos tanto podem
ser oriundos de erros na rotulagem da base de dados, etapa posterior ao
aprendizado supervisionado, quanto no momento da geração de dados.
Pode-se ainda atribuir tal ocorrência à prevalência masculina nas equipes
desenvolvedoras de IA, formada por uma maioria de cientistas e enge-
nheiros do sexo masculino, brancos, de países ocidentais e preconcei-
tuosos. Ocorre, ainda, ameaças a usuários, como o relato de Lemos (2023):
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“Modelos demonstraram comportamentos que lembram transtornos
mentais como psicose, neurose, bipolaridade e narcisismo”.
Pelo fato de a IA não dispor de uma ética própria, é necessário que
instituições, organismos internacionais, comissões discutam, sugiram e
elaborem “[...] um conjunto de melhores práticas que possa ser replicada
em uma ampla variedade de configurações” (Kremer, 2022, p. 90). Tarefa
nada fácil em função da complexidade dos sistemas. Há iniciativas con-
cretas como o guia Ethics Guidelines for Trustworthy AI (2019), proposto
pela Comissão Europeia. Há uma outra iniciativa feita pela Universidade
de Direito de Harvard através do Berkman Klein Center for Internet &
Society, a qual indica que “[...] [está] próximo de enfrentar o hiato entre os
princípios éticos gerais e um arcabouço ético aplicado ao desenvolvimento
de tecnologias de inteligência artificial” (Kremer, 2022, p. 92). Sobre essa
iniciativa, há um documento disponível, publicado em outubro de 2019,
que se intitula Ethics and Governance of AI at Berkman Klein: Report on
Impact, 2017-2019.
Por fim, no que diz respeito à produção de textos acadêmicos e cien-
tíficos, várias questões suscitam preocupações que envolvem, além das
questões éticas, o direito autoral e o plágio, sendo a falta de transparência
a questão mais grave, já que o funcionamento interno de suas IAs de con-
versação pode ser ocultado, indo de encontro inclusive à Ciência Aberta
na questão da tão almejada transparência (Dis et al., 2023).
Embora o impacto da tecnologia e da IA no cotidiano dos cidadãos
seja gigantesco, ainda nos deparamos apenas com relatórios e docu-
mentos que tratam de princípios generalistas sem aprofundarem em
discussões sobre boas práticas e integridade, sobretudo nas pesquisas,
além de não tratarem da transparência a qual garante a credibilidade
crédito de fontes utilizadas, como já ocorre com o Perplexity. E mais
ainda, não há o aprofundamento necessário em relação à preservação
da equidade da pesquisa e dos seres humanos, levando à permanência
do viés do preconceito. Sem todos esses aspectos, é impossível falar em
avanço tecnológico ético.
UM MOSAICO DE IDEIAS SOBRE A INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL GENERATIVA... 61
Inteligência artificial e educação-miolo.indb 61 24/11/2023 13:29
POTENCIALIDADES DIDÁTICO-PEDAGÓGICAS DA INTELIGÊNCIA
ARTIFICIAL GENERATIVA
O campo da educação foi surpreendido com a recente popularização
dos chatbots, sistemas baseados na IAG, não humana, capazes de simular
conversas com outras pessoas, produzindo “[...] textos às vezes tão bem
ou melhor que muitas/os de nós”, afirmam Pimentel e Carvalho (2023).
O ChatGPT, por exemplo, possui uma interface de fácil interação que
permite aos usuários perguntarem sobre qualquer coisa, com respostas
fornecidas de forma natural e compreensível graças ao seu algoritmo, que
se baseia em uma análise estatística com milhares de textos disponíveis na
internet (Sabzalieva; Valentini, 2023). Diferentemente dos buscadores de
internet existentes, outras interfaces de IAG, tais como o Perplexity, geram
até mesmo textos com as referências bibliográficas dos assuntos pesquisados.
Deveras, tais novos atores tecnológicos não humanos têm causado
tamanho rebuliço que, no início de 2023, o ChatGPT foi banido em todos
os dispositivos das escolas da rede pública da cidade de Nova York. De
acordo com o Departamento de Educação, tal determinação visava evitar
que os estudantes o utilizassem na resolução das atividades escolares, uma
vez que não havia o desenvolvimento das habilidades cruciais relacio-
nadas ao pensamento crítico e à resolução de problemas (Barbosa, 2023).
Alguns colégios e universidades em todo o mundo têm seguido o mesmo
caminho, como aponta Vázquez (2023).
Compreendemos que banir a utilização das IAGs nas escolas e uni-
versidades seja pouco produtivo, pois estudantes podem acessá-las de
qualquer outro lugar e estas, cada vez mais, fazem parte do seu dia a dia.
Assim como ocorreu com tecnologias anteriores, torna-se necessário refletir
criticamente sobre seu uso no processo de ensino e aprendizagem. Nesse
sentido, a educação com vistas à formação de cidadãos críticos necessita
ajudá-los a refletirem frente à opressão que lhes aflige a qual, nesse caso,
amiúde imposta pelos interesses das poderosas big techs, em que os “[...]
mais fracos acabam aceitando como verdadeiro aquilo que lhes é imposto
pelos mais fortes – coisa que geralmente é benéfica para os poderosos,
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mas prejudicial para os vulneráveis”, já nos advertia há muito o saudoso
filósofo Maduro (1994, p. 113).
No bojo das discussões sobre as aplicações da IAG no contexto da edu-
cação, apresentamos no Quadro 1 algumas de suas possíveis aplicações,
publicadas pela Unesco e com a curadoria de Sabzalieva e Valentini (2023).
Quadro 1 – Possíveis aplicações do ChatGPT na educação
Função Descrição Exemplo de aplicação
Gerador de IA gera formas alternativas Os alunos podem escrever consultas no ChatGPT e utilizar a
possibilidades de expressar uma ideia. função Regenerate response para examinar respostas alternativas.
IA atua como oponente no Os alunos introduzem as mensagens no ChatGPT, seguindo a
Oponente
desenvolvimento de ideias e estrutura de uma conversa ou debate. Os professores solicitam
socrático
argumentos. que utilizem o ChatGPT para se prepararem para os debates.
IA ajuda os grupos a Trabalhando em grupos, os alunos utilizam o ChatGPT para obter
Coach
investigarem e a resolverem informações para realizar tarefas e trabalhos.
colaborador
problemas em conjunto.
Os professores utilizam o ChatGPT para criar conteúdos
IA funciona como um guia
Guia para aulas/cursos (por exemplo, questões para debate) e
para navegar em espaços
complementar recomendações sobre como apoiar os alunos na aprendizagem
físicos e conceituais
de conceitos específicos.
IA acompanha cada aluno, ChatGPT pode fornecer feedback personalizado aos alunos, com
Tutor pessoal fornecendo-lhe devolutivas base em informações fornecidas pelos alunos ou professores
imediatas sobre seu progresso. (por exemplo, notas de exames).
Os professores podem pedir ao ChatGPT ideias sobre a
IA auxilia em todo o processo concepção ou atualização do currículo (por exemplo, rubricas
Codesigner
de concepção. para avaliação) e/ou centrar-se em objetivos específicos (por
exemplo, como tornar o currículo mais acessível).
Os professores podem fornecer informações básicas aos
IA fornece ferramentas para alunos que escrevem diferentes perguntas no ChatGPT para
Exploratorium
explorar e interpretar dados. aprenderem mais sobre o assunto. O ChatGPT pode ser utilizado
para apoiar a aprendizagem de línguas.
Os alunos podem explicar ao ChatGPT o seu nível atual
IA ajuda o aluno a refletir de compreensão e pedir apoio para estudar o material. O
Companheiro de
sobre o material de ChatGPT também pode ser utilizado para ajudar os alunos a se
estudos
aprendizagem. prepararem para outras tarefas (por exemplo, entrevistas de
emprego).
Os professores e os alunos podem pedir ao ChatGPT ideias
IA oferece jogos e
sobre como ampliar a aprendizagem, depois de fornecerem
Motivador desafios para melhorar a
um resumo do seu nível atual de conhecimentos (por exemplo,
aprendizagem.
questionários, exercícios).
Os alunos podem interagir com o ChatGPT, num diálogo do tipo
IA fornece aos educadores
Avaliador tutorial, pedindo logo em seguida ao ChatGPT que produza
um perfil dos conhecimentos
dinâmico um resumo do seu estado atual de conhecimento, a fim de
atuais de cada aluno.
partilharem com o professor para avaliação.
Fonte: Sabzalieva e Valentini (2023, p. 9, tradução nossa).
UM MOSAICO DE IDEIAS SOBRE A INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL GENERATIVA... 63
Inteligência artificial e educação-miolo.indb 63 24/11/2023 13:29
Ao inserir a IAG nas estratégias didático-pedagógicas, precisamos
atentar para as chamadas alucinações, ou respostas equivocadas, apre-
sentadas pela IA em textos semanticamente corretos. Nesse sentido,
Kaufman (2022, p. 46) aponta que os sistemas de IA ainda não são
capazes de “[...] emitir conclusões lógicas com base nas experiências do
cotidiano (supostamente como os seres humanos)”. Ademais, a autora
alerta-nos para o viés presente nos resultados dos sistemas de IA, “[...]
desde a geração dos dados até a escolha dos desenvolvedores, com forte
contribuição de base de dados tendenciosas” (Kaufman, 2022, p. 45).
Deveras, o trabalho didático-pedagógico não pode se furtar ao escru-
tínio reflexivo nos textos gerados pela IAG, sob o risco de aceitação e
propagação de suas frequentes alucinações, resultando em conceitos
equivocados que, além de não se coadunarem com o conhecimento
científico, podem apresentar ideias racistas e colonialistas. Isso con-
tribui para a desinformação (fake news) e impõe sérios prejuízos à for-
mação do estudante.
No entanto, mesmo considerando criticamente as alucinações da IAG,
não restam dúvidas que podemos utilizar a interface digital a nosso
favor, mantendo a tecnologia sob controle, no dizer de Russel (2021).
Por exemplo, para Sabzalieva e Valentini (2023), a IAG pode ser aliada no
processo de ensino e aprendizagem, realizando tarefas tanto simples como
técnicas (investigação básica, cálculos, testes), além das possibilidades
apresentadas no Quadro 1. Todavia, a análise crítica e reflexiva dos textos
gerados jamais pode ser relegada, pois tais IAGs “[...] são inteligentes de
um modo diferente do ser humano porque processam as informações de
maneira puramente racional-estatística, sem consciência, sem corpo
ou experiência de vida”, lembram-nos apropriadamente Pimentel e
Carvalho (2023).
Nesse sentido, não podemos ignorar que tais máquinas de IA não pos-
suem inteligência “[...] no sentido dado pelos seres humanos – ser capaz
de agir para atingir objetivos próprios –, pelo contrário, elas não têm
objetivos, são os seres humanos que imputam os objetivos dos sistemas
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Inteligência artificial e educação-miolo.indb 64 24/11/2023 13:29
inteligentes (são máquinas de otimização)”, assevera Kaufman (2022, p. 31).
Assim, como máquinas de otimização, os sistemas de IA têm apresentado
bons resultados como assistentes na execução de tarefas rotineiras, razão
pela qual consideramos equívoco bani-las do cotidiano escolar, visto que
tanto docentes como estudantes precisam apropriar-se das tecnologias
emergentes de forma reflexiva e emancipatória.
Indubitavelmente, considerando que “o avanço da IA em nossa vida
cotidiana já se tornou onipresente [...]” (Santaela, 2023, p. 40), tais relações
não humanas estarão cada vez mais presentes no campo da educação.
Coadunamos com Harari (2018, p. 328) ao afirmar que a tecnologia não
é algo essencialmente ruim, pois poderá ser fonte de ajuda, desde que
saibamos o que desejamos da vida, “[...] mas se você não sabe, será muito
fácil para a tecnologia moldar por vocês seus objetivos e assumir o con-
trole de sua vida”.
Ainda nesse contexto, talvez poderia ser interessante trazer a pers-
pectiva de Marc Auge (1994) em que apresenta a noção de lugar como
um conceito que nos pode fornecer um sentido, uma identidade e uma
história, os “não lugares” são espaços nos quais não estão simbolizadas a
identidade, nem a relação inscrita numa teleologia ou propósito humano.
Assim, as interfaces baseadas na IAG nos permitem oferecer respostas a
perguntas em contextos prontos de forma atemporal e sem compromisso
algum com um propósito ou preocupação localizada ou inscrita num
marco temporal ou espacial.
Portanto, não consideramos as tecnologias emergentes, tais como a
IAG, como panaceias para todos os males da educação, tampouco refu-
tamos suas potencialidades didático-pedagógicas. Reiteramos a necessi-
dade de sua utilização no processo de ensino e aprendizagem de forma
crítica, reflexiva, alinhada com uma intencionalidade pedagógica, com
vistas à promoção da aprendizagem e sobretudo como instrumento de
libertação contra a opressão, contribuindo para a formação de cidadãos
genuinamente emancipados.
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PALAVRAS REFLEXIVAS FINAIS
A crescente onipresença da IA na vida humana tem possibilitado apli-
cações imediatistas que desconsideram fatores regulatórios, estruturais,
socioeconômicos, éticos, entre outros. As interações humano-computador,
especialmente como parceiros na elaboração de discursos, necessitam de
urgente atenção tanto para os educadores quanto para a sociedade como
um todo, visto que todos são impactados pelos algoritmos.
No tocante à IAG, falta-lhe a sensibilidade ou porosidade temporal,
intrínseca ao ser humano, capaz de captar as urgências e emergências éticas
com que nos confrontamos. Visto tratar-se de um artefato não humano,
fruto de um complexo sistema de processamento de informações baseado
em redes neurais generativas, seus conteúdos carecem de historicidade
e reflexão, sendo incapazes de perceber as ausências e carências e de
recomendar aportes com possibilidades confiáveis. Amiúde, seus textos
apresentam alucinações com conceitos equivocados e cientificamente
incorretos, promovendo a desinformação, colonialismo do saber, racismo
epistêmico, entre outros males. Não restam dúvidas que as produções tex-
tuais geradas por meio da IAG necessitam de constante escrutínio refle-
xivo no contexto da educação.
Entretanto, compreendemos que as potencialidades e os males da IAG
não devem ser diabolizados, tampouco divinizados, sendo necessária a
reflexão crítica para sua inserção nas estratégias de ensino e aprendizagem,
sobretudo alinhando-a à intencionalidade, ao contexto pedagógico e às
circunstâncias locais dos educandos. Deveras, ensinar exige criticidade,
especialmente diante desse tempo altamente tecnologizado em que
vivemos, já nos lembrava Freire (1996).
A promoção de uma educação emancipatória fundamenta-se na
reflexão crítica e dialógica no processo de ensino e aprendizagem, com
vistas à libertação contra a opressão de toda sorte. Nesse sentido, as inter-
faces digitais de IAG podem fornecer contribuições significativas para a
formação de cidadãos emancipados, desde que resguardados os seus maus
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usos e direcionadas para as urgências que emergem de uma sociedade
envolta em uma cultura digital.
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UM MOSAICO DE IDEIAS SOBRE A INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL GENERATIVA... 69
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CAPÍTULO 4
A EXPOSIÇÃO AI.MAGINATION COMO UMA
AÇÃO STEAM E DE CURADORIA DE ARTE
COM INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL 1
PABLO GOBIRA
ANA LUIZA PEDROSA CAMILO
INTRODUÇÃO
O Laboratório de Poéticas Fronteiriças (LabFront) da Universidade do
Estado de Minas Gerais (UEMG), com registro no Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), é um grupo de pes-
quisa, desenvolvimento e inovação que se propõe a problematizar as/
nas fronteiras. O grupo busca consolidar uma área de pesquisa, produção
1 As reflexões presentes neste capítulo são frutos de projeto de pesquisa apoiado pelo CNPq,
pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig) e pela Pró-Reitoria
de Pesquisa e Pós-Graduação (PROPPG) da UEMG, aos quais agradecemos.
71
Inteligência artificial e educação-miolo.indb 71 24/11/2023 13:29
artística e teórica dos saberes, das linguagens artísticas, do conhecimento
científico e tecnológico. Em sua atuação curatorial, extensionista e de pro-
dução poética, cria possibilidades para os artistas exibirem as produções
decorrentes de suas pesquisas nesse campo de relações. O grupo também
proporciona aos estudantes de arte e de curadoria da Escola Guignard da
UEMG a possibilidade de atuarem de modo concreto na área desde a gra-
duação. Neste trabalho, o entrelaçamento entre arte, ciência e tecnologia é
compreendido através do campo das artes digitais. Gobira (2022) destaca
que essa área engloba diversas expressões artísticas que se relacionam com
a ciência e tecnologia após o surgimento do computador no século XX.
Ao direcionar este trabalho para uma perspectiva de aprendizagem
com “infocognotecnologias” (ICT)2, tanto baseado na computação – mais
especificamente computação cognitiva e Inteligência Artificial (IA) –
quanto na internet – sobretudo na sua expressão conhecida como Web3
e metaverso –, torna-se necessário fundamentar a discussão por meio
das reflexões sobre a literacia digital das artes digitais. Segundo Gobira
(2021, p. 30), “a literacia digital das artes digitais, portanto, se vincula aos
processos de aprendizado (podendo ser formais ou informais) que per-
mitem às pessoas alcançarem o campo das artes digitais e sua produção
estética”. Assim, ao ser construído um contexto de experimentação de IA
que permite aos estudantes explorarem novas aplicações em processos
criativos, o objetivo deste capítulo é demarcar o potencial da IA no ensino
da arte e na curadoria de exposições de artes digitais. Para isso, relatamos
o modo como foi produzida e composta a exposição AI.MAGINATION:
apropriação, hibridismos e realidades. Este capítulo, com base nesse obje-
tivo, explora as fronteiras entre arte, ciência e tecnologia no contexto da
utilização de IA.
Para alcançar o objetivo, dividimos o capítulo em duas seções, além desta
introdução e das considerações finais. Na primeira seção, apresentaremos
2 Observamos que, na sociedade contemporânea, as tecnologias da informação (infotecnologias)
e as tecnologias cognitivas (cognotecnologias) convergem quando aplicações que operam de
modo inteligente (com presença da IA) se tornam cada vez mais presentes no cotidiano. Desse
modo, optamos por nos referir a essa convergência através da expressão “infocognotecnologias”.
72 INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E EDUCAÇÃO
Inteligência artificial e educação-miolo.indb 72 24/11/2023 13:29
os campos da educação e da arte, discutiremos o que é literacia digital,
como estimulá-la e também abordaremos o conceito de Science, Techno-
logy, Engineering, Arts and Mathematics (Steam). Na segunda seção des-
creveremos os aspectos relevantes da exposição AI.MAGINATION para a
educação e o aprendizado humano, incluindo o aprendizado a partir da
interação humano-máquina, sobretudo das artes digitais. Trataremos da
curadoria das artes digitais, de um “ateliê transartes” e sobre um grupo
de pesquisa que age como fonte de reflexões praticadas no ensino. Fina-
lizamos o capítulo com as nossas referências.
LITERACIA DIGITAL
A seguir, apresentaremos uma discussão sobre a literacia digital. Primeiro,
relacionaremos o tema com as artes digitais e Steam. Depois, explora-
remos as ICT e a IA.
Literacia digital, artes digitais e Steam
Ana Mae Barbosa (2019) demarca que, a partir do final do século XIX,
surgiram no Brasil iniciativas de reforma do ensino de arte em contra-
posição à mera reprodução de modelos estéticos consagrados. A autora
apresenta um conceito formulado por um grupo de educadores (cujos
principais nomes são John Dewey, Maria Montessori e Celestin Freinet)
conhecido como Escola Nova. Ela afirma que a proposta da Escola Nova é
pensar uma abordagem que pode ser adaptada para a educação artística,
valorizando a experimentação, a descoberta e a liberdade de criação do
educando. Barbosa conta que a abordagem do grupo ainda se conserva
na filosofia da educação no século XXI, em que o ensino de arte passa a
ser visto como uma forma de expressão individual e não como um con-
junto de técnicas a serem dominadas.
Barbosa (2019) acredita que, para proporcionar e incorporar a expressão
individual através da arte na educação (com o uso ou não de tecnolo-
gias digitais), as instituições educacionais devem oferecer um ambiente
A EXPOSIÇÃO AI.MAGINATION COMO UMA AÇÃO STEAM E DE CURADORIA DE ARTE... 73
Inteligência artificial e educação-miolo.indb 73 24/11/2023 13:29
propício, para que nele haja experimentação e a expressão livre do edu-
cando, incentivando a sua criatividade e a sua capacidade de pensar de
forma crítica e reflexiva. A autora expõe que, antes da inclusão da arte
no currículo escolar, houve resistências em relação a essa implementação.
Menciona que os argumentos usados no século XIX questionavam a uti-
lidade prática da arte, em que acreditavam que a sua inclusão poderia
prejudicar o ensino das matérias consideradas mais importantes, como
a Matemática e a Ciência (Barbosa, 2019).
Na contemporaneidade ainda existem preconceitos e dúvidas sobre a
relevância da arte na educação, entretanto acreditamos que, no contexto
inter e transdisciplinar do ensino que abordamos aqui, será necessário
aglutinar a discussão sobre literacia digital de artes digitais. De acordo
com Gobira (2021), a noção de literacia digital
[...] diz respeito a um aprendizado amplo relacionado às tec-
nologias disponíveis no cotidiano tendo como seu ‘último
propósito [...] ajudar cada pessoa a aprender o que é necessário
para sua situação particular’ (Bawden, 2008 apud Gobira,
2021, p. 30).
Já a literacia digital das artes digitais, ainda segundo Gobira (2021), é
um conjunto de conhecimentos adquiridos pelas pessoas sobre a expressão
artística no contexto digital.
Embora a arte e as artes digitais não tenham uma definição única,
o autor afirma que a literacia digital das artes digitais refere-se ao reco-
nhecimento de algo como arte a partir de “[...] parâmetros complexos,
múltiplos e relacionados à expressão artística em relação à ciência e
tecnologia” (Gobira, 2021, p. 31). Ou seja, refere-se à capacidade do indi-
víduo de entender, criar e se comunicar usando tecnologias, mídias e
linguagens digitais. Essas criações podem ser experimentadas na área
das artes, tendo suas técnicas próximas ou oriundas de campos como
do design gráfico, animação, vídeo, música, entre outros. A literacia está
relacionada a um conjunto de habilidades que precisam ser proporcio-
nadas através (e para se usar) das ferramentas digitais de forma criativa
74 INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E EDUCAÇÃO
Inteligência artificial e educação-miolo.indb 74 24/11/2023 13:29
e crítica. Assim, por meio desse contato, será possível avançar critica-
mente sobre as implicações culturais e sociais no uso dessas tecnolo-
gias inteligentes na produção e no consumo de arte em uma sociedade
conectada e globalizada.
A aplicação do conceito de literacia digital na área da arte-educação,
aliada ao processo de pesquisa e desenvolvimento, permite que seja
construído um contexto teórico-prático em que são experimentadas as
fronteiras do campo das artes digitais. Neste trabalho entendemos que
esse campo é concebido nas mediações existentes entre as artes, ciências
e tecnologias. Assim, destacamos que
A reivindicação das artes digitais enquanto campo se ancora
no debate atual das artes como um movimento em busca de
espaço dentro da multiplicidade do que se considera ‘arte
contemporânea’ [...], bem como na busca por políticas de
estímulo a sua produção, financiamentos, participação em
circuitos de exposição etc. (Gobira, 2021, p. 33).
A apropriação da literacia digital na educação é uma necessidade e
um direito respaldado em políticas públicas de governos que a julgam
como uma peça importante para a lógica do século XXI. Para um futuro
sustentável, compreende-se que requer certa agilidade, inovação e
interdisciplinaridade na resolução de novos problemas, afinal o mundo
está em constante atualização (De Vries, 2021). Assim, para preparar
os educandos para reflexões sobre as possibilidades de inovação, são
sugeridas metodologias pedagógicas que permitam o engajamento das
áreas mencionadas anteriormente. Neste trabalho, enfocamos a abor-
dagem Steam.
Segundo De Vries (2021), a abordagem Steam é expressa em objetivos
educacionais globais, como a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sus-
tentável da Organização das Nações Unidas (ONU) e a Educação 2030 da
Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
Essa abordagem propõe a transversalidade no contexto educacional,
porém “o desafio final é de que todos os alunos, independente de suas
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Inteligência artificial e educação-miolo.indb 75 24/11/2023 13:29
origens culturais, possam desenvolver plenamente sua cognição criativa
científica”3 (De Vries, 2021, local. 4, tradução nossa).
Para esboçar melhor essa abordagem, trazemos na terceira seção deste
capítulo o percurso que permitiu realizar a exposição AI.MAGINATION.
Essa exposição é abordada aqui porque podemos considerá-la um exemplo
teórico-prático da metodologia Steam no ensino superior. A realização
da AI.MAGINATION buscou aproximação de campos como Ciência da
Computação (e subcampos como IA e computação cognitiva) e Artes (e
subcampo artes digitais). Porém, antes de apresentá-la, trataremos como
vemos a inserção da IA no contexto infocognotecnológico atual.
Infocognotecnologias e Inteligência Artificial
Benjamin (1987), em seu ensaio sobre a reprodutibilidade técnica,
aponta o surgimento de novas tecnologias dos séculos XVIII ao XIX (foto-
grafia e cinema) com potencial enorme para experimentação e expressão
dos indivíduos na sociedade. Assim, a multiplicidade de recepções das
obras de arte na era da reprodutibilidade técnica vai revelando suas impli-
cações econômicas, políticas e sociais. Nesse ensaio, Benjamin (1987) se
concentra na fotografia e no cinema porque ele enxerga que estas são as
formas que melhor exemplificam as transformações que a técnica repro-
dutiva trouxe para a arte em geral.
Ao citarmos a fotografia e o cinema, considerando-os como alguns
dos principais motores para a democratização/massificação das artes e
de acesso ao mundo simbólico/estético, com a implementação de tecno-
logias digitais na sociedade, a realidade passa a ter vivências tecnológicas
ubíquas generalizadas. Esse cenário ubíquo é composto por operações
infocognotecnológicas. Quando as ICT passam a agir em todas as áreas
da vida, incluindo a educação, observamos mudanças nos processos de
ensino e aprendizagem.
3 “The ultimate challenge is that all students, regardless of their cultural backgrounds, can fully
develop their scientific creative cognition”.
76 INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E EDUCAÇÃO
Inteligência artificial e educação-miolo.indb 76 24/11/2023 13:29
As ICT englobam um conjunto de tecnologias e ferramentas utili-
zadas para a produção, armazenamento, processamento, transmissão
e disseminação de informações e comunicação em diversos contextos.
Ao longo dos anos, pudemos acompanhar as incorporações das ICT ao
ambiente escolar de diversas maneiras, a exemplo da utilização de com-
putadores, tablets, smartphones, softwares educativos, jogos digitais,
plataformas de ensino a distância, entre outros recursos tecnológicos.
Essas tecnologias têm permitido outras formas de ensinar e aprender,
possibilitando o acesso a informações e conhecimentos de maneira
mais ágil e dinâmica, além de proporcionar uma maior interação entre
os educandos e os educadores. Apesar dos benefícios que essa prática
pode trazer, há algumas dificuldades que precisam ser enfrentadas para
que ela possa ser efetiva.
Uma das principais dificuldades é a falta de infraestrutura adequada
nas escolas e universidades. Ainda são comuns casos em que as institui-
ções não possuem computadores suficientes e acesso à internet de qua-
lidade ou a outros equipamentos necessários para o uso das ICT. Isso
acaba limitando o acesso dos educandos e educadores às ferramentas e
prejudicando a integração das tecnologias no processo de ensino-apren-
dizagem. Outra dificuldade está relacionada à falta de treinamento por
parte dos educadores e demais profissionais da educação para o uso das
ICT. Entendemos que é preciso que haja investimento na formação desses
profissionais para que eles possam usar as tecnologias de forma pedagogi-
camente adequada, favorecendo a aprendizagem dos educandos. Enten-
demos, portanto, que “é o professor, com base na sua formação, que tem
a possibilidade de propor mudanças metodológicas e transformar o uso
de tecnologia numa prática social e cultural” (Riedner; Pischetola, 2016,
p. 38). Assim,
A educação para o século 21 envolve reforçar a capacidade
de aprendizagem e o desenvolvimento de uma série de com-
petências importantes. Isso inclui a habilidade de agir cons-
cientemente, o pensamento crítico, a criatividade necessária
A EXPOSIÇÃO AI.MAGINATION COMO UMA AÇÃO STEAM E DE CURADORIA DE ARTE... 77
Inteligência artificial e educação-miolo.indb 77 24/11/2023 13:29
para reinventar-se e criar o próprio trabalho, a melhoria de
habilidades pessoais intelectuais, a capacidade de desenvolver
relações, as habilidades colaborativas e as competências pro-
fissionais fundamentais para participar de equipes formadas
tanto por humanos quanto por máquinas (interação huma-
no-máquina) (Vicari; Coelho, 2022, p. 120).
Como é demarcado, a educação para este século deve se atualizar para
proporcionar contextos em que a teoria e a prática sejam experimentadas
em colaboração com humanos e máquinas. Isso porque o movimento
que observamos no desenvolvimento tecnológico atual é voltado para
que cada vez mais haja a implementação de sistemas inteligentes e/ou
autônomos na sociedade. Podemos afirmar que a massificação atual do
acesso à IA e aos processos de aprendizado de máquina (deep learning e
machine learning) consolidam as ICT no cotidiano, permitindo tratamento
e análises de big data, novos modos de treinamentos das máquinas (em
cloud computing ou fog/edge computing), processamento de linguagem
natural para criar sistemas e algoritmos que podem simular a inteligência
humana em tarefas específicas.
Desse modo, observamos o uso das IA na realização e automação
de tarefas, em que sua integração é implementada em diversos setores,
incluindo saúde, transporte, finanças e cada vez mais na arte e na cultura
digital. Muitas das vezes, a falta de compreensão sobre IA pode ser atri-
buída em parte às expectativas exageradas ficcionalmente a respeito das
capacidades desse tipo de inteligência sobre suas realizações (Gobira;
Silva, 2022). Segundo Neves (2020), outro ponto que pode gerar conflito
na recepção das IA é a tendência de atribuir características humanas à
tecnologia, o que reforça a percepção equivocada. Compreendemos que
as ICT não são a solução para todos os problemas da educação, mas ainda
assim identificamos essa demanda que requer um planejamento cuida-
doso e uma avaliação constante dos resultados obtidos com o uso dessas
ferramentas para que elas possam ser utilizadas de forma que beneficiem
a aprendizagem escolar em todos os níveis.
78 INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E EDUCAÇÃO
Inteligência artificial e educação-miolo.indb 78 24/11/2023 13:29
Desde que o termo IA surgiu em 1956, criado por John McCarthy, a
dificuldade de defini-lo se torna uma dificuldade de definir o que é “inte-
ligência” (Franco, 2014, p. 4). Tanto a IA quanto a computação cognitiva
são campos e temas polêmicos nas áreas de Ciências Sociais e Humani-
dades, pois estas lidam com a interação dos sujeitos na sociedade. Para
Neves (2020), computação cognitiva é uma abordagem que busca criar
sistemas que possam aprender, raciocinar e interagir com os usuários de
forma mais natural e intuitiva. Portanto, a área da Ciência da Compu-
tação busca criar sistemas capazes de realizar tarefas que normalmente
exigiriam inteligência humana, como a capacidade de aprender, racio-
cinar, tomar decisões e reconhecer padrões. No que se refere a conseguir
categorizar uma máquina como inteligente ou não, para Dijkstra, essa
questão é simples, pois “[...] o objetivo final é o que importa e se este foi
atingido por uma máquina pode-se considerar que esta máquina é inte-
ligente” (Franco, 2014, p. 4).
Neste capítulo não aprofundaremos nos tipos e formas de basear
máquinas em sistemas inteligentes, mas é importante saber que existem
diferentes abordagens para o desenvolvimento de uma IA – como a lógica
simbólica, as redes neurais e a aprendizagem de máquina – e que, “[com] o
surgimento da Internet, [...] grandes volumes de dados e dos mecanismos
de pesquisa deu um novo fôlego ao campo da IA” (Franco, 2014, p. 9).
Sobre os impactos na sociedade e na educação, atribuídos ao surgimento
da internet, Neves (2020, p. 195) conta que “esse aspecto da transformação
digital representa, no mínimo, que todos envolvidos neste movimento
precisarão adquirir novas habilidades e novos conhecimentos [...]”. Assim,
a associação de sistemas inteligentes (IA e computação cognitiva) no con-
texto educacional, especificamente no ensino das artes digitais, pode ser
aplicada para criar sistemas de aprendizado. Os sistemas de aprendizados
são contextos educativos mais interativos e intuitivos para os educandos.
O uso de sistemas inteligentes na educação pode ainda auxiliar os edu-
cadores na realização de propostas teórico-práticas que refletem as fron-
teiras entre as áreas de arte, ciência e tecnologia. Como IA já é um tema
presente historicamente no campo das artes digitais, salientamos que é
A EXPOSIÇÃO AI.MAGINATION COMO UMA AÇÃO STEAM E DE CURADORIA DE ARTE... 79
Inteligência artificial e educação-miolo.indb 79 24/11/2023 13:29
importante integrar aprendizado, desenvolvimento e discussão sobre
essas tecnologias no currículo de educação artística.
A exposição AI.MAGINATION é uma experimentação que conside-
ramos bem-sucedida nesse sentido. Por isso, descrevemos na próxima seção.
O ENSINO E A PRÁTICA DA ARTE E CURADORIA
Nesta seção do capítulo, o leitor encontrará uma abordagem das relações
entre arte, curadoria e ensino superior, assim como lerá sobre disciplinas
realizadas nesse contexto. Com isso, finalizamos a seção com uma ação
de ensino da prática artística e curatorial: a exposição AI.MAGINATION.
Arte, curadoria e ensino superior
O ensino superior é uma etapa da educação formal que compreende
os cursos de graduação, pós-graduação, mestrado, doutorado e outros
cursos de especialização oferecidos por universidades, faculdades, centros
universitários e outras instituições de ensino que possuem autorização
e reconhecimento pelo Ministério da Educação (MEC) no Brasil (Costa;
Machado, 2018). Nessa etapa da educação, artes digitais é um dos campos
de conhecimento e formação dentro da área de Artes, sendo esta uma
área que busca enriquecer a vida humana preparando os estudantes
para atuação em um mercado de trabalho (ou mais especificamente
para a atuação no sistema da arte) cada vez mais exigente em termos
de tecnologia e inovação.
A integração das artes digitais no ensino superior pode ser feita de
diversas formas. Um exemplo é a criação de disciplinas específicas e a
inclusão de módulos de artes digitais nos cursos já existentes. Essa incor-
poração do campo no ensino superior pode aprimorar a didática do edu-
cador de disciplinas como História da Arte, Crítica de Arte e outras, pois
essas condições permitem uma abordagem mais visual e interativa do
conteúdo. Isso porque a integração das artes digitais no ensino superior
visa à incorporação de conhecimentos científicos e tecnologias, softwares e
80 INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E EDUCAÇÃO
Inteligência artificial e educação-miolo.indb 80 24/11/2023 13:29
hardwares, de criação de arte digital. Importante destacar que esse campo
corresponde a uma atuação bastante variada, podendo envolver edição
de vídeo, programação criativa, animação, design gráfico, modelagem 3D,
entre outras propostas críticas, criativas e de aprendizagem. Nesse con-
texto, favorecer o entrelaçamento da educação com as ICT permite aos
educandos experimentarem novas formas de expressão artística e desen-
volverem habilidades técnicas e criativas.
A curadoria do digital é uma área que vem ganhando destaque no
campo das artes digitais, especialmente referente à organização e à seleção
de conteúdos digitais para exposições e eventos digitais/híbridos. A for-
mação no campo da arte, a partir de pesquisas em curadoria do digital,
permite que os estudantes desenvolvam habilidades em análise crítica e
seleção de obras digitais. Esse desenvolvimento permite que o educando
experimente diferentes abordagens curatoriais e aplicações expográ-
ficas (especialmente em exposições em ambientes tridimensionais digi-
tais baseadas na infraestrutura blockchain, como é o caso da exposição
AI.MAGINATION).
O contato com esse tipo de formação em um cenário infocognotecnoló-
gico no ensino superior pode ajudar a preparar os indivíduos para atuação
em museus, galerias de arte, projetos de mediação, para a produção artís-
tica, entre outras atividades. Essa prática pode ainda proporcionar relações
com outras instituições culturais que trabalham com as artes digitais a
partir da sua exposição ou no seu acervo digital ou híbrido. Assim, identi-
ficamos que o fomento à pesquisa nessa área da educação e a inserção dos
tópicos da arte e ICT podem contribuir para a produção de conhecimento
e inovação no campo das artes digitais de maneira inter e transdisciplinar.
A abordagem interdisciplinar envolve duas ou mais disciplinas em diálogo
de modo que elas se mantêm íntegras em suas contribuições na área de
artes digitais. Na abordagem transdisciplinar, há um atravessamento de
duas ou mais disciplinas, rompendo suas fronteiras em prol do processo
de produção (poética, conceitual, técnica etc.) e/ou de análise de objetos
desse campo ou gerando novos subcampos e abordagens.
A EXPOSIÇÃO AI.MAGINATION COMO UMA AÇÃO STEAM E DE CURADORIA DE ARTE... 81
Inteligência artificial e educação-miolo.indb 81 24/11/2023 13:29
Um ateliê transartes e a curadoria da arte digital
A curadoria aqui discutida é possibilitada pelo advento do digital. Ela
colabora com a ampliação do acesso e difusão das obras de artes digitais.
Esse novo status da curadoria inclui atuação curatorial sobre obras de arte
em formatos como vídeo, instalações interativas, arte generativa, net art,
bioarte, arte robótica, entre inúmeras outras categorias.
A fim de exprimir uma experiência sobre o ensino da curadoria de
arte digital no ensino superior, trazemos à luz dessa discussão a disci-
plina Curadoria em Arte Digital, que é ofertada desde 2015, pelo menos
uma vez ao ano e às vezes nos dois semestres. Aqui enfocamos a oferta
do segundo semestre letivo de 2022 como optativa na Escola Guignard,
uma escola de Artes Visuais da UEMG.
A disciplina foi criada e é conduzida pelo professor Pablo Gobira (um
dos autores deste capítulo). A partir dessa disciplina, compreende-se que
a curadoria em arte digital é um campo relativamente novo, em desen-
volvimento e constantemente influenciado pela evolução das tecnologias
digitais. Por isso, pode ser desafiador para os educandos compreenderem
as diferentes tendências e abordagens que surgem nesse contexto, como
também aplicarem o fundamento curatorial para além dos estudos cura-
toriais “tradicionais”. Como disciplina optativa, fruto de pesquisas desen-
volvidas no LabFront, está em constante atualização a partir das mudanças
do cenário científico, tecnológico e artístico contemporâneo.
Essa disciplina aborda as especificidades de seu campo, como a seleção
e organização das obras digitais em um ambiente digital físico ou não físico
e a definição de critérios para exposição e apresentação das obras de artes
digitais. Destaca-se também a discussão sobre a necessidade de estarmos
atentos às questões éticas e de propriedade intelectual que envolvem a
arte digital na lógica do sistema da arte vigente, como o direito autoral e
a preservação da integridade das obras, entre outros tópicos e conceitos.
Apesar de alguns desafios, a implementação e o desenvolvimento do
conceito de curadoria em artes digitais via disciplina no ensino superior
oferecem oportunidades de explorar novas formas de realizar a curadoria,
82 INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E EDUCAÇÃO
Inteligência artificial e educação-miolo.indb 82 24/11/2023 13:29
bem como refletir e aplicar as potencialidades das ICT na arte contempo-
rânea. Na disciplina vemos como a preservação das obras de arte digitais
(em contextos digitais ou não) é de extrema importância para a manu-
tenção da história e cultura de uma sociedade. Esse estudo acaba reve-
lando aos estudantes que a preservação traz problemas diversos (Gobira,
2014, 2016) que devem ser discutidos quando tratamos a partir do campo
de estudos curatoriais. Sendo assim, o acompanhamento e a orientação
do professor, na figura de um especialista da área em questão, são funda-
mentais para superar essas dificuldades e desenvolver uma compreensão
crítica e prática da curadoria em arte digital.
A título de fundamentação da perspectiva que estamos discutindo
neste trabalho, a disciplina Ateliê Transartes: Hibridismos e Apropria-
ções Artísticas em Realidades Diversas é uma ótima oportunidade de
elaboração conceitual para uma ação artística e curatorial tal como foi
realizada na AI.MAGINATION. Essa disciplina, ofertada ao menos uma
vez ao ano desde 2016, foi disponibilizada aos estudantes como optativa
no segundo semestre letivo de 2022, na Escola Guignard da UEMG, pelo
professor Pablo Gobira.
A disciplina buscou preparar o estudante para refletir sobre a arte
contemporânea e a sua teoria-prática, além de desenvolver uma perspec-
tiva crítica nos usos técnico-poéticos para elaboração de trabalhos que
superam disciplinas e supostas purezas das linguagens artísticas. Durante
as aulas, a metodologia envolveu a problematização do conteúdo em foco,
a explicação mediada por um referencial teórico, a compreensão concei-
tual e crítica das relações interartísticas, a crítica, reprodução e desenvol-
vimento de experimentos artísticos, bem como exercícios de produção
crítica/artística.
Reforçamos que, em ambas as disciplinas descritas neste capítulo, um
grupo de pesquisa foi uma rica fonte de reflexões para o ensino, espe-
cialmente para disciplinas relacionadas às artes, tecnologias, ciências em
ações inter e transdisciplinares. Nesse caso, o LabFront, a partir de suas
pesquisas e práticas que cruzam as áreas das artes, ciências e tecnologias,
contribui para a construção de novos conhecimentos e metodologias de
A EXPOSIÇÃO AI.MAGINATION COMO UMA AÇÃO STEAM E DE CURADORIA DE ARTE... 83
Inteligência artificial e educação-miolo.indb 83 24/11/2023 13:29
ensino que exploram as fronteiras e os conflitos nas diferentes áreas de
conhecimento.
Na disciplina Curadoria em Arte Digital, os conceitos de fronteira e
conflito puderam ser explorados para pensar a curadoria como um pro-
cesso de mediação entre diferentes linguagens e saberes artísticos. A disci-
plina trata sobre o campo da mediação de forma específica, considerando
as tensões que podem surgir nessa prática. Nesse contexto, o LabFront
pôde ser uma referência para os estudantes na curadoria de exposições
no campo das artes digitais. Fizeram parte do cronograma aulas e visitas
técnicas com os estudantes na montagem da exposição de artes digitais
denominada Transistornos psicotecnoneuromidiacráticos poetrônicos, no
Centro Cultural da UFMG. Trata-se de uma exposição do artista, pesqui-
sador independente e professor aposentado da Escola de Belas Artes da
UFMG, Chico Marinho, com a curadoria de Pablo Gobira.
A exposição foi realizada em outubro de 2022. A equipe técnica dessa
exposição foi composta por membros do LabFront e outros colaboradores
das áreas das Artes e Ciência da Computação. Dentro desses intercruza-
mentos, foi possível experimentar uma didática interativa que superou
o espaço exclusivo da sala de aula. Essa é uma compreensão ampla da
ação curatorial envolvendo teoria e prática, sem separações, com ações
de diálogo entre a curadoria da exposição, sua equipe técnica, bem como
visita ao ateliê do artista para conhecer e discutir o seu processo criativo
nas artes digitais.
Na disciplina Ateliê Transartes, o LabFront pôde oferecer uma pers-
pectiva crítica para a experimentação artística, especialmente referente
à hibridização e à apropriação de diferentes linguagens e mídias. Nessa
disciplina, os estudantes foram estimulados a pensar sobre as fronteiras
entre as artes, ciência e tecnologia, com o intuito de experimentar uma
produção em colaboração com IA a partir dos conflitos críticos das artes
esboçadas nas aulas. Os bolsistas do LabFront daquele ano (Ana Luiza
Pedrosa Camilo, Eduardo Séllos, Gabriel Rios e Vinícius “Apos” Viana)
cursaram a disciplina Ateliê Transartes; os que não haviam cursado Cura-
doria em Arte Digital anteriormente estavam fazendo naquele segundo
84 INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E EDUCAÇÃO
Inteligência artificial e educação-miolo.indb 84 24/11/2023 13:29
semestre de 2022. Dessa forma, foram envolvidos no desenvolvimento
do projeto curatorial de uma exposição que receberia as obras criadas na
disciplina Ateliê Transartes.
A cada oferta da disciplina Ateliê Transartes, a condução do professor
leva os estudantes para tópicos centrais do campo das artes (e sua história)
aliados ao contexto recente da arte contemporânea. Desse modo, além das
aulas sobre apropriação, hibridismos e experimentação com realidades,
o docente abordou tópicos diversos que discutiam os campos de IA e
computação cognitiva, pensando com os estudantes as possibilidades de
interface com as artes, assim como o desenvolvimento de trabalhos poé-
ticos envolvendo IA.
A exposição AI.MAGINATION
AI.MAGINATION é uma exposição com curadoria de Pablo Gobira,
produzida pelo LabFront, vinculada ao programa de extensão MultiLab,
realizado anualmente pelo grupo desde 2018. Em um ambiente totalmente
on-line, tridimensional (Voxels), vinculado ao ecossistema blockchain, a
exposição AI.MAGINATION traz artistas que realizam seus trabalhos com
o uso de ferramentas baseadas em IA.
As IA utilizadas têm complexidades diferentes, assim como funções e
aplicações variadas, desde o processo de automatização de alguma parte
da produção artística até redes neurais que permitem a criação entre meios
similares ou diferentes (texto para imagem, imagem para som, texto para
texto etc.). Alguns dos artistas presentes na exposição têm pensado e uti-
lizado IA para criar obras de artes generativas há alguns anos. Esses tipos
de criações promovem discussões que já geraram polêmicas no campo
das artes digitais, tais como direitos autorais, criatividade, autenticidade,
entre outras, ao mesmo tempo que problematizam as fronteiras da arte,
ciência e tecnologia.
A exposição de arte AI.MAGINATION é composta por importantes
artistas e pesquisadores das interseções entre arte, ciência e tecnologia,
tais como Suzete Venturelli, Gilbertto Prado, Fabio FON e Chico Marinho.
A EXPOSIÇÃO AI.MAGINATION COMO UMA AÇÃO STEAM E DE CURADORIA DE ARTE... 85
Inteligência artificial e educação-miolo.indb 85 24/11/2023 13:29
Além de artistas consolidados, estão na exposição artistas que transitam
entre a academia e o mundo da arte (Gustavo Machado e Luiz Carlos),
assim como jovens artistas estudantes da disciplina Ateliê Transartes
selecionados pela curadoria a partir dos exercícios produzidos durante
o semestre: Ana Luiza Pedrosa Camilo, Bernardo Dera, Eduardo Séllos,
Gabriel Rios, Gabriella Pedro, José Dias Pereira, Larissa Campello, Skrif,
e Vinícius “Apos” Viana.
A exibição foi aberta no dia 10 de abril de 2023 às 19h, através de uma
live transmitida pelo YouTube4 com equipe curatorial e alguns dos artistas
com obras presentes na exibição. Toda a exposição, inclusive a curadoria,
envolveu ferramentas IA, desde a construção da galeria até a identidade
visual: ChatGPT, Dall-E, Dall-E 2, Dall-E mini, Google Colab, Hugging Face,
Midjourney, Notevibes, OCR, Stable diffusion, TikTok Voice Generator e
Wonder. A visitação é de longa duração e aberta ao público geral5 e nela há
ficha técnica completa dos participantes, bem como texto curatorial que
auxilia a introduzir o processo de elaboração e conceituação da exposição.
A exposição AI.MAGINATION é um exemplo de como as ICT em geral
e o campo da IA em específico podem ser usados como ferramentas para
ampliar o aprendizado humano, em especial no campo da arte em relação
com a ciência e a tecnologia. Ao apresentar obras de arte que utilizam a IA
em suas criações, a exposição não apenas oferece uma oportunidade de
contemplação estética, mas propõe reflexões sobre as implicações éticas,
sociais e culturais do uso da IA na produção artística.
A colaboração de IA em todo o processo curatorial da exposição, desde
a construção da galeria até a expografia, mostra como a tecnologia pode
ser usada de forma criativa e inovadora em todas as etapas da produção
artística. Como já mencionado, isso abre possibilidades para a criação de
novas formas de aprendizado, em que a tecnologia pode ser usada como
um meio para explorar novas ideias e conceitos, ampliar o alcance da
4 Ver em: https://youtube.com/labfront.
5 A visitação pode ser acessada através do seguinte link: https://exposicaoaimagination.weebly.
com.
86 INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E EDUCAÇÃO
Inteligência artificial e educação-miolo.indb 86 24/11/2023 13:29
produção poética e fomentar o diálogo crítico sobre as implicações sociais
e culturais da tecnologia em nossas vidas.
O aprendizado humano e o aprendizado das máquinas são processos
distintos, mas vemos que eles podem se complementar e se influenciar
mutuamente. De forma geral, o aprendizado humano na área de Artes tem
sido baseado em vivência e acúmulo de repertório, observação, reflexão
e construção de conhecimento por meio da interação com o ambiente e
com outras pessoas. Já o aprendizado das máquinas, destacado na seção
sobre literacia digital deste capítulo, é baseado em algoritmos que per-
mitem que as máquinas aprendam a partir de grandes quantidades de
dados, sem necessidade de intervenção humana direta.
Assim, acreditamos ser importante refletir criticamente e em profundi-
dade o fenômeno do aprendizado de máquina e as ferramentas disponíveis
para evitar proferir críticas rasas. Entendemos que a escolha de “não usar”
não impede o mundo de ser injusto, discriminatório e desigual, sendo que
a questão é mais complexa que isso e extrapola o objetivo deste capítulo.
O aprendizado humano é um elemento fundamental não apenas para
produção e apreciação das artes digitais, mas também para superação de
uma forma de vida pautada nos parâmetros listados anteriormente. No
entanto, para ficarmos apenas dentro do campo das artes e da atuação
profissional nesse campo, é preciso primeiramente que os artistas tenham
um conhecimento técnico para criar suas obras utilizando ferramentas
digitais e de IA. Esse conhecimento técnico é resultado do aprendizado
humano em diversas áreas, além do aprendizado das linguagens artís-
ticas, tais como programação, design gráfico, engenharia, curadoria, entre
outras já mencionadas. Lembramos que, com a massificação do acesso a
esses sistemas baseados em IA no século XXI, é possível ao usuário o uso
de IA sem necessidade de programar, como é o caso de ferramentas como
ChatGPT, Dall-E, Midjourney e outras.
Em segundo lugar, a criação de uma obra de arte digital muitas vezes
exige do artista um processo criativo que envolve pesquisa, experimen-
tação e análise crítica, aspectos esses que envolvem o aprendizado humano
em geral. Assim, é necessário que o artista alcance o conhecimento prévio
A EXPOSIÇÃO AI.MAGINATION COMO UMA AÇÃO STEAM E DE CURADORIA DE ARTE... 87
Inteligência artificial e educação-miolo.indb 87 24/11/2023 13:29
sobre a área em que está atuando, bem como seja capaz de explorar as
possibilidades oferecidas pelas ferramentas digitais e de IA para realizar
o seu trabalho nessa realidade social.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao longo deste capítulo, pudemos observar uma manifestação do entre-
laçamento da arte com a ciência e a tecnologia no campo das artes digi-
tais. Vimos como o estímulo da literacia digital é importante para que
haja cada vez mais compreensão e utilização dessas linguagens. Nesse
contexto, compreendemos que a IA pode ser uma ferramenta poderosa
para o aprendizado humano, permitindo a exploração de novos usos da
criatividade e o desenvolvimento de habilidades e competências impor-
tantes para o mundo contemporâneo.
Ao destacarmos a importância da educação e do campo da arte, res-
saltamos a relevância da educação Steam, que integra a arte às disciplinas
de Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática. Além disso, a exposição
AI.MAGINATION apresentou-se como o resultado dessa forma de edu-
cação e aprendizado, fruto de duas disciplinas da graduação, ao propor-
cionar um experimento de criação poética nas fronteiras entre arte e as
ICT, resultando em uma experiência imersiva que revela muito do nosso
contexto pós-digital.
Ao destacarmos as artes digitais no ensino superior, elevamos a impor-
tância da Curadoria em Arte Digital e do Ateliê Transartes enquanto
disciplinas essenciais para a formação artística com os parâmetros aqui
apresentados, possibilitando a exploração do campo através das artes
digitais.
Além disso, salientamos a importância do suporte de um grupo de
pesquisa, desenvolvimento e inovação que explora essas fronteiras entre
arte, ciência e tecnologia em interface com o ensino na graduação, sobre-
tudo o ensino que envolve tópicos especializados como os abordados neste
capítulo e ancorados nas ações infocognotecnológicas empreendidas.
88 INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E EDUCAÇÃO
Inteligência artificial e educação-miolo.indb 88 24/11/2023 13:29
Como resultado do trabalho desenvolvido em 2022, temos a cons-
trução de um contexto de reflexão e instrumentalização de IA para o
ensino da arte e da curadoria em um curso de Artes Visuais, mas que
poderia se localizar em outros cursos e áreas. Dessa forma, podemos dizer
que IA pode ser uma ferramenta fundamental para a educação exem-
plificando as relações entre a arte, a ciência e a tecnologia no contexto
das artes digitais. É importante que a literacia digital seja estimulada de
forma significativa no contexto educacional, possibilitando que os estu-
dantes desenvolvam habilidades e competências que são essenciais para
o mundo contemporâneo.
Por fim, concluímos que o uso da IA na arte e na curadoria de exposi-
ções pode ampliar ainda mais as possibilidades de aprendizado humano,
permitindo uma experimentação mais livre e criativa com e através dessas
linguagens.
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90 INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E EDUCAÇÃO
Inteligência artificial e educação-miolo.indb 90 24/11/2023 13:29
CAPÍTULO 5
TENSIONAMENTOS DO CHATGPT EM
PRÁTICAS DE ENSINO: POSSÍVEIS
DIÁLOGOS COM AS CIÊNCIAS DA
NATUREZA E A MATEMÁTICA
DAVID SANTANA LOPES
JULIANA SANTANA MOURA
BEATRIZ OLIVEIRA DE ALMEIDA LIMA
INTRODUÇÃO
Os avanços da tecnologia na contemporaneidade se intensificam à medida
que as demandas de uma sociedade, cada vez mais plataformizada (Poel;
Nieborg; Duffy, 2022), induzem interações imediatistas com diferentes
artefatos digitais (Hui, 2020), capazes de simplificar e encurtar as ações
de seus usuários finais. Imersas nesse contexto de otimização de tempo e
91
Inteligência artificial e educação-miolo.indb 91 24/11/2023 13:29
espaço estão as Inteligências Artificiais Generativas (IAGs), representadas,
por exemplo, pelo Chat Generative Pre-trained Transformer (ChatGPT).
Em síntese, o ChatGPT é uma
[...] tecnologia que simula a conversa humana por meio de
mensagens de texto [...] criando ou (re)organizando conteúdos
por meio de machine learning, uma tecnologia apta a dar vida
às ideias de criadores de áreas como publicidade, marketing
e criação (ChatGPT, 2023a).
Nesse sentido, artefatos digitais, como a referida IAG, passaram a
ocupar, do final do ano de 2022 até o presente momento, um espaço de
discussão tanto na literatura científica, voltada para os objetos de investi-
gação vinculados às tecnologias, como também para as diferentes esferas
que compõem a sociedade, como a economia, saúde, política, ética e, é
claro, em torno das interfaces com a educação.
Muitas questões ou preocupações reverberam na atualidade no que
tange aos limites e às potencialidades por trás de processos de mediação
das IAGs em ambientes de ensino em meio às diferentes áreas do saber,
a exemplo das Ciências da Natureza. Em suma, segundo Lopes, Alves
e Lira-da-Silva (2021), a interação entre as tecnologias e as práticas de
ensino – imersas, por exemplo, nas Ciências da Natureza (Biologia,
Química e Física) – ainda segue uma visão unitária e descontextualizada
acerca das potencialidades e dos cuidados necessários em intervenções
em sala de aula com base em tecnologias digitais. Imersa nesse contexto,
a Inteligência Artificial (IA), segundo Kaufman (2020), vem passando por
avanços recentes nos processos de ensino que particularmente permite
uma ampliação de um aprendizado profundo (deep learning), agregando
novos elementos a essa ecologia de interação e comunicação, capaz de
induzir transformações de curto a médio prazo nas premissas ligadas ao
ensino, inclusive no campo das Ciências da Natureza.
Dessa forma, a articulação entre as tecnologias digitais e o pensar/
fazer docente vem sendo ao longo do tempo um desafio, desde a inte-
gração desses artefatos em suas trajetórias formativas (em cursos de
92 INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E EDUCAÇÃO
Inteligência artificial e educação-miolo.indb 92 24/11/2023 13:29
licenciatura) até a atuação em sala de aula (Modelski; Giraffa; Casartelli,
2019). As dificuldades vivenciadas, por exemplo no Brasil, durante a imi-
nente necessidade de diálogo com os artefatos digitais durante a pandemia
pela covid-19 (Almeida; Alves, 2020), demonstraram que a imersão desses
objetos em espaços de ensino não é uma tarefa simples e nem um pouco
instrumentalizadora.
Dessa forma, compreendendo a complexidade em torno das IAGs,
o presente capítulo objetiva apresentar possibilidades de interação do
ChatGPT com práticas de ensino vinculadas principalmente às Ciên-
cias da Natureza e à Matemática. Em suma, este texto, de acordo com
Marconi e Lakatos (2022), apontará construtos preliminares acerca do
objeto investigado, articulando o posicionamento teórico e epistemológico
dos autores perante as interfaces de pesquisa presentes na literatura atual.
Portanto, a escrita sistematizará primeiramente como a literatura cien-
tífica vem tratando as IAGs, ao ponderar brevemente potencialidades e
controvérsias na interação com o ChatGPT na contemporaneidade. Por
fim, a seção “Reflexões acerca da interação do ChatGPT em práticas de
ensino das Ciências da Natureza e da Matemática” apresenta insights
acerca das possibilidades de mediação de IAs em processos formativos
nas áreas da Biologia, Química, Física e Matemática.
PERSPECTIVAS GERAIS DAS INTELIGÊNCIAS ARTIFICIAIS NA PESQUISA
CIENTÍFICA E NO PROCESSO DE ENSINO
Diante do contexto apresentado anteriormente, compreendemos que a
evolução científico-tecnológica das últimas décadas reorienta distintos
âmbitos da produção do conhecimento e da pesquisa científica. No âmbito
dessa conjuntura, as IAs, de modo geral, trazem a promessa de potencia-
lizar o fazer científico ao passo que permitem quantitativamente a ras-
pagem de uma grande quantidade de dados e qualitativamente a análise
desses dados com maior precisão.
O modelo de linguagem GPT, estruturado a partir de um sistema algo-
rítmico de aprendizagem profunda, vem atuando no âmbito da pesquisa
TENSIONAMENTOS DO CHATGPT EM PRÁTICAS DE ENSINO 93
Inteligência artificial e educação-miolo.indb 93 24/11/2023 13:29
científica para análise de grandes conjuntos de dados, permitindo que
os pesquisadores identifiquem padrões, tendências e correlações de pes-
quisas de opinião pública, redes sociais ou de entrevistas. De acordo com
Sampaio e Perich (2023), diversas atividades humanas passarão por um
processo de reformulação perante as IAGs, com destaque para as influên-
cias diretas e indiretas para a pesquisa acadêmica. Em complemento, os
autores definem ainda as cinco mudanças principais no âmbito da prática
científica a partir do diálogo com as IAGs:
[...] [I] Busca e seleção de artigos: as Ias ajudam de modo deci-
sivo na busca de tópicos, pesquisas e artigos acadêmicos; [...]
[II] Leitura dos artigos: Agora, pediremos que a inteligência
artificial analise os textos e PDFs e indique os trechos princi-
pais, e vamos fazer perguntas à IA sobre os textos; [III] Análise
dos dados: O ChatGPT e o PandasAI elaboram gráficos de
forma automatizada; [IV] Escrita: diversas plataformas [...]
fazem correções gramaticais, ortográficas e estruturais nos
textos, oferecendo uma espécie de co-piloto para a escrita
acadêmica; [V] Apresentação dos dados: O ChatGPT 4 já é
capaz de gerar tabelas e informações em diversos formatos.
Também já existem Ias capazes de elaborar tabelas, gráficos,
infográficos, posters (Sampaio; Perich, 2023).
Com base nessa conjuntura, as IAs podem gerar códigos e elementos
categóricos com maior facilidade, seguindo a própria linguagem de pro-
gramação, acelerando assim os procedimentos metodológicos de análise
adotados em uma pesquisa. O Atlas.ti, por exemplo, é um software para
análise de dados qualitativos que automatiza alguns processos de siste-
matização, categorização e análise, capazes de dialogar com a abordagem
da Análise de Conteúdo de Bardin (2011).
Recentemente, com a intensificação dos investimentos em IA, o soft-
ware anunciou sua versão AI Coding Beta. A versão do Atlas.ti, alimentada
pelo modelo GPT da OpenAI, promete reduzir o tempo de sistematização e
categorização a partir de um processo de codificação automática dos dados
qualitativos. A plataforma ainda oferece a possibilidade de interpretar
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dados em Ciências Humanas, ajudando os pesquisadores a entenderem
melhor as informações coletadas a partir da identificação, por exemplo,
dos dados mais relevantes para suas análises e como esses dados se rela-
cionam com outros aspectos do problema em questão.
A IA também pode permitir que os pesquisadores identifiquem temas
e padrões em grandes conjuntos de dados de texto. Isso pode ser útil para
análises de discurso político, análises de conteúdo em mídias sociais ou
análises de discursos em tribunais. Esse exemplo demonstra os esforços
em criar estratégias que automatizam produção e sistematização de conhe-
cimento científico através do aprendizado de máquina das IAs, seja para
prever resultados em Ciências Humanas – como eleições, comportamento
de compra ou resultados de processos judiciais –, seja para modelar o com-
portamento humano em uma variedade de contextos, incluindo tomada
de decisões, interação social e comportamento de consumo.
Todavia, cabe destacar que o ChatGPT é uma interface do modelo GPT
e, portanto, difere dos exemplos anteriores, pois, como um modelo de lin-
guagem, sua maior implicação está associada à interação com o usuário
para produção de textos e não para processar e analisar dados de pesquisas
(Pham; Sampson, 2022; Shidiq, 2023). Apesar de tal interface possibilitar
que os pesquisadores identifiquem insights que evidenciem uma síntese
de dados de entrevistas e de anotações referentes ao processo de obser-
vação ou grupos focais, é preciso destacar sua limitação referente ao baixo
senso crítico frente às especificidades sociais, culturais e econômicas em
que está inserido o contexto da pesquisa.
No que tange às interações entre as IAs e os processos de ensino, de
acordo com Vicari (2021, p. 78), existem alguns “exemplos de tecnologias
da IA que vêm sendo aplicadas na educação, na maioria dos casos de
forma isolada, [...] como tradução, análise e interpretação de textos, voz
etc.”. Em suma, as discussões presentes na literatura científica no Brasil
acerca dessa articulação ainda são restritas e voltadas para “motiva[r] os
alunos a escrever redações criativas; [...] de acordo com o perfil de apren-
dizagem de cada aluno [...] e sistemas de tradução de voz em tempo real”
(Vicari, 2021, p. 78).
TENSIONAMENTOS DO CHATGPT EM PRÁTICAS DE ENSINO 95
Inteligência artificial e educação-miolo.indb 95 24/11/2023 13:29
Outro elemento importante, no âmbito da pesquisa com seres humanos,
são as preocupações éticas e de privacidade em torno do ChatGPT no que
se refere ao modo como a plataforma lida com os dados pessoais de forma
opaca, algo comum a outros ambientes digitais já existentes que, de modo
similar, não oferecem total clareza de como os algoritmos dataficam e
coletam as informações de seus usuários (Pasquale, 2015). Dessa maneira,
todas as orientações do Comitê de Ética em Pesquisa sintonizada com
as diretrizes da Resolução nº 466/2012 e nº 510/2016, que se pautam no
respeito à integridade, dignidade, liberdade e autonomia do ser humano
(Brasil, 2013, 2016), também inferem acerca desses novos artefatos digi-
tais, como o ChatGPT, demandando de seus usuários cuidados acerca das
interações pessoais e profissionais com esses meios.
Assim, compreende-se que o ChatGPT e outras tecnologias de IA
trazem um novo desafio para o campo da pesquisa acadêmica, especial-
mente relacionado aos riscos que incluem o potencial de plágio, a falta
de pensamento crítico e a possibilidade de informações tendenciosas ou
imprecisas. Desse modo, é necessário que os programas de pós-graduação
e os diversos grupos de pesquisas que tratam de temáticas relacionadas às
tecnologias na contemporaneidade pensem os processos formativos dos
futuros pesquisadores considerando a criticidade desses sujeitos frente
às nuances e às especificidades trazidas pelo contexto da cultura digital.
REFLEXÕES ACERCA DA INTERAÇÃO DO CHATGPT EM PRÁTICAS DE
ENSINO DAS CIÊNCIAS DA NATUREZA E DA MATEMÁTICA
Neste tópico, damos seguimento a partir das implicações do ChatGPT
para pesquisa na área das Ciências da Natureza, solicitando a assistência
da própria ferramenta, com o objetivo de contribuir com sugestões para
o título da seção que agora desenvolvemos. Destacamos o termo “assis-
tência” para tensionarmos as discussões sobre possibilidades e limitações
que ora se desdobram na atualidade sobre os usos do ChatGPT no âmbito
acadêmico e escolar. Ao responder à solicitação dada, o ChatGPT nos
96 INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E EDUCAÇÃO
Inteligência artificial e educação-miolo.indb 96 24/11/2023 13:29
atende prontamente com uma lista de cinco possíveis títulos, conforme
apresentamos a seguir:
Tensionamentos na mediação do ChatGPT no Ensino das
Ciências da Natureza e sua transversalidade com a Educação
Matemática; 2. Controvérsias na utilização do ChatGPT como
ferramenta pedagógica no Ensino das Ciências da Natureza em
diálogo com a Educação Matemática; 3. Desafios na mediação
do ChatGPT no Ensino Integrado das Ciências da Natureza e
da Matemática; 4. A tensão entre o uso do ChatGPT e o desen-
volvimento de habilidades de pensamento crítico no Ensino
das Ciências da Natureza e da Matemática; 5. As implicações
do ChatGPT para o Ensino das Ciências da Natureza e a neces-
sidade de equilibrar a tecnologia com a interação pessoal e a
reflexão crítica (ChatGPT, 2023b).
Segundo observamos nos títulos anteriores, nenhum deles foi usado
integralmente, mas aproveitados como insight para transpor a barreira
inicial da “folha em branco”. Usamos o ChatGPT como um assistente
para executar uma tarefa que envolve habilidades textuais e criatividade.
De acordo com Lemos (2023), o ChatGPT nos coloca em posição de per-
guntar e criticar, e aqui complementamos: também nos coloca em posição
de aceitar ou refutar. Para isso, necessitamos exercitar o pensamento
crítico, além das habilidades comumente atribuídas a um pesquisador
como conhecimento do assunto, curiosidade, criatividade, integridade
intelectual e sensibilidade social (Gil, 2008). Enquanto professores e pes-
quisadores, precisamos nos questionar e refletirmos sobre como vamos
utilizar o ChatGPT: como oráculo ou assistente?
As pesquisas em IAGs já se desdobram no campo da Matemática,
Química, Biologia. Na Matemática, Van Vaerenbergh e Pérez-Suay (2023)
apontam para o avanço a uma nova geração de calculadoras, a exemplo
de aplicativos como Socratic3 do Google e o Microsoft Math Solver4,
que utilizam algoritmos de Reconhecimento Óptico de Caracteres (OCR)
baseados em aprendizado profundo, associando algoritmos a raciocínio
TENSIONAMENTOS DO CHATGPT EM PRÁTICAS DE ENSINO 97
Inteligência artificial e educação-miolo.indb 97 24/11/2023 13:29
automatizado. Além das calculadoras, encontramos o software Geogebra 5
e o Sistema Tutor Inteligente (STI) que tanto assistem os alunos no apren-
dizado da Matemática, quanto ajudam a modelagem da aprendizagem do
aluno, apontando erros, sugerindo correções e lembretes que auxiliam na
compreensão e aplicação dos conceitos e fórmulas matemáticas.
Nos campos da Química e Biologia, observamos, conforme indica
Callaway (2023), os avanços nas pesquisas que desenvolvem anticorpos
para doenças como câncer de mama e artrite reumatoide, a integração
da IAGs para acelerar o desenvolvimento de medicamentos eliminando
parte do trabalho árduo ao usar redes neurais chamadas de modelos de
linguagem de proteínas. Esses modelos de linguagem assemelham-se ao
mesmo modelo de linguagem do ChatGPT, mas são alimentados com
milhões de sequências de proteínas.
O que essas integrações das IAGs nas diferentes pesquisas em Mate-
mática, Biologia e Química nos mostram? Que as IAGs semelhantes ao
ChatGPT estão sendo utilizadas como assistentes em grandes pesquisas,
para auxiliar em tarefas que envolvem grandes quantidades de dados, mas
que, por sua vez, necessitam de constante monitoramento, checagem e
testagens, exigindo dos pesquisadores profundo conhecimento do assunto
e competência técnica.
Dessa mesma maneira, também devemos aproximar o ChatGPT das
nossas atividades acadêmico-profissionais. Emenike e Emenike (2023)
apontam que os artigos sobre ChatGPT em educação focalizam mais a
perspectiva do aluno do que nas várias maneiras de professores, funcio-
nários e administradores usarem a tecnologia IAG. O ChatGPT pode ser
“[...] como um ‘companheiro de aprendizado’ e como um ‘assistente do
professor’, para ajudar na elaboração de um programa de estudos, palestra,
tarefa e uma rubrica de avaliação para alunos de MBA’”1 (Bowman, 2022
apud Emenike; Emenike, 2023, p. 1414, tradução nossa).
1 “[...] as a ‘learning companion’ and as a ‘teacher’ assistant, for help with crafting a syllabus,
lecture, assignment and a grading rubric for MBA students”.
98 INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E EDUCAÇÃO
Inteligência artificial e educação-miolo.indb 98 24/11/2023 13:29
De forma semelhante, devemos conduzir o uso do ChatGPT pelos
nossos alunos. Emenike e Emenike (2023, p. 1415, tradução nossa) nos
lembram que
[...] os sistemas de IA ainda não são autoconscientes, os alunos
precisam perceber que as respostas do ChatGPT podem estar
erradas. Os alunos precisam aplicar o pensamento crítico e
as habilidades de alfabetização de dados e informações ao
usar o ChatGPT2.
Esse caminho só será possível investindo em letramento digital e
alfabetização midiática e informacional, de acordo com as diretrizes da
Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura
(Unesco) para formulação de políticas e estratégias de Alfabetização Midiá-
tica e Informacional (AMI):
[...] Sem políticas e estratégias da AMI, provavelmente, aumen-
tarão as disparidades entre os que têm e os que não têm acesso
à informação e às mídias, e entre os que exercem ou não a
liberdade de expressão. Outras disparidades surgirão entre
os que são e os que não são capazes de encontrar, analisar e
avaliar de maneira crítica, além de aplicar a informação e o
conteúdo midiático na tomada de decisão (Unesco, 2016, p. 4).
Além do investimento na alfabetização midiática e informacional, a
Unesco tece recomendações para as instituições educacionais e entidades
privadas desenvolverem a alfabetização em IA:
[...] Os Estados-membros devem promover a aquisição de
‘habilidades de pré-requisito’ para a educação em IA, tais
como alfabetização básica, numeramento, habilidades digitais
e de programação, e alfabetização midiática e informacional
2 “AI systems are not yet self-aware, students need to realize that responses from ChatGPT can
be wrong. Students need to apply critical thinking and data and information literacy skills
when using ChatGPT”.
TENSIONAMENTOS DO CHATGPT EM PRÁTICAS DE ENSINO 99
Inteligência artificial e educação-miolo.indb 99 24/11/2023 13:29
(AMI), bem como habilidades de pensamento crítico e criativo,
trabalho em equipe, comunicação, socioemocionais e de ética
da IA, especialmente em países, regiões ou áreas dentro de
países onde existem lacunas na instrução dessas habilidades
(Unesco, 2022, p. 34).
As habilidades mencionadas como pré-requisito para a educação em
IA são recomendações fundamentais para orientar nossas práticas peda-
gógicas articuladas com as tecnologias digitais e o ensino que integra
IAGs, como o ChatGPT.
Para além dos desdobramentos nas Ciências da Natureza e Matemá-
tica, o ChatGPT tensiona nossas práticas, fazendo-nos olhar para nossa
formação enquanto professores, para nossos estudantes e para a prática
de ensino, principalmente referente à avaliação. Ao associar-se com o
assistente, somos convidados a refletir sobre o domínio, o conhecimento
atualizado e aprofundado do conteúdo da nossa área de ensino. Além
disso, avançamos na reflexão em torno das nossas capacidades críticas de
questionar e elaborar boas perguntas, de produzir respostas e argumentos
a esses questionamentos, bem como capacidade crítica de avaliar as infor-
mações coletadas e sistematizá-las, direcionando-as ou integrando-as ao
trabalho de estudar, pesquisar, planejar e ensinar.
Por outro lado, o ChatGPT também exige do estudante um olhar e
atitudes renovadas frente às possibilidades para a aprendizagem, tendo
em vista que esse assistente passa a desenvolver atividades que envolvem
rápido processamento de informação para responder perguntas, geração
de textos, resolução de problemas, além do desenvolvimento de tarefas
abertas que envolvem exploração e detalhamento de fases. Conforme
Barbosa (2023), sabemos pouco sobre os desdobramentos do uso do
ChatGPT: o que muda, por exemplo, nas aulas de Matemática baseadas
em investigação? Ainda não sabemos. Nesse ponto, os professores passam
a se preocupar com o desenvolvimento da autoria, do pensamento e da
capacidade crítica dos seus estudantes. Essas características, segundo o
autor, “dependem da organização do trabalho pedagógico e da interação
100 INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E EDUCAÇÃO
Inteligência artificial e educação-miolo.indb 100 24/11/2023 13:29
dos alunos com o professor” (Barbosa, 2023, p. 1) para serem pensadas e
desenvolvidas.
Para Kevin Roose (2023), do The New York Times, proibir o uso do
ChatGPT na educação não é um bom caminho. Emily Donahoe, profes-
sora entrevistada por Melissa Heikkilä do MIT Technology Review, vai
na mesma direção afirmando que as IAGs, como o ChatGPT, estão for-
çando um debate que está atrasado, justamente pelo fato que ao “fazer
com que uma turma se envolva com a IA e pense criticamente sobre o que
ela gera pode tornar o ensino mais humano” (Heikkilä, 2023, tradução
nossa)3. Para deslocar a discussão do campo da avaliação para o processo
de aprendizagem, precisamos nos aproximar do ChatGPT com cautela,
compreendendo que, sendo uma IAG, essa tecnologia está sujeita a errar
e alucinar, que os alunos serão tentados a plagiar e que o investimento
em educação para a mídia e para a IA é diretriz segura para o desenvol-
vimento de práticas que aprimorem o pensamento crítico e a elaboração
de argumentos complexos.
Em síntese, é importante avaliar se o prompt ou comando criado pelo
estudante é claro e adequado para o objetivo de aprendizagem, como
também checar as fontes para garantir que as informações fornecidas
pelo ChatGPT são precisas e confiáveis. Essa avaliação cuidadosa pode
ajudar a maximizar os benefícios do uso do ChatGPT para o aprendizado
dos estudantes, ao mesmo tempo em que minimiza os possíveis riscos e
limitações. Os desdobramentos do uso do ChatGPT produzirão um efeito
significativo em práticas de ensino, “[...] ao menos na economia de tempo,
na análise de dados, modelos, e com certeza auxiliando professores e
estudantes no desenvolvimento de suas atividades” (Sant’Ana; Sant’Ana;
Sant’Ana, 2023, p. 83). Portanto, para discutir outras possibilidades e para
análises mais aprofundadas, são necessários mais investigações e experi-
mentos práticos nas Ciências da Natureza e em Matemática.
3 “Getting a class to engage with AI and think critically about what it generates could make
teaching feel more human”.
TENSIONAMENTOS DO CHATGPT EM PRÁTICAS DE ENSINO 101
Inteligência artificial e educação-miolo.indb 101 24/11/2023 13:29
CONSIDERAÇÕES FINAIS
As discussões em torno do ChatGPT reacenderam para o grande público
aquelas distantes demandas ligadas às questões das Ciências e suas Tec-
nologias, as controvérsias e as potencialidades relacionadas às IAs. Estas
sempre viveram no imaginário da sociedade moderna, graças à perspec-
tiva de substituição de funções humanas perante a aprendizagem das
máquinas e de suas múltiplas funções no mundo digital. Contudo, quando
o diálogo perpassa o campo da educação, vários elementos despontam
acerca dos benefícios e dos necessários cuidados em torno das interações
com IAGs, como o ChatGPT.
Os diferentes campos do saber vivenciam um momento de adaptação
em relação às demandas de uma sociedade cada vez mais plataformizada,
caracterizada pelo foco em artefatos digitais e pelo consumo desenfreado
destes. No âmbito acadêmico, o processo de ensino e pesquisa é elemento
basilar para o “pensar” e “fazer” docente. Dessa forma, o presente estudo
buscou justamente sistematizar os elos entre avanços da cultura digital
e seus reflexos, por exemplo, na atuação de um professor/pesquisador.
As pesquisas desenvolvidas até o presente momento ainda estão vin-
culadas à criação de estratégias que automatizam produção e sistemati-
zação de conhecimento científico, adotando as IAGs como mecanismos
de facilitação para a elaboração de etapas metodológicas para a produção
das informações de pesquisa. No âmbito do ensino, especificamente das
Ciências da Natureza e da Matemática, as atenções se concentram nos cui-
dados e limites que precisam ser estabelecidos para que artefatos, como
o ChatGPT, sejam mediados de forma orgânica no que tange ao processo
formativo, não retirando dos estudantes e do próprio professor o pensa-
mento crítico e reflexivo ao interagirem com tais tecnologias.
Portanto, o ChatGPT é mais um exemplo de como os artefatos digi-
tais vão, nos próximos anos, influenciar cada vez mais os espaços ligados
ao ensino e à pesquisa. Áreas como as Ciências da Natureza e a Matemá-
tica precisam (re)adaptar-se constantemente às demandas contemporâ-
neas da sociedade e aos avanços das tecnologias digitais. Espera-se que
102 INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E EDUCAÇÃO
Inteligência artificial e educação-miolo.indb 102 24/11/2023 13:29
os apontamentos presentes neste capítulo possam ser aprofundados na
literatura da área de modo a oferecer base teórica e epistemológica que
permita desenvolver experiências didático-pedagógicas mais consistentes
com o mundo digital.
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TENSIONAMENTOS DO CHATGPT EM PRÁTICAS DE ENSINO 105
Inteligência artificial e educação-miolo.indb 105 24/11/2023 13:29
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CAPÍTULO 6
AS CIÊNCIAS SOCIAIS E O ANJO DA
HISTÓRIA: O RACISMO NAS RUÍNAS DA
INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL
JAMILE BORGES DA SILVA
O ANJO DA HISTÓRIA
O fim está próximo! Desde a minha mais tenra infância ouço por dife-
rentes vozes e em diferentes contextos religiosos que o dia do juízo final
está próximo. O fim do mundo tem sido tema de filmes, documentários,
letras de música: “anunciaram e garantiram que o mundo ia se acabar,
por causa disso a minha gente lá de casa começou a rezar [...]” (E o mundo
[...], 2000, 4 s).
Cientistas em diferentes partes do mundo nos advertem que já ultra-
passamos os limites do bom senso e tudo o que se avizinha é caos, filmes
apocalípticos e promessas de utopias digitais pra enfrentar o crepúsculo
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Inteligência artificial e educação-miolo.indb 107 24/11/2023 13:29
do planeta e “[...] por causa disso nessa noite lá em casa não se fez batu-
cada” (E o mundo [...], 2000, 19 s).
Os chamados povos da terra – povos indígenas, quilombolas, povos
do Sertão, Cerrado e Recôncavo –, que detêm saberes ancestrais sobre os
sonhos e ruídos da terra, também não se cansam de nos alertar o quão
rapidamente marchamos rumo à extinção da nossa própria espécie. Trans-
formamo-nos nas piores versões de nós mesmos, como nos filmes trash,
capazes de desestabilizar as condições ambientais que possibilitaram
o surgimento da vida no planeta há milhares de anos. Desse impacto,
emergiu uma nova era geológica denominada Antropoceno.
Com notícias apontando o nascimento de crianças geneticamente
modificadas, o avanço das tecnologias de vigilância e redes nos Estados
Unidos e as guerras biotecnológicas prometidas pelas lideranças no norte
do mundo levam a uma questão que toca a todos: qual o futuro da espécie
humana?
Uma vez que certas tecnologias saíram da ficção científica e se encon-
tram em nossa realidade, as possibilidades se multiplicam e os caminhos
que a humanidade pode percorrer se tornam desconhecidos. A Inteli-
gência Artificial (IA) se converteu numa quase religião e a indústria tec-
nológica passa a definir inclusive nossos gostos, modos de ser e habitar a
cena contemporânea do mesmo modo e com a mesma intensidade com
que as tecnologias farmacêuticas possibilitam performances de gênero,
como lembra Preciado (2013) em seu excelente livro Testo junkie, um tes-
tamento de seu processo de transição de gênero e sua crítica ao que ele
chama de indústria farmacopornográfica.
No corpo desse projeto, configuram-se novas formas de existir em
sinergia com as demandas do Deus ex-machina; biohacking de performance,
a moda da vez quer desenhar um sujeito pós-humano, cuja utilidade vai
ao encontro das necessidades da lógica capitalista. Um conjunto de tec-
nologias que articulam a dimensão ética, estética, política e tecnológica
promete miniaturizar as soluções ao tempo em que amplificam as velhas
questões: todos as pessoas humanas serão aprimoradas? Quem decide
o que pode ou não ser aprimorado? Estaremos nas mãos das empresas
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fabricantes das tecnologias de aprimoramento? Quantos e quantas de nós
serão beneficiados(as) com os resultados dos avanços da digitalidade nos
diferentes campos da vida?
Seguindo os passos do filósofo alemão Walter Benjamin, acredito que
estamos ainda assistindo a passagem do anjo da história. Para Benjamin
(1985), pensador essencial para compreender o século XX, era preciso um
desvio crítico da ideia de progresso pensado como desenvolvimento téc-
nico acrítico1, como ele mostrou, por exemplo, em seu último texto, Sobre
o conceito de história. Inspirado por um quadro de Paul Klee, Angelus
Novus, ele vai definir sua compreensão da história:
O anjo da história deve ter esse aspecto. Seu rosto está dirigido
para o passado. Onde nós vemos uma cadeia de acontecimentos,
ele vê uma catástrofe única, que acumula incansavelmente
ruína sobre ruína e as dispersa a nossos pés. Ele gostaria de
deter-se para acordar os mortos e juntar os fragmentos. Mas
uma tempestade sopra do paraíso e prende-se em suas asas
com tanta força que ele não pode mais fechá-las. Essa tempes-
tade o impele irresistivelmente para o futuro, ao qual ele vira
de costas, enquanto o amontoado de ruínas cresce até o céu.
Essa tempestade é o que chamamos de progresso (Benjamin,
1985, p. 226).
Quando interroguei uma IA em uma das plataformas mais difundidas
atualmente, o ChatGPT2, sobre como Walter Benjamin definiu o anjo da
história, a plataforma me deu a seguinte resposta:
O anjo da história é apresentado por Benjamin como uma
figura que testemunha os eventos históricos de uma forma
não linear e não progressiva. Em vez de ver o tempo histórico
1 Aqui devo fazer referência ao belo trabalho da arquiteta Paola Berenstein (2020) sobre esse
conceito de Benjamin em seu livro, oriundo de uma tese, Fantasmas modernos.
2 ChatGPT é uma IA de linguagem natural desenvolvida pela OpenAI, que usa uma arquitetura
de rede neural para gerar respostas a perguntas feitas por usuários. Acessado dia 19 de maio
de 2023 em: https://chat.openai.com/.
AS CIÊNCIAS SOCIAIS E O ANJO DA HISTÓRIA 109
Inteligência artificial e educação-miolo.indb 109 24/11/2023 13:29
como uma linha reta de progresso, o anjo da história percebe
uma cratera de ruínas e desastres que se acumulam ao longo do
tempo. O anjo é incapaz de fechar os olhos para essa história
destrutiva, mas é impotente para intervir nela (ChatGPT, 2023a).
Segundo essa IA, inspirada nos trabalhos de Benjamin, estamos diante
de um processo inexorável em que o progresso – aqui representado pelo
avanço em escala sem precedentes das tecnologias semânticas e de vigi-
lância/controle – se revela inexpugnável. Conseguiremos em algum
momento ensejar um uso estratégico da tecnologia para liberar os indiví-
duos das imposições e do potencial das redes para diluir nossa resistência,
permitindo a emergência de uma multiplicidade de agentes e atores em
lugar de pessoas orientadas por algoritmos de gênero e viés racializados
como temos visto e experimentado?
Para muitos grupos e sociedades, o potencial emancipatório das atuais
tecnologias segue sem se cumprir. Alimentadas pelo mercado, seu rápido
crescimento é seguido por um entorpecimento coletivo e suas elegantes
inovações se submetem às lógicas das sociedades ainda coloniais em um
mundo estagnado do ponto de vista das assimetrias raciais e econômicas
que ancoravam as sociedades do século XIX e início do século XX.
Acima e ao lado do barulho ruidoso de plataformas e aplicativos, de
resíduos de mercadorias que se acumulam em galpões de venda on-line,
a tarefa precípua de cada um e cada uma de nós deveria ser desenhar
tecnologias para combater o acesso desigual às ferramentas e lógicas
reprodutivas da colonialidade. É preciso desafiar os sistemas e modelos
que, além da predição, promovem a precarização e a exploração de tra-
balhadores no capitalismo de plataforma, como apontam Zuboff (2021)
e Srnicek (2018), aspectos que contribuem para a criação de relações de
trabalho análogas à escravidão.
Importante destacar também que a desigualdade de gênero ainda
caracteriza os campos nos quais essas tecnologias são concebidas, cons-
truídas e disseminadas. Ao tempo em que as mulheres que trabalham na
indústria eletrônica (para nomear apenas uma indústria) levam a cabo os
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Inteligência artificial e educação-miolo.indb 110 24/11/2023 13:29
trabalhos mais monótonos, debilitantes e mal pagos, os homens estão, em
geral, nas posições mais bem pagas e qualificadas ou ainda em postos de
poder e liderança. Tal injustiça exige uma reforma estrutural, maquínica
e ideológica.
Pesquisadores(as) em diversas partes do mundo têm demonstrado
os mecanismos através dos quais as tecnologias digitais frequentemente
têm lançado mão para esconder, acelerar e até aprofundar formas de
discriminação, alertando para o fato de que o uso da IA combinada com
algoritmos e códigos discriminatórios contribui de modo inexorável para
aprofundar desigualdades estruturais, raciais e econômicas.
Eles têm demonstrado ainda como o cruzamento entre mercado, libe-
ralismo e racionalidade política amparada em conceitos como “governança
digital” tem nas tecnologias, mais especificamente nas IAs, um vetor que
tanto pode servir a processos criativos e de expansão do conhecimento,
quanto pode servir para afirmar estruturas de poder e desigualdade na
distribuição global de recursos científicos, tecnológicos e como isso tem
afetado a institucionalização de novas práticas de conhecimento e pes-
quisa em diversas áreas.
Precisamos falar sobre como o racismo estrutural opera através de
algoritmos, plataformas de mídia social e tecnologias alimentadas por
demandas de usuários, gerando situações racialmente estressantes dentro
das organizações e na sociedade, demandando de nós um compromisso
em tomar medidas para reduzir os danos às comunidades racialmente mar-
cadas e afetadas pela chamada algocracia ou datacracia, isto é, sociedades
governadas pelo regime dos números, dos códigos, das linhas de comando
e, em última instância, dos algoritmos. Se a história, como imaginou
Benjamin (1985, p. 229), “[...] é um tempo saturado de ‘agoras’”, é nosso papel
como cientistas sociais, pesquisadores(as) das humanidades, entender o
sentido tempestivo das IAs para produzir novas e densas narrativas sobre
como as diferentes sociedades e grupos étnicos historicamente subalter-
nizados poderão encontrar nas ruínas da história horizontes de devir.
Este capítulo é um convite à reflexão acerca dos modos como a
sociedade contemporânea enseja de modo insidioso a perpetuação das
AS CIÊNCIAS SOCIAIS E O ANJO DA HISTÓRIA 111
Inteligência artificial e educação-miolo.indb 111 24/11/2023 13:29
assimetrias raciais e sociais através das mediações sociotécnicas, ao tempo
em que busca acenar para horizontes de utopias possíveis com a pergunta
que inaugura uma era de sonhos pós-pandêmicos: há mundos por vir?
RACISMO E INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL
Embora o termo IA possa conjurar ideias de ficção científica de robôs
totalmente autônomos e com personalidades, na realidade a IA se refere
principalmente a padrões e códigos complexos usados para tomar deci-
sões ou realizar tarefas através de aprendizagem semântica automatizada
e lastreada por grandes bancos de dados além das nossas pegadas digitais,
tornando-se cada vez mais onipresente em nossas vidas. À medida que
terceirizamos e automatizamos a tomada de decisões sobre nossos gostos
e preferências para as plataformas e big techs3, habitamos um perigoso
limiar entre conseguir determinar se uma nova era de tecnologia repli-
cará as injustiças do passado ou se poderá de fato ser usada para desafiar
as desigualdades do presente.
Uma vez que entendemos a IA principalmente como um sistema de
tomada de decisão, torna-se mais evidente e também surpreendente ver
até que ponto ela já penetrou em nossas vidas, muitas vezes com uma preo-
cupante falta de transparência. O que quero propor aqui é uma reflexão
sobre a forma como raça e tecnologia se moldam, se interpenetram e ela-
boram narrativas cada vez mais sofisticadas em torno da representativi-
dade ou afirmação sobre quem pode e quem não pode ter direitos a uma
vida digna de ser contada, vivida e lembrada.
Quero refletir sobre os impactos éticos e sociais das tecnologias digi-
tais e dos algoritmos como substratos dessas plataformas, advertindo que
não podemos nos dar ao luxo de romantizar os processos de inovação e
transformação digital como etapas cada vez mais inescapáveis à sobrevi-
vência das empresas e corporações de mídia. Precisamos reconhecer que,
3 Big techs são gigantes corporações de tecnologia que exercem domínio no mercado de inovação,
como Apple, Google, Amazon, Microsoft e Meta.
112 INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E EDUCAÇÃO
Inteligência artificial e educação-miolo.indb 112 24/11/2023 13:29
como toda produção humana, as tecnologias e seus algoritmos também
são campos de batalha e será preciso identificar os lugares e papéis que
cada cidadão, cada grupo social, cada pertencimento identitário, cada
empresa e organização ocupam nesse campo.
Se queremos viver e trabalhar numa sociedade com justiça social e
cognitiva, será preciso reconhecer que o racismo – como uma tecnologia
do capitalismo colonial, patriarcal e moderno – desenvolve seus próprios
mecanismos de sobrevivência forçando parcelas inteiras da sociedade
a sobreviverem à margem do desenvolvimento tecnológico, ainda que
utilizem de modo sistemático smartphones e plataformas de streaming.
Um relatório produzido em 2019 pela Universidade de Michigan
(2020) afirmava que existe uma crise de diversidade no setor das big techs
quando se cruzam os marcadores de gênero e da raça. Estudos recentes
apontam que apenas 18% de autoras nas principais conferências sobre
tecnologias e IA são mulheres, enquanto mais de 80% dos professores e
conferencistas dessas áreas são homens (Unesco, 2023). Essa disparidade
é ainda mais extrema na indústria do desenvolvimento de IA. Ou seja, as
mulheres constituem um percentual sub-representado e não há dados
sobre trabalhadores(as) trans ou outras minorias.
Para os(as) trabalhadores(as) negros(as), o quadro é ainda pior. Apenas
2,5% dos trabalhadores de zonas como o Vale do Silício são negros. Então
é preciso olhar com mais cuidado para esse cruzamento entre fatores bio-
lógicos, políticos, culturais e tecnológicos, dos quais nós só costumamos
atentar para a dimensão técnica, a fim de compreender como poder e tec-
nologia estão intrinsecamente articulados a noções de gênero, raça e classe.
Sistemas judiciais ao redor do mundo estão usando IA para prever
chance de reincidência criminosa e marcar deliberadamente réus negros
como mais propensos a se tornarem criminosos no futuro. A IA também
está sendo usada para determinar para quais prisões um condenado
deve ir ou quais os direitos de visita ele ou ela pode ter, tratando de
forma discriminatória as perspectivas e horizontes que terão as pessoas
de acordo com sua classificação racial: se você for negro ou latino, por
exemplo, terá ainda mais chance de ser preso do que se for asiático ou
AS CIÊNCIAS SOCIAIS E O ANJO DA HISTÓRIA 113
Inteligência artificial e educação-miolo.indb 113 24/11/2023 13:29
branco. Tendências recentes como policiamento preventivo, sentenças e
empréstimos predatórios baseados em risco são variações preocupantes
do mesmo tema.
Não podemos desconsiderar que aqueles que estão por trás dos projetos
de desenvolvimento e design de informação organizam os dados como
um instrumento de opressão, reforçando a desigualdade e perpetuando a
injustiça. Já existem casos comprovados de empresas do mercado financeiro
cujas plataforma e curadoria de dados resultaram na exclusão sistemática
de comunidades negras dos principais serviços financeiros oferecidos.
Sabemos que o impacto biotecnológico dos algoritmos de curadoria,
da vigilância, do monitoramento e da difusão da informação ainda é um
campo novo de investigação, com inúmeros desafios que as Ciências
Sociais ainda não dão conta de responder em sua totalidade exatamente
porque são problemas e desafios ainda recentes, embora as bases desse
drama sociotécnico sejam bem conhecidas: a escravidão como tecnologia
que sustentou quatro séculos da história moderna não desapareceu com
a abolição do regime de trabalho forçado, ao contrário, transmutou e se
adaptou aos novos regimes de linguagem, de verdade e de técnica.
Há todo um campo novo, por exemplo, sobre a correlação entre
etnicidade e ancestralidade com base na chamada soberania genômica;
empresas farmacêuticas norte-americanas têm investido no chamado
“mercado de medicamentos étnicos”. Um cenário que poderíamos des-
crever como uma intenção deliberada em fazer colidirem os estudos
genômicos e biologizantes com os registros de narrativas históricas e
culturais para dar sentido às velhas práticas segregatórias sobre grupos
diferentemente racializados.
A pesquisadora afro-americana Ruha Benjamin (2019) chama isso de
“calibração estratégica” realizada a serviço dos órgãos governamentais ou
corporativos em geral atrelados aos ditames da indústria de tecnologia.
A autora, professora da Universidade de Princeton, nos Estados Unidos,
tem discutido a relação entre tecnologia e racismo, analisando casos de
design discriminatório e construindo ferramentas para uma abordagem
mais crítica sobre os usos e abusos das plataformas digitais e do universo
114 INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E EDUCAÇÃO
Inteligência artificial e educação-miolo.indb 114 24/11/2023 13:29
algorítmico para tratar de questões ligadas à saúde e muitas vezes cru-
zando essas questões com as questões políticas.
Num livro que se tornou famoso, Race after technology, Benjamin (2019)
demonstra que as tecnologias digitais têm aprofundado desigualdades
estruturais, raciais e econômicas, dando força a grupos supremacistas.
Ao atribuir no título uma óbvia alusão à Lei Jim Crow que determinava
o pertencimento étnico-racial com base na gota de sangue negro em sua
ascendência familiar, a autora quer refletir sobre como mecanismos de
inovação têm gerado segregação e formas de contenção, como o caso
dos algoritmos e tecnologias de reconhecimento facial que as polícias
do mundo têm utilizado. Os primeiros dados de pesquisa mostram que a
população carcerária que segue aumentando é de pretos e pardos. A isso
chamamos de algoritmos discriminatórios.
A pandemia também nos ensinou bastante sobre os modos como
os algoritmos de busca combinados com desinformação têm ajudado a
difundir ficções especulativas e preconceitos contra grupos racializados,
incitando xenofobia, discriminação e racismo. A utilização de sistemas
de IA para a classificação, detecção e previsão da raça e gênero necessita
urgentemente de uma reavaliação. A história do “pensamento racial” no
mundo inteiro é um lembrete sombrio do que o racismo científico pro-
duziu no panorama do século XX, mesmo depois de ingressarmos no pós-
-abolição. Definição de composições raciais e de sociedades com base na
raça e gênero se mostrou, ao longo da história, cientificamente ineficaz e
radicalmente abusiva e violenta.
As tecnologias baseadas em códigos racialmente enviesados não são
apenas uma metáfora racial, mas um dos muitos meios pelos quais antigas
formas de segregação são atualizadas. Browne (2015, p. 109, tradução nossa)
chama esse fenômeno de “epidermização digital”.
[...] É o que acontece quando certos corpos são renderizados
como código digitalizado [...] [por meio de técnicas como]
reconhecimento facial, tomografia de íris e retina, geometria
da mão, modelos de impressões digitais, padrões vasculares,
AS CIÊNCIAS SOCIAIS E O ANJO DA HISTÓRIA 115
Inteligência artificial e educação-miolo.indb 115 24/11/2023 13:29
de marcha e outros reconhecimentos cinéticos e, cada vez
mais, o DNA4.
Essa obsessão do universo do digital em reduzir todos os aconteci-
mentos a equações sofisticadas e linhas de código esconde, em realidade,
as tensões e os preconceitos próprios de quem opera ou difunde as infor-
mações nos ecossistemas digitais.
Quando interrogada sobre os limites e desafios do uso acrítico das
plataformas de IA, o ChatGPT, uma inteligência aberta já descrita ante-
riormente, me forneceu a seguinte resposta:
Os algoritmos de IA são treinados com base em conjuntos
de dados existentes, que podem refletir desigualdades e
preconceitos sociais. Se esses algoritmos forem usados para
analisar dados sociais podem perpetuar e amplificar viés exis-
tentes nos dados originais. Isso pode resultar em resultados
distorcidos e injustos, reforçando estereótipos dispensáveis
(ChatGPT, 2023b).
Ou ainda:
A IA tende a lidar com informações de forma educativa, sem
levar em consideração o contexto social, histórico e cultural
em que os dados foram gerados. Isso pode levar a uma inter-
pretação simplista e vivenciada dos fenômenos sociais, igno-
rando nuances importantes e complexas das vidas humanas
(ChatGPT, 2023b).
A verdade é que todos nós estamos enfrentando esse tempo com dife-
rentes níveis de incerteza, estresse e vulnerabilidade. O perigo do uso indis-
criminado dos algoritmos e das IAs é que, em geral, os aplicativos, softwares
e plataformas são vendidos como ferramentas de apoio e inovação para
4 “[...] what happens when certain bodies are rendered as digitized code [...] facial recognition,
íris and retinal scans, hand geometry, fingerprint templates, vascular patterns, gait and other
kinesthetic recognition, and, increaseingly, DNA”.
116 INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E EDUCAÇÃO
Inteligência artificial e educação-miolo.indb 116 24/11/2023 13:29
melhorar e performatizar a vida de grupos ou comunidades, mas para isso
lança mão de data bodies, ou seja, do rastreamento de nossos fragmentos
e vestígios digitais que são coletados e guardados na nuvem, em sistemas
de base de dados e fluxos de redes para dar suporte à tomada de decisões.
São, portanto, uma manifestação digital de nossas relações com a
comunidade e com as instituições, espelhando consequentemente a rede
de privilégios, opressão e dominação. Se queremos um horizonte dife-
rente para o conjunto heterogêneo de pessoas que habitam este planeta
com um mínimo de respeito e justiça algorítmica, será preciso investir e
inventar novos tempos para um novo amanhã.
HÁ MUNDOS POR VIR?
Prenúncios sobre os fins deste mundo parecem ser a tônica e o sentimento
que atemoriza nossa época. As geleiras dos árticos derretem com uma
velocidade assustadora. Genocídios de povos originários e desmatamento
avançam em escalas sem precedentes. Para Danowski e Viveiros de Castro
(2014, p. 31-32), trata-se de uma crise que impõe uma nova cosmopolítica.
Não se trata apenas, portanto, de uma ‘crise’ no tempo e no
espaço, mas de uma corrosão feroz do tempo e do espaço. Este
fenômeno de um colapso generalizado das escalas espaciais e
temporais (o interesse contemporâneo pelos fractais não nos
parece acidental) anuncia o surgimento de uma continuidade
ou convergência crítica entre os ritmos da natureza e da cul-
tura, sinal de uma iminente ‘mudança de fase’ na experiência
histórica humana.
O campo dos estudos culturais, dos estudos subalternos e dos estudos
pós-coloniais vem, desde os anos 1970, apontando a desestabilização de
paradigmas teóricos e temáticos estabelecidos por uma tradição acadê-
mica ainda marcadamente eurocêntrica, entendendo a Europa como
espaço geográfico e cultural detentor de hegemonia na eleição de temas,
questões e abordagens. Nos termos de Sanjay Seth (2013), um “privilégio
AS CIÊNCIAS SOCIAIS E O ANJO DA HISTÓRIA 117
Inteligência artificial e educação-miolo.indb 117 24/11/2023 13:29
epistêmico” centralizador de espaços editoriais, divulgação científica e
difusão tecnológica.
Sendo assim, a emergência de vozes anticoloniais surge, ao mesmo
tempo, como reivindicação de descentralização da produção e divulgação
de saberes e como proposição de novas perspectivas epistemológicas,
marcadas por vivências diaspóricas, identidades ambivalentes e entre-
cruzamento de fronteiras étnicas, nacionais e linguísticas.
Diferentes autoras latino-americanas (ou chicanas, como muitas delas
se autodefinem no campo dos estudos anticoloniais) vêm afirmando há
algum tempo a importância da confrontação criativa de diferentes epis-
temes, que seria necessária não apenas para a compreensão de cosmovisões
e modos de vida não ocidentais, mas principalmente para a imaginação
e construção de novos projetos de futuro.
Davi Kopenawa (2015), liderança indígena, lembra que, por toda parte,
ruídos de aviões, carros, rádios, televisores e máquinas infernais nos
impedem de sonhar com os silêncios das florestas. Por isso, as pessoas da
cidade, dizem Kopenawa e Albert (2015, p. 76), dormem sem sonhos “[...]
como machados largados no chão de uma casa”. Da mesma maneira, pelo
ar nos chegam o mau cheiro dos gases tóxicos, pesticidas de toda espécie,
partículas cancerígenas, radioativos diversos, fuligens, poeiras.
Para o coletivo de mulheres Xenofeminista5, o nosso mundo é um
mundo invadido por mediações tecnológicas, que entrelaçam nossas
vidas diárias de maneira abstrata, virtual e complexa. Nesse mundo, os
povos originários reivindicam não mais repetição sem futuro na espiral
do capitalismo, não mais submissão à monotonia do trabalho, seja pro-
dutivo ou reprodutivo, não mais coisificação do natural mascarado como
crítica. Nosso futuro requer uma despetrificação.
Isso significa promover a expansão de múltiplos saberes para além
da racionalidade ocidental que põe a cognição acima da imaginação e do
5 O coletivo é um movimento de mulheres que se inspira na bricolagem entre ciberfeminismo,
pós-humanismo, aceleracionismo, abolicionismo penal, feminismo materialista, entre outras
bandeiras.
118 INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E EDUCAÇÃO
Inteligência artificial e educação-miolo.indb 118 24/11/2023 13:29
entendimento de outras cosmovisões. Na perspectiva ameríndia, a civi-
lização ocidental criou máquinas e objetos tecnológicos, mas, do ponto
de vista do humanismo, são povos agressivos e violentos. Estamos, assim,
prensados como o anjo de Walter Benjamin entre lembrar e resistir ao
passado e às ruínas da ferida colonial e desenhar futuros ante o abismo.
Em um livro que muito tem me inspirado, Déborah Danowski e
Eduardo Viveiros de Castro (2015) intentam, segundo Zuker (2015, p. 1),
[...] produzir um pensamento e uma mitologia [...] [como]
uma reflexão cosmopolítica em diálogo com o pensamento
ameríndio, [...] tomando como ponto de partida [...] o medo
do fim do mundo, substituindo o lugar antes ocupado pelo
messianismo no imaginário moderno. [...] A cosmopolítica
moderna conceberia o humano como ponto de chegada de
uma evolução ao longo da história.
O capitalismo exige relações calcadas nas desigualdades para desen-
volver-se. Essas desigualdades são construídas a partir da hierarquização
dos corpos que carregam consigo a perda da humanidade dos povos colo-
nizados. Sendo assim, a construção de um novo marco civilizatório passa
necessariamente pela criação de outro modelo tecnoeconômico e de outro
pacto civilizatório com a participação dos povos da terra.
Precisamos interrogar por que há tão pouco esforço organizado para
redirecionar as tecnologias para fins de emancipação política e estratégica
como forma de redesenhar o mundo? Sabemos que nenhuma tecnologia
é inerentemente progressista. Ademais, seus usos estão fundidos com a
cultura num círculo de retroalimentação de modo que as inovações tec-
nocientíficas em geral deixam de fora os coletivos de mulheres, queers,
afrodescendentes, indígenas e quilombolas e todas aquelas pessoas que
sejam dissidentes da norma.
Talvez, ao modo do pensador antilhano Edouard Glissant (2021), seja
preciso recriar um pensamento de vestígio, fazendo interagir elementos
da realidade com os vestígios do que já fomos e do que já cremos. Neces-
sitamos urgentemente combater a velha fórmula extrativista colonial
AS CIÊNCIAS SOCIAIS E O ANJO DA HISTÓRIA 119
Inteligência artificial e educação-miolo.indb 119 24/11/2023 13:29
que expulsou comunidades originárias de seus territórios em nome do
progresso, deixando ruínas seculares não apenas como testemunhas da
dor, mas também das resistências.
Será preciso fabricar outras narrativas, outras tecnologias que per-
mitam o reconhecimento da diversidade e compreendam que a ruptura
de todo laço social está intrinsecamente ligada à diminuição da empatia
pela vida humana de todas as pessoas. Urge um manifesto contra a pre-
cariedade da vida.
E, ao fim e ao cabo, depois de todas as previsões sobre o fim do mundo
ou sobre os fins deste mundo,
eu pensei que o mundo ia se acabar, e fui tratando de me
despedir, e fui tratando de aproveitar. Beijei a boca de quem
não devia, peguei na mão de quem não conhecia. Dancei
um samba em traje de maiô, e o tal do mundo não se acabou
(E o mundo [...], 2000, 24 s).
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120 INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E EDUCAÇÃO
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AS CIÊNCIAS SOCIAIS E O ANJO DA HISTÓRIA 121
Inteligência artificial e educação-miolo.indb 121 24/11/2023 13:29
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CAPÍTULO 7
INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL GENERATIVA E
OS SABERES CIENTÍFICOS
WENDEL FREIRE
EDMÉA SANTOS
INTRODUÇÃO
A invenção do navio é a invenção do naufrágio. Essa afirmação do filósofo
Paul Virilio (1993) resume sua reflexão a respeito da velocidade e do pro-
gresso tecnológico e sua argumentação de que, para além do desenvolvi-
mento, cada tecnologia moderna nos apresenta novos riscos e desastres
imanentes.
Com a Inteligência Artificial Generativa (IAG), oscilamos entre o fas-
cínio exercido pelas possibilidades e os naufrágios imaginados nas ques-
tões éticas e sociais implicadas. Em diferentes aplicações, podemos obter
imagens (Dall-E, Midjourney), vídeos (D-ID, Kaiber) ou textos escritos
123
Inteligência artificial e educação-miolo.indb 123 24/11/2023 13:29
(Bard, Sage, entre outros) a partir de solicitações e orientações dadas em
uma entrada de texto, o chamado prompt. A interface que, por conta da
performance, tem causado maior assombro, principalmente ao mundo
acadêmico, é o ChatGPT.
O universo acadêmico já se sentiu significativamente ameaçado pela
internet e pelas “maravilhas” geradas em seu ambiente, como Google e
Wikipédia, seja por conta da suposta fragilidade da leitura não linear, seja
pelo receio diante da facilidade do “copia e cola” e do plágio puro e sim-
ples. Com a IAG, a ameaça parece mais alargada e profunda.
Da preocupação imediata com o crescimento exponencial da desin-
formação a preocupações mais filosóficas como a ameaça à existência
humana, há uma série de questões alimentando o debate acadêmico e
o debate público. Mas não temos nos naufrágios e nas possibilidades
uma bifurcação diante da qual escolhemos seguir apenas um caminho.
Temos, isso sim, imbricado o desafio da apropriação técnica das IAGs
por docentes e discentes de modo a desenvolver saberes científicos ou
ampliar a capacidade de um pesquisador, além do dever de uma reflexão
que nos permita independência intelectual e nos afaste radicalmente
de uma expropriação da criatividade, da produção acadêmica e do pen-
samento crítico.
Este capítulo está organizado em três seções. Na primeira, apresen-
tamos uma breve conceituação e classificação da Inteligência Artificial (IA),
apontando o estágio em que se encontra a tecnologia que dá base às
IAGs. Na seção seguinte, abordamos a técnica necessária para orientação
do modelo de linguagem na geração de resultados mais completos e
satisfatórios. Na terceira seção, destacamos a utilização do ChatGPT e de
interfaces similares como assistentes de um pesquisador, aumentando a
produtividade e ampliando saberes científicos.
O QUÊ? PARA QUÊ?
Apoiado em uma quantidade colossal de dados e em um modelo de lin-
guagem preditivo, o ChatGPT forja um diálogo com o usuário e emula
124 INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E EDUCAÇÃO
Inteligência artificial e educação-miolo.indb 124 24/11/2023 13:29
a linguagem natural humana, colocando uma palavra após a outra em
uma sequência baseada em estatística e probabilidade. Trata-se de um
modelo de processamento de linguagem natural da OpenAI (empresa
fundada por Elon Musk, Sam Altman, Greg Brockman, entre outros
empresários bilionários e que hoje tem a Microsoft como principal
investidor) que utiliza 175 bilhões de parâmetros de aprendizado de
máquina (Xavier, 2023). E é justamente essa configuração exorbitante
que permite ao algoritmo realizar seu trâmite matemático e entregar
as respostas tão complexas. A despeito de todo entusiasmo e de toda
potência, “[...] esses programas estão travados numa fase pré-humana
ou não-humana da evolução cognitiva”1 (Chomsky; Roberts; Watumull,
2023, tradução nossa).
Para compreender em que estágio está a tecnologia empregada nessa
IA, precisamos recorrer a uma brevíssima conceituação e classificação. IA
é a simulação computacional de processos cognitivos humanos e também
um ramo das Ciências da Computação cujo objetivo é criar máquinas
inteligentes, capazes de aprendizado, aquisição e uso de informações,
raciocínio, autocorreção, resolução de problemas, percepção, reconheci-
mento e processamento de linguagem (Santaella, 2019). De acordo com
Margaret Rouse (2019 apud Santaella, 2019), a IA constitui-se de uma série
de aplicações, tais como automação, aprendizagem de máquina, visão
de máquina, reconhecimento de padrões, robótica e processamento de
linguagem natural.
Podemos classificá-la em: IA fraca – programada para tarefas específicas
e limitadas, extraindo informações de um conjunto de dados (exemplos:
assistentes virtuais e sistemas de recomendação); IA forte – seria um sis-
tema computacional simulando a mente e realizando quaisquer atividades
humanas; superinteligência – IA hipotética que ultrapassa a capacidade
humana em todas as áreas, inclusive criatividade e inovação, com poten-
cial de transformar a sociedade e de pôr em risco a existência humana
(Bostrom, 2018; Santaella, 2019). Sobre esta última, também denominada
1 “[...] such programs are stuck in a prehuman or nonhuman phase of cognitive Evolution”.
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Inteligência artificial e educação-miolo.indb 125 24/11/2023 13:29
inteligência geral ou ultrainteligência, temos uma definição de I. J. Good
(1965, p. 33 apud Bostrom, 2018, p. 26-27):
Defina-se uma máquina ultrainteligente como uma máquina
capaz de superar todas as atividades intelectuais de qualquer
homem, independentemente de quão genial ele seja. Já que
o projeto de máquinas é uma dessas atividades intelectuais,
uma máquina ultrainteligente poderia projetar máquinas
ainda melhores; haveria então certamente uma ‘explosão
de inteligência’, e a inteligência humana se tornaria desne-
cessária. Desse modo, a primeira máquina ultrainteligente
é a última invenção que o homem precisará fazer, contanto
que a máquina seja dócil o suficiente para nos dizer como
mantê-la sob controle.
O ChatGPT 4.0, versão mais atual (e paga), possui 100 trilhões de
parâmetros de aprendizado de máquina – 570 vezes mais capaz do que
o modelo de linguagem anterior – e apresenta respostas mais próximas
das humanas e um poder ampliado de análise (Arifin, 2023). Ainda assim,
podemos dizer que as IAGs constituem uma transição da IA fraca para
a IA forte, ainda agarrada ao primeiro nível classificatório. Mas, conve-
nhamos, é pouquíssimo provável que tenhamos esgotado as possibilidades
de ampliação desse poder.
Para Emily Bender e demais autores (2021), modelos de linguagem fun-
cionam como papagaios estocásticos, reproduzindo padrões encontrados
nos dados imputados no treinamento, chegando a resultados muitas vezes
precisos, mas incapazes de compreender o significado desses padrões ou
o contexto e as implicações do texto que produziram. Modelos de lin-
guagem são a tecnologia que dá base ao ChatGPT. Chomsky (2023), por
sua vez, destaca o desserviço prestado pela interface que está focada mais
na simulação do que no entendimento:
[...] Um exercício inteligente de simulação. Percorre quantidades
astronômicas de dados, por meio de programas inteligentes, para
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Inteligência artificial e educação-miolo.indb 126 24/11/2023 13:29
produzir resultados semelhantes à informação que encontra.
Não diz nada sobre linguagem, aprendizagem, inteligência.
[...] [As inteligências artificiais] estão induzindo no público
uma sensibilidade que nega fundamentalmente o objetivo
da ciência. De que vale compreender o que quer que seja
quando se pode analisar um sem fim de dados e prever o que
vai acontecer? Este é o mais radical ataque ao pensamento
crítico, à inteligência crítica e particularmente à ciência que
eu alguma vez vi.
O cérebro humano é constituído por 100 bilhões de neurônios capazes
de realizar 100 trilhões de sinapses e sem fios e sem acesso a quantidades
astronômicas de dados supera em muito o desempenho dos 100 trilhões
de parâmetros de aprendizado de máquina. Como subverter este radical
ataque mencionado por Chomsky? Garantindo que o pesquisador não
se torne papagaio e valendo-se efetivamente do fato de que o ChatGPT
está muito aquém do humano, podemos elaborar textos a partir de nossas
experiências, formular hipóteses a partir de nossas observações e chegar
a conclusões próprias. Portanto, exploremos os afazeres com os quais este
assessor digital poderá auxiliar a vida de um acadêmico, transformando
o chatbot em um suporte aos saberes científicos.
TUDO PROMPT
A utilização da linguagem por um sistema computacional é uma grande
preocupação, já que a gestão da informação e do conhecimento por meio
da linguagem é uma característica distintiva da inteligência humana.
É possível que tenhamos, em um futuro não tão distante, dificuldade em
diferenciar a linguagem humana da artificial. Encontrar caminhos dis-
cursivos originais é e continuará sendo fundamental para que reforcemos
nosso destaque frente às IAGs. Também precisaremos aprimorar nossa
capacidade de elaborar questões. O melhor da IAG será revelado a partir
de prompts bem elaborados (Bozkurt, 2023).
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Inteligência artificial e educação-miolo.indb 127 24/11/2023 13:29
A criação começa na solicitação ao ChatGPT, e a qualidade dos resul-
tados dessa interface é obtida pela engenharia de prompt, a arte de fazer
perguntas (Mok, 2023 apud Correia, 2023).
A Engenharia de Prompt é uma técnica utilizada para ajudar
a inteligência artificial a entender o que dizer ou escrever. Ela
envolve selecionar e projetar as palavras certas para guiar o
modelo na produção do tipo de resposta desejada. Essa técnica
ajuda a melhorar a precisão e a consistência dos modelos de
linguagem na geração de texto em linguagem natural2 (Correia,
2023, tradução nossa).
Os resultados se apresentam mais completos e consistentes na medida
em que os prompts, que orientam a interface, são claros e específicos. Para
isso, é importante iniciar por uma descrição do papel que se deseja para
a IAG. Também é recomendado que seja inserido o contexto para que o
modelo de linguagem busque por nuances específicas do problema. Isso
garante que a interface faça sua busca e sua composição com maior ade-
quação às expectativas.
A precisão do prompt requer ainda que se declare o resultado esperado
e que sejam realizadas diferentes entradas, acrescentando perspectivas
com o objetivo de chegar a uma resposta mais completa e satisfatória.
Assim como o Google, o ChatGPT é cheio de respostas, mas o talento em
construir boas questões é humano. A Figura 1 ilustra bem o que expomos
sobre prompt.
2 “Prompt engineering is a technique used to help artificial intelligence understand what to
say or write. It involves selecting and designing the right words to guide the model toward
producing the desired type of response. This technique helps to improve the accuracy and
consistency of language models when generating natural language text”.
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Inteligência artificial e educação-miolo.indb 128 24/11/2023 13:29
Figura 1 – Engenharia de prompt
Fonte: tradução livre e recriação de ChatGPT (2023, 1 h 2 min 9 s).
Um exemplo de prompt: “Você é um assistente virtual útil na área de
linguística computacional. Gostaria de saber mais sobre processamento
de linguagem natural. Forneça uma explicação clara e concisa e apresente
exemplos de aplicação”.
A seguir, temos a resposta do ChatGPT à nossa solicitação de criação
de um prompt exemplar, aprofundado, na mesma área:
Você está desenvolvendo um chatbot para atendimento ao
cliente e deseja melhorar a sua capacidade de entender as
intenções dos usuários. Com base na análise de linguagem
natural, descreva como o modelo de classificação de inten-
ções pode ser aplicado ao seu chatbot. Por favor, explique as
etapas do processo de classificação de intenções e forneça
exemplos de como isso pode melhorar a experiência do
usuário (ChatGPT, 2023a).
A engenharia de prompt requer seleção de termos, apresentação
da função, do contexto, de informações relevantes e de instruções bem
definidas.
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Inteligência artificial e educação-miolo.indb 129 24/11/2023 13:29
Orientado, o ChatGPT apresentou um prompt mais preciso e contex-
tualizado, determinando melhor o resultado esperado. Portanto, é possível
utilizar a interface para melhorar a própria solicitação e consequentemente
obter resultados mais próximos do desejado.
SABERES CIENTÍFICOS
Um pesquisador poderá, através de um prompt claro, buscar o chatbot
com a finalidade de complementar seu conhecimento, mas também soli-
citando ajuda em tarefas próprias da sua atividade, como pedir ao assis-
tente virtual para montar um cronograma de estudos ou compor uma
série de questões sobre sua dissertação ou tese para que o pesquisador se
prepare para uma defesa diante da banca. Vejamos como buscar infor-
mação, revisar ou melhorar um texto, revisar notas bibliográficas, traduzir
para outras línguas, analisar dados presentes em um arquivo, entre outros
saberes científicos.
Os pesquisadores têm no uso das IAGs um suporte significativo em
seus procedimentos e saberes científicos. Se utilizado como um assistente
– e não como um ghostwriter –, o ChatGPT é um motor para a produtivi-
dade, pois amplia a capacidade em revisões sugerindo melhorias no estilo
da escrita ou correções gramaticais; analisa e interpreta dados em quan-
tidades que seriam muito difíceis se o pesquisador estivesse trabalhando
manualmente; e traduz de modo instantâneo e bastante satisfatório textos
inteiros, deixando a atenção para trechos mais importantes. Em cada uma
dessas ações, entre outros afazeres, a produção acadêmica é beneficiada,
com o pesquisador mais livre para reflexões, análises e criações.
Existem diversas aplicações utilizando IAG. A Poe (serviço da empresa
Quora), por exemplo, oferece acesso gratuito e rápido a diferentes
chatbots como Claude-instant, NeevaAI, Sage e ChatGPT. O pesquisador
deve aprender a fazer perguntas melhores, construindo prompts mais
precisos, com o intuito de obter melhores resultados de um bot e, além
disso, também pode comparar resultados de bots diferentes.
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Inteligência artificial e educação-miolo.indb 130 24/11/2023 13:29
A partir do ChatPDF3, é possível inserir um extenso arquivo de texto
no formato PDF, acessando e tratando uma grande massa de dados, soli-
citando sumarização, fichamento, revisão das referências ou tradução do
seu conteúdo. O ChatPDF pode ainda converter arquivos em diferentes
formatos, buscar palavras-chave – o que agiliza a procura por trechos espe-
cíficos –, organizar documentos diferentes de acordo com as classificações
solicitadas no prompt – criando pastas ou etiquetas – ou reproduzir em
voz alta o texto do arquivo destacado. Além disso, ideias e sugestões para
a pesquisa podem ser geradas pelo assistente virtual, ajudando o investi-
gador a expandir o escopo da pesquisa.
Cada resultado apresentado pelas IAGs deve ser perscrutado, pois os
bots são generalistas e apresentam muitas vezes resultados com erros gros-
seiros e afirmações vazias. O mais seguro é questionar acerca do que se
conhece ao menos razoavelmente. Lançar uma questão sobre um assunto
do qual temos pouco ou nenhum domínio pode nos deixar diante de
resultados em que podemos não identificar os equívocos. Mas sobretudo
é importante que sequer uma frase seja utilizada tal e qual se obtém do
assistente, preservando o trabalho intelectual e a capacidade de compo-
sição de textos autenticamente humanos.
Diante de tantas tarefas realizáveis pelo chatbot, há de se compreender
também os limites da interface, entre eles a dependência fundamental
de dados. Caso alguma pergunta extrapole os dados utilizados no treina-
mento da interface, o “papagaio estocástico” nada produz de confiável.
A falta de compreensão de situações e contextos pode resultar em res-
postas frágeis, inadequadas ou mesmo falsas.
Por fim, para falar de outra limitação, perguntamos ao assistente sobre
a presença de viés de dados no treinamento: “Quais são os perigos de você,
ChatGPT, apresentar viés nos dados de treinamento? Quais poderiam ser
os dados considerados tendenciosos? Hoje, como você pode combater
este perigo?”
3 Ver em: https://www.chatpdf.com/.
INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL GENERATIVA E OS SABERES CIENTÍFICOS 131
Inteligência artificial e educação-miolo.indb 131 24/11/2023 13:29
Ao que o bot respondeu:
Os perigos de apresentar viés nos dados de treinamento são
muitos e podem levar a resultados imprecisos, injustos e até
prejudiciais. O viés nos dados de treinamento ocorre quando
os dados utilizados para treinar um modelo de aprendizado
de máquina são tendenciosos, ou seja, não representam ade-
quadamente a população que se deseja modelar. Isso pode
acontecer, por exemplo, quando a amostra de dados utilizada
para o treinamento é desproporcionalmente representada por
uma determinada classe ou quando os dados são coletados
de forma não aleatória.
Alguns exemplos de dados tendenciosos incluem:
• Dados que representam uma minoria da população em
detrimento da maioria;
• Dados coletados em um ambiente específico que não
reflete adequadamente a variabilidade do mundo real;
• Dados que foram selecionados ou pré-processados para
destacar características específicas, em vez de representar
a amplitude da variabilidade presente nos dados.
• Para combater esse perigo, é importante seguir algumas
práticas recomendadas para garantir que o modelo seja
treinado com dados justos e representativos, como:
• Coletar dados de forma aleatória e equilibrada;
• Realizar uma análise exploratória dos dados para iden-
tificar possíveis viéses;
• Usar técnicas de pré-processamento para equilibrar a
representação das classes;
• Utilizar métricas que avaliem o desempenho do modelo
em diferentes subgrupos da população;
• Fazer o ajuste do modelo para evitar o viés.
Além disso, é importante que as equipes de treinamento e
desenvolvimento de modelos sejam diversas e inclusivas, para
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Inteligência artificial e educação-miolo.indb 132 24/11/2023 13:29
que possam ajudar a identificar e corrigir possíveis viéses. O uso
de conjuntos de dados abertos e transparentes também pode
ajudar a garantir que os modelos sejam treinados com dados
justos e representativos. É importante lembrar que a justiça
algorítmica é uma questão crucial na aplicação de somente
quando alguém está vigiando ou quando alguma tecnologia
está detectando a farsa. Ser ético é produzir a partir do ritmo
e da criatividade humana mesmo modelos de aprendizado
de máquina e deve ser levada em consideração em todas as
etapas do processo de desenvolvimento (ChatGPT, 2023b).
No código por trás de cada sofisticado produto digital, há resíduos dos
sujeitos que o programam. O treinamento de um modelo de linguagem
como o ChatGPT tem como uma das etapas principais a inserção de um
imenso conjunto de dados textuais (livros, artigos acadêmicos e textos
da internet).
Cada resultado deve sofrer uma análise criteriosa e, a despeito das
facilidades oferecidas pela interface, um pesquisador precisa manter as
IAGs subalternas ao trabalho intelectual humano.
CONCLUSÃO: ÉTICA
Delegar nossa tarefa de produção intelectual a um sistema matemático
que se lança a macaquear a linguagem humana, calculando cada próxima
palavra que irá transcrever, é assumir um lugar subalterno que deveria
ser ocupado pela máquina. O que este capítulo propôs foi a utilização das
IAGs para aumentar a produtividade acadêmica, deixando o pesquisador
mais livre para criar, analisar e refletir.
Edward Tian, jovem aluno da Universidade de Princeton, criou uma
aplicação que examina o texto “colado” em sua página – GPTZero4 – e
detecta se foi produzido por uma IAG, seja analisando a uniformidade
na construção e no tamanho das frases, seja avaliando a complexidade
4 Ver em: https://gptzero.me/.
INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL GENERATIVA E OS SABERES CIENTÍFICOS 133
Inteligência artificial e educação-miolo.indb 133 24/11/2023 13:29
da escrita. Outras maneiras mais efetivas de identificar a utilização de
uma IAG estão certamente a caminho, porém é fundamental ser ético
enquanto verificações não chegam e mesmo após a obsolescência dos
mecanismos de verificação.
É urgente ser ético e verdadeiro com as instituições, consigo, com a
comunidade acadêmica e, por que não dizer, com a humanidade. Para
muitos, o estágio atual da IA é o primeiro degrau para uma superinteli-
gência, capaz de ameaçar a própria existência do homem. Independen-
temente de estarem corretos quanto à previsão, nenhum momento será
adequado para entregar às máquinas o que fazemos de melhor.
REFERÊNCIAS
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Change, 2023. 1 vídeo (1 h 30 min 38 s). [Webinar]. Disponível em: https://www.
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134 INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E EDUCAÇÃO
Inteligência artificial e educação-miolo.indb 134 24/11/2023 13:29
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INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL GENERATIVA E OS SABERES CIENTÍFICOS 135
Inteligência artificial e educação-miolo.indb 135 24/11/2023 13:29
Inteligência artificial e educação-miolo.indb 136 24/11/2023 13:29
PARTE II
MEDIAÇÃO DA INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL
NAS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS E
INVESTIGATIVAS
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CAPÍTULO 8
APROPRIAÇÕES E USOS DO CHATGPT
NO CONTEXTO DA PESQUISA SOBRE
PLATAFORMIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO:
UM RELATO DE EXPERIÊNCIA
CÍNTIA DA SILVA VITORINO
BRUNO CERQUEIRA BARBOSA
LUCAS DE JESUS DA SILVA
EVERTON SANTANA RODRIGUES
INTRODUÇÃO
Neste capítulo, compartilhamos nossos distintos modos de apropriação
com o ChatGPT enquanto bolsistas de iniciação científica da Universidade
Federal da Bahia (UFBA), vinculados ao projeto “Plataformas Digitais de
Ensino: um estudo de caso da interação dos docentes das Universidades
e Institutos no Nordeste – UFBA, UNEB, IF Baiano e IFPB”. O referido
139
Inteligência artificial e educação-miolo.indb 139 24/11/2023 13:29
projeto visa estudar as implicações sociais, econômicas e políticas das
plataformas digitais na sociedade contemporânea.
Como você deve ter visto, nós somos parte da Rede de Pesquisa Comu-
nidades Virtuais, uma rede que reúne pesquisadores de diferentes áreas
e instituições que estudam a cultura digital, aprendizagem, educação e
saúde, por vezes desenvolvendo jogos (digitais ou analógicos) e aplicativos.
Dito isso, para ilustração, imagine que desenvolvemos uma plata-
forma digital para interagirmos com outros membros da nossa rede e de
outros grupos de pesquisa. Você então fez o cadastro na nossa plataforma
e, a cada vez que usa, ela registra suas ações, sendo estas: quais trabalhos
você leu, quanto tempo demorou para ler, os comentários que você fez,
as marcações no texto, entre outras.
Essas ações são traduzidas em simples dados de navegação que são
enviados para a central da rede de pesquisa que os analisa e cria um
perfil sobre você, destacando informações sobre suas áreas de interesse,
suas linhas de pesquisa e possibilidades de redes de coautoria no grupo.
Concomitantemente, nós, na posição de desenvolvedores, vendemos os
dados obtidos por meio do seu uso para outras empresas de segmentos
diversos para que elas possam traçar estratégias de marketing e atraí-lo,
como possível consumidor.
Esse exemplo é, de forma resumida, o processo de plataformização
ancorado ao capitalismo de vigilância que, à primeira vista, parece algo
benéfico, pois alguns desses dados podem ser aplicados para o aprimo-
ramento de produtos e serviços. Contudo, nós atuamos por trás utili-
zando esses dados na forma de excedente comportamental, assim como
as empresas envolvidas no capitalismo de vigilância (Google, Amazon,
Facebook, Apple e Microsoft) fazem. O excedente de comportamento
serve para alimentar processos avançados de predição que antecipam o
que um determinado indivíduo faria neste exato momento, daqui a pouco
tempo e depois… um pouco mais tarde (Zuboff, 2021).
A Google, na posição de pioneira, revolucionária e inovadora, ainda
nos primórdios da sua atuação, percebeu que as buscas on-line produziam
recursos de dados inéditos, chamados por Zuboff (2021) de dados colaterais.
140 INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E EDUCAÇÃO
Inteligência artificial e educação-miolo.indb 140 24/11/2023 13:29
Esses dados fornecem, por exemplo, informações como o número e o
padrão dos termos de busca, o modo que a busca é formulada, o tempo de
visualização em uma página, os padrões de cliques e a localização. Esses
subprodutos eram armazenados sem grande rigor e ignorados do ponto
de vista operacional (Zuboff, 2021). É nesse momento também que Zuboff
(2021) declara que a Google se interessou pelo trabalho de um estudante
de pós-graduação da Stanford, Amil Patel, sobre mineração de dados.
Amil Patel foi quem teve a inspiração para a captação de dados “aci-
dentais” da Google, para assim construir arquivos detalhados sobre cada
usuário (sentimentos, emoções e interesses) gerados a partir da navegação
on-line (Zuboff, 2021). Essa inspiração de Patel dá origem ao “superávit
comportamental”, citado anteriormente, como a estratégia de dirigir a
publicidade a usuários individuais e garantir lucro exponencial.
A plataformização pode ser entendida pela penetração de infraestru-
turas, processos econômicos e políticas das plataformas digitais em dife-
rentes setores e esferas da vida, reorganizando-os em torno de uma nova
lógica baseada em plataformas e dataficação (Poell; Nieborg; Van Dijck,
2020). A dataficação, por sua vez, é um processo em que a vida é trans-
formada em dados digitais, que são coletados, armazenados e analisados
por meio de tecnologias digitais (Lemos, 2021).
Nesse momento, entra em cena o capitalismo de vigilância, novo
gênero do capitalismo, em que os meios de produção servem aos meios
de modificação comportamental, isto é, nossos dados produzidos a partir
da navegação na internet são negociados sem nosso consentimento e
usados para predição de comportamentos, geração de lucros para grandes
empresas como a Google e Facebook (Meta) e controle (Zuboff, 2021).
Todo esse processo afeta nossas relações sociais, pois as plataformas
digitais rastreiam nossas interações e comportamentos on-line, criando
perfis detalhados sobre nós, que mais tarde são usados não apenas para
personalizar anúncios e conteúdos, mas também para influenciar nossas
opiniões e comportamentos (Lemos, 2021).
Assim, como aponta Lemos (2020), a plataformização está diretamente
relacionada com a datificação e o capitalismo de vigilância, já que fornece
APROPRIAÇÕES E USOS DO CHATGPT NO CONTEXTO DA PESQUISA... 141
Inteligência artificial e educação-miolo.indb 141 24/11/2023 13:29
infraestrutura para coleta, monetização e processamento de dados de
usuários. Além disso, destacamos ainda uma recente relação entre esses
âmbitos e as Inteligências Artificiais (IAs), que passam a otimizar serviços
e experiências para os usuários a partir de recursos como recomendações
personalizadas, reconhecimento de voz, análise de dados em tempo real
e tomada de decisões automatizadas integradas às plataformas.
É essencialmente imprescindível perceber que a IA, como tecnologia
sofisticada baseada em dados, apresenta uma natureza paradoxal de ser
tecnologicamente inteligente, mas socialmente estúpida (Selwyn, 2019,
p. 12). Para Selwyn (2022), embora os sistemas de IA sejam programados
para realizar tarefas e atingir determinados objetivos com eficiência, eles
falham em compreender a essência das situações sociais e culturais. Esses
sistemas são ensinados por meio de vastos conjuntos de dados que podem
perpetuar a discriminação e reforçar as hierarquias de poder existentes.
Além disso, Selwyn (2022) afirma que, como a IA carece da capacidade
de compreender emoções, valores e crenças humanas, ela falha em pro-
mover uma interação social eficaz ao não conseguir entender contextos e
subjetividades. Outro ponto interessante da análise do autor é a teoria da
cognição corporificada, que ele evoca para explicar como a inteligência
não é algo estrito do cérebro, podendo, portanto, ser simplesmente rea-
locada em softwares e hardwares.
A abordagem corporificada da inteligência sugere que a cognição
humana é influenciada pelo corpo e pelo ambiente, enfatizando a impor-
tância das experiências sensório-motoras, emoções e interações sociais
na formação da cognição humana, que moldam nossa compreensão de
mundo (Sinigaglia, 2022). Assim, ainda que os sistemas de IA sejam exce-
lentes em determinadas tarefas, eles falham em decifrar o comportamento
humano e lidar com situações sociais complexas.
Saindo do âmbito geral das IAs, nosso relato está situado em um recorte
específico desse universo, considerando um modelo de linguagem desen-
volvido pela OpenAI, o ChatGPT. Assim, temos o objetivo de comparti-
lhar os resultados e as descobertas da interação com o ChatGPT, de forma
crítica e analítica à luz do referencial teórico utilizado nesta investigação.
142 INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E EDUCAÇÃO
Inteligência artificial e educação-miolo.indb 142 24/11/2023 13:29
Além disso, discutiremos temas relevantes como a engenharia de prompt
e affordances, explorando como esses dois aspectos se relacionam para a
obtenção de informações precisas e coerentes.
A interação consistiu em testar alguns aspectos da pesquisa de pla-
taformização, como conceitos e definições, através de perguntas ao
ChatGPT e, a partir disso, confrontar as respostas com as informações que
tínhamos à disposição em relatórios e referenciais teóricos da pesquisa
em andamento. Assim, este capítulo está dividido em três seções, sendo
elas esta introdução, em que conceituamos plataformização, dataficação,
capitalismo de vigilância e caracterizamos a IA. A segunda seção intitu-
lada “Uma jornada com o ChatGPT” apresenta as reflexões decorrentes
dessa experiência, assim como os resultados e discussões; e, por último,
em “Considerações finais” retomamos a crítica ao uso acrítico do ChatGPT
e avaliamos a experiência.
UMA JORNADA COM O CHATGPT
Nossa interação no ChatGPT buscou identificar o conceito de plataformi-
zação e affordances, assim como materiais e autores que discutem essas
concepções, na intenção de contrapor com os resultados mais recorrentes na
nossa pesquisa, no que se refere às Plataformas Digitais de Ensino (PDEs),
a exemplo de Google Meet, Microsoft Teams, ConferênciaWeb RNP e
Zoom (Alves, 2022; Alves; Santos, 2023; Vitorino; Oliveira; Alves, 2023)1.
O processo de execução se deu a partir do conhecimento básico acerca
da engenharia de prompt, realizando perguntas diretas ao chat. Um prompt
é um termo utilizado em aprendizado de máquina para projetar entradas
em formato textual descritivo que conduzem às saídas desejadas por um
modelo de linguagem natural. Em suma, é preciso transferir instruções
claras e precisas para a tarefa, fornecendo um contexto a fim de incluir
1 Além dos artigos publicados, os resultados também foram socializados, na modalidade vídeo-
-pôster, durante o Congresso UFBA 2023 e, na modalidade oral, no V Seminário de Tecnologias
Aplicadas em Educação e Saúde (Staes), em 2022.
APROPRIAÇÕES E USOS DO CHATGPT NO CONTEXTO DA PESQUISA... 143
Inteligência artificial e educação-miolo.indb 143 24/11/2023 13:29
informações adicionais relevantes para a execução do comando (Balaji,
2022).
Conforme relatório sobre o GPT-4, as técnicas de elaboração de
prompt incluem a seleção de palavras-chave, exemplos relevantes, expe-
rimentação com diferentes prompts e ajuste fino com base nos resultados
obtidos (OpenAI, 2023). Outro aspecto importante destacado no artigo de
introdução à engenharia de prompt do Azure, um serviço de armazena-
mento em nuvem da empresa Microsoft, é que os modelos GPT tentam
produzir a série seguinte de palavras que provavelmente são advindas do
texto anterior (O que [...], 2018). É como se tivéssemos perguntado “Qual é
a primeira coisa que vem à sua mente quando eu digo <prompt>?”. Esse
processo pode ser melhorado a partir de sugestões que atuam como estí-
mulos para a saída do modelo (O que [...], 2018).
Em outro artigo disponibilizado também pela Microsoft (O que [...],
2018), no formato de guia, é aconselhado especificar a estrutura de saída
para garantir qualidade dos resultados e fornecer dados de fundamen-
tação, algo que pode ser visto neste relato. Inicialmente, no experimento 1
pergunta-se sobre plataformização sem fornecer muitos detalhes neces-
sários para a resposta; e depois, na experiência 2, há a descrição de uma
situação hipotética em que um estudioso do tema é convidado a minis-
trar uma palestra.
Figura 1 – Experiência 1
Fonte: elaborada pelos autores.
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Inteligência artificial e educação-miolo.indb 144 24/11/2023 13:29
Nessa resposta, podemos observar que a ideia de plataformização da
educação (Figura 1) está associada com a personalização do ensino e a flexi-
bilidade, conforme resposta do modelo. Além disso, essa concepção sugere
uma aproximação conceitual que não dialoga com a perspectiva de Van
Dijck, Poell e de Waal (2018), os quais apontam que a plataformização da
educação não apenas digitaliza conteúdos e processos de aprendizagem,
mas também promove modificações profundas nos princípios pedagó-
gicos, nos valores institucionais e nos aspectos sociais, éticos e culturais.
Figura 2 – Experiência 2
Fonte: elaborada pelos autores.
APROPRIAÇÕES E USOS DO CHATGPT NO CONTEXTO DA PESQUISA... 145
Inteligência artificial e educação-miolo.indb 145 24/11/2023 13:29
Figura 3 – Continuação da experiência 2
Fonte: elaborada pelos autores.
Figura 4 – Continuação da Experiência 2
Fonte: elaborada pelos autores.
Na experiência 2 (Figuras 2, 3 e 4), no que diz respeito ao conteúdo,
observamos, em consonância com as técnicas de prompt – a exemplo do
contexto –, que o chat forneceu uma resposta mais crítica, que mais se
146 INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E EDUCAÇÃO
Inteligência artificial e educação-miolo.indb 146 24/11/2023 13:29
aproxima das referências que apresentamos neste capítulo, apontando para
uma reflexão crítica dos diversos usos, para a problemática da personali-
zação do ensino e como isso pode estar associado ao controle e vigilância.
Foram feitos também questionamentos acerca das affordances pre-
sentes em plataformas síncronas como ConferênciaWeb RNP, Google
Meet, Microsoft Teams e Zoom. Essas PDEs foram escolhidas pois fazem
parte do universo da pesquisa a que estamos vinculados e que vem sendo
desenvolvida pela Rede de Pesquisa Comunidades Virtuais.
O conceito de affordances está intrinsecamente ligado à percepção
que um usuário pode ter em um ambiente onde a usabilidade é guiada
por meio da semiótica (Turolo, 2015). Além disso, Gomes e demais autores
(2018) explicitam que as affordances na tecnologia digital podem ser
entendidas como construções sociais, ou seja, influenciadas pela cultura,
em que a percepção e experiência do usuário podem determinar o modo
de apropriação. Por sua vez, a semiótica é o campo que estuda as relações
entre significantes, que seriam a materialidade do signo (uma “coisa” usada
para representar outra coisa, sejam elas ideias ou conceitos) e o significado
para a construção de um signo.
Figura 5 – Experiência 3
Fonte: elaborada pelos autores.
APROPRIAÇÕES E USOS DO CHATGPT NO CONTEXTO DA PESQUISA... 147
Inteligência artificial e educação-miolo.indb 147 24/11/2023 13:29
Nesse momento, percebemos que, de acordo com o conceito apresen-
tado, affordance possui relação estrita com os signos (formados por ícone,
índice e símbolo): o ícone é um signo que mantém uma relação de simi-
litude com o objeto que pretende representar; o índice é um aspecto que
contém em si uma relação de causa e efeito com o objeto que representa;
e um símbolo é uma relação convencional entre o signo e seu significado.
Dessa forma, o chat erra ao listar as affordances no diálogo da Figura 5 e,
por isso, foi questionado, conforme Figura 6, em que ele erra novamente.
Figura 6 – Continuação da experiência 3
Fonte: elaborada pelos autores.
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Inteligência artificial e educação-miolo.indb 148 24/11/2023 13:29
Somente após informar o conceito de affordance para o chatbot, ele
listou corretamente as affordances do Google Meet, como ilustra a Figura 7:
Figura 7 – Continuação da experiência 3
Fonte: elaborada pelos autores.
Além das affordances, foram feitos questionamentos em relação às
funcionalidades e às características das plataformas, como possibilidade
de gravação, capacidade de participantes por reunião e duração máxima
da conferência. Na maioria dos questionamentos, o ChatGPT ofereceu
respostas consistentes, no entanto houve respostas com informações
imprecisas. Por exemplo, a respeito da plataforma Microsoft Teams, cuja
capacidade é de até mil participantes simultaneamente, mas o chatbot
informou que a plataforma suportava até 10 mil participantes (Figura 8).
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Figura 8 – Experiência 4
Fonte: elaborada pelos autores.
No tocante à interface do ChatGPT, sua principal affordance é a caixa
de mensagem do chat (Figura 9), já que é através dela que o usuário pode
interagir com o chatbot. A caixa de texto é considerada uma affordance
porque permite ao usuário identificar intuitivamente que é possível inserir
um prompt e obter resultados relacionados. Além disso, no canto direito,
é possível ver um signo do tipo ícone que tem um formato de avião de
papel, uma metáfora visual para ilustrar a possibilidade de enviar infor-
mações de um ponto a outro.
Figura 9 – Affordances ChatGPT
Fonte: elaborada pelos autores.
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Inteligência artificial e educação-miolo.indb 150 24/11/2023 13:29
Na lateral superior esquerda da interface do software, há um botão
intitulado “New chat” (Figura 10), que possibilita ao usuário iniciar um
novo diálogo com a IA.
Figura 10 – Affordances ChatGPT
Fonte: elaborada pelos autores.
Ainda na lateral esquerda, embaixo do botão correspondente ao “New
chat”, fica o histórico de interações com o ChatGPT. Cada interação é
representada por um símbolo de balão de diálogo (Figura 11).
Figura 11 – Affordances ChatGPT
Fonte: elaborada pelos autores.
Por fim, em termos de affordances, foi muito interessante observar
como elas se relacionam com as experiências aqui descritas, facilitando
o processo de interação. Sendo assim, nós observamos que a affordance
relacionada com a caixa de texto (Figura 9), que recebe texto como entrada,
possui também relação com a engenharia de prompt, uma vez que a forma
com que os prompts são projetados e estruturados afeta a interação com
o chat. É importante também considerar que, ainda que estejamos rela-
cionando as saídas recebidas com a engenharia de prompt, este é só um
componente de toda a lógica por trás da formação da Inteligência Artificial
APROPRIAÇÕES E USOS DO CHATGPT NO CONTEXTO DA PESQUISA... 151
Inteligência artificial e educação-miolo.indb 151 24/11/2023 13:29
Generativa (IAG). Por exemplo, Dwivedi e demais autores (2023), em um
artigo de revisão sistemática voltado para perspectivas multidisciplinares
sobre oportunidades, desafios e implicações da IAG, denunciaram que
uma limitação do chat está relacionada à falta de transparência e expli-
cabilidade, não sendo possível entender a totalidade do raciocínio por
trás do texto gerado.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste capítulo, compartilhamos as experiências e reflexões decorrentes
das nossas interações com o ChatGPT. Durante essa jornada, foi possível
explorar conceitos como a engenharia de prompt e sua relação com as
affordances, bem como identificar aspectos positivos e limitações.
Ao confrontar nossas experiências com os conceitos teóricos e as refe-
rências da pesquisa em andamento, percebemos que o ChatGPT com-
preende os conceitos básicos de plataformização da educação, capitalismo
de vigilância e affordances, como também consegue relacioná-los. Entre-
tanto, realizando uma análise das respostas fornecidas pelo ChatGPT a
partir das perguntas realizadas, percebemos que, para que as respostas
sejam precisas e coerentes, é necessário fornecer um contexto específico,
de modo que o prompt, isto é, o comando de entrada, seja claro e objetivo.
De maneira geral, concluímos que, apesar de estar no imaginário cole-
tivo social que o ChatGPT pode auxiliar de forma significativa na obtenção
e validação de conhecimento, demonstramos neste relato de experiência
que é necessária a cautela. Por isso, enfatizamos que o usuário precisa ter
um conhecimento prévio sobre o assunto pesquisado para que, a partir
disso, possa analisar criticamente as informações. Além disso, é de suma
importância fortalecer o debate voltado às questões de privacidade dos
dados durante o uso das IAs e PDEs de forma geral.
152 INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E EDUCAÇÃO
Inteligência artificial e educação-miolo.indb 152 24/11/2023 13:29
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154 INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E EDUCAÇÃO
Inteligência artificial e educação-miolo.indb 154 24/11/2023 13:29
CAPÍTULO 9
INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL PARA
ENSINAR E APRENDER
ADELINA MOURA
ANA AMÉLIA A. CARVALHO
INTRODUÇÃO
A evolução da Inteligência Artificial (IA) é uma realidade, sendo um
dos mais recentes desenvolvimentos os modelos generativos, como por
exemplo o ChatGPT. Após grande divulgação nos meios de comunicação
social, em novembro de 2022, o ChatGPT 3.5 tem vindo a ser aplicado à
educação. Na verdade, a IA começou na década de 1950 e vem se desen-
volvendo há várias décadas. O termo foi criado por John McCarthy, em
1956, durante a Conferência de Dartmouth sobre o tema (McGuire et al.,
2006), cujo objetivo era tornar a máquina inteligente.
155
Inteligência artificial e educação-miolo.indb 155 24/11/2023 13:29
A IA, como campo da informática, foca no desenvolvimento de sis-
temas computacionais que apresentam características que normalmente
se associam à inteligência humana. Um dos resultados desses desenvol-
vimentos são os modernos modelos generativos, treinados com grandes
quantidades de dados, capazes de interagir com humanos usando lin-
guagem natural. No entanto, muitas empresas de tecnologia em IA não
indicam os dados que foram usados para treinar os seus modelos. Usam
documentos da Web, mas não se tem a certeza se os programadores são
capazes de controlar todo o conteúdo usado. Não se sabe se conteúdo
ofensivo ou material protegido por direitos de autor estão a ser usados
também. A falta de transparência no conjunto de dados usados para treinar
modelos de IA tem levantado questões, reflexões e desconfianças. Será
que há priorização das fontes usadas ou não?
Estes não são os únicos problemas. Os especialistas e engenheiros da
computação estão preocupados com as habilidades inesperadas da IA e
não sabem explicar aquilo a que chamam “caixa preta” da IA1. Por esta e
outras razões, é urgente uma maior transparência nos dados usados na IA.
Salienta-se o facto de que a tecnologia pode impactar na privacidade, na
manipulação e nos direitos autorais. A Organização das Nações Unidas
para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) (2022) determina que as
questões éticas, em relação aos sistemas de IA, digam respeito a todas as
fases do ciclo de vida de tais sistemas: pesquisa, design, desenvolvimento,
implementação e uso, incluindo manutenção, operação, comércio, finan-
ciamento, monitorização e avaliação, validação, fim de uso, desmontagem
e término.
A IA pode impulsionar diferentes domínios da sociedade e também
diferentes tecnologias. Schwab (2016), no seu livro A Quarta Revolução
Industrial, anuncia grandes transformações que afetarão toda a humani-
dade e será algo diferente do que já foi experimentado antes. A IA não é
uma novidade na educação, uma vez que tem sido usada para desenvolver
1 Os perigos da IA tiram o sono ao presidente-executivo da Google: https://sicnoticias.pt/
pesquisa?q=60+minutos.
156 INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E EDUCAÇÃO
Inteligência artificial e educação-miolo.indb 156 24/11/2023 13:29
habilidades, como reconhecimento de fala e imagens, tomada de decisões,
aprendizagem, raciocínio, resolução de problemas ou testar sistemas. Esta
tecnologia pode fomentar a personalização da aprendizagem e simpli-
ficar tarefas administrativas, deixando aos professores mais tempo para
as questões pedagógicas (Woolf, 2015). Há ferramentas de IA que podem
criar tutoriais passo a passo, exercícios práticos, mecanismos de suporte
(scaffolding) como recomendações, sugestões, retroalimentação e avaliação
individualizada para cada aluno (Holmes et al., 2022).
Não é apenas ensinar e aprender com a IA, mas também ensinar e
aprender sobre a IA, isto é, proceder à alfabetização em IA, explorando
tanto a dimensão tecnológica como a dimensão humana. No futuro, a IA
será capaz de capacitar professores e alunos através de ferramentas de sala
de aula assistida, elevando os padrões da aprendizagem e contribuindo
para a melhoria da educação em geral. No entanto, não tem recebido
muita atenção do mainstream nem como um conjunto de tecnologias,
nem como campo de investigação (Holmes; Bialik; Fadel, 2019). Espera-se
que nas próximas décadas a IA possa ajudar no processo de ensino-apren-
dizagem e permitir que as escolas e os professores sejam mais eficientes.
A INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL: ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
A IA está cada vez mais presente no nosso espaço físico e virtual, fazendo
parte da nossa realidade, em diversas áreas quase sem nos darmos conta.
A IA é proficiente a detectar padrões e a automatizar processos, podendo
ser uma tecnologia interessante para grandes empresas ou organizações
e substituir diversas funções desempenhadas por pessoas (Schwab, 2016).
O boom de investimentos em tecnologias de IA e o lançamento do ChatGPT
aumentaram as preocupações e a necessidade de mais transparência nas
operações de quem cria e quem usa as ferramentas de IA.
Os modelos de linguagem natural ao imitarem a inteligência humana
podem ser muito úteis, mas também podem levantar problemas sociais
e levar a um declínio da inteligência humana, como refere Melo (2021).
Embora sejam treinados numa vasta quantidade de dados, é preciso
INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL PARA ENSINAR E APRENDER 157
Inteligência artificial e educação-miolo.indb 157 24/11/2023 13:29
acautelar que a informação que se publica ou usa, com base nos modelos
de linguagem natural, seja verdadeira. Neste sentido, a União Europeia
avança com uma proposta que vai ajudar a regulamentar o uso da IA,
classificando as ferramentas de acordo com o risco associado e apoiando
o desenvolvimento de tecnologias de IA que respeitem aspectos éticos e
na proteção dos cidadãos, para que se possa aproveitar, com segurança,
todo o seu potencial2.
Dadas as preocupações, vários cientistas, investigadores e empresários
assinaram uma carta pedindo uma pausa de seis meses no desenvolvi-
mento da IA, para refletir e encontrar formas de evitar que esta tecnologia
ponha em risco a humanidade. A Unesco (2023) considera que o mundo
precisa de regras éticas fortes para lidar com a IA, pois considera-a o maior
desafio dos nossos tempos.
Com a IA, a natureza dos processos criativos está também a mudar,
porque o computador já está a desempenhar papéis importantes em ati-
vidades criativas, por exemplo, com a geração de música, vídeos, imagens
e jogos. No campo dos jogos, já existem jogos gerados por IA, como o
Sumplete3, um jogo de quebra-cabeça lógico inspirado no Sudoku. Além
deste, há o jogo AI Dungeon4, baseado em storytelling, que permite ao
jogador criar os seus mundos, as personagens, os cenários e interagir com
eles, tornando-se o herói do jogo.
Quando se atribuiu à máquina a capacidade de realizar tarefas com-
plexas com capacidade similar ao pensamento humano, surgem não
apenas muitas oportunidades, mas também grandes desafios, e os riscos
associados são grandes. Por exemplo, há imagens geradas por IA que estão
a confundir os internautas, em especial nas redes sociais, como o casaco
branco acolchoado do Papa Francisco e as relacionadas com o ex-presi-
dente Donald Trump – todas imagens falsas (deepfake5). Estas imagens
2 Ver em: https://www.weforum.org/agenda/2023/03/the-european-union-s-ai-act-explained/.
3 Ver em: https://sumplete.com/.
4 Ver em: https://aidungeon.io/.
5 Ver em: https://www.washingtonpost.com/technology/2023/03/31/tips-spot-ai-fake-images/.
158 INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E EDUCAÇÃO
Inteligência artificial e educação-miolo.indb 158 24/11/2023 13:29
foram criadas utilizando a ferramenta de software de IA Midjourney, que
passou a ser paga na tentativa de minimizar a sua utilização. Embora as
imagens falsas não sejam uma novidade, é assustador que as tecnologias
de IA ofereçam a qualquer pessoa a capacidade de produzir imagens com
aparência convincente em segundos. Cabe agora alertar para estes fenô-
menos, evitar replicar falsidades e desenvolver o pensamento crítico, pois
uma análise detalhada detecta incorreções, como acontece na imagem
referida do Papa Francisco, em que o crucifixo tem apenas um lado da
corrente, a sua mão tem falhas e a pálpebra “funde-se” com os óculos6.
Como já referido, a IA é desenvolvida para que as aplicações e os dis-
positivos executem, sem a intervenção humana, certas funções. Ressalte-se
que as ferramentas generativas são ferramentas de IA capazes de criar
conteúdo “original” a partir de dados de entrada, como textos, imagens
e música. Usam modelos de linguagem natural para gerar conteúdo que
pode parecer ter sido escrito ou “criado” por seres humanos.
INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL NA EDUCAÇÃO
Quando se julga que as tecnologias de IA são uma novidade em contexto
educativo, a verdade é que há mais de 30 anos que fazem parte da inves-
tigação na educação (Holmes, 2020). Não é fácil definir e compreender
a IA pela sua complexidade. Apesar disso, é possível referir que se trata
de um conjunto de conhecimentos, teorias e técnicas cujo objetivo é que
uma máquina produza as capacidades cognitivas de um ser humano, como
referido pelo Conselho de Europa, em 12 de maio de 2021.
Os desenvolvimentos tecnológicos no âmbito da IA visam confiar
a uma máquina tarefas complexas ou até rotineiras, antes delegadas ao
ser humano. Ela pode ser aliada das instituições de ensino na realização
de determinadas rotinas, tarefas e responsabilidades, como também
melhorar a qualidade do processo educativo através da personalização
6 Ver em: https://visao.sapo.pt/atualidade/sociedade/2023-03-31-como-identificar-uma-ima-
gem-criada-por-inteligencia-artificial-o-caso-do-casaco-do-papa/
INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL PARA ENSINAR E APRENDER 159
Inteligência artificial e educação-miolo.indb 159 24/11/2023 13:29
da aprendizagem, da automatização de tarefas e do estudo autónomo.
Por esta razão, os sistemas educacionais devem saber responder de forma
proactiva e eficaz às inúmeras oportunidades e aos desafios introduzidos
pela IA na educação.
É de realçar que a IA tem sido utilizada na educação para personalizar
a aprendizagem de cada aluno, facilitando um ensino que leva em con-
sideração a individualidade de cada pessoa, o que torna o estudo mais
dinâmico e eficaz. Além disso, a IA pode ser usada para colher e analisar
dados sobre o desempenho dos alunos, sendo possível identificar áreas
em que têm mais dificuldades e fornecer sugestões para individualizar a
aprendizagem (Holmes et al., 2022).
Sem dúvida que a IA pode ajudar na análise de informações para
melhorar os processos de aprendizagem. Por exemplo, um chat inteligente
pode ajudar os alunos a tirarem dúvidas durante as tarefas que executam
na sala de aula ou on-line. A IA pode ajudar professores e alunos a encon-
trarem novos materiais educativos, metodologias emergentes e biblio-
tecas digitais. Ela tem a capacidade de transformar a educação. Então o
que é que os alunos devem aprender numa era de IA? Para Holmes, Bialik
e Fadel (2019), o foco da educação “moderna” deve incidir em objetivos
educacionais mais profundos: versatilidade (enfrentar a vida e o trabalho),
relevância (aplicabilidade e motivação) e transferência (ampla capacidade
de ação futura).
O CHATGPT 3.5 É UMA FERRAMENTA ÚTIL NA EDUCAÇÃO?
Vivemos tempos controversos e incertos. Por um lado, o optimismo de uns
pelos avanços revolucionários da IA e, por outro, a preocupação de outros
que temem a degradação da ciência e da ética. São exemplos da aprendi-
zagem de máquina o ChatGPT (OpenAI), o Bard (Google) e o Bing Chat
(Microsoft), por se aproximarem da linguagem e do pensamento humanos.
Ao simularem a comunicação humana, podem facilitar a inércia analítica
e criativa, já que obtemos os conteúdos solicitados através de algoritmos
e modelos.
160 INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E EDUCAÇÃO
Inteligência artificial e educação-miolo.indb 160 24/11/2023 13:29
O ChatGPT 3.5, uma ferramenta de IA desenvolvida pela empresa
OpenAI, atingiu 100 milhões de utilizadores em apenas dois meses após
ter sido lançado (Unesco, 2023). Como funciona o ChatGPT e como pode
ser utilizado na educação? Este chatbot é um dos modelos de linguagem
natural mais avançado, disponível para qualquer pessoa, criado para res-
ponder a perguntas e dar informações como numa conversa normal. Tem
sido usado pelos internautas numa grande diversidade de áreas, chatbots,
tradução, perguntas e respostas, assistentes virtuais, entre outras (Fraga,
2023).
O ChatGPT pode ser um assistente pessoal do professor e do aluno,
simplificando o trabalho do professor e tornando a aprendizagem mais
enriquecedora. O aluno pode precisar de tempo extra para assimilar os
conteúdos da aula, por isso pode beneficiar-se de diferentes plataformas
especializadas em determinados conteúdos. Quando o aluno tem acesso a
ferramentas que o ajudam a compreender melhor e a enriquecer os temas
em estudo, sente-se mais encorajado a aprender autonomamente no seu
ritmo e consequentemente atingir melhores desempenhos.
É surpreendente a quantidade de novas ferramentas de IA lançadas no
mercado para criação de conteúdo que nos ajudam a ser mais eficientes,
aliviando-nos das tarefas rotineiras e deixando mais tempo para a criativi-
dade, o planejamento e a prática pedagógica e didática. Embora a IA tenha
o potencial de melhorar e transformar o papel dos professores, não pode
substituir a ligação humana e a empatia que eles proporcionam (Holmes;
Bialik; Fadel, 2019). Por estas razões, precisamos explorar como a IA pode
revolucionar a educação, sempre com a presença humana. É importante
frisar que o ChatGPT é para ser usado com precaução e criatividade
(Unesco, 2023), por isso precisamos da inteligência humana para extrair
o melhor desta ferramenta, porque estes modelos de linguagem natural
são imagens da humanidade (internautas) refletidas no espaço virtual.
Apesar das potencialidades da IA, também existem os riscos. Em vir-
tude disso, há vozes que alertam para os perigos da IA, como o linguista
e filósofo Noam Chomsky, um crítico do ChatGPT, ao considerá-lo “alta
INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL PARA ENSINAR E APRENDER 161
Inteligência artificial e educação-miolo.indb 161 24/11/2023 13:29
tecnologia a plagiar”7. Recentemente, alertou para os sistemas como o
ChatGPT poderem vir a ser um ataque radical ao pensamento crítico e con-
denou também a falsa promessa do ChatGPT, considerando que os sistemas de
aprendizagem de máquina sempre serão superficiais e duvidosos8. A IA pode
ser uma ferramenta útil, mas não é inteligente, pois alimenta-se com dados
produzidos por humanos. Nesta altura, não sabemos para onde caminha.
Estamos ainda na sua infância, por isso a questão que nos colocamos é saber
se as mentes mecânicas ultrapassarão os cérebros humanos no futuro.
APLICAÇÕES DE INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL PARA A ÁREA DA EDUCAÇÃO
A IA pode ser explorada como uma tecnologia de grande utilidade e com
benefícios para toda a sociedade. Como qualquer outra ferramenta, a sua
utilização tem vantagens e desvantagens. Importa explorar os avanços
recentes no processamento de linguagem natural e as suas aplicações na
educação. Estas são apenas algumas ferramentas de IA que podem ser
potenciadas na escola (Tabela 1).
Tabela 1 – Ferramentas de IA para a educação
Categoria Descrição Ferramenta IA
Criar pequenos Cria, automaticamente, pequenos vídeos do YouTube rapidamente. QuickVid
vídeos Basta escrever a temática, escolher o fundo e a voz. https://www.quickvid.ai/
Fliki
Texto em vídeo Transforma texto em vídeo com vozes de IA em poucos minutos.
https://fliki.ai/
D-ID
Avatar falante Cria imagens falantes, com um simples texto e adiciona uma voz.
https://www.d-id.com/
Navegar num PDF Ferramenta que permite analisar e interagir com documentos PDF. ChatPDF
https://www.chatpdf.com/
StableDiffusion
https://stablediffusionweb.
Gerar imagens a
Gera imagens em segundos, basta digitar um texto. com/
partir de texto
Midjourney
https://www.midjourney.com/
7 Ver em: https://youtu.be/SJi4VE-0MoA.
8 Ver em: https://ggle.io/5k6n e https://www.nytimes.com/2023/03/08/opinion/noam-chomsky-
-chatgpt-ai.html.
162 INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E EDUCAÇÃO
Inteligência artificial e educação-miolo.indb 162 24/11/2023 13:29
Categoria Descrição Ferramenta IA
São mais de 20 opções de texto em diversos formatos, como
Criar conteúdo Copyloto
anúncios, descrições de produtos, e-mails, textos para redes
variado https://copyloto.pt/
sociais etc.
Mecanismo Fornece respostas a perguntas precisas usando modelos de Perplexity
de pesquisa linguagem natural. https://www.perplexity.ai/
conversacional
Assistente de YOU
Fornece ao utilizador respostas à pesquisa personalizada.
pesquisa https://you.com
Modelo de É um chatbot avançado que pode responder a perguntas ChatGPT
linguagem natural complexas e manter conversas fluentes em várias línguas. https://chat.openai.com/
O Duolingo lançou um parceiro de conversação (Role Play) e Duolingo
Aprender línguas
outro que explica os erros cometidos (Explain My Answer). https://pt.duolingo.com/
Plataforma para aprendizagem personalizada, avaliações de Cognii
Tutoria inteligente
resposta aberta e análises pedagógicas enriquecidas. https://www.cognii.com/
Fonte: elaborada pelas autoras.
Exemplo de aplicação da IA no estudo do romance
Memorial do Convento
Como integrar ferramentas de IA nas aulas? Esta foi a questão que nos
colocamos quando estávamos a planear o estudo do romance Memorial
do Convento, de José Saramago, para uma turma do 12º ano do ensino pro-
fissional. Participaram 16 alunos e uma aluna, com idades compreendidas
entre os 16 e 19 anos. Estes alunos precisavam de uma boa motivação para
estudar esta obra do programa da disciplina de Português. Pretendíamos
ajudar os alunos a passar da simples presença física, na sala de aula, à
presença cognitiva ativa, proporcionar estratégias didáticas capazes de
envolvê-los no currículo, aumentar os níveis de aprendizagem e tornar
as aulas memoráveis.
Assim, decidimos criar um ambiente de aprendizagem baseado na
gamificação9, composto por quatro missões, relacionadas com as quatro
linhas de ação que orientam o romance. Para tornar a narrativa (storytelling)
mais atrativa, criamos uma situação baseada numa possível realidade:
“Uma empresa portuguesa está a recrutar alunos do ensino profissional
9 Ver em: https://mcgamifica.blogspot.com/.
INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL PARA ENSINAR E APRENDER 163
Inteligência artificial e educação-miolo.indb 163 24/11/2023 13:29
para serem roteiristas de jogos e integrarem a equipa que vai criar o Jogo
da Passarola, baseado no romance Memorial do Convento”. Aqui estava
uma boa razão para estudar e aprender sobre a obra e poder concorrer
ao lugar de guionista de jogos. Construímos o website da empresa, logo,
contactos, equipa, objetivos e formulário de candidatura10.
Para desenvolver esta estratégia didática usamos diferentes ferra-
mentas de IA. Para acrescentar uma dose de realismo, usamos a plataforma
D-ID11, para dar voz a uma imagem, simulando tratar-se do responsável
dos recursos humanos da empresa (Figura 1).
Figura 1 – Avatar falante em IA
Fonte: elaborada pelas autoras.
Aproveitamos também esta plataforma digital com IA para criar o
avatar falante das quatro personagens da obra (game master) que orien-
tavam os alunos em cada missão: Rei D. João V (M1), Sebastiana de Jesus
(M2), Blimunda (M3) e Padre Bartolomeu de Gusmão (M4). Para criar a
personagem Blimunda, uma personagem ficcional, usamos a plataforma
10 Ver em: https://sites.google.com/view/memocongroup/home.
11 Ver em: https://www.d-id.com/. Permite transformar texto em vídeo, criar e interagir com
avatares falantes, para aumentar o envolvimento dos alunos com os conteúdos curriculares.
164 INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E EDUCAÇÃO
Inteligência artificial e educação-miolo.indb 164 24/11/2023 13:29
Midjourney12. Usamos também a plataforma Fliki13 para criar o vídeo com
a síntese dos factos mais importantes da obra e preparar os alunos para
a batalha final do conhecimento – responder em pares a 100 perguntas
de escolha múltipla.
Recorremos ao ChatGPT 3.514 para obter uma síntese sobre o que é
um storyboard. Pedimos um exemplo de um storyboard de videogame
para servir de inspiração aos alunos na resolução da missão final e solici-
tamos ainda a criação de uma rubrica numa tabela para ajudar os alunos
a desenvolverem e avaliarem o produto final. Esta mesma ferramenta foi
usada para nos ajudar a elaborar uma apreciação crítica sobre os textos
dos alunos (o storyboard para o videogame da Passarola), com sugestões
de melhoria, contribuindo para uma mais eficiente retroalimentação dos
trabalhos dos alunos, fazendo-nos poupar tempo na análise dos traba-
lhos e ajudando a melhorar o produto final de cada grupo. Aproveitamos
o facto de os alunos manifestarem interesse em falar sobre o ChatGPT,
ao verificarem que foi também uma das fontes que consultamos, para
refletirmos sobre os benefícios e riscos. Desta discussão resultou a con-
fidência de um dos alunos que já tinha usado os chatbots para realizar
trabalhos escritos.
A grande maioria dos alunos gostou desta estratégia didática (90%),
porque as missões eram desafiantes. Por ser uma forma diferente – mais
intuitiva e interativa de estudar a obra –, despertou o interesse dos alunos.
Os vídeos criados com IA foram do agrado dos alunos, pelo efeito sur-
presa e pela motivação de verem as personagens falarem. Daí que os
alunos repetiram a sua visualização, o que auxiliou na memorização da
informação. Em virtude disso, consideraram que os vídeos os ajudaram
a compreenderem melhor o romance.
12 Ver em: https://www.midjourney.com/. Gera imagens a partir de descrições de linguagem
natural, chamadas prompts.
13 Ver em: https://fliki.ai/. Transforma texto em vídeo com vozes de IA em poucos minutos.
14 Ver em: https://chat.openai.com. Plataforma do ChatGPT.
INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL PARA ENSINAR E APRENDER 165
Inteligência artificial e educação-miolo.indb 165 24/11/2023 13:29
CONCLUSÃO
A IA é uma das tecnologias mais revolucionárias deste século, já que apre-
senta o potencial de transformar a forma como vivemos, trabalhamos e
aprendemos. É uma tecnologia complexa que envolve a combinação de
outras tecnologias (machine learning, deep learning e processamento de
linguagem natural). Apesar dos milhões de empregos que a IA pode pôr
em risco, também surgem oportunidades de criação de novos postos de
trabalho, ajudando a equilibrar os sistemas sociais – isso já aconteceu no
passado com o aparecimento de outras tecnologias (Benvenutti, 2016). Por
causa das preocupações que a IA levanta, os países já começaram a discutir
como controlá-la. As questões ético-jurídicas estão na ordem do dia para
que a adoção da IA em diferentes áreas não colida com a preservação dos
direitos humanos. Para a Unesco (2022), as tecnologias de IA podem apro-
fundar as divisões e as desigualdades existentes no mundo. Com efeito,
é urgente refletir sobre a crise do trabalho, a difusão de preconceitos por
sistemas inteligentes e o uso de armas inteligentes no futuro (Fornacier,
2021). Sem dúvida, a IA vai continuar a evoluir, todavia essa evolução tem
de estar centrada no ser humano e nas suas implicações éticas e sociais.
Importa salientar que a IA vai expandir-se em diferentes domínios
da sociedade, com intuito de ajudar a facilitar a vida das pessoas. Uma
das áreas onde é possível acompanhar o uso da IA é a educação, tendo o
potencial de transformar a aprendizagem de forma positiva. No pro-
cesso de ensino-aprendizagem, os professores enfrentam dificuldades
para encontrar técnicas e metodologias que facilitem a aprendizagem,
fomentem a criatividade e as habilidades de resolução de problemas.
Ao mesmo tempo, os alunos têm dificuldade de entender os assuntos cur-
riculares e, por vezes, sentem-se desmotivados em continuarem a estudar
para melhorar os seus desempenhos. É neste enquadramento que a escola
deve conseguir aproveitar o potencial das ferramentas de IA, para suprir
estas dificuldades e tornar o processo de ensino-aprendizagem mais atra-
tivo e eficiente, como o exemplo descrito neste capítulo.
166 INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E EDUCAÇÃO
Inteligência artificial e educação-miolo.indb 166 24/11/2023 13:29
Nesta era da IA, é fundamental continuar a discussão de temas que
promovam novas metodologias, boas práticas, novas tendências, técnicas
e ferramentas para promover o processo de ensino-aprendizagem. É neces-
sário abordar, na formação inicial e continuada de professores, a IA. É pre-
ciso conhecer não apenas o seu lado positivo, mas também equacionar
os riscos que se correm. Não abordar a IA será um erro e tentar banir o
ChatGPT do ensino será adiar uma realidade.
REFERÊNCIAS
BENVENUTTI, M. Os Incansáveis. São Paulo: Gente, 2016.
FORNACIER, M. de O. Cinco questões ético-jurídicas fundamentais sobre a
Inteligência Artificial. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2021.
FRAGA, R. ChatGPT: o futuro da interação humano-máquina. [S. l.]: Kindle
Edition, 2023.
HOLMES, W. Artificial intelligence in education. In: TATNALL, A. (ed.).
Encyclopedia of education and information technologies. Cham: Springer, 2020.
p. 88-103.
HOLMES, W.; BIALIK, M.; FADEL, C. Artificial Intelligence in Education: Promises
and Implications for Teaching and Learning. Boston, MA: Center for Curriculum
Redesign, 2019.
HOLMES, W. et al. Artificial Intelligence and Education: a critical view through
the lens of human rights, democracy and the rule of law. Strasbourg: Council of
Europe, 2022.
MCGUIRE, B. et al. The History of Artificial Intelligence: History of Computing
CSEP 590A. [Seattle]: University of Washington, 2006.
MELO, A. A inteligência humana em declínio: manual de sobrevivência. [S. l.]:
Kindle Edition, 2021.
SCHWAB, K. A quarta revolução industrial. São Paulo: Edipro, 2016.
UNESCO. Recomendação sobre a Ética da lnteligência Artificial. Paris: Unesco,
2022. Disponível em: https://unesdoc.unesco.org/ark:/48223/pf0000381137_por.
Acesso em: 29 maio 2023.
INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL PARA ENSINAR E APRENDER 167
Inteligência artificial e educação-miolo.indb 167 24/11/2023 13:29
UNESCO. ChatGPT and Artificial Intelligence in higher education: Quick start
guide. Paris: Unesco, 2023. Disponível em: https://www.iesalc.unesco.org/
wp-content/uploads/2023/04/ChatGPT-and-Artificial-Intelligence-in-higher-
education-Quick-Start-guide_EN_FINAL.pdf. Acesso em: 20 abr. 2023.
WOOLF, B. P. AI and education: Celebrating 30 years of marriage. In:
INTERNATIONAL CONFERENCE ON ARTIFICIAL INTELLIGENCE IN
EDUCATION, 17., 2015, Madrid. Proceedings [...]. Cham: Springer, 2015. v. 4,
p. 38-47. Disponível em: https://ceur-ws.org/Vol-1432/ai_ed_pap5.pdf. Acesso em:
20 maio 2023.
168 INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E EDUCAÇÃO
Inteligência artificial e educação-miolo.indb 168 24/11/2023 13:29
CAPÍTULO 10
INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL, CHATGPT
E MATEMÁTICA: CONVERGÊNCIAS E
DIVERGÊNCIAS
WILLIAM DE SOUZA SANTOS
JOÃO PAULO DE ARAÚJO SOUZA
INTRODUÇÃO
As tecnologias digitais sempre contribuíram para o ensino da Matemá-
tica, a exemplo do uso dos softwares que auxiliam na transposição didá-
tica e na compreensão de alguns conceitos matemáticos abstratos. Com o
lançamento do Chat Generative Pre-trained Transformer (ChatGPT) em
novembro de 2022, tal ferramenta começou a ser utilizada em diversas
esferas – inclusive na educação – e necessita de uma mediação e de uma
intencionalidade pedagógica para que possa ter seus potenciais “bem
utilizados” para o ensino-aprendizagem, como todo artefato tecnológico
inserido no contexto educacional.
169
Inteligência artificial e educação-miolo.indb 169 24/11/2023 13:29
Nesse contexto da mediação, algumas pesquisas como a de Marques
(2023) apontam a existência de plágio nos textos desenvolvidos por
softwares de Inteligência Artificial (IA), além dos erros apontados em
algumas respostas, denominados de “alucinações”.
Tais alucinações podem ser provenientes do fato de o ChatGPT ser
um modelo de linguagem de grande porte treinado em grandes quanti-
dades de dados e que incluem bilhões de parâmetros, os quais até certo
ponto podem gerar inconsistências, limitações e fornecerem informa-
ções incorretas (Azaria, 2022). De acordo com Zumbrun (2023, tradução
nossa), “o ChatGPT precisa de ajuda com tarefas de matemática; ‘Modelos
de linguagem grande’ fornecem respostas gramaticalmente corretas, mas
lutam com cálculos”.
Dentro do cenário da Matemática, faz-se necessário discutir as capa-
cidades matemáticas do ChatGPT quanto às soluções que são dadas, con-
siderando que essa ferramenta vem se tornando um “oráculo” mundial
de respostas. Por esse motivo, o objetivo deste capítulo é discutir sobre
as respostas dessa IA quanto ao conhecimento matemático e como elas
podem ou não contribuir para a prática pedagógica dos professores de
Matemática e os estudos de discentes que consultam a plataforma.
Para tanto, este capítulo está estruturado da seguinte forma: na intro-
dução foi apresentado um cenário geral do uso das IAs na educação. Na
segunda seção são abordados exemplos positivos e negativos sobre o uso
das IAs no campo da Matemática. A terceira seção traz as impressões dos
autores deste capítulo a partir das interações com o ChatGPT, e as consi-
derações finais trazem reflexões sobre o uso das IAs na Matemática para
discentes e docentes.
CONVERGÊNCIAS E DIVERGÊNCIAS DA INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL NA
MATEMÁTICA
Desde a década de 1960, os matemáticos têm usado computadores para
auxiliar na descoberta de padrões e na formulação de conjecturas para a
resolução de problemas. Por esse motivo, o uso de IAs e do aprendizado
170 INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E EDUCAÇÃO
Inteligência artificial e educação-miolo.indb 170 24/11/2023 13:29
de máquinas tem possibilitado, através da análise de grandes conjuntos de
dados, identificar padrões que nunca foram percebidos antes (Nield, 2021).
Como afirma Davies e demais autores (2021, p. 70, tradução nossa),
“a introdução de computadores para gerar dados e testar conjecturas pro-
porcionou aos matemáticos uma nova compreensão de problemas que
antes eram inacessíveis [...]”. Um exemplo disso foi o uso da IA desenvol-
vida pela DeepMind que auxiliou na resolução de uma prova para poli-
nômios de Kazhdan-Lusztig, um problema matemático envolvendo a
simetria da álgebra de dimensão superior que permaneceu sem solução
por 40 anos (Minari, 2021).
Através do uso desta IA da DeepMind, os matemáticos descobriram
uma conexão inédita entre os invariantes algébricos e geométricos dos
nós, estabelecendo um teorema completamente novo e até então desco-
nhecido pela comunidade científica. Além disso,
[...] os pesquisadores também foram capazes de provar uma
conjectura antiga sobre polinômios, apresentada original-
mente por matemáticos no final da década de 1970, que ainda
não havia sido resolvida de maneira convincente por outros
cientistas (Minari, 2021).
Segundo Geordie Williamson, da Universidade de Sydney, um dos
autores desta pesquisa sobre os polinômios de Kazhdan-Lusztig,
‘Problemas de matemática são amplamente considerados como
alguns dos problemas mais desafiadores intelectualmente’
[...]. ‘Embora os matemáticos tenham usado o aprendizado
de máquina para auxiliar na análise de conjuntos de dados
complexos, esta é a primeira vez que usamos computadores
para nos ajudar a formular conjecturas ou sugerir possíveis
linhas de desenvolvimento para ideias não comprovadas em
matemática’ (Nield, 2021).
Outro ponto de convergência sobre a importância do uso de IAs na
área educacional é o fato de que elas podem mapear o desempenho dos
INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL, CHATGPT E MATEMÁTICA 171
Inteligência artificial e educação-miolo.indb 171 24/11/2023 13:29
discentes e disponibilizar tarefas pertinentes ao nível de cada um deles,
de forma individual. Como cita Dennis Szyller, Chief Executive Officer
(CEO) da Matific, plataforma educacional que vem sendo usada no Paraná,
ao mesmo tempo em que conseguimos fazer esse diagnóstico
e entregar conteúdo que faça sentido para cada aluno, damos
aos professores relatórios de desempenho para mostrar os
pontos fortes e as lacunas de aprendizagem [...] (Martoni, 2023).
Outra plataforma que vem utilizando a IA como aliada na apren-
dizagem da Matemática foi desenvolvida pela startup Educacross, que
mensura o engajamento, a perseverança, a performance e o tempo gasto
numa tarefa. Tais dados, somados aos algoritmos de IA, permitem traçar
um perfil de cada aluno e gerar experiências personalizadas (Supera, 2018).
De forma similar, a Khan Academy lançou uma parceria com o
ChatGPT para a criação do Khanmigo que atuará como um tutor e guia
de aprendizado, ajudando o aluno a calcular a resposta, perguntando
como ele chegou a essa solução e talvez apontando como ele pode ter se
desviado em uma questão de Matemática (Ofgang, 2023).
Por outro lado, relatos apontam a dificuldade que as IAs vêm apre-
sentando no âmbito do conhecimento matemático, que é um problema
já bastante conhecido com os modelos de linguagem de grande porte ou
Large Language Models (LLMs). Segundo Colbrook, Antun & Hansen
(2022), o problema está nas redes neurais que não conseguem ser estáveis
e precisas, o que está atrelado ao paradoxo de Turing e Godel que aponta
a impossibilidade de provar se certas afirmações matemáticas são verda-
deiras ou falsas e que alguns problemas computacionais não podem ser
resolvidos com algoritmos.
Existem limites fundamentais inerentes à matemática e, da
mesma forma, algoritmos de IA não podem existir para certos
problemas [...]. Boas redes neurais até podem existir, mas uma
rede inerentemente confiável não pode ser construída. ‘Não
importa quão precisos sejam seus dados, você nunca pode
172 INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E EDUCAÇÃO
Inteligência artificial e educação-miolo.indb 172 24/11/2023 13:29
obter as informações perfeitas para construir a rede neural
necessária’ (Engenharia Compartilhada, 2022).
Segundo Paulo Shakarian, professor da Universidade do Arizona,
“os robôs ainda não são bons o suficiente para fazer inferências lógicas em
múltiplos passos – ou seja, traduzir palavras em equações, em várias etapas”
(Santa Rosa, 2023). Esse pesquisador testou mil problemas matemáticos no
ChatGPT em janeiro de 2023, mas a IA acertou menos de 60% dos problemas.
Outros testes também têm apontado os erros que as IAs estão come-
tendo. Mendivil (2023) aborda os erros nos cálculos de derivadas na
aplicação do método de Newton-Raphson. Já Mariani e demais autores
(2023) apontam que o ChatGPT, ao realizar as provas de Matemática dos
anos de 2017 a 2021, supera apenas 27% dos participantes do exame. Por
esse motivo, o Google está tentando através da sua IA, nomeada de Bard,
corrigir o que parece ser um ponto fraco das tecnologias desse tipo, isto
é, dar respostas mais precisas para problemas de Matemática.
Diante deste cenário de convergências e divergências sobre o uso das
IAs para a Matemática, a próxima seção traz as interações e impressões dos
autores deste capítulo no uso do ChatGPT para a resolução de problemas
e as necessidades dos professores de Matemática.
INTERAÇÕES E IMPRESSÕES
Na primeira interação com o ChatGPT, foi perguntado sobre o limite de
uma determinada função, assunto recorrente nas disciplinas de cálculo
diferencial e integral de diversos cursos da área de exatas.
Prompt> Qual o limite da função f(x)= 2x+ 3 quando x tende a 2?
ChatGPT> Para calcular o limite da função f(x) = 2x + 3 quando
x tende a 2, podemos substituir o valor de 2 na expressão da
função e encontrar o resultado. No entanto, essa abordagem só
é válida para funções contínuas, o que é o caso de f(x) = 2x + 3.
Assim, temos: limite de f(x) quando x tende a 2 = limite de
INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL, CHATGPT E MATEMÁTICA 173
Inteligência artificial e educação-miolo.indb 173 24/11/2023 13:29
(2x + 3) quando x tende a 2 = 2 * 2 + 3 (substituindo x por 2) = 7.
Portanto, o limite da função f(x) = 2x + 3 quando x tende a
2 é igual a 7 (ChatGPT, 2023b).
É possível observar que inicialmente a IA informa que, para uma
função contínua, se pode realizar a técnica de substituição pelo valor ao
qual a variável está tendendo. Logo após, apresenta esse processo de subs-
tituição e o cálculo do valor da função no ponto, procedimento realizado
de maneira adequada, obtendo a resposta correta.
Testando outro tipo de caso para a resolução de limites, foram identifi-
cadas as primeiras alucinações da IA. No caso a seguir, o limite em questão
é do tipo k/0, com k ≠ 0, e necessita de uma análise dos limites laterais para
a definição do limite no ponto, porém a primeira resposta do ChatGPT foi:
Prompt> Qual o limite da função f(x) = (x+1)/(x-1) quando
x tende a 1?
ChatGPT> Para calcular o limite da função f(x) = (x + 1) / (x - 1)
quando x tende a 1, podemos utilizar a técnica de fatoração e
simplificação, que consiste em reescrever a função de modo
que seja possível cancelar os termos que levam a uma indeter-
minação do tipo ‘0/0’ ou ‘infinito/infinito’. Assim, temos: f(x)
= (x + 1) / (x - 1) → f(x) = [(x - 1) + 2] / (x - 1) →f(x) = (x - 1) /
(x - 1) + 2 / (x - 1). Observe que agora temos duas parcelas. A
primeira parcela é igual a 1, já que qualquer número dividido
por si mesmo é igual a 1. A segunda parcela pode ser sim-
plificada fazendo x tender a 1. Assim: limite de f(x) quando
x tende a 1 = limite de [(x - 1) / (x - 1)] + [2 / (x - 1)] quando
x tende a 1. = 1 + limite de [2 / (x - 1)] quando x tende a 1.
Agora, substituindo x por 1, obtemos: limite de f(x) quando
x tende a 1 = 1 + limite de [2 / (x - 1)] quando x tende a 1. =
1 + 2 / 0 (substituindo x por 1) = infinito. Portanto, o limite
da função f(x) = (x + 1) / (x - 1) quando x tende a 1 é igual a
infinito (ChatGPT, 2023b).
O primeiro equívoco do algoritmo foi não identificar que não seria
possível efetuar a simplificação, pois o limite da segunda parcela da soma
174 INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E EDUCAÇÃO
Inteligência artificial e educação-miolo.indb 174 24/11/2023 13:29
herda o mesmo problema do limite da função original, ou seja, o nume-
rador tende a dois e o denominador tende a zero. Sem contar que, como
sinalizado pela própria IA, tal técnica deve ser utilizada para indetermi-
nações do tipo “0/0” ou “infinito/infinito”. Questionada sobre seu erro, a
segunda resposta do ChatGPT foi:
Prompt> Essa resposta está errada!
ChatGPT> Peço desculpas, houve um engano na minha resposta
anterior. Quando x tende a 1, a expressão da função f(x) se torna
uma indeterminação do tipo ‘0/0’, pois tanto o numerador quanto
o denominador assumem o valor 2. Nesse caso, podemos aplicar
a regra de L’Hôpital para encontrar o limite. Assim, temos: limite
de f(x) quando x tende a 1 = limite de (x + 1) / (x - 1) quando x
tende a 1. Aplicando a regra de L’Hôpital, temos: limite de f(x)
quando x tende a 1 = limite da derivada do numerador pela
derivada do denominador quando x tende a 1. = limite de (1)
/ (1) quando x tende a 1 = 1. Portanto, o limite da função f(x)
= (x + 1) / (x - 1) quando x tende a 1 é igual a 1. Mais uma vez,
peço desculpas pelo equívoco na resposta anterior. Espero ter
esclarecido sua dúvida agora (ChatGPT, 2023b).
Mais uma vez a IA erra na sua resposta, informando que é uma inde-
terminação do tipo “0/0” e depois dizendo que, após a substituição, tanto
o numerador quanto o denominador assumem valor dois, o que aponta
que ela “confundiu” o denominador (x - 1) com (x + 1). Questionada nova-
mente sobre esse erro, sua terceira resposta foi:
Prompt> Mais uma vez está errado!
ChatGPT> Peço novamente desculpas, houve um engano na
minha última resposta. A regra de L’Hôpital não é aplicável
nesse caso porque o limite não resulta em uma indeterminação do
tipo ‘0/0’ ou ‘infinito/infinito’. De fato, quando x tende a 1, o
denominador da função se anula, o que faz com que a função
se torne infinita. Assim, temos: limite de f(x) quando x tende
a 1 = limite de (x + 1) / (x - 1) quando x tende a 1. Nesse caso,
INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL, CHATGPT E MATEMÁTICA 175
Inteligência artificial e educação-miolo.indb 175 24/11/2023 13:29
a expressão do denominador se anula quando x = 1, o que
significa que a função não é definida em x = 1. Portanto, o
limite não existe. Mais uma vez, peço desculpas pelos equí-
vocos em minhas respostas anteriores. Espero ter esclarecido
sua dúvida agora (ChatGPT, 2023b).
Analisando essa atual resposta, é possível observar que ela está correta,
porém sua justificativa não satisfaz os requisitos matemáticos, tornando-se
uma resposta incompleta. Seria necessário realizar o estudo dos limites late-
rais para que fosse verificado que, quando x tende a 1+ o resultado é +∞;
e que quando x tende a 1- o resultado é -∞. Por esse motivo, uma vez que os
limites laterais são diferentes, o limite no ponto não existe. Isso é demons-
trado em qualquer software matemático, por exemplo o WolframAlpha,
como mostra a Figura 1.
Figura 1 – WolframAlpha
Fonte: WolframAlpha (2023).
176 INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E EDUCAÇÃO
Inteligência artificial e educação-miolo.indb 176 24/11/2023 13:29
Tal fato gera uma preocupação, principalmente no que diz respeito
à utilização dessa ferramenta por parte dos alunos que, considerando o
ChatGPT como um oráculo, vão acreditar na sua primeira resposta como
verdadeira, e a falta de embasamento teórico não os fará questionar
sobre esses erros ou incompletudes. Por outro lado, tal situação pode ser
levada e mediada pelo professor em sala de aula, de forma que os alunos
possam refletir sobre essas respostas e construir conhecimento chegando
à solução correta.
É importante salientar que diversos autores como Azaria (2022, tra-
dução nossa) já tinham observado erros matemáticos do ChatGPT, por
exemplo, ao “[...] multiplicar números grandes, calcular raízes de um
número, calcular o valor de um número elevado a uma potência de outro
número (especialmente frações) e adicionar (ou subtrair) um número de
um número irracional [...]”.
Agora com o intuito de verificar as possibilidades de utilização do
ChatGPT por parte dos professores de Matemática, pensou-se nas ativi-
dades que mais demandam tempo de elaboração. São elas: elaboração de
situações-problema, provas e sequências didáticas.
Sobre a elaboração de exercícios, foi solicitado ao ChatGPT: Prompt –
“Elabore uma situação-problema de nível fácil com o assunto de progressão
geométrica. Detalhe passo a passo o processo de resolução da questão”.
A resposta obtida está representada na Figura 2.
INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL, CHATGPT E MATEMÁTICA 177
Inteligência artificial e educação-miolo.indb 177 24/11/2023 13:29
Figura 2 – Situação-problema
Fonte: ChatGPT, 2023.
Pode-se observar que a situação sugerida traz a relação da progressão
geométrica e dos juros compostos, bem como uma situação contextuali-
zada e um nível de fácil resolução. O processo de resolução da questão,
de certa forma, segue os pressupostos de Polya (1978) quanto ao levanta-
mento dos dados e à execução das metas secundárias para que possa ser
alcançado o objetivo principal da resolução da questão.
Quanto à escrita e aos elementos matemáticos, na primeira etapa é
sugerido que “q” seria a razão da Progressão Geométrica (PG) e é apontada
178 INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E EDUCAÇÃO
Inteligência artificial e educação-miolo.indb 178 24/11/2023 13:29
uma relação com os 2% da taxa de juros, mas, nesse passo, não fica claro
que a razão é (1 + q) e não o “q” simplesmente. Ou seja, como foi apre-
sentado, podemos entender erroneamente que a razão da PG é 0,02.
Já nos passos 2 e 4, é apresentada a fórmula an = a1 * q^n-1, que deveria ser
an = a1 * q^(n-1), podendo ser mais um fator gerador de equívocos. Vale
salientar que, no final da etapa 4, a fórmula foi utilizada de maneira cor-
reta ao substituir os valores apresentados.
Quanto à elaboração da sequência didática (Figura 3), foi solicitado ao
ChatGPT: Prompt – “Elabore uma sequência didática passo a passo sobre
o assunto de progressão aritmética para uma aula que irei ministrar.
Utilize alguma das tendências da educação matemática”.
Figura 3 – Sequência didática parte 1
Fonte: ChatGPT, 2023.
Analisando a primeira parte da sequência didática (Figura 3), obser-
va-se que a tendência escolhida pela IA foi a educação matemática crítica
INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL, CHATGPT E MATEMÁTICA 179
Inteligência artificial e educação-miolo.indb 179 24/11/2023 13:29
e reflexiva, porém em primeiro momento não se vê uma relação direta de
tal tendência com o assunto de Progressão Aritmética (PA).
Observando os objetivos, verifica-se que são bem coerentes e seguem
uma ordem lógica e que, após a utilização do termo “Progressão Aritmé-
tica (PA)”, ela utiliza apenas a sigla, da mesma forma que provavelmente
um humano faria.
A Figura 4 traz as etapas 1 e 2 da aplicação da sequência didática.
Pode-se observar que esse planejamento considera uma aula de 100 minutos
(2 horas-aula de 50 minutos) que geralmente é a quantidade de aulas gemi-
nadas que a maioria das escolas utiliza para a disciplina de Matemática.
Figura 4 – Sequência didática parte 2
Fonte: ChatGPT, 2023.
180 INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E EDUCAÇÃO
Inteligência artificial e educação-miolo.indb 180 24/11/2023 13:29
A etapa 1, de introdução, condiz perfeitamente com o primeiro obje-
tivo proposto de conceituar PA e traz um aspecto interessante sobre a
roda de conversa, direcionando até a pergunta quebra-gelo. No entanto,
tais questionamentos poderiam ser melhor direcionados para possíveis
exemplos que envolvessem PAs, embasando assim, de uma forma mais
direta, os passos seguintes.
Já na etapa 2 identifica-se que a sequência lógica do conteúdo é bem
coerente, mas contém erros conceituais. Por exemplo, para não sugerir
erroneamente que sempre pode-se conhecer os elementos citados, poderia
ser adicionado a conjunção subordinativa condicional “se”. Além disso,
é apresentada a propriedade de que a soma de termos consecutivos é
constante. A saber, o que estava sendo apresentado, na verdade, era uma
fórmula para a soma dos n primeiros termos de uma PA cujo primeiro
termo é a1 e o enésimo é an.
Figura 5 – Sequência didática parte 3
Fonte: ChatGPT, 2023.
INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL, CHATGPT E MATEMÁTICA 181
Inteligência artificial e educação-miolo.indb 181 24/11/2023 13:29
A Figura 5 traz na etapa 3 a sugestão do uso de situações-problema
do cotidiano, mostrando a aplicação daquilo que já foi aprendido através
dos exercícios de fixação. É importante salientar que não está muito evi-
dente como o parcelamento de compras e o aumento salarial podem ser
considerados uma PA.
Já sobre a avaliação, foi solicitado:
Prompt> Elabore uma avaliação de estatística com 4 questões
abertas. A primeira questão deve ser sobre média aritmética,
a segunda sobre moda, a terceira sobre mediana e a quarta
sobre boxplot. Detalhe também a resolução de cada questão
passo a passo.
ChatGPT> Questão 1: Calcule a média aritmética dos seguintes
números: 8, 12, 16, 20 e 24. Resolução: Para calcular a média
aritmética, basta somar todos os números e dividir pela quan-
tidade de números. (8 + 12 + 16 + 20 + 24) / 5 = 16. Portanto, a
média aritmética dos números é igual a 16 (ChatGPT, 2023a).
Para a questão de média, o ChatGPT poderia ter proposto uma questão
com dados contextualizados e que precisasse de alguma análise para a
sua solução, ao invés de apresentar os dados diretamente e uma pura
aplicação da fórmula.
ChatGPT> Questão 2: Encontre a moda do seguinte conjunto
de números: 5, 8, 5, 12, 5, 20, 8. Resolução: A moda é o valor
que mais se repete no conjunto de dados. Para encontrar a
moda, podemos organizar os números em ordem crescente
e contar quantas vezes cada número aparece. 5, 5, 5, 8, 8, 12,
20. Neste conjunto de dados, o número 5 aparece três vezes,
enquanto os demais aparecem apenas uma vez. Portanto, a
moda é igual a 5 (ChatGPT, 2023a).
Novamente foi apresentada uma questão de aplicação direta do con-
ceito, mas, na solução, apresentou um erro de análise ao considerar que
os números diferentes do 5 aparecem apenas uma vez, pois o número 8
182 INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E EDUCAÇÃO
Inteligência artificial e educação-miolo.indb 182 24/11/2023 13:29
aparece duas vezes. Tal erro não afeta a resposta final, mas um professor
que fosse fazer a correção da solução iria questionar tal informação e
apontar o erro.
ChatGPT> Questão 3: Calcule a mediana do seguinte con-
junto de números: 4, 8, 10, 15, 20, 25. Resolução: A mediana
é o valor central de um conjunto de dados, ou seja, o valor
que divide o conjunto em duas partes iguais. Para encontrar
a mediana, precisamos organizar os números em ordem cres-
cente. 4, 8, 10, 15, 20, 25. Como o conjunto tem um número
par de elementos, a mediana é a média aritmética dos dois
valores centrais, que são 10 e 15. (10 + 15) / 2 = 12.5. Portanto,
a mediana é igual a 12.5 (ChatGPT, 2023a).
Para a terceira questão, é apresentado um exemplo numérico que a
solução consiste em uma aplicação direta dos conceitos. Na resolução
apresentada, a IA afirma que para encontrar a mediana devemos ter os
elementos listados em ordem crescente, mesmo que os números dados
na questão já estejam apresentados em ordem crescente. Faltou ainda
apresentar como deve-se prosseguir quando a quantidade de termos for
ímpar para que a explicação fosse considerada completa.
ChatGPT> Questão 4: Desenhe um boxplot para o seguinte
conjunto de dados: 12, 14, 16, 18, 20, 22, 24, 26, 28. Resolução:
O boxplot é um gráfico que representa as medidas de posição
e dispersão de um conjunto de dados. Para desenhar um
boxplot, precisamos encontrar o mínimo, o primeiro quartil
(Q1), a mediana, o terceiro quartil (Q3) e o máximo. Mínimo:
12. Q1: 16. Mediana: 20. Q3: 24. Máximo: 28. Com esses
valores, podemos desenhar o boxplot.| | | | | |. 12 16 20 24 28.
O segmento vertical mais à esquerda representa o mínimo,
o segundo segmento representa o primeiro quartil (Q1), o
terceiro segmento representa a mediana, o quarto segmento
representa o terceiro quartil (Q3) e o segmento mais à direita
representa o máximo. As linhas verticais que se estendem do
INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL, CHATGPT E MATEMÁTICA 183
Inteligência artificial e educação-miolo.indb 183 24/11/2023 13:29
boxplot são chamadas de ‘whiskers’. Neste caso, elas se estendem
até os valores mínimo e máximo (ChatGPT, 2023a).
Na quarta questão, o comando apresentado na resolução não é claro
e preciso, podendo gerar confusão e, consequentemente, um mau dire-
cionamento nas resoluções de questões semelhantes a essa por pessoas
que a tomem como exemplo.
Analisando de modo geral as questões criadas, observa-se que todas
possuem um nível fácil de resolução, mas trabalham as competências
procedimentais dos assuntos solicitados. É importante ressaltar que a
solicitação feita no prompt não foi detalhada, impactando na resposta
dada, como no nível das questões ou que estas acabam sendo exercícios
de fixação não contextualizados.
Dado o exposto, podemos salientar que a utilização do ChatGPT – como
ferramenta de auxílio em atividade de estudo e elaboração de materiais
didáticos – pode ser um fator adotado como complemento ou ponto de
partida (quando temos dificuldade de imaginar o “por onde começar”),
mas sempre com uma análise crítica do agente que gere tal ferramenta.
Não devemos aceitar o que nos é apresentado como uma verdade abso-
luta, mas nem por isso devemos desestimular o seu uso.
Além disso, os erros matemáticos apresentados pelas IAs podem ser
transformados em uma ferramenta didática ao serem introduzidos em
atividades que consistem em uma análise dos possíveis erros que foram
apresentados ao serem feitas algumas solicitações. Assim, o discente e
o docente podem ser introduzidos em uma dinâmica de validação dos
conhecimentos adquiridos.
CONSIDERAÇÕES
Como visto ao longo deste capítulo, o uso das IAs tem contribuído de
uma forma grandiosa na solução de diversos problemas históricos, mas
é importante ressaltar que elas possuem diversas limitações. Segundo
afirma o matemático András Juhász, (apud Nield, 2021), “[...] quando
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Inteligência artificial e educação-miolo.indb 184 24/11/2023 13:29
guiado pela intuição matemática, o aprendizado de máquina fornece uma
estrutura poderosa que pode revelar conjecturas interessantes e prováveis
[...]”. Nesse sentido, a intuição de um matemático desempenha um papel
extremamente importante na descoberta matemática de uma IA, pois
cabe ao usuário direcionar os caminhos que devem ser percorridos, pois
ela é uma ferramenta à disposição e não um substituto do pesquisador
ou professor, muito menos um oráculo inquestionável.
Assim, cabe aos professores e aos alunos aprenderem a trabalhar com
criticidade junto à IA e não em função dela. Como visto com o ChatGPT
que, por se tratar de uma inteligência mais voltada para a linguagem e que
tem cometido alucinações, se faz necessário um exercício de expressão, em
que os comandos dados devem ser muito claros e objetivos, facilitando a
compreensão da máquina sobre o que deve ser executado.
REFERÊNCIAS
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Inteligência artificial e educação-miolo.indb 185 24/11/2023 13:29
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CAPÍTULO 11
ANTS TO THE MOON: UMA EXPERIÊNCIA
DE GAME DESIGN ASSISTIDA PELA
INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL
DIEGO ZABOT
INTRODUÇÃO
Nos últimos anos, a Inteligência Artificial (IA) teve um impacto signifi-
cativo em muitos campos. Na área médica, pode ajudar a diagnosticar
doenças e determinar o melhor tratamento para os pacientes (Lobo, 2018).
Em finanças, pode ser usada para analisar dados de mercado e fazer pre-
visões sobre tendências futuras (Ray; Khandelwal; Baranidharan, 2018).
Na produção, pode ser usada para melhorar a eficiência e a segurança das
operações de produção (Xu; Xu; Li, 2018).
Embora a IA tenha muitas vantagens, há uma preocupação crescente
de que a tecnologia possa acabar com diferentes ocupações. Com o avanço
189
Inteligência artificial e educação-miolo.indb 189 24/11/2023 13:29
da tecnologia, atividades tradicionalmente realizadas por humanos podem
agora ser feitas por máquinas equipadas com IA. Por exemplo, ações roti-
neiras, como gerenciamento de estoque ou verificações de conformidade,
podem ser automatizadas (Xu; Xu; Li, 2018). Isso pode levar à preocupação
com o desemprego em massa em algumas áreas, especialmente naquelas
em que prevalece a atividade física e repetitiva.
No entanto, nem todo mundo vê a IA como uma ameaça ao emprego
humano. Alguns veem essa tecnologia como uma oportunidade de libertar
os humanos de tarefas monótonas e repetitivas, para que possam se con-
centrar em atividades mais criativas e significativas (Sampaio et al., 2020).
Além disso, muitos acreditam que pode ser usada para melhorar a quali-
dade de vida, como saúde e segurança pública.
De qualquer forma, a IA está alterando a maneira como trabalhamos,
especialmente devido à crescente acessibilidade de ferramentas como
o ChatGPT. No campo dos videogames, ela tem grande potencial para
melhorar a experiência do jogador. Pode ser usada para criar Personagens
Não Jogadores (NPCs) complexos que tenham um comportamento rea-
lista e respondam naturalmente às ações do jogador. Isso pode trazer aos
jogadores uma experiência de jogo mais envolvente (Valadares; Ribeiro,
2022). Outro emprego frequente dessa ferramenta é de suporte no game
design, permitindo a análise de dados do jogo e a identificação de áreas
problemáticas ou com potencial de melhoria.
Neste capítulo, exploramos o uso de algumas ferramentas de IA,
ChatGPT e Bing Image Creator, para impulsionar a criatividade durante
a fase de projeto de um jogo. Como ponto de início, utilizaremos um con-
ceito que foi desenvolvido em uma sessão de brainstorming em 2018 e,
em seguida, expandiremos e detalharemos mais elementos iniciando a
criação de um Game Design Document (GDD).
A próxima seção apresenta a definição de game design, abordando
uma série de questões importantes para orientar o processo de criação.
Em seguida, são destacadas as ferramentas que foram utilizadas para
fazer o design do jogo. O foco então se volta para o high concept, discu-
tindo o desenvolvimento dos personagens e do cenário. Posteriormente,
190 INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E EDUCAÇÃO
Inteligência artificial e educação-miolo.indb 190 24/11/2023 13:29
são definidas as mecânicas a serem implementadas. Logo depois, é abor-
dada a utilização da IA para gerar imagens a partir de texto descritivo,
oferecendo inspiração visual para o desenvolvimento do jogo. Por fim,
são apresentadas as conclusões sobre a experiência.
O QUE É GAME DESIGN?
Game design – ou design de jogos – é o processo de conceber e criar um
jogo, incluindo a definição das regras, mecânica do jogo, estética, narrativa,
personagens e outros elementos que compõem a experiência do jogador.
Os designers de jogos são responsáveis por coordenar todas as etapas do
processo de desenvolvimento do jogo, desde a concepção até o lançamento
do produto final. O objetivo do game design é criar uma experiência de
jogo envolvente e divertida para os jogadores, combinando elementos de
desafio, interação e recompensa (Schell, 2008).
Brathwaite e Schreiber (2009, p. 2, tradução nossa), explicando o que
é o game design, investigam o conceito do ponto de vista do jogador:
Game design é o processo de criar o conteúdo e as regras de
um jogo. Um bom game design é o processo de criar objetivos
pelos quais o jogador se sinta motivado a alcançar e regras
que ele deve seguir enquanto toma decisões significativas em
busca desses objetivos1.
Segundo Dunniway e Novak (2008 apud Sato, 2019, p. 76, grifo nosso),
é recomendado que os designers mantenham certas questões em mente
durante o processo de criação de jogos:
Qual a essência do jogo? Quem é o jogador? O que o jogador
faz? Como o jogador faz? Onde o jogador faz? Com o que o
1 “Game design is the process of creating the content and rules of a game. Good game design
is the process of creating goals that a player feels motivated to reach and rules that a player
must follow as he makes meaningful decisions in pursuit of those goals”.
ANTS TO THE MOON 191
Inteligência artificial e educação-miolo.indb 191 24/11/2023 13:29
jogador faz? Com quem o jogador faz? Por que o jogador faz?
Quais características do jogo se destacam?
Esses questionamentos têm como objetivo a definição de elementos
formais para as mecânicas de jogo, entre os quais: o conceito geral, obje-
tivos, regras, cenário, recursos, procedimentos e feedbacks (Sato, 2019).
Esses elementos vão compor o GDD, que é um documento que detalha
todos os aspectos do projeto de um jogo, incluindo sua visão, mecânicas
de jogo, personagens, história, arte, áudio, interface do usuário, pro-
gressão, desafios. É um manual que orienta a equipe de desenvolvimento
na criação do jogo, servindo como referência central para garantir uma
visão clara e consistente do projeto (Pedersen, 2003). Embora existam dife-
rentes modelos de GDD, existem alguns elementos que aparecem com
mais frequência, a exemplo de high concept, regras, controles e fluxo do
game (Hira et al., 2016).
AS FERRAMENTAS UTILIZADAS
Para criar o conceito de jogo (high concept) e começar a delinear um GDD,
foram utilizadas diversas ferramentas selecionadas entre as disponíveis
de forma gratuita. A primeira ferramenta utilizada foi o Idea Generator2,
uma pequena ferramenta de brainstorm que pode impulsionar a criati-
vidade, gerando palavras e imagens aleatórias e podendo modificá-las ou
removê-las e até mesmo girá-las. Seu objetivo principal é estimular cone-
xões inesperadas entre elementos diversos, estimulando o designer a criar
algo novo e original. Na Figura 1 podemos ver uma sessão de brainstorm
com a ferramenta.
2 Ver em: ideagenerator.creativitygames.net. Esta ferramenta não é uma IA.
192 INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E EDUCAÇÃO
Inteligência artificial e educação-miolo.indb 192 24/11/2023 13:29
Figura 1 – Exemplo de uso da ferramenta Idea Generator
Fonte: elaborada pelo autor.
Em seguida foi utilizado o renomado Chat Generative Pre-trained
Transformer (ChatGPT)3, uma IA com a qual podemos interagir de forma
natural por meio de conversas. A terceira ferramenta utilizada foi o Bing
Image Creator4, uma plataforma da Microsoft que permite a criação de
imagens com IA baseada na Dall-E da OpenAI5. Comparado a outras fer-
ramentas de geração de imagens, seu funcionamento é relativamente
limitado, permitindo a criação de imagens a partir de uma string de texto
descritiva, sem opções adicionais de modificação. No entanto, por outro
lado, seu acesso é muito fácil e rápido.
A GERAÇÃO DO HIGH CONCEPT
Mediante o Idea Generator, foram selecionados os seguintes elementos:
um foguete, um desenho da Lua e a palavra “formiga” (Figura 2). Em um
brainstorm de grupo6, foi pensado no seguinte conceito de jogo: uma
formiga quer construir um foguete para alcançar a Lua, pois acredita que
ela seja feita de mel.
3 Nesta experiência foi utilizada a versão gratuita do ChatGPT 3.5.
4 Ver em: www.bing.com/create.
5 Ver em: openai.com/product/dall-e-2.
6 O brainstorm foi realizado com Hugo Marvin Dourado e Wanderlin Costa De Oliveira em
junho de 2018 como atividade de estudo para a criação de jogos digitais com a biblioteca
Phaser e o resultado foi reutilizado neste texto.
ANTS TO THE MOON 193
Inteligência artificial e educação-miolo.indb 193 24/11/2023 13:29
Figura 2 – Elementos selecionados pelo Idea Generator
Fonte: elaborada pelo autor.
Conforme orientado por especialistas (Sabzalieva; Valentini, 2023), a
eficácia da contribuição da IA estar diretamente ligada à clareza e à pro-
fundidade das informações fornecidas. Por isso, no primeiro contato com
o ChatGPT, foi explicado o conceito geral do jogo, usando a seguinte frase:
“Estou querendo fazer um jogo no qual as protagonistas são formigas que
querem chegar até a Lua, porque acreditam que seja de mel. Por isso, elas
querem construir um foguete usando elementos que encontram na natu-
reza, mas também coisas que os humanos deixam”.
O ChatGPT (2023c) respondeu indicando que, para ele, o conceito era
original e interessante e forneceu algumas sugestões para o desenvolvi-
mento da ideia:
• criar uma história convincente, pensando por que as formigas querem
chegar à Lua e como se sentem em relação a isso, criando personagens
com personalidades distintas;
• pensar em obstáculos que as formigas podem enfrentar no caminho
para a Lua, como chuva, vento, predadores e até mesmo outros insetos
que podem roubar os materiais de construção;
• escolher elementos da natureza e objetos deixados pelos humanos,
como folhas, sementes, pedras, galhos, pedaços de metal. Cada ele-
mento deve ter uma função na construção do foguete;
• para o projeto do foguete, usar a imaginação para criar um design
único, pensando em diferentes partes, como o motor, a cabine, o sis-
tema de navegação, e adicionar detalhes interessantes como janelas,
antenas e escotilhas;
194 INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E EDUCAÇÃO
Inteligência artificial e educação-miolo.indb 194 24/11/2023 13:29
• aperfeiçoar os controles para garantir a jogabilidade. Pensar em como
as formigas irão se mover no ambiente e como os jogadores irão inte-
ragir, criando controles intuitivos e fáceis de usar.
A primeira sugestão foi considerada interessante. Inicialmente pen-
sou-se em diferenciar as formigas em três equipes distintas: i. trabalha-
doras, responsáveis por construir o foguete; ii. exploradoras, com a missão
de explorar locais desconhecidos em busca de recursos necessários;
iii. cientistas, que utilizam o conhecimento científico para melhorar as peças.
Cada equipe é representada por um líder, os três personagens principais
do jogo. Com o auxílio da IA, foram detalhadas as suas personalidades:
• Clara, líder do grupo de formigas trabalhadoras, um pouco teimosa
e obstinada que se irrita facilmente quando as outras não desempe-
nham bem suas tarefas;
• Ziggy, líder das formigas exploradoras, uma formiga curiosa e aventu-
reira que adora explorar novos lugares. Inteligente e astuta, mas um
pouco imprudente e ousada;
• Luna, líder das formigas cientistas, criativa e adora experimentar com
novos materiais. Ela é cuidadosa e metódica, porém um pouco excên-
trica (ChatGPT, 2023b).
Em relação às outras sugestões, principalmente relacionadas à joga-
bilidade, decidiu-se inicialmente não considerar inimigos e obstáculos
climáticos e focalizar na construção do foguete. Para isso, foi solicitada
uma lista de elementos que compõem um foguete e os seguintes foram
selecionados: corpo, cockpit, asas, sistema de controle, propulsor e base.
Cada um desses elementos tem suas próprias características, como fle-
xibilidade, durabilidade, resistência a altas temperaturas, resistência à
pressão, entre outras. Como materiais de construção, foram procurados
na natureza aqueles que pudessem cumprir esse propósito, como frutas
para extrair suco como combustível ou usar a própria casca, nozes, galhos,
pedras, folhas, além de resíduos humanos, como frascos de remédios,
ANTS TO THE MOON 195
Inteligência artificial e educação-miolo.indb 195 24/11/2023 13:29
frascos de produtos químicos, frascos de desodorante, botões, garrafas
de vidro, sucata eletrônica.
AS MECÂNICAS DO JOGO
A mecânica principal para alcançar o objetivo é a seguinte: cada compo-
nente pode ser utilizado com diferentes funções recebendo uma pontuação
específica. Os pontos de todos os componentes usados são somados, con-
siderando possíveis sinergias entre materiais, melhorias aplicadas pelos
cientistas e nível de habilidade da equipe de construção. Quando a pon-
tuação total ultrapassa um determinado valor predefinido, as formigas
alcançam a Lua.
No início, apenas alguns materiais estão disponíveis, e o uso deles
não permite afastar-se muito da Terra. Mas, a cada viagem do foguete, as
formigas descobrem novos lugares e consequentemente novos materiais
mais adequados (tarefa das formigas exploradoras) que podem estimular
sinergias ou melhorias nos materiais existentes (tarefa das formigas cien-
tistas). As formigas trabalhadoras podem aprimorar sua destreza manual
para construir as partes do foguete de forma mais resistente. A implemen-
tação do sistema de controle do foguete é uma parte relevante porque,
dependendo do material utilizado, o foguete pode ter uma probabilidade
maior ou menor de melhorar a qualidade do lançamento e da viagem,
aumentando assim proporcionalmente a pontuação total.
Essas decisões sobre as mecânicas do jogo derivam do diálogo inte-
rativo com o ChatGPT, adaptando as sugestões dadas com o interesse do
designer. Após essa etapa, foi requisitada a elaboração de um resumo das
mecânicas discutidas para avaliar sua compreensão e eficácia na apren-
dizagem do jogo em desenvolvimento, obtendo o seguinte resultado:
i. gerenciamento de recursos para a construção do foguete; ii. exploração e
coleta; iii. construção do foguete usando os materiais; iv. tomada de deci-
sões sobre os materiais utilizados e suas combinações.
Ao considerarmos o uso de materiais deixados pelos humanos, surgiu
a ideia de utilizar o jogo para promover uma mensagem de reciclagem
196 INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E EDUCAÇÃO
Inteligência artificial e educação-miolo.indb 196 24/11/2023 13:29
e respeito à natureza. Isso foi discutido com a IA que ajudou a chegar à
definição das seguintes mensagens/valores que o jogo pode estimular:
• valorizar a natureza e a importância da reciclagem, mostrando
como materiais abandonados podem ser usados de forma criativa e
sustentável;
• destacar a importância da cooperação, exemplificada pela colabo-
ração entre as formigas;
• incentivar a curiosidade, a descoberta e a resolução de problemas;
• promover a conscientização ambiental e a compreensão de que
pequenas ações individuais podem ter um impacto significativo no
mundo como um todo (ChatGPT, 2023a).
No final deste processo foi pedido para resumir o jogo em um título
e gerar uma lista de dez títulos possíveis. Os primeiros cinco sugeridos
foram: Ants to the Moon; The Great Ant Rocket; Mission: Luna Miel; A Bug’s
Journey to the Moon; Ants and Rockets.
O primeiro título foi escolhido para dar o nome ao jogo. Nesse momento
foi também elaborado um slogan para atrair os jogadores: “Construa um
foguete e leve suas formigas até a Lua em busca do doce néctar dourado!”.
Como resumo, na Tabela 1 podemos encontrar as respostas aos ques-
tionamentos indicados por Dunniway e Novak (2008 apud Sato, 2019)
durante o processo de game design.
Tabela 1 – Respostas aos questionamentos de game design
Ants to the Moon
Nome do jogo e slogan
Construa um foguete e leve suas formigas até a Lua em busca do doce néctar dourado!
As formigas Clara, Ziggy e Luna embarcam em uma jornada épica para chegar à Lua,
acreditando que ela seja feita de mel. Elas decidem construir um foguete utilizando
Qual a essência do jogo? elementos naturais e objetos reciclados encontrados na natureza e deixados pelos
humanos. Sua missão é explorar diferentes ambientes, coletar materiais, construir o
foguete e alcançar a Lua.
Quem é o jogador? Um grupo de três formigas que coordena o trabalho de construção do foguete.
Coleta materiais para construir o foguete, escolhe os materiais usados na construção,
O que o jogador faz?
descobre lugares novos e novos materiais.
ANTS TO THE MOON 197
Inteligência artificial e educação-miolo.indb 197 24/11/2023 13:29
Como o jogador faz? Gerenciamento de recursos, exploração e coleta, construção do foguete, tomada de decisões.
O jogo é ambientado próximo ao formigueiro, onde a construção do foguete está em
Onde o jogador faz? andamento, e em várias localidades próximas que são descobertas ao longo do jogo
para a busca de materiais.
Com o que o jogador faz? O jogador utiliza recursos naturais e artificiais.
Com quem o jogador faz? As três formigas trabalham juntas, cada uma dando sua expertise.
O objetivo principal é alcançar a Lua construindo um foguete com recursos da natureza
Por que o jogador faz? ou artificiais. O objetivo secundário é descobrir novas locações para encontrar recursos
melhores.
Quais características do Valorização da natureza, exploração e descoberta, gerenciamento estratégico,
jogo se destacam? diversidade de materiais, personagens carismáticos, mensagem positiva e educativa.
Fonte: elaborada pelo autor.
ARTES E INSPIRAÇÃO
As artes de referências e similares desempenham um papel crucial no
desenvolvimento de um GDD, pois servem como fonte de inspiração e
referência para toda a equipe. Através delas, é possível visualizar o mundo
do jogo, os personagens, ambientes, objetos e até mesmo a atmosfera
desejada. Elas proporcionam uma linguagem visual compartilhada, per-
mitindo que os membros do grupo compreendam e se alinhem quanto à
estética e ao estilo do jogo. Além disso, as artes podem estimular a criativi-
dade, despertar emoções e fornecer um ponto de partida para discussões e
ideias e para o trabalho de criação das artes do jogo pelo designer gráfico.
Para a geração de imagens pelo Bing Image Creator, foi pedida ao
ChatGPT a produção de uma frase de resumo do jogo, explicando que
o objetivo da frase era para uma IA, a Dall-E, poder gerar uma imagem a
partir dela. Naquela época, início de abril de 2023, o Image Creator estava
funcionando apenas em inglês, por isso foi solicitada a tradução em inglês
da frase, obtendo o seguinte resultado: “uma equipe de formigas cons-
truindo um foguete usando peças naturais para voar até a Lua em busca
de mel doce, videogame”7. Reiterando o pedido com pequenas mudanças
7 Trecho original: “a team of ants building a rocket using nature parts to fly to the moon in
search of sweet honey, videogame”. O termo videogame foi adicionado no final para indicar
o estilo gráfico desejado.
198 INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E EDUCAÇÃO
Inteligência artificial e educação-miolo.indb 198 24/11/2023 13:29
na sintaxe da frase e no detalhe dos elementos, foram produzidas dife-
rentes imagens (Figura 3) para ilustrar o conceito do jogo.
Figura 3 – Algumas imagens produzidas para o jogo
Fonte: elaborada pelo autor com Bing Image Creator.
O mesmo processo foi utilizado para a criação das imagens dos líderes
das formigas, utilizando as descrições vistas anteriormente (Figura 4).
ANTS TO THE MOON 199
Inteligência artificial e educação-miolo.indb 199 24/11/2023 13:29
Figura 4 – A procura dos líderes
Fonte: elaborada pelo autor com Bing Image Creator.
Também nesse caso, foi necessário um número limitado de gerações
de imagens para chegar a um produto interessante. Na Figura 5, podemos
ver as imagens selecionadas, da esquerda para a direita, para Clara, líder
das formigas trabalhadoras, Ziggy, líder das formigas exploradoras, e Luna,
líder das formigas cientistas.
Podemos notar em cada uma das três líderes algumas das características
previamente definidas: Clara tem uma aparência meticulosa e facilmente
irritável. Ziggy possui um rosto curioso e simpático – e na imagem parece
ter perdido um olho, o que pode indicar sua imprudência. É provável
que essa característica não tenha sido intencional, mas sim um resultado
de um erro gerativo da IA. No entanto, aproveitamos desse “erro” para
200 INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E EDUCAÇÃO
Inteligência artificial e educação-miolo.indb 200 24/11/2023 13:29
acentuar as características da personagem. Luna, com sua aparência e os
apetrechos ao seu redor, realmente transmite sua excentricidade.
Figura 5 – As líderes escolhidas
Fonte: elaborada pelo autor com Bing Image Creator.
Em resumo, a integração do ChatGPT e do Bing Image Creator no pro-
cesso de game design se mostrou benéfica para a criação de um esboço do
GDD8. Mediante eles, foi possível obter uma fonte contínua de inspiração
e referências visuais.
8 Ver o GDD em: bit.ly/antstothemoon.
ANTS TO THE MOON 201
Inteligência artificial e educação-miolo.indb 201 24/11/2023 13:29
CONCLUSÕES
A experiência de utilizar a IA no processo de criação de um GDD demons-
trou as potencialidades e benefícios dessa abordagem. O seu uso foi seme-
lhante a conversar e fazer brainstorm com um amigo/colega de trabalho,
pois a plataforma se adapta e aprende ao longo do processo, oferecendo
respostas adequadas e estimulando a criatividade do autor, sem impor
limitações.
No que diz respeito à formulação de perguntas, observou-se que obter
respostas mais completas e relevantes é mais efetivo ao utilizar perguntas
mais longas e detalhadas, possivelmente depois de informar sobre o con-
texto criativo e as ideias já defendidas. Além disso, repetir a mesma pergunta
várias vezes, mesmo com pequenas modificações, aumenta as chances de
obter uma resposta produtiva. Caso a discussão esteja seguindo em dire-
ções indesejadas, é importante corrigir e indicar o que não está adequado.
As IAs utilizadas neste capítulo podem ser ferramentas valiosas para
contribuir à geração de ideias, oferecer sugestões criativas e ajudar a superar
bloqueios criativos ao longo do processo de design de jogos. Através das
interações com o ChatGPT, é possível obter insights úteis, orientações e
soluções inovadoras para desafios específicos do jogo. Além disso, o Bing
Create pode ser utilizado para criar imagens personalizadas que comple-
mentem e visualizem as ideias do jogo de forma única.
Conseguimos ajuda na criação de títulos, no desenvolvimento de
personagens, na definição de mecânicas de gameplay e até mesmo em
recuperar referências visuais. Embora a IA possa auxiliar na geração de
ideias e na modelagem de elementos do jogo, a direção e a expertise
humana continuam sendo essenciais para garantir a qualidade e a coesão
da experiência. É necessário utilizar o discernimento e adaptar as suges-
tões recebidas para atender aos objetivos e à visão do jogo. Além disso,
a ferramenta ainda possui limitações e pode não compreender nuances
contextuais ou tomar decisões complexas por conta própria.
Em suma, a IA, quando utilizada como ferramenta no game design,
oferece benefícios significativos, como a ampliação da criatividade e a
202 INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E EDUCAÇÃO
Inteligência artificial e educação-miolo.indb 202 24/11/2023 13:29
aceleração do processo de desenvolvimento. Por meio de insights, suges-
tões e recursos visuais, a combinação da IA com o talento humano pode
resultar em jogos envolventes e inovadores. No entanto, é importante
ter em mente que essa tecnologia é uma aliada, complementando e inte-
grando o trabalho do designer, e não uma substituta deste.
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River Media, 2009. E-book.
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ANTS TO THE MOON 203
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204 INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E EDUCAÇÃO
Inteligência artificial e educação-miolo.indb 204 24/11/2023 13:29
CAPÍTULO 12
LITERACIA DIGITAL PARA UMA
INTERAÇÃO TECNO-HUMANA:
EXPERIÊNCIAS COM O CHATGPT
NO ENSINO SUPERIOR
DÉBORA NICE FERRARI BARBOSA
PATRÍCIA SCHERER BASSANI
SANDRA TERESINHA MIORELLI
INTRODUÇÃO
Podem as máquinas pensar? A ideia apresentada por Alan Turing no artigo
“Computing Machinery and Intelligence”, publicado em 1950, marca o
início dos estudos da área da Inteligência Artificial (IA). Na ficção, acom-
panhamos ao longo dos anos diferentes registros de sistemas de IA, como
HAL 9000 no filme de ficção científica 2001: uma odisseia no espaço, de
Stanley Kubrick (1968), ou a robô humanoide Ava do filme Ex-Machina,
205
Inteligência artificial e educação-miolo.indb 205 24/11/2023 13:29
de Alex Garland (2015). Máquinas dotadas de inteligência também bus-
caram dominar o mundo humano em Exterminador do Futuro e em Matrix.
Migrando da ficção para o contexto atual, podemos afirmar que 2023
marca o ano em que a IA transita do imaginário para a vida cotidiana.
O lançamento do ChatGPT1, em novembro de 2022 pela empresa OpenAI,
marcou o início de uma nova experiência envolvendo a interação entre
humanos e não humanos.
A natureza cada vez mais difusa entre humanos e não humanos é
uma das características do cenário de vida onLife, conforme afirma
Floridi (2015). Em um cenário onLife, as tecnologias digitais não são apenas
ferramentas, são forças ambientais que estão afetando de modo crescente
quem nós somos, como socializamos em nossas interações, a nossa con-
cepção de realidade e as nossas relações com a realidade.
Concordamos, portanto, com Di Felice (2020) quando ele afirma que
os processos de digitalização e conectividade alteraram a natureza dos
artefatos técnicos e a tecnologia – se antes eram identificados “[...] como
instrumentos sob o nosso controle, obedientes e destinados a um uso [...]”,
no contexto atual o cenário é outro, “[...] ganharam vida e começaram a
transmitir informações, começando a interagir entre si de modo autô-
nomo” (Di Felice, 2020, p. 19).
Di Felice (2020) afirma ainda que o processo de digitalização de todas as
coisas muda a própria arquitetura dessas coisas, desvelando um novo status
de mundo, informacional e conectivo. Habitamos, portanto, um mundo em
que a realidade é construída “[...] pelo diálogo com dados, com as arquiteturas
digitais interagentes e por meio das conexões e redes inteligentes maiores,
por extensão e eficiência, do que aquelas humanas” (Di Felice, 2020, p. 20).
Nessa perspectiva, as premissas válidas para a era analógica não são
mais suficientes e adequadas para o cenário atual que se constitui a partir
de arquiteturas digitais de interação em rede. As arquiteturas digitais em
rede nos conduzem a novas formas de participação e, para isso, precisamos
educar para a cidadania digital (Bassani, 2022; Di Felice, 2020).
1 Ver em: https://openai.com/research/gpt-4.
206 INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E EDUCAÇÃO
Inteligência artificial e educação-miolo.indb 206 24/11/2023 13:29
O documento Manifesto pela Cidadania Digital, assinado por um
grupo internacional de professores, pesquisadores e centros de pesquisa,
destaca o conceito de infovíduo, para caracterizar o “[...] todo indisso-
ciável da pessoa física e da digital, uma rede inteligente complexa, nem
sujeito nem objeto, mas forma conectiva, aberta e mutante” (Di Felice,
2020, p. 86). Em um cenário onde o social não é mais composto apenas
por humanos, os “[...] infovíduos interagem a partir da conexão a dispo-
sitivos, plataformas e arquiteturas digitais que estendem a participação
dos espaços físicos aos bits” (Di Felice, 2020, p. 182).
Nesse contexto, educar para a cidadania digital significa “[...] desen-
volver uma participação responsável, uma interação consciente, por meio
da construção das habilidades de todos em um mundo cada vez mais
conectado” (Di Felice, 2020, p. 183). Segundo Elicker e Barbosa (2021),
formar um cidadão digital perpassa pelo desenvolvimento de uma lite-
racia digital que dê condições para nos posicionarmos com criticidade
nos ambientes midiáticos. Ou seja, é preciso que tenhamos uma perspec-
tiva crítica e de compreensão das relações tecno-humanas, nas quais o
outro com quem me relaciono não necessariamente é um outro humano.
É preciso considerar os desafios que a cultura digital apresenta, a partir das
novas configurações advindas da interconexão planetária, dos sistemas
inteligentes, dos impactos na vida do planeta e das novas relações entre
humanos, máquinas e software.
Nesse contexto, as interações com sistema de IA constituem um tema
emergente e importante no contexto da literacia digital. O desenvolvimento
de competências digitais é tão importante quanto os conteúdos, ou seja,
é preciso andar lado a lado, envolvendo um processo de apropriação de
saberes que contempla a cultura digital e a formação cidadã. Entretanto,
como oportunizar essas experiências no contexto de educação formal?
Este texto articula-se a partir de reflexões acerca da literacia digital e as
relações tecno-humanas para a formação de um cidadão digital. Trata-se
de um estudo exploratório e descritivo (Gil, 2008), em que destacamos
o conceito de literacia digital a partir dos escritos das autoras Elicker e
Barbosa (2021) e apresentamos experiências com o uso do ChatGPT no
LITERACIA DIGITAL PARA UMA INTERAÇÃO TECNO-HUMANA 207
Inteligência artificial e educação-miolo.indb 207 24/11/2023 13:29
contexto do ensino de algoritmos em uma graduação na área da compu-
tação e as nuances cada vez mais presentes em termos de uma formação
midiática digital em todos os níveis de ensino.
Este capítulo está organizado em quatro seções, incluindo esta intro-
dução. Na seção seguinte refletimos sobre o desenvolvimento de uma lite-
racia digital na perspectiva da formação de um cidadão digital como um
elemento essencial para lidar com as relações tecno-humanas inerentes à
cultura digital. Ainda, apresentamos a importância de uma literacia digital
nos contextos formativos. A partir disso, na outra seção, apresentamos uma
experiência com o uso do ChatGPT no ensino de algoritmos no contexto
da formação superior. Nessa seção destacamos a importância da inserção
das ferramentas de IA na formação de futuros profissionais, bem como as
reflexões acerca dos problemas e potencialidades advindos desse tipo de
tecnologia. Finalmente, na última seção, apresentamos as considerações
finais do capítulo refletindo sobre o onLife, a literacia digital e a inserção
da IA nos processos formativos de uma forma geral, destacando a impor-
tância de estarmos inseridos de forma ativa nesse universo.
LITERACIA DIGITAL
A literacia digital percorre as ações de interação com a sociedade con-
temporânea e globalizada e o uso de tecnologias. É uma sociedade
dinâmica, complexa, hiperconectada, volátil, ambígua e extremamente
incerta, permeada de informações que precisam ser compreendidas como
elementos importantes na construção de conhecimento. Ao ficarmos
somente na informação e em especial no mundo digital, quando sur-
famos sobre a informação sem ter condições de transformar isso em um
conhecimento apropriado e com sentido, entramos em uma linha poten-
cial para nos tornarmos pessoas e sociedades alienadas ou escravizadas.
Portanto, faz-se necessário “[...] ensinar não só a utilizar a internet, mas a
conhecer o mundo da internet. É preciso ensinar a saber como é selecio-
nada a informação na mídia, pois a informação sempre passa por uma
seleção – como e por quê?” (Morin, 2015, p. 1).
208 INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E EDUCAÇÃO
Inteligência artificial e educação-miolo.indb 208 24/11/2023 13:29
Logo, o desenvolvimento de um sujeito letrado digitalmente é con-
dição fundamental para a interação tecno-humana, uma vez que se faz
útil nas relações cotidianas que acontecem na coexistência dos espaços
físico e digital. Nesse sentido, a apropriação dos conhecimentos das tec-
nologias digitais imbricadas nas configurações dos recursos utilizados
no dia a dia está diretamente ligada à forma como nos relacionamos e
usamos a tecnologia, portanto com a literacia digital.
O termo “literacia digital” foi citado com maior evidência pela primeira
vez pelo professor e historiador Paul Gilster, em 1997, no livro Literacia
Digital. No entanto, o termo já vinha sendo utilizado por pesquisadores
para designar o ato de ler e compreender as informações no hipertexto,
nos meios digitais. No Brasil, a literacia digital encontrou espaços nos
contextos escolares com propósitos educacionais para o desenvolvimento
tanto da alfabetização quanto da cidadania digital. Nos Estados Unidos, o
conceito relaciona-se mais com fluência digital e com capacidade de inte-
ragir criticamente em meios digitais e virtuais. Já em Portugal, por exemplo,
o termo está mais relacionado com competências digitais, envolvendo o
saber usar, comunicar-se e participar em redes colaborativas via internet.
Para as autoras brasileiras Elicker e Barbosa (2021, p. 45), a literacia digital
é uma perspectiva que “[...] abarca a apropriação dos saberes do uso das
tecnologias digitais de forma autônoma, responsável e criativa”. A relação
com as tecnologias digitais, na perspectiva das autoras, é sempre voltada
para a formação de um cidadão digital. Logo, os sistemas educacionais
precisam se apropriar dessa cultura digital com vistas a formar o cidadão
do/para o século XXI.
Assim, é preciso criar condições para que os educandos aprendam a
pensar e a resolver problemas de forma criativa e inventiva, conectada
com as demandas atuais e futuras, de modo socialmente responsável e
sustentável. Segundo Elicker e Barbosa (2021, p. 20),
não basta mais saber os signos digitais e interagir com os
meios digitais, é preciso compreender o papel das tecnologias
digitais na nossa vida, na sociedade e na natureza, bem como
LITERACIA DIGITAL PARA UMA INTERAÇÃO TECNO-HUMANA 209
Inteligência artificial e educação-miolo.indb 209 24/11/2023 13:29
compreender o nosso papel como cidadão, agora também
digital, transitando de forma participativa, nos espaços virtuais.
Uma prática pedagógica que tem como princípio a literacia digital
coloca o estudante como sujeito autônomo na organização dos recursos
tecnológicos e de seu posicionamento perante o conhecimento construído
na sociedade digital. Logo, é cada vez mais urgente uma educação voltada
para uma literacia digital, em especial se considerarmos os avanços em
termos de tecnologias digitais presentes na sociedade, sobretudo aquelas
relacionadas à IA – a questão emergente do momento.
Considerando a inserção das tecnologias de ferramentas de Inteli-
gência Artificial Generativa (IAG) de fácil acesso e uso, como o ChatGPT,
uma formação em torno de uma literacia digital com foco no desenvol-
vimento de um cidadão digital se faz cada vez mais urgente. Ou seja,
estaremos promovendo uma interação com um olhar mais apurado por
parte do sujeito, na qual ele se encanta, mas ao mesmo tempo se ques-
tiona sobre os resultados ou as possibilidades advindas da interação
humano-máquina.
A grande questão é que não será possível negar os avanços tecnoló-
gicos que o uso de ferramentas de IA vão proporcionar e as transforma-
ções na sociedade advindas desse processo. Baranauskas e Valente (2022,
p. 3) já nos chamam a atenção para as relações entre IA, educação e res-
ponsabilidade social:
A IA continuará a se desenvolver e já se apresenta de forma
ubíqua em nossas vidas. Dada a presença crescente dessa
tecnologia, sua complexidade e seu potencial para grandes
transformações, todos devemos refletir de forma mais crítica
sobre como exatamente queremos que a IA seja entendida,
desenvolvida e apropriada na sociedade.
Logo, se quisermos de fato formar sujeitos preparados para um futuro
incerto, dinâmico e complexo, precisamos considerar o uso dessas tecno-
logias em nossos processos educativos, em todos os níveis.
210 INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E EDUCAÇÃO
Inteligência artificial e educação-miolo.indb 210 24/11/2023 13:29
Desse modo, precisamos lançar nosso olhar também para os níveis de
formação superior. Precisamos compreender que a literacia digital é um
processo contínuo e que profissionais de todas as áreas precisam mais do
que nunca compreender as implicações das interações tecno-humanas
nos meios digitais. Além disso, é necessária uma reflexão desses profis-
sionais sobre as potencialidades e as problemáticas envolvidas no uso e
desenvolvimento de sistemas de IA.
Esses elementos são fundamentais, pois é preciso que tenhamos cla-
reza que, assim como nos fala Morin (2021, p. 48), “os dispositivos digi-
tais são ao mesmo tempo instrumentos de liberdade e instrumentos de
servidão”. Precisamos educar sempre para a liberdade.
O CHATGPT NO ENSINO DE ALGORITMOS
A partir do lançamento do ChatGPT, torna-se inevitável que a academia
explore essa ferramenta e discuta sua aplicabilidade no ensino superior.
Esse assunto motivou a Sociedade Brasileira de Computação que, em 24
de março de 2023, propôs uma mesa de discussões intitulada “Assistentes
Virtuais Inteligentes: Foco no ChatGPT”.
Diante da necessidade de enquanto professores nos apropriarmos do
funcionamento do ChatGPT bem como da necessidade de validarmos
as respostas, iniciamos experimentos específicos em uma disciplina de
algoritmos oferecida nos cursos de Ciência da Computação e Sistemas de
Informação de uma universidade no Sul do Brasil. Esse experimento visava
validar as entradas e saídas de soluções algorítmicas na linguagem de pro-
gramação “C”, utilizada como base para validar problemas algorítmicos.
Um dos primeiros algoritmos desenvolvidos pelos alunos em seu pro-
cesso de aprendizagem é a criação de programa em “C” que recebe dois
números inteiros, realiza soma e exibe o resultado na tela. A partir desse
mesmo problema algorítmico é que iniciamos um experimento com o
ChatGPT.
Nosso objetivo com o experimento foi: 1) Confirmar se a solução apre-
sentada pelo ChatGPT está correta; 2) Avaliar a complexidade da solução
LITERACIA DIGITAL PARA UMA INTERAÇÃO TECNO-HUMANA 211
Inteligência artificial e educação-miolo.indb 211 24/11/2023 13:29
apresentada; 3) Verificar quantas soluções ele consegue apresentar para
o mesmo problema.
O primeiro prompt, representado na Figura 1, foi o que utilizamos no
início do experimento.
Figura 1 – Prompt inicial: o problema
Fonte: elaborada pelas autoras.
Figura 2 – Primeira solução do ChatGPT
Fonte: ChatGPT, 2023.
Quanto ao atendimento aos objetivos do nosso teste, consideramos
que a resposta (Figura 2) do ChatGPT atende ao primeiro objetivo, pois a
solução está correta. Em relação ao segundo objetivo, sobre a complexidade,
212 INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E EDUCAÇÃO
Inteligência artificial e educação-miolo.indb 212 24/11/2023 13:29
concluímos que ele apresenta uma solução simples, a mesma que espe-
ramos que um aluno iniciante nos apresente.
Seguimos no prompt (Figura 3) a fim de verificar o terceiro objetivo
deste experimento, computando o número de soluções possíveis para o
problema.
Figura 3 – Segundo prompt: o problema
Fonte: elaborada pelas autoras.
Figura 4 – Segunda solução do ChatGPT
Fonte: ChatGPT, 2023.
Nessa segunda resposta (Figura 4), concluímos que o primeiro objetivo
também foi alcançado, pois a solução apresentada está correta. Quanto
LITERACIA DIGITAL PARA UMA INTERAÇÃO TECNO-HUMANA 213
Inteligência artificial e educação-miolo.indb 213 24/11/2023 13:29
à complexidade, observamos mudança significativa em relação à utili-
zação de uma mesma variável para armazenar a soma dos dois números.
Seguimos com o mesmo prompt, conforme Figura 3, a fim de verificar
o terceiro objetivo do experimento. Na solução apresentada, o primeiro
objetivo é atingido, a solução está correta. A única mudança na solução
apresentada em relação à anterior (Figura 4) foi a forma de representação
sintática do operador aritmético (num1 += num2). Assim, na Figura 5
destacamos a solução apresentada.
Figura 5 – Terceira solução do ChatGPT
Fonte: ChatGPT, 2023.
Analisando a solução, conforme Figura 5, concluímos que o primeiro
objetivo foi atingido, a solução está correta. Em relação à complexidade, o
214 INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E EDUCAÇÃO
Inteligência artificial e educação-miolo.indb 214 24/11/2023 13:29
uso de função como solução do ChatGPT traz uma necessidade de conhe-
cimentos de médio a avançado por parte de alunos iniciantes.
Para atingirmos o nosso terceiro objetivo, decidimos perguntar para
o ChatGPT quantas soluções mais ele traria para o mesmo problema.
A resposta apresentada pelo ChatGPT (2023) foi: “Até o momento, forneci
várias formas diferentes de resolver o problema de calcular a soma de dois
números em C. No entanto, existem ainda muitas outras abordagens pos-
síveis”. Algumas soluções listadas por ele na resposta foram: uso de array,
operações bit a bit, uso de bibliotecas matemáticas etc.
Para atender ao terceiro objetivo proposto neste experimento, con-
cluímos que não é possível saber quantas soluções o ChatGPT poderá
nos trazer para o problema. Comparado a humanos, acreditamos que
mesmo pessoas com experiência e conhecimento avançado em “C”
talvez não consigam apresentar todas as soluções que o ChatGPT
“admite” possuir.
Considerando a complexidade das soluções, entendemos com o expe-
rimento a importância da informação de um contexto quando buscamos
por respostas na ferramenta, como o nível de complexidade esperado ou
para que fim didático é destinada a consulta. Ou, em outro sentido, ao
não especificar o contexto, levar o estudante a refletir sobre as respostas
da ferramenta.
O objetivo do uso junto aos estudantes, iniciantes no curso de gra-
duação, é justamente levá-los a explorarem e a identificarem/questio-
narem as diferentes soluções. Ou seja, a ferramenta de IA pode ser usada
como uma aliada no processo de aprendizado de programação de com-
putadores. No entanto, se o usuário não tiver condições de compreender
a estrutura das respostas apresentadas, ele não terá condições de verificar
se a solução realmente atende ao objetivo pretendido. Ao adotarmos este
olhar, estamos desenvolvendo uma literacia digital importante para o con-
texto das relações tecno-humanas, além de formar profissionais letrados
digitalmente.
LITERACIA DIGITAL PARA UMA INTERAÇÃO TECNO-HUMANA 215
Inteligência artificial e educação-miolo.indb 215 24/11/2023 13:29
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este estudo apresentou a importância do desenvolvimento de uma lite-
racia digital no contexto das interações com sistema de IA no contexto da
educação formal, em especial analisando as potencialidades do ChatGPT.
A IAG constitui tema emergente e o ChatGPT se constitui como uma
entidade não humana com um potencial interessante e ainda desconhecido,
especialmente no contexto educativo. Não podemos ignorar os impactos
que esse tipo de sistema vai gerar, uma vez que o ChatGPT produz res-
postas para qualquer tipo de pergunta. Além disso, o sistema é capaz de
gerar soluções para problemas informatizados. Entretanto, a partir do
estudo realizado, não basta apenas perguntar, é importante que o sujeito
saiba “como perguntar” e saiba analisar as respostas obtidas. Diante do
estudo realizado com essa ferramenta, podemos incitar discussões acerca
do ato de “copiar e colar” soluções da IA, mostrando que esse processo é
frágil se o sujeito não conhece o que está buscando.
Um sujeito com literacia digital compreende o seu papel e o papel das
tecnologias digitais na sociedade. Portanto, formar pessoas e profissionais
letrados digitalmente é condição urgente no contexto da cultura digital.
O posicionamento de uso e de questionamento, de colocar o conheci-
mento humano como um fator essencial para que a interação tecno-humana
seja producente, de entender que para aprender é preciso entender e não
somente repetir, é a grande formação em literacia digital que precisamos
desenvolver nos processos educativos em diversos níveis.
O desafio, portanto, está na necessidade de construção de processos
de aprendizagem que possam acrescentar ao papel do aluno a função de
ser um agente avaliador/contestador das soluções da IA.
REFERÊNCIAS
BARANAUSKAS, M. C. C.; VALENTE, J. A. Inteligência Artificial, Educação e
Responsabilidade Social. Tecnologias, Sociedade e Conhecimento, Campinas, v. 9,
n. 2, p. 1-5, 2022. Disponível em: https://econtents.bc.unicamp.br/inpec/index.
php/tsc/article/view/17922/12574. Acesso em: 10 maio 2023.
216 INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E EDUCAÇÃO
Inteligência artificial e educação-miolo.indb 216 24/11/2023 13:29
BASSANI, P. S. A internet dos corpos, as realidades emergentes e a constituição de
arquiteturas digitais de interação. Contrapontos, Itajaí, v. 22, n. 1, p. 175-187, 2022.
Disponível em: https://periodicos.univali.br/index.php/rc/article/view/17778.
Acesso em: 15 maio 2023.
CHATGPT. [Resolução sobre o problema “Calcule a soma de dois números em C”].
Versão ChatGPT-4. [San Francisco]: OpenAI, 2023.
DI FELICE, M. A cidadania digital: a crise da ideia ocidental de democracia e a
participação nas redes sociais. São Paulo: Paulus, 2020.
ELICKER, A. T.; BARBOSA, D. N. F. Literacia digital: projeto pedagógico
cooperativo. Porto Alegre: CirKula, 2021.
FLORIDI, L. (ed.). The Onlife Manifesto: Being Human in a Hyperconnected Era.
Cham: Springer, 2015.
GIL, A. C. Métodos e técnicas de pesquisa social. São Paulo: Atlas, 2008.
MORIN, E. É hora de mudarmos de via: as lições do coronavírus. Rio de Janeiro:
Bertrand Brasil, 2021.
MORIN, E. Ensinar a viver: manifesto para mudar a educação. Porto Alegre:
Sulina, 2015.
LITERACIA DIGITAL PARA UMA INTERAÇÃO TECNO-HUMANA 217
Inteligência artificial e educação-miolo.indb 217 24/11/2023 13:29
Inteligência artificial e educação-miolo.indb 218 24/11/2023 13:29
SOBRE OS AUTORES
Adelina Moura
Docente do ensino básico e secundário e formadora da formação contínua
de professores, na área da Tecnologia Educativa. Doutora em Ciências
da Educação, na especialidade de Tecnologia Educativa. É investigadora
integrada do grupo Games Interaction and Learning Technology (Gilt)
e membro do Laboratório de Tecnologia Educativa (LabTE). Tem desen-
volvido investigação no domínio do Mobile Learning. Colabora com a
equipe do Plano Nacional de Leitura 2027.
Ana Amélia A. Carvalho
Professora catedrática na área das Ciências da Educação da Universidade
de Coimbra. Coordena o Laboratório de Tecnologia Educativa (LabTE),
dinamizando formação para professores e investigação na área de tec-
nologias emergentes em ensino presencial e a distância. Tem coorde-
nado e colaborado em projetos nacionais e internacionais. É membro
integrado do Centro de Estudos Interdisciplinares (CEIs20) da Univer-
sidade de Coimbra.
219
Inteligência artificial e educação-miolo.indb 219 24/11/2023 13:29
Ana Luiza Pedrosa Camilo
Graduanda em Artes Visuais na Escola de Design da Universidade do
Estado de Minas Gerais (UEMG). É bolsista do Laboratório de Poéticas
Fronteiriças da UEMG, com registro no Conselho Nacional de Desenvol-
vimento Científico e Tecnológico (CNPq) e no Programa Institucional
de Bolsas de Iniciação Científica (Pibic), fomentado pela Fundação de
Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig).
Beatriz Oliveira de Almeida Lima
Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Ensino, Filosofia e His-
tória das Ciências (PPGEFHC). Pesquisadora da Rede de Pesquisa Comu-
nidades Virtuais. Possui interesse nos campos de divulgação científica,
cultura digital, plataformização e ensino de ciências.
Bruno Cerqueira Barbosa
Bacharel em Ciência e Tecnologia pelo Instituto de Humanidades, Artes e
Ciências Professor Milton Santos da Universidade Federal da Bahia (Ihac/
UFBA), graduando em Sistema de Informação pela mesma universidade,
membro da Rede de Pesquisa Comunidades Virtuais e bolsista de iniciação
científica pela Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado da Bahia (Fapesb).
Camila Bezerra da Silva
Doutora e mestre em Ciência da Computação pela Universidade Federal
de Pernambuco. Bacharel em Ciência da Computação pela Universidade
Federal de Alagoas. Atualmente é professora adjunta na Universidade
Federal do Recôncavo da Bahia, onde atua na área de Lógica e Inteligência
Artificial. Tem experiência na área de Inteligência Artificial, com ênfase
em engenharia de ontologias e ciência de dados.
E-mail:
[email protected] 220 INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E EDUCAÇÃO
Inteligência artificial e educação-miolo.indb 220 24/11/2023 13:29
Cíntia da Silva Vitorino
Graduanda em Ciência e Tecnologia pelo Instituto de Humanidades,
Artes e Ciências Professor Milton Santos da Universidade Federal da Bahia
(Ihac/UFBA), membro da Rede de Pesquisa Comunidades Virtuais e bol-
sista de iniciação científica pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico (CNPq).
David Santana Lopes
Doutor (2023) em Ensino, Filosofia e História das Ciências, com todas
as formações realizadas na Universidade Federal da Bahia (UFBA).
É especialista (2019) em Formação de Professores em Letras/Libras pela
Universidade do Estado da Bahia (UNEB) e também licenciado em Peda-
gogia pela Universidade Salvador (Unifacs). Integra os grupos de pes-
quisa: Núcleo Regional de Ofiologia e Animais Peçonhentos da Bahia
(Noap) e Rede de Pesquisa Comunidades Virtuais da qual é vice-líder,
ambos da UFBA.
Débora Nice Ferrari Barbosa
Doutora e mestre em Ciência da Computação pela Universidade Federal
do Rio Grande do Sul (UFRGS). Bolsista de produtividade em Desenvol-
vimento Tecnológico e Extensão Inovadora pelo Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Professora e pesquisa-
dora no Programa de Pós-Graduação em Diversidade Cultural e Inclusão
Social na Universidade Feevale. É líder do Grupo de Pesquisa Interdisci-
plinar em Tecnologia Digital, Neurociência e Educação da Universidade
Feevale, registrado no CNPq. Como pesquisadora, desenvolve projetos na
área de tecnologias educacionais e sociais e jogos digitais voltados para
educação e saúde.
Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/4843891170478912
SOBRE OS AUTORES 221
Inteligência artificial e educação-miolo.indb 221 24/11/2023 13:29
Diego Zabot
Doutorando e mestre em Ciência da Computação pela Universidade Federal
da Bahia (UFBA). Graduado em Teorias e Técnicas da Interculturalidade
pela Universidade de Trieste. Atua como professor de informática em
diferentes institutos da Itália. No Brasil, é pesquisador do Programa de
Ações Pedagógicas para Formação Docente em Computação (Profcomp)
e do Semio-Participatory Interaction Design Laboratory (SPIDeLab).
Edméa Santos
Professora titular-livre do Instituto de Educação e do Programa de Pós-
-Graduação em Educação da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro
(PPGEDUC/UFRRJ). Líder do Grupo de Pesquisa Docência e Cibercultura
(GPDOC). Membro do Conselho Científico do Grupo de Trabalho 16 (GT16)
da Associação Nacional de Pesquisa em Educação (ANPEd). Integrante
da Associação Brasileira de Cibercultura (ABCiber), do Observatório For-
macce da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e do Lab de Imagem da
Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Pesquisadora do Con-
selho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e
do Programa Cientista do Nosso Estado pela Fundação de Pesquisa do
Rio de Janeiro (Faperj).
Site acervo: www.edmeasantos.pro.br
E-mail: [email protected]
Instagram: @mea.santos
Eniel do Espírito Santo
Doutor em Educação (2008), com pós-doutorado em Educação pela Fló-
rida Christian University e pela Universidade Federal da Bahia (UFBA).
Mestre em Gestão Integrada de Organizações. Bacharel em Administração
e licenciado em Pedagogia. Professor adjunto na Universidade Federal
do Recôncavo da Bahia (UFRB). Docente no Programa de Pós-Graduação
222 INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E EDUCAÇÃO
Inteligência artificial e educação-miolo.indb 222 24/11/2023 13:29
em Educação Científica, Inclusão e Diversidade (PPGCID) da UFRB e no
Programa de Pós-Graduação em Estudos Interdisciplinares sobre a Uni-
versidade (PPGEISU) da UFBA.
E-mail:
[email protected] Everton Santana Rodrigues
Graduando em Ciência e Tecnologia no Instituto de Humanidades, Artes e
Ciências Professor Milton Santos da Universidade Federal da Bahia (Ihac/
UFBA), membro da Rede de Pesquisa Comunidades Virtuais e bolsista de
iniciação científica pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientí-
fico e Tecnológico (CNPq).
Flávia Goulart Mota Garcia Rosa
Doutora (2011) em Cultura e Sociedade, mestra (2006) em Ciência da
Informação e bacharel em Comunicação (Jornalismo) pela Universidade
Federal da Bahia (UFBA). Professora titular do curso de Design na Escola
de Belas Artes e vinculada ao Programa de Pós-Graduação em Estudos
Interdisciplinares sobre Universidade (PPGEISU), ambos na UFBA. Dire-
tora da Editora da UFBA (Edufba) no período de setembro de 1997 a maio
de 2022. Membro da Academia de Ciência da Bahia.
E-mail:
[email protected] Jamile Borges da Silva
Professora associada da Universidade Federal da Bahia (UFBA), com
pós-doutorado no Instituto Universitário de Lisboa, em Portugal. Antro-
póloga e pesquisadora do Centro de Estudos Afro-Orientais da UFBA,
coordenadora do Museu Afro-Digital da Memória Africana e Afro-Bra-
sileira. Desenvolve pesquisa em contextos africanos desde 2010.
SOBRE OS AUTORES 223
Inteligência artificial e educação-miolo.indb 223 24/11/2023 13:29
João Paulo de Araújo Souza
Professor de Matemática do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tec-
nologia da Paraíba (IFPB), no campus Cajazeiras. Mestre em Matemática
pela Universidade Federal do Cariri (UFCA) e graduado em Licenciatura
em Matemática pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do
Ceará (IFCE), no campus Juazeiro do Norte. Cursou um semestre em inter-
câmbio na Faculdade de Ciência da Universidade do Porto, em Portugal.
Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/8136403796302745
E-mail:
[email protected] Juliana Santana Moura
Doutora pelo Programa de Pós-Graduação em Ensino, Filosofia e História
das Ciências (PPGEFHC), professora da Universidade do Estado da Bahia
(UNEB) e pesquisadora da Rede de Pesquisa Comunidades Virtuais. Possui
experiência nos campos de educação, educação matemática e tecnolo-
gias digitais, atuando principalmente nos seguintes temas: jogos digitais,
narrativas digitais, narrativas matemáticas, EAD e ensino on-line, teoria
ator-rede, processos de ensino e aprendizagem.
Lucas de Jesus da Silva
Técnico em Desenvolvimento de Sistemas pelo Serviço Nacional de
Aprendizagem Industrial (Senai), graduando em Ciência e Tecnologia
pelo Instituto de Humanidades, Artes e Ciências Professor Milton Santos
da Universidade Federal da Bahia (Ihac/UFBA), membro da Rede de
Pesquisa Comunidades Virtuais e bolsista de iniciação científica pelo
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
Lynn Alves
Atualmente bolsista de produtividade de Desenvolvimento Tecnológico e
Extensão Inovadora, registrado no Conselho Nacional de Desenvolvimento
224 INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E EDUCAÇÃO
Inteligência artificial e educação-miolo.indb 224 24/11/2023 13:29
Científico e Tecnológico (CNPq) em nível 1D. Doutora em Educação, com
pós-doutorado na área de Jogos Eletrônicos e Aprendizagem pela Univer-
sità degli Studi di Torino, na Itália. Professora e pesquisadora do Instituto
de Humanidades, Artes e Ciências Professor Milton Santos da Universi-
dade Federal da Bahia (Ihac/UFBA).
Miguel Angel Garcia Bordas
Doutor em Filosofia pela Universidad Complutense de Madrid, com pós-
-doutorado em Sociosemiótica na Universidade Autônoma de Barcelona.
Graduação em Filosofia e Letras pela Universidade Central de Barcelona.
Professor titular, aposentado da Universidade Federal da Bahia (UFBA),
vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Educação e ao Programa
Multi-institucional e Multidisciplinar em Difusão do Conhecimento.
E-mail:
[email protected] Murilo do Carmo Boratto
Mestre e doutor em Computação Paralela e Distribuída pela Universidad
Politécnica de Valencia (DSIC/UPV). Professor adjunto no Departamento
de Ciência Exatas e da Terra I na Universidade do Estado da Bahia (UNEB)
e pesquisador no Centro de Supercomputação para Inovação Industrial
no Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai).
E-mail:
[email protected] Pablo Gobira
Professor doutor da Escola Guignard da Universidade do Estado de Minas
Gerais (UEMG), do Programa de Pós-Graduação em Artes (PPGArtes) da
mesma instituição, do Programa de Pós-Graduação em Ambiente Construído
e Patrimônio Sustentável (PPGACPS) e do Programa de Pós-Graduação
em Gestão e Organização do Conhecimento (PPGGOC), estes dois últimos
vinculados à Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Pesquisador
SOBRE OS AUTORES 225
Inteligência artificial e educação-miolo.indb 225 24/11/2023 13:29
de produtividade do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico (CNPq). Membro pesquisador da Rede Brasileira de Serviços
de Preservação Digital. Coordenador do grupo de pesquisa Laboratório
de Poéticas Fronteiriças da UEMG, registrado no CNPq.
Patrícia Scherer Bassani
Doutora em Informática na Educação pela Universidade Federal do Rio
Grande do Sul (UFRGS). Professora e pesquisadora no Programa de Pós-
-Graduação em Diversidade Cultural e Inclusão Social na Universidade
Feevale. É líder do Grupo de Pesquisa em Informática na Educação dessa
mesma instituição e com registro no Conselho Nacional de Desenvolvi-
mento Científico e Tecnológico. Como pesquisadora, desenvolve projetos
no campo de tecnologias educacionais.
Currículo Lattes: https://lattes.cnpq.br/2502439781919473
Sandra Teresinha Miorelli
Mestre em Ciências da Computação pela Pontifícia Universidade Católica
do Rio Grande do Sul (PUCRS). Professora nos cursos de graduação na área
de Tecnologia da Informação na Universidade Feevale. Coordena projeto
de extensão “Logicando: aprendizagem criativa e tecnologias digitais no
desenvolvimento do pensamento computacional”.
Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/1319753298000291
Wendel Freire
Doutor em Educação pela Universidade Federal Fluminense. Atua como
gestor educacional e atuou por dez anos como docente de graduação e
pós-graduação em instituições privadas de ensino superior. Coautor de
Educação midiática: para uma democracia digital.
E-mail: [email protected]
226 INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E EDUCAÇÃO
Inteligência artificial e educação-miolo.indb 226 24/11/2023 13:29
William de Souza Santos
Pós-doutor pelo Programa de Pós-Graduação em Ensino, Filosofia e His-
tória das Ciências da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Doutor
e mestre em Modelagem Computacional de Sistemas Cognitivos pelo
Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai). Coordenador do
Grupo Cajazeirense de Pesquisa em Matemática e pesquisador do Rede
de Pesquisa Comunidades Virtuais da UFBA. Criador do site do Reforço
Virtual de Matemática1. Consultor pedagógico na criação de jogos digi-
tais educacionais. Tem por área de interesse educação matemática e tec-
nologias digitais.
Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/2735274515992218
E-mail:
[email protected] 1 Ver em: www.reforcovirtualdematematica.com.br.
SOBRE OS AUTORES 227
Inteligência artificial e educação-miolo.indb 227 24/11/2023 13:29
Formato: 17 x 24 cm
Fontes: Ashbury, Barlow
Miolo: Papel Off-Set 75 g/m2
Capa: Cartão Supremo 300 g/m2
Impressão: Gráfica 3
Tiragem: 400 exemplares
Inteligência artificial e educação-miolo.indb 228 24/11/2023 13:29
Lynn Rosalina Gama Alves atualmente
é bolsista de produtividade de
Desenvolvimento Tecnológico e
Extensão Inovadora pelo Conselho
Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico (CNPq) –
nível 1D. Doutora em Educação com
o pós-doutorado na área de Jogos
Eletrônicos e Aprendizagem pela
Universidade de Turim, na Itália.
Também é professora e pesquisadora
do Instituto de Humanidades, Artes
e Ciências Professor Milton Santos da
Universidade Federal da Bahia (Ihac/
UFBA). Coordena a Rede de Pesquisa
Comunidades Virtuais (RPCV) da
UFBA, onde desenvolve pesquisas que
podem ser encontrados no site
www.comunidadesvirtuais.pro.br.
(fech.) Sobre os autores.indd 228 24/11/2023 10:12
LYNN ALVES
Organizadora
INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E EDUCAÇÃO
O livro Inteligência Artificial e
educação: refletindo sobre os desafios
contemporâneos apresenta uma
discussão atual sobre a interação
O livro Inteligência Artificial e educação: refletindo sobre e a mediação com as Inteligências
os desafios contemporâneos,
contemporâneos, organizado por Lynn Alves, Artificiais Generativas (IAGs), sob o
é voltado para pesquisadores, professores, estudantes
prisma das Ciências Humanas, com
de pós-graduação e graduação e demais interessados
na discussão sobre as questões e tensões em torno das destaque para a área de educação, indo
Inteligências Artificiais Generativas (IAGs) na sociedade além de perspectivas maniqueístas. A
contemporânea. Cada capítulo de autoria de professores e obra produzida por pesquisadores e
pesquisadores brasileiros e portugueses apresenta distintos professores brasileiros e portugueses
olhares sobre os limites e possibilidades dessas tecnologias delineará, discutirá e refletirá sobre a
nos cenários escolares e acadêmicos das Ciências Humanas, presença da Inteligência Artificial (IA)
com destaque para a educação. A presente obra marca um
nos espaços escolares e acadêmicos,
lugar diferenciado, já que no Brasil não temos ainda livros
que tratem especificamente dos temas abordados na obra, destacando as tensões e possibilidades
contribuindo para a construção de olhares e ações mais dessas tecnologias, com ênfase para o
Lynn Rosalina Gama Alves atualmente críticas em volta das interações e mediações das IAGs. ChatGPT, inserindo e contextualizando
é bolsista de produtividade de
com questões que também afetam o
Desenvolvimento Tecnológico e
Extensão Inovadora pelo Conselho processo de dataficação na sociedade,
Nacional de Desenvolvimento como a falta de transparência dos
Científico e Tecnológico (CNPq) – algoritmos, o racismo algorítmico,
LYNN ALVES Organizadora
nível 1D. Doutora em Educação com fake news, questões éticas e de autoria,
o pós-doutorado na área de Jogos regulação inclusive da IA, entre outros
Eletrônicos e Aprendizagem pela aspectos que se tornaram essenciais
Universidade de Turim, na Itália.
para vivermos com a mediação das
Também é professora e pesquisadora
do Instituto de Humanidades, Artes
e Ciências Professor Milton Santos da
INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL tecnologias.
E EDUCAÇÃO
Universidade Federal da Bahia (Ihac/
UFBA). Coordena a Rede de Pesquisa
Comunidades Virtuais (RPCV) da
UFBA, onde desenvolve pesquisas que REFLETINDO SOBRE OS DESAFIOS CONTEMPORÂNEOS
podem ser encontrados no site
www.comunidadesvirtuais.pro.br.
ISBN 978-65-5630-560-8 ISBN 978-65-8952-459-5
9 786556 305608 9 786589 524595
Inteligência artificial e educação-capa-549x240.indd 1 24/11/2023 08:31