Acta Biológica Catarinense
2018 Jan-Abr;5(1):46-55
Levantamento etnobotânico da Universidade Federal
de Campina Grande, Campus Pombal
Ethnobotanical survey of the Federal University of Campina Grande
Pombal Campus
Valéria Fernandes de Oliveira SOUSA1,4; Gisele Lopes dos SANTOS1; Marília Hortência Batista Silva
RODRIGUES1; Roberto Ferreira BARROSO2; Erllan Tavares Costa LEITÃO3 & José Jaciel Ferreira dos SANTOS3
Recebido em: 25 fev. 2018
RESUMO
Aceito em: 16 abr. 2018
A caatinga representa um importante patrimônio brasileiro, destacando-se pela
diversidade de espécies. Contudo é um bioma que vem sofrendo com a degradação
ocasionada principalmente pelo processo de urbanização. A arborização, empregando
espécies nativas e sua identificação em parques, praças e ambientes educacionais
modificados por esse processo, é vista como alternativa para a diminuição da
degradação ambiental e a preservação do bioma. Nessa perspectiva, objetivou-
se realizar um levantamento etnobotânico da área urbanizada pela Universidade
Federal de Campina Grande, campus Pombal. Para isso, foi realizada a quantificação
das espécies, com coletas efetuadas no período de dezembro de 2017 a janeiro de
2018. As espécies encontradas foram identificadas com auxílio do Herbário Virtual
da Flora e dos Fungos – Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia e do Manual de
Identificação de Plantas Arbóreas Nativas do Brasil. Registraram-se 567 indivíduos,
distribuídos em 48 espécies e 27 famílias botânicas. Dentre estas, nim (Azadirachta
indica), espécie exótica, apresentou maior população, seguida por jurema (Mimosa
tenuiflora), nativa da caatinga. A família que mais se destacou foi Fabaceae, seguida
de Meliaceae. Verifica-se que as espécies exóticas predominaram sobre as nativas e
que há necessidade do correto planejamento da arborização na localidade.
Palavras-chave: arborização; conservação ambiental; quantificação de exóticas;
semiárido.
ABSTRACT
Caatinga represents an important Brazilian heritage, distinguished by the diversity
of species, however, it is a biome suffering from the degradation caused mainly by
urbanization process. Afforestation, using native species and their identification
in parks, squares and educational environments modified by this process, is seen
as an alternative for the reduction of environmental degradation and preservation
of the biome. In this perspective, an ethnobotanical survey of the area urbanized
by the Federal University of Campina Grande, Pombal campus, was carried out.
For this, the species quantification was performed, with data collected from
December 2017 to January 2018. The species were identified with the help of the
Virtual Herbarium of Flora and Fungi-INCT and the Identification Manual of Native
Arboreal Plants of Brazil. There were 567 individuals distributed in 48 species and
27 botanical families. Among these, Nim (Azadirachta indica), an exotic species,
presented a larger population and the second most populous species was Jurema
(Mimosa tenuiflora), native to the Caatinga. Among the families, Fabaceae was the
most prominent, followed by Meliaceae, and it was verified that the exotic species
predominated over the native ones and that there is a need for the correct planning
of the afforestation in the locality.
Keywords: afforestation; environmental conservation; quantification of exotic;
semiarid.
1
Programa de Pós-Graduação em Horticultura Tropical, Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), Rua Jairo Vieira Feitosa, n. 1770 –
Pereiros, CEP 58840-000, Pombal, Paraíba, Brasil.
2
Programa de Pós-Graduação em Ciência Florestal, UFCG, Patos, Paraíba, Brasil.
3
Unidade Acadêmica de Ciências Agrárias, UFCG, Pereiros, Pombal, Paraíba.
4
Autor para correspondência: [email protected].
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INTRODUÇÃO
O emprego da arborização constitui uma prática importante, visto que, além de melhorar
a estética do ambiente, favorece o microclima local e a redução de níveis de poluição sonora e
atmosférica, podendo dessa forma contribuir positivamente com a qualidade de vida da população
(PINHEIRO & SOUZA, 2017).
Küster et al. (2012) afirmam que a arborização deve, portanto, não se restringir apenas a ruas,
praças e parques, pois a sua inserção em ambientes educacionais, por exemplo, pode contribuir
com a qualidade do aprendizado de alunos e também servir como um instrumento na educação
ambiental. Uma das formas de aplicar tal tema em unidades educacionais é por meio do incentivo
ao plantio de espécies da flora local (SANTOS et al., 2017).
A escolha de espécies adequadas à localidade deve ser planejada, para não ocasionar
conflitos futuros entre o desenvolvimento das árvores e a infraestrutura construída (MORAES &
MACHADO, 2014). A priorização da flora nativa, especialmente de espécies da região geográfica na
qual a unidade urbana está inserida, é essencial do ponto de vista ecológico, adaptativo e funcional,
sobretudo por garantir as relações ecológicas coevolutivas e genéticas, de dispersão de propágulos
(pólen e sementes), envolvendo fauna e flora, e por conservar o material genético autóctone (PAIVA
et al., 2010).
Espécies exóticas geralmente não devem ser escolhidas para essa prática, pois podem se
tornar invasoras de áreas naturais, como fragmentos florestais e reservas adjacentes às cidades
(KÜSTER et al., 2012). No caso em apreço, a caatinga inclui 2 mil espécies vegetais, sendo um bioma
rico em recursos genéticos em comparação com outras regiões semiáridas, sendo, entretanto, o
terceiro bioma mais degradado do mundo (MAIA et al., 2017).
Diante do exposto, a quantificação de espécies exóticas e nativas é indispensável para a
efetivação de uma política de arborização de unidades urbanas de forma adequada, já que a falta
de estudo e de correto manejo dessas áreas pode ocasionar danos ao meio urbano. Sendo assim,
o objetivo do presente trabalho foi diagnosticar de maneira quantitativa, mediante inventário, a
composição etnobotânica da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), campus de Pombal,
no semiárido paraibano.
MATERIAL E MÉTODOS
O presente estudo foi realizado no Centro de Ciências e Tecnologia Agroalimentar da UFCG nas
dependências da área urbanizada da faculdade (figura 1). O município de Pombal está situado na região
oeste do estado da Paraíba, sob as coordenadas geográficas 06°46’ S, 37°48’ O e altitude de 148 m.
Figura 1 – Localização da área urbanizada da Universidade Federal de Campina Grande, campus Pombal, 2018.
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O levantamento referiu-se à quantidade de espécies existentes em cada setor da universidade,
sendo as coletas realizadas no período de dezembro de 2017 a janeiro de 2018, início da estação
chuvosa na região. Amostras vegetais compostas por galhos, folhas, flores e/ou frutos foram
coletadas, em triplicata, com auxílio de tesoura de poda.
As amostras coletadas foram armazenadas em sacos de papel, em seguida encaminhadas para
o Laboratório de Fitotecnia, localizado no campus, para o processamento. Neste as plantas foram
prensadas em grade de madeira e desidratadas em estufa de secagem a 45ºC, para a produção
das exsicatas. Cada exemplar recebeu uma etiqueta catalográfica padrão, contendo dados sobre
identificação (nome científico, família, gênero), local de coleta, quantidade de espécies por exemplar
e uso sugerido na região. Os espécimes foram armazenados em caixas para compor a coleção inicial
das espécies da UFCG – campus Pombal (Herbário).
As espécies encontradas foram identificadas com auxílio do Herbário Virtual da Flora e dos
Fungos – Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia e o Manual de identificação e cultivo de plantas
arbóreas nativas do Brasil, volumes 2 e 3 (LORENZI, 1998; 2009). Quanto à origem, as espécies
foram classificadas em nativas ou exóticas em relação à flora da caatinga, de acordo com Giulietti et
al. (2002). Os resultados foram tabulados no programa Microsoft Excel para uma análise estatística
descritiva.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Encontraram-se 567 indivíduos, pertencentes a 48 espécies, totalizando 27 famílias, com
hábito arbustivo e arbóreo. A espécie mais abundante foi Azadirachta indica (nim), com 145 indivíduos
(26,08%), superando espécies nativas da região, como jurema (Mimosa tenuiflora), com 102 indivíduos
(18,35%), e mofumbo (Combretum leprosum), com 7,73% (tabela 1).
Tabela 1 – Levantamento das espécies de árvores da Universidade Federal de Campina Grande, campus
Pombal, PB, em 2018, distribuídas por nome popular, nome científico, família, hábito de crescimento, finalidade
e origem.
Hábito de Importância Percentual
Nome popular Nome científico Autor Família Origem
crescimento econômica (%)
Nim Azadirachta indica A. Juss Meliaceae Arbóreo Industrial Introduzida 26,08
Jurema Mimosa tenuiflora (Wild) Poir. Fabaceae Arbóreo Madeireira Nativa 18,35
Mofumbo Combretum leprosum Mart. Combretaceae Arbustivo Medicinal Nativa 7,73
Acácia-amarela ou (Lam.) H.S.
Senna siamea Fabaceae Arbóreo Ornamental Introduzida 5,76
cássia-do-sião Irwin & Barneby
Romã Punica granatum L. Punicaceae Arbóreo Frutífera Introduzida 3,78
Mamona Ricinus communis L. Euphorbiaceae Arbóreo Oleaginosa Nativa 3,60
Moringa Moringa oleífera Lam. Moringaceae Arbóreo Industrial Introduzida 3,42
Anadenanthera
Angico-vermelho L. (Speg) Fabaceae Arbóreo Medicinal Nativa 3,24
peregrina
Buquê-de-noiva Plumeria pudica L. Apocynaceae Arbustivo Ornamental Introduzida 3,06
(Aiton)
Flor-de-seda Calotropis procera Asclepiadaceae Arbustivo Ornamental Introduzida 2,88
W.T.Aiton
Caesalpinia
Catingueira Tul. Fabaceae Arbóreo Medicinal Nativa 2,70
pyramidalis
Cola Cola acuminata (Cola nitida) Malvaceae Arbóreo Industrial Introduzida 1,98
Pinhão-manso Jatropha molíssima (Pohl) Baill Euphorbiaceae Arbóreo Oleaginosa Nativa 1,80
Tamarindo Tamarindus indica L. Fabaceae Arbóreo Frutífera Introduzida 1,62
(Mart. ex DC.)
Ipê-roxo Tabebuia impetiginosa Bignoniaceae Arbóreo Ornamental Nativa 1,44
Standl.
(hort. ex W.
Palmeira-leque Licuala grandis Arecaceae Arbustivo Ornamental Introduzida 1,26
Bull) H. Wendl
(Bojer ex Hook.)
Flamboyant Delonix regia Fabaceae Arbóreo Ornamental Introduzida 1,08
Raf
Figueira-comum Ficus carica L. Moraceae Arbóreo Frutífera Introduzida 0,90
Juazeiro Ziziphus joazeiro Mart. Rhamnaceae Arbóreo Industrial Nativa 0,90
Mangueira Mangifera indica L. Anacardiaceae Arbóreo Frutífera Introduzida 0,72
continua...
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Continuação da tabela 1
Hábito de Importância Percentual
Nome popular Nome científico Autor Família Origem
crescimento econômica (%)
Ipê-branco Tabebuia roseoalba (Ridl.) Sandwith Bignoniaceae Arbóreo Ornamental Nativa 0,54
Jasmim-manga Plumeria rubra L. Apocynaceae Arbóreo Ornamental Introduzida 0,54
L. Osbeck
Laranjeira Citrus X sinensis Rutáceas Arbóreo Frutífera Introduzida 0,36
Mamoeiro Carica papaya L. Caricaceae Arbóreo Frutífera Introduzida 0,36
Goiabeira Psidium guajava L. Myrtaceae Arbóreo Frutífera Introduzida 0,36
Bougainvíllea Bougainvillea glabra Choisy Nyctaginaceae Arbustivo Ornamental Introduzida 0,36
Pitangueira Eugenia uniflora L. Myrtaceae Arbóreo Frutífera Introduzida 0,36
Oiticica Licania rígida Benth Chrysobalanaceae Arbóreo Oleaginosa Nativa 0,36
Seriguela Spondias purpúrea L. Anacardiaceae Arbóreo Frutífera Introduzida 0,36
(Spruce ex
Farinha-seca Albizia niopoides Fabaceae Arbóreo Madeireira Introduzida 0,36
Benth.) Burkart.
Carobá Jacaranda micranta Cham. Bignoniaceae Arbóreo Ornamental Introduzida 0,36
Schizolobium (Vell.) Blake
Guapuruvu Fabaceae Arbóreo Ornamental Nativa 0,36
parahyba
(Rich.) H.S.
Pau-cigarra Senna multijuga Fabaceae Arbóreo Madeireira Introduzida 0,36
Irwin & Barneby
Acerola Malpighia glabra L. Malpighiaceae Arbóreo Frutífera Introduzida 0,18
Pinheiro Pinus caribaea Morelet. Pinaceae Arbóreo Madeireira Introduzida 0,18
Oliveira Olea europaea L. Oleaceae Arbóreo Oleaginosa Introduzida 0,18
Frutífera e
Castanhola Terminalia catappa L. Combretaceae Arbóreo Introduzida 0,18
Ornamental
Cacau-selvagem
Pachira aquática Aubl. Malvaceae Arbóreo Oleaginosa Introduzida 0,18
ou munguba
Marmeleiro Croton sonderianus Muell. Arg Rosaceae Arbóreo Medicinal Nativa 0,18
Noni Morinda citrifolia L. Rubiaceae Arbóreo Frutífera Introduzida 0,18
Canafístula Peltophorum dubium (Spreng.) Taub. Fabaceae Arbóreo Ornamental Introduzida 0,18
Anacardium
Cajueiro L. Anacardiaceae Arbóreo Frutífera Nativa 0,18
occidentale
N.E.Brown
Cidreira-selvagem
Lippia alba ex Britton & Verbenaceae Arbustivo Medicinal Nativa 0,18
ou erva-cidreira
Wilson
Coqueiro Cocos nucifera L. Arecaceae Arbóreo Frutífera Introduzida 0,18
Pinha Annona squamosa L. Annonaceae Arbóreo Frutífera Introduzida 0,18
Pequi Caryocar brasiliense Camb. Caryocaraceae Arbóreo Frutífera Introduzida 0,18
Graviola Annona muricata L. Annonaceae Arbóreo Frutífera Introduzida 0,18
Enterolobium
Timbaúba (Vell.) Morong Fabaceae Arbóreo Madeireira Nativa 0,18
contorstisiliquum
O alto número de indivíduos observados para a espécie Azadirachta indica, exótica, significa
que ela está adaptada às condições climáticas e ao tipo de solo da área em estudo, possivelmente
em virtude de seu centro de origem ser a Índia. No entanto a elevada distribuição dessa espécie
está atrelada à antropização de áreas com posterior arborização sem um prévio planejamento, o que
afeta diretamente a diversidade, sendo este um fator fundamental para o equilíbrio ambiental local
(LACERDA et al., 2013).
As espécies presentes no campus mais abundantes e sendo exóticas na caatinga foram:
Azadirachta indica A. Juss, Senna siamea (Lam.) H.S. Irwin & Barneby, Punica granatum L., Moringa
oleífera Lam. e Plumeria pudica L., representadas na figura 2.
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Figura 2 – Espécies exóticas encontradas em maior quantidade e aspectos morfológicos, UFCG, Pombal, 2018.
Fonte: Primária.
Segundo Alvarez et al. (2012), espécies exóticas acabam agravando o processo de degradação
e desertificação nas áreas urbanas, ao invadir o bioma da caatinga e ganhar ao competir com as
espécies nativas. Zea et al. (2015) analisaram a diversidade da arborização urbana do município de
Santa Helena, no semiárido paraibano, e também observaram a frequência elevada de espécies
exóticas, em especial nim, indicando desvalorização da flora nativa pela população.
Por causa de sua copa bastante densa, o nim é muito utilizado nas cidades para arborização
de ruas e praças, já que possui crescimento rápido, é resistente à seca e se desenvolve em qualquer
tipo de solo. Assim, a população deixa de cultivar outras espécies, o que acaba por interferir
negativamente na preservação das plantas nativas (CASTRO, 2017).
Em contrapartida, as espécies nativas apresentam diversas vantagens quando comparadas com
as exóticas, tais como adaptabilidade às condições ambientais da região, melhor desenvolvimento
metabólico, maior possibilidade de produção de flores e frutos, o que propicia a alimentação de
animais também nativos e favorece a conservação da fauna local, evitando assim a extinção dessas
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espécies (LARA et al., 2014). Pode-se citar ainda como importância das espécies nativas a atração
de turistas que buscam características próprias das cidades, gerando renda e contribuindo para a
progressão econômica, cultural e social das cidades (CECCHETTO et al., 2014).
No presente estudo, as espécies nativas da caatinga mais representativas foram: Mimosa
tenuiflora (Wild) Poir., Combretum leprosum Mart., Ricinus communis L., Anadenanthera peregrina L.
(Speg) e Caesalpinia pyramidalis Tul., dispostas na figura 3.
Figura 3 – Espécies nativas encontradas em maior quantidade e aspectos morfológicos, UFCG, Pombal, 2018.
Fonte: Primária.
Ainda de acordo com a tabela 1, constatou-se que, apesar da diversidade de algumas
frutíferas presentes no campus, estas têm pouca representatividade: romãzeira (3,78%), figueira-
comum (0,90%), mangueira (0,72%), laranjeira (0,36%), pitangueira (0,36%), mamoeiro (0,36%),
goiabeira (0,36%), seriguela (0,36%), coqueiro (0,18%), pinha (0,18%), pequizeiro (0,18%), gravioleira
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(0,18%), cajueiro (0,18%), aceroleira (0,18%) e noni (0,18%). Mesmo não sendo em sua maioria
espécies nativas, apresentam frutos ricos em nutrientes, que podem ser utilizados em restaurantes
universitários do próprio campus para enriquecer a alimentação de alunos, o que torna importante
a sua conservação.
A preservação da parte vegetativa de algumas arbóreas também é importante, sendo para isso
fundamental haver a conscientização e até mesmo treinamento de funcionários responsáveis pela
arborização do campus, pois, em virtude da falta de informações sobre o correto manejo, algumas
espécies podem apresentar problemas de fitossanidade, cessar a frutificação e até mesmo morrer,
favorecendo a erosão genética.
Em relação a plantas ornamentais (tabela 1), constatou-se um percentual de 9,18% com
espécies de pequeno, médio e grande porte. Dentre elas, destacam-se o ipê, também denominado
de pau-de-arco (Tabebuia spp.), palmeira-leque (Licuala grandis), jasmim-manga (Plumeria rubra),
bougainvíllea (Bougainvillea glabra), flamboyant (Delonix regia), canafístula (Peltophorum dubium),
carobá (Jacaranda micrantha) e guapuruvu (Schizolobium parahyba). Algumas são relevantes para a
recuperação de áreas degradadas e a meliponicultura, como, por exemplo, ipê, guapuruvu e carobá.
De acordo com Alvarez et al. (2012) e a Secretaria Municipal de Urbanismo e Meio Ambiente
(SMUMA, 2013), as espécies arbóreas de pequeno porte para a urbanização nativas da caatinga são
jucá (Caesalpina ferrea), pau-branco (Auxema oncocalix), catingueira (Caesalpinia pyramidalis), pereiro
(Aspidosperma pyrifolium), saboneteira (Sapindus saponaria), sabiá (Mimosa caesalpinifolia) e mulungu
(Eritrina candelabro). Das de médio porte podem se destacar ipês (Tabebuia spp.), juazeiro (Ziziphus
juazeiro) e pau-brasil (Caesalpinia equinata). Porém foram encontrados, no presente levantamento,
apenas catingueira, ipê (branco e roxo) e juazeiro.
Com relação às famílias das espécies, observou-se maior ocorrência de plantas da família
Fabaceae (31%), seguida de Meliaceae (26%), Euphorbiaceae (8%) e Combretaceae (8%) (figura 4).
Figura 4 – Distribuição quantitativa das famílias identificadas nas coletas de campo, UFCG, Pombal, 2018.
Lacerda et al. (2007), avaliando o componente arbustivo-arbóreo de matas ciliares na bacia
do Rio Taperoá, localizado no semiárido paraibano, observaram alta representatividade dos grupos
Fabaceae, Mimosaceae, Euphorbiaceae e Caesalpinaceae com, respectivamente, 13, 9, 7 e 4
espécies. Esses resultados também foram observados por diversos autores quando avaliaram a
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flora arbóreo-arbustiva em áreas de caatinga (SOUZA & RODAL, 2010; SILVA et al., 2015a; SABINO et
al., 2016). Essa predominância de Fabaceae está relacionada com a capacidade de nodulação que
possui, permitindo adaptação a regiões com baixos teores de nitrogênio.
Souza (2009), ao investigar a vegetação de um fragmento de caatinga na microbacia hidrográfica
do Açude Jatobá na Paraíba, destacou em sua análise que as espécies da família Fabaceae são
também eficientes no controle da erosão do solo causada pela chuva e auxiliam na recuperação da
fertilidade, fator relacionado à capacidade de fixação de nitrogênio e à grande quantidade de massa
verde que produzem e incorporam ao solo.
A família Combretaceae no Brasil ocorre com 63 espécies distribuídas em cinco gêneros, a
maioria nativa da África (PRAIA, 2017). No referido levantamento, foram caracterizados nessa família
a castanhola e o mofumbo, sendo o último nativo da caatinga.
Observa-se que o percentual de espécies exóticas (60%) superou o de espécies nativas
(40%) do bioma caatinga (figura 5), possivelmente por causa da ação antrópica na urbanização do
campus. Segundo Brun et al. (2017), enriquecer a arborização urbana com espécies nativas de valor
madeireiro e ecológico é um dos desafios que o setor florestal tem hoje e que vem sendo feito em
algumas localidades.
Figura 5 – Percentual de espécies nativas e exóticas na Universidade Federal de Campina Grande, campus
Pombal, 2018.
Muitas das espécies da caatinga são utilizadas para fazer chás, garrafadas, lambedores,
xaropes, em fitoterapia bastante vasta, vendidas como folhas, cascas, raízes e frutos nas feiras
e ruas das cidades (MAIA et al., 2017). Logo, a presença de espécies nativas da região é um fator
importante não só ambiental como também cultural.
Das espécies identificadas no levantamento como nativas do bioma caatinga destaca-se as
com hábito de crescimento arbóreo (83,33%) encontradas na área urbanizada da universidade, em
comparação com as arbustivas, que apresentaram representatividade de 16,66% das espécies
nativas.
Das plantas nativas, 33% são exclusivamente utilizadas na cultura medicinal, 25% têm
aptidão madeireira e para arborização, 17% são oleaginosas e com aptidão industrial e 8,33% têm
aptidão ornamental e frutífera. Silva et al. (2015b), ao realizarem levantamento etnobotânico de
plantas medicinais em área de caatinga em Milagres (CE), observaram que as famílias com maior
representatividade foram Fabaceae (16 espécies), Euphorbiaceae (7), Cucurbitaceae e Malvaceae
(3), tendo constatado também que todas as espécies referidas como nativas na tabela 1, exceto
Schizolobium parahyba, possuem, além do que foi mencionado, algum efeito medicinal.
Barbosa et al. (2012), avaliando a florística e a fitossociologia de espécies arbóreas e
arbustivas da caatinga em Arcoverde (PE), concluíram que as espécies que mais se destacaram
foram Mimosa ophthalmocentra, Poincianella pyramidalis, Senegalia bahiensis, Senegalia paniculata,
Croton blanchetianus e Mimosa tenuiflora. Tal resultado indica que essas espécies são mais bem
adaptadas ao ambiente avaliado, relacionando o fato às questões edafoclimáticas.
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O presente estudo visa ao fornecimento de informações acerca da flora regional, demonstrando
a importância dessas espécies e contribuindo, dessa forma, para a recuperação ou conservação
do bioma caatinga, (SAMPAIO, 1996). Ressalta-se a arborização com plantas nativas, pois o uso de
espécies exóticas uniformiza as paisagens e ajuda na redução da biodiversidade no meio urbano,
dissociando-o do contexto ambiental em que se insere.
CONCLUSÃO
A espécie com mais indivíduos encontrados foi nim (Azadirachta indica), a qual é exótica,
seguida por jurema (Mimosa tenuiflora), nativa do bioma. Em relação às famílias, a mais abundante
foi Fabaceae, seguida de Meliaceae.
Constata-se que a falta de planejamento em áreas urbanas faz com que, além da degradação
oriunda de construções, haja também, no processo de arborização, maior inserção de espécies
exóticas do que conservação e adoção das nativas.
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