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Dos Crimes em Licitacoes e Contratos Administrativos e Book Ricardo

O documento discute as novas regras para licitações e contratos administrativos estabelecidas pela Lei no 14.133/2021, que substitui a Lei no 8.666/1993, mas que permanecerá em vigor por dois anos. Também apresenta as modalidades de licitação e os crimes relacionados a irregularidades em licitações e contratos.

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Dos Crimes em Licitacoes e Contratos Administrativos e Book Ricardo

O documento discute as novas regras para licitações e contratos administrativos estabelecidas pela Lei no 14.133/2021, que substitui a Lei no 8.666/1993, mas que permanecerá em vigor por dois anos. Também apresenta as modalidades de licitação e os crimes relacionados a irregularidades em licitações e contratos.

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Sobre o autor

Ricardo A.
Andreucci

Procurador de Justiça Criminal do Ministério Público de São Paulo


Doutor e Mestre em Direito
Pós-doutor em Direito pela Universidade Federal de Messina -
Itália.
Professor universitário.
Professor de cursos preparatórios para ingresso nas Carreiras
Jurídicas e OAB
Professor do curso de Carreiras Jurídicas da Rede LFG
Professor e coordenador do curso de pós-graduação em Direito
Constitucional Aplicado da Faculdade Legale
Professor do curso de pós-graduação da Platos Edserv
Professor do curso de pós-graduação em Direito Penal e Processo
Penal da Escola Paulista de Direito - EPD
Autor de diversas obras jurídicas pela Editora Saraiva
Articulista e palestrante, com diversos textos publicados na
imprensa especializada
Sumário
1. Noções gerais................................................................4
2. Revogação da Lei n. 8.666/93 e vigência da nova Lei
n. 14.133/21...................................................................7
3. Dos crimes em Licitações e Contratos
Administrativos............................................................10
3.1. Novas figuras penais e princípio da continuidade
normativo-típica...........................................................10
3.2. Dos crimes em espécie........................................12
3.2.1. Contratação direta ilegal..................................13
3.2.2. Frustração do caráter competitivo de
licitação.........................................................................18
3.2.3. Patrocínio de contratação indevida................21
3.2.4. Modificação ou pagamento irregular em
contrato administrativo..............................................23
3.2.5. Perturbação de processo licitatório...............25
3.2.6. Violação de sigilo em licitação.........................27
3.2.7. Afastamento de licitante..................................29
3.2.8. Fraude em licitação ou contrato.....................32
3.2.9. Contratação inidônea.......................................35
3.2.10. Impedimento indevido...................................38
3.2.11. Omissão grave de dado ou de informação por
projetista.......................................................................40
3.2.12. Pena de multa..................................................44
1. Noções gerais

Licitação é um procedimento administrativo formal pelo qual


a Administração Pública convoca, mediante condições
estabelecidas em ato próprio (edital), empresas interessadas na
apresentação de propostas para o oferecimento de bens e
serviços, respeitados os princípios gerais da legalidade,
moralidade, impessoalidade, publicidade e eficiência, dentre
outros.
A licitação visa, assim, garantir a observância do princípio
constitucional da isonomia, selecionar a proposta mais vantajosa
para a Administração e promover o desenvolvimento nacional
sustentável. Deve obedecer aos princípios da legalidade, da
impessoalidade, da moralidade, da publicidade, da eficiência, do
interesse público, da probidade administrativa, da igualdade, do
planejamento, da transparência, da eficácia, da segregação de
funções, da motivação, da vinculação ao edital, do julgamento
objetivo, da segurança jurídica, da razoabilidade, da
competitividade, da proporcionalidade, da celeridade, da
economicidade e do desenvolvimento nacional sustentável.
A licitação tem fundamento na Constituição Federal que, no
art. 37, XXI, estabelece a obrigatoriedade de serem as obras,
serviços, compras e alienações contratadas através de processo
de licitação pública, que assegure igualdade de condições a
todos os concorrentes, com cláusulas que estabeleçam
obrigações de pagamento, mantidas as condições efetivas da
proposta, nos termos da lei, o qual somente permitirá as
exigências de qualificação técnica e econômica indispensáveis à
garantia do cumprimento das obrigações.
De acordo com o art. 28 da Lei n. 14.133/21, são modalidades
de licitação o pregão, a concorrência, o concurso, o leilão e o
diálogo competitivo.
Pregão é modalidade de licitação obrigatória para aquisição
de bens e serviços comuns, cujo critério de julgamento poderá
ser o de menor preço ou o de maior desconto; concorrência é
modalidade de licitação para contratação de bens e serviços
especiais e de obras e serviços comuns e especiais de
engenharia, cujo critério de julgamento poderá ser menor preço,
melhor técnica ou conteúdo artístico, técnica e preço, maior
retorno econômico e maior desconto; concurso é modalidade de
licitação para escolha de trabalho técnico, científico ou artístico,
cujo critério de julgamento será o de melhor técnica ou conteúdo
artístico, e para concessão de prêmio ou remuneração ao
vencedor; leilão é modalidade de licitação para alienação de bens
imóveis ou de bens móveis inservíveis ou legalmente
apreendidos a quem oferecer o maior lance; e diálogo
competitivo é modalidade de licitação para contratação de obras,
serviços e compras em que a Administração Pública realiza
diálogos com licitantes previamente selecionados mediante
critérios objetivos, com o intuito de desenvolver uma ou mais
alternativas capazes de atender às suas necessidades, devendo
os licitantes apresentar proposta final após o encerramento dos
diálogos.
Contrato administrativo, por seu turno, segundo ensina
Diogenes Gasparini (Direito administrativo. 13. ed. rev. e atual.,
São Paulo, Saraiva. 2008. p. 694), é “o ato plurilateral ajustado
pela Administração Pública ou por quem lhe faça as vezes com
certo particular, cuja vigência e condições de execução a cargo
do particular podem ser instabilizadas pela Administração
Pública, ressalvados os interesses patrimoniais do contratante
particular”.
A nova Lei n. 14.133/21 substituiu a Lei n. 8.666/93,
estabelecendo normas gerais de licitação e contratação para as
administrações públicas diretas, autárquicas e fundacionais da
União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, muito
embora esta última continue vigendo por um período de 2(dois)
anos após a publicação oficial da primeira (art. 193, II – vide item 2
abaixo).
Ambas as leis, a anterior e a nova, estabelecem a
responsabilidade dos agentes administrativos que praticarem
atos em desacordo com os preceitos nelas estabelecidos, ou
visando frustrar os objetivos da licitação sem prejuízo das
responsabilidades civil e penal que o caso ensejar.
2. Revogação da Lei n. 8.666/93 e vigência da nova Lei n.
14.133/21.
De acordo com o disposto no art. 194, a nova Lei n. 14.133/21
entrou em vigor na data de sua publicação, ou seja, em
01.04.2021, sem qualquer período de vacatio legis.
Por outro lado, o art. 193, II, da Lei n. 14.133/21, estabeleceu
que a revogação da Lei n. 8.666/93 ocorrerá após decorridos 2
(dois) anos da publicação oficial da nova lei, acarretando situação
deveras inusitada, em que haverá, durante o período
mencionado, duas leis em vigor tratando do mesmo assunto, por
vezes de maneira sensivelmente diversa.
Ora, o §1º do art. 2º do Decreto-Lei n. 4.657/42 – Lei de
Introdução às Normas do Direito Brasileiro, estabelece que “a lei
posterior revoga a anterior quando expressamente o declare,
quando seja com ela incompatível ou quando regule inteiramente
a matéria de que tratava a lei anterior.”
Evidentemente, pela simples leitura do art. 1º da Lei n. 8.666/93
e dos arts. 1º e 2º da nova Lei n. 14.133/21, percebe-se
nitidamente que ambas tratam do mesmo assunto (licitações e
contratos administrativos), devendo, portanto, a posterior revogar
a anterior, já que regula inteiramente a matéria de que tratava esta
última.
Mas assim não o quis o legislador, mantendo, pelo período de
2 (dois) anos, a vigência de ambas as leis que tratam do mesmo
assunto.
Nesse aspecto, qual regramento irá reger as licitações e
contratos administrativos a partir da vigência da nova Lei n.
14.133/21?
Algumas considerações iniciais dos estudiosos do assunto
dão conta do acerto do legislador em manter, por determinado
período, a vigência de dois regimes (o anterior e o atual), na
medida em que essa fase de transição seria salutar para a devida
adaptação sobre matéria tão complexa como as compras
públicas, permitindo aos gestores públicos e suas equipes a
capacitação para tratar das licitações e contratos administrativos
de acordo com o novo sistema.
Não nos parece o melhor cenário. Primeiramente em razão
da insegurança jurídica gerada pela coexistência de dois regimes
que guardam semelhança, é verdade, mas que também
apresentam sensíveis diferenças, as quais forçosamente irão
impactar na responsabilização do ente ímprobo inclusive na
esfera criminal, já que houve a revogação expressa dos arts. 89 a
108 da Lei n. 8.666/93 que previam as figuras penais.
Ademais, mesmo que se festeje a vantagem momentânea da
coexistência de dois sistemas a reger a matéria, o art. 190 dispõe
que o contrato cujo instrumento tenha sido assinado antes da
entrada em vigor da nova lei continuará a ser regido de acordo
com as regras previstas na legislação revogada, o que trará, num
primeiro momento, os mesmos transtornos de uma revogação
imediata da lei anterior com a vigência da posterior em sua
plenitude.
Assim é que, de acordo com o disposto no art. 191, a decisão
pela aplicação do regramento (antigo ou novo) ocorrerá na
confecção do edital, o qual já deverá indicar qual regime será seguido
na licitação.
Diz o texto legal que “até o decurso do prazo de que trata o
inciso II do caput do art. 193, a Administração poderá optar por licitar
de acordo com esta Lei ou de acordo com as leis citadas no referido
inciso, e a opção escolhida deverá ser indicada expressamente no
edital ou no aviso ou instrumento de contratação direta, vedada a
aplicação combinada desta Lei com as citadas no referido inciso.”
E complementa no parágrafo único que “na hipótese do caput
deste artigo, se a Administração optar por licitar de acordo com as leis
citadas no inciso II do caput do art. 193 desta Lei, o contrato
respectivo será regido pelas regras nelas previstas durante toda a sua
vigência.”
3. Dos crimes em Licitações e Contratos Administrativos

3.1. Novas figuras penais e princípio da continuidade


normativo-típica

De acordo com o disposto no art. 193, I, da nova lei, ficam


revogados expressamente os arts. 89 a 108 da Lei nº 8.666/93,
sendo certo que o art. 178 acrescenta o Capítulo II-B ao Título XI
da Parte Especial do Código Penal, no qual foram inseridos os
arts. 337-E a 337-P.
Assim, ao mesmo tempo em que revogou os arts. 89 a 108 da
Lei n. 8.666/03, que cuidava dos crimes envolvendo licitações e
contratos administrativos, a nova lei acrescentou ao Código
Penal, no Título referente aos “Crimes contra a Administração
Pública”, o Capítulo II-B, sob o título “Dos Crimes em Licitações e
Contratos Administrativos”, nele inserindo tipos penais previstos
nos arts 337-E a 337-O.
A revogação expressa dos arts. 89 a 108 da Lei n. 8.666/93
não acarretou, entretanto, como apressadamente se poderia
concluir, a abolitio criminis das condutas lá tipificadas.
Isso porque a abolitio criminis implica na revogação do tipo
penal com a consequente supressão formal e material da figura
criminosa, o que, na espécie, não ocorreu.
O caráter proibitivo das condutas foi mantido, tendo ocorrido o
deslocamento dos conteúdos criminosos para outros tipos
penais, agora situados no Código Penal, no título referente aos
Crimes contra a Administração Pública.
Aplica-se, por conseguinte, o princípio da continuidade normativo
típica, que “ocorre quando uma norma penal é revogada, mas a
mesma conduta continua sendo crime no tipo penal revogador, ou
seja, a infração penal continua tipificada em outro dispositivo, ainda
que topologicamente ou normativamente diverso do originário.” (STJ
– HC 187.471/AC – Rel. Min. Gilson Dipp – j. 20.10.2011).
Assim, praticamente nenhuma repercussão haverá, do ponto de
vista da vigência e aplicação dos novos tipos penais, aos casos em
andamento e também aos pretéritos já julgados, exceção feita ao
novo crime do art. 337-O (omissão grave de dados ou de informação
por projetista), que não existia na legislação anterior, ocorrendo,
nesse caso, novatio legis incriminadora. Vale ressalvar ainda os novos
patamares de pena fixados a alguns dos crimes recentes, maiores que
os anteriores, situação facilmente resolvida, nos casos já em
andamento, pela irretroatividade da lei mais severa (art. 5º, XL, CF).
Urge destacar, outrossim, que a aplicação dos novos tipos penais
não será prejudicada ou afetada pela coexistência de dois regimes
legais a reger as licitações e contratos administrativos (vide item 2
supra).
Grande parte dos tipos penais mencionados constitui normas
penais em branco, cujo complemento deverá ser fornecido pelo
diploma legal (regime jurídico) escolhido pelo gestor público e sua
equipe por ocasião da publicação do edital ou no aviso ou
instrumento de contratação direta, nos termos do disposto no art. 191
da nova lei.
Assim, se a Administração optar por licitar de acordo com as
regras da Lei n. 8.666/93, ou das Leis nº 10.520/02 e nº 12.462/11,
serão esses diplomas que irão reger a licitação e o contrato
administrativo, fornecendo o complemento necessário para a
tipificação dos crimes previstos nos arts. 337-E a 337-O do Código
Penal. Caso opte a Administração por licitar de acordo com a nova Lei
n. 14.133/21, essa última fornecerá o complemento adequado à
tipificação dos crimes mencionados.

3.2. Dos crimes em espécie

Como já mencionamos acima, houve a revogação expressa


dos arts. 89 a 108 da Lei n. 8.666/93, com a inserção dos recentes
crimes dos arts. 337-E a 337-O no Código Penal, os quais serão
analisados pormenorizadamente nos itens abaixo.
3.2.1. Contratação direta ilegal

Art. 337-E Admitir, possibilitar ou dar causa à contratação direta


fora das hipóteses previstas em lei:
Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa.

Crime anterior: o tipo penal anterior análogo estava previsto no


art. 89 da Lei n. 8.666/93, que punia com detenção de 3 (três) a 5
(cinco) anos e multa, a dispensa ou inexigibilidade de licitação
fora das hipóteses previstas em lei, além da inobservância das
formalidades pertinentes à dispensa ou à inexigibilidade. Não
houve mudança sensível no conteúdo da norma penal, que
passou a punir as condutas de admitir, possibilitar ou dar causa à
contratação direta fora das hipóteses previstas em lei. O processo
de contratação direta, de acordo com o disposto no art. 72, caput,
da Lei n. 14.133/21, nada mais é do que inexigibilidade e
dispensa de licitação. Portanto, aquele que admitir, possibilitar ou
der causa à contratação direta ilegal estará praticando
exatamente a mesma conduta que aquele que dispensar ou
inexigir licitação fora das hipóteses previstas em lei, ou ainda que
deixar de observar as formalidades pertinentes à dispensa ou à
inexigibilidade. Aplica-se, neste caso, integralmente o princípio da
continuidade normativo-típica (vide item 3.1 supra).
Sujeito ativo: em razão da nova formatação do tipo penal pela Lei
n. 14.133/21, alguns estudiosos passaram a sustentar que o crime
ora em comento seria comum, podendo ter como sujeito ativo
qualquer pessoa. Ousamos discordar. A nosso ver, o crime
continua a ser próprio, somente podendo ter como sujeito ativo a
autoridade administrativa, os agentes públicos, com atribuição
para admitir, possibilitar ou dar causa à contratação direta, ou
seja, autorizar a abertura da licitação pública, dispensá-la ou
afirmar sua inexigibilidade. Nesse sentido, dispõe o art. 8º da Lei
n. 14.133/21, que a licitação será conduzida por agente de
contratação, pessoa designada pela autoridade competente,
entre servidores efetivos ou empregados públicos dos quadros
permanentes da Administração Pública, para tomar decisões,
acompanhar o trâmite da licitação, dar impulso ao procedimento
licitatório e executar quaisquer outras atividades necessárias ao
bom andamento da licitação. Agente público é indivíduo que, em
virtude de eleição, nomeação, designação, contratação ou
qualquer outra forma de investidura ou vínculo, exerce mandato,
cargo, emprego ou função em pessoa jurídica integrante da
Administração Pública. Autoridade é o agente público dotado de
poder de decisão.
O Superior Tribunal de Justiça já entendeu que “a condição de
agente político (cargo de prefeito) é elementar do tipo penal
descrito no caput do art. 89 da Lei n. 8.666/1993, não podendo,
portanto, ser sopesada como circunstância judicial desfavorável.”
(HC 163204/PB, Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, SEXTA
TURMA, julgado em 17/04/2012, DJe 19/10/2012; REsp
1509998/CE, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, QUINTA TURMA,
julgado em 20/08/2018, publicado em 23/08/2018).
Prefeito municipal: mesmo antes da vigência do novo art. 337-E
do Código Penal, o art. 89 da Lei n. 8.666/93 já havia revogado o
inciso XI do art. 1º do Decreto-Lei n. 201/1967, devendo, portanto,
ser aplicado às condutas típicas praticadas por prefeitos após sua
vigência. No Superior Tribunal de Justiça: EDcl no AgRg no REsp
1745232/CE, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA,
QUINTA TURMA, julgado em 09/10/2018, DJe 19/10/2018; ; REsp
1807302/RN, Rel. Ministro JORGE MUSSI, julgado em 27/06/2019,
publicado em 01/07/2019;
Sujeito passivo: é o Estado, ou de uma forma mais específica, a
administração pública, assim como se tem como sujeito passivo
secundário o titular do bem jurídico particularmente protegido.
Objeto material: é a contratação direta (dispensa ou
inexigibilidade de licitação) propriamente dita. O processo de
contratação direta, que compreende os casos de inexigibilidade e
de dispensa de licitação, deverá ser instruído com os documentos
indicados no art. 72 da Lei n. 14.133/21. O ato que autoriza a
contratação direta ou o extrato decorrente do contrato deverá ser
divulgado e mantido à disposição do público em sítio eletrônico
oficial. Vale lembrar que, na hipótese de contratação direta
irregular, o contratado e o agente público responsável
responderão solidariamente pelo dano causado ao erário, sem
prejuízo de outras sanções legais cabíveis. É inexigível a licitação
quando inviável a competição, estabelecendo o art. 74 da citada
lei os casos especiais. É dispensável a licitação nas hipóteses
elencadas pelo art. 75.
Objeto jurídico: é a proteção dos interesses da administração
pública, seu regular funcionamento e a probidade administrativa.
Conduta: vem expressa pelos verbos admitir (reconhecer, aceitar,
consentir), possibilitar (tornar possível, proporcionar) e dar causa
(ensejar, causar).
Elemento subjetivo: é o dolo, não sendo punida a modalidade
culposa por falta de previsão legal.
Dolo específico: há julgados do Superior Tribunal de Justiça
exigindo a comprovação do dolo específico do agente em causar
dano ao erário, bem como do prejuízo à administração pública.
Nesse sentido: RHC 108813/SP, Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS
JÚNIOR, SEXTA TURMA, julgado em 05/09/2019, DJe
17/09/2019; AgRg no AREsp 1426799/SP, Rel. Ministra LAURITA
VAZ, SEXTA TURMA, julgado em 27/08/2019, DJe 12/09/2019;
HC 490195/PB, Rel. Ministro JOEL ILAN PACIORNIK, QUINTA
TURMA, julgado em 03/09/2019, DJe 10/09/2019; RHC
115457/SP, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, julgado
em 20/08/2019, DJe 02/09/2019; AgRg no RHC 108658/MG, Rel.
Ministro NEFI CORDEIRO, SEXTA TURMA, julgado em 13/08/2019,
DJe 22/08/2019; HC 444024/PR, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI
CRUZ, SEXTA TURMA, julgado em 02/04/2019, DJe 02/08/2019;
HC 498748/RS, Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA,
julgado em 30/05/2019, DJe 06/06/2019.
Consumação: o crime se consuma com a admissão da
contratação direta ilegal ou com qualquer ato que possibilite a
sua ocorrência. Ou, ainda, com qualquer ação ou omissão que dê
causa à prática da contratação direta ilegal.
Crime de mera conduta: não há necessidade de ocorrência de
efetivo prejuízo à Administração (resultado naturalístico).
Tentativa: admite-se em qualquer das modalidades de conduta,
uma vez fracionável o iter criminis.
Concurso de agentes: pode acontecer tanto no caso de mais de
um servidor público participar do crime, como no caso de um
particular que para ele concorra de qualquer forma. De todo
modo, a qualidade especial do sujeito ativo (servidor público) é
elementar do crime, comunicando-se ao coautor ou partícipe que
não ostente essa qualidade, por força do disposto no art. 30 do
Código Penal.
Lei n. 9.099/95: não é aplicável a esse crime nenhum de seus
benefícios, como a transação ou suspensão condicional do
processo.
Acordo de não persecução penal: não é cabível, uma vez que a
pena mínima é de 4 (quatro) anos de reclusão (vide art. 28-A do
CPP).
Ação penal: é pública incondicionada.
3.2.2. Frustração do caráter competitivo de licitação

Art. 337-F Frustrar ou fraudar, com o intuito de obter para si ou para


outrem vantagem decorrente da adjudicação do objeto da
licitação, o caráter competitivo do processo licitatório:
Pena – reclusão, de 4 (quatro) anos a 8 (oito) anos, e multa.

Crime anterior: o tipo penal anterior análogo estava previsto no


art. 90 da Lei n. 8.666/93, que punia a mesma conduta com
detenção de 2 (dois) a 4 (quatro) anos e multa. Foi mantido o
caráter proibido da conduta, com o deslocamento do conteúdo
criminoso para o novo tipo penal ora analisado, aplicando-se o
princípio da continuidade normativo-típica.
Sujeito ativo: pode ser qualquer pessoa, tanto agente público ou
autoridade administrativa quanto particular que apresente
interesse no processo licitatório. Trata-se de crime comum, não se
exigindo do sujeito ativo nenhuma característica específica,
podendo ser praticado por qualquer pessoa que participe do
certame.
A propósito, no Superior Tribunal de Justiça: AgRg no REsp
1795894/PB, Rel. Ministro ANTONIO SALDANHA PALHEIRO,
SEXTA TURMA, julgado em 26/03/2019, DJe 08/04/2019; AgRg
no REsp 1646332/SP, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA
TURMA, julgado em 17/08/2017, DJe 23/08/2017; HC 348084/SC,
Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, julgado em
14/02/2017, DJe 21/02/2017.
Sujeito passivo: é o Estado, ou de uma forma mais específica, a
administração pública, assim como, secundariamente, o titular do
bem jurídico particularmente protegido.
Objeto material: é o processo de licitação.
Objeto jurídico: é a proteção dos interesses da administração
pública, seu regular funcionamento e a probidade administrativa,
principalmente no que se refere ao caráter competitivo do
certame.
Conduta: vem expressa pelos verbos frustrar (baldar, iludir,
burlar) e fraudar (enganar, lograr).
Meio de execução: a fraude ou frustração do processo licitatório
pode se dar por qualquer meio. Na legislação anterior (Lei n.
8.666/93) o art. 90 se referia a “ajuste, combinação ou qualquer
outro expediente”.
Caráter competitivo: é o cerne do procedimento licitatório, sem
o qual estará totalmente desfigurada a licitação.
Elemento subjetivo: é o dolo, sendo necessária sua modalidade
específica no que tange à obtenção da vantagem decorrente da
adjudicação do objeto da licitação, não sendo punida a
modalidade culposa por falta de previsão legal.
Consumação: dá-se com a efetiva realização do procedimento
fraudulento, independentemente da obtenção do fim pretendido,
qual seja, a vantagem decorrente da adjudicação do objeto da
licitação, prescindindo da existência de prejuízo ao erário, haja
vista que o dano se revela pela simples quebra do caráter
competitivo entre os licitantes interessados em contratar, causada
pela frustração ou pela fraude no procedimento licitatório. Trata-
se de crime formal. Súmula 645 do STJ: "o crime de fraude à
licitação é formal, e sua consumação prescinde da comprovação
do prejuízo ou da obtenção de vantagem".
Nesse sentido, no Superior Tribunal de Justiça: AgRg no REsp
1793069/PR, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA,
julgado em 10/09/2019, DJe 19/09/2019; EDcl no REsp
1623985/SP, Rel. Ministro NEFI CORDEIRO, SEXTA TURMA,
julgado em 05/09/2019, DJe 12/09/2019.
Tentativa: admite-se, uma vez que fracionável o iter criminis.
Prescrição: o termo inicial para contagem do prazo prescricional
deve ser a data em que o contrato administrativo foi efetivamente
assinado (STJ: HC 484690/SC, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS,
QUINTA TURMA, julgado em 30/05/2019, DJe 04/06/2019; MS
15036/DF, Rel. Ministro CASTRO MEIRA, PRIMEIRA SEÇÃO,
julgado em 10/11/2010, DJe 22/11/2010).
Concurso de crimes: já entendeu o Superior Tribunal de Justiça
que é possível o concurso de crimes entre os delitos do art. 90
(fraudar o caráter competitivo do procedimento licitatório) com o
do art. 96, inciso I (fraudar licitação mediante elevação arbitraria
dos preços), da antiga Lei de Licitações (Lei n. 8.666/93), pois
tutelam objetos distintos, afastando-se, portanto, o princípio da
absorção. Nesse aspecto: REsp 1790561/RS, Rel. Ministro
ANTONIO SALDANHA PALHEIRO, SEXTA TURMA, julgado em
30/05/2019, publicado em 31/05/2019; AREsp 1217163/MG, Rel.
Ministro JOEL ILAN PACIORNIK, QUINTA TURMA, julgado em
11/09/2018, publicado em 26/09/2018. O mesmo raciocínio
continua aplicável aos crimes da nova Lei n. 14.133/21.
Lei n. 9.099/95: não é aplicável a esse crime nenhum de seus
benefícios, como a transação ou suspensão condicional do
processo.
Acordo de não persecução penal: não é cabível, uma vez que a
pena mínima é de 4 (quatro) anos de reclusão (vide art. 28-A do
CPP).
Ação penal: é pública incondicionada.
3.2.3. Patrocínio de contratação indevida

Art. 337-G Patrocinar, direta ou indiretamente, interesse privado


perante a Administração Pública, dando causa à instauração de
licitação ou à celebração de contrato cuja invalidação vier a ser
decretada pelo Poder Judiciário:
Pena – reclusão, de 6 (seis) meses a 3 (três) anos, e multa.

Crime anterior: o tipo penal anterior análogo estava previsto no


art. 91 da Lei n. 8.666/93, que punia a mesma conduta com
detenção de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos e multa. Agora a pena
passou a ser de reclusão de 6 (seis) meses a 3 (três) anos e multa.
Foi mantido o caráter proibido da conduta, com o deslocamento
do conteúdo criminoso para o novo tipo penal ora analisado,
aplicando-se o princípio da continuidade normativo-típica.
Sujeito ativo: é o agente público, tratando-se de crime próprio.
Nada impede a participação de terceiros. Nesse caso, o coautor
ou partícipe estará incurso no mesmo crime, por força do disposto
no art. 30 do CP.
Sujeito passivo: é o Estado, ou de uma forma mais específica, a
Administração pública, assim como, secundariamente, o titular do
bem jurídico particularmente protegido.
Objeto material: é o interesse privado patrocinado perante a
Administração Pública.
Objeto jurídico: é a proteção dos interesses da administração
pública, seu regular funcionamento e a probidade administrativa
(moralidade e impessoalidade).
Conduta: vem caracterizada pelo verbo patrocinar, que significa
advogar, apadrinhar, defender. Trata-se, em verdade, de um tipo
de advocacia administrativa no procedimento licitatório.
Elemento subjetivo: é o dolo, não sendo punida a modalidade
culposa por falta de previsão legal.
Consumação: ocorre com a prática de qualquer ato em proveito
do interesse que o sujeito defende, assim como com a
instauração de licitação ou celebração de contrato.
Condições objetivas de punibilidade: para a efetiva punição do
agente, estabelece a lei duas condições: instauração de licitação
ou celebração de contrato; e decretação de invalidação do ato
pelo Poder Judiciário.
Tentativa: admite-se.
Lei n. 9.099/95: não se trata mais de crime de menor potencial
ofensivo, como ocorria no tipo penal anterior, já que a pena
máxima foi elevada ao patamar de 3 (três) anos. Portanto, não é
cabível a transação, sendo possível, entretanto, a suspensão
condicional do processo.
Acordo de não persecução penal: é cabível, uma vez que a pena
mínima é inferior a 4 (quatro) anos de reclusão (vide art. 28-A do
CPP).
Ação penal: é pública incondicionada.
3.2.4. Modificação ou pagamento irregular em contrato
administrativo

Art. 337-H Admitir, possibilitar ou dar causa a qualquer


modificação ou vantagem, inclusive prorrogação contratual, em
favor do contratado, durante a execução dos contratos celebrados
com a Administração Pública, sem autorização em lei, no edital da
licitação ou nos respectivos instrumentos contratuais, ou, ainda,
pagar fatura com preterição da ordem cronológica de sua
exigibilidade:
Pena – reclusão, de 4 (quatro) anos a 8 (oito) anos, e multa.

Crime anterior: o tipo penal anterior análogo estava previsto no


art. 92 da Lei n. 8.666/93, que punia a mesma conduta com
detenção de 2 (dois) a 4 (quatro) anos e multa. Agora a pena foi
passou a ser de reclusão, em patamares elevados de 4 (quatro) a
8 (oito) anos, e multa. Embora suprimido o parágrafo único
existente na norma anterior, foi mantido o caráter proibido da
conduta, com o deslocamento do conteúdo criminoso para o
novo tipo penal ora analisado, aplicando-se o princípio da
continuidade normativo-típica.
Sujeito ativo: é o agente público, tratando-se de crime próprio.
Nada impede a participação de terceiros, como no caso do
contratado que concorreu para a consumação da ilegalidade.
Nesse caso, o coautor ou partícipe estará incurso no mesmo
crime, por força do disposto no art. 30 do CP.
Sujeito passivo: é o Estado e, secundariamente, a entidade cujo
contrato foi modificado ou prorrogado.
Objeto material: é o contrato administrativo que foi modificado,
prorrogado etc., e o pagamento feito ao contratado.
Objeto jurídico: é a proteção dos interesses da Administração
pública, seu regular funcionamento e a probidade administrativa.
Conduta: vem expressa pelos verbos admitir (aceitar, acolher),
possibilitar (ensejar, tornar viável) e dar causa (ensejar,
possibilitar). Prevê, ainda, a segunda parte do artigo a conduta de
pagar (retribuir, reembolsar), referindo-se a fatura.
Elemento subjetivo: é o dolo, não sendo punida a modalidade
culposa por falta de previsão legal.
Consumação: com a prática de qualquer das condutas
elencadas, independentemente da ocorrência de efetivo prejuízo
à Administração. Trata-se de crime de mera conduta.
Tentativa: de acordo com a doutrina predominante, é admissível
em qualquer das modalidades de conduta.
Lei n. 9.099/95: não é aplicável a esse crime nenhum de seus
benefícios, como a transação ou suspensão condicional do
processo.
Acordo de não persecução penal: não é cabível, uma vez que a
pena mínima é de 4 (quatro) anos de reclusão (vide art. 28-A do
CPP).
Ação penal: é pública incondicionada.
3.2.5. Perturbação de processo licitatório

Art. 337-I Impedir, perturbar ou fraudar a realização de qualquer


ato de processo licitatório:
Pena – detenção, de 6 (seis) meses a 3 (três) anos, e multa.

Crime anterior: o tipo penal anterior análogo estava previsto no


art. 93 da Lei n. 8.666/93, que punia a mesma conduta com
detenção de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos e multa. Agora a pena
de detenção passou a ser de 6 (seis) meses a 3 (três) anos, e
multa. Foi mantido o caráter proibido da conduta, com o
deslocamento do conteúdo criminoso para o novo tipo penal ora
analisado, aplicando-se o princípio da continuidade normativo-
típica.
Sujeito ativo: qualquer pessoa, em razão de ser um crime comum.
Sujeito passivo: é o Estado, ou de uma forma mais específica, a
Administração pública, assim como, secundariamente, o titular do
bem jurídico particularmente protegido.
Objeto material: é o processo licitatório que sofreu a fraude,
perturbação ou impedimento.
Objeto jurídico: é a proteção dos interesses da administração
pública, seu regular funcionamento e a probidade administrativa.
Conduta: vem caracterizada pelos verbos impedir (obstar, tolher),
perturbar (atrapalhar, desorganizar) e fraudar (enganar, lograr). O
crime somente se tipifica se as condutas nele previstas forem
praticadas no curso do processo licitatório (STJ: HC 348414/RN,
Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, SEXTA TURMA,
julgado em 07/04/2016, DJe 19/04/2016).
Elemento subjetivo: é o dolo, não sendo punida a modalidade
culposa por falta de previsão legal.
Consumação: ocorre com o efetivo impedimento, perturbação ou
fraude do processo licitatório.
Tentativa: admite-se.
Lei n. 9.099/95: não se trata mais de crime de menor potencial
ofensivo, como ocorria no tipo penal anterior, já que a pena
máxima foi elevada ao patamar de 3 (três) anos. Portanto, não é
cabível a transação, sendo possível, entretanto, a suspensão
condicional do processo.
Acordo de não persecução penal: é cabível, uma vez que a pena
mínima é inferior a 4 (quatro) anos de reclusão (vide art. 28-A do
CPP).
Ação penal: é pública incondicionada.
3.2.6. Violação de sigilo em licitação

Art. 337-J Devassar o sigilo de proposta apresentada em processo


licitatório ou proporcionar a terceiro o ensejo de devassá-lo:
Pena – detenção, de 2 (dois) anos a 3 (três) anos, e multa.

Crime anterior: o tipo penal anterior análogo estava previsto no


art. 94 da Lei n. 8.666/93, que punia a mesma conduta com
idêntica pena. Foi mantido o caráter proibido da conduta, com o
deslocamento do conteúdo criminoso para o novo tipo penal ora
analisado, aplicando-se o princípio da continuidade normativo-
típica.
Sujeito ativo: pode ser o agente público que esteja participando
do processo de licitação ou qualquer outra pessoa que tenha
acesso à proposta sigilosa.
Sujeito passivo: é o Estado, de forma imediata, assim como o
licitante prejudicado, de forma mediata.
Objeto material: é a proposta apresentada em processo licitatório
que deveria ser mantida em sigilo.
Objeto jurídico: é a proteção dos interesses da administração
pública, mormente no que se refere ao sigilo das propostas, seu
regular funcionamento e a probidade administrativa.
Conduta: vem caracterizada pelo verbo devassar (penetrar,
espionar, quebrar o sigilo). Pune-se, ainda, a conduta de
proporcionar (possibilitar, ensejar) a terceiro a oportunidade de
devassar o sigilo da proposta apresentada no processo licitatório.
Sigilo das propostas: é a essência do processo licitatório,
garantindo-se a igualdade de tratamento àqueles que acorrem ao
certame.
Elemento subjetivo: é o dolo, não sendo punida a modalidade
culposa por falta de previsão legal.
Consumação: dá-se no momento em que o conteúdo da
proposta é conhecido pelo sujeito ativo ou por terceiro.
Tentativa: é possível.
Lei n. 9.099/95: não é aplicável a esse crime nenhum de seus
benefícios, como a transação ou suspensão condicional do
processo.
Acordo de não persecução penal: é cabível, uma vez que a pena
mínima é inferior a 4 (quatro) anos de reclusão (vide art. 28-A do
CPP).
Ação penal: é pública incondicionada.
3.2.7. Afastamento de licitante

Art. 337-K Afastar ou tentar afastar licitante por meio de violência,


grave ameaça, fraude ou oferecimento de vantagem de qualquer
tipo:
Pena – reclusão, de 3 (três) anos a 5 (cinco) anos, e multa, além da
pena correspondente à violência.
Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem se abstém ou
desiste de licitar em razão de vantagem oferecida.

Crime anterior: o tipo penal anterior análogo estava previsto no


art. 95 da Lei n. 8.666/93, que punia a mesma conduta com
detenção de 2 (dois) a 4 (quatro) anos e multa. Agora a pena
passou a ser de reclusão de 3 (três) a 5 (cinco) anos e multa. Foi
mantido o caráter proibido da conduta, com o deslocamento do
conteúdo criminoso para o novo tipo penal ora analisado,
aplicando-se o princípio da continuidade normativo-típica.
Sujeito ativo: qualquer pessoa, na modalidade do caput, em
razão de ser um crime comum. Na hipótese do parágrafo único,
somente pode ser sujeito ativo o licitante, que se abstém ou
desiste de participar da licitação.
Sujeito passivo: é o Estado, ou de uma forma mais específica, a
Administração pública. Sujeito passivo secundário é o licitante
afastado.
Objeto material: é o licitante, sobre o qual recai a conduta
criminosa.
Objeto jurídico: é a proteção dos interesses da administração
pública, seu regular funcionamento e a probidade administrativa.
Conduta: é caracterizada por afastar (repelir, apartar) ou procurar
afastar (tentar repelir, tentar apartar). Nessa hipótese, o
afastamento ou tentativa de afastamento do licitante deve dar-se
através do emprego de violência, grave ameaça, fraude ou
oferecimento de qualquer vantagem. No parágrafo único, a
conduta vem caracterizada por abster-se (omitir-se, renunciar) ou
desistir (não continuar, não prosseguir). Nesse caso, a abstenção
ou renúncia do licitante deve ocorrer em razão da vantagem a ele
oferecida.
Elemento subjetivo: é o dolo, não sendo punida a modalidade
culposa por falta de previsão legal.
Consumação: ocorre com o afastamento ou tentativa de
afastamento do licitante. Nessa modalidade, trata-se de crime de
atentado ou de empreendimento, em que a tentativa é
equiparada à consumação. Na figura do parágrafo único,
consuma-se o delito com a abstenção ou desistência em licitar,
em razão da vantagem oferecida. Trata-se de crime formal, uma
vez que é dispensável o resultado naturalístico, consistente no
efetivo dano à Administração.
Crime de atentado ou de empreendimento: esse tipo penal
constitui crime de atentado ou de empreendimento, que é aquele
em que a pena da tentativa é a mesma do crime consumado, sem
qualquer redução. No caso, são punidas igualmente as condutas
de afastar (consumada) e procurar afastar (tentada), com as
mesmas penas.
Abstenção do licitante: é um crime punido de forma bilateral,
visto que receberá a punição tanto quem tenta afastar o licitante
com o oferecimento da vantagem, como aquele que desiste de
licitar em razão de vantagem oferecida.
Tentativa: impossível, posto que, no caput, a modalidade tentada
é equiparada à consumada. Com relação ao parágrafo único,
impossível também a tentativa.
Lei n. 9.099/95: não é aplicável a esse crime nenhum de seus
benefícios, como a transação ou suspensão condicional do
processo.
Acordo de não persecução penal: é cabível, uma vez que a pena
mínima é inferior a 4 (quatro) anos de reclusão (vide art. 28-A do
CPP).
Ação penal: é pública incondicionada.
3.2.8. Fraude em licitação ou contrato

Art. 337-L Fraudar, em prejuízo da Administração Pública, licitação


ou contrato dela decorrente, mediante:
I – entrega de mercadoria ou prestação de serviços com qualidade
ou em quantidade diversas das previstas no edital ou nos
instrumentos contratuais;
II – fornecimento, como verdadeira ou perfeita, de mercadoria
falsificada, deteriorada, inservível para consumo ou com prazo de
validade vencido;
III – entrega de uma mercadoria por outra;
IV – alteração da substância, qualidade ou quantidade da
mercadoria ou do serviço fornecido;
V – qualquer meio fraudulento que torne injustamente mais
onerosa para a Administração Pública a proposta ou a execução do
contrato.
Pena – reclusão, de 4 (quatro) anos a 8 (oito) anos, e multa.

Crime anterior: o tipo penal anterior análogo estava previsto no


art. 96 da Lei n. 8.666/93, que punia a mesma conduta com
detenção de 3 (três) a 6 (seis) anos e multa. Agora a pena passou
a ser de reclusão de 4 (quatro) a 8 (oito) anos e multa. Foi mantido
o caráter proibido da conduta, com o deslocamento do conteúdo
criminoso para o novo tipo penal ora analisado, aplicando-se o
princípio da continuidade normativo-típica. Entretanto, a forma de
execução da conduta (fraudar) sofreu algumas alterações, com a
inserção de novos meios e a alteração de outros, cujas
conseqüências serão analisadas abaixo.
Sujeito ativo: em regra, o sujeito ativo é o licitante ou contratado.
Nada impede, entretanto, a participação do agente público
encarregado da licitação. Trata-se de crime próprio.
Sujeito passivo: é o Estado, ou de uma forma mais específica, a
administração pública. Secundariamente, pode ser sujeito
passivo o titular do bem jurídico particularmente protegido.
Objeto material: é a licitação instaurada ou o contrato dela
decorrente.
Objeto jurídico: é a proteção dos interesses da administração
pública, seu regular funcionamento e a probidade administrativa.
Conduta: vem caracterizada pelo verbo fraudar (burlar, ludibriar,
enganar). Trata-se de crime de forma vinculada, estando as
modalidades de fraude especificamente estabelecidas nos
incisos I a V. A prática de mais de uma conduta caracteriza apenas
um crime (tipo misto alternativo).
No que se refere ao inciso I, a nova redação pune a fraude na
entrega de mercadoria ou prestação de serviços com qualidade
ou em quantidade diversa das previstas no edital ou nos
instrumentos contratuais, de modo a causar prejuízo à
Administração Pública. Evidentemente que, para a caracterização
do delito, a qualidade ou quantidade da mercadoria entregue ou
do serviço prestado deve ser inferior à pactuada.
Vale ressaltar que a nova redação da norma penal não previu a
elevação arbitrária de preços como uma das formas de prática
delitiva. O inciso I do anterior crime previsto no art. 96 da Lei n.
8.666/93 trazia expressa a fraude “elevando arbitrariamente os
preços”. Cremos que a razão da supressão, na nova legislação,
dessa forma de praticar o delito se deve à alegada
inconstitucionalidade do dispositivo, bastante apregoada pela
doutrina pátria quando de sua vigência.
A nosso ver, entretanto, nada impede que a elevação arbitrária de
preços, com o intuito de fraudar a licitação, possa atualmente ser
enquadrada no inciso V ou mesmo no art. 337-F, acima analisado.
Os incisos II, III e V tiveram o conteúdo criminoso preservado,
aplicando-se o princípio da continuidade normativo-típica.
Já o inciso IV recebeu extensão em seu conteúdo, de modo que
passou a ser expressamente punida também a alteração da
qualidade ou quantidade do serviço fornecido, que seria, em
princípio, praticada pelo contratado, diferenciando-se do inciso I.
Elemento subjetivo: é o dolo, não sendo punida a modalidade
culposa por falta de previsão legal.
Consumação: ocorre com o efetivo prejuízo à Administração
Pública. Trata-se de crime material, que necessita do resultado
naturalístico (prejuízo) para sua consumação.
Tentativa: admite-se.
Lei n. 9.099/95: não é aplicável a esse crime nenhum de seus
benefícios, como a transação ou suspensão condicional do
processo.
Acordo de não persecução penal: não é cabível, uma vez que a
pena mínima é de 4 (quatro) anos de reclusão (vide art. 28-A do
CPP).
Ação penal: é pública incondicionada.
3.2.9. Contratação inidônea

Art. 337-M Admitir à licitação empresa ou profissional declarado


inidôneo:
Pena – reclusão, de 1 (um) ano a 3 (três) anos, e multa.
§ 1º Celebrar contrato com empresa ou profissional declarado
inidôneo:
Pena – reclusão, de 3 (três) anos a 6 (seis) anos, e multa.
§ 2º Incide na mesma pena do caput deste artigo aquele que,
declarado inidôneo, venha a participar de licitação e, na mesma
pena do § 1º deste artigo, aquele que, declarado inidôneo, venha a
contratar com a Administração Pública.

Crime anterior: o tipo penal anterior análogo estava previsto no


art. 97 da Lei n. 8.666/93, que punia as mesmas condutas, embora
com redação diversa, com detenção de 6 (seis) meses a 2 (dois)
anos e multa. Agora a pena do caput passou a ser de reclusão de 1
(um) a 3 (três) anos e multa, e a pena do §1º passou a ser de
reclusão de 3 (três) anos e 6 (seis) anos e multa. Embora com
redação diversa, foi mantido o caráter proibido da conduta, com o
deslocamento do conteúdo criminoso para o novo tipo penal ora
analisado, aplicando-se o princípio da continuidade normativo-
típica.
Sujeito ativo: nas modalidades de conduta do caput e do §1º,
sujeito ativo é o agente público com atribuições para admitir ou
rejeitar possíveis licitantes declarados inidôneos ou com eles
celebrar contrato. Na hipótese do §2º, sujeito ativo é o licitante
declarado inidôneo, que venha a participar da licitação ou
contratar com a Administração Pública.
Sujeito passivo: é o Estado, ou de uma forma mais específica, A
administração Pública. Sujeito passivo secundário pode ser o titular
do bem jurídico particularmente protegido.
Objeto material: é a licitação ou o contrato.
Objeto jurídico: é a proteção dos interesses da administração
pública, seu regular funcionamento e a probidade administrativa.
Conduta: no caput, a conduta vem expressa pelo verbo admitir
(aceitar, acolher). Na modalidade do §1º, a conduta vem expressa
pelo verbo, celebrar (realizar, efetuar). No §2º, as condutas são
participar (tomar parte, integrar) a licitação ou contratar (celebrar
contrato).
Inidoneidade: a declaração de inidoneidade para licitar ou
contratar é sanção administrativa prevista no art. 156, IV, da Lei n.
14.133/21, sendo aplicada ao responsável pelas infrações
administrativas previstas nos incisos VIII, IX, X, XI e XII do caput do
art. 155, bem como pelas infrações administrativas previstas nos
incisos II, III, IV, V, VI e VII do caput do referido artigo que
justifiquem a imposição de penalidade mais grave, impedido o
responsável de licitar ou contratar no âmbito da Administração
Pública direta e indireta de todos os entes federativos, pelo prazo
mínimo de 3 (três) anos e máximo de 6 (seis) anos.
Elemento subjetivo: é o dolo, não sendo punida a modalidade
culposa por falta de previsão legal. Embora haja quem sustente a
necessidade do dolo específico do agente público no que tange a
seu conhecimento quanto à inidoneidade do licitante ou
contratante, a posição que prevalece é a de que se trata de dolo
genérico.
Consumação: no caso do caput, a consumação ocorre com a
admissão da empresa ou profissional declarado inidôneo, Na
modalidade do §1º, com a celebração do contrato. No caso do §2º,
a consumação se dá com a inscrição daquele que foi declarado
inidôneo para participar da licitação, ou com a celebração do
contrato administrativo. Trata-se de crime formal, que não
necessita de resultado naturalístico, consistente no efetivo prejuízo
para a Administração.
Tentativa: no caso do caput é impossível, mas no caso do
parágrafo único pode ocorrer.
Lei n. 9.099/95: na modalidade do caput, não se admite a
transação, mas apenas a suspensão condicional do processo. Na
modalidade do §1º, não se admite a transação e nem a suspensão
condicional do processo.
Acordo de não persecução penal: é cabível em qualquer das
modalidades, uma vez que as penas mínimas são inferiores a 4
(quatro) anos de reclusão (vide art. 28-A do CPP).
Ação penal: é pública incondicionada.
3.2.10. Impedimento indevido

Art. 337-N Obstar, impedir ou dificultar injustamente a inscrição de


qualquer interessado nos registros cadastrais ou promover
indevidamente a alteração, a suspensão ou o cancelamento de
registro do inscrito:
Pena – reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.

Crime anterior: o tipo penal anterior análogo estava previsto no


art. 98 da Lei n. 8.666/93, que punia as mesmas condutas com
detenção de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos e multa. Agora a pena
passou a ser de reclusão, permanecendo nos mesmos patamares
mínimo e máximo, além da multa. Foi mantido o caráter proibido da
conduta, com o deslocamento do conteúdo criminoso para o novo
tipo penal ora analisado, aplicando-se o princípio da continuidade
normativo-típica.
Sujeito ativo: é o agente público que obsta, impede ou dificulta
injustamente a inscrição de interessado ou promove
indevidamente a alteração, suspensão ou cancelamento de
registro do inscrito. Trata-se de crime próprio.
Sujeito passivo: é o Estado, ou de uma forma mais específica, a
administração pública. Secundariamente, pode ser sujeito passivo
a pessoa eventualmente prejudicada.
Objeto material: é a inscrição ou o registro. O registro cadastral
vem previsto nos arts. 87 e 88 da Lei n. 14.133/21.
Objeto jurídico: é a proteção dos interesses da Administração
Pública, seu regular funcionamento e a probidade administrativa.
Conduta: vem representada pelos verbos obstar (embaraçar, opor-
se, obstaculizar), impedir (obstruir, vedar) e dificultar (obstar,
embaraçar), referindo-se à inscrição de qualquer interessado no
registro cadastral. Na segunda parte do artigo, a conduta vem
caracterizada pelo verbo promover (provocar, motivar), referindo-
se à alteração, suspensão ou cancelamento do registro do inscrito.
Elementos normativos do tipo: vêm representados pelas
expressões “injustamente” e “indevidamente”. Caso a
obstaculização, impedimento ou dificultação seja justa (amparada
por lei), não haverá crime. Caso a alteração, suspensão ou
cancelamento do registro do inscrito seja devida, também não
ocorrerá o ilícito.
Elemento subjetivo: é o dolo, não sendo punida a modalidade
culposa por falta de previsão legal.
Consumação: ocorre com a mera ação de obstar, dificultar ou
impedir a inscrição, não havendo necessidade do resultado
naturalístico. Trata-se de crime formal. Na segunda parte do artigo,
ocorre com a promoção que gera a alteração, suspensão ou
cancelamento indevido do registro, sem necessidade, também, de
que ocorra efetivo prejuízo para a administração ou para terceiro.
Tentativa: não se admite na primeira parte do artigo (condutas de
obstar, impedir ou dificultar). Admite-se apenas na segunda parte
do artigo (promoção indevida).
Lei n. 9.099/95: em razão de ser um crime de menor potencial
ofensivo, é cabível a transação e a suspensão condicional do
processo.
Acordo de não persecução penal: é cabível, uma vez que a pena
mínima é inferior a 4 (quatro) anos de reclusão, com as ressalvas do
§2º, I, II e III, do art. 28-A do CPP.
Ação penal: é pública incondicionada.
3.2.11. Omissão grave de dado ou de informação por
projetista

Art. 337-O Omitir, modificar ou entregar à Administração Pública


levantamento cadastral ou condição de contorno em relevante
dissonância com a realidade, em frustração ao caráter competitivo
da licitação ou em detrimento da seleção da proposta mais
vantajosa para a Administração Pública, em contratação para a
elaboração de projeto básico, projeto executivo ou anteprojeto, em
diálogo competitivo ou em procedimento de manifestação de
interesse.
Pena – reclusão, de 6 (seis) meses a 3 (três) anos, e multa.
§ 1º Consideram-se condição de contorno as informações e os
levantamentos suficientes e necessários para a definição da solução
de projeto e dos respectivos preços pelo licitante, incluídos
sondagens, topografia, estudos de demanda, condições ambientais
e demais elementos ambientais impactantes, considerados
requisitos mínimos ou obrigatórios em normas técnicas que
orientam a elaboração de projetos.
§ 2º Se o crime é praticado com o fim de obter benefício, direto ou
indireto, próprio ou de outrem, aplica-se em dobro a pena prevista
no caput deste artigo.
Crime anterior: o tipo penal em análise é novo, sem precedentes
na anterior Lei n. 8.666/93.
Sujeito ativo: em regra, o sujeito ativo é o licitante ou contratado.
Nada impede, entretanto, a participação do agente público
encarregado da licitação. Embora o nomem iuris se refira a
“projetista”, o crime pode ser praticado também por terceiros, já
que o próprio tipo penal não requer essa qualidade especial do
sujeito ativo, inclusive prevendo uma das condutas como
“entregar”, o que permite a punição de qualquer outra pessoa.
Sujeito passivo: é o Estado, ou de uma forma mais específica, a
administração pública. Secundariamente, pode ser sujeito passivo
a pessoa eventualmente prejudicada.
Objeto material: é o levantamento cadastral ou condição de
contorno. O levantamento cadastral ou a condição de contorno
devem estar “em relevante dissonância com a realidade”, ou seja,
em total desconformidade com o estado das coisas. Nesse ponto, o
tipo penal é aberto, indicando, evidentemente, a prática de
condutas que trazem algum problema efetivo para o processo
licitatório.
Outrossim, o levantamento cadastral ou a condição de contorno,
devem ser apresentados em contratação para a elaboração de
projeto básico, projeto executivo ou anteprojeto, em diálogo
competitivo ou em procedimento de manifestação de interesse. As
definições de anteprojeto, projeto básico e projeto executivo vêm
previstas no art. 6º, XXIV, XXV e XXVI da Lei n. 14.133/21. A
definição de diálogo competitivo vem dada pelo inciso XLII do
mesmo dispositivo citado. O procedimento de manifestação de
interesse é um procedimento auxiliar das licitações e das
contratações regidas pela lei, estando previsto no art. 81.
Condição de contorno: de acordo com o disposto no §1º,
consideram-se condição de contorno as informações e os
levantamentos suficientes e necessários para a definição da
solução de projeto e dos respectivos preços pelo licitante,
incluídos sondagens, topografia, estudos de demanda, condições
ambientais e demais elementos ambientais impactantes,
considerados requisitos mínimos ou obrigatórios em normas
técnicas que orientam a elaboração de projetos.
Objeto jurídico: é a proteção dos interesses da Administração
Pública, no que tange à integridade do processo licitatório,
planejamento e seleção das propostas que sejam mais vantajosas
para a Administração.
Conduta: vem representada pelos verbos omitir (deixar de
mencionar, esconder, deixar de dizer) modificar (mudar, alterar,
descaracterizar) e entregar (dar, ceder, conferir, apresentar). As
condutas devem ter por objeto levantamento cadastral ou
condição de contorno em relevante dissonância com a realidade,
em frustração ao caráter competitivo da licitação ou em detrimento
da seleção da proposta mais vantajosa para a Administração
Pública.
Elemento subjetivo: é o dolo, não sendo punida a modalidade
culposa por falta de previsão legal. Pode-se falar em um elemento
subjetivo específico, caracterizado pelo intuito de frustrar o caráter
competitivo da licitação ou prejudicar a seleção da proposta mais
vantajosa para a Administração Pública
Consumação: na modalidade de conduta omitir, a consumação
ocorre no momento em que é formalizada a documentação que
compõe projeto básico, o projeto executivo ou o anteprojeto, o
diálogo competitivo ou o procedimento de manifestação de
interesse. Na modalidade modificar, a consumação ocorre no
instante em que for alterado pelo agente o levantamento cadastral
ou a condição de contorno. Já na modalidade entregar, a
consumação ocorre com a efetiva apresentação do levantamento
cadastral ou da condição de contorno em relevante dissonância
com a realidade e com o consequente recebimento formal do
documento pela Administração.
Tentativa: não se admite na modalidade de conduta omitir. Nas
demais modalidades de conduta, é possível a tentativa.
Lei n. 9.099/95: em razão da pena máxima cominada, não se
admite a transação, mas apenas a suspensão condicional do
processo.
Acordo de não persecução penal: é cabível, uma vez que a pena
mínima é inferior a 4 (quatro) anos de reclusão, com as ressalvas do
§2º, I, II e III, do art. 28-A do CPP.
Ação penal: é pública incondicionada.
3.2.12. Pena de multa

Art. 337-P A pena de multa cominada aos crimes previstos neste


Capítulo seguirá a metodologia de cálculo prevista neste Código e
não poderá ser inferior a 2% (dois por cento) do valor do contrato
licitado ou celebrado com contratação direta.

Previsão anterior: anteriormente à Lei n. 14.133/21, a pena de


multa prevista não era calculada em dias-multa, como previsto nos
arts. 49 e s. do CP, mas sim fixada em índices percentuais sobre o
valor da vantagem efetivamente obtida ou potencialmente
auferível pelo agente. O produto da arrecadação, por seu turno,
não era recolhido ao fundo penitenciário, mas sim à Fazenda
Pública federal, distrital, estadual ou municipal.
Nova sistemática: pela redação do novo art. 337-P, a pena de
multa cominada aos crimes licitatórios segue a mesma
metodologia de cálculo prevista no Código Penal, ou seja, a multa
deve ser fixada em dias-multa, nos termos dos arts. 49 e seguintes.
Ao invés de ser a multa revertida ao ente lesado, pela nova
sistemática a multa deverá ser recolhida ao Fundo Penitenciário.

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