TERMICA DE EDIFICIOS
ELEMENTOS SOBRE A TRANSMISSAO DO CALOR
A. Moret Rodrigues A.Canha da Piedade ~
Setembro de 1998INDICE
1 -NOCOES SOBRE TRANSMISSAO DO CALOR EM EDIFICIOS --
1.1 - Nota preambular sobre a transmissio do calor em edificios -
12 — Problemas correntes no estudo do comportamento térmico de edificios do
ponto de vista da satisfagio das exigéncias de conforto ~
I - TRANSMISSAO DO CALOR POR CONDUCAO ---
IL1 - Lei de Fourier. Condutibilidade térmica —
11.2 - Condugao de calor em regime permanente ~
11.2.1 - Fluxo uni-dimensional -—
11.2.2 - Fluxo bi-dimencional
IL3 - Condugio do calor em regime varivel -
11.3.1 — Método das diferengas finitas --
Il - TRANSMISSAO DO CALOR POR CONVECCAO -:
M111 - Convecgao natural e forsada. Regime laminar e regime turbulento -
T11.2 - Camada limite
IIL. - Lei de Newton
TIL.4 - Convecgao forgada em regime laminar
IIL4.1 - Transmissio do calor por conveegio entre uma placa e 0 fluido em contacto
com a sua superficie -
ILLS - Convecgao forgada em regime turbulento, Andlise dimensional
IIL6 - Convecsio natural
111.7 - Uma formulagao geral do problema da convecgioIIL7.1 -Velocidade e deformagio --
II1.7.2 - Relages tensées — deformagies
IHL.7.3 - Conceitos de sistema e volume de controlo --
OL.
- Lei da conservagio da massa --
IIL7.5 - Equagies da conservagio do momento linear (Navier-Stokes)
11.7.6 - Equagio da conservagio da energia
11L7.7 - Convecgio natural, Hipétese de Boussinesq
TIL. 8 - Equag6es de camada limite
IV - TRANSMISSAO DO CALOR POR RADIACAQ
IV.1 - Radiagio térmica. Absorgao, reflectividade e transmissividade
1V.2 - Corpos negros, corpos cinzentos ¢ eorpos nfio-negros ~
IV.3 ~ Radiancia ou poder emissivo ~
IV.4 ~ Leis de Stefan-Boltzman , Plank e Wien ~
IV.6 - Radiagao miutua entre superficies negras e cinzentas. Factor de forma -
IV.7— Algebra dos factores de forma ~
IV.8 ~ Conduténcia térmica superficial por radiagao -
IV.9 - Temperatura radiante
BIBLIOGRAFIAaaa
1 -NOGOES SOBRE TRANSMISSAO DO CALOR EM EDIFICIOS
11 - Nota preambular sobre a transmissio do calor em edificios
Dentro dos aspectos a considerar no projecto de edificios ha os que apelam ao
conhecimento dos fendmenos que regulam 0 seu comportamento térmico e que podem
ser traduzidos nas figuras seguintes - Figs. 1.1 e I.2 - nas quais se traduzem as acgdes que
influenciam aquele comportamento e a evolugdo observada das temperaturas no interior
de edificios de construgao leve.
Fig. I.1 - AcgSes que influenciam o comportamento térmico de edificios
Facilmente se observa que para estudar ou prever 0 comportamento dos edifieios face as
acgdes que os sujeitam ¢ necessério contiécer o modo de propagagio do calor através dos
seus elementos de construgo, Ora, este assenta nas leis e principios bisicos da
termodindmica que permitem sustentar que:
i) A transmissdo de calor entre dois elementos - ou entre dois pontos de um
elemento - verifica-se sempre que entre eles se estabelece uma diferenga de
temperaturas dando-se uma transferéncia de energia de um para 0 outro;
ii) Esta transmisstio de calor faz-se sempre no sentido do elemento @ mais elevada
temperatura para 0 de temperatura mais baixa e com conservagto de energia, isto
&, a quantidade de calor que o elemento mais "quente" cede é igual & quantidade
que 0 elemento mais "fio" recebe.
Admitem-se correntemente trés processos distintos de transmissdo de calor - condugiio,
convecgdo e radiagfo - e embora na maior parte dos casos estes trés processos eoexistam,
© estudo individualizado de cada um daqueles mecanismos de transmissio permite o seu
tratamento analitico e é, em geral, possivel adicionar os seus efeitos quando da ocorréncia
conjunta dos trés processos.susie 74176
Sopris] Tansee] tare is Jao =
ieeperenre (CD
Fig. 1.2 - Evolugao de temperaturas interiores em salas de aula.
‘A transmisso do calor por condugZo, forma tipica de transmissio nos corpos s6lidos que
ocorre em virtude da diferenca de temperatura estabelecida entre dois pontos do corpo, €
regida pela bem conhecida lei de Fourier estabelecida em 1822 [1] que mostra ser 0
fluxo de calor que atravessa uma dada superficie proporcional ao produto da tea (A)
atravessada pelo gradiente de temperatura existente (Fig. 1.3).
AQ @
9-de (.)
fe
Fig. 1.3 -Lei de FourierA transmissio do calor por convecgio é a forma corrente de transmisstio no interior dum
fluido ou entre este ¢ uma superficie s6lida e ocorre devido ao movimento do fluido.
A. equagdo geral que descreve este fendmeno foi estabelecida por Newton em 1701 [2]
na forma (Fig. 14}
8, (ftvido)
Q=hA@,-0,) (1.2)
(oreo
Fig. 1.4 + Lei de Newton
que mostra ser 0 fluxo de calor transmitido por convecgao entre uma superficie e um
fluido proporcional a area considerada e & diferenga de temperaturas estabelecidas,
Finalmente, a transmisstio do calor por radiagio € significativamente diferente das
anteriores no necessitando como elas de qualquer suporte material e ocorrendo entre
todos os materiais © em qualquer fase.
Todos os corpos emitem e recebem radiagao e a quantidade de energia emitida é apenas
fungao da sua temperatura absoluta e do estado da sua superficie.
A lei que rege a quantidade de energia radiada por um corpo radiante puro (corpo negro)
foi estabelecida experimentalmente por Stefan em 1879 e comprovada teoricamente por
Boltzman em 1884 com a forma (3) :
Q-caTl (13)
que mostra ser a energia radiada pelo "Corpo negro" proporcional a drea do corpo e & 4
poténcia da sua temperatura absoluta.
Nos capitulos seguintes trata-se detalhadamente cada uma destas formas de transmis
consideradas isoladamente.12 — Problemas correntes no estudo do comportamento térmico de edificios do
ponto de vista da satisfagio das exigencias de conforto
© objectivo iiltimo dos estudos de térmica de edificios, do ponto de vista da satisfacdo
das exigéncias de conforto é conseguir que no interior dos edificios as temperaturas do ar
¢ dos paramentos se mantenham dentro de limites razoveis com o minimo de custo
global (custo inicial + custo de manutengdo). Dai que os problemas de que correntemente
se ocupa sejam [4].
4) em condigdes de Inverno
= determinago do fluxo de calor a fornecer ao edificio para que a sua temperatura
interior se mantenha num valor constante (minimo admiss{vel) ~ caso dos edificios
com ocupagiio permananente;
= determinagiio do fluxo de calor a forecer para que a temperatura interior sofra um
aumento inicial rapido e se mantenha praticamente constante durante determinado
periodo, apds o que decresce até o valor inicial - caso dos ‘edificios com ocupagio
parcial no Inverno;
ii) em condigdes de Verio
= doterminaglio do fluxo de calor que penetra no local através dos elementos
envolventes ¢ da parte deste que importa evacuar para que a temperatura do ar nfo
ultrapasse dado valor ~ limite méximo — considerado admissivel;
= determinaggo da temperatura no interior na auséneia de quaisquer meios de
__climatizagao artificial
Os quatro casos anteriores compreendem “grosso modo” a generalidade das situagées
encontradas na realidade.
O primero, por simplicidade, ¢ usual tratar considerando que a transmissfo se efectua em
regime permanente, isto é admitindo constantes as temperaturas exterior e interior.
Embora tal se ndo verifique, a sua pertinéncia decorre de nos paises em que estes estudos
conheceram maior desenvolvimento ¢ a prética do aquecimento se fazia sentir, a
diferenca de temperaturas entre 0 interior — que sem grande erro se pode considerar
constante — € 0 exterior ser em geral bastante grande face & amplitude de variagao diuma
da temperatura exterior e 0 erro cometido com as consideragdes assim realizadas néo ser
de molde a inviabilizé-lo.
Note-se, entretanto, que as necessidades de redusao dos gastos em meios energéticos tem
procurado um refinamento do estudo deste caso que o leva a eair no estudo em regime
variével,i
© segundo caso, consiste também em admitir — & semelhanga do anterior - que a
temperatura no exterior se mantém constante e que a temperatura interior varia segundo
uma dada lei que se pode traduzir da forma exemplificada na figura seguinte ~ Fig. 1.
ace)
Bria
_ — Temperatura exterior
0 12 4
Fig. 1 — Variagdio da temperatura interior em edificios com ocupagio parcial.
Tal caso pode assimilar-se A situagio de um edifleio com ocupagdo parcial — escola,
fébrica, escritério, ete. — em que se pretende que hora de entrada o valor da temperatura
seja igual a um valor minimo admissivel, crescendo ainda até um valor de satisfagéio no
qual se mantém até perto da hora de saida comegando a decrescer ainda antes daquele se
efectuar mas de molde a que o valor minimo admissivel no seja ultrapassado dentro do
perfodo de acupagio.
© tetceiro caso traduz a situagdo corente do estudo da climatizagio de verlio dos
edificios considerando as condigdes exteriores variaveis, admitindo-se constante ~ ou
varidvel mas sem ultrapassar um dado valor limite ~ a temperatura interior.
Finalmente, no quarto caso pretende-se conhecer a variagiio das temperaturas interiores,
face a variago das temperaturas no exterior e as condigGes de utilizagao do edificio.
Estes trés casos tratam obviamente a transmissio do calor em regime varidvel. Todavia é
ainda usual considerar dentro do regime variavel os casos em que as condigdes variam
periodicamente daqueles em que a variagao é nfo periddi
Como facilmente se compreende a complexidade de tratamento dos casos enunciados
aumenta do regime permanente para o varidvel e neste do periédico para 0 nfo periédico.Il- TRANSMISSAO DO CALOR POR CONDUGAO
IL - Lei de Fourier, Condutibilidade térmica
‘A transmissto do calor por condugao dé-se de um ponto do corpo para o outro, ou de um
corpo para o outro em contacto com ele, sem que se verifiquem movimentos internos ou a
emissiio de radiagdes!, Aceita-se correntemente que esta forma de transmissio esté
intimamente associada a energia interna da maiéria, isto é, a energia correspondent 20
estado fisico - quimico do corpo - orientagéio e movimento das moléculas ¢ atomos dentro
do corpo. Esta energia depende da temperatura absoluta, as colisSes moleculares
transferem parte desta energia para regiGes adjacentes com mais baixos niveis energéticos
e, consequentemente, a temperatura inferior Ainda que niio’integralmente comprovada
esta teoria - pese embora algumas conclusdes fundamentais confirmadas
experimentalmente - bem conhecida a lei fundamental que rege a transmissio do calor
por condugéo correntemente designada por lei de Fourier que é consistente com as leis
fandamentais da termodinamica.
Para a sua compreensdo considere-se a seguinte experiéneia:
Uma placa de material sélido, isétropo ¢ de uma pequena espessura relativamente as suas
dimensGes faciais de modo a poder supor-se infinita (Fig. II.1); submetam-se as suas
faces a uma diferenga de temperatura constante - no muito grande para néo Ihe alterar as
propriedades termo-fisicas - € com distribuigo facial uniforme, Apés algum tempo o
fluxo de calor que atravessa a placa e a distribuig4o de temperaturas nesta mantém-se
independentes do tempo. Repetindo a experiéncia alterando as temperaturas superficiais,
da placa e as dimensOes desta constata-se a seguinte relagao:
&
qty
cH
Fig. IL-1 - Transmisstio de calor por condugdo. Lei de Fourier
"um fenémeno que tem grande analogia com a condugao eléctrica,em que:
Q- fluxo de calor que atravessa a placa (W);
X= condutibilidade térmica do material (W /m.K);
A dea da placa (m’); 6,, 0, - temperaturas faciais da placa (K);
e- espessura da placa (m).
‘Verifica-se assim que nas condigSes atris referidas o fluxo de calor que atravessa a placa
& directamente proporcional as dreas e diferengas de temperaturas superficiais da placa e
inversamente proporcional & sua espessura. O parimetro de proporcionalidade é a
condutibilidade térmica - 4 - que se define como a quantidade de calor que atravessa
perpendicularmente uma superficie de drea unitéria , na unidade de tempo, quando existe
uma diferenga de temperatura de uma unidade entre essa superficie ¢ outra igual, a uma
distancia unitaria, :
Este factor varia consoante o tipo de material, fase em que se encontra, peso especifico,
porosidade, humidade, temperatura, etc. Dum modo simplificado - j4 que o tema é
bastante complex e como tal tem merecido tratamento adequado por varios autores
(Carslaw ¢ Jaeger [1], Eckert [2]) - © no caso corrente dos materiais utilizados na
construgio de edificios, pode admitir-se que os factores predominantes sfo os seus peso
especifico ¢, sobretudo, teor de humidade, variando em geral a condutibilidade térmica
no mesmo sentido daqueles pardimetros.
A determinagao da condutibilidade térmica faz-se experimentalmente podendo realizar-se
por varios métodos, sendo correntemente utilizado entre nés os do "prato quente e anel” &
da "sonda de aquecimento" [3,4]. O primeiro, que corresponde ao método descrito na
‘Norma Portuguesa NP - 116 de 1962, realiza-se em geral em regime permanente e sendo
embora simples tem como inconvenientes ser moroso - dado que s6 apés algum tempo se
estabelecem as condigdes de regime - e s6 se aplica a materiais secos - pois a aplicar-se
materiais himidos a morosidade do ensaio daria lugar a migragdes de humidade no
interior daqueles que falseariam os resultados’; 0 segundo permite ensaios de duragio
muito reduzida (entre 5 a 10 minutos), nfo exige provetes com formas especiais ¢ &
especialmente indicado para a determinago da influéncia do teor de humidade nos
valores da condutibilidade térmica do material em andlise.
No quadro ¢ figura seguintes - Quadro H1.1 e Fig. 12 - apresentam-se valores +
determinados experimentalmente no LNEC ou recolhidos em bibliografia - da
condutibilidade térmica de materiais correntemente utilizados na construco de edificios
© acxpresstio da variagdo daquela grandeza com a humidade e densidade [5 a 12].
2 Pode também usar-se © método do “prato quente e ane!” para a medigto da condutbilidade térmica em
regime variével, sendo assim possivel a sua aplicagao materiais hiimidos. Contudo, a sua realizaglo
carece de suporte metemético complexo e da introdugio de algumas hipéteses simplificativas que limita @
sua utilizagaoQuadro I.1 ~ Valores da condutibilidade de alguns materiais correntes em edificios.
Waters de consirugao kein’)
TPedras
+ granits, basallos, prfios, ete 2.500 - 3000
+ marmores 2600
= caledreos duros, grés 2350-2580
* caledzeos brandos e semi-duros 1470-2150
1 800 - 2.000
= Material cerdmico (barro vermetho)
= Bettes
*=ée inertes pesados, compacto 2200-2 400
de inertes pesados, cavernoso 1700-2 100
ante 1200 1 400
1000-1 200
600 1 000
~ jora ou pozolanae!finos 1200 1 600
+ idem s/ fins 1090-1 200
+ de inertes muito leves (vermitaite) 400-800,
eelulares 400-800,
= Argamassa
*eboco 1300-2 100
estuque 750-1300
- Fibrocimento 1400 -2:200
430-1000
*painéis de particulas 350-750
~ contraplacedos 350-550
=Cortiga
*comprimida 500
+ granulado expandido 100-150
+ Fibras minerais (If de vidro ou 18 de rocha) 20-300
= Plisticos alveolares
+ poliestireno expandido 10-35
= poliestireno extrudido 25-40
~ poliuretano 30-60
= Materials para impermeabilizagdes
“borrachassintéicas, polyesters, polelilenos, et. 900-1500
+ policloreto de vinito 1200-1 400
+ mastiques para juntas 1000-1 600
+ feltros betuminosos 1000+ 1 100
= asflto 2100
= Metais
= a¢0 7780
~aluminio 2700
~cobre 8930
+ zine 7130
= Vidro
normal . 2700
eolular 120-180
A cwimnC)
0,65 -0,95
012-029
0.10-0,17
012-015
0,10
0.083
0.041
0,037 - 0,044
0.035
0.033 - 0.039
04
02
oa
023
0,701.15
2
230
380
nz
Lis
0,050-0.063,
a ilo oe ee oda. CULLrc rrL
térmica Al WimK)’
Condutibitidede
1
T
|
|
|
!
|
|
homida/ Areca
24 1
2.2
20
24
Densidade
'
|
|
C1
C1
7
10
]
T
|
i
|
T
1
+
1.
toor de humidade
|
i
|
|
n
12
i
{
i
+
|
+
|
3
14
|
I
15
volume [%)
Fig. II.2 - Variagao da condutibilidade térmica com a humidade e a densidade.Volvendo & expressio (II.1) e para um ponto do interior da placa ela pode assumir
aspecto mais geral de
a2)
que traduz que o fluxo de calor por unidade de drea,Q/A, atravessa a superficie S a0
longo da sua normal n ¢ no sentido das temperaturas decrescentes, isto é, para gradientes
de temperatura negativos. Esta equagao pode ser escrita para um elemento de Area
assumindo entfo a forma seguinte:
fo)
aQ=-naa® 3)
As equagées atras descritas - (11.2) e (1.3) - sto geralmente designadas por equagdes de
Fourier’. A generalizagdo para um espago tridimensional, e em coordenadas cartesianas,
pode realizar-se da forma seguinte:
Considere-se um cubo do material com volume infinitesimal cujas arestas tém dimensbes
ax, dy, dz, orientadas segundo os respectivos eixos coordenados (Vd. Fig, 11.3). Para a
direcgto x poderd escrever-se, atendendo a (11.3):
a
A (dx aE a4)
Fig, [1.3 ~ Elemento de volume para a dedugdo da equago de Fourier,
3. Repare-se na analogia existente entre esta expresso € a lei de Ohm para um condutor eléetrico:
da ZX, com:
&
1 intensidade de corrente
V - diferenca ce potencial;
‘t- condutibilidade eléetrica (t=1/p 3 p ~Tesistividade eléctrica).i
i
fluxo de calor que sai da face x+dx pode obter-se por desenvolvimento de dQ, em
série de Taylor e desprezando termos de ordem superior, isto é:
7 (EQ) gy 4 FQ) oH?
Cee = 4, + MOD Ge + Ad (sy
© fluxo de calor dispendido na condugiio ao longo da direcglo x é
we
(2 capa 6)
Segundo as direcgdes y e 2 podem escrever-se expressdes semelhantes do que resulta:
(2) cart 7)
4Q, -€Q,,4e = ZB) ayéz (Ls)
Se Q* for o fluxo de calor gerado no interior do material por unidade de tempo e de
volume, a quantidade de calor gerado por unidade de tempo no interior do volume
elementar considerado seré:
Q dxdydz
A soma total destes fluxos de calor teré o valor:
{22)-202)-202)-c}ase as)
©, por conservagdo da energia, deverd ser igual ao acréscimo da energia interna do
elemento de volume, Este pode escrever-se:
a
opéxdy de® (i.10)
com
c~ calor especifico;
p- massa especifica;
t—tempo.
A equagio de balango energético vem entio:
wana) aC
qn)
cEEsta € a expresstio goneralizada da equagio de Fourier para materiais heterogéneos
is6tropos!. Pata meios homogéneos ¢ nilo havendo gerago intema de calor aquela
expressto vird, atendendo a que 4 pode ser considerado constante:
2 22-2 E)-eve (1.12)
com «=Ape)- difusibilidade térmica.
Se admitirmos que 0 fluxo de calor é, mediante certas condigies estabelecidas,
independente do tempo, aquela expressfio assumiré a forma :
aVv?o=6 (11.13)
Esta expresso mostra que a distribuigao de temperaturas no corpo considerado é apenas
Gependente das coordenadas do lugar; a expressto (II.12) traduz a dependéncia daqieia
Gistribuigao do espago ¢ do tempo. No primeiro caso diz-se que a transmissto do calor se
da em reeime permanente; no segundo diz-se que ocorre em regime varidvel.
11.2 - Condugio de calor em regime permanente
11.2.1 - Fluxo uni-dimensional
Considere-se uma placa de material homogéneo com dimensées faciais
significativamente superiores & sua espessura e admita-se que as suas faces se encontram
a temperaturas @, ¢ 0, com distribuigdo uniforme e constante no tempo, estabelecendo-
se assim um fluxo de calor unidireccional e independente do tempo (Vd. Fig, 11.4).
Fig. 11.4 - Elemento de placa homogénea.
4 De notar que ¢, p, t dependem das coordenadas do ponto ¢ do tempo, No easo de meios anisétropos
aquela expresso tem de ser adaptada, Na bibliografia indicada [1,2] encontra-se essa generalizagdo, bem
como @ apresentagao da equagao referida em coordenadas esféricas e cilindricas (com interesse para
problemas particulares) € na forma variacional (com muito inteesse para a resolugio de problemas em
regime varidvel recorrendo @ métodos variacionais muito usuais em mecanica),A expresso (II.13) assumiré entio a forma seguinte :
quid)
eda sua integragao resulta
20x40) (Ls)
as constantes C) € Cz podem ser facilmente obtidas conhecidas as condigdes de fronteira
traduzidas pelas temperaturas das faces da placa ,8, € 6,. A distribuigdo de temperaturas
serd dada pela seguinte expresso :
1.16)
€ 0 fluxo de calor que atravessa a placa pode ser obtido - como se vin atrés, direétamente
da lei de Fourier
aah
&
(Li?)
A expresso anterior, cuja analogia com a lei de Ohm ¢ por demais evidenteS, pode ainda
ser escrita nas seguintes formas :
Q=K, Al, -9,) ; ou Q
(18)
com (1.19)
Estas grandezas designam-se, respectivamente, por conduténcia térmica - Ky - e
resisténcia térmica - R, - ¢ traduzem a forma como o elemento se deixa atravessar, com
maior ou menor facilidade, pelo calor.
Os elementos de construgio ndo so em geral homogéneos - caso vulgar de paredes de
alvenaria de tijolo furado em que existem septos continuos na espessura da parede
Mi
Xe
p )
5
1 Intensidade da corente;
V, ~ Vi -Diferenga de potencial entre 2 pontos do condutor
p - Resisténcia eléctrica do condutor;
5—Seegio do condutor.alternando com espagos de ar fechados - e a determinagiio daqueles paramétros poder
fazet-se por via analitica, recorrendo a expresses mais ou menos complexas [3,4,13], ou
por via experimental [14,15]
Considera-se entilo, nos pardgrafos seguintes, a generalizagio do estudo anterior a0 caso
de elementos heterogéneos (mas formados por camadas homogéneas).
i) Elemento formado por camadas perpendiculares ao sentido do fluxo ~ Fig.II.5.
Fig. 11.5 - Elemento formado por camadas perpendiculares ao sentido do fluxo.
Da expresstio (I-18) decorre para uma superficie unitaria (Vd. Fig. IL):
dondeé
(01.20)
5 Repare-se a analogia com a corrente eléctrica, com a associagio de resistencias em série.
RR, Rs
VAANj
i
i
e
Elemento formado por camadas paralelas a0 sentido do fluxo ~ Fig. 11.6.
%
Fig. I1.6 - Elemento formado por camadas paralelas 20 sentido do fluxo,
Se admitirmos que a distribuigdo superficial de temperaturas ¢ uniforme e que o fluxo se
mantém unidireccional e perpendicular ao elemento poder-se-4 escrever:
Q= QA +Q.Ar+Q3As +n Qy An 21)
e-entio
Ar, — 95) Ar(®.
nA 6 EOD (01.22)
Com
ou seja, (11.23)
dda expresstio anterior e da (11.21) retira-se?:
A Ai = HE =EEeH
FDR COMO KAT & Ky a (0.24)
vird finalmente
7 Repare-se na semethanga com a correnteeldstrica com a associagBo de resistencias em paralelo.K,
DANK,
Ba 128)
i
Para o céleulo das Resisténcias Térmica e Condutdncia Térmica de paredes ou pavimentos
dispde-se, no LNEC, de um programa de céleulo automético [16] que utiliza as expressdes,
atrds deduzidas.
Faz-se contudo notar que estas expressdes s6 tém sentido nas condigbes admitidas, isto é,
desde que o fluxo de calor se mantenha wnidireccional e perpendicular ao elemento e que a
temperatura nas faces daquele se mantenha igual emi todos os pontos.. Embora estas
hipéteses sejam admissiveis para as zonas correntes dos elementos de construgzi, em geral
nfo se verificam podendo mesmo nalguns casos - nomeadamente em zonas de cunhal ou
de coroamento de paredes, ou quando o elemento ¢ composto por camadas paralelas a0
sentido do fluxo, com resisténcias térmicas substancialmente diferentes - atingir valores
apreciaveis a diferenga de temperatura entre zonas localizadas do elemento (zonas de
menor resisténcia térmica) e a zona corrente daquele, fendmeno que vulgarmente se
apelida de “ponte térmica" e que est na origem da maior parte das condensagdes que
correntemente se verificam, Na figura seguinte - Fig. 11.7 - apresenta-se a distribuigdo
superficial de temperaturas em zonas de elementos de construgéo exemplificativos dos
aspectos referidos (17).
‘Adiante mostrar-sc-4 como estes casos podem ser tratados.
Temperatura do ar no exterior -2°C
‘Temperatura do arno interior 18°C
Fig. IL.7 - Isotérmicas num cunhal de parede homogénea ¢ numa ponte térmica.
11.2.2 - Fluxo bi-dimencional
estudo dos casos acima indicados implica a consideragio da transmissio do calor nas
duas dimensdes do plano, o que se traduz - admitindo que o regime € permanente e nao ha
geragiio interna de calor - na resolug%o da equagéio:(11.26)
A resolugdo por via analitica desta equagdo é possivel para certas condig6es, geralmente
simples, de fronteira recorrendo ao auxilio da fungao de varidvel complexa [18]. Para além
daquela via pode encarar-se a resolugao por métodos analégicos (19, 20], gréficos (18, 21]
ou numéricos [22] que permitem resolver a generalidade dos casos - mesmo complicados -
que correntemente ocorrem. i
Um método muito generalizado € o das diferengas finitas e que adiante se descreve
Considere-se entdo um cunhal de parede homogénea e admita-se a sua sub-divisto numa
malha regular - Fig. I
+o
ay
Fig. IL8 - Determinagio da distribuigao de tempereturas num cunhal pelo método das
diferengas finitas.
A equagio diferencial que traduz. a distribuigdo de temperatures no interior da parede em
regime permanente é, como jé vimos
Fo #0
+he0 11.27)
at ay (27)
eas condigées de fronteira sio as conhecidas (6; ¢ 8,constantes),
Para um valor 8 da discretizacdo suficientemente pequeno, podemos escrever para o valor
da temperatura no ponto 0 utilizando o desenvolvimento em série de Taylor :
91.28)
(11.29)
donde desprezando termos de ordem superior
7
0446)=20,+ (@)« (30)
ou seja
0) _- 20) +0, +8,
(2) anBtas th asp
e de forma andloga (11.32)
oe) (3) 0) +8) +63 +8, -4
20) (2) 01 +0 +6 +0) -4 8 4 (133)
CS] aa] 8
ou simplesmente
8, +0; +0; +8, -4 6, =0 34)
Esta equago pode ser escrita para todos os pontos da malha, Conhecidas as condigdes de
frontcira, a solugo consiste na resolugdo dum sistema de n equagdes a n incdgnitas, que
pode ser facilmente realizado por um dos métodos correntemente utilizados com 0 recurso
20 clculo automatico [22],
Outra solugdo - correspondente a0 do denominado método de relaxagdio - consiste em
proceder de forma iterativa arbitrando uma distribuigéo inicial de temperaturas ¢
eajustando os residuos em cada ponto da malha - por aplicagao da expressio (11.34) ¢
divisio equitativa do residuo obtido pelos valores dos pontos que 0 contomam ~ até o
limite que se considerar conveniente.
Esta solugdo é inclusivamente passive de resolugao manual quando aplicavel a casos com
condigdes de fronteira simples e que no necessitem de uma discretizagao muito grande.
Outros métodos e aplicagdes so detalhadamente descritos na bibliografia indicada [18, 19,
20,21],IL3 - Condugho do calor em regime varidvel
Na transmisstio do calor em regime varidvel, isto é, quando a distribuigto de temperaturas
nos elementos varia com o tempo, importa distinguir duas situagSes : i) aquela em que a
variagfo se dé entre duas situagdes do regime permanente; ii) aquela outra em que a
vatiagao sucessiva, e em que normalmente se enquadram a generalidade das situagdes
que ocorrem na realidade.
Em qualquer dos casos 0 estudo consiste na resolugo da equago de "Fourier" na forma
getal apresentada em (II.11) ou mais simplificada em (11.12) ¢ com as condigdes de
fronteira traduzidas na fixagdo de fluxos ou temperaturas.
© seu estudo poderd ser realizado, & semelhanga do que se referiu para o regime
permanente, por via analitica - embora esta depare agora ainda com mais fortes restriges -
fou recorrendo a métodos de resolucdo limitando-se, regra geral, aos problemas
unidimensionais, excepto no caso dos métodos numéricos em que se refere a sua
generalizagio a problemas no plano e no espago. Sao estes iltimos os de aplicagtio mais,
generalizada nos nossos dias e que se apresentam de forma esquematica na figura seguinte
+ Fig. 11.9.
Factores de resposta Diferengas finitas
eee |
Sinal de base Resposta harm, Diferengas Belango térmico
Elementos finitos
Dee
Residduos pesados Principio variacional
Fee ee
Minimos| Cotocagio | | Geterkin eigh-Ritz
quadrados = ae
Fig. 11.9 - Métodos numéricos para estudo da transmissio de calor - representagfo
esquematica,
Pela sua facil compreensio descreve-se adiante o método das diferengas finitas.11.3.1 - Método das diferengas finitas
‘A aplicagio deste método consiste na substituigo da equagiio que rege a transmisstio do
calor por condugao (II.12) por uma igualdade de quantidades finitas que traduza aquele
fenémeno com a aproximagao requerida. Para tal seguem-se fundamentalmente duas vias
(23, 24, 25]:
i) Substituigo das derivadas em ordem ao tempo e a0 espago por valores aproximados ~
diferengas finitas - em geral obtidos a partir do desenvolvimento em série de Taylor da
fungiio negligenciando os termos de ordem superior;
ii) Formulagtio da equagdo’ do balango térmico entre nds adjacentes do- dominio
discretizado.
Considerando a primeira daquelas vias, as derivadas em ordem ao tempo ¢ 20 espago
podem ser aproximadas, respectivamente, por:
(35)
1 iste 280
a (1.36)
e substituindo na equagtio. (11.12), tomada aqui por simplificagéo na forma
unidimensional
(37)
obtém-se*
(11.38)
em que M=Ax? (At).
(0 método assim utilizado diz-se explicito por o valor do 6 no instante t+ at ser obtido a
partir de valores conhecidos no instante fe para ser estavel necessita que seja M22 - 0 que
representa uma limitagio aprecidvel pois para valores pequenos de x obriga a passos no
tempo muito apertados e, consequentemente, a volume de célculo considerdvel.
Se para a derivada em ordem ao tempo se utilizar a diferenga em atraso
8 0 método assim descrito corresponde & elaboragdo de Dusinberee [26]
Fazendo M=2 vem: 0,424 = (tei, ~ Oi-ia)/2» Que traduz numericamente 0 método gréfico de Binder —
Schmit [2, 27] muito divulgado no principio do século, nos estudos de térmica dos edificios.en
i, = (1139)
1 substituigfio na equagio (11.37) dard lugar a
Bi-tteds — 20ic08s + Bietieeae =M Oi rear ~ 80) (40)
0 valor de’ 6 s6 pode ser obtido a partir da resolugdo dum sistema de equagdes em cada
intervalo de tempo, pelo que o método se diz. implicito ¢ ¢ incondicionalmente estavel.
Multiplicando por F (0s F s1) a equagio (11.40) e por (1-F) a equagaio ({1.38) e somando-as
obtém-se nova formulagZo na forma’:
: 8m)
+0=FICr2 2641 #8in.)* <2 Presa ~8ue) aa)
que é estavel para valores de F 21/2 e, obviamente, im;
‘A outra via referida para resolugdo da equagfo (11.37) pelo método das diferengas finitas
parte da formulagao da equagao do balango térmico no nd, e a qual é tratada com grande
detalhe em bibliografia referida [25, 28, 29).
9 Fazendo
/2 obtém-se a formulagio preconizada por Cranck e Nicholson.II - TRANSMISSAO DO CALOR POR CONVECCAO
IIl.1 - Convecgdo natural e forgada. Regime laminar e regime turbulento
No capitulo anterior referiu-se que a transmissio do calor por condugdo se traduzia por um.
transporte de energia dentro dos corpos, em geral sblidos, sem movimento destes embora
provocado pela agitagtio molecular no seu anterior.
Nos fluidos - gases ou liquidos - aquela forma de transmissfo sé tem lugar em certas
condigdes pois, em geral, estes encontram-se em movimento, O calor é assim transportado
pelas particulas do fluido em movimento - correntes de fluido.e nfo s6 agitagdo molecular
= € 8 esta forma de transmissio da-se o nome de conveceao.
A transmissio de calor nos fluidos é assim devida a um misto de condug&o e convec¢ao
particularmente quando se trata de trocas de calor entre um sélido e um fluido.
O estudo da transmissao do calor por convecgaio envolve entio maiores dificuldades que o
da condugtio pois implica o estudo simultfneo do processo de transferéncia de energia e do
movimento do fluido.
Para este estudo podem seguir-se duas vias (1]! :
i) 0 fluido pode ser considerado como um conjunto de particulas - moléculas,
toms, ete. - as quais se aplicam as leis da mecdnica ¢ da termodinamica para a
discussio do seu movimento ¢ transporte de energia;
IID 0 fluido pode ser considerado como continuo ¢ as leis referidas aplicam-se a
trocos do fluido - ignorando as particulas simples - de molde a determinar os
pardmetros descritivos do movimento e transmissao daqueles trogos.
E esta segunda via a usualmente empregue, dada a sua maior facilidade e por responder s
necessidades requeridas
Todavia a informagdo nao & completa ¢ carece-se da introdugdo de certos parémetros
empiricos, tendo assim grande importincia 0 conhecimento da mecénica dos fluidos para 0
estudo desta forma de transmissao.
© movimento do fluido pode ser devido apenas as diferengas de pressdo existentes
induzidas por gradientes térmicos estabelecidos ¢ entio diz-se que a convecedo é natural;
s¢ 0 movimento do fluido é devido @ causas externas - ventos, bombagem, etc., - diz-se que
a convecedo ¢ foreada
1 As duas vias assinaladas correspondem, respectivamente, aos modelos de antlise Lagrangiano ¢ Eulerian
voliardo a ser referidas mais frente quando se deduzirem as equagbes gerais do movimento e da energia.Neste tiltimo caso se as velocidades so fracas e nfo ocorrem variagées brusces das
velocidades das particulas dos fluidos, quer em grandeza, quer em duragdo, 0 movimento
do fluido realiza-se por filetes de laminas paralclas e 0 regime classifica-se de laminar; se
pelo contrario ocorem aquelas variagées bruscas de velocidade no interior do fluido o
regime diz-se turbulento,
Na conveego forgada em que é em geral conhecido 0 movimento do fluido 0 estudo do
regime laminar pode ser tratado por via analitica admitindo como hipdtese que se trata de
um meio continuo; j4 0 estudo do regime turbulento carece do recurso a métodos
aproximados, ¢ até empiticos. Na convecgdo natural o fenémeno complica-se porquanto 0
movimento do fluido depende unicamente do fedmeno térmico,
Analisar-se-Zo seguidamente alguns aspectos concementes & transmisséio por convecgto
tendo em atengdio as situagSes que ocorrem frequentemente em edificios.
111.2 - Camada limite
No estudo da transmissiio de calor entre a superficie de um sélido e um fiuido em
movimento tem primordial importincia uma camada do fluido que se mantém
praticamente aderente a superficie ¢ que vai condicionar a transmissio.
‘A existéncia dessa camada deve-se as tensées tangenciais provocadas pela viscosidade do
fluido, Um fluido diz-se Newtoniano se existir proporeionalidade entre as tensdes e os
gradientes de velocidade do fluido, ou taxas de deformago2, Neste texto apenas os fluidos
Newtonianos sero considerados.
Assim, se se considerar que 0 movimento do fluido é paralelo (por filetes) & superficie
sélida - Fig. IIL.1 - 0 valor dessas tensdes sera dado por:
apes diay
7 ay
em que:
¥
7 + tens%o tangencial;
u - viscosidade dinamica do fluido;
rs v—velocidade do fluido,
WOOTIITT
Fig. IIL.1 - Distribuigdo. da velocidade do fluido junto & superficie.
? Ao contriio dos sélidos, um fluido deforma-se continuamente sob a acgdo de una forga exterior, Esta
partcularidade destaca a importincia de se estudarem nos Muidos taxes de deformagio em lugar de
deformagies, simplesmente,fenémeno é todavia mais complexo que o acima referido, podendo exemplificar-se do
modo seguinte:
Admita-se que o "ataque” dum fluido a uma parede plana se faz no seu inicio com
distribuiggo uniforme de velocidade e paralela 4 parede - Fig, 111.2.
Fig. IIT.2 - Distribuigio de velocidades na camada limite,
‘Na parte inicial da parede o regime na camada limite é laminar e a velocidade do fluido
varia rapidamente de 0 - junto superficie - a u,, valor médio da velocidade do fluido na
zona n&o perturbada do escoamento; a partir de certa distancia x, 0 escoamento é mais
complexo sendo na camada limite quase na totalidade turbulento com excepgzo duma
pequena subcamada em que se mantém laminar,
O valor de xe ocorre em geral para
bake
wp
Re>N (U2)
u, — velocidade média do fluidos
Xe— distncia ao inicio da parede a que se di a transig&o do regime;
v =p1/p ~ viscosidade cinematica (p - massa especifica);
Re — parémetro adimensional (niimero de Reynolds).
Este pardmetro adimensional - Re - determinado por Reynolds (1874) e como te
correntemente designado por nimero de Reynolds, pode assumir diversos valores na zor
de transigtio. Cadiergues [2] indica para o caso presente valores da ordem de 2.10° a 3.10":
Eckert [1] ¢ Simonson [3] 0 valor de 5.10%, Todavia, eles variam de caso para caso de
acordo com a rugosidade da superficie, 0 grau de turbuléncia © a configuragto da
extremidade da superficie considerada (adiante apresentar-se-4o desenvolvimentos teéricos
deste processo).I1L3 - Lei de Newton
A semelhanga da transmisstio de calor por condugdio, também a transmisséo por convec¢o
se pode traduzir por uma expresso linear - devida a Newton - que relaciona o fluxo de
calor transmitido entre 0 sélido e 0 fluido e a diferenga de temperaturas a que se
encontram, isto é, se for S a superficie do sélido em contacto com o fluido a temperaturas
respectivamente de 6, e 0, - Fig. IJI.3 - 0 fluxo de calor Q trocado entre si sera dado por:
4 (Huido)
1S(0, 8) (HIL.3)
Serer eer ere ere
Fig. 1IL3 - Trocas de calor por convecgao.
em que h, € 0 coeficiente de condutincia térmica superficial por conveceao.
Embora sabendo-se que este coeficiente nao € constante - pois depende de varios factores
nomeadamente: do tipo de regime da convecgio, do tipo de fluidos, da diferenga de
temperaturas existentes, etc. - a sua utilizagio & correntemente aceite e, nos casos priticos
cortentes, os eros cometidos de 0 considerar constante dentro de dados limites, nao sto
significativos.
A determinagfo do valor de he - que traduz afinal o principal problema da transmisséo por
convecsio - pode fazer-se por via analitica, por andlise dimensional (teoria da semelhanga)
‘ou ainda recorrendo a expresses empiricas resultantes da recolha de observagdes
experimentais.
A via analitica € relativamente limitada dado exigir certas hipéteses simplificativas -
movimento do fluido conheeido, escoamento laminar, assimilagao do fluido a um meio
continuo ete. - aplicando-se em geral & conveegio forgada em regime laminar; permite, por
outro lado, a extensio do estudo ao regime turbulento e & conveogao natural através da
anélise dimensional,
Nas figuras seguintes - Figs. IIL4 e ILS - apresentam-se os valores do cocficiente de
condutincia térmica superficial por conveesiio para os casos com interesse no estudo da
térmica de edificios procedendo-se nos pardgrafos seguintes aos desenvolvimentos teéticos.
gue conduzem & sua determinagio.
“tFig. I14 - Valores de conduténcia térmica superficial por convecsdo em fungdo da
velocidade do ar.
Velecidede de er (mind
MiSSeNARO
<= BROWN
MAC ADAMS:
|
=<
La
i
|
a
a
Fig. HLS - Valores da conduténcia térmica superficial por convecgio em fungao da
diferenga de temperatures
20 25 30
sereIV -TRANSMISSAO DO CALOR POR RADIACAO
IV.1 - Radiagio térmica, Absorgao, reflectividade e transmissividade
Todos os corpos emitem - e, de forma semelhante, absorvem - radiagbes electromagnéticas
de diversos comprimentos de onda com uma intensidade que € fung&o da temperatura
absoluta a que se encontram e do estado da sua superficie. A esta forma de transmisséo do
calor designa-se por radiagio térmica.
© mecanismo da transmisstio do calor por radiagdo pode Ser encarado como um transporte
de energia por fotdes emitidos pela excitagdo de moléculas ou atomos do material ou,
alternativamente, pode ser assimilado a wm transporte de energia pos ondas
clectromagnéticas. A radiacio térmica, contudo, abrange um dominio limitado do espectro
total das radiagdes electromagnétices: enquanto este sitimo compreende zadiagbes com
comprimentos de onda de 10" metro - regido dos raios césmicos - até 2.104 metro - regio
das ondas Hertzianas - a radiagio térmica compreende apenas os valores correspondentes
ao intervalo 107 metro / 10” metro e na generalidade dos processos que ocorrem na pratica
aqueles valores situam-se entre 0.3 e 10 pm (Fig. TV.1)',
hem em
10°
p08 ‘Ondas de
radio
rot
19?
——_—_ }infaveretios
Raciagio dh
lamia. 22227 Piswswess Ratlagio visivel
10? ‘Uttravioletas
gt Rae
us } Raios
Fig, IV.1 — Comprimento de onda de radiagdes electromagnéticas.
As trocas de calor entre dois corpos por radiago da energia que emitem e/ou absorvem
dependem entio das temperaturas absolutas a que se encontrem, do estado das suas
superficies ¢ ainda da posi¢dio de um em relagio ao outro.
‘A uma dada temperatura a quantidade total de energia emitida por um corpo nio se
distribui uniformemente pelas radiagdes correspondentes aos vérios comprimentos de onda
ig. 1V.2).
“1 micron =p = 10"%Fig. IV.2 - Energia em fungio do comprimento de onda.
Por outro lado, sempre que um corpo recebe energia radiante, dé-se, em geral, uma
absorgio de parte dessa energia - que cleva a temperatura do corpo - uma reflexfo de outta
parte ¢ a transmissdo da parte restante (Fig, IV.3).
Designam-se respectivamente por coeficientes de absoreio a jtefexio p {ou
reflectividade) ¢ transmissividade § as relagdes entre as energias absorvida, reflectida
transmitida, com a energia incidente, ou seja :
bik av.l)
e, evidentemente a+tp+8=1 av.2)
[#6
Fig. IV.3 ~ Energias incidente, reflectida, absorvida e transmitida,
Quando os corpos so opacos, ndo ha portanto transmissio ($=0), e a expresso anterior
simplifica-se
a+p=l (v3)
Em geral os valores de « © B dependem da temperatura do corpo e diferem ainda para
radiagSes com diferente comprimento de onda (variando ainda com o angulo de
incidéncia)Apresentam-se nas figuras seguintes - Figs. IV.4 a IV.6 - valores da reflectividade de
algumas superficies em fungio do comprimento de onda da radiagio, distribuigdo
percentual da energia que atinge uma vidraga normal em fungdo do Angulo de incidéncia e
valores da transmissividade para alguns tipos de vidros, utilizados em edificios, em fungio
do comprimento de onda da radiagao.
REFLECTIVIDADE, P
LO 7 aaa oe
Tr . a
0.8} Li 7
- “TN rH
V! \ Espectro| + | Het
Ni | sac]
° .
= 1 { 1
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ONG preeremtenl |
NT AT TEN |
02 t +t t
NT Renta DST
Neer SE
o 1 #34 5 8 > 8 9 w
Fig. IV.4 - Coeficiente de
COMPRIMENTO OE ONDA (Kn?
PERCENTAGEM (ie)
109;
80]
60]
40!
20)
Fig, IV.S - Distribuigio percentual da energia incidente em vidros simples em fungao do
Angulo de incidéncia (1,3)
reflectividade em fungdo do comprimento deonda [1,2]
Cesel (A
te
--~+~—_| 4 enacts,
date htt
—— Vidraga de 3mm
vie esta gee
30 6-90
ANGULO OE INCIDENCIA (+)IV.2 - Corpos negros, corpos cinzentos e corpos niio-negros
A generalidade dos materiais tm, como vimos, valores da absorcfio « ¢ da reflectividade
P que variam significativamente com o comprimento de onda da radiago considerada,
Contudo, € ttil para o estudo da radiagdo térmica a consideragdio de corpos ideais cujo
valor da absorgao seja independente do comprimento da onda de radiagdo que sobre eles
incida, Denomine-se por corpo-neero 0 corpo nessas condigdes que absorve a totalidade de
energia sem reflectir qualquer fracgdo, isto & cujo valor de absorgio para todos os
comprimentos de onda se traduz por a, =1, VA. Denomina-se de corpo cinzento aquele
cujo valor de absorgas se traduz por «,=K, VA, com 0