ISAÍAS 1:1
João Calvino
1. Visão de Isaías. A palavra hebraica Nwzx (chazon,) embora derive
de hzx, (chazah,) ele viu, e literalmente seja uma visão, significa
comumente uma profecia. Porque quando a Escritura faz menção de
visões especiais exibidas aos profetas de uma maneira simbólica,
quando era vontade de Deus que algum evento extraordinário
devesse receber confirmação, em tais casos a palavra Tibet, (harm,)
visão, é empregada. Para não multiplicar as citações, em uma
passagem relacionada à profecia em geral o escritor diz que, a
palavra de Deus era preciosa porque Nwzx, (chazon,) visão raramente
ocorria. (1 Samuel 3:1.) Pouco depois, a palavra harm: (mar-ah) é
empregada para denotar a visão pela qual Deus se revela a Samuel.
(1 Samuel 3:13.) Distinguindo entre dois métodos ordinários de
revelação, uma visão e um sonho, Moisés fala de uma visão (harm)
como um método especial (Números 12:6.) É bastante claro,
portanto, que, vidente, harh, (haroeh,) que era o nome antigamente
dado aos profetas, (1 Samuel 9:9;) conferia-lhes certa excelência,
porque Deus revelou a eles sua vontade de um modo particular.
Tal como relatada na presente passagem, esta palavra
inquestionavelmente denota a veracidade da pregação; como se
estivesse dizendo que este livro não contém nada além daquilo que
foi feito conhecido a Isaías pelo próprio Deus. A derivação da
palavra, portanto, merece atenção; porque aprendemos com isto que
os profetas não falaram aquilo que acharam por bem, ou o que lhes
vinha na cabeça, mas eles estavam iluminados por Deus, que lhes
abriu os olhos para perceber àquilo que, do contrário, eles nunca
compreenderiam por si mesmos. Assim a epígrafe de Isaías nos
orienta sobre o ensino deste livro, como desprovido de raciocínio
humano, mas contendo os oráculos de Deus, para nos convencer de
que ele não contém nada além do revelado pelo Espírito de Deus.
A respeito de Judá. Se interpretássemos isto como Judá, faria pouca
diferença, pois a preposição le (al) possui ambos os significados, e o
sentido ainda seria que tudo contido ao longo deste livro diz
respeito estritamente a Judá e Jerusalém. Porque embora muitas
coisas abranjam e se relacionem com a Babilônia, Egito, Síria, e
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outras cidades e nações, contudo não era necessário que esses
lugares fossem expressamente enumerados no título; pois nada mais
era requerido além de anunciar o assunto principal, e explicar a
quem Isaías estava sendo prioritariamente enviado, isto é, a
Jerusalém, e aos Judeus. Tudo o mais que possa estar contido em suas
profecias além deste assunto deve ser encarado como casual e alheio
a ele.
Porém, não era incompatível com seu ofício fazer conhecido às
outras nações as calamidades que elas deveriam colher; do mesmo
modo que Amós não vai além dos limites de seu chamado quando
não poupa os judeus, embora não tivesse sido enviado a eles. (Amós
2:4, 5). Um exemplo ainda mais familiar é encontrado no chamado
de Pedro e Paulo, o primeiro tendo sido designado aos judeus, e o
último aos gentios. (Gálatas 2:8.) E nem por isso Pedro se excedeu
nos limites de seu ofício, por conta da pregação aos gentios; como,
por exemplo, quando foi a Cornélio: (Atos 10:17) nem o fez Paulo,
quando ofereceu seus serviços aos judeus, a quem ele
imediatamente se dirigia tão logo entrasse em qualquer cidade.
(Atos 13:5; 14:1; 17:2, 10,; 18:4,19.) Sob o mesmo prisma devemos ver
Isaías; pois enquanto cuidava de instruir aos judeus, e dirigir seus
trabalhos expressamente com este objetivo, ele não transgrediu seus
próprios limites quando também notificou de passagem a outras
nações.
Judá e Jerusalém. Ele toma Judá como a nação inteira, e Jerusalém
como a principal cidade do reino; pois ele não distingue entre
Jerusalém e os judeus, mas a menciona devido à sua eminência, (kat j
ejxoch<n,) por ser a metrópole, como um profeta que hoje fosse
enviado à França, e à Paris, que é a metrópole da nação. E era de
grande importância que os habitantes de Jerusalém não se
considerassem isentos, como se estivessem livres de culpa, ou acima
das leis devido a seu alto nível, sentindo-se no direito de
menosprezar os que se apresentassem como simples profetas para
instruí-la. Porém, é um engano supor que esta Jerusalém é
mencionada separadamente por estar situada na tribo de Benjamim;
porque em meio às tribos que estavam sujeitas à posteridade de
Davi inclui-se o nome de Judá.
Tradução: Márcio Santana Sobrinho.
Fonte: Commentary on The Prophet Isaiah.
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