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Aula 4 - Inq Polic

O inquérito policial é um procedimento investigatório realizado pela polícia sob presidência do delegado, tem caráter inquisitivo e sigiloso, e visa apurar circunstâncias, materialidade e autoria de infrações penais. O defensor tem acesso aos autos do inquérito.
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O inquérito policial é um procedimento investigatório realizado pela polícia sob presidência do delegado, tem caráter inquisitivo e sigiloso, e visa apurar circunstâncias, materialidade e autoria de infrações penais. O defensor tem acesso aos autos do inquérito.
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INQUÉRITO POLICIAL

São as seguintes as características próprias do inquérito policial.

a) Ser realizado pela Polícia Judiciária (Polícia Civil ou Federal). A presidência do inquérito fica
a cargo da autoridade policial (delegado de polícia ou da Polícia Federal) que, para a realização
das diligências, é auxiliado por investigadores de polícia, escrivães, agentes policiais etc. De
acordo com o art. 2º, § 1º, da Lei n. 12.830/2013, “ao delegado de polícia, na qualidade de
autoridade policial, cabe a condução da investigação criminal por meio de inquérito policial ou
outro procedimento previsto em lei, que tem como objetivo a apuração das circunstâncias, da
materialidade e da autoria das infrações penais”.

A própria Constituição Federal trata do tema. O seu art. 144, § 1º, estabelece que a Polícia
Federal destina--se a apurar as infrações penais contra a ordem política e social ou em
detrimento de bens, serviços ou interesses da União ou de suas entidades autárquicas ou
empresas públicas, assim como outras infrações cuja prática tenha repercussão interestadual
ou internacional e exija repressão uniforme, segundo o que a lei dispuser. Cabe, dessa forma, à
Polícia Federal investigar todos os crimes de competência da Justiça Federal, bem como os
crimes eleitorais.

Já o art. 144, § 4º, da Constituição diz que às Polícias Civis (de cada Estado), dirigidas por
delegados de polícia de carreira, incumbem, ressalvada a competência da União, as funções de
polícia judiciária e a apuração de infrações penais, exceto as militares. A exigência de que o cargo
de delegado seja exercido por autoridade de carreira pressupõe que sejam concursados, não
sendo mais possível a nomeação de delegados de polícia, sem concurso, por autoridades
políticas.

Os membros do Ministério Público podem acompanhar as investigações do inquérito (art. 26,


IV, da Lei n. 8.625/93) e até instaurar procedimentos investigatórios criminais na promotoria.
Contudo, se instaurado inquérito no âmbito da Polícia Civil, a presidência caberá sempre ao
delegado de polícia e, em hipótese alguma, a órgão do Ministério Público.

O fato de determinado promotor de justiça acompanhar as investigações do inquérito não o


impede de propor a ação penal, não sendo considerado, por tal razão, suspeito ou impedido.
Nesse sentido, a Súmula n. 234 do Superior Tribunal de Justiça: “a participação de membro do
Ministério Público na fase investigativa criminal não acarreta seu impedimento ou suspeição
para o oferecimento da denúncia”.

Quando ocorrer crime militar, será instaurado inquérito policial militar, de responsabilidade da
própria Polícia Militar ou das Forças Armadas (dependendo do autor da infração). Igualmente
não será instaurado inquérito policial, quando for cometido crime por membro do Ministério
Público ou juiz de direito, hipóteses em que a investigação ficará a cargo da própria chefia da
Instituição ou do Judiciário.
b) Caráter inquisitivo. O inquérito é um procedimento investigatório em cujo tramitar não
vigora o princípio do contraditório que, nos termos do art. 5º, LV, da Constituição Federal, só
existe após o início efetivo da ação penal, quando já formalizada uma acusação admitida pelo
Estado-­juiz. A propósito: “Inexiste nulidade do interrogatório policial por ausência do
acompanhamento do paciente por um advogado, sendo que esta Corte acumula julgados no
sentido da prescindibilidade da presença de um defensor por ocasião do interrogatório havido
na esfera policial, por se tratar o inquérito de procedimento administrativo, de cunho
eminentemente inquisitivo, distinto dos atos processuais praticados em juízo. (HC 162.149/MG,
Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, 5ª Turma, julgado em 24.04.2018, DJe 10.05.2018)” (STJ — HC
446.977/SP — 5ª Turma — Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca — julgado em 22.05.2018 —
DJe 30.05.2018).

Apesar do caráter inquisitivo, que torna desnecessário à autoridade policial intimar o


investigado das provas produzidas para que possa rebatê--las, é possível que ele proponha
diligências à autoridade ou apresente documentos que entenda pertinentes, cabendo à
autoridade decidir acerca da realização da diligência solicitada ou juntada do documento. A lei
faculta, ainda, a apresentação durante a investigação, por parte do advogado do investigado, de
quesitos relacionados à realização de prova pericial (art. 7º, XXI, a, da Lei n. 8.906/94).

A própria vítima da infração penal também possui esse direito de requerer diligências. Com
efeito, estabelece o art. 14 do Código de Processo Penal que “o ofendido, ou seu representante,
e o indiciado poderão requerer qualquer diligência, que será realizada, ou não, a juízo da
autoridade”. Em caso de indeferimento, a parte poderá posteriormente requerer a providência
ao juiz ou ao promotor de justiça, uma vez que a autoridade policial é obrigada a cumprir as
determinações dessas autoridades lançadas nos autos.

Justamente por não abrigar o contraditório é que o inquérito não pode constituir fonte única
para a condenação, sendo sempre necessária alguma prova produzida em juízo para embasar a
procedência da ação penal. Tal entendimento, que se encontrava pacificado na jurisprudência,
consagrou-se legalmente com o advento da Lei n. 11.690/2008 que conferiu nova redação ao
art. 155, caput, do Código de Processo Penal estabelecendo que “o juiz formará sua convicção
pela livre apreciação da prova produzida em contraditório judicial, não podendo fundamentar
sua decisão exclusivamente nos elementos informativos colhidos na investigação, ressalvadas
as provas cautelares, não repetíveis e antecipadas”.

É evidente que o caráter inquisitivo do inquérito não torna possível à autoridade policial realizar
diligências ilegais, como escutas telefônicas clandestinas, torturas para a obtenção de provas ou
confissões, ou outras similares, sob pena de responsabilização criminal e nulidade da prova
obtida de forma ilícita.

O art. 2º, § 4º, da Lei n. 12.830/2013 estabelece que o inquérito policial ou outro procedimento
previsto em lei em curso somente poderá ser avocado ou redistribuído por superior hierárquico,
mediante despacho fundamentado, por motivo de interesse público ou nas hipóteses de
inobservância dos procedimentos previstos em regulamento da corporação que prejudique a
eficácia da investigação.
c) Caráter sigiloso. De acordo com o art. 20 do Código de Processo Penal, “a autoridade
assegurará no inquérito o sigilo necessário à elucidação do fato ou exigido pelo interesse da
sociedade”. Resta claro, pela leitura do dispositivo, que sua finalidade é a de evitar que a
publicidade em relação às provas colhidas ou àquelas que a autoridade pretende obter
prejudique a apuração do ilícito.

Essa norma, entretanto, perdeu parte substancial de sua utilidade na medida em que o art. 7º,
XIV, da Lei n. 8.906/94 (EOAB), modificado pela Lei n. 13.245/2016, estabelece o direito de o
advogado “examinar, em qualquer instituição responsável por conduzir investigação, mesmo
sem procuração, autos de flagrante e de investigações de qualquer natureza, findos ou em
andamento, ainda que conclusos à autoridade, podendo copiar peças e tomar apontamentos,
em meio físico ou digital”. Saliente-se, ademais, que a Súmula Vinculante n. 14 do Supremo
Tribunal Federal estabelece que “é direito do defensor, no interesse do representado, ter acesso
amplo aos elementos de prova que, já documentados em procedimento investigatório realizado
por órgão com competência de polícia judiciária, digam respeito ao exercício do direito de
defesa”. Esta súmula deixa claro que os defensores têm direito de acesso somente às provas já
documentadas, ou seja, já incorporadas aos autos. Essa mesma prerrogativa não existe em
relação às provas em produção, como, por exemplo, a interceptação telefônica, pois isso,
evidentemente, tornaria inócua a diligência em andamento. O próprio art. 7º, § 11, do Estatuto
da OAB ressalva que a autoridade responsável pela investigação poderá delimitar o acesso do
advogado aos elementos de prova relacionados a diligências em andamento e ainda não
documentados nos autos, quando houver risco de comprometimento da eficiência, da eficácia
ou da finalidade das diligências. Isso porque, conforme mencionado, algumas diligências
efetuadas durante a investigação pressupõem sigilo absoluto, sob pena de se frustrarem seus
objetivos ou de colocarem em risco a segurança dos policiais nelas envolvidos, como ocorre nos
casos de infiltração de agentes da polícia ou de inteligência em tarefas de investigação de
organizações criminosas (art. 23, caput, da Lei n. 12.850/2013) ou de interceptação telefônica
(art. 8º da Lei n. 9.296/96).

Constitui crime de abuso de autoridade descrito no art. 32 da Lei n. 13.869/2019, negar ao


interessado, seu defensor ou advogado acesso aos autos de investigação preliminar, ao termo
circunstanciado, ao inquérito ou a qualquer outro procedimento investigatório de infração
penal, civil ou administrativa, assim como impedir a obtenção de cópias, ressalvado o acesso a
peças relativas a diligências em curso, ou que indiquem a realização de diligências futuras, cujo
sigilo seja imprescindível. A pena é de detenção, de 6 meses a 2 anos, e multa.

Além de ter acesso aos autos, o defensor também poderá estar presente no interrogatório do
indiciado e na produção de provas testemunhais. Não poderá, contudo, fazer reperguntas, dado
ao caráter inquisitivo do inquérito. A presença do advogado em tais oitivas confere maior valor
aos depoimentos, pois é comum que os réus, após confessarem o crime perante o delegado,
aleguem em juízo que o documento foi forjado ou que foram forçados a confessar. A presença
do defensor no interrogatório, entretanto, retira a credibilidade dessas afirmações do acusado.
d) É escrito. Os atos do inquérito devem ser reduzidos a termo para que haja segurança em
relação ao seu conteúdo.

Segundo o art. 9º do CPP, “todas as peças do inquérito policial serão, num só processado,
reduzidas a escrito ou datilografadas e, neste caso, rubricadas pela autoridade”. Saliente-se,
todavia, que o art. 405, § 1º, do CPP, com a redação que lhe foi dada pela Lei n. 11.719/2008,
dispõe que o registro do depoimento do investigado, indiciado, ofendido e testemunhas,
sempre que possível, será feito por meio de gravação magnética (inclusive audiovisual), sem a
necessidade de posterior transcrição (art. 405, § 2º). Assim, embora a maior parte dos atos
inquisitoriais seja escrito (art. 9º), pode-se dizer que, em razão da regra do art. 405, §§ 1º e 2º,
tal procedimento não é exclusivamente escrito.

e) É dispensável. A existência do inquérito policial não é obrigatória e nem necessária para o


desencadeamento da ação penal. Há diversos dispositivos no Código de Processo Penal
permitindo que a denúncia ou queixa sejam apresentadas com base nas chamadas peças de
informação, que, em verdade, podem ser quaisquer documentos que demonstrem a existência
de indícios suficientes de autoria e de materialidade da infração penal. Ex.: sindicâncias
instauradas no âmbito da Administração Pública para apurar infrações administrativas, onde
acabam também sendo apurados ilícitos penais, de modo que os documentos são
encaminhados diretamente ao Ministério Público. Ora, como a finalidade do inquérito é
justamente colher indícios, torna--se desnecessária sua instauração quando o titular da ação já
possui peças que permitam sua imediata propositura.

O art. 28 do Código de Processo Penal expressamente menciona que o Ministério Público, se


entender que não há elementos para oferecer a denúncia, deverá promover o arquivamento do
inquérito policial ou das peças de informação. Quanto às últimas, entretanto, se o Ministério
Público considerar que as provas contidas nas peças de informação são insuficientes, mas que
novos elementos de convicção podem ser obtidos pela autoridade policial em diligências,
poderá requisitar a instauração de inquérito policial, remetendo à autoridade as peças que estão
em seu poder.

Da mesma maneira, o art. 39, § 5º, do Código de Processo Penal prevê que o órgão do Ministério
Público dispensará o inquérito, nos crimes de ação pública condicionada, se com a
representação forem apresentados documentos que habilitem o imediato desencadeamento da
ação.

Por fim, o art. 40 do Código de Processo prevê que os juízes e os tribunais encaminharão cópias
e documentos ao Ministério Público quando, nos autos ou papéis que conhecerem no
desempenho da jurisdição, verificarem a ocorrência de crime de ação pública. O Ministério
Público, ao receber tais peças, poderá, de imediato, oferecer denúncia, ou, se entender que são
necessárias diligências complementares, requisitá--las diretamente ou requisitar a instauração
de inquérito policial, remetendo à autoridade as peças que se encontram em seu poder.

Observação: De acordo com o disposto no art. 14-A do CPP, introduzido pela Lei n. 13.964/2019
(Pacote Anticrime), nos casos de inquéritos policiais e demais procedimentos extrajudiciais em
que figurem como investigados servidores vinculados às forças policiais — polícia federal, polícia
rodoviária federal, polícia ferroviária federal, polícias civis, polícias militares e corpos de
bombeiros militares, bem como polícias penais federal, estaduais e distrital —, cujo objeto seja
a apuração de fatos relacionados ao uso de força letal praticados no exercício profissional, de
forma consumada ou tentada, o investigado deverá ser cientificado da instauração do
procedimento, podendo constituir defensor em até 48 horas.

Não havendo constituição de defensor pelo servidor no prazo legal, o delegado de polícia ou
outra autoridade responsável pela investigação deverá notificar a instituição a que estava
vinculado o investigado, para que, também em 48 horas, indique defensor para representá-lo,
hipótese em que o encargo recairá, preferencialmente, sobre a Defensoria Pública (art. 14-A, §
3º) e, somente na sua falta, sobre profissional disponibilizado e custeado pelo ente federativo a
que pertencer a instituição integrada pelo servidor investigado (art. 14-A, §§ 4º e 5º).

Fonte: Disponível em:


<https://integrada.minhabiblioteca.com.br/reader/books/9786553623101/epubcfi/6/20[%3Bv
nd.vst.idref%3Dmiolo7.xhtml]!/4/4/64/1:268[a%C3%A7%C3%A3%2Co.]> Acesso em: 28 de fev
de 2024

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