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Fevereiro, 2021
1. Introdução
Em fevereiro de 2020, os primeiros casos do novo Coronavírus foram detectados no Brasil. As medidas
adotadas, pelos entes nacionais e entidades privadas, para estimular o isolamento social e combater
a infecção incluem restrição de viagens, fechamento de escolas e comércio, restrição a atividades
produtivas e nos casos mais extremos lockdowns com restrição à movimentação da população. Essas
medidas, junto com a mortalidade e morbidade da pandemia em si, claramente causam grande impacto
na economia como um todo, e, mais particularmente, no mercado de trabalho.
Esse relatório busca criar um panorama do comportamento da economia e do mercado de trabalho
brasileiros ao longo da pandemia, bem como das políticas adotadas em nível federal para combater
seus efeitos. De forma a melhor entender os efeitos da crise atual, e sua possível evolução, o texto inclui,
quando possível, dados e análises da crise de 2015 a 2017 que ocorreu no Brasil e da qual o país ainda se
recuperava até o início da pandemia de 2020.
A Seção 2 usa indicadores da economia agregada e do mercado de trabalho para analisar os efeitos da
pandemia do novo Coronavírus e, quando possível, compará-los com a recessão de 2020. Foram usados
dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE), e dos registros administrativos do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados
(CAGED) e da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), provenientes do Ministério da Economia, para
* Esse informe técnico foi preparado pelo pesquisador Felipe Mendonça Russo, no âmbito de uma consultoria prestada ao Escritório da OIT no Brasil.
Os trabalhos foram orientados pelo pesquisador do IPEA Carlos Henrique Corseuil. Fabio Bertranou (Diretor da OIT para o Cone Sul) e Martin Hahn
(Diretor da OIT Brasil) promoveram uma discussão em nível regional sobre o texto. Roxana Mauricio (Consultora da OIT Chile) e Andréa Bolzon (OIT
Brasil) comentaram e editaram a versão final que recolhe os subsídios das discussões empreendidas.
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A Tabela 1 mostra o PIB brasileiro pelo lado da demanda, para o 2º trimestre dos anos de 2015 a 2020.
A crise atual se diferencia da recessão de 2015 por apresentar uma queda mais forte e diversa entre os
componentes do indicador. A recessão anterior afetou principalmente o investimento e o consumo das
famílias, já a crise atual contabiliza grandes perdas em todos os componentes, exceto na exportação.
Além disso, todas as quedas em 2020 foram mais significativas que as registradas na recessão anterior.
O principal componente, Consumo das Famílias, diminuiu 13,5% em relação ao ano anterior, mais que o
dobro do valor de 2016 enquanto o componente de investimento apresentou uma queda similar entre as
duas crises.
XX Tabela 1. Variação do PIB pelo lado da demanda, variação com o mesmo trimestre do ano anterior (%)
Formação Bruta de Capital Fixo -12,2 -10,7 -7,5 2,6 5,4 -15,2
Calvacanti et al. (2020), utilizando Indicador Ipea mensal de Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF),
desagrega o último trimestre do PIB e sugere uma recuperação a partir de maio. Mas alerta para
a dificuldade das autoridades na “transição das medidas excepcionais de política voltadas para a
preservação de empregos, renda e produção (...), para um regime de política que continue a prover
suporte ao setor produtivo e assistência aos mais necessitados, mas seja fiscalmente sustentável”.
O Gráfico 2 mostra as estimações mensais do Banco Central para a economia brasileira por meio do
Índice de Atividade Econômica do Banco Central - IBC-Br. O índice utiliza diversos indicadores econômicos
como proxies para setores da economia na estrutura do Sistema de Contas Nacionais que o PIB utiliza1.
Dessa forma pode ser visto como uma aproximação de um “PIB mensal”, ideal para nossa análise da crise
do novo Coronavírus, que evolui de forma muito rápida.
Até fevereiro de 2020, a economia agregada seguia uma tendência levemente positiva, com um outlier
em maio de 2018 devido à greve dos caminhoneiros. Apesar disso, a economia não havia chegado aos
níveis de 2014, quando houve a pré-recessão de 2015. A partir desse mês as variações são grandes: de
fevereiro para março ocorre uma queda de 15 pontos percentuais, chegando ao menor valor da série
desde 2012. Ainda assim, os meses seguintes mostram uma recuperação quase tão rápida, e, em julho
de 2020, o índice já havia recuperado 10 pontos percentuais a partir do menor valor e o mês seguinte já
mostra um pequeno crescimento.
1 https://www.bcb.gov.br/conteudo/relatorioinflacao/EstudosEspeciais/Metodologia_ibc-br_pib_estudos_especiais.pdf
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Fonte: Departamento de Economia (DEPEC), Banco Central.
Enquanto esse indicador, sugere uma rápida recuperação da economia após a pandemia, o nível dos
últimos meses disponível ainda não alcançou o do início da pandemia, e como veremos nas próximas
seções, a crise afetou setores econômicos e da população de formas diferente. Assim, mesmo que a
economia agregada retorne ao seu nível pré-Covid, é possível que vários setores da sociedade demorem
mais para se recuperarem.
O Gráfico 3 desagrega o PIB nacional em grandes setores de atividade, e compara o 2º trimestre
de cada ano com o mesmo trimestre do ano anterior, de 2016 a 2020. A recessão anterior impactou
praticamente todos os setores da economia, com destaque para o setor de Construção que teve vários
anos negativos seguidos. Já na crise atual as maiores variações se encontram em alguns dos setores de
serviços e na Indústria de Transformação, com valores chegando a quedas de mais de 20%. O impacto
nos setores de serviços foi variado, sendo que Transporte, Armazenagem e Correio e Outras Atividades
de Serviços foram os que mais sofreram os efeitos, enquanto Serviços Financeiros e Serviços Imobiliários
apresentaram resultados positivos. Os setores de Agropecuária e Indústrias Extrativas apresentaram
melhores resultados em 2020 em comparação com a recessão de 2015.
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O Gráfico 5 mostra a variação mensal dos vínculos formais disponibilizados pelo registro administrativo
do CAGED e RAIS, organizados pelo Ministério da Economia. Para facilitar a visualização das séries
desse gráfico e de outros gráficos do CAGED no âmbito desse relatório, as mesmas foram construídas
somando-se as movimentações do CAGED no total de vínculos ativos em 31/12 de 2011. Em ambas as
recessões no período analisado o saldo de vínculos, ou seja, os desligamentos menos as admissões,
é negativo. O ajuste no mercado de trabalho formal ocorreu com a contração das admissões em vez
de um aumento dos desligamentos, comportamento que já foi observado em outras ocasiões, como
em Zylberstajn e Souza (2015). O resultado em abril de 2020 é o pior da série, mas maio e julho já
apresentaram uma recuperação nas admissões, e em agosto o resultado do saldo já é positivo.
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Saldo Admissões Desligamentos
A variação anual da população ocupada em geral e da população ocupada informal, a partir da PNAD
Contínua é apresentada no Gráfico 6. No âmbito desse informe, e para os resultados da PNAD Contínua,
os trabalhadores informais são aquelas pessoas ocupadas, empregadas sem carteira de trabalho e por
conta própria que não contribuem para a Previdência Social. O emprego informal apresenta variação
mais negativa que a população ocupada em geral até 2017, o que implica um aumento da formalização.
O contrário ocorre durante a recuperação no período de 2017 a 2019, indicando um aumento na taxa
de informalidade. No 2º trimestre de 2020, a população ocupada em geral apresenta uma grande
queda, mas a população informal cai ainda mais. Assim, por enquanto, a taxa de informalidade diminuiu
para a população em geral durante a crise causada pela pandemia. O gráfico também mostra que a
recuperação da recessão de 2015 se deu principalmente pelo lado informal do mercado de trabalho.
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Os Gráficos 7.1 a 7.4 mostram a transição de indivíduos de um trimestre para outro para os diferentes
estados de ocupação, e ajudam a entender os resultados apresentados no gráfico anterior. O Gráfico
7.1 mostra que a saída da inatividade diminui no último trimestre de 2020, principalmente para a
informalidade e para o desemprego, e assim a taxa de permanência na inatividade chega a quase 95%.
Já os Gráficos 7.2, 7.3 e 7.4 sobre a população ocupada formal e informal e desocupada mostram que o
aumento da transição para a inatividade foi maior que o aumento para o desemprego, o que condiz com
um aumento da taxa de inatividade maior que que a taxa de desemprego. Vale destacar que o aumento
da transição para inatividade foi maior na população ocupada informal, comparado com a população
ocupada formal, um dos possíveis mecanismos para o resultado do Gráfico 6.
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Permanência Formal Informal Desemprego
20% 100%
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16% 96%
Saídas da formalidade (%)
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Permanência Informal Desemprego Inativo
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12% 72%
10% 70%
8% 68%
6% 66%
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Permanência Formal Informal Inativo
XX Gráfico 8. Variação interanual no 2º trimestre da população ocupada por setores de atividade (%)
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10,00%
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-10,00%
-10,9% -10,0%
-15,00% -11,5%
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-24,7%
-26,1%
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XX Gráfico 9. Variação interanual do 2º trimestre do saldo de vínculos, por setor de atividade (%)
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Usando novamente os dados do CAGED e da RAIS podemos focar nos vínculos formais do mercado de
trabalho. Os dados foram trimestralizados para facilitar a comparação com os dados da PNAD Contínua e
do PIB. O impacto da recessão de 2015 é mais marcante no emprego formal para os setores de Indústria
geral e Construção, inclusive esses e outros setores apresentam resultados mais negativos nesse período
que em 2020, o que não ocorreu nas outras séries. O setor mais impactado novamente é setor de
Alojamento e Alimentação, destacando que o setor de Trabalho Doméstico não era capturado por esse
registro. Os resultados piores no Gráfico 8 em relação ao Gráfico 9 sugerem que a crise atual atingiu mais
gravemente trabalhadores informais dentro desses setores2.
A Tabela 2 contém alguns indicadores de trabalho dos dois setores mais afetados em 2020 de acordo com
a PNAD Contínua. Ambos os setores possuem mais da metade de seus trabalhadores na informalidade
(trabalhadores sem carteira assinada e por conta própria sem contribuir para a Previdência Social), sendo
que aproximadamente 70% dos empregados domésticos não possuem carteira assinada. Os dois setores
também possuem rendimentos do trabalho baixos: mais de 80% de seus trabalhadores recebem menos
que 2 salários-mínimos3. Finalmente, a tabela mostra também que ambos os setores possuíam mais de
5 milhões trabalhadores em 2019, destacando sua importância para o mercado de trabalho nacional.
% Sem carteira 19,6% 18,0% 22,0% 17,8% 17,9% 15,4% 71,0% 69,6%
% Conta própria 52,1% 52,8% 34,3% 38,2% 55,4% 58,0% 0,0% 0,0%
% Menos que 2 SM 79,9% 77,2% 83,5% 82,5% 77,7% 74,8% 96,0% 95,8%
Total de ocupados (milhares) 6.605 5.323 5.417 4.006 4.988 4.117 6.301 4.746
O gráfico seguinte mostra resultados da PNAD Covid, pesquisa domiciliar realizada pelo IBGE
especificamente para observar os impactos da pandemia em 2020. Foi perguntado aos trabalhadores se
estavam afastados do emprego, a razão do afastamento e se estavam recebendo alguma remuneração
enquanto estavam afastados.
O Gráfico 10 mostra que, em maio e junho, diversos setores tinham mais de 10% de seus trabalhadores
afastados e sem remuneração. Esse índice cai fortemente nos meses seguintes, mas há diferenciação
entre os setores. Os setores de Comunicação, Informação e Serviços para Empresas; Administração
Pública; Saúde e Educação apresentaram valores baixos em todos os meses. Já Alojamento e
Alimentação; Outros Serviços e Trabalho Doméstico chegaram a ter mais de 20% de seus trabalhadores
afastados sem remuneração em maio.
2 Como pode ser observado, o aumento de pessoas ocupadas na administração pública (Gráfico 8) não tem como reflexo um saldo positivo de
vínculos nesse mesmo setor (Gráfico 9). O saldo de vínculos é próximo de zero na administração pública durante o período analisado uma vez que as
contratações podem ser feitas por comissionados ou outras modalidades que não figuram nos registros do CAGED. Possivelmente, são justamente
essas modalidades as primeiras a serem desligadas em uma crise ou contratadas em uma emergência como a pandemia.
3 A Tabela A.1, no Apêndice, mostra as médias dos rendimentos reais efetivos do trabalho principal para todos os setores
XX Gráfico 10. Porcentagem de trabalhadores afastados pela pandemia sem remuneração por setor
de atividade, 2020 (%)
30%
25%
20%
15%
10%
5%
0%
pr .
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a
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6,00%
4,00%
2,00%
0,00%
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-4,00%
-6,00%
-8,00%
-10,00%
-12,00%
-14,00%
2013.1
2013.2
2013.3
2013.4
2014.1
2014.2
2014.3
2014.4
2015.1
2015.2
2015.3
2015.4
2016.1
2016.2
2016.3
2016.4
2017.1
2017.2
2017.3
2017.4
2018.1
2018.2
2018.3
2018.4
2019.1
2019.2
2019.3
2019.4
2020.1
2020.2
Homens Mulheres
6,00%
4,00%
2,00%
0,00%
-2,00%
-4,00%
-6,00%
-8,00%
-10,00%
-12,00%
-14,00%
-16,00%
2013.1
2013.2
2013.3
2013.4
2014.1
2014.2
2014.3
2014.4
2015.1
2015.2
2015.3
2015.4
2016.1
2016.2
2016.3
2016.4
2017.1
2017.2
2017.3
2017.4
2018.1
2018.2
2018.3
2018.4
2019.1
2019.2
2019.3
2019.4
2020.1
2020.2
Brancos e amarelos Negros e indígenas
Fonte: PNAD Contínua, IBGE.
O Gráfico 13 novamente mostra a evolução da população ocupada, dessa vez desagregada por faixas
etárias. A população ocupada jovem está decrescendo durante a maior parte do período analisado,
com algumas exceções entre 2017 e 2019, sugerindo uma dificuldade do mercado de trabalho brasileiro
em absorver novos entrantes. Essa mesma população jovem é a mais afetada na crise causada pela
pandemia de 2020. Corseuil e Franca (2020) mostram um aumento do desalento dessa população
e sugerem que políticas para reinserção no mercado de trabalho focadas nesse contingente são
necessárias para se evitar efeitos negativos nas perspectivas profissionais desses trabalhadores.
XX Gráfico 13. Variação interanual da população ocupada, por faixa de idade (%)
15,00%
10,00%
5,00%
0,00%
-5,00%
-10,00%
-15,00%
-20,00%
-25,00%
2013.1
2013.2
2013.3
2013.4
2014.1
2014.2
2014.3
2014.4
2015.1
2015.2
2015.3
2015.4
2016.1
2016.2
2016.3
2016.4
2017.1
2017.2
2017.3
2017.4
2018.1
2018.2
2018.3
2018.4
2019.1
2019.2
2019.3
2019.4
2020.1
2020.2
XX Gráfico 14. Variação interanual da população ocupada, por nível de escolaridade (%)
15,00%
10,00%
5,00%
0,00%
-5,00%
-10,00%
-15,00%
-20,00%
-25,00%
2013.1
2013.2
2013.3
2013.4
2014.1
2014.2
2014.3
2014.4
2015.1
2015.2
2015.3
2015.4
2016.1
2016.2
2016.3
2016.4
2017.1
2017.2
2017.3
2017.4
2018.1
2018.2
2018.3
2018.4
2019.1
2019.2
2019.3
2019.4
2020.1
2020.2
Fund. Incomp. Fund. Comp. Médio Comp. Superior Comp.
Novamente os dados do CAGED e RAIS trimestralizados serão usados para focar nos vínculos formais
do mercado de trabalho. No Gráfico 15 empregados formais de todos os níveis escolares apresentam
taxas de variação negativas durante as duas recessões. Ainda assim os níveis mais baixos, Fundamental
Incompleto e Fundamental Completo, possuem valores inferiores ao longo de todo o período observado.
XX Gráfico 15. Variação interanual por trimestre do saldo de vínculos, por escolaridade (%)
6%
4%
2%
0%
-2%
-4%
-6%
-8%
-10%
2013.1
2013.2
2013.3
2013.4
2014.1
2014.2
2014.3
2014.4
2015.1
2015.2
2015.3
2015.4
2016.1
2016.2
2016.3
2016.4
2017.1
2017.2
2017.3
2017.4
2018.1
2018.2
2018.3
2018.4
2019.1
2019.2
2019.3
2019.4
2020.1
2020.2
Outro resultado da PNAD Covid pode ajudar a explicar porque trabalhadores com Ensino Superior
conseguiram evitar sair da ocupação em relação aos outros níveis de educação. No Gráfico 16 é possível
observar que menos de 10% dos trabalhadores sem Ensino Superior estão trabalhando remotamente.
Enquanto isso, mais de 30% dos trabalhadores com Ensino Superior conseguem fazer o home office, uma
vantagem durante a pandemia devido às medidas de distanciamento social.
XX Gráfico 16. Porcentagem dos trabalhadores em trabalho remoto, por escolaridade, 2020 (%)
35%
30%
25%
20%
15%
10%
5%
0%
Fund. Incomp. Fund. Comp. Médio Comp. Superior Comp.
XX Gráfico 17. Variação interanual, rendimento de todos os trabalhos efetivo e habitual (%)
8%
6%
4%
2%
0%
-2%
-4%
-6%
2013.1
2013.2
2013.3
2013.4
2014.1
2014.2
2014.3
2014.4
2015.1
2015.2
2015.3
2015.4
2016.1
2016.2
2016.3
2016.4
2017.1
2017.2
2017.3
2017.4
2018.1
2018.2
2018.3
2018.4
2019.1
2019.2
2019.3
2019.4
2020.1
2020.2
Já a queda do rendimento efetivo também é influenciada pela queda nas horas efetivamente trabalhadas
no período, como podemos ver no Gráfico 18. As definições de jornada semanal habitual e efetiva
seguem a mesma lógica da dos rendimentos. O gráfico mostra claramente uma queda marcante na
média das jornadas efetivas. Empregados sem carteira assinada podem ter suas jornadas reduzidas
para se diminuir os custos dos empregos, e trabalhadores conta própria podem diminuir sua jornada
caso percebam que a demanda não justifica seus custos. Além disso como será visto na seção seguinte,
o governo editou diversas medidas que flexibilizam os vínculos formais e que permitiram também uma
redução na jornada.
Vale notar que a redução da jornada de trabalho não foi igual entre trabalhadores homens e mulheres.
O Gráfico 19 mostra que o comportamento dos trabalhadores de ambos os sexos foi similar ao longo da
série e, no 2º trimestre de 2020, as mulheres sofrem uma redução mais drástica (queda de 23%) do que
os trabalhadores homens (queda de 16%).
XX Gráfico 18. Variação interanual, jornada semanal média de todos os trabalhos efetivo e habitual (%)
5%
0%
-5%
-10%
-15%
-20%
2013.1
2013.2
2013.3
2013.4
2014.1
2014.2
2014.3
2014.4
2015.1
2015.2
2015.3
2015.4
2016.1
2016.2
2016.3
2016.4
2017.1
2017.2
2017.3
2017.4
2018.1
2018.2
2018.3
2018.4
2019.1
2019.2
2019.3
2019.4
2020.1
2020.2
XX Gráfico 19. Variação interanual, jornada semanal média de todos os trabalhos efetivo por gênero (%)
5,00%
0,00%
-5,00%
-10,00%
-15,00%
-20,00%
-25,00%
2013.1
2013.2
2013.3
2013.4
2014.1
2014.2
2014.3
2014.4
2015.1
2015.2
2015.3
2015.4
2016.1
2016.2
2016.3
2016.4
2017.1
2017.2
2017.3
2017.4
2018.1
2018.2
2018.3
2018.4
2019.1
2019.2
2019.3
2019.4
2020.1
2020.2
Homens Mulheres
No Apêndice desse informe, a Tabela A.1 apresenta os valores reais dos rendimentos habituais do
trabalho por setor de atividade, dos segundos trimestres dos anos de 2012 a 2020. As três últimas
colunas apresentam a comparação dos valores de 2016, 2019 e 2020 com 2014. Enquanto em 2016
nenhum setor chegou a menos de 90% de seu valor em 2014, em 2020 trabalhadores do setor de
Alojamento e Alimentação recebiam em média 70% do que receberam em 2014.
4 https://www.ilo.org/global/topics/coronavirus/regional-country/country-responses
XX Gráfico 20. Auxílio Financeiro aos entes federativos (MPs 939, 978 e 990) por mês, em bilhões de Reais
40,0
36,9
35,0
30,0
25,0
19,7 19,4
20,0 18,3
15,0
10,0
5,0
1,0 0,9
0,0
Abril Maio Junho Julho Agosto Setembro
Fonte: Monitoramento dos Gastos da União com Combate à COVID-19, em: https://www.tesourotransparente.gov.br/visualizacao/painel-de-
monitoramentos-dos-gastos-com-covid-19
XX Gráfico 21. Auxílio Financeiro por ente federativo (MPs 939, 978 e 990) até setembro, em bilhões de Reais
16,0
14,0
14,0
12,0
10,0
8,0
7,0
6,0
4,6 4,5
4,0 4,3
4,0
2,9 2,8 3,0
2,3 2,6 2,6 2,7
2,0 1,7 1,5 1,7 1,4
1,4 1,3 1,4 1,1
0,8 0,8 1,0 0,7 1,0 0,9 0,7
0,0
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D
E
D
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G
RA
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O
G
RI
O
M
RI
Observação: As cores correspondem as grandes regiões brasileiras: Norte (azul); Nordeste (vermelho); Sudeste (verde piscina), Sul (verde claro);
Centro-Oeste (vinho).
Fonte: Monitoramento dos Gastos da União com Combate à COVID-19, em: https://www.tesourotransparente.gov.br/visualizacao/painel-de-
monitoramentos-dos-gastos-com-covid-19
Além de transferências do governo federal para outros entes, foram adotadas medidas de estímulo para
empresas, facilitando seu acesso ao crédito. O Banco Central do Brasil (BCB) dividiu suas medidas entre
os objetivos de provisão de liquidez e liberação de capital. De acordo com os próprios cálculos do BCB o
impacto total das medidas implementadas corresponderia 36% do PIB nominal de 2019.
XX Tabela 3. Medidas de política econômica adotadas pelo Banco Central: provisão de liquidez
e liberação de capital
Impacto % do PIB
Medida Status
potencial (2019)
Liberação de liquidez
XX Continue...
Impacto % do PIB
Medida Status
potencial (2019)
Liberação de capital
Redução do requerimento de capital das instituições de pequeno porte R$ 16,5 bi 0,2% Concluída
Além da expansão monetária do Banco Central, o Governo Federal também disponibilizou linhas de
crédito especiais e garantias para operações de pequenas e médias empresas. A Tabela 4 atualiza a tabela
utilizada por Silva (2020), que resume essas medidas. Ao todo a soma dos valores disponibilizados para
essas medidas corresponde a aproximadamente 0,9% do PIB de 2019.
Programa
A União
Nacional Lei 13.999/2020 Faturamento
aumentará sua
de Apoio às de 18 de maio, Microempresas bruto anual igual
Concessão de participação R$
Microempresas modificada pela e Empresas de ou inferior a R$
Garantias 27.9 bi no Fundo
e Empresas de Lei 14.042/2020 e Pequeno Porte 4,8 milhões de
Garantidor de
Pequeno Porte 14.043/2020 reais
Operações (FGO)
(Pronampe)
Faturamento A União
Programa MP 975/2020, bruto anual aumentará sua
Empresas de
Emergencial transformada em Concessão de superior a R$ 360 participação R$
Pequeno e de
de Acesso ao Lei 14.042/2020 Garantias mil e igual ou 20 bi no Fundo
Médio Porte
Crédito (PEAC) em 19 de agosto inferior a R$ 300 Garantidor de
milhões Invstimentos (FGI)
Faturamento Transferência
Programa MP 944/2020, bruto anual de R$ 17 bi da
Empresas de
Emergencial transformada em superior a R$ 360 União ao BNDES
Oferta de Crédito Pequeno e de
de Suporte a Lei 14.043/2020 mil e igual ou destinados à
Médio Porte
Empregos (PESE) em 19 de agosto inferior a R$ execução do
10 milhões programa.
do seguro-desemprego a que têm direito. As formas de cálculo do benefício descritas fazem com que
a reposição salarial seja sempre integral para aqueles trabalhadores que recebiam salário até o valor
do teto da parcela do seguro-desemprego (R$ 1.813,03 em 2020). O Gráfico 22, criado por Costa e Reis
(2020), estima a taxa de reposição para as diferentes modalidades disponibilizadas pelo programa,
incluindo o valor do benefício a que o trabalhador teria direito.
100
90
80
70
60
50
40
30
20
10
0
1 1,5 2 2,5 3 3,5 4 4,5 5 5,5 6
Fonte: Costa e Reis (2020); * Linhas contínuas representam acordos individuais, linhas tracejadas indicam reduções que só podem ser alcançadas
mediante acordos coletivos.
Além disso, o do programa institui a garantia provisória no emprego ao empregado que recebeu o
Benefício. Tanto em decorrência de redução da jornada de trabalho ou de suspensão temporária,
durante a redução ou suspensão e após seu restabelecimento por período equivalente ao acordado. O
recebimento do BEm também não impedirá a concessão e não alterará o valor do seguro-desemprego a
que o empregado vier a ter direito.
Finalmente, apesar do benefício emergencial ter como base de cálculo o seguro-desemprego, este será
pago ao empregado independentemente do cumprimento dos requisitos para obtenção do próprio
seguro-desemprego5.
A seguir são apresentados dados para ilustrar o volume do programa até o momento. O Gráfico 23
mostra quanto já foi gasto com benefícios até setembro, 23 bilhões de reais, com os maiores valores
liberados em maio e junho. Já o Gráfico 24 mostra ao longo dos meses quantos contratos foram
negociados. É possível observar que houve uma maior adoção no início do programa, com alguns valores
maiores nos meses seguintes provavelmente estimulados pelas extensões ao programa que foram
autorizadas. Ao todo são mais de 18 milhões de contratos negociados no período.
5 Sendo assim, não houve mudanças no seguro desemprego durante a pandemia. Houve uma proposta de aumento de parcelas pagas em agosto
(PL 4.376/2020) mas essa proposta ainda não foi votada. A série do Seguro Desemprego teve um forte aumento em abril e maio, chegando a um
pico de mais de 900.000 de requerentes. Nos meses seguintes a série voltou a oscilar em torno de seu valor normal de aproximadamente 500.000
requerentes.
XX Gráfico 23. Gastos da União com benefícios do Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e
da Renda (BEm)
8,0
7,1
7,0 6,8
6,0
5,0
4,3 4,1
4,0
3,3
3,0
2,0
1,0
0,0
Maio Junho Julho Agosto Setembro
Fonte: Monitoramento dos Gastos da União com Combate à COVID-19, em: https://www.tesourotransparente.gov.br/visualizacao/painel-de-
monitoramentos-dos-gastos-com-covid-19
20,0
18,0 17,6
16,6
16,0
Qtd de acordos (em 100 mil)
14,5 14,6
14,0 13,1
12,0 11,7
11,0
10,0 9,8
10,0 8,8
8,0
6,6 6,6
5,8
6,0 5,1 4,7 4,5
4,1
4,0 3,6 3,5 3,4
2,1
2,0 1,7 1,4 1,4 1,6
0,7 0,7
0,0
4
0
/0
/0
/0
/0
/0
/0
/0
/0
/0
/0
/0
/0
/0
/0
/0
/0
/0
/0
/0
/0
/0
/0
/0
/0
/0
/0
/1
04
11
18
25
02
09
16
23
30
06
13
20
27
04
11
18
25
01
08
15
22
29
05
12
19
26
02
a
a
4
9
/0
/0
/0
/0
/0
/0
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/0
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/0
/0
/0
/0
/0
/0
/0
/0
01
05
12
19
26
03
10
17
24
31
07
14
21
28
05
12
19
26
02
09
16
23
30
06
13
20
27
A Tabela 5 desagrega esses contratos por setor de atividade, gênero e faixa etária. Como esperado, mais
da metade dos contratos estão na área de serviços, seguidos por Indústria (~4 milhões) e Comércio (~3,8
milhões). Na divisão por gênero, mulheres possuem 800.000 contratos a mais, já a distribuição por faixa
etária parece seguir a distribuição da população de trabalhadores formais, com uma concentração nas
idades de 30 a 50 anos. A Tabela A.2, no Apêndice, mostra esses contratos por tipo e divididos por entes
da federação.
XX Tabela 5. Quantidade de acordos por gênero, faixa etária e setor de atividade (01/04/2020 a 02/10/2020)
Setores
Agropecuária 51.699
Comércio 4.601.310
Construção 425.462
Indústria 3.882.992
Serviços 9.394.088
Administração pública, defesa, seguridade social, educação, saúde humana e serviços sociais 2.327.008
Total 18.509.285
30 a 39 5.693.476
40 a 49 4.003.681
50 a 64 2.558.393
65>= 163.945
Total 18.509.285
50,0
45,8 45,3
44,7
45,0
41,1
40,0
35,8
35,0
30,0
24,0
25,0
20,0
15,0
10,0
5,0
0,0
Abril Maio Junho Julho Agosto Setembro
Fonte: Monitoramento dos Gastos da União com Combate à COVID-19, em: https://www.tesourotransparente.gov.br/visualizacao/painel-de-
monitoramentos-dos-gastos-com-covid-19
O Gráfico 26 usa dados da PNAD Covid para estimar a proporção da população brasileira que reside em
domicílios que receberam algum benefício emergencial devido à pandemia. A partir de julho, é estimado
que pelo menos metade da população se encontra nessa situação. Além disso, existem diferenças
entre as regiões geográficas, no Norte e Nordeste mais de 60% da população recebe auxílios devido
à pandemia. O Gráfico 27 usa a PNAD Covid para decompor a média dos rendimentos domiciliares do
quintil de domicílios mais pobre entre os diferentes tipos de rendimento captados pela pesquisa. Fica
claro a importância das transferências de emergência em resposta a pandemia. Em todos os meses mais
de 40% do rendimento médio dos domicílios mais pobres é proveniente desses auxílios.
XX Gráfico 26. Percentual da população em domicílios que receberam algum auxílio emergencial
relacionado a pandemia (%)
80%
67 4%
%
67 %
65 %
70%
,6
%
66 %
,
,6
,1
,9
,5
66
65
61,5% 61,2%
60%
50 7%
%
50 %
,6
,5
,
46 9%
%
49
46 %
50%
,9
,1
,
43 %
%
46
44,7%
,2
43%
,1
,5
41,1%
41
40%
35 %
%
35 %
,8
,8
36,1%
,6
34
30,6%
30%
20%
10%
0%
Brasil Norte Nordeste Sudeste Sul Centro Oeste
Maio Junho Julho Agosto
XX Gráfico 27. Decomposição da renda efetiva média domiciliar dos domicílios 20% mais pobres,
em R$ de agosto de 2020
1.600,00
1.400,00
1.200,00
1.000,00
800,00
600,00
400,00
200,00
0,00
Maio Junho Julho Agosto
A Tabela 6 mostra as médias das rendas domiciliares que eram provenientes do trabalho, habitual e
efetiva e da renda domiciliar de todas as fontes, com e sem Auxílio Emergencial. A tabela também mostra
o valor médio do auxílio que os domicílios recebem. Para o país esse valor foi estimado em mais de
R$ 800, acima da parcela de R$ 600, causado provavelmente pela grande quantidade de domicílios com
mães solteiras que têm o direito de receber o benefício duplo. A linhas da tabela dividem os domicílios de
acordo com a distribuição de renda, sendo o primeiro quintil os domicílios 20% mais pobres. Em agosto o
auxílio emergencial aumentou em mais de 70% a renda domiciliar média dos domicílios mais pobres,
e em quase 40% a renda do quintil seguinte.
XX Tabela 6. Comparação das médias da renda domiciliar de todos os trabalhos, habitual e efetiva,
e da média do valor recebido pelo auxílio emergencial – maio e agosto de 2020
4. Conclusões
O presente relatório apresentou a situação da economia e mercado de trabalho brasileiro, antes e
durante a crise do novo Coronavírus, sempre que possível comparando com a recessão de 2015. Foram
utilizados dados de pesquisas domiciliares como a PNAD Contínua e PNAD Covid, além de registros
administrativos como o CAGED e RAIS.
De acordo com o conjunto de dados analisados, primeiramente, é preciso reconhecer que a crise atual é
sem precedentes. Em vários indicadores são observados valores inéditos nas séries históricas, mesmo
comparando com a recessão anterior, a maior já enfrentada no Brasil até recentemente.
Em segundo lugar, observa-se que a crise de 2020 afetou os setores econômicos de maneira
heterogênea. Em todos os indicadores, o setor de Alojamento e Alimentação sofreu perdas impactantes.
Usando os dados de população ocupada da PNAD Contínua, o setor de Trabalho Doméstico também
foi afetado fortemente pela crise, com o complicador dado pelo fato de que o setor é caracterizado por
rendimentos e escolaridade baixos, alto grau de informalidade e composto principalmente por mulheres.
Além disso, tanto o setor de alimentação como o de trabalho doméstico tiveram mais de um quinto de
seus trabalhadores afastados sem remuneração no início da pandemia.
Outra observação é que o trabalho informal foi o mais afetado na crise de 2020, ao ponto de levar a taxa
de informalidade a um crescimento nos últimos dados analisados. Caso a recuperação seja similar a que
ocorreu após a recessão de 2015, é esperado que o trabalho informal seja o primeiro a responder também.
Finalmente, é preciso destacar a transição direta de trabalhadores da ocupação para a inatividade, o
que no primeiro momento da crise manteve a taxa de desemprego em níveis mais baixos e fez com que
5. Apêndice
Agropecuária 1.199 1.243 1.299 1.246 1.192 1.337 1.339 1.328 1.353 0,92 1,02 1,04
Ind. geral 2.232 2.287 2.317 2.375 2.301 2.322 2.409 2.380 2.477 0,99 1,03 1,07
Construção 1.803 1.973 1.928 1.813 1.854 1.752 1.749 1.727 1.710 0,96 0,90 0,89
Comércio 2.071 2.162 2.229 2.131 2.014 2.018 2.043 1.964 1.848 0,90 0,88 0,83
Transp.,armaz.
2.372 2.404 2.439 2.358 2.305 2.277 2.290 2.272 2.027 0,95 0,93 0,83
e correio
Aloj. e Alimt. 1.638 1.638 1.712 1.603 1.555 1.510 1.543 1.407 1.193 0,91 0,82 0,70
Informação, Comunic.
3.183 3.264 3.426 3.351 3.280 3.332 3.383 3.353 3.088 0,96 0,98 0,90
e serv.p/empr.
Adm.Publ. 3.625 3.710 3.813 3.894 4.177 4.156 4.271 4.441 4.378 1,10 1,16 1,15
Educação 2.478 2.557 2.644 2.722 2.645 2.681 2.733 2.836 2.938 1,00 1,07 1,11
Saúde 3.168 3.183 3.306 3.532 3.275 3.339 3.667 3.510 3.259 0,99 1,06 0,99
Outros serviços 1.756 1.775 1.807 1.808 1.675 1.674 1.717 1.676 1.426 0,93 0,93 0,79
Trab. dom. 835 862 910 919 923 920 925 909 834 1,01 1,00 0,92
5. Bibliografia e Referências
CAVALCANTI, M.; SOUZA JÚNIOR, J.; CARVALHO, L. Atividade econômica: PIB no segundo trimestre de
2020. Brasília, setembro 2020. IPEA, Carta de Conjuntura nº 48.
ZYLBERSTAJN, E.; SOUZA, A. P. The ins and outs of unemployment in a dual labor market. In: ENCONTRO
NACIONAL DE ECONOMIA, 43., 2015, Florianópolis, Santa Catarina. Anais... Florianópolis:
Anpec, 2015.
CORSEUIL, C; FRANCA, M. Inserção dos jovens no mercado de trabalho em tempos de crise. Brasília,
novembro 2020. IPEA, Boletim de Mercado de Trabalho nº 70.
COSTA, J.; REIS, M. Uma análise da MP 936 sobre os rendimentos dos trabalhadores e a renda domiciliar
per capita. Brasília, maio 2020. IPEA, Nota Técnica nº 71.
SACCHET, S. Os efeitos da pandemia sobre os rendimentos do trabalho e o impacto do auxílio
emergencial: os resultados dos microdados da PNAD Covid-19 de junho. Brasília, novembro 2020.
IPEA, Carta de Conjuntura nº 48.
SILVA, Mauro Santos. Política econômica emergencial orientada para a redução dos impactos da
pandemia da Covid-19 no Brasil: medidas fiscais, de provisão de liquidez e de liberação de capital.
Brasília, julho 2020. IPEA, Texto para discussão 2576.
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