INSTITUTO SUPERIOR DE COMUNICAÇÃO E IMAGEM DE MOÇAMBIQUE
FISCALIDADE /2˚ Ano/ 2023
UNIDADE TEMÁTICA-I: INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA FISCALIDADE
1. NOÇÕES
A compreensão e estudo da Fiscalidade pressupõe a assimilação prévia do conceito de actividade
financeira. Este conceito é essencial para enquadrar os impostos e o seu papel num Estado
Moderno.
O Estado, ao prosseguir os seus fins tem necessidades económicas cuja satisfação implica
despesas. Dai que o Estado e as restantes entidades públicas, desenvolvem uma actividade que
permite:
A obtenção dos meios económicos que asseguram a satisfação das necessidades públicas;
O correcto emprego dos meios obtidos; e
A coordenação entre os meios e as necessidades públicas a satisfazer.
Esta actividade denomina-se Actividade Financeira do Estado.
Os recursos económicos obtidos pelo Estado e depois usados para a satisfação das necessidades
públicas, têm a designação de Receitas Públicas. Os impostos constituem objecto da Fiscalidade,
justificando por isso o estudo autónomo desta disciplina.
1.1 Enquadramento da Fiscalidade
Embora o objectivo deste módulo seja a Fiscalidade muitas vezes se emprega expressões do
Direito Tributário, Direito Financeiro ou mesmo Direito Fiscal e coloca-se logo a dúvida de
saber qual a diferença.
A doutrina dos anos 50, em França, começou a falar em Ciência e Técnica Fiscal, não como um
ramo ou um aspecto das Finanças públicas mas antes como nova estruturação do saber teórico da
Fiscalidade.
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Docentes:
Herculano Nhacudime
Carlitos Jonas Chilaúle
Trindade Luís Fenias Moiane
CONCEITOS:
Segundo (Ibrahimo Ibrahimo, 2002);
O Direito Financeiro: é um conjunto de normas que regulam a actividade financeira do Estado.
É composto de normas heterogéneas pode-se distinguir as que disciplinam a percepção das
receitas voluntárias das que arrecadam receitas coactivas e outras que regulam a realização das
despesas públicas bem como a elaboração do Orçamento do Estado.
Ex1: O art. 126 da CRM consagra o sistema financeiro e fiscal de Moçambique e o art. 130 O
Orçamento do Estado.
Segundo (Sanches p. 66) O Direito Tributário: Abrange um conjunto de regras e princípios
referentes a todos os tributos, nomeadamente: os impostos, as taxas e as contribuições especiais.
Para efeitos do n˚ 1 art. 3 da Lei 2/2006 LGT. São tributos: Os impostos nacionais e
autárquicos; as taxas, nacionais e autárquicas; as contribuições especiais, nacionais e
autárquicas; e as demais contribuições financeiras estabelecidas por lei a favor de entidades
públicas, desde que a gestão das mesmas seja da competência da administração tributária.
O Direito Fiscal: Constitui um conjunto de normas que regulam as relações que se estabelecem
entre o estado e os outros entes públicos, por um lado e os cidadãos por outro, por via do
imposto. Essas normas regulam as várias fases do imposto: incidência, lançamento, liquidação e
cobrança.
Fiscalidade: é o complexo de impostos e taxas que vigoram num determinado Espaço territorial,
inclui o sistema de arrecadação e o conjunto de leis relativas a esse sistema.
Conforme se referiu que o imposto é uma das receitas do Orçamento do Estado, integra a
actividade financeira do Estado, e que “o conjunto de normas que regulam a obtenção, gestão e
dispêndio dos meios financeiros públicos é o Direito Financeiro “, verificamos que a Fiscalidade
é um ramo do Direito Financeiro.
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Domínio da Fiscalidade
O domínio da fiscalidade esta directamente ligado com a existência e a exigibilidade dos
Impostos.
Objecto de estudo e Ramo da Fiscalidade
Como já foi dito que o objecto da Fiscalidade e o complexo de impostos e taxas vigentes num
Espaço territorial, deve ser obvio que na dicotomia – direito público/direito privado – a
Fiscalidade e um ramo do direito Público e esta intrinsecamente ligado ao direito Financeiro.
Na verdade o direito financeiro essencialmente, esta voltada aos interesses públicos,
disciplinando as relações cujo objecto é a satisfação de necessidades colectivas da comunidade
em que o estado exerce o seu ius imperii.
Objectivos da Fiscalidade
A fiscalidade prossegue objectivos múltiplos em certos aspectos contraditórios, de conciliação
sempre difícil com as funções económicas do estado moderno e os principais objectivos do
sistema fiscal que são:
A eficácia: (eficiência) na afectação de recursos
A equidade na repartição dos rendimentos e da riqueza
A estabilidade e o crescimento da actividade económica.
FONTES DA FISCALIDADE
Não existem especificidades no domínio das fontes deste ramo do Direito Financeiro, sendo que
podemos aqui fazer uma distinção entre as fontes normativas e fontes não normativas.
Relativamente as fontes normativas, podemos encontrar a sua previsão no artigo 7.º da LGT, a
qual determina que “São fontes normativas dos Tributos:
A Constituição da República;
A Lei;
O Decreto-Lei;
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O Decreto
Os Diplomas Ministeriais;
O Regulamento das Autarquias Locais;
O Contrato Fiscal, nos Termos Previstos na Legislação Tributária,
A Convenção Internacional que Vigore na Ordem Interna, nomeadamente Convenções
Bilaterais sobre Matéria Fiscal e Aduaneira”.
Na ordem Jurídica Moçambicana a Jurisprudência e a Doutrina não são fontes formais ou
normativas do direito.
Os princípios jurídico-constitucionais da Fiscalidade
A Tributação respeita os princípios da generalidade, da igualdade, da legalidade, da não
retroactividade, da justiça material e da eficiência e simplicidade do sistema tributário. (n˚ 2 do
artg 2 da LBST)
Princípio da legalidade fiscal
Expresso no artigo 100 da Constituição da República Moçambique (CRM) impõe que os
impostos são criados ou alterados por lei, que os fixa segundo critérios de justiça social. Nesta
perspectiva, o princípio da legalidade está ligado umbilicalmente ao princípio democrático, visto
que os impostos apenas podem ser criados e regulamentados pelo órgão que representa
directamente o povo soberano – a Assembleia da República. De facto, o artigo 179.º n.º 2, alínea
e) estabelece que é da exclusiva competência da Assembleia da República definir as bases da
politica de impostos e o sistema fiscal.
Associado ao princípio da legalidade fiscal temos o princípio da tipicidade, nos termos do qual
apenas são considerados impostos aqueles que se encontram especialmente previstos na lei.
Assim, o n.º 1 do artigo 3 da Lei n° 15/2002 de 26 de Junho dispõe que “Não há lugar a cobrança
de impostos que não tenham sido estabelecidos por Lei”.
Princípio da Igualdade
O princípio da legalidade fiscal remete-nos à ideia do princípio geral de igualdade dos cidadãos
constitucionalmente consagrado no artigo 35, da CRM. Trata-se de uma igualdade material, ou
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igualdade na lei, assente no princípio capacidade contributiva. Este princípio baseia-se na ideia
de que todos cidadãos encontram-se obrigados ao cumprimento do dever de pagar impostos,
dever consagrado na CRM na al. c), do artigo 45, e ainda exige-se que este princípio seja
universal, ou seja, definição de um critério igual para todos cidadãos que possibilite a definição
de igual imposto para os que dispõem de igual capacidade contributiva - (igualdade horizontal) e
diferente imposto para os que dispõem de diferente capacidade contributiva na proporção desta
diferença (igualdade vertical).
De acordo com este princípio entende-se que deve-se ter em conta uma maior ou menor
tributação, ou mesmo tributação e não tributação de acordo com as circunstâncias. Orienta-se
para a tributação ou para maior tributação na medida em que suporta a progressividade dos
impostos, a tributação do capital, a extrafiscalidade e a tributação das prestações sociais (se e na
medida em que excedam os mínimos existenciais estabelecidos e assegurados pelas prestações
sociais). Com relação a tributação ou não tributação deve-se considerar o valor mínimo
tributável, (ver artigo 61, da LBST).
Princípio de não retroactividade
Este princípio resulta da ideia do Estado de direito Democrático consagrado no artigo 3 da
Constituição da República, impondo ao legislador alguns limites visando por um lado a proibição
da edição de normas retroactivas (desfavoráveis) e por outro lado a livre revogabilidade das
normas fiscais favoráveis. O n.º 5, do artigo 127, da CRM estabelece que “a lei fiscal não tem
feito retroactivo, salvo se for de conteúdo mais favorável ao contribuinte”. A proibição de
normas fiscais retroactivas, de conteúdo desfavoráveis aos cidadãos, goza de consagração
constitucional expressa. Há, portanto, que tutelar a confiança dos contribuintes, depositada na
actuação dos órgãos do Estado.
Relação da Fiscalidade e outros ramos de Direito
Com direito constitucional
A fiscalidade subordina-se, assim como todas as normas de outros ramos de Direito, às regras
constantes do direito constitucional material e inerente ao Estado de Direito e que são
constituídas por princípios que se impõem ao próprio legislador. Por isso, devemos relativizar de
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algum modo a influência da Constituição da República na evolução do nosso sistema financeiro
e o presente ainda mais.”. importa referir que A nossa “constituição fiscal”, ou seja, o conjunto
de princípios jurídicos constitucionais disciplinadores do regime jurídico dos tributos é muito
pobre, resumindo-se em cerca de seis, designadamente a al. c), do artigo 45, 100, 126, 127, al. o),
do n.º1, do artigo 179, n. º 2, do artigo 223, todos da CRM. No plano formal, o princípio da
legalidade tributária representa o assunto dominante da nossa constituição fiscal e não poderia
ser de outra maneira. Sendo que, nos termos da al. o), do n.º 1, do artigo 179, compete a
Assembleia da República a criação dos impostos e a disciplina do sistema fiscal.
Com o Direito Administrativo
Embora com autonomias próprias, estes dois ramos mantêm entre si uma relação íntima, pois
todas as actividades de lançamento, liquidação e cobrança dos impostos seguem um processo
administrativo, que é conduzido por órgãos da administração pública.
Com direito financeiro
A Fiscalidade é um complexo de impostos que se integram no direito financeiro; especial
exactamente porque tem princípios próprios e distintos das que tem o direito financeiro e que
determinam a autonomia, já suficientemente defendida.
Com direito privado
Os pontos de contacto da Fiscalidade e direito civil e comercial (direito Privado) são vários. A
relação de dois sujeitos-passivo e activo. Na relação jurídica tributaria aproxima esta da relação
obrigacional a cujos os conceitos e princípios, de algum modo, recorre.
As circunstâncias para se ser sujeito passivo do imposto são configuradas pelo direito privado, o
que explica que a este direito o direito fiscal recorra para a adopção de conceitos como
transmissão, compra e venda, doação propriedade prédio, pessoa colectiva, sociedade civil,
sociedade comercial, domicílio, ect.
Direito penal e contraordenacional
A ligação entre direito penal e direito contraordenacional e o direito fiscal reside na existência de
direito fiscal cuja função é exigir (obrigações de facere) ou proibir (dever ou de non facere)
certos comportamentos nos contribuintes ou terceiros e estabelecer sanções para as infracções
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decorrentes de incumprimento ou de desrespeito das normas, isto é, decorrentes da violação de
preceitos tributários.
A fiscalidade socorrem-se os princípios e normas do direito penal ou do direito criminal geral e
do direito contraordenacional.
Direito processual
Na Fiscalidade há normas que regulam o processo fiscal, gracioso ou administrativo e
contencioso ou judicial, dai que a regulamentação processual tributaria conforme a natureza do
processo fiscal- graciosa ou contenciosa, seja informada pelos princípios e normas que presidem
quer ao processo civil, quer ao penal quer ao processo administrativo.
Direito internacional
Com fruto de incessante convite a cooperação entre os estados, que se manifestam também o
direito fiscal, assiste-se à celebração de numerosos tratados, convenções, acordos sendo de
destacar os que visam evitar a dupla tributação internacional ou a evasão fiscal.
BIBLIOGRAFIA BÁSICA
- Ibraimo, Ibraimo. O direito e a Fiscalidade. Maputo : Editora Art, 2002.
- WATE, Teodoro Andrade. Introdução ao Direito Fiscal, Maputo: W & W Editora, 2002.
- SANCHEZ, J. L. Saldanha. Manual de Direito Fiscal. 3. Edição, Coimbra Editora: Coimbra,
2007.
Legislação
- Colectânea da Legislação Fiscal da República de Moçambique, 2ª Ed. 2022/2023- Plural
Editores – Maputo;
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