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Psicopedagogia

Este capítulo descreve a origem e o desenvolvimento histórico da Psicopedagogia, desde os primeiros estudos no século XIX na Europa sobre crianças com dificuldades de aprendizagem até os desenvolvimentos na França e América do Sul no século XX. A Psicopedagogia surgiu da necessidade de entender mais profundamente os problemas de aprendizagem.

Enviado por

Natalha Santos
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Psicopedagogia

Este capítulo descreve a origem e o desenvolvimento histórico da Psicopedagogia, desde os primeiros estudos no século XIX na Europa sobre crianças com dificuldades de aprendizagem até os desenvolvimentos na França e América do Sul no século XX. A Psicopedagogia surgiu da necessidade de entender mais profundamente os problemas de aprendizagem.

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PSICOLOGIA DA

APRENDIZAGEM
Unidade 2
Psicopedagogia
CEO

DAVID LIRA STEPHEN BARROS

DIRETORA EDITORIAL
ALESSANDRA FERREIRA

GERENTE EDITORIAL

LAURA KRISTINA FRANCO DOS SANTOS

PROJETO GRÁFICO

TIAGO DA ROCHA

AUTORIA

RAQUEL ELISABETH DUMASZAK


Raquel Elisabeth Dumaszak
AUTORIA

Olá. Sou formada em Psicologia, nas modalidades


bacharelado e licenciatura, e, desde então, atuo com Psicologia,
Educação e Aprendizagem. Tenho interesse por assuntos que
envolvem neurociências, comportamento e cognição, temáticas
que segui na pós-graduação. Fui convidada pela Editora
Telesapiens a integrar seu elenco de autores independentes
e espero contribuir bastante com seu aprendizado teórico e
profissional!
Unidade 2

4 PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM
ÍCONES
Unidade 2

PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM 5
Origem da Psicopedagogia........................................................ 9
SUMÁRIO

Introdução.............................................................................................................. 9

Breve histórico da Psicopedagogia................................................................... 9

A Psicopedagogia brasileira ............................................................................. 12

A Psicopedagogia ............................................................................................... 16

Concepções teóricas da Psicopedagogia................................ 18


Notas introdutórias............................................................................................ 18

Behaviorismo....................................................................................................... 18

Humanismo.......................................................................................................... 19

Associacionismo.................................................................................................. 21

Construtivismo.................................................................................................... 22
Unidade 2

A Psicanálise........................................................................................................ 24

Psicopedagogia na prática ...................................................... 28


Introdução............................................................................................................ 28

Avaliação e diagnóstico psicopedagógico ..................................................... 30

A avaliação psicopedagógica ............................................................ 32

O diagnóstico psicopedagógico ....................................................... 35

Atuação do psicopedagogo no mercado ............................... 42


Notas introdutórias............................................................................................ 42

O psicopedagogo institucional: atuando na escola .................................... 44

Intervenção psicopedagógica na instituição .................................. 48

6 PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM
Nesta unidade, aprenderemos sobre a história da
Psicopedagogia e seus precursores e teóricos, conheceremos

APRESENTAÇÃO
as práticas e os instrumentos que são utilizados nos
atendimentos psicopedagógicos (institucional e clínico) e
veremos as diversas formas que o psicopedagogo pode se
inserir no mercado de trabalho. A Psicopedagogia é um campo
de conhecimento transdisciplinar, que interage com inúmeras
áreas e conhecimentos científicos, como Filosofia, Sociologia
e Neurologia. As principais áreas que contribuíram, e ainda
contribuem, diretamente para a Psicopedagogia são a Educação
e a Psicologia. A Psicopedagogia se ocupa da aprendizagem
do ser humano em seus diferentes aspectos. A aprendizagem
é um processo complexo, influenciado por diversas variáveis,
por exemplo, a família, o meio em que o sujeito está inserido,

Unidade 2
e aspectos físicos e biológicos. Desta forma, a Psicopedagogia
analisa e interfere no processo de aprendizagem, a fim de
entender como ele funciona, quais são os seus obstáculos e o
que fazer para superá-los. Podemos destacar dois enfoques
de atuação psicopedagógica: o terapêutico e o preventivo.
No enfoque preventivo, a Psicopedagogia age no sentido de
antecipar possíveis obstáculos para a aprendizagem, fazendo
com que o processo flua melhor. No terapêutico, a dificuldade
de aprendizagem já está aparente, ou seja, os problemas já estão
acontecendo. A Psicopedagogia, então, age no sentido de auxiliar
o indivíduo a pensar em uma solução para tal dificuldade. A
Psicopedagogia, por ser uma área transdisciplinar, insere-se em
diferentes tipos de atuação. Pode estar presente na escola, em
hospitais, empresas, ONGs e clínicas de atendimento à saúde de
modo geral. Ao longo desta unidade letiva, você vai mergulhar
neste universo de conhecimento. Então, preparado? Vamos lá!

PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM 7
Olá. Seja muito bem-vindo à Unidade 2. Nosso objetivo
é auxiliar você no desenvolvimento das seguintes competências
OBJETIVOS

profissionais até o término desta etapa de estudos:

1. Entender a origem da Psicopedagogia, identificando


seus principais marcos históricos.

2. Definir os conceitos segundo as concepções teóricas da


Psicopedagogia.

3. Aplicar as técnicas de avaliação e diagnóstico


psicopedagógicos.

4. Discernir sobre a atuação do psicopedagogo no


mercado.

E, então? Preparado para uma viagem sem volta rumo ao


Unidade 2

conhecimento? Ao trabalho!

8 PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM
Origem da Psicopedagogia
Ao término deste capítulo, você será capaz
de entender a origem da Psicopedagogia,
identificando seus principais marcos históricos.
OBJETIVO Além de compreender a relevância deste saber,
o cenário atual deste setor e a atuação de seus
profissionais no mercado de trabalho. E, então?
Motivado para desenvolver esta competência?
Vamos lá. Avante!

Introdução
A Psicopedagogia surgiu da necessidade de se entender

Unidade 2
mais os problemas de aprendizagem e tem se tornado uma área
de conhecimento específico, que tem se difundido principalmente
entre os profissionais da Educação e da Psicologia que
buscam sistematizar os conhecimentos não somente sobre as
dificuldades de aprendizagem, mas também – e principalmente
– acerca da importância e das nuances do processo de ensino
e aprendizagem. Desse modo, a Psicopedagogia é um campo
de conhecimento multidisciplinar, que atua em duas frentes: a
preventiva e a “curativa”.

Breve histórico da Psicopedagogia


Em meados do século XIX, surgiram na Europa os
primeiros estudos sobre a criança que não aprendia. Janine Mery,
psicopedagoga francesa, aponta este século como aquele em que
teve início o interesse por compreender e atender portadores de
deficiências sensoriais, debilidade mental e outros problemas
que poderiam comprometer a aprendizagem.

Jean Itard, médico francês (1774-1838), estudou sobre a


percepção e o retardo mental. A partir daí, foram surgindo outros

PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM 9
pesquisadores e estudiosos, como o educador suíço Johann H.
Pestalozzi (1746-1827), o educador francês Jacob R. Pereira e o
médico e educador francês Édouard Seguin (1812-1880). Esses
educadores foram pioneiros no tratamento das dificuldades de
aprendizagem. Contudo, eles se preocupavam com as deficiências
sensoriais e debilidades mentais.
Figura 1 - Johann Heinrich Pestalozzi
Unidade 2

Fonte: Wikimedia Commons

Na Europa do séc. XX, tínhamos o avanço do capitalismo,


avanços científicos e uma expansão nas concepções teóricas que
buscavam justificar as desigualdades sociais, e, aqui, os primeiros
problemas de aprendizagem foram verificados.

Neste contexto, surge na França, além da psicopedagoga


Janine Mery, George Mauco (1899-1988), que foram pioneiros
em utilizar o termo Psicopedagogia para caracterizar uma ação
terapêutica. Mauco foi o fundador, juntamente com J. Boutonier,
do primeiro Centro Médico-Psicopedagógico na França, em
1946. Esse Centro tinha como finalidade tratar crianças com
comportamentos inadequados socialmente, com o objetivo de
adaptá-los.

10 PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM
A Pedagogia Curativa, exercida na França, era um
método que favorecia a readaptação pedagógica do aluno,
auxiliando na aquisição de conhecimento científico e também no
desenvolvimento pessoal. Isso é o que está no cerne daquilo que
hoje chamamos de Psicopedagogia.

Na América do Sul, a Psicopedagogia teve destaque


na Argentina, tendo suas ideias pautadas na
literatura francesa. Os estudos argentinos foram
VOCÊ SABIA? marcados pelos autores franceses, como: Lacan
(1901-1981) e sua Psicanálise Estruturalista,
Maud Mannoni (1923-1998), fundadora da Escola
Experimental de Bonneuil-Sur-Marne, Françoise
Dolto (1908-1988), especialista em distúrbios
da psicomotricidade e da linguagem, Janine

Unidade 2
Mery, ainda viva, que considerava o pedagógico
e o psicológico no tratamento de distúrbios
de aprendizagem, Michel Lobrot, pedagogo,
psicopedagogo e teórico dos efeitos da autoridade
na educação e outros mais que foram importantes
na fundamentação desse campo.

Na Argentina, a graduação de Psicopedagogia surgiu em


meados da década de 1950, na Universidade de Buenos Aires,
com a escola de Psicologia e tinha como eixo central de formação
as práticas da docência, assistência e investigação. Mais tarde,
na década de 1970, com a criação dos Centros de Saúde Mental,
houve uma mudança, os psicopedagogos começam a incluir no
seu trabalho o olhar e a escuta da Psicanálise (BOSSA, 2000).
Assim, passou-se a valorizar a área clínica da Psicopedagogia,
incluindo o diagnóstico e tratamento das crianças que não
aprendem.

Na prática do psicopedagogo argentino, estavam


presentes vários testes, por exemplo: as provas de inteligência
(Wisc), as provas de nível de pensamento (Piaget), a avaliação

PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM 11
do nível pedagógico (Eoca), a avaliação perceptomotora (teste
Bender), os testes projetivos (CAT, TAT, desenho da família,
desenho da figura humana e HTP), os testes psicomotores
(provas de estruturas rítmicas e o teste da lateralidade) e o jogo
psicopedagógico (objetos lúdicos). Isso difere muito da atuação
no Brasil, pois a utilização de muitos desses testes era somente
permitida para psicólogos.

A Psicopedagogia Argentina influenciou fortemente a


Psicopedagogia no Brasil. Os teóricos que se destacam são: Jorge
Visca (1935-2000) com sua Epistemologia Convergente e Emília
Ferreiro com seus estudos sobre o processo de alfabetização.
Citamos também Sara Pain, por meio de seus estudos que
diferenciam os problemas de aprendizagem dos problemas das
instituições, e Alícia Fernández (1946-2015), que introduz a escuta
Unidade 2

e o olhar psicanalítico nos atendimentos psicopedagógicos


(escuta psicopedagógica).

Quer se aprofundar na história da Psicopedagogia?


Então recomendamos a leitura do livro “A
Psicopedagogia no Brasil: contribuições a partir da
SAIBA MAIS prática” de Nadia Bossa.

A Psicopedagogia brasileira
Como já vimos, no Brasil, a Psicopedagogia tem forte
influência das ideias argentinas, pela proximidade geográfica e
também pelo fácil acesso à literatura.

12 PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM
Figura 2 – Psicopedagogia

Fonte: Freepik

A Psicopedagogia no Brasil pode ser dividida em três


momentos históricos.

Unidade 2
No primeiro, meados da década de 1960, a maneira de
se pensar sobre os distúrbios de aprendizagem sofreu algumas
transformações. Antes, a criança era considerada inapta
diante do sistema convencional de educação e era avaliada e
encaminhada para um trabalho de reeducação, que se utilizava
da repetição e do treino de exercícios referentes à dificuldade
de aprendizagem. Posteriormente, levantaram-se hipóteses de
que essas dificuldades estavam relacionadas à carência cultural
dos brasileiros. O aspecto orgânico foi somado a outros fatores,
principalmente ao manejo inadequado das instituições.

No segundo momento, por volta das décadas de 1970 e


1980, a Psicopedagogia ampliou o seu objeto de estudo, ocupando-
se com a compreensão mais generalizada da aprendizagem
humana. Buscou fundamentos em outras disciplinas, como: a
Psicanálise, a Psicologia Genética, a Linguística, a Neurologia, a
Sociologia e a Filosofia. A Psicopedagogia foi além de prevenir
possíveis desajustes na aprendizagem, otimizando os processos
e produzindo conhecimento. O indivíduo foi inserido em um

PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM 13
contexto, e o olhar da Psicopedagogia começou a considerar
suas múltiplas dimensões: aspecto orgânico, aspecto subjetivo e
aspecto sociocultural.

Na década de 1970, surgiram os primeiros cursos de


especialização em Psicopedagogia, voltados para a formação
complementar de psicólogos e educadores. Na década de
1980, começou-se a disseminar teorias sobre o problema de
aprendizagem escolar, que passou a ser chamado também de
“problema de ensinagem”.

Em Porto Alegre, profissionais organizaram um centro de


estudos de Psicopedagogia e, em 1970, iniciaram os cursos de
formação na Clínica Médico–Pedagógica com duração de dois anos.

Em 1984, foi realizado em São Paulo o primeiro encontro


Unidade 2

de Psicopedagogia, com a presença de Clarissa Golbert e Sonia


Kiguel. A partir deste evento, criou-se um grupo de estudos de
Psicopedagogia, que mais tarde se tornaria a Associação de
Psicopedagogos de São Paulo e, posteriormente, a Associação
Brasileira de Psicopedagogia (ABPp). A criação da associação
foi um marco para a institucionalização da profissão de
psicopedagogo no Brasil.

Conheça o site da Associação. Lá tem várias


informações sobre eventos, documentos, publicações
e novidades referentes à Psicopedagogia. Disponível
ACESSE no QR-Code.

14 PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM
Em 1979, foi criado o primeiro Curso de Psicopedagogia
no Instituto Sedes Sapientiae em São Paulo, com o objetivo
de valorizar a ação do educador. Começou com o tema da
reeducação em Psicopedagogia, depois assumiu um caráter
terapêutico, discutindo também o papel do psicopedagogo e a
sua identidade profissional. Assim, as mudanças continuaram
refletindo sobre a prática psicopedagógica. Atualmente, a
formação em Psicopedagogia se dá por meio de cursos de
graduação e de pós-graduação em institutos de ensino superior
espalhados pelo país.

A atividade de Psicopedagogia foi regulamentada


no Brasil somente em 2014, após anos de
tramitação no congresso. De acordo com o texto
do Projeto de Lei da Câmara n.° 31 de 2010, podem

Unidade 2
VOCÊ SABIA?
exercer essas atividades profissionais que possuam
diploma de graduação em Psicopedagogia,
profissionais psicólogos, pedagogos ou licenciados
e fonoaudiólogos que tenham concluído o curso
de especialização em Psicopedagogia. Disponível
no QR-Code.

O terceiro momento, ainda muito ligado ao segundo, tem


como foco o processo de construção do sujeito. Sujeito esse que
pensa, sente, relaciona-se e tem uma história, ou seja, um sujeito
pluridimensional. Assim, entendemos que a Psicopedagogia
brasileira ainda é um campo em construção, em busca de uma
identidade formal, mas que nem por isso é menos estruturada
que qualquer outro campo do saber.

PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM 15
A Psicopedagogia
A Psicopedagogia, como disciplina confluente, é apoiada
pela Psicologia e Pedagogia e concebe sua interseção disciplinar,
para formar um profissional que irá trabalhar com o professor
para resolver esses problemas.

A partir disto, a fundação dessas disciplinas conjuntas


incorporou outro conhecimento epistemológico, antes do grande
e rápido desenvolvimento científico, tecnológico, social, filosófico,
econômico, político, antropológico e ecológico, estendendo a sua
epistemológica e local de trabalho, a ponto de resolver a junção
entre elas, construção ou ciência. Hoje, dizemos que é uma
construção disciplinar que lida com o processo de aprendizagem
de todo ser humano ao longo de seu ciclo de vida, desde o
Unidade 2

processo de gênese ou gravidez até sua finalidade.

O entendimento se dá como o processo de mudança


de comportamentos dos seres humanos em todo o seu
desenvolvimento de vida, que é operado pela interação com o
ambiente sociocultural, que é realizada no tempo e estabilizada,
permitindo adaptação à realidade atual. Por isso, não só trata
de um processo de aprendizagem saudável e adaptativo, mas
também de fraturas, sejam elas causadas por desequilíbrios
bioquímicos, funcionais ou socioambientais.

A Psicopedagogia abre sua intervenção em diferentes


campos disciplinares, saúde, educação, trabalho, terceira e quarta
idade, judicial, meios de comunicação, atendendo várias funções,
incluindo: gestão, aconselhamento, diagnóstico, tratamento,
prevenção, entre outras. O eixo da abordagem psicopedagógica
é, sem hesitação, o processo diagnóstico psicopedagógico,
em Saúde, Educação ou qualquer um de seus campos. Como

16 PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM
qualquer processo avaliativo, ele tem uma sequência de
etapas, começando no início, propondo um desenvolvimento e
terminando com um encerramento.

E, então? Gostou do que lhe mostramos?


Aprendeu mesmo tudinho? Agora, só para termos
certeza de que você realmente entendeu o tema
RESUMINDO de estudo deste capítulo, vamos resumir tudo o
que vimos. Você deve ter compreendido a origem
da Psicopedagogia, identificando seus principais
marcos históricos, desde o seu surgimento e
desenvolvimento no contexto mundial até a sua
chegada e seu desenvolvimento no Brasil. Assim,
você pôde compreender a importância que a
Psicopedagogia exerceu na vida das pessoas e os
avanços que ela ocasiona para elas. Por fim, com

Unidade 2
uma abordagem geral sobre a Psicopedagogia,
vimos que ela é apoiada pela Psicologia e Pedagogia
e concebe sua interseção disciplinar, para formar
um profissional que irá trabalhar com o professor
para resolver esses problemas.

PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM 17
Concepções teóricas da
Psicopedagogia
Ao término deste capítulo, você será capaz de
definir os conceitos segundo as concepções
teóricas da Psicopedagogia. E, então? Motivado
OBJETIVO para desenvolver esta competência? Vamos lá.
Avante!

Notas introdutórias
Desde o surgimento da Psicopedagogia, incontáveis
abordagens teóricas contribuíram para a construção de um
saber sobre os processos de aprendizagem e suas dificuldades.
Unidade 2

A Psicopedagogia é um campo de saber interdisciplinar. Suas


concepções teóricas têm como fonte principal a Educação e a
Psicologia.

Nos anos 1960 e 1970, as teorias mais utilizadas na


Psicopedagogia eram o Behaviorismo e o Humanismo. Vejamos
a seguir.

Behaviorismo
No Behaviorismo, temos o ensino tradicional, em que o
estímulo da criticidade e da reflexão era basicamente nulo. O
professor era reconhecido como um instrutor, em uma relação
vertical com o aluno. O psicólogo norte-americano Jonh B. Watson
(1878-1958), que era um dos importantes teóricos dessa corrente,
afirmava que monitorando e controlando os estímulos corretos
de uma criança, ao longo do seu crescimento, poderíamos
transformá-la no que quiséssemos. Ou seja, a aprendizagem era
entendida como um processo externo, que se concretizava na

18 PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM
equação estímulo-resposta e, controlando as variáveis do meio
externo, teríamos controle sobre a aprendizagem.
Figura 3 - John B. Watson

Unidade 2
Fonte: Wikimedia Commons

Assista ao vídeo “Behaviorismo (1): metodológico e


radical”, disponível no QR-Code.

ACESSE

Humanismo
O Humanismo teve como seu principal representante
o psicólogo americano Carl Rogers (1902-1987). Em sua
teoria, era valorizada a criatividade do aluno e sua liberdade,
com o objetivo de favorecer a aprendizagem. O professor é

PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM 19
considerado um facilitador do processo, devendo aguardar que
seus alunos assumam o controle sobre as suas ações em direção
à aprendizagem. Rogers afirmava que o indivíduo é responsável
pela capacidade de mudança e que o importante não é aprender
certos conteúdos, mas sim sua autorrealização e o aprender a
aprender.
Figura 4 - Carl Rogers
Unidade 2

Fonte: Wikimedia Commons

Sobre a terapia não diretiva de Carl Rogers e a tarefa


do professor como facilitador do aprendizado,
leia o artigo “Carl Rogers, um psicólogo a serviço
ACESSE do estudante” de Márcio Ferrari. Para realizar a
leitura, clique no QR-Code.

20 PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM
Na história mais recente da Psicopedagogia, observa-
se que existem três teorias que são discutidas: a Psicanálise, o
Associacionismo e o Construtivismo.

Associacionismo
O principal representante do associacionismo foi Edward
Thorndike (1874-1949).
Figura 5 - Edward Thorndike

Unidade 2

Fonte: Wikimedia Commons

Para esta teoria, a aprendizagem se dá por um processo


de associação de ideias, do mais simples para o mais complexo.
Assim, o ensino é mais tecnicista, não priorizando as funções
cognitivas. Os conteúdos são aplicados sequencialmente para
que o aluno siga um raciocínio até chegar à resposta correta.

PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM 21
Você sabia que a origem do Associacionismo
remonta de longa data? Saiba mais, leia o artigo
“Como surgiu o associacionismo”. Disponível no
SAIBA MAIS QR-Code.

Construtivismo
Como alternativa ao Associacionismo, surgiu o
Unidade 2

Construtivismo. Essa teoria não beneficia somente os conteúdos,


mas também a construção do conhecimento, valorizando as
interações feitas no processo.
Figura 6 - Jean William Fritz Piaget

Fonte: Wikimedia Commons

22 PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM
O Construtivismo é inspirado pelos estudos de Jean
Piaget, teórico suíço que representa essa abordagem. Ele
acreditava que a criança precisa assimilar o conhecimento para
depois acomodá-lo. Cada conhecimento que é acomodado leva
o sujeito a alcançar a adaptação e a organização de todo novo
conhecimento. A aprendizagem acontece em cada procedimento,
não privilegiando nem o início nem o fim do processo, mas cada
passo.

Piaget propôs quatro estágios de desenvolvimento da


infância:

• Período sensório-motor (0-2 anos).

• Período pré-operacional (2-7 anos).

Unidade 2
• Período operacional concreto (7-11).

• Período operacional formal (11 e mais, até cerca de 19


anos).

Em cada um desses estágios, segundo o estudioso, a


criança amadurece habilidades e capacidades, entre elas a de
percepção e representação do meio, o autoconhecimento e as
relações sociais mais intensas, o estabelecimento de relações
de respeito e obediência, e a busca por situar a sua identidade
pessoal e o seu meio social.

Leia o artigo “Desenvolvimento infantil: o que é?


Conheça as 4 fases de Jean Piaget”. Acesse o link
disponível no QR-Code.
SAIBA MAIS

PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM 23
A Psicanálise
A Psicanálise surgiu no início do século XX, por meio dos
estudos do médico neurologista austríaco, Sigmund Freud (1856-
1939). Embora o objeto da Psicanálise não seja a Educação, ela
também contribui para o arcabouço teórico da Psicopedagogia.

Melanie Klein (1882-1960), psicanalista austríaca e


seguidora de Freud, sugere que sempre haverá um objeto a ser
conhecido, alguém que impulsiona para o conhecimento e que o
vínculo afetivo é como uma ponte, estabelecendo conexões para
que tanto o emocional quanto o intelectual se desenvolvam.
Figura 7 – Melanie Klein em 1952
Unidade 2

Fonte: Wikimedia Commons

Percebemos que o arcabouço teórico se organizou


principalmente a partir de teorias como a Psicanálise e Psicologia
Genética.

24 PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM
Você já sabe que autores como Sara Paín, Jorge Visca
e Alicia Fernandez foram pioneiros na criação de um modelo
de diagnóstico e intervenção psicopedagógica. Para fazer um
diagnóstico, é importante entender como a criança aprende em
diferentes contextos, seja na família ou no mundo externo. É
preciso, então, adentrar o mundo desse sujeito, compreendendo
como ele vê o mundo.

Para que isso ocorra, precisamos atentar a três estruturas:


Figura 8 – Estruturas do ser humano

Estrutura biológica

Estrutura psíquica

Unidade 2
Estrutura mental

Fonte: Elaborada pela autoria (2023).

Sobre essas estruturas, destacaremos três teóricos


da Psicologia que fazem parte do referencial teórico da
Psicopedagogia.

A estrutura biológica se refere à maturação ou aos


danos do Sistema Nervoso Central (SNC). Em seus estudos,
Vygotsky apontava para a importância que a maturação tem
nos processos de aprendizagem. Foi ele também que assinalou
a noção de neuroplasticidade, possibilitando intervenções que
podem reverter quadros aparentemente irreversíveis. Vygotsky
afirmava que todo ser humano é capaz de aprender no seu
tempo.

A estrutura psíquica compreende os aspectos subjetivos


do indivíduo. Destacamos Sigmund Freud, que formulou aTeoria
do Aparelho Psíquico, composto por: consciente, pré-consciente
e inconsciente, que apontam para o funcionamento dinâmico

PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM 25
do psiquismo, e, em segundo lugar, o id, o ego e o superego,
que são as suas diferentes instâncias. A teoria freudiana até hoje
é fortemente marcada pela descoberta do inconsciente e suas
influências no cotidiano.

A estrutura mental é onde estão os processos mentais


que serão utilizados para a construção de conhecimento. Destaque
para Piaget, que descreveu os estágios do desenvolvimento
cognitivo, que são: sensório-motor, pré-operatório, operatório
concreto e operatório formal. O teórico dizia que o aprendizado
se dá por meio de desafios que geram desequilíbrios e que
depois geram equilíbrio novamente, assim sucessivamente até
que se desenvolva o nível operatório formal.

Também destacamos os estudos da Psicologia Social de


Unidade 2

Pichon-Rivière, da Psicologia Institucional de Bleger e da Análise


Institucional de Lapassede, que impulsionaram os estudos da
Psicopedagogia Institucional.

São inúmeras as teorias que influenciaram e ainda


influenciam as concepções psicopedagógicas.
Dado o seu caráter transdisciplinar, devemos
EXPLICANDO
MELHOR também reconhecer as áreas de conhecimento
que foram e são responsáveis pela composição
desse campo de saber. São elas: a Filosofia, a
Neurologia, a Sociologia, a Linguística, a Psicologia
e principalmente a Educação.

26 PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM
E, então? Gostou do que lhe mostramos?
Aprendeu mesmo tudinho? Agora, só para termos
certeza de que você realmente entendeu o tema
RESUMINDO de estudo deste capítulo, vamos resumir tudo o
que vimos. Aprendemos sobre o Behaviorismo,
que foi impulsionado por Jonh B. Watson, que
afirmava que monitorando e controlando os
estímulos corretos de uma criança, ao longo do
seu crescimento, poderíamos transformá-la no
que quiséssemos. Em seguida, estudamos sobre
o Humanismo que teve como representante Carl
Rogers, sendo valorizada a criatividade do aluno
e sua liberdade, com o objetivo de favorecer a
aprendizagem. Vimos também o Associacionismo
que teve como principal representante Edward

Unidade 2
Thorndike, defendendo que a aprendizagem se dá
por um processo de associação de ideias, do mais
simples para o mais complexo. No que diz respeito
ao Construtivismo, a inspiração são os estudos de
Jean Piaget que acreditava que a criança precisa
assimilar o conhecimento para depois acomodá-
lo. Por fim, estudamos sobre a Psicanálise e as
suas três estruturas: estrutura biológica se refere
à maturação ou aos danos do sistema nervoso
central; estrutura psíquica compreende os aspectos
subjetivos do indivíduo; e estrutura mental na qual
estão os processos mentais que serão utilizados
para a construção de conhecimento.

PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM 27
Psicopedagogia na prática
Ao término deste capítulo, você será capaz de
aplicar as técnicas de avaliação e diagnóstico
psicopedagógicos. E, então? Motivado para
OBJETIVO desenvolver esta competência? Vamos lá. Avante!

Introdução
A Psicopedagogia se ocupa da aprendizagem humana,
entendendo que tal aprendizagem ocorre de forma processual
e contextualizada. Isso quer dizer que a Psicopedagogia
considera que a aprendizagem envolve o sujeito como um todo:
seus aspectos físico-biológicos, afetivo-emocionais e também
Unidade 2

socioculturais, que influenciam e são influenciados a todo o


momento pelo meio em que o sujeito está inserido.

A partir disso, podemos fazer os seguintes


questionamentos: como se aprende? Como essa aprendizagem
varia gradativamente e está condicionada por vários fatores?
Como se produzem alterações na aprendizagem? Como
reconhecê-las, tratá-las e preveni-las? Não temos todas as
respostas. Mas, disso se trata a prática e o objeto de estudo
da Psicopedagogia: compreender que esse objeto é um sujeito
complexo, que adquire características específicas a depender da
sua vivência e maneira de perceber o mundo.

O psicopedagogo deve estar comprometido com qualquer


tipo de aprendizado e de ensino, não somente o que é exercido
na escola.

Diante desse objeto de estudo, a Psicopedagogia tem


duas formas principais de atuação, seja no âmbito clínico ou
institucional: a preventiva e a terapêutica.

28 PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM
Na atuação preventiva, a ação é com a equipe envolvida
no processo, como os professores, familiares e a comunidade de
vários modos. Destacamos algumas formas de atuação de forma
preventiva:

• Participar das dinâmicas das relações da comunidade


educativa, com o objetivo de favorecer processos de
integração e troca.

• Promover reflexão e orientação metodológica, a fim de


encontrar soluções mais acessíveis.

• Realizar processos de orientação educacional,


ocupacional, em grupo ou individualmente.

• Proporcionar momentos de reflexão sobre o papel da

Unidade 2
escola para a comunidade.

• Proporcionar reflexão sobre habilidades, princípios e


estratégias que são importantes para a aprendizagem.

• Auxiliar a equipe escolar na determinação, escolha e


elaboração dos objetivos educacionais, das estratégias
de ensino e dos instrumentos de avaliação.

Na prática terapêutica, entendemos que o psicopedagogo


irá atuar principalmente com o sujeito ou instituição que
demanda uma atenção específica. O enfoque terapêutico tem
como premissa a identificação, análise e elaboração de uma
metodologia diagnóstica e tratamento das dificuldades no
processo de aprendizagem.

Destacamos também algumas atividades na prática


terapêutica, que são:

• Discutir, preparar e ajudar o professor no


encaminhamento de alunos para atendimento
psicopedagógico em grupo ou individualmente.

PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM 29
• Participar do diagnóstico de distúrbios de aprendizagem.

• Atendimento clínico de demandas de transtornos e


distúrbios de aprendizagem.

• Auxiliar o professor a compreender o problema ou


bloqueio do aluno, levando alternativas para a solução.

A prática da Psicopedagogia, seja preventiva ou


terapêutica, deve ser pensada em um enfoque transdisciplinar,
analisando sempre as bases do processo de aprendizagem.
Estas bases estão presentes na existência do homem, na sua
constituição, no seu modo de aprender e/ou ensinar, nas
diferenças e singularidades que existem. A transdisciplinaridade
implica em um modo de entender o processo de aprendizagem
como complexo plural, que considera as capacidades humanas
Unidade 2

e suas diversas maneiras de elaborar, simbolizar, captar, criar,


mostrar e expressar algum conhecimento.

Recomendamos que assista ao vídeo


“Psicopedagogia (parte 1)”, da Psicopedagoga Nadia
Bossa, para aprofundar mais seu conhecimento
ACESSE sobre a Psicopedagogia, disponível no QR-Code.

Avaliação e diagnóstico
psicopedagógico
O objeto da Psicopedagogia é, como temos afirmado,
o processo de aprendizagem do sujeito em questão. Dito isto,

30 PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM
entendemos que a sua prática se insere nesse contexto: levar
aqueles que têm alguma dificuldade de aprendizagem por
um caminho que os conduza a uma melhor execução desse
processo e também que resgatem o prazer de adquirir novos
conhecimentos.

Há vários fatores que interferem na aprendizagem. Por


isso a importância de identificar quais são esses fatores, para,
então, poder minimizar a sua interferência nesse processo. Assim
como existem várias dificuldades diferentes, há também várias
formas de identificá-las, avaliá-las, diagnosticá-las e de tratá-las.
Cada psicopedagogo possui um estilo para fazer tal avaliação,
de acordo com a sua formação, seus referenciais teóricos e sua
forma de compreender o indivíduo.

Unidade 2
Apresentaremos alguns aspectos da avaliação e do
diagnóstico psicopedagógico, mas de uma forma generalista.
Lembrando sempre que esse processo deve ser feito de forma
ampla, considerando todas as dimensões do sujeito, auxiliando
na busca por um caminho que o leve à desconstrução dos
bloqueios e das dificuldades no aprendizado.
Figura 9 - Atendimento psicopedagógico

Fonte: Freepik

PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM 31
A avaliação psicopedagógica
A avaliação psicopedagógica é a forma de iniciar uma
investigação dos componentes do processo de aprendizagem.
Nela, busca-se coletar dados e informações que servirão de base
para fundamentar as decisões para prevenção ou solução dos
problemas, dificuldades e bloqueios do sujeito.

A avaliação é um processo dinâmico, que tem


como objetivo entender a origem da dificuldade e/
ou do distúrbio apresentado na queixa. Ela inclui
EXPLICANDO
MELHOR a entrevista inicial com os pais, com a criança e
também com a escola, análise de material escolar
e a utilização de recursos como: testes, atividades
e instrumentos de avaliação de desenvolvimento,
áreas de competência e dificuldades apresentadas.
Unidade 2

Algumas etapas da avaliação psicopedagógica:

a. Identificação dos fatores responsáveis pelas


dificuldades da criança.

b. Levantamento do repertório infantil relativo às


habilidades acadêmicas e cognitivas.

c. Identificação de características emocionais da criança.

Na primeira etapa descrita, o psicopedagogo deve


identificar quando se trata de um transtorno de aprendizagem
ou de uma dificuldade advinda por outros fatores (emocionais,
cognitivos ou sociais). São coletados dados referentes à
dificuldade da criança e investiga-se a existência de quadros
neurológicos, psicológicos, psiquiátricos, condições familiares
e ambiente escolar. Para que essa investigação tenha maior
credibilidade, é necessária uma equipe multidisciplinar, com
psicólogos, neuropediatras, fonoaudiólogos e outros que sejam

32 PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM
adequados ao caso, além de ter uma boa parceria e cooperação
com a escola.

Na segunda etapa, é importante que o profissional tenha


conhecimento sobre as habilidades que a criança já possui,
ou que já teve a oportunidade de adquirir. Para isso, indica-
se que seja feito um levantamento do conteúdo acadêmico,
da proposta pedagógica da escola que a criança está inserida,
investigação da atenção, hábitos de estudo, solução de
problemas, psicomotricidade, desenvolvimento da linguagem,
avaliação de requisitos que facilitem a aprendizagem, padrões
de raciocínio, déficits e preferências da criança.

A terceira etapa envolve a investigação de estímulos

Unidade 2
e reforçadores aos quais a criança responde ou não, além de
entender qual a interação com as exigências e expectativas
escolares e familiares que recaem sobre ela.

Para que essas etapas sejam concluídas, podem ser


realizadas diversas atividades, tudo vai depender da forma como
o psicopedagogo vai conduzir o processo de avaliação e também
da sua criatividade. Muitas vezes a queixa trazida pelos pais ou
pela escola já indica o caminho inicial para a investigação, além
da forma com que eles compreendem a dificuldade da criança
e qual é o lugar que ela ocupa. Isso também é uma informação
importante para a avaliação da queixa inicial.

Podem ser realizadas atividades matemáticas, provas


de nível de pensamento e outras funções cognitivas, leitura,
escrita, desenhos e jogos. Outros instrumentos que também
podemos destacar são: escrita livre e dirigida que avalia a
grafia, ortografia e produção de texto, leitura (que avalia a
decodificação e compreensão), provas de avaliação de nível de
pensamento e funções cognitivas como atenção, cálculos, jogos
simbólicos e jogos com regras, desenho e análise de grafismo.

PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM 33
Existem ainda outros recursos, como os testes
psicométricos. Mas, no Brasil, estes são de uso exclusivo dos
profissionais da Psicologia.

Depois de coletadas as informações e os dados necessários,


o psicopedagogo elabora uma intervenção que busca solucionar
minimamente os problemas de aprendizagem. A avaliação também
serve para reorganizar a vida escolar e doméstica da criança. A
avaliação nada mais é do que a localização das dificuldades e o
comprometimento com a sua superação. Esse comprometimento
tem que partir de todos os envolvidos na questão: criança, família,
escola e profissional psicopedagogo.

Ressaltamos que a avaliação deve ser um processo


breve, e que o diagnóstico, em muitos casos,
somente é concluído no decorrer do tratamento.
Unidade 2

IMPORTANTE Além disso, é importante dizer que nem todos que


se submetem a uma avaliação psicopedagógica
irão necessitar ou continuar em um atendimento
nessa área. As dificuldades avaliadas e identificadas
durante o processo (salvo em casos de transtorno
de aprendizagem ou uma questão mais grave)
podem ser solucionadas por outras vias, por
exemplo: um programa de assistência ao aluno na
escola ou encaminhamento para outro profissional
(psicólogo, fonoaudiólogo etc.).

A avaliação psicopedagógica irá fornecer informações


importantes e necessárias em relação às dificuldades do aluno,
bem como de seu contexto escolar, familiar e social. Com tais
informações, justifica-se a real necessidade de intervir, gerando
modificações na proposta educacional em que a criança está
inserida, no seu meio social e nas suas funções cognitivas.
Esta avaliação pode ou não dar início a um atendimento

34 PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM
psicopedagógico, pois algumas dificuldades de aprendizagem
podem ser solucionadas em outros contextos, como a escola,
atendimentos psicológicos, assistência à família etc. Daí a
importância fundamental de se ter uma equipe multidisciplinar
disponível no momento da avaliação.

No vídeo, disponível no QR-Code, Nadia Bossa


relata um caso de atendimento psicopedagógico
inicial, avaliação e processo diagnóstico.
ACESSE

Unidade 2
O diagnóstico psicopedagógico
Estabelecer um diagnóstico é uma tarefa difícil, para
tanto, é necessária à participação de uma equipe multidisciplinar
e, também, a utilização de recursos variados, a fim de se fazer
uma investigação e um levantamento de hipóteses que serão
testadas ao longo do processo. Acreditamos que o diagnóstico
não é um dado concreto e vitalício, mas é um conjunto de
informações e dados referentes a um dado momento do
sujeito. Isso significa dizer que um diagnóstico deve ser revisto
e atualizado periodicamente, não servindo de rótulo para essas
crianças.

PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM 35
Figura 10 - Diagnóstico psicopedagógico

Fonte: Freepik

O diagnóstico psicopedagógico é uma investigação que


Unidade 2

abre os caminhos para uma intervenção mais precisa, dando


início ao processo de superação das dificuldades. O objetivo
do diagnóstico é entender qual o obstáculo no processo de
aprendizagem e quais são os caminhos para superá-lo. É uma
forma de se analisar a situação do aluno, seja no contexto escolar,
da sala de aula, familiar ou social.

Durante esse processo, é importante que o


psicopedagogo esteja atento ao discurso, à
postura, à atitude do paciente e também dos
NOTA envolvidos com a queixa. Esses comportamentos
dão dicas importantes a respeito das questões que
devem ser avaliadas. Ter esse olhar e escuta atenta
possibilita lançar mão das primeiras hipóteses
sobre o indivíduo. Esses dados que chegam
por meio da percepção do profissional, muitas
vezes, ultrapassam os dados relatados. Cabe ao
profissional buscar nas entrelinhas, na emoção e
na elaboração do discurso informações que estão
implícitas e, por vezes, inconscientes.

36 PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM
O diagnóstico, para ser mais preciso, envolve ao menos
três áreas profissionais: Neurologia, Psicopedagogia e Psicologia.
Estes campos de conhecimento possibilitam a identificação das
causas do problema, além de descartarem possíveis fatores que
não são importantes ou hipóteses infundadas.

O objetivo é compreender de forma global o modo como


o indivíduo aprende e quais os desvios que ocorrem durante o
processo. Isso levará a um encaminhamento e prognóstico mais
acertados para cada caso.

Os dados obtidos em relação aos diferentes aspectos


do indivíduo são organizados de forma particular e são
individualizados. Nesse momento, o psicopedagogo deve

Unidade 2
interagir com as partes envolvidas na queixa e no processo de
aprendizagem: aluno, família e escola. O diagnóstico deve ser um
trabalho conjunto, no qual os envolvidos participam de fato do
processo.

Ele não aponta somente para as manifestações aparentes


das dificuldades escolares, mas implica em uma investigação
profunda, na qual são identificadas questões que interferem no
desenvolvimento do aluno e sugerem atividades adequadas para
a compreensão e correção dessas dificuldades.

É importante dizer que o diagnóstico é tão


relevante quanto o tratamento, devendo ser
conduzido com muito cuidado, observando a
IMPORTANTE criança e suas mudanças de comportamento.
É necessário também que o profissional atente
para o significado do sintoma no âmbito familiar e
escolar, não analisando apenas como um recorte.

O diagnóstico não pode ser considerado um momento


estático. Ele deve ser visto como um momento transitório, uma

PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM 37
fase a ser concluída entre a avaliação e a intervenção. Para
isso, deve seguir alguns princípios, como: análise do contexto
e identificação do sintoma, análise de fatores coexistentes com
o sintoma, bloqueio de ordem do conhecimento, de ordem da
interação, da ordem do funcionamento e da estrutura, análise
da origem do sintoma e suas causas históricas, diferenciação dos
parâmetros aceitáveis de desenvolvimento, levantamento de
hipóteses de confirmação futura, indicações e encaminhamentos.

A hipótese diagnóstica não deve se fundamentar apenas


nas dificuldades e nos problemas, mas indicar também e,
principalmente, as potencialidades do indivíduo. Não somente
as características e habilidades que o sujeito já possui que são
importantes, mas também o que ainda está por se desenvolver,
aquilo que o sujeito pode se tornar. Isso é muito importante e
deve ser valorizado.
Unidade 2

Ao pensar nos instrumentos para o diagnóstico, o


psicopedagogo pode utilizar como recursos: a entrevista com
a família e com a escola e investigar o motivo da queixa. É
importante conhecer o histórico da criança, fazendo a anamnese,
entrevistando o aluno, contatar a escola e outros profissionais e
realizar encaminhamentos quando necessário.

Existem também os testes. Provas de inteligência (Wisc),


testes projetivos (HTP), avaliação perceptomotora (Teste de
Bender), teste de apercepção infantil (CAT) e teste de apercepção
temática (TAT). Mas estes são de uso exclusivo dos profissionais
psicólogos, pois são necessários uma formação específica e o
registro no conselho profissional para sua utilização.

Mas o psicopedagogo pode utilizar outros instrumentos,


como as provas piagetianas, desenhos e testes que mencionam
o nível de pensamento e de escolarização. Além disso, pode
usar a criatividade para elaborar atividades que possibilitem as
mesmas observações feitas nos testes.

38 PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM
Os jogos, tanto os simbólicos quanto os jogos com regras,
são importantes recursos também. Por meio deles, o sujeito
manifesta sua visão de mundo, seus mecanismos de defesa e seus
desejos. Nos jogos, também podem ser simulados problemas
reais e cotidianos, apresentando desafios e possibilitando
observar como a criança age em determinadas situações.

Elencamos algumas etapas do diagnóstico


psicopedagógico. Lembrando que essas etapas estão descritas
de modo generalizado, pois cada psicopedagogo atua de
forma única e singular de acordo com as suas vivências, suas
experiências e sua concepção teórica.
Quadro 1 - Etapas do diagnóstico psicopedagógico

Unidade 2
ETAPA DESCRIÇÃO
Tem como objetivo compreender a queixa no âmbito da
escola e da família. Entender as relações e expectativas
ENTREVISTA referentes à aprendizagem escolar e em relação ao
FAMILIAR psicopedagogo. Perceber o engajamento do paciente
e da família no processo e esclarecimento de possíveis
dúvidas.
Colher dados sobre a história do sujeito na família:
história presente, passada e projeções para o futuro.
Nesta etapa, são levantados dados sobre as primeiras
aprendizagens, desenvolvimento geral, histórico clínico,
histórico familiar e histórico escolar. É importante
também descobrir em que medida a família possibilita o
desenvolvimento cognitivo da criança. Nos aspectos gerais
de desenvolvimento infantil (controle de esfíncteres,
ANAMNESE aquisição de hábitos, linguagem etc.), é interessante saber
se ocorreram na faixa normal de desenvolvimento ou
se houve defasagem. Também é importante investigar
o histórico clínico: doenças, como foram tratadas,
possíveis sequelas, laudos etc.; e também o histórico
escolar: quando começou a frequentar a escola, como
foi a adaptação, se houve rejeição ou entusiasmo,
troca de escolas, enfim, tudo que envolva positiva ou
negativamente o sujeito em questão.

PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM 39
São fundamentais para entender todos os aspectos
já mencionamos anteriormente. Nesse tipo de
SESSÕES LÚDICAS atendimento, observamos o sujeito como um todo, pois
na brincadeira estão implicados seu funcionamento
cognitivo, motor e suas emoções.
Podem e são utilizados para especificar o nível
pedagógico, cognitivo e/ou emocional. O seu uso não
PROVAS E TESTES é obrigatório, mas é uma forma complementar que
funciona estimulando e provocando variadas reações e
respostas.
É a resposta mais direta à queixa inicial. É o momento
SÍNTESE em que a hipótese é formulada a partir da análise dos
DIAGNÓSTICA dados obtidos. É a síntese que aponta um prognóstico,
uma indicação ou um possível encaminhamento.
É o encerramento do processo de diagnóstico. Um
encontro entre psicopedagogo, sujeito e família, que
tem como objetivo relatar os resultados e dar o devido
Unidade 2

encaminhamento à questão, procurando sanar dúvidas,


afastando rótulos e delegando responsabilidades aos
DEVOLUÇÃO E envolvidos no processo. É importante ressaltar os pontos
ENCAMINHAMENTO positivos do aluno, para que este se sinta valorizado
e não inviabilize novas conquistas. Ao mencionar os
aspectos negativos, que interferem na aprendizagem,
devem ser mencionadas também as recomendações
para sua superação. O encaminhamento para outros
profissionais também pode ser feito neste momento.

Fonte: Moraes (2010).

40 PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM
E, então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu
mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza
de que você realmente entendeu o tema de
RESUMINDO estudo deste capítulo, vamos resumir tudo o que
vimos. A Psicopedagogia lida com o processo de
aprendizagem de forma completa, considerando
todos os aspectos que o influenciam: físico-
biológico, afetivo-emocional e sociocultural. Atua
diante desses aspectos de forma preventiva se
antecipando aos problemas de aprendizagem, ou
de forma terapêutica, identificando, analisando
e dando alternativas para a minimização das
dificuldades de aprendizagem. O diagnóstico
psicopedagógico é um processo de investigação.
Consiste na coleta de dados sobre a criança em seus

Unidade 2
diversos aspectos, desde o seu desenvolvimento
físico, motor, aquisição de linguagem, até o
desenvolvimento no âmbito social e escolar, além
de todas as relações que o cercam. Nesse processo
de avaliação, encontramos algumas etapas, como:
entrevistas com a família e escola, anamnese,
sessões lúdicas, aplicação de testes, levantamento
de hipóteses e, então, o encaminhamento para o
tratamento adequado, que pode ou não ser um
atendimento psicopedagógico. É importante ter
uma equipe de apoio que seja multidisciplinar,
para que sejam descartadas hipóteses infundadas
e seja uma avaliação mais assertiva.

PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM 41
Atuação do psicopedagogo no
mercado
Ao término deste capítulo, você será capaz de
discernir sobre a atuação do psicopedagogo no
mercado. E, então? Motivado para desenvolver
OBJETIVO esta competência? Vamos lá. Avante!

Notas introdutórias
A Psicopedagogia se insere no mercado de trabalho
basicamente com duas formas de atuação: clínica e institucional.
Essas duas formas podem se subdividir, atuando em diversos
campos e ambientes.
Unidade 2

Mercado de trabalho é o nome que se dá à relação que


existe entre a oferta de trabalho e a procura por trabalhadores,
na qual há negociação de preços, quantidades e serviços.
Nesse campo, estão incluídas empresas públicas e privadas, de
economia mista, pessoas físicas e outros tipos de prestação de
serviços

A Psicopedagogia Clínica é o modo terapêutico de atuação.


O profissional atende em um consultório, a fim de descobrir o
porquê de o sujeito não aprender, para, então, iniciar um processo
terapêutico, auxiliando na superação das suas dificuldades. Estes
atendimentos são realizados normalmente em centros de saúde
ou clínicas especializadas, de forma individual, podendo também
ocorrer em grupo.

Nesse tipo de atendimento clínico, é mais comum a prática


da avaliação e do diagnóstico de transtornos de aprendizagem.
Na avaliação psicopedagógica, é feita a investigação da queixa e
se indicam os caminhos para a intervenção.

42 PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM
O psicopedagogo precisa estar atualizado com relação
aos conhecimentos e às pesquisas científicas da sua área, bem
como aos manuais internacionais de diagnóstico, que são o CID-
10 e o DMS-5. Estes manuais devem ser de conhecimento do
psicopedagogo não apenas no que diz respeito aos transtornos
de aprendizagem, mas também com relação às outras síndromes
e aos outros transtornos que podem ser associados. A consulta
aos manuais auxilia no estabelecimento de critérios e hipóteses
diagnósticas mais precisas, além de favorecer a comunicação
com outros profissionais de outras áreas.

A Psicopedagogia Institucional tem caráter preventivo


e pode se inserir em vários contextos: família, escola, hospital,
empresas, organizações assistenciais, ONGs ou no setor público.

Unidade 2
O objetivo da atuação nesses contextos pode ser: analisar
as relações interpessoais, os conhecimentos que circulam e
como circulam e pensar alternativas para conflitos. Assim, por
exemplo, no trabalho hospitalar, podem ser oferecidas oficinas
ou trabalhos lúdicos para os internos. Com as famílias, pode
ser oportuno um trabalho sobre a importância das funções
materna e paterna, resgatando-se o papel educacional da
família, hoje tão esquecido. Na escola, o psicopedagogo pode
analisar a identidade da instituição, os papéis e as funções na
dinâmica relacional, os conceitos de aprendizagem, ensino,
inclusão, o diálogo com as famílias etc.

Portanto, nesses diferentes contextos da escola, da


empresa, da família, do hospital, para cada situação conflitiva
diagnosticada pelo psicopedagogo, torna-se imprescindível
pensar, planejar, pesquisar e executar, com o grupo envolvido,
um plano de intervenção que possa ressignificar o que atrapalha
o bem-estar. Nesse caso, o papel do psicopedagogo é o de
facilitador, mediador, ou de auxiliador na busca por alternativas
para determinada situação.

PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM 43
Bortolanza, Krakl e Biasus (2005) fazem uma reflexão
sobre o papel do psicopedagogo após experiências que tiveram
com grupos de idosos. Os autores relatam que o papel do
psicopedagogo nesses grupos é o de mediador na construção
e reconstrução do conhecimento, interagindo com os idosos
no sentido de superar as dificuldades tanto de aprendizagem
como na dinâmica do grupo. Para isso, é necessário transpor os
conceitos e preconceitos existentes sobre a velhice, reconhecendo
o seu valor, sua experiência e sabedoria, investindo nas
potencialidades e no poder modificador do afeto. Os autores
concluem afirmando que:
deu-se início a uma ação-reflexão sobre o
saber-fazer psicopedagógico junto ao idoso
[...]. O psicopedagogo tem papel importante
Unidade 2

na inclusão do idoso nos grupos de


convivência, facilitando a interação do mesmo
com o conhecimento e com seus pares [...].
(BORTOLANZA; KRAHL; BIASUS, 2005, p. 169-
170)

O psicopedagogo institucional:
atuando na escola
Sabemos que, quando se fala em Psicopedagogia, o
primeiro campo de atuação que pensamos é a escola. Sem
dúvidas que a escola é a instituição que mais requisita a
presença do psicopedagogo, seja na sua forma de atuar clínica
ou institucional. Neste momento, como já tratamos bastante da
prática clínica, avaliação, diagnóstico, recursos e outros aspectos,
iremos agora falar sobre a prática institucional, privilegiando a
instituição escolar. A Psicopedagogia se ocupa da aprendizagem
humana em seus diversos aspectos: físico-biológico, afetivo-
emocional e sociocultural, como já vimos.

44 PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM
A Psicopedagogia Institucional é um campo que tem
crescido e se desenvolvido com foco de ação preventiva aos
problemas de aprendizagem. Mas é também vista como
ameaçadora, pois tem como objetivo fortalecer a identidade do
grupo e transformar a realidade escolar. Para que isso ocorra,
deve haver mudanças naquilo que já está estabelecido como
cultura institucional. Bossa (2007) afirma que:
pensar a escola à luz da Psicopedagogia
significa analisar um processo que inclui
questões metodológicas, relacionais e
socioculturais, englobando o ponto de vista de
quem ensina e de quem aprende, abrangendo
a participação da família e da sociedade.
(BOSSA, 2007, 142)

Unidade 2
A primeira coisa que o psicopedagogo pode e deve fazer em
uma instituição escolar é o diagnóstico institucional. Observando
as características organizacionais, a história da escola e a cultura
institucional. O psicopedagogo deve conhecer os documentos
que regem a escola e que dão o perfil de identificação para a
unidade escolar. Exemplos desses documentos são o regimento
escolar e o Projeto Político Pedagógico (PPP). O PPP é um
documento obrigatório e pode ser considerado o coração da
escola. É ele que comanda a energia e a vida da escola.

É um documento que deve ser elaborado,


preferencialmente, com a participação de toda a equipe escolar.
Mas, sabemos que juntar pensamentos e ideias diferentes para a
construção de um documento é difícil. Por isso, algumas equipes
gestoras acabam contratando uma consultoria de fora para a
elaboração do documento ou acabam por construí-lo sozinhas.
Mas os professores precisam conhecê-lo, para entenderem a
história e os fundamentos da escola e também para saberem com
o que estão concordando, já que todos assinam o documento.

PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM 45
O psicopedagogo na instituição vai trazer
questionamentos. Questionar basicamente tudo e todos os
aspectos da instituição, começando pela gestão da escola. Se
existe democracia, como fluem as relações de trabalho, por
exemplo, são aspectos que o psicopedagogo institucional deve
observar. A cultura da instituição é uma rede de comportamentos,
e o psicopedagogo é chamado, normalmente, quando algo nesta
rede não está funcionando. Assim, o processo de diagnóstico
institucional serve para viabilizar caminhos e propor mudanças
organizacionais. Mudanças estas que podem ser entendidas de
forma positiva ou negativa.

O psicopedagogo é chamado para entender qual o


motivo de a rede de comportamentos e de relações dentro da
empresa não estar funcionando da melhor maneira. O desafio
Unidade 2

do psicopedagogo é mobilizar a equipe para refletir sobre as


suas ações e entender que é preciso que haja esse movimento,
para que a mudança possa ocorrer.

Em qualquer instituição e na escola não é diferente,


existem algumas manifestações de comportamento que
são identificadas e retratam o ambiente institucional. As
manifestações verbais e conceituais são: os heróis e os mitos, ou
seja, algo ou alguém que pode ser bom ou ruim e que é de certa
forma inatingível. As narrativas marcam o ambiente escolar,
ditando os comportamentos e as regras implícitas. Na observação
da instituição, o psicopedagogo deve identificar essas crenças e
narrativas e no decorrer do processo deve saber lidar com elas.

Exemplo – um exemplo dessas manifestações: quando


alguém chega até o psicopedagogo e afirma que “quando
for falar com o diretor, deve ir bem preparado”. Observamos
o mito – o diretor – e a narrativa – uma advertência.

46 PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM
Quando alguém está na posição de mito ou de herói, a
atuação dentro da instituição fica limitada e inviabilizada. Esses
são os dados que o psicopedagogo deve entrar em contato,
deve se manter atento. Desse modo, pode auxiliar o grupo a
desconstruir os mitos e as crenças e entrar em contato com a
realidade e com novas crenças.

Também existem as manifestações visuais e simbólicas,


que são os elementos que podem ser observados de forma
concreta. São os murais, painéis, exposições e cartazes
feitos pelos alunos. Existem também algumas manifestações
comportamentais, que influenciam na atuação das pessoas
envolvidas na organização escolar, que são: atividades normais
da escola e como são desempenhadas, as normas e os

Unidade 2
regulamentos internos e os rituais e cerimônias que fazem parte
da vida da escola (acolhida, oração e outros).

Essas manifestações são singulares e particulares de


cada instituição. Cada instituição possui seus rituais, seu modo
de funcionamento e seu regulamento. Cabe ao psicopedagogo
observar esses elementos e ponderar sobre possíveis
modificações. A escola é um espaço social, que é composto
por uma trama de relações sociais e materiais que gerenciam o
cotidiano das pessoas que por ali circulam. Por este motivo, deve
ser entendida e analisada como uma organização, assim como
seria analisada uma pequena indústria ou uma empresa.

No diagnóstico institucional, o psicopedagogo faz uma


leitura: das narrativas, do currículo aparente e oculto, da dinâmica
das relações entre os atores da escola, das possibilidades
e abertura para mudanças, da necessidade de ajuda, dos
trabalhos já realizados, das dificuldades detectadas, dos vínculos
estabelecidos, dos comportamentos e atitudes e tudo o mais
relacionado com a instituição escolar.

PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM 47
É a partir do diagnóstico que o psicopedagogo pode
propor e executar um plano de intervenção. Na intervenção
psicopedagógica, o objetivo é a construção de uma nova
identidade para a instituição, trabalhando sempre em
corresponsabilidade com a equipe da instituição, com enfoque
interdisciplinar e sempre disposto às trocas e aos diálogos.

O diagnóstico institucional tem caráter preventivo no


sentido de reconstruir processos, redefinir papéis, valorizar
novos conhecimentos, novas forma de aprender e de pensar, e
também novas pessoas, processos, produtos e objetivos.

Saiba mais sobre a diferença entre Psicopedagogia


Clínica e a Institucional, clicando no QR-Code.

ACESSE
Unidade 2

Intervenção psicopedagógica na
instituição
Intervenção é o ato de exercer influência em determinada
situação na tentativa de alterar o seu resultado. É a ação de
expressar um ponto de vista, acrescentando argumentos ou
ideias. Ainda, a intervenção pedagógica é a interferência feita
por um especialista com o objetivo de melhorar o processo de
aprendizagem do aluno.

48 PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM
O psicopedagogo não deve confundir intervir com
interferir. Intervir tem como meta ajudar a pensar nos caminhos
para chegar a uma resposta. Interferir, não. Entendemos que
há a manipulação da ação do outro e não é este o trabalho do
psicopedagogo.

Como você sabe, o objeto de estudo da Psicopedagogia


é o sujeito aprendente. O processo de aprendizagem envolve
o sujeito que aprende, o sujeito que ensina, além do meio em
que está inserido. Tudo isso se relaciona de forma sistemática.
Na escola, o psicopedagogo tem como objetivo de intervenção
resgatar ou fortalecer a identidade da instituição e sua história,
ao mesmo tempo que procura pareá-la com a realidade e o
momento histórico atual, adequando às demandas sociais e ao

Unidade 2
contexto ideal de aprendizagem.

O trabalho do psicopedagogo institucional é a prevenção


dos problemas de aprendizagem. Para isso, é seu dever: analisar
a formação dos professores, o currículo que está sendo utilizado
na escola, se está sendo adequado às necessidades dos alunos,
se os professores estão preparados para atenderem os alunos,
inclusive alunos que tenham alguma necessidade especial. O
psicopedagogo vai intervir nesses aspectos, a fim de orientar a
equipe pedagógica para que o processo de aprendizagem ocorra
de forma mais produtiva.

O psicopedagogo analisa a formação de professores


e supervisores. Há casos que o professor tem
uma formação que possibilita que ele esteja
REFLITA mais bem preparado que o seu supervisor. Ora,
como o supervisor pode coordenar um trabalho
pedagógico específico, com os professores, se ele
não tem o conhecimento necessário para tanto?

PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM 49
O psicopedagogo vai, então, após analisar todos estes
aspectos, propor mudanças no currículo, no projeto político
pedagógico, na metodologia de ensino, nas formas de aprender
e de ensinar. Ele também pode contribuir na melhoria da
comunicação interna da escola e na comunicação da escola com a
família, favorecendo uma relação de confiança. O psicopedagogo
pode auxiliar os atores que dão vida à escola a retornarem às
origens, aos princípios fundamentais que regem a escola.

A intervenção é pautada nos recursos que promovem a


operacionalização da instituição, fazendo com que o movimento
de aprender nunca cesse, sempre acompanhando o momento
histórico e prevenindo a cristalização de crenças que dificultam
o desenvolvimento.
Unidade 2

O psicopedagogo deve trabalhar as questões que servem


de obstáculo para o ensinar e o aprender, interagindo, integrando,
vinculando-se, articulando conhecimentos e cuidando das
relações.

Compreendemos que o psicopedagogo na escola, ou


em qualquer instituição, tem papel fundamental na criação e no
aperfeiçoamento do clima e das relações dentro da instituição,
na escola, entre os professores, alunos, funcionários, famílias
e comunidade. O psicopedagogo desmistifica a manifestação
de crenças e de narrativas que limitam e inviabilizam o
desenvolvimento e o progresso da aprendizagem, examinando
aspectos destrutivos que são arraigados nas relações
interpessoais, diagnosticando e intervindo nos sintomas e
discursos que se repetem e não colaboram para o crescimento
do grupo. Damos ênfase ao fato de que o psicopedagogo pode
fazer muita diferença em uma instituição, com sua escuta e
olhares atentos e sensíveis às demandas da equipe, dos alunos,
das famílias e da sociedade.

50 PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM
Quer se aprofundar neste tema? Recomendamos
a leitura da seguinte fonte de consulta e
aprofundamento:
SAIBA MAIS SCOZ, B. Psicopedagogia e realidade escolar: o
problema escolar e de aprendizagem. Petrópolis,
RJ: Vozes, 1994.

Esperamos que este contato com a Psicopedagogia


possa fazer com que você reflita sobre a interdisciplinaridade e a
transdisciplinaridade entre a Psicologia e as áreas afins.

E, então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu


mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de
que você realmente entendeu o tema de estudo
deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos.

Unidade 2
RESUMINDO
O psicopedagogo observa todos os aspectos da
instituição e tenta detectar os elementos que
necessitam de mudança. Assim, ele identifica
como funciona a cultura institucional e sua rede
de comportamentos e quais são as expectativas
da instituição com relação à sua avaliação para
propor e executar uma intervenção, um plano de
mudança nos aspectos que precisam ser mudados.

PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM 51
BORTOLANZA, M. L.; KRAHL, S.; BIASUS, F. Um olhar Psicopedagógico
sobre a velhice. Revista Psicopedagogia, [s. l.], v. 22, n. 68, p. 162-
REFERÊNCIAS

170, 2005.

BOSSA, N. A. A Psicopedagogia no Brasil: contribuições a partir


da prática. 2. ed. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2000.

BOSSA, N. A. A Psicopedagogia no Brasil: contribuições a partir


da prática. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2007.

MORAES, D. N. M. Diagnóstico e avaliação psicopedagógica.


Revista de Educação do IDEAU, [s. l.], v. 5, n. 10, p. 2-15, jan./jun.
2010. Disponível em: https://www.ideau.com.br/getulio/restrito/
upload/revistasartigos/203_1.pdf. Acesso em: 18 jul. 2023.

PONTES, I. A. M. Atuação psicopedagógica no contexto escolar:


Unidade 2

manipulação, não; contribuição, sim. Revista Psicopedagogia,


[s. l.], n. 27, v. 84, p. 417-427, 2010. Disponível em: http://
www.revistaPsicopedagogia.com.br/detalhes/196/atuacao-
psicopedagogica-no-contexto-escolar--manipulacao--nao--
contribuicao--sim. Acesso em: 18 jul. 2023.

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Unidade 2

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