Adélio Manuel Ocuacunipuanela
Amiel Rivaldo Arlindo Artur
Saíde Abdala Saíde
Samira Ija
Severino William Nkuni
Dos procedimentos cautelares
Universidade Rovuma
Nampula
Maio, 2024
Adélio Manuel Ocuacunipuanela
Amiel Rivaldo Arlindo Artur
Saíde Abdala Saíde
Samira Ija
Severino William Nkuni
Dos procedimentos cautelares
(Licenciatura em Direito)
Trabalho para efeitos avaliativos a ser
entregue na Faculdade de Direito, cadeira
de Direito de Processo Civil, no curso de
licenciatura em Direito, 3o Ano, 1o
semestre, 7 grupo.
Docente: Baptista Isseque
Universidade Rovuma
Nampula
Maio, 2024
Índice
Introdução ......................................................................................................................... 4
Dos procedimentos cautelares .......................................................................................... 5
1. Disposições gerais ........................................................................................................ 5
1. 1. Natureza e características ......................................................................................... 5
1. 2. Requisitos gerais ....................................................................................................... 6
1. 3. Processamento das providencias cautelares ............................................................. 7
1. 4. Contraditório diferido e meios de oposição .............................................................. 8
2. Espécies e enumeração dos procedimentos cautelares ................................................. 9
2. 1. Providencias cautelares inominadas ou não especificadas ....................................... 9
2. 2. Providencias cautelares nominados ou especificadas ............................................. 10
2. 2. 1. Alimentos provisórios ........................................................................................ 10
2. 2. 2. Restituição provisória de posse .......................................................................... 10
2. 2. 3. Suspensão de deliberações sociais ...................................................................... 11
2. 2. 4. Arresto ................................................................................................................ 12
2. 2. 5. Embargo de obra nova ........................................................................................ 13
2. 2. 6. Arrolamento ........................................................................................................ 14
Considerações finais ....................................................................................................... 15
Referencias bibliográficas .............................................................................................. 16
Introdução
O presente trabalho versa sobre os procedimentos cautelares.
Nos termos do n.o 2 do artigo 2 do CPC, “a todo o direito, excepto quando a lei
determine o contrario, corresponde a uma acção, destinada a faze-lo reconhecer em
juízo ou a realiza-lo coercivamente, bem como as providencias necessárias para
acautelar o efeito útil da acção”. Constata-se, assim, que as providências cautelares tem
por fim acautelar o efeito útil de uma acção já proposta ou a ser proposta: umas
destinam-se a acautelar os resultados da acção, mantendo a situação inicial para que ela
não se altere em condições que não seja susceptível de reintegração, e outras a antecipar
a realização do direito que venha, eventualmente, a ser reconhecido, dada a urgência na
sua efectivação.
Na elaboração do presente trabalho objectivou-se:
i. Abordar de forma geral os procedimentos cautelares;
ii. Enumerar e descrever as espécies dos procedimentos cautelares;
iii. Analisar de forma detalhada cada uma das espécies.
Neste trabalho privilegiou-se a pesquisa qualitativa, porquanto, pretende discutir
sobre procedimentos cautelares. A pesquisa efectuada seguiu o método de abordagem
hermenêutica, dado que a questão fundamental que se suscita no tema de pesquisa
apresenta-se como uma questão de interpretação de textos legais.
Na elaboração do trabalho usou-se, fundamentalmente, o método de pesquisa
bibliográfica, porquanto, temas que versam sobre temáticas similares que já foram
abordados. Recorreu-se a pesquisa de manuais nacionais e estrangeiros, assim como,
dissertações, artigos publicados em revistas especializadas e científicos, em jornais
locais e na internet.
4
Dos procedimentos cautelares
1. Disposições gerais
1. 1. Natureza e características
Um processo judicial leva, regra geral, muito tempo, e a regulação dos interesses
das partes nem sempre pode aguardar que a decisão final seja proferida. Se antes ou
mesmo no decurso do processo, não forem tomadas medidas provisórias, o efeito que se
pretende obter com a acção pode não ser alcançado quando a sentença final for
proferida. Enquanto se espera pelo inicio da acção ou enquanto esta está em curso, mas
não foi decidida, pode suceder que os meios necessários para a decisão desapareçam ou
subtraídos à justiça1.
Pode, assim, justificar-se uma composição provisória do conflito de interesse
entre as partes, quer para assegurar a utilidade da decisão, quer para garantir a
efectividade da tutela jurisdicional2. Por exemplo, pode suceder que uma sociedade
comercial delibera sobre determinada matéria, e um dos sócios considera terem sido
violados os seus direitos. Este sócio pode instaurar uma acção de anulação dessa
deliberação. Mas pela demora de obtenção da decisão judicial que anule a deliberação
tomada, a execução desta pode prejudicar o sócio. Para evitar este perigo de demora, a
lei dá-lhe possibilidade de requerer uma diligência judicial para suspender a deliberação
social, de modo a que, quando a sentença for proferida, o efeito seja ainda útil.
Vários outros exemplos podem ainda ser indicados: um credor move uma acção
contra um seu devedor uma avultada quantia. O devedor, sabendo ou não da existência
da acção, pode desfazer-se do seu património, o que pode pôr em causa a garantia do
credor (nos termos do artigo 601 do C. Civil). Numa acção de divórcio, o autor toma
conhecimento que réu está a dissipar o património do casal, situação que pode agravar-
1
A demora processual é, aliás, inevitável, sobretudo porque se pretende que a justiça seja serena,
ponderada, cautelosa e principalmente justa, já que uma decisão contenciosa necessita, acima de tudo,
tempo, mediação e análise e circunstâncias das provas (MACHADO, António, Montalvão, Processo
Civil, Vol. I, Universidade Portucalense, Porto, 1994, p. 133.
2
Nos termos do n. o 2 – in fine do artigo 2.
5
se caso nenhuma medida seja tomada para conservar os bens, se o divórcio vier a ser
decretado, venham a ser partilhados3.
Nos termos do n.o 2 do artigo 2 do CPC, “a todo o direito, excepto quando a lei
determine o contrário, corresponde a uma acção, destinada a faze-lo reconhecer em
juízo ou a realiza-lo coercivamente, bem como as providências necessárias para
acautelar o efeito útil da acção”. Constata-se, assim, que as providências cautelares tem
por fim acautelar o efeito útil de uma acção já proposta ou a ser proposta: umas
destinam-se a acautelar os resultados da acção, mantendo a situação inicial para que ela
não se altere em condições que não seja susceptível de reintegração, e outras a antecipar
a realização do direito que venha, eventualmente, a ser reconhecido, dada a urgência na
sua efectivação.
As providências cautelares têm um caracter instrumental, dependem sempre de
uma acção, o que ilustra o seu caracter subordinado ou dependente (nos termos do
artigo 384 do CC), não são autónomas como as acções, por isso, caducam em trinta
dias, nos casos em que tenham sido decretadas e o requerente não proponha a acção
respectiva naquele prazo4.
Fica a providencia sem efeito, não só nos casos em que não seja proposta a
acção respectiva trinta dias depois de notificado o requerente do decretamento da
providencia, como também se a acção vier a ser julgada improcedente (nos termos do da
alínea b) n.o 1 do artigo 382 do CPC), se o réu vier a ser absolvido da instancia e não for
proposta uma acção no prazo de trinta dias (al. c) do n.o 1 do CPC) ou se o direito que
se pretende acautelar se extinguir (al. d) do n.o 1 do art. 382).
1. 2. Requisitos gerais
Os procedimentos cautelares tem uma estrutura muito simplificada. O juiz não
deve exigir a demonstração do dono com o mesmo grau de certeza que se exige quando
se trate de uma acção, mas apenas contenta-se com a probabilidade seria da existência
do direito e no fundado receio de que, enquanto se espera, venham a faltar as
3
Em qualquer destes casos, o lesado pode requerer uma providência para acautelar o efeito útil da acção,
desde que tal seja solicitado antes de estar consumada a lesão, designadamente executada a deliberação
ou dissipo o património. É necessário, aliás, que a decisão proferida numa acção judicial tenha efeito útil.
4
Nos termos da alínea a) do n.o 1 do artigo 382 do CPC, “este prazo conta-se da data em que o requerente
foi notificado da decretação da providência”.
6
circunstâncias favoráveis a essa tutela, salvo se o decretamento da providencia for
superior ao dano que ela pretende evitar.
Desde modo, para que seja decretada uma providência, é necessário que se
demonstre existir o pericukum in mora, ou seja, o prejuízo concreto que se demora na
satisfação traz para o titular do direito e na mera probabilidade, ainda que seria, da
existência desse direito.
As providências cautelares visam precisamente impedir que, durante a pendência
de qualquer acção declarativa ou executiva, a situação de facto se altere de modo a que
a sentença nela proferida ou a medida decretada, sendo favorável, perca toda a sua
eficácia ou parte dela. O seu objectivo é, de facto, combater o periculum in mora (o
perigo da demora inevitável).
Regra geral, nos processos judiciais há uma actividade de conhecimento (acção
declarativa) e uma actividade de execução (acção executiva). Isso não ocorre nas
providências cautelares, pois há um procedimento unitário, em que se encontram juntas
e eventualmente misturados as actividades de índole diferente que, caso a caso,
concorrerão para plena actuação da cautela5.
Nos procedimentos cautelares há regras particulares para a determinação do
tribunal competente (nos termos do artigo 83 do CPC): o arresto e o arrolamento, por
exemplo, tanto podem ser requeridos onde deva ser instaurada a acção principal, como
no lugar onde os bens se encontrem e, se houver bens em varias províncias, no de
qualquer delas. O embargo de obra nova deve ser proposto no lugar onde decorre a
obra, os restantes procedimentos cautelares devem ser instaurados no tribunal
competente para apreciar e julgar a acção principal. Já quando ao procedimento é
instaurado na pendência da acção, o regime é diferente, pois o mesmo deve ser
requerido no tribunal onde a acção tiver sido instaurada, deduzindo-se por apenso
àquele (nos termos do artigo 384/3 do CPC).
1. 3. Processamento das providências cautelares
O processo inicia-se por um requerimento onde devem ser expostas as razões de
facto e de direito que servem de fundamento à providência, terminando por formular o
5
ENRICO TULLIO LIEBMAN, Manual de Processo Civil, 3a edição, Vol. I, Malheiros Editores
(tradução e notas de Cândido Rangel Dinamarco) São Paulo, 2005, p. 279.
7
pedido. Apresentando o requerimento, o juiz pode ordenar a citação ou notificação do
requerido (nos termos do n.º 1 do art. 385 do CPC), decretar a providência sem audição
do requerido (nos termos n.º 1 do art. 381-B) ou indeferir liminarmente o requerimento,
quando o pedido seja manifestamente improcedente ou ocorram, de forma manifesta,
excepções dilatórias insanáveis de que o juiz deva conhecer oficiosamente (nos termos
do art. 474).
Com a petição, o requerente oferecera prova sumaria do direito que pretende
acautelar e justificará o receio da lesão (nos termos dos arts. 302 e 399 ambos do CPC),
juntando o rol de testemunhas, podendo requerer quaisquer outras provas (nos termos
dos arts. 381 e 302 todos do CPC). Quando o tribunal entenda justificar-se ouvir a outra
parte antes da decisão, o requerido é ouvido, podendo deduzir oposição no prazo de oito
dias (nos termos dos arts. 381 e 303 ambos do CC), oferecendo o rol de testemunhas, ou
requerendo quaisquer outras provas (nos termos dos arts. 381 e 302 do CPC)6.
1. 4. Contraditório diferido e meios de oposição
Nos procedimentos cautelares, por vezes, é sacrificado o princípio do
contraditório (n.o 2 do art. 3 do CPC), pois muitas vezes a providencia e decretada sem
ser ouvido o requerido (nos termos dos artigos 394, n.o 2 do art. 400, 404, 415, e n.o 2
do art. 423), por se considerar que a audiência pode pôr termo em risco o fim ou a
eficácia da providência7.
Os procedimentos cautelares são sempre urgentes e devem ser decididas no
prazo máximo de trinta dias, precedendo, a sua apreciação, qualquer outro serviço não
urgente (nos termos do art. 381-A). Quando a providencia seja decretada sem que o
requerido tenha sido ouvido, o juiz, na decisão que proferir (no despacho que decreta a
6
Apesar de terem uma estrutura simplificada, os procedimentos devem, em regra, ser elaborados de
forma articulada, oferecendo-se logo o rol de testemunhas, requerer os outros meios de prova (nos termos
dos artigos 381 e 302 do CPC) e indicar-se o valor da causa (nos termos do n.o 3 do artigo 313 também do
CPC).
7
Em alguns casos, a audiência é obrigatória (alimentos provisórios e suspensão de deliberações sociais),
noutros o juiz pode ordenar a providência sem audiência (restituição provisória da posse, providencias
cautelares não especificadas, embargo da obra nova, e arrolamentos), enquanto no arresto, quando
estejam preenchidos os pressupostos, não há lugar à audiência antes da decisão.
8
providencia), deve marcar audiência de comparência das partes8, dentro de um prazo
não superior a dez dias (nos termos do art. 381-B).
Nesta audiência, ouvida as partes, o juiz pode confirmar, modificar ou revogar a
providência inicialmente decretada. No entanto, a marcação desta audiência não
impossibilita que o requerido use dos demais meios de oposição à providência,
designadamente os embargos (dez dias) ou o agravo do despacho (oito dias)9.
2. Espécies e enumeração dos procedimentos cautelares
As providências cautelares podem ser classificadas em dois tipos: providencias
cautelares comuns ou não especificadas, as que estão reguladas do artigo 399 ao artigo
401 todos do CPC, e as providências cautelares específicas, que se encontram
especificadamente indicadas nas disposições do CPC relativas às providências
cautelares. Desde modo, só se pode recorrer às providências cautelares não
especificadas, se não existir uma providência cautelar (especificadas) adequada à
situação em concreto. O mesmo se passa com os processos comuns e especiais, onde só
se recorre aos processos comuns se não existir um processo especial aplicável ao caso.
2. 1. Providências cautelares inominadas ou não especificadas
Se alguém mostra fundado receio de lesão ao seu direito, pode requerer as
providências adequadas à situação, se não houver nenhum dos procedimentos regulados
na lei (nos termos do artigo 399 do CPC). O CPC prevê, exemplificativamente, três
situações de providências cautelares não especificadas: a autorização para a prática de
determinados actos, a intimação para que o réu se abstenha de certa conduta ou a
entrega de bens móveis ou imóveis a um terceiro, seu fiel depositário10.
8
Esta audiência de comparência das partes é designada por contraditório diferido.
9
Uma vez que nada impede que a oposição feita no contraditório diferido seja por escrito, pois naquela
audiência o requerido defende-se, ainda que oralmente, deve considerar-se que a audição do requerido é
meio de oposição.
10
MONDLANE, Carlos, Pedro. Código de Processo Civil Anotado e Comentado, pp. 487-494, entende
que, a intenção da lei ao enumerar as providências cautelares não especificadas de forma
exemplificativa é de permitir que seja requerida qualquer providencia que se mostre adequada à situação
concreta, mesmo que não se enquadre numas das três indicadas no artigo 399 do CPC.
9
2. 2. Providencias cautelares nominados ou especificadas
Considerando determinadas particularidades, o legislador regulou um conjunto
de situações, mais comuns e com características próprias, através de um regime próprio
e diferente do regime das providências cautelares não especificadas.
2. 2. 1. Alimentos provisórios
A providência cautelar de alimentos provisórios depende da verificação prévia
do direito a alimentos por parte do requerente (nos termos do art. 418 da lei de Família).
Esta providencia nunca é decretada sem ser ouvida a parte contrária (nos termos
do n.o 2 do artigo 389 do CPC), pois o réu é citado para comparecer na audiência, onde
o juiz procurará fixar os alimentos por acordo das partes. A contestação é apresentada
na própria audiência, sendo que as partes juntarão testemunhas e outros documentos,
por exemplo, a declaração do salário ou bens que o requerido ou requerente tenham e
que justificam o decretamento ou não da providência (nos termos do n.o 4 do artigo
389/CPC).
A sentença é oral e os alimentos são devidos a partir do próprio dia do mês
subsequente à data da dedução do pedido (como se pode ver no n.º 5 do artigo 389 do
CPC). A pensão é fixada tendo em atenção o que for estritamente necessário para o
sustento, habitação e vestuário do requerente e para as despesas da demanda (nos termos
do n.º 2 do artigo 388 do CPC), mas é sempre susceptível de ser alterada, porque podem
modificar-se as circunstâncias que possibilitaram a determinação da providência (arts.
427 da LF e 392 do CPC).
2. 2. 2. Restituição provisória de posse
A restituição provisória de posse constitui um meio de defesa do possuidor,
quando tenha sido esbulhado da posse (nos termos do artigo 1279 do C. Civil). No caso
de esbulho violento, que se traduz num desapossamento violento de determinada coisa
que se detém legitimamente, pode o possuidor requerer que seja restituída a posse (nos
termos do artigo 393 do CPC)11.
11
Para além dos requisitos de caracter geral das providências cautelares, há três requisitos para o
decretamento desta providência: a posse, o esbulho e a violência.
10
Nesta providencia, se o juiz considerar, pelo exame das provas que o requerente
tinha a posse e foi dela esbulhado violentamente, decretará a providencia sem audiência
do requerido, quando considere que a audiência deste poe em risco o fim da providencia
(nos termos doa art. 394 do CPC).
Decretada a providencia, o requerido pode, nos termos gerais, opor-se de
imediato, tal como ocorre em qualquer outra providência. Deste modo, decretada a
providencia, o requerido pode agravar ou embargar no prazo legal, o qual ira contar a
partir da data da notificação do decretamento da providência.
2. 2. 3. Suspensão de deliberações sociais
As pessoas colectivas agem pelos seus órgãos através de deliberações. Essas
deliberações sociais podem ser impugnadas, quer porque violam a lei, quer porque
violam os estatutos. A suspensão das deliberações sociais é requerida quando um sócio
(numa sociedade civil ou comercial) ou associado (numa associação) esteja a ser
prejudicado por deliberações sociais contrarias à lei, aos estatutos ou ao contrato.
Esta providência é, normalmente, preliminar ou dependência de uma acção de
anulação da deliberação social e só se aplica a deliberações de assembleia-geral ou
órgão equivalente, e nunca de deliberações da direcção ou do conselho de administração
(nos termos do art. 128 do Código Comercial). O prazo para instaurar a providencia é de
cinco dias a contar da data em que a deliberação foi tomada ou da data em que o
associado ou o sócio teve conhecimento da deliberação, se foi irregularmente impedido
de participar na assembleia ou se esta foi irregularmente convocada (no termos do n.o 2
do art. 132 do Código Comercial).
Se, por exemplo, não se respeitou a maioria para uma deliberação para a
alteração dos estatutos, pretende-se adquirir ou vender um imóvel, em prejuízo da
sociedade ou associação, o sócio ou associado que votou contra pode requerer a
suspensão. Se a sociedade ou associação fizerem a escritura e mandarem publicar a
deliberação, a acção de anulação pode continuar, mas a providencia para suspensão já
não pode ser decretada, porque a deliberação já foi executada – daí o curto prazo de
cinco dias para que a providencia seja requerida. Se, entretanto, a deliberação for
executada nesse prazo de cinco dias, o efeito que se pretende já não ser alcançado, não
podendo a providencia ser suspensa, justamente porque foi executada.
11
Nestas providencias observa-se sempre o principio de contraditório (nos termos
do n.o 1 do artigo 397 do CPC), ou seja, o requerido é sempre citado antes do
decretamento da providencia, mas, a partir da citação da requerida (sociedade ou
associação) e enquanto não for julgado o pedido de suspensão, ou seja, enquanto não for
julgada a providencia, não é lícito à requerida executar a deliberação impugnada (nos
termos do n.o 4 do artigo 397 do CPC).
Salienta-se, porem, que, com a citação da requerida, a deliberação não se
encontra suspensa, mas, em caso de execução, incorrerá em responsabilidade civil quem
a tiver executado. Quando se pretenda suspender a deliberação social duma sociedade, o
requerente deve indicar o interesse que um tem na providência e os danos que a
execução, da continuação da execução ou da sua eficácia podem resolver (artigo 132,
n.o 3 do Código Comercial).
2. 2. 4. Arresto
O arresto é uma apreensão de bens para garantia do pagamento o crédito
semelhante à penhora12. Aplicam-se, pois, as disposições relativas à penhora em tudo o
que não for contrário ao regime das providências cautelares (nos termos do art. 622, no
seu n.º 2 do CC)13. É uma providência que é instaurada quando o credor tenha justo
receio de perder a garantia patrimonial do seu crédito, podendo, ainda, ser requerida
contra o adquirente dos bens do devedor (nos termos do artigo 619 do CC).
O aresto pode ser preventivo ou repressivo. Naquele há fundado receio da perda
da garantia patrimonial do devedor, provando-se o crédito e o justo receio, mencionam-
se os bens que poderão ser apreendidos. O receio é o de que os bens que garantam
determinada obrigação possam ser extraviados ou dissipados. É repressivo quando se
12
A penhora é um acto de apreensão de bens através da qual o executado é desapossado de certos bens
para o pagamento da divida. O tribunal retira do seu património alguns bens, ficando estes à sua guarda
ou a guarda ou à guarda de um depositário, havendo uma transferência forçada da posse, até porque, em
princípio, tudo o que se faz parte do património do devedor pode ser apreendido em virtude das suas
dívidas (nos termos dos arts. 601 do C. Civil e 821 do CPC).
13
Nos termos do artigo 822 do CPC, “todos os bens que constituem o património do devedor, podem ser
objecto de arresto, à excepção dos bens inalienáveis e de outros que a lei declare impenhoráveis. Os bens
do terceiro só podem ser objecto de arresto quando sobre eles incidir direito real para garantia do crédito
devido ou quando possa ser julgada procedente impugnação pauliana de que resulte para terceiro a
obrigação de restituição dos bens. Nunca poderão ser arrestados senão bens do devedor, seja este o
devedor, um devedor subsidiário ou um terceiro cujos bens respondam pela divida (nos termos do artigo
821 do CPC).
12
destine a impedir a contrafacção ou uso ilegal de marcas industriais ou comerciais (nos
termos do n.o 1 do artigo 407 do CPC). Decretado o arresto sem audiência da parte
requerida, esta pode agravar ou embargar de imediato, sem prejuízo da posição que vier
a tomar em face do que for decidido na audiência do contraditório diferido (art. 405 do
CPC). No artigo 404, n.º 2 do CPC, sacrifica-se o princípio do contraditório, contanto
que se faça prova do direito e se mostrem preenchidos os requisitos legais exigidos. Se
o arresto ultrapassar os bens suficientes para a segurança da obrigação, reduz-se a
garantia aos justos limites, podendo requerer-se a prestação de caução para a
substituição do arresto (nos termos do arts. 620 do CC e n.º 3 do artigo 401 do CPC).
2. 2. 5. Embargo de obra nova
O embargo14 é uma medida cautelar que se destina a impedir a continuação da
realização de uma obra, trabalho ou serviço. Pode ser extrajudicial ou judicial, sendo
que no primeiro caso só terá lugar se houver urgência em decretar o embargo (nos
termos do n.º 2 do artigo 412 do CPC), ficando, porem, sem efeito, se dentro de três
dias, não for requerida a retificação judicial.
Tal como noutras providências, o juiz pode decretar a providência sem audiência
do dono da obra (conforme previsto no n.º 2 do artigo 415 do CPC). Para que seja
decretada, é necessário que o requerente seja titular do direito de propriedade ou
qualquer outro direito real de gozo ou na sua posse e haja ofensa em tal direito que
resulte de obra, trabalho ou serviço nono, que cause ou ameace causar prejuízo.
A providência deve ser instaurada no prazo de trinta dias a contar do
conhecimento do facto, sob pena de não ser decretada por intempestividade. Decretada a
providencia, o dono da obra pode deduzir oposição nos termos do disposto no artigo
427, sem prejuízo das regras sobre o contraditório diferido e da possibilidade que o
embargado tem de se opor à providência.
Trata-se de oposição ao prosseguimento de uma operação, funcionando primeiro
como medida preventiva ou conservatória, mas também como uma medida inibitória à
14
O termo embargo pode ser usado em vários sentidos, algumas vezes no singular e outras no plural:
como providência cautelar (embargo de obra nova), como meio de oposição à execução (embargos de
executado, previstos no artigo 812 do CPC), como meio de defesa da posse (embargos de terceiro,
regulados nos artigos 1037 e seguintes do CPC), ou como embargo administrativo, previsto no artigo 22
da LAmb.
13
continuação da obra, trabalho ou serviço. Sendo assim, se a obra, trabalho ou serviço
tiverem sido concluídos, não faz mais sentido ordenar o embargo, pelo que no
requerimento da interposição da mesma deve provar-se que a obra, trabalho ou serviço
não esta concluída. Esta providência traduz-se num meio de defesa do direito de
propriedade ou de qualquer outro direito real ou pessoal de gozo ou a posse do
requerente, com vista a impedir a ofensa.
2. 2. 6. Arrolamento
Trata-se de uma descrição dos bens móveis ou imóveis e/ou documentos,
havendo justo receio de extravio ou de dissipação dos mesmos (nos termos do disposto
no artigo 412 do CPC). Os bens descritos são avaliados e depositados à ordem do
tribunal, indicando-se o fiel depositário, que pode ser a pessoa a quem deva caber a
função de cabeça de casal, o próprio possuidor ou detentor dos bens ou o requerente ou
terceiro, quando haja inconveniente que sejam entregues ao requerido (nos termos do
artigo 426 do CPC). Pode ser requerido por qualquer pessoa que tenha interesse na
conservação dos bens ou dos documentos, como o herdeiro, o cônjuge, o sujeito da
união de facto, o legatário ou o representante do incapaz (artigo 422 do CPC).
O arrolamento tem, regra geral, uma função conservatória de certos bens, cuja
ocultação, dissipação ou extravio fundadamente se receie. Não se traduz, como o
arresto, numa garantia do pagamento das dívidas, mas como um meio de evitar a
dissipação dos bens.
Pode ser dependência de diferentes espécies de acções: do inventário (nos
termos dos arts. 1326 e seguintes todos do CPC), da liquidação da sociedade (nos
termos do artigo 1122 e seguintes), da acção de prestação de contas (nos termos dos
arts. 1014 e ss), da acção de divórcio (arts. 200 a 206 da LF), da acção de anulação de
casamento (art. 61 da LF), das acções de investigação da maternidade (nos termos do
artigos 233 a 243 da LF) ou investigação da paternidade (arts. 285 a 288 da LF).
O arrolamento pode ser decretado sem ouvida a parte contraria, desde que o juiz,
desde que o juiz adquira a convicção de que sem o arrolamento o interesse do
requerente corre sério risco (n.º 2 art. 423 do CPC). No que se refere aos meios de
oposição e ao contraditório diferido, tanto pode ser apresentadas quanto a providência
tenha sido decretada sem audiência do requerido, como depois dessa audição.
14
Considerações finais
O presente trabalho teve como tema de pesquisa: dos procedimentos cautelares.
Um processo judicial leva, regra geral, muito tempo, e a regulação dos interesses
das partes nem sempre pode aguardar que a decisão final seja proferida. Se antes ou
mesmo no decurso do processo, não forem tomadas medidas provisórias, o efeito que se
pretende obter com a acção pode não ser alcançado quando a sentença final for
proferida. Enquanto se espera pelo inicio da acção ou enquanto esta está em curso, mas
não foi decidida, pode suceder que os meios necessários para a decisão desapareçam ou
subtraídos à justiça.
Pode, assim, justificar-se uma composição provisória do conflito de interesse
entre as partes, quer para assegurar a utilidade da decisão, quer para garantir a
efetividade da tutela jurisdicional.
Constata-se, assim, que as providências cautelares tem por fim acautelar o efeito
útil de uma acção já proposta ou a ser proposta: umas destinam-se a acautelar os
resultados da acção, mantendo a situação inicial para que ela não se altere em condições
que não seja susceptível de reintegração, e outras a antecipar a realização do direito que
venha, eventualmente, a ser reconhecido, dada a urgência na sua efectivação.
Portanto, as providências cautelares têm um caracter instrumental, dependem
sempre de uma acção, o que ilustra o seu caracter subordinado ou dependente (nos
termos do artigo 384 do CC), não são autónomas como as acções, por isso, caducam em
trinta dias, nos casos em que tenham sido decretadas e o requerente não proponha a
acção respectiva naquele prazo15.
15
Nos termos da alínea a) do n.o 1 do artigo 382 do CPC, “este prazo conta-se da data em que o
requerente foi notificado da decretação da providência”.
15
Referências bibliográficas
1. Doutrina
1) MONDLANE, Carlos, Pedro. Código de Processo Civil Anotado e
Comentado,
2) ENRICO TULLIO LIEBMAN, Manual de Processo Civil, 3a edição,
Vol. I, Malheiros Editores (tradução e notas de Cândido Rangel
Dinamarco) São Paulo, 2005.
3) MACHADO, António, Montalvão, Processo Civil, Vol. I, Universidade
Portucalense, Porto, 1994.
4) TIMBANE, Tomas. Lições de Processo Civil I. Escola Editora, Editores
e Livreiros, Lda., Maputo, 2010.
2. Legislação
1) MOÇAMBIQUE, Código Civil - aprovado pelo Decreto-Lei n.º 47 344,
de 25 de Novembro de 1966.
2) MOÇAMBIQUE, Código do Processo Civil - aprovado pelo Decreto-Lei
n.º 44 129, de 28 de Dezembro de 1961.
16