Analisar o Processo de Atribuição Do FDD
Analisar o Processo de Atribuição Do FDD
Tema:
III.V O impacto de FDD para as comunidades rurais e medidas a tomar para o retorno do
valor ao cofre do estado. ........................................................................................................... 19
Sugestões .................................................................................................................................. 22
ANEXO .................................................................................................................................... 24
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Resumo
O presente trabalho Analisa o processo de atribuição do FDD, seu impacto para as comunidades rurais e medidas
a tomar para o retorno do valor ao cofre do estado, especificamente no Distrito de Gorongosa, Província de
Sofala no período de 2022, tomando como base a teoria funcionalista. Com efeito, o Fundo de desenvolvimento
Distrital (FDD) surge no contexto do aprofundamento do quadro de descentralização de instrumentos de
planificação e orçamentação vigentes no país. Em 2006, o Governo de Moçambique definiu que os distritos são
o pólo de desenvolvimento e como base de planificação institucionalizou-se o orçamento de investimento de
iniciativa local (OILL) que mais tarde passou a designar-se Fundo de Desenvolvimento Distrital (FDD) isto em
2009, como sendo instrumento ou mecanismo de desenvolvimento das comunidades locais mediante a concessão
de empréstimos reembolsáveis. Todavia o estudo constatou que o FDD melhorou os níveis de emprego e renda
das comunidades do distrito, os beneficiários deste fundo conseguirão criar postos de emprego assim como
dinamizaram a sua renda familiar, o mesmo constatou também que a participação das comunidades locais nos
processos de tomada de decisão sobre a gestão do FDD é fraca ou quase inexistente, devido a fraca capacidade
institucional e técnica da máquina administrativa local, incluindo o CCD- Conselho Consultivo Distrital.
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Capitulo I. Introdução
O presente estudo insere-se na análise do processo de atribuição do FDD, seu impacto para as
comunidades rurais e medidas a tomar para o retorno do valor ao cofre do estado.
A lei n° 8/2003, de 19 de Maio, bem como o regulamento aprovado pelo Decreto nᵒ 11/2005,
de 10 de Junho, estabelece que o Distrito é a base de planificação do desenvolvimento
económico, social e cultural da República de Moçambique e tem enquadramento na política
do governo, dado que o mesmo é o pólo de desenvolvimento, fundamentando - se pelo facto
da maior parte da população nacional residem nos distritos, os recursos naturais estão no
distrito, todas as acções do desenvolvimento programadas a qualquer nível realizam - se no
distrito, é a zona rural onde se registam maiores índices da pobreza (VALÁ, 2009, p.36).
O Fundo de Desenvolvimento Distrital tem em vista a materialização dos objectivos do
governo orientados para o desenvolvimento do Distrito, especificamente no domínio da
produção de alimentos e geração de rendimento, garantindo a criação de postos de trabalho a
nível local. O mesmo é resultado do processo de descentralização na qual destina - se a
captação e gestão de recursos financeiros visando impulsionar o desenvolvimento e o
empreendedorismo na satisfação das necessidades básicas das comunidades locais, mediante a
concessão de empréstimos reembolsáveis.
O Fundo de Desenvolvimento Distrital é resultado do processo de descentralização de
instrumentos de planificação e orçamentação com vista ao envolvimento das populações ao
nível local e tem a cobertura da Lei n° 8/2003 e do Decreto n° 11/2005. Contudo, o FDD
reforça o princípio do distrito como a base do desenvolvimento, na medida em que, pretende
afectar recursos para a produção de alimentos, criação de emprego e geração de renda, de
forma a contribuir para o combate à pobreza no país.
Estrutura do Trabalho
A pesquisa, o trabalho foi estruturada em quatro capítulos. No primeiro capítulo apresenta a
os objectivos da pesquisa, a metodologia e os procedimentos de recolha de dados. No segundo
apresenta - se o enquadramento teórico conceptual que suporta a pesquisa através de uma
revisão bibliográfica a contextualização do processo de Desenvolvimento e descentralização
bem como do emprego em Moçambique. No terceiro apresenta – se e discute - se os
resultados da pesquisa, as orientações metodológicas do FDD, as percepções dos funcionários
assim como dos residentes, a representação gráfica dos projectos e empregos criados. No
quarto e último apresenta as considerações finais e as recomendações.
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II. Objectivos
1. Objectivo Geral
Compreender o processo de atribuição do FDD1 (Fundo de Desenvolvimento Distrital)
na criação de emprego e a renda, no distrito de Gorongosa.
2. Objectivos Específicos
Analisar o impacto de implementação do FDD para as comunidades rurais.
Avaliar as medidas a tomar para o retorno do valor ao cofre do estado.
_____________________________________________________________________
1
O Fundo de Desenvolvimento Distrital (FDD), anteriormente designado por Orçamento de Investimento de
Iniciativa Local (OIIL), e mais conhecido por Sete Milhões de Meticais.
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III. Problema de Pesquisa
Com vista a materialização dos objectivos do governo orientados para o desenvolvimento do
distrito surge neste contexto o FDD, no quadro de descentralização de instrumentos de
planificação e orçamentação vigentes no país, tomando por base a lei n° 8/2003, de 19 de
Maio. A luta pela criação de emprego tem em vista a redução dos índices de pobreza
prevalecentes entre as populações ou comunidades rurais. Este exercício é levado a cabo
maioritariamente por políticas de combate a pobreza, visto que a falta de emprego está
associada a pobreza, dado que em termos gerais uma pessoa sem emprego e ao mesmo tempo
desprovida de rendimentos torna-lhe difícil custear necessidades básicas como alimentação,
vestuário, habitação, saúde e educação.
A presente pesquisa tem a seguinte questão norteadora:
Qual é o impacto do FDD, para as comunidades rurais e medidas a tomar para o
retorno do valor ao cofre do estado?
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IV. Hipóteses
Como supostas soluções para o problema em análise foram levantados as seguintes hipóteses:
IV. I Hipótese primária
O FDD é um instrumento concebido pelo governo central, cujos objectivos devem ser
materializados para não comprometer os recursos para os fins por qual foram criados,
a não devolução deste valor pode afectar a economia do país.
IV.II Hipóteses secundárias
O FDD aumenta as condições de vida das comunidades rurais, assim como também
cria o emprego e dinamiza a renda.
O envolvimento de Figuras do partido ou envolvimento de chefes máximos na
atribuição FDD pode enfraquecer as medidas tomadas para o retorno do valor ao cofre
do estado.
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V. Objecto e Delimitação do tema
O processo de alocação de fundos tendo em vista ao financiamento de projectos de iniciativa
privada aos distritos ganhou mas enfâse em 2006 com a institucionalização do Orçamento de
Investimento de Iniciativa Local (OILL), que mais tarde passou a designar – se Fundo de
Desenvolvimento Distrital (FDD) isto em 2009, como sendo instrumento ou mecanismo de
desenvolvimento das comunidades locais mediante a concessão de empréstimos
reembolsáveis.
O objecto de estudo do presente tema é o Distrito de Gorongosa no ano de 2022.
Gorongosa faz parte dum dos distritos da província de Sofala, em Moçambique, com sede na
vila de Gorongosa, tem limite, a norte e oeste com o distrito de Macossa, a Sudoeste com o
distrito de Gondola (província de Manica), a sul com o distrito de Nhamatanda, a leste com os
distritos de Muanza e Cheringoma, e a nordeste com o distrito de Muanza e Cheringoma, e a
nordeste com o distrito de Maringue.
De acordo com o Censo de 2017, o distrito tem 176845 habitantes e uma área de 6 776km2
daqui resultando uma densidade populacional de 20,1 h/ km2.
A maioria da população fala a língua Ndau e professa a religião Zione.
V.I Divisão Administrativa
O distrito está dividido entre postos administrativos (gorongosa, Nhamadzi e Vonduzi)
compostos pelas seguintes localidades:
Posto administrativo de Gorongosa: Vila de Gorongosa, Pungue, Tambarara;
Posto administrativo de Nhamadzi: Nhamadzi
Posto administrativo de Vonduzi: Vonduzi
De salientar que desde 2008 a vila de Gorongosa foi tomada como Município. (MAE, 2012)
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VI. Justificativa e Relevância do tema
O Fundo de Desenvolvimento Distrital faz parte do processo de transferências
intergovernamentais que suscita um debate teórico e tem sido privilegiado por vários autores,
Agências nacionais e internacionais de desenvolvimento. É um orçamento pelo qual
Moçambicanos de diferentes regiões distritais do país podem ter acesso, criando deste modo
oportunidade para a criação de projectos de desenvolvimento local ou nas comunidades rurais,
aumento da renda familiar e redução significativa da pobreza no seio das comunidades.
O interesse pelo tema surge pelo facto de a política de orçamentação tomando distrito como
base de planificação ter sido desenhada no reconhecimento de que este constitui um
instrumento eficaz para a concretização do processo de desenvolvimento local associado ao
combate à pobreza. Portanto, torna - se necessário compreender o processo da
operacionalização do FDD ao nível dos distritos tomando em conta o seu processo de
atribuição do FDD, seu impacto para as comunidades rurais e medidas a tomar para o retorno
do valor ao cofre do estado.
Este estudo é relevante do ponto de vista social e económico. Na parte social procura perceber
os grandes problemas a nível da gestão do FDD, problemas que têm sido reportados ao nível
da comunicação social a partir da máquina administrativa do próprio distrito até ao nível
central. Do ponto de vista económico:
O desenvolvimento económico é um conceito quantitativo, incluindo as alterações da
composição do produto e a alocação dos recursos pelos diferentes sectores da economia
(NALI, 2002), é importante ressaltar os cinco principais factores económicos estratégicos para
o desenvolvimento, sendo:
Aumento na força de trabalho (quantidade de mão-de-obra), derivado do crescimento
demográfico e da imigração.
Aumento do estoque do capital, ou da capacidade produtiva.
Melhoria na qualidade de mão-de-obra, especialização.
Melhoria tecnológica, que aumenta a eficiência na utilização do estoque de capital.
Eficiência organizacional, ou seja, eficiência na forma como os insumos
interagem.
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VII. Metodologia
De acordo com GALLIANO (1979), “o método científico é um instrumento utilizado pela
ciência na sondagem da realidade, mas um instrumento formado por um conjunto de
procedimentos, mediante os quais os problemas científicos são formulados e as hipóteses
científicas são examinadas.” (p.32)
É através da metodologia que são definidas as bases teóricas que serão utilizadas na análise e
avaliação dos dados observados, obtendo-se ao final informações relevantes para o
enriquecimento do conhecimento científico, verificando-se então a importância atribuída a
essa num trabalho científico. Ou seja, a metodologia relaciona o conjunto de técnicas,
métodos e procedimentos de estudo a serem utilizados pelo pesquisador, quando lançando
mão de um embasamento teórico, confrontando-o em um campo de observação através das
técnicas de pesquisa para a interpretação de um problema ou confirmação de uma hipótese.
VII.I Método de Abordagem
De acordo com Cervo e Bervian (1996, citado em Lakatos & Marconi, 1991) insere-se na:
“A indução e a dedução são formas de raciocínio ou de argumentação e, como tais,
são formas de reflexão e não de simples pensamento. O raciocínio é algo coerente e
lógico, podendo ser indutivo ou dedutivo. A reflexão requer esforço e concentração
voluntária, sendo dirigida e planificada. A conclusão de raciocínio constitui o
último elo de uma cadeia, o período final de um ciclo de operações
sistematicamente estruturadas”. (p.30).
De acordo com Lakatos & Marconi (1991) “ a indução é um processo mental por intermédio
do qual, partindo de dados particulares, suficientemente constatados, infere-se uma verdade
geral ou universal, não contida nas partes examinadas”. Contudo, todo argumento dedutivo,
reformula ou enuncia de modo explícito a informação contida nas partes examinadas, isto é
aproximação dos fenómenos caminha geralmente para planos cada vez mais abrangentes, indo
das constatações mais particulares. (p.47).
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VIII. Técnica de Recolha de Dados
Conforme Lakatos e Marconi (1999) cada método implica o emprego de várias técnicas.
Assim, o presente trabalho foi também realizado com base na conjugação de algumas técnicas
de pesquisa, nomeadamente a documental, a entrevista dirigida, observação directa. (p.41).
A técnica documental é referente ao recurso às fontes primárias e fontes secundárias, sendo
que das primárias fazem parte os arquivos públicos e particulares, as estatísticas oficiais,
censos. As secundárias englobam as obras e trabalhos elaborados, jornais, revistas e outros
(LAKATOS e MARCONI, 1999,p. 40).
Para a operacionalização deste trabalho recorreu-se como fontes primárias, aos informes e
relatórios do governo Distrital e provincial sobre o processo de desconcentração do FDD; os
estudos, relatórios e informes de grupos da sociedade civil sobre a matéria tanto a nível local
como a nível nacional. Também constituíram parte deste grupo documentos estatísticos sobre
os índices de emprego e desemprego em Moçambique, e instrumentos programáticos de
políticas públicas em Moçambique.
Como fontes secundárias, seleccionou-se obras pertinentes de vários autores que retratam
sobre a problemática do FDD.
Por sua vez a entrevista dirigida ao senhor Inácio Francisco Moisés Tamanga, Membro do
Conselho Consultivo Distrital, residentes os senhores, Domingos Julião Alfazenda e
Domingos Bacacheza, após a elaboração do questionário que visa o levantamento de dados
através de perguntas escritas, cujas respostas serão fornecidas pelo pesquisado com contacto
directo com o investigador.
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Capitulo II. Fundamentação Teórica e conceitos
II.I conceitos
Neste capítulo apresentar-se a linha teórica de orientação do estudo, os conceitos essenciais, a
revisão da literatura relacionada com os aspectos sobre o processo de atribuição do FDD, seu
impacto para as comunidades rurais e medidas a tomar para o retorno do valor ao cofre do
estado, e as limitações do estudo.
Para perceber a análise o processo de atribuição do FDD, seu impacto para as comunidades
rurais e medidas a tomar para o retorno do valor ao cofre do estado, toma-se como base a
teoria Funcionalista.
Segundo Morreira (1997) o Funcionalismo preconiza a análise da articulação entre diferentes
actores e intervenientes na prossecução dos objectivos da organização. Os agentes envolvidos
no processo de tomada de decisão ao nível da organização devem interagir de acordo com as
regras existentes dentro da organização.
Tendo em conta este pressuposto, a descentralização administrativa ou desconcentração em
curso no país, que resulta das reformas implementadas visando essencialmente para resolver
os problemas que emergem aos níveis mais baixos da administração do Estado,
principalmente no meio rural onde habita a maior parte da população moçambicana.
A este respeito para Valá (2009), o Fundo de Desenvolvimento Distrital é um factor
preponderante de mitigação e de capacidade de resposta numa perspectiva
desenvolvimentista, com enfâse para o meio rural. (p.15).
De acordo com os objectivos deste estudo, torna - se indispensável a definição dos seguintes
conceitos: FDD, Emprego, Descentralização, Desenvolvimento, Desenvolvimento local, e
Concelho Consultivo Distrital.
O Fundo de Desenvolvimento Distrital (FDD) é uma dotação orçamental de âmbito distrital
destinada a apoiar prioritariamente as pessoas pobres, economicamente activas, sem
possibilidade de acesso ao crédito no sistema financeiro formal. (CIP, 2011).
De acordo com o Regulamento do Fundo de Desenvolvimento Distrital, Capitulo I, artigo I, o
FDD é uma instituição pública dotada de personalidade jurídica, autonomia administrativa e
financeira, funciona em cada distrito do país junto do governo Distrital.
O Fundo de Desenvolvimento Distrital destina-se a captação e gestão de recursos financeiros
visando impulsionar o desenvolvimento e o empreendedorismo na satisfação das necessidades
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básicas das comunidades locais, mediante a concessão de empréstimos reembolsáveis.
(Decreto nᵒ 90/2009 de 15 de Dezembro).
Na óptica do INE (2006) o conceito Emprego está ligado a ocupação, que é definido como o
conjunto de funções e tarefas que desempenha um individuo no seu emprego ou local onde
exerce a sua actividade económica, independentemente do ramo de actividade. (p.23)
A conotação moderna do termo emprego reflecte a relação entre o individuo e a organização
onde uma tarefa produtiva é realizada, pela qual aquele recebe rendimentos, e cujos bens ou
serviços são passiveis de transacções no mercado (SOUZA,1986, p.26). Portanto o emprego é
um
fenómeno da modernidade, visto que em tempo anterior ao advento da sociedade centrada no
mercado, não era o critério principal para definir a significação social do individuo, e nos
contextos pré-industriais as pessoas produziam e tinham ocupações sem serem
necessariamente detentoras de emprego.
Na sociedade centrada no mercado nos nossos dias, como já foi dito antes, o emprego passa a
ser o critério que define a significação social dos indivíduos. Com o estabelecimento da
divisão do trabalho, o homem vive numa base de troca, isso lhe garante, por meio do exercício
do emprego, os bens e serviços de que necessita, pois recebe em troca um salário com o qual
compra o que é necessário para sobreviver, ou pelo menos, o que seja possível adquirir para
viver.
Para Faria & Chichava (1999) a descentralização pode ser definida como a organização das
actividades da administração central fora do aparelho do aparelho do governo central, através
de duas medidas:
a. Administrativas e fiscais que permitem a transferência de responsabilidades e
recursos para agentes criados pelos órgãos da administração central,
b. Políticas que permitem a atribuição pelo governo central, poderes,
responsabilidades e recursos específicos para autoridades locais. (p.5).
Neste caso, quando a descentralização não implica a definitiva transferência de autoridade, o
poder de decisão, recursos, funções e património, para os órgãos subordinados da
administração central, pode comprometer o desenvolvimento económico local.
Desenvolvimento é um processo complexo que engloba aspectos económicos, sociológicos,
Psicológicos e políticos da vida em sociedade. Neste caso, a existência de crescimento
económico não conduz nem se confunde com o desenvolvimento, na medida em que o ultimo
exige a transformação profunda das estruturas económicas e sociais. Por seu turno, o
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desenvolvimento deve ser entendido como um progresso económico da sociedade como um
todo (DINIZ, 2006).
Segundo o MPD (2007), o desenvolvimento é um processo que consiste na transformação do
fraco em forte ou do improdutivo ao produtivo com vista a gerar progresso, crescimento e
expansão da economia. Por outras palavras pode-se entender o desenvolvimento como um
processo de melhoria das condições de vida, de trabalho, de lazer, em fim, do bem-estar das
comunidades que habitam uma determinada área.
De Carvalho Filho (1999) define desenvolvimento local como estratégia de valorização das
potencialidades locais que possam impulsionar um novo padrão de crescimento económico
dotado de sustentabilidade sócio ambiental.
Buarque (1997, citado por De Carvalho Filho, 1999), afirma que o desenvolvimento local é
um processo endógeno de mobilização de energias sociais na implementação de mudanças
que contribuem para o aumento das oportunidades sociais e melhoramento das condições de
vida no plano local, com base nas potencialidades e no envolvimento da sociedade nos
processos decisórios.
De acordo com a lei n° 8/2003, de 19 de Maio, e o seu respectivo regulamento, Decreto n° 11/
2005, de 10 de Junho, o Conselho Consultivo Distrital (CCD) é uma instituição de
participação e consulta comunitária de mais alto nível, que serve de espaço de diálogo e
deliberação sobre as prioridades locais de desenvolvimento, entre o povo e as autoridades do
governo local.
De toda esta revisão conceptual, apesar de uma e outra diferença na definição dos autores,
pode se concluir que o processo de descentralização do FDD, visa a apoiar prioritariamente
pessoas pobres economicamente activas sem possibilidade se acesso ao crédito no sistema
financeiro formal, de maneiras com que as comunidades locais promovam actividades
económicas orientadas para a produção de comida, criação de emprego, propiciando a
captação de rendimentos, e gerando mudanças significativas na qualidade de vida da mesma.
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participação do serviço privado passou a ter um papel relevante (GUAMBE, 2008, citado por
BENZANE, 2011).
Segundo Guambe (2008, citado por Benzane, 2011) diz que a Administração Pública herdada
do sistema colonial caracterizava-se por uma estrutura baseada no princípio da centralização,
isto é na centralização da decisão administrativa aos órgãos superiores da administração
central colonial. Aliás com a independência, a natureza do regime modificou-se
substancialmente, do qual resultou a reforma de 1977, que escangalhou o aparelho do Estado
colonial, e criou um aparelho de Estado que adequa-se com as concepções políticas e
económicas para a construção de uma sociedade socialista e de democracia popular.
A descentralização no contexto Moçambicano é o processo através do qual a administração
assegura a participação dos cidadãos na governação ao nível local, com intuito de que o poder
de decisão aproxime cada vez mais o cidadão, o que torta possível a sua participação na
solução dos problemas de desenvolvimento ao nível da sua comunidade.
Como salienta Forquilha (2008), que a descentralização partiu da concepção segundo a qual a
transferência de responsabilidade, recursos, responsabilização e regras do governo central às
entidades locais alarga a base de participação dos cidadãos no processo de tomada de decisão
ao nível local, torna o Estado mais próximo dos cidadãos, impulsionando o desenvolvimento
local.
Em Moçambique a descentralização, ocorre em duas vertentes em simultâneo.
I. A descentralização que abrange as autarquias loca como as entidades públicas, com
personalidade jurídica própria distinta do estado, dotado de autonomia administrativa,
financeira e patrimonial (Lei n° 2/97, de 18 de Fevereiro).
II. A descentralização que abrange os Órgãos locais do Estado nos níveis provinciais,
Distrital, posto administrativo, localidade e de povoação, dotados de consequências
próprias na tomada de decisões de natureza local e abrindo espaço de participação das
comunidades no desenvolvimento local através do envolvimento dos seus líderes no
processo de governação e da institucionalização dos Conselhos Consultivos Locais
(Lei n° 8/2003, de 19 de Maio).
Entretanto, pretende-se com a descentralização uma maior mobilização de recursos
disponíveis, promovendo que a tomada de decisões seja mais próxima da realidade e, de
preferência com o envolvimento da população que tais decisões lhes dizem respeito.
Na óptica de Canhanga (2007) sustenta que o sucesso do processo de descentralização passa
pela definição de instituições que orientam os procedimentos adequados para a participação,
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planificação e orçamentação participativa, assim como a inclusão dos diferentes actores locais
na gestão da coisa pública.
No que concerne à criação de emprego, o governo Moçambicano adoptou um quadro
institucional devidamente clarificado como o caso da Lei de Trabalho, a Estratégia de
Emprego e Formação Profissional, que visam gerar crescimento e emprego, bem como
distribuir equitativamente os seus beneficiários até as comunidades locais. Quanto mais
pessoas tiverem emprego e gerarem renda, menos são aqueles que o desenvolvimento
económico deixa para atrás, por outro lado, quanto mais elevado for o teor em conhecimento
do emprego, capacitados e competentes, maior será o valor acrescentado do trabalho de cada
um, ou seja, aquilo a que os economistas chamam de produtividade (BUNGUEIA, 2008,
citado por ROSSANA, 2011).
Em suma, o Fundo de Desenvolvimento Distrital (FDD) é considerado um instrumento
necessário, que vai ao encontro dos anseios das populações, uma vez que permite cada vez
mais maior envolvimento das populações na alocação de fundos para a implantação de
actividades de produção e comercialização de alimentos, criação de postos de trabalho,
permanentes ou sazonais, assegurando a geração de rendimento.
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povoação, considerando sobretudo o impacto que terão na comunidade, e com a experiencia
do beneficiário.
Caso tenham sido implementados determinados projectos na povoação, não se pode voltar a
aprovar projectos para a mesma comunidade e não se deve aprovar projectos com a mesma
natureza ou mesmos objectivos para a mesma povoação.
Na mesma linha de pensamento sobre este aspecto, o entrevistado sublinhou:
“ (…), Beneficia-sedo fundo qualquer residente do distrito, desde que faça um
requerimento dirigido administradora, tenha documentos de identificação, ter a
característica de idoneidade, bom comportamento, tenha conta bancaria, e NUIT,
(…) ”.
Anteriormente este fundo financiava os projectos em espécie, onde o proponente desenhava o
projecto tendo em conta o material que precisava para a implementação do mesmo, com
factura anexava ao projecto, e de seguida ia apresentar na respectiva localidade, aprovado o
projecto era solicitado a levantar os produtos para implementa-los. No entanto, a iniciativa
não foi bem recebida por parte dos beneficiários, tendo provocado descontentamento entre os
mesmos e os gestores do FDD. Mais tarde esta ideia foi rectificada, a partir de 2010 optaram
por financiar os projectos em dinheiro, onde cada beneficiário geria o dinheiro
individualmente.
Quem tinha como direito de levar o valor era pessoas da comunidade, empresários locais
também podiam levar, mas alguns dirigentes ia levar por meio de alguém, (disse senhor
TAMANGA).
Na visão do Bonesio (citado por Tamanga, 2022) falou que se formos para voltar atrás ou nos
anos que o administrador era sua excelência senhor Jamaca, “os máximos ou chefes
orientavam algumas pessoas locais para levar o valor, visto que, o funcionário não podia
levar este valor, contudo muitos deles pode ser imputados”.
Para a atribuição do valor era mediante a elaboração do projecto e sua aprovação pelos
membros do júri. Os respectivos membros do júri tinham a comissão de 40% do valor, o que
não está plasmado.
O manual de procedimentos do FDD (2011) estabelece os vários critérios para indivíduos,
Associações e micro/pequenas e médias.
I. Primeiro é necessário ser residente na unidade territorial onde pretende- se
implementar o projecto confirmado pelas autoridades locais.
II. Segundo possuir nacionalidade Moçambicana, ser considerado idóneo pelas
autoridades administrativas e comunitárias locais, ter idade não inferior a 18 anos,
possuir NUIT.Para associações e Micro/Pequenas e Médias é necessário estar
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legalmente registadas e com uma estrutura de organização e gestão consolidada
observável a partir do núcleo central dos membros das associações, os membros
devem ser residentes na unidade territorial onde se pretende implementar o projecto e
com residência confirmada pelas autoridades locais, operar no território
onde se pretende implementar o projecto, ser constituídas por cidadãos nacionais, por
fim possuir NUIT.
No âmbito dos FDD são financiáveis as acções que concorram para a geração de emprego
permanente e/ou sazonal, para a produção de comida e geração da renda para os produtores e
suas famílias. Os projectos elegíveis devem estar estritamente ligados ao desenvolvimento
económico local com impacto no quadro do combate à pobreza e em sintonia com os planos
estratégicos de desenvolvimento do distrito e devem ser propostos por indivíduos,
associações, grupos sociais organizados e outras formas sócias de base comunitária
reconhecidas pelo governo do distrito em estreita colaboração com as comunidades locais.
Assim os projectos financiados devem obrigatoriamente ser implementados na unidade
territorial onde são propostos.
III.V O impacto de FDD para as comunidades rurais e medidas a tomar para o retorno
do valor ao cofre do estado.
Ao analisar o impacto do FDD em Gorongosa no período de 2022 as variáveis há analisar são
o volume de financiamento concedido, o grau de avaliação dos financiamentos relativamente
ao que estava planificado, a gestão do fundo em ambos sexos, e o nível de emprego criado.
Durante o período em análise constatou-se que há variação nas despesas do valor do
financiamento do FDD, bem como no reembolso, e nos postos de emprego criados.
O FDD Distrital permitiu a criação de emprego, na produção de gergelim, criação de animas,
moagens….Disse senhor Tamanga
De acordo com os senhores Domingos Julião Afazenda e Domingo Bacacheza, afirmaram que
não existe uma forma melhor para devolução do valor recebidos, visto que as eleições já se
aproxima, contudo, o silêncio da cobrança deste valor é absoluto devido esta campanha que se
aproxima.
Rematou o senhor Domingo Bacalheza que “nem eu levei 50mil meticais e até agora ainda
não devolvi e até agora ainda não fui cobrado”
Durante a pesquisa, foi se constatar que houve a formação de equipa para a cobrança de
valores e beneficia-se de 40% do valor cobrado para a equipa de cobrança.
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Segundo o MCCD- Membro do Conselho Consultivo Distrital o senhor Tamanga “Se não
pagar o valor de 1000mts mensal podia responder na procuradoria”.
Na verdade o Distrito não tem nenhum aval para sancionar casos de demora do reembolso,
prejudicando de certa forma a gestão do mesmo. A Estratégia de devolução... O Membro do
Conselho Consultivo distrital disse que forma a comissão de trabalho para identificar as
pessoas.
Com a liderança comunitário ajuda a partilha de informação das pessoas, no caso de ausência
ou troca de moradia, para o auto de pagamento de valor de 1000mts no mínimo por mês.
Carácter obrigatório, o incumprimento desta norma a pessoa terá que responder no tribunal. E
todos identificados estão a pagar o valor, Vulgos 7 biliões.
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Capítulo IV: Considerações finais.
O FDD tem o seu impacto positivo, para as comunidades rurais melhoraram os níveis de
emprego e renda das comunidades rurais do distrito de Gorongosa, o que significa que se
confirma a hipótese levantada neste trabalho. Visto que os números de empregos criados no
horizonte temporal superou de forma significativa. E os dados do campo permitiram constatar
que os beneficiários deste fundo conseguiram criar postos de emprego assim como
dinamizaram a sua renda familiar.
Contudo, as dificuldades inerentes a concepção das orientações metodológicas formalmente
instituídas para garantir a gestão do FDD, desde o desembolso até ao reembolso, a fraca
capacidade institucional e técnica de todos actores envolvidos no processo (CCD, CCL),
podem a dado momento, de certa forma comprometer a materialização do processo de
desenvolvimento local, consequentemente, o que afecta a economia do país, portanto,
verifica-se a não devolução do valor de forma integral.
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Sugestões
Sugere-se o seguinte:
1. Clarificação dos critérios de definição dos projectos, isto é, advogar os governos
distritais para uma definição clara dos critérios de geração de emprego.
2. Definição dos projectos aprovados no âmbito do FDD para uma melhor análise de
viabilidade.
3. Deve haver um mecanismo de proibição de pedidos do fundo por parte dos
funcionários do distrito, este cenário tem acontecido em Gorongosa e choca com os
princípios orientadores do fundo.
4. O beneficiário deve se comprometer através do termo de compromisso a devolver o
fundo dentro de um prazo após a implementação do seu projecto.
5. Deve-se proceder de forma efectiva a monitoria dos beneficiários no cumprimento das
suas actividades, assegurando a materialização dos objectivos pelos quais foi
introduzido o FDD.
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Referências Bibliográficas
1. BENZANE, L. R. (2011). Análise da Participação da comunidade Local no processo
de Selecção dos Beneficiários do Fundo de Desenvolvimento Distrital (FDD.S.L.
Pública, Universidade Eduardo Mondlane.
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Desenvolvimento Distrital, em anexo o seu respectivo regulamento que é parte
integrante do presente decreto. Diploma Ministerial n° 67/2009, de 17 de Abril de
2009. Guião sobre a organização e funcionamento dos Conselhos Consultivos Locais,
Novembro, 2008. Maputo.
ANEXO
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