TCC CaracterizacaoEpidemiologicaCasos
TCC CaracterizacaoEpidemiologicaCasos
MACAPÁ, 2017
CAIO LUIZ MARQUES GOMES
MACAPÁ, 2017
CAIO LUIZ MARQUES GOMES
Banca Examinadora
À Deus, autor de tudo o que existe, por ter sido sempre Fortaleza a um filho tão
pequeno e fraco quanto eu.
Aos meus pais, Helenice e Gilmar, e às minhas irmãs Clarice e Camila, por terem
me lembrado do preciosíssimo valor da vida quando ele parecia pequeno para mim e por
terem me ajudado a enxergar a minha missão.
Aos meus avós, pelas incontáveis orações cheias de fé.
À minha orientadora professora Amanda Fecury, por seu lindo espírito maternal
mesmo ao fazer ciência, que me impulsionou neste trabalho com um zelo inacreditável.
Aos professores Anderson Walter, Maria Helena Araújo, Natalia Guerreiro e
António Correia, por serem inspirações na minha vida profissional e grandes
influenciadores do meu apreço pela saúde coletiva.
Aos amigos que fiz em Macapá, por todas as vezes que me puxaram pelo braço e
me carregaram no colo, já que sem eles eu não teria me levantado dos tropeços que tive na
caminhada até aqui.
RESUMO
A febre tifoide é uma das doenças com registros mais antigos na literatura ocidental que
traz, ainda hoje, prejuízos sociais e econômicos. Trata-se de uma patologia aguda, cujos
fatores de risco estão relacionados à fragilidade socioeconômica da população. O agente
etiológico é o bacilo Salmonella enterica sorotipo Typhi, que tem a espécie humana como
hospedeira exclusiva. No Brasil, todas as regiões têm casos registrados da doença, porém
nos Estados do Norte e do Nordeste essa estatística é mais evidente. Assim, conhecer as
características da infecção da febre tifoide torna-se importante. Caracterizar, quantificar e
descrever o perfil epidemiológico dos casos notificados de febre tifoide nas regiões
brasileiras, no período de 2012 a 2016, comparando os achados entre essas regiões. Foi
realizado um estudo do tipo descritivo, analítico e retrospectivo, utilizando dados
secundários obtidos no site do DATASUS (www2.datasus.gov.br). Foram estudadas as
informações das regiões do Brasil de 2012 a 2016, com as variáveis sexo, faixa etária,
escolaridade e desfecho clínico. Os dados foram tabulados para análise e confecção de
gráficos. Houve 440 casos registrados entre 2012 e 2015 no Brasil, sendo que os dados de
2016 não se encontravam disponíveis no momento de sua coleta para a pesquisa, sendo que
a região Norte teve o maior registro destes (80,23%) e a região Sul o menor (0,68%),
possivelmente devido aos diferentes padrões de urbanização e saneamento nas regiões. Os
homens foram os mais afetados (58,86%), podendo estar envolvidos fatores ocupacionais e
ambientais neste resultado. Indivíduos na faixa etária entre 1 e 39 anos foram mais afetados
(72,96%), sendo que a imunidade e fatores ocupacionais também podem estar relacionados.
Quanto à escolaridade, houve predomínio entre aqueles cujo nível era o ensino fundamental
(27,73%), possivelmente devido às regiões com o maior número de casos terem uma
proporção menor de jovens cursando o nível superior, em disparidade às demais regiões.
Quanto ao desfecho clínico, 64,77% dos pacientes tiveram sua cura notificada e 0,91%
foram a óbito, 34,32% dos indivíduos tiveram seu desfecho clínico ignorado ou deixado em
branco, o que torna difícil estimar os reais impactos que a febre tifoide promoveu durante
esses anos. Conclui-se que a febre tifoide é mais frequente em regiões onde há baixa
qualidade de infraestrutura e saneamento, bem como acesso diminuído aos adequados
serviços de saúde.
Figura 1 Distribuição anual dos casos de febre tifoide notificados no Brasil, nos anos de
2012 a 2015. ......................................................................................................................... 19
Figura 2 Distribuição dos casos de febre tifoide notificados nas regiões do Brasil, nos anos
de 2012 a 2015...................................................................................................................... 20
Figura 3 Distribuição dos casos de febre tifoide notificados entre os gêneros nas regiões do
Brasil, nos anos de 2012 a 2015. .......................................................................................... 21
Figura 4 Distribuição dos casos de febre tifoide notificados nas diferentes faixas etárias nas
regiões do Brasil, nos anos de 2012 a 2015. ......................................................................... 22
Figura 5 Distribuição dos casos de febre tifoide notificados nas regiões do Brasil entre os
graus de escolaridade, nos anos de 2012 a 2015. ................................................................. 23
Figura 6 Distribuição dos casos de febre tifoide notificados nas regiões do Brasil por
desfecho clínico, nos anos de 2012 a 2015. .......................................................................... 24
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................. 9
2 JUSTIFICATIVA ............................................................................................................ 10
3 OBJETIVOS .................................................................................................................... 11
3.1 GERAL ........................................................................................................................... 11
3.2 ESPECÍFICOS ............................................................................................................... 11
4 METODOLOGIA............................................................................................................ 12
4.1 TIPO DE ESTUDO ........................................................................................................ 12
4.2 CARACTERIZAÇÃO DA AMOSTRA ........................................................................ 12
4.3 COLETA E ANÁLISE DE DADOS .............................................................................. 12
4.4 ASPECTOS ÉTICOS ..................................................................................................... 12
5 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA .................................................................................. 13
5.1 BREVE HISTÓRICO SOBRE A FEBRE TIFOIDE ..................................................... 13
5.2 CARACTERIZAÇÃO MICROBIOLÓGICA E ASPECTOS MORFOLÓGICOS DA
Salmonella enterica SOROTIPO Typhi ............................................................................... 14
5.3 VIAS DE TRANSMISSÃO ........................................................................................... 14
5.4 QUADRO CLÍNICO ...................................................................................................... 15
5.5 DIAGNÓSTICO ............................................................................................................. 15
5.6 TRATAMENTO ............................................................................................................. 16
5.7 EPIDEMIOLOGIA ......................................................................................................... 17
6 RESULTADOS ................................................................................................................ 19
7 DISCUSSÃO .................................................................................................................... 25
8 CONCLUSÃO.................................................................................................................. 28
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................. 29
9
1 INTRODUÇÃO
A febre tifoide é uma das doenças com registros mais antigos na literatura ocidental,
datando-se o primeiro registro em 430 a.C. por Tucídides, na Grécia Antiga. Ela tem desafiado a
humanidade ao longo da história e, ainda hoje, traz prejuízos socioeconômicos. Trata-se de uma
patologia de causa infecciosa bacteriana aguda, cujos fatores de risco para aquisição da infecção
estão basicamente relacionados à fragilidade socioeconômica de uma população, como áreas com
grande densidade demográfica que carecem de saneamento básico, água potável e boas instruções
sobre higiene doméstica e manuseio de alimentos (AKULLIAN et al., 2015; GALÁN, 2016).
O agente etiológico é a Salmonella enterica sorotipo Typhi, um bacilo gram-negativo,
esporulado, móvel, aeróbio, pertencente à família Enterobacteriaceae, que tem a espécie humana
como hospedeira exclusiva, restringindo assim, os reservatórios a humanos infectados. Dessa
forma, a transmissão da febre tifoide costuma ocorrer de forma direta pelo contato com elementos
de fezes do portador e de forma indireta por alimentos contaminados através da manipulação por
indivíduos portadores (BRASIL, 2010; KANTELE, 2015).
Estima-se que a incidência anual global da febre tifoide seja entre 12 e 33 milhões de
casos, com cerca de 600 mil mortes anuais. No Brasil, todas as regiões sofrem com a doença,
porém os Estados do Norte e do Nordeste destacam-se nessa estatística (ROCHA et al., 2014).
Assim, conhecer as características do perfil de distribuição da febre tifoide torna-se
importante, podendo subsidiar a tomada de decisões de manejo da doença sobre a repercussão
dos casos na saúde coletiva e até mesmo manter informados tanto os residentes como os viajantes
sobre a realidade de determinadas regiões (WAIN et al., 2014).
10
2 JUSTIFICATIVA
3 OBJETIVOS
3.1 GERAL
• Caracterizar o perfil epidemiológico dos casos notificados de febre tifoide nas regiões
brasileiras, no período de 2012 a 2016.
3.2 ESPECÍFICOS
• Quantificar o total de casos registrados de febre tifoide no Brasil em cada uma de suas
regiões, no período de 2012 a 2016;
• Descrever o perfil epidemiológico dos casos registrados através das variáveis de sexo,
faixa etária, escolaridade e desfecho clínico;
• Comparar os achados entre as regiões no período estudado.
12
4 METODOLOGIA
Para este trabalho foram utilizados dados secundários obtidos no site do DATASUS
(www2.datasus.gov.br). No site, foi selecionado “Informações de Saúde (TABNET),
Epidemiologia e Morbidade” e doravante a opção “Doenças e Agravos de Notificação – De 2007
em diante (SINAN - SISTEMA DE INFORMAÇÃO DE AGRAVOS DE NOTIFICAÇÃO)”,
escolhido o item Febre Tifoide e então foram estudadas as informações das regiões do Brasil de
2012 a 2016, com as variáveis sexo, faixa etária, escolaridade e desfecho clínico.
5 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
A febre tifoide é uma das doenças com registros mais antigos na literatura. Tucídides,
historiador da Grécia Antiga que possivelmente sofria da doença, a descreveu de forma detalhada
em “História da Guerra do Peloponeso”, levando-nos a acreditar que a febre tifoide tenha sido a
epidemia denominada “praga de Atenas” que devastou a cidade durante a Guerra do Peloponeso,
em 430 a.C. Um estudo recente de arcadas dentárias encontradas em um antigo cemitério grego
corrobora com esse pensamento por ter detectado sequências de DNA da S. Typhi (GALÁN,
2016).
Em 1829, o médico francês Pierre Louis utilizou a palavra “tifoide” pela primeira vez,
sendo que o sufixo “oid” vem do grego “eidos”, que significa “como”. Com a dificuldade de
distinguir o Tifo da doença estudada, a palavra tifoide surgiu com o significado de “parecido ao
tifo”. Em 1850, Sir William Jenner publicou um trabalho em que diferenciava as duas doenças
(BRIGHTMAN, 2015).
Em 1884, Georg Gaffky cultivou o bacilo da febre tifoide pela primeira vez e afirmou que
a doença se tratava de uma infecção transmitida pela água. Em 1897, um professor de
bacteriologia do St Mary’s Hospital de Londres chamado Sir Almroth Wright desenvolveu uma
vacina eficaz conta a febre tifoide, e, mesmo sem o total apoio dos militares, administrou a vacina
na maioria dos soldados do exército britânico, o que fez com que essas tropas tivessem uma
incidência muito menor da doença do que outros exércitos durante a Primeira Guerra Mundial
(BRIGHTMAN, 2015).
No início do século XX, destaca-se a história de Mary Mallon, uma cozinheira irlandesa
com uma infecção crônica por S. Typhi que imigrou para os Estados Unidos e propagou a doença
para várias famílias de Nova Iorque (GALÁN, 2016). Apenas em 1948 houve um tratamento
eficaz para a febre tifoide, com a introdução do antibiótico cloranfenicol (BRIGHTMAN, 2015).
14
A febre tifoide é uma doença de sintomas inespecíficos, sua apresentação inicial, por
exemplo, se dá com febre, calafrios e astenia, que vão aumentando gradativamente até o início da
segunda semana. A partir de então, a febre tende a estabilizar-se, porém o nível de consciência
pode ser rebaixado, com o risco de delírios e confusão mental (BRASIL, 2010).
Como há grande variação de sintomas entre os pacientes, cerca de 10-20% deles terão
episódios de diarreia após a ingestão dos bacilos S. Typhi, porém em outros pode ser observada
constipação. Pode haver bradicardia relativa e dor abdominal difusa. A taquicardia associada a
hipotensão arterial pode sugerir uma complicação, como perfuração e hemorragia intestinal. Em
menos de 30% dos pacientes podem ser encontradas máculas em rosa pálido pouco distintas e em
aproximadamente 50% dos pacientes poderá ser observada esplenomegalia, porém quadros
ictéricos são incomuns (BRIGHTMAN, 2015).
Por volta do fim da quarta semana, o doente costuma estar emagrecido e adinâmico.
Espera-se uma melhora gradativa da febre e dos outros sintomas nesse período, porém, é
necessária a atenção na busca de complicações, como trombose femoral, abscessos e até mesmo a
recorrência do quadro sintomatológico (BRASIL, 2010).
5.5 DIAGNÓSTICO
Como a febre tifoide tem um quadro clínico inespecífico, seu diagnóstico exato se torna
um desafio, principalmente diante de recursos precários, mas os métodos atualmente existentes
baseiam-se no isolamento e na identificação do microrganismo (BRASIL, 2010; THRIEMER et
al., 2013).
A hemocultura é o atual método de referência e tem sua maior positividade nas duas
primeiras semanas da doença, com sensibilidade estimada entre 40 a 70%, sendo esta
sensibilidade inversamente proporcional ao tempo de evolução da doença (RAMOS, 2004;
THRIEMER et al., 2013).
Pode ser realizada coprocultura, com indicação que esta seja feita da segunda a quinta
semana da manifestação da doença; mielocultura, sendo este o exame de maior sensibilidade
16
(estima-se 90%), com a vantagem de poder ter resultado positivo mesmo em paciente com
antibioticoterapia prévia, porém com a desvantagem de ser um exame pouco prático e, portanto,
de difícil utilização; e urocultura, com valor diagnóstico bastante restrito e com a necessidade de
avaliação imediata (BRASIL, 2010; DAS et al., 2013).
A Reação de Widal é um teste sorológico que mede os títulos de anticorpos aglutinantes
contra os Antígeno O e H da S. Typhi, embora ainda seja muito utilizado, é um teste cuja
correlação positiva é de apenas 30% quando comparada às confirmações de febre tifoide através
de cultura. Há ainda relatos de falsa positividade em pacientes com febre por outras causas além
de febre tifoide, o que corrobora sua baixa confiabilidade (BRASIL, 2010; DAS et al, 2013;
WHO, 2003).
A utilização de métodos como Reação em Cadeia de Polimerase (PCR) e Ensaios
Imunoenzimáticos (ELISA) podem melhorar a identificação de casos e torná-la mais prática e
precisa, porém o elevado custo e a relativa dificuldade de realização técnica tornam esses
métodos pouco possíveis de aplicabilidade, principalmente em regiões de poucos recursos (DAS
et al., 2013).
5.6 TRATAMENTO
plasmídeo (primeiramente relatada na década de 1970), ou pode ser resistente ao ácido nalidíxico
devido a mutações cromossômicas impulsionadas pelo uso do antibiótico ciprofloxacino a partir
dos anos 2000. Independentemente do mecanismo, reconhecer os padrões de resistência dentro de
determinado contexto geográfico é muito importante para o tratamento empírico da febre tifoide
(TATAVARTHY et al., 2014).
A responsabilidade da não-resolução dos quadros com o uso dos antibióticos tradicionais
não deve ser conferida à resistência à fármacos sem que haja comprovação laboratorial. As
alternativas propostas no Brasil são Ciprofloxacino, preferencialmente por via oral, durante dez
dias; Ofloxacino, por via oral, entre dez e quatorze dias; ou Ceftriaxona, por via intramuscular ou
intravenosa, em dose única (BRASIL, 2010).
5.7 EPIDEMIOLOGIA
basicamente em pessoas que fizeram viagens para áreas endêmicas ou imigrantes. A incidência
da febre tifoide nesses países é estimada entre 3 a 30 casos por 100 mil habitantes anualmente
(KANTELE, 2015).
No Brasil, todas as regiões possuem casos registrados de febre tifoide, porém nos Estados
do Norte e do Nordeste essa estatística é mais elevada, principalmente Bahia e o Amazonas em
2014, ano em que o estudo foi realizado. Para o Ministério da Saúde, a doença tem maior
incidência na faixa etária entre 15 e 45 anos (BRASIL, 2010; ROCHA et al., 2014).
19
6 RESULTADOS
O total de casos de febre tifoide notificados no Brasil entre os anos de 2012 a 2015 foi de
440 casos. Os dados referentes ao ano de 2016 não se encontravam disponíveis no momento de
sua coleta para a pesquisa. O ano de 2014 foi o que possuiu maior quantitativo de casos e o de
2015 o menor, com 193 e 61, respectivamente. A distribuição dos casos entre os anos encontra-se
na figura 1.
Figura 1 Distribuição anual dos casos de febre tifoide notificados no Brasil, nos anos de 2012 a 2015.
A Região Norte totalizou 80,23% das notificações; Nordeste 12,27%; Centro-Oeste 1,59%;
Sudeste 5,23%; e Sul 0,68%. A distribuição dos casos nas regiões é demonstrada na figura 2.
20
Figura 2 Distribuição dos casos de febre tifoide notificados nas regiões do Brasil, nos anos de 2012 a 2015.
Quanto ao sexo, no Brasil, 179 (40,68%) eram do gênero feminino e 259 (58,86%) do
gênero masculino e 2 (0,45%) casos tiveram o gênero ignorado em suas notificações. O gênero
masculino foi predominante entre todas as regiões. A distribuição dos casos entre os gêneros nas
regiões brasileiras está apresentada na figura 3.
21
Figura 3 Distribuição dos casos de febre tifoide notificados entre os gêneros nas regiões do Brasil, nos anos de
2012 a 2015.
Quanto à faixa etária, 9 (2,05%) indivíduos tinham menos de 1 ano, 169 (36,14%)
estavam na faixa entre 1 e 19 anos, 162 (36,82%) estavam entre 20 e 39 anos, 87 (19,77%)
estavam entre 40 e 59 anos e 23 (5,23%) indivíduos tinham 60 anos ou mais. No Norte e no
Sudeste, houve predominância da faixa etária entre 20 a 39 anos, Nordeste foi observada maior
predominância da faixa etária entre 1 a 19 anos e as regiões Centro-Oeste e Sul tiveram
similaridade entre as faixas. A distribuição dos casos entre faixas etárias nas regiões brasileiras
está apresentada na figura 4.
22
Figura 4 Distribuição dos casos de febre tifoide notificados nas diferentes faixas etárias nas regiões do Brasil,
nos anos de 2012 a 2015.
Figura 5 Distribuição dos casos de febre tifoide notificados nas regiões do Brasil entre os graus de
escolaridade, nos anos de 2012 a 2015.
Com relação ao desfecho clínico, 285 (64,77%) pacientes tiveram sua cura notificada, 4
(0,91%) foram a óbito, sendo 1 na região Norte, 2 na região Nordeste e 1 na região Centro-Oeste.
151 (34,32%) indivíduos tiveram seu desfecho clínico ignorado ou deixado em branco. A
distribuição dos casos por desfecho clínico nas regiões brasileiras está representada na figura 6.
24
Figura 6 Distribuição dos casos de febre tifoide notificados nas regiões do Brasil por desfecho clínico, nos
anos de 2012 a 2015.
7 DISCUSSÃO
Neste estudo foi observada a notificação de 440 casos entre os anos de 2012 e 2015 no
Brasil (Figura 1). Valores relativamente aproximados foram encontrados por Santos e Alcantara
(2014) quando avaliaram o período de 2010 a 2013 entre as regiões brasileiras, contudo ressalta-
se que variações no quantitativo de casos anuais podem estar relacionadas à surtos esporádicos
(SANTOS, ALCANTARA, 2014; WHO, 2008).
Com relação às regiões, o Norte concentrou o maior número de casos (80,23%) e o
Nordeste o segundo maior (12,27%) (Figura 2), em concordância com o estudo de Rocha (2014),
que indica que os maiores índices brasileiros nos últimos dez anos estão nestas regiões. As
regiões Norte e Nordeste apresentam baixos padrões de urbanização e saneamento e baixos
índices de desenvolvimento humano, bem como têm a maior proporção de pessoas com baixa
renda, o que traz ao foco as desigualdades regionais históricas do país (IBGE, 2015).
Considerando-se o estudo de Akullian et al. (2015), que descreve tanto a higiene a nível
doméstico, a segurança alimentar e o acesso a água potável, quanto aspectos ambientais como
proximidade de esgotos abertos como fatores de risco para a transmissão da febre tifoide, pode-se
associar esses fatores aos resultados das regiões Norte e Nordeste. Ramos (2004) e Bastos et al.
(2008), inclusive, afirmam que os altos índices nestas regiões são reflexo da precariedade de
saneamento básico.
Ressaltada a divisão dos casos de febre tifoide entre os gêneros (Figura 3), observou-se
um maior número de notificações no gênero masculino (58,86%). Keddy et al. (2016) observou,
entre os anos de 2003 e 2013, uma porcentagem semelhante no mesmo gênero (55,9%). Fatores
ocupacionais e ambientais, como exposição à agua contaminada e manuseio dos alimentos por
portadores da bactéria, podem ter relação com a exposição de determinados grupos à infecção
(AKULLIAN et al., 2015; BRASIL, 2010).
Ao referir-se às faixas etárias, este estudo mostrou um predomínio na faixa de 1 a 39 anos
e a menor taxa entre indivíduos com menos de 1 ano (Figura 4). O Ministério da Saúde
(BRASIL, 2010) indica a maior frequência de casos entre pessoas de 15 a 45 anos de idade, o
declínio do número de casos ao avançar da idade. Keddy et al. (2016) também descreve em seu
estudo um número maior entre pessoas de 1 a 45 anos, principalmente entre 5 a 14 anos. O estudo
de Akullian et al. (2015) relata ainda que as crianças podem ter uma menor imunidade conferida
26
por infecções prévias, além de provavelmente estarem mais expostas à contaminação fecal no
ambiente familiar. Fatores relacionados à exposição e ocupação também podem influenciar as
taxas de infecção entre os diferentes grupos etários (BRASIL, 2010; WAIN et al., 2014).
Há predomínio dos níveis de escolaridade mais básicos, como o Ensino Fundamental, nas
regiões Norte e Nordeste (Figura 5). No Brasil, há grande disparidade entre as regiões com
relação à adequação da idade ao nível educacional cursado. A proporção de jovens nas regiões
Norte e Nordeste cursando o nível superior é menor do que nas demais regiões, não alcançando
sequer 50% da sua população entre 18 e 24 anos em 2014, por exemplo, o que pode influenciar
no nível educacional e, consequentemente, nas taxas conhecimento sobre a prevenção de doenças
como a febre tifoide, bem como colocar um número maior de indivíduos em um nível
socioeconômico de risco (BRASIL, 2010; IBGE, 2015).
Considerando o desfecho clínico, 64,77% dos pacientes obtiveram cura e 0,91% foram a
óbito. Santos et al. (2014), observou em seu trabalho o óbito de 0,59% pacientes entre os anos de
2010 e 2013, no Brasil. As taxas de cura relativamente elevadas podem estar associadas à eficácia
da antibioticoterapia já que, no Brasil, ainda há baixas taxas de multirresistência e o uso do
Cloranfenicol, medicamento de primeira escolha, tem se mostrado efetivo (BRASIL, 2010).
Com relação aos dados tanto de escolaridade como de desfecho clínico, foi encontrado
elevado quantitativo de não preenchimento destes (ignorado ou deixado em branco), fator que
desperta a discussão sobre a importância de as notificações serem realizadas de maneira
completa. A ausência de informações ou o relato incompleto tendem a dificultar o controle
adequado do perfil das enfermidades pelas entidades responsáveis, bem como o incentivo às
estratégias de prevenção, de diminuição ou de eliminação das doenças e dos seus agravos
(CORENGO, 2014).
No presente estudo, em que as notificações dos desfechos clínicos não foram registradas
de forma completa/integral, torna-se difícil estimar os reais impactos que a febre tifoide
promoveu durante os anos analisados, podendo comprometer as chances de intervenções a serem
feitas por camuflar sua necessidade. Além disso, o fato das informações do ano de 2016 não
estarem disponíveis no site durante o período de coleta de dados pode ser reflexo da fragilidade
do sistema de notificações, o que pode atrapalhar intervenções rápidas quando necessárias, como
em casos de surtos. Dimech (2005), que avaliou o Sistema de Vigilância Epidemiológica da febre
tifoide no Brasil, observou que 54% das variáveis estavam incompletas em mais de 50% dos
27
casos e indicou que o Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) tinha baixa
sensibilidade para óbitos (19%). Tal falha no sistema de notificações pode contribuir para
perpetuação da transmissão da doença e dos danos causados por ela sem que isso chegue ao
conhecimento dos órgãos competentes.
O problema no registro dos casos de febre tifoide pode estar relacionado também a fatores
como os sintomas serem semelhantes aos de outras doenças febris em áreas endêmicas; os
recursos diagnósticos e de boa vigilância são limitados nessas áreas, e faz-se ainda uso frequente
de métodos de baixa confiabilidade, como títulos de anticorpos que têm sensibilidade e
especificidade abaixo do ideal; há ainda a possibilidade de apenas uma parcela dos pacientes com
um quadro febril ter acesso à atendimento médico em unidades de saúde onde a vigilância
epidemiológica seria realizada, restando assim métodos alternativos de tratamento ou não tendo
acesso a tratamento nenhum (KALJEE et al., 2013; MOGASALE et al., 2016).
28
8 CONCLUSÃO
• O quantitativo de casos condiz com os relatos da literatura e podem variar entre os anos
devido à surtos.
• Dificuldades de acesso à saúde e educação podem influenciar nas elevadas taxas de
notificação das regiões Norte e Nordeste.
• Entre os gêneros, observou-se predomínio do gênero masculino em concordância à relatos
da literatura, possivelmente devido à fatores ocupacionais e ambientais.
• A faixa de 1 a 39 anos mostrou-se mais afetada. Imunidade e maior exposição à
contaminação fecal no ambiente, assim como fatores ocupacionais podem estar
relacionados.
• Houve predomínio dos níveis de escolaridade mais básicos nas regiões Norte e Nordeste,
possivelmente devido grande disparidade na adequação da idade ao nível educacional
cursado nestas regiões, o que pode colocar um número maior de pessoas em um nível
socioeconômico de risco.
• Notou-se taxas de cura relativamente elevadas, que podem estar associadas à eficácia da
antibioticoterapia no Brasil, onde ainda há baixas taxas de multirresistência.
• Devido às notificações incompletas, torna-se difícil estimar os reais impactos que a febre
tifoide promove, o que pode comprometer as chances de intervenções pelos órgãos
competentes.
• Há dificuldade na vigilância da doença por a febre tifoide ter sintomas semelhantes aos de
outras doenças febris de áreas endêmicas e recursos diagnósticos e de boa vigilância
limitados, bem como por, possivelmente, apenas uma parcela dos pacientes afetados
terem acesso à atendimento médico em unidades de saúde.
29
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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