Na4 Ondasem
Na4 Ondasem
Ondas Eletromagnéticas
5 Ondas Eletromagnéticas 3
5.1 As equações de Maxwell no vácuo e as equações de onda . . . . . . . . . . . 3
5.2 Ondas planas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
5.2.1 A equação de onda em 1 dimensão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
5.2.2 A função de onda plana . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
5.2.3 Propriedades das ondas eletromagnéticas . . . . . . . . . . . . . . . . 7
5.3 Onda produzida por uma lâmina de corrente . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
5.4 Ondas senoidais, ou monocromáticas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
5.5 Energia e momento linear das ondas eletromagnéticas . . . . . . . . . . . . . 16
5.5.1 O vetor de Poynting . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
5.5.2 Momento linear e pressão de radiação . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
5.6 Radiação de uma carga acelerada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
5.6.1 Intensidade da radiação de dipolo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
1
Ondas eletromagnéticas
2 FAP2292
5
Ondas Eletromagnéticas
∇·E = 0 (5.1)
∇·B = 0 (5.2)
∂B
∇×E = − (5.3)
∂t
∂E
∇×B = µ0 0 (5.4)
∂t
Tomemos o rotacional de ambos os membros da Lei de Faraday (5.3). Invertendo a ordem
das derivadas espaciais e temporais, teremos:
∂
∇× (∇×E) = − (∇×B) .
∂t
Podemos eliminar o campo magnético B desta equação através da Lei de Ampère-Maxwell
(5.4), obtendo uma equação que envolve apenas o campo elétrico:
∂ 2E
∇× (∇×E) = −µ0 0 2 .
∂t
O duplo rotacional pode ser desenvolvido usando a relação para o duplo produto veto-
rial:
A× (B×C) = B (A·C) − C (A·B)
3
Ondas eletromagnéticas
∂ 2E
∇2 E = µ0 0 . (5.5a)
∂t2
∂ 2B
∇2 B = µ0 0 . (5.5b)
∂t2
∂2 ∂2 ∂2
∇2 = + + .
∂x2 ∂y 2 ∂z 2
Note que as equações (5.5a) e (5.5b) são equações vetoriais. Elas podem ser transcritas
como uma equação para cada componente do campo vetorial. Por exemplo, para o campo
elétrico, teremos em coordenadas cartesianas
2 ∂ 2 Ex ∂ 2 Ex ∂ 2 Ex ∂ 2 Ex
∇ Ex = + + = µ0 0 2
∂x2 ∂y 2 ∂z 2 ∂t
2 2 2
∂ Ey ∂ Ey ∂ Ey ∂ 2 Ey
∇2 Ey = + + = µ 0 0
∂x2 ∂y 2 ∂z 2 ∂t2
∂ 2 Ez ∂ 2 Ez ∂ 2 Ez ∂ 2 Ez
∇2 Ez = + + = µ 0 0 ,
∂x2 ∂y 2 ∂z 2 ∂t2
Estas equações tem o formato de equações de onda. Tais equações admitem soluções na
√
forma de ondas se propagando no espaço de três dimensões com velocidade c = 1/ µ0 0 .
A forma particular das funções que descrevem tais ondas depende das fontes do campo
elétrico e magnético, cargas e correntes, localizadas em alguma região do espaço. A seguir
vamos examinar o tipo mais simples possı́vel de solução, as ondas planas.
1
Este operador atua sobre campos vetoriais. O seu nome vem da similaridade de sua expressão carte-
siana com a do operador laplaciano que atua sobre campos escalares (funções escalares da posição). O
laplaciano de um campo escalar φ(r) é definido como ∇2 φ = div (grad φ). O laplaciano de um campo veto-
rial F é definido como ∇2 F = grad (div F) − rot (rot F). Os dois operadores são completamente diferentes
e as suas expressões somente são idênticas em coordenadas cartesianas.
4 FAP2292
Ondas eletromagnéticas
FAP2292 5
Ondas eletromagnéticas
∂f ∂F dF ∂u
= = = aF 0 , e
∂z ∂z du ∂z
∂ 2f ∂ 2F ∂ dF d2 F ∂u
= = a = a = a2 F 00 ,
∂z 2 ∂z 2 ∂z du du2 ∂z
onde adotamos uma notação compacta para as derivadas de uma função de uma única
variável F (u):
dF d2 F
F0 ≡ ; F 00 ≡ .
du du2
Derivando em relação a t termos:
∂f ∂F dF ∂u
= = = bF 0 , e
∂t ∂t du ∂t
∂ 2f ∂ 2F ∂ dF d2 F ∂u
= = b = b = b2 F 00 .
∂t2 ∂t2 ∂t du du2 ∂t
Levando as segundas derivadas à equação de onda (5.6), obtemos
∂ 2f 2 00 1 ∂ 2f b2 00 b2 b
2
= a F (u) = 2 2
= 2
F (u) ⇒ 2
= v2 ⇔ = v.
∂z v ∂t v a a
Note que a única condição necessária para que a função seja solução da equação de
onda é que a razão entre os parâmetro a e b, em u = az + bt, tenha o mesmo módulo
que v. A função F (u) permanece completamente arbitrária. Há duas formas simples e
equivalentes de escrever u:
6 FAP2292
Ondas eletromagnéticas
F (u)
f (z, t) = F (z − vt)
∆z = v∆t
t=0 t=∆t
Figura 5.1: A propagação de uma onda. Encima: a função de uma única variável F (u).
Embaixo: a função f (z,t) = F (z − vt) representada numa série crescente de instantes t
separados pelo mesmo intervalo de tempo. Depois de um intervalo de tempo ∆t a onda
se deslocou no espaço por uma distância ∆z = v∆t.
FAP2292 7
Ondas eletromagnéticas
8 FAP2292
Ondas eletromagnéticas
cB
k̂
Figura 5.2: Os campos elétrico e magnético de uma onda eletromagnética plana se pro-
pagando no vácuo, representados num determinado instante de tempo em posições ao
longo de uma reta paralela à direção de propagação k̂. A figura ilustra a relação cB = k̂×E
que se aplica em cada ponto do espaço em qualquer instante.
k̂ · E = 0; k̂ · B = 0; (5.7)
E = cB×k̂; cB = k̂×E. (5.8)
A figura 5.2 ilustra a relação entre os três vetores das ondas eletromagnéticas no vácuo.
Embora tenham sido obtidas estudando ondas planas, estas propriedades são completa-
mente gerais e se aplicam a qualquer tipo de onda eletromagnética se propagando no
vácuo. Note que elas implicam numa estrutura muito simples para as ondas eletro-
magnéticas. Em qualquer ponto do espaço r em qualquer instante de tempo t, os três
vetores estão atados entre si da maneira prescrita.
Se tivermos apenas uma onda plana se propagando numa certa direção, podemos
escolher esta como a direção de um eixo coordenado, como fizemos até aqui. Mas se
tivermos mais de uma onda plana se propagando em diferentes direções não podemos
redefinir os eixos de coordenadas para descrever cada onda. A forma mais geral de uma
onda plana se propagando numa direção qualquer k̂, entretanto, é bastante simples. Basta
notarmos que a coordenada z, que escolhemos na direção de propagação da onda até
agora, nada mais é do que a componente do vetor posição r = (x,y,z) na direção da
propagação, definida pelo versor k̂ = ẑ, ou seja z = r · k̂. Assim, para uma onda plana se
propagando numa direção qualquer descrita pelo versor k̂, as expressões para os campos
elétrico e magnético se escrevem simplesmente:
E(r,t) = E(k̂.r − ct) e B(r,t) = B(k̂.r − ct), ou
E(r,t) = E(t − k̂.r/c) e B(r,t) = B(t − k̂.r/c).
FAP2292 9
Ondas eletromagnéticas
x
B(t−z/c)
E(t+z/c)
E(t−z/c)
I
k̂
I
k̂ z
z
∆x
B(t+z/c)
y
∆z
Figura 5.3: Um plano infinito pelo qual flui uma corrente distribuı́da uniformemente.
10 FAP2292
Ondas eletromagnéticas
na figura 5.3. A direção do campo magnético foi determinada pela Lei de Ampère.
Como indicado na figura, escolhemos escrever a dependência dos campos na forma
u = t − z/v (com v = +c à direita do plano de corrente e v = −c à sua esquerda).
Levando em conta as relações que devem ser obedecidas para os campos de uma onda e
explicitando as componentes tomamos:
B(r,t) = B0 (t − z/c) x̂
para z > 0, (5.9)
E(r,t) = −cB0 (t − z/c) ŷ
B(r,t) = −B0 (t + z/c) x̂
e para z < 0, , (5.10)
E(r,t) = −cB0 (t + z/c) ŷ
onde a função B0 (u), que por simetria deve ser a mesma para os dois lados do plano,
ainda está indeterminada. Para determiná-la vamos aplicar a Lei de Ampère-Maxwell na
sua forma integral
∂
I Z
B·ds = µ0 I + µ0 0 E·dA,
∂t
ao circuito esquematizado do lado direito da figura 5.3, que corta o plano de corrente.
Para a circuitação do campo magnético temos
I
B · ds = [B0 (t − (∆z/2)/c) + B0 (t + (−∆z/2)/c)] ∆x = 2B0 (t − (∆z/2)/c)∆x.
I = I(t)∆x,
B0 (t) = 21 µ0 I(t),
O que isto significa é que, num ponto qualquer do espaço num instante t, o campo
magnético é determinado, não pela corrente que flui no instante t, mas pela corrente que
fluı́a no plano num instante anterior t0 = t − |z|/c. Ou seja, a informação de que pelo plano
flui uma determinada corrente se propaga no espaço com a velocidade da luz, c.
Vamos ver o que acontece num caso especı́fico. A densidade de corrente no plano é
nula até o instante t = 0, em que passa a ter um valor constante I0 . Num instante posterior
FAP2292 11
Ondas eletromagnéticas
t0 a corrente é desligada e volta a ser nula. A função que descreve esta densidade de
corrente em função do tempo é
0, para t < 0,
I(t) = I0 , para 0 ≤ t ≤ t0 ,
0, para t > 0.
Basta substituir esta função nas expressões (5.11) e (5.12) para obtemos os campos em
função da posição e do tempo. Nestas expressões o argumento da função I é um instante
de tempo anterior que pode ser expresso como t0 = t − |z|/c.
Vamos primeiro considerar um instante de tempo em que a corrente está ligada, ou
seja um instante t tal que 0 ≤ t ≤ t0 . Há duas situações dependentes de z.
• Para pontos no espaço tais que |z| > ct, temos t0 < 0 e I(t0 ) = 0:
em toda esta região o campo eletromagnético ainda é nulo.
• para pontos no espaço tais que |z| < ct, t0 > 0 e I(t0 ) = I0 :
e o campo eletromagnético já se estabeleceu.
O resultado está indicado no topo da figura 5.4. Toda a região entre z = −ct e z = +ct
contém campos elétricos e magnéticos uniformes nas direções indicadas cujos módulos
são, B = µ0 I0 /2 e E = cµ0 I0 /2. Para além da distância ct do plano, o campo eletro-
magnético permanece nulo. As fronteiras que limitam a região de campo não nulo avançam
com velocidade c.
Consideremos agora um instante posterior ao desligamento da corrente t > t0 . Há três
situações a considerar:
• Para pontos no espaço tais que |z| > ct, t0 < 0 e I(t0 ) = 0:
em toda esta região o campo eletromagnético ainda continua nulo. Nesta região
ainda não se sabe que a corrente foi ligada em t = 0.
• Para pontos no espaço tais que ct0 < |z| < ct, t0 > t0 > 0 e I(t0 ) = I0 :
nesta região já se sabe que a corrente foi ligada em t = 0, mas como t0 < t0 , a
informação de que ela foi desligada ainda não chegou. O campo eletromagnético
ainda persiste.
• Na região mais próxima do plano, |z| < ct0 temos t0 > t0 e I(t0 ) = 0:
a informação do desligamento da corrente já chegou a esta região e o campo eletro-
magnético voltou a se anular.
Esta situação está indicada na parte de baixo da figura 5.4. Agora só existe campo eletro-
magnético em duas faixas de largura ct0 , uma em cada lado do plano. Em todo o resto
do espaço o campo eletromagnético é nulo. As duas fronteiras das faixas de campo se
afastam do plano com a velocidade da luz c.
12 FAP2292
Ondas eletromagnéticas
I(0<t<t0 )=I0
B
E
E
z
B I(t)
I0
ct
ct
t
t0
I(t>t0 )=0
E E
z
B ct0
ct0
ct
ct
Figura 5.4: O campo eletromagnético de um plano infinito pelo qual flui uma corrente
distribuı́da uniformemente, representado em dois instantes de tempo: acima num in-
stante em que a densidade de corrente é I0 , 0 ≤ t ≤ t0 ; abaixo num instante posterior ao
desligamento da corrente, t > t0 ;
FAP2292 13
Ondas eletromagnéticas
I(t) = I0 cos(ωt − φ0 ),
terı́amos
I(t0 ) = I0 cos(ωt0 − φ0 ) = I0 cos(ω|z|/c − ωt + φ0 ).
Assim os campos elétrico e magnético num ponto do espaço exibiriam o mesmo caráter
oscilatório da corrente fonte. Este tipo de onda é muito importante porque as ondas
eletromagnéticas são produzidas, geralmente, por cargas ou correntes oscilantes. Vamos,
então, rever algumas propriedades deste tipo de onda.
Vamos escrever a forma geral de uma onda plana senoidal se propagando numa
direção arbitrária do espaço definida pelo versor de propagação k̂. Com I(t0 ) dado acima
e substituindo |z| pela forma mais geral k̂ · r temos, para os campos elétrico e magnético
de uma onda plana a forma
ω
E(r,t) = E0 cos k̂ · r − ωt + φ0
c
ω
B(r,t) = B0 cos k̂ · r − ωt + φ0 ,
c
onde os vetores constantes E0 , B0 e k̂, como para qualquer onda eletromagnética, são or-
togonais dois a dois e obedecem à relação E0 = cB0 × k̂. A grandeza ω/c tem dimensão de
inverso de comprimento. A partir dela podemos definir uma grandeza vetorial denomi-
nada vetor de onda como
ω
k = k̂.
c
Com esta definição as funções de onda são escritas de maneira mais compacta,
com a condição
ω = kc. (5.15a)
Esta equação entre o módulo do vetor de onda, k = |k|, e a freqüência angular ω é de-
nominada relação de dispersão. Esta é a forma que ela assume para ondas eletromagnéticas
se propagando no vácuo.
Existem duas periodicidades associadas a ondas senoidais.
14 FAP2292
Ondas eletromagnéticas
2π
λ= .
k
Note que k desempenha para o espaço o mesmo papel que ω desempenha para o tempo.
Como o espaço é tri-dimensional, entretanto, o vetor de onda k também informa sobre a
direção e sentido de propagação da onda. Em termos da freqüência e do comprimento de
onda a relação de dispersão se expressa na forma
λf = c. (5.15b)
O denominado espectro eletromagnético (ver, por exemplo a seção 24.7 do livro texto)
nada mais é do que uma atribuição de nomes a diferentes faixas de freqüência (ou compri-
mento de onda). Esta classificação leva em conta, de um lado, que a resposta da matéria
sob a ação dos campos elétrico e magnético de uma onda dependem da sua freqüência de
oscilação. Outro aspecto envolvido é que diferentes tipos de fontes geram ondas eletro-
magnéticas com diferentes faixas de freqüência.
Uma região especial do espectro é a faixa do visı́vel, em que ocorre o que chamamos
de luz. Ela contém as freqüências na faixa aproximada de 4×1014 Hz até 8×1014 Hz, que
correspondem a comprimentos de onda na faixa 0,4 µm < λ < 0,8 µm. Não existe nada
especial neste tipo de radiação eletromagnética, a não ser o fato de que o olho humano
é capaz de detectá-la, donde o termo visı́vel. As diferentes freqüências da luz nesta faixa
são traduzidas pelo nosso cérebro como cores diferentes. Os extremos são o vermelho,
de freqüência mais baixa e, portanto, com o maior comprimentos de onda, e o violeta,
de freqüência mais alta e menor comprimento de onda. Assim, uma radiação com uma
única freqüência se traduz numa cor única. Daı́ a denominação de monocromática (do
grego chroma=cor) para uma onda senoidal pura. Esta denominação, embora derivada da
luz visı́vel, pode ser utilizada qualquer que seja a faixa do espectro, visı́vel ou não.3
3
Note que neste parágrafo utilizamos diversos termos para significar a mesma coisa: onda eletro-
magnética, luz, radiação eletromagnética. Você vai encontrar termos como luz visı́vel (soa redundante),
luz ultravioleta, luz infravermelha (parece contracenso, porque são invisı́veis). Em todos os casos a palavra
luz pode ser substituı́da por radiação, ou onda.
FAP2292 15
Ondas eletromagnéticas
0 2 1 2
u= E + B . (5.16)
2 2µ0
1
S= EB k̂.
µ0
c 2 1 2 E2
S= B = E = 0 cE 2 = .
µ0 µ0 c Z0
A constante r
1 µ0
Z0 = µ0 c = = = 376,730313461 . . . Ω,
0 c 0
é denominada impedância caracterı́stica do vácuo.
16 FAP2292
Ondas eletromagnéticas
onde definimos o vetor velocidade c = ck̂. Ou seja, o vetor de Poynting para uma onda
eletromagnética é a densidade de energia multiplicada pela velocidade de propagação.
Note a similaridade entre a forma de S e a da densidade de corrente elétrica associada
a uma densidade de carga ρ se movendo com velocidade v, J = ρv. Assim, o vetor de
Poynting representa a energia que atravessa uma área unitária, perpendicular à direção
de propagação, por unidade de tempo. Ou seja, o fluxo de potência por unidade de área
na direção de propagação.
Num determinado ponto do espaço o vetor de Poynting varia no tempo quando os
campos dependem do tempo. Para ondas senoidais a dependência temporal de S num
determinado ponto tem a forma S(t) = S0 cos2 (ωt + φ). Define-se a intensidade de uma
onda como a média temporal do fluxo de potência por unidade de área. A intensidade,
portanto, é uma função apenas da posição. Como a média do quadrado do cosseno (ou
do seno) num número inteiro qualquer de perı́odos é 12 , a intensidade de uma onda eletro-
magnética se expressa como
1 2 1 c 2
I = hSit = 12 S0 = 21 u0 c = 12 0 cE02 = 1
E = 2 B0 , (5.18)
2
Z0 0 µ0
onde os ı́ndices “0 ” são utilizados para representar as amplitudes das funções oscilatórias
senoidais. A unidade SI para a intensidade é watt por metro quadrado (W/m2 ).
Até agora estudamos ondas planas, para as quais as amplitudes dos campos E0 e B0
são constantes, independentes da posição. Podemos ver como fica a dependência espa-
cial dos campos de uma onda emitida por uma fonte localizada utilizando a propagação
da energia. Suponha uma fonte pequena, como uma lâmpada por exemplo, que irradia
ondas em todas as direções. Seja P0 a potência média emitida pela fonte. A intensidade a
uma distância r da fonte será
P0
I(r) =
4πr2
porque a potência se distribui uniformemente pela área de uma esfera centrada na fonte.
Através das expressões (5.18), obtemos
r
2 2I 2P0 1
E0 (r) = ⇒ E0 (r) = cB0 (r) = × .
0 c 4π0 c r
O resultado mostra que os campos elétrico e magnético de uma onda decaem com o in-
verso da distância à fonte. Esta atenuação é muito mais lenta que a atenuação dos campos
estáticos, que vão com o inverso do quadrado da distância.
FAP2292 17
Ondas eletromagnéticas
18 FAP2292
Ondas eletromagnéticas
E r̂
cB
r E
θ r̂
cB
r
ϕ
qa(t−r/c)
FAP2292 19
Ondas eletromagnéticas
Note que as amplitudes dos campos elétrico e magnético são proporcionais ao pro-
duto da carga pela amplitude do seu movimento oscilatório, qz0 . Se adicionarmos uma
carga −q fixa na origem, que não contribui para o campo de radiação, teremos um dipolo
elétrico oscilante cujo momento de dipolo é p(t) = qz(t) = p0 cos(ωt). Podemos substituir
o produto qz0 por p0 nas expressões dos campos e é fácil verificar que o resultado vale
qualquer que seja o movimento das cargas q e −q que resultam na oscilação do momento
de dipolo elétrico. Por este motivo se usa a denominação radiação de dipolo para esta onda
eletromagnética.
Vamos analisar estas expressões em detalhe.
θ=0
1
π/6
0,8
0,6
2π/6
0,4
0,2
π/2
2π/3
5π/6
Figura 5.6: Distribuição angular da intensidade irradiada por uma carga acelerada que se
move na direção z. Este é um gráfico polar: a intensidade da onda emitida numa dada
direção é proporcional à distância entre a origem e o ponto da curva nesta direção. Esta
curva pode ser girada em torno do eixo z.
Assim, uma potência extra deve ser fornecida pelo agente que provoca a oscilação da
carga.
Para melhor quantificar este efeito, vamos considerar uma antena reta. Assim não
temos uma única carga, mas um número grande de cargas elétricas oscilando o que pode
ser descrito como uma corrente oscilante. Se a antena tem comprimento ` λ, podemos
considerar a corrente uniforme ao longo do seu comprimento e tomar para a amplitude
da corrente I0 = qωz0 /`. Com isto, a potência média irradiada pela antena fica:
2
π `
Prad = µ0 c I02 . (5.23)
3 λ
A potência irradiada é proporcional ao quadrado da amplitude da corrente, como a potência
dissipada num resistor. Assim, para a fonte de alimentação a antena apresenta uma re-
sistência adicional devida à radiação. Por analogia com P = 12 RI02 , a potência média
dissipada numa resistência R atravessada por uma corrente senoidal de amplitude I0 ,
obtemos: 2 2
2π ` `
Rrad = µ0 c ≈ 789 Ω. (5.24)
3 λ λ
Lembre-se que µ0 c = Z0 ≈ 377Ω é a impedância caracterı́stica do vácuo. Este resultado
somente é valido no limite em que o comprimento da antena é muito menor que o com-
primento de onda da radiação emitida, de forma de `/λ 1. Antenas deste tipo são
muito pouco efetivas. As antenas utilizadas na prática (rádio, TV, etc.) têm seu compri-
mento comparável ao λ da onda emitida. Para tais antenas os resultados anteriores têm
que ser modificados para levar em conta a distribuição da corrente e as diferenças de fase
entre as ondas emitidas ao longo do comprimento da antena. Uma antena muito utilizada
é a antena de meia onda, em que ` = λ/2. Para esta antena a impedância vale Rrad = 73Ω.
FAP2292 21
Ondas eletromagnéticas
22 FAP2292
Apêndice A
Uma maneira muito conveniente de representar uma onda senoidal (ou qualquer função
senoidal) é tomá-la como a parte real de uma função complexa. Isto pode ser feito sempre
no caso de funções oscilatórias que obedecem equações diferenciais lineares, porque as
operações lineares preservam a separação entre as partes real e imaginária de uma função
complexa. Adicionar uma parte imaginária a uma função real, entretanto, tem o efeito de
simplificar a álgebra, como veremos.
A figura A.1 mostra as várias maneiras de representar um número complexo. Para
nossos propósitos, a melhor representação é a exponencial complexa:
z = ρeiφ ,
Im
z = x+iy
= ρ cos φ+iρ sen φ
= ρ eiφ
y
ρ
φ
x Re
23
Ondas eletromagnéticas
Utilizando esta notação, podemos reescrever as funções dadas em (5.13) e (5.14) como
E(r,t) = Re E0 ei(k·r−ωt) ,
(A.1a)
B(r,t) = Re B0 ei(k·r−ωt) .
(A.1b)
A fase inicial, φ0 , foi incorporada nas amplitudes vetoriais E0 e B0 que agora são também
complexas. Para economizar notação, muitas vezes omitimos a indicação Re (parte real
de) que fica implı́cita.
Note que as funções complexas que representam as ondas senoidais planas têm uma
amplitude constante e toda a dependência espacial e temporal fica na fase da exponencial,
na forma de uma função linear da posição e do tempo,
φ(r,t) = k · r − ωt = kx x + ky y + kz z − ωt.
Um operador diferencial atuando sobre uma função complexa deste tipo vai envolver
apenas as derivadas da exponencial complexa, que são simplesmente
∂ iφ
e = −iωeiφ ,
∂t
∂ iφ ∂ iφ ∂ iφ
e = ikx eiφ , e = iky eiφ , e = iky eiφ .
∂x ∂y ∂y
Ou seja, derivar uma tal função em relação ao tempo se resume a multiplicá-la por −iω,
e em relação a uma coordenada se resume a multiplicá-la for ikj , onde kj é a componente
do vetor de onda k na direção correspondente. Estes resultados podem ser representados
através das associações:
∂
≡ −iω e ∇ ≡ ik.
∂t
Para as derivadas de funções do tipo representado pelas equações (A.1a) ou (A.1b), as
operações divergente e rotacional de um campo vetorial senoidal F se traduzem em
∇·F = ik · F e ∇×F = ik × F.
Vamos reescrever as Equações de Maxwell no vácuo para este tipo de onda. As leis de
Gauss (5.1) e (5.2) ficam
k · E = 0, k · B = 0, (A.2a)
de onde segue que tanto E quanto B são perpendiculares à direção de propagação, que é
a mesma do vetor de onda k, como em (5.7). As leis de Faraday (5.3) e Ampère-Maxwell
(5.4) ficam (suprimindo o fator comum i que aparece nos dois membros das equações):
ω
k × E = ωB, k × B = − E, (A.2b)
c2
que mostram que E e B são perpendiculares entre si, como em (5.8).
Tomemos o produto vetorial por k dos dois membros da lei de Faraday:
k × (k × E) = ωk × B.
k × (k × E) = k(k · E) − E(k · k) = −k 2 E.
24 FAP2292
Ondas eletromagnéticas
ω = kc,
como havı́amos obtido anteriormente (5.15a). Levado a qualquer das equações (A.2b),
este resultado conduz a
|E| = c|B|,
a relação entre os módulos dos campos elétrico e magnético de qualquer onda eletro-
magnética.
FAP2292 25