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Diário da República, 1.ª série — N.

º 151 — 7 de agosto de 2018 3903

Regulamentação dos programas orçamentais


PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA
1 — O decreto- lei a que se refere o n.º 12 do
Decreto do Presidente da República n.º artigo 45.º da Lei de Enquadramento Orçamental é
48/2018 aprovado até ao final do primeiro semestre de 2019 e
de 7 de agosto
contém as especificações e as orientações relativas à
concretização dos programas orçamentais junto de todos
O Presidente da República decreta, nos termos do os serviços e organismos dos subsetores da
artigo 135.º, alínea b) da Constituição, o seguinte: administração central e da segurança social.
É ratificada a Convenção do Conselho da Europa 2 — (Revogado.)
contra o Tráfico de Órgãos Humanos, aberta a assinatura 3 — A adoção do modelo de programas
em Santiago de Compostela em 25 de março de 2015, orçamentais estabelecido na Lei de Enquadramento
aprovada pela Resolução da Assembleia da República n.º Orçamental, aprovada em anexo à presente lei, faz- se no
236/2018, em 23 de março de 2018. Orçamento do Estado para o ano de 2021.
Assinado em 19 de julho de 2018. 4 — ...................................
.
Publique -se. 5 — ...................................
O Presidente da República, MARCELO REBELO DE .
SOUSA. 6 — ...................................
Referendado em 27 de julho de 2018. .

O Primeiro- Ministro, António Luís Santos da Costa. Artigo 8.º


111561887 [...]

1 —.....................................
2 — Sem prejuízo do disposto no número
ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA anterior, os artigos 3.º e 20.º a 76.º da Lei de
Enquadramento Orçamental, aprovada em anexo à
Lei n.º 37/2018 presente lei, produzem efeitos a partir de 1 de abril de
2020.»
de 7 de agosto

[Dispõe o artigo 3.º da Lei n.º 2/2018, de 28 de


Segunda alteração à Lei n.º 151/2015, de 11 de janeiro, que a partir de maio de 2018 e até à produção de
setembro, efeitos dos artigos 3.º e 20.º a 76.º da Lei de
Lei de Enquadramento Orçamental, Enquadramento Orçamental, aprovada em anexo à Lei
recalendarizando a produção de n.º 151/2015, de 11 de setembro, o Governo envia à
efeitos da mesma
Assembleia da República, trimestralmente, informação
A Assembleia da República decreta, nos termos da detalhada da utilização de cativações nos orçamentos das
alínea c) do artigo 161.º da Constituição, o seguinte: entidades que integram a administração direta e indireta
do Estado, desagregados por ministério, por programa e
Artigo 1.º por medida.]
Objeto
Artigo 3.º
A presente lei procede à segunda alteração à Lei n.º Norma revogatória
151/2015, de 11 de setembro, Lei de Enquadramento
Orçamental, alterada pela Lei n.º 2/2018, de 29 de É revogado o n.º 2 do artigo 5.º da Lei n.º 151/2015,
janeiro, recalendarizando a produção integral de efeitos de 11 de setembro.
da mesma.
Artigo 4.º
Artigo 2.º
Republicação
Alteração à Lei n.º 151/2015, de 11 de setembro
É republicada em anexo à presente lei e da qual faz
Os artigos 3.º, 5.º e 8.º da Lei n.º 151/2015, de 11 de parte integrante a Lei n.º 151/2015, de 11 de setembro,
setembro, passam a ter a seguinte redação: com a redação atual.

«Artigo 3.º Artigo 5.º


Revisão da legislação da gestão financeira pública Entrada em vigor
A revisão da legislação da gestão financeira pública A presente lei entra em vigor no dia seguinte ao da sua
que se mostre necessária à plena concretização da Lei publicação.
de Enquadramento Orçamental é efetuada em paralelo
com os projetos de implementação da referida lei. Aprovada em 6 de julho de 2018.
O Presidente da Assembleia da República, Eduardo
Artigo 5.º Ferro Rodrigues.
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Promulgada em 31 de julho de 2018. garantia dos dts fundamentais e garantia do equilíbrio e


separação de poderes; jurídicas, ligadas à limitação dos
Publique –se, em que as finanças públicas são a
poderes executivos, através do principio do
atividade € de um ente público tendente à afetação de
consentimento.
bens à satisfação de necessidades que lhe estão
3 — AC diz que estado deve intervir por meios
confiadas, relacionada com dinheiros e valores
tributários e outros, para corrigir a distribuição de
públicos; A F.Privada: aspetos monetários do
rendimentos. Para cada sujeito€ o ponto ótimo de oferta
financiamento de uma economia; quer se reportem
de bens públicos é utilidade marginal dos bens públicos
aos sujeitos€ (microe) ou a económica geral
= desutilidade marginal dos impostos.
(macroe),moeda,crédito,mercados financeiros
4 — Este diz que aumento do bem-estar€ pode
O Presidente da República, MARCELO REBELO DE não ser bem-estar social. Este exige, igualdade entre
SOUSA. Referendada em 2 de agosto de 2018. todos, pq só assim seriam iguais as utilidades marginais
Orgânico: órgãos do estado + entes públicos compete de todos os sujeitos€, esta n existe, e iria por em risco a
gerir recursos destinados à satisfação; objetivo: estado liberdade individual. A igualdade é uma referência que
não se pode perder, mas que havendo, deve haver
afeta bens € à satisfação; subjetivo: estuda os
correção permanente das variáveis económicas, para
princípios e regras desta atividade económica. harmonizar eficiência e equidade, corrigindo os
Pelo Primeiro- Ministro, Augusto Ernesto Santos desajustamentos entre poupança e investimento. Só há
Silva, Ministro dos Negócios Estrangeiros. bem-estar se a desutilidade do imposto for inferior à
ANEXO
utilidade assegurada pela provisão dos bens públicos.
(a que se refere o artigo 4.º)
5 — Ao Gabinete de Gestão e Coordenação de
Projetos compete promover, coordenar e controlar as
Republicação da Lei n.º 151/2015, de 11 de setembro atividades necessárias à concretização dos objetivos de
cada projeto, respeitando os recursos e o calendário
aprovados.
Artigo 1.º
6 — Distribuição de carga fiscal: desiguais devem
Objeto ser tratados desigualmente – diferenciação positiva; a
A presente lei aprova a Lei de Enquadramento redução das desigualdades aumenta o bem estar-geral.
Orçamental. 7 — O imposto deve ser repartido segundo as
capacidades contributivas dos cidadãos, devendo as
Artigo 2.º despesas publicas ser posta ao serviço da justiça
Aprovação
distributiva. O autor procurou formular um ótimo social
que é máximo de benefícios para a comunidade,
É aprovada, em anexo à presente lei, da qual faz parte procurando precisar em que condições a perda de
integrante, a Lei de Enquadramento Orçamental. utilidade para alguns mesmos pode resultar a melhoria
do bem-estar social do conjunto.
Artigo 3.º
Artigo 5.º
Revisão da legislação da gestão financeira pública
Regulamentação dos programas orçamentais
A revisão da legislação da gestão financeira pública
que se mostre necessária à plena concretização da Lei de 1 — O decreto- lei a que se refere o n.º 12 do
do Fenómeno é utilização de bens ou meios€ próprios artigo 45.º da Lei de Enquadramento Orçamental é
por parte de um ente público para satisfazer as needs aprovado até ao final do primeiro semestre de 2019 e
contém as especificações e as orientações relativas à
concretização dos programas orçamentais junto de todos
Artigo 4.º os serviços e organismos dos subsetores da
Unidade de Implementação da Lei administração central e da segurança social.
de Enquadramento Orçamental
2 — Fenómeno financeiro público: concretiza-se
1 — É necessário garantir as necessidades sociais; por instituições financeiras públicas (IP), para garantir
mercado não é capaz de assegurar compatibilidade entre um provimento das necessidades sociais os Estados
eficiência e equidade, pelas limitações que o prendem: modernos dispõem de instituições financeiras de
desigualdade na distrib da riqueza, instabilidade de enquadramento, visam racionalizar e controlar o
provisão, custo crescente dos serviços públicos, processo social de exercício da ativ. Financeira pública.
situações monopolísticas abundantes e crescentes, existe 3 — IP: Constituição financeira, órgãos de
exterioridades, má distribuição de bens públicos.
decisão financeira (AR,G,RA, AL), aparelho orgânico da
Essencial aperfeiçoar meios de regulação pública à
economia, para assegurar equilíbrio entre concorrência e administração e gestão financeira (ministério das
justa distrib de recursos. Tema mt imp, pq n as despesas finanças), planos financeiros relativos à previsão,
publicas tem de ser limitadas, em razão de equidade execução, controlo e responsabilidade financeira, OE;
intergeracional, sem esquercer o resultado em termos de património publico, tesouro e crédito.
qualidade de vida dos cidadãos, c eficiência e equidade. 4 — Património: conjunto de bens de que o
2 — Funções orçamentais: €, racionalidade, Estado dispõe para satisfazer as necessidades sociais, ex:
eficiência e transparência, para satisfazer as needs monumentos nacionais, estradas, escolas, hospitais.
publicas e estabilizar a conjuntur€; Politicas, inerente à Tesouro: instituição destinada a centralizar todos os
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recebimentos e pagamentos do Estado; Crédito: conjunto coercibilidade, ter dimensão adequada para responder a
de operações de endividamento e gestão da divida problemas complexos de big dimensão.
publica praticadas pelo Estado a fim de obter meios de 2 — Escola de escolha pública anos60 séc.XX
liquidez para a cobertura. Uni de Chicago, baseando-se nos princípios e
5 — OE: previsão da despesas a realizar pelo instrumentos que os economistas utilizavam para
Estado e dos processos de as cobrir, incorporadas à analisar atitudes dos sujeitos€ de mercado. Consideram
autorização concedida à Ad.F para cobrar receitas e existir incapacidades de mercado + falhas do governo.
realizar despesas e limitando os poderes financeiros da ANEXO
Ad em cada período anual.
6 — O Governo aprova a demais regulamentação (a que se refere o artigo 2.º) Lei
necessária à execução da Lei de Enquadramento
Orçamental, aprovada em anexo à presente lei. de Enquadramento Orçamental

Artigo 6.º
TÍTULO I
Base contabilística dos programas orçamentais
Objeto e âmbito
Ordenação€: estado define e executa os padrões e
quadros para quais vai desenvolver-se no Artigo 1.º
comportamento dos entes públicos como o dos sujeitos€;
Objeto
Atuação: estado age por si próprio, como se fosse sujeito
de dt.privado, formulando escolhas e opções A presente lei estabelece:
económicas, que não visam alterar comportamentos de
a) Os princípios e as regras orçamentais aplicáveis ao
outros sujeitos€, devendo estar sempre pautadas pela
defesa e salvaguardar o interesse publico; Intervenção: setor das administrações públicas;
estado tenta modificar a forma natural como os agentes€ b) O regime do processo orçamental, as regras de exe-
atuariam, pelas politicas€ e ações pontuais para melhorar cução, de contabilidade e reporte orçamental e
a eficiência€; Direção: característica dos sistemas financeiro, bem como as regras de fiscalização, de
coletivistas, o Estado modifica os quadros gerais da controlo e auditoria orçamental e financeira, respeitantes
ativ€, para substituir ao próprio mercado. ao perímetro do subsetor da administração central e do
subsetor da segurança social. Homem político age como
Artigo 7.º homo economicus pensando nas hipóteses que lhe
Norma revogatória oferece o mercado politico, assim como os agentes do
estado. Burocracia, centralismo, ineficiência resulta da
1 — É revogada a Lei n.º 91/2001, de 20 de
não consideração dos instrumentos inerentes à
agosto, alterada pela Lei Orgânica n.º 2/2002, de 28 de
ponderação de custos e benefícios e transparência nas
agosto, e pelas Leis n.os 23/2003, apenas nas económicas
decisões que constituem elementos que definem as
de mercado, a ordenação, atuação e intervenção do
falhas do governo. c) Para a escola da EP, os
Estado são compatíveis com a liberdade económica e
legisladores tenderiam a atuar de forma dispendiosa para
prevalência dos critérios de regulação ligados ao
os contribuintes, por haver poucos incentivos a uma boa
mercado.
gestão de interesse público. O certo é que, quanto
2 — Sem prejuízo do disposto no número
+rígido o sistema, +se torna vulnerável à intervenção dos
anterior, durante o prazo referido no n.º 2 do artigo
grupos de interesses e de grupos de pressão. A
seguinte mantêm- se em vigor as normas da Lei n.º
complexidade dos procedimentos, a falta de
91/2001, de 20 de agosto, As situações que seja possível,
transparência na sua condução favorece a opacidade.
para a provisão de needs de bens coletivos ou
financeiros, criar mecanismos de cooperação
(associações de socorro mútuos) ou de exclusão (corpo Artigo 2.º
de bombeiros privativo de uma empresa), a regra exige o Âmbito institucional
recurso a um poder de autoridade para produzir os bens 1 — O setor das administrações públicas abrange
indispensáveis à satisfação de needs coletivas. todos os serviços e entidades dos subsetores da
administração central, regional, local e da segurança
Artigo 8.º social, que não tenham natureza e forma de empresa, de
Entrada em vigor e produção de efeitos fundação ou de associação públicas.
2 — Sem prejuízo, Hirscham diz que a perda de
1 — A presente lei entra, para os entes públicos qualidade dos serviços públicos está na lealdade, voz ou
intervirem para socializar as exterioridades, criando saída das respostas para o declínio. Importa que os
infraestruturas, como estradas, canais, ou investindo na valores sociais, participação e projetos futuros
saúde, educação, ambiente. Visa a prossecução de funcionem como mobilizadores da mudança e da melhor
interesse geral, corresponde não só a uma duração satisfação das necessidades.
ilimitada ou à ausência de um horizonto temporal mas tb 3 — Dentro do setor das administrações a
uma capacidade para assumir risco superior à de outros participação de cidadãos e incentivo ao desenv dos
grupos contratuais, implica existir poder autoridade, que poderes locais e outros de controlo de sociedade civil
resulta capacidade de impor regras e assegurar seriam meios para romper com as falhas de internvenç
do gov e ineficiência do Estado e setor publico.
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4 — Integram ainda o setor das administrações 1 — O disposto no artigo anterior não prejudica o
públicas as entidades que, independentemente da sua os regime especial de autonomia administrativa e financeira
agentes€ conduzem a sua ação ao funcionam do mercado das instituições de ensino superior públicas, bem como
politico de eleições. James Bichanam e a escola: das suas unidades orgânicas, sendo aplicáveis as normas
intervenção e a regulação publica consigam eliminar legais específicas que confiram às instituições de ensino
essas áreas de perda absoluta de bem-estar, para superior públicas maior autonomia.
ultrapassar as falhas de mercado. 2 — O disposto nos n.os 4 e 5 do artigo 57.º não é
5 — Às entidades públicas, Estado, intervem na aplicável às instituições de ensino superior públicas.
económica para promoção da eficiência comprometida
com as falhas de mercado, necessidade de superação da
disparidade entre eficiência e bem-estar social, originada TÍTULO II
pela existência de exterioridades, ou exigência de Política orçamental, princípios e regras
superação da injustiça das preferências dos orçamentais e relações financeiras entre
consumidores ou das regras de distribuição de riqueza. administrações públicas
6 — O comportamento do Estado+ente vai refletir
os interesses e escolhas de um numero significativo de
pessoas e naturais resistências a mudanças que se CAPÍTULO I
traduzam em maior eficiência e racionalidade. Não Política orçamental
sendo a escolha publica individual, mas resulta da
convergência de vontades e interesses, com a imp da Artigo 6.º
ponderação da dimensão de mercado bem como dos Política orçamental
resultados.
1 — O quadro jurídico fundamental da política
Artigo 3.º orçamental e da gestão financeira, concretizado na
Âmbito orçamental e contabilístico
presente lei, resulta da Constituição da República
Portuguesa e das disposições do Tratado sobre o
1 — O orçamento da administração central integra Funcionamento da União Europeia, do Pacto de
os orçamentos dos serviços e entidades públicas e da Estabilidade e Crescimento em matéria de défice
Entidade Contabilística Estado, doravante designada por orçamental e de dívida pública e, bem assim, do disposto
ECE. no Tratado sobre a Estabilidade, Coordenação e
2 — Para efeitos da presente lei é criada a ECE, a Governação da União Económica e Monetária.
qual é constituída pelo conjunto das operações 2 — A política orçamental deve ser definida para
contabilísticas da responsabilidade do Estado e integra, um horizonte de médio prazo, conciliando as prioridades
designadamente, as receitas gerais, as responsabilidades políticas do Governo com as condicionantes que
e os ativos do Estado. Defesa do interesse geral: resultam da aplicação do disposto no número anterior.
considera virtualidades e limitações da atuação do
Estado. De um lado, temos a produção de bens públicos Artigo 7.º
e promoção de ativ criadores de exterioridades Conselho das Finanças Públicas
positivas,cdo outro, temos bloqueamentos inerentes ao
respeito da legalidade e transparência, à prestação de 1 — O Conselho das Finanças Públicas tem por
contas anual, à alternância do poder e existência de missão pronunciar- se sobre os objetivos propostos
ciclos eleitorais e assimetria e insuficiência informativas relativamente aos cenários macroeconómico e
inerentes à dimensão do estado. orçamental, à sustentabilidade de longo prazo das
3 — A gestão da ECE compete ao membro do finanças públicas e ao cumprimento da regra sobre o
Governo responsável pela área das finanças, saldo orçamental, da regra da despesa da administração
determinando que o interesse publico exija um esforço central e das regras de endividamento das regiões
redobrado de racionalização de modo a que os custos n autónomas e das autarquias locais previstas nas
excedam os benefícios e retificação das falhas de respetivas leis de financiamento.
mercado n origine falhas de intervenção. IP, corresponde 2 — A composição, as competências, a
ao bem comum=compatibilização entre a adequada organização e o funcionamento do Conselho das
satisfação indiv das needs, com alvaguarda da justiça Finanças Públicas, bem como o estatuto dos respetivos
distrib e interesse geral. membros, são definidos por lei.
Artigo 8.º
Artigo 4.º Previsões macroeconómicas
Valor reforçado
1 — As projeções orçamentais subjacentes aos
O disposto na presente lei prevalece sobre todas as documentos de programação orçamental previstos na
normas que estabeleçam regimes orçamentais presente lei devem basear- se no cenário
particulares que a contrariem. macroeconómico mais provável ou num cenário mais
Artigo 5.º prudente.
2 — Os documentos de programação orçamental
Autonomia administrativa e financeira das
instituições de ensino superior públicas devem incluir:
a) O cenário macroeconómico e orçamental, com ex-
Diário da República, 1.ª série — N.º 151 — 7 de agosto de 2018 3907

plicitação das hipóteses consideradas; administrações públicas estão sujeitas ao princípio da


b) A comparação com as últimas previsões efetuadas solidariedade recíproca.
pelo Governo e a explicação das revisões efetuadas; 2 — O princípio da solidariedade recíproca obriga
todos os subsetores, através dos respetivos serviços e
c) A comparação com as previsões de outros entidades, a contribuírem proporcionalmente para a
organismos realização da estabilidade orçamental referida no artigo
nacionais e internacionais para o mesmo período; 10.º e para o cumprimento da legislação europeia no
d) A análise de sensibilidade do cenário macro- domínio da política orçamental e das finanças públicas.
orçamental 3 — As medidas que venham a ser implementadas
a diferentes hipóteses para as principais variáveis. no âmbito do presente artigo são enviadas ao Conselho
de Acompanhamento das Políticas Financeiras e ao
3 — Os documentos de programação orçamental Conselho de Coordenação Financeira e devem constar
devem indicar se o cenário subjacente foi apreciado pelo da síntese de execução orçamental do mês a que
Conselho das Finanças Públicas. respeitam.

Artigo 13.º
CAPÍTULO II Equidade intergeracional
Princípios orçamentais 1 — A atividade financeira do setor das
administrações públicas está subordinada ao princípio da
Artigo 9.º equidade na distribuição de benefícios e custos entre
Unidade e universalidade gerações, de modo a não onerar excessivamente as
gerações futuras, salvaguardando as suas legítimas
1 — O Orçamento do Estado é unitário e expectativas através de uma distribuição equilibrada dos
compreende todas as receitas e despesas das entidades custos pelos vários orçamentos num quadro plurianual.
que compõem o subsetor da administração central e do 2 — O relatório e os elementos informativos que
subsetor da segurança social. acompanham a proposta de lei do Orçamento do Estado,
2 — Os orçamentos das regiões autónomas e das nos termos do artigo 37.º, devem conter informação
autarquias locais são independentes do Orçamento do sobre os impactos futuros das despesas e receitas
Estado e compreendem todas as receitas e despesas das públicas, sobre os compromissos do Estado e sobre
administrações regional e local, respetivamente. responsabilidades contingentes.
3 — A verificação do cumprimento da equidade
Artigo 10.º intergeracional implica a apreciação da incidência
Estabilidade orçamental orçamental das seguintes matérias:
1 — O setor das administrações públicas, a) Dos investimentos públicos;
incluindo todas as entidades e serviços que o integram, b) Do investimento em capacitação humana, cofinan-
está sujeito, na aprovação e execução dos respetivos ciado pelo Estado;
orçamentos, ao princípio da estabilidade orçamental. c) Dos encargos com os passivos financeiros;
2 — A estabilidade orçamental consiste numa
d) Das necessidades de financiamento das entidades
situação de equilíbrio ou excedente orçamental.
do
3 — A concretização do princípio da estabilidade
depende do cumprimento das regras orçamentais setor empresarial do Estado;
numéricas estabelecidas no capítulo III do presente e) Dos compromissos orçamentais e das responsabili-
título, sem prejuízo das regras previstas nas leis de dades contingentes;
financiamento regional e local. f) Dos encargos explícitos e implícitos em parcerias
público -privadas, concessões e demais compromissos
Artigo 11.º financeiros de caráter plurianual;
Sustentabilidade das finanças públicas g) Das pensões de velhice, aposentação, invalidez ou
outras com características similares;
1 — Os subsetores que constituem o setor das
administrações públicas, bem como os serviços e h) Da receita e da despesa fiscal, nomeadamente
entidades que os integram, estão sujeitos ao princípio da aquela
sustentabilidade. que resulte da concessão de benefícios tributários.
2 — Entende- se por sustentabilidade a
capacidade de financiar todos os compromissos, Artigo 14.º
assumidos ou a assumir, com respeito pela regra de saldo Anualidade e plurianualidade
orçamental estrutural e da dívida pública, conforme
estabelecido na presente lei. 1 — O Orçamento do Estado e os orçamentos dos
serviços e das entidades que integram o setor das
Artigo 12.º administrações públicas são anuais.
Solidariedade recíproca 2 — Os orçamentos dos serviços e das entidades
1 — A preparação, a aprovação e a execução dos que compõem os subsetores da administração central e
orçamentos dos subsetores que compõem o setor das da segurança social integram os programas orçamentais
e são enquadrados pela Lei das Grandes Opções em
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matéria de Planeamento e da Programação Orçamental 5 — considerar fluxo de bens e serviços à saída


Plurianual. das empresas – produto nacional = soma do que é
3 — O ano económico coincide com o ano civil. produzido num certo período. Considerar valores reais e
+106/1 crp não nominais, ou seja, devemos usar um critério de
Consequencia da gloriosa revolução inglesa: preços contantes para que a inflação não vicie a
obrigatório convocação do parlamento todos os anos comparação
para aprovar o OE, donde constam as autorizações das 6 — Produto nominal: calcular preços variáveis,
receitas a cobrar e créditos de despesa a realizar. sem deduzir depreciação monetária); Produto real:
Envolve dupla exigência: votação anual do OE pelo considerado a evolução dos preços. Imp considerar o
parlamento e execução anual do OE pelo gov e ad pub deflator, baseado no índice do preço, que vai prmitir
No critério de gerência incluem-se no OE todas as retirar o efeito da depreciação monetária, para garantir
despesas a realizar efetivamente e receitas cobradas que os termos da comparação sejam idênticos.
independentemente do momento em que tenham sido
geradas. No critério do exercício, atende-se ao Artigo 11.º
momento que foram geradas, indepentem do tempo da Sustentabilidade das finanças públicas
sua concretização. Em pt, gerência, desde 1930, ainda
Cuma pequena concessão ao de exercício que é a 3 — Evitar dupla contagem: se o fizéssemos
possibilidade de haver um período complementar de falseávamos o valor. Devemos considerar o valor
execução orçamental. acrescentado em cada fase da produçao:valor
4 — O disposto nos números anteriores não prejudica acrescentado é bem que valor, no momento da venda,
a possibilidade de existir um período complementar mais do que valiam as partes que o constituem ou a
matéria-prima de que é feito. Produto nacional, soma dos
Keynes, apartir da analise dos comportamentos valores acrescentados na agricultura, industria e
individuais é mt difícil chegar à analise global.Há serviços.
varias situações que tendem para o equilíbrio. Não é 4 — Produto interno: produzido pelas empresas
vdd que os problemas globais fiquem resolvidos de um pais. Ou seja, produzido em PT, é pi, oq é
quando a € individual funcionar bem - lei de Say= a produzido pelos pts, é pn.
5- anaisar a quota-parte que cabe a cada cidadão,
oferta cria a sua própria procura.Walras, já dizia, que
relativam ao pn: pn per capita, que é calculando,
o total da oferta deveria ser = ao total da procura, divindo o total dos bens e serviços produzidos ou
considerando a moeda como se fosse equiparada aos criados pelo numero de habitantes; O valor a que a
bens e serviços transacionados. ciencia€ se reconduz é pi per capita.PN é valor
CAPÍTULO II monetário do conjunto de bens e serviços criados
Princípios orçamentais numa economia, durante um período considerado.
Artigo 12.º
Artigo 9.º Solidariedade recíproca
Unidade e universalidade 4 — A preparação, a aprovação e a execução dos
3 — O Orçamento do Estado é unitário e orçamentos Despesa nacional: aquisição de bens e
compreende Keynes, económica em regra serviços e vai exigir separação por tipo de utilização,
desequilibrada. Consumo depende do rendimento global, consumo, investimento, despesa do estado. As
enfase à procura efetiva global (soma da procura no economias não são fechadas e por isso há exportações e
consumo e da procura de investimento), as quais importações, devendo somar as E e diminuir as I.
determinam o nível de produção e nível de emprego. DN=C+I+G+E-I, valor monetário da soma das despesas
4 — Por outro lado, a económica n atingiria o efetuadas em relação a bens finais pelo conjunto dos
equilinrio espontaneamente, seria necessário agir sobre a agentes€, durante um período considerado.
procura global através da ação estabilizadora do 5- RN – salario para trabalho, rendas para fatores
principal sujeito€, Estado. A grande depressão dos naturais, juros para capital, lucro como remanescente
anos30 ensinaram a Keynes que ele tinha razão, pois foi das diversas renumerações. É o valor monetário do
necessário coordenar politicas publicas para reconstituir conj das retribuições ou ganhos, provenientes quer da
a procura efetiva global, diminuída pela perda de riqueza atividade económica quer da aplicação de certos bens
e desemprego. € agregada: visão de conjunto, temos que ou valores, durante um período considerado.
adicionar varias partes componentes. = medir a utilidade 5 — Pnb: inclu investimentos das amortizações,
total em unidades monetárias, somando as diferentes que é a parte do investimento orientada para a reposição
utilidades prestadas pelos diversos bens e serviços. dos equipamentos utilizados, valor que deve, ser abatida
Quantidade de bens transacionados x respetivos preços. para e chegar ao pn liquido.PNB= PNL+A;PNL= PNB-
A
Artigo 10.º
Artigo 13.º
Estabilidade orçamental
Equidade intergeracional
4 — Contabilidade nacional: método que permite
obter medida quantitativa, expressa em valor monetário, 4 — DN, o fluxo dos bens e serviços, vao orientar
da totalidade da ativ€ de uma nação, ao longo de um os recursos disponíveis ora para satisfação imediata dos
certo ano. Através de produtos, despesas e rendimentos.. bens e serviços, ora para fatores que permitem criar
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outros bens e serviços. Na ótica da despesa, os sujeitos€ qualquer ato orçamental e a lei devem os memos
vao consumir ou contribuir para a reprodução de ser considerados feridos inconstituconalmnte, que
riqueza, através de investimento. traduz na ilegalidade.
5 — São os investimentos que determinam Artigo 14.º
poupanças. A taxa de juro é o elemento essencial para a
Anualidade e plurianualidade
capitalização. Quanto maior a taxa, menor o valor de um
bem de capital. Indispensável encontrar uma taxa de juro 4 — Estado moderno: realidade heterógenea
que iguale o valor do acréscimo de bens de capital ao complexa, abrange a administração central e outros
seu custo – eficácia marginal do capital por Keynes. subsectores de setores públicos. ad.central: núcleo
6 — Lei do crescimento das despesas públicas, central da organização de uma sociedade politica, que
adolf wagner, que a medida que a riqueza de uma cabe prosseguir o interesse publico, através da afetação
sociedade aumenta, verificasse um crescimento de de recursos comuns e pelos meios de que dispõe,
dimensão do Estado e dos seus encargos. Caracterisitca influencia o Estado e a sociedade mercê da importância
das sociedades industriais mais desenvolvidas. do setor públicos, c ad de impostos nacionais e
i) Despesas correntes: n afetam o ativo patrimonial redistribuiç social.
duradouro do estado; ex: despesas com pessoal, 5 — Setor Publico Ad: central, desconcentrado ou
pagamento de juros de empréstimos; descentralizado, perante a atuação€ própria do Estado e
outras entidades€ n lucrativas. Prosseguir o interesse
j) Despesas de capital: afetam o ativo patrimonial do publico através de uma ativ que obedece a critérios
estado, aumenta ou reduz, ex: despesas de ligados à satisfação de needs da comunidade.
investimento em obras publicas 3 — Descentralização: autonomia institucional,
k) Despesas do OE: encargos da administração central financeira ou patrimonial e pode ser d.politica (forma
e transferências desta para outros setores. As de ad autonoma de base territorial), d.ad (existência
despesas estão sujeitas ao consentimento de pc de direito publico c funções ad, com relativa
parlamentar, principio da tipicidade quantitavia: autonomia , ainda q sujeitas a tutela ad e financeira.
existência de um limite constante do OE, que não 4 —D.ad: há orgânica/horizontal, organismos públicos
poderá ser ultrapassado por quem o de base n territorial que são investidos de poderes do
executa.Qualquer despesa para se realizar tem de estado e territorial/vertical, org de um espaco geográfico.
ser legal e ter cabimento orçamental. A descent distingue-se da d.ad, pq há autonomia, mas tao
l) Rceita pública: encargos condicionam a need de só aproximação da Ad.central dos administrados. Tamos
haver receitas sufi para prover tais needs, no perante órgãos do poder central/serviços da adcentral
entanto, o consentimentoabrage 2 autorizações, a que, por rzoes de funcionalidade, tem uma localização
de cobrar receitas e de realizar despesas. dispersa no território, sendo orientados para prossecução
m)Receitas funcionais a tipicidade qualitativa: receita do interesse geral do estado central numa certa área ou
autorizada e consentida deve ser especificada, n região, para população.
podendo ser cobrada se tal n acontecer de forma
suficientemente precisa, podendo a verba cobrada Artigo 15.º
ser superior ao que esta previsto. Não compensação
n) Contabilidade orçamental: há a c.pública e as receits+despesas devem ser incluídas no OE de um
c.nacional. Na pssagem de um para o outro dos modo pormenorizado para evitar existir opacidade e
sitemas registam-se os fluxos c base nas operações, garantir que os contribuintes saibam qual o destino dos
isto é, quando o valor€ é criado, transformado ou impostos que pagam.
extinto ou qnd se criam, modificam ou extinguem
1 — Todas as receitas são previstas pela
os dts e obri. Na c.p é registada aquando o ato de
importância integral em que foram avaliadas, sem
produção e n qnd é paga pelo comprador.
dedução alguma para encargos de cobrança ou de
o) Ajustamentos a fazer a cp: ajustamntos aos qualquer outra natureza.
impostos e contribuições, descontando-se as 2 — A importância integral das receitas tributárias
liquidações de impostos ou considerar incobrável; corresponde à previsão dos montantes que, depois de
Ajustamento os juros recebidos e pagos, e outros, abatidas as estimativas das receitas cessantes em virtude
como o saldo do serviço nacional de saúde. de benefícios tributários e os montantes estimados para
p) Leo é lei reforçada – conteudo substacial: deve ser reembolsos e restituições, são efetivamente cobrados.
respeitar pelas leis que sejam aprovadas no seu 3 — Todas as despesas são inscritas pela sua
âmbito, prevalecendo hierarquicamente. A violação importância integral, sem dedução de qualquer espécie,
da leo poderá dar lugar a uma ressalvadas as seguintes exceções:
inconstitucionalidade material, se entender que o
legislador ordinário n tinha liberdade p adotar a) As operações relativas a ativos financeiros;
outro caminho. OE é aprovado por lei, num b) As operações de gestão da dívida pública direta
sistema monista parlamentar, q tem uma natureza do Estado, que são inscritas nos respetivos programas
de lei-plano, com vigência anual, com autorização orçamentais, nos seguintes termos:
politica, jurídica e económica do governo, para i) As despesas decorrentes de operações de
cobrar receitas e realizar despesas concebendo e derivados
realizando uma politica de finanças publicas. Se
houver contradição entre uma lei do Oe ou
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financeiros são deduzidas das receitas obtidas com as 3 — As normas que, nos termos da alínea f) do
mesmas operações, sendo o respetivo saldo sempre número anterior, consignem receitas a determinadas
inscrito como despesa; despesas têm caráter excecional e temporário.
ii) As receitas de juros resultantes de operações
asso- Artigo 17.º
ciadas à emissão de dívida pública direta do Estado e ou Especificação
à gestão da Tesouraria do Estado são abatidas às
despesas da mesma natureza; 1 — As despesas inscritas nos orçamentos dos
iii) As receitas de juros resultantes das operações serviços e organismos dos subsetores da administração
asso- central e da segurança social são estruturadas em
ciadas à aplicação dos excedentes de Tesouraria do programas, por fonte de financiamento, por
Estado, assim como as associadas aos adiantamentos de classificadores orgânico, funcional e económico.
tesouraria, são abatidas às despesas com juros da dívida 2 — As receitas são especificadas por
pública direta do Estado; classificador económico e fonte de financiamento.
iv) As receitas de juros resultantes de operações 3 — São nulos os créditos orçamentais que
ativas da Direção -Geral do Tesouro e Finanças são possibilitem a existência de dotações para utilização
abatidas às despesas com juros da dívida pública direta confidencial ou para fundos secretos, sem prejuízo dos
do Estado. regimes especiais legalmente previstos de utilização de
verbas que excecionalmente se justifiquem por razões de
4 — A inscrição orçamental dos fluxos financeiros segurança nacional, autorizados pela Assembleia da
decorrentes de operações associadas à gestão da carteira República, sob proposta do Governo.
de ativos dos fundos sob administração do Instituto de 4 — A estrutura dos códigos dos classificadores
Gestão dos Fundos de Capitalização da Segurança orçamentais é definida em diploma próprio, no prazo de
Social, I. P., é efetuada de acordo com as seguintes um ano após a entrada em vigor da lei que aprova a
regras: presente lei.
a) As receitas obtidas em operações de derivados Artigo 18.º
financeiros são deduzidas das despesas correntes das
Economia, eficiência e eficácia
mesmas operações, sendo o respetivo saldo sempre
inscrito como receita; 1 — A assunção de compromissos e a realização
b) Os juros recebidos de títulos de dívida são de despesa pelos serviços e pelas entidades pertencentes
deduzidos dos juros corridos pagos na aquisição do aos subsetores que constituem o setor das administrações
mesmo género de valores, sendo o respetivo saldo públicas estão sujeitas ao princípio da economia,
sempre inscrito como receita. eficiência e eficácia.
2 — A economia, a eficiência e a eficácia
5 — O disposto nos números anteriores não prejudica consistem na:
o registo contabilístico individualizado de todos os
fluxos financeiros, ainda que meramente escriturais, a) Utilização do mínimo de recursos que assegurem
associados às operações nelas referidas. os
adequados padrões de qualidade do serviço público;
Artigo 16.º b) Promoção do acréscimo de produtividade pelo al-
Não consignação cance de resultados semelhantes com menor despesa;
c) Utilização dos recursos mais adequados para
1 — Não pode afetar- se o produto de quaisquer atingir
receitas à cobertura de determinadas despesas. o resultado que se pretende alcançar.
2 — Excetuam -se do disposto no número
anterior: a) As receitas das reprivatizações; 3 — Sem prejuízo do disposto nos números anteriores
a avaliação da economia, da eficiência e da eficácia de
b) As receitas relativas aos recursos próprios investimentos públicos que envolvam montantes totais
comuni- superiores a cinco milhões de euros, devem incluir,
tários tradicionais; sempre que possível, a estimativa das suas incidências
c) As receitas afetas ao financiamento da orçamental e financeira líquidas ano a ano e em termos
segurança social e dos seus diferentes sistemas e globais.
subsistemas, nos termos legais; Artigo 19.º
d) As receitas que correspondam a transferências Transparência orçamental
provenientes da União Europeia e de organizações
internacionais; 1 — A aprovação e a execução dos orçamentos
e) As receitas provenientes de subsídios, donativos dos serviços e das entidades que integram o setor das
e legados de particulares, que, por vontade destes, administrações públicas estão sujeitas ao princípio da
devam ser afetados à cobertura de determinadas transparência orçamental, nos termos dos números
despesas; seguintes e no Capítulo IV do Título VI.
f) As receitas que sejam, por razão especial, afetas 2 — A transparência orçamental implica a
a determinadas despesas por expressa estatuição legal ou disponibilização de informação sobre a implementação e
contratual. a execução dos programas, objetivos da política
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orçamental, orçamentos e contas do setor das 7 — Enquanto não for atingido o objetivo de
administrações públicas, por subsetor. médio prazo, as reduções discricionárias de elementos
3 — A informação disponibilizada deve ser fiável, das receitas públicas devem ser compensadas por
completa, atualizada, compreensível e comparável reduções da despesa, por aumentos discricionários de
internacionalmente, de modo a permitir avaliar com outros elementos das receitas públicas ou por ambos,
precisão a posição financeira do setor das administrações conforme definido no Pacto de Estabilidade e
públicas e os custos e benefícios das suas atividades, Crescimento.
incluindo as suas consequências económicas e sociais, 8 — Para efeitos do disposto nos números
presentes e futuras. 4 — O princípio da transparência anteriores, o agregado da despesa deve excluir as
orçamental inclui: despesas com juros, as despesas relativas a programas da
União Europeia e as alterações não discricionárias nas
a) O dever de informação pelo Governo à Assembleia despesas com subsídios de desemprego.
da República, no quadro dos poderes de fiscalização 9 — Para efeitos do disposto nos números
orçamental que a esta competem; anteriores, o excedente do crescimento da despesa em
b) O dever de informação financeira entre os subsetores; relação à referência de médio prazo não é considerado
c) O dever de disponibilização de informação à enti- um incumprimento do valor de referência na medida em
dade com competência de acompanhamento e controlo que seja totalmente compensado por aumentos de receita
da execução orçamental, nos termos e prazos a definir no impostos por lei.
decreto -lei de execução orçamental. 10 — A intensidade do ajustamento referido nos
números anteriores tem em conta a posição cíclica da
economia.
CAPÍTULO III
Artigo 21.º
Regras orçamentais Excedentes orçamentais

1 — Os excedentes da execução orçamental são


SECÇÃO I
usados preferencialmente na:
Regras gerais
a) Amortização da dívida pública, enquanto se
verificar o incumprimento do limite da dívida pública
Artigo 20.º prevista no n.º 1 do artigo 25.º;
Regra do saldo orçamental estrutural b) Constituição de uma reserva de estabilização,
1 — O objetivo orçamental de médio prazo é o desti-
definido no âmbito e de acordo com o Pacto de nada a desempenhar uma função anticíclica em contextos
Estabilidade e Crescimento. de recessão económica, quando se verificar o
2 — A trajetória de convergência anual para cumprimento do limite referido na alínea anterior.
alcançar o objetivo de médio prazo consta do Programa
de Estabilidade. 2 — Os excedentes anuais do sistema previdencial
3 — O saldo estrutural, que corresponde ao saldo revertem a favor do Fundo de Estabilização Financeira
orçamental das administrações públicas, definido de da Segurança Social, nos termos da Lei de Bases do
acordo com o Sistema Europeu de Contas Nacionais e Sistema de Segurança Social.
Regionais, corrigido dos efeitos cíclicos e líquido de
medidas extraordinárias e temporárias, não pode ser Artigo 22.º
inferior ao objetivo de médio prazo constante do Desvio significativo
Programa de Estabilidade, tendo por objetivo alcançar
um limite de défice estrutural de 0,5 % do produto 1 — A identificação de um desvio significativo
interno bruto (PIB) a preços de mercado. face ao objetivo de médio prazo ou face ao saldo
4 — A metodologia para o apuramento do saldo previsto na trajetória de convergência constantes,
estrutural é a definida no âmbito e de acordo com o respetivamente, dos n.os 1 e 2 do artigo 20.º é feita com
Pacto de Estabilidade e Crescimento. base na análise comparativa entre o valor verificado e o
5 — Sempre que a relação entre a dívida pública e valor previsto.
o PIB a preços de mercado for significativamente 2 — Para efeitos do disposto no número anterior,
inferior a 60 % e os riscos para a sustentabilidade a o valor verificado é calculado com base nos dados
longo prazo das finanças públicas forem reduzidos, o constantes da notificação do procedimento por défices
limite para o objetivo de médio prazo pode atingir um excessivos efetuada pelas autoridades estatísticas.
défice estrutural de, no máximo, 1 % do PIB. 3 — Estando em trajetória de convergência,
6 — Enquanto não for atingido o objetivo de considera-se que existe um desvio significativo quando
médio prazo, o ajustamento anual do saldo estrutural não se verifique, pelo menos, uma das seguintes situações:
pode ser inferior a 0,5 % do PIB, e a taxa de crescimento a) O desvio apurado face ao saldo estrutural
da despesa pública, líquida de medidas extraordinárias, previsto for, no mínimo, de 0,5 % do PIB, num só ano,
temporárias ou discricionárias do lado da receita, não ou de pelo menos 0,25 % do PIB em média anual em
pode ser superior à taxa de referência de médio prazo de dois anos consecutivos;
crescimento do PIB potencial, conforme definido no b) A evolução da despesa líquida de medidas
Pacto de Estabilidade e Crescimento.
extra-
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ordinárias e temporárias em matéria de receita tiver um jurídica e autonomia ad, financeira e patrimonial. Gestao
contributo negativo no saldo das administrações públicas de receitas próprias, pelo que a margem de manobra dos
de, pelo menos, 0,5 % do PIB, num só ano, ou responsáveis é maior do que a existente nos organismos
cumulativamente em dois anos consecutivos. dotados de mera autonomia ad. Aplica-se normas, como
encerramento da conta, duodécimos, registo de contratos
4 — Para efeitos de determinação de um desvio e cabimento das respetivas despesas, reescalonamento de
significativo não é considerado o previsto na alínea b) do compromissos, regime geral de autorização de despesas,
número anterior, se o objetivo de médio prazo tiver sido requisitos de autorização de despesas e processo
superado, tendo em conta a possibilidade de receitas específicos de realização de despesas, restituições e
excecionais significativas, e se os planos orçamentais reposições.
estabelecidos no Programa de Estabilidade não
colocarem em risco aquele objetivo ao longo do período Artigo 24.º
de vigência do Programa. Situações excecionais
5 — O desvio pode não ser considerado 1 – Subsetores ad: Ad.publica – ativ do estado que
significativo nos casos em que resulte de ocorrência visa realizar interesses gerais da sociedade concretizados
excecional não controlável pelo Governo, nos termos em objetivos definidos por via de autoridade, c
previstos no artigo 24.º, com impacto significativo nas orientações politicas e com subordinação a uma ordem
finanças públicas, e em caso de reformas estruturais que jurídica; Ad.Central autonoma; Segurança Social;
tenham efeitos de longo prazo na atividade económica, Ad.Regional; Ad.local
desde que tal não coloque em risco a sustentabilidade
orçamental a médio prazo. a) Setor empresarial publico: entidades intervientes que
6 — O reconhecimento da existência de um atuam no mercado, sob regras mercantis. São agentes
desvio significativo é da iniciativa do Governo, mediante ativos q asseguram o pleno funcionamento da
prévia consulta do Conselho das Finanças Públicas, ou
concorrência. EPE, ou pc de direito privado.
da iniciativa do Conselho da União Europeia, através da
apresentação de recomendação dirigida ao Governo, nos b) Subsetores financeiros: ADcentral conjunto de
termos do n.º 2 do artigo 6.º do Regulamento (CE) n.º serviços integrados, como o OE e CGE, que tem
1466/97, do Conselho, de 7 de julho de 1997. naturezas diversificadas, dotados de autonomia ad.
7 — Reconhecido o desvio significativo nos Estes serviços dispõem de créditos inscritos no OE e
termos do número anterior, é ativado o mecanismo de os seus dirigentes apenas tem poderes para praticar
correção constante do artigo seguinte.
atos necessários à autorização de despesas e o seu
Artigo 23.º pagamento.
Mecanismo de correção do desvio
2 — SegSocial: assume autonomia e peso
crescente, com entidades dotadas de um regime especial,
1 — Quando se reconheça a situação prevista no c naturza para-orçamental ou parafiscal, mas hj tem
n.º 3 do artigo anterior, o Governo deve apresentar à natureza orçamental e fiscal, integrada no OE. AR
Assembleia da República no prazo de 30 dias, um plano aprova anualmente o OE e o orçamento da segsocial,
de correção com as medidas necessárias para garantir o com regime especifico de preparação, aprovação e
cumprimento dos objetivos constantes do artigo 20.º execução para a coesão€ e social, do financiamento dos
2 — Autonomia ad aa: n corresponde a orçamento sistemas sociais e cobertura de riscos socais. Há
própria ou privativo. Define-se ao tocante aos créditos independencia orçamental, órgãos próprios p aprovação
ou dotações de despesa. Os serviços e organismos dos instrumentos financeiros e orçamentais e
dispõem de créditos inscritos no OE, e os seus dirigentes competências ad e f q podem ser exercidas com ampla
tem poderes para praticar atos necessários à autorização autonomia estratégica.
de despesas e pagamento, falando-se em atos deifinitivos 3 — Finanças autárquicas: adlocal é parte da
e executórios em matéria financeira. adautonoma c base territorial, com municípios,
3 — Atos financeiros: são internos e não visam concelhos e freguesias. CRP prevê a região ad como
primacialmente consequências na esfera jurídica dos autarquia local, mas falta considerar essa circunscrição.
administrados, tem de revestir a segurança jurídica, Perante a prossecução de fins públicos que se referem
designdam quanto à fundamentação, sujeitos ao CPA. aos interesses próprios da população de uma parte do
4 — AA exerce-se da gestão corrente que território nacional. A atividade local é exercida por
compreende todos os atos que integram a atividade que órgãos autónomos c responsabilidade numa certa
os serviços e organismos desenvolvem para a circunscrição t.
prossecução das suas atribuições, s/prejuízo dos poderes 4 — Finanças regionais: ad.regional –
de direção, supervisão, inspeção do ministro competente. adautonoma territorial, RA, prossecução de fins públicos
5 — A autonomia ad e financeira é apenas com interesses próprios de população e território. Ativ f
aplicável aos IP q tem forma de serviços personalizados reg é exercida por órgãos autnomis c responsabilidade
do estado e fundos públicos. Os serviços da Ad.central numa cirsc. Há independencia f, com existência de
só pode dispor deste regime quando se justifique tal receitas próprias e consagração de um regime de
gestão, desde que as suas receitas próprias atinjam um aprovação por órgãos próprios dos instrumentos
mínimo de 2/3 das despesas totais. financeiros.
6 — Do Programa de Estabilidade constam: os
organismos autonomias dispõem de personalidade Artigo 25.º
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Limite da dívida pública 6 — Sem prejuízo do disposto no n.º 1, as


entidades públicas reclassificadas referidas no n.º 4 do
1 — Setor empresarial: Empresas publicas,
artigo 2.º apresentam saldo primário positivo.
sociedades comercias detidas pelo setor publico.
7 — O decreto- lei de execução orçamental prevê
2 — finanças da UE: diretivas e regulamentos da
os mecanismos de correção adequados para as entidades
u tem repercussões, indiretas e direitas, na esfera
públicas reclassificadas previstas no n.º 4 do artigo 2.º
nacional.
que se encontrem em situação de incumprimento.
3 — Instituições financeiras: modos de
organização de natureza constitucional, legislativa ou
orgânica que visam racionalizar e controlar o processo Artigo 28.º
social de exercício da ativfinanceirapublica. Regras específicas para os subsetores
da administração regional e local
4 — Constituição financeira: conjunto de
princípios e normas fundamentais por que se regem As regras do saldo orçamental e do limite à dívida,
juridicamente, a organização e o funcionamento aplicáveis aos subsetores das administrações regional e
respeitantes à ativ€dos entes públicos q afetam bens€ local, constam das respetivas leis de financiamento.
próprios à satisfação de needs q lhe estão confiadas.
Artigo 29.º
Artigo 26.º Limites de endividamento
Regras interpretativas
1 — OE: necessidade de conceber aos cidadãos
1- OE: elemento económico: previsão de gestão contribuintes apossibilidade de darem o seu acordo
orçamental, que traduz-se na existência de um plano expresso através de repre aos compromissos financeiros
financeiro; politico: autorização politica concedida pela e de verificarem o modo de utilização, em relação às
AR no exercício de uma competência indelegável no Gov, receitas e despesas publicas, sendo o quadro geral básico
o qual apenas detem o poder de execução orçamental; de toda ativ financeirapublica. Definição pra´tica das
jurídico: instrumento pelo qual se processa a limitação de finalidades dadas ao dinheiro publico
2 — A limitação do poder real, os parlamentos e
poderes dos órgãos da ad do domínio financeiro.
democracia representativa criaram-se na Maga Carta
Regras específicas britânica, a 1215, considerando que n deveria haver
impostos sem representação (no taxation without
Artigo 27.º representation) e assim os Parlamentos tornaram-se
Saldos orçamentais camaras de impostos.
3 — Todas as revoluções, de Inglaterra, eua e
1 — Os serviços e entidades integrados nas frança, verificou-se que todas tiveram denominador
missões de base orgânica do subsetor da administração comum garantir um reforço da legitimidade
central devem apresentar na elaboração, aprovação e representativa dos cidadãos contribuintes, através da
execução, um saldo global nulo ou positivo, bem como concretização do consentimento popular relativamente à
resultados positivos antes de despesas com impostos, tributação. Os sistemas eleitorais evoluíram, visto que o
juros, depreciações, provisões e perdas por imparidade, sufrágio começou a ser censitário e depois universal.
salvo se a conjuntura do período a que se refere o 4 — Princípios e regras da leo: anualidade,
orçamento, justificadamente, o não permitir. unidade, universo, discriminação orçamental,
2 — O subsetor da segurança social deve publicidade, equilíbrio e equidade inter-geracional.
apresentar um saldo global nulo ou positivo, salvo se a
conjuntura do período a que se refere o orçamento, CAPÍTULO IV
justificadamente, o não permitir.
3 — Para efeitos do disposto nos números Relações financeiras entre subsetores
anteriores, não são consideradas as receitas e despesas
relativas a ativos e passivos financeiros, conforme Artigo 30.º
definidos para efeitos orçamentais nem o saldo da Transferências do Orçamento do Estado
gerência do ano anterior apurado na contabilidade 1 — Estabilidade: situação de equilíbrio ou
orçamental. excedente orçamental, dependendo da concretização do
4 — Nos casos em que, durante o ano a que cumprimento das regras orçamentais numéricas,
respeitam os orçamentos a que se refere o n.º 1, a estabelecidas no regime do enquadramento orçamental.
execução orçamental do conjunto das administrações O setor das ads publicas, incluindo entidades e serviços
públicas o permitir, pode o Governo, através do membro que o integram estão submetidos à aprovação e execução
do Governo responsável pela área das finanças, dos respetivos orçamentos à estab
dispensar, em situações excecionais, a aplicação da regra 2 — Sustentabilidade das finanças pub:capacidade
de equilíbrio estabelecida no mesmo número. de financiar todos os compromissos assumidos ou a
5 — Os relatórios da proposta de lei do assumir, c salvaguarda da regra do saldo orçamental
Orçamento do Estado e da Conta Geral do Estado estrutural e da divida publica. Solidariedade reciproca: é
apresentam a justificação a que se referem as partes obrigatória na preparação, aprov, exec dos orçamentos
finais dos n.os 1 e 2. dos subsect, que deveram contribuir proporcionalmente
para a estabilidade orç e cumprimento da legislação
europeia no domínio orçamental e finanças p.
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Artigo 31.º legados de particulares, que, por vontade destes, devam


Incumprimento das normas do presente título ser afetados à cobertura de determinadas despesas e
ainda as receitas que sejam destinadas a determinada
1 — Equidade interg: visa garantir que os finalidade por lei ou contrato
recursos sejam gastos considerando a necessidade de n 3 — especificação: art.105,3 crp e 17 receitas
oneração excessiva das gerações futuras, especial no especificadas por classificador€ e fonte de
tocante a encargos cujo beneficio reverta apenas para as financiamento. Serão nulos os créditos orçamentais que
gerações presentes. Deve existir equilíbrio na possibilitem a existência de dotações para utilização
distribuição de benefícios e custos entre gerações. É uma confidencial ou fundos secretos.
justiça distrib vertical, envolvendo a evolução do longo 4 — A atualização do Programa de Estabilidade
prazo e projeção das dividas de hoje na amortização e especifica, partindo de um cenário de políticas
beneficio de gerações de amanha. invariantes, as medidas de política económica e de
2 — a apreciação esta equidade inclui incidência política orçamental do Estado português, apresentando
orçamental das responsab contratuais plurianuais dos de forma detalhada os seus efeitos financeiros, o
serviços integrados e serviços e fundos autónomos, respetivo calendário de execução e a justificação dessas
agrupados por ministérios. A verificação desta implica a medidas.
apreciação da incidência orçamental nos investimentos 5 — A revisão anual do Programa de Estabilidade
públicos, i.de capacitação humana, cofinanciados pelo inclui um projeto de atualização do quadro plurianual
Estado,encargo com passivos financeiros, necessidades das despesas e receitas públicas, sem prejuízo da sua
de financiamento das entidades do setorempresarial, concretização na Lei das Grandes Opções.
compromissos orçamentais e resonsab contingentes, 6 — O Governo envia à Comissão Europeia a
encargos explícitos e implícitos em parcerias publico- atualização do Programa de Estabilidade até ao final de
privadas, concessões e compromissos financeiros de abril.
caracter plurianual, pensões de velhice, aposentação,
invalidez ou outras características similares e receitas e Artigo 34.º
despesa fiscal, que resulte da concessão de benefícios Lei das Grandes Opções
tributários. (art13)
TÍTULO III 1 — O Governo apresenta à Assembleia da
Processo orçamental República a proposta de lei das Grandes Opções, até ao
dia 15 de abril.
CAPÍTULO I 2 — A proposta de lei a que se refere no número
anterior é acompanhada de nota explicativa que a
Primeira fase do processo orçamental fundamente, devendo conter a justificação das opções de
política económica assumidas e a sua compatibilização
Artigo 32.º com os objetivos de política orçamental.
Início do processo orçamental 3 — A Assembleia da República aprova a Lei das
Grandes Opções no prazo de 30 dias a contar da data da
O processo orçamental inicia- se com a apresentação, sua apresentação.
pelo Governo, na Assembleia da República, dos 4 — A Lei das Grandes Opções é estruturada em
seguintes documentos: duas partes:
a) Atualização anual do Programa de Estabilidade; a) Identificação e planeamento das opções de política
b) Proposta de lei das Grandes Opções em Matéria económica;
de Planeamento e da Programação Orçamental b) Programação orçamental plurianual, para os subse-
Plurianual, doravante designada por Lei das Grandes
Opções. tores da administração central e segurança social.
Artigo 33.º 5 — A programação orçamental plurianual concretiza-
Programa de Estabilidade se através do quadro plurianual das despesas públicas.
1 — Discriminação: n compensação art15: todas Artigo 35.º
as despesas incritas pela sua importância integral, s
qualquer dedução.Há exeções como no caso de Quadro plurianual das despesas públicas
operações relativas a ativos financeiros, as operações de 1 — O quadro plurianual das despesas públicas dos
gestão da divida publica direta do estado, que são subsetores da administração central e da segurança
inscritas nos respetivos programas orçamentais. social, a que se refere o n.º 5 do artigo anterior, define,
2 — n consignação: art16 exeções: as receitas das para o respetivo período de programação:
reprivatizações; as relativas aos recursos próprios
comunitários tradicionais; os réditos do orçamento da a) O limite da despesa total, compatível com os
segurança social afetos ao financiamento dos diferentes objeti-
subsistemas; o que corresponda a transferências vos constantes do Programa de Estabilidade;
provenientes da União Europeia, de organizações b) Os limites de despesa para cada missão de base or-
internacionais ou de orçamentos de outras instituições do gânica;
sector público administrativo que se destinem a c) As projeções de receitas, por fonte de
financiar, total ou parcialmente, determinadas despesas; financiamento.
as receitas que correspondam a subsídios, donativos ou
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2 — Anualmente, o Governo apresenta o quadro CAPÍTULO II


plurianual, que inclui o ano em curso e os quatro anos
seguintes, bem como mapas respeitantes ao valor Segunda fase do processo orçamental
acumulado dos compromissos contratados.
3 — Os limites de despesa a que se referem as Artigo 36.º
alíneas a) e b) do n.º 1 são vinculativos para o orçamento Elaboração e apresentação da proposta de
do ano económico seguinte e indicativos para o período lei do Orçamento do Estado
de programação que coincida com o resto da legislatura. 1 — O Governo elabora e apresenta à Assembleia
4 — O limite de despesa definido para a missão da República, até 1 de outubro de cada ano, a proposta
de base orgânica respeitante ao subsetor da segurança de lei do Orçamento do Estado para o ano económico
social apenas pode ser excedido quando resulte do seguinte, acompanhada de todos os elementos referidos
pagamento de prestações que constituam direitos dos no presente capítulo.
beneficiários do sistema de segurança social e que se 2 — O Governo envia ainda à Comissão Europeia
encontrem diretamente afetas pela posição cíclica da para efeitos de emissão das recomendações nacionais
economia. específicas a proposta de lei do Orçamento do Estado,
5 —economia e eficiência: art.18/2; transparência dentro do prazo mencionado no número anterior, salvo
orçamental: implica a disponibilização de info sobre a nas situações previstas no capítulo seguinte.
execução de programas, objetivos de politica
orçamental, bem como de orçamentos e contas dos 3 – Limite da divida publica: se a relação entre
setores das ad publicas.a info deve ser fiável, completa, esta e o pib exceder 60% previsto no Tratado da EU, o
tualizada, compreensível e comparável ogv esta sujeito a reduzir o respetivo montate na parte de
internacionalmente, para permitir o conhecimento excesso a uma taxa de um vigésimo, por ano. Os
preciso da situação das finanças públicas, incluindo excedentes da execução orçamental são usados na
consequencias€ e sociais presentes e futuras. O gov deve amortização da divida publica, enquando há
assegurar publicidade de todos os documentos que se incumprimento do limite da divida publica e na
revelem necessários para assegurar a adequada constituição de uma reserva de estabilização, p
divulgação e transparência do OE e execução. desempenhar uma função anticiclica em contextos de
6 — Publicidade geral das leis: diário da recessao€, quando se verificar o cumprimento do limite
republica, depois diário da AR, com todo o processo de referenciado.
aprovação orçamental.
7 – Equilibrio orçamental: 105/4 crp e 20 leo, Artigo 37.º
estabelece a regra do saldo orçamental estrutural e Elementos que acompanham a proposta de
estipula q o objetivo orçamental de medio prazo é o lei do Orçamento do Estado
definido no âmbito e de acordo com o pacto de
1 — A proposta de lei do Orçamento do Estado
estabilidade e crescimento, constando a trajetória de
incorpora os elementos constantes do artigo 40.º e é
convergência anual para alcáçar o objetivo de medio
acompanhada pelo respetivo relatório e pelos elementos
prazo do programa de estabilidade a aprovar por cada
informativos, referidos nos números seguintes.
estado.
2 — O relatório que acompanha a proposta de lei
7 — Saldo Estrutural: saldo orçamental das ad do Orçamento do Estado contém a apresentação e a
publicas, definido segundo o Sistema europeu de contas
justificação da política orçamental proposta e inclui a
nacionais e regionais, corrigindo efeitos cíclicos e
liquido mediante extraordinárias e temporários e n pode análise dos seguintes aspetos:
ser inferior ao objetivo anualmente constante do a) Evolução, previsões e projeções das principais
programa de estabilidade, tendo objetivo de alcançar um variáveis orçamentais e macroeconómicas relevantes
limite de défice estrutural de 0,5% do pib a preço de e respetiva análise de sensibilidade, de acordo com o
mercado. artigo 8.º;
8 — O calculo deste é feito segundo regulamentos b) Linhas gerais da política orçamental e a sua
comunitários. Sp que a relação entre a divida publica e o adequação às obrigações decorrentes do Pacto de
pib for significativamente inferior a 60% e os riscos para Estabilidade e Crescimento e do Tratado sobre a
a sustentabilidade a longo prazo das finanças publicas Estabilidade, Coordenação e Governação da União
forem reduzidos, o limite para o objetivo de medio prazo Económica e Monetária;
pode atingir um défice estrutural de 1% de pib. c) Evolução da situação financeira global do setor
9 - Enquanto objetivo de medio prazo n for atingido, o das administrações públicas e de cada subsetor e dos
ajustamento estrutural n pode ser inferior a 0,5% de pib, setores empresariais públicos, incluindo informação
e a taxa de crescimento da despesa publica, liquida de sobre o respetivo endividamento global;
medidas extraordinárias, temporárias ou discricionárias d) Sustentabilidade da dívida pública, incluindo a
do lado da receita, n pode ser superior à taxa de análise da sua dinâmica de evolução;
referencia de medio prazo de crescimento do pib e) Informação sobre a previsão da receita fiscal,
potencial. O agregado deve excluir despesas com juros, permitindo verificar o montante da receita bruta,
devendo haver um saldo primário positivo, as despesas reembolsos e transferência para outros subsetores;
relativas a programas comunitários e alterações n f) Situação das operações de tesouraria e das
discrionarias nas despesas com subsídios de contas
desemprego.
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do Tesouro; k) Montantes das verbas sujeitas a cativação em cada


g) Composição da despesa anual de cada um dos programa orçamental, por classificação orgânica e
programas orçamentais, por missão de base orgânica; funcional, discriminada por serviços integrados e
h) Medidas de racionalização da gestão serviços e fundos autónomos.
orçamental; Artigo 38.º
i) Medidas de política orçamental de natureza Discussão e votação
temporária e permanente;
j) Análise de riscos orçamentais; 1 — Beveridge defende ideia de défice
k) Memória descritiva das razões que justificam o sistemático, para combate ao desemprego e a prevenção
recurso a parcerias dos setores público e privado; de novas situações depressivas cm a ocorrida nos anos
30 exigia um papel ativo do Estado, através das políticas
l) Informação global e individualizada sobre financeiras públicas;reconstrução das economias
despesas anuais e plurianuais com parcerias público - destruídas pela guerra exigia uma forte iniciativa pública
privadas e sobre a situação de endividamento global (pela complementaridade entre a ação internacional do
respetiva; Plano Marshall (1947) e a utilização de estabilizadores
m) Informação sobre os encargos assumidos e em económicos discricionários); estabilização da conjuntura
execução e sobre a totalidade das responsabilidades económica obrigaria à existência de Orçamentos
contingentes do Estado; cíclicos, defendidos por Schumpeter, François Perroux,
n) Evolução dos pagamentos em atraso em cada segundo os quais deveria haver défices nas fases
missão de base orgânica; depressivas e superávides nas fases expansivas.
o) Demonstração do desempenho orçamental 2 - Enquanto o pensamento clássico se baseava
consolidada, preparada de acordo com o Sistema numa conceção centrada na oferta e na aceitação da lei
Europeu de Contas Nacionais e Regionais, onde se de Jean-Baptiste Say, segundo a qual a produção geraria
evidenciam os diferentes subsetores do setor das o seu próprio mercado, o pensamento moderno chama a
administrações públicas, e se demonstra o cálculo das atenção para a procura efetiva, conceito introduzido por
necessidades ou da capacidade líquida de Keynes. De facto, o grande economista britânico o que
financiamento; veio dizer foi que quando há pleno emprego não deve
p) Outras matérias consideradas relevantes para a haver despesa pública e que é nas situações de
justificação da decisão orçamental. subemprego que faz sentido a ação compensadora do
3 — O relatório a que se refere o número anterior é Estado. Defende uma ação limitada, rigorosa e precisa.
ainda acompanhado, pelo menos, dos seguintes 3 - A procura efetiva designa a procura apoiada
elementos informativos: num poder de compra efetivo. Assim o nível da procura
efetiva resulta dos níveis da procura do consumo e dos
a) Desenvolvimentos orçamentais que investimentos. E assim o nível da procura efetiva
individualizem cada um dos programas, desagregados determina o nível da produção, e este, por sua vez,
por serviços e entidades, evidenciando os respetivos influencia o nível de emprego. Daí a necessidade de
custos e fontes de financiamento; distinguir as procuras do consumo e dos investimentos.
b) Estimativa para o ano em curso e previsão da E é exclusivamente neste contexto que J.M. Keynes
execução orçamental consolidada do setor das advoga a intervenção pública, para melhorar o nível de
administrações públicas e por subsetor, na ótica da produção e o nível de emprego. O défice justifica-se,
contabilidade pública e da contabilidade nacional; pois, para relançar a produção e o emprego.
c) Memória descritiva das razões que justificam as 4 — A votação da proposta de lei do Orçamento
diferenças entre valores apurados, na ótica da do Estado realiza- se no prazo de 45 dias após a data da
contabilidade pública e da contabilidade nacional; sua admissão pela Assembleia da República.
d) Os quadros que integram o Projeto de Plano 5 — Critério do classico simples: as despesas
Orçamental, a remeter à Comissão Europeia; devem ser financiadas por receitas normais, as tributárias
e) Situação financeira e patrimonial das entidades e as patrimoniais. Haverá sempre défice quando se
que compõem o subsetor da administração central e o recorra a um empréstimo. ex:contraí 2 empréstimos no
subsetor da segurança social; valor de 100 unidades monetárias, o défice será sempre
f) Transferências financeiras entre Portugal e o de 200, ainda que eu tenha orientado essa dívida para
exterior com incidência no Orçamento do Estado; amortizar outra dívida (100 + 100 = 200)
g) Transferências orçamentais para as regiões 6 — Ativo de tesouraria: receitas efetivas as
autónomas; operações que alteram o património de tesouraria
h) Transferências orçamentais para as autarquias (despesas: pagamento de funcionários, juros, despesas de
locais e entidades intermunicipais; investimento; receitas: impostos, receitas patrimoniais).
i) Transferências orçamentais para entidades não não efetivas: não afetam, não aumentam nem diminuem,
inte- o património de tesouraria (despesas: amortização de
empréstimos; receitas: contração de dívida pública). Há
gradas no setor da administração central; défice sempre que para pagar uma despesa efetiva
j) Benefícios tributários, estimativas de receitas tivermos de recorrer a uma receita não efetiva. Ex: se
cessantes, sua justificação económica e social e, contrairmos 2 empréstimos no valor de 100 unidades
bem assim, a identificação de medidas destinadas à monetárias, o défice será de apenas 100, se orientarmos
cobertura da receita cessante que resulte da criação o 2º empréstimo para amortizar a 1º dívida (100 + 100 =
ou alargamento de quaisquer benefícios fiscais; 200; 200 – 100 = 100). O critério do ativo de tesouraria
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tem duas vertentes: a do saldo total, na qual as receitas aprova o OE por lei formal, em nome de uma
efetivas devem ser superiores às receitas não efetivas; e legitimidade originária, que concede ao poder legislativo
a do saldo primário, que se reporta apenas às a primazia sobre o poder executivo. E é essa primazia
necessidades líquidas de financiamento, excluindo os que constitui pedra angular do Estado democrático e do
encargos correntes da dívida pública (juros). sistema de legitimidade representativa. Plano€: há uma
7 Ativo do Estado: correntes as operações que não previsão de objetivos e metas com carácter imperativo
alteram o ativo patrimonial duradouro do Estado para os órgãos e agentes do Estado, que estão obrigados
(despesas: pagamento de funcionários, juros; receitas: a cobrar as receitas tipificadas e previstas, ainda que o
impostos, rendimento patrimoniais). de capital as valor possa ser superado, e a realizar as despesas até ao
operações que afetam o património duradouro do Estado limite autorizado de modo especificado. A estabilização
(despesas: investimentos reprodutivos; amortização de da conjuntura € e a regulação social que ela comporta
empréstimos; receitas: contração de dívida pública, traduz-se na necessidade de articulação entre a decisão
venda de património). Há défice sempre que para pagar política e a eficiência material. O caráter imperativo
uma despesa corrente tivermos de recorrer a uma receita referido tem a ver c a subsidiariedade da ação pública
de capital. Ex: se contraí 2 empréstimos no valor de 100 relativamente aos mecanismos espontâneos de regulação
unidades monetárias, não haverá défice se essas 200 económica (os mercados). A imperatividade visa limitar
unidades forem destinadas a despesas de capital a atuação do Estado e salvaguardar a defesa dos
(amortização de empréstimos ou realização de interesses dos contribuintes e da sociedade em que se
investimentos). Mas se pagar com 50 unidades despesas integram. d) No plano jurídico, a lei do
correntes, então essa será a medida do défice. OE tem a natureza de uma lei-plano. não estamos
8 — Orçamento ordinário:vigor em pt ate 60 do perante leis-medida, com carácter concreto e aplicáveis a
secXX, distinguem-se despesas e receitas ordinárias e uma determinada situação, uma vez que as leis do OE
extraordinárias.ordinárias aquelas cuja utilidade se visam regular para o futuro, com uma certa estabilidade,
esgota num exercício orçamental ou as que se repetem a estrutura e a conjuntura económicas. Há, assim, nestas
de uma forma regular ao longo dos anos (despesas: leis-plano um carácter de generalidade, ainda que com
pagamento de funcionários, juros; receitas: impostos, vigência limitada no tempo. Não se tratando de uma lei
rendimento patrimoniais). extraordinárias aquelas material geral e abstrata, o certo é que tem algumas
operações cuja utilidade se prolonga para além de um características da lei, uma vez que regem ou influencia,
exercício orçamental ou as que não se repetem de forma geral, direitos, obrigações e outras situações
regularmente ao longo dos anos (despesas: amortização jurídicas, instituindo mecanismos de imperatividade,
de empréstimos; receitas: contração de dívida pública, obrigatoriedade contratual, de estímulo ou de
venda de património). Existe uma grande subjetividade e desincentivo. O destinatário da autorização e do
flexibilidade na consideração destas operações, o que consentimento não é, assim, apenas o Governo, já que os
permite a sua manipulação. Há défice sempre que para cidadãos em geral e os contribuintes em particular vão
pagar uma despesa ordinária tivermos de recorrer a uma ver a sua situação influenciada pela ação inerente à vida
receita de extraordinária. orçamental do Estado. Uma lei-plano visa, assim,
9 — Quaisquer matérias compreendidas na fase condicionar o quadro jurídico e económico com carácter
de votação na especialidade da proposta de lei do de generalidade. Estamos perante uma lei formal com
Orçamento do Estado podem ser objeto de avocação algumas características que a aproximam da lei material
pelo Plenário da Assembleia da República, nos termos (mesmo que não refiramos as normas definidoras de
previstos no respetivo Regimento. regimes jurídicos concretos incluídas nas leis do OE e
que beneficiam de “boleia orçamental” ou dos
CAPÍTULO III “cavaleiros orçamentais” e que são verdadeiras leis
materiais).
Processo orçamental em situações especiais e) A lei-plano é, assim, no caso do OE, uma lei material
especial consequências na esfera do Estado, uma vez que
Artigo 39.º o gov detém poderes de execução orçamental, e também
Prazo de apresentação e votação da proposta de dos particulares. As leis do OE visam regular para o
lei do Orçamento em situações especiais
futuro, com uma certa estabilidade, a estrutura e a
1 — O prazo referido no artigo 36.º não se aplica nos conjuntura económicas, através da definição do quadro
casos em que: financeiro público. TÍTULO IV
a) A tomada de posse do novo Governo ocorra Sistematização da lei do Orçamento
entre 15 de julho e 30 de setembro;
b) O Governo em funções se encontra demitido em
do Estado e estrutura do
1de outubro; Orçamento do Estado
c) O termo da legislatura ocorra entre 1 de outubro
e 31 de dezembro CAPÍTULO I

d) Plano político, quando se aprova OE, há um Sistematização da lei do Orçamento do Estado e


consentimento, que se traduz numa série de autorizações conteúdo do articulado
concretas. Estamos perante uma consequência da
necessária articulação entre representação política e Artigo 40.º
gestão administrativa. AR é a autoridade orçamental que
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Sistematização da lei do Orçamento do m) O montante global máximo de autorização


Estado A lei do Orçamento do Estado integra: financeira ao Governo para satisfação de encargos com
as prestações a liquidar referentes a contratos de
a) Um articulado; investimento público no âmbito da Lei de Programação
b) Os mapas contabilísticos; Militar, sob a forma de locação;
c) Demonstrações orçamentais e financeiras. n) As demais medidas que se revelem
indispensáveis à correta gestão financeira dos serviços e
entidades dos subsetores da administração central e da
Artigo 41.º segurança social no ano económico a que respeita a lei
Conteúdo do articulado do Orçamento do Estado.
1 — O articulado da lei do Orçamento do Estado 2 — As disposições constantes do articulado da lei do
contém, nomeadamente: Orçamento do Estado limitam -se ao estritamente
a) As normas necessárias para orientar a execução necessário para a execução da política orçamental e
orçamental, incluindo as relativas ao destino a dar aos financeira.
fundos resultantes excedentes dos orçamentos das
entidades do subsetor da administração central e as Artigo 42.º
respeitantes a eventuais reservas; Mapas contabilísticos
b) A aprovação dos mapas contabilísticos;
c) A determinação do montante máximo do A lei do Orçamento do Estado contém os seguintes
acréscimo de endividamento líquido e as demais mapas contabilísticos:
condições gerais a que se deve subordinar a emissão de a) A vigência da Lei do OE pode ser prorrogada
dívida pública fundada pelo Estado e pelos serviços e quando haja rejeição da proposta de Lei do OE pela AR,
entidades do subsetor da administração central; quando a tomada de posse do novo gov tenha ocorrido
d) A indicação das verbas inscritas em cada missão 1/julho e 30/set qnd tenha ocorrido a caducidade da
de base orgânica a título de reserva e as respetivas regras proposta da proposta de Lei do OE em virtude da
de gestão; demissão do gov proponente ou de o gov anterior não ter
e) A determinação dos montantes suplementares ao apresentado qualquer proposta, ou ainda no caso de não
acréscimo de endividamento líquido autorizado, nos votação parlamentar da proposta de lei das despesas do
casos em que se preveja o recurso ao crédito para subsetor da administração central;
financiar as despesas com as operações a que se refere a b) A prorrogação da vigência da lei do OE abrange
alínea c) ou os programas de ação conjuntural; o respetivo articulado e correspondentes mapas
f) A determinação das condições gerais a que se orçamentais, bem como os sus desenvolvimentos e os
devem decretos-leis de execução orçamental 58/2. Art41/8 veio
subordinar as operações de gestão da dívida pública prever-se a faculdade de o gov aprovar por decretolei os
legalmente previstas; dispositivos de execução orçamental apenas se e quando
g) A determinação do limite máximo das garantias venham a justificar-se.
pessoais a conceder pelo Estado e pelos serviços e c) A prorrogação n abrange: as autorizações
entidades do subsetor da administração central, durante o legislativas contidas no articulado que devam caducar no
ano económico; final do ano€; as autorizações para a cobrança de
h) A determinação do limite máximo dos receitas, cujos regimes se destinam a vigorar até ao final
empréstimos a conceder e de outras operações de crédito do ano a que a lei respeita; e as autorizações de despesa
ativas, cujo prazo de reembolso exceda o final do ano respeitante a serviços, programas e medidas plurianuais
económico, a realizar pelo Estado e pelos serviços e que devam extinguir-se até ao final do ano económico
entidades do subsetor da administração central; em causa.
i) A determinação do limite máximo das d) Durante o período transitório em que se
antecipações mantiver a prorrogação da vigência da lei do orç
a efetuar, nos termos da legislação aplicável; respeitante ao ano anterior, a execução do orç das
j) A determinação do limite máximo de eventuais despesas obedece ao princípio da utilização por
com- duodécimos 1/12 a cada mês do ano) das verbas fixadas
nos mapas orçamentais que as especificam, de acordo
promissos a assumir com contratos de prestação de com a classificação orgânica, sem prejuízo das que não
serviços em regime de financiamento privado ou outra obedecem ao regime duodecimal.
forma de parceria dos setores público e privado; e) O gov e os fundos e serviços autónomos
k) A determinação dos limites máximos do poderão, no período transitório em que vigorar a
endivida- prorrogação, emitir dívida pública fundada (de prazo
mento das regiões autónomas, nos termos previstos na superior a um ano), nos termos da lei; conceder
respetiva lei de financiamento; empréstimos e realizar operações ativas de crédito até ao
l) A eventual atualização dos valores abaixo dos limite de um duodécimo do montante máximo
quais autorizado pela lei do orç em cada mês em que vigore
os atos, contratos e outros instrumentos geradores de transitoriamente; e a conceder garantias pessoais, nos
despesa ou representativos de responsabilidades termos da respetiva legislação art58
financeiras diretas ou indiretas ficam isentos de f) Lei do orçamento feita de acordo com a leo,
fiscalização prévia pelo Tribunal de Contas; aprovada,etc anualmente. Inicia-se com a apresentação
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pelo gov ate 15 de abril dos docs: atualização anual do orçamental. As tarefas de despesas de investimento
programa de estabilidade e proposta de lei das grandes cabem ao ministério do planeamento e infraestruturas,
opções em materia de planeamento e programação como agencia de desenv e coesão.e as tarefas ao orç de
orçamental plurianual. segsocial ao instituito de gestão dos financeira da
g) AR procede à apreciação no prazo de 10 dias a segsocial
contar da apresentação. GOv envia à comissão europeia a) A evolução e o aperfeiçoamento das técnicas de
a atualização do programa de estabil te final de abril. planeamento e de gestão têm determinado a utilização de
h) AR aprova lei das grades opções ate 30 dias, vários processos de racionalização orçamental,
senco estruturada com identificação e planeamento das b) Orç funcionais. agrupar as despesas segundo as
opções da politica€, programação plurianual para os funções materiais do Estado. é possível deste modo
subsetores da ad central e segsocial. definir prioridades e reforçar a despesa em certos
i) Gov elabora e apresenta ao parlamento ate 1/10 domínios em detrimento de outros.ex: nas despesas
de cada ano, a proposta da lei do OE para o ano€ sociais poderemos, de acordo com a situação da
seguinte. Ar39 economia e o nível de desenvolvimento privilegiar a
j) Votação da proposta de leo no prazo de 45 dias Educação e a Formação ou a Saúde, Mas numa
apos data de admissão da AR. Exceço arts.168/4. A economia de guerra ter-se-á que valorizar as despesas de
votação na especialidade da proposta decorre na Defesa Nacional. E assim também é possível avaliar
comissão parlamentar e tem por objeto o articulado, os melhor os resultados obtidos, através de uma análise
mapas contabilísticos e demonstrações orçamentais e integrada
financeiras. c) ) Orç de programas e de atividades, para quebrar
k) Alterações da proposta do Oe: orçamento os compartimentos estanques dos Ministérios ou das
retificativo quando n haja aumento global de despesas funções do Estado poderemos elaborar o Orç segundo
nem crescimento do defic orçamental. Orçamento uma lógica de Programas (de desenvolvimento de uma
suplementar quando haja aumento global etc. região ou de uma atividade). A crp prevê este método,
Artigo 43.º com um fim de maior eficácia e racionalização. Os
Demonstrações orçamentais e financeiras Programas integram medidas, projetos ou ações e
permitem um melhor planeamento económico.
As demonstrações orçamentais e financeiras a que se d) Sistemas de gestão por objetivos (MBO):
refere a alínea c) do artigo 40.º são as seguintes: aplicação dos métodos das empresas privadas ao Estado
a) Demonstração consolidada do desempenho foi concretizada na Administração dos E.U.A., A gestão
orçamental, preparada segundo a contabilidade por objetivos (MBO, management by objectives), posta
orçamental para os subsetores da administração em prática durante a Administração de Richard Nixon,
central e da segurança social, onde se demonstre o baseia-se na definição dos fins da atividade nos
cálculo dos saldos orçamentais; diferentes níveis, sendo as decisões coordenadas
b) Demonstração consolidada do desempenho globalmente em função da sua compatibilidade, eficácia
orçamental de cada missão de base orgânica, e dos recursos existentes, num horizonte de curto (1 ano)
preparada segundo a contabilidade orçamental, onde ou de médio prazo (5 anos), dando origem à definição de
se demonstre o cálculo dos saldos orçamentais; estratégias e à avaliação de resultados. Este método pode
c) Demonstração do desempenho orçamental, articular-se com o anterior (programação por objetivos).
preparada segundo a contabilidade orçamental, para o e) Orç de base zero. Para evitar os efeitos
subsetor da segurança social; perversos da inércia administrativa e burocrática, exige
d) Estimativas para o ano em curso para as que os poderes Legislativo e Executivo e a
demonstrações indicadas nas alíneas anteriores; Administração procedam a uma reavaliação periódica
e) Plano de recursos humanos e respetivo das necessidades a cargo do Estado de 5 em 5 anos, para
orçamento; que se privilegiem as prioridades da política económica
em detrimento dos desperdícios.
f) Demonstração da evolução da dívida direta do
Estado por instrumento; f) Orç de tarefas. sistema rudimentar, assente na
justificação proveniente dos serviços em relação às
g) Dotações para pagamentos de cada programa
atividades que lhes cabem e que favorece a inércia
orçamental, desdobradas pelas respetivas ações;
burocrática.
h) Demonstrações financeiras consolidadas para os
subsetores da administração central e da segurança g) Orç de resultados/ “performance budget”
pretende complementar a execução e a avaliação. Ao
social, contendo uma estimativa para a execução do
avaliar os resultados, pretende reorientar a previsão para
ano em curso.
as zonas de maior eficácia.
Artigo 44.º h) PPBS. A Administração de John Kennedy, sob
Vinculações externas e despesas obrigatórias influencia de Mcnamora concebeu a previsão e a gestão
1 — A inscrição das despesas e das receitas nos orçamentais articulando diversos níveis de decisão
mapas contabilísticos tem em consideração: estratégica. Estamos perante o “Planning, programming
and Budgeting System”. O sistema comporta três fases:
Os trabalhos preparatórios tendem à elaboração do OE a do planeamento, que consiste na definição de objetivos
relizados no nucelo da ad financeira do estado pelo da ação governamental no horizonte de 20 anos; a da
direção geral do orç, ministério das finanças, entidade q programação, que comporta a análise dos programas e a
centraliza e coordena as ações de preparação e execução definição dos instrumentos que visam prosseguir os
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objetivos a 5 anos; e a orçamentação, que corresponde à 7 — No início da legislatura, o membro do


quota-parte anual dos programas. Este método revelou- Governo responsável por cada política pública sectorial
se positivo nos resultados, sobretudo se nos ativermos ao definida na missão de base orgânica propõe, no
planeamento e programação da chegada do primeiro cumprimento do programa do Governo e no respeito
homem à lua, que envolveu uma ação conjunta, desde a pelo disposto no artigo seguinte, a criação de programas,
política educativa e de investigação às a sua denominação, o período de programação, os custos
telecomunicações, passando pela mobilização da totais, as fontes de financiamento e as metas a alcançar.
administração. Em França, no final dos anos setenta o 8 — Os programas são aprovados em reunião do
sistema foi traduzido no método «RCB – Rationalisation Conselho de Ministros.
des Choix Budgetaires» e no Reino Unido no «PESCS – 9 — O membro do Governo responsável por cada
Public Expenditure Survey Committee System», que missão de base orgânica determina a entidade gestora do
vieram a ser abandonados em virtude da complexidade, conjunto dos respetivos programas.
apesar das suas virtualidades. 10 — No caso da missão de base orgânica
a) estes diferentes sistemas são para a necessidade de associada aos órgãos de soberania, a definição e gestão
aperfeiçoar os métodos de racionalização dos respetivos programas cabe à entidade indicada pelo
orçamental, o que não pode deixar de ser órgão de soberania.
complementado com auditorias internas e externas 11 — Dentro do Ministério das Finanças, é
que permitam conhecer, nas óticas custo / obrigatória a constituição de um programa destinado a
benefício, custo / eficiência e de valor criado (value fazer face a despesas imprevisíveis e inadiáveis, bem
for money) qual o resultado efetivo para a como de um programa não vinculativo destinado a gerir
comunidade de uma determinada despesa. O e controlar a despesa fiscal resultante da concessão de
método dos orçamentos por programa tem tido uma benefícios tributários.
importância crescente, até entre nós 105/3 em 12 — O disposto no presente artigo é
especial no tocante às despesas de investimento, regulamentado por decreto- lei.
em virtude da sua reprodutividade. A redução da Artigo 46.º
despesa corrente constitui um objetivo também
Programas com finalidades comuns
presente, de combate ao desperdício e de redução
da ineficiência burocrática. As despesas que 1 — art53: gov estabelece as normas de execução
resultem de lei ou de contrato; do Oe, incluindo as relativas ao orçamento dos serviços
e entidades do subsetor da adcentral e segsocial.
Incluindo tipicidade qualitativa.
CAPÍTULO II 2 — receitas públicas é indispensável que, para
Estrutura do Orçamento do Estado serem cobradas, haja uma correta inscrição orçamental,
segundo a tipicidade qualitativa, que obriga ainda a uma
classificação adequada. Liquidação significa a
SECÇÃO I determinação do respetivo valor (aplicação da taxa sobre
Programas orçamentais a matéria coletável, que permite conhecer a coleta). A
tipicidade qualitativa permite que a liquidação e a
Artigo 45.º cobrança possam realizar-se para além dos valores
Caraterização dos programas orçamentais
previstos da respetiva inscrição
3 Despesas públicas, as dotações constantes da
1 — Os programas orçamentais incluem as autorização orçamental constituem o limite máximo para
receitas e as despesas inscritas nos orçamentos dos a realização. tipicidade quantitativa. Assim, nenhuma
serviços e das entidades dos subsetores da administração despesa pode ser autorizada ou paga, sem o respeito pela
central e da segurança social. legalidade (“o facto gerador da despesa” deve respeitar
2 — O nível mais agregado da especificação por “as normas legais aplicáveis”), pelo cabimento
programas corresponde à missão de base orgânica. orçamental (deve dispor de inscrição orçamental, ter
3 — Para o efeito da apresentação e especificação cabimento na correspondente dotação, ser
dos programas orçamentais, a desagregação da missão adequadamente classificada e obedecer ao princípio da
de base orgânica faz -se por programas e ações. execução do orçamento por duodécimos) e pelo respeito
4 — A missão de base orgânica inclui o conjunto do princípio da economia, eficiência e eficácia.
de despesas e respetivas fontes de financiamento que 4 — Nenhuma despesa pode ser pagassem que o
concorrem para a realização das diferentes políticas compromisso e a respetiva programação de pagamentos
públicas sectoriais, de acordo com a lei orgânica do previstos sejam assegurados pelo Orç de tesouraria da
Governo. entidade. As operações de execução do orç das receitas e
5 — Os programas orçamentais correspondem ao despesas obedecem ao p.da segregação de funções:
conjunto de ações, de duração variável, a executar pelas liquidação e cobrança, quanto às receitas e autorização
entidades previstas no n.º 1, tendo em vista a realização da despesa e pagamento delas. Visa obter maior
de objetivos finais, associados à implementação das segurança e racionalidade.
políticas públicas e permitem a aferição do custo total 5 — A escolha da entidade gestora dos programas
dos mesmos. com finalidades comuns é efetuada no âmbito de cada
6 — As ações correspondem a unidades básicas missão de base orgânica, nos termos do n.º 9 do artigo
de realização de um programa orçamental, podendo anterior.
traduzir- se em atividades e projetos.
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Artigo 47.º valores previstos no respetivo orçamento; saldos de


Dotações dos programas orçamentais gerência ou de dotações de anos anteriores, com
utilização permitida por lei; reforço de receitas de
1 — Durante o ano orçamental a leo apenas transferências provenientes de orçamentos de outros
poderá ser alterada pela AR de acordo com a primazia da fundos e serviços autónomos ou do orçamento da
competência desta e do regime monista parlamentar segurança social e dotação provisional. Ainda cabe ao
definido constitucionalmente. Podem ser feitas Governo as transferências de verbas no orçamento de
alterações pelo gov desde que não haja alterações aos cada serviço ou fundo autónomo, desde que não
mapas orçamentais de base ou se estivermos perante consistam em alterações de natureza funcional. No orç
alterações referentes a transições de saldos ou em casos de segsocial cabe ao Governo proceder a alterações
expressamente permitidos pela LEO. Art59 orçamentais que consistam no aumento total das
2 — Compete à AR: revisões orçamentais q despesas, tendo como contrapartida: o aumento das
envolvam aumento da despesa total do subsetor da receitas efetivas que lhe estejam consignadas; os saldos
adcentral, aumento da despesa total de cada missão de de gerência ou de dotações de anos anteriores cuja
base orgânica, alteração dos programas orçamentais q utilização seja permitida por lei e as transferências de
acarretem aumento dos compromissos do estado, outros subsecores da adp.
transferências de verbas entre programas
correspondentes a diferentes misoes de base orgânica c/ a) Tesouro Público: estamos perante a execução do
exceção das efetuadas por recurso ao programa orç pela utilização de meios monetários. No entanto,
correspondente à antiga dotação prov art45/1, acréscimo além da mera execução orçamental, há ainda as
dos limites do endividamento liquido fixados na lei do operações que visam antecipar receitas através do
OE, aumento das despesas, etc. lançamento de empréstimos a curto prazo (dívida
3 — Gov pode reduzir ou anular as dotações que flutuante), a colocação de disponibilidades monetárias
careçam de justificação, se estiverem salvaguardas as do Estado e a realização de operações em moeda
obrigações do Estado decorrentes de lei ou de contrato. estrangeira. O Tesouro pode também funcionar como
Competem ao gov as alterações orçamentais nos instrumento de regulação da conjuntura económica no
programas se o aumento do montante total das despesas domínio monetário. A unidade de tesouraria constitui um
tenha contrapartida em aumento de receitas efetivas fator essencial de racionalidade orçamental. A
consignadas, em saldos de gerência ou dotações de anos anualidade, o consentimento parlamentar e a unidade de
anteriores cuja utilização seja permitida por lei ou na tesouraria constituem as pedras de toque do sistema
dotação provisional. No caso das transferências de financeiro liberal e democrático. Em PT, as
verbas entre diferentes programas, o gov tem competências do Tesouro cabem na esfera de ação do
competência apenas se no mesmo título ou capítulo se Ministério das Finanças. Até 1976, existiu a Direcção-
mantiver a respetiva classificação funcional, se for entre Geral da Fazenda Publica, q resultara em 1911 da fusão
diversas medidas, projetos ou atividades do mesmo das Direcções-Gerais da Tesouraria e dos Próprios
programa, ou se se tratar de transferências de Nacionais. Depois de 1976 e até 2007 existiu a
competências de uma entidade gestora para outras Direcção-Geral do Tesouro, que passou recentemente a
entidades ou da sucessão destas nas competências da integrar a Direcção-Geral do Tesouro e Finanças
primeira, bem como provenientes de medidas, projetos b) A nova DGTF tem por função assegurar a
ou atividades existentes para novas medidas, projetos ou gestão da rede de cobranças e de serviços associados à
atividades a criar no decurso da execução do OE tesouraria do Estado e aos serviços de administração
direta e indireta e a efetivação das operações de
Artigo 48.º intervenção financeira.
Entidade gestora dos programas orçamentais 2 DGTF: promove unidade de tesouraria, assegura
a centralização e controlo dos movimentos de fundos do
1 — serviços integrados o Gov pode alterar o OE tesouro, assim como a respetiva contabilização, gerindo
desde que o aumento dos montantes totais da despesa e controlando o sistema de cobranças do Estado e o
tenha como contrapartida: aumento das receitas sistema de contas correntes do Tesouro, prestando ainda
consignadas; saldos de dotações de anos anteriores, com serviços bancários (no âmbito do chamado Banco do
utilização permitida por lei; reforço de receitas de Tesouro) a organismos da administração direta e indireta
transferências provenientes de orçamentos de fundos e do Estado e a outras entidades públicas. Por fim,
serviços autónomos ou do orçamento da segurança social assegura o controlo da emissão e circulação da moeda
e dotação provisional. Ainda cabe ao Gov as metálica, além de administrar os ativos financeiros do
transferências: entre títulos e capítulos, no caso em que Estado.
haja modificações de leis orgânicas do gov ou dos
ministérios ou da transferência ou sucessão de
competências entre diferentes serviços; entre diferentes 3 - regime da Tesouraria do Estado consta do D.L.
títulos ou capítulos e de natureza funcional, nos casos em nº 191/99, de 5 de Junho, onde se refere
que haja contrapartida na dotação provisional; e entre emblematicamente a unidade de tesouraria do Estado e
rubricas do mapa da classificação económica das se consagram as suas consequências. Aí se prevê a
despesas. No caso dos serviços e fundos autónomos o existência do Documento Único de Cobrança (DUC) –
gov pode alterar o OE desde que o aumento dos título que exprime a obrigação pecuniária decorrente da
montantes totais da despesa tenha como contrapartida: relação entre o Estado e o devedor. Ainda se prevê que a
um acréscimo de cobrança efetiva de receitas próprias gestão de saída de fundos integra a execução do
que não provenha do recurso ao crédito, superiores aos pagamento de operações orçamentais assim como as
Diário da República, 1.ª série — N.º 151 — 7 de agosto de 2018 3922

operações específicas do Tesouro (OET). Estas OET investido de jus imperii. O domínio privado é, assim,
correspondem a movimentações de fundos destinados a constituído pelos bens que a Administração adquire em
assegurar a gestão da tesouraria ou a prestação de condições que, em princípio, são reguladas pelo direito
serviços a entidades que disponham de contas na DGTF, privado. Estes bens são alienáveis, penhoráveis,
devendo destinar-se: a assegurar a gestão de fundos a prescritíveis e expropriáveis, devendo ser
cargo do Tesouro; a antecipar a saída de fundos desamortizados, isto é, deverão ser alienados desde que
previstos no Oe com vista à satisfação oportuna de não sirvam à realização dos fins do Estado.
encargos orçamentais; bem como a antecipar fundos
previstos no Orçamento da União Europeia ou às 8 balanço do Estado é um documento síntese da
autarquias locais e regiões autónomas; além de outras situação patrimonial, avaliando, segundo grandes
situações devidamente justificadas que tenham rubricas, o seu ativo e passivo e apurando a respetiva
consagração nas leis do OE. situação líquida final, ativa ou passiva. Trata-se de um
documento elaborado no âmbito da Direcção-Geral do
4 antecipações de fundos são excecionais e Orçamento no qual se confrontam os valores globais do
dependem da existência de disponibilidades na ativo e do passivo patrimonial do Estado com referência
Tesouraria. Também em regra as OE devem ser a um momento dado
regularizadas no ano económico em que tiverem lugar,
ressalvados os casos em que seja permitida a transição SECÇÃO II
de ano económico. Importa ainda referir que o registo
das operações de tesouraria é organizado de acordo com Conteúdo dos orçamentos da Entidade
o Planos Oficiais de Contabilidade Pública, geral Contabilística Estado e demais
(POCP) e setoriais. entidades públicas

Artigo 49.º
5 Quando referimos do inventário patrimonial do
Estado estamos a falar de um registo de elementos que Orçamento da Entidade Contabilística Estado
constituem o ativo do património do Estado, ou uma 1 — No orçamento da ECE são inscritas,
parte significativa dele, determinada em função da nomeadamente:
afetação ou da natureza dos bens. Estamos perante
diversos inventários de base: de bens móveis e de a) controlo financeiro e orçamental corresponde a
material, dos automóveis do Estado e dos bens imóveis. três tipos de ação. Em primeiro lugar, há o controlo
político, que cabe aos parlamentos. Entre nós é a AR que
tem esse poder, correspondente à responsabilidade que o
6 Os monumentos nacionais, os edifícios onde Executivo tem perante os representantes dos cidadãos. O
que funciona a Administração, as estradas, as escolas controlo parlamentar corresponde à aprovação das
públicas, os hospitais públicos são integrantes desse contas públicas (Conta Geral do Estado), que deve ser
património imobiliário. Mas com a tendência para a precedida de um parecer do Tribunal de Contas, mas
desmaterialização patrimonial, temos ainda, com cada também ao acompanhamento permanente que o
vez mais importância, o património mobiliário parlamento faz da atividade financeira do Estado.
constituído por títulos de participação no capital das
sociedades comerciais (ações e quotas) ou por títulos de b) Esta responsabilidade política pode, em última
crédito (obrigações) do Estado ou das empresas. Os análise, conduzir à aprovação de um voto de
monumentos, o mar territorial, a costa marítima, as redes desconfiança. As despesas com aplicações financeiras do
de comunicações (estradas, vias hidrográficas, canais), Estado, encargos da dívida, dotações específicas,
os aeroportos e os quartéis militares estão sujeitos ao financiamento do setor empresarial do Estado,
regime especial de domínio público. O domínio público transferências para as demais entidades públicas,
é, assim, constituído pelas coisas, e direitos sobre elas, transferências que resultam de imperativos legais e
submetidas por lei ao domínio do Estado e subtraídas ao vinculações externas, incluindo aquelas que se destinam
comércio jurídico privado, devido à sua utilidade a outros subsetores das administrações públicas.
coletiva. O domínio público poderá ser natural (hídrico,
aéreo e mineiro) e artificial (circulação, comunicações, c) o controlo jurisdicional que é exercido pelo
monumentos culturais e artísticos e bens militares). Tribunal de Contas e sobre o qual falaremos a seguir. O
Trata-se de bens inalienáveis, subtraídos ao comércio Tribunal de Contas é um verdadeiro tribunal, integrado
jurídico-privado, imprescritíveis, impenhoráveis, no poder judicial, podendo julgar as contas que a lei
inexpropriáveis e não oneráveis. Apenas as pessoas determina, bem como as responsabilidades financeiras
coletivas territoriais dispõem de domínio público decorrentes de infrações financeiras, em sentido estrito.
(Estado, regiões autónomas e autarquias locais). Por fim, temos o controlo administrativo que cabe ou aos
próprios órgãos da Administração que executam o
7 Quando o Estado recebe uma herança de um Orçamento (Direcções-Gerais, institutos públicos) ou
particular ou quando entra na titularidade de um bem aos órgãos de controlo interno (Inspeções-Gerais), a
imóvel nos mesmos termos que um particular, estamos quem está confiada a tarefa de realizar ações de auditoria
no domínio privado, cujo regime é o do direito privado, ou de controlo, de carácter diferente do controlo externo
sendo o Estado ou demais entes públicos em pé de do Tribunal de Contas. Enquanto neste caso a entidade
igualdade dos sujeitos privados, isto é, sem estar fiscalizadora é independente do Governo e da
Diário da República, 1.ª série — N.º 151 — 7 de agosto de 2018 3923

Administração, no primeiro caso é uma entidade sujeita Tribunal de Contas, órgão jurisdicional que dirime e
ao poder hierárquico do Executivo. julga questões ligadas ao litigio ente o estado e os
particulares suscitados ex officio por imposição da lei ou
Responsabilidade financeira: art72 princípio da por atuação do Ministério Público, como representante
responsabilidade pelos atos de execução orçamental. dos interesses do Estado ou como defensor da legalidade,
Deste modo, quando um titular de cargo político ou arrancando de um intuito de proteger o interesse público,
um funcionário e agente do Estado ou das demais com verificação da responsabilidade de particulares, em
entidades públicas pratique um ato de execução regra conexos com o interesse público porque seus
financeira pública, violando a lei, prevê-se que fique responsáveis de autoridade, funcionários, agentes ou
sujeito a sanções ou, pelo menos, obrigado a proceder mesmo beneficiários de dinheiros públicos.
a uma reparação em consequência do ato praticado. a) Cabe em exclusivo ao Tribunal de Contas a
1- A responsabilidade pela prática de atos efetivação de responsabilidades financeiras decorrentes
financeiros é uma das consequências da produção da prática de atos ilegais ou irregulares de gestão e
de atos financeiros ilegais ou irregulares. utilização de dinheiros e valores públicos. jurisdição ou
Enquanto no tocante ao valor jurídico do ato pode o poder de julgar foi alargado a todas as entidades que
cominar-se a sua inexistência, invalidade, utilizem ou beneficiem de fundos públicos,
ineficácia ou mera irregularidade, já no que se independentemente da sua natureza, privada ou pública,
refere ao agente que o praticou há que prever as e ainda a todos os gestores de dinheiros ou valores
sanções ou outras consequências que decorram da públicos, deixando assim de haver sectores que escapem
violação da lei. ao controlo financeiro e jurisdição do Tribunal. Por
a) Responsabilidade política: acionada essencialmente outro lado, todos os juízes do Tribunal sem exceção,
pelo Parlamento, dando origem a um eventual juízo incluindo os membros da 2ª secção, ou câmara de
político de censura, que pode ir até à demissão do Auditoria (que não o tinham), foram investidos de
gov, pelo funcionamento dos mecanismos poderes jurisdicionais, podendo por isso aplicar sanções
constitucionais ou à realização de inquérito em primeira instância, o que reforçou claramente os
parlamentar 117º, nº 1, 190º e 191º da CRP poderes de responsabilização, de dissuasão e pedagógico
b) Responsabilidade criminal: há a distinguir os do Tribunal de Contas.
crimes de responsabilidade (em que incorrem os b) Orçamento da despesa, especificado por
titulares de cargos políticos, por atentarem contra o programa, por fonte de financiamento, e por
disposto na legislação da contabilidade pública, contra classificação económica e funcional;
a propriedade da Administração e a guarda e correta c) O Tribunal de Contas tem três secções ou
utilização dos dinheiros públicos) — 117º e 130º da câmaras centrais e duas secções ou câmaras regionais
CRP bem como os crimes financeiros consagrados na (Açores e Madeira). À 1ª secção cabe a fiscalização
lei penal prévia (visto) e a fiscalização concomitante (realizada
c) Responsabilidade civil — aqui está em causa a durante a vida da operação sujeita a controlo). A 2ª
reparação indemnizatória dos prejuízos causados ao secção é de Auditoria ou de fiscalização sucessiva. A 3ª
Estado e outras entidades públicas pela prática secção é a câmara de julgamento da responsabilidade
culposa de atos financeiros ilegais. financeira. O Tribunal de Contas é hoje um verdadeiro
d) Responsabilidade disciplinar — aplica-se aos tribunal, integrado no poder judicial, com estatuto
agentes administrativos ou a outros entes sujeitos a idêntico ao dos restantes tribunais superiores (Supremo
poder disciplinar, qualificando nalguns casos a lei Tribunal de Justiça, Tribunal Constitucional e Supremo
financeira determinados comportamentos como Tribunal Administrativo). O visto, já referido, é uma
passíveis de procedimento disciplinar, além dos que condição de eficácia dos atos que carecem da sua
constam nas leis gerais — designadamente no emissão – tendo a recusa carácter de caso julgado, como
Estatuto Disciplinar dos Agentes do Estado noutras decisões judiciais, o que lhe confere uma
e) Responsabilidade financeira stricto sensu — em inequívoca natureza jurisdicional. Também os juízes da
certos casos, a lei obriga à reintegração dos fundos câmara de auditoria têm hoje competências
públicos objeto de prática ilegal ou irregular por parte jurisdicionais, podendo aplicar diretamente multas.
das entidades responsáveis. Estamos perante uma Demonstrações financeiras previsionais, sendo a res-
«responsabilidade distinta das anteriores, petiva regulamentação aprovada por decreto -lei;
designadamente pelo carácter misto (punitivo e d) Plano de investimentos, por fontes de
reintegratório) e pelo facto de se referir ao valor dos financiamento,
fundos que foram colocados em risco pelo ato
praticado ou que deste foram objeto. Estamos perante sendo a respetiva regulamentação aprovada em decreto -
o julgamento de contas ou a prestação de contas, pelo lei.
que a prova sobre o modo como foram utilizados os
dinheiros públicos cabe a quem tem a seu cargo a Artigo 51.º
respetiva utilização (como no caso do fiel Orçamento da segurança social
depositário). 1 — O orçamento do subsetor da segurança social
Artigo 50.º apresenta:
Orçamento das entidades públicas
a) As receitas, especificadas por classificação
As entidades integradas no subsetor da administração económica, para o total do subsetor por sistema e
central apresentam: subsistema;
Diário da República, 1.ª série — N.º 151 — 7 de agosto de 2018 3924

b) As despesas, especificadas por classificação O que realmente se verifica é que a lei coloca a
económica, para o total do subsetor por sistema e cargo do responsável, desde que em funções, o
subsistema; ónus de provar que agiu sem culpa, o que não
c) As despesas do subsetor, especificadas por deve estranhar-se porquanto, também no
programa domínio da responsabilidade civil contratual, a
e por classificação funcional, as quais são igualmente lei estabelece uma presunção de culpa do
especificadas por sistema e subsistema e total do devedor (cf. Art.º 799º do Código Civil).
subsetor; d) As receitas cessantes do subsetor da d) Por seu lado, os casos em que o Tribunal de
segurança social; Contas pode aplicar multas, por infrações de
e) As despesas de administração por classificação natureza financeira ou seja: não liquidação,
eco- cobrança ou entrega nos cofres do Estado das
nómica e orgânica. quantias devidas; violação das normas sobre a
elaboração e execução dos orçamentos, bem
2 — O orçamento da segurança social contempla como sobre a assunção, autorização ou
ainda: pagamento de despesas públicas; falta de
efetivação ou retenção indevida dos descontos
a) A responsabilidade financeira é pessoal legalmente obrigatórios a efetuar ao pessoal;
(solidária ou subsidiária), não recaindo sobre violação de normas legais ou regulamentares
órgãos ou serviços. A obrigação de repor relativas à gestão e controlo orçamental, de
dinheiros gastos de modo ilegal ou irregular tesouraria e de património; adiantamentos por
constitui a forma mais comum de efetivação da conta de pagamentos nos casos não
responsabilidade financeira. Estão em causa expressamente previstos na lei, utilização de
empréstimos públicos em finalidade diversa da
três situações: alcance, desvio de dinheiros ou
legalmente prevista, bem como ultrapassagem
outros valores e pagamentos indevidos. Mas dos limites legais da capacidade de
pode, ainda o Tribunal de Contas condenar o endividamento e utilização indevida de fundos
responsável a repor todas as importâncias não movimentados por operações de tesouraria para
arrecadadas em prejuízo do erário público nos financiar despesas públicas.
casos de prática, autorização ou sancionamento e) Para além destas situações, o Tribunal de
doloso que impliquem a não liquidação, Contas pode ainda aplicar multas perante a falta
injustificada de remessa de contas, da sua
cobrança ou entrega de receitas em violação remessa tempestiva ou de apresentação com
das normas legais aplicáveis. deficiências tais que impossibilitem ou
b) A efetivação da responsabilidade é feita por gravemente dificultem a sua verificação; falta
sentença condenatória do Tribunal de Contas, injustificada de prestação tempestiva de
proferida em coletivo e com respeito pelo documentos que a lei obrigue a remeter, de
princípio do contraditório. O Tribunal pode informações pedidas, de remessa de documentos
relevar ou reduzir a responsabilidade financeira solicitados ou de comparência para prestação de
quando se verifique negligência, «devendo fazer declarações; falta injustificada da colaboração
constar da decisão as razões justificativas da devida ao Tribunal; inobservância dos prazos
redução ou relevação». responsabilidade recai legais de remessa ao Tribunal dos processos
sobre o «agente ou agentes da ação ou seja, relativos a atos ou contratos que produzam
sobre a pessoa a quem o facto ilícito é efeitos antes do visto; introdução nos processos
imputável e, subsidiariamente, sobre os de elementos suscetíveis de induzirem o
membros dos órgãos de gestão administrativa e Tribunal em erro (Art.º 66º).
financeira ou equiparados, exatores dos f) Estas multas têm um limite máximo e as
serviços, organismos e outras entidades sujeitas previstas no Art.º 65º o montante equivalente a
à jurisdição do Tribunal de Contas, se forem metade do vencimento líquido anual dos
estranhos ao facto, quando por «permissão ou responsáveis ou, quando os responsáveis não
ordem sua, o agente tiver praticado o facto sem percebam vencimentos, a correspondente
se verificar a falta ou impedimento daquele a remuneração de um diretor-geral.
que pertenciam as correspondentes funções»; TÍTULO V
quando «por indicação ou nomeação sua, pessoa
já desprovida de idoneidade moral, e como tal Execução do Orçamento do Estado e
reconhecida, haja sido designada para o cargo processo de revisão e alteração
em cujo exercício praticou o facto»; e quando orçamental
«no desempenho das suas funções de
fiscalização que lhe estiverem cometidas, CAPÍTULO I
houverem procedido com culpa grave,
nomeadamente quando não tenham acatado as
recomendações do Tribunal em ordem à
existência de um controlo interno»
c) Na responsabilidade pelos alcances não há a
consagração de uma responsabilidade objetiva.
Diário da República, 1.ª série — N.º 151 — 7 de agosto de 2018 3925

Regime geral da execução orçamental como os avales, o crédito administrativo ou as onerações


em contrapartida de atribuições patrimoniais. Para as
SECÇÃO I Finanças Públicas importa a primeira conceção, em
sentido restrito, correspondente à dívida financeira do
Princípios de execução orçamental Estado. Enquanto a dívida pública fundada exige a
autorização parlamentar, nos termos do artigo 161º, al.
Artigo 52.º h) da CRP, a dívida flutuante não carece de tal
Princípios gerais de receita e de despesa autorização, em virtude de a sua amortização dever
ocorrer durante a vigência do Orçamento de Estado.
1 — Nenhuma receita pode ser liquidada ou cobrada 6 dívida corrente ou administrativa, na qual há
sem que, cumulativamente: uma espera de preços de algum dos credores (v.g. dívida
a) Seja legal; a fornecedores), da dívida financeira, na qual o Estado é
b) Tenha sido objeto de correta inscrição orçamental; devedor em virtude de uma operação financeira, pela
c) Esteja classificada. qual são prestados ativos financeiros, o que dá lugar às
obrigações de reembolso e de pagamento de juros. Na
2 — receitas tributárias são provenientes da dívida pública financeira podemos distinguir: a dívida
cobrança de impostos ou de taxas – constituindo a flutuante, aquela cujo prazo de vencimento é inferior a
principal parcela das receitas correntes e cerca de metade um ano, devendo ocorrer antes do fecho do ano
do total dos réditos públicos. económico, resultando de crédito a curto prazo.
a) — receitas patrimoniais correspondem aos 7 dívida fundada é de duração superior a um ano e
rendimentos da propriedade, ao produto da venda de resulta de crédito a longo prazo. A dívida fundada pode
bens duradouros, da venda de bens e serviços não ser temporária ou perpétua. A dívida temporária é
duradouros e à venda de bens de investimento e ativos vencível ou num momento incerto, por exemplo, por
financeiros, o que se traduz em menos de cinco por morte do devedor, ou num prazo certo previamente
cento do total das receitas do Estado. O facto gerador da definido. Neste último caso, estamos perante a dívida
obrigação respeite as normas amortizável, que é a forma mais comum de dívida
legais aplicáveis; temporária. A dívida perpétua ou consolidada não tem
b) receitas creditícias são as que resultam da prazo de reembolso, poderá ser reembolsável em
contração de empréstimos, atingindo mais de trinta por determinadas circunstâncias, ao fim de um prazo
cento do total das receitas do Estado e a quase totalidade determinado (v.g. 10 anos), diz-se então que é remível.
das receitas de capital. No crédito público verifica-se a Se não for reembolsável, o que não constitui
existência de uma situação em que há uma dilação procedimento habitual, diz-se irremível. Os empréstimos
temporal entre duas prestações, derivando daí benefício consolidados dão lugar ao pagamento de rendas
para um dos sujeitos da operação. Satisfaça os requisitos perpétuas, cujo valor é superior ao da taxa de juro. O
de economia, eficiência e eficácia. último crédito público consolidado emitido em Portugal
foi o Empréstimo dos Centenários (1940), que previa
c) crédito público stricto sensu no caso das poder ser remível a partir dos dez anos, havendo a
situações em que um ente público é titular da posição garantia de que o Estado não poderia proceder ao
passiva na relação de crédito (elemento subjetivo), reembolso antes desse prazo.
existindo um regime de garantias dos prestamistas 8 empréstimo voluntário, estamos perante
privados, específico das operações de crédito público. verdadeiras operações de crédito público, uma vez que
Daí que o crédito entre entes públicos tenha se trata de um ato jurídico bilateral pelo qual o Estado ou
especificidades diferentes das do crédito público, outro ente público recolhe fundos no mercado,
atendendo a que não há o regime especial de proteção comprometendo a cumprir as obrigações decorrentes do
dos prestamistas privados. Fala-se no crédito público, regime jurídico do mútuo (amortizações e juros ou
em termos objetivos, de obrigações do Estado, que rendas). O empréstimo forçado não é um verdadeiro
podem ser principais (dívida direta), em que o Estado é o empréstimo e aproxima-se da noção de imposto, uma
devedor, ou acessórias (dívida indireta ou de garantia), vez que os prestamistas são levados a antecipar ao
neste caso o Estado responde subsidiariamente, ou Estado um determinado montante de dinheiro
reembolsando como se fosse devedor principal independentemente da sua vontade (p. ex. substituição
(empréstimo com reembolso de encargos), o do subsídio de Natal por títulos da dívida pública). Por
reembolsando apenas caso o devedor não cumpra (aval fim, os empréstimos podem ser internos (dando lugar à
do Estado). dívida pública interna) ou externos (dívida pública
externa). A distinção é feita consoante os prestamistas
4 — Nenhuma despesa pode ser paga sem que o estão integrados na economia nacional ou não. No nosso
compromisso e a respetiva programação de pagamentos ordenamento jurídico, o critério utilizado é o da praça ou
previstos sejam assegurados pelo orçamento de do mercado em que ocorre a emissão. Estamos perante
tesouraria da entidade. um empréstimo interno quando é emitido numa praça
5 Divida publica: conjunto das situações passivas nacional (independentemente da nacionalidade do
que resultam para o Estado do recurso ao crédito prestamista ou da moeda em que a operação é liberada).
público. Em sentido amplo a dívida pública abrange não Trata-se de um empréstimo externo o que for emitido
só as situações passivas de que o Estado é titular em numa praça extranacional.
razão do recurso a empréstimos públicos, mas também a Artigo 53.º
que resulta da prática de outras operações de crédito,
Diário da República, 1.ª série — N.º 151 — 7 de agosto de 2018 3926

Competência 6 — , o legislador, relativamente às taxas, visa garantir


o princípio do livre acesso a um serviço público, ou
1 — O Governo define por decreto- lei as
desfavorecer o seu uso imoderado (taxas moderadoras),
operações de execução orçamental da competência dos
bem como a melhor repartição dos encargos públicos.
membros do Governo e dos dirigentes dos serviços sob
Funcionam, para as taxas os princípios da oportunidade,
sua direção ou tutela.
da conveniência, do rendimento fiscal e da justiça
2 — Em cada ano, o Governo estabelece, por
distributiva.
decreto-lei, as normas de execução do Orçamento do
Estado, incluindo as relativas ao orçamento dos serviços Artigo 54.º
e entidades dos subsetores da administração central e da Unidade de tesouraria
segurança social respeitante ao ano em causa, sem
prejuízo da aplicação imediata das normas da presente 1 — A gestão da tesouraria do Estado e das
lei que sejam exequíveis por si mesmas. entidades que integram o subsetor da administração
3 — A gestão da dívida pública está confiada à central obedece ao princípio da unidade de tesouraria,
Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública que consiste na centralização e manutenção dos
(IGCP). Refira-se ainda que a relação jurídica resultante dinheiros públicos na Tesouraria Central do Estado.
dos empréstimos pode ser extinta: por anulação (no caso 2 — Para os efeitos do disposto no número
de emissões não colocadas ainda junto do público); por anterior, o conceito de dinheiros públicos compreende as
amortização ou reembolso; por remição ou pagamento disponibilidades de caixa ou equivalentes de caixa que
antecipado (como vimos no caso dos consolidados); por estejam à guarda dos referidos serviços e entidades.
conversão (que é a alteração por acordo ou por decisão 3 — O princípio da unidade de tesouraria
do devedor, das condições contratuais em que foi concretiza- se através da gestão integrada da Tesouraria
celebrado o empréstimo, no decurso da vigência deste); Central do Estado e da dívida pública direta do Estado.
e por prescrição (extinção pelo não uso). 4 — Entende- se por dívida pública direta do
4 — tributos são receitas públicas que têm as Estado a resultante da contração de empréstimos pelo
seguintes características que os singularizam: são Estado, atuando através da Agência de Gestão da
coativas ou obrigatórias, resultando de uma imposição Tesouraria e da Dívida Pública, IGCP, E. P. E. (IGCP,
obrigatória do Estado às entidades sujeitas à sua E. P. E.), bem como a dívida resultante do financiamento
autoridade (jus imperii); têm como função o das entidades indicadas no n.º 4 do artigo 2.º que estejam
financiamento dos encargos públicos pela participação incluídas na administração central.
dos cidadãos e outras entidades ou instituições sujeitos 5 — O membro do Governo responsável pela área
ao poder do Estado na criação de receitas autónomas e das finanças pode autorizar, a título excecional e
não na punição da prática de atos considerados ilícitos. fundamentadamente, que determinadas entidades, a sua
5 — Impostos são prestações pecuniárias solicitação, sejam dispensadas do cumprimento do
requeridas aos particulares através de poderes de princípio da unidade de tesouraria.
autoridade, a título definitivo e sem contrapartida 6 — As entidades dispensadas do cumprimento do
específica, tendo por fim a cobertura de encargos princípio da unidade de tesouraria ficam obrigadas a
públicos. Estamos perante obrigações legais, com cumprir as normas de gestão de risco de intermediação
carácter definitivo (que, portanto, não provoca aprovadas pelo membro do Governo responsável pela
reembolso ou devolução), sem contrapartida específica área das finanças, mediante parecer do IGCP, E. P. E.
(daí a unilateralidade), sem força sancionatória nem 7 — O incumprimento do princípio da unidade de
compensatória. tesouraria, bem como das normas de gestão de risco
referidas no número anterior faz incorrer os titulares do
6 contribuições especiais correspondem ou a um órgão de direção das entidades em causa em
benefício individualizado, resultante da atuação de um responsabilidade financeira.
sujeito público (mais-valias prediais) ou da necessidade 8 — Os casos de dispensa previstos no n.º 5 são
de compensar o Estado ou um sujeito público (sujeito objeto de renovação anual expressa, precedida de
ativo da relação jurídico-tributária) pelo uso anormal dos parecer do IGCP, E. P. E.
bens ou serviços por parte de certos sujeitos económicos
(por exemplo, o antigo imposto de camionagem, Artigo 55.º
justificado pela degradação que os pesados induziam nas Gestão de Tesouraria da Entidade Contabilística Estado e
estradas. das entidades públicas
7 taxas prestações pecuniárias, que pressupõem ou 1 — A ECE elabora um orçamento de tesouraria e
dão origem a uma contraprestação específica resultante deve dispor de um modelo de gestão que permita atingir
de uma relação concreta entre o contribuinte e um bem os seguintes objetivos:
ou serviço público (v.g. portagens e imposto de justiça).
As taxas podem ser aplicadas na utilização de um bem a) Assegurar que existem disponibilidades
do domínio público. Pode, todavia, sustentar-se ainda financeiras suficientes para liquidar as obrigações à
que há uma situação semelhante no caso do uso ou da medida que as mesmas se vão vencendo, nos termos
compra de bens patrimoniais e de serviços de entes do n.º 4 do artigo 52.º;
públicos. As taxas visam, assim, facilitar ou dificultar o b) Maximizar o retorno da tesouraria disponível;
acesso aos serviços públicos e proceder à justa c) Permitir a gestão eficiente dos riscos
distribuição dos encargos públicos. financeiros;
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d) Permitir a reconciliação diária entre a suscetível dessa repercussão. No entanto, nenhum destes
informação critérios parece ser satisfatório, uma vez que há impostos
bancária e a contabilidade por fonte de financiamento. indiretos que dão lugar a processos administrativos de
liquidação (direitos aduaneiros), havendo impostos
2 — As entidades públicas elaboram, também, diretos que são repercutíveis (IRC, por exemplo). Nesse
orçamentos de tesouraria que garantam os objetivos sentido, parece ser de adotar o critério económico de
previstos nas alíneas a) e d) do número anterior. Alfred de Foville (1842-1913), que consiste em entender
3 — O orçamento de tesouraria é mensal, com os impostos diretos como aqueles que tributam a riqueza
previsão deslizante para os doze meses seguintes, e é enquanto fenómeno constante ou permanente e os
remetido mensalmente à ECE. indiretos como os que atingem manifestações
4 — A realização de qualquer despesa à qual esporádicas ou ocasionais de riqueza. Em regra, verifica-
esteja consignada determinada receita fica também se que os sistemas fiscais dos países mais desenvolvidos
condicionada à cobrança desta receita em igual montante tendem a privilegiar os impostos diretos, através dos
ou à sua liquidação, devendo a programação do quais pode realizar-se melhor a justiça distributiva. A
pagamento, nestas circunstâncias, estar associada à data moderna reflexão sobre os impostos vem, no entanto,
da sua efetiva cobrança. salientando que a tributação indireta pode também
compatibilizar eficiência e equidade, uma vez que quem
Artigo 56.º tem maiores rendimentos vai realizar maior volume
Execução do orçamento da segurança social
bruto de consumos. Apesar de tudo, a propensão
marginal para consumir é maior nos detentores de
1 — Incumbe ao Instituto de Gestão Financeira da rendimentos mais baixos. a tributação indireta continua a
Segurança Social, I. P. (IGFSS, I. P.), a gestão global da ter um peso significativo enquanto a tributação direta
execução do orçamento da segurança social, no respeito atinge sobretudo os trabalhadores por conta de outrem,
pelo disposto na presente lei e nas normas enquanto as profissões liberais e as atividades por conta
especificamente aplicáveis no âmbito do sistema de própria tendem a encontrar formas diversas de escapar à
segurança social. progressividade do sistema, tornando-o tendencialmente
2 — Atendo-nos aos impostos, devemos referir as regressivo..
distinções entre tributação real e pessoal, bem como 4 — justiça fiscal é o 1º requisito de um sistema
entre tributação direta e indireta. impostos reais os que tributário, uma vez que este deve garantir uma
atendem à natureza e ao valor da riqueza tributada, sem distribuição equitativa de sacrifícios e uma repartição
consideração relevante à pessoa do titular. impostos equilibrada de recursos, em nome da coesão social. Para
pessoais os que ainda que tributem o rendimento ou o que haja justiça é indispensável respeitar os seguintes
património levam em consideração a situação pessoal do princípios: legalidade, segundo o qual o imposto deve
contribuinte que aufere esse rendimento (casado ou ser estabelecido por lei emitida pelo Parlamento,
solteiro, com ou sem filhos) (cf. Ibidem). No primeiro segundo o consentimento democrático; generalidade
caso, temos o IVA (imposto sobre o valor acrescentado) tributária, que determina q todos os residentes de um
que apenas atende ao valor em causa num ato de certo país estejam sujeitos ao pagamento de impostos
consumo ou numa transação; no segundo, temos o IRS segundo critérios gerais; capacidade fiscal, de acordo
(imposto sobre o rendimento das pessoas singulares), com o qual cada um deve ser tributado na medida das
que constitucionalmente é concebido para atender suas capacidades”). Cada cidadão contribuinte deve
expressamente à situação pessoal do contribuinte. A contribuir para a satisfação das needs públicas e para o
tributação pessoal é indício de racionalidade e de justiça bem comum na medida das respetivas capacidades. Se já
fiscal, razão pela qual deve: atingir globalmente a falámos da “justiça distributiva”, que corresponde à
riqueza ou o rendimento do contribuinte; incidir sobre a teoria da repartição e que se liga a uma lógica de
riqueza geral ou efetiva; garantir a progressividade, em redistribuição inerente ao moderno Estado Social, temos
nome da justiça distributiva; atender à situação familiar de referir, a “justiça comutativa”, correspondente à
do cidadão contribuinte. teoria do benefício. cada contribuinte paga na medida
3 — distinção entre impostos diretos e indiretos em que beneficia mais dos serviços públicos. Os
pode fazer-se de acordo com diferentes critérios. contratualistas, Locke, defendiam esta perspetiva, a qual
Segundo um critério administrativo, os impostos diretos pode levar a um sistema regressivo em que os maiores
atingem diretamente a riqueza, através da elaboração de rendimentos são mis aliviados marginalmente do que os
um rol administrativo e os impostos indiretos atingem menores. Esta questão leva-nos ao debate sobre os
indiretamente a riqueza considerada, sem essa sistemas de taxas na tributação, distinguindo-se a
discriminação. Segundo o critério jurídico, formulado tributação regressiva, proporcional e progressiva.
por Otto Mayer (1846- 1924), o imposto direto é Enquanto a tributação regressiva corresponde à
precedido de um processo administrativo de lançamento aplicação da teoria do benefício (pagam mais em
e liquidação, no qual se determina quem é o proporção os rendimentos mais baixos, mais
contribuinte, qual a matéria coletável e qual a prestação dependentes do Estado); a tributação proporcional, típica
devida (coleta); o imposto indireto não careceria de dos regimes liberais, aplica uma mesma percentagem
processo administrativo. Segundo os critérios (v.g. 10%) a todos os rendimentos, o que é menos
económicos, o imposto direto incide sobre situações de chocante do que no primeiro caso, ainda que não permita
ser ou estar, enquanto os indiretos incidem sobre uma redução das desigualdades; a tributação progressiva
situações de fazer. Para outros, o direto não é suscetível pretende redistribuir ou repartir sacrifícios ou recursos,
de repercussão fiscal, enquanto o imposto indireto é seguindo as conclusões da escola marginalista, já que o
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sacrifício imposto aos maiores rendimentos corresponde ordem jurídica financeira pública. Por outro lado,
à diferença que existe no nível de satisfação de em consequência da legalidade específica deve ser
necessidades consoante haja maiores ou menores respeitado o cabimento orçamental, segundo
rendimentos. — As entradas e saídas de fundos do
Sistema de Segurança Social são efetuadas através do requisito indispensável para a realização da
IGFSS, I. P., diretamente ou por intermédio de entidades despesa pública.
colaboradoras, onde se mantêm depositados os seus 6- síntese e tal como já vimos as receitas públicas
excedentes e disponibilidades de tesouraria. estão sujeitas à tipicidade qualitativa, segundo a
Artigo 57.º
qual a discriminação das diferentes receitas é
Receitas próprias obrigatória, não podendo ser cobrada a que não
1 — progressividade pode ser contínua ou por estiver expressamente referida e autorizada (se
escalões e pode ser, em teoria, limitada ou ilimitada. No durante um ano é criado um novo imposto, é
caso da progressividade contínua, a qualquer variação do obrigatória a alteração da Lei do Orçamento
valor tributado corresponde uma variação da taxa de prevendo-o expressamente). No entanto os valores
imposto. No caso da progressividade por escalões fixam- referidos na Lei do Orçamento são indicativos,
se patamares (de 100 u.c. a 150; de 151 a 200, etc.) a
cada um dos quais se aplica uma mesma taxa. No caso podendo ser ultrapassados. Já no caso das despesas
do IRS em Portugal aplica-se um sistema de escalões. A públicas a tipicidade é quantitativa, além da
progressividade não é aplicada sem limites, já que se o discriminação obrigatória o valor máximo
fosse verificar-se-ia a partir de determinado limiar a indicado para o item em causa não pode ser
aplicação de uma taxa de 100%. Nesse sentido, até certo ultrapassado. Quando a despesa ultrapassa a
valor de rendimentos ou não há imposto ou há uma taxa autorização diz-se que estamos em situação de
proporcional, a partir desse limiar há significativas
variações de taxas, acima de um montante já elevado, a alcance que dá lugar a infração financeira e à
taxa volta a ser proporcional, qualquer que seja o aplicação de sanção pelo Tribunal de Contas.
montante tributável. CAPÍTULO II
2 — São entidades com autonomia especial para a
gestão da receita: Regime transitório de execução orçamental
4 receitas públicas estão sujeitas a alguns Artigo 58.º
princípios gerais, devendo destacar-se: a legalidade - que
Regime transitório de execução orçamental
determina que as receitas tributárias apenas possam ser
criadas ou alteradas por Lei da Assembleia da 1 — A vigência da lei do Orçamento do Estado é
República; a renovação anual, segundo a qual sem prorrogada quando se verifique:
autorização orçamental anual não há possibilidade de
cobrar receitas legitimamente; o cumprimento do a) A rejeição da proposta de lei do Orçamento do
consentimento parlamentar; a não dedução das despesas Estado;
de cobrança; a não consignação à realização de despesas b) A tomada de posse do novo Governo, se esta
pré-consideradas; a unidade de tesouraria (também tiver
decorrente da não consignação), que impede a afetação ocorrido entre 1 de julho e 30 de setembro;
de determinada receita à realização de determinada c) A caducidade da proposta de lei do Orçamento
despesa, dando lugar a contas separadas; e à submissão a do
um regime especial de cobrança de dívidas do Estado, Estado em virtude da demissão do Governo proponente;
através do processo de execuções fiscais, que tende a d) A não votação parlamentar da proposta de lei do
tornar-se especialmente utilizado com este fim.— Os Orçamento do Estado.
serviços e as entidades referidos nos números anteriores
utilizam prioritariamente as suas receitas próprias não 2 — A prorrogação da vigência da lei do
consignadas por lei a fins específicos para a cobertura Orçamento do Estado abrange o respetivo articulado e os
das respetivas despesas. correspondentes mapas, bem como decretos- leis de
s despesas públicas deverão ser realizadas com execução orçamental.
respeito de princípios muito claros, em especial o 3 — A prorrogação da vigência da lei do
da legalidade, que decorre do consentimento dos Orçamento do Estado não abrange:
contribuintes, mercê da aprovação orçamental, a) As autorizações legislativas contidas no seu
mas essa legalidade é mais ampla do que o mero articu-
respeito da Lei Orçamental (ou legalidade lado que, de acordo com a Constituição ou os termos em
específica), deve respeitar a ordem jurídica do que foram concedidas, devam caducar no final do ano
económico a que respeitava a lei;
Estado de Direito. Estamos, deste modo, perante o
b) A autorização para a cobrança das receitas cujos
primado da lei (“rule of law”), pedra angular das re-
sociedades abertas. Numa palavra, a legalidade das gimes se destinavam a vigorar apenas até ao final do ano
despesas públicas deve ser genérica e específica, económico a que respeitava aquela lei;
deve respeitar o ordenamento jurídico geral e a
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c) A autorização para a realização das despesas Processo de revisão e alteração orçamental


relativas a programas que devam extinguir- se até ao
final do ano económico a que respeitava aquela lei. Artigo 59.º
Revisões orçamentais
4 — Durante o período transitório em que se
mantiver a prorrogação de vigência da lei do Orçamento 1 — Competem à Assembleia da República as
do Estado respeitante ao ano anterior, a execução mensal revisões orçamentais que envolvam:
dos programas em curso não pode exceder o duodécimo
da despesa total da missão de base orgânica, com a) O aumento da despesa total do subsetor da
exceção das despesas referentes a prestações sociais adminis-
devidas a beneficiários do sistema de segurança social e tração central;
das despesas com aplicações financeiras. b) O aumento da despesa total de cada missão de base
5 — Durante o período transitório em que se orgânica;
mantiver a prorrogação de vigência da lei do Orçamento c) Alteração dos programas orçamentais que
do Estado respeitante ao ano anterior, o Governo pode: acarretem
a) Emitir dívida pública fundada, nos termos o aumento dos compromissos do Estado;
previstos na respetiva legislação; d) Transferências de verbas entre programas
b) Conceder empréstimos e realizar outras correspondentes a diferentes missões de base orgânica
operações ativas de crédito, até ao limite de um com exceção das efetuadas por recurso a verbas do
duodécimo do montante máximo autorizado pela lei do programa referido na primeira parte do n.º 11 do
Orçamento do Estado em cada mês em que a mesma artigo 45.º;
vigore transitoriamente; e) Um acréscimo dos respetivos limites do
c) Conceder garantias pessoais, nos termos endividamento líquido fixados na lei do Orçamento do
previstos na respetiva legislação. Estado;
d) efeitos das despesas públicas, utilizamos f) O aumento das despesas do orçamento da
sobretudo dois princípios ou instrumentos de análise, segurança social, com exceção das despesas referentes a
muito simples e bem nossos conhecidos. Por um lado, prestações sociais devidas aos beneficiários do sistema
o multiplicador, que é o coeficiente que mede o de segurança social;
aumento do rendimento imputável à realização de um g) Transferências de verbas do orçamento da
investimento. Por outro, o acelerador, que mede o segurança
aumento do investimento que deriva das despesas social entre diferentes grandes funções ou funções no
iniciais de consumo. O multiplicador aplica-se não respeito pela adequação seletiva das fontes de
apenas às despesas públicas de investimento, mas ao financiamento consagradas na Lei de Bases do Sistema
conjunto das despesas públicas. Basta lembramo-nos de Segurança Social.
da importância que o Estado tem entre os sujeitos
económicos e da influência que as despesas de 2 — As demais alterações orçamentais são da
funcionamento da Administração Pública ou que as competência do Governo, nos termos de decreto -lei
despesas militares têm no conjunto da economia. próprio.
Remetemos para a explicação já dada sobre o tema. 3 — As alterações orçamentais da competência do
Como sabemos, o multiplicador, analisado por John Governo são comunicadas à Assembleia da República
Maynard Keynes, permite estudar o efeito de um nos termos do n.º 2 do artigo 75.º
acréscimo de despesa de investimento sobre o
rendimento global. O multiplicador indica, assim, Artigo 60.º
uma variação de rendimento. Sempre que se realiza
Alterações orçamentais da competência do Governo
um aumento de investimento e não haja pleno
emprego dos recursos produtivos, então verifica-se Competem, nomeadamente, ao Governo as alterações
uma reprodutividade desse acréscimo traduzida num orçamentais que consistam num aumento do montante
acréscimo multiplicado de rendimento. Se houver total das despesas de cada missão de base orgânica,
pleno emprego dos recursos produtivos, então o quando as mesmas resultem:
multiplicador funciona em termos puramente
monetários – aumentando a procura, sem a) De saldos de gerência ou dotações de anos
correspondência na oferta, com consequente aumento anteriores cuja utilização seja permitida por lei;
de inflação. O multiplicador (K) corresponde à razão b) Da utilização das verbas do programa referido na
entre o acréscimo de rendimento representado como primeira parte do n.º 11 do artigo 45.º;
∆R e o acréscimo de investimento representado por c) Do aumento das receitas efetivas próprias ou
∆I: K = ∆R ou K∆I = ∆R ∆I Se num dado período o consignadas, contabilizadas como receita do
investimento aumentar 100 unidades de conta e a próprio ano.
propensão marginal para o consumo for de 4/5 o d) O período de multiplicação é o tempo necessário
multiplicador será de 5 e o acréscimo de rendimento para a despesa de investimento exercer todos os
será de 500 unidades de conta. seus efeitos sobre o rendimento global. A sua
CAPÍTULO III extensão depende da propensão marginal para o
consumo e do período de propagação do
rendimento. No exemplo: ∆R (500) : ∆I(100) = K
Diário da República, 1.ª série — N.º 151 — 7 de agosto de 2018 3930

(5) ou K∆I (5. 100) = ∆R (500). A propensão semelhante; se há dívidas a saldar, também o efeito
marginal para o consumo corresponde à parte que se reduz; o mesmo acontecendo em situação de
numa unidade adicional de rendimento é orientada grande desemprego com predomínio de
para o consumo. A propensão marginal para a rendimentos de subsistência ou no caso de
poupança corresponde à parte restante numa substituição de despesas (em que o Estado substitui
unidade adicional de rendimento, que vai para a o investimento privado, não se gerando
poupança. Deste modo: 1 = pmc+pmp, no exemplo rendimentos adicionais).
dado 1 = 4/5 + 1/5. Portanto, sendo o acréscimo de g) efeitos económicos das receitas públicas:
rendimento de 500, perante o acréscimo inicial de 1. Amortização do imposto - nos impostos que
investimento de 100, verifica-se que essa relação incidem sobre o valor patrimonial dos bens
de 1 para 5 revela o multiplicador, cujo valor (5) é duradouros (v.g. imóveis, ou móveis sujeitos a
o inverso da propensão marginal para a poupança registo) ou sobre o respetivo rendimento,
(1/5). O efeito do acelerador, primeiro formulado verifica-se que os impostos provocam uma
por Albert Aftalion (1874-1956), liga-se modificação no valor de utilidade subjetiva e
diretamente ao efeito do multiplicador, ainda que no valor de mercado desses bens subjetivos.
numa perspetiva diferente e complementar, Intuitivamente, verificamos que comparando
relaciona a intensidade da procura de bens finais e dois imóveis do mesmo valor, um sujeito a
a procura derivada de bens de investimento ou imposto e outro isento, o segundo tem um
intermédios. Enquanto o multiplicador relaciona valor superior.
investimento e rendimento, o acelerador parte do 2. Remoção do imposto - quando há um aumento
aumento da procura para o acréscimo de de impostos o contribuinte toma uma de duas
investimento. Suponhamos uma unidade da atitudes: ou resigna-se a ter uma redução do
indústria têxtil que tem 100 teares, que permite a rendimento disponível ou vai tentar
produção de 300 mil peças de tecido. reconstituir o rendimento, para que o
Consideramos ainda que a amortização do rendimento disponível não seja inferior ao que
investimento feito nos teares é de 1/10 por ano. tinha antes do agravamento tributário. A
e) Num primeiro momento a procura aumenta 10% segunda opção corresponde à remoção (o
(mais 30 mil peças de tecido). Para fazer face a advogado recebe mais clientes e termina mais
esse aumento é necessário adquirir mais dez teares, tarde o seu dia de trabalho, p. ex.).
o que aumenta o investimento de 100% (10 mil 3. Difusão do imposto - continuando no exemplo
unidades de conta, que se somam à amortização do aumento do imposto, o contribuinte vai
anual). Num segundo momento a procura aumenta difundir o efeito da redução do poder de
9% (mais 30 mil peças). É preciso adquirir mais compra, reduzindo o consumo de bens,
dez teares. Mas o investimento adicional é nulo, começando nos supérfluos, mas depois
pois é idêntico ao do período anterior. Por fim, o chegará aos essenciais. Há, assim, uma
aumento da procura é de apenas 4% (mais 15 mil repercussão negativa na procura com
peças). Então precisamos de comprar mais cinco repercussão na oferta e no investimento
teares. Mas há uma redução em 25% no 4. Repercussão do imposto - Neste caso, o
investimento adicional. Fala-se de efeito acelerador contribuinte exonera-se do sacrifício fiscal
pela comparação com a aceleração no motor do transferindo-o para outros que com ele entrem
automóvel. Também aí o acelerador começa por em relação. Deste modo, o contribuinte de
dar um movimento uniforme ao veículo, mas se direito (o comerciante, p. ex.) transfere para o
formos tirando o pé pode funcionar como travão. contribuinte de facto (o consumidor) o tributo
Conclui-se que há uma desproporção entre a pago. A repercussão pode ser progressiva ou
intensidade da procura dos bens finais e a procura descendente (quando o sujeito económico que
derivada de bens intermédios. A procura de bens está mais perto da produção transfere o
intermédios acelera ou desacelera a um ritmo sacrifício para quem está mais distante - o
diferente da procura dos bens finais. preço final é acrescido do imposto pago) e
f) Acrescentamos, apenas, que se tem tentado regressiva ou ascendente (no caso de um
conjugar o multiplicador e o acelerador através de imposto de consumo sofrer aumento e para
um outro instrumento de análise teórica - o evitar perder clientes o produtor ou o
oscilador Partindo de um aumento inicial de comerciante suportam esse sacrifício adicional
consumo ou de investimento conjugamos os - tudo se passa como se o consumidor
aumentos sucessivos de rendimento, consumo e transferisse o imposto para o produtor ou para
investimento. Um investimento inicial gera o intermediário).
rendimentos multiplicados e consumo. Estes 5. Quanto às receitas creditícias, temos a referir
induzem novos investimentos acelerados, e assim os respetivos efeitos no momento da emissão
sucessiv. Há ainda a referir as "fugas" ou dos empréstimos – que são diretos: obtenção
"filtrações" destes efeitos, eles só funcionam de receitas; e indiretos: novas despesas, que
plenamente em economias fechadas. Por outro permitem financiar; e os efeitos no momento
lado, a propensão marginal para poupar pode ser do reembolso – transferências que beneficiam
nula, limitando drasticamente o efeito os prestamistas e aumentam a procura. No
multiplicador; a preferência pela liquidez também tocante ao crédito interno ou externo, enquanto
pode ser excecionalmente alta, produzindo efeito no primeiro caso a obtenção de recursos pode
Diário da República, 1.ª série — N.º 151 — 7 de agosto de 2018 3931

servir para reduzir a procura e diminuir a compreender os fenómenos individuais ou


inflação também pode permitir a obtenção de microeconómicos, onde as questões quantitativas e
fundos que, orientados para o consumo, podem qualitativas tiveram lugar, melhor compreenderemos
anular os efeitos positivos alcançados agora, na lógica agregada ou macroeconómica, o peso e
inicialmente. Já no caso do crédito externo a a importância dessa distinção. Afinal, uma política
mobilização de poupanças externas, desde que económica, visando a estabilização conjuntural, não
utilizada, em situação de subemprego, em pode esquecer os elementos estruturais e de sistema.
investimento reprodutivo pode ter um efeito Uma visão de conjunto da realidade económica obriga à
positivo na criação de novos rendimentos. articulação entre os objetivos quantitativos (crescimento
económico) e qualitativos (desenvolvimento económico
e social). Para além dos aspetos ambientais e de proteção
1 — conjuntura económica quando nos da natureza, a questão do tempo e do ritmo de
reportamos ao curto prazo, isto é, ao que varia no exploração dos recursos naturais põe um problema de
imediato, ou seja, o que se altera num horizonte interdependência entre gerações humanas. É
temporal inferior a um ano. Trata-se de analisar o que se indispensável compreendermos que a solidariedade não
repercute diretamente na vida dos sujeitos económicos. é apenas atual e de uma geração, mas também
Estamos a falar da evolução a curto prazo do nível de intergeracional. Temos sempre de ter presente que há as
preços, do nível de emprego, da situação nas relações do gerações futuras e o legado que lhes deixamos. Assim
circuito económico com o exterior num horizonte nasceu os conceitos de desenvolvimento sustentável e de
temporal imediato, da situação das finanças públicas no desenvolvimento durável, que exigem uma especial
período orçamental ou das perspetivas imediatas de atenção ao uso e à oferta dos recursos naturais, que
crescimento económico. Se estudámos o rendimento devem verificar-se em níveis que não afetem o bem-estar
nacional, a despesa nacional e o produto - devemos das gerações futuras. A ideia de altruísmo deve, assim,
compreender que estes podem ser analisados ora na estar presente quer no tempo presente quer relativamente
perspetiva do curto prazo, ora na de médio e longo às gerações futuras - daí a importância das perspetivas
prazos. Na primeira ótica, falamos de conjuntura ecológicas e da defesa e salvaguarda dos valores
económica, na segunda, de estrutura económica. Por ambientais.
contraponto ao que varia até um ano, devemos 2 equilíbrio macroeconómico corresponde a um
considerar que a estrutura se reporta às proporções e nível de rendimento nacional que induz um montante de
relações que caracterizam de forma durável a vida idêntico ao valor de despesa global. Estamos perante o
económica. Quando falamos de sistemas económicos que se designa como rendimento nacional de equilíbrio.
referimos formas de organização e funcionamento da Temos de nos recordar, aliás, do que dissemos a
vida económica - economia de mercado, economia de propósito do paradoxo das poupanças e sobre a relação
direção central, economia mista. Falámos então de entre o investimento e a poupança. Por outro lado, e
"formas típicas e globais de organização e considerando a identidade tendencial entre investimento
funcionamento da economia baseadas num certo número e poupança, temos de ter ainda uma atenção especial à
de princípios fundamentais que regem as economias relação que existe entre as despesas públicas e os
como estruturas concretas". Essas formas típicas eram impostos pagos pela economia, a fim de que ambos
diferenciadas segundo a forma, a substância e o espírito, possam funcionar como fatores de estabilização e não de
para usarmos os critérios de Werner Sombart. Nas desequilíbrio. A vida económica ao longo do tempo vai
economias mistas Governo da tutela e ao Tribunal de permitir-nos compreender a ideia de que se vão
Contas.distinguimos o que designamos como modelos sucedendo diversas situações de desequilíbrio, que
renano e anglo-saxónico, reportando-nos à terminologia tendem para a situação de identidade entre o Rendimento
de Michel Albert. Cada sistema abstrato e cada sistema e a Despesa (R=D). Ora, sendo a Despesa a soma do
concreto ou modelo comportam diferentes estruturas - Consumo, do Investimento e das Despesas públicas
caracterizando estas as economias nacionais ou regionais (D=C+I+G) e o Rendimento a soma do Consumo e da
que analisamos. Um sistema ou um modelo comporta Poupança (R=C+P), se subtrairmos os impostos
diferentes estruturas - podendo ser considerado um obrigatórios (T) à Despesa, teremos um valor idêntico ao
sistema ou um modelo como uma estrutura de estruturas. da soma do consumo e da poupança (C+I+G-T = C+P).
A relação entre a conjuntura e a estrutura caracteriza o Logo, deixando de considerar o consumo quer do lado
quadro fundamental em que se desenvolvem as políticas da despesa quer do lado do rendimento, temos uma
económicas - as quais visam imediatamente os identidade entre I+G (Investimento e Despesa Pública) e
agregados variáveis no curto prazo, tendo sempre em P+T (Poupança e Impostos obrigatórios). Enquanto Léon
consideração as repercussões de uma política conjuntural Walras considera uma situação de equilíbrio,
nas estruturas e no médio e longo prazos. Nesta ordem correspondente ao pleno emprego sem inflação, Keynes
de preocupações é importante a distinção, no médio e prefere analisar várias situações de equilíbrio, consoante
longo prazos, entre o crescimento económico - estejamos em pleno emprego, em subemprego ou em
correspondente à medida da nova riqueza criada por uma sobre-emprego. O equilíbrio de Walras quase nunca se
economia - e o desenvolvimento económico e social - realiza na prática, mas é para esse equilíbrio que tendem
correspondente à ligação dos fatores quantitativos aos sistematicamente os movimentos de preços e de
fatores de índole qualitativa (qualificação das pessoas, quantidades, que o observador da conjuntura económica
proteção do meio ambiente, qualidade de vida, deteta em cada momento. Keynes prefere concentrar-se
funcionamento das instituições, coesão social…). Se na nas situações de subemprego. Os recursos não estão
disciplina de Introdução à Economia, procurámos plenamente utilizados e é nesse caso que faz sentido
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aumentar o investimento (agindo os produtores quer no real de bens e serviços; por um aumento de custos; ou
mercado de fatores quer no mercado de produtos), o que por via da importação. As três causas não se excluem
induz um aumento de rendimento, criando, assim, mutuamente e normalmente conjugam-se, obrigando a
condições para que a procura efetiva global sustente uma que as políticas económicas anti-inflacionistas recorram
situação de equilíbrio. O nível de emprego revela-se a instrumentos de efeitos diversificados. Numa outra
essencial para a compreensão de uma determinada tipologia, encontramos causas internas e externas,
realidade económica. E compreende-se que assim seja resultantes do funcionamento da economia e das
em virtude não apenas da capacidade de utilização dos relações desta com o exterior; psicológicas e reais,
recursos disponíveis, mas também em razão da emergentes das expectativas dos sujeitos ou das
necessidade de prosseguir objetivos de coesão social. As circunstâncias objetivas da economia; monetárias ou não
três formas de desemprego que a doutrina considera são: monetárias, conforme tenham ou não a ver com a
o desemprego friccional, correspondente às situações em procura de moeda; bem como as que tenham a ver com o
que os trabalhadores passam de um emprego a outro crescimento da oferta ou da procura. Se considerarmos a
(mantendo-se, por isso, a utilização do fator humano inflação por excesso de procura, encontramo-nos perante
disponível); o desemprego acidental, que se reporta a um um processo que se origina na incapacidade da oferta de
situação momentânea e passageira em que o trabalhador bens e serviços para satisfazer a procura. Nesse sentido,
se vê incapacitado para a vida ativa (dando lugar a uma as conjunturas expansivas são tendencialmente
nova ocupação a prazo curto); e o desemprego estrutural, inflacionistas. O excesso de procura pode ser, contudo,
em que há o declínio de determinados sectores e regiões, global ou sectorial. Se os agentes económicos aplicam as
com uma desocupação duradoura e com repercussões disponibilidades entesouradas ou beneficiam do aumento
sociais graves. Há ainda o desemprego conjuntural, em de circulação da moeda operado pelo sistema bancário,
que o fenómeno é generalizado, mas devido a problemas por força do crescimento das despesas públicas e das
momentâneos e superáveis. Por fim o desemprego despesas privadas financiadas pelo crédito bancário,
sazonal é o que se refere a determinados períodos do ano então poderemos ter uma situação de excesso global de
(época baixa do turismo, Inverno na agricultura), procura. Esse processo desenvolver-se-á se a oferta de
estando ligado a situações naturais. A medida do bens e serviços não puder acompanhar o crescimento da
desemprego é feita através da taxa de desemprego, que procura no período em causa - quer por utilização plena
corresponde à percentagem da população ativa que não da capacidade produtiva, quer em virtude do pleno
tem emprego. Esta taxa refere-se, porém, apenas ao emprego, quer ainda por insuficiência nas existências ou
desemprego involuntário - contando apenas aqueles que nos "stocks" ou até por impossibilidade de recurso à
procuram emprego. Os custos do desemprego são importação. O excesso de procura pode, todavia, ocorrer
económicos e humanos. No primeiro caso, temos a perda num ou mais sectores de forma limitada. Só haverá
de atividade produtiva dos desempregados - o que inflação, porém, a partir do momento em que as tensões
determina que o Produto Interno fique abaixo do sobre os preços, inicialmente limitadas, se acumulam,
respetivo potencial. Há, pois, desperdício de produto, modificando, em termos macroeconómicos, os
nunca recuperável. Os custos sociais e humanos são comportamentos dos sujeitos com consequência na alta
muitas vezes incalculáveis - desde a fragmentação social de preços. A inflação pela oferta de moeda constitui,
às crises psicológicas de identidade, passando pelo igualmente, um fenómeno com efeitos na alta de preços -
sentimento de inutilidade. As causas do desemprego são pelas razões, aliás, já analisadas. Para que haja inflação
diversas. No caso do subemprego keynesiano temos o não basta que alguns preços sofram aumento, por
excesso de oferta ou a insuficiência de procura para os pressão da procura, é indispensável que esse movimento
bens. Torna-se, por isso, necessário contrariar essa se repercuta num processo geral e cumulativo. É preciso
situação através do aumento da procura efetiva global, que a oferta e a procura de bens e serviços não revele
fazendo funcionar o multiplicador de investimento, por capacidade de acomodação relativamente aos preços -
exemplo. No subemprego clássico temos a incapacidade isto é, que os agentes económicos não procedam a
das empresas satisfazerem a procura, que se apresenta transferências, na procura e na oferta, entre sectores,
forte. Há, pois, uma insuficiência dos equipamentos de bens ou serviços. A partir daí as tensões ampliam-se
capital julgados necessários para produzir mais. É esta mutuamente até originarem um processo inflacionista.
ausência de equipamentos que gera o desemprego. Aqui No caso da inflação pelos custos também têm de ser
se reclama, por isso, a renovação do capital existente. Há consideradas diferentes causas (matérias-primas, preços
ainda as situações de subemprego coexistindo com de transporte e outros serviços), todas independentes do
sobre-emprego, isto é, situações em que há desemprego excesso da procura global. Os dois exemplos de inflação
e situações em que existe emprego excedente. Nestes generalizada pelos custos são os choques petrolíferos de
casos, há que atenuar a rigidez e a falta de mobilidade do 1973 e de 1979. A alta geral de salários constitui o
fator trabalho entre sectores. principal tema analisado a propósito deste tipo de
3 inflação define-se como a alta, simultânea e inflação. Conhecida é a polémica entre, por um lado, os
persistente de preços da maior parte dos bens, serviços e defensores de que, no caso de haver aumento de
fatores numa economia. Estamos perante um processo produtividade, os salários devem ser mantidos e os
cumulativo de alta de preços, independentemente da sua preços objeto de redução e, por outro, aqueles que
causa e da sua intensidade. Estamos perante uma pensam que, nessas circunstâncias, os salários devem ser
referência originariamente monetarista, ligada à teoria aumentados e os preços mantidos. Para os primeiros a
quantitativista. A alta geral de preços é estudada a partir baixa de preços beneficiará em princípio todos, enquanto
de três grandes tipos de causas, consoante seja originada: para os segundos, a incidência positiva nos salários
por um excesso de procura efetiva em relação à oferta permite uma maior equidade por não se saber, à partida,
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qual o bem ou serviço em causa e se é muito ou pouco necessidade de a estabilização económica se ajustar ao
consumido. Hoje, prefere-se uma repartição dos ganhos ciclo económico. Por exemplo, as políticas orçamentais
de produtividade pelos salários e pelos preços, segundo a anti-cíclicas, que estudaremos, pressupõem que na fase
lógica da concertação social. Importa, porém, evitar a alta do ciclo haja excedentes que levam à criação de um
todo o custo a espiral salários preços. Se há um aumento fundo de estabilização, o qual na fase baixa permitirá o
de preços não deve haver um ajustamento imediato do financiamento dos défices. Tratase, assim, de proceder a
lado dos salários, sob pena de estarmos a agravar, desse um acompanhamento rigoroso do ciclo, de modo a
modo, a inflação pelos custos. A inflação pode ainda contrariar os seus efeitos, numa lógica anti-cíclica. Pelo
surgir por influência externa, em virtude dos efeitos do contrário, uma atuação pró-cíclica tenderá a agravar as
comércio internacional. A importação de bens diversas fases da conjuntura. Assim, num período de
provenientes de economias com altas gerais de preços abrandamento ou de recessão não devem ser restringidas
conduz à transmissão de tensões inflacionistas entre as despesas de investimento reprodutivo - visando a
países. Este fenómeno torna-se tanto mais comum criação de emprego. Notese, aliás, que, se houver uma
quanto é certo que a mundialização da economia é um restrição cega das despesas de investimento vaise gerar
dado do nosso tempo. Além das causas conjunturais da desemprego, que exige o pagamento de subsídios aos
inflação temos diversas causas estruturais: desde a desempregados, com agravamento, por esse lado, da
ausência de racionalidade nos circuitos de distribuição à despesa e do défice com a desvantagem de o subsídio ser
evolução do crédito e da política cambial, passando uma despesa corrente sem carácter reprodutivo. Depois
pelas tensões especulativas, pela dependência económica da 2.ª Guerra Mundial e graças ao sucesso das políticas
do exterior ou pelo grau de imperfeição da economia. anti-cíclicas os ciclos económicos atenuaram-se. Por
Artigo 66.º isso, os economistas modernos preferem falar de
Conta Geral do Estado flutuações económicas. Trata-se de oscilações, maiores
ou menores, da atividade económica. Daí preferir falar-
1 — ciclos médios, estudados por Clément Juglar se hoje de recessão em lugar de depressão, uma vez que
(1819-1905), de duração de sete anos a nove anos, a depressão é mais acentuada, pressupondo a
verificamos que nas economias monetárias, como aquela coexistência da deflação e do desemprego. A recessão
em que vivemos, a moeda desempenha um papel costuma ser definida tecnicamente como
importante no desencadear das variações cíclicas. Para correspondendo a um período em que o produto interno
Juglar, os ciclos não são fruto do acaso mas produto bruto real baixa durante pelo menos dois trimestres
quase automático do mecanismo monetário sobre o qual consecutivos. Na perspetiva keynesiana, uma vez que há
repousa a economia de mercado. Juglar diz: "a origem diversas situações de equilíbrio económico, consoante
da miséria é a prosperidade" - significando que nos estejamos em pleno emprego, sobre-emprego ou
períodos de forte crescimento põemse em marcha os subemprego. Não há um só equilíbrio, e esta situação
fatores recessivos. Temos, assim, que um ciclo apresenta não é a regra, mas apenas uma tendência. As flutuações,
quatro momentos - expansão ou boom, momento em que nesta ótica, correspondem a imperfeições do mercado -
há pleno emprego tendencial e crescimento económico, que urge contrariar. As recessões dos anos setenta e
criação monetária induzida por ele, concessão de crédito oitenta ter-se-iam, assim, devido a políticas erradas dos
pelos bancos e uma tendência inflacionista; crise, governos (designadamente no tocante ao aumento das
corresponde à viragem (a palavra grega krisis significava taxas de juro). Já na perspetiva neoclássica, os ciclos ou
para Hipócrates o momento em que o doente estava no as flutuações resultariam de perturbações na
auge da sua enfermidade, podendo superá-la ou morrer), produtividade ou nos gostos, e não tanto nas políticas
o crédito dos bancos é reduzido, a produção abranda, económicas. O arrefecimento da economia poderia
começa a surgir o desemprego; depressão ou slump, ocorrer sem que houvesse culpas por parte das políticas
momento em que o desemprego vai coexistir com a económicas prosseguidas. Depois de 1945, houve trinta
deflação ou baixa de preços, induzida pelo excesso de anos de acentuada estabilidade económica, em virtude de
oferta e recuperação, circunstância em que recomeça a haver políticas anti-cíclicas com resultados positivos.
criação de riqueza, a oferta recupera, o emprego começa Designou-se esse período como os trinta gloriosos anos.
a ser criado e a deflação dá lugar à estabilidade dos As flutuações económicas deram lugar a situações
preços. Quando Juglar morreu vivia-se a "belle époque" recessivas nos anos cinquenta, coincidindo com a Guerra
e havia quem julgasse que os ciclos estariam da Coreia (1953-54), e nos anos sessenta, com a Guerra
definitivamente superados - em razão do crescimento do Vietname (1968-70). A partir de 1975, por efeito dos
sustentado e do otimismo induzido pela inovação choques petrolíferos, a economia mundial viuse a braços
tecnológica e pelas invenções da eletricidade e do com um longo período de estagnação económica,
veículo automóvel. No entanto, os anos vinte e o pós- durante o qual coexistiam a inflação e o desemprego - o
Guerra trouxeram de volta o espectro das crises cíclicas. fenómeno novo foi designado como estagflação -, que
Joseph Schumpeter constrói então uma nova teoria dos constituiu um autêntico quebra-cabeças para a ciência
ciclos, nos quais identifica três tipos, pela sua duração e económica, uma vez que deixaram de funcionar os
origem: um curto, de três anos, devido à gestão de stocks instrumentos tradicionais de natureza anti-cíclica.
que se designa como ciclo de Kitchin, um ciclo longo de Durante os anos noventa houve um certo reencontro com
sessenta anos, devido ao progresso técnico e que foi o funcionamento dos ciclos, graças à introdução de
batizado com o nome de Kondratieff e o ciclo médio, de novos instrumentos de estabilização, numa lógica de
até nove anos, devido à moeda, que Schumpeter complementaridade entre o mercado e a regulação
designará para a posteridade com o nome de Juglar. pública. Em conclusão, as recessões não são hoje tão
Fácil é de compreender, como veremos a seguir, a
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graves quanto o foram as grandes depressões, que Importa, porém, previamente salientar três aspetos
conhecemos antes da última Grande Guerra importantes para a compreensão da dimensão atual do
Artigo 67.º problema:
Mapas que acompanham a Conta Geral do Estado

objetivos de política económica são de índole Receitas públicas, eficiência e equidade, combate à
estrutural - visando o crescimento económico a médio fraude e evasão fiscais - A consolidação das finanças
prazo e o desenvolvimento económico e social públicas obriga a haver estabilidade na cobrança de
sustentável. No tocante aos elementos duráveis da receitas e capacidade para prever essa evolução. Nesse
economia, importa, no fundo, articular elementos sentido, a simplificação do sistema fiscal, a criação de
quantitativos e qualitativos, a fim de garantir não só uma condições para uma maior eficiência da administração
melhor utilização dos recursos disponíveis e uma melhor tributária, o combate à fraude e à evasão fiscais, a
satisfação de necessidades, mas também assegurar a tendência para haver maior rigor com quem não cumpre
preservação e salvaguarda do meio ambiente, da a fim de se poder desagravar os rendimentos dos
qualidade de vida e da coesão social. A sustentabilidade trabalhadores por conta de nutrem constituem medidas
e a durabilidade do desenvolvimento têm, por isso, a ver indispensáveis. Um sistema fiscal eficiente quer-se
com a consciência de que não basta criar novos bens simples, previsível, claro - e servido por uma
materiais nem construir novos conjuntos de necessidades administração motivada e conhecedora. Só assim será
- numa sociedade puramente consumista. É possível ter um sistema fiscal fidedigno e credível,
indispensável prevenir e antecipar os riscos de destruição condição sine qua non para que haja o financiamento
da natureza e dos recursos naturais - além da necessidade adequado das necessidades públicas. Mais importante do
de considerarmos com especial ênfase a questão da que reduzir ou aumentar impostos é compreender o
evolução demográfica e do envelhecimento da princípio das capacidades contributivas, segundo o qual
população. Recordemo-nos, por exemplo, do efeito dos cada um apenas paga o que está nas suas possibilidades.
já citados choques petrolíferos (de 1973 e de 1979): até Despesas públicas, redução das despesas correntes
então os motores de explosão eram grandes primárias e consolidação dos investimentos reprodutivos
consumidores de combustível, depois houve que - O equilíbrio orçamental exige controlo rigoroso das
descobrir motores mais económicos e que iniciar a despesas públicas - privilegiando-se a disciplina e a
investigação de energias alternativas (solar, eólica, redução das despesas correntes primárias, isto é, das que
biomassa etc.), tendo em consideração a tomada de não têm carácter reprodutivo. No entanto, o critério
consciência de que as reservas de petróleo são finitas. O fundamental que deve ser seguido tem a ver com a
mesmo se diga em relação à Convenção de Quioto sobre qualidade dos serviços públicos prestados, que são
emissões de dióxido de carbono para a atmosfera. A fatores essenciais de competitividade (a administração da
humanidade começa a tomar consciência de que o justiça, os serviços de segurança, a saúde e a educação).
próprio ar que respiramos é um bem finito, que tem de Impõe-se haver uma avaliação de custo e benefício e
ser protegido e salvaguardado. uma rigorosa prestação de contas. Por outro lado, terá de
se assegurar o melhor investimento reprodutivo (nas
infraestruturas, nas escolas, nos hospitais, nas estradas).
objetivos conjunturais, do que dissemos resulta que as
A redução do investimento reprodutivo gera desemprego
políticas económicas que visam a estabilização dos
e este agrava o défice uma vez que exige o pagamento
ciclos económicos, têm quatro objetivos fundamentais -
dos subsídios aos desempregados. Evolução
que designamos como quadrado mágico - os quais têm
demográfica, envelhecimento da população e crise do
de estar sempre presentes, não podendo cair-se no erro
Estado Providência - Por fim, as finanças públicas
de privilegiar uns relativamente a outros, sob pena de
ressentem-se da atual tendência de evolução
pormos em causa a sustentabilidade do crescimento e do
demográfica. O envelhecimento da população e o
desenvolvimento e de afetarmos a coesão social e o
aumento da esperança de vida geram um desequilíbrio
"capital social". Os quatro objetivos, que têm de ser
entre a população ativa, que paga impostos e
coordenados numa lógica de policy mix (política mista)
contribuições, e a população não ativa (reformados,
são: a estabilidade de preços, o pleno-emprego, o
pensionistas) que recebem sem criar riqueza
equilíbrio das contas públicas e o equilíbrio das relações
imediatamente. Se a população ativa é menor e a
com o exterior. Insista-se, porém, que os dois últimos
população não ativa aumenta gera-se um problema a
objetivos têm carácter instrumental em relação ao
prazo de sustentabilidade dos sistemas de cobertura dos
crescimento e ao desenvolvimento económicos. A
riscos sociais e de segurança social, o que determina a
dificuldade da eficácia das políticas económicas, que
necessidade de alargar a vida ativa dos cidadãos e de
estudaremos a seguir, depende da capacidade de ligar
flexibilizar os mecanismos de criação de empregos, sem
objetivos estruturais e conjunturais e de coordenar o
pôr em causa direitos adquiridos e apoio mínimo
prosseguimento dos quatro objectivos de curto prazo,
garantido ou de inserção. Compreende-se, assim, a
com as situações dilemáticas que bem conhecemos que
complexidade do problema atual da sustentabilidade das
essa articulação envolve. É esse o tema que iremos tratar
finanças públicas, que é tudo menos um problema
a seguir ao tratarmos da política macroeconómica e das
simples ou suscetível de comentários ligeiros ou de
suas dificuldades. O tema do equilíbrio das finanças
apreciações superficiais.
públicas leva-nos a remeter para o que diremos sobre o
impropriamente designado Pacto de Estabilidade e
Crescimento (PEC) e os critérios de convergência no equilíbrio das contas externas. Quando estudámos o
âmbito da União Económica e Monetária (UEM). circuito económico, vimos que as economias não estão
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fechadas e que, além das Famílias e das Empresas, do investimentos estrangeiros; (iii) Países credores adultos -
Estado e do Capital, temos sempre de contar com o com excedentes na balança corrente em resultado do
Exterior. Há fluxos permanentes que se estabelecem afluxo de rendimentos provenientes de colocação de
entre os cidadãos de um país e os cidadãos do resto do capitais no exterior. Recordamos o que já dissemos sobre
mundo. Temos de considerar importações, exportações, os sistemas monetários e cambiais. Os pagamentos
transferências. Nesse sentido, as políticas económicas internacionais são feitos em divisas. Há um mercado de
têm de contar permanentemente com as relações divisas. Os câmbios podem ser flexíveis, estáveis ou
económicas internacionais e com as respetivas fixos e correspondem aos valores de uma divisa
consequências. Os pagamentos externos são registados expressos noutra divisa. O mercado de câmbios leva à
na Balança de Pagamentos, que envolve: A - Bens e fixação dos valores das divisas em razão da lei da oferta
Serviços - Mercadorias, Transportes e Seguros, Viagens e da procura, mas também da importância e da situação
e Rendimentos de Investimentos. B - Transferências - das economias em causa. A divisa portuguesa foi o
envolvendo movimentos privados e governamentais. C - Escudo Português até 1 de Janeiro de 1999 - passando a
Capitais e Ouro Monetário - considerando investimentos partir de então a ser o Euro, que já estudámos, cuja
privados diretos e outros movimentos de capitais, circulação efetiva ou introdução física ocorreu no dia 1
designadamente entre bancos centrais e os sistemas de Janeiro de 2002. Devemos precisar que o equilíbrio
bancários. A Balança de Pagamentos está por definição das finanças públicas e o equilíbrio das contas externas
sempre equilibrada, em razão do sistema de registo das são objetivos instrumentais, que têm de ser vistos em
partidas dobradas. São registadas a crédito as ligação com o crescimento económico e o
exportações de bens e serviços e as importações de desenvolvimento económico.
capitais. São registadas a débito as importações de bens e
serviços e exportações de capitais, bem como os afluxos
de reservas monetárias Quando há uma importação ou Com o Plano Delors (Abril de 1989) as Comunidades
compra de bens ou de serviços a dupla inscrição é feita Europeias lançaram o processo que culminaria no
do seguinte modo: a débito a título da importação de Tratado de Maastricht (adotado em Dezembro de 1991 e
bens e serviços, a crédito a título dos capitais que são entrado em vigor em 1 de Novembro de 1993) e na
pagos em contrapartida da compra. Se há uma troca de criação da UEM e do Euro. Aí se adotaram critérios de
bens ou serviços há dois registos a crédito e a débito convergência nominal tendentes à introdução da moeda
correspondentes aos bens e serviços trocados. Se há uma única: estabilidade do nível de preços, aproximação das
troca de ativos financeiros há dois registos a crédito e a taxas de juro de longo prazo dos níveis verificados nos
débito correspondentes aos capitais permutados. Para países com melhores resultados em termos de inflação,
aferirmos as situações de equilíbrio ou desequilíbrio, estabilidade da cotação da moeda e da disciplina das
devemos considerar as Balanças Sectoriais: (a) Balança finanças públicas, avaliada em termos de grandeza do
de mercadorias - correspondendo aos movimentos desequilíbrio do orçamento (défice não superior a 3% do
comerciais relativos a bens; (b) Balança de bens e PIB) e da dívida pública (não superior a 60% do PIB).
serviços - correspondendo ao conjunto das operações Em Maio de 1998 os chefes de Governo da Comunidade
comerciais, compra e venda de mercadorias e prestação confirmaram que a União Económica e Monetária
de serviços; (c) Balança corrente ou de transações (UEM) começaria a funcionar a 1 de Janeiro de 1999,
correntes - correspondendo às operações de bens e sendo o grupo fundador constituído por 11 países
serviços e às transferências correntes (p. ex. remessas de (Alemanha, Áustria, Bélgica, Espanha, Finlândia,
emigrantes); (d) Balança de base - correspondendo a França, Holanda, Irlanda, Itália, Luxemburgo e
todas as operações com exceção dos movimentos de Portugal). O Reino Unido e a Dinamarca fizeram uso da
capitais privados a curto prazo; faculdade que o Tratado lhes atribuía e ficaram de fora.
A Grécia e a Suécia não cumpriram os critérios de
convergência – vindo a Grécia a aderir posteriormente.
(e) Balança global - correspondendo a todas as Em 1 de Janeiro de 1999 foram fixadas definitiva e
operações com exceção das reservas monetárias. Um irrevogavelmente as taxas a que as moedas nacionais
País como Portugal tem uma longa tradição de foram substituídas pelo Euro. Hoje fazem, assim, parte
desequilíbrio na sua balança comercial, salvo no período deste sistema de “cooperação reforçada” 12 dos 25
do império no século XVI, no tempo do ouro do Brasil, Estados-membros. Se Portugal cumpriu à partida todos
no século XVIII, e durante a Segunda Grande Guerra, os requisitos de convergência nominal, a verdade é que
em virtude da venda de volfrâmio aos beligerantes. Nos quer a Bélgica, quer a Itália, quer a Grécia não
anos sessenta e setenta a balança de transações correntes cumpriram o limite da dívida pública de 60% do PIB, já
foi equilibrada com as remessas dos emigrantes que ultrapassavam os 100%. A posteriori veio a
portugueses na Europa. A doutrina distingue as seguintes verificar-se ainda que a Grécia não cumpriu também o
situações no tocante à situação das contas externas: (i) critério do défice orçamental. No caso português 1 Euro
Países jovens devedores - com balança corrente correspondeu a 200,482 escudos. Para servir de base à
deficitária, sendo subdesenvolvidos e estando União monetária foi criada uma estrutura de base federal
dependentes do investimento estrangeiros, de matérias- constituída pelo Banco Central Europeu (com sede em
primas e equipamentos do exterior; (ii) Países jovens Frankfurt) e pelos Bancos Centrais nacionais dos Estados
credores - com balança corrente excedentária, em razão membros da União - o Sistema Europeu de Bancos
dos saldos positivos da balança de mercadorias, que Centrais (SEBC). As vantagens da moeda única são de
sobrelevam as posições negativas correspondentes às dois tipos: eliminação dos custos de conversão de umas
saídas de rendimentos destinados a remunerar anteriores moedas nas outras para realizar transações internacionais
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(câmbios); a eliminação dos custos de incerteza quanto passa a ser de dois anos, com possibilidade de
aos câmbios futuros. Há também mais transparência e prolongamento, em casos devidamente justificados. Por
concorrência nos mercados. fim, prevê-se a existência de um mecanismo preventivo
que permita diferenciadamente aos Estados-membros
atingirem um equilíbrio ou um excedente orçamental,
Controlo e responsabilidades num caminho de sustentabilidade a médio prazo das
finanças públicas, bem como a vigilância reforçada para
Artigo 68.º
que a dívida se aproxime do valor de referência de 60%.
Controlo da execução orçamental Em 13 de Dezembro de 2007 foi assinado em Lisboa o
novo Tratado Reformador da União Europeia que visou
A desvantagem da moeda única resulta de os Estados superar o impasse gerado pela recusa de ratificação do
não poderem manipular os instrumentos monetários - Tratado Constitucional pela França e pela Holanda. A
taxas de juro de curto prazo e taxa de câmbio da moeda, principal alteração com consequências financeiras
para favorecer a competitividade das exportações. Como públicas é a respeitante ao regime de aprovação do
disse Pierre Werner, "o Euro constitui uma grande Orçamento da União ao qual passará a aplicar-se a regra
novidade nos mercados financeiros internacionais. da codecisão, deixando de haver a distinção de regime
Tornar-se-á, sem dúvida, uma moeda de reserva, sem entre despesas obrigatórias e não-obrigatórias.
aspirar necessariamente a um monopólio. A moeda única
no limiar do terceiro milénio é um grande resultado do Artigo 69.º
entendimento entre os homens" (1998). II. O Sistema de controlo da administração financeira do Estado
impropriamente designado Pacto de Estabilidade e
Crescimento foi adotado, no âmbito da aplicação do 1 — política económica define-se pelos seus
objetivos próprios, que correspondem à realização de
artigo 104º do TUE, para garantir a credibilidade do
Euro e consta de dois Regulamentos do Conselho da finalidades inerentes à alteração do modo como se
processa a produção e o consumo, enquanto a política
União Europeia relativos ao reforço da supervisão das
social tem em vista a repartição dos bens económicos –
situações orçamentais e à clarificação da aplicação do
na sociedade e pelas pessoas. Os instrumentos de
procedimento sobre os défices excessivos, bem como de
política económica terão, assim, de ser adequados,
uma Resolução do Conselho, adotada na Conselho
compatíveis e coordenados, de modo a poderem realizar
Europeu de Amesterdão de 17 de Junho de 1997. Não se
as finalidades a que se propõem. Nesse sentido, as
trata de um Pacto intergovernamental, mas de uma
políticas económicas pressupõem vários momentos,
Resolução política e de dois instrumentos técnicos
correspondentes ao planeamento, à decisão, à execução e
(Regulamentos CE nºs 1466/97 e 1467/97), que podem
à avaliação. No planeamento define-se o quadro
ser objeto de alteração. Estamos perante meios de
salvaguardar a solidez das finanças públicas na terceira temporal de ação, bem como os objetivos e os meios
adequados, em cada momento, às finalidades
fase da União Económica e Monetária, de forma a
previamente definidas. Na decisão, propriamente dita, é
reforçar as condições para a estabilidade de preços e a
utilizado o instrumento escolhido previamente –
garantir um crescimento sustentável conducente à
podendo o governo usar de um instrumento de natureza
criação de emprego. O objetivo visado de médio prazo é,
legislativa (dotado de generalidade e abstração), de
assim, o de alcançar posições orçamentais próximas do
natureza regulamentar, de natureza administrativa (ato
equilíbrio (“close to balance”) ou excedentárias, que
individual) ou de natureza técnica.Na execução estamos
permitirão aos Estados membros enfrentar as flutuações
perante a concretização das políticas – trata-se de adotar
cíclicas normais, mantendo o défice público abaixo do
um caminho, considerando as qualidades de cada uma.
valor de referência de 3% do PIB. No caso de
persistência de défice superior a 3% do PIB, não sendo a Por fim, temos a avaliação (interna ou externa) do modo
como se chegou à decisão e dos aspetos positivos e
situação considerada excepcional e temporária, o país
negativos da concretização da medida adotada, nas suas
fica sujeito a sanções pecuniárias, que podem assumir a
diversas implicações (económicas e sociais). De facto,
forma de uma multa de montante até 0,5% do PIB. De
para escolher os meios, deveremos ter em consideração
acordo com os regulamentos, os países do Euro
as lições da experiência e a necessidade de obter a maior
apresentarão programas de estabilidade, enquanto os
eficácia possível nas medidas adotadas. Tendo em conta
países não participantes na UEM continuarão a
o carácter variável da conjuntura económica e a
apresentar programas de convergência. Em 1997 falou-se
complexidade das escolhas das políticas económicas,
inicialmente apenas de um Pacto de Estabilidade, tendo,
verificamos que a estabilização económica constitui o
porém, prevalecido o ponto de vista segundo o qual o
fundamental objetivo na moderna política económica. A
Crescimento económico não poderia ficar arredado ou
estabilização conjuntural pode recorrer: às políticas
esquecido. Nesse sentido, ainda que timidamente, foi
monetárias (desde a criação de moeda ou da relação com
incluída a referência ao crescimento e à criação de
o sistema financeiro e bancário, até às políticas
emprego. Em finais de 2002, a Comissão Europeia,
cambiais), às políticas financeiras e orçamentais (ou de
perante os sinais de abrandamento e de recessão
finanças públicas) e às políticas de rendimentos e preços.
económicos veio a considerar a necessidade de os
Numa palavra, o objetivo global de estabilização ou de
regulamentos serem interpretados com inteligência e
regulação da conjuntura define-se como a conjugação de
flexibilidade, tendo em consideração as necessidades de
elevados níveis de emprego dos recursos produtivos,
combate à recessão, de investimento e de criação de
com uma estabilidade, segundo padrões
emprego, sem prejuízo do prosseguimento de um esforço
comparativamente aceitáveis, do nível geral de preços e
de médio. O prazo de correção deixa de ser de um ano,
com o equilíbrio de transações com o exterior.
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as situações macroeconómicas, dizer que os


Artigo 70.º instrumentos de política económica devem agir de modo
Controlo cruzado a drenar o excesso de procura – quer reduzindo (global
ou seletivamente) a despesa pública, em especial a
1 — As políticas monetárias e de crédito
corrente e de consumo, quer aumentando os impostos
constituem, no contexto europeu, instrumentos que estão
sobre o rendimento das pessoas singulares, prosseguindo
atribuídos essencialmente, depois dos Tratados da União
uma política de redução do rendimento disponível, de
Europeia (Maastricht, Amesterdão e Nice), ao Banco
moderação salarial (para evitar a espiral
Central Europeu e ao Sistema Europeu de Bancos
salários/preços/salários) ou criando emissões de dívida
Centrais. Desde a criação monetária relativa ao Euro até
pública, no sentido de limitar os meios monetários na
à definição das taxas de remuneração das aplicações de
posse do público. Note-se que as opiniões públicas
capital, estamos perante um instrumento que deixou de
contemporâneas revelam apetência para aceitarem, por
ser puramente nacional, ou invocável nesse exclusivo
exemplo, a redução das despesas militares, ao invés do
âmbito. Existe, pois, uma federalização das políticas
que acontece para as despesas sociais. Discute-se, ainda
monetárias na União Europeia. Estas articulam-se entre
se as políticas económicas poderão atuar através de um
si, deixando, por força da existência do mercado interno,
aumento dos impostos indiretos. A resposta é, em
da livre circulação de pessoas, mercadorias, serviços e
princípio, favorável, desde que se compreenda um risco
capitais, e do fim das fronteiras, de ser possível jogar
evidente e imediato, o de, num primeiro momento, o
internamente com as taxas de câmbio. Em face do que
aumento dos impostos sobre o consumo gerar aumento
foi dito, compreende-se a importância para a produção e
de custos e logo pressão sobre os preços. Numa palavra,
consumo de um acompanhamento permanente da
o aumento da taxa do imposto sobre o valor
evolução da moeda no âmbito da União Económica e
acrescentado (IVA) vai produzir num primeiro momento
Monetária e do Euro-grupo, que visa a estabilização
aumento de preços do lado dos custos, absorvido num
macroeconómica e o controlo dos preços. Eis porque a
segundo momento pela absorção do excesso de procura
governação económica da União Europeia se tornou da
existente, o que contribui positivamente para uma
maior importância, havendo complementaridade entre as
redução sustentada nos preços e para uma estabilização
competências do Banco Central Europeu e do Sistema
da conjuntura. Conjunturas depressivas - Já na fase baixa
Europeu de Bancos Centrais e as competências nacionais
do ciclo, caracterizada pela depressão económica
no âmbito das finanças públicas e dos rendimentos e
(slump), temos de contar com a tendência para a quebra
preços.
na produção e para o desemprego. Perante tais
2 políticas orçamentais (fiscal policies) articulam
circunstâncias, importará dizer que, nesta fase do ciclo,
receitas (tributárias, patrimoniais e creditícias) e
deveremos preocupar-nos com a reconstituição da
despesas públicas (correntes e de capital), considerando
procura efetiva global de modo a sustentar a criação de
a situação do equilíbrio e desequilíbrio substanciais das
riqueza, através do progresso da oferta. No tocante à
contas públicas. Nas despesas públicas refira-se os
tributação, deverá apontar-se para a redução das taxas
investimentos públicos, as subvenções ou as
dos impostos sobre as sociedades (IRC) – de modo a
transferências de capital em benefício das empresas
reanimar a vida económica e a permitir a recuperação
públicas ou dos particulares, variações de «stocks»
económica. Do mesmo modo, no tocante às políticas
administrados pelo Estado, pagamentos correntes de
monetárias as taxas de juro praticadas no sistema
bens e serviços, salários e remunerações pagas pelo
financeiro e bancário deverão sofrer redução, com vista
sector público. No campo das receitas fiscais temos os
à criação de incentivos ao investimento privado
impostos diretos sobre a riqueza ou sobre o rendimento
reprodutivo. Quanto às políticas cambiais, a
dos particulares e das empresas, impostos indiretos,
desvalorização de uma moeda relativamente às moedas
impostos aduaneiros e quotizações para a segurança
das economias concorrentes pode permitir aumentar a
social. Nas outras receitas públicas temos a emissão da
competitividade, uma vez que as exportações ficam mais
dívida e a contração de empréstimos públicos e a
baratas e as importações mais caras. Tudo aponta no
respetiva gestão, bem como a administração do
sentido de um aumento necessário da procura efetiva
património público. As políticas de rendimentos e preços
global, de modo a conseguir a reanimação da atividade
permitem-nos intervir quer na área da concertação com
económica e a criação de emprego. Nesse sentido se fala
os parceiros sociais no sentido da definição das
de políticas orçamentais que usam com especial cuidado
orientações respeitantes à evolução da massa salarial e
as despesas públicas – políticas de despesas
dos rendimentos dos trabalhadores, quer na defesa e
compensadoras, que visam superar as falhas verificadas
salvaguarda da concorrência e no controlo direto dos
no investimento da economia privada, fomento
preços nas diversas fases do circuito económico. Perante
monetário no sentido de contrariar uma conjuntura
os diferentes tipos de conjuntura económica contamos
deflacionista e défice sistemático, de modo a combater a
com uma panóplia muito ampla de instrumentos, aptos
recessão e a contrariar o desemprego persistente.
ou a contrariar as tensões inflacionistas ou a combater o
Conjunturas mistas - O êxito das políticas keynesianas,
desemprego. Conjunturas expansivas - Quando vimos os
depois dos anos trinta e sobretudo no pós-Guerra, gerou
ciclos económicos, verificámos que na fase alta,
a atenuação dos ciclos económicos. De facto, o uso de
caracterizada pela expansão (boom), teríamos de contar
instrumentos anti-cíclicos determinou que as depressões
com as tensões inflacionistas, por virtude da forte
acentuadas deixassem de ter lugar e que as fases
pressão exercida pela procura e pela aproximação do
expansivas deixassem de ser tão marcadas. Como vimos,
pleno emprego dos recursos produtivos. Perante este
os sucessos das políticas económicas anticíclicas durante
quadro, importará, recordando o que já estudámos sobre
os trinta gloriosos anos (1945-1975) determinaram o
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surgimento de novos fenómenos, como o da coexistência suscitariam o fenómeno de crowding out, segundo o qual
do desemprego e da inflação, ou estagflação, que se o aumento de despesa pública envolve o crescimento das
revelariam muito difíceis de debelar com recurso a taxas de juro no mercado financeiro resultante da
instrumentos tradicionais de política económica. Os procura de mais crédito pelo Estado para financiar o
choques petrolíferos de 1973 e de 1979 tornaram ainda défice orçamental, tendo como resultado a redução da
mais complexas as ações de governação económica. capacidade de investimento dos privados. A compressão
Artigo 71.º das despesas públicas seria necessária nesta perspetiva,
Controlo político quer pela redução dos encargos quer pela diminuição da
sua taxa de crescimento, de modo que seja inferior à do
1 — No âmbito do controlo político, a Assembleia produto nacional. O excedente orçamental tornar-se-ia,
da República acompanha a execução do Orçamento do assim, anti-inflacionista. Procura-se reduzir o
Estado e dos demais orçamentos da administração desequilíbrio dos recursos – o hiato inflacionista
central e da ECE e aprova a Conta Geral do Estado. (inflationary gap) - não já pela compressão da procura,
2 — O Governo informa anualmente a mas pelo aumento da oferta – meio de combater a
Assembleia da República dos programas de auditoria inflação a longo prazo. Numa conjuntura de estagflação,
que promove por sua iniciativa, no âmbito dos sistemas é indispensável usar com moderação e flexibilidade a
de controlo da administração financeira do Estado, política de despesas compensatórias, de modo a não
acompanhados dos respetivos termos de referência. agravar as tensões inflacionistas. Fala-se, por isso, de
3 — A Assembleia da República determina em “fine tuning” (sintonização fina), que obriga a um
cada ano ao Governo duas auditorias e solicita ao controlo muito apertado do uso dos instrumentos.
Tribunal de Contas a auditoria de dois organismos do Estamos perante situações dilemáticas, pelo que os
Sistema de Controlo Interno (SCI), sem prejuízo de instrumentos devem ser usados em doses tais que não
poder solicitar auditorias suplementares. permitam agravar o desemprego nem pôr em causa a
4 — Os resultados das auditorias a que se refere o estabilidade de preços. Refere-se, assim, as políticas de
número anterior são enviados à Assembleia da stop and go para significar a necessidade de articulação
República no prazo de um ano, prorrogável até 18 (policy mix) entre os instrumentos ligados à oferta de
meses, por razões devidamente justificadas. moeda e defendidos pelos monetaristas e supply siders e
5 — O Governo responde em 60 dias às os instrumentos orçamentais e fiscais da tradição
recomendações da Assembleia da República que keynesiana. Como o médico que sabe que um
incidirem sobre as auditorias referidas no n.º 3. determinado medicamento trata o coração, mas ataca o
estômago num doente que sofre das duas enfermidades,
Artigo 72.º é indispensável ministrar ora o tratamento para o
coração, ora o tratamento para o estômago, de modo que
Responsabilidade no âmbito da execução orçamental
o doente veja ambos os males tratados. Na conjuntura
1 — Os titulares de cargos políticos respondem atual, depois do «crash» do Outono de 2008, o tema da
política, financeira, civil e criminalmente pelos atos e austeridade obriga a dar atenção à metodologia do «fine
omissões que pratiquem no âmbito do exercício das suas tuning», uma vez que é indispensável articular o
funções de execução orçamental, nos termos da investimento reprodutivo, que visa superar o
Constituição e demais legislação aplicável, a qual desemprego, com a disciplina orçamental. Com efeito,
tipifica as infrações criminais e financeiras, bem como há que reduzir as despesas correntes primárias, que
as respetivas sanções. combater o desperdício, e proceder a uma ponderação
2 — Os dirigentes e os trabalhadores das rigorosa do investimento criador de emprego, traduzido
entidades públicas são responsáveis disciplinar, em sustentabilidade da procura efetiva global.
financeira, civil e criminalmente pelos seus atos e Artigo 74.º
omissões de que resulte violação das normas de Dever de informação
execução orçamental, nos termos do artigo 271.º da 1 —a compatibilidade de objetivos e de instrumentos
Constituição e da legislação aplicável. macroeconómicos assegura-se através de uma
3 — A responsabilidade financeira é efetivada articulação plurianual e de uma coordenação simultânea
pelo Tribunal de Contas, nos termos da respetiva de medidas e de resultados. Assim as políticas
legislação. económicas: (a) envolvem instrumentos monetários e
orçamentais; (b) são concebidas quer num horizonte
CAPÍTULO IV anual quer num horizonte plurianual; (c) procuram
contrariar o excesso de procura, a tendência para o
Transparência desemprego e o desequilíbrio das contas externas; (d)
consideram quer à evolução da oferta de moeda, quer à
Artigo 73.º situação da procura efetiva global; (e) reconhecem a
Dever de divulgação importância não apenas a situação macro e
microeconómica, mas, cada vez mais, a situação da
1 —O crescimento anormal da moeda existente coesão social, da confiança e do funcionamento da
produz graves distorções na utilização dos recursos, sociedade e do mercado. Vejamos sumariamente como
devendo definir-se uma faixa de crescimento monetário tal se opera. Orçamentos cíclicos - A experiência dos
ajustado ou ótimo em cada economia e conjuntura. países nórdicos aponta para a consagração de orçamentos
Aliás, nesta perspetiva os défices orçamentais cíclicos, concebidos de acordo com os momentos das
constituíram fatores de perturbação monetária – já que
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oscilações da conjuntura económica. Deste modo, na mas em títulos de trabalho, reembolsáveis num prazo
fase alta do ciclo haveria a constituição de excedentes, superior a 6 meses. Houve então uma drástica redução
segundo o critério do ativo de Estado - assente na da moeda em circulação, e a lógica da política de
distinção entre despesas e receitas correntes e de capital. circuito está no facto de os pagamentos em dinheiro
Tais excedentes de natureza corrente serviriam para serem feitos por virtude das amortizações dos títulos de
financiar um Fundo de Reserva, que permitiria preparar a trabalho, num momento em que a oferta da economia já
economia para a fase depressiva, simultaneamente que podia compensar a nova procura gerada pelos novos
contrariava o excesso de procura da fase expansiva. Pelo trabalhadores empregados. Trata-se de um exemplo que
contrário na fase baixa do ciclo haveria a possibilidade permite compreender a relação entre a oferta e a procura
de gerar défices, que permitiriam realizar despesas no estabelecimento dos equilíbrios macroeconómicos.
compensatórias para garantir uma procura efetiva global 4 — aumento da produção por via de um aumento
adequada à recuperação económica e a contrariar a da capacidade produtiva ou do aumento da
tendência para o desemprego. Os excedentes acumulados produtividade corresponde a dois tipos de objetivos de
no Fundo de Reserva iriam ser utilizados, havendo uma política económica – o desenvolvimento económico e
situação de equilíbrio das finanças públicas a médio social e o crescimento económico. No primeiro caso
prazo. Nestes termos, a Reserva funcionaria na estamos, normalmente, perante economias com reduzida
conjuntura depressiva como Fundo de Regularização. capacidade produtiva e baixa produtividade. Aí o
Note-se que o sucesso deste instrumento traduziu-se no objetivo consiste em fazer sair as economias do atraso e
desaparecimento dos ciclos económicos tradicionais, do subdesenvolvimento, através de reformas estruturais.
uma vez que a estabilização prevaleceu sobre os efeitos Mas não há políticas de desenvolvimento apenas nos
das oscilações conjunturais. Políticas discricionárias e países mais atrasados. Os países desenvolvidos também
estabilizadores automáticos - Enquanto nas políticas têm de aumentar a sua capacidade produtiva e melhorar
discricionárias os governos adotam-nas especificamente a produtividade por um processo de crescimento
para fazer face a uma determinada situação (aumento do contínuo e de desenvolvimento sustentável. Impõe-se
imposto sobre o rendimento das pessoas singulares em sempre a realização de um objetivo de transformação
conjuntura inflacionista por via da procura), os global de índole social – que tem a ver com as
estabilizadores automáticos atuam independentemente da qualificações, com a educação e a formação profissional,
fase em que nos situamos. com a proteção e salvaguarda do meio ambiente, com a
organização das instituições (governo, administração
2 Políticas mistas - A conjugação da redução
global ou sectorial das despesas públicas e do pública, justiça, tribunais). Como tem insistido Robert
agravamento dos impostos indiretos constitui um D. Putnam (1941), tratase de ligar o processo de
instrumento por excelência na situação atual. Chega-se à desenvolvimento à coesão social, tornando a pertença, a
conclusão de que o excedente ou o desequilíbrio se solidariedade e a autoestima, fatores de competitividade
conseguem à custa destes dois instrumentos, perante a e de progresso. E se falamos de coesão, temos de referir
atenuação dos ciclos clássicos. O excedente orçamental é as estruturas de distribuição de recursos. O objetivo
um meio clássico relativamente eficaz de realização de redistributivo (a justiça distributiva, de que falava
políticas anti-inflacionistas. No entanto, em muitos casos Aristóteles) implica uma melhoria nas quotas do produto
não é o excesso de procura, mas a insuficiência da oferta que são atribuídas nasociedade aos menos favorecidos.
que se faz sentir, o que também tem efeitos negativos Trata-se de alterar a maneira e o modo como o
nos preços. Nesse caso o Estado deve estimular a oferta rendimento de uma economia determinada é repartido na
dos sujeitos privados por meio de reduções de impostos sociedade, reduzindo as assimetrias de distribuição e de
ou de subsídios e subvenções – que provoquem direta ou partilha. Compreende-se, assim, que o desenvolvimento,
indiretamente aumento da oferta, pela produção de bens o crescimento e a redistribuição tenham de se realizar
e serviços, pela criação de infraestruturas pelo sector tendo em consideração a sustentação do capital social –
público ou pela importação de bens do exterior.— designadamente no tocante aos sentimentos de pertença
Compete ao membro do Governo responsável pela área e de confiança, à defesa da natureza e do ambiente
das finanças assegurar a disponibilização pública de humano, ao ordenamento do território, ao progresso
informação financeira consolidada relativa ao setor das tecnológico e ao desenvolvimento regional e
administrações públicas e por subsetor. descentralização.
3 Políticas de circuito - Em conjunturas onde Artigo 75.º
coexistem a inflação e o desemprego, torna-se necessário Dever especial de informação ao controlo político
criar conjuntos de medidas que permitam a conciliação
entre objetivos dilemáticos contraditórios. Exemplo 1 — O Governo disponibiliza à Assembleia da
deste tipo de atuação é a política levada a cabo na República todos os elementos informativos necessários
Alemanha dos anos trinta pelo Dr. Hjalmar Schacht para a habilitar a acompanhar e controlar, de modo
(1877-1970). Trata-se de uma política fechada, efetivo, a execução do Orçamento do Estado,
altamente protecionista, só compatível com um sistema designadamente relatórios sobre:
autoritário. Vai, no entanto, obter resultados importantes, a) A execução do Orçamento do Estado, incluindo
ao passar o desemprego de 6 milhões, em 1933, para 2 o da
milhões e meio, em 1934 – graças a um grande
segurança social;
programa de trabalhos públicos, que permitirá o
nascimento da rede rodoviária alemã. No entanto, o b) A utilização de dotações no âmbito do programa
pagamento dos trabalhadores não era feito em moeda, integrado na missão de base orgânica do Ministério das
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Finanças destinado a fazer face a despesas imprevisíveis dos do controlo da execução do Orçamento do Estado ao
e inadiáveis; longo do ano;
c) A execução do orçamento consolidado dos c) Quaisquer informações técnicas ou esclarecimentos
serviços necessários ao controlo da execução orçamental, à
e entidades do setor das administrações públicas; apreciação do Orçamento do Estado e do parecer sobre a
d) O volume e a evolução das cativações nos Conta Geral do Estado.
orçamentos das entidades que integram a administração
direta e indireta do Estado, desagregados por ministério, Artigo 76.º
por programa e por medida; Informação de atuação e aplicação de medidas corretivas
e) As alterações orçamentais aprovadas pelo
Governo; 1 — O incumprimento dos deveres constantes do
f) As operações de gestão da dívida pública, o presente título implica o apuramento das respetivas
recurso responsabilidades contraordenacionais, financeiras e
políticas.
ao crédito público e as condições específicas dos
empréstimos públicos celebrados nos termos previstos na 2 — A violação dos deveres a que se referem os
lei do Orçamento do Estado e na legislação relativa à artigos 73.º e 74.º determina a retenção parcial ou total
emissão e gestão da dívida pública; da efetivação das transferências do Orçamento do
Estado, até que a situação criada tenha sido devidamente
2 Os Estados modernos estão hoje confrontados
com problemas novos no campo das políticas sanada, nos termos a definir no decreto -lei de execução
económicas, em especial ligados a questões estruturais, orçamental, e a aplicação de contraordenações a definir
nas quais avultam a questão demográfica, a questão do em diploma próprio.
desequilíbrio entre a população ativa e os beneficiários 111560736
dos apoios sociais, o tema da destruição do meio
ambiente, bem como o da eficiência da administração Lei n.º38/2018
pública e dos serviços de interesse geral. Eis porque a de 7 de agosto
governação económica, isto é, a coordenação de
políticas económicas (v.g. de investimento e de criação
de emprego) deixa cada vez mais de ser problema de um Direito à autodeterminação da identidade de
género e expressão de género e à
só Estado, para exigir a articulação de instrumentos e proteção
objetivos entre diferentes Estados. A União Europeia das características sexuais de cada pessoa
terá de responder à necessidade de completar as
instituições e os instrumentos do Euro e da União A Assembleia da República decreta, nos termos da
Económica e Monetária com uma mais clara alínea c) do artigo 161.º da Constituição, o seguinte:
coordenação de políticas económicas e a afetação de
mais recursos à defesa dos interesses comuns. A moeda
única e o Sistema Europeu de Bancos Centrais CAPÍTULO I
constituem fatores importantes de cooperação reforçada, Disposições gerais
mas é manifestamente insuficiente, uma vez que falta a
coordenação das políticas económicas. Afinal, temos Artigo 1.º
uma União Monetária, mas falta ainda a União Objeto
Económica – que garanta a articulação entre os objetivos
respeitantes à estabilidade monetária e dos preços e à A presente lei estabelece o direito à autodeterminação
criação de riqueza, ao crescimento e ao da identidade de género e expressão de género e o direito
desenvolvimento. A crise financeira induzida pelo à proteção das características sexuais de cada pessoa.
referido «crash» do Outono de 2008 obrigará, no
entanto, a repensar o regime dos déficesexcessivos, Artigo 2.º
considerando a necessidade da adoção de medidas Proibição de discriminação
traduzidas em receita e despesa públicas para atacar a
grave situação da economia europeia. A estabilidade de 1 — Todas as pessoas são livres e iguais em
preços, a oferta de moeda, o pleno emprego, a eficiência dignidade e direitos, sendo proibida qualquer
das administrações fiscais, o equilíbrio das finanças discriminação, direta ou indireta, em função do exercício
públicas a médio e longo prazo e o equilíbrio das do direito à identidade de género e expressão de género e
relações externas vão exigir cada vez mais a cooperação, do direito à proteção das características sexuais.
a coesão económica e social e a articulação e a 2 — As entidades privadas cumprem a presente
complementaridade de esforços. lei e as entidades públicas garantem o seu cumprimento
3 — A Assembleia da República pode solicitar ao e promovem, no âmbito das suas competências, as
Tribunal de Contas: condições necessárias para o exercício efetivo do direito
à autodeterminação da identidade de género e expressão
a) Informações técnicas relacionadas com as de género e do direito à proteção das características
respetivas sexuais de cada pessoa.
funções de controlo financeiro;
Artigo 3.º
b) Relatórios intercalares e pareceres sobre os resulta-
Autodeterminação da identidade de género e expressão de género
Diário da República, 1.ª série — N.º 151 — 7 de agosto de 2018 3941

1 — O exercício do direito à autodeterminação da Artigo 7.º


identidade de género e expressão de género de uma Legitimidade
pessoa é assegurado, designadamente, mediante o livre
desenvolvimento da respetiva personalidade de acordo 1 — Têm legitimidade para requerer o
com a sua identidade e expressão de género. procedimento de mudança da menção do sexo no registo
2 — Quando, para a prática de um determinado civil e da consequente alteração de nome próprio as
ato ou procedimento, se torne necessário indicar dados pessoas de nacionalidade portuguesa, maiores de idade e
de um documento de identificação que não corresponda que não se mostrem interditas ou inabilitadas por
à identidade de género de uma pessoa, esta ou os seus anomalia psíquica, cuja identidade de género não
representantes legais podem solicitar que essa indicação corresponda ao sexo atribuído à nascença.
passe a ser realizada mediante a inscrição das iniciais do 2 — As pessoas de nacionalidade portuguesa e
nome próprio que consta no documento de identificação, com idade compreendida entre os 16 e os 18 anos podem
precedido do nome próprio adotado face à identidade de requerer o
género manifestada, seguido do apelido completo e do
número do documento de identificação.

Artigo 4.º
Proteção das características sexuais

Todas as pessoas têm direito a manter as


características sexuais primárias e secundárias.

Artigo 5.º
Modificações ao nível do corpo e das características
sexuais da pessoa menor intersexo

Salvo em situações de comprovado risco para a sua


saúde, os tratamentos e as intervenções cirúrgicas,
farmacológicas ou de outra natureza que impliquem
modificações ao nível do corpo e das características
sexuais da pessoa menor intersexo não devem ser
realizados até ao momento em que se manifeste a sua
identidade de género.

CAPÍTULO II
Reconhecimento jurídico da identidade de género

Artigo 6.º
Procedimento

1 — O reconhecimento jurídico da identidade de


género pressupõe a abertura de um procedimento de
mudança da menção do sexo no registo civil e da
consequente alteração de nome próprio, mediante
requerimento.
2 — O procedimento referido no número anterior
tem natureza confidencial, exceto a pedido da própria
pessoa, dos seus herdeiros, das autoridades judiciais ou
policiais para efeitos de investigação ou instrução
criminal, ou mediante decisão judicial.
3 — A mudança da menção do sexo no registo
civil e a consequente alteração de nome próprio
realizadas nos termos da presente lei só podem ser
objeto de novo requerimento mediante autorização
judicial.
4 — A decisão final sobre a identidade de género
de uma pessoa, proferida por uma autoridade ou tribunal
estrangeiro, de acordo com a legislação desse país, é
reconhecida nos termos da lei.

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