Presidência Da República
Presidência Da República
1 —.....................................
2 — Sem prejuízo do disposto no número
ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA anterior, os artigos 3.º e 20.º a 76.º da Lei de
Enquadramento Orçamental, aprovada em anexo à
Lei n.º 37/2018 presente lei, produzem efeitos a partir de 1 de abril de
2020.»
de 7 de agosto
recebimentos e pagamentos do Estado; Crédito: conjunto coercibilidade, ter dimensão adequada para responder a
de operações de endividamento e gestão da divida problemas complexos de big dimensão.
publica praticadas pelo Estado a fim de obter meios de 2 — Escola de escolha pública anos60 séc.XX
liquidez para a cobertura. Uni de Chicago, baseando-se nos princípios e
5 — OE: previsão da despesas a realizar pelo instrumentos que os economistas utilizavam para
Estado e dos processos de as cobrir, incorporadas à analisar atitudes dos sujeitos€ de mercado. Consideram
autorização concedida à Ad.F para cobrar receitas e existir incapacidades de mercado + falhas do governo.
realizar despesas e limitando os poderes financeiros da ANEXO
Ad em cada período anual.
6 — O Governo aprova a demais regulamentação (a que se refere o artigo 2.º) Lei
necessária à execução da Lei de Enquadramento
Orçamental, aprovada em anexo à presente lei. de Enquadramento Orçamental
Artigo 6.º
TÍTULO I
Base contabilística dos programas orçamentais
Objeto e âmbito
Ordenação€: estado define e executa os padrões e
quadros para quais vai desenvolver-se no Artigo 1.º
comportamento dos entes públicos como o dos sujeitos€;
Objeto
Atuação: estado age por si próprio, como se fosse sujeito
de dt.privado, formulando escolhas e opções A presente lei estabelece:
económicas, que não visam alterar comportamentos de
a) Os princípios e as regras orçamentais aplicáveis ao
outros sujeitos€, devendo estar sempre pautadas pela
defesa e salvaguardar o interesse publico; Intervenção: setor das administrações públicas;
estado tenta modificar a forma natural como os agentes€ b) O regime do processo orçamental, as regras de exe-
atuariam, pelas politicas€ e ações pontuais para melhorar cução, de contabilidade e reporte orçamental e
a eficiência€; Direção: característica dos sistemas financeiro, bem como as regras de fiscalização, de
coletivistas, o Estado modifica os quadros gerais da controlo e auditoria orçamental e financeira, respeitantes
ativ€, para substituir ao próprio mercado. ao perímetro do subsetor da administração central e do
subsetor da segurança social. Homem político age como
Artigo 7.º homo economicus pensando nas hipóteses que lhe
Norma revogatória oferece o mercado politico, assim como os agentes do
estado. Burocracia, centralismo, ineficiência resulta da
1 — É revogada a Lei n.º 91/2001, de 20 de
não consideração dos instrumentos inerentes à
agosto, alterada pela Lei Orgânica n.º 2/2002, de 28 de
ponderação de custos e benefícios e transparência nas
agosto, e pelas Leis n.os 23/2003, apenas nas económicas
decisões que constituem elementos que definem as
de mercado, a ordenação, atuação e intervenção do
falhas do governo. c) Para a escola da EP, os
Estado são compatíveis com a liberdade económica e
legisladores tenderiam a atuar de forma dispendiosa para
prevalência dos critérios de regulação ligados ao
os contribuintes, por haver poucos incentivos a uma boa
mercado.
gestão de interesse público. O certo é que, quanto
2 — Sem prejuízo do disposto no número
+rígido o sistema, +se torna vulnerável à intervenção dos
anterior, durante o prazo referido no n.º 2 do artigo
grupos de interesses e de grupos de pressão. A
seguinte mantêm- se em vigor as normas da Lei n.º
complexidade dos procedimentos, a falta de
91/2001, de 20 de agosto, As situações que seja possível,
transparência na sua condução favorece a opacidade.
para a provisão de needs de bens coletivos ou
financeiros, criar mecanismos de cooperação
(associações de socorro mútuos) ou de exclusão (corpo Artigo 2.º
de bombeiros privativo de uma empresa), a regra exige o Âmbito institucional
recurso a um poder de autoridade para produzir os bens 1 — O setor das administrações públicas abrange
indispensáveis à satisfação de needs coletivas. todos os serviços e entidades dos subsetores da
administração central, regional, local e da segurança
Artigo 8.º social, que não tenham natureza e forma de empresa, de
Entrada em vigor e produção de efeitos fundação ou de associação públicas.
2 — Sem prejuízo, Hirscham diz que a perda de
1 — A presente lei entra, para os entes públicos qualidade dos serviços públicos está na lealdade, voz ou
intervirem para socializar as exterioridades, criando saída das respostas para o declínio. Importa que os
infraestruturas, como estradas, canais, ou investindo na valores sociais, participação e projetos futuros
saúde, educação, ambiente. Visa a prossecução de funcionem como mobilizadores da mudança e da melhor
interesse geral, corresponde não só a uma duração satisfação das necessidades.
ilimitada ou à ausência de um horizonto temporal mas tb 3 — Dentro do setor das administrações a
uma capacidade para assumir risco superior à de outros participação de cidadãos e incentivo ao desenv dos
grupos contratuais, implica existir poder autoridade, que poderes locais e outros de controlo de sociedade civil
resulta capacidade de impor regras e assegurar seriam meios para romper com as falhas de internvenç
do gov e ineficiência do Estado e setor publico.
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4 — Integram ainda o setor das administrações 1 — O disposto no artigo anterior não prejudica o
públicas as entidades que, independentemente da sua os regime especial de autonomia administrativa e financeira
agentes€ conduzem a sua ação ao funcionam do mercado das instituições de ensino superior públicas, bem como
politico de eleições. James Bichanam e a escola: das suas unidades orgânicas, sendo aplicáveis as normas
intervenção e a regulação publica consigam eliminar legais específicas que confiram às instituições de ensino
essas áreas de perda absoluta de bem-estar, para superior públicas maior autonomia.
ultrapassar as falhas de mercado. 2 — O disposto nos n.os 4 e 5 do artigo 57.º não é
5 — Às entidades públicas, Estado, intervem na aplicável às instituições de ensino superior públicas.
económica para promoção da eficiência comprometida
com as falhas de mercado, necessidade de superação da
disparidade entre eficiência e bem-estar social, originada TÍTULO II
pela existência de exterioridades, ou exigência de Política orçamental, princípios e regras
superação da injustiça das preferências dos orçamentais e relações financeiras entre
consumidores ou das regras de distribuição de riqueza. administrações públicas
6 — O comportamento do Estado+ente vai refletir
os interesses e escolhas de um numero significativo de
pessoas e naturais resistências a mudanças que se CAPÍTULO I
traduzam em maior eficiência e racionalidade. Não Política orçamental
sendo a escolha publica individual, mas resulta da
convergência de vontades e interesses, com a imp da Artigo 6.º
ponderação da dimensão de mercado bem como dos Política orçamental
resultados.
1 — O quadro jurídico fundamental da política
Artigo 3.º orçamental e da gestão financeira, concretizado na
Âmbito orçamental e contabilístico
presente lei, resulta da Constituição da República
Portuguesa e das disposições do Tratado sobre o
1 — O orçamento da administração central integra Funcionamento da União Europeia, do Pacto de
os orçamentos dos serviços e entidades públicas e da Estabilidade e Crescimento em matéria de défice
Entidade Contabilística Estado, doravante designada por orçamental e de dívida pública e, bem assim, do disposto
ECE. no Tratado sobre a Estabilidade, Coordenação e
2 — Para efeitos da presente lei é criada a ECE, a Governação da União Económica e Monetária.
qual é constituída pelo conjunto das operações 2 — A política orçamental deve ser definida para
contabilísticas da responsabilidade do Estado e integra, um horizonte de médio prazo, conciliando as prioridades
designadamente, as receitas gerais, as responsabilidades políticas do Governo com as condicionantes que
e os ativos do Estado. Defesa do interesse geral: resultam da aplicação do disposto no número anterior.
considera virtualidades e limitações da atuação do
Estado. De um lado, temos a produção de bens públicos Artigo 7.º
e promoção de ativ criadores de exterioridades Conselho das Finanças Públicas
positivas,cdo outro, temos bloqueamentos inerentes ao
respeito da legalidade e transparência, à prestação de 1 — O Conselho das Finanças Públicas tem por
contas anual, à alternância do poder e existência de missão pronunciar- se sobre os objetivos propostos
ciclos eleitorais e assimetria e insuficiência informativas relativamente aos cenários macroeconómico e
inerentes à dimensão do estado. orçamental, à sustentabilidade de longo prazo das
3 — A gestão da ECE compete ao membro do finanças públicas e ao cumprimento da regra sobre o
Governo responsável pela área das finanças, saldo orçamental, da regra da despesa da administração
determinando que o interesse publico exija um esforço central e das regras de endividamento das regiões
redobrado de racionalização de modo a que os custos n autónomas e das autarquias locais previstas nas
excedam os benefícios e retificação das falhas de respetivas leis de financiamento.
mercado n origine falhas de intervenção. IP, corresponde 2 — A composição, as competências, a
ao bem comum=compatibilização entre a adequada organização e o funcionamento do Conselho das
satisfação indiv das needs, com alvaguarda da justiça Finanças Públicas, bem como o estatuto dos respetivos
distrib e interesse geral. membros, são definidos por lei.
Artigo 8.º
Artigo 4.º Previsões macroeconómicas
Valor reforçado
1 — As projeções orçamentais subjacentes aos
O disposto na presente lei prevalece sobre todas as documentos de programação orçamental previstos na
normas que estabeleçam regimes orçamentais presente lei devem basear- se no cenário
particulares que a contrariem. macroeconómico mais provável ou num cenário mais
Artigo 5.º prudente.
2 — Os documentos de programação orçamental
Autonomia administrativa e financeira das
instituições de ensino superior públicas devem incluir:
a) O cenário macroeconómico e orçamental, com ex-
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Artigo 13.º
CAPÍTULO II Equidade intergeracional
Princípios orçamentais 1 — A atividade financeira do setor das
administrações públicas está subordinada ao princípio da
Artigo 9.º equidade na distribuição de benefícios e custos entre
Unidade e universalidade gerações, de modo a não onerar excessivamente as
gerações futuras, salvaguardando as suas legítimas
1 — O Orçamento do Estado é unitário e expectativas através de uma distribuição equilibrada dos
compreende todas as receitas e despesas das entidades custos pelos vários orçamentos num quadro plurianual.
que compõem o subsetor da administração central e do 2 — O relatório e os elementos informativos que
subsetor da segurança social. acompanham a proposta de lei do Orçamento do Estado,
2 — Os orçamentos das regiões autónomas e das nos termos do artigo 37.º, devem conter informação
autarquias locais são independentes do Orçamento do sobre os impactos futuros das despesas e receitas
Estado e compreendem todas as receitas e despesas das públicas, sobre os compromissos do Estado e sobre
administrações regional e local, respetivamente. responsabilidades contingentes.
3 — A verificação do cumprimento da equidade
Artigo 10.º intergeracional implica a apreciação da incidência
Estabilidade orçamental orçamental das seguintes matérias:
1 — O setor das administrações públicas, a) Dos investimentos públicos;
incluindo todas as entidades e serviços que o integram, b) Do investimento em capacitação humana, cofinan-
está sujeito, na aprovação e execução dos respetivos ciado pelo Estado;
orçamentos, ao princípio da estabilidade orçamental. c) Dos encargos com os passivos financeiros;
2 — A estabilidade orçamental consiste numa
d) Das necessidades de financiamento das entidades
situação de equilíbrio ou excedente orçamental.
do
3 — A concretização do princípio da estabilidade
depende do cumprimento das regras orçamentais setor empresarial do Estado;
numéricas estabelecidas no capítulo III do presente e) Dos compromissos orçamentais e das responsabili-
título, sem prejuízo das regras previstas nas leis de dades contingentes;
financiamento regional e local. f) Dos encargos explícitos e implícitos em parcerias
público -privadas, concessões e demais compromissos
Artigo 11.º financeiros de caráter plurianual;
Sustentabilidade das finanças públicas g) Das pensões de velhice, aposentação, invalidez ou
outras com características similares;
1 — Os subsetores que constituem o setor das
administrações públicas, bem como os serviços e h) Da receita e da despesa fiscal, nomeadamente
entidades que os integram, estão sujeitos ao princípio da aquela
sustentabilidade. que resulte da concessão de benefícios tributários.
2 — Entende- se por sustentabilidade a
capacidade de financiar todos os compromissos, Artigo 14.º
assumidos ou a assumir, com respeito pela regra de saldo Anualidade e plurianualidade
orçamental estrutural e da dívida pública, conforme
estabelecido na presente lei. 1 — O Orçamento do Estado e os orçamentos dos
serviços e das entidades que integram o setor das
Artigo 12.º administrações públicas são anuais.
Solidariedade recíproca 2 — Os orçamentos dos serviços e das entidades
1 — A preparação, a aprovação e a execução dos que compõem os subsetores da administração central e
orçamentos dos subsetores que compõem o setor das da segurança social integram os programas orçamentais
e são enquadrados pela Lei das Grandes Opções em
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outros bens e serviços. Na ótica da despesa, os sujeitos€ qualquer ato orçamental e a lei devem os memos
vao consumir ou contribuir para a reprodução de ser considerados feridos inconstituconalmnte, que
riqueza, através de investimento. traduz na ilegalidade.
5 — São os investimentos que determinam Artigo 14.º
poupanças. A taxa de juro é o elemento essencial para a
Anualidade e plurianualidade
capitalização. Quanto maior a taxa, menor o valor de um
bem de capital. Indispensável encontrar uma taxa de juro 4 — Estado moderno: realidade heterógenea
que iguale o valor do acréscimo de bens de capital ao complexa, abrange a administração central e outros
seu custo – eficácia marginal do capital por Keynes. subsectores de setores públicos. ad.central: núcleo
6 — Lei do crescimento das despesas públicas, central da organização de uma sociedade politica, que
adolf wagner, que a medida que a riqueza de uma cabe prosseguir o interesse publico, através da afetação
sociedade aumenta, verificasse um crescimento de de recursos comuns e pelos meios de que dispõe,
dimensão do Estado e dos seus encargos. Caracterisitca influencia o Estado e a sociedade mercê da importância
das sociedades industriais mais desenvolvidas. do setor públicos, c ad de impostos nacionais e
i) Despesas correntes: n afetam o ativo patrimonial redistribuiç social.
duradouro do estado; ex: despesas com pessoal, 5 — Setor Publico Ad: central, desconcentrado ou
pagamento de juros de empréstimos; descentralizado, perante a atuação€ própria do Estado e
outras entidades€ n lucrativas. Prosseguir o interesse
j) Despesas de capital: afetam o ativo patrimonial do publico através de uma ativ que obedece a critérios
estado, aumenta ou reduz, ex: despesas de ligados à satisfação de needs da comunidade.
investimento em obras publicas 3 — Descentralização: autonomia institucional,
k) Despesas do OE: encargos da administração central financeira ou patrimonial e pode ser d.politica (forma
e transferências desta para outros setores. As de ad autonoma de base territorial), d.ad (existência
despesas estão sujeitas ao consentimento de pc de direito publico c funções ad, com relativa
parlamentar, principio da tipicidade quantitavia: autonomia , ainda q sujeitas a tutela ad e financeira.
existência de um limite constante do OE, que não 4 —D.ad: há orgânica/horizontal, organismos públicos
poderá ser ultrapassado por quem o de base n territorial que são investidos de poderes do
executa.Qualquer despesa para se realizar tem de estado e territorial/vertical, org de um espaco geográfico.
ser legal e ter cabimento orçamental. A descent distingue-se da d.ad, pq há autonomia, mas tao
l) Rceita pública: encargos condicionam a need de só aproximação da Ad.central dos administrados. Tamos
haver receitas sufi para prover tais needs, no perante órgãos do poder central/serviços da adcentral
entanto, o consentimentoabrage 2 autorizações, a que, por rzoes de funcionalidade, tem uma localização
de cobrar receitas e de realizar despesas. dispersa no território, sendo orientados para prossecução
m)Receitas funcionais a tipicidade qualitativa: receita do interesse geral do estado central numa certa área ou
autorizada e consentida deve ser especificada, n região, para população.
podendo ser cobrada se tal n acontecer de forma
suficientemente precisa, podendo a verba cobrada Artigo 15.º
ser superior ao que esta previsto. Não compensação
n) Contabilidade orçamental: há a c.pública e as receits+despesas devem ser incluídas no OE de um
c.nacional. Na pssagem de um para o outro dos modo pormenorizado para evitar existir opacidade e
sitemas registam-se os fluxos c base nas operações, garantir que os contribuintes saibam qual o destino dos
isto é, quando o valor€ é criado, transformado ou impostos que pagam.
extinto ou qnd se criam, modificam ou extinguem
1 — Todas as receitas são previstas pela
os dts e obri. Na c.p é registada aquando o ato de
importância integral em que foram avaliadas, sem
produção e n qnd é paga pelo comprador.
dedução alguma para encargos de cobrança ou de
o) Ajustamentos a fazer a cp: ajustamntos aos qualquer outra natureza.
impostos e contribuições, descontando-se as 2 — A importância integral das receitas tributárias
liquidações de impostos ou considerar incobrável; corresponde à previsão dos montantes que, depois de
Ajustamento os juros recebidos e pagos, e outros, abatidas as estimativas das receitas cessantes em virtude
como o saldo do serviço nacional de saúde. de benefícios tributários e os montantes estimados para
p) Leo é lei reforçada – conteudo substacial: deve ser reembolsos e restituições, são efetivamente cobrados.
respeitar pelas leis que sejam aprovadas no seu 3 — Todas as despesas são inscritas pela sua
âmbito, prevalecendo hierarquicamente. A violação importância integral, sem dedução de qualquer espécie,
da leo poderá dar lugar a uma ressalvadas as seguintes exceções:
inconstitucionalidade material, se entender que o
legislador ordinário n tinha liberdade p adotar a) As operações relativas a ativos financeiros;
outro caminho. OE é aprovado por lei, num b) As operações de gestão da dívida pública direta
sistema monista parlamentar, q tem uma natureza do Estado, que são inscritas nos respetivos programas
de lei-plano, com vigência anual, com autorização orçamentais, nos seguintes termos:
politica, jurídica e económica do governo, para i) As despesas decorrentes de operações de
cobrar receitas e realizar despesas concebendo e derivados
realizando uma politica de finanças publicas. Se
houver contradição entre uma lei do Oe ou
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financeiros são deduzidas das receitas obtidas com as 3 — As normas que, nos termos da alínea f) do
mesmas operações, sendo o respetivo saldo sempre número anterior, consignem receitas a determinadas
inscrito como despesa; despesas têm caráter excecional e temporário.
ii) As receitas de juros resultantes de operações
asso- Artigo 17.º
ciadas à emissão de dívida pública direta do Estado e ou Especificação
à gestão da Tesouraria do Estado são abatidas às
despesas da mesma natureza; 1 — As despesas inscritas nos orçamentos dos
iii) As receitas de juros resultantes das operações serviços e organismos dos subsetores da administração
asso- central e da segurança social são estruturadas em
ciadas à aplicação dos excedentes de Tesouraria do programas, por fonte de financiamento, por
Estado, assim como as associadas aos adiantamentos de classificadores orgânico, funcional e económico.
tesouraria, são abatidas às despesas com juros da dívida 2 — As receitas são especificadas por
pública direta do Estado; classificador económico e fonte de financiamento.
iv) As receitas de juros resultantes de operações 3 — São nulos os créditos orçamentais que
ativas da Direção -Geral do Tesouro e Finanças são possibilitem a existência de dotações para utilização
abatidas às despesas com juros da dívida pública direta confidencial ou para fundos secretos, sem prejuízo dos
do Estado. regimes especiais legalmente previstos de utilização de
verbas que excecionalmente se justifiquem por razões de
4 — A inscrição orçamental dos fluxos financeiros segurança nacional, autorizados pela Assembleia da
decorrentes de operações associadas à gestão da carteira República, sob proposta do Governo.
de ativos dos fundos sob administração do Instituto de 4 — A estrutura dos códigos dos classificadores
Gestão dos Fundos de Capitalização da Segurança orçamentais é definida em diploma próprio, no prazo de
Social, I. P., é efetuada de acordo com as seguintes um ano após a entrada em vigor da lei que aprova a
regras: presente lei.
a) As receitas obtidas em operações de derivados Artigo 18.º
financeiros são deduzidas das despesas correntes das
Economia, eficiência e eficácia
mesmas operações, sendo o respetivo saldo sempre
inscrito como receita; 1 — A assunção de compromissos e a realização
b) Os juros recebidos de títulos de dívida são de despesa pelos serviços e pelas entidades pertencentes
deduzidos dos juros corridos pagos na aquisição do aos subsetores que constituem o setor das administrações
mesmo género de valores, sendo o respetivo saldo públicas estão sujeitas ao princípio da economia,
sempre inscrito como receita. eficiência e eficácia.
2 — A economia, a eficiência e a eficácia
5 — O disposto nos números anteriores não prejudica consistem na:
o registo contabilístico individualizado de todos os
fluxos financeiros, ainda que meramente escriturais, a) Utilização do mínimo de recursos que assegurem
associados às operações nelas referidas. os
adequados padrões de qualidade do serviço público;
Artigo 16.º b) Promoção do acréscimo de produtividade pelo al-
Não consignação cance de resultados semelhantes com menor despesa;
c) Utilização dos recursos mais adequados para
1 — Não pode afetar- se o produto de quaisquer atingir
receitas à cobertura de determinadas despesas. o resultado que se pretende alcançar.
2 — Excetuam -se do disposto no número
anterior: a) As receitas das reprivatizações; 3 — Sem prejuízo do disposto nos números anteriores
a avaliação da economia, da eficiência e da eficácia de
b) As receitas relativas aos recursos próprios investimentos públicos que envolvam montantes totais
comuni- superiores a cinco milhões de euros, devem incluir,
tários tradicionais; sempre que possível, a estimativa das suas incidências
c) As receitas afetas ao financiamento da orçamental e financeira líquidas ano a ano e em termos
segurança social e dos seus diferentes sistemas e globais.
subsistemas, nos termos legais; Artigo 19.º
d) As receitas que correspondam a transferências Transparência orçamental
provenientes da União Europeia e de organizações
internacionais; 1 — A aprovação e a execução dos orçamentos
e) As receitas provenientes de subsídios, donativos dos serviços e das entidades que integram o setor das
e legados de particulares, que, por vontade destes, administrações públicas estão sujeitas ao princípio da
devam ser afetados à cobertura de determinadas transparência orçamental, nos termos dos números
despesas; seguintes e no Capítulo IV do Título VI.
f) As receitas que sejam, por razão especial, afetas 2 — A transparência orçamental implica a
a determinadas despesas por expressa estatuição legal ou disponibilização de informação sobre a implementação e
contratual. a execução dos programas, objetivos da política
Diário da República, 1.ª série — N.º 151 — 7 de agosto de 2018 3911
orçamental, orçamentos e contas do setor das 7 — Enquanto não for atingido o objetivo de
administrações públicas, por subsetor. médio prazo, as reduções discricionárias de elementos
3 — A informação disponibilizada deve ser fiável, das receitas públicas devem ser compensadas por
completa, atualizada, compreensível e comparável reduções da despesa, por aumentos discricionários de
internacionalmente, de modo a permitir avaliar com outros elementos das receitas públicas ou por ambos,
precisão a posição financeira do setor das administrações conforme definido no Pacto de Estabilidade e
públicas e os custos e benefícios das suas atividades, Crescimento.
incluindo as suas consequências económicas e sociais, 8 — Para efeitos do disposto nos números
presentes e futuras. 4 — O princípio da transparência anteriores, o agregado da despesa deve excluir as
orçamental inclui: despesas com juros, as despesas relativas a programas da
União Europeia e as alterações não discricionárias nas
a) O dever de informação pelo Governo à Assembleia despesas com subsídios de desemprego.
da República, no quadro dos poderes de fiscalização 9 — Para efeitos do disposto nos números
orçamental que a esta competem; anteriores, o excedente do crescimento da despesa em
b) O dever de informação financeira entre os subsetores; relação à referência de médio prazo não é considerado
c) O dever de disponibilização de informação à enti- um incumprimento do valor de referência na medida em
dade com competência de acompanhamento e controlo que seja totalmente compensado por aumentos de receita
da execução orçamental, nos termos e prazos a definir no impostos por lei.
decreto -lei de execução orçamental. 10 — A intensidade do ajustamento referido nos
números anteriores tem em conta a posição cíclica da
economia.
CAPÍTULO III
Artigo 21.º
Regras orçamentais Excedentes orçamentais
ordinárias e temporárias em matéria de receita tiver um jurídica e autonomia ad, financeira e patrimonial. Gestao
contributo negativo no saldo das administrações públicas de receitas próprias, pelo que a margem de manobra dos
de, pelo menos, 0,5 % do PIB, num só ano, ou responsáveis é maior do que a existente nos organismos
cumulativamente em dois anos consecutivos. dotados de mera autonomia ad. Aplica-se normas, como
encerramento da conta, duodécimos, registo de contratos
4 — Para efeitos de determinação de um desvio e cabimento das respetivas despesas, reescalonamento de
significativo não é considerado o previsto na alínea b) do compromissos, regime geral de autorização de despesas,
número anterior, se o objetivo de médio prazo tiver sido requisitos de autorização de despesas e processo
superado, tendo em conta a possibilidade de receitas específicos de realização de despesas, restituições e
excecionais significativas, e se os planos orçamentais reposições.
estabelecidos no Programa de Estabilidade não
colocarem em risco aquele objetivo ao longo do período Artigo 24.º
de vigência do Programa. Situações excecionais
5 — O desvio pode não ser considerado 1 – Subsetores ad: Ad.publica – ativ do estado que
significativo nos casos em que resulte de ocorrência visa realizar interesses gerais da sociedade concretizados
excecional não controlável pelo Governo, nos termos em objetivos definidos por via de autoridade, c
previstos no artigo 24.º, com impacto significativo nas orientações politicas e com subordinação a uma ordem
finanças públicas, e em caso de reformas estruturais que jurídica; Ad.Central autonoma; Segurança Social;
tenham efeitos de longo prazo na atividade económica, Ad.Regional; Ad.local
desde que tal não coloque em risco a sustentabilidade
orçamental a médio prazo. a) Setor empresarial publico: entidades intervientes que
6 — O reconhecimento da existência de um atuam no mercado, sob regras mercantis. São agentes
desvio significativo é da iniciativa do Governo, mediante ativos q asseguram o pleno funcionamento da
prévia consulta do Conselho das Finanças Públicas, ou
concorrência. EPE, ou pc de direito privado.
da iniciativa do Conselho da União Europeia, através da
apresentação de recomendação dirigida ao Governo, nos b) Subsetores financeiros: ADcentral conjunto de
termos do n.º 2 do artigo 6.º do Regulamento (CE) n.º serviços integrados, como o OE e CGE, que tem
1466/97, do Conselho, de 7 de julho de 1997. naturezas diversificadas, dotados de autonomia ad.
7 — Reconhecido o desvio significativo nos Estes serviços dispõem de créditos inscritos no OE e
termos do número anterior, é ativado o mecanismo de os seus dirigentes apenas tem poderes para praticar
correção constante do artigo seguinte.
atos necessários à autorização de despesas e o seu
Artigo 23.º pagamento.
Mecanismo de correção do desvio
2 — SegSocial: assume autonomia e peso
crescente, com entidades dotadas de um regime especial,
1 — Quando se reconheça a situação prevista no c naturza para-orçamental ou parafiscal, mas hj tem
n.º 3 do artigo anterior, o Governo deve apresentar à natureza orçamental e fiscal, integrada no OE. AR
Assembleia da República no prazo de 30 dias, um plano aprova anualmente o OE e o orçamento da segsocial,
de correção com as medidas necessárias para garantir o com regime especifico de preparação, aprovação e
cumprimento dos objetivos constantes do artigo 20.º execução para a coesão€ e social, do financiamento dos
2 — Autonomia ad aa: n corresponde a orçamento sistemas sociais e cobertura de riscos socais. Há
própria ou privativo. Define-se ao tocante aos créditos independencia orçamental, órgãos próprios p aprovação
ou dotações de despesa. Os serviços e organismos dos instrumentos financeiros e orçamentais e
dispõem de créditos inscritos no OE, e os seus dirigentes competências ad e f q podem ser exercidas com ampla
tem poderes para praticar atos necessários à autorização autonomia estratégica.
de despesas e pagamento, falando-se em atos deifinitivos 3 — Finanças autárquicas: adlocal é parte da
e executórios em matéria financeira. adautonoma c base territorial, com municípios,
3 — Atos financeiros: são internos e não visam concelhos e freguesias. CRP prevê a região ad como
primacialmente consequências na esfera jurídica dos autarquia local, mas falta considerar essa circunscrição.
administrados, tem de revestir a segurança jurídica, Perante a prossecução de fins públicos que se referem
designdam quanto à fundamentação, sujeitos ao CPA. aos interesses próprios da população de uma parte do
4 — AA exerce-se da gestão corrente que território nacional. A atividade local é exercida por
compreende todos os atos que integram a atividade que órgãos autónomos c responsabilidade numa certa
os serviços e organismos desenvolvem para a circunscrição t.
prossecução das suas atribuições, s/prejuízo dos poderes 4 — Finanças regionais: ad.regional –
de direção, supervisão, inspeção do ministro competente. adautonoma territorial, RA, prossecução de fins públicos
5 — A autonomia ad e financeira é apenas com interesses próprios de população e território. Ativ f
aplicável aos IP q tem forma de serviços personalizados reg é exercida por órgãos autnomis c responsabilidade
do estado e fundos públicos. Os serviços da Ad.central numa cirsc. Há independencia f, com existência de
só pode dispor deste regime quando se justifique tal receitas próprias e consagração de um regime de
gestão, desde que as suas receitas próprias atinjam um aprovação por órgãos próprios dos instrumentos
mínimo de 2/3 das despesas totais. financeiros.
6 — Do Programa de Estabilidade constam: os
organismos autonomias dispõem de personalidade Artigo 25.º
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tem duas vertentes: a do saldo total, na qual as receitas aprova o OE por lei formal, em nome de uma
efetivas devem ser superiores às receitas não efetivas; e legitimidade originária, que concede ao poder legislativo
a do saldo primário, que se reporta apenas às a primazia sobre o poder executivo. E é essa primazia
necessidades líquidas de financiamento, excluindo os que constitui pedra angular do Estado democrático e do
encargos correntes da dívida pública (juros). sistema de legitimidade representativa. Plano€: há uma
7 Ativo do Estado: correntes as operações que não previsão de objetivos e metas com carácter imperativo
alteram o ativo patrimonial duradouro do Estado para os órgãos e agentes do Estado, que estão obrigados
(despesas: pagamento de funcionários, juros; receitas: a cobrar as receitas tipificadas e previstas, ainda que o
impostos, rendimento patrimoniais). de capital as valor possa ser superado, e a realizar as despesas até ao
operações que afetam o património duradouro do Estado limite autorizado de modo especificado. A estabilização
(despesas: investimentos reprodutivos; amortização de da conjuntura € e a regulação social que ela comporta
empréstimos; receitas: contração de dívida pública, traduz-se na necessidade de articulação entre a decisão
venda de património). Há défice sempre que para pagar política e a eficiência material. O caráter imperativo
uma despesa corrente tivermos de recorrer a uma receita referido tem a ver c a subsidiariedade da ação pública
de capital. Ex: se contraí 2 empréstimos no valor de 100 relativamente aos mecanismos espontâneos de regulação
unidades monetárias, não haverá défice se essas 200 económica (os mercados). A imperatividade visa limitar
unidades forem destinadas a despesas de capital a atuação do Estado e salvaguardar a defesa dos
(amortização de empréstimos ou realização de interesses dos contribuintes e da sociedade em que se
investimentos). Mas se pagar com 50 unidades despesas integram. d) No plano jurídico, a lei do
correntes, então essa será a medida do défice. OE tem a natureza de uma lei-plano. não estamos
8 — Orçamento ordinário:vigor em pt ate 60 do perante leis-medida, com carácter concreto e aplicáveis a
secXX, distinguem-se despesas e receitas ordinárias e uma determinada situação, uma vez que as leis do OE
extraordinárias.ordinárias aquelas cuja utilidade se visam regular para o futuro, com uma certa estabilidade,
esgota num exercício orçamental ou as que se repetem a estrutura e a conjuntura económicas. Há, assim, nestas
de uma forma regular ao longo dos anos (despesas: leis-plano um carácter de generalidade, ainda que com
pagamento de funcionários, juros; receitas: impostos, vigência limitada no tempo. Não se tratando de uma lei
rendimento patrimoniais). extraordinárias aquelas material geral e abstrata, o certo é que tem algumas
operações cuja utilidade se prolonga para além de um características da lei, uma vez que regem ou influencia,
exercício orçamental ou as que não se repetem de forma geral, direitos, obrigações e outras situações
regularmente ao longo dos anos (despesas: amortização jurídicas, instituindo mecanismos de imperatividade,
de empréstimos; receitas: contração de dívida pública, obrigatoriedade contratual, de estímulo ou de
venda de património). Existe uma grande subjetividade e desincentivo. O destinatário da autorização e do
flexibilidade na consideração destas operações, o que consentimento não é, assim, apenas o Governo, já que os
permite a sua manipulação. Há défice sempre que para cidadãos em geral e os contribuintes em particular vão
pagar uma despesa ordinária tivermos de recorrer a uma ver a sua situação influenciada pela ação inerente à vida
receita de extraordinária. orçamental do Estado. Uma lei-plano visa, assim,
9 — Quaisquer matérias compreendidas na fase condicionar o quadro jurídico e económico com carácter
de votação na especialidade da proposta de lei do de generalidade. Estamos perante uma lei formal com
Orçamento do Estado podem ser objeto de avocação algumas características que a aproximam da lei material
pelo Plenário da Assembleia da República, nos termos (mesmo que não refiramos as normas definidoras de
previstos no respetivo Regimento. regimes jurídicos concretos incluídas nas leis do OE e
que beneficiam de “boleia orçamental” ou dos
CAPÍTULO III “cavaleiros orçamentais” e que são verdadeiras leis
materiais).
Processo orçamental em situações especiais e) A lei-plano é, assim, no caso do OE, uma lei material
especial consequências na esfera do Estado, uma vez que
Artigo 39.º o gov detém poderes de execução orçamental, e também
Prazo de apresentação e votação da proposta de dos particulares. As leis do OE visam regular para o
lei do Orçamento em situações especiais
futuro, com uma certa estabilidade, a estrutura e a
1 — O prazo referido no artigo 36.º não se aplica nos conjuntura económicas, através da definição do quadro
casos em que: financeiro público. TÍTULO IV
a) A tomada de posse do novo Governo ocorra Sistematização da lei do Orçamento
entre 15 de julho e 30 de setembro;
b) O Governo em funções se encontra demitido em
do Estado e estrutura do
1de outubro; Orçamento do Estado
c) O termo da legislatura ocorra entre 1 de outubro
e 31 de dezembro CAPÍTULO I
pelo gov ate 15 de abril dos docs: atualização anual do orçamental. As tarefas de despesas de investimento
programa de estabilidade e proposta de lei das grandes cabem ao ministério do planeamento e infraestruturas,
opções em materia de planeamento e programação como agencia de desenv e coesão.e as tarefas ao orç de
orçamental plurianual. segsocial ao instituito de gestão dos financeira da
g) AR procede à apreciação no prazo de 10 dias a segsocial
contar da apresentação. GOv envia à comissão europeia a) A evolução e o aperfeiçoamento das técnicas de
a atualização do programa de estabil te final de abril. planeamento e de gestão têm determinado a utilização de
h) AR aprova lei das grades opções ate 30 dias, vários processos de racionalização orçamental,
senco estruturada com identificação e planeamento das b) Orç funcionais. agrupar as despesas segundo as
opções da politica€, programação plurianual para os funções materiais do Estado. é possível deste modo
subsetores da ad central e segsocial. definir prioridades e reforçar a despesa em certos
i) Gov elabora e apresenta ao parlamento ate 1/10 domínios em detrimento de outros.ex: nas despesas
de cada ano, a proposta da lei do OE para o ano€ sociais poderemos, de acordo com a situação da
seguinte. Ar39 economia e o nível de desenvolvimento privilegiar a
j) Votação da proposta de leo no prazo de 45 dias Educação e a Formação ou a Saúde, Mas numa
apos data de admissão da AR. Exceço arts.168/4. A economia de guerra ter-se-á que valorizar as despesas de
votação na especialidade da proposta decorre na Defesa Nacional. E assim também é possível avaliar
comissão parlamentar e tem por objeto o articulado, os melhor os resultados obtidos, através de uma análise
mapas contabilísticos e demonstrações orçamentais e integrada
financeiras. c) ) Orç de programas e de atividades, para quebrar
k) Alterações da proposta do Oe: orçamento os compartimentos estanques dos Ministérios ou das
retificativo quando n haja aumento global de despesas funções do Estado poderemos elaborar o Orç segundo
nem crescimento do defic orçamental. Orçamento uma lógica de Programas (de desenvolvimento de uma
suplementar quando haja aumento global etc. região ou de uma atividade). A crp prevê este método,
Artigo 43.º com um fim de maior eficácia e racionalização. Os
Demonstrações orçamentais e financeiras Programas integram medidas, projetos ou ações e
permitem um melhor planeamento económico.
As demonstrações orçamentais e financeiras a que se d) Sistemas de gestão por objetivos (MBO):
refere a alínea c) do artigo 40.º são as seguintes: aplicação dos métodos das empresas privadas ao Estado
a) Demonstração consolidada do desempenho foi concretizada na Administração dos E.U.A., A gestão
orçamental, preparada segundo a contabilidade por objetivos (MBO, management by objectives), posta
orçamental para os subsetores da administração em prática durante a Administração de Richard Nixon,
central e da segurança social, onde se demonstre o baseia-se na definição dos fins da atividade nos
cálculo dos saldos orçamentais; diferentes níveis, sendo as decisões coordenadas
b) Demonstração consolidada do desempenho globalmente em função da sua compatibilidade, eficácia
orçamental de cada missão de base orgânica, e dos recursos existentes, num horizonte de curto (1 ano)
preparada segundo a contabilidade orçamental, onde ou de médio prazo (5 anos), dando origem à definição de
se demonstre o cálculo dos saldos orçamentais; estratégias e à avaliação de resultados. Este método pode
c) Demonstração do desempenho orçamental, articular-se com o anterior (programação por objetivos).
preparada segundo a contabilidade orçamental, para o e) Orç de base zero. Para evitar os efeitos
subsetor da segurança social; perversos da inércia administrativa e burocrática, exige
d) Estimativas para o ano em curso para as que os poderes Legislativo e Executivo e a
demonstrações indicadas nas alíneas anteriores; Administração procedam a uma reavaliação periódica
e) Plano de recursos humanos e respetivo das necessidades a cargo do Estado de 5 em 5 anos, para
orçamento; que se privilegiem as prioridades da política económica
em detrimento dos desperdícios.
f) Demonstração da evolução da dívida direta do
Estado por instrumento; f) Orç de tarefas. sistema rudimentar, assente na
justificação proveniente dos serviços em relação às
g) Dotações para pagamentos de cada programa
atividades que lhes cabem e que favorece a inércia
orçamental, desdobradas pelas respetivas ações;
burocrática.
h) Demonstrações financeiras consolidadas para os
subsetores da administração central e da segurança g) Orç de resultados/ “performance budget”
pretende complementar a execução e a avaliação. Ao
social, contendo uma estimativa para a execução do
avaliar os resultados, pretende reorientar a previsão para
ano em curso.
as zonas de maior eficácia.
Artigo 44.º h) PPBS. A Administração de John Kennedy, sob
Vinculações externas e despesas obrigatórias influencia de Mcnamora concebeu a previsão e a gestão
1 — A inscrição das despesas e das receitas nos orçamentais articulando diversos níveis de decisão
mapas contabilísticos tem em consideração: estratégica. Estamos perante o “Planning, programming
and Budgeting System”. O sistema comporta três fases:
Os trabalhos preparatórios tendem à elaboração do OE a do planeamento, que consiste na definição de objetivos
relizados no nucelo da ad financeira do estado pelo da ação governamental no horizonte de 20 anos; a da
direção geral do orç, ministério das finanças, entidade q programação, que comporta a análise dos programas e a
centraliza e coordena as ações de preparação e execução definição dos instrumentos que visam prosseguir os
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operações específicas do Tesouro (OET). Estas OET investido de jus imperii. O domínio privado é, assim,
correspondem a movimentações de fundos destinados a constituído pelos bens que a Administração adquire em
assegurar a gestão da tesouraria ou a prestação de condições que, em princípio, são reguladas pelo direito
serviços a entidades que disponham de contas na DGTF, privado. Estes bens são alienáveis, penhoráveis,
devendo destinar-se: a assegurar a gestão de fundos a prescritíveis e expropriáveis, devendo ser
cargo do Tesouro; a antecipar a saída de fundos desamortizados, isto é, deverão ser alienados desde que
previstos no Oe com vista à satisfação oportuna de não sirvam à realização dos fins do Estado.
encargos orçamentais; bem como a antecipar fundos
previstos no Orçamento da União Europeia ou às 8 balanço do Estado é um documento síntese da
autarquias locais e regiões autónomas; além de outras situação patrimonial, avaliando, segundo grandes
situações devidamente justificadas que tenham rubricas, o seu ativo e passivo e apurando a respetiva
consagração nas leis do OE. situação líquida final, ativa ou passiva. Trata-se de um
documento elaborado no âmbito da Direcção-Geral do
4 antecipações de fundos são excecionais e Orçamento no qual se confrontam os valores globais do
dependem da existência de disponibilidades na ativo e do passivo patrimonial do Estado com referência
Tesouraria. Também em regra as OE devem ser a um momento dado
regularizadas no ano económico em que tiverem lugar,
ressalvados os casos em que seja permitida a transição SECÇÃO II
de ano económico. Importa ainda referir que o registo
das operações de tesouraria é organizado de acordo com Conteúdo dos orçamentos da Entidade
o Planos Oficiais de Contabilidade Pública, geral Contabilística Estado e demais
(POCP) e setoriais. entidades públicas
Artigo 49.º
5 Quando referimos do inventário patrimonial do
Estado estamos a falar de um registo de elementos que Orçamento da Entidade Contabilística Estado
constituem o ativo do património do Estado, ou uma 1 — No orçamento da ECE são inscritas,
parte significativa dele, determinada em função da nomeadamente:
afetação ou da natureza dos bens. Estamos perante
diversos inventários de base: de bens móveis e de a) controlo financeiro e orçamental corresponde a
material, dos automóveis do Estado e dos bens imóveis. três tipos de ação. Em primeiro lugar, há o controlo
político, que cabe aos parlamentos. Entre nós é a AR que
tem esse poder, correspondente à responsabilidade que o
6 Os monumentos nacionais, os edifícios onde Executivo tem perante os representantes dos cidadãos. O
que funciona a Administração, as estradas, as escolas controlo parlamentar corresponde à aprovação das
públicas, os hospitais públicos são integrantes desse contas públicas (Conta Geral do Estado), que deve ser
património imobiliário. Mas com a tendência para a precedida de um parecer do Tribunal de Contas, mas
desmaterialização patrimonial, temos ainda, com cada também ao acompanhamento permanente que o
vez mais importância, o património mobiliário parlamento faz da atividade financeira do Estado.
constituído por títulos de participação no capital das
sociedades comerciais (ações e quotas) ou por títulos de b) Esta responsabilidade política pode, em última
crédito (obrigações) do Estado ou das empresas. Os análise, conduzir à aprovação de um voto de
monumentos, o mar territorial, a costa marítima, as redes desconfiança. As despesas com aplicações financeiras do
de comunicações (estradas, vias hidrográficas, canais), Estado, encargos da dívida, dotações específicas,
os aeroportos e os quartéis militares estão sujeitos ao financiamento do setor empresarial do Estado,
regime especial de domínio público. O domínio público transferências para as demais entidades públicas,
é, assim, constituído pelas coisas, e direitos sobre elas, transferências que resultam de imperativos legais e
submetidas por lei ao domínio do Estado e subtraídas ao vinculações externas, incluindo aquelas que se destinam
comércio jurídico privado, devido à sua utilidade a outros subsetores das administrações públicas.
coletiva. O domínio público poderá ser natural (hídrico,
aéreo e mineiro) e artificial (circulação, comunicações, c) o controlo jurisdicional que é exercido pelo
monumentos culturais e artísticos e bens militares). Tribunal de Contas e sobre o qual falaremos a seguir. O
Trata-se de bens inalienáveis, subtraídos ao comércio Tribunal de Contas é um verdadeiro tribunal, integrado
jurídico-privado, imprescritíveis, impenhoráveis, no poder judicial, podendo julgar as contas que a lei
inexpropriáveis e não oneráveis. Apenas as pessoas determina, bem como as responsabilidades financeiras
coletivas territoriais dispõem de domínio público decorrentes de infrações financeiras, em sentido estrito.
(Estado, regiões autónomas e autarquias locais). Por fim, temos o controlo administrativo que cabe ou aos
próprios órgãos da Administração que executam o
7 Quando o Estado recebe uma herança de um Orçamento (Direcções-Gerais, institutos públicos) ou
particular ou quando entra na titularidade de um bem aos órgãos de controlo interno (Inspeções-Gerais), a
imóvel nos mesmos termos que um particular, estamos quem está confiada a tarefa de realizar ações de auditoria
no domínio privado, cujo regime é o do direito privado, ou de controlo, de carácter diferente do controlo externo
sendo o Estado ou demais entes públicos em pé de do Tribunal de Contas. Enquanto neste caso a entidade
igualdade dos sujeitos privados, isto é, sem estar fiscalizadora é independente do Governo e da
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Administração, no primeiro caso é uma entidade sujeita Tribunal de Contas, órgão jurisdicional que dirime e
ao poder hierárquico do Executivo. julga questões ligadas ao litigio ente o estado e os
particulares suscitados ex officio por imposição da lei ou
Responsabilidade financeira: art72 princípio da por atuação do Ministério Público, como representante
responsabilidade pelos atos de execução orçamental. dos interesses do Estado ou como defensor da legalidade,
Deste modo, quando um titular de cargo político ou arrancando de um intuito de proteger o interesse público,
um funcionário e agente do Estado ou das demais com verificação da responsabilidade de particulares, em
entidades públicas pratique um ato de execução regra conexos com o interesse público porque seus
financeira pública, violando a lei, prevê-se que fique responsáveis de autoridade, funcionários, agentes ou
sujeito a sanções ou, pelo menos, obrigado a proceder mesmo beneficiários de dinheiros públicos.
a uma reparação em consequência do ato praticado. a) Cabe em exclusivo ao Tribunal de Contas a
1- A responsabilidade pela prática de atos efetivação de responsabilidades financeiras decorrentes
financeiros é uma das consequências da produção da prática de atos ilegais ou irregulares de gestão e
de atos financeiros ilegais ou irregulares. utilização de dinheiros e valores públicos. jurisdição ou
Enquanto no tocante ao valor jurídico do ato pode o poder de julgar foi alargado a todas as entidades que
cominar-se a sua inexistência, invalidade, utilizem ou beneficiem de fundos públicos,
ineficácia ou mera irregularidade, já no que se independentemente da sua natureza, privada ou pública,
refere ao agente que o praticou há que prever as e ainda a todos os gestores de dinheiros ou valores
sanções ou outras consequências que decorram da públicos, deixando assim de haver sectores que escapem
violação da lei. ao controlo financeiro e jurisdição do Tribunal. Por
a) Responsabilidade política: acionada essencialmente outro lado, todos os juízes do Tribunal sem exceção,
pelo Parlamento, dando origem a um eventual juízo incluindo os membros da 2ª secção, ou câmara de
político de censura, que pode ir até à demissão do Auditoria (que não o tinham), foram investidos de
gov, pelo funcionamento dos mecanismos poderes jurisdicionais, podendo por isso aplicar sanções
constitucionais ou à realização de inquérito em primeira instância, o que reforçou claramente os
parlamentar 117º, nº 1, 190º e 191º da CRP poderes de responsabilização, de dissuasão e pedagógico
b) Responsabilidade criminal: há a distinguir os do Tribunal de Contas.
crimes de responsabilidade (em que incorrem os b) Orçamento da despesa, especificado por
titulares de cargos políticos, por atentarem contra o programa, por fonte de financiamento, e por
disposto na legislação da contabilidade pública, contra classificação económica e funcional;
a propriedade da Administração e a guarda e correta c) O Tribunal de Contas tem três secções ou
utilização dos dinheiros públicos) — 117º e 130º da câmaras centrais e duas secções ou câmaras regionais
CRP bem como os crimes financeiros consagrados na (Açores e Madeira). À 1ª secção cabe a fiscalização
lei penal prévia (visto) e a fiscalização concomitante (realizada
c) Responsabilidade civil — aqui está em causa a durante a vida da operação sujeita a controlo). A 2ª
reparação indemnizatória dos prejuízos causados ao secção é de Auditoria ou de fiscalização sucessiva. A 3ª
Estado e outras entidades públicas pela prática secção é a câmara de julgamento da responsabilidade
culposa de atos financeiros ilegais. financeira. O Tribunal de Contas é hoje um verdadeiro
d) Responsabilidade disciplinar — aplica-se aos tribunal, integrado no poder judicial, com estatuto
agentes administrativos ou a outros entes sujeitos a idêntico ao dos restantes tribunais superiores (Supremo
poder disciplinar, qualificando nalguns casos a lei Tribunal de Justiça, Tribunal Constitucional e Supremo
financeira determinados comportamentos como Tribunal Administrativo). O visto, já referido, é uma
passíveis de procedimento disciplinar, além dos que condição de eficácia dos atos que carecem da sua
constam nas leis gerais — designadamente no emissão – tendo a recusa carácter de caso julgado, como
Estatuto Disciplinar dos Agentes do Estado noutras decisões judiciais, o que lhe confere uma
e) Responsabilidade financeira stricto sensu — em inequívoca natureza jurisdicional. Também os juízes da
certos casos, a lei obriga à reintegração dos fundos câmara de auditoria têm hoje competências
públicos objeto de prática ilegal ou irregular por parte jurisdicionais, podendo aplicar diretamente multas.
das entidades responsáveis. Estamos perante uma Demonstrações financeiras previsionais, sendo a res-
«responsabilidade distinta das anteriores, petiva regulamentação aprovada por decreto -lei;
designadamente pelo carácter misto (punitivo e d) Plano de investimentos, por fontes de
reintegratório) e pelo facto de se referir ao valor dos financiamento,
fundos que foram colocados em risco pelo ato
praticado ou que deste foram objeto. Estamos perante sendo a respetiva regulamentação aprovada em decreto -
o julgamento de contas ou a prestação de contas, pelo lei.
que a prova sobre o modo como foram utilizados os
dinheiros públicos cabe a quem tem a seu cargo a Artigo 51.º
respetiva utilização (como no caso do fiel Orçamento da segurança social
depositário). 1 — O orçamento do subsetor da segurança social
Artigo 50.º apresenta:
Orçamento das entidades públicas
a) As receitas, especificadas por classificação
As entidades integradas no subsetor da administração económica, para o total do subsetor por sistema e
central apresentam: subsistema;
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b) As despesas, especificadas por classificação O que realmente se verifica é que a lei coloca a
económica, para o total do subsetor por sistema e cargo do responsável, desde que em funções, o
subsistema; ónus de provar que agiu sem culpa, o que não
c) As despesas do subsetor, especificadas por deve estranhar-se porquanto, também no
programa domínio da responsabilidade civil contratual, a
e por classificação funcional, as quais são igualmente lei estabelece uma presunção de culpa do
especificadas por sistema e subsistema e total do devedor (cf. Art.º 799º do Código Civil).
subsetor; d) As receitas cessantes do subsetor da d) Por seu lado, os casos em que o Tribunal de
segurança social; Contas pode aplicar multas, por infrações de
e) As despesas de administração por classificação natureza financeira ou seja: não liquidação,
eco- cobrança ou entrega nos cofres do Estado das
nómica e orgânica. quantias devidas; violação das normas sobre a
elaboração e execução dos orçamentos, bem
2 — O orçamento da segurança social contempla como sobre a assunção, autorização ou
ainda: pagamento de despesas públicas; falta de
efetivação ou retenção indevida dos descontos
a) A responsabilidade financeira é pessoal legalmente obrigatórios a efetuar ao pessoal;
(solidária ou subsidiária), não recaindo sobre violação de normas legais ou regulamentares
órgãos ou serviços. A obrigação de repor relativas à gestão e controlo orçamental, de
dinheiros gastos de modo ilegal ou irregular tesouraria e de património; adiantamentos por
constitui a forma mais comum de efetivação da conta de pagamentos nos casos não
responsabilidade financeira. Estão em causa expressamente previstos na lei, utilização de
empréstimos públicos em finalidade diversa da
três situações: alcance, desvio de dinheiros ou
legalmente prevista, bem como ultrapassagem
outros valores e pagamentos indevidos. Mas dos limites legais da capacidade de
pode, ainda o Tribunal de Contas condenar o endividamento e utilização indevida de fundos
responsável a repor todas as importâncias não movimentados por operações de tesouraria para
arrecadadas em prejuízo do erário público nos financiar despesas públicas.
casos de prática, autorização ou sancionamento e) Para além destas situações, o Tribunal de
doloso que impliquem a não liquidação, Contas pode ainda aplicar multas perante a falta
injustificada de remessa de contas, da sua
cobrança ou entrega de receitas em violação remessa tempestiva ou de apresentação com
das normas legais aplicáveis. deficiências tais que impossibilitem ou
b) A efetivação da responsabilidade é feita por gravemente dificultem a sua verificação; falta
sentença condenatória do Tribunal de Contas, injustificada de prestação tempestiva de
proferida em coletivo e com respeito pelo documentos que a lei obrigue a remeter, de
princípio do contraditório. O Tribunal pode informações pedidas, de remessa de documentos
relevar ou reduzir a responsabilidade financeira solicitados ou de comparência para prestação de
quando se verifique negligência, «devendo fazer declarações; falta injustificada da colaboração
constar da decisão as razões justificativas da devida ao Tribunal; inobservância dos prazos
redução ou relevação». responsabilidade recai legais de remessa ao Tribunal dos processos
sobre o «agente ou agentes da ação ou seja, relativos a atos ou contratos que produzam
sobre a pessoa a quem o facto ilícito é efeitos antes do visto; introdução nos processos
imputável e, subsidiariamente, sobre os de elementos suscetíveis de induzirem o
membros dos órgãos de gestão administrativa e Tribunal em erro (Art.º 66º).
financeira ou equiparados, exatores dos f) Estas multas têm um limite máximo e as
serviços, organismos e outras entidades sujeitas previstas no Art.º 65º o montante equivalente a
à jurisdição do Tribunal de Contas, se forem metade do vencimento líquido anual dos
estranhos ao facto, quando por «permissão ou responsáveis ou, quando os responsáveis não
ordem sua, o agente tiver praticado o facto sem percebam vencimentos, a correspondente
se verificar a falta ou impedimento daquele a remuneração de um diretor-geral.
que pertenciam as correspondentes funções»; TÍTULO V
quando «por indicação ou nomeação sua, pessoa
já desprovida de idoneidade moral, e como tal Execução do Orçamento do Estado e
reconhecida, haja sido designada para o cargo processo de revisão e alteração
em cujo exercício praticou o facto»; e quando orçamental
«no desempenho das suas funções de
fiscalização que lhe estiverem cometidas, CAPÍTULO I
houverem procedido com culpa grave,
nomeadamente quando não tenham acatado as
recomendações do Tribunal em ordem à
existência de um controlo interno»
c) Na responsabilidade pelos alcances não há a
consagração de uma responsabilidade objetiva.
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d) Permitir a reconciliação diária entre a suscetível dessa repercussão. No entanto, nenhum destes
informação critérios parece ser satisfatório, uma vez que há impostos
bancária e a contabilidade por fonte de financiamento. indiretos que dão lugar a processos administrativos de
liquidação (direitos aduaneiros), havendo impostos
2 — As entidades públicas elaboram, também, diretos que são repercutíveis (IRC, por exemplo). Nesse
orçamentos de tesouraria que garantam os objetivos sentido, parece ser de adotar o critério económico de
previstos nas alíneas a) e d) do número anterior. Alfred de Foville (1842-1913), que consiste em entender
3 — O orçamento de tesouraria é mensal, com os impostos diretos como aqueles que tributam a riqueza
previsão deslizante para os doze meses seguintes, e é enquanto fenómeno constante ou permanente e os
remetido mensalmente à ECE. indiretos como os que atingem manifestações
4 — A realização de qualquer despesa à qual esporádicas ou ocasionais de riqueza. Em regra, verifica-
esteja consignada determinada receita fica também se que os sistemas fiscais dos países mais desenvolvidos
condicionada à cobrança desta receita em igual montante tendem a privilegiar os impostos diretos, através dos
ou à sua liquidação, devendo a programação do quais pode realizar-se melhor a justiça distributiva. A
pagamento, nestas circunstâncias, estar associada à data moderna reflexão sobre os impostos vem, no entanto,
da sua efetiva cobrança. salientando que a tributação indireta pode também
compatibilizar eficiência e equidade, uma vez que quem
Artigo 56.º tem maiores rendimentos vai realizar maior volume
Execução do orçamento da segurança social
bruto de consumos. Apesar de tudo, a propensão
marginal para consumir é maior nos detentores de
1 — Incumbe ao Instituto de Gestão Financeira da rendimentos mais baixos. a tributação indireta continua a
Segurança Social, I. P. (IGFSS, I. P.), a gestão global da ter um peso significativo enquanto a tributação direta
execução do orçamento da segurança social, no respeito atinge sobretudo os trabalhadores por conta de outrem,
pelo disposto na presente lei e nas normas enquanto as profissões liberais e as atividades por conta
especificamente aplicáveis no âmbito do sistema de própria tendem a encontrar formas diversas de escapar à
segurança social. progressividade do sistema, tornando-o tendencialmente
2 — Atendo-nos aos impostos, devemos referir as regressivo..
distinções entre tributação real e pessoal, bem como 4 — justiça fiscal é o 1º requisito de um sistema
entre tributação direta e indireta. impostos reais os que tributário, uma vez que este deve garantir uma
atendem à natureza e ao valor da riqueza tributada, sem distribuição equitativa de sacrifícios e uma repartição
consideração relevante à pessoa do titular. impostos equilibrada de recursos, em nome da coesão social. Para
pessoais os que ainda que tributem o rendimento ou o que haja justiça é indispensável respeitar os seguintes
património levam em consideração a situação pessoal do princípios: legalidade, segundo o qual o imposto deve
contribuinte que aufere esse rendimento (casado ou ser estabelecido por lei emitida pelo Parlamento,
solteiro, com ou sem filhos) (cf. Ibidem). No primeiro segundo o consentimento democrático; generalidade
caso, temos o IVA (imposto sobre o valor acrescentado) tributária, que determina q todos os residentes de um
que apenas atende ao valor em causa num ato de certo país estejam sujeitos ao pagamento de impostos
consumo ou numa transação; no segundo, temos o IRS segundo critérios gerais; capacidade fiscal, de acordo
(imposto sobre o rendimento das pessoas singulares), com o qual cada um deve ser tributado na medida das
que constitucionalmente é concebido para atender suas capacidades”). Cada cidadão contribuinte deve
expressamente à situação pessoal do contribuinte. A contribuir para a satisfação das needs públicas e para o
tributação pessoal é indício de racionalidade e de justiça bem comum na medida das respetivas capacidades. Se já
fiscal, razão pela qual deve: atingir globalmente a falámos da “justiça distributiva”, que corresponde à
riqueza ou o rendimento do contribuinte; incidir sobre a teoria da repartição e que se liga a uma lógica de
riqueza geral ou efetiva; garantir a progressividade, em redistribuição inerente ao moderno Estado Social, temos
nome da justiça distributiva; atender à situação familiar de referir, a “justiça comutativa”, correspondente à
do cidadão contribuinte. teoria do benefício. cada contribuinte paga na medida
3 — distinção entre impostos diretos e indiretos em que beneficia mais dos serviços públicos. Os
pode fazer-se de acordo com diferentes critérios. contratualistas, Locke, defendiam esta perspetiva, a qual
Segundo um critério administrativo, os impostos diretos pode levar a um sistema regressivo em que os maiores
atingem diretamente a riqueza, através da elaboração de rendimentos são mis aliviados marginalmente do que os
um rol administrativo e os impostos indiretos atingem menores. Esta questão leva-nos ao debate sobre os
indiretamente a riqueza considerada, sem essa sistemas de taxas na tributação, distinguindo-se a
discriminação. Segundo o critério jurídico, formulado tributação regressiva, proporcional e progressiva.
por Otto Mayer (1846- 1924), o imposto direto é Enquanto a tributação regressiva corresponde à
precedido de um processo administrativo de lançamento aplicação da teoria do benefício (pagam mais em
e liquidação, no qual se determina quem é o proporção os rendimentos mais baixos, mais
contribuinte, qual a matéria coletável e qual a prestação dependentes do Estado); a tributação proporcional, típica
devida (coleta); o imposto indireto não careceria de dos regimes liberais, aplica uma mesma percentagem
processo administrativo. Segundo os critérios (v.g. 10%) a todos os rendimentos, o que é menos
económicos, o imposto direto incide sobre situações de chocante do que no primeiro caso, ainda que não permita
ser ou estar, enquanto os indiretos incidem sobre uma redução das desigualdades; a tributação progressiva
situações de fazer. Para outros, o direto não é suscetível pretende redistribuir ou repartir sacrifícios ou recursos,
de repercussão fiscal, enquanto o imposto indireto é seguindo as conclusões da escola marginalista, já que o
Diário da República, 1.ª série — N.º 151 — 7 de agosto de 2018 3928
sacrifício imposto aos maiores rendimentos corresponde ordem jurídica financeira pública. Por outro lado,
à diferença que existe no nível de satisfação de em consequência da legalidade específica deve ser
necessidades consoante haja maiores ou menores respeitado o cabimento orçamental, segundo
rendimentos. — As entradas e saídas de fundos do
Sistema de Segurança Social são efetuadas através do requisito indispensável para a realização da
IGFSS, I. P., diretamente ou por intermédio de entidades despesa pública.
colaboradoras, onde se mantêm depositados os seus 6- síntese e tal como já vimos as receitas públicas
excedentes e disponibilidades de tesouraria. estão sujeitas à tipicidade qualitativa, segundo a
Artigo 57.º
qual a discriminação das diferentes receitas é
Receitas próprias obrigatória, não podendo ser cobrada a que não
1 — progressividade pode ser contínua ou por estiver expressamente referida e autorizada (se
escalões e pode ser, em teoria, limitada ou ilimitada. No durante um ano é criado um novo imposto, é
caso da progressividade contínua, a qualquer variação do obrigatória a alteração da Lei do Orçamento
valor tributado corresponde uma variação da taxa de prevendo-o expressamente). No entanto os valores
imposto. No caso da progressividade por escalões fixam- referidos na Lei do Orçamento são indicativos,
se patamares (de 100 u.c. a 150; de 151 a 200, etc.) a
cada um dos quais se aplica uma mesma taxa. No caso podendo ser ultrapassados. Já no caso das despesas
do IRS em Portugal aplica-se um sistema de escalões. A públicas a tipicidade é quantitativa, além da
progressividade não é aplicada sem limites, já que se o discriminação obrigatória o valor máximo
fosse verificar-se-ia a partir de determinado limiar a indicado para o item em causa não pode ser
aplicação de uma taxa de 100%. Nesse sentido, até certo ultrapassado. Quando a despesa ultrapassa a
valor de rendimentos ou não há imposto ou há uma taxa autorização diz-se que estamos em situação de
proporcional, a partir desse limiar há significativas
variações de taxas, acima de um montante já elevado, a alcance que dá lugar a infração financeira e à
taxa volta a ser proporcional, qualquer que seja o aplicação de sanção pelo Tribunal de Contas.
montante tributável. CAPÍTULO II
2 — São entidades com autonomia especial para a
gestão da receita: Regime transitório de execução orçamental
4 receitas públicas estão sujeitas a alguns Artigo 58.º
princípios gerais, devendo destacar-se: a legalidade - que
Regime transitório de execução orçamental
determina que as receitas tributárias apenas possam ser
criadas ou alteradas por Lei da Assembleia da 1 — A vigência da lei do Orçamento do Estado é
República; a renovação anual, segundo a qual sem prorrogada quando se verifique:
autorização orçamental anual não há possibilidade de
cobrar receitas legitimamente; o cumprimento do a) A rejeição da proposta de lei do Orçamento do
consentimento parlamentar; a não dedução das despesas Estado;
de cobrança; a não consignação à realização de despesas b) A tomada de posse do novo Governo, se esta
pré-consideradas; a unidade de tesouraria (também tiver
decorrente da não consignação), que impede a afetação ocorrido entre 1 de julho e 30 de setembro;
de determinada receita à realização de determinada c) A caducidade da proposta de lei do Orçamento
despesa, dando lugar a contas separadas; e à submissão a do
um regime especial de cobrança de dívidas do Estado, Estado em virtude da demissão do Governo proponente;
através do processo de execuções fiscais, que tende a d) A não votação parlamentar da proposta de lei do
tornar-se especialmente utilizado com este fim.— Os Orçamento do Estado.
serviços e as entidades referidos nos números anteriores
utilizam prioritariamente as suas receitas próprias não 2 — A prorrogação da vigência da lei do
consignadas por lei a fins específicos para a cobertura Orçamento do Estado abrange o respetivo articulado e os
das respetivas despesas. correspondentes mapas, bem como decretos- leis de
s despesas públicas deverão ser realizadas com execução orçamental.
respeito de princípios muito claros, em especial o 3 — A prorrogação da vigência da lei do
da legalidade, que decorre do consentimento dos Orçamento do Estado não abrange:
contribuintes, mercê da aprovação orçamental, a) As autorizações legislativas contidas no seu
mas essa legalidade é mais ampla do que o mero articu-
respeito da Lei Orçamental (ou legalidade lado que, de acordo com a Constituição ou os termos em
específica), deve respeitar a ordem jurídica do que foram concedidas, devam caducar no final do ano
económico a que respeitava a lei;
Estado de Direito. Estamos, deste modo, perante o
b) A autorização para a cobrança das receitas cujos
primado da lei (“rule of law”), pedra angular das re-
sociedades abertas. Numa palavra, a legalidade das gimes se destinavam a vigorar apenas até ao final do ano
despesas públicas deve ser genérica e específica, económico a que respeitava aquela lei;
deve respeitar o ordenamento jurídico geral e a
Diário da República, 1.ª série — N.º 151 — 7 de agosto de 2018 3929
(5) ou K∆I (5. 100) = ∆R (500). A propensão semelhante; se há dívidas a saldar, também o efeito
marginal para o consumo corresponde à parte que se reduz; o mesmo acontecendo em situação de
numa unidade adicional de rendimento é orientada grande desemprego com predomínio de
para o consumo. A propensão marginal para a rendimentos de subsistência ou no caso de
poupança corresponde à parte restante numa substituição de despesas (em que o Estado substitui
unidade adicional de rendimento, que vai para a o investimento privado, não se gerando
poupança. Deste modo: 1 = pmc+pmp, no exemplo rendimentos adicionais).
dado 1 = 4/5 + 1/5. Portanto, sendo o acréscimo de g) efeitos económicos das receitas públicas:
rendimento de 500, perante o acréscimo inicial de 1. Amortização do imposto - nos impostos que
investimento de 100, verifica-se que essa relação incidem sobre o valor patrimonial dos bens
de 1 para 5 revela o multiplicador, cujo valor (5) é duradouros (v.g. imóveis, ou móveis sujeitos a
o inverso da propensão marginal para a poupança registo) ou sobre o respetivo rendimento,
(1/5). O efeito do acelerador, primeiro formulado verifica-se que os impostos provocam uma
por Albert Aftalion (1874-1956), liga-se modificação no valor de utilidade subjetiva e
diretamente ao efeito do multiplicador, ainda que no valor de mercado desses bens subjetivos.
numa perspetiva diferente e complementar, Intuitivamente, verificamos que comparando
relaciona a intensidade da procura de bens finais e dois imóveis do mesmo valor, um sujeito a
a procura derivada de bens de investimento ou imposto e outro isento, o segundo tem um
intermédios. Enquanto o multiplicador relaciona valor superior.
investimento e rendimento, o acelerador parte do 2. Remoção do imposto - quando há um aumento
aumento da procura para o acréscimo de de impostos o contribuinte toma uma de duas
investimento. Suponhamos uma unidade da atitudes: ou resigna-se a ter uma redução do
indústria têxtil que tem 100 teares, que permite a rendimento disponível ou vai tentar
produção de 300 mil peças de tecido. reconstituir o rendimento, para que o
Consideramos ainda que a amortização do rendimento disponível não seja inferior ao que
investimento feito nos teares é de 1/10 por ano. tinha antes do agravamento tributário. A
e) Num primeiro momento a procura aumenta 10% segunda opção corresponde à remoção (o
(mais 30 mil peças de tecido). Para fazer face a advogado recebe mais clientes e termina mais
esse aumento é necessário adquirir mais dez teares, tarde o seu dia de trabalho, p. ex.).
o que aumenta o investimento de 100% (10 mil 3. Difusão do imposto - continuando no exemplo
unidades de conta, que se somam à amortização do aumento do imposto, o contribuinte vai
anual). Num segundo momento a procura aumenta difundir o efeito da redução do poder de
9% (mais 30 mil peças). É preciso adquirir mais compra, reduzindo o consumo de bens,
dez teares. Mas o investimento adicional é nulo, começando nos supérfluos, mas depois
pois é idêntico ao do período anterior. Por fim, o chegará aos essenciais. Há, assim, uma
aumento da procura é de apenas 4% (mais 15 mil repercussão negativa na procura com
peças). Então precisamos de comprar mais cinco repercussão na oferta e no investimento
teares. Mas há uma redução em 25% no 4. Repercussão do imposto - Neste caso, o
investimento adicional. Fala-se de efeito acelerador contribuinte exonera-se do sacrifício fiscal
pela comparação com a aceleração no motor do transferindo-o para outros que com ele entrem
automóvel. Também aí o acelerador começa por em relação. Deste modo, o contribuinte de
dar um movimento uniforme ao veículo, mas se direito (o comerciante, p. ex.) transfere para o
formos tirando o pé pode funcionar como travão. contribuinte de facto (o consumidor) o tributo
Conclui-se que há uma desproporção entre a pago. A repercussão pode ser progressiva ou
intensidade da procura dos bens finais e a procura descendente (quando o sujeito económico que
derivada de bens intermédios. A procura de bens está mais perto da produção transfere o
intermédios acelera ou desacelera a um ritmo sacrifício para quem está mais distante - o
diferente da procura dos bens finais. preço final é acrescido do imposto pago) e
f) Acrescentamos, apenas, que se tem tentado regressiva ou ascendente (no caso de um
conjugar o multiplicador e o acelerador através de imposto de consumo sofrer aumento e para
um outro instrumento de análise teórica - o evitar perder clientes o produtor ou o
oscilador Partindo de um aumento inicial de comerciante suportam esse sacrifício adicional
consumo ou de investimento conjugamos os - tudo se passa como se o consumidor
aumentos sucessivos de rendimento, consumo e transferisse o imposto para o produtor ou para
investimento. Um investimento inicial gera o intermediário).
rendimentos multiplicados e consumo. Estes 5. Quanto às receitas creditícias, temos a referir
induzem novos investimentos acelerados, e assim os respetivos efeitos no momento da emissão
sucessiv. Há ainda a referir as "fugas" ou dos empréstimos – que são diretos: obtenção
"filtrações" destes efeitos, eles só funcionam de receitas; e indiretos: novas despesas, que
plenamente em economias fechadas. Por outro permitem financiar; e os efeitos no momento
lado, a propensão marginal para poupar pode ser do reembolso – transferências que beneficiam
nula, limitando drasticamente o efeito os prestamistas e aumentam a procura. No
multiplicador; a preferência pela liquidez também tocante ao crédito interno ou externo, enquanto
pode ser excecionalmente alta, produzindo efeito no primeiro caso a obtenção de recursos pode
Diário da República, 1.ª série — N.º 151 — 7 de agosto de 2018 3931
aumentar o investimento (agindo os produtores quer no real de bens e serviços; por um aumento de custos; ou
mercado de fatores quer no mercado de produtos), o que por via da importação. As três causas não se excluem
induz um aumento de rendimento, criando, assim, mutuamente e normalmente conjugam-se, obrigando a
condições para que a procura efetiva global sustente uma que as políticas económicas anti-inflacionistas recorram
situação de equilíbrio. O nível de emprego revela-se a instrumentos de efeitos diversificados. Numa outra
essencial para a compreensão de uma determinada tipologia, encontramos causas internas e externas,
realidade económica. E compreende-se que assim seja resultantes do funcionamento da economia e das
em virtude não apenas da capacidade de utilização dos relações desta com o exterior; psicológicas e reais,
recursos disponíveis, mas também em razão da emergentes das expectativas dos sujeitos ou das
necessidade de prosseguir objetivos de coesão social. As circunstâncias objetivas da economia; monetárias ou não
três formas de desemprego que a doutrina considera são: monetárias, conforme tenham ou não a ver com a
o desemprego friccional, correspondente às situações em procura de moeda; bem como as que tenham a ver com o
que os trabalhadores passam de um emprego a outro crescimento da oferta ou da procura. Se considerarmos a
(mantendo-se, por isso, a utilização do fator humano inflação por excesso de procura, encontramo-nos perante
disponível); o desemprego acidental, que se reporta a um um processo que se origina na incapacidade da oferta de
situação momentânea e passageira em que o trabalhador bens e serviços para satisfazer a procura. Nesse sentido,
se vê incapacitado para a vida ativa (dando lugar a uma as conjunturas expansivas são tendencialmente
nova ocupação a prazo curto); e o desemprego estrutural, inflacionistas. O excesso de procura pode ser, contudo,
em que há o declínio de determinados sectores e regiões, global ou sectorial. Se os agentes económicos aplicam as
com uma desocupação duradoura e com repercussões disponibilidades entesouradas ou beneficiam do aumento
sociais graves. Há ainda o desemprego conjuntural, em de circulação da moeda operado pelo sistema bancário,
que o fenómeno é generalizado, mas devido a problemas por força do crescimento das despesas públicas e das
momentâneos e superáveis. Por fim o desemprego despesas privadas financiadas pelo crédito bancário,
sazonal é o que se refere a determinados períodos do ano então poderemos ter uma situação de excesso global de
(época baixa do turismo, Inverno na agricultura), procura. Esse processo desenvolver-se-á se a oferta de
estando ligado a situações naturais. A medida do bens e serviços não puder acompanhar o crescimento da
desemprego é feita através da taxa de desemprego, que procura no período em causa - quer por utilização plena
corresponde à percentagem da população ativa que não da capacidade produtiva, quer em virtude do pleno
tem emprego. Esta taxa refere-se, porém, apenas ao emprego, quer ainda por insuficiência nas existências ou
desemprego involuntário - contando apenas aqueles que nos "stocks" ou até por impossibilidade de recurso à
procuram emprego. Os custos do desemprego são importação. O excesso de procura pode, todavia, ocorrer
económicos e humanos. No primeiro caso, temos a perda num ou mais sectores de forma limitada. Só haverá
de atividade produtiva dos desempregados - o que inflação, porém, a partir do momento em que as tensões
determina que o Produto Interno fique abaixo do sobre os preços, inicialmente limitadas, se acumulam,
respetivo potencial. Há, pois, desperdício de produto, modificando, em termos macroeconómicos, os
nunca recuperável. Os custos sociais e humanos são comportamentos dos sujeitos com consequência na alta
muitas vezes incalculáveis - desde a fragmentação social de preços. A inflação pela oferta de moeda constitui,
às crises psicológicas de identidade, passando pelo igualmente, um fenómeno com efeitos na alta de preços -
sentimento de inutilidade. As causas do desemprego são pelas razões, aliás, já analisadas. Para que haja inflação
diversas. No caso do subemprego keynesiano temos o não basta que alguns preços sofram aumento, por
excesso de oferta ou a insuficiência de procura para os pressão da procura, é indispensável que esse movimento
bens. Torna-se, por isso, necessário contrariar essa se repercuta num processo geral e cumulativo. É preciso
situação através do aumento da procura efetiva global, que a oferta e a procura de bens e serviços não revele
fazendo funcionar o multiplicador de investimento, por capacidade de acomodação relativamente aos preços -
exemplo. No subemprego clássico temos a incapacidade isto é, que os agentes económicos não procedam a
das empresas satisfazerem a procura, que se apresenta transferências, na procura e na oferta, entre sectores,
forte. Há, pois, uma insuficiência dos equipamentos de bens ou serviços. A partir daí as tensões ampliam-se
capital julgados necessários para produzir mais. É esta mutuamente até originarem um processo inflacionista.
ausência de equipamentos que gera o desemprego. Aqui No caso da inflação pelos custos também têm de ser
se reclama, por isso, a renovação do capital existente. Há consideradas diferentes causas (matérias-primas, preços
ainda as situações de subemprego coexistindo com de transporte e outros serviços), todas independentes do
sobre-emprego, isto é, situações em que há desemprego excesso da procura global. Os dois exemplos de inflação
e situações em que existe emprego excedente. Nestes generalizada pelos custos são os choques petrolíferos de
casos, há que atenuar a rigidez e a falta de mobilidade do 1973 e de 1979. A alta geral de salários constitui o
fator trabalho entre sectores. principal tema analisado a propósito deste tipo de
3 inflação define-se como a alta, simultânea e inflação. Conhecida é a polémica entre, por um lado, os
persistente de preços da maior parte dos bens, serviços e defensores de que, no caso de haver aumento de
fatores numa economia. Estamos perante um processo produtividade, os salários devem ser mantidos e os
cumulativo de alta de preços, independentemente da sua preços objeto de redução e, por outro, aqueles que
causa e da sua intensidade. Estamos perante uma pensam que, nessas circunstâncias, os salários devem ser
referência originariamente monetarista, ligada à teoria aumentados e os preços mantidos. Para os primeiros a
quantitativista. A alta geral de preços é estudada a partir baixa de preços beneficiará em princípio todos, enquanto
de três grandes tipos de causas, consoante seja originada: para os segundos, a incidência positiva nos salários
por um excesso de procura efetiva em relação à oferta permite uma maior equidade por não se saber, à partida,
Diário da República, 1.ª série — N.º 151 — 7 de agosto de 2018 3933
qual o bem ou serviço em causa e se é muito ou pouco necessidade de a estabilização económica se ajustar ao
consumido. Hoje, prefere-se uma repartição dos ganhos ciclo económico. Por exemplo, as políticas orçamentais
de produtividade pelos salários e pelos preços, segundo a anti-cíclicas, que estudaremos, pressupõem que na fase
lógica da concertação social. Importa, porém, evitar a alta do ciclo haja excedentes que levam à criação de um
todo o custo a espiral salários preços. Se há um aumento fundo de estabilização, o qual na fase baixa permitirá o
de preços não deve haver um ajustamento imediato do financiamento dos défices. Tratase, assim, de proceder a
lado dos salários, sob pena de estarmos a agravar, desse um acompanhamento rigoroso do ciclo, de modo a
modo, a inflação pelos custos. A inflação pode ainda contrariar os seus efeitos, numa lógica anti-cíclica. Pelo
surgir por influência externa, em virtude dos efeitos do contrário, uma atuação pró-cíclica tenderá a agravar as
comércio internacional. A importação de bens diversas fases da conjuntura. Assim, num período de
provenientes de economias com altas gerais de preços abrandamento ou de recessão não devem ser restringidas
conduz à transmissão de tensões inflacionistas entre as despesas de investimento reprodutivo - visando a
países. Este fenómeno torna-se tanto mais comum criação de emprego. Notese, aliás, que, se houver uma
quanto é certo que a mundialização da economia é um restrição cega das despesas de investimento vaise gerar
dado do nosso tempo. Além das causas conjunturais da desemprego, que exige o pagamento de subsídios aos
inflação temos diversas causas estruturais: desde a desempregados, com agravamento, por esse lado, da
ausência de racionalidade nos circuitos de distribuição à despesa e do défice com a desvantagem de o subsídio ser
evolução do crédito e da política cambial, passando uma despesa corrente sem carácter reprodutivo. Depois
pelas tensões especulativas, pela dependência económica da 2.ª Guerra Mundial e graças ao sucesso das políticas
do exterior ou pelo grau de imperfeição da economia. anti-cíclicas os ciclos económicos atenuaram-se. Por
Artigo 66.º isso, os economistas modernos preferem falar de
Conta Geral do Estado flutuações económicas. Trata-se de oscilações, maiores
ou menores, da atividade económica. Daí preferir falar-
1 — ciclos médios, estudados por Clément Juglar se hoje de recessão em lugar de depressão, uma vez que
(1819-1905), de duração de sete anos a nove anos, a depressão é mais acentuada, pressupondo a
verificamos que nas economias monetárias, como aquela coexistência da deflação e do desemprego. A recessão
em que vivemos, a moeda desempenha um papel costuma ser definida tecnicamente como
importante no desencadear das variações cíclicas. Para correspondendo a um período em que o produto interno
Juglar, os ciclos não são fruto do acaso mas produto bruto real baixa durante pelo menos dois trimestres
quase automático do mecanismo monetário sobre o qual consecutivos. Na perspetiva keynesiana, uma vez que há
repousa a economia de mercado. Juglar diz: "a origem diversas situações de equilíbrio económico, consoante
da miséria é a prosperidade" - significando que nos estejamos em pleno emprego, sobre-emprego ou
períodos de forte crescimento põemse em marcha os subemprego. Não há um só equilíbrio, e esta situação
fatores recessivos. Temos, assim, que um ciclo apresenta não é a regra, mas apenas uma tendência. As flutuações,
quatro momentos - expansão ou boom, momento em que nesta ótica, correspondem a imperfeições do mercado -
há pleno emprego tendencial e crescimento económico, que urge contrariar. As recessões dos anos setenta e
criação monetária induzida por ele, concessão de crédito oitenta ter-se-iam, assim, devido a políticas erradas dos
pelos bancos e uma tendência inflacionista; crise, governos (designadamente no tocante ao aumento das
corresponde à viragem (a palavra grega krisis significava taxas de juro). Já na perspetiva neoclássica, os ciclos ou
para Hipócrates o momento em que o doente estava no as flutuações resultariam de perturbações na
auge da sua enfermidade, podendo superá-la ou morrer), produtividade ou nos gostos, e não tanto nas políticas
o crédito dos bancos é reduzido, a produção abranda, económicas. O arrefecimento da economia poderia
começa a surgir o desemprego; depressão ou slump, ocorrer sem que houvesse culpas por parte das políticas
momento em que o desemprego vai coexistir com a económicas prosseguidas. Depois de 1945, houve trinta
deflação ou baixa de preços, induzida pelo excesso de anos de acentuada estabilidade económica, em virtude de
oferta e recuperação, circunstância em que recomeça a haver políticas anti-cíclicas com resultados positivos.
criação de riqueza, a oferta recupera, o emprego começa Designou-se esse período como os trinta gloriosos anos.
a ser criado e a deflação dá lugar à estabilidade dos As flutuações económicas deram lugar a situações
preços. Quando Juglar morreu vivia-se a "belle époque" recessivas nos anos cinquenta, coincidindo com a Guerra
e havia quem julgasse que os ciclos estariam da Coreia (1953-54), e nos anos sessenta, com a Guerra
definitivamente superados - em razão do crescimento do Vietname (1968-70). A partir de 1975, por efeito dos
sustentado e do otimismo induzido pela inovação choques petrolíferos, a economia mundial viuse a braços
tecnológica e pelas invenções da eletricidade e do com um longo período de estagnação económica,
veículo automóvel. No entanto, os anos vinte e o pós- durante o qual coexistiam a inflação e o desemprego - o
Guerra trouxeram de volta o espectro das crises cíclicas. fenómeno novo foi designado como estagflação -, que
Joseph Schumpeter constrói então uma nova teoria dos constituiu um autêntico quebra-cabeças para a ciência
ciclos, nos quais identifica três tipos, pela sua duração e económica, uma vez que deixaram de funcionar os
origem: um curto, de três anos, devido à gestão de stocks instrumentos tradicionais de natureza anti-cíclica.
que se designa como ciclo de Kitchin, um ciclo longo de Durante os anos noventa houve um certo reencontro com
sessenta anos, devido ao progresso técnico e que foi o funcionamento dos ciclos, graças à introdução de
batizado com o nome de Kondratieff e o ciclo médio, de novos instrumentos de estabilização, numa lógica de
até nove anos, devido à moeda, que Schumpeter complementaridade entre o mercado e a regulação
designará para a posteridade com o nome de Juglar. pública. Em conclusão, as recessões não são hoje tão
Fácil é de compreender, como veremos a seguir, a
Diário da República, 1.ª série — N.º 151 — 7 de agosto de 2018 3934
graves quanto o foram as grandes depressões, que Importa, porém, previamente salientar três aspetos
conhecemos antes da última Grande Guerra importantes para a compreensão da dimensão atual do
Artigo 67.º problema:
Mapas que acompanham a Conta Geral do Estado
objetivos de política económica são de índole Receitas públicas, eficiência e equidade, combate à
estrutural - visando o crescimento económico a médio fraude e evasão fiscais - A consolidação das finanças
prazo e o desenvolvimento económico e social públicas obriga a haver estabilidade na cobrança de
sustentável. No tocante aos elementos duráveis da receitas e capacidade para prever essa evolução. Nesse
economia, importa, no fundo, articular elementos sentido, a simplificação do sistema fiscal, a criação de
quantitativos e qualitativos, a fim de garantir não só uma condições para uma maior eficiência da administração
melhor utilização dos recursos disponíveis e uma melhor tributária, o combate à fraude e à evasão fiscais, a
satisfação de necessidades, mas também assegurar a tendência para haver maior rigor com quem não cumpre
preservação e salvaguarda do meio ambiente, da a fim de se poder desagravar os rendimentos dos
qualidade de vida e da coesão social. A sustentabilidade trabalhadores por conta de nutrem constituem medidas
e a durabilidade do desenvolvimento têm, por isso, a ver indispensáveis. Um sistema fiscal eficiente quer-se
com a consciência de que não basta criar novos bens simples, previsível, claro - e servido por uma
materiais nem construir novos conjuntos de necessidades administração motivada e conhecedora. Só assim será
- numa sociedade puramente consumista. É possível ter um sistema fiscal fidedigno e credível,
indispensável prevenir e antecipar os riscos de destruição condição sine qua non para que haja o financiamento
da natureza e dos recursos naturais - além da necessidade adequado das necessidades públicas. Mais importante do
de considerarmos com especial ênfase a questão da que reduzir ou aumentar impostos é compreender o
evolução demográfica e do envelhecimento da princípio das capacidades contributivas, segundo o qual
população. Recordemo-nos, por exemplo, do efeito dos cada um apenas paga o que está nas suas possibilidades.
já citados choques petrolíferos (de 1973 e de 1979): até Despesas públicas, redução das despesas correntes
então os motores de explosão eram grandes primárias e consolidação dos investimentos reprodutivos
consumidores de combustível, depois houve que - O equilíbrio orçamental exige controlo rigoroso das
descobrir motores mais económicos e que iniciar a despesas públicas - privilegiando-se a disciplina e a
investigação de energias alternativas (solar, eólica, redução das despesas correntes primárias, isto é, das que
biomassa etc.), tendo em consideração a tomada de não têm carácter reprodutivo. No entanto, o critério
consciência de que as reservas de petróleo são finitas. O fundamental que deve ser seguido tem a ver com a
mesmo se diga em relação à Convenção de Quioto sobre qualidade dos serviços públicos prestados, que são
emissões de dióxido de carbono para a atmosfera. A fatores essenciais de competitividade (a administração da
humanidade começa a tomar consciência de que o justiça, os serviços de segurança, a saúde e a educação).
próprio ar que respiramos é um bem finito, que tem de Impõe-se haver uma avaliação de custo e benefício e
ser protegido e salvaguardado. uma rigorosa prestação de contas. Por outro lado, terá de
se assegurar o melhor investimento reprodutivo (nas
infraestruturas, nas escolas, nos hospitais, nas estradas).
objetivos conjunturais, do que dissemos resulta que as
A redução do investimento reprodutivo gera desemprego
políticas económicas que visam a estabilização dos
e este agrava o défice uma vez que exige o pagamento
ciclos económicos, têm quatro objetivos fundamentais -
dos subsídios aos desempregados. Evolução
que designamos como quadrado mágico - os quais têm
demográfica, envelhecimento da população e crise do
de estar sempre presentes, não podendo cair-se no erro
Estado Providência - Por fim, as finanças públicas
de privilegiar uns relativamente a outros, sob pena de
ressentem-se da atual tendência de evolução
pormos em causa a sustentabilidade do crescimento e do
demográfica. O envelhecimento da população e o
desenvolvimento e de afetarmos a coesão social e o
aumento da esperança de vida geram um desequilíbrio
"capital social". Os quatro objetivos, que têm de ser
entre a população ativa, que paga impostos e
coordenados numa lógica de policy mix (política mista)
contribuições, e a população não ativa (reformados,
são: a estabilidade de preços, o pleno-emprego, o
pensionistas) que recebem sem criar riqueza
equilíbrio das contas públicas e o equilíbrio das relações
imediatamente. Se a população ativa é menor e a
com o exterior. Insista-se, porém, que os dois últimos
população não ativa aumenta gera-se um problema a
objetivos têm carácter instrumental em relação ao
prazo de sustentabilidade dos sistemas de cobertura dos
crescimento e ao desenvolvimento económicos. A
riscos sociais e de segurança social, o que determina a
dificuldade da eficácia das políticas económicas, que
necessidade de alargar a vida ativa dos cidadãos e de
estudaremos a seguir, depende da capacidade de ligar
flexibilizar os mecanismos de criação de empregos, sem
objetivos estruturais e conjunturais e de coordenar o
pôr em causa direitos adquiridos e apoio mínimo
prosseguimento dos quatro objectivos de curto prazo,
garantido ou de inserção. Compreende-se, assim, a
com as situações dilemáticas que bem conhecemos que
complexidade do problema atual da sustentabilidade das
essa articulação envolve. É esse o tema que iremos tratar
finanças públicas, que é tudo menos um problema
a seguir ao tratarmos da política macroeconómica e das
simples ou suscetível de comentários ligeiros ou de
suas dificuldades. O tema do equilíbrio das finanças
apreciações superficiais.
públicas leva-nos a remeter para o que diremos sobre o
impropriamente designado Pacto de Estabilidade e
Crescimento (PEC) e os critérios de convergência no equilíbrio das contas externas. Quando estudámos o
âmbito da União Económica e Monetária (UEM). circuito económico, vimos que as economias não estão
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fechadas e que, além das Famílias e das Empresas, do investimentos estrangeiros; (iii) Países credores adultos -
Estado e do Capital, temos sempre de contar com o com excedentes na balança corrente em resultado do
Exterior. Há fluxos permanentes que se estabelecem afluxo de rendimentos provenientes de colocação de
entre os cidadãos de um país e os cidadãos do resto do capitais no exterior. Recordamos o que já dissemos sobre
mundo. Temos de considerar importações, exportações, os sistemas monetários e cambiais. Os pagamentos
transferências. Nesse sentido, as políticas económicas internacionais são feitos em divisas. Há um mercado de
têm de contar permanentemente com as relações divisas. Os câmbios podem ser flexíveis, estáveis ou
económicas internacionais e com as respetivas fixos e correspondem aos valores de uma divisa
consequências. Os pagamentos externos são registados expressos noutra divisa. O mercado de câmbios leva à
na Balança de Pagamentos, que envolve: A - Bens e fixação dos valores das divisas em razão da lei da oferta
Serviços - Mercadorias, Transportes e Seguros, Viagens e da procura, mas também da importância e da situação
e Rendimentos de Investimentos. B - Transferências - das economias em causa. A divisa portuguesa foi o
envolvendo movimentos privados e governamentais. C - Escudo Português até 1 de Janeiro de 1999 - passando a
Capitais e Ouro Monetário - considerando investimentos partir de então a ser o Euro, que já estudámos, cuja
privados diretos e outros movimentos de capitais, circulação efetiva ou introdução física ocorreu no dia 1
designadamente entre bancos centrais e os sistemas de Janeiro de 2002. Devemos precisar que o equilíbrio
bancários. A Balança de Pagamentos está por definição das finanças públicas e o equilíbrio das contas externas
sempre equilibrada, em razão do sistema de registo das são objetivos instrumentais, que têm de ser vistos em
partidas dobradas. São registadas a crédito as ligação com o crescimento económico e o
exportações de bens e serviços e as importações de desenvolvimento económico.
capitais. São registadas a débito as importações de bens e
serviços e exportações de capitais, bem como os afluxos
de reservas monetárias Quando há uma importação ou Com o Plano Delors (Abril de 1989) as Comunidades
compra de bens ou de serviços a dupla inscrição é feita Europeias lançaram o processo que culminaria no
do seguinte modo: a débito a título da importação de Tratado de Maastricht (adotado em Dezembro de 1991 e
bens e serviços, a crédito a título dos capitais que são entrado em vigor em 1 de Novembro de 1993) e na
pagos em contrapartida da compra. Se há uma troca de criação da UEM e do Euro. Aí se adotaram critérios de
bens ou serviços há dois registos a crédito e a débito convergência nominal tendentes à introdução da moeda
correspondentes aos bens e serviços trocados. Se há uma única: estabilidade do nível de preços, aproximação das
troca de ativos financeiros há dois registos a crédito e a taxas de juro de longo prazo dos níveis verificados nos
débito correspondentes aos capitais permutados. Para países com melhores resultados em termos de inflação,
aferirmos as situações de equilíbrio ou desequilíbrio, estabilidade da cotação da moeda e da disciplina das
devemos considerar as Balanças Sectoriais: (a) Balança finanças públicas, avaliada em termos de grandeza do
de mercadorias - correspondendo aos movimentos desequilíbrio do orçamento (défice não superior a 3% do
comerciais relativos a bens; (b) Balança de bens e PIB) e da dívida pública (não superior a 60% do PIB).
serviços - correspondendo ao conjunto das operações Em Maio de 1998 os chefes de Governo da Comunidade
comerciais, compra e venda de mercadorias e prestação confirmaram que a União Económica e Monetária
de serviços; (c) Balança corrente ou de transações (UEM) começaria a funcionar a 1 de Janeiro de 1999,
correntes - correspondendo às operações de bens e sendo o grupo fundador constituído por 11 países
serviços e às transferências correntes (p. ex. remessas de (Alemanha, Áustria, Bélgica, Espanha, Finlândia,
emigrantes); (d) Balança de base - correspondendo a França, Holanda, Irlanda, Itália, Luxemburgo e
todas as operações com exceção dos movimentos de Portugal). O Reino Unido e a Dinamarca fizeram uso da
capitais privados a curto prazo; faculdade que o Tratado lhes atribuía e ficaram de fora.
A Grécia e a Suécia não cumpriram os critérios de
convergência – vindo a Grécia a aderir posteriormente.
(e) Balança global - correspondendo a todas as Em 1 de Janeiro de 1999 foram fixadas definitiva e
operações com exceção das reservas monetárias. Um irrevogavelmente as taxas a que as moedas nacionais
País como Portugal tem uma longa tradição de foram substituídas pelo Euro. Hoje fazem, assim, parte
desequilíbrio na sua balança comercial, salvo no período deste sistema de “cooperação reforçada” 12 dos 25
do império no século XVI, no tempo do ouro do Brasil, Estados-membros. Se Portugal cumpriu à partida todos
no século XVIII, e durante a Segunda Grande Guerra, os requisitos de convergência nominal, a verdade é que
em virtude da venda de volfrâmio aos beligerantes. Nos quer a Bélgica, quer a Itália, quer a Grécia não
anos sessenta e setenta a balança de transações correntes cumpriram o limite da dívida pública de 60% do PIB, já
foi equilibrada com as remessas dos emigrantes que ultrapassavam os 100%. A posteriori veio a
portugueses na Europa. A doutrina distingue as seguintes verificar-se ainda que a Grécia não cumpriu também o
situações no tocante à situação das contas externas: (i) critério do défice orçamental. No caso português 1 Euro
Países jovens devedores - com balança corrente correspondeu a 200,482 escudos. Para servir de base à
deficitária, sendo subdesenvolvidos e estando União monetária foi criada uma estrutura de base federal
dependentes do investimento estrangeiros, de matérias- constituída pelo Banco Central Europeu (com sede em
primas e equipamentos do exterior; (ii) Países jovens Frankfurt) e pelos Bancos Centrais nacionais dos Estados
credores - com balança corrente excedentária, em razão membros da União - o Sistema Europeu de Bancos
dos saldos positivos da balança de mercadorias, que Centrais (SEBC). As vantagens da moeda única são de
sobrelevam as posições negativas correspondentes às dois tipos: eliminação dos custos de conversão de umas
saídas de rendimentos destinados a remunerar anteriores moedas nas outras para realizar transações internacionais
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(câmbios); a eliminação dos custos de incerteza quanto passa a ser de dois anos, com possibilidade de
aos câmbios futuros. Há também mais transparência e prolongamento, em casos devidamente justificados. Por
concorrência nos mercados. fim, prevê-se a existência de um mecanismo preventivo
que permita diferenciadamente aos Estados-membros
atingirem um equilíbrio ou um excedente orçamental,
Controlo e responsabilidades num caminho de sustentabilidade a médio prazo das
finanças públicas, bem como a vigilância reforçada para
Artigo 68.º
que a dívida se aproxime do valor de referência de 60%.
Controlo da execução orçamental Em 13 de Dezembro de 2007 foi assinado em Lisboa o
novo Tratado Reformador da União Europeia que visou
A desvantagem da moeda única resulta de os Estados superar o impasse gerado pela recusa de ratificação do
não poderem manipular os instrumentos monetários - Tratado Constitucional pela França e pela Holanda. A
taxas de juro de curto prazo e taxa de câmbio da moeda, principal alteração com consequências financeiras
para favorecer a competitividade das exportações. Como públicas é a respeitante ao regime de aprovação do
disse Pierre Werner, "o Euro constitui uma grande Orçamento da União ao qual passará a aplicar-se a regra
novidade nos mercados financeiros internacionais. da codecisão, deixando de haver a distinção de regime
Tornar-se-á, sem dúvida, uma moeda de reserva, sem entre despesas obrigatórias e não-obrigatórias.
aspirar necessariamente a um monopólio. A moeda única
no limiar do terceiro milénio é um grande resultado do Artigo 69.º
entendimento entre os homens" (1998). II. O Sistema de controlo da administração financeira do Estado
impropriamente designado Pacto de Estabilidade e
Crescimento foi adotado, no âmbito da aplicação do 1 — política económica define-se pelos seus
objetivos próprios, que correspondem à realização de
artigo 104º do TUE, para garantir a credibilidade do
Euro e consta de dois Regulamentos do Conselho da finalidades inerentes à alteração do modo como se
processa a produção e o consumo, enquanto a política
União Europeia relativos ao reforço da supervisão das
social tem em vista a repartição dos bens económicos –
situações orçamentais e à clarificação da aplicação do
na sociedade e pelas pessoas. Os instrumentos de
procedimento sobre os défices excessivos, bem como de
política económica terão, assim, de ser adequados,
uma Resolução do Conselho, adotada na Conselho
compatíveis e coordenados, de modo a poderem realizar
Europeu de Amesterdão de 17 de Junho de 1997. Não se
as finalidades a que se propõem. Nesse sentido, as
trata de um Pacto intergovernamental, mas de uma
políticas económicas pressupõem vários momentos,
Resolução política e de dois instrumentos técnicos
correspondentes ao planeamento, à decisão, à execução e
(Regulamentos CE nºs 1466/97 e 1467/97), que podem
à avaliação. No planeamento define-se o quadro
ser objeto de alteração. Estamos perante meios de
salvaguardar a solidez das finanças públicas na terceira temporal de ação, bem como os objetivos e os meios
adequados, em cada momento, às finalidades
fase da União Económica e Monetária, de forma a
previamente definidas. Na decisão, propriamente dita, é
reforçar as condições para a estabilidade de preços e a
utilizado o instrumento escolhido previamente –
garantir um crescimento sustentável conducente à
podendo o governo usar de um instrumento de natureza
criação de emprego. O objetivo visado de médio prazo é,
legislativa (dotado de generalidade e abstração), de
assim, o de alcançar posições orçamentais próximas do
natureza regulamentar, de natureza administrativa (ato
equilíbrio (“close to balance”) ou excedentárias, que
individual) ou de natureza técnica.Na execução estamos
permitirão aos Estados membros enfrentar as flutuações
perante a concretização das políticas – trata-se de adotar
cíclicas normais, mantendo o défice público abaixo do
um caminho, considerando as qualidades de cada uma.
valor de referência de 3% do PIB. No caso de
persistência de défice superior a 3% do PIB, não sendo a Por fim, temos a avaliação (interna ou externa) do modo
como se chegou à decisão e dos aspetos positivos e
situação considerada excepcional e temporária, o país
negativos da concretização da medida adotada, nas suas
fica sujeito a sanções pecuniárias, que podem assumir a
diversas implicações (económicas e sociais). De facto,
forma de uma multa de montante até 0,5% do PIB. De
para escolher os meios, deveremos ter em consideração
acordo com os regulamentos, os países do Euro
as lições da experiência e a necessidade de obter a maior
apresentarão programas de estabilidade, enquanto os
eficácia possível nas medidas adotadas. Tendo em conta
países não participantes na UEM continuarão a
o carácter variável da conjuntura económica e a
apresentar programas de convergência. Em 1997 falou-se
complexidade das escolhas das políticas económicas,
inicialmente apenas de um Pacto de Estabilidade, tendo,
verificamos que a estabilização económica constitui o
porém, prevalecido o ponto de vista segundo o qual o
fundamental objetivo na moderna política económica. A
Crescimento económico não poderia ficar arredado ou
estabilização conjuntural pode recorrer: às políticas
esquecido. Nesse sentido, ainda que timidamente, foi
monetárias (desde a criação de moeda ou da relação com
incluída a referência ao crescimento e à criação de
o sistema financeiro e bancário, até às políticas
emprego. Em finais de 2002, a Comissão Europeia,
cambiais), às políticas financeiras e orçamentais (ou de
perante os sinais de abrandamento e de recessão
finanças públicas) e às políticas de rendimentos e preços.
económicos veio a considerar a necessidade de os
Numa palavra, o objetivo global de estabilização ou de
regulamentos serem interpretados com inteligência e
regulação da conjuntura define-se como a conjugação de
flexibilidade, tendo em consideração as necessidades de
elevados níveis de emprego dos recursos produtivos,
combate à recessão, de investimento e de criação de
com uma estabilidade, segundo padrões
emprego, sem prejuízo do prosseguimento de um esforço
comparativamente aceitáveis, do nível geral de preços e
de médio. O prazo de correção deixa de ser de um ano,
com o equilíbrio de transações com o exterior.
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surgimento de novos fenómenos, como o da coexistência suscitariam o fenómeno de crowding out, segundo o qual
do desemprego e da inflação, ou estagflação, que se o aumento de despesa pública envolve o crescimento das
revelariam muito difíceis de debelar com recurso a taxas de juro no mercado financeiro resultante da
instrumentos tradicionais de política económica. Os procura de mais crédito pelo Estado para financiar o
choques petrolíferos de 1973 e de 1979 tornaram ainda défice orçamental, tendo como resultado a redução da
mais complexas as ações de governação económica. capacidade de investimento dos privados. A compressão
Artigo 71.º das despesas públicas seria necessária nesta perspetiva,
Controlo político quer pela redução dos encargos quer pela diminuição da
sua taxa de crescimento, de modo que seja inferior à do
1 — No âmbito do controlo político, a Assembleia produto nacional. O excedente orçamental tornar-se-ia,
da República acompanha a execução do Orçamento do assim, anti-inflacionista. Procura-se reduzir o
Estado e dos demais orçamentos da administração desequilíbrio dos recursos – o hiato inflacionista
central e da ECE e aprova a Conta Geral do Estado. (inflationary gap) - não já pela compressão da procura,
2 — O Governo informa anualmente a mas pelo aumento da oferta – meio de combater a
Assembleia da República dos programas de auditoria inflação a longo prazo. Numa conjuntura de estagflação,
que promove por sua iniciativa, no âmbito dos sistemas é indispensável usar com moderação e flexibilidade a
de controlo da administração financeira do Estado, política de despesas compensatórias, de modo a não
acompanhados dos respetivos termos de referência. agravar as tensões inflacionistas. Fala-se, por isso, de
3 — A Assembleia da República determina em “fine tuning” (sintonização fina), que obriga a um
cada ano ao Governo duas auditorias e solicita ao controlo muito apertado do uso dos instrumentos.
Tribunal de Contas a auditoria de dois organismos do Estamos perante situações dilemáticas, pelo que os
Sistema de Controlo Interno (SCI), sem prejuízo de instrumentos devem ser usados em doses tais que não
poder solicitar auditorias suplementares. permitam agravar o desemprego nem pôr em causa a
4 — Os resultados das auditorias a que se refere o estabilidade de preços. Refere-se, assim, as políticas de
número anterior são enviados à Assembleia da stop and go para significar a necessidade de articulação
República no prazo de um ano, prorrogável até 18 (policy mix) entre os instrumentos ligados à oferta de
meses, por razões devidamente justificadas. moeda e defendidos pelos monetaristas e supply siders e
5 — O Governo responde em 60 dias às os instrumentos orçamentais e fiscais da tradição
recomendações da Assembleia da República que keynesiana. Como o médico que sabe que um
incidirem sobre as auditorias referidas no n.º 3. determinado medicamento trata o coração, mas ataca o
estômago num doente que sofre das duas enfermidades,
Artigo 72.º é indispensável ministrar ora o tratamento para o
coração, ora o tratamento para o estômago, de modo que
Responsabilidade no âmbito da execução orçamental
o doente veja ambos os males tratados. Na conjuntura
1 — Os titulares de cargos políticos respondem atual, depois do «crash» do Outono de 2008, o tema da
política, financeira, civil e criminalmente pelos atos e austeridade obriga a dar atenção à metodologia do «fine
omissões que pratiquem no âmbito do exercício das suas tuning», uma vez que é indispensável articular o
funções de execução orçamental, nos termos da investimento reprodutivo, que visa superar o
Constituição e demais legislação aplicável, a qual desemprego, com a disciplina orçamental. Com efeito,
tipifica as infrações criminais e financeiras, bem como há que reduzir as despesas correntes primárias, que
as respetivas sanções. combater o desperdício, e proceder a uma ponderação
2 — Os dirigentes e os trabalhadores das rigorosa do investimento criador de emprego, traduzido
entidades públicas são responsáveis disciplinar, em sustentabilidade da procura efetiva global.
financeira, civil e criminalmente pelos seus atos e Artigo 74.º
omissões de que resulte violação das normas de Dever de informação
execução orçamental, nos termos do artigo 271.º da 1 —a compatibilidade de objetivos e de instrumentos
Constituição e da legislação aplicável. macroeconómicos assegura-se através de uma
3 — A responsabilidade financeira é efetivada articulação plurianual e de uma coordenação simultânea
pelo Tribunal de Contas, nos termos da respetiva de medidas e de resultados. Assim as políticas
legislação. económicas: (a) envolvem instrumentos monetários e
orçamentais; (b) são concebidas quer num horizonte
CAPÍTULO IV anual quer num horizonte plurianual; (c) procuram
contrariar o excesso de procura, a tendência para o
Transparência desemprego e o desequilíbrio das contas externas; (d)
consideram quer à evolução da oferta de moeda, quer à
Artigo 73.º situação da procura efetiva global; (e) reconhecem a
Dever de divulgação importância não apenas a situação macro e
microeconómica, mas, cada vez mais, a situação da
1 —O crescimento anormal da moeda existente coesão social, da confiança e do funcionamento da
produz graves distorções na utilização dos recursos, sociedade e do mercado. Vejamos sumariamente como
devendo definir-se uma faixa de crescimento monetário tal se opera. Orçamentos cíclicos - A experiência dos
ajustado ou ótimo em cada economia e conjuntura. países nórdicos aponta para a consagração de orçamentos
Aliás, nesta perspetiva os défices orçamentais cíclicos, concebidos de acordo com os momentos das
constituíram fatores de perturbação monetária – já que
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oscilações da conjuntura económica. Deste modo, na mas em títulos de trabalho, reembolsáveis num prazo
fase alta do ciclo haveria a constituição de excedentes, superior a 6 meses. Houve então uma drástica redução
segundo o critério do ativo de Estado - assente na da moeda em circulação, e a lógica da política de
distinção entre despesas e receitas correntes e de capital. circuito está no facto de os pagamentos em dinheiro
Tais excedentes de natureza corrente serviriam para serem feitos por virtude das amortizações dos títulos de
financiar um Fundo de Reserva, que permitiria preparar a trabalho, num momento em que a oferta da economia já
economia para a fase depressiva, simultaneamente que podia compensar a nova procura gerada pelos novos
contrariava o excesso de procura da fase expansiva. Pelo trabalhadores empregados. Trata-se de um exemplo que
contrário na fase baixa do ciclo haveria a possibilidade permite compreender a relação entre a oferta e a procura
de gerar défices, que permitiriam realizar despesas no estabelecimento dos equilíbrios macroeconómicos.
compensatórias para garantir uma procura efetiva global 4 — aumento da produção por via de um aumento
adequada à recuperação económica e a contrariar a da capacidade produtiva ou do aumento da
tendência para o desemprego. Os excedentes acumulados produtividade corresponde a dois tipos de objetivos de
no Fundo de Reserva iriam ser utilizados, havendo uma política económica – o desenvolvimento económico e
situação de equilíbrio das finanças públicas a médio social e o crescimento económico. No primeiro caso
prazo. Nestes termos, a Reserva funcionaria na estamos, normalmente, perante economias com reduzida
conjuntura depressiva como Fundo de Regularização. capacidade produtiva e baixa produtividade. Aí o
Note-se que o sucesso deste instrumento traduziu-se no objetivo consiste em fazer sair as economias do atraso e
desaparecimento dos ciclos económicos tradicionais, do subdesenvolvimento, através de reformas estruturais.
uma vez que a estabilização prevaleceu sobre os efeitos Mas não há políticas de desenvolvimento apenas nos
das oscilações conjunturais. Políticas discricionárias e países mais atrasados. Os países desenvolvidos também
estabilizadores automáticos - Enquanto nas políticas têm de aumentar a sua capacidade produtiva e melhorar
discricionárias os governos adotam-nas especificamente a produtividade por um processo de crescimento
para fazer face a uma determinada situação (aumento do contínuo e de desenvolvimento sustentável. Impõe-se
imposto sobre o rendimento das pessoas singulares em sempre a realização de um objetivo de transformação
conjuntura inflacionista por via da procura), os global de índole social – que tem a ver com as
estabilizadores automáticos atuam independentemente da qualificações, com a educação e a formação profissional,
fase em que nos situamos. com a proteção e salvaguarda do meio ambiente, com a
organização das instituições (governo, administração
2 Políticas mistas - A conjugação da redução
global ou sectorial das despesas públicas e do pública, justiça, tribunais). Como tem insistido Robert
agravamento dos impostos indiretos constitui um D. Putnam (1941), tratase de ligar o processo de
instrumento por excelência na situação atual. Chega-se à desenvolvimento à coesão social, tornando a pertença, a
conclusão de que o excedente ou o desequilíbrio se solidariedade e a autoestima, fatores de competitividade
conseguem à custa destes dois instrumentos, perante a e de progresso. E se falamos de coesão, temos de referir
atenuação dos ciclos clássicos. O excedente orçamental é as estruturas de distribuição de recursos. O objetivo
um meio clássico relativamente eficaz de realização de redistributivo (a justiça distributiva, de que falava
políticas anti-inflacionistas. No entanto, em muitos casos Aristóteles) implica uma melhoria nas quotas do produto
não é o excesso de procura, mas a insuficiência da oferta que são atribuídas nasociedade aos menos favorecidos.
que se faz sentir, o que também tem efeitos negativos Trata-se de alterar a maneira e o modo como o
nos preços. Nesse caso o Estado deve estimular a oferta rendimento de uma economia determinada é repartido na
dos sujeitos privados por meio de reduções de impostos sociedade, reduzindo as assimetrias de distribuição e de
ou de subsídios e subvenções – que provoquem direta ou partilha. Compreende-se, assim, que o desenvolvimento,
indiretamente aumento da oferta, pela produção de bens o crescimento e a redistribuição tenham de se realizar
e serviços, pela criação de infraestruturas pelo sector tendo em consideração a sustentação do capital social –
público ou pela importação de bens do exterior.— designadamente no tocante aos sentimentos de pertença
Compete ao membro do Governo responsável pela área e de confiança, à defesa da natureza e do ambiente
das finanças assegurar a disponibilização pública de humano, ao ordenamento do território, ao progresso
informação financeira consolidada relativa ao setor das tecnológico e ao desenvolvimento regional e
administrações públicas e por subsetor. descentralização.
3 Políticas de circuito - Em conjunturas onde Artigo 75.º
coexistem a inflação e o desemprego, torna-se necessário Dever especial de informação ao controlo político
criar conjuntos de medidas que permitam a conciliação
entre objetivos dilemáticos contraditórios. Exemplo 1 — O Governo disponibiliza à Assembleia da
deste tipo de atuação é a política levada a cabo na República todos os elementos informativos necessários
Alemanha dos anos trinta pelo Dr. Hjalmar Schacht para a habilitar a acompanhar e controlar, de modo
(1877-1970). Trata-se de uma política fechada, efetivo, a execução do Orçamento do Estado,
altamente protecionista, só compatível com um sistema designadamente relatórios sobre:
autoritário. Vai, no entanto, obter resultados importantes, a) A execução do Orçamento do Estado, incluindo
ao passar o desemprego de 6 milhões, em 1933, para 2 o da
milhões e meio, em 1934 – graças a um grande
segurança social;
programa de trabalhos públicos, que permitirá o
nascimento da rede rodoviária alemã. No entanto, o b) A utilização de dotações no âmbito do programa
pagamento dos trabalhadores não era feito em moeda, integrado na missão de base orgânica do Ministério das
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Finanças destinado a fazer face a despesas imprevisíveis dos do controlo da execução do Orçamento do Estado ao
e inadiáveis; longo do ano;
c) A execução do orçamento consolidado dos c) Quaisquer informações técnicas ou esclarecimentos
serviços necessários ao controlo da execução orçamental, à
e entidades do setor das administrações públicas; apreciação do Orçamento do Estado e do parecer sobre a
d) O volume e a evolução das cativações nos Conta Geral do Estado.
orçamentos das entidades que integram a administração
direta e indireta do Estado, desagregados por ministério, Artigo 76.º
por programa e por medida; Informação de atuação e aplicação de medidas corretivas
e) As alterações orçamentais aprovadas pelo
Governo; 1 — O incumprimento dos deveres constantes do
f) As operações de gestão da dívida pública, o presente título implica o apuramento das respetivas
recurso responsabilidades contraordenacionais, financeiras e
políticas.
ao crédito público e as condições específicas dos
empréstimos públicos celebrados nos termos previstos na 2 — A violação dos deveres a que se referem os
lei do Orçamento do Estado e na legislação relativa à artigos 73.º e 74.º determina a retenção parcial ou total
emissão e gestão da dívida pública; da efetivação das transferências do Orçamento do
Estado, até que a situação criada tenha sido devidamente
2 Os Estados modernos estão hoje confrontados
com problemas novos no campo das políticas sanada, nos termos a definir no decreto -lei de execução
económicas, em especial ligados a questões estruturais, orçamental, e a aplicação de contraordenações a definir
nas quais avultam a questão demográfica, a questão do em diploma próprio.
desequilíbrio entre a população ativa e os beneficiários 111560736
dos apoios sociais, o tema da destruição do meio
ambiente, bem como o da eficiência da administração Lei n.º38/2018
pública e dos serviços de interesse geral. Eis porque a de 7 de agosto
governação económica, isto é, a coordenação de
políticas económicas (v.g. de investimento e de criação
de emprego) deixa cada vez mais de ser problema de um Direito à autodeterminação da identidade de
género e expressão de género e à
só Estado, para exigir a articulação de instrumentos e proteção
objetivos entre diferentes Estados. A União Europeia das características sexuais de cada pessoa
terá de responder à necessidade de completar as
instituições e os instrumentos do Euro e da União A Assembleia da República decreta, nos termos da
Económica e Monetária com uma mais clara alínea c) do artigo 161.º da Constituição, o seguinte:
coordenação de políticas económicas e a afetação de
mais recursos à defesa dos interesses comuns. A moeda
única e o Sistema Europeu de Bancos Centrais CAPÍTULO I
constituem fatores importantes de cooperação reforçada, Disposições gerais
mas é manifestamente insuficiente, uma vez que falta a
coordenação das políticas económicas. Afinal, temos Artigo 1.º
uma União Monetária, mas falta ainda a União Objeto
Económica – que garanta a articulação entre os objetivos
respeitantes à estabilidade monetária e dos preços e à A presente lei estabelece o direito à autodeterminação
criação de riqueza, ao crescimento e ao da identidade de género e expressão de género e o direito
desenvolvimento. A crise financeira induzida pelo à proteção das características sexuais de cada pessoa.
referido «crash» do Outono de 2008 obrigará, no
entanto, a repensar o regime dos déficesexcessivos, Artigo 2.º
considerando a necessidade da adoção de medidas Proibição de discriminação
traduzidas em receita e despesa públicas para atacar a
grave situação da economia europeia. A estabilidade de 1 — Todas as pessoas são livres e iguais em
preços, a oferta de moeda, o pleno emprego, a eficiência dignidade e direitos, sendo proibida qualquer
das administrações fiscais, o equilíbrio das finanças discriminação, direta ou indireta, em função do exercício
públicas a médio e longo prazo e o equilíbrio das do direito à identidade de género e expressão de género e
relações externas vão exigir cada vez mais a cooperação, do direito à proteção das características sexuais.
a coesão económica e social e a articulação e a 2 — As entidades privadas cumprem a presente
complementaridade de esforços. lei e as entidades públicas garantem o seu cumprimento
3 — A Assembleia da República pode solicitar ao e promovem, no âmbito das suas competências, as
Tribunal de Contas: condições necessárias para o exercício efetivo do direito
à autodeterminação da identidade de género e expressão
a) Informações técnicas relacionadas com as de género e do direito à proteção das características
respetivas sexuais de cada pessoa.
funções de controlo financeiro;
Artigo 3.º
b) Relatórios intercalares e pareceres sobre os resulta-
Autodeterminação da identidade de género e expressão de género
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Artigo 4.º
Proteção das características sexuais
Artigo 5.º
Modificações ao nível do corpo e das características
sexuais da pessoa menor intersexo
CAPÍTULO II
Reconhecimento jurídico da identidade de género
Artigo 6.º
Procedimento