0% acharam este documento útil (0 voto)
12 visualizações28 páginas

Avivamento em Shantung

O documento descreve o avivamento de Shantung na China entre 1927-1937. Dois missionários, Bertha Smith e Marie Monsen, foram instrumentos importantes na preparação desse avivamento através de oração e ministério. O avivamento começou durante um retiro espiritual quando a esposa de um missionário foi curada sobrenaturalmente.

Enviado por

aracelly
Direitos autorais
© © All Rights Reserved
Levamos muito a sério os direitos de conteúdo. Se você suspeita que este conteúdo é seu, reivindique-o aqui.
Formatos disponíveis
Baixe no formato PDF, TXT ou leia on-line no Scribd
0% acharam este documento útil (0 voto)
12 visualizações28 páginas

Avivamento em Shantung

O documento descreve o avivamento de Shantung na China entre 1927-1937. Dois missionários, Bertha Smith e Marie Monsen, foram instrumentos importantes na preparação desse avivamento através de oração e ministério. O avivamento começou durante um retiro espiritual quando a esposa de um missionário foi curada sobrenaturalmente.

Enviado por

aracelly
Direitos autorais
© © All Rights Reserved
Levamos muito a sério os direitos de conteúdo. Se você suspeita que este conteúdo é seu, reivindique-o aqui.
Formatos disponíveis
Baixe no formato PDF, TXT ou leia on-line no Scribd
Você está na página 1/ 28

Avivamento Em Shantung

Embora talvez pouco conhecido pela maioria dos cristãos, o Avivamento


de Shantung é considerado um dos avivamentos mais significativos na
China e foi, com certeza, o mais poderoso que já houve no meio dos
batistas. Shantung (ou Shandong) é uma província no litoral nordeste da
China. Pouco antes da invasão do país pelo Japão em 1937, no meio da
turbulência política causada por atividade comunista na região, Deus
enviou uma poderosa onda de avivamento que durou aproximadamente
dez anos (1927-1937). A seguir, a primeira parte de uma série de relatos
e testemunhos sobre o que aconteceu.

Ao estudar as ações extraordinárias de Deus em avivamentos, é sempre


maravilhoso constatar como ele prepara tanto pessoas quanto
circunstâncias durante anos antes de uma visitação. Embora a
característica principal de avivamento seja a ação soberana de Deus,
produzindo efeitos que jamais seriam alcançados pelo esforço natural,
vemos que mesmo nessas ocasiões Deus continua realizando sua obra
por meio de instrumentos humanos.

No caso do Avivamento em Shantung, duas pessoas muito importantes


na preparação e no desencadeamento da visitação foram Bertha Smith
e Marie Monsen.

Bertha Smith

Dois anos depois de sua conversão em 1905, Bertha teve uma


experiência marcante com Deus durante uma série de reuniões
especiais em sua cidade natal de Cowpens, na Carolina do Sul, EUA. Ao
render-se totalmente à vontade soberana do Senhor, ela determinou que
aceitaria qualquer coisa que ele lhe pedisse e que absolutamente nada
seria “pedir demais”. Foi nessa ocasião também que recebeu o
enchimento do Espírito pela primeira vez. No seu entendimento, ser
cheio do Espírito era uma experiência que deveria repetir-se
continuamente na vida do cristão. Para isso, porém, era necessário
manter a vida sempre purificada, livre de pecados não-confessados e
não-renunciados, e sempre rendida à liderança do Espírito Santo. Como
Paulo escreveu aos gálatas: “Se vivemos no Espírito, andemos também
no Espírito” (Gl 5.25).
Algum tempo depois, Bertha recebeu o chamado de Deus para o serviço
missionário. Estudante de faculdade na época (1910), ela lutou durante
várias semanas com a idéia, considerando os sacrifícios que seriam
exigidos. Envolveria, certamente, deixar o lar e a família por anos, talvez
para o resto da vida. Será que a família aprovaria? No fim, porém, o que
a levou a tomar uma decisão foi reconhecer que Jesus deixou toda a
glória do Céu para viver aqui na Terra e morrer uma morte vergonhosa
em seu lugar – tudo para cumprir a vontade do Pai. Como ela poderia
agora fazer menos do que tomar atitude semelhante? Ao render-se ao
chamado de Deus, uma grande alegria invadiu o coração que nunca
mais a deixou.

Em 1917, com 28 anos de idade, Bertha foi enviada pela Junta de


Missões da Convenção Batista do Sul como missionária à China. Logo
que chegou, ficou preocupada com o baixo nível de compromisso e
espiritualidade entre os chineses convertidos. Os outros missionários
sentiam o mesmo. À medida que buscavam renovação em suas
próprias vidas, chegavam cada vez mais à conclusão de que só um
avivamento mudaria a condição de impotência e superficialidade da
obra que estavam tentando levantar.

Começaram separando o primeiro dia de cada mês para orar nesse


sentido. Pouco a pouco, foram aumentando a freqüência, até chegar a
duas reuniões de oração todos os dias. Havia sede por Deus,
descontentamento com o nível de vida e ministério e um desejo cada
vez mais forte de ver Deus intervir sobrenaturalmente na situação. A
intensidade da oração e do desejo de conhecer a Deus e de
experimentar a plenitude do Espírito foi uma preparação tremenda para
o que haveria de vir.

Marie Monsen

Enquanto isso, Deus estava trabalhando numa outra pessoa, em outro


continente, chamada Marie Monsen. Da Igreja Luterana da Noruega,
Marie era uma mulher decidida, original (não se enquadrava em padrões
comuns de pensamento ou comportamento) e ousada. Antes de ser
enviada para a China como missionária em 1901, já havia acumulado
uma bagagem expressiva de experiências com Deus, viajando sem
recursos, dependendo dele em tudo, recebendo provisões
sobrenaturais.
Durante sua primeira temporada na China, porém, passou por várias
provações difíceis que, na sabedoria de Deus, contribuiriam para seu
aperfeiçoamento e preparação. Ao cair de uma escada em Xangai,
sofreu concussão cerebral. Além disso, assim que chegou ao local que
seria seu campo missionário, foi acometida por um ataque muito sério
de malária, a ponto de quase morrer. Durante os primeiros anos,
estudando a língua, sentia fortes dores de cabeça no meio de uma luta
constante com a malária.

No verão de 1906, finalmente, veio alívio. Através de oração, Marie foi


completamente curada. A partir daí, ela teve várias outras
oportunidades para recorrer ao Grande Médico em favor de si própria e
de outros, e de testemunhar a cura. A partir de 1911, numa segunda
temporada na China, trabalhou com a Missão Luterana na província de
Honan.

Um Retiro Espiritual

Em 1927, diante da situação tensa e instável na região causada por


atividade comunista e movimentos anticristãos, o governo dos Estados
Unidos recomendou fortemente que todos os missionários
abandonassem a província de Shantung e se refugiassem,
temporariamente, na cidade portuária de Chefoo, até que as coisas se
acalmassem.

Mais de vinte missionários ficaram alojados precariamente num


espaço bem limitado, sem muito a fazer, esperando o desenrolar dos
acontecimentos. Resolveram, depois de alguns dias, aproveitar o tempo
e fazer um retiro espiritual. O grupo, que era quase todo de batistas da
Missão do Norte da China, convidou Marie Monsen para compartilhar
suas experiências de evangelismo e cura divina no campo missionário.
Muitos estavam cansados e frustrados depois de anos sem fruto, sem
avanço espiritual. Alguns haviam pensado até em abandonar o trabalho
missionário, a tal ponto havia chegado a sensação de impotência e
fracasso na obra de Deus.

Com sua ousadia e abordagem direta, Marie não tinha receio algum de
confrontar quem quer que fosse com exposições claras de verdades
fundamentais e perguntas pessoais. Sua marca registrada por onde
viajava e ministrava eram as duas perguntas diretas que fazia a todos
que encontrava, indiferentemente se eram visitantes, membros de
igreja, ministros ou missionários: “Você já nasceu de novo?” e “Você já
foi batizado com o Espírito Santo?”

“É preciso confessar e abandonar todo e qualquer pecado conhecido se


quiser que Deus o encha com seu poder”, ela enfatizava. “Deus requer
santidade.”

Um dos missionários que Marie Monsen conheceu nesta ocasião foi o


dr. Charles Culpepper, respeitado líder da Missão Batista e diretor do
Seminário Batista em Shantung. Anos depois, ele relatou as primeiras
palavras de Marie para ele: “Você já foi batizado no Espírito Santo?”.
Naquele momento, ele não teve resposta, mas a pergunta desencadeou
uma busca pessoal que durou quatro anos, como veremos adiante.

O Início do Avivamento

A ministração de Marie e os testemunhos de cura que relatou tocaram


profundamente o grupo de missionários batistas, apesar de
representaram um conceito novo e estranho para eles. Para alguns,
qualquer manifestação do sobrenatural em dons era associada com o
temor de tornar-se “pentecostal”, o que era considerado símbolo de
fanatismo e desequilíbrio.

Deus já havia preparado, porém, uma situação para começar a mudar


tudo isso. Se houve um único evento que pode ser considerado o “início”
do avivamento, foi uma reunião poderosa que aconteceu em março de
1927, durante o retiro em Chefoo. A esposa de Culpepper, Ola, havia
sofrido há anos de neurite óptica, com visão apenas parcial no olho
afetado e muita dor. Um especialista mundial na doença não lhe dera
esperança alguma. Depois dos testemunhos de Marie, ela disse ao
marido que estava convicta de que Deus a queria curar e pediu a Marie
que reunisse o grupo de missionários para orar por ela.

Apesar de ser algo totalmente inédito para o grupo, eles concordaram.


Em preparação para a reunião, cada um procurou colocar a vida
espiritual “em dia”, confessando pecados e buscando purificação.
Havia uma sensação elétrica de expectativa no ar: Deus estava para
fazer algo incomum.

Quando chegou o dia, o grupo formou um círculo em volta de Ola, que


colocou os óculos em cima da lareira. Charles Culpepper leu o texto de
Tiago 5.14-16: “Está alguém entre vós doente? Chame os presbíteros da
igreja, e estes façam oração sobre ele, ungindo-o com óleo em nome do
Senhor. E a oração da fé salvará o enfermo, e o Senhor o levantará; e, se
houver cometido pecados, ser-lhe-ão perdoados. Confessai, pois, os
vossos pecados uns aos outros, e orai uns pelos outros, para serdes
curados. Muito pode, por sua eficácia, a súplica do justo.”

Charles, então, ungiu Ola com óleo e pediu que os outros missionários
lhe impusessem as mãos e orassem pela cura.

De repente, Bertha Smith interrompeu a reunião. Mais tarde, ela


descreveu o que lhe aconteceu naquele momento:

Eu havia entrado naquela sala, até onde sabia, com minha vida em dia
com o Senhor. Jamais teria ousado entrar em outra condição. Porém,
quando estendi minha mão para a cabeça de Ola Culpepper, fui obrigada
a retirá-la. Ali, diante de mim, estava a srta. Hartwell, uma missionária com
quem eu tivera problemas algum tempo antes.

Na época, nós trabalhávamos na mesma escola da missão. De forma bem


presunçosa, em virtude da minha formação superior em educação, eu
havia desprezado os métodos da srta. Hartwell de alfabetizar garotos e
fizera comentários que a feriram.

Ali mesmo, diante de todos, tive de confessar: “Srta. Hartwell, minha


atitude naquele assunto da escola estava errada. Peço que me perdoe!”

Somente depois disso é que pude juntar minha mão com as dos outros
e orar por Ola Culpepper.

Caso eu tivesse me recusado a confessar aquele pecado e tentado orar


com ele encoberto, creio que a oração do grupo e a cura de Ola poderiam
ter sido impedidas.

Com esse problema resolvido, o grupo se pôs a orar – com muita união
e poder. De acordo com o testemunho de várias pessoas presentes, os
céus desceram e houve grande presença do Espírito durante
aproximadamente duas horas. O poder de Deus estava tão forte que
duas cozinheiras chinesas que trabalhavam na missão e tinham muito
ressentimento uma com a outra, ao entrarem na sala, foram tocadas na
mesma hora. Sentiram convicção do Espírito, confessaram o ódio que
tinham no coração, buscaram perdão e foram maravilhosamente
convertidas.
Foi tão glorioso que o grupo até se esqueceu do objetivo da reunião: a
cura de Ola. Quando se lembraram de perguntar, ela testificou que não
sentia mais dor alguma. Apesar de não ter a visão totalmente
restaurada, ela nunca mais precisou dos óculos nem sentiu dor.

Uma chama foi acesa que começaria a espalhar-se por toda a província
quando os missionários voltaram para casa…

Vimos como Deus preparou duas pessoas (mulheres) como


instrumentos dele no avivamento na China. Veremos a seguir como ele
trabalhou também na vida de uma terceira pessoa, Charles Culpepper,
já mencionado na Parte I deste relato. Na época, Culpepper era
presidente do seminário batista em Shantung, na cidade de
Hwanghsien.

O testemunho a seguir é do próprio Charles Culpepper.

Quatro Anos de Oração

Nos primeiros anos da década de 1920, nós, como missionários,


estávamos enfrentando obstáculos e circunstâncias impossíveis [falta
de finanças, distúrbios políticos na China, desânimo, falta de poder…].
Alguns até resolveram voltar para seus países de origem por não
conseguirem ver qualquer esperança na obra de Deus ali.

Graças a Deus, porém, havia outros missionários mais antigos que


sabiam orar. Muitos foram tocados pela situação, e decidimos buscar
a Deus em oração. Enquanto orávamos, o Senhor gerava no nosso
interior uma sede ainda mais intensa por ele.

Como resultado dessa oração (que continuou por quatro anos),


aumentou a convicção de pecados, o que nos levou a fazer restituição,
acertar as coisas um com o outro, tratar com tudo o que havia de errado.
Havia coisas no coração que nem imaginávamos que pudessem estar
lá, soterradas sob camadas e camadas de entulho. Foi preciso cavar no
meio do entulho até encontrar aquilo que estava desagradando a Deus.

Diversas pessoas nos ajudaram muito nesse processo. Uma delas foi
Marie Monsen, uma missionária luterana da Noruega. Um dia, ela me
perguntou: “Você já foi batizado no Espírito Santo?”. Eu não pude
responder porque não sabia de fato o que significava.

Daquele dia em diante, porém, comecei a buscar na Palavra de Deus.


Grande fome pela plenitude do Espírito Santo nasceu dentro de mim.
Levei quatro anos para tirar todo o entulho e acertar minha vida com o
Senhor. Muitos outros missionários (estávamos em mais ou menos 50
na região) sentiram a mesma necessidade.

Para todo o grupo que estava orando, o alvo central ficou cada vez mais
forte e dominante: a necessidade de encontrar-se com Deus. Às vezes,
orávamos por uma hora, outras vezes, por duas – e algumas vezes
durante a noite inteira.

Certa vez, quando Marie Monsen estava passando outra vez por nossa
região, ela me disse: “Irmão Culpepper, um grande avivamento está para
vir, e começará com a Missão do Norte da China [a missão batista do
Culpepper]”.

“Como você pode ter tanta certeza disso”, perguntei-lhe.

“Porque Deus tem uma aliança na sua Palavra que nunca foi quebrada,
desde os tempos de Salomão”, ela respondeu. Em seguida, ela citou 2
Crônicas 7.14.

“Vocês aqui”, ela continuou, “acima de todos que conheço na China,


estão fazendo exatamente isso. Estão humilhando-se, confessando os
pecados uns aos outros, acertando toda e qualquer pendência, fazendo
restituição. E estão orando. Dá impressão que nunca param de orar!
Estão buscando a Deus de todo o coração.”

Nosso sentimento era como o do salmista: “Como suspira a corça pelas


correntes das águas, assim, por ti, ó Deus, suspira a minha alma. A minha
alma tem sede de Deus, do Deus vivo; quando irei e me verei perante a
face de Deus?” (Sl 42.1,2). Deus deu-nos essa fome e, ao mesmo tempo,
a certeza de que ele mesmo iria saciá-la.

Muita Confissão e Arrependimento

Quatro anos depois que começamos a realmente buscar a plenitude do


Espírito em oração, Deus visitou a China com grande poder. Começou
em Pingtu, uma outra cidade na província de Shantung. Nós, da cidade
de Hwanghsien, onde ficavam o seminário e as escolas de ensino
fundamental e médio, temíamos que o Senhor fosse nos deixar de lado.

Reunimos, então, um grupo de 40 pessoas para orar durante uma


semana. Enquanto orávamos, o Senhor trouxe profunda convicção ao
meu coração do pecado de não estar cheio do Espírito Santo. Depois de
tratar com várias outras coisas nesses quatro anos, ele agora estava
apontando isso, e foi tão forte que senti que ele praticamente me
mataria se eu não resolvesse a questão de uma vez por todas.

Fiquei tão desesperado que continuei orando sozinho até meia-noite.


Como não obtive paz, fui chamar minha esposa, e ela se levantou para
orar junto comigo. Só consegui alívio quando disse: “Senhor, vou
confessar minha negligência diante do povo”.

As pessoas me elogiavam, dizendo que era um ótimo missionário, que


realizava uma obra muito boa – e eu o aceitava. Por isso, dispus-me a
dizer ao povo, no dia seguinte, como o Senhor revelara minha condição
de pecado, de incapacidade e desesperança, como não havia valor
algum em mim mesmo.

No dia seguinte, de manhã, quando o grupo voltou para continuar a


semana de oração, levantei e fiz a confissão. Foi aí que o Senhor fez
algo maravilhoso. Outras pessoas começaram a confessar pecados,
caíam de joelhos sob convicção do Espírito e clamavam a Deus.

Isso foi na terça-feira, de manhã. Continuamos ali durante quatro dias e


quatro noites e, no fim, o grupo crescera para cerca de 200 pessoas. O
lugar em que estávamos ficava lotado, às vezes, e todos que passavam
pela porta caíam de joelhos, tamanha era a convicção que carregava o
ambiente.

Um Culto de Louvor

Na sexta-feira, quase à meia-noite, a última pessoa naquela capela


estava aliviada, depois que todos haviam passado por convicção,
confissão, acerto das coisas erradas e purificação. Alguém sugeriu,
então, que encerrássemos no dia seguinte, sábado, com uma reunião
de louvor.

Pediram que eu dirigisse esse culto, e comecei lendo os primeiros


versículos do Salmo 32. Em seguida, o dirigente de louvor pediu a
congregação para ficar de pé. Aquele grupo de 200 pessoas começou
a louvar a Deus em uníssono, com um só pensamento, alguns
agradecendo, outros chorando, ainda outros rindo no gozo do Espírito.
Isso continuou por uns 15 minutos.

Alguns dos pregadores chineses vieram à frente e me abraçaram. Achei


que iam quebrar todos os meus ossos. E disseram o seguinte: “Irmão
Culpepper, sempre sentíamos que você se considerava melhor do que
nós. Agora sabemos que somos todos iguais. Você não é mais norte-
americano, nem nós somos chineses. Somos apenas filhos de Deus!”.

Em seguida, alguém sugeriu um cântico. Cantamos o mesmo


cântico durante cinco horas em seguida! Ninguém saiu de lá, ninguém
queria ir para casa. Cantamos e louvamos a Deus por cinco horas.
Finalmente, como se o próprio Senhor tivesse dito Amém, todo o mundo
parou e se assentou. Houve um silêncio tão absoluto que podíamos
ouvir a respiração um do outro. O Senhor estava dizendo: “Pronto, é só
isso!”. E todos foram para casa.

Um Batismo Maravilhoso

Mas ainda não tínhamos idéia alguma do que o Senhor pretendia fazer
conosco. Depois do culto, dois pregadores chineses que tinham muita
amizade comigo aproximaram-se e me perguntaram: “Irmão Culpepper,
você já recebeu a plenitude do Espírito Santo?”. Respondi que não sabia,
mas que desejava muito saber. Eles também não sabiam, então
resolvemos orar juntos naquela mesma noite.

Reunimo-nos, os três, no meu escritório em casa e começamos a orar,


cada um num canto, de costas um para o outro. Às vezes, orávamos em
silêncio, outras vezes em voz audível. Depois de uma hora, mais ou
menos, percebi que estava com medo. Estava com medo dos excessos
e extremos de que ouvira falar e contra os quais fora advertido.

Durante os quatro anos de oração, eu lera vários livros. Uns diziam uma
coisa, outros, algo bem diferente. Um dizia que deveríamos soltar as
rédeas e confiar em Deus. Outro, que não deveríamos jamais nos soltar,
porque o diabo poderia aproveitar a brecha. Eu tinha medo que pudesse
falar em línguas e ser expulso da minha denominação. Tinha medo de
muitas coisas…

De repente, o Senhor trouxe à minha memória Lucas 11.9-13, texto que


fala que um pai nunca daria uma pedra ao filho que pedisse pão. Era
como se fosse um raio, brilhando diretamente do céu sobre mim. Senti
que estava ajoelhado na presença do meu Pai celestial e que ele jamais
permitiria que algo errado me tocasse. Eu já havia confessado meus
pecados, tratara com tudo que o Espírito apontara no meu coração e
estava com muita sede. Então levantei minhas mãos e disse: “Senhor,
estou ajoelhado na presença do meu Pai celestial e quero tudo que tens
para mim”.
Não sei exatamente o que aconteceu. Senti que estava caindo nos
braços de Jesus. Porém, deve ter feito um ruído quando minha cabeça
bateu no chão, porque os dois irmãos chineses que estavam ali viraram-
se e me viram prostrado no chão. Para mim, porém, a sensação era de
ter caído nos braços de Jesus, de forma tão suave e doce como se
tivesse caído num colchão de penas.

A primeira coisa que aconteceu foi que minha boca se abriu, ficou tão
aberta que doíam minhas mandíbulas. Parecia que todo o vento do
mundo inteiro estava sendo aspirado e que estava passando em grande
velocidade por minha garganta. Em seguida, pareceu que Deus me
tomou, assim como um cachorro pega um coelho, e me sacudiu
fortemente. Pude sentir a língua batendo contra as laterais da boca.
Depois foi como se mil ímãs estivessem me puxando de todos os lados.

Comecei a repetir: “Já se foi, já se foi tudo, já se foi!”. Percebi que Deus
estava tomando meu velho homem e crucificando-o, de fato, na cruz.
Os dois irmãos que estavam comigo não sabiam o que isso significava
e perguntaram o que eu estava dizendo. Isso me perturbou um pouco,
pois me sentia tão maravilhosamente bem na presença de Deus.
Porém, expliquei-lhes o que estava dizendo e, com isso, me sobreveio
uma paz, tal qual nunca experimentara em toda minha vida. Depois veio
alegria do fundo do coração, com intensidade tal que pensei que
morreria de tanto rir. Ri durante algum tempo até que veio outro forte
sentimento – de ser totalmente indigno.

Tive vontade de que a Terra me engolisse por completo por ser uma
criatura tão indigna. Embora não merecesse nada além do inferno,
Jesus acabara de me tomar em seus braços, de me aproximar dele e de
me encher com seu Espírito.

Uma Batalha Espiritual

A sensação de ser indigno continuou por alguns instantes, até que deu
lugar a uma carga, um peso espiritual, um espírito intercessório em
favor da minha esposa. Quatro anos antes, ela fora curada quando
Marie Monsen e um pequeno grupo de missionários oraram em favor
de uma doença incurável em seus olhos. Desde então, havíamos
andado juntos, orando pela plenitude do Espírito Santo. Senti um
encargo de oração por ela, por meus filhos e por mais alguns amigos.

O encargo foi crescendo até que parecia que me esmagaria até a morte,
de tão forte e intenso era o sentimento. Orei ali em silêncio, sem sair
som algum dos lábios, sentindo o coração pulsar e latejar. Compreendi,
pela primeira vez, o verdadeiro significado de Romanos 8.26-27, que
fala dos gemidos inexprimíveis do Espírito ao orar segundo a vontade
de Deus em nós. Percebi que o Espírito Santo havia tomado conta da
minha vida e que estava orando através de mim.

Depois de um tempo, subi para o quarto para falar com minha esposa.
O inimigo estava travando uma batalha intensa contra sua mente e
coração, e ela exclamou: “Não quero ouvir uma palavra, não quero ouvir
nada!”.

Foi como se tivesse me esfaqueado no coração. Deitei-me na cama, ao


lado dela, e não disse uma palavra. Meu coração e meu corpo inteiro
estavam pulsando em dor, latejando com o encargo da oração do
Espírito.

No dia seguinte, ela se levantou, arrumou as crianças e as levou ao culto


dominical. Continuei na cama, sem forças para me levantar, com o
coração ainda palpitando. Continuei orando, em silêncio, sentindo, por
vezes, que meu corpo não suportaria a palpitação e a pressão do
Espírito em oração.

Falei: “Ó Deus, se quiseres me levar, tudo bem, mas eu ainda queria


testemunhar por ti”. O culto na igreja era das 9h00 às 10h00. Às 9h30,
o encargo me deixou, deixando-me leve como um pássaro, cheio de
gozo e louvor.

Levantei-me correndo e fui de bicicleta para a igreja, tentando chegar lá


antes do final do culto. Mas quando estava quase chegando, vi que o
culto já terminara, e minha esposa, Ola, e os filhos estavam voltando
para casa. Ola estava sorridente, percebi imediatamente que ela já
estava bem.

Quando chegou perto de mim, ela cochichou: “Não sei o que aconteceu
comigo, o inimigo me atacou; nunca senti nada igual em toda minha
vida. Mas, agora de manhã, os dois irmãos chineses que oraram com
você ontem deram testemunho, e a opressão foi embora. Quero que me
perdoe e que ore por mim!”.

Nem fazíamos idéia daquilo que Deus estava preparando para nós na
semana seguinte…
Charles Culpepper, presidente do seminário batista em Shantung, na
cidade de Hwanghsien, foi uma das peças importantes que Deus usou
durante o avivamento naquela região. Depois que a missionária
norueguesa, Marie Monsen, perguntou para ele se já havia sido batizado
no Espírito Santo, Culpepper ficou profundamente incomodado e iniciou
uma busca intensa em oração que levou quatro anos até receber a
resposta. Na segunda parte desta série, vimos como ele foi
poderosamente batizado no Espírito Santo enquanto, simultaneamente,
Deus já estava visitando outras cidades na província.

Logo após o batismo de Culpepper, Deus começou a agir na escola que


os missionários mantinham na mesma cidade. A história do que
aconteceu está na continuação do testemunho do próprio Culpepper.

Avivamento nas Escolas

Na noite daquele domingo [um dia após o meu batismo no Espírito], uns
três ou quatro casais reuniram-se em nossa casa, outra vez. Oramos
por aproximadamente duas horas, e o grupo inteiro de 10 a 12 pessoas
foi tremendamente visitado. Todos ficaram cheios de alegria, alegria
transbordante e indizível, cheio de glória. Rimos, choramos, louvamos a
Deus por muito tempo. Estávamos cheios de gozo, mas não sabíamos
o que Deus estava para fazer. Ele estava preparando tudo para um
grande avivamento, trabalhando em nossos corações, não só em
Hwanghsien, mas em vários outros lugares ao mesmo tempo.

A missão batista tinha uma escola em Hwanghsien, para alunos de 12


a 18 anos. Havia umas 600 garotas na escola feminina e uns 1000
garotos na escola masculina. Na segunda-feira, as escolas estavam
recomeçando as aulas, depois das férias de inverno. Embora fosse uma
escola missionária, só havia uns 150 garotos e 120 garotas batizados.
Os outros eram, quase todos, de famílias cristãs, mas que ainda não
tinham experimentado uma conversão.

Ao chegarem à escola naquela segunda de manhã, os alunos


encontraram um ambiente já fortemente carregado com a presença do
Espírito Santo. Sem que ninguém organizasse nada ou tomasse
qualquer iniciativa, os alunos começaram a sentir forte convicção de
pecados. Tomados de surpresa, os professores nos chamaram, no
seminário, para ir até lá e ajudá-los.
Quando cheguei lá, havia quatro ou cinco garotos e o mesmo número
de garotas em salas desocupadas. Sentindo grande convicção de
pecados e chorando, confessaram que haviam mentido aos pais,
colado nas provas, roubado objetos uns dos outros e sido desonestos
em outras ocasiões. Ficamos com eles por algumas horas, até
acertarem a vida com Deus e alcançarem a paz.

Pensamos que no dia seguinte tudo voltaria ao normal e que as aulas


começariam para valer. Mas não foi o que aconteceu. O diretor das duas
escolas mandou um recado para mim e para o Pr. Wong (um dos
pastores chineses), dizendo que Deus estava enviando um avivamento
e que ele iria cancelar as aulas por um tempo. Pediu que eu assumisse
uma reunião por dia (às 10 horas da manhã) e o Pr Wong, a outra (às 19
horas).

Os alunos enchiam a capela, mais ou menos 1.500 pessoas, em cada


reunião. Um bom grupo daquelas 200 pessoas que haviam sido
visitadas na semana anterior [veja a parte II desta série] estava presente
também. Ficavam em pé, em volta do auditório, nas paredes.

Começávamos a reunião, eu lia alguns textos nas Escrituras e explicava


como podiam ser salvos. Mal terminava a explicação, sem esperar o
início dos cânticos, os garotos e as garotas da escola já corriam para
frente, chorando e caindo de joelhos. Aqueles que já haviam encontrado
com Deus na semana anterior vinham e ajoelhavam-se ao lado de cada
um, ajudando-os a achar o caminho da conversão e da paz com Deus.
Dezenas de alunos tiveram experiências com Deus em cada reunião. Ao
final de dez dias, cada uma das 600 alunas já estava convertida. Dos
1000 garotos, 900 tiveram experiências de salvação.

Numa ocasião, no meio da primeira semana, depois de ter pregado e


feito o convite, dezenas de alunos vieram para frente e oramos com
cada um. Estávamos quase prontos para encerrar a reunião quando um
dos professores veio correndo e disse: “Irmão Culpepper, um rapaz, lá
no fundo, embaixo da cadeira, está chamando você”.

Fui até lá e ajoelhei-me ao seu lado. Ele disse: “Sr. Culpepper, o senhor
não me conhece. Sou um ateu, sou comunista. A escola não sabe disso,
ninguém sabe. Mas temos aqui uma célula de uns oito ou dez alunos
que também são comunistas. E estávamos planejando matar o senhor
e todos os missionários. Queríamos queimar as igrejas, exterminar o
cristianismo. Hoje ouvi falar sobre esse avivamento. Falei: ‘Não existe
nenhum Deus e não existe nenhum fenômeno que possa ser chamado
de avivamento. Aquele missionário está hipnotizando as pessoas, e eu
vou lá esta noite para impedi-lo’. Cheguei aqui e ouvi o senhor pregar, vi
as pessoas indo para frente, confessando os pecados e chorando.
Então eu disse: ‘Vou calar esse homem agora!’. Comecei a levantar-me
do meu lugar, mas nem cheguei a ficar totalmente em pé quando algo
me atingiu bem no coração. Sei que foi Deus que me derrubou e me
jogou aqui embaixo desta cadeira. Agora aqui estou e quero lhe dizer,
sr. Culpepper, que o senhor está certo e eu estou errado.”

Na noite seguinte, o Pr. Wong estava dirigindo a reunião. Um garoto do


meu lado caiu da cadeira e ficou esticado no chão rígido como uma
tábua, rangendo os dentes e apertando os punhos. Depois de despedir
a reunião, quando os outros haviam ido embora, os professores ficaram
em volta do rapaz, orando por ele. Mas ele disse: “Não orem por mim,
levem-me para casa para morrer”. Continuamos a orar, e finalmente ele
disse: “Oh, Deus, se não me matares, confessarei meus pecados”. Em
seguida, confessou praticamente a mesma coisa que o primeiro do
grupo comunista havia confessado.

No final, metade daquele grupo de 10 comunistas foi convertida e


metade fugiu.

Avivamento nas Igrejas

Na semana seguinte, um dos pastores veio falar comigo. Ele era


responsável por uma igreja que eu conhecia bem. Por dois ou três anos,
eu havia dado assistência lá. Com um total de 30 e poucos membros,
geralmente a frequência nos cultos oscilava entre 15 e 20 pessoas. Era
uma igreja seca, sem vida. Nada do que fazíamos surtia qualquer
resultado. Quando havia um ou dois convertidos dentro do período de
um mês, ficávamos muito felizes.

Mas, naquela semana depois do avivamento na escola, esse pastor


chegou e disse: “Irmão Culpepper, o povo está chegando aos montões.
Estão enchendo a casa e a área do lado de fora. Preciso de ajuda.”

Fui naquela mesma noite, e realmente o local estava abarrotado. Tinha


gente dentro do pequeno edifício e em todo o espaço em volta dele.
Tentavam ouvir através das janelas e das portas. Fizemos reuniões
durante uma semana, e cada vez que eu pregava, dezenas de pessoas
vinham para frente. Ao todo, 100 pessoas fizeram uma decisão por
Jesus, e batizei 86 pessoas no mesmo dia.

Eu estava transbordando de alegria. Nunca havia batizado mais do que


cinco ou seis pessoas, talvez 8, no mesmo dia. Geralmente, tínhamos
que esperar dois ou três meses para ajuntar esse número. Meu gozo
estava completo, quase insuportável, de poder ficar quase como
espectador, vendo Deus agir e fazer milagres tão tremendos!

Poucas semanas depois, outro pastor veio, desta vez de uma região
mais distante, a uns 150 km da missão. Fui para a cidade dele, e tivemos
duas semanas de reuniões. Deus agiu poderosamente, e 300 pessoas
se converteram. Batizei 203 em um só dia. Mais uma vez, senti tanta
alegria que mal conseguia contê-la.

Na província de Pingtu, onde o avivamento começou (antes de chegar


à nossa província), houve 3000 conversões no primeiro ano. Jamais
sonhamos em ver tantas conversões em apenas um ano. O número de
igrejas dobrou-se, triplicou-se. Não havia mais problemas financeiros
na obra de Deus, pois as pessoas traziam seu dinheiro, traziam seus
corações. Elas cantavam, decoravam os salmos, creio que
memorizaram mais de 30 salmos e os adaptaram a melodias chinesas.
Amavam a Bíblia, liam muito a Palavra de Deus. Coisas maravilhosas
aconteciam todos os dias.

É claro que o inimigo não estava satisfeito e não ficou sem ação, não
deixou que avançássemos sem oposição. Usou todos os seus recursos
para nos atacar. Tentou impedir-nos, confundir-nos, imitar-nos. Tentou
de tudo para parar a obra de Deus. Contudo, Deus deu-nos
discernimento. Para isso, dou todo o crédito a ele. Não éramos nós os
“entendidos” ou os “espertos”. Era simplesmente Deus concedendo
discernimento ao seu povo.

Testemunhos da Ação de Deus

Houve vários casos de restituição. Um dia, estávamos orando, todos de


joelhos. No final, quando nos levantamos, vimos um pacote de dinheiro
em cima da mesa. Havia moedas (de valor equivalente a um dólar) e
algumas notas. Junto com o pacote, havia uma nota escrita pela esposa
de um dos pastores, dizendo que era o dinheiro do dízimo que ela
roubara do Senhor, retendo-o para si mesma.
Em outra ocasião, um diácono da igreja veio ao culto de santa ceia
trazendo uma cesta carregada de moedas (também com valor
aproximado de um dólar cada). Estava pesada, tinha umas 500 moedas.
Ele chegou e colocou a cesta em cima da mesa da ceia do Senhor.
Dentro da cesta, havia um bilhete explicando que era o dízimo que
roubara de Deus durante muito tempo. Várias outras pessoas
começaram a sentir o mesmo toque de Deus para acertar a vida nessa
área.

Certa manhã, um homem chegou à reunião de oração com o rosto


inchado e vermelho, lágrimas escorrendo pelas faces. Foi naquela
primeira semana, quando a reunião começou numa terça e continuou,
sem interrupção, durante quatro dias. Sempre havia gente na sala de
oração, às vezes pouco mais de dez pessoas, em outras até 200.
Naquela manhã específica, havia umas 50.

“Vocês sabem”, ele nos disse, “que minha esposa não é convertida.
Deus mostrou-me ontem à noite que ela não é convertida por causa de
mim. É impossível ela se converter. Estou vivendo uma vida hipócrita.

“Vocês não conhecem minha esposa. Tenho medo dela, pois é um


verdadeiro terror. Ela não quer que eu dê meu dízimo à igreja. Então
tenho mentido para ela. Tiro o dízimo do meu dinheiro e depois chego
em casa e digo que é só isso que tenho.

“Também em outro assunto eu a tenho enganado. Ela não quer que eu


vá para os cultos. Acha que é uma perda de tempo. Sempre há tanta
coisa para arrumar, para consertar em casa, e ela quer que eu faça
essas coisas no lugar de perder tempo indo para os cultos. Se eu
insistisse em ir para os cultos, ela ameaçava seguir-me até o local e
entrar na reunião, gritando, caindo no chão, fazendo um escândalo e me
envergonhando. Vocês não conhecem minha esposa – ela seria capaz
de fazer exatamente isso! Tenho medo dela!

“Então, aos domingos, falo que preciso ir ao mercado. Vou ao culto


primeiro e depois passo no mercado e faço algumas compras. É assim
que a tenho enganado.

“Mas ontem à noite, Deus tratou duramente comigo. Preciso ir para


casa e confessar que tenho mentido para ela. Preciso contar tudo que
tenho feito. Quero que orem por mim.”
Em seguida, ele saiu, enquanto o grupo ficou em oração. Depois de uma
hora ou mais, ele voltou, os olhos ainda cheios de lágrimas, só que desta
vez eram lágrimas de alegria. Em seguida, contou-nos como Deus
operara.

Ao bater na porta, a esposa saiu xingando, pois ele não voltara para
casa na noite anterior. Xingou e humilhou o marido com todo o
vocabulário que conhecia. Mas ele disse: “Pare de xingar. Voltei para
casa para confessar meus pecados para você”.

Quando ouviu as palavras “confessar pecados”, a esposa parou. Pela


primeira vez na vida, algo calou os seus lábios. Ela estava surpresa,
atônita. Ele, então, entrou e contou-lhe tudo que Deus lhe havia
mostrado como pecado em sua vida. Ao terminar, ele disse: “Agora já
lhe contei tudo que Jesus apontou em minha vida”.

“Foi Jesus que mandou você me contar tudo isso?”, ela perguntou.

“Sim, foi Jesus. Eu não poderia continuar vivendo sem confessar essas
coisas, sem acertar minha vida com você.”

“Então, acho que preciso de Jesus na minha vida também”, ela


respondeu.

Foi assim que, no espaço de umas duas semanas, ela se converteu e


também todos os seus filhos.

Sentimento de Indignidade

Esse foi apenas um exemplo das coisas maravilhosas, dos milagres


que Deus operou naqueles dias. Em tudo, nos sentíamos muito
insignificantes, era apenas assistir, ficar de lado observando enquanto
Deus agia. Eu me sentia tão indigno que queria morrer, sumir de tão
indigno.

Senti-me como os discípulos, quando Jesus estava no barco deles e


ordenou que se dirigissem para o meio do lago e lançassem as redes.
“Senhor”, eles responderam, “trabalhamos a noite inteira e não
pegamos nada. Porém, sobre tua palavra, o faremos.”

Abaixaram as redes e pegaram peixes para encher dois barcos. Ficaram


tão estupefatos que caíram aos pés de Jesus. “Senhor”, disse Pedro,
“retira-te de mim, porque sou pecador.”
Era exatamente assim que me sentia. Antes do avivamento,
labutávamos, nos esforçávamos, empurrávamos, usávamos nossos
métodos e recursos, tudo que podíamos imaginar para ganhar pessoas
para Cristo, para achar o avivamento, para fazer a obra de Deus. Depois,
quando o avivamento chegou, de acordo com a ordem de Deus, ele
desceu com o poder do seu Espírito. Vimos multidões sendo salvas.
Coisas impressionantes aconteceram, e isso continuou por mais ou
menos 15 anos.

O Propósito de Deus no Avivamento

Havia períodos de explosão, quando o avivamento espalhava-se como


chamas de fogo fora de controle durante alguns meses. Depois,
acalmava-se, entrando em uma fase mais quieta em que o Espírito
Santo aprofundava a obra. Nesses períodos, havia mais ensinamento,
mais estudo da Palavra. Depois de algum tempo, as chamas irrompiam
outra vez.

O avivamento espalhou-se por toda nossa província de Shantung e por


mais cinco províncias no norte. Continuou sem parar por quase 15 anos,
até a chegada dos comunistas. Até durante a guerra com o Japão,
quando todos os missionários foram expulsos, os pregadores e
obreiros chineses continuaram levando a Palavra.

Tenho muita convicção de que Deus, sabendo o que viria para a China
(a guerra com os japoneses e, depois, a vinda dos comunistas), enviou
o avivamento para preparar o seu povo. Ele sabia que todos os
missionários, todos os auxílios e suportes que foram dados para
fundamentar e fortalecer a Igreja na China seriam retirados. E ele queria
que os próprios chineses, os pastores e obreiros e todos os homens e
mulheres na igreja pudessem realmente conhecer a Deus, face a face,
e ser cheios de poder.

Hoje, quando não há mais missionários lá, ninguém pode pregar


abertamente e as igrejas estão fechadas, as pessoas lá têm a presença
de Deus. Não têm permissão de possuir Bíblias, não podem reunir-se
em igrejas. Porém, têm um sistema subterrâneo, um jeito de superar
isso que é maravilhoso. E Deus está ali com eles.

Creio firmemente que Deus queria prepará-los para o que viria e, por
isso, enviou esse grande avivamento no tempo apropriado. Agora,
recebemos notícias deles por vias que não podemos revelar.
Embora seja ilegal possuir Bíblias, eles ainda têm algumas. Nunca
podem levar uma Bíblia a uma reunião. Mas usam uma senha secreta e
reúnem-se em grupos de quatro ou cinco pessoas, em noites escuras,
debaixo de uma ponte ou outro local afastado. Escondem uma página
da Bíblia dentro de um tubo de bambu, ajoelham-se juntos, embaixo de
uma coberta, usando uma lanterna, choram juntos, lêem uma
passagem, oram e consolam um ao outro. Para eles, a Bíblia é um
tesouro de valor infinito. Dariam tudo para desfrutar das oportunidades
que temos aqui no mundo livre.

Deus sabe o quanto precisamos de um avivamento como aquele em


nossos dias, aqui no mundo ocidental. No avivamento, Deus mesmo
age. Ninguém mais nos poderá ajudar. Somente Deus.

Um dos instrumentos que Deus usou para iniciar o avivamento em


Shantung foi a missionário norueguesa, Marie Monsen, como vimos em
capítulos anteriores. A seguir, algumas informações adicionais sobre
sua maneira de ministrar, relatados por uma colega de ministério.

Em novembro de 1931, na província de Honan, um grupo de


missionários estava aguardando o retorno da nossa companheira de
missão, Marie Monsen. Em 1927, Deus a havia usado poderosamente
nas províncias de Chili, Shantung e Shansi para avivar as igrejas lá.
Parecia-nos estranho que Deus a tivesse levado do nosso meio para
despertar igrejas em outros locais enquanto nós continuávamos
ansiando e orando por um avivamento em nosso próprio campo.

Os missionários mais antigos há muito oravam com perseverança e


lágrimas por causa da falta de vida nas igrejas. Mas, com as notícias da
visitação de Deus em outros lugares, nossas orações tomaram nova
vida. Cada carta de Marie Monsen trazia novo ímpeto para nós,
intensificando nossas orações com o passar do tempo, até que se
tornaram uma espécie de chamada de emergência.

Finalmente, tivemos a notícia de que ela estaria conosco na conferência


anual da missão em Chenping, de 13 a 15 de novembro. Havia uma
sensação geral de expectativa durante nossa viagem para o local da
conferência, e não fomos desapontados nisso. Foi uma experiência
realmente inesquecível.

O primeiro texto que ela usou foi de João 3: “Necessário vos é nascer de
novo”. A maior parte de sua pregação consistia em perguntas curtas,
lançadas com seriedade santa e penetrante: “Por que você é cristão?
Não é porque deseja entrar no céu? O que Jesus diz aqui? ‘Se alguém
não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus.’ Você não pode ver,
não pode…” Estas palavras penetravam como chumbo no coração dos
ouvintes.

O texto seguinte foi Apocalipse 20.12, a respeito dos pecados que


estavam registrados nos livros com tanta clareza e definição. Também
em Jeremias 17.1, sobre os pecados escritos “com um ponteiro de
ferro”, gravados “na tábua do coração”, de tal forma que ninguém pode
apagá-los.

Outro texto usado foi em Marcos 14.3-11, sobre Judas. “Ele era um
pregador do evangelho”, ela disse. “Era membro da igreja, um discípulo.
Mas era falso, um ladrão. Você é um pregador do evangelho ou é um
ladrão?”

Ela se dirigia, em primeiro lugar, aos líderes e obreiros das


congregações. Falou do texto em Provérbios 28.13 a respeito de
encobrir os pecados. Todos nascem com a inclinação de encobrir os
próprios pecados. Também usou Isaías 59.1-4 (“vossas iniquidades
fazem separação entre vós e o vosso Deus”); Isaías 64.6 (“todas as
nossas justiças como trapo de imundícia”); 1 Coríntios 6.9 e Marcos
7.21-23, junto com a pergunta: “Este texto contém um catálogo de
pecados; leia e veja se seus pecados estão relacionados aqui”.

Em seguida, falou de João 1.14: “cheio de graça e de verdade”. “Ele não


permitirá que você permaneça cheio de falsidade e engano. Se você tão-
somente reconhecer seus pecados diante de Deus, eles se tornarão
brancos como a neve (Is 1.18).”

Finalmente, exortou os convertidos a permanecerem na vontade de


Deus. “Os não convertidos deixaram a vontade de Deus para trás. Os
convertidos têm a vontade de Deus diante de si. Alguns estão dentro
dela, outros estão fora. Tentam esticar a vontade de Deus para
conformá-la à vontade própria.”

No final de cada reunião, ela ficava em pé perto da porta, e poucos


conseguiam passar sem serem indagados: “Você já nasceu de novo?”

“Cortava o coração como a ponta de uma espada”, eles relatavam


depois. Na reunião seguinte, a espada penetrava de novo: “Você ainda
está no caminho da destruição?”.
Muitos iam conversar com ela e confessar seus pecados, mas ela os
mandava embora, às vezes por três ou quatro vezes. Não estavam
sentindo verdadeira necessidade. “Ore para que o Espírito de Deus o
ilumine a respeito de seus pecados”, era a advertência que recebiam.
Ela nunca cansava de alertar-nos: “Não colha fruto que não está
maduro”.

Depois da conferência, houve uma série de reuniões especiais para


obreiros e líderes. Aqueles que estavam presentes testemunharam de
manifestações poderosas do Espírito Santo durante aqueles dias. Marie
Monsen passou uma noite inteira em oração para obter coragem de
chegar ao Pastor Han Liu Ging e dizer que temia que ele ainda não tinha
vida nova em Deus. Ele passou a sentir grande convicção do Espírito e,
depois de dois dias, encontrou libertação.

Mais tarde, ele relatou que algo derreteu no seu interior quando Marie o
chamou à parte. Ele sentiu que o amor de Deus a impelia e que
precisava render-se. Posteriormente, tornou-se um auxiliar de Marie
durante uma série de reuniões e foi usado por Deus para espalhar o
avivamento.

A estratégia de Marie era primeiro destruir a falsa segurança dos


membros de igreja. Ela falava a respeito dos diversos tipos de
remendos que os não regenerados usavam para se encobrirem e
convencerem a si mesmos que eram convertidos. Depois ela falava a
respeito de pecados, um por um. Segundo ela, foi só depois de vários
dias de luta em oração que alcançara disposição de “descer no lamaçal
e na podridão do pecado” e falar abertamente do sexto mandamento,
contra o adultério. Quando obedecia e trazia esse pecado específico à
luz, porém, uma das fortalezas mais resistentes de Satanás se rompia,
enfim.

Outro texto que pesava muito no espírito dela era: “Horrível coisa é cair
nas mãos do Deus vivo” (Hb 10.31). Com essas palavras, muitas
pessoas eram levadas a ficar face a face com Deus.

Finalmente, as palavras de promessa graciosa das Escrituras vinham


como bálsamo nas feridas abertas. “Se Jesus, que não tinha pecado,
não tivesse assumido o pecado em nosso lugar, Deus nunca poderia ter
dito ‘Venha’ ao pecador. Quando você estiver bem sério sobre seus
pecados, Deus, que não pode suportar o pecado, falará palavras de
consolo ao seu coração.”
Em cada série de reuniões, não havia um movimento muito pronunciado
nem grandes resultados visíveis. Ela sempre estava atenta para impedir
manifestações emotivas muito fortes ou confissão pública. Tudo era
conduzido sem alarde. Depois de Marie ir embora, ficava evidente que
o Espírito de Deus havia deixado marcos profundos. E podíamos
começar a fazer a colheita de almas.

Na primavera de 1929, Marie Monsen embarcou no porto chinês de


Tientsin com destino a Hwanghsien, na província de Shantung, onde iria
ministrar em uma série de reuniões. Na soberania de Deus, ela acabou
pegando um navio que partiu um dia antes da data planejada. Ela
também foi dirigida por Deus, sem entender o motivo, a comprar dois
ou três quilos de maçãs, para levar na viagem. Além disso, levou quatro
caixas de chocolate.

“Nunca antes, eu havia guardado tanto chocolate”, ela contou depois.


“Desde o final de fevereiro, comecei a receber esses pacotes de
chocolate, e cada vez que chegava um, eu ouvia as palavras: ‘Guarde
isso para uma emergência’. Eu tinha alguns biscoitos, biscoitos secos.
Várias vezes, eu quis deixar essas coisas para trás, mas sempre ouvi as
mesmas palavras: ‘Guarde-as para uma emergência’.”

No segundo dia da viagem, Marie descobriu para que precisaria de tudo


isso. Logo de manhã, quando estavam se aproximando da costa de
Shantung, ela ouviu o som de tiros vindo de várias direções do navio.
Uns vinte ladrões haviam se infiltrado no navio como passageiros
comuns e estavam, naquele instante, tomando o controle de tudo.
Enquanto isso, Marie ouviu as seguintes palavras no seu espírito: “Esta
é a prova da sua fé”. Ao invés de sentir medo, ela sentiu um forte impulso
de alegria e expectativa.

“Fui lembrada, imediatamente”, ela contou, “de um texto que eu havia


usado muito nos últimos anos. Está em Isaías 41.10, e era assim que
eu o lia: ‘Não temas, Marie, porque eu sou contigo; não te assombres,
Marie, porque eu sou o teu Deus; eu te fortaleço, Marie, com a minha
destra fiel. Não temas, Marie’.

De repente, as portas foram abertas e os piratas ordenaram que os


passageiros saíssem das cabines e fossem para o convés. Marie não
se mexeu. Ela sabia que estava justamente naquele navio, que partira
um dia antes do previsto, porque o Senhor queria que ela estivesse lá.
Até a cabine em que estava fora uma resposta à oração, porque quando
chegara para procurar passagem, não havia vaga nenhuma no navio, e
um oficial lhe cedera a cabine dele. Por isso, resolveu não sair de lá.

Um jovem ladrão entrou na cabine e exigiu o relógio dela. Depois


mandou guardá-lo, pensando em voltar mais tarde para buscá-lo. Só
que pouco depois, um outro ladrão chegou e exigiu que Marie lhe desse
o relógio como presente. Quando ela se recusou, o ladrão ameaçou
atirar nela.

“Ah, não”, ela respondeu. “Você não pode atirar em mim. Não pode atirar
em mim só porque você quer.”

Então, ela citou a promessa de Deus e explicou o significado dela. “Meu


Deus disse que nenhuma arma forjada contra mim prosperaria. Você
não pode usar sua pistola à hora que quiser e atirar contra mim. É
preciso ter uma permissão especial do Deus vivo para fazer isso.”

Gesticulando, o ladrão apontou a arma para ela novamente. “Você não


pode fazer isso, não pode”, ela insistia. “Tenho uma promessa de Deus
de que nenhuma arma forjada contra mim prosperará.”

Ela repetiu isso umas quatro vezes para o ladrão. Depois disso, várias
vezes durante os 23 dias em que estiveram no navio, ela ouviu o moço
repetir as palavras para si mesmo. Embora não quisesse aceitá-las,
parecia que não tinha como se livrar delas.

“Imagine, ela disse que não posso atirar contra ela quando quero porque
Deus lhe prometeu que nenhuma arma forjada contra ela prosperaria!”

Outra promessa que Marie tomou para si foi do profeta


Malaquias. “Poupá-los-ei, como um homem poupa a seu filho que o serve.
Então vereis outra vez a diferença entre o justo e o perverso, entre o que
serve a Deus e o que não o serve” (Ml 3.17,18).

Marie pediu a Deus que houvesse uma diferença tal entre ela, como filha
de Deus, e os outros duzentos passageiros no navio, que todos
pudessem ver que ela tinha um Deus vivo, que o Deus dela era
verdadeiramente Deus, merecedor de todo louvor. E suas orações
foram respondidas.

Um muro de fogo

A seguir, um testemunho da proteção de Deus nas palavras da própria


Marie.
Vi dois ladrões do lado de fora da minha cabine. Eu já vira vários ladrões
antes na China, mas nunca vi ninguém com aspecto mais sinistro do
que aqueles dois. Um empurrou o outro para dentro da minha cabine e
fechou a porta. Ele tentou trancá-la, mas a chave estava quebrada.
Então, lá estava esse homem dentro do cubículo que era minha cabine.
Senti que o próprio diabo em pessoa estava ali. O rosto, o pescoço e as
mãos dele estavam cheios de feridas horríveis, feridas abertas.

Ele sentou na minha mala, quase respirando sobre meu rosto. Repeti a
promessa que já me sustentara muitas vezes na província infestada de
ladrões onde eu morava: “O anjo do Senhor acampa-se ao redor dos que
o temem, e os livra” (Sl 34.7). E lembrei-me de uma outra promessa
naquele momento: “Pois eu lhe serei, diz o Senhor, um muro de fogo em
redor” (Zc 2.5). Um muro de fogo em meu redor.

Uma vez, quando precisei atravessar um distrito cheio de ladrões, na


noite anterior o Senhor permitiu que eu o visse. Acordei de repente e
parecia que o telhado fora retirado da casa. Vi uma muralha de fogo
mais alta do que a casa, em toda a minha volta, e ouvi uma voz que
dizia: “O Senhor é como um muro de fogo em redor de seu povo”. Eu via
flechas vindo de fora, uma quantidade incalculável de flechas; mas as
chamas as consumiam, e nenhuma conseguiu atravessar aquela
muralha de fogo que me cercava. Já conhecia aquele texto há muitos
anos, mas nunca compreendera o significado como naquele momento.

Então tomei posse da promessa de que o Senhor seria como uma


muralha de fogo ao meu redor ali na cabine do navio. E, logo em
seguida, aquele homem infame sentado à minha frente estava preso
contra a parede, antes que pudesse tocar em mim.

Comecei a conversar com ele. “Sua mãe ainda está viva?”

“Sim”, ele respondeu.

“Quantos anos ela tem?”

Quando ele me contou, eu disse: “Bem, é mais ou menos a minha idade”.


Perguntei a respeito de seu pai e do resto de sua família, e acabamos
conversando muito. Pedi que ele abrisse a porta, e ele me atendeu.
Descobri que ele conhecia um missionário. “É um homem muito bom,
não há homem melhor no mundo”, ele disse. Ele conhecia alguns outros
cristãos verdadeiros também. Conversamos por uma hora e, quando ele
saiu, estava com lágrimas nos olhos. Ele saiu com aspecto bem
quebrantado, e nunca mais o vi perto da minha porta.
O sustento de Deus

Durante cinco dias e noites, os piratas assaltaram toda embarcação que


encontravam e mandavam o saque para o acampamento deles em
terra. No segundo dia, um outro barco chegou com mais armas e
munição, e o número de bandidos aumentou para 50 ou 60 homens.

Entre os bens roubados das diversas embarcações, havia toda espécie


de enlatados e finas iguarias alimentícias. Os piratas comiam perto da
cabine de Marie. Sempre ofereciam para ela também, mas ela sempre
recusava.

“Não posso comer aquilo que foi roubado”, ela dizia.

“Mas você vai morrer de fome.”

“Não, meu Pai é capaz de me sustentar”, ela afirmava.

Durante nove dias, o sustento dela veio das maçãs, dos chocolates e
dos biscoitos que trouxera, sem saber por quê. No décimo dia, o
segundo oficial do navio, que lhe cedera a cabine, veio e bateu à porta
dela. Perguntou se ela tinha alguma coisa para comer e, quando
descobriu que já acabara tudo, disse-lhe: “Bem, eu tenho uma caixa de
ovos nesta cabine que comprei em Tientsin com meu próprio dinheiro,
dinheiro limpo. Tenho uma caixa de bolos chineses também. Você pode
ficar com tudo.”

“Do décimo dia até o final dos 23 dias”, ela contou, “Tive um ovo de
manhã, um ovo para o almoço, às vezes dois, e um ovo para a refeição
da tarde. Eu orava para que o Senhor fizesse daquele ovo uma
verdadeira refeição, que valesse para mim como se fosse legumes e
fruta e tudo aquilo de que necessitava. Foi exatamente isso que ele fez.
Não tive problema nenhum por falta de comida; quando terminava de
comer um ovo, sentia-me tão satisfeita que não daria conta de mais
nada, mesmo que tivesse algo mais para comer.”

Todos os dias, enquanto os piratas comiam, Marie entregava folhetos


para os homens. Um lia em voz alta, e os outros explicavam o
significado. Muitas vezes, segundo seu testemunho, via lágrimas nos
olhos deles. Diziam: “Só podemos ser muito maus. Você, não. Você
nasceu boa. Não nos odeia como os outros passageiros”.
Então ela explicava que nascera com o mesmo coração mau que todos
os homens têm. E falou da única maneira de ter o coração
transformado.

Todos os dias, o homem que era considerado o chefe do grupo vinha


no começo da noite, enquanto Marie ficava no convés para respirar um
pouco de ar fresco.

“Conversamos durante horas, todos os dias”, ela contou. “Mesmo na


última noite (eu não sabia que seria a última noite), conversamos
durante umas duas horas sobre os assuntos que eu queria. Falei sobre
o futuro, sobre a volta de Jesus, sobre a tribulação que viria sobre a terra
e como o Senhor viria para buscar seu povo.”

Às vezes, alguns tentavam provocá-la. “Você não sabe que vale muito
dinheiro? Não está impaciente? Não está louca para ser libertada e ficar
livre de nós?”

“Não”, ela respondeu. “Deus me enviou para a China para pregar o


evangelho, e agora ele quer que eu pregue para vocês. Então estou
disposta a ficar aqui enquanto ele quiser. Foi ele que permitiu que isso
acontecesse.”

Eles ficavam admirados com a sua tranquilidade. “Você consegue


entender a paz que ela tem? Dá para ver no rosto dela. Olhe para os
passageiros; estão pálidos, exaustos e mais impacientes a cada dia que
passa.”

Marie agradeceu a Deus por ter respondido sua oração e mostrado para
eles a diferença.

Tirando a presa do valente

Nos últimos cinco dias, a maior questão para os piratas era o que fazer
com Marie Monsen. Em três ocasiões diferentes, planejaram tudo para
fugir do navio, levando-a consigo, mas cada vez algo acontecia para
frustrar os planos. Eles tinham quarenta ou cinquenta embarcações que
haviam assaltado e confiscado e que estavam lotados com os bens
saqueados. Pretendiam colocar Marie em uma delas, quando surgiu
uma forte tempestade, impedindo-os de deixarem o navio. Cada vez,
ficava mais forte a percepção de que o Deus dela não estava permitindo
que a levassem.
O vigésimo terceiro dia caiu num domingo. Às três horas da tarde, ouviu-
se um tiro. Uma embarcação armada estava se aproximando. A maioria
dos ladrões abandonou o navio. Deixaram apenas dez. Houve uma
perseguição acirrada durante umas duas horas. Os piratas queriam
deixar o navio e levar Marie junto.

“Precisamos levar a estrangeira”, diziam. “Não vão atirar contra nós se


virem o rosto estrangeiro.”

No fim, entraram num dos barcos. Marie ouviu a conversa deles: “O que
adianta trazer a estrangeira? Ela não come quase nada há 23 dias. Não
conseguirá correr, não conseguirá nem andar. Veja as circunstâncias
em que estamos; deixem-na para trás!”

“Assim fui deixada pelos piratas”, testemunhou Marie. “É claro que fui.
Como diz a Escritura: ‘Por certo que os presos se tirarão ao valente, e a
presa do tirano fugirá’ (Is 49.25).”

Marie também testemunhou a respeito da importância da oração


durante todo esse período de provação. “Durante os primeiros quatro
ou cinco dias, os amigos e irmãos em Cristo não sabiam o que estava
acontecendo; por isso, ninguém estava orando. Naqueles dias, senti que
estava nadando contra a correnteza; mesmo assim, tive confiança que
receberia forças e que teria a vitória. Depois que as notícias chegaram,
e as pessoas começaram a orar, senti uma grande diferença. Era como
se estivesse flutuando nas águas, sem fazer esforço algum, apoiada
firmemente nas promessas. Nos últimos sete dias do seqüestro, meus
familiares receberam uma notícia equivocada de que eu já fora
libertada. Então fizeram reuniões de louvor e gratidão. Na verdade,
foram os dias mais difíceis, quando houve uma luta terrível entre as
forças das trevas e as forças da luz. Entretanto, foi justamente nesse
período que fiquei transbordando de alegria; mais de uma vez, parecia
que ia explodir de tanta alegria no Senhor.”

Depois que os últimos piratas deixaram o navio, os passageiros vieram


correndo e cercaram Marie Monsen. Pediram os folhetos que ela tinha
para distribuir. Disseram-lhe: “Vimos que o seu Deus é o Deus
verdadeiro e queremos crer nele também”.

“Agradeço a Deus”, ela concluiu, “pelo Livro maravilhoso de promessas.


Agradeço-lhe também pela sua fidelidade e por ter tido o privilégio de
experimentá-la em minha vida.”

Você também pode gostar