2017 - Constitucional I – Aula 02
O DIREITO CONSTITUCIONAL: CONTEÚDO CIENTÍFICO DIREITO
CONSTITUCIONAL POSITIVO, COMPARADO, GERAL. A CONSTITUIÇÃO:
CONCEITO; CLASSIFICAÇÕES; OBJETO; ELEMENTOS
1) Preliminarmente:
DIREITO CONSTITUCIONAL
Direito Constitucional é o ramo do Direito Público que expõe, interpreta e sistematiza os
princípios e normas fundamentais do Estado.
CONTEÚDO CIENTÍFICO DO DIREITO CONSTITUCIONAL:
Entender o Direito Constitucional como ciência das constituições, que tem como Objeto de
estudo a constituição política de um Estado, que possibilita o estudo sistemático das normas
que integram a sua Constituição.
2) Então como classificar os métodos científicos de estudo, como disciplinar esse
conteúdo científico?
Nesse propósito científico, o conteúdo do Direito Constitucional abrange
as seguintes vertentes:
- Direito Constitucional Positivo ou Particular: é o que tem por objeto o
estudo dos princípios e normas de uma constituição concreta, de um Estado
determinado; compreende a interpretação, sistematização e crítica das normas
jurídico-constitucionais desse Estado, configuradas na constituição vigente, nos
seus legados históricos e sua conexão com a realidade sócio cultural.
Exemplo: Estudo a Constituição Federal Brasileira de 1988.
- Direito Constitucional Comparado: é o estudo teórico das normas jurídico-
constitucionais positivas (não necessariamente vigentes) de vários Estados,
preocupando-se em destacar as singularidades e os contrastes entre eles ou
entre grupo deles. Estudo comparativo.
Exemplo: Resolvo estudar as Constituições que estavam vigentes nos
momentos de ditatura nos países da América Latina, buscando comparar suas
similaridades e suas contradições.
- Direito Constitucional Geral: delineia uma série de princípios, de conceitos
e de instituições que se acham em vários direitos positivos ou em grupos deles
para classifica-los e sistematizá-los numa visão unitária; é uma ciência, que
visa generalizar os princípios teóricos do Direito Constitucional particular e, ao
mesmo tempo, constatar pontos de contato e independência do Direito
Constitucional Positivo dos vários Estados que adotam formas semelhantes do
Governo. Sistematização unitária.
Exemplo: Resolvo estudar a Constituição do Brasil e a Constituição
Portuguesa, buscando identificar aspectos gerais, unitários. Ou seja, buscando
um Direito Constitucional Geral.
3) CONSTITUIÇÃO
1. Noções:
É um organismo vivo e delimitador da organização estrutural do Estado,
da garantia das liberdades públicas, do modo de aquisição e exercício do
poder político.
BULOS, Lammêgo Uadi, Direito Constitucional ao alcance de todos, Editora
Saraiva, 6ª Edição, 2015.
- Classificação das Constituições
1. Quanto à Origem
- Históricas ou Costumeiras
Se originam da tradição, dos usos e costumes, da religião, das
relações construídas ao longo dos anos no âmbito político e
econômico.
Exemplo: Constituição Inglesa
- Promulgadas, Democráticas, Populares ou Votadas
É aquela que conta com a participação popular seja para elaborá-
la, seja para escolher seus representantes para a feitura da Lei
Maior.
- Outorgadas, Impostas
São fruto de um ato unilateral de poder. Nascem em regimes
ditatoriais, sem a participação do povo.
- Cesaristas
São elaboradas unilateralmente, mas submetem-se à ratificação por
meio de referendo. Não são nem promulgadas (democráticas) nem
outorgadas (impostas).
Exemplo: Carta Plebiscitária do Chile no Governo de Pinochet
- Pactuada
Surge de um acordo (pacto). Como no caso em que a realeza
decadente, de um lado, e uma burguesia em ascensão.
Quanto ao Conteúdo
- Formal
Nessa classificação, leva-se em conta apenas o modo de elaboração da
norma. Se ela passou por um processo mais solene, mais dificultoso de
formação (constituição rígida), será formalmente constitucional, não
importando de que matéria venha a tratar.
- Material
Por sua vez, para serem consideradas materialmente constitucionais é
completamente irrelevante o modo como às normas foram elaboradas.
Tratando de matéria essencialmente constitucional (estabelecimento de poder
e sua limitação – através de divisão de poderes e de estabelecimento de
direitos fundamentais, por exemplo) será norma materialmente constitucional.
Quanto à Extensão
- Sintética, Tópica, Breve ou Curta
É aquela Constituição que versa apenas de normas essenciais à
estruturação do Estado, sua organização e funcionamento, bem como
da divisão de Poderes e dos direitos fundamentais.
Exemplo: Constituição dos EUA DE 1787, com apenas 07 artigos.
- Analítica ou Longa
De conteúdo extenso, a constituição analítica (prolixa, desenvolvida)
trata de temas estranhos ao funcionamento do Estado, trazendo
minúcias que encontrariam maior adequação fora da Constituição, em
normas infraconstitucionais.
Exemplo: Carta Indiana de 1916
Quanto à Ideologia
- Ecléticas (Pragmáticas)
Também chamadas de compromissórias, são Constituições dogmáticas
que se fundam em várias ideologias.
Exemplo: Constituição Portuguesa de 1976.
- Ortodoxas
São fundadas em uma só ideologia. Exemplo: Constituições Soviéticas
de 1923, 1936 e 1977.
- Quanto à finalidade
- Constituição-Garantia
De texto reduzido (sintética), busca precipuamente garantir a limitação
dos poderes estatais frente aos indivíduos.
- Constituição Dirigente
Caracterizada pela existência, em seu texto, de normas programáticas
(de cunho eminentemente social), dirigindo a atuação futura dos órgãos
governamentais.
- Constituição-Balanço
Destinada a registrar um dado estágio das relações de poder no Estado.
Sua preocupação é disciplinar a realidade do Estado num determinado
período, retratando o arranjo das forças sociais que estruturam o Poder.
- Quanto à Essência ou Ontologia (Correspondência com a realidade)
- Normativas
Estão em plena consonância com a realidade social, conseguindo
regular os fatos da vida política do Estado.
Exemplo: Constituição Americana de 1787
- Nominativas (Nominalistas)
São as que se voltam para o futuro, para um dia serem cumpridas na
prática.
- Semântica
São criadas apenas para legitimar o poder daqueles que já o exercem.
Nunca tiveram o desiderato de regular a vida política do Estado. É típica
de regimes autoritários.
Exemplo: Constituições Brasileiras de 1937 e 1967
-Quanto ao Processo de Mudança
- Imutável
Não prevê mecanismos para sua alteração. Tem a pretensão de ser
eterna.
- Rígida
Prevê um procedimento solene, mais dificultoso do que o previsto para
alteração das leis ordinárias. Fundamenta-se no princípio da Supremacia
Formal da Constituição. A CF de 1988
- Flexível
O procedimento para alterar a Constituição é o mesmo processo
legislativo de elaboração e alteração das leis ordinárias. Constituições
Inglesas
- Transitoriamente Flexíveis:
Apenas por um determinado período. Constituição do Baden de 1947.
- Semirrígida
É em parte rígida e noutra parte flexível. Desse modo, algumas normas
da Constituição só podem ser modificadas por um procedimento mais
dificultoso, enquanto que as outras se submetem ao mesmo processo
legislativo das leis infraconstitucionais. Constituição Brasileira de 1824
Quanto à Forma
- Escritas
Formadas por um conjunto de regras formalizadas por um órgão
constituinte, em documentos escritos solenes. Podem ser (a)
codificadas, quando sistematizadas em um único texto, ou (b) legais,
quando se apresentam esparsas ou fragmentadas.
- Não-Escritas (Costumeiras ou Consuetudinárias)
Não são solenemente elaboradas por órgão encarregado especialmente
desse fim. São sedimentadas pelos usos, costumes, jurisprudência, etc.