O Inconsciente

Curso: Psicologia
Disciplina: MPP – Psicanálise
Professora: Raquel Cabral de Mesquita
Unidade II: Metapsicologia Freudiana:
O Inconsciente Freudiano:

“O inconsciente como idéia já estava

presente em inúmeras produções e
pensamentos da época de Freud, mas foi
ele quem delineou todo método de
trabalho que permitiu fazer operar esse
inconsciente e ter parcialmente acesso a
suas figurações possíveis, como nos
sonhos, nos lapsos, nos chistes, nos
sintomas”. (Sousa, p.23)
 Metapsicologia: Aparelho Psíquico?

“ (...) a equivalência
convencional entre
psíquico e o consciente
é totalmente
inadequada”
(FREUD,vol.XIV,p.193)

Independência entre Cs e
Ics = rejeição do termo
“subconsciente”
 Metapsicologia: Aparelho Psíquico?

 A Cs passa a
representar a menor
parte do Psiquismo, a
maior parte = Ics =
Lugar da verdade do
sujeito.
Freud propõe três
pontos de vista:
 Ponto de vista tópico;

 Ponto de vista dinâmico;

 Ponto de vista econômico.

 Metapsicologia: Aparelho Psíquico?

 Teoria tópica
 Teoria dinâmica
 Teoria econômica
 “Proponho que, quando tivermos
conseguido descrever um processo
psíquico em seus aspectos dinâmico,
topográfico e econômico, passemos a
nos referir a isso como uma
apresentação metapsicológica”.
 (FREUD, Vol XIV, p.208)
 Teoria Tópica:
“Teoria ou ponto de vista que supõe
uma diferenciação do aparelho
psíquico em certo número de sistemas
dotados de características ou funções
diferentes e dispostos numa certa
ordem”.
 Metaforicamente, lugares psíquicos de
que podemos fornecer uma
representação figurada espacialmente.
(Laplanche e Pontalis)
Duas Tópicas:

Primeira Tópica: Segunda Tópica

 Cs  SUPEREU

 Pcs (superego) =
 Ics
“das Uber-Ich”
 EU (ego) =
“das Ich”
 ISSO (id) =
“das Es”
 Teoria Dinâmica:

“Qualificação de um ponto de vista que

considera os fenômenos psíquicos
como resultantes do conflito e da
composição de forças que exercem
uma certa pressão, sendo essas
forças, em última análise de origem
pulsional”.
(Laplanche e Pontalis)
Teoria Econômica:

“Qualifica tudo o que se refere à

hipótese de que os processos
psíquicos consistem na circulação e
repartição de uma energia
quantificável (energia pulsional),
isto é sucessível de aumento, de
diminuição, de equivalências”.
(Laplanche e Pontalis)
 Psicanálise:
(1) um procedimento para a investigação de
processos mentais que são quase
inacessíveis por qualquer outro modo;
(2) um método (baseado nessa
investigação) para o tratamento de
distúrbios neuróticos e
(3) uma coleção de informações psicológicas
obtidas ao longo dessas linhas, e que
gradualmente se acumula numa nova
disciplina científica. (Freud, vol.XVIII, p.287)
 Inconsciente:
 Sentido descritivo (adjetivo): conjunto dos
conteúdos que não estão presentes no campo
da consciência; qualidade de um estado
psíquico.
 Sentido tópico (substantivo): um dos
sistemas definidos por Freud no quadro da
sua primeira definição do aparelho psíquico.
Divisão topográfica e estrutural do psíquico.
Sistemas psíquicos com características e
métodos de operação diferenciais.“Topografia
psíquica que nada tem a ver com a
anatomia” (FREUD,Vol XIV, p. 201)
 O Inconsciente (Sistema)
 Seus conteúdos são representantes das
pulsões;
 Regidos pelo processo primário

(condensação e deslocamento);
 Seus conteúdos só têm acesso ao sistema
Pcs/CS nas formações de compromisso,
depois de passar pela censura.
 Desejos da infância.
 Inconsciente:
 Conceito fundamental da psicanálise
 Onde os processos mais primitivos se encontram
 Sistema psíquico distinto e dotado de atividade própria
 Todo recalcado é Ics, nem tudo que é Ics é recalcado.
 Só se conhece quando transformado em Cs (Ex.: sonhos, sintoma).
 Os fenômenos lacunares são indicadores dessa outra ordem = Sujeito
inconsciente
 Tem como núcleo as representações pulsionais, impulsos carregados de
desejo.
 Ausência da contradição, negação, dúvida ou certeza (Ex.: indecidibilidade
dos sonhos).
 Atemporalidade
 Importa a quantidade de energia – conteúdos catexizados com maior ou
menor força.
 Regido pelo processo primário – energia livre e móvel
 Processos de deslocamento e de condensação
 Busca descarregar seus impulsos desejosos – pressiona no sentido de
descarga: princípio do prazer.
 Segue as exigências de regulação prazer-desprazer:
 Consciência
 Superfície do aparelho psíquico = 1ª a ser atingida pelo mundo
externo
 Superfície perceptiva
 Controla a afetividade (menos) e motilidade
 Há negação, dúvida, certeza.
 Qualidade dos afetos
 Processo secundário
 Energia “vinculada”
 Princípio da realidade
 Refere-se ao tempo
 Inibição da descarga
 Organização, atenção e percepção.
 Conteúdos derivados da vida pulsional (percepção de dentro:
sentimentos e sensações) e da percepção (de fora: sensoriais)
 Condensação (Verdichtung)
 Um dos modos essenciais do
funcionamento dos processos
inconscientes. Uma representação
única representa por si só várias
cadeias associativas, em cuja
interseção ela se encontra. Do ponto
de vista econômico, é então investida
das energias que, ligadas estas
diferentes cadeias, se adicionam nela.
 Deslocamento (Verschiebung)
 Fato de a importância, o interesse, a
intensidade de uma representação ser
suscetível de se destacar dela para passar
a outras representações originalmente
pouco intensas, ligadas à primeira por uma
cadeia associativa. (...) O “livre”
deslocamento desta energia é uma das
principais características do modo como o
processo primário rege o funcionamento do
sistema inconsciente
Formações Inconscientes:
Formação de compromisso
entre Ics e Cs:
 Sintomas

 Sonhos

 Atos falhos

 Chistes.
Conceito topográfico e dinâmico
dos processos psíquicos:
Censura entre os sistemas Ics e
Pcs.
 “O sistema Pcs participa das
características do sistema Cs, e
que a censura rigorosa exerce
sua função no ponto de
transição do Ics para o Pcs.”
(FREUD, vol. XIV, p. 199)
Conceito topográfico e dinâmico
dos processos psíquicos:
 Dúvidas de Freud: Sobre a transição
de um sistema para outro???
 Hipótese da dupla inscrição (teoria
tópica) ou hipótese funcional (teoria
dinâmica)
 Com a noção tópica não perder o
valor dinâmico do Ics ou a hipótese
funcional; as distinções tópicas são o
meio de explicar o conflito, a
repetição e as resistências.
Extratos dos documentos dirigidos
a Fliess (1892-1899): Carta 52
 Extratos dos documentos dirigidos a
Fliess (1892-1899): Carta 52
 Hipótese do mecanismo psíquico ser formado
por um processo de estratificação sucessiva.
 Hipótese topográfica = Aparelho Psíquico:
sucessão de inscrições, de sinais.
“Querido Wilhelm,
(...) Como você sabe, estou trabalhando com a hipótese de
que nosso mecanismo psíquico tenha-se formado par um
processo de estratificação sucessiva, pois de tempos em
tempos o material presente sob a forma de traços
mnêmicos experimenta um reordenamento segundo novas
nexos, uma retranscrição [Umschrift]. Assim, o que há de
essencialmente novo em minha teoria é a tese de que a
memória não preexiste de maneira simples, mas múltipla,
está registrada em diversas variedades de signos.”
 Conceito topográfico e dinâmico
dos processos psíquicos:
 Hipótese funcional: Explicação do
funcionamento do recalque: modificação
alteração da catexia.
 “As duas hipóteses não são mutuamente
excludentes, referem-se a processos
diferentes a hipótese de dupla inscrição
sendo válida em se tratando do retorno
do recalcado, enquanto que a hipótese
funcional se aplica melhor ao
recalcamento propriamente dito”.
(GRACIA-ROZA, 2008, p. 227)
 Pulsão (Trieb)
 Força constante (irremovível);
 Fonte (somática)

 Objeto (mais variável)

 Meta (finalidade=satisfação)
 Afetos inconscientes???
 “Uma pulsão nunca pode tornar-se
objeto da consciência – só a idéia que o
representa pode. Além disso, mesmo no
inconsciente, uma pulsão não pode ser
representada de outra forma a não ser
por uma idéia. Se a pulsão não se
prendeu a uma idéia ou não se
manifestou como um estado afetivo,
nada poderemos conhecer sobre ela”.
(FREUD, O inconsciente, vol. XIV, p.203).
 Afetos inconscientes???
 “Devido ao recalque de seu
representante adequado, é forçado a
ligar-se a outra idéia. Se restaurarmos a
verdadeira conexão, chamaremos o
impulso afetivo original de ‘inconsciente’.
Contudo o afeto nunca foi inconsciente;
o que aconteceu foi que sua ideia sofreu
recalcamento”
 “(...) refere-se a vicissitudes sofridas, em
consequência do recalque, pelo fator
quantitativo no impulso pulsional”.
 (FREUD vol. XIV, p.203-204).
 Afetos inconscientes???
 Três vicissitudes possíveis:
 “ou o afeto permanece, no todo ou em parte, como
é; ou é transformado numa quota de afeto
qualitativamente diferente, sobretudo angústia; ou
é suprimido, isto é, impedido de se desenvolver.”
(FREUD vol. XIV, p.204).
AFETO: a pulsão pode ser percebida como afeto na
Cs.
 aspecto econômico e quantitativo= soma de
excitação.
 aspecto intensivo e qualitativo = sensações de
prazer e desprazer, interpretados pela Cs.
 Recalcamento: Afetos
inconscientes???
 “Suprimir o desenvolvimento do afeto
constitui a verdadeira finalidade do
recalque”= evitar desprazer.
 “ É possível ao desenvolvimento do afeto
proceder diretamente do sistema Ics, nesse
caso, o afeto sempre tem a natureza de
angústia, pela qual são trocados todos os
afetos ‘recalcados’. Com frequência,
contudo, o impulso pulsional tem de esperar
até que encontre uma ideia substitutiva no
sistema Cs.” (FREUD vol. XIV, p.205-206)
 Recalcamento: Afetos
inconscientes???

 “Afirmamos que no recalque ocorre

uma ruptura entre o afeto e a ideia à
qual pertence, e cada um deles então
passa por vicissitudes isoladas.(...)
porém, o afeto, de modo geral, não se
apresenta até que o irromper de uma
nova representação no sistema Cs
tenha sido alcançado com êxito”.
(FREUD vol. XIV, p.206)
 Recalcamento:
 No recalcamento a hipótese funcional
anula facilmente à topográfica, acontece
uma modificação ou alteração da catexia
da ideia ou representação. (FREUD,
vol.XIV, p.207)
 A passagem de um elemento de um
sistema para outro produzirá por
desinvestimento por parte do primeiro e
reinvestimento pelo segundo.
 Recalcamento:
 Estaria na origem da constituição do
Inconsciente como campo separado do
resto do psiquismo (divisão Ics e Cs) =
Recalcamento primário ou recalque
originário = representação, primeiro
momento de substituições, refere-se a
anticatexia.
 “ A teoria do recalque é a pedra angular
sobre a qual repousa toda a estrutura da
psicanálise” (FREUD. A história do movimento
psicanalítico. vol. XIV, p.206)
 Recalcamento:
 A função do recalque é a fuga do desprazer. Uma
idéia catexizada com uma quota de energia psíquica
(pulsão) procura se manifestar no sistema consciente.
A idéia (representação) aparece inicialmente como um
bloco compacto, composto de representação da coisa,
do afeto a ela ligado e da palavra que a traduz. O
recalque vem para impedir o desprazer que causaria o
acesso da idéia (pulsional) à consciência. No
momento do recalque a idéia é separada do afeto,
sendo recalcada, passando a existir no Inconsciente.
O afeto não pode ser recalcado como a idéia, e esse
circula no aparelho psíquico, busca descarga, podendo
ter vários destinos. A palavra permanece no
consciente, porém desligada do afeto.
 Recalcamento:
 Os destinos diferentes do afeto irão
caracterizar as respectivas neuroses:
 Pode ser transformado em angústia
ocasionando a neurose de angústia (Fobia:
quando tem um objeto fóbico).
 Pode ser suprimido por conversão, causando
histeria de conversão (recalcamento com
maior êxito).
 Pode ser deslocado causando a neurose
obsessiva (processo de formação reativa).
Referências:
 FREUD, Sigmund. O inconsciente (1915). In Edição
Standard Brasileira das Obras Psicológicas
Completas de Sigmund Freud (Vol. 14). Rio de
Janeiro: Imago, 1996.
 GARCIA-ROZA, Luiz A. Freud e o inconsciente.
23ª ed.. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2008.
 SOUSA, Edson. Freud – Coleção para saber mais.
São Paulo: Editora Abril, 2005.
 Laplanche, J. & Pontalis, J. – B. (2001).
Vocabulário da Psicanálise (4a. ed). São Paulo:
Martins Fontes.