Os 3 Mundos da Matemática
Prof. Rodrigo R. Dias
Pós-Doutor em Ed. Matemática- PUC/SP
O professor britânico David Tall dedicou a sua carreira ao estudo da
evolução do pensamento matemático.
Em suas pesquisas, constatou que o que acontece em cada estágio de
aprendizagem é afetado significativamente por experiências prévias e
tem um efeito importante no desenvolvimento de estágios posteriores.
Nesse sentido, acredita que não é suficiente focar apenas em um
estágio particular de ensino e aprendizagem, uma vez que os alunos
desse estágio estarão sob o efeito do que já encontraram e o que
aprendem em determinado momento irá afetar seus futuros estudos.
Reflexões iniciais
O pensamento, segundo Houaiss (2001), pode ser
caracterizado como uma atividade cognitiva, racional, o
conhecimento por conceitos.
Entendemos o pensamento matemático como uma
atividade cognitiva, racional, envolvendo o
conhecimento por conceitos matemáticos. O
pensamento matemático pode ser entendido como um
processo mental, o que torna sua observação difícil e
complexa
Atividade Cognitiva Humana
Percepção
Pensamento
Ação
Desenvolvimento das ações cognitivas
declarações verbais
conceitualização
Foca-se na descrição dos objetos, descrição essa, feita a
partir das propriedades concretas dos objetos.
Concretas no sentido de que podem ser vistas e
manipuladas física ou mentalmente.
Segundo Dreyfus (1991), o
pensamento matemático
avançado consiste de uma
grande disposição de
processos que interagem
entre si
Os 3 mundos da Matemática
Mundo Corporificado
O primeiro mundo, denominado de Conceitual Corporificado, é construído a partir das percepções e ações que
acontecem no mundo real e se desenvolvem até a criação de imagens mentais cada vez mais sofisticadas.
Nesse contexto, concepções que não pertencem a esse mundo real passam a ser mentalizadas
como, por exemplo, uma linha perfeitamente reta.
O conceito de corporificação, de acordo com Lima (2007), refere-se à observação, descrição,
ação e reflexão sobre experiências que envolvem inicialmente objetos físicos, mas que
evoluem até a construção de experiências mentais. Nesse caso, o indivíduo manipula o objeto
no seu pensamento, observando-o, descrevendo-o, agindo e refletindo sobre ele. Essas
experiências, por muitas vezes, também podem acabar por ser representadas, de alguma
forma.
Mundo Simbólico
O Mundo Operacional Simbólico envolve os símbolos utilizados em aritmética, por exemplo
Começa com ações que se desenvolvem até se tornarem processos matemáticos que podem
ser trocados por conceitos para se pensar sobre
Enquanto alguns estudantes permanecem no nível dos processos, outros vão além e veem
os símbolos como operações a serem realizadas e também como objetos a serem operados
através do cálculo e da manipulação algébrica.
Lima (2007) afirma que esse mundo é composto por símbolos que representam
ações
PROCEITO
Mundo Axiomático Formal
A partir do uso de corporificações e proceitos, faz-se necessário formalizar o entendimento do objeto
matemático. Tal formalização acontece no mundo axiomático formal, em que, a partir de um
conjunto de axiomas, definições, propriedades e teoremas, pode-se desenvolver a prova matemática
É importante destacar que, apesar de apresentarem características individuais, podem existir
intersecções entre os mundos, sendo que o estudante pode utilizar características de cada um
deles no seu desenvolvimento cognitivo
set-before; met-before; met-after
Os (set-before) já-estabelecidos são estruturas mentais que caracterizam o ser humano, que nascem com todos
os indivíduos e levam algum tempo para se desenvolverem, à medida que o cérebro cria conexões na idade tenra
Os (met-before) já-encontrados, por sua vez, são estruturas mentais resultantes de
experiências prévias
Segundo Tall (2013), o pensamento matemático é construído a partir de três já estabelecidos:
reconhecimento, repetição e linguagem.
Reconhecimento de padrões, similaridades e diferenças é uma característica evolutiva compartilhada com
outras espécies. É resultado da aplicação de uma combinação de sentidos que todos possuem como olfato, visão,
tato, paladar, audição e noção espacial.
Repetição de ações também é um já-estabelecido dividido com outras espécies. É caracterizado pela repetição
de uma sequência de ações até que essa possa ser realizada automaticamente, sem a consciência dos detalhes.
A linguagem, por sua vez, é um atributo que distingue o ser humano das outras espécies, pois, segundo Tall
(2013), a comunicação através da fala e da escrita, no nível utilizado pela humanidade, é exclusiva.
Essa combinação de já-estabelecidos leva o ser humano além dos limites de sua própria existência.
Praticando uma sequência de operações até que possam ser repetidas automaticamente, é criado o
potencial de, por exemplo, contar números atribuídos a conjuntos de objetos.
Começando com o número um, pode-se seguir sempre contando o número seguinte, chegando em 2, 3, 4
e assim sucessivamente até que se sinta que, não importa até que número a contagem foi feita, sempre
haverá um novo número a seguir.
Em algum momento, essa repetição pode levar à conjectura sobre o conceito de infinito, por exemplo.
Segundo Tall (2013), cada indivíduo trilha seu próprio caminho nos Três Mundos da Matemática, considerando que o
desenvolvimento cognitivo é individual e fundamentado em experiências anteriores, escolares ou não, que podem
ajudar ou atrapalhar na construção de um novo conhecimento.
Essas experiências são denominadas pelo autor de já-encontrados. Esse termo é utilizado para descrever como novas
situações são interpretadas, a partir de experiências prévias, mas não se refere exclusivamente à experiência em si e
sim ao traço deixado por ela e que pode afetar o pensamento.
De acordo com Lima (2007), um já-encontrado é definido como “um constructo mental que um indivíduo usa em um
dado momento, baseado em experiências que encontrou anteriormente”.
De acordo com Tall, Lima e Healy (2014), a influência de um já-encontrado é positiva quando
esse opera em um novo contexto de tal forma que permite que métodos já vistos sejam
utilizados de forma prazerosa na construção de generalizações de técnicas anteriormente
estabelecidas.
Por outro lado, a influência é considerada negativa quando esse impede a generalização e é
causa de confusão. Nesse sentido, um estudante confiante pode sentir-se frustrado por tal
obstáculo e, então, utilizar essa frustração como incentivo para trabalhar para encontrar
alternativas cognitivas capazes resolver essa questão.
De outra forma, um indivíduo que não tenha tal confiança pode sentir-se alienado, sofrendo
com uma ansiedade cada vez maior, à medida que interage com novos contextos que trazem,
sucessivamente, aspectos problemáticos.
Nesse cenário, esse sofrimento pode fazer com que cresça sua vontade de evitar esse
desconforto simplesmente aprendendo o que fazer, para, ao menos, ter o prazer de ser
aprovado nos testes aos quais for submetido