A Literatura Modernista em Portugal
Docente: Professora Isabel Maria Ferreira Morango
Discente: Filipa Blanco Gaspar Garrido
Resumo:
O Modernismo é um movimento literário que surgiu no início do século XX, após o pré-
modernismo, um momento instável devido às crises políticas e às guerras mundiais. Este
movimento literário representa a rutura com padrões e a inovação.
O modernismo português começa com a publicação, em 1915, da revista Orpheu. Contando
com a participação de vários artistas e poetas, a revista veicula vasta produção ousada e
irreverente – fruto das novas conceções estéticas que circulam pela Europa em inícios do
século 20.
As grandes revelações literárias desse período são: Mário de Sá-Carneiro e Fernando Pessoa,
surgem justamente nas páginas de Orpheu.
Introdução
O modernismo na literatura portuguesa surge como uma resposta vigorosa e inovadora ao
contexto sócio-político de Portugal nas primeiras décadas do século XX. Numa época em que
o país atravessava uma mudança de regime, deixando para trás a monarquia e abraçando a
república, surgia também uma efervescência cultural e um questionamento das tradições
estabelecidas. É neste ambiente de mudança e busca por novas formas de expressão que o
modernismo desponta, desafiando as normas literárias, artísticas e sociais, e procurando dar
voz às inquietações, angústias e aspirações de uma nova geração de escritores e artistas.
A revista "Orpheu", publicada em 1915, assume-se como um marco inaugural deste
movimento, apresentando uma proposta estética radicalmente inovadora, liderada por figuras
emblemáticas como Fernando Pessoa e Mário de Sá-Carneiro. Inspirados pelo futurismo
italiano e por outras correntes artísticas europeias, os escritores associados à "Orpheu"
buscavam romper com os padrões tradicionais da literatura, experimentando novas formas de
escrita e explorando temas até então pouco explorados.
Para além do futurismo, o surrealismo também teve um impacto significativo no modernismo
português, sobretudo a partir da década de 1920. A revista "Presença", criada em 1927, foi
um veículo importante para a difusão das ideias surrealistas em Portugal, promovendo uma
literatura mais livre, imaginativa e marcada pelo inconsciente.
Desenvolvimento
1. Contexto Histórico e Cultural do Modernismo em Portugal
O início do século XX em Portugal foi marcado por profundas transformações políticas,
sociais e culturais. A queda da monarquia e a instauração da República em 1910 abriram
caminho para um período de efervescência intelectual e contestação das convenções
estabelecidas. Nesse contexto, o modernismo emergiu como uma reação ao conservadorismo
cultural dominante, buscando romper com as tradições literárias e estéticas do passado.
2. Principais Movimentos Modernistas em Portugal
2.1. Orpheu e o Futurismo Português
A revista "Orpheu", publicada em 1915, foi um marco inaugural do modernismo em Portugal.
Sob a liderança de Fernando Pessoa e Mário de Sá-Carneiro, a revista apresentou uma ruptura
radical com a tradição, influenciada pelo Futurismo italiano e suas propostas de renovação
estética. Os escritores associados à "Orpheu" buscavam capturar a essência da modernidade,
celebrando a velocidade, a tecnologia e a urbanização.
2.2. Surrealismo e a Geração de 1927
Na década de 1920, o Surrealismo emergiu como uma poderosa força no cenário literário
português. A revista "Presença", fundada em 1927, foi um importante veículo para a
disseminação das ideias surrealistas, promovendo uma literatura mais livre e imaginativa,
permeada pelo subconsciente e pelo irracional. Os escritores surrealistas portugueses, como
Mário Cesariny e António Pedro, exploravam os recantos mais profundos da mente humana,
desafiando as convenções da razão e da lógica.
3. Principais Autores e Obras do Modernismo Português
3.1. Fernando Pessoa e os Heterônimos
Fernando Pessoa é, sem dúvida, uma das figuras mais proeminentes do modernismo em
Portugal. Conhecido por seus heterônimos, Pessoa explorou uma multiplicidade de vozes e
perspectivas em sua poesia, refletindo sobre questões de identidade, existência e metafísica.
O "Livro do Desassossego", atribuído ao heterônimo Bernardo Soares, é uma das obras mais
emblemáticas do modernismo português, explorando as angústias e incertezas da condição
humana.
3.2. Mário de Sá-Carneiro e a Angústia Existencial
Mário de Sá-Carneiro foi outro autor importante do modernismo português, cuja obra reflete
uma profunda angústia existencial e uma busca incessante por autenticidade. O romance "A
Confissão de Lúcio" e o conto "A Tragédia da Rua das Flores" são exemplos notáveis de sua
prosa introspectiva, marcada por uma sensibilidade aguda e uma imaginação vívida.
3.3. Almada Negreiros e a Vanguarda Artística
Almada Negreiros foi uma figura multifacetada do modernismo português, atuando não
apenas como escritor, mas também como artista plástico e dramaturgo. Sua obra reflete uma
experimentação constante com formas e temas vanguardistas, contribuindo para a renovação
das artes em Portugal. O "Manifesto Anti-Dantas" é uma das suas obras mais provocativas,
desafiando as convenções estéticas e intelectuais da época.
4. Contribuições do Modernismo para a Literatura Portuguesa
4.1. Renovação Estética e Formal
Uma das contribuições mais significativas do modernismo para a literatura portuguesa foi a
renovação estética e formal. Os escritores modernistas desafiaram as formas literárias
convencionais, experimentando com a linguagem, a estrutura narrativa e as técnicas de
escrita. Por meio de inovações como o monólogo interior, a fragmentação narrativa e a
desconstrução do tempo cronológico, eles buscavam representar de forma mais autêntica a
complexidade da experiência humana.
4.2. Exploração de Novos Temas e Questões Sociais
Além da inovação formal, o modernismo também trouxe uma nova sensibilidade para a
literatura portuguesa, explorando uma variedade de temas e questões sociais. Os escritores
modernistas abordavam temas como a alienação, a angústia existencial, a crise de identidade
e as mudanças sociais e políticas do período. Suas obras refletiam as tensões e contradições
de uma sociedade em transição, dando voz às experiências individuais e coletivas de uma
geração marcada pela incerteza e pelo conflito.
4.3. Desafio às Convenções Sociais e Culturais
O modernismo também representou um desafio às convenções sociais e culturais da época.
Os escritores modernistas questionavam as normas e os valores tradicionais, desafiando as
hierarquias estabelecidas e explorando novas formas de ser e de estar no mundo. Por meio de
sua escrita provocativa e subversiva, eles buscavam promover uma maior liberdade de
expressão e uma maior abertura à diversidade e à diferença.
Conclusão
O modernismo na literatura portuguesa foi um movimento de profunda transformação
cultural, que deixou um legado duradouro na história literária do país. Por meio de sua
inovação estética, sua exploração de novos temas e questões sociais e seu desafio às
convenções sociais e culturais, os escritores modernistas abriram novos caminhos para a
expressão literária em Portugal. Seus escritos continuam a inspirar e a desafiar leitores e
escritores até os dias de hoje, demonstrando a relevância contínua do modernismo como um
momento de renovação e de reinvenção na literatura portuguesa.
Bibliografia
- Cunha, Vasco Graça. "História Concisa da Literatura Portuguesa". Lisboa: Caminho, 2015.
- Saraiva, António José, e Óscar Lopes. "História da Literatura Portuguesa". Porto: Porto
Editora, 2017.
- Zenith, Richard. "Fernando Pessoa: uma fotobiografia". São Paulo: Companhia das Letras,
2013.
- Monteiro, George. "Orpheu e Portugal Moderno". Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da
Moeda, 2015.
- Ribeiro, Margarida. "Presença: uma revista, um movimento". Lisboa: INCM, 2016.