Psicologia
Comunitária
Prof. Susana Fonseca
Inês Hilário Lopes 120816
Aula 1, 08.11.2023
“Os psicólogos comunitários construíram uma nova visão do psicólogo, cujo principal
objetivo passou por ser o estudo, a compreensão, a conceptualização e a intervenção
rigorosa nos processos, através dos quais, as comunidades pudessem melhorar o
estado psicológico geral dos indivíduos que nela vivessem”
- Ornelas, 1997
Origens da psicologia comunitária:
• Importância das mudanças sociais dos anos 60 e 70 (séc. XX)
• Crescente interesse na prestação de cuidados de saúde mental numa base
comunitária
A ajuda no local onde os problemas ocorrem deve ser proporcionada de forma tão
breve quanto possível.
• Maior consciência social e política sobre as condições desumanas dos hospitais
psiquiátricos (Kennedy, 1963)
o Reintegração dos doentes mentais na comunidade/fora das instituições
psiquiátricas.
o Perspetiva preventiva do sofrimento humano
o Promoção de uma visão positiva da saúde mental
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Inês Hilário Lopes 120816
Etiologia da doença - mudança de paradigma:
• Relação entre problemas sociais e a saúde mental
• Do modelo biológico individual para uma responsabilização do sistema social no
desenvolvimento individual:
o Intervenção educacional, de crítica social
o Implementação de reformas e planeamento de mudança
social
o Suporte à comunidade (consultores)
• P.e., Programas de luta contra a pobreza, anos 60, EUA (community
control)
A Psicologia Comunitária aparece nos Estados Unidos, em 1965, motivada pela
insatisfação dos psicólogos da área clínica com a saúde mental, injustiça social e as
limitações do paradigma psicológico vigente para enfrentar esta problemática.
1965-1975:
Definição, desenvolvimento de
modelos e reconhecimento da
possibilidade de modelos
alternativos + Conference on the 1989-2002:
Education of Psychologists for Abordagem interdiscipilinar
Community Mental Health e integração de abordagens
1975-1989: Caracteriza-se
pela ênfase preventiva na
saúde mental comunitária,
orientada pela perspetiva
ecológica e pela abordagem
de problemas sociais
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Inês Hilário Lopes 120816
Aula 2 e 3, 15.11.2023
O que é a Psicologia Comunitária?
“Ramo da psicologia cujo objeto é o estudo dos fatores psicossociais que permitem
desenvolver, fomentar e manter o controlo e poder, que os indivíduos exercem sobre
o ambiente individual e social para solucionar problemas e conseguir mudanças
nesses ambientes e na estrutura social.”
- Montero, 1994
“Enfatiza mais o ambiente social do que fatores intrapsíquicos como determinantes
da saúde mental”
- Gallindo, 1981
Compreender a composição, estrutura e dinâmica das comunidades e como os
fatores geográficos, económicos, culturais, técnicos e políticos influenciam a
configuração das interações sociais.
A análise das diversas definições permite demonstrar alguns aspetos comuns:
1. Visão pragmática da psicologia, isto é, uma preocupação com a aplicação prática
a situações sociais concretas.
2. Ênfase na melhoria da qualidade de vida das comunidades.
3. Primado das questões interpessoais e da comunidade - ambiente social
(Gallindo, 1981), em lugar da preocupação tradicional da psicologia - o indivíduo
e as questões intrapsíquicas.
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Inês Hilário Lopes 120816
Os contextos da prática profissional não se limitam ao gabinete, clínica, hospital ou
sala de consultoria – para incluírem a comunidade e as suas instituições relevantes
(escolas, igrejas, grupos informais, associações, etc.)
Princípios e objetivos da Psicologia Comunitária
A sua natureza ecológica, cuja adaptação entre as pessoas e o seu meio
envolvente é analisada de forma holística, nos seus múltiplos sistemas sociais que vão
dos microssistemas (e.g., família) às meso, estruturas sociopolíticas e macro.
Pressuposto de que a ação e o desenvolvimento humano se dão em contexto,
apelando para conceções e estratégias de intervenção que transformem as
características espácio-temporais, físicas, relacionais, organizacionais, institucionais,
ideológicas e políticas.
Ênfase na prevenção e na intervenção precoce com o objetivo de promover as
competências, resiliência e bem-estar dos indivíduos e das comunidades, através de
processos de autoajuda, desenvolvimento comunitário e ação social.
O desenvolvimento humano é visto enquanto objeto e objetivo.
Reconhece-se a inevitabilidade, assim como a desejabilidade da crise e do ruído,
no processo de desenvolvimento. O conflito e a perturbação enquanto mediadores da
capacitação e do empowerment das pessoas, grupos, instituições e comunidades.
A visão dos sujeitos como seres ativos no seu percurso de desenvolvimento e
com capacidade para se autorregularem e à comunidade envolvente;
A importância do respeito pela diversidade cultural, por isso os problemas são
definidos e estudados em termos do contexto social.
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Inês Hilário Lopes 120816
Ênfase na mudança social, através do princípio de distribuição equitativa dos
recursos psicológicos e materiais.
Ênfase na ética individual e social, defendendo valores de emancipação e de
empowerment individual e comunitário.
Investigação participada (investigação-ação), orientada para a ação e guiada por
diversas perspetivas metodológicas.
Alterações na forma como as questões são levantadas e nas metodologias
(Rappaport, 1977)
A investigação é conduzida para criar conhecimento e aplicá-lo na promoção do
bem-estar e mudança das condições sociais.
Ligações interdisciplinares a diferentes perspetivas no vasto leque das ciências
sociais que se focalizam na interface entre as pessoas e o meio social (ex. Economia
Solidária)
• Privilegiar a prevenção em detrimento do tratamento
• Realçar as competências em vez dos pontos fracos
• Colaboração entre disciplinas
• Explorar a compreensão ecológica das pessoas no seu ambiente
• Promover a diversidade
• Centrar-se na construção da comunidade como um modo de intervenção
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Inês Hilário Lopes 120816
7 valores fundamentais
• Bem-estar individual: Refere-se à saúde física e psicológica de todos os membros
da comunidade, competências socio-emocionais para manter o bem-estar
pessoal, desenvolvimento da identidade, prossecução de objetivos pessoais.
• Sentido de comunidade: Perceção de pertença e de compromisso mútuo que
liga os indivíduos numa unidade coletiva, sentimento de pertença.
• Justiça social: Questões de igualdade; igual distribuição de participação e poder
na sociedade; preocupação não apenas com a vida interior dos indivíduos, mas
com a melhoria das suas condições de vida. Estudo dos fatores sociais e
económicos que afetam o bem-estar individual.
• Participação cívica: Processos colaborativos de tomada de decisão que permitam
um envolvimento significativo de todos os membros da comunidade. Papel do
empowerment. Apoio e desenvolvimento de contextos sociais que promovam a
participação dos cidadãos.
o P.e., grupos de ajuda, associações comunitárias, etc..
• Colaboração e fortalecimento comunitário: Redefinição dos papéis dos
profissionais; nova forma de relacionamento com os membros da comunidade
com quem se trabalha. Relação colaborativa ao nível do planeamento e
implementação de projetos e ao nível da avaliação
• Respeito pela diversidade humana: Recurso a diferentes metodologias que
tenham em consideração a língua, a cultura, os valores da população em estudo.
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Inês Hilário Lopes 120816
• Fundamentação empírica: Valorização da integração da investigação na ação
(relação entre a criação de novos conhecimentos e a intenção de criar condições
para a mudança social).
Críticas à psicologia comunitária
1. Comunitarismo: preocupação exagerada com os problemas comunitários, em
detrimento da consideração de problemas de natureza teórica e metodológica
2. Academicismo: oposto do comunitarismo. A preocupação volta-se para
problemas académicos, ou seja, com o desenvolvimento de teorias e técnicas
cientificamente relevantes, sem considerar a relevância social destas teorias.
3. Idealismo: visão reformista de alguns psicólogos comunitários que reduzem
todos os problemas sociais a fatores políticos, sem considerarem as necessidades
sociais gerais e as necessidades de mudança da própria psicologia.
4. Assistencialismo: identificação da Psicologia Comunitária com obras caritativas e
assistências, que servem apenas para alimentar a dependência da comunidade.
A psicologia comunitária em Portugal
• Área de franca expansão que envolve uma grande diversidade de profissionais
de domínios diferentes (Psicologia, Serviço Social, Educação, Sociologia e
Animação Sociocultural).
• Proliferação de financiamento de programas comunitários pela União Europeia
(valorizam a ligação à comunidade, trabalho com entidades locais e
estabelecimento de parcerias e redes e não o controlo de técnicos de gabinete).
• Reconhecimento entre profissionais de que o bem-estar pessoal depende de
dimensões interpessoais e sociais, mas também o poder, a opressão e a justiça
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Inês Hilário Lopes 120816
Definição de 3 grandes prioridades. Intervir:
• A nível da prevenção
• A nível da comunidade
• Numa perspetiva de mudança (social e em última instância individual)
O que é a comunidade?
“O termo comunidade utilizado hoje em dia inclui desde um grupo social, um bairro,
uma vila, uma escola, um hospital, um sindicato, uma associação de moradores, uma
organização não-governamental, até abarcar os indivíduos que interagem numa
cidade inteira.”
“Qualquer corpo social mais ou menos importante (matrimonio, família, parentesco,
tribo, uma fábrica ou empresa)” ́
Schilling (1974)
“A comunidade não se define apenas em função do espaço comum, mas dos
interesses partilhados pelos seus membros”
Koening (1962)
A análise das diversas definições permite demonstrar alguns critérios significativos:
• Ser um grupo de pessoas, não um agregado social, com determinado grau de
interação social
• Repartir interesses, sentimentos, crenças e atitudes
• Residir num território específico
• Possuir um determinado grau de organização.
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Inês Hilário Lopes 120816
Áreas de intervenção da psicologia comunitária
• Intervenção social
o Ponto de partida: estrutura social existente
o Objetivos: criar ou mudar os serviços ou organizações com o objetivo de
os tornar mais eficazes na prossecução da prestação de serviços menos
estigmatizantes e que proporcionem crescimento e desenvolvimento
psicológico
o P.e., orientações ou ações sociais concretas em áreas diversas (saúde,
educação, bem-estar físico e emocional)
• Desenvolvimento comunitário
o Áreas temáticas: ajuda-mútua, cooperação voluntária, liderança e
educação dos agentes locais.
o Estratégia para obter mudança: envolvimento dos indivíduos na
identificação e resolução dos seus próprios problemas, enfatizar os
objetivos comuns e favorecer o crescimento a nível das competências
democráticas.
o P.e, criação de novos espaços/núcleos (de contacto).
• Participação comunitária
o Iniciativas de base comunitária com:
▪ Processo (participação dos cidadãos)
▪ Estrutura (conselho de cidadãos)
▪ Sistema de valores (empowerment)
▪ Domínio (desenvolvimento comunitário)
• Organizações de base comunitária
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Inês Hilário Lopes 120816
• Geograficamente localizadas
• Localmente focalizadas
• Dimensão humanizada
• Orientadas para a resolução de problemas
Modelos teóricos da Psicologia Comunitária
• Modelos de mudança social
• Modelos de competência
• Modelos de apoio social
• Modelos ecológico
Teorias da Psicologia Comunitária
• Teoria Ecológica (Kelly, 2006)
• Teoria dos Sistemas Ecológicos (Bronfenbrenner, 1979)
• Teoria do Empowerment (Rappaport, 1981)
• Teoria Sentido Psicológico de Comunidade (Sarason, 1974)
Perspetiva ecológica
Capacidade de analisar o impacto das influências ambientais, contextualizando
as questões e os problemas que os indivíduos enfrentam a níveis mais abrangentes de
análise.
• Problemas: concetualização multidimensional e contextual (interligação com
vários níveis do sistema social).
• Intervenção: mais abrangente (para além do individual).
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Inês Hilário Lopes 120816
Não entende o comportamento humano como o efeito linear de uma causa única e
isolada (tradição dominante da Psicologia).
Investigação: compreender e criar as condições que permitam a mudança nos
padrões das relações sociais e dos contextos.
• Perspetivas ecológicas e transacionais: Definem os vários sistemas de interação
(pais, criança, família, meio e cultura) em que as práticas parentais se
desenvolvem e o desenvolvimento da criança acontece (e.g., Belsky, 1980;
Cicchetti & Lynch, 1993; Cicchetti & Rizley, 1981).
• Modelo da ecologia do desenvolvimento humano (Bronfenbrenner, 1979,
1989): as relações dos indivíduos são multidimensionais; estes estão embebidos
no sistema familiar e num sistema mais complexo de redes sociais e societais,
culturais e influências históricas.
• Pressupõe a inserção dos indivíduos em diferentes sistemas sociais, ex.: família,
sistemas de suporte social informal e formal, redes comunitárias informais,
instituições de intervenção social, educacional e médicas (Bronfenbrenner, 1989;
Repetti, 1994; Tinsley & Parke, 1984).
Ecologia e Psicologia Comunitária
A ecologia e a sua tradução para a psicologia comunitária (Levine, Perkins, & Perkins,
2005):
• População: grupo de indivíduos semelhantes e com interesses comuns (ex.,
idade, género, papéis sociais).
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Inês Hilário Lopes 120816
• Comunidade: compreende várias populações, com diferentes interesses que
partilham uma determinada área (ex., bairro, escola, cidade).
• Ecossistema: inclui a comunidade, o ambiente físico envolvente (ex., jardins), as
regras sociais, os costumes, as liberdades e direitos individuais.
• Biosfera: conjunto de todos os ecossistemas
Considerações ecológico-transacionais sobre o impacto das mudanças no
desenvolvimento
• Perspetivas do curso de vida (Elder, 1997; Hetherington & Baltes, 1988; Parke,
1988) – estudo das mudanças de desenvolvimento ao longo da vida.
• Transições relacionadas com a idade (e.g., entrada para o infantário, para a
escola) desempenham um papel importante na forma como os indivíduos
respondem às exigências das suas diferentes etapas (Maccoby & Martin, 1983).
• Estas mudanças não devem ser restritas ao nível individual. As famílias mudam
a sua estrutura (e.g., através do nascimento de um filho, ou com o
desaparecimento de um membro da família por morte, separação ou divórcio),
as suas regras, papéis e estratégias.
• A influência mútua de diferentes conjuntos de relações (como a marital, relação
com os avós da criança, etc.) variam em função da natureza da trajetória de
desenvolvimento nessas áreas de vida: na criança ser um irmão, um par e um
estudante; nos pais ser cônjuge, trabalhador e filho na idade adulta
• As redes de relações estão embebidas numa comunidade, sociedade e cultura
particular (recursos para colocação da criança durante o trabalho dos pais) e os
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Inês Hilário Lopes 120816
programas comunitários de apoio às crianças e ao lazer, exercem impacto na
qualidade das relações pais-filhos.
• As redes sociais estão incluídas num sistema social que muda (Garbarino, 1992;
Hernandez, 1993) e que pode ser culturalmente muito diversificado, estando a
variação nas famílias e nas suas estratégias de socialização dependentes em
grande parte da sua cultura e de grupos étnicos e sociais na própria cultura.
• Impacto das mudanças geracionais nas famílias, dado que as trajetórias
individuais e familiares de desenvolvimento estão envolvidas quer nas condições
sociais e valores, quer no tempo histórico em que existem (Magnusson & Stattin,
1997).
Modelo dos sistemas bioecológicos (Brofenbrenner, 1986)
A perspetiva ecológica, segundo Kelly (1987), transpõe para a Psicologia, a
necessidade da observação dos indivíduos nos seus contextos naturais, propõe a
impossibilidade de separação da definição dos problemas, dos métodos de investigação,
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Inês Hilário Lopes 120816
dos valores subjacentes e o trabalho ou posição do interventor social, pelo que a
investigação comunitária é uma intervenção no fluxo contínuo da vida comunitária.
Princípios ecológicos (Kelly, 1968)
Propôs uma analogia entre a Ecologia e a Psicologia Comunitária e articulou 4
princípios para a abordagem a problemas na intervenção comunitária:
• Interdependência: A mudança num dos componentes do sistema tem
repercussões noutros componentes
• Ciclo de recursos: Baseia-se na 1ª lei da termodinâmica: toda a energia é
transferida, não é criada nem destruída.
o P.e., coligações comunitárias
• Adaptação: Ajustamento entre os indivíduos e os sistemas sociais.
o P.e., mudança de hábitos, desenvolver novas competências.
• Sucessão: Análise e compreensão da dinâmica de mudança dos 3 componentes
anteriores numa perspetiva de longo prazo.
o P.e., grupos de ajuda são uma forma de sucessão à utilização de
profissionais na prestação de apoio às populações/grupos em
desvantagem
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Inês Hilário Lopes 120816
Aula 4 e 5, 16.11.2023
Princípios-base para a prática da Psicologia Comunitária (Levine, 1969)
1. Os problemas surgem num determinado contexto; os fatores contextuais criam,
exacerbam e/ou mantêm os problemas
a. Observar e compreender as pessoas nos seus contextos;
b. Análise dos indivíduos, mas também das características e qualidades dos
contextos.
2. Os problemas surgem porque a capacidade de resolução de problemas está
bloqueada
a. A resolução de um problema requer mudança no sistema.
3. O suporte, para ser eficaz deve estar localizado estrategicamente no contexto
onde o problema se manifesta.
a. Abordagem de intervenção contextualista
b. Importância de intervenções preventivas
c. O planeamento das intervenções deve considerar os vários níveis
ambientais e contextuais e ter uma perspetiva de longo prazo.
4. Os objetivos e valores do agente ou interveniente deverão ser consistentes com
os objetivos e valores do contexto.
a. Os interventores sociais devem ter a capacidade de construir uma relação
de trabalho e confiança com os diferentes participantes e fomentar o seu
envolvimento e colaboração em termos da definição do problema, da
compreensão do fenómeno de interesse comum e na criação de soluções.
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Inês Hilário Lopes 120816
5. Qualquer intervenção deverá introduzir ou desenvolver recursos que tenham o
potencial para se estabelecer numa base sistemática, utilizando os recursos
naturais do contexto, ou introduzir novos recursos que possam ser apropriados
ou mantidos pelos contextos numa perspetiva de longo prazo.
Implicações do paradigma ecológico
• Uma intervenção ecológica bem-sucedida desenvolve a competência das
pessoas e das comunidades em termos da resolução dos seus problemas,
fortalece a capacidade de mobilização para ações futuras e a criação de novos
programas.
• Reconhecimento de que os contextos afetam de forma diferente os indivíduos.
o P.e., O’Neill (1976) – turmas em open-space (vs. Turmas convencionais)
• Relação colaborativa com os participantes na definição, implementação e
avaliação das intervenções comunitárias.
• Potenciam-se as oportunidades de empowerment e bem-estar pessoal e
coletivo, a geração de soluções diversificadas e ajustadas ao contexto, a eficácia
e sustentabilidade dos processos de mudança e desenvolvimento dos contextos
comunitários.
Limitações do paradigma ecológico
• Intervenções nos níveis micro e meso (tem-se negligenciado o nível macro; Cahill,
1983).
• Limitações na causalidade circular (não se tem em conta a existência de uma
estrutura de poder diferenciada; ex.: crianças e mulheres maltratadas).
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Inês Hilário Lopes 120816
o Necessidade de complementar a estrutura ecológica com o conceito de
poder (Trickett, 1994).
5 princípios-base para a prática da Psicologia Comunitária
No seguimento dos trabalhos de Kelly (1966) e Levine (1969), desenvolveram-se a
partir dos pressupostos da Ecologia, cinco princípios-base para a prática da Psicologia
Comunitária:
• 1º princípio: reconhece que um problema surge num contexto ou numa situação
• 2º princípio: relaciona-se com a noção ecológica de interdependência, implica
que as pessoas e os contextos funcionam como uma parte do mesmo sistema
integrado
• 3º princípio: focaliza-se na eficácia do suporte e implica que este se localize
estrategicamente no epicentro do problema, enfatizando a abordagem
situacional inerente à analogia de base ecológico, que sugere que alteremos a
nossa perspetiva sobre as formas de prestação de ajuda
• 4º princípio: direciona-se para os objetivos e valores do agente prestador de
suporte ou serviços que deverão ser consistentes com os objetivos e valores do
contexto
• 5º princípio: relaciona-se com a prestação de suporte que se deve estabelecer
numa base sistemática, utilizando-se os recursos naturais do contexto ou
introduzindo novos recursos que podem passar a ser parte integrante do
contexto
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Inês Hilário Lopes 120816
Estes princípios, estabelecem o enquadramento para a conceptualização e para a
ação na Psicologia Comunitária e contribuem para o design da avaliação da intervenção,
para a estruturação de estratégias de mudança social e investigação neste domínio.
O resultado imediato da intervenção social é a mudança social e em última instância
a mudança individual.
A intervenção social é entendida consensualmente como um processo intencional
de interferência ou influência e que tem como objetivo provocar uma mudança.
A Ciência distingue a Psicologia Comunitária de movimentos sociais.
“Há muito que acredito que uma das principais contribuições que a Psicologia
Comunitária pode dar é demonstrar que a teoria e a investigação fornecem uma base
para intervenções que fazem uma diferença positiva na vida e nas atividades da
comunidade. Sem essas demonstrações, a psicologia comunitária carece de provas
persuasivas”
- Saranson, 2003
A investigação em Psicologia Comunitária
• Investigação guiada por valores: a importância da autorreflexão dos
investigadores para se posicionarem!
• Procura-se fazer investigação que desafie o status quo e promova a inclusão e o
bem-estar de todos
• Orientada para a ação! Investigação-ação
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Inês Hilário Lopes 120816
Psicologia Comunitária: investigação
• Investigação participada (investigação-ação), orientada para a ação e guiada por
diversas perspetivas metodológicas.
• Métodos de investigação-ação – esta metodologia pressupõe a mobilização e a
participação de todas as pessoas envolvidas (e não apenas de investigadores) na
produção de conhecimento e nos processos de tomada de decisão, tendo em
vista a mudança.
Participatory Action Research (PAR)
Uma investigação que envolve todas as partes relevantes da análise ativa em
conjunto da ação atual (que consideram problemática), a fim de alterar e melhorar
Parcerias
Usando a abordagem PAR para formar parcerias entre investigadores,
profissionais e membros da comunidade para melhorar as condições de vida e o bem-
estar da comunidade.
O PAR gira em torno de três conjuntos de relações:
• Relações entre indivíduos dentro de comunidades e grupos,
• Relações entre esses grupos e comunidades
• Relações entre as pessoas e seu ambiente físico
Validade ecológica & Sustentabilidade Potencial
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Inês Hilário Lopes 120816
Validade ecológica
O conceito de validade ecológica refere-se mais estritamente ao grau em que a
definição de uma unidade de análise reflete a maneira como essa unidade é definida na
vida real por pessoas ou características naturais.
Um uso mais amplo e fundamental da validade ecológica é a ideia de que a
pesquisa deve atender completa e cuidadosamente os muitos contextos dos fenómenos,
incluindo vários níveis de análise, vários domínios ambientais (sociocultural, físico,
económico, político) e a dinâmica contexto de captura de mudanças ao longo do tempo.
Sustentabilidade Potencial
Sobre o potencial de sustentabilidade, a mobilização de todos os grupos de
stakeholders é essencial para o sucesso da implementação e sustentabilidade do projeto.
O envolvimento é fundamental para a implementação e sustentabilidade de um
projeto.
Avaliação de Programas em Psicologia Comunitária
A avaliação do programa pode ser definida como “a recolha sistemática de
informações sobre as atividades, características e resultados dos programas, para uso
pelas pessoas para reduzir incertezas, melhorar a eficácia e tomar decisões”
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Inês Hilário Lopes 120816
Aula 5 e 6, 22.11.2023
Avaliação de Programas em Psicologia Comunitária
A avaliação pode ser classificada em 5 tipos de uso pretendido:
Apropriadas durante a implementação de um programa:
1. Formativa. Fornece informações para orientar a melhoria do programa.
2. Processo. Determina se um programa é entregue conforme pretendido aos
destinatários-alvo.
Apropriadas quando o programa foi concluído ou está em andamento por um período
substancial
3. Sumativa. Informa os julgamentos sobre se o programa funcionou (ou seja, se as
metas e objetivos foram alcançados) e exige que os critérios e as evidências
sejam explicitados para fazer julgamentos "resumidos".
4. Resultados. Concentra-se nas condições observáveis de uma população
específica, atributo organizacional ou condição social que se espera que um
programa tenha mudado. Concentra-se nas condições ou comportamentos que
se esperava que o programa afetasse mais direta e imediatamente (ou seja,
resultados "proximais").
5. Impacto. Examina as metas de longo prazo do programa
O processo de avaliação do programa passa por quatro fases:
1. Planeamento. As questões relevantes envolvem determinar a viabilidade da
avaliação, identificar as partes interessadas (stakeholders) e especificar as metas
de curto e longo prazo.
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Inês Hilário Lopes 120816
2. Implementação. Examina se o programa está a recrutar e reter com sucesso os
participantes pretendidos, a usar materiais com padrões de precisão e clareza, a
manter os cronogramas projetados, a coordenar de forma eficiente com outros
programas e atividades em andamento e a atender aos padrões legais aplicáveis.
– Avaliação formativa e de processo
3. Conclusão. Examina os resultados imediatos ou impacto de longo prazo ou
resume o desempenho geral, incluindo, por exemplo, a eficiência e
sustentabilidade. – Avaliação sumativo, resultado, impacto
4. Disseminação e relatório. Para garantir que a disseminação e o relato dos
resultados para todos os públicos apropriados são realizados de maneira
abrangente e sistemática, é necessário desenvolver um plano de disseminação
durante a fase de planeamento da avaliação.
Métodos de investigação em psicologia comunitária
Quantitativos
• Uso de indicadores
• Uso de questionários: medidas válidas e precisas
• Estudos de avaliação de impacto de projetos
• Estudos epidemiológicos: generalização
Qualitativos
• Análise de conteúdos e de discurso
• Entrevistas, observações
• Grounded theory
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Inês Hilário Lopes 120816
• Confiança de que os dados transmitem os valores dos entrevistados e os seus
pontos de vista
Estudos qualitativos em Psicologia Comunitária (p.e., algumas metodologias utilizadas):
• A identificação de recursos comunitários
• Entrevista e Ecomapa
• Grupos focais
• Entrevistas a atores chave
Identificação dos recursos da comunidade
O que é um recurso comunitário?
• Uma estrutura física ou lugar
• Um negócio
• Vocês
• Todas as pessoas que vivem na comunidade
Como identificar os recursos?
• Decida a área geográfica que quer cobrir
• Decida quantas pessoas vai entrevistar
• Pense no guião das entrevistas
• Pense num método para fazer estas questões
• Pré-teste às questões a usar
• Recolha os dados
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Inês Hilário Lopes 120816
Ecomapa: algumas linhas orientadoras para os saber ler
• A linha dupla pode representar uma relação forte
• A linha pontilhada representa uma relação ténue
• A linha simples representa uma relação fraca
• A linha em ziguezague indica uma relação de stress
Entrevista a atores-chave
O que são?
• São entrevistas qualitativas aprofundadas com pessoas que sabem o que se
passa na comunidade.
• Propósito: recolher informação de um grande número de pessoas – líderes
comunitários, profissionais, residentes, etc. – que têm conhecimento
aprofundado sobre a realidade do projeto ou da comunidade.
• Atores-chave são todas as pessoas que estão envolvidas no projeto, comunidade
e que têm um interesse nesse projeto ou comunidade.
Quando se devem realizar?
• Quando se quer obter informação sobre um problema de um problema urgente
ou de forma mais aprofundada
• Para compreender as crenças e motivações das pessoas da comunidade
• Para recolher informação de pessoas com diferentes backgrounds de forma mais
aprofundada
• Para discutir assuntos mais sensíveis
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Inês Hilário Lopes 120816
• Para obter respostas de pessoas que podem não participar de forma voluntária
em grupo
Vantagens Desvantagens
• Providenciam informação sobre • Vulnerável ao enviesamento do
peças-chave experimentador
• Oportunidade de reflexão e • Dificuldade de provar a validade
exploração de novas ideias dos dados
• Fácil e económico
Grupos focais
Consiste numa conversa/debate informal sobre um tópico ou assunto específico.
Permite:
• Avaliar necessidades
• Compreender processos
• Conhecer as opiniões e perspetivas existentes sobre um tema específico
• Compreender como as opiniões e perspetivas são justificadas, elaboradas e
defendidas socialmente.
Homogéneo
Aprofundamento de um tema, comparação
de grupos diferentes (idade, sexo, profissão)
Participantes
Heterógeneo
Conhecer multiplicidade\variedade de ideias
existentes na população sobre um tema
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Inês Hilário Lopes 120816
Porque são diferentes de outro tipo de grupos?
• Focam-se num tópico específico
• Têm um moderador treinado
• Encoraja-se a participação ativa de todos os membros
Quando utilizar?
• Quando se pretende adquirir um conhecimento aprofundado sobre um tópico
ou múltiplos pontos de vista
• Quando queremos obter respostas que não são facilmente observadas através
de inquéritos
Sala: supostamente os grupos focais podem acontecer em salas para esse mesmo
propósito. Essas salas são compostas por uma mesa oval e cadeiras em volta. Para além
disso, existe um espelho falso para haver oportunidade de uma sala de observação
Preparação
1. Identificação do problema
2. Planeamento
3. Implementação
4. Avaliação
Moderador
• Conduz a discussão, mas deve permanecer neutro e não dar opiniões ou
sugestões pessoais.
• Um papel importante é garantir que todos tenham a oportunidade de dizer o que
desejam e que o grupo não seja dominado por um indivíduo que o força.
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Inês Hilário Lopes 120816
• O moderador deve tentar e garantir que a sua influência nos dados seja mínima.
• O moderador pode precisar de um moderador assistente, que pode tomar notas
sobre a interação do grupo e observar o comportamento não verbal.
• No final do grupo focal, verificar os comentários resumidos com os participantes
para verificar se estes representam o que foi dito com precisão.
• A função do moderador é fazer perguntas, ouvir, manter a conversa sob controlo
e garantir que todos têm oportunidade partilhar.
• 2 técnicas essenciais:
o A pausa dos 5-segundos: após um comentário do participante, solicita
pontos de vista adicionais ou concordância com a posição mencionada
anteriormente.
o Examinar: solicitar informações adicionais: “Poderia explicar melhor?”,
“Conte-nos mais.”, “Há mais alguma coisa?”, “Por favor, descreva o que
quer dizer.”
Avaliação
• Os danos fundamentais produzidos pelos grupos focais são as transcrições das
discussões do grupo
Investigação quantitativa
Estudos quantitativos em Psicologia Comunitária (ex. estudos de diagnóstico,
avaliação de impacto de programas)
• Uso de indicadores sociais
• Utilização de escalas de medida com boas qualidades psicométricas
27
Inês Hilário Lopes 120816
o P.e., escala de empowerment, escala de sentido psicológico de
comunidade)
• Os resultados destes estudos são utilizados para promoção do bem-estar
comunitário
Questionários
Vantagens Desvantagens
• Bom para recolher dados • O autorrelato pode levar a
descritivos relatórios tendenciosos
• Pode cobrir uma ampla gama de • Os dados podem fornecer uma
tópicos imagem geral, mas falta
• São relativamente baratos de profundidade
usar • Pode não fornecer informações
• Pode ser analisado através de adequadas sobre o contexto
uma variedade de software
existente
28
Inês Hilário Lopes 120816
Fases da avaliação: implementação da avaliação - Abordagem para implementar a
avaliação
Modelo cronológico para o desenvolvimento de um programa (Berk & Rossi, 1999)
4 fases de avaliação:
• Fase 1 – Avaliar como foi feito o diagnóstico (p.e., necessidades do grupo, que
programas foram implementados para dar resposta, quais as boas práticas na
área, que recursos são necessários, entre as alternativas, qual a melhor escolha?)
• Fase 2 – Planear e desenhar o programa (p.e., qual a teoria do programa para
atingir os resultados esperados, o que é necessário fazer para tornar a teoria
eficaz, o contexto de implementação do programa suporta ou impede o desenho
do programa, que aspetos do programa desenhado necessitam de modificação
para se atingirem os resultados, como se vai monitorizar?).
• Fase 3 – Criar o programa (p.e., o programa serve o grupo, os participantes irão
desistir, porquê, está a ser implementado como foi desenhado, está a produzir
os produtos, tem qualidade, resultados a curto termo, que obstáculos?).
• Fase 4 – Melhorar o programa (p.e., atingiu objetivos e alvos, existem os
resultados esperados, existem resultados não esperados (negativos e positivos),
acontecimentos internos ou externos, forças e constrangimentos, o que é que
tem de melhorar, os esforços resultaram?).
Pretendemos avaliar não só o impacto ou sucesso do programa, mas como decorreu o
processo
29
Inês Hilário Lopes 120816
Programas de intervenção
• Objetivos
o Gerais
o Específicos
• População-alvo
• Cronograma
• Orçamento
• Sistema de avaliação
• Stakeholders
o Externos: empresas, consultores, fornecedores
o Internos (com relação com o projeto)
Modelo lógico
Transformação intencional dos recursos específicos em certas atividades para
produzirem resultados esperados num contexto específico (McLaughlin & Jordan, 2004).
Modelo lógico: ferramenta de desenho de programas (de prevenção) – recomendada
pela Organização Mundial de Saúde:
• Recursos necessários para o implementar (inputs – pessoas, equipamentos
instalações)
• Atividades (trabalho desenvolvido para produzir outputs)
• Produtos (outputs – resultados diretos das atividades)
• Resultados esperados (outcomes – curto, médio e longo prazo): mudanças nas
atitudes, no conhecimento, competências – Impactos
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Inês Hilário Lopes 120816
Fases de construção de um modelo lógico para o desempenho de um programa
1. Recolha de informação relevante
2. Definição clara do problema e do seu contexto – análise de fatores causais,
necessidades do grupo-alvo, pessoas envolvidas, etc. - Estabelecimento de um
modelo (teórico)
3. Definição dos elementos do modelo lógico – categorização da informação
recolhida; verificação contínua dos elementos do modelo lógico à medida que a
informação é recolhida (mapeamento bidireccional: Como? Porquê?)
4. Apresentação dos elementos do programa – organização tabelar da informação
para uma maior compreensão e avaliação das diversas ligações existentes entre
os componentes do modelo lógico
5. Verificação do modelo lógico – colocação de questões e procura de resposta para
as mesmas (adequação do programa à fundamentação teórica, identificação dos
fatores contextuais externos e descrição da sua potencial influência)
31
Inês Hilário Lopes 120816
Aula 7, 22.11.2023
As iniciativas de intervenção requerem a criação de condições e oportunidades
para que os cidadãos participem e tenham o controlo sobre as suas próprias vidas,
organizações e comunidades.
Intervenção social\comunitária: Definições
• Bloom: intervenção (preventiva ou restauradora) que procura afetar o bem-estar
psicológico de um grupo populacional
• Iscoe & Harris: procura melhorar a condição humana principalmente através de
esforços para ajudar os pobres desfavorecidos e dependentes a enfrentar os seus
problemas e a manterem ou melhorarem a qualidade das suas vidas
• Kelly et al: influência na vida de um grupo, organização ou comunidade para
prevenir ou reduzir a desorganização social e pessoal e promover o bem-estar da
comunidade
• Caplan: esforços para modificar os sistemas sociais, políticos e legislativos em
relação à saúde, educação e bem-estar e aos campos religioso e correcional, para
melhorar o fornecimento de material físico, psicossocial e sociocultural básicos
da comunidade e a organização dos serviços que ajudam os indivíduos a
enfrentar as suas crises
• Seidman: mudança social que afeta a qualidade de vida social, ou de grande
número de pessoas e grupos, como resultado de: distribuição de direitos,
recursos e serviços; desenvolvimento de bens, recursos e serviços que mantêm
e melhoram a vida; atribuição de status relacionado com as tarefas e papéis
sociais
32
Inês Hilário Lopes 120816
• Barriga: mediação entre duas partes ou sistemas: o cliente e o ambiente
• Kaufmann: uma interação intencional e seletiva entre 2 ou mais atores com base
numa relação sujeito-objeto em que o interventor ocupa uma posição de
vantagem em relação às intenções e recursos disponíveis
Níveis da intervenção social (Seidman, 1983)
1. Objetivo ou destinatário da intervenção: constitui-se nas comunicações e
instituições
2. Estado inicial: avaliação do estado inicial do sistema tendo em conta a sua
estrutura interna, a sua relação com o meio, a sua história e a sua cultura
3. Tipo de mudança que se pretende: o objetivo final da intervenção social é a
mudança da vida dos indivíduos, que pode ser alcançada pela mudança de
estruturas e dos processos sociais
4. Objetivos ou metas: os objetivos e metas são fixados de acordo com a direção
que se pretende imprimir à mudança. Avaliação prévia para se determinar os
efeitos que se pretende alcançar
5. Âmbito de aplicação: tem em conta a multidimensionalidade e complexidade do
desenvolvimento humano. Áreas privilegiadas de intervenção: educação, saúde
mental, abuso de substâncias, utilização de tempos livres, sistema judicial,
sistema religioso
6. Técnicas e estratégias utilizadas: Implicam o desenvolvimento de práticas
inovadoras em domínios diversos (psicossocial, político administrativo,
organizativo, saúde pública, ambiental ou ecológico)
33
Inês Hilário Lopes 120816
7. Duração: É determinado em função do tipo e profundidade da mudança que se
pretende, a dimensão da população a abranger. Ex. intervenção de longa duração –
quando implica mudanças estruturais, reorganização e mobilização de comunidades,
criação de estruturas associativas e resolução de conflitos de grupo.
A intervenção comunitária destina-se a trabalhar em colaboração e parceria com as
comunidades para abordar as preocupações locais ou esperanças de melhoria (Trickett,
2009).
Este tipo de intervenção pode ser definido como sendo as influências planificadas
na vida de um pequeno grupo, organização ou comunidade, com o objetivo de
prevenir/reduzir a desorganização social ou pessoal e promover o bem-estar da
comunidade (Kelly, Snowden, & Munoz, 1977).
A intervenção comunitária tem como objetivo específico provocar uma mudança na
comunidade.
No campo da intervenção comunitária, realça-se a criação dos recursos
comunitários com as ações concretizadas pela própria comunidade com maior ou menor
índice de apoio externo, partindo-se do princípio de que as comunidades possuem os
potenciais recursos para gerarem o seu próprio desenvolvimento.
Se analisarmos o conceito comunitário, ao nível da intervenção social e não
individual, adicionamos ao social, uma perspetiva política.
Por política, não nos referimos ao sentido tradicional do termo (eleições ou partidos
políticos), mas sim, à intervenção local no sentido da resolução de problemas
específicos, através da criação de novos recursos.
34
Inês Hilário Lopes 120816
Segundo Korchin (1976), a intervenção social está intimamente ligada à ação política
e às reformas sociais.
Intervenção comunitária: Etapas
1. Caracterizar a comunidade onde se vai intervir, assim como identificar e
caracterizar o grupo ou grupo social que possam participar nesta intervenção.
2. Determinar o grau de concordância entre os interesses expressos pelo programa
e os interesses da própria comunidade.
3. Identificar as fontes atuais e potenciais de conflito entre grupos com influência,
tendo em conta que as mudanças provocadas pelas dinâmicas se alteram.
4. Organizar as estruturas ou espaços de encontro, onde os elementos da
comunidade se encontram para debater as atividades propostas pelo programa
de intervenção, de modo que possa produzir efeitos nas decisões a nível local,
governamental.
5. Envolver os membros da comunidade na planificação e execução do programa
de ação e na clarificação dos limites do programa comunitário.
6. Definir os objetivos, estabelecendo as prioridades, e selecionando os métodos e
tipos de intervenção.
Intervenção comunitária
• Pressuposto: as comunidades possuem os recursos potenciais para gerarem a
dinâmica do desenvolvimento.
• Ênfase na criação de recursos comunitários, em ligação com as ações
concretizadas pela própria comunidade.
35
Inês Hilário Lopes 120816
Tipos de intervenções
De De
Melhoramento Transformação
Mudança nas
Promoção de
relações de
bem-estar
poder
Eliminação
da opressão
Princípios e objetivos
Ênfase na prevenção e na intervenção precoce com o objetivo de promover as
competências, resiliência e bem-estar dos indivíduos e das comunidades através de
processos de autoajuda, desenvolvimento comunitário e ação social.
Valores fundamentais
Bem-estar individual (refere-se à saúde física e psicológica de todos os membros
da comunidade, competências sócio-emocionais para manter o bem-estar pessoal,
desenvolvimento da identidade, prossecução de objetivos pessoais)
• Compreender os impactos das condições ambientais nos problemas de
comportamento no sentido de prevenir os problemas sociais e de saúde mental
• Foco: promoção da saúde e de comportamentos saudáveis (vs. tratamento da
doença)
o Ex., Implementação de programas em áreas como a prevenção e
promoção da saúde, criação e suporte a grupos de ajuda mútua.
36
Inês Hilário Lopes 120816
Bem-estar
• Saúde física e psicológica
• Sentimento de pertença
• Integração
• Realização e satisfação pessoal
Ambiente envolvente do individuo: p.e., o contexto familiar, escolar, profissional e social
Vivências: p.e., experiência de vida
Sistemas próximos ou mais alargados: p.e., família, vizinhos, associações
O Bem-estar tem múltiplas componentes que podem ser agrupadas em três
abordagens principais:
a) Bem-estar subjetivo, que estuda os fatores e os processos inerentes à avaliação
que as pessoas fazem da sua vida.
• Diener (1984) defendeu a existência de 3 componentes distintas do BES:
1. Satisfação com a vida (SV)
2. Afeto positivo (AP)
3. Afeto negativo (AN).
• Mais tarde, foi também considerada a satisfação com domínios
específicos da vida (SD), como p.e., a satisfação com o trabalho (Diener
et al., 1999).
• A SV e a SD são consideradas componentes cognitivas pelo facto de
reflectirem crenças avaliativas (i.e., atitudes sobre a própria vida).
37
Inês Hilário Lopes 120816
• O AP e o AN representam a dimensão afectiva e refletem a quantidade de
sentimentos experienciados ao longo da vida (Schimmack, 2008)
4. Bem-estar psicológico, que destaca características pessoais
necessárias para alcançar o bem-estar.
5. Bem-estar social, que identifica formas positivas de relacionamento
social.
Suporte social
• O suporte social é considerado um fator capaz de proteger e promover a saúde,
estando relacionado com o bem-estar.
• Encontramos dois tipos de estudos:
1. O suporte social é considerado ter efeitos diretos sobre o ajustamento
2. O suporte social vai agir como um amortecedor (buffer) para quaisquer
efeitos de stress.
• House (1981) propõe que o suporte social seja um conjunto de transações
interpessoais envolvendo:
o Preocupações a nível emocional (gostar, amar e empatizar)
o Ajuda instrumental (bens e serviços)
o Informação (sobre o meio envolvente)
o Reconhecimento (informação relevante para uma autoavaliação)
• Este conjunto de interações poderá ser realizado pelos cônjuges, parentes,
amigos, vizinhos, supervisores, colegas de trabalho, prestadores de cuidados e
outros profissionais.
• A fonte do suporte é crucial porque as fontes diferentes têm diferentes impactos.
38
Inês Hilário Lopes 120816
o Por exemplo, o suporte da família está positivamente relacionado com o
desenvolvimento de competências sociais em geral, tal como a
autoestima; o suporte dos pares está relacionada com o desenvolvimento
de competências de relacionamento com pares; e, o suporte da escola
influencia o desenvolvimento da competência escolar, em termos de
graus e realização (Cauce, Hannan & Sargeant, 1992).
• Por outro lado, a falta de suporte da família pode levar a problemas emocionais
e de comportamento; a falta de suporte dos pares está associada a problemas
emocionais; e, a falta de suporte dos professores pode levar a problemas de
comportamento (Garnefski & Diekstra, 1996).
Capital social
Capital social: Refere-se às ligações entre indivíduos (redes sociais, normas de
reciprocidade e confiança que emergem dessas ligações).
VS
Capital Físico: Refere-se a objetos físicos.
Capital Humano: Refere-se às qualidades dos indivíduos.
4 dimensões do capital social (nível individual)
Cognição\confiança Comportamento Social
Informal Sentimento de Neighboring
comunidade
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Inês Hilário Lopes 120816
Formalmente organizado Empowerment\eficácia Participação de cidadãos
coletiva
Sentido psicológico de comunidade (SPC)
“Perceção de semelhança com os outros, o reconhecimento da interdependência
com os outros, a vontade de manter essa interdependência, dando ou fazendo pelos
outros o que se espera deles, o sentimento de que se é parte duma estrutura estável,
da qual se pode depender”
- Seymour Sarason (1974)
• Previne “que as pessoas experimentem sentimentos prolongados de solidão e
que vivam estilos de vida destrutivos” (Sarason, 1974, p. 1).
• Aplica-se a todo o tipo de comunidades.
4 componentes
• Estatuto de membro
o Sentimento de pertença ou de partilhar um relacionamento pessoal
o Fazer parte de um coletivo
• Influência
o “sentimento de importância, de fazer a diferença para o grupo e de o
grupo ser importante para os seus membros”
• Integração e satisfação de necessidades
o “sentimento de que as necessidades dos membros serão satisfeitas
através dos recursos a que terão acesso, devido ao seu estatuto de
membros do grupo”
• Ligações emocionais partilhadas
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Inês Hilário Lopes 120816
o Sentimento de calor e intimidade resultante do compromisso e crença de
que os membros partilham e irão partilhar uma história, lugares comuns,
tempos juntos e experiências similares
Sense of community index (SCI)
Tem sido usado para medir o SPC, inicialmente de adultos, numa comunidade de
vizinhança, mas é também um instrumento de medida eficaz em comunidades
relacionais e de adolescentes (ex., Chipuer & Pretty, 1999). (Chavis, Hogge, McMillan &
Wandersman, 1986)
• SPC: Componente importante das iniciativas de desenvolvimento comunitário.
o Catalisador da participação dos cidadãos
o Orienta na definição de objetivos e no planeamento de programas de
intervenção.
• Investigação: modelo muito útil para compreender os fatores, mecanismos e
estruturas que contribuem para a coesão dos grupos e comunidade.
o Está positivamente relacionado com: bem-estar; proteção e segurança;
predisposição para ajudar os outros, realização escolar e várias formas
de participação política (votar, contactar com agentes políticos, colaborar
na resolução de problemas comunitários).
▪ O tempo de residência, o ambiente físico e as características
ambientais fortalecem o sentimento de comunidade.
▪ O sentimento negativo de comunidade pode ser adaptativo
quando os bairros constituem uma ameaça (ex., Brodsky, 1996).
41
Inês Hilário Lopes 120816
o Está positivamente correlacionado com: o desenvolvimento de relações
positivas com os vizinhos, a participação em organizações locais, o
controlo percecionado sobre o ambiente envolvente e a eficácia
coletiva.
▪ Contextos escolares: Sentimento de comunidade está
correlacionado com maior participação nas atividades da escola,
melhores desempenhos e resultados académicos e menor
abandono escolar.
▪ Contextos de trabalho: Maior satisfação profissional e
produtividade, menores níveis de stress e conflitualidade laboral,
desenvolvimento dos indivíduos e da empresa
Neighboring
• O bairro está incluído em contextos comunitários e é mais fácil de definir,
especialmente em áreas urbanas.
• O bairro tem sido visto como uma influência importante no ajustamento
psicológico das crianças (Bronfenbrenner, 1986) e os bairros em que as pessoas
vivem e crescem influenciam fortemente a sua ligação com a violência (Khoury-
Kassabri, Benbenishty, Astor & Zeira, 2004).
• De acordo com Carvalhosa (2008), o bullying tem um impacto sobre a ecologia
do desenvolvimento humano e, portanto, a promoção de boas relações dentro e
entre famílias, amigos e comunidades, por longos períodos, é uma questão
crucial.
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Inês Hilário Lopes 120816
• Na literatura sobre as características do bairro, a coesão do bairro surgiu como
uma componente interessante, medindo atração ao bairro, vizinhança
(neighboring) e sentido psicológico da comunidade (Buckner, 1988; Li, Hsu, &
Hsu, 2011; Wilkinson, 2007).
• SPC é uma variável psicológica, definida como um sentimento de pertença, um
sentido de influência, a satisfação das necessidades e da ligação emocional
partilhada entre os membros de determinada comunidade (McMillan & Chavis,
1986).
• Num estudo realizado por Farrell, Aubry e Coulombe (2004), que explorou o
papel do sentido de comunidade e do neighboring, como mediadores da relação
entre as características dos bairros e bem-estar individual. Os resultados desta
investigação demonstraram que o SPC medeia a relação, e que o neighboring
aumentou o SPC.
• Neighboring é uma variável comportamental e pode ser definida como as
interações sociais entre vizinhos (Smith, 1975; Wilkinson, 2007).
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Inês Hilário Lopes 120816
Aula 8, 29.11.2023
Participação comunitária
Os novos movimentos sociais: organizações cívicas independentes; iniciativas de
governança local.
• Aprofundar as metodologias de investigação participada para apoiar mais
eficazmente as organizações, as parcerias, e as coligações comunitárias que
contribuem ativamente para a construção de comunidades mais fortes e
focalizadas no seu desenvolvimento.
o ex.: Sistemas de saúde, locais de trabalho, organizações de vizinhança,
escolas, etc.
• A participação comunitária não se resume a um suporte ou ajuda entre membros
de um determinado grupo; envolve o contributo efetivo nas decisões com
impacto na mudança social (ex., melhoria da qualidade de vida nos bairros,
questões ambientais, de segurança, de prevenção da violência interpessoal).
• Os processos de mudança têm origem no seio da própria comunidade.
Desenvolvimento comunitário
Processo que parte da participação ativa da comunidade e procura criar as
condições económicas, sociais, políticas e ambientais satisfatórias para todos os seus
membros, partindo da mobilização das capacidades e recursos da comunidade.
6 condições do desenvolvimento comunitário
1. Existência de líderes informados e com ligações fortes, externas ao seu contexto;
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Inês Hilário Lopes 120816
2. Compreensão das condições económicas específicas e das suas
interdependências com a economia global;
3. Uma participação pública significativa;
4. Identificação dos nichos de uma comunidade a nível local, estatal e global;
5. Abertura para a inovação e para aceitar possíveis alternativas;
6. Organizar e maximizar o capital humano e financeiro.
Intervenção social e desenvolvimento comunitário
5 conceitos principais
1. Capital social
2. Sustentabilidade
3. Empowerment
4. Capacity building
5. Desenvolvimento de novos recursos - Físicos (infantários, jardins), Sociais (coesão
social), Económicos (agências de emprego), Políticos (participação, líderes)
Empowerment
Enquadramento
• Difusão a partir dos anos 60
• Enraizado nos movimentos sociais dos anos 60 (séc. XX) e na perspectiva dos
grupos de ajuda mútua (anos 70).
• Anos 90 (séc. XX): filosofia ao serviço de diferentes áreas (economia, gestão,
psicologia comunitária).
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Inês Hilário Lopes 120816
Ideologia\valor
Variedade de perspetivas e abordagens
• Teoria do empowerment enquanto filosofia (ideologia):
o Assenta na ideia de que muitos dos problemas sociais existem devido a
uma distribuição desigual de recursos e/ou à falta de acesso aos mesmos.
o Visa desafiar a forma tradicional de pensar a mudança social.
o Foco: identificação dos aspectos positivos (enhancing wellness) da
situação (Zimmermann, 2000).
Nova linguagem que permite redefinir:
• A criação de mudança social (pensando novas formas de intervenção,
implementação e avaliação).
• O papel dos próprios técnicos (Rappaport, 1985): “colaboradores” e
“facilitadores” do processo de mudança.
• Metodologia: flexibilidade e criatividade estratégica, passando a estar menos
dependente de um conjunto de técnicas predeterminadas (Kelley, 1971).
• Visão diferente da população: papel ativo no próprio processo de mudança do
qual fazem parte.
• Avaliação: centra-se mais no modo como os objetivos são atingidos do que nas
consequências; vista como um processo, que não envolve apenas os
participantes, mas que os ajuda a desenvolver competências de autoavaliação.
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Inês Hilário Lopes 120816
Ideologia
Perspetiva ideológica do empowerment Perspetiva tradicional
A responsabilidade é partilhada A responsabilidade é sobretudo atribuída
aos técnicos\agentas
O poder é conferido aos participantes O poder é limitado aos agentes
Os participantes são vistos como peritos Os técnicos são vistos como únicos
peritos
O planeamento e implementação de O planeamento é feito apenas com cada
serviços é feito com base numa avaliação um dos agentes envolvidos
prévia de necessidades
A liderança desenvolve uma visão A liderança é baseada num maior grau
partilhada e participativa para uma de autoritarismo
melhor resolução de problemas
Promove-se a pluralidade social A pluralidade social não é um aspeto a
ter em conta
Enfatiza-se a cooperação, a colaboração As ligações com o exterior vão sobretudo
e a partilha de recursos no sentido da cooperação
O processo de tomada de decisão é feito O processo de tomada de decisão é
de forma mais abrangente fechado
Maximiza-se o envolvimento da A participação comunitária é limitada ao
comunidade a todos os níveis fornecimento de feedback
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Inês Hilário Lopes 120816
Teoria do empowerment
Modelo teórico que analisa os processos, as consequências do controlo e a
influência das decisões que afetam a vida das pessoas, o funcionamento organizacional
e a qualidade da vida comunitária (Zimmerman, 1999).
• Processos: aptidões, grau de controlo, compreensão crítica
• Consequências: ficar empowered
O que é o empowerment?
Empowerment como um processo…
• Ou mecanismo através do qual os indivíduos, organizações e comunidades
ganham maior mestria/controlo sobre as suas vidas” (Rappaport, 1984).
• Intencional e continuado, centrado na comunidade, que envolve respeito
mútuo, reflexão critica e participação de grupo, através da partilha igual de
recursos e do acesso e controlo desses recursos (Cornell Empowerment Group,
1989).
• De desenvolvimento individual, continuado e de longo prazo que envolve 2
dimensões:
1. Aumento de competências individuais;
2. Desenvolvimento de competências de participação social (Kieffer, 1984).
Ideias-chave:
• Componentes básicos:
o Participação com os outros de modo a alcançar os objetivos
o Esforço para aumentar o acesso aos recursos
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Inês Hilário Lopes 120816
o Compreensão crítica do meio sócio político.
3 componentes
• Intrapessoal: estado cognitivo caracterizado por um sentimento de perceção de
controlo, competência e internalização de objetivos
• Interacionista: processo centrado na interação com a comunidade, envolve uma
reflexão crítica e uma relação de suporte e participação
• Comportamental: participação ativa em atividades da comunidade
Dimensões
• Controlo: perceção que o indivíduo tem sobre as suas competências.
• Consciência critica: conhecimento que os indivíduos têm sobre a sua
comunidade (surge a partir da experiência de vida, da relação com os outros, da
participação em organizações).
• Participação: ação concreta para atingir os objetivos estabelecidos (p.e.: grupos
de ajuda mútua, associação de pais, movimentos sociais).
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Inês Hilário Lopes 120816
Níveis de análise
•Refere-se à ação coletiva para aumentar a
qualidade de vida da comunidade e à ligação
entre diferentes organizações da
Comunitário comunidade, que conduzam a um igual
acesso de recursos, fornecendo
oportunidades para a emergência da
diversidade - p.e., poder local mais acessível
•Refere-se aos processos e estruturas
organizacionais que promovem a
Organizacional participação dos seus membros e aumentam
a eficácia em termos de realização dos
objetivos e da obtenção de resultados
•Processo através do qual os indivíduos
desenvolvem uma compreensão acerca dos
seus próprios objetivos e acerca das
Individual estratégias para os alcançar
•p.e., desenvolvimento de aptidões
específicas importantes para o processo de
tomada de decisão
Organizacional:
• Organizações empowering: aumentam as competências dos seus membros,
proporcionam oportunidades de participação e influência nos processos de
tomada de decisão (ex: grupos de ajuda mútua para pessoas com papéis formais
de responsabilidade)
• Organizações empowered: aumentam a eficácia da organização em termos de
obtenção de recursos, no trabalho em parceria com outras organizações, no
desenvolvimento de alternativas eficazes de prestação de serviços e no aumento
da sua influência nos processos de mudança ou nas decisões políticas.
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Inês Hilário Lopes 120816
Comunitário
Esta ação implica a participação dos cidadãos e das organizações locais na
identificação das necessidades da comunidade, no desenvolvimento e implementação
de estratégias que resolvam essas necessidades.
Deve utilizar-se a ligação e a colaboração entre as várias organizações para otimizar
o seu funcionamento e responder de forma eficaz aos seus problemas (ex: redes e
parcerias.
Dois tipos de abordagens:
• Community betterment (melhoramento comunitário): estratégias top-down – a
iniciativa e o controlo residem nos organismos do Estado ou nos profissionais,
que podem nem residir na área de intervenção e não são afetados pessoalmente
pelos problemas da comunidade.
• Community Empowerment: utiliza estratégias bottom-up promovendo a
participação dos membros da comunidade na identificação das suas
necessidades, no estabelecimento de prioridades, no planeamento,
implementação e avaliação dos projetos
Processos e resultados
Resultados: operacionalização das consequências do processo nas pessoas, e os
efeitos das intervenções realizadas.
51
Inês Hilário Lopes 120816
Níveis de análise Processos Resultados
(“empowering”) (“empowered”)
Individual Aprendizagem de aptidões Perceção de controlo;
específicas para o Consciência crítica
processo de tomada de Comportamentos de
decisão; participação
Gestão de recursos;
Trabalho com outros
indivíduos
Organizacional Oportunidade de Competição eficaz por
participação no processo recursos
de tomada de decisão Ligação com outras
Partilha de organizações (parcerias)
responsabilidades Influência política
Partilha de liderança
Comunitário Acesso a recursos Alianças organizacionais
Abertura das estruturas Liderança pluralista
governamentais
Tolerância pela
diversidade
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Inês Hilário Lopes 120816
Categorias
• Formal: Surge quando as instituições apresentam mecanismos que influenciam
decisões públicas que estejam relacionadas com os cidadãos e as suas
instituições sociais – oportunidades de participação em processos decisórios.
• Intrapessoal: Refere-se ao sentimento de competência e autoeficácia da própria
pessoa numa determinada situação
• Instrumental: Refere-se à capacidade individual para participar e influenciar um
processo de tomada de decisão
• Substantivo: Refere-se à capacidade para tomar decisões que resolvam os
problemas e produzam os resultados desejados.
Outras considerações
• Avaliação: não é fácil avaliar (resultados); recurso a estudos longitudinais.
• Instrumentos: exemplos
o Making Decisions Scale (Sciarappa & Rogers, 1991): 28 itens que
permitem medir a percepção de controlo, a auto-eficácia e a auto-estima.
o Escala de Empowerment Psicológico de Menon (1999): 9 itens; sub-
escalas de perceção de controlo, perceção de competência e a
internalização de objetivos.
Então… o que é o empowerment?
Perspetiva do Empowerment
• Um ganho pessoal
• Uma experiência comunitária
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Inês Hilário Lopes 120816
• Um objetivo orientado para a intervenção social
Engloba
• Existência de um autoconceito positivo
• Maior capacidade crítica a analítica do ambiente social
• Criação de recursos (pessoais e de grupo)
Implica
• Aquisição de novas competências nos contextos quotidianos
• Capacidade para encontrar soluções a nível local
Ou seja,
O empowerment é um constructo multidimensional e interativo, que envolve
uma perspetiva de mudança (bottom-up), varia com os contextos, constitui-se como um
processo (vs. estado) e NÃO É um traço de personalidade
Tem subjacente a ideia de poder - definido enquanto um processo gerado na
relação com os outros, implicando simultaneamente partilha, colaboração, “capacidade
de implementar”
54