GILVANE SIMÃO ANDRADE
CONTRATO DE TRABALHO INTERMITENTE
Projeto de Artigo Científico apresentado ao
curso de Bacharelado em Direito, Escola de
Direito e Ciências Sociais Aplicadas, Centro
Universitário Autônomo do Brasil –
UniBrasil.
Orientadora: Profa. Ms. Adriana Pires Heller.
CURITIBA
2021
1
1 APRESENTAÇÃO
O Estado Moderno nasceu para exercer determinadas atividades e entre
estas está o serviço público – atividade que tem como fim imediato a satisfação de
interesses públicos, definidos como tais no ordenamento jurídico, e que se
submete a um regime jurídico específico de Direito Público.
Tal regime jurídico específico é o consagrado no artigo 6º, § 1º, da Lei nº
8.987 de 1.995, que preenche o conceito jurídico indeterminado de serviço
adequado, previsto no artigo 175, parágrafo único, IV, da Constituição Federal.
No entanto, para que o referido regime jurídico seja observado na
prestação do serviço público e, conseqüentemente, que o serviço adequado seja
prestado, independentemente de quem o preste, é necessário que haja o controle
na prestação dessa atividade.
Considerando que só há sentido haver o controle dos atos administrativos
porque o Estado tomou para si o poder de prestar determinadas atividades e que
o regime jurídico de serviço público é direito fundamental, o controle do regime
jurídico de serviço público é uma forma de garantia e concretização dos direitos
fundamentais e é aqui que reside a sua importância.
Dessa forma, mostra-se relevante o levantamento das formas de controle
da administração pública na prestação de serviço público, das conseqüências da
omissão desse controle para a democracia e para os direitos fundamentais e das
alternativas que sobram ao cidadão quando há a referida omissão.
Ademais, tendo em vista que os poderes estatais devem ser pressionados
para prestar o serviço público adequado, bem como realizar o devido controle para
que assim ocorra, que se deve fazer diminuir a descrença no que tange aos
mecanismos de controle sobre a Administração para que os cidadãos sejam
incentivados a agir na busca da prestação do serviço público adequado, revela-se
de grande relevância um estudo mais aprofundado sobre o tema em questão,
considerando, principalmente, que o contexto atual demanda a melhoria e a maior
efetividade dos mecanismos de controle já existentes – e até mesmo a criação de
2
novos – para que sejam satisfeitas as condições que estabelecem os princípios do
regime jurídico de serviço público.
2 OBJETO E OBJETIVOS
2.1 OBJETIVO GERAL
Realizar a revisão bibliográfica sobre o tema, analisando a respectiva
evolução doutrinária, jurisprudencial e normativa, aprofundando o estudo sobre a
inclusão do contrato de trabalho intermitente na CLT, e qual o reflexo prático para
o empregado e o empregador.
2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS
O presente trabalho tem como objetivos específicos:
conceituar o que é um contrato de trabalho intermitente;
verificar se essa modalidade de contrato de trabalho, na prática, se demonstra
prejudicial ou vantajoso para o trabalhador;
contextualizar os requisitos da relação de emprego e se o contrato de trabalho
intermitente afronta tais requisitos;
pretende demonstrar as diferenças considerando um trabalhador que atua na
informalidade, os chamados “bicos”, com um trabalhador com contrato de
trabalho intermitente;
demonstrar o reflexo do contrato de trabalho intermitente perante a crise do
Covid-19.
3 JUSTIFICATIVA
O Brasil e um país onde grande parte dos trabalhadores atuam na
informalidade, esse é um grande problema pois além de não estarem cobertos
pelo INSS em caso de acidente de trabalho, essas pessoas não fazem jus aos
3
benefícios sociais disponibilizados pelo INSS, tampouco o FGTS e as verbas
rescisórias em caso de demissão sem justa causa. O Contrato de Trabalho
Intermitente, incluído na CLT com a reforma trabalhista (Lei nº 13.467, de 2017),
foi uma opção para trazer esses trabalhadores que atuam na informalidade para a
formalidade. É uma opção tanto para os empregadores que não possuem a
necessidade do requisito da continuidade por não haver uma grande quantidade
de trabalho, tanto para o trabalhador que pode estar em mais de um contrato de
trabalho ao mesmo tempo. Contudo, nem tudo é tão perfeito como aparece na
CLT, a presente pesquisa é importante, pois pretende-se mostrar os dois lados da
moeda, tanto a parte vantajosa quanto a parte desvantajosa para o trabalhador.
4 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Por ser muito específico o tema do controle do regime jurídico de serviço
público como garantia fundamental e contar, portanto, com poucas obras que
abordem o assunto, o presente trabalho apresentará e problematizará, entre
outros, os conceitos dos modelos de Estado, de controle da Administração
Pública, de serviço público e de garantias e direitos fundamentais expressos pela
doutrina.
No que tange aos modelos de Estado, será utilizado o livro de Jorge
Miranda, Teoria do Estado e da Constituição1, que trata da localização histórica do
Estado e do Direito Público do Estado Moderno europeu.
Faz-se necessário trabalhar com o conceito de serviço público de Celso
Antônio Bandeira de Mello:
Serviço público é toda atividade de oferecimento de utilidade ou
comodidade material destinada à satisfação da coletividade em geral,
mas fruível singularmente pelos administrados, que o Estado assume
como pertinente a seus deveres e presta por si mesmo ou por quem lhe
faça as vezes, sob um regime de Direito Público – portanto, consagrador
de prerrogativas de supremacia e de restrições especiais – instituído em
1
MIRANDA, Jorge. Teoria do Estado e da Constituição. Rio de Janeiro: Forense, 2003.
4
favor dos interesses definidos como públicos no sistema normativo. 2
(grifos do autor).
A partir do citado conceito, pode-se abstrair que a noção de serviço
público é composta necessariamente de um elemento material, que versa sobre o
oferecimento de utilidade ou comodidade material destinada à satisfação da
coletividade em geral e fruível singularmente pelos administrados, e um elemento
formal, que é a submissão de tal atividade a um regime jurídico específico de
Direito Público (já que se fala “sob um regime de Direito Público (...) instituído em
favor dos interesses definidos como públicos no sistema normativo” e não
simplesmente sob o regime de Direito Público).
Assim, como entende a doutrina majoritária atualmente, ao lado de outras
atividades do Estado – como o poder de polícia e o fomento – encontra-se o
serviço público: uma atividade que tem como fim imediato a satisfação de
interesses públicos, definidos como tais no ordenamento jurídico, e que se
submete a um regime jurídico específico de Direito Público.
Conforme bem coloca Diogo de Figueiredo Moreira Neto,
(...) o regime dos serviços públicos apresenta características funcionais
próprias, que o estremam do regime comum dos serviços privados,
sintetizada em oito princípios jurídicos informativos dos serviços públicos:
a generalidade, a continuidade, a regularidade, a eficiência, a atualidade,
a segurança, a cortesia e a modicidade, que, em conjunto, atendem ao
conceito jurídico indeterminado constitucional de serviço adequado (art.
175, parágrafo único, IV, CF), tal como constante da Lei nº 8.987, de 15
de fevereiro de 1995 (art. 6º, § 1º) e também expresso como direito do
consumidor, na Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1.990 (art. 6º, X).3
Submetendo-se a um regime específico de Direito Público, a prestação do
serviço público deve ser controlada para que sejam satisfeitas as condições que
estabelecem os princípios de seu regime jurídico.
Segundo Odete Medauar, o tema do controle sobre as atividades da
Administração Pública se relaciona com a visibilidade ou transparência no poder
estatal, com a democracia e com a corrupção. Chega a afirmar que menor seria a
2
MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo. 15. ed., São Paulo:
Malheiros, 2003, p. 612.
3
MOREIRA NETO, Diogo de Figueiredo. Curso de Direito Administrativo. 14. ed., Rio de
Janeiro: Forense, 2006, p. 426-427.
5
corrupção se os mecanismos de controle sobre a Administração fossem mais
efetivos4.
A mesma autora defende a importância dos controles institucionalizados,
bem como dos controles não-institucionalizados. Os primeiros, que são os
inseridos no processo do poder, dos quais decorrem uma providência do agente
controlador, possui insuficiências e inefetividades no Brasil, sendo necessário que
as técnicas e as atividades fiscalizadoras se aprimorem a fim de haver um melhor
desempenho da Administração. Os últimos, também chamados de controles
sociais, por gerarem repercussões, contribuem para o melhor desempenho da
Administração.
Existem várias classificações para o controle da Administração e, quanto
ao critério do agente controlador, o controle pode ser interno – “quando o agente
controlador integra a própria Administração (...), exercido pela própria
Administração sobre seus órgãos e suas entidades da Administração indireta” 5 –
ou externo – “(...) é efetuado por órgão, ente ou instituição exterior à estrutura da
Administração (...), situando-se nesta espécie o controle realizado por instituições
políticas, por instituições técnicas e por instituições precipuamente jurídicas.” 6
Dessa forma os controles interno e externo são espécies de controle da
Administração.
O controle sobre a Administração possui ainda modalidades:
a) quanto ao aspecto em que incide: a1) controle de legalidade, visando à
legalidade em geral ou à legalidade contábil-financeira; a2) controle de
mérito; a3) controle da “boa administração” (eficiência, produtividade,
gestão);
b) quanto ao momento em que se exerce: b1) controle prévio, por
realizar-se antes da eficácia da medida ou decisão; b2) controle
concomitante, que se efetua durante a realização da medida ou ato; b3)
controle sucessivo ou a posteriori, realizado após a edição do ato ou
adoção da medida;
c) quanto à amplitude: c1) controle de ofício, por iniciativa do próprio
agente; d2) controle por provocação, quando pessoas, entidades,
associações, solicitam a atuação do agente controlador; d3) controle
4
MEDAUAR, Odete. Direito Administrativo Moderno. 7. ed., São Paulo: RT, 2003, p. 405-
406.
5
Ibidem, p. 406-407.
6
Ibidem, p. 407.
6
compulsório, que se realiza necessariamente no momento oportuno, em
atendimento a normas que o disciplinam. 7
No entanto, cumpre frisar que, pelo fato de ser a responsável pela
atividade, estando diretamente vinculada a esta, exercendo controle direto e
constante sobre o executor do serviço público, a intervenção da Administração
Pública “(...) é maior do que a aplicação de medidas decorrentes do poder de
polícia...”8.
Em relação a relevância dos princípios consagradores do regime jurídico
de serviço público, faz-se importante citar a ilustre passagem do autor Juarez
Freitas os princípios fundamentais do Direito Administrativo: “A ênfase conferida
aos princípios há de ser vista como um convite ao aprimoramento do controle em
suas várias modalidades. Decididamente, tais princípios não devem ser
pronunciados em vão, de forma ostentatória, circunstancial ou secundária. Ao
revés, precisam ser entendidos como nortes superiores, vitais e vitalizantes (...)” 9.
Portanto, para assegurar a supremacia do interesse público sobre o
privado e a indisponibilidade do interesse público, bem como para satisfazer as
condições que estabelecem os princípios do regime jurídico do serviço público, a
Administração Pública deve controlar a prestação dos serviços públicos e tal
controle se configura numa garantia fundamental ao regime jurídico de serviço
público.
Romeu Felipe Bacellar Filho explica as funções das garantias
fundamentais: “As garantias constitucionais apresentam, por sua vez, dupla
funcionalidade. Atuando, subjetivamente, na tutela de direitos dos administrados,
comportam-se como “garantia dos administrados”; e, objetivamente, ao prevenir e
remediar violações do direito objetivo vigente, como “garantias da legalidade”.”10.
Aprimorando a matéria, José Afonso da Silva classifica as garantias dos
direitos fundamentais em garantias gerais e garantias constitucionais e ensina
sobre as últimas:
7
Idem.
8
Ibidem, p. 339.
9
FREITAS, Juarez. O Controle dos Atos Administrativos e os Princípios Fundamentais. 2.
ed., São Paulo: Malheiros, 1999, p.15.
10
BACELLAR FILHO, Romeu Felipe. Processo administrativo disciplinar. São Paulo: Max
Limonad, 2003, p. 61.
7
(...) consistem nas instituições, determinações e procedimentos mediante
os quais a própria Constituição tutela a observância ou, em caso de
inobservância, a reintegração dos direitos fundamentais. São, por seu
lado, de dois tipos: (a) garantias constitucionais gerais, que são
instituições constitucionais que se inserem no mecanismo de freios e
contrapesos dos poderes e, assim, impedem o arbítrio com o que
constituem, ao mesmo tempo, técnicas de garantia e respeito aos direitos
fundamentais; são garantias gerais precisamente porque consubstanciam
salvaguardas de um regime de respeito à pessoa humana em toda a sua
dimensão; (b) garantias constitucionais especiais, que são prescrições
constitucionais estatuindo técnicas e mecanismos que, limitando a
atuação dos órgãos estatais ou de particulares, protegem a eficácia,
aplicabilidade e a inviolabilidade dos direitos fundamentais de modo
especial são técnicas preordenadas com o objetivo de assegurar a
observância desses direitos considerados em sua manifestação isolada
ou em grupos.11
Diante do exposto, a revisão bibliográfica sobre o tema neste trabalho será
realizada com as obras supracitadas, entre outras, de maneira a apresentar
conceitos e problematizá-los a fim de que se possa trabalhar de maneira mais
aprofundada.
5 METODOLOGIA
O presente trabalho utilizará o método lógico-dedutivo, baseando-se na
construção doutrinária, jurisprudencial e normativa, analisando os motivos da
inclusão da modalidade de Contrato de Trabalho Intermitente com reforma
trabalhista seus reflexos práticos.
A pesquisa bibliográfica sobre o tema, por meio de artigos jurídicos,
doutrina, revistas jurídicas, jurisprudência, normas constitucionais e
infraconstitucionais será o método de procedimento específico do trabalho em
questão.
6 CRONOGRAMA
PERÍODO DE EXECUÇÃO – 2021
11
SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 28. ed., São Paulo:
Malheiros, 2007, p. 188-189.
8
ATIVIDADES
MAIO
MAR
AGO
NOV
OUT
ABR
DEZ
SET
JUN
FEV
JUL
Definição Problema X X X X X
Elaboração do Pré-Projeto X X X
Entrega do Pré-Projeto X
Elaboração do Projeto X X
Entrega do Projeto X
Coleta de Fontes X X X X X X X X X X X
Elaboração Monografia X X X X X X X X X
PERÍODO DE EXECUÇÃO – 2022
ATIVIDADES
MAIO
MAR
MAR
ABR
JUN
FEV
FEV
JAN
JAN
Coleta de Fontes X X X X X X X
Elaboração Monografia X X X X X X X
Entrega Monografia X
Defesa X
7 LEVANTAMENTO BIBLIOGRÁFICO INICIAL
BACELLAR FILHO, Romeu Felipe. Processo administrativo disciplinar. São Paulo:
Max Limonad, 2003.
FREITAS, Juarez. O Controle dos Atos Administrativos e os Princípios
Fundamentais. 2. ed., São Paulo: Malheiros, 1999.
MEDAUAR, Odete. Direito Administrativo Moderno. 7. ed., São Paulo: RT, 2003.
MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo. 15. ed., São
Paulo: Malheiros, 2003.
MIRANDA, Jorge. Teoria do Estado e da Constituição. Rio de Janeiro: Forense,
2003.
MOREIRA NETO, Diogo de Figueiredo. Curso de Direito Administrativo. 14. ed.,
Rio de Janeiro: Forense, 2006.
SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 28. ed., São
Paulo: Malheiros, 2007.