Efeito do 2,4-D com Glyphosate em Plantas Daninhas
Efeito do 2,4-D com Glyphosate em Plantas Daninhas
Hudson Kagueyama Takano2; Rubem Silvério de Oliveira Jr.3; Jamil Constantin3; Denis
Fernando Biffe3 ; Luiz Henrique Morais Franchini4; Guilherme Braga Pereira Braz4; Fabiano
Aparecido Rios4; Eliezer Antonio Gheno4; Alexandre Gemelli4
Resumo - O 2,4-D tem sido um dos herbicidas mais utilizados em associação com o
glyphosate, principalmente nas aplicações de dessecação em pré-plantio. O objetivo deste
trabalho foi avaliar o efeito da adição do 2,4-D ao glyphosate visando o controle de espécies de
plantas daninhas consideradas de difícil controle (Commelina benghalensis, Richardia
brasiliensis, Euphorbia heterophylla, Spermacoce latifolia, Ipomoea grandifolia e Conyza spp.).
O delineamento experimental foi o inteiramente casualizado, e os tratamentos foram arranjados
em esquema fatorial 3 x 4, com quatro repetições. O primeiro fator foi constituído por estádios de
desenvolvimento das plantas daninhas (2-4, 4-6 e >10 folhas) e o segundo fator por tratamentos
com glyphosate (720 g i.a. ha-1), 2,4-D (670 g i.a. ha-1) glyphosate+2,4-D (720+670 g i.a. ha-1) e
um tratamento sem herbicida (testemunha). Para a buva em casa-de-vegetação, foram realizados
mais três tratamentos herbicidas adicionais variando as doses de glyphosate e 2,4-D. A adição de
2,4-D ao glyphosate foi determinante para acelerar e melhorar o controle de plantas daninhas de
difícil controle estudadas.
Palavras-chaves: sinergismo, velocidade de controle, mistura em tanque
Abstract - The 2,4-D has been one of the most widely used herbicide in combination with
glyphosate, especially in applications desiccation pre-planting. The objective of this study was to
evaluate the effect of adding 2,4-D to glyphosate for the control of weed species considered
difficult to control (Commelina benghalensis, Richardia brasiliensis, Euphorbia heterophylla,
Spermacoce latifolia, Ipomoea grandifolia e Conyza spp.). The experimental design was
completely randomized, and treatments were arranged in a 3 x 4 factorial design with four
replications. The first factor was composed of stages of development of weeds (2-4, 4-6 e >10
leaves) and the second factor by treatment with glyphosate (720 g i.a. ha-1), 2,4-D (670 g i.a. ha-1)
glyphosate+2,4-D (720+670 g i.a. ha-1) and a treatment without herbicide (control). For Conyza
spp. in green house, were performed three additional herbicide treatments varying doses of
glyphosate and 2,4-D. The addition of 2,4-D to glyphosate is crucial to accelerate and improve
weed control considered unwieldy as those studied in this work.
Keywords: synergism, speed control, tank mixtures
1
Recebido para publicação em 09/02/2013 e aceito em 10/04/2013.
2
Acadêmico do curso de Agronomia da Universidade Estadual de Maringá (UEM/NAPD), Av. Colombo 5790,
87020-900, Maringá, PR. Email: <[email protected]>. (Autor para correspondência).
3
Professores do Departamento de Agronomia da Universidade Estadual de Maringá (UEM/NAPD).
4
Doutorandos do Programa de Pós-Graduação em Agronomia da Universidade Estadual de Maringá (UEM/NAPD).
Takano et al. 2
Tabela 1. Estádios de desenvolvimento das plantas daninhas nos quais foram realizadas as
aplicações de herbicidas. Maringá-PR/2012.
Estádios de desenvolvimento
Espécie
E1 E2 E3
Trapoeraba 2-4 folhas 4-6 folhas >10 folhas
Poaia 2-4 folhas 4-6 folhas >10 folhas
Erva-quente 2-4 folhas 4-6 folhas >10 folhas
Corda de viola 2-4 folhas 4-6 folhas >10 folhas
Leiteiro 2-4 folhas 4-6 folhas >10 folhas
Buva < 6 cm 6-15 cm >15 cm
Para cada espécie foram distribuídas (E1, E2 e E3) e Commelina benghalensis (E3),
aproximadamente 30 sementes por vaso, a uma em densidades de 48 e de 3 plantas m-²,
profundidade de 1 a 3 cm em relação ao nível respectivamente.
do solo. Após a emergência das plantas Para as aplicações dos tratamentos em
daninhas, efetuou-se o desbaste nas unidades ambos os locais foi utilizado um pulverizador
experimentais deixando de duas a quatro costal de pressão constante à base de CO2,
plantas por vaso. Até a avaliação final de equipado com barra munida de três pontas tipo
controle, as unidades experimentais foram jato leque XR-110.02, espaçadas a 50 cm entre
submetidas a irrigação diária, sendo mantidas si, sob pressão de 2 kgf cm-2. Estas condições
próximos à capacidade de campo. de aplicação proporcionaram o equivalente a
No experimento a campo, as unidades 200 L ha-1 de calda. No momento da aplicação,
experimentais foram compostas por parcelas de as condições climáticas foram constituídas por:
4 x 4 m (16 m²), nas quais o solo apresentou Temperatura de 27,0°C e 28,5°C; umidade
valores de pH em água de 6,10; 3,56cmolc de relativa 65 e 60% e velocidade dos ventos de
H+ + Al+3 dm-3 de solo; 4,02 cmolc dm-3 de 2,0 e 1,1 km h-1 na casa-de-vegetação e no
Ca+2; 0,71 cmolc dm-3 de Mg+2; 0,63 cmolc dm-3 campo, respectivamente.
de K+; 43,80 mg dm-3 de P; 13,99 g dm-3 de C; Foram realizadas avaliações de controle
140 g kg-1 de areia grossa; 280 g kg -1 de areia aos 7, 14, 21 e 28 dias após a aplicação (DAA),
fina; 20 g kg-1 de silte e 540 g kg -1 de argila. O usando escala em que 0% representa ausência
delineamento experimental utilizado foi o de de efeito do herbicida sobre as plantas, e 100%
blocos casualizados com quatro repetições, e as representa morte das plantas. Em casa-de-
espécies presentes na área foram Conyza spp. vegetação as plantas daninhas trapoeraba, poaia
e buva no estádio E3 foram avaliadas até 56, superior ao 2,4-D isolado, que por sua vez
42 e 42 DAA, respectivamente. No campo, as exerceu controle melhor que o glyphosate
avaliações foram realizadas até 42 DAA. também aplicado de forma isolada. Nestas
Os dados da última avaliação de avaliações, somente a associação entre os
controle de cada espécie foram submetidos à herbicidas foi capaz de proporcionar controle
análise de variância pelo teste F. Efeitos aceitável de trapoeraba, evidenciando a eficácia
significativos foram submetidos à comparação desta mistura em espécies que o glyphosate
das médias pelo teste Tukey a 5% de tem dificuldade em controlar quando aplicado
probabilidade, utilizando-se o programa isoladamente. Estes resultados estão de acordo
estatístico SISVAR. Os dados de controle ao com Ramos & Durigan (1996), os quais
longo das avaliações foram representados por relatam que a mistura de glyphosate + 2,4-D
meio de figuras, visando avaliar apresentou controle superior da trapoeraba
comparativamente a velocidade de controle dos (Commelina virginica L.), em relação aos
tratamentos. produtos aplicados isoladamente. Os resultados
Os dados de controle foram submetidos de campo e de casa-de-vegetação foram
ainda à análise pelo modelo proposto por semelhantes, mas o controle final atingido em
Colby (1967), utilizando a equação descrita por plantas bem desenvolvidas foi maior em casa-
Monquero et al. (2001), para a avaliação dos de-vegetação, provavelmente em função do
efeitos sinergísticos e antagonísticos entre as menor nível de estresse fisiológico que as
associações herbicidas testadas. plantas sofreram em relação as desenvolvidas
em condição de campo.
Resultados e Discussão Tomando como base o controle da
espécie proporcionado por cada herbicida
Na última avaliação realizada em casa- aplicado isoladamente, o método de Colby
de-vegetação (28 DAA), observou-se que para estima um valor de controle teórico que deveria
C. benghalensis, quanto maior o estádio de ser alcançado pela mistura entre dois
desenvolvimento, mais difícil é o seu controle herbicidas. Na Tabela 3 observa-se que o
(Tabela 3). Aplicações realizadas no estádio E1 controle estimado da mistura glyphosate+2,4-D
não apresentaram diferenças significativas para as plantas do estádio E1 seria de 99,8%, e
entre os tratamentos com herbicidas, sendo como o controle obtido foi maior (100,0%),
todos eles eficazes no controle da trapoeraba. conclui-se que a mistura apresentou efeito
Já nos estádios E2 e E3, a associação entre o sinergístico. Analisando as interações para a
glyphosate e 2,4-D exerceu controle final mistura de glyphosate com o 2,4-D pelo
superior aos herbicidas aplicados de forma modelo de Colby (1967) nas Tabelas 3 e 4,
isolada. Observa-se que para plantas com mais observaram-se efeitos sinergísticos
de 10 folhas, nem mesmo a associação entre os proporcionados por esta mistura nas avaliações
dois herbicidas foi capaz de apresentar níveis realizadas em campo e casa-de-vegetação (28,
de controle satisfatórios aos 28 DAA, sendo 42 e 56 DAA).
necessário maior período para se visualizar os Com relação à velocidade de controle
resultados finais (Tabela 4). No entanto, (Figura 1), observou-se que para todos os
mesmo neste caso a associação entre os dois estádios de desenvolvimento (E1, E2 e E3) o
herbicidas apresentou controle final superior tratamento com a associação de glyphosate e
aos herbicidas aplicados isoladamente. 2,4-D proporcionou controle mais rápido
O controle final de C. benghalensis foi quando comparado a aplicação dos herbicidas
semelhante nas avaliações de campo (Tabela 4) de forma isolada. Quando os tratamentos foram
e casa-de-vegetação. Constatou-se que a aplicados em estádio precoces (E1), a diferença
associação entre o glyphosate e o 2,4-D foi
Tabela 6. Controle final (42 DAA) de Richardia brasiliensis (E3) proporcionado pelos
tratamentos herbicidas (experimento em casa-de-vegetação). Maringá (PR), 2012.
Herbicidas e doses (g e.a. ha-1) % Controle
1. Testemunha sem herbicida 0,00 C
2. Glyphosate (720) 75,00 B
3. 2,4-D (670) 68,70 B
4. Glyphosate+2,4-D (720+670) 100,00 A
Estimativa de Colby 93,80
DMS = 9,37
CV% = 10,07
*Médias seguidas de mesma letra na coluna não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5%.
Corda-de-viola (Ipomoea grandifolia) visto que o controle foi igual aos valores
Observou-se aos 28 DAA que somente estimados pelo modelo proposto por Colby
no estádio E2 a associação entre o glyphosate e (1967). No entanto, para E2 a mistura entre os
o 2,4-D foi superior a aplicação dos herbicidas herbicidas caracterizou-se como sinergística.
isoladamente (Tabela 9). Nos demais estádios No estádio E1, o controle inicial com
não houve diferença significativa entre os glyphosate e glyphosate+2,4-D foi semelhante,
tratamentos herbicidas. As aplicações isoladas sendo mais rápido do que o tratamento apenas
de glyphosate e 2,4-D realizadas quando as com 2,4-D. Já no estádio E2 e E3, a velocidade
plantas encontravam-se no estádio E2 de controle da mistura glyphosate+2,4-D foi
proporcionaram menor controle quando superior aos produtos isolados, evidenciando
aplicados em estádio E1 e E3. assim o benefício da aplicação dos mesmos em
Nos estádios E1 e E3, a mistura mistura.
glyphosate+2,4-D apresentou efeio aditivo,
resultados estão de acordo com Oliveira Neto No experimento a campo, para todos os
et al. (2010), os quais relataram excelentes estádios de desenvolvimento, a velocidade de
níveis de controle de C. bonariensis com controle obedeceu a seguinte ordem
glyphosate+2,4-D, realizando em plantas com decrescente: glyphosate+2,4-D, 2,4-D e
altura inferior a 6 cm, caracterizando ser o glyphosate. Considerando que no campo
estádio de menor suscetibilidade. predominava um biótipo resistente ao
Tomando como base o valor estimado glyphosate, nem mesmo plantas pequenas (< 6
de Colby (1967), a mistura em tanque contendo cm) foram eficientemente controladas pelo
glyphosate e 2,4-D apresentou efeito glyphosate aplicado isoladamente.
sinergístico no controle de buva em todos os Para a buva, o uso da mistura em tanque
estádios de desenvolvimento avaliados. de glyphosate+2,4-D proporciona um controle
Com relação à velocidade de controle mais rápido e mais eficiente em relação aos
no experimento em casa-de-vegetação (Figura herbicidas aplicados isoladamente em qualquer
6), a associação de glyphosate+2,4-D, estádio de desenvolvimento. Quanto maior o
independente da dose utilizada proporcionou estádio das plantas no momento da aplicação,
controle mais rápido em todos os estádios de menor é o controle exercido pelos herbicidas.
desenvolvimento avaliados. Vale destacar que À campo, para plantas resistentes ao
em aplicações precoces (estádios E1 e E2) essa glyphosate nem mesmo a mistura de
diferença na velocidade de controle é menor do glyphosate+2,4-D foi eficiente no controle de
que quando aplicados em estádios mais tardios plantas com mais de 4 folhas.
(E3).
Tabela 10. Controle de Conyza spp. proporcionado pelos tratamentos herbicidas aos 28 DAA
(experimento em casa-de-vegetação). Maringá (PR), 2012.
Estádio*
Herbicidas e doses (g e.a. ha-1)
< 6 cm (E1) 6-15 cm (E2) >15 cm (E3)
1. Testemunha sem herbicida 0,00 bA 0,00 cA 0,00 cA
2. Glyphosate (720) 100,00 aA 100,00 aA 23,50 bB
3. 2,4-D (670) 99,00 aA 85,00 bB 30,00 bC
4. Glyphosate+2,4-D (720+670) 100,00 aA 100,00 aA 50,00 aB
Estimativa de Colby 100,00 100,00 45,00
DMS linha = 8,83
DMS coluna = 9,73
CV% = 8,93
*Médias seguidas de mesma letra maiúscula na linha e minúscula na coluna não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5%.
Tabela 11. Controle final (56 DAA) de Conyza spp. (E3) proporcionado pelos tratamentos
herbicidas em casa-de-vegetação. Maringá (PR), 2012.
Herbicidas e doses (g e.a. ha-1) % Controle aos 56 DAA
1. Testemunha sem herbicida 0,00 D
2. Glyphosate (720) 6,25 D
3. 2,4-D (670) 16,25 C
4. Glyphosate+2,4-D (720+670) 48,75 B
5. Glyphosate+2,4-D (720+1005) 64,25 A
6. Glyphosate+2,4-D (900+670) 65,00 A
7. Glyphosate+2,4-D (900+1005) 68,50 A
Estimativa de Colby 21,50
DMS 9,48
CV% 11,12
*Médias seguidas de mesma letra na coluna não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5%.
Figura 6. Controle de Conyza spp. após a aplicação de tratamentos herbicidas em três estádios de
desenvolvimento ao longo do período de avaliação (Ensaio em casa-de-vegetação). Maringá
(PR), 2012.
Tabela 12. Controle de Conyza spp. proporcionado pelos tratamentos herbicidas aos 42 DAA
(Ensaio realizado a campo). Maringá (PR), 2012.
Estádio*
Herbicidas e doses (g e.a. ha-1)
< 6 cm (E1) 6-15 cm (E2) >15 cm (E3)
1. Testemunha sem herbicida 0,00 dA 0,00 dA 0,00 dA
2. Glyphosate (720) 40,00 cA 30,00 cB 10,00 cC
3. 2,4-D (670) 50,00 bA 40,00 bB 40,00 bB
4. Glyphosate+2,4-D (720+670) 85,00 aA 72,00 aB 60,00 aC
Estimativa de Colby 69,93 57,93 44,93
DMS linha = 7,07
DMS coluna = 6,41
CV% = 5,03
*Médias seguidas de mesma letra minúscula na linha e maiúscula na coluna não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5%.
Figura 7. Controle de Conyza spp. após a aplicação de tratamentos herbicidas em três estádios de
desenvolvimento ao longo do período de avaliação (Ensaio em campo). Distrito de Pulinópolis,
Mandaguaçu (PR), 2012.